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UNIVERSIDADE F EDER AL DO ESPÍR I TO SAN TO

Núcleo de Educação Aberta e a Distância

OFICINA DE DOCÊNCIA DE

FUTSAL
UMA TEMATIZAÇÃO DO
ESPORTE DA ESCOLA

Edson Castardeli

Vitória
2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

Presidente da República Reitor Coordenadora do Curso de Educação


Dilma Rousseff Reinaldo Centoducatte Física EAD/UFES
Fernanda Simone Lopes de Paiva
Ministro da Educação Pró-Reitora de Ensino de Graduação
Aloizio Mercadante Maria Auxiliadora de Carvalho Corassa
Revisor de Conteúdo
DED - Diretoria de Educação a Distância Diretora Geral do ne@ad Luiz Alexandre Oxley da Rocha
Sistema Universidade Aberta do Brasil Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto
João Carlos Teatini de Souza Climaco Revisora de Linguagem
Coordenadora UAB da UFES Alina Bolonella
Maria José Campos Rodrigues
Design Gráfico
Diretora Administrativa ne@ad LDI - Laboratório de Design Instrucional
Maria José Campos Rodrigues
ne@ad
Diretor Pedagógico do ne@ad Av. Fernando Ferrari, n.514 -
Julio Francelino Ferreira Filho CEP 29075-910, Goiabeiras - Vitória - ES
(27)4009-2208
Diretora do Centro de
Educação Física e Desporto
Zenólia Christina Campos Figueiredo

Laboratório de Design Instrucional


Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
LDI Coordenação
(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
Heliana Pacheco
José Otavio Lobo Name
Letícia Pedruzzi
Ricardo Esteves Castardeli, Edson.
C346o Oficina de docência de futsal : uma tematização do esporte
Gerência da escola / Edson Castardeli. - Vitória : UFES, Núcleo de Educação
Daniel Dutra Gomes Aberta e a Distância, 2012.
33 p. : il.
Editoração
Thaís André Imbroisi Inclui bibliografia.
ISBN:
Capa e Iustração
Paulo Gustavo Caldas
1. Futsal. 2. Esportes coletivos. I. Título.
Impressão
CDU: 796.332

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medida justificada para o fim a atingir, indicando-se o nome do autor e a origem da obra), sendo toda reprodução
realizada com amparo legal do regime geral de direito de autor no Brasil.
Futsal • 3
4 • Edson Castardeli
sumário
Apresentação....................................................................... 06

1 • Bases Teóricas.............................................................. 07
Caráter Pedagógico e Formação da Personalidade
Faixa Etária Apropriada
Vivências dos Esportes na Escola

2 • O Esporte Futsal.......................................................... 18
História
Desporto Futsal

3 • Futsal: Uma Visão Educacional............................... 23


Desafio do Gênero
Desafio do Número de Participantes

4 • Alterações Viáveis no Futsal.................................... 25


Vivência do Desafio de Gênero
Vivência do Desafio Numérico
Integração entre os Gêneros
Priorizar o Dinamismo
Minipartida
Reformulações de Regras
Concepção de Método
Concepção de Técnica

Considerações Finais ........................................................ 34


Agradecimento.................................................................... 34
Referências Bibliográficas............................................... 35

Futsal • 5
apresentação
Primeiramente responda: por que você incluiria ou caráter reprodutor e, por isso, propõe a qualificação
inclui os esportes, como conteúdo, em suas aulas de para a percepção crítica dos dados da realidade e a
Educação Física Escolar? Em qual ciclo escolar os es- consequente atuação em favor de sua transformação.
portes seriam aproveitados melhor pelo educando? E, O mesmo deverá ocorrer com as demais disciplinas
principalmente, como você vivenciaria os esportes na oferecidas no currículo nacional, a saber, Português,
escola? É evidente que as respostas as essas perguntas Matemática, Ciência, Geografia etc.
poderiam ser bem variadas. Porém, inicialmente, vou Para reforçar a necessidade da importância do
me ater a apenas dois eixos temáticos para responder. caráter educacional dos esportes na instituição esco-
O primeiro eixo é o educar e o segundo é a person- lar, poderíamos destacar, entre as várias contribuições
alidade, entendendo que, para as discussões didáticas, ao educando, os fatores intrínsecos da personalidade
é possível visualizá-los separadamente, porém essas humana. Evidentemente, muitos teóricos têm tentado
duas dimensões fazem parte do mesmo processo de conceituar personalidade (WEINBERG; GOULD, 2001),
intervenção. e eles concordam com uma descrição: singularidade.
Para tanto, a proposta de fascículo é ressaltar a Basicamente, personalidade refere-se às características
importância do caráter educacional dos esportes na – ou à combinação de características – que tornam
instituição escolar. A Educação Física, como com- uma pessoa única.
ponente curricular obrigatório, atende aos mesmos Com a utilização dos esportes nas aulas de Educa-
preceitos de educação que, segundo alguns autores, ção Física Escolar, temos a oportunidade de trabalhar
colocam-na como fenômeno social pelo qual uma so- com vários fatores de formação do educando, inclusive
ciedade transmite o seu patrimônio cultural e suas ex- os fatores intrínsecos1 e extrínsecos2 da personalidade.
periências de uma geração mais velha para uma mais
nova, garantindo assim sua continuidade histórica 1) Fatores intrínsecos da personalidade são aspectos
(GHIRALDELLI JÚNIOR, 1996 p. 10). internos do indivíduo, que lhe são próprios, interiores,
No entanto, educação vai além da simples trans- íntimos, por exemplo, autoconfiança, autoestima e/ou
ferência de conhecimentos previamente adquiridos. qualquer outro fator de agente interno do indivíduo.
Segundo Freire (1996, p. 47), ensinar não é trans-
ferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a 2) Fatores extrínsecos da personalidade são fatores
sua apropriação, a sua produção ou a sua construção. externos ao indivíduo, como influência dos amigos ou
Complementando, Ventorim (1999) afirma que a edu- do professor e/ou qualquer outro fator de agente ex-
cação problematizadora, definida por Freire, nega o terno não pertencente à essência de uma pessoa.
Caráter Pedagógico e
1
TEÓRICAS
BASES
Formação da Personalidade

Por que você incluiria ou inclui os esportes, como conteúdo, em suas aulas
de Educação Física Escolar? Poderíamos responder a essa pergunta levando
em conta o aspecto motor, dizendo que os esportes conferem qualidades
físicas básicas, como coordenação, equilíbrio, agilidade e ritmo. Poderíamos,
ainda, responder sob a perspectiva do aspecto afetivo, considerando o es-
porte como o momento em que o educando tem a oportunidade extravasar
suas alegrias ou suas frustrações. A resposta também poderia ser sob os
aspectos cognitivos e sociais, quando poderíamos ressaltar o desenvolvim-
ento do raciocínio ou a integração social do educandos. Enfim, as respostas
a essa pergunta poderiam contemplar diversos eixos temáticos diferentes.
Entendemos que existem ainda outros eixos cabíveis para a elaboração des-
sas respostas.

