O cenário de grandes mudanças sociais, políticas e econômicas que o
Brasil está vivenciando são reflexos de um contexto capitalista em escala mundial,
pautado em políticas neoliberais, abrangendo inclusive a Educação. A gestão educacional brasileira, sintonizada com este pensamento, enfrenta desafios em suas políticas públicas que perpassam pela formação de professores, didática e currículo. A didática está relacionada com as mais variadas concepções de docência, sendo fundamental na Formação de Professores. A relação ensino- aprendizagem é dinâmica e precisa ser construída, principalmente as que são relacionadas às diferenças culturais no dia-a-dia da escola. Conforme Emilia Ferreiro, as diferenças devem ser conhecidas e reconhecidas e transformadas em vantagem pedagógica, não sendo um déficit cultural e sim um cruzamento de culturas, com mediação reflexiva e em diferentes expressões, dentro de uma perspectiva crítica. A interculturalidade crítica faz com que as diferenças sejam uma construção das identidades tornando-as dinâmicas, abertas e não singulares, favorecendo o empoderamento dos sujeitos envolvidos, rompendo processos homogêneos. Ou seja, uma desconstrução, com múltiplas linguagens que estimulam a construção coletiva, algo desafiador na formação docente. Romper com práticas educativas pragmáticas enraizadas no trabalho docente requer desprendimento e coragem do professor. Valorizar histórias de vida dos alunos e os reconhecer os movimentos sociais como parte deste processo pode ser um primeiro passo para essa mudança, sendo este uma das funções sociais da escola. Infelizmente, a perspectiva inserida na Base Nacional Curricular Comum (BNCC) vai em sentido oposto, pois conforme Kuenzer e Ramos o exercício do professor possui uma visão reducionista, limitada e expressando um retorno ao tecnicismo reeditado, denominado pedagogia das competências. Se por um lado há o desafio de romper com a visão limitada da docência pela pedagogia das competências; por outro é necessário que o professor esteja assegurado em sua docência, com a materialização da Constituição Federal (CF) e do Plano Nacional de Educação (PNE). Tanto a CF quanto o PNE possuem grande relevância política diante do atual cenário conservador e neoliberal que o país está atravessando. A Escola sem Partido, redução da autonomia docente, cortes nos orçamentos pelo Ministério da Educação (MEC) contribuem significativamente para este retrocesso, sendo todos estes opositores da efetivação das políticas públicas direcionadas à garantia dos direitos, implicando na garantia do Estado Democrático de Direito, onde a redução nos orçamento não garante que o PNE seja efetivo e aplicado. Portanto, o docente enfrenta muitos desafios seja no âmbito da sala de aula quanto do sistema educacional como um todo em virtude deste cenário que se encontra. Necessitando ser encorajado a trabalhar na construção de um ser cidadão reflexivo em sua sala de aula e não apenas moldá-lo para o mercado de trabalho. Essa luta não deve ser isolada do professor, mas um engajamento da sociedade civil e política na defesa para assegurar o direito fundamental à educação de qualidade pautada nos valores, em defesa da democracia e não uma política pública de Estado.