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IRRIGAÇÃO EM CITROS
NAS CONDIÇÕES DO NORDESTE DO BRASIL
Resumo
Na maior parte do território brasileiro, a distribuição
anual das chuvas não atende às necessidades hídricas das plantas
cítricas durante todo o ano. No Nordeste, isso se observa no Oeste
da Bahia, no Meio-Norte e na faixa próxima do litoral (tabuleiros
costeiros). Na parte semi-árida, há ainda o problema de o total
anual das chuvas ser inferior a 800 mm. Sua distribuição irregular
propicia a ocorrência de longos períodos de déficit hídrico no solo
e conseqüente estresse hídrico às plantas, gerando decréscimo
de produtividade e de produção. Neste contexto, a irrigação
constitui uma ferramenta indispensável para o incremento da
produtividade. O presente trabalho objetiva expor os métodos de
irrigação, as relações hídricas e as formas de manejo de irrigação,
para culturas cítricas, principalmente laranja [Citrus sinensis
(L.) Osbeck] e lima ácida Tahiti [Citrus latifolia (Yu. Tanaka)].
Apresentam-se resultados de pesquisas obtidos em condições
edafoclimáticas do semi-árido, de forma a contribuir para a de-
cisão da escolha do método e do sistema de irrigação e sugerir
opções de manejo da irrigação, com vista à sustentabilidade dos
recursos hídricos e maximização de produtividade.
Termos de indexação: manejo de irrigação, irrigação locali-
zada, laranja, limão.
1
Engenheiro Agrícola, Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Caixa Postal 007, 44380-000
Cruz das Almas (BA). E-mail: ecoelho@cnpmf.embrapa.br.
2
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura. E-mail: macoelho@cnpmf.
embrapa.br
3
Engenheiro Agrônomo, Doutorando em Irrigação e Drenagem – Universidade Federal de Viçosa. E-mail:
welsimoes@yahoo.com.br.
4
Engenheiro Agrônomo, Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura. E-mail: ygor@cnpmf.
embrapa.br.
artigo técnico
298 Eugênio Ferreira Coelho et al.
Summary
IRRIGATION FOR CITRUS IN THE NORTHEAST OF BRAZIL
The volume of rain throughout the year has not been
enough to supply water needs for citrus crops in most of the
Brazilian territory. In the Northeast, the problem is even more
critical due to the limitation of rains (maximum of 800 mm per
year), which is characteristic of part of the region (thus classified
as semi-arid), and the water deficits that occur at west of Bahia
State, at North and at the coastal tableland zones. The long
periods of water deficits in the soil result in low yields for citrus
crops. Irrigation is an important tool for increasing and keeping
good levels of yields for that region. This work had as objective
to investigate the soil-water-plant-atmosphere relationships for
citrus crops, mainly sweet orange [Citrus sinensis (L.) Osbeck]
and Tahiti lime [C. latifolia (Yu. Tanaka)]. Results of research
developed under semi-arid conditions are shown as a way to
give to users conditions for decision in choosing the irrigation
method and system as well as the conditions for an efficient
irrigation management with water resource sustainability and
optimization of yields.
Index terms: irrigation management, trickle irrigation, orange,
lemon.
1. Introdução
Citros compreende um grupo de fruteiras dos mais importantes para
o Brasil, não somente devido ao valor nutritivo dos frutos como, também,
ao papel social e econômico que desempenha como produto de exportação.
O Brasil colheu, aproximadamente, 17,7 milhões de toneladas de laranja em
2005, numa área de 810.426 ha (FNP, 2006). A produção de lima ácida Tahi-
ti, no mesmo período, foi de 981,000 toneladas, numa área de 50.950 ha. O
Nordeste brasileiro tem sido a segunda região produtora de laranja e de lima
ácida Tahiti do País, tendo contribuído com 9,3% da produção de laranja e
7,6% da de lima ácida Tahiti (FNP, 2006).
A grande maioria dos pomares brasileiros, no entanto, apresenta baixa
produtividade (duas caixas por planta), em vista da combinação de diversos
2. Necessidade de irrigação
na região Nordeste do Brasil
A aptidão agroclimática de uma região para determinada cultura
verifica-se mediante o estudo da disponibilidade energética, traduzida nas
variações térmicas ao longo do ano e de análises de extratos de balanços
hídricos climatológicos que informam, a partir do conhecimento da eva-
potranspiração potencial (demanda atmosférica), do suprimento natural de
água (chuva) e da capacidade de água disponível do solo (CAD) para uma
cultura de interesse, as variações do armazenamento da água no solo, os
valores do excedente hídrico (EXC) e de deficiência hídrica (D EF), geral-
mente em escala mensal. A partir dessa análise, pode-se recomendar uma
região para o plantio de uma espécie frutífera, indicando as necessidades de
complementação das chuvas em cada período do ano, sendo essa uma boa
base para o planejamento das irrigações.