Porém, sem a pretensão de esgotar o tema das vivências dos esportes nas
aulas de Educação Física Escolar, responderemos em parte a essa pergunta,
levando em consideração o eixo educacional, pois o eixo da educação vai
além e transcende a possibilidade do desenvolvimento apenas dos aspectos:
motor, afetivo, cognitivo e social. Talvez você esteja se perguntando: como a
educação transcende? A educação transcende a partir do momento que nós
entendermos que essa disciplina atende aos mesmos objetivos educacionais
que as demais disciplinas oferecidas no currículo nacional, a saber: Portu-
guês, Matemática, Ciência, História, Geografia, Artes e Língua Estrangeira.

Futsal • 7
1) Inserção do educando no sentido Sugestão de Leitura
de arraigar-se, entranhar-se em sua
comunidade. CAPARROZ. Entre a educação física na escola e a educação física da
escola. Campinas, SP: Autores Associados, 1997.
2) Os PCNs se encontram disponíveis
no site do Ministério da Educação:
http://portal.mec.gov.br/index.
php?option=com_content&view Assim, os esportes vivenciados na instituição escolar atendem aos objetivos
=article&id=12657%3Aparametr integradores dos quatro aspectos citados acima (afetivo, motor, cognitivo
os-curriculares-nacionais-5o-a-8o-
series&catid=195%3Aseb-educacao- e social), de maneira a contribuir com a formação global do educando, es-
basica&Itemid=859. perando que essa formação venha servir para promover a possibilidade de
inserção1 do educando na comunidade em que ele vive, de modo que ele
possa exercer sua cidadania da forma mais plena possível. Recuperando
uma das afirmações de Listello (1979, p. 4), em relação ao papel educacional
da Educação Física, é possível dizer: “A Educação Física deve ser considerada
fundamental num quadro da educação geral, razão por que estamos em-
penhados em ressaltar este assunto”.

Inicialmente, valendo-me de alguns documentos de sugestões norteadoras


de âmbito federal para a educação básica, transcrevo, a seguir, extratos dos
Parâmetros Curriculares Nacionais2 (PCNs) onde se encontram sugestões
norteadoras de conteúdos a serem trabalhados na elaboração das aulas de
Educação Física Escolar, entre as quais destacamos os esportes.

Blocos de conteúdo
Os conteúdos estão organizados em três blocos, que deverão ser
desenvolvidos ao longo de todo o ensino fundamental, embora no
presente documento sejam especificados apenas os conteúdos dos
dois primeiros ciclos.
Essa organização tem a função de evidenciar quais são os objetos
de ensino e aprendizagem que estão sendo priorizados, servindo
como subsídio ao trabalho do professor, que deverá distribuir os
conteúdos a serem trabalhados de maneira equilibrada e adequada.
Assim, não se trata de uma estrutura estática ou inflexível, mas sim
de uma forma de organizar o conjunto de conhecimentos aborda-
do, segundo os diferentes enfoques que podem ser dados (BRASIL,
1998, p. 67).

É possível perceber que aos esportes é dada ênfase em um dos blocos de


sugestões norteadoras de conteúdos. O quadro a seguir mostra a distri-
buição de três blocos de sugestões de conteúdos separados. Porém, esses
três blocos constituem um mesmo processo de intervenção, articulando-se

8 • Edson Castardeli
entre si, tendo vários conteúdos em comum, entretanto, detêm suas espe- 3) Ressaltamos que os conteúdos
norteadores sugeridos para serem
cificidades intrínsecas.
abordados no Ensino Médio, pe-
los PCNs, é o aprofundamento dos
conhecimentos já trabalhados, no
Esportes, jogos, lutas Atividades rítmicas Ensino Fundamental (BRASIL, 2000 p.
e ginásticas e expressivas 33), por exemplo, os já citados neste
fascículo. Os PCNs para o Ensino Médio
Conhecimentos sobre o corpo se encontram disponíveis no site do
Ministério da Educação: http://portal.
Fonte: BRASIL, 1998, p. 68. mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf

Os três blocos articulam-se entre si, têm vários conteúdos em co-


mum, mas guardam especificidades. O bloco ‘Conhecimentos sobre o
corpo’ tem conteúdos que estão incluídos nos demais, mas que tam-
bém podem ser abordados e tratados em separado. Os outros dois
guardam características próprias e mais específicas, mas também
têm interseções e fazem articulações entre si (BRASIL, 2001, p. 68).

Ao adotarmos uma das sugestões dos PCNs para conteúdo, na elaboração


de nossas aulas de Educação Física Escolar, no caso os esportes, os objeti-
vos a serem alcançados terão que estar em harmonia com algumas finali-
dades do campo educacional, por exemplo, os contidos na Lei de Diretrizes e
Bases (LDB), que é um dos principais documentos norteadores da Educação
Bwásica Nacional nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Capítulo II, Seção
IV Do Ensino Médio3, Art. 35º, que estabelece:

O prosseguimento dos estudos; o preparo para o trabalho e a cidada-


nia; o desenvolvimento de habilidades como continuar a aprender
e capacidade de se adaptar com flexibilidade às novas condições de
ocupação e aperfeiçoamento; o aprimoramento do educando como
pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
autonomia intelectual e do pensamento crítico; e a compreensão
dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos,
relacionando teoria e prática.

Considerando ainda, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Capítulo


IV Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, o Art. 53 destaca:

[...] a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao


pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Futsal • 9
II - direito de ser respeitado por seus educadores;
III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às
instâncias escolares superiores;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;
V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Harmonizando-se os esportes com o objetivo de educar, com a abrangência


citada acima pela LDB e pelo ECA, não poderíamos deixar de mencionar a
formação da personalidade do educando, como parte integrante da sua
formação global, e sem a pretensão de indicar como único caminho for-
mador. Entendemos que existem vários outros eixos temáticos cabíveis na
discussão da formação global do educando, porém abordaremos, de forma
preliminar, apenas a formação da personalidade do educando e, para isso,
transcrevemos, a seguir, uma abordagem sobre conceitos de personalidade
extraída da obra Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício
(WEINBERG; GOULD, 2001 p. 50).

