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Universidade Federal de Sergipe

Disciplina: Higiene e Segurança do Trabalho

Assunto: Riscos Ambientais

Prof.: Jacqueline Rêgo da Silva Rodrigues

Riscos Ambientais

1- Segurança do Trabalho
A Segurança do Trabalho corresponde a um conjunto de normas destinadas a melhorar as condições de
trabalho, ou seja, é um conjunto de ações utilizadas para avaliar as causas e consequências dos acidentes
do trabalho e doenças do trabalho, de modo a criar procedimentos de trabalho para garantir a saúde e a
vida do trabalhador.

A responsabilidade pela Segurança do Trabalho é tripartite: poder público, empregador e


empregado. Assim, cabe ao poder público a criação e fiscalização das normas regulamentadoras e leis que
versam sobre segurança e saúde no trabalho, cabe ao empregador fazer cumprir essa legislação, podendo ser
punido em caso de desrespeito às exigências e cabe ao trabalhador cumprir as exigências de saúde e segurança
nos locais de trabalho, obedecendo às normas regulamentadoras e leis específicas(federais, estaduais ou
municipais), contribuindo para a manutenção das condições de trabalho saudáveis.

Os acidentes podem ser evitados se providências forem adotadas com antecedência e de maneira
compromissada e responsável. Podem ser considerados quatro tipos de acidentes:
➢ Acidente com o trabalhador;
➢ Acidente envolvendo o patrimônio ou materiais da empresa (máquinas, insumos, edificações);
➢ Acidente envolvendo o meio ambiente;
➢ Acidente envolvendo a sociedade que vive nas proximidades da empresa.

2- Os riscos ambientais são fatores existentes no ambiente de trabalho e que são capazes de trazer danos à
saúde ou à vida dos trabalhadores, em função de sua natureza, concentração, intensidade, suscetibilidade
e tempo de exposição.

OBS: Os danos ou prejuízos causados pelos riscos ambientais podem atingir:


a) os trabalhadores como lesões, doenças ocupacionais, mortes;
b) as empresas como multas, indenizações, perda de equipamentos, fechamento do empreendimento;
c) ao meio ambiente como destruição das reservas florestais, contaminação de corpos d`água;
d) a sociedade como perda de suas residências, falta de abastecimento de um bem de consumo ou serviço
essencial (água, luz)

3- A Higiene Ocupacional é a ciência que tem como objetivo antecipar, reconhecer, avaliar e controlar
todos os riscos ambientais que podem causar danos aos trabalhadores, meio ambiente, empresa e à
sociedade.

3.1- Fases de implementação da Higiene Ocupacional nas empresas:

3.1.1- Antecipação – é possível identificar os riscos nessa fase quando a edificação, o processo produtivo
da empresa, o posto de trabalho ou atividade a ser desenvolvida estiverem ainda em sua etapa de projeto,
ou seja, quando os riscos ainda não estão instalados em cada setor da empresa. Esta etapa compreende
também o planejamento das atividades a serem desenvolvidas no ambiente de trabalho.
3.1.2- Reconhecimento – acontece quando os riscos ambientais já existem no ambiente, já fazem parte
dos processos ou atividades da empresa. Nesta fase é exigido um conhecimento profundo dos produtos
envolvidos nos processos, dos métodos de trabalho, dos fluxos de processos, do layout das instalações
(arranjo físico), do número de trabalhadores expostos aos riscos, do fator suscetibilidade de cada
trabalhador.

3.1.3 - Avaliação – saber se os fatores ambientais identificados na fase de reconhecimento são capazes
de provocar, ou não, danos à saúde dos trabalhadores em função das atividades ou processos de trabalho
desenvolvidos por eles. Nesta etapa é necessário avaliar a agressividade do risco, a
concentração/intensidade, tempo de exposição ao risco.

3.1.4 – Controle - propor e adotar medidas que visam a eliminação ou minimização dos riscos presentes
nos ambientes de trabalho, máquinas, equipamentos ou nas atividades desenvolvidas pelo trabalhador.

a) Medidas de controle no ambiente de trabalho:


Alteração de processos industriais. Ex: processo mecânico passa a ser automatizado; isolamento de
operações (processos de soldagem realizado em cabines específicas para atividade); substituição de
produtos tóxicos por menos tóxicos (processos de pinturas); ordem e limpeza do ambiente de trabalho
(limpeza imediata de quaisquer derramamentos de produtos, manutenção de ferramentas em ordem e
limpeza).

b) Medidas de controle na trajetória (do local do risco até o trabalhador):


Enclausuramento de máquinas que produzem ruído excessivo (alocação de máquinas do tipo geradores
distantes dos trabalhadores); uso da ventilação geral diluidora (redução da concentração de contaminantes
a níveis aceitáveis para a saúde do trabalhador).

c) Medidas de controle para o trabalhador:


Reduzir do tempo de exposição aos riscos ambientais; usar de equipamentos de proteção; cumprir as
normas de segurança; fornecer treinamento aos trabalhadores.

