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ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCO – SISTEMA DE

REFRIGERAMENTO UTILIZANDO AMÔNIA


Gabrielli de Oliveira Vaz¹, Sandra Poletto2
I
Engenheira Ambiental (UPF) E acadêmico de Pós Graduação em Engenharia da Segurança do Trabalho Faculdade
Meridional _ IMED:
II
Professora da Pós Graduação em Engenharia da Segurança do Trabalho (IMED). Mestre em Engenharia de Produção
pela UFRGS.

Resumo: Atualmente os frigoríficos utilizam gases tóxicos tais como a amônia, em seus sistemas
de refrigeração, considerando a ocorrência de vazamentos, tais sistemas podem vir a expor os
trabalhadores, meio ambiente e as populações lindeiras a um risco continuo e iminente. A fim de
prever os riscos resultantes de um provável vazamento, a Análise Preliminar de Risco (APR) será
utilizada como método para avaliar e qualificar possíveis riscos de vazamentos nas instalações de
refrigeração. O estudo elaborou um modelo de APR para ser aplicado em um abatedouro de aves,
localizado no município de Soledade, Norte do Estado do Rio Grande do Sul. Tal frigorífico
utilizara um tanque de armazenamento com dimensões de 1,20m de diâmetro e com 3,00m de altura
e terá capacidade para armazenar 3.000L de amônia. A APR é considerada um dos itens necessários
para a obtenção da licença de implantação da empresa junto ao órgão competente do estado
Fundação Estadual de Proteção Ambiental - Fepam. Para a elaboração da APR, foi utilizada a
metodologia descrita pelo órgão fiscalizador do estado (Fepam). A avaliação constou da
interpretação da orientação descrita no manual técnico e a sua capacidade em substanciar uma APR
adequada. Para a análise, foram abordados os possíveis perigos, efeito dos possíveis danos causados
bem como, orientações a serem tomadas, alternativas e soluções para as situações de risco
observadas na planta da unidade. Diante do exposto, salienta-se que a APR é um dos itens
necessários para obtermos a Licença de Instalação do empreendimento junto ao órgão fiscalizador
FEPAM. Através da APR, concluímos que para os cenários previstos, obteve-se a categoria de risco
1. Segundo o manual da Fepam, instalações e atividades classificadas na categoria de risco 1 ficam
isentas de exigências no que diz respeito a riscos industriais. A fim de evitar que os cenários
previstos ocorram, recomenda-se que seja realizada a manutenção das concentrações ambientais,
mantendo as mesmas em níveis os mais baixos possíveis e sempre abaixo do nível de ação (NR-9),
por meio de ventilação adequada. Podem ainda ser implantados mecanismos para a detecção
precoce de vazamentos. O desejável é que a instalação de monitores ambientais sejam acoplados a
sistema de alarme, especialmente nos locais críticos.
Palavras-chave: Análise preliminar de risco, Amônia, Sistema de refrigeração, Manual de riscos
Fepam, Segurança no trabalho.

Abstract: Refrigerators currently use toxic gases such as ammonia in their refrigeration systems,
considering the occurrence of leaks, such systems may expose workers, the environment and
surrounding populations to a continuous and imminent risk. In order to predict the risks resulting
from a probable leak, the Preliminary Risk Analysis (APR) will be used as a method to assess and
qualify potential risks of leakage in refrigeration facilities. The study elaborated a model of APR to
be applied in a poultry slaughterhouse, located in the municipality of Soledade, North of the State
of Rio Grande do Sul. Such a refrigerator used a storage tank with dimensions of 1,20m in diameter
and with 3, 00m high and will have capacity to store 3,000L of ammonia. The APR is considered
one of the necessary items to obtain the company's installation license from the State Department of
Environmental Protection Foundation - Fepam. For the elaboration of the APR, the methodology
described by the state inspection body (Fepam) was used. The evaluation consisted of the
interpretation of the guidance described in the technical manual and its ability to substantiate an
appropriate APR. For the analysis, the possible hazards, effects of possible damages caused, as well
as, guidelines to be taken, alternatives and solutions to the risk situations observed in the plant of
the unit were discussed. In view of the above, it should be pointed out that APR is one of the items
necessary to obtain the Installation License of the project from the FEPAM inspection body.
Through the APR, we conclude that for the scenarios foreseen, category 1 was obtained. According
to the Fepam manual, facilities and activities classified in risk category 1 are exempt from
requirements with regard to industrial risks. In order to prevent the expected scenarios from
occurring, it is recommended that environmental concentrations be maintained, keeping them at the
lowest possible levels and always below the action level (NR-9) by means of adequate ventilation.
Mechanisms for the early detection of leaks can also be implemented. It is desirable that the
installation of environmental monitors be coupled to alarm system, especially in critical locations.