Uma das melhores maneiras de entender a personalidade é por meio


de sua estrutura. Pense personalidade dividindo-a em três níveis
separados, porém relacionados (ver Figura 1): um núcleo psicológi-
co, respostas típicas e comportamento relacionado ao desempenho
de papeis.

Figura 1 – Uma visão esquemática da estrutura da personalidade


Ambiente Social Ambiente Social
Din
o
ern

âm
Ext

ico

Com. relac. ao
desempenho de papéis

Respostas típicas
Con
sta
o
ern

nte
Int

Núcleio psicológico

Fonte: Weinberg e Gould, 2001, p. 51 (adaptado de Martens 1975b).

10 • Edson Castardeli
Sugestão de Leitura
CHARLOT Bernard. Educar: da relação com o saber: elementos para
uma teoria. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2000.

Esses três níveis da estrutura da personalidade interagem entre si, porém


serão apresentados separadamente para melhor compreensão didática.

Núcleo psicológico é o nível mais básico da personalidade. Sendo o


componente mais profundo, ele inclui suas atitudes e valores, seus
interesses e motivações e suas crenças sobre você mesmo e seu val-
or. Basicamente, o núcleo psicológico representa a peça central de
sua personalidade e é o ‘eu real’, não quem você quer que os outros
pensem que você é (WEINBERG; GOULD, 2001 p. 50).

O núcleo apresenta-se como a parte mais estável da personalidade do in-


divíduo.

Respostas típicas são as formas como cada um de nós aprende


a ajustar-se ao ambiente ou como geralmente respondemos ao
mundo à nossa volta. Por exemplo, você pode ser otimista, tímido e
equilibrado. Freqüentemente suas respostas típicas são bons indica-
dores de seu núcleo psicológico (WEINBERG; GOULD, 2001 p. 50).

Esses ajustes feitos pelo indivíduo ao meio em que vive, ou seja, as res-
postas típicas podem ser aperfeiçoadas, pois são menos estáveis, quando
comparados com o núcleo psicológico.

Comportamento relacionado ao desempenho de papéis é a for-


ma que você age baseado em como você percebe sua situação social.
Esse comportamento é o aspecto mais variável da personalidade: seu
comportamento mudará à medida que mudarem suas perspectivas
do ambiente. Situações diferentes requerem o desempenho de dife-
rentes papéis. Você pode, no mesmo dia, desempenhar os papéis de
aluno de uma universidade, técnico de um time infantil, funcionário
e amigo. Provavelmente você se comportará de forma diferente em
cada uma dessas situações (WEINBERG; GOULD, 2001 p. 51).

No caso, o comportamento relacionado com o desempenho de papéis é o


componente mais sujeito a alterações, portanto menos estável em relação
aos dois anteriores.

Futsal • 11
Os três níveis de personalidade abrangem um continuum de com-
portamento internamente induzidos a externamente induzidos. Para
simplificar, compare seus níveis de personalidade a um bombom de
cereja coberto de chocolate. Todos vêem o invólucro (comporta-
mento relacionado ao desempenho de papéis), aqueles que se dão
ao trabalho de retirar o invólucro vêem a camada de chocolate (res-
postas típicas) e apenas as pessoas interessadas ou suficientemente
motivadas a morder o bombom vêem a cereja do centro (núcleo
psicológico) (WEINBERG; GOULD, 2001, p. 51).

Como professores de Educação Física Escolar, participamos efetivamente


da formação da personalidade de nossos educandos e, uma vez mais, temos
que ressaltar a importância de inserirmos os esportes em nossas aulas, sem
perder o foco educacional e formador com que os esportes merecem ser
trabalhados nas escolas.

Como salientam os PCNs (BRASIL, 2001), a Educação Física precisa buscar


sua identidade como área de estudo fundamental para a compreensão e
entendimento do ser humano, como produtor de cultura. Tendo como base
o próprio educando também como produtor de cultura, logo ele é sujeito
ativo na ação da prática desportiva, participando da execução, assim como
da sua elaboração. Para tanto, os educandos têm que opinar sobre as regras
do esporte em questão (o futsal), pois um educando participativo em todas
as etapas do esporte (elaboração, execução, condução e, se necessário, re-
formulação), terá uma maior probabilidade de exercício mais pleno possível
de sua cidadania na comunidade em que vive. Lembramos que exercício
mais pleno possível de cidadania no âmbito desportivo compreende desde o
entendimento do esporte, por parte do educando, para que possa assistir a
uma determinada modalidade desportiva, como a Ginástica Artística, quan-
do transmitida pela mídia, até sua participação em simples comentários
com amigos e debates realizados em suportes eletrônicos, como comuni-
dades e grupos, a respeito de tal evento. Em consonância com o contexto
histórico, citamos, a seguir, algumas análises realizadas por Betti (2002, p.
73) sobre Educação Física Escolar. Para o autor, a

Educação Física é uma expressão que surge no século XVIII, em ob-


ras de filósofos preocupados com a educação. A formação da cri-
ança e do jovem passa a ser concebida como uma educação inte-
gral – corpo, mente e espírito –, como desenvolvimento pleno da
personalidade.

12 • Edson Castardeli
Portanto, para que o esporte tenha essa abrangência, será necessário vê-lo
como uma “Ferramenta de Ensino”, entendendo que o esporte atentará à
educação global dos educandos, assim como as demais disciplinas do cur-
rículo escolar nacional. Porém, é evidente que difere das outras disciplinas
curriculares pelas metodologias e conteúdos pertinentes às nossas com-
petências e habilidades de formação em Licenciatura em Educação Física,
como ressalta Betti (2002, p. 77):

Esse rico acervo de estratégias e conteúdos, usado criativa e coer-


entemente por cada professor, em virtude de seus objetivos específi-
cos, do contexto e das características e necessidades de sua clientela,
possibilita à Educação Física a construção de uma metodologia de
ensino singular em face das outras disciplinas, favorecendo em mui-
to o desenvolvimento pleno do educando – afetivo, social e motor.

Dessa forma, proporcionaremos aos educandos maior possibilidade de êxito


no desenvolvimento de sua própria cultura corporal de movimento, diver-
sificando-a. Em consonância com as considerações apresentadas, podemos
afirmar que é possível incluir os esportes da escola, e não pura e simples-
mente os esportes na escola em nossas aulas de Educação Física.

Sugestão de Leitura
Educação física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas.
Disponível em: <http://www3.mackenzie.br/editora/index.php/remef/
article/viewFile/1364/1067>.

BRACHT. Educação física e aprendizagem social. Porto Alegre, RS:


Magister, 1992.

Faixa Etária Apropriada


Uma vez respondido, em parte, o “porquê” de inserirmos os esportes em
nossas aulas de Educação Física, em qual ciclo escolar os esportes seriam
mais bem aproveitados pelos educandos? Essa resposta irá depender de
levarmos em conta alguns fatores, como o esporte em questão, pois temos
esportes de características precoces, por exemplo, a ginástica artística; já
outros esportes não apresentam característica de precocidade, pois é ne-
cessário que os participantes tenham habilidades motoras específicas para
praticá-los.

Futsal • 13
4) Referência disponível em: <http://
www.ldi.kit.net/Legislacao/categorias. Os exemplos citados a seguir se referem ao esporte de alto rendimento,
pdf>. praticado fora da escola e que, portanto, somente nos aponta as faixas
etárias de sua prática. Por exemplo, no futebol, que é uma das modalidades
esportivas mais requisitadas pelos educandos nas escolas, encontramos
categorias distribuídas por faixa etária, conforme estabelece abaixo a legis-
lação pertinente (rdi/cbf nº 09/91, 10/91 e 03/93) da Confederação Brasileira
de Futebol4.

ADULTOS (AMADOR ADULTO): os atletas terão os limites inferi-


ores, mínimos de 20 (vinte) anos, de idade.
SUB-20 JUNIORES: o limite máximo de idade dos atletas será de
20 (vinte) anos, completados no ano da competição.
SUB-17 JUVENIL: o limite máximo de idade será de 17 (dezessete)
anos, completados no ano da competição.
SUB-15 INFANTIL: o limite de idade mínimo será de 13 (treze) anos
e o máximo será de 15 (quinze) anos de idade, completados no ano
da competição.
SUB-13 MIRIM: o limite mínimo de idade será de 10 (dez) anos e
o máximo de 12 (doze) anos, completados no ano da competição.
SUB-09 DENTE DE LEITE: o limite mínimo de idade será de 7
(sete) anos e o máximo de 9 (nove) anos, completados no ano da
competição.

Poderíamos citar ainda (note as nomenclaturas das categorias) a tabela de


idades de 2009 para o futsal, de acordo com a Federação Paulista de Futsal:

Quadro 1 – Categorias por faixa etárias


Categoria Idade
Chupetinha 06 e 07 anos
Mamadeira 08 anos
Fraldinha 08 e 09 anos
Pré-Mirim 10 e 11 anos
Mirim 12 e 13 anos
Infantil 14 e 15 anos
Infanto 16 e 17 anos
Juvenil 18 a 20 anos

14 • Edson Castardeli
Principal 20 anos em diante
Veterano 35 em diante

Fonte: Federação Paulista de Futsal. <http://www.futsal.com.br/noticias/noti-


cia_2009.asp?NumeroID=23800>. Acesso em: 15 jan. 2010.

Então, se tivermos como referência o esporte futsal, perceberemos que a


faixa etária de seus praticantes está em concordância com a idade esco-
lar dos educandos, portanto poderemos adotar o futsal como conteúdo na
Educação Física Escolar, no que se refere à faixa etária, desde os primeiros
anos curriculares.

Cabe ressaltar que temos diferentes saberes com os quais as crianças se de-
param ao longo da vida e necessitam aprender, pois eles já estão presentes
no mundo em que vive:

Objetos-saberes (livros, monumentos e obras de arte, programas


culturais etc.);
Objetos a serem aprendidos (escovar os dentes, amarrar os cordões
do sapato etc.);
Atividades a serem dominadas (ler, nadar, desmontar um motor etc.);
Dispositivos relacionais (agradecer, iniciar um relacionamento amo-
roso etc.) (CHARLOT Bernard, 2000, p. 66).

Por isso, entendemos os esportes como uma “ferramenta de ensino”, e é ra-


zoável fazermos uma transposição pedagógica para ofertarmos os esportes
desde o início do Ensino Fundamental, evidentemente, sem perder o foco do
caráter educacional e formador.

Vivências dos Esportes na Escola


Por fim, como você vivenciaria os esportes na escola? Para respondemos a
essa pergunta, temos que ponderar a respeito das alterações necessárias
para a prática do esporte na instituição escolar. Enquanto no esporte de
alto rendimento os participantes têm que se adaptar às exigências da mo-
dalidade esportiva, tais como: regras rígidas, espaço desportivo (campo ou
quadra), vestuário apropriado, biotipo físico (altura ou peso), entre out-
ras tantas exigências, os esportes praticados na instituição escolar deverão
adaptar-se aos seus praticantes. Em outras palavras, teremos que ficar

Futsal • 15
atentos para fazer as devidas alterações no esporte, para que o maior
número de participantes possível possa praticá-lo.

Assim, talvez um dos maiores atributos do professor de Educação Física, ao


trabalhar com os esportes em suas aulas, seja, sem dúvida, sua capacidade
de disponibilizar para seus educandos o esporte de forma que eles possam
praticá-lo com êxito. Para isso, o professor, necessariamente, terá que, mui-
tas vezes, fazer alterações no esporte que irá ofertar.

Após termos respondido, em parte, às três perguntas básicas:

• Por que você incluiria ou inclui os esportes, como conteúdo, em suas


aulas de Educação Física Escolar? (por ser um conteúdo viável para a
educação);
• Em qual ciclo escolar os esportes seriam mais bem aproveitados pelo
alunado? (desde o início do Ensino Fundamental);
• Como você vivenciaria os esportes na escola? (promovendo alterações
para atender aos objetivos educacionais).

Para responder a essas perguntas, levamos em consideração os aspectos


pedagógicos dos esportes e sua influência na formação da personalidade
wde nossos educandos, entendendo que, para as discussões didáticas, dá
para fazê-las em separado, porém essas duas situações fazem parte do
mesmo processo de intervenção. Conforme Silva (2007, p. 8):

O esporte, sem entrar no mérito das discussões acadêmicas, deve


ser levado em conta como fenômeno da sociedade atual e ser anali-
sado com profundidade para que verdadeiramente eduque e não
prejudique a formação de crianças e adolescentes com a reprodução
do modelo segregador vigente. Parlebas (1980) afirma que ‘o de-
sporto não possui nenhuma virtude mágica. Ele não é em si nem
socializante, nem anti-socializante. Ele é aquilo que se fizer dele’.
Sem dúvida, o esporte pode ser um meio para educação para a vida
contribuindo para o desenvolvimento integral e crítico da criança,
porém deve ir além da formação atlético-técnico-tática e priorizar
valores como a cooperação, a participação, a solidariedade e a cria-
tividade das crianças e jovens que devem ser sujeitos desse processo
e não meros indivíduos enquadrados e moldados para determina-
das modalidades esportivas para que, no futuro, possam fazer essa

16 • Edson Castardeli
transferência e generalização não mais para as quadras e campos,
mas para a vida.

Convidamos você agora a conhecer melhor o futsal e, principalmente, as


alterações viáveis para sua boa vivência na instituição escolar.

Sugestão de Leitura
Discussões acadêmicas sobre esportes na instituição educacional, entre
diferentes autores (Adroaldo Gaya, Alexandre Fernandez Vaz, Celi Nelza
Zülke Taffarel, Eleonor Kunz, Hugo Lovisolo, Marco Paulo Stigger, e
Valter Bracht,) – Livro Esporte de rendimento e esporte na escola.
Campinas, SP: Autores Associados, 2009.

Futsal • 17
2 História
Futsal
O Esporte

Em meados da década de 20 do século XX, o futebol de campo era bem


difundido na região sul do continente americano, em especial na Argentina
e Uruguai. Segundo pesquisa realizada por Jesus (2000, p. 2):

Na América do Sul, os interesses britânicos, apesar de territorial-


mente difusos, encontravam particular concentração no rico co-
mércio platino. Por volta de 1890, a Argentina era a principal prove-
dora de matéria-prima da Inglaterra, mantendo-a suprida de carnes,
cereais e lã.

Como o futebol teve como berço a Inglaterra, logo era de se esperar que o
futebol fosse difundido onde os ingleses foram se estabelecendo.

Até 1905, o inglês será o idioma oficial das atas da Argentinean


Association Football League (CERUTTI, 1990). Os ingleses no Brasil,
em muito menor número, fundaram clubes e colaboraram decisiva-
mente na criação de algumas ligas, mas não chegaram a monopo-
lizar o futebol por tanto tempo ou de forma tão contundente como
no Prata, fato que traduz sua presença expressiva na região (JESUS,
2000, p. 3).

Os ingleses estavam empenhados na implementação das ferrovias na


America Latina e, comitantemente ao desenvolvimento das ferrovias, houve
uma propagação do futebol entre as massas.

18 • Edson Castardeli
Contando com a rede ferroviária, logo o futebol vai espraiar-se para
além da capital, atingindo La Plata (1887), Quilmes (1897) e Rosário
(1889) (CERUTTI,1990:13). Neste sentido, na virada do século XIX
para século XX o futebol começa a deixar de ser privilégio de ing-
leses e da elite local (ALABARCES e RODRIGUES, 1996:24; FRYDEN-
BERG, 1996a). Em 1899 é criada uma ‘segunda divisão’ no interior
da liga para abrigar o volume crescente de novos clubes de futebol
(JESUS, 2000, p. 3).

Após a introdução do futebol em Buenos Aires, sua propagação continua


até o outro lado do rio da Prata, no Uruguai:

Segundo Juan Capelán (1990:7), marinheiros ingleses praticavam


regularmente o futebol em Montevideo por volta de 1880. Muito
conectadas à Inglaterra (e à cidade de Buenos Aires) naqueles fins do
século XIX, as elites montevideanas elegeram tal esporte como via
privilegiada de ’exercício atlético‘ e como forma da ’raça latina‘ ad-
quirir força e confiança (ROCCA, 1990:9). Em 1893, o reitor Alfredo
Vázquez já dizia que através do futebol a raça saxônica seria enfim
superada pela latina (MORALES, 1969:25). Não por acaso, partiu de
acadêmicos de medicina a idéia de fundar em 1899 um clube nativo
para enfrentar os times ingleses (e um importante clube alemão, o
Deustcher Fussball Klub), com o revelador nome de ‘Club Nacional
de Football’ (C.N.F., 1938:14) (JESUS, 2000, p. 3).

Mesmo mudando os objetivos da prática do futebol devido às mudanças


ocorridas no panorama da época, o futebol continuou a se propagar pela
região sul do continente. Por fim, o futebol, um esporte inglês, fez-se popu-
lar no sul da América Latina, sendo praticado nas ruas por milhares de par-
ticipantes, tornando-se esporte de massa (JESUS, 2000).

Em função da escassez de espaço para a prática do futebol de campo, a


alternativa passou a ser o uso das ruas e praças, surgindo, assim, adap-
tações para a sua prática. Em virtude do sucesso da prática do futebol no
Uruguai, a Associação Cristã de Moços, de Montevidéu, que já desenvolvia
alguns esportes, como voleibol e basquete, passou a desenvolver, também,
o Indoor Foot-ball.

Futsal • 19
No Brasil, jovens da Associação Cristã de Moços de São Paulo começaram
a praticar, de forma improvisada, "peladas" nas quadras de outras modali-
dades desportivas, por volta de 1940, como apresenta Souza (2009 p. 11):

‘A História do Futebol de Salão: origem, evolução e estatísticas’ livro


de Vicente Figueiredo, procura de imediato fazer um relato da ori-
gem do futsal, porém esbarra em verdadeiras muralhas, uma vez
que a falta de documentos esclarecedores é um verdadeiro labirinto
cheio de interrogações. A paternidade do futsal é contestada por
brasileiros e uruguaios que afirmam que este esporte tem início em
seu país na década de 30 na Associação Cristã de Moços – ACM e
que brasileiros ali visitando aprenderam e trouxeram para o Brasil.
Este esporte no Uruguai foi proibido pela ACM uma vez que era
muito violento. Já na ACM do Brasil, mais precisamente em São
Paulo, não aboliram, pelo contrário criaram regras e até mesmo fed-
eração. Falando do Espírito Santo, o enfoque é dado a Nilo Etiene
descrevendo sua vida desportiva, principalmente frente ao Futsal.

Dispomos de contexto histórico do futsal praticado aqui no Espírito Santo,


por exemplo, a fundação do Fluminensinho, em 1944.

O Futsal no estado do Espírito Santo já experimentou momentos


de glória e ostracismo em épocas bem distintas. Nas bibliografias
pesquisadas observamos que no passado existiam várias equipes
que disputavam torneios muito competitivos, mas sem dúvida de-
stacamos a agremiação do Fluminensinho, criado na década de 40,
mais precisamente no pós Guerra, onde o mundo se reconstruía e o
esporte foi um elo fundamental nesta reconstrução, não só mate-
rial, mas dos principais valores que regem a humanidade. Em cima
desses princípios nasce mais precisamente no dia 04 de junho de
1944 o Fluminensinho com o objetivo de institucionalizar as peladas
da Praça da Prefeitura. Praça esta que na época era um dos pou-
cos espaços onde a criançada podia brincar. Seus fundadores todos
moradores do centro da cidade de Vitória, alguns com passagem de
sucesso pelo cenário político, empresarial, cultural de nossa cidade.
Mas foi com alguns membros mais determinados que o modesto
time de pelada de rua tomou uma projeção inigualável (SOUZA,
2009 p. 11).

20 • Edson Castardeli
Desporto Futsal
O futsal tradicional é jogado com cinco jogadores por equipe, quatro joga-
dores na linha e um no gol (Esquema 1). A duração do jogo é de dois tempos
iguais.

ESQUEMA 1

Disposição dos jogadores em quadra do desporto futsal.


Obs.: Temos a equipe triângulo azul e a equipe triângulo vermelho.

Para a categoria Adulto, Sub 20 e Sub 17, serão de 40 minutos, divididos em


dois tempos de 20 minutos e com um intervalo de 10 minutos entre eles.
A quadra de jogo é um retângulo, tendo um comprimento mínimo de 25
metros e máximo de 42 metros, e a largura mínima de 15 metros e máxima
de 25 metros.

Futsal • 21
Para a categoria Adulto, Sub 20 e Sub 17, bem como no masculino Sub
15, a bola, em sua circunferência, terá, no mínimo, 62cm e, no máximo,
64cm. Seu peso terá, no mínimo, 400g e, no máximo, 440g (CONFEDERA-
ÇÃO BRASILEIRA DE FUTSAL, 2009).

O desporto futsal possui regras específicas e os jogadores têm de se


adaptar a elas.

Sugestão de Leitura
Regras do futsal (Disponível em: <http://www.futsaldobrasil.com.
br/2009/cbfs/regras.php>.

22 • Edson Castardeli
Desafio do Gênero
O futsal é uma derivação do futebol. Sua prática nas escolas é bem difun-
dida e também muito solicitada pelos educandos, porém existem alguns
3
educacional
Futsal: uma VISÃO
desafios a serem vencidos.

O primeiro desafio é que trabalhamos nas escolas com turmas mistas, com
meninos e meninas juntos, realizando as mesmas atividades em quadra.
Os meninos, culturalmente, possuem uma vivência maior com o futebol,
quando comparados com as meninas. Têm, assim, uma visão global de jogo
mais apurada, um repertório motor mais diversificado para a prática des-
sa modalidade esportiva. Podemos dizer, também, que, em determinadas
faixas etárias, os meninos desenvolvem cerca de dez vezes mais força do
que as meninas. Dessa forma, teremos um desequilíbrio de forças entre os
participantes do futsal na escola.

O segundo desafio é que, em algumas situações, os meninos irão agir de ma-


neira bem previsível. Por exemplo, se o time do menino (X) estiver no ataque
e a bola pingar “macia” na sua frente, irresistivelmente, ele irá “encher o pé”
nessa bola na tentativa de fazer o gol para sua equipe. Se, entre a bola e o
gol, estiver postado na sua frente outro menino (Y), esse menino (Y) irá per-
ceber a jogada no momento em que a bola pingou “macia” para o menino
(X) e, imediatamente, ele irá se virar de lado ou se protegerá com as mãos
ou pés. Entretanto, se, nessa situação, estiver uma menina, o menino (X)
poderá errar o gol, mas a menina ele não irá errar. Fatidicamente, a menina
irá receber uma bolada!

Futsal • 23
Outro exemplo, ainda, é, se a bola estiver ameaçando entrar em seu gol,
devido a um bate-rebate da bola em sua área, o menino (X) não irá hesitar
em dar um chutão na bola para afastar o perigo, não importando quem está
na sua frente. Se, à sua frente, estiver outro menino (Y), esse menino (Y) irá
perceber a situação assim que a bola sobrar com chance real de afastamen-
to do perigo pelo menino (X). Sendo assim, o menino (Y) se protegerá ou
sairá da frente da trajetória da bola, evitando uma bolada. Por outro lado,
se, na mesma situação, à sua frente, estiver uma menina, ela não irá ter uma
leitura rápida da situação e o menino (X), com toda certeza, irá acertá-la
com uma bolada e podemos afirmar que será uma bolada dolorida!

Desafio do Número de Participantes


No jogo de futsal, dispomos de cinco participantes de cada lado da quadra,
ou seja, as equipes são formadas com cinco participantes, com um jogador
no gol e quatro jogadores na linha. Isso indica que o professor de Educação
Física terá dez educandos em quadra, e deverá estar atento. Porém, terá
muito mais educandos do lado de fora da quadra, esperando sua vez para
entrar no jogo. Na prática, se ele tiver 40 alunos, dez estarão jogando futsal
e 30 estarão fora do jogo. Sendo assim, privilegia apenas uns poucos edu-
candos, no caso específico, apenas dez educandos e deixa de dar assistência
aos outros 30 que, por sinal, são a maioria. Equalizar esses números real-
mente passa a ser um desafio.

24 • Edson Castardeli
Vivência do Desafio de Gênero
4
viáveis no futsal
alterações
Um das formas para contornarmos a problemática do desequilíbrio de for-
ças entre os gêneros, masculino e feminino na prática do futsal poderia
ser compor equipes mistas. Porém, de que maneira? Poderíamos elaborar
algumas propostas diferentes para a problemática em questão, entretanto
a sugestão que apresentaremos será montar as equipes com seis partici-
pantes de cada lado na linha, compostas com três meninos e três meninas,
mais dois goleiros (um menino e uma menina) por equipe, perfazendo um
total de oito participantes em cada equipe. O diferencial dessa proposta é
a distribuição dos integrantes da equipe em quadra: as meninas ficarão de
um lado da quadra e os meninos do outro lado. Com essa distribuição, as
meninas não passam para o lado da quadra onde estão os meninos e vice-
versa. Entretanto, a bola passa de um lado para o outro constantemente
(Esquema 2).