4- Importância de se conhecer os riscos ambientais:


Os locais de trabalho, pela própria natureza da atividade desenvolvida e pelas características de
organização, relações interpessoais, manipulação ou exposição a agentes físicos, químicos, biológicos,
ergonômicos ou mecânicos, podem comprometer o trabalhador em curto, médio e longo prazo, provocando
lesões imediatas, doenças ou a morte, além de prejuízos de ordem legal e patrimonial para a empresa.

5- Classificação dos riscos ambientais:


5.1 Físicos: diversas formas de energia (mecânica e eletromagnética) que o trabalhador pode está exposto.
Ex: ruído, radiações ionizantes e não ionizantes, calor, frio, umidade, vibrações, pressões anormais.

O ruído, calor, frio, vibração e radiações que, de acordo com as características do posto de trabalho,
podem causar danos à saúde do trabalhador. Os agentes físicos têm seus limites de tolerância estabelecidos
pela NR 15.

Níveis sonoros, quando acima da intensidade, conforme legislação específica, podem causar inúmeros
danos à saúde do trabalhador. O primeiro efeito fisiológico de exposição a níveis altos de ruído é a perda
de audição na banda de frequência de 4 a 6 kHz. Outros efeitos causados pelo ruído alto nos seres
humanos: aceleração da pulsão, fadiga, nervosismo, etc.

A sobrecarga térmica ou estresse térmico é a quantidade de energia que o organismo deve dissipar para
atingir o equilíbrio térmico. Os trabalhadores expostos a trabalhos de fundição, siderurgia, indústrias de
vidro estão propensos a problemas como desidratação, cãibras, choques térmicos, catarata e outros. Esses
problemas, geralmente, aparecem devido à exposição excessiva a situações térmicas extremas (calor
excessivo) com desgaste físico que poderá tornar-se irreparável, caso medidas de controle não forem
adotadas. A exposição ao calor vai depender de variáveis como a temperatura sem umidade, a temperatura
com umidade, calor radiante (UV e infravermelho), a velocidade do ar, bem como da atividade exercida
pelo trabalhador.

O corpo humano, quando exposto a baixas temperaturas (frio), perde calor para o meio ambiente. Se as
perdas de calor forem superiores ao calor produzido pelo metabolismo do trabalhador, haverá a
vasoconstrição na tentativa de evitar a perda excessiva do calor corporal, e o fluxo sanguíneo será reduzido
em razão direta da queda de temperatura sofrida; caso o corpo não consiga manter a temperatura corpórea,
o hipotálamo perde sua capacidade termorreguladora, e as células cerebrais deprimem-se,
consequentemente o indivíduo pode entrar em sonolência e posterior coma, ou seja, o indivíduo adquire
o quadro de hipotermia. Geralmente essas ocorrências predominam em empresas, como indústrias
alimentícias, indústrias farmacológicas, frigoríficos com atividades frequentes em câmaras.

As vibrações localizadas nos braços e mãos provocam deficiências circulatórias e articulatórias. As


ferramentas vibratórias manuais podem causar uma doença chamada dedos brancos, ou seja, a perda da
sensibilidade na ponta dos dedos das mãos. São exemplos de vibrações localizadas as provenientes do
vibrador de concreto, do martelete pneumático e da motosserra.

A umidade, as atividades ou operações executadas em locais alagados ou encharcadas, com umidades


excessivas, capazes de produzir danos à saúde dos trabalhadores, são situações insalubres. A exposição
do trabalhador à umidade pode acarretar doenças do aparelho respiratório, quedas, doenças de pele,
doenças circulatórias, entre outras. A temperatura do corpo pode baixar quando um indivíduo se encontra
em condições de umidade e provocar também a hipotermia.

As radiações ionizantes são provenientes de materiais radioativos como é o caso dos raios alfa, beta e
gama ou produzida artificialmente em equipamentos. Do ponto de vista do estudo das condições
ambientais, as radiações ionizantes de maior interesse de uso industrial são os raios X, gama e beta.

As radiações não ionizantes são radiações eletromagnéticas cuja energia não é suficiente para ionizar os
átomos dos meios nos quais incide ou os quais atravessa. São consideradas pela legislação como não
ionizantes, as radiações infravermelhos, micro ondas, ultravioleta e laser.
Os raios infravermelhos estão presentes em trabalhos com solda elétrica, como a solda oxiacetilênica,
trabalhos com metais, vidros incandescentes, trabalhos a céu aberto, devido à exposição ao sol. Os fornos
e fornalhas, também, emitem raios infravermelhos.
Micro ondas são radiações produzidas em estações de radar, radiotransmissão, fornos eletrônicos.
Raios ultravioletas são produzidos na indústria em processos de solda elétrica. Os raios estão presentes
nos trabalhos a céu aberto, devido à exposição ao sol.
Laser empregado nas indústrias metalúrgicas para cortar metais, na medicina.