Keywords: Preliminary risk analysis, Ammonia, Cooling System, Fepam Hazard Handbook, Safety
at work.

1 – INTRODUÇÃO

De acordo com a norma OHSAS 18001, acidente é qualquer situação ou evento indesejado
que causa danos à saúde do trabalhador, instalações e equipamentos. Já o Ministério do trabalho
considera apenas os danos à saúde do trabalhador, porém em muitos casos um acidente pode causar
além dos danos pessoais, danos ao meio ambiente, podendo ser incluída as populações vizinhas das
instalações industriais.
Inúmeros acidentes que geraram danos ambientais e danos a populações vizinhas as
instalações industriais não são relatados, seja por não apresentarem proporções catastróficas, ou por
não caracterizarem impactos visíveis em curto prazo. (Calixto, 2009).
Segundo a OMS, aproximadamente 20 a 90% dos trabalhadores vivem em países, ou
regiões, sem acesso a quaisquer serviços de saúde ocupacional, 80% da população ativa encontra-se
nos países em desenvolvimento e industrializados, a organização estima que cerca de 30 a 50% dos
trabalhadores podem vir a sofrer com problemas de saúde oriundos das condições de trabalho
insalubres ao qual são expostos exposição diretamente a agentes físicos, químicos ou biológicos.
Lopes (2015) realizou um estudo de caso envolvendo instalações de refrigeração de um
frigorífico. O estudo de análise de risco abordou se a metodologia de órgãos ambientais, que é
usada para a manutenção ou obtenção de licença de instalação/operação ambiental de
estabelecimentos que produzem ou utilizam substâncias tóxicas, é um método válido para o
conhecimento dos riscos e possíveis efeitos de vazamentos de gases com formação de nuvens
tóxicas, como a amônia por exemplo.
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, a amônia é um elemento que apresenta
inúmeras vantagens, como por exemplo: ser o único agente refrigerante natural ecologicamente
correto, que não agride a camada de ozônio, tampouco agrava o efeito estufa. (Brasil, 2014)
Em contrapartida, a amônia possui uma alta toxicidade, a mesma torna-se explosiva em
concentrações de 15 a 30% em volume, o que o que carece de uma demanda de cuidados
específicos na sua utilização. Alguns processos necessitam de fluídos refrigerantes, em
determinadas características físico-químicas especiais devido as condições de temperatura, pressão
e umidade diferenciadas do habitual, que podem resultar no aumentando os riscos específicos à
segurança e à saúde, relacionados com o tipo do agente refrigerante utilizado, assim como com as
instalações e equipamentos. (CETESB, 2003).
Estudos desenvolvidos por Dalcin (2016) revelam que a amônia, em um sistema de
refrigeração por compressão de vapores, em uma de suas fases do ciclo frigorífico, se apresenta
liquefeita à alta pressão. Portanto, em caso de vazamento em tal fase, a massa de amônia vazada
ocuparia aproximadamente um volume 850 vezes maior no ambiente, o que formaria nuvens de
vapor tóxico de grande porte.
O Quadro 1 apresenta as principais características a serem consideradas na amônia industrial
que será usada pela empresa em seu sistema de refrigeração. As informações apresentadas a seguir
foram retiradas da Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos-FISPQ da amônia.
Quadro 1: Características da amônia (Adaptado de FISPQ – NH3) 2016.
Gás incolor. Líquido incolor sob alta
Aspecto (estado físico, forma e cor)
pressão
Taxa de evaporação 0,80 a 25ºC
Inflamabilidade Extremamente inflamável
Pressão de vapor 10 atm. a 25ºC
Densidade 0,6087 g/cm³ a 21.1ºC

A amônia anidra quando líquida é liberada em forma de spray, comporta-se como um gás
denso. Tal gás pode vir a aumentar o potencial de exposição dos trabalhadores e do público,
conforme afirmativas feitas pela agência americana de proteção ambiental (Environmental
Protection Agency - EPA). Levando em conta o grau de periculosidade da amônia, é de suma
importância que as indústrias ao fazerem uso da mesma, realizem um gerenciamento de risco
aplicado às áreas de refrigeração.

Análise Preliminar de Riscos – APR

Inicialmente utilizada por militares, atualmente a APR é usada como uma técnica que visa à
prevenção de acidentes do trabalho através da antecipação dos riscos oriundos pelas atividades
desenvolvidas diariamente nos diferentes ambientes de trabalho.
Acidentes de trabalho em ambientes industrias ocorridos como Flixborough, Piper Alpha,
Exxon Valdez e PETROBRAS-P36, nos mostram que tais incidentes podem ter consequências
catastróficas, por isso os grandes grupos corporativos, na tentativa de minimizar os prejuízos e
resgatar a credibilidade junto aos órgãos de governo, aumentaram seus investimentos em prevenção
e controle de acidentes. Apesar de todos os esforços na implantação de sistemas de gestão integrada
e certificação de segurança, qualidade e meio ambiente, associado aos programas de gerenciamento
de risco, muitas destas empresas ainda continuam envolvidas em acidentes graves. (Calixto, 2009).
De acordo com Dalcin (2016), o gerenciamento de riscos é um processo que envolve todo o
planejamento de segurança dos sistemas, isso é realizado através de métodos de análises, onde o
principal objetivo é identificar as possíveis causas de acidentes que possam vir a ocorrer, avaliando
tanto a probabilidade quanto consequências de tais acidentes, reduzindo assim o nível de risco e
melhorando a segurança da indústria.
A Análise Preliminar de Riscos tem como objetivo identificar as consequências, em caso de
acidentes, que determinado produto perigoso poderá vir a causar. Nela são examinadas e levantadas
situação hipotéticas possíveis de acontecerem onde determinado produto perigoso poderá ser
liberado de forma descontrolada, registrando, para cada um dos eventos perigosos encontrados, as
suas causas e consequências para os empregados, população externa à empresa, meio ambiente e
relativas ao próprio sistema. Além de levantar as causas e consequências a APR inclui os possíveis
modos de detecção de vazamentos dos contaminantes químicos (Fleming, 1993).
Com relação aos frigoríficos, ficou estabelecido que em instalações novas ou em operação, a
elaboração de estudo de análise de risco será um dos itens obrigatórios de órgãos ambientais. Tal
análise irá compor os estudos de impacto ambiental para a obtenção ou manutenção das licenças
ambientais. Órgãos ambientais, orientados através da resolução do CONAMA N° 237 de
19/12/1997, a qual dispõem sobre aspectos de licenciamento ambiental, apresentam metodologias
para o estudo de análise de risco ambiental, que, tratados sob o foco da Engenharia de Segurança do
Trabalho, são importantes ferramentas de diagnósticos e planejamento na gerência de segurança da
planta.
Diante do exposto, a análise de risco no ambiente industrial vem tornando-se uma
ferramenta indispensável para prever, reconhecer, gerenciar e análises prováveis riscos. Uma
analise de risco bem estruturada e aplicada pode evitar problemas aos meios envolvidos bem como,
ajudar a manter a empresa operante de maneira segura sem paradas de produção e sem
comprometer de forma negativa a imagem da empresa perante o mercado e os acionistas.
Através da Análise Preliminar de Riscos (APR) realizamos uma avaliação prévia dos riscos
presentes e envolvidos na instalação de uma empresa, abatedouro de aves, em específico, do
sistema de refrigeração que utilizará amônia, sendo a APR um dos itens necessários para obtermos
a Licença de Instalação junto ao órgão fiscalizador FEPAM.
Para a elaboração da APR, usou-se como base O Manual de Análise de Riscos fornecido
pela Fepam, o qual traz a elaboração de uma matriz de priorização, onde serão associadas às
categorias de severidade (CS) juntamente com as categorias de frequência dos riscos (CF),
resultando assim, nas categorias de risco (CR), (Shinzato, 2010).
A norma divide as categorias de severidade (CS) em:
 I (catastrófica) – onde a ocorrência do evento pode vir a causar várias vítimas fatais,
danos irreparáveis às instalações e ao meio ambiente;
 II (crítica) – o evento acidental pode causar uma ou algumas vítimas fatais, grandes
danos ao meio ambiente e às instalações, porém, há possibilidade de ações corretivas
imediatas para que se evite seu desdobramento em catástrofe;
 III (marginal) – a ocorrência do evento resulta em ferimentos ao pessoal, pequenos
danos ao meio ambiente ou aos equipamentos, podendo acarretar redução
significativa da produção e impactos ambientais controláveis e restritos ao local de
instalação;
 IV (desprezível) – onde a ocorrência do evento tornasse mais “simples” e de fácil
controle, ou seja, incidentes operacionais que podem resultar indisposição ou mal-
estar aos colaboradores e danos sem significância ao meio ambiente e aos
equipamentos, tais dados podem ser facilmente reparáveis e de baixo custo, sem
impactos ambientais.
 Segundo a norma, as categorias de frequência (CF) são divididas em:
 A (frequente) – ao menos uma ocorrência do cenário de acidente já foi registrada no
próprio sistema e é esperada a ocorrência do mesmo várias vezes durante a vida útil
da instalação da planta;
 B (provável) – esperasse uma ocorrência do evento de acidente durante a vida útil do
sistema;
 C (ocasional) – onde a ocorrência do evento de acidente depende de uma única falha
(humana ou de equipamento);
 D (remota) – inúmeras falhas no sistema (humanas e/ou dos equipamentos) podem
levar à ocorrência do cenário de acidente, porém, não é esperada sua ocorrência
durante a vida útil da instalação da planta;
 E (improvável) – cenários que dependem de inúmeras falhas nos sistemas de
proteção, sendo extremamente improvável a sua ocorrência durante a vida útil da
instalação da planta.
Com base nas informações levantadas, juntamente com a equipe responsável pela
elaboração da APR são sugeridas medidas preventivas ou mitigadoras aos perigos identificados pela
equipe, na tentativa de eliminar as causas ou reduzir os efeitos danosos resultantes dos cenários de
acidente analisados.
A realização da análise propriamente dita é realizada com o uso de uma planilha elaborada a
partir de cada cenário identificado como passível de perigo. A planilha que será utilizada neste
estudo é representada pelo Quadro 6 em anexo.
Descrição dos parâmetros incluídos na planilha para coleta de dados.
1ª coluna: Perigo
Esta coluna contem os perigos identificados. Os perigos são eventos acidentais que têm
potencial para causar danos às instalações, aos operadores, ao público ou ao meio ambiente (p.ex.
liberação de material tóxico, explosão confinada, etc) (FEPAM, 2016).
2ª coluna: Causas / Efeitos
Tal coluna irá abranger tanto falhas intrínsecas de equipamentos (vazamentos, rupturas,
falhas de instrumentação, etc.) como erros humanos de operação, em testes ou de manutenção
(FEPAM, 2016).
Nesta coluna serão descritos os principais efeitos dos acidentes envolvendo substâncias
tóxicas e inflamáveis onde se incluem: formação de nuvem tóxica, incêndio em poça de produto
inflamável, formação de tocha (jato de fogo), incêndio em nuvem de vapor de produto inflamável,
explosão de nuvem de vapor de produto inflamável, explosão confinada com possível geração de
mísseis, e contaminação ambiental (FEPAM, 2016).
4ª coluna: Gerenciamento
Na coluna referente ao gerenciamento deverão ser estabelecidos e descritos os
procedimentos a serem utilizados no gerenciamento de modificações nos processos químicos, em
tecnologia, nos equipamentos e nos procedimentos operacionais (FEPAM, 2016).
Os procedimentos deverão garantir que as seguintes considerações sejam feitas antes que
qualquer mudança seja realizada:
a) A base técnica para a mudança proposta;
b) O impacto da mudança sobre a segurança de processo e sobre a segurança ocupacional (a
realização de uma APR pode ser suficiente);
c) As modificações correspondentes nos procedimentos operacionais;
d) O período de tempo necessário para a realização da mudança;
e) As autorizações requeridas para a realização da mudança.
De acordo com a metodologia da APR, após o levantamento dos dados obtidos a partir da
tabela, os cenários de acidentes devem ser classificados em categorias de frequência, as quais
fornecem uma indicação qualitativa esperada de ocorrência de cada cenário identificado conforme
consta no Quadro 2. (FEPAM, 2016).