No Nordeste, há o problema do total anual das chuvas, abaixo de 800
mm, na parte semi-árida, e da má distribuição anual, no Oeste da Bahia, no
Meio-Norte e na faixa próxima do litoral. Thornthwaite & Mather
(1955) apresentaram extratos de balanço hídrico climatológico para algumas
localidades representativas do Nordeste (Figura 1), onde se verifica grande
variabilidade climática, enfatizando a necessidade de irrigação em toda a
mm
mm
mm
mm
mm
mm
Nível de irrigação
Figura 2. Curva de resposta da laranja ‘Pêra’ com 4 anos de idade a diferentes níveis
de irrigação na região de Inhambupe (BA).
Tratamento
Figura 3. Produtividade média (kg/ha) da lima ácida Tahiti enxertada em limão Cravo
e submetida a três disposições de gotejadores (T1, T2 e T3), no Norte de Minas
Gerais. Fonte: Simões et al. (2006a).
resultados dão vantagem para o sistema com uma linha lateral por fileira de
plantas, com ramificação em forma de anel.
A microaspersão se adapta melhor aos solos arenosos, pela maior
percentagem de área molhada (Pm) que assegura à planta. A disposição
dos microaspersores pode variar no pomar e influenciar a resposta da cul-
tura à irrigação. Simões et al. (2006b) avaliaram a produtividade e o peso
médio dos frutos de um pomar de lima ácida Tahiti de quatro anos, subme-
tido a três diferentes disposições de microaspersores, na região Norte de
Minas Gerais. O trabalho envolveu três configurações do sistema: T1 – um
micro por planta entre plantas ao longo da fileira; T2 – um micro para duas
plantas ao longo da fileira, e T3 – um micro por planta a 0,3 m do caule.
Houve diferença significativa entre os tratamentos, com superioridade do
T2 seguido do T3, e com menor produtividade para o T1 (Figura 4). Quan-
to ao peso médio dos frutos, não se observou diferença significativa entre
os tratamentos. Os resultados mostraram viabilidade da instalação de um
microaspersor para duas plantas, posicionado entre plantas, ao longo da
fileira. É necessário salientar que o microaspersor, no caso, deve ter raio
de alcance do jato próximo ou acima de 3,0 m.
Tratamento
Figura 4. Produtividade média da lima ácida Tahiti, sob o porta-enxerto limão Cravo,
submetida a três disposições de microaspersores, no Norte de Minas Gerais.
Fonte: Simões et al. (2006b).
6. Manejo da Irrigação
Esse manejo envolve a tomada de decisão sobre quando irrigar e
quanto de água aplicar. Para auxiliar o produtor na decisão mais apropria-
da, desenvolveram-se diferentes métodos. Pode-se, portanto, programar a
irrigação de uma área cultivada, adotando um método ou uma combinação
de dois ou mais. Os mais usados métodos de manejo da irrigação disponí-
veis, na prática, baseiam-se em medidas do teor de água no solo, no uso de
instrumentos que medem a evaporação de uma superfície de água livre e no
balanço hídrico diário na zona radicular.
(1)
Potencial (kPa)
(3)
A
Profundidade (m)
(mm), ou seja, a fração da precipitação total (P) que contribui para atender
às necessidades hídricas das plantas.
O balanço de água deve iniciar com o solo na capacidade de campo. A
decisão de irrigar ou não dependerá das seguintes condições:
(1) Se Di ≥ LRN, irrigar;
(2) Se Di < LRN, não irrigar.
em que LRN é dado pela equação 2 e representa o déficit total permissível
na zona radicular.
Na equação 3, ETc e Dr têm sinais positivos, pois esses componentes
do balanço hídrico contribuem para o déficit de água no solo. Os compo-
nentes I e Pe acrescentam água e, portanto, são negativos, pois reduzem o
déficit. Na irrigação localizada, Dr pode ser considerada desprezível, uma
vez que a irrigação objetiva unicamente elevar a umidade do solo à capaci-
dade de campo. Após uma chuva (P), num dia i qualquer, usa-se o seguinte
critério:
(3) Se P > Di, Pe = Di e Dr = P - Di;
(4) Se P ≤ Di, Pe = P e Dr = 0.
(4)
em que Am é a área molhada pelo emissor em m2; Ea, a eficiência de irrigação,
que pode ser tomada como 85%, na falta de dados disponíveis.