Meninos só atacam no gol defendido pelos meninos e as meninas, também,


somente disputam entre elas, assim, teremos um equilíbrio entre a distri-
buição de forças.

Futsal • 25
No segundo tempo, invertem-se os trios. Os que estavam atacando defen-
dem e os trios que estavam defendendo passam a atacar e, concomitante-
mente, substituem-se os goleiros.

ESQUEMA 2

Disposição dos jogadores em quadra do desporto futsal. Obs.:


Temos equipes mistas vermelho e azul, triângulos representam
meninos e bolinhas representam meninas.

Trabalho em grupo
Que proposta você elaboraria para a problemática em questão apresen-
tada nesse item 4.1? Trabalho em grupo (grupos com quatro integran-
tes): após a leitura dos itens 4.1 a 4.6, elabore apenas uma proposta de
alteração no futsal que atenda a uma das problemática apresentada
nos itens 4.1 a 4.6 e entregue ao tutor impresso em papel tamanho A4.

26 • Edson Castardeli
Vivência do Desafio Numérico
Para lidarmos com a problemática numérica, pois, geralmente trabalhamos
com classes numerosas, precisamos tentar colocar o maior número pos-
sível de educandos em quadra. Embora pudéssemos elaborar algumas pro-
postas diferentes, no Esquema 3, encontraremos uma colaboração interes-
sante para essa questão numérica, em que cada equipe terá 14 integrantes,
com sete meninos e sete meninas. Na parte interna da quadra, teremos um
goleiro (menino) e seis na linha composto de três meninos e três meninas.
Na parte externa, teremos a outra metade do time, com três integrantes de
cada lado, mais um na linha de fundo (goleiro, que ficará na baliza oposta).
A outra equipe ocupará a mesma disposição, porém em posição invertida
em relação à primeira equipe.

ESQUEMA 3

Disposição dos jogadores em quadra do desporto futsal. Obs.:


Temos equipes mistas vermelho e azul, triângulos representam
meninos e bolinhas representam meninas.

Futsal • 27
Quando uma equipe marcar gol, invertem-se os jogadores da equipe mar-
cadora. Quem estiver jogando dentro da quadra sai, passando a ocupar os
lugares dos alunos que estavam jogando fora e quem estava jogando fora
da quadra entra para jogar dentro da quadra. Nesse momento, a equipe que
sofreu o gol não muda suas posições, somente muda suas posições quando
marcar gol. Porém, quando a equipe adversária marcar dois gols seguidos,
mudam-se as posições das duas equipes.

Integração entre os Gêneros


Entendendo que dispomos de alternativas diversas e, dentre elas, o futsal de
pares (meninos e meninas), em que teremos equipes formadas por quatro
pares de mãos dadas mais o goleiro, o jogo transcorre de maneira tradicio-
nal, porém sem que os pares soltem as mãos (Esquema 4).

ESQUEMA 4

Disposições dos jogadores em quadra.


Obs.: Temos as equipes com duplas mistas. Os triângulos represen-
tam os meninos e as bolinhas representam as meninas.

28 • Edson Castardeli
Priorizar o Dinamismo
Certas faixas etárias, por exemplo, os 4º ou 5º anos do Ensino Fundamental,
apresentam-se com um dinamismo extra, ou seja, os educandos são muito
ativos. As vivências oferecidas têm que ter ritmo mais acelerado do que as
habituais. Poderíamos trabalhar algumas alternativas. Uma delas é o futsal
com quatro gols em vez de dois, como é tradicionalmente.

As equipes são dispostas em quadra de forma tradicional, com cinco para


cada lado da quadra, porém teremos mais um goleiro por equipe, assim eles
terão o dobro de oportunidades de fazer gol, pois teremos, no centro da
quadra, mais dois gols, um de cada lado (Esquema 5).

ESQUEMA 5

Disposições dos jogadores em quadra.


Obs.: Temos equipes mistas vermelho e azul, triângulos represen-
tam meninos e bolinhas representam meninas.

Futsal • 29
Minipartida
O futsal poderá ser desenvolvido, também, em espaços menores ou otim-
izar o espaço disponível para sua prática. Uma das propostas poderia ser
trabalhar com gols menores, feitos com cones, e utilizar as duas metades
da quadra na transversal (Esquema 6). Assim, colocaríamos duas equipes
jogando ao mesmo tempo, no entanto, partidas diferentes.

ESQUEMA 6

Disposições dos jogadores em quadra.


Obs.: Temos quatro equipes mistas de cores diferentes, triângulos
representam meninos e bolinhas representam meninas.

Poderemos aumentar, ainda, dobrando o número de equipes de quatro para


oito equipes em quadra (Esquema 7).

30 • Edson Castardeli
ESQUEMA 7

Direções dos jogos em quadra


Obs.: As setas indicam o sentido que as equipes irão jogar.

Reformulações de Regras
Pode-se, ainda, manter-se o formato original do jogo, como mostra o Es-
quema 1, porém alterando as regras de acordo com a proposta e o objetivo
da aula. Por exemplo, utilizar equipes mistas com dois meninos e duas me-
ninas na linha por equipe, em que as equipes têm que alternar os ataques
à equipe adversária. Se o primeiro ataque (chute ao gol) for feito pelos
meninos, o segundo chute ao gol adversário terá que ser, necessariamente,
pelas meninas.

Outra forma de interferir na dinâmica do jogo é trabalharmos a bilaterali-


dade, ou seja, predefinir com que pé terá que ser feito o chute ao gol da
outra equipe, ora com o direito e ora invertendo o pé, com o esquerdo.

Por fim, tendo como preceito a práxis pedagógica (prática e teoria em ação),
é que podemos visualizar o pleno exercício da cidadania pelo educando,
quando ele é capaz de significar suas aprendizagens pela participação,
conseguindo elaborar, executar, conduzir e, se necessário, reformular as

Futsal • 31
vivências nas aulas, compreendendo as diferenças na sociedade em que
vive e com capacidade de fazer uma leitura crítica do fenômeno esportivo
nas mídias contemporâneas.

Concepção de Método
Há um dito popular alemão diz que “Muitos caminhos conduzem a Roma”.
Isso significa que se pode atingir um objetivo determinado de várias formas.
Os professores de Educação Física podem seguir diferentes caminhos para
alcançar os seus objetivos de ensino/aprendizado.

Para atingirmos os objetivos propostos, ensinar o futsal, devemos estabe-


lecer ou eleger algum método de ensino ou alguns métodos e, principal-
mente, devemos nos basear nesses métodos de ensino para propiciar um
melhor desenvolvimento do ensino/aprendizado do futsal.

Os métodos de ensino representam, portanto, as vias, o modo de orga-


nização do trabalho e do material submetido à aprendizagem, utilizados
pelo professor, com vista à apreensão ativa e consciente, pelo educando,
dos hábitos, habilidades e conhecimentos necessários à prática de um jogo
desportivo (TEODORESCU, 1984).

Para melhorar o desenvolvimento da consciência de jogo e da capacidade


de tomada de decisão, Bunker e Thorpe propuseram, em 1982, o resgate do
modelo global-funcional, pautado na participação do aprendiz em jogos
adaptados (mini-games), como o mais indicado para promover um trei-
namento dirigido para as habilidades técnicas/táticas (GRECO, 1998).

Entretanto, existem outros métodos, como o método analítico. Este pode


ser também chamado de método parcial ou tecnicista e é definido como
“[...] aquele em que o professor parte das habilidades fundamentais, como,
partes isoladas, e somente após o domínio de cada um dos fundamentos,
o jogo propriamente dito é desenvolvido” (PINTO; SANTANA, 2005, p. 2). A
junção dos dois métodos já mencionados, o método parcial sintético com
o método global-funcional, dá origem ao método misto de ensino dos es-
portes individuais. Com o método misto, conservam-se as características
intrínsecas de cada um dos métodos que o constitui.

32 • Edson Castardeli
Portanto, é imprescindível que o professor conheça diferentes métodos de
ensino para o futsal, para que possa ampliar o aprendizado de seus educan-
dos. Entretanto, a ênfase dada às propostas deste fascículo está pautada na
teoria dos jogos, tendo como base o método global.

Concepção de Técnica
Como fazer a operacionalização do método? Para a transmissão do conhe-
cimento técnico do futsal, dispomos de diferentes técnicas de ensino.

1) Técnica da apresentação: objetiva-se obter boa compreensão dos movi-


mentos a executar. As principais técnicas de apresentação consistem
nas explicações e demonstrações, que podem ser simplesmente descriti-
vas ou destinar-se a entrar na análise de pormenores:

b. demonstração ideal: feita na totalidade do movimento proposto, que


poderá ser efetivada pelo professor ou por um dos estudantes que
execute o movimento de forma satisfatória em sua totalidade. Este
tipo de demonstração dá ao estudante uma visão global do exercí-
cio. No entanto, esta técnica perde parte de sua eficácia, quando os
movimentos são efetuados com velocidade, como é o caso dos saltos
no atletismo;

c. demonstração lenta: partes dos exercícios completam a demonstra-


ção da totalidade do movimento proposto e põem em evidência as
suas fases mais importantes. Este tipo de demonstração é utilizado
nas rotinas de lançamento (dardo e disco) em que o educando tem
a oportunidade de visualizar em movimento lento, enquanto a sua
minuciosa explicação vai sendo dada.

2) Por meio de filmes: com filmes, o professor pode dar explicações mais
claras e precisas. O filme apresenta diversas vantagens em relação à
imagem estática, como fotos, pois mostra muito melhor todas as se-
quências dos movimentos.

Futsal • 33
considerações finais
As propostas de vivências com o futsal aqui explicita- educando terá a oportunidade de agregar valores con-
das, neste fascículo, não têm por objetivo a simples sistentes ao um núcleo psicológico (ex.: respeito, soli-
apresentação de receituário para aplicação, sem as dariedade, justiça), aprenderá a ajustar-se melhor ao
devidas transposições pedagógicas, pois encontramos, ambiente social em que vive, com suas respostas típi-
em literatura especializada na área da Educação Física, cas, e poderá experimentar diferentes comportamentos
ao longo décadas, a utilização dos esportes na Educa- relacionados com os desempenhos de papeis.
ção Física escolar (SCHNEIDER, 2010). Entretanto, sem Pelo exposto, podemos concluir que os educandos
as devidas transposições pedagógicas, os objetivos da terão uma maior probabilidade de evolução de sua au-
Educação Física escolar passaram por questões nacio- tonomia, na relação da construção do exercício de sua
nalistas, eugênicas, pré-militares, revelação de atletas cidadania, quando têm a oportunidade de vivências
etc. Normalmente são instituídos de fora da escola práticas esportivas pedagogizadas.
para dentro, sem dar atenção às ações pedagógicas ne-

agradecimento
cessárias (BETTI, 2002).
Com as execuções das vivências com o futsal, espera-se
que o educando desenvolva seu censo crítico, compor-
tamentos atitudinais de respeito, solidariedade, justiça Agradecemos ao Instituto de Pesquisa em Educação e
e diálogo na construção do exercício de sua cidadania Educação Física (Proteoria/Ufes) pelos préstimos e aces-
(BRASIL, 1998). Podemos afirmar que teremos contri- sibilidade facilitados em seu acervo bibliográfico, o que
buições, também, na formação da personalidade, pois o foi de grande valia para a elaboração deste fascículo.
referências
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CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTSAL. Disponível em:
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da anatomia: saberes ne- asp?NumeroID=23800>. Acesso em: 15 jan. 2010.
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GHIRALDELLI Júnior, Paulo. O que é pedagogia. 3. ed. regras.php>. Acesso em: 8 fev. 2010.
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GRECO, P J. Iniciação esportiva universal: metodolo- LISTELLO, Auguste. Educação pelas atividades físicas,
gia da iniciação esportiva na escola e no clube. Belo esportes e de laser. São Paulo: EPU, Ed. da Univer-
Horizonte: Ed. UFMG, 1998. sidade de São Paulo, 1979.
JESUS, G.M. A via platina de introdução do futebol MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria da educação
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<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24. WEINBERG, Robert S.; GOULD Daniel. Fundamentos da
pdf>. Acesso em: 19 fev. 2010. psicologia do esporte e do exercício. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed Editora, 2001.
Encerramos convidando você a
comparecer às oficinas no Centro de
Educação Física do Campus Ufes-
Vitória, onde apresentaremos essas
vivências citadas (Esquemas 1 a 7)
entre outras alterações existentes no
futsal, em que são viáveis o seu uso
nas instituições educacionais.

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