Quadro 2: Categorias de Frequência


Categoria Denominação Descrição
Cenários que dependam de falhas múltiplas de sistemas de
proteção ou ruptura por falha mecânica de vasos de pressão.
A Muito Improvável
Conceitualmente possível, mas extremamente improvável de
ocorrer durante a vida útil da instalação.
Falhas múltiplas no sistema (humanas e/ou equipamentos) ou
rupturas de equipamentos de grande porte.
B Improvável
Não esperado de ocorrer durante a vida útil da instalação. Sem
registro de ocorrência prévia na instalação.
A ocorrência do cenário depende de uma única falha (humana ou
C Ocasional
equipamento).
D Provável Esperada uma ocorrência durante a vida útil do sistema.
Pelo menos uma ocorrência do cenário já registrado no próprio
E Frequente sistema. Esperando ocorrer várias vezes durante a vida útil da
instalação.
Fonte: Manual de Análise FEPAM, 2016.

A partir da planilha em questão, foi possível classificar os cenários de acidentes em


categorias de severidade, as quais fornecem uma indicação qualitativa do grau de severidade das
consequências de cada cenário identificado. O Quadro 3 apresenta as categorias de severidade
(FEPAM, 2016).
Quadro 3: Severidade
Categoria Denominação Descrição/Características
Incidentes operacionais que podem causar indisposição ou mal-estar
I Desprezível ao pessoal e danos insignificantes ao meio ambiente e equipamentos
(facilmente reparáveis e de baixo custo). Sem impactos ambientais.
Com potencial para causar ferimentos ao pessoal, pequenos danos
II Marginal ao meio ambiente ou equipamentos/instrumentos. Redução
significativa da produção. Impactos ambientais restritos ao local da
instalação, controlável.
Com potencial para causar uma ou algumas vítimas fatais ou
III Crítica
grandes danos ao meio ambiente ou às instalações. Exige ações
corretivas imediatas para evitar seu desdobramento em catástrofe.
IV Catastrófica Com potencial para causar várias vítimas fatais Danos irreparáveis
ou impossíveis (custo/ tempo) às instalações.
Fonte: Manual de Análise FEPAM, 2016.

Para determinar a graduação de risco realizaremos o cruzamento da frequência de ocorrência


e consequência para cada perigo inicialmente identificado. Esse cruzamento será realizado através
da matriz de risco que possibilitará ordenar cada risco encontrado na organização. Essa ordenação
possibilitará a equipe de gerenciamento de risco decidir que medidas serão tomadas para a
elaboração do plano de ação. (FEPAM, 2016).

2 - METODOLOGIA

A caracterização da indústria frigorífica em questão bem como dos ambientes laborais nos
frigoríficos (junto a seus principais riscos), fora realizada por meio de revisão bibliográfica
disponível.

Campo de estudo
O campo de estudo desta pesquisa compreende uma empresa que atua no ramo frigorífico,
mais especificamente no de aves. A empresa tem sua sede localizada no estado do Paraná, a
unidade avaliada será instalada na RS 332, Km 108, na localidade de Passo dos Ladrões, na cidade
de Soledade – RS.

Coleta de dados
A metodologia utilizada na elaboração da APR para o abatedouro baseou-se no manual de
análise de riscos industriais N.º01/01-FEPAM (FEV/2016).
De acordo com o manual é necessário determinarmos:
O Fator de distância, que é definido como o quociente entre duas distâncias:
A menor distância entre o ponto de liberação e o ponto de interesse onde estão localizados
os recursos vulneráveis e a distância de 50 metros, a partir de tais informações tem-se a equação 1.
𝐷𝐼𝑆𝑇Â𝑁𝐶𝐼𝐴 (𝑚)
𝐹𝐷 = (𝐸𝑞. 1)
50

Determinaremos o fator de perigo que representara a intensidade da fonte de risco. O


numerador da expressão usada para definir o risco será avaliado por um fator de perigo (FP)
definido com base no quociente entre duas grandezas:
Massa liberada acidentalmente (MLA) e
Massa da referência (MR).
𝑀𝐿𝐴
𝐹𝑃 = (𝐸𝑞. 2)
𝑀𝑅

Será definida a classificação da instalação, oque nos permitirá categorizar o risco e os


impactos causados pelas nuvens de amônia sobre as áreas vulneráveis no caso de vazamento através
da Equação 3.
𝐹𝑃
𝐼𝑅 = (𝐸𝑞. 3)
𝐹𝐷

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do descrito em manual, estabelecemos os critérios quantitativos aos riscos que a


atividade representa para a população vizinha e ao meio ambiente. Foram estabelecidos cenários de
acidentes, suas frequências esperadas de ocorrência e a magnitude das possíveis consequências em
caso de acidentes.
Através de uma analise realizada junto à unidade fabril, foi possível estabelecer alguns
cenários vulneráveis a possíveis acidentes. O Quadro 4 apresenta os dados levantados junto a
unidade.
Quadro 4: Instrumento para coleta de dados

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO DANO/PERIGO


GERENCIAMENTO NECESSÁRIO
PERIGO PROVAVEIS CAUSAS DANO/EFEITO
Projeto apropriado, orientado por normas
e códigos de engenharia;
Vazamento e/ou rompimento do cilindro Explosão, formação de nuvem tóxica, Manutenção eficaz;
Falha mecânica, corrosão externa
pressurizado irritações leves a severas lesões corporais. Operação adequada.
Implantação de mecanismos para a
detecção precoce de vazamentos.

Manutenção eficaz;
O processo não consome toda a amônia Falha no sistema de controle Vazamento
Operação adequada.

Manutenção eficaz;
Operação adequada.
Falha mecânica, manutenção Implantação de mecanismos para a
As linhas de alimentação de amônia Explosão, formação de nuvem tóxica,
inadequada, corrosão externa do detecção precoce de vazamentos.
apresentam vazamento ou ruptura irritações leves a severas lesões corporais.
cilindro Instalação de monitores ambientais
acoplados a sistema de alarme,
especialmente nos locais críticos.
Os sistemas de refrigeração por amônia
devem ser operados por profissional
Vazamento durante o recebimento da Formação de nuvem tóxica, inalação por
Erro humano, falha mecânica qualificado, com certificado de
amônia na planta funcionários do setor, intoxicação,
treinamento, conforme o disposto na NR
13.
Instalação de caixa de controle do sistema
de refrigeração de emergência, que
Chuvas fortes, vendavais, descargas Vazamentos, rompimento das linhas e
Ocorrência de fenômenos naturais desligue todos os equipamentos elétricos e
elétricas cilindro
acione ventilação exaustora sempre que
necessário.
Sistemas apropriados de prevenção e
combate a incêndios devem estar
presentes e em perfeito estado de
funcionamento.
Ocorrência de incêndio e/ou explosões Vazamentos, curto circuito Vazamentos Instalação de sprinkler sobre o qualquer
vaso grande de amônia para mantê-lo
resfriado, em caso de fogo. Instalações
elétricas à prova de explosão são
desejáveis.
As empresas devem possuir equipamentos
básicos de segurança pessoal para cada
trabalhador envolvido diretamente com a
A inalação pode causar dificuldades planta, dispostos em locais de fácil acesso
respiratórias, broncoespasmo, queimadura e fora da sala de máquinas:
da mucosa nasal, faringe e laringe, dor no Uma máscara panorâmica com filtro de
peito e edema pulmonar. A ingestão causa amônia;
Inexistência de EPI Falha humana náusea, vômitos e inchação nos lábios, boca Equipamento de respiração autônomo;
e laringe. A amônia produz, em contato Óculos de proteção ou protetor facial;
com a pele, dor, eritema e vesiculação, em Um par de luvas protetoras de borracha
altas concentrações causa necrose dos (PVC);
tecidos e queimaduras profundas Um par de botas protetoras de borracha
(PVC);
Uma capa impermeável de borracha e/ou
calças e jaqueta de borracha.
Manutenção das concentrações ambientais
a níveis os mais baixos possíveis e sempre
abaixo do nível de ação (NR 9), por meio
de ventilação adequada;
Procedimentos operacionais e de
emergência; Informações de segurança do
O gás é um irritante poderoso das vias
processo;
respiratórias, olhos e pele. Dependendo do
Permanência do menor número possível
Inexistência de EPC Falha humana tempo e do nível de exposição podem
de trabalhadores na sala de máquinas e
ocorrer efeitos que vão de irritações leves a
somente os que realizam manutenção e
severas lesões corporais.
operação dos equipamentos, a manutenção
dos locais de trabalho dentro dos padrões
de higiene ocupacional e a realização do
controle de saúde dos expostos ao
produto, enfatizando exames de olhos,
pele e trato respiratório.
Definidos os cenários, foram calculados os diferentes fatores determinantes para a
classificação do índice de risco da instalação.

Fator de distância

O fator de distância é definido como o quociente entre dois pontos:


A menor distância entre o ponto de liberação e o ponto de interesse onde estão localizados
os recursos vulneráveis e a distância de 50 metros, a partir de tais informações tem-se a Equação 1.
Considerando a menor distância entre o ponto de liberação e o ponto de interesse atribuiu-se
o valor de 200m.
Então:
𝐷𝐼𝑆𝑇Â𝑁𝐶𝐼𝐴 (𝑚) 200 𝑚
𝐹𝐷 = = → 𝐹𝐷 = 4 (𝐸𝑞1. )
50 50

Estudos realizados por Lopes (2015), onde fora atribuído a distância de 30 metros como
sendo a menor distância entre o ponto de liberação e o ponto de interesse, fora obtido um fator de
distância (FD) inferior a 1.
O estudo revela que quanto menor for à distância a ser considerada entro os pontos de
liberação e de interesse, menor será o fator de distância, consequentemente, maior serão os danos
causados em caso de acidentes ocasionados pelo sistema de refrigeração.

Fator de perigo

O fator de perigo representa a intensidade da fonte de risco. O numerador da expressão


usada para definir o risco será avaliado por um fator de perigo (FP) definido com base no quociente
entre duas grandezas:
Massa liberada acidentalmente (MLA) e
Massa da referência (MR).
Massa de Referência é definida para cada uma das substâncias perigosas conforme
apresentado na Tabela 2.
Tabela 1: Massa de Referência Amônia
Substância Nº CAS IDLH Pvap (mmHg) Categoria MR(kg)
Amônia 7664-41-7 300,0 Gás liquefeito 2 100

Temos que na ausência de informações mais precisas, a MLA deve ser considerada como
igual a 20% (vinte por cento) da massa de material estocado ou em processo.
Densidade NH3=0,6087 g/cm³ Densidade NH3=0,1642g/cm³
Volume do tanque 3.000L Volume=3.000.000cm³
MLA= 20% da massa estocada
𝑚
𝑑= =𝑚 =𝑑×𝑣
𝑣
0,6087𝑔
𝑚= × 3.000.000𝑐𝑚3 → 𝑚 = 1826𝑘𝑔
𝑐𝑚3

Então:
𝑀𝐿𝐴 (20% 1826𝑘𝑔)
𝐹𝑃 = 𝐹𝑃 = → 𝐹𝑃 = 3,66 (𝐸𝑞. 2)
𝑀𝑅 100 𝑘𝑔

Classificação e índice de risco da instalação

A classificação da instalação nos permitirá inicialmente, categorizar o risco e os impactos


causados pelas nuvens de amônia sobre as áreas vulneráveis no caso de vazamento.
Então:
𝐹𝑃 3,66
𝐼𝑅 = = → 𝐼𝑅 = 0,915
𝐹𝐷 4,00
Obtivemos o índice de risco (IR) ≤1, caracterizando grau de risco 1.
De acordo com o manual, a categoria de risco 1 corresponde àquelas instalações/atividades
que podem ser consideradas como de risco desprezível por terem quantidades muito pequenas (ou
não terem) de substâncias perigosas em processo ou armazenagem ou por estarem muito distantes
dos recursos vulneráveis: -Empreendimentos na categoria de risco 1: Instalações/ atividades
classificadas na categoria de risco 1 ficam isentas de exigências no que diz respeito riscos
industriais.
Dalcin (2016), em seus estudos, ao calcular o índice de risco em sistemas de refrigeração
por amônia, obteve o valor de 50 que, ao confronta-lo com a tabela da Fepam, chegou a
classificação 4, de acordo com as determinações fornecidas pelo manual, a partir da situação
analisada, onde a categoria de risco enquadrou-se como 4. Dalcin (2016) sugere que seja feita uma
analise qualitativa de risco AQR na planta frigorífica.
Em estudo realizado por Cesaro (2013), a APR é uma técnica recomendada para avaliação
de riscos em processos como os sistemas de tratamento térmico com utilização gases. As principais
vantagens da análise por APR estão relacionadas com a sistematicidade, flexibilidade e abrangência
para identificação de perigos e problemas operacionais.
Cesaro (2013) afirma que a APR também promove maior entendimento do funcionamento
dos processos avaliados, em condições normais e principalmente quando da ocorrência de desvios
os membros da equipe.
A partir dos dados obtidos com a simulação de possíveis cenários de acidentes ocorridos em
sistemas de refrigeração que utilizam a amônia como substancia refrigerante, observa-se que a área
de influência (ponto de interesse) é determinante para a escolha do local de instalação dos tanques
de armazenamento das substâncias bem como dos sistemas de segurança.
A APR mostra ser uma ferramenta fundamental e indispensável na análise de risco, é através
dela que podemos prever acidentes, a magnitude destes bem como dos possíveis danos causados em
distintas situações. A análise de risco nos fornece ferramentas para controle dos danos e efeitos
resultantes de acidentes.

Matriz de risco

Para determinar a graduação de risco realizamos o cruzamento da frequência de ocorrência e


consequência para cada perigo inicialmente identificado. Esse cruzamento é feito através da matriz
de risco que possibilita ordenar cada risco encontrado na organização. Essa ordenação possibilitará
a equipe de gerenciamento de risco decidir que medidas serão tomadas para a elaboração do plano
de ação.
Quadro 5: Matriz de risco.
Frequência
Matriz de Risco
A B C D E TOTAL
IV 5 1
III 4 4 3 3
Severidade
II 3 4 2 3
I 2 1

Risco Frequência Severidade


Desprezível IV Catastrófica
1 A Muito Improvável
III Crítica
2 Menor B Improvável II Marginal
I Desprezível
3 Moderado C Ocasional
4 Sério D Provável
5 Crítico E Frequente
Recomendações

Pontos essenciais em relação à prevenção coletiva da exposição a amônia incluem:


- manutenção das concentrações ambientais a níveis os mais baixos possíveis e sempre
abaixo do nível de ação (NR-9), por meio de ventilação adequada;
- implantação de mecanismos para a detecção precoce de vazamentos. O desejável é a
instalação de monitores ambientais acoplados a sistema de alarme, especialmente nos locais
críticos.
O Instituto Internacional de Refrigeração por Amônia (IIAR) recomenda ainda a instalação
de caixa de controle do sistema de refrigeração de emergência, que desligue todos os equipamentos
elétricos e acione ventilação exaustora, sempre que necessário. Outras medidas de proteção coletiva
incluem a sinalização adequada dos equipamentos e tubulações, a existência de saídas de
emergência mantidas permanentemente desobstruídas e adequadamente sinalizadas, e a instalação
de chuveiros de segurança e lava-olhos. Sistemas apropriados de prevenção e combate a incêndios
devem estar presentes e em perfeito estado de funcionamento.
O ideal é a instalação de sprinkler sobre qualquer vaso grande de amônia para mantê-lo
resfriado, em caso de fogo. Instalações elétricas à prova de explosão são desejáveis.
Dentre as medidas administrativas incluem-se a permanência do menor número possível de
trabalhadores na sala de máquinas e somente os que realizam manutenção e operação dos
equipamentos, a manutenção dos locais de trabalho dentro dos padrões de higiene ocupacional e a
realização do controle de saúde dos expostos ao produto, enfatizando avaliação oftalmológica, da
pele e do trato respiratório.
As empresas devem possuir equipamentos básicos de segurança pessoal para cada
trabalhador envolvido diretamente com a planta, dispostos em locais de fácil acesso e fora da sala
de máquinas:
- uma máscara panorâmica com filtro de amônia;
- equipamento de respiração autônomo;
- óculos de proteção ou protetor facial;
- um par de luvas protetoras de borracha (PVC);
- um par de botas protetoras de borracha (PVC);
- uma capa impermeável de borracha e/ou calças e jaqueta de borracha.

Devem ser estabelecidos por escrito planos de emergência para ações em caso de
vazamento, realizando-se treinamentos práticos. Como conteúdo mínimo, é preciso prever
mecanismos de comunicação da ocorrência, evacuação das áreas, remoção de quaisquer fontes de
ignição, formas de redução das concentrações de amônia e procedimentos de contenção de
vazamentos.
4 - CONCLUSÕES

A análise de vulnerabilidade tratou da quantificação dos efeitos de acidentes com vazamento


de amônia, realizados a partir de cenários encontrados na APR. A quantificação foi expressa através
da modelagem dos vazamentos sobre o mapa da região. O objetivo desta análise foi determinar a
distância e os impactos causados pelas nuvens de amônia sobre as áreas vulneráveis no caso de
vazamento.
Os resultados apontaram que, além das possibilidades melhorias no sistema levantadas, o
treinamento de todos os funcionários do frigorífico, de todos os setores, é indispensável na resposta
da emergência. Os operadores de casa de máquinas são os trabalhadores que manuseiam e
controlam o sistema de refrigeração, são os integrantes de maior responsabilidade imediata na
atuação e na resposta a uma emergência de vazamento de amônia. Os treinamentos teóricos e
práticos, com simulados prevendo os cenários citados na APR desenvolvida, serão fundamentais na
diminuição da severidade do risco.
O Manual de Riscos fornecido pela Fepam mostrou ser uma ferramenta útil e essencial para
a prevenção de acidentes, a ferramenta nos possibilitou a simulação de cenários, a mensuração dos
danos e efeitos causados pelos mesmos.
O Manual torna possível o controle e a prevenção para cada efeito/dano causado pelos
possíveis cenários de acidentes identificados.
REFERÊNCIAS

BRASIL. (2004) Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Inspeção do Trabalho. Nota


Técnica n° 03/ DSST/SIT - Refrigeração Industrial por Amônia, Brasília, DF,.18 de mar. 2014.

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do trabalho e meio ambiente.

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MAGNAGO. Gestão de riscos : livro didático / Rachel Faverzani Magnago; design instrucional
Viviane Bastos ; [assistente acadêmico Jaqueline Tartari]. – 1. ed. rev. – Palhoça: UnisulVirtual,
2011. 192 p. : il. ; 28 cm.

MANUAIS DE LEGISLAÇÃO ATLAS (2007) Segurança e Medicina do Trabalho. 60 ed. São


Paulo: Atlas.
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ensino em Mato Grosso do Sul. Rev. bras. Saúde ocup. São Paulo, 35 (122): 340-352, 2010.

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