Na equação 4 a área molhada pode ser substituída pelo produto do co-
eficiente de redução da área total de cada planta (Kl) pela área ocupada pela
cultura, em m2. Segundo Pizarro (1990), alguns métodos foram propostos
para calculo do Kl (Tabela 2), as quais são funções da percentagem de área
molhada ou da área sombreada (Ps).
O tempo de irrigação é calculado dividindo o volume total necessário
(VTN), pela vazão do emissor.
4. Se a precipitação efetiva for superior à evapotranspiração da cultu-
ra, isto é, PE > ETc, usa-se a diferença (PE – ETc) como precipitação para
ser somada à precipitação total na próxima irrigação, obedecendo ao mesmo
critério estabelecido em 1.1.
Esse método indica que o solo deve permanecer próximo da capacida-
de de campo e a irrigação consiste na reposição da água evapotranspirada. É
necessário instalar em campo sensores de potencial ou de umidade do solo,
de forma que se possa avaliar a precisão do método.
Uso do tanque classe A
Dentre os instrumentos de evaporação usados em manejo da irriga-
Fonte Jan. Fev. Mço. Abril Maio Jun. Jul. Ag. Set. Out. Nov. Dez.
Castel (A) 0,66 0,65 0,66 0,62 0,55 0,62 0,68 0,79 0,74 0,84 0,73 0,60
FAO (A1) 0,75 0,75 0,70 0,70 0,70 0,65 0,65 0,65 0,65 0,70 0,70 0,70
FAO (A2) 0,90 0,90 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85
Castel (B) 0,55 0,71 0,54 0,52 0,44 0,53 0,63 0,69 0,68 0,66 0,72 0,79
FAO (B1) 0,65 0,65 0,60 0,60 0,60 0,55 0,55 0,55 0,55 0,55 0,60 0,60
FAO (B2) 0,90 0,90 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85 0,85
FAO (C1) 0,55 0,55 0,50 0,50 0,50 0,45 0,45 0,45 0,45 0,45 0,50 0,50
FAO (C2) 1,00 1,00 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95
A = Plantas adultas cobrindo mais de 70% do terreno.
B = Plantas jovens cobrindo 50% do terreno.
C = Plantas jovens cobrindo 20% do terreno.
1- Plantas em terreno limpo, 2 - Plantas em terreno com mato.
IRRIGAÇÃO EM CITROS NAS CONDIÇÕES DO NORDESTE DO BRASIL
Método Equações
Decroix (1971) Kl = 0,1 + Ps
Aljibury et al. (1974) Kl = 1,34 Ps
Keller (1974) Kl = 0,0085 Ps + 0,15
Fereres (1981) Kl = 1 se Ps > 65
Kl = 0,0108667 Ps + 0,29988889 se Ps ≤ 20
Kl = 0,0194 Ps + 0,1 se Ps > 20 e Ps ≤ 65
Keller & Karmeli (1975) Kl = Ps/0,85
(6)
25% e 50% nas fases de floração (I) crescimento dos frutos (II) e final de
crescimento de frutos (III). Não se observaram diferenças significativas en-
tre as produtividades alcançadas nos tratamentos aplicados, sendo um bom
indicativo de que o uso regulado poderá ser aplicado com eficiência para
Tahiti enxertada em limão Cravo irrigado por gotejamento em condições
semi-áridas do Nordeste brasileiro. Os resultados mostraram que é possível
reduzir os volumes irrigados de 6 a 23% na Fase I, de 4 a 15% na Fase II e
de 2 a 8% na Fase III.
(9)
Se FL ≤ 0,10 LTN não há necessidade de correção do VTN; caso
contrário, deve-se fazer a correção.
7. Considerações Finais
O uso da irrigação em pomares de citros nas condições edafoclimá-
ticas do Nordeste é imprescindível tanto nas zonas semi-áridas como nos
tabuleiros costeiros. Os sistemas de irrigação mais indicados na região são:
microaspersão, com possibilidade de se dispor os emissores próximo das
plantas ou entre plantas ao longo da fileira, principalmente em solos de tex-
tura grossa; gotejamento, com, pelo menos, 5 emissores por planta adulta, ao
redor da planta, em solos de textura fina.
O manejo das irrigações nas condições do Nordeste pode-se realizar
por diversos métodos, desde que se levem em conta à sua adaptabilidade às
condições locais e que se façam os devidos ajustes de campo. Em regiões
com potencial de salinização dos solos, dada a sensibilidade dos citros à
salinidade, torna-se necessário aplicar uma lâmina maior, que promova a
lixiviação dos sais para fora da zona de extração de água pelas raízes.
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