Pressões anormais compreendem as pressões hipobáricas e hiperbáricas. Hipobárica: quando o


trabalhador está sujeito a pressões menores que a pressão atmosférica. Estas situações ocorrem a elevadas
altitudes e os sintomas podem ser coceira na pele, dores musculares, vômitos, hemorragias pelo ouvido e
ruptura do tímpano, dificuldade respiratória. Hiperbárica: quando o trabalhador fica sujeito a pressões
maiores que a atmosférica. (mergulho e uso de ar comprimido). Quando o aumento de pressão for brusco
pode ocorrer a ruptura do tímpano, ruptura dos pulmões e vasos sanguíneos e a morte do trabalhador
devido à liberação de nitrogênio de forma abrupta no corpo humano.

5.2 Químicos: substâncias, compostos ou produtos que podem se apresentar no estado sólido, líquido ou
gasoso. Apresentam características tóxicas, corrosivas, alergênicas, inflamáveis, explosivas. Podem entrar
em contato com o trabalhador através da respiração, pele, ingestão. Ex: poeiras, gases, vapores, névoas
(spray), neblinas (originadas da condensação de vapores provenientes de algum processo térmico), fumos
metálicos (originados da condensação de gases provenientes da queima de metais), solventes, ácidos,
bases.

OBS: A névoa é uma suspensão de partículas líquidas formadas pela ruptura mecânica de líquidos, onde
a dispersão no ar ocorre como um spray. O exemplo mais comum de névoa é aquele formado nas
operações de pintura com pistola. Já a neblina é a suspensão de partículas líquidas formadas
pela condensação do vapor de uma substância que é líquida na temperatura normal.

5.3 Biológicos: diversos tipos de microrganismos capazes de provocar doenças ocupacionais. Estão
presentes nos diversos ambientes, capazes de contaminar os trabalhadores e trabalhadoras. Ex: fungos,
bactérias, vírus, protozoários. Entram nesta classificação o veneno liberado por os escorpiões, as aranhas,
insetos e outros animais peçonhentos.

5.4 Mecânicos ou de acidentes: são aqueles relacionados aos atos e ou condições inseguras. Têm
características de agredir os trabalhadores por meio de alguma ação mecânica. Ex: arranjo físico
inadequado, armazenamento inadequado, piso escorregadio, ferramentas inadequadas, máquinas sem
proteção, descargas elétricas, instalações elétricas defeituosas, picadas de animais peçonhentos no
ambiente de trabalho, incêndios, explosões, quedas de nível, falta de sinalização, eletricidade.

5.4.1 Atos inseguros: representam as causas de acidentes do trabalho que residem exclusivamente no
fator humano. São os atos praticados pelo homem, em geral consciente (o trabalhador tem conhecimento
de suas ações) do que está fazendo, que está contra as normas de segurança, mas também podem ser
cometidos de forma inconsciente (o trabalhador não tem conhecimento de suas ações porque ele
desconhece os procedimentos ou a sua inaptidão) . Os atos inseguros decorrem da:
➢ Negligência: é a omissão voluntária do cuidado - falta de atenção. Geralmente ocorre de forma
consciente. Exemplo: a realização de limpeza numa máquina em funcionamento.
➢ Imprudência: é a falta de observação das medidas de precauções e segurança, previsível, necessárias
no momento para evitar um mal - excesso de confiança. O excesso de confiança está associado a um ato
inseguro de forma consciente. Exemplo: empilhar caixas e volumes sem obedecer às recomendações de
arrumação, trânsito, carga e descarga.
➢ Imperícia - é a falta de aptidão, habilidade, experiência, ou de previsão no exercício de determinada
função. Geralmente está associado a um ato inseguro praticado de forma inconsciente. Exemplo:
conduzir veículo, operar máquina ou equipamento sem possuir habilitação, curso ou treinamento
adequado e obrigatório.

As possíveis causas da prática dos atos inseguros podem estar associadas:


a) Teimosia em insistir em realizar determinadas operações para as quais não esteja habilitado; não acatar
as instruções e observações de seus superiores.
b) Exibicionismo é a satisfação de uma vaidade ou de um ato imprudente, quando se enfrenta um risco
sem necessidade.
c) Indisciplina é sempre um ato de desobediência às instruções superiores, tanto no que se refere à
maneira de executar um trabalho, quanto sobre os cuidados necessários para se evitar o acidente.
d) Brincadeiras durante o momento de execução das atividades laborais.
e) Distração ou descuidado é representada pela falta de atenção ao desenvolvimento das atividades,
principalmente no final do turno de trabalho ou pelo uso do celular no momento de operacionalização
de máquinas e controle de painéis elétricos.
f) Nervosismo ou irritação implica na perda de controle da concentração para o desenvolvimento das
tarefas.

5.4.2 Condições inseguras: as circunstancias externas incompatíveis para realização do trabalho,


contrárias com as normas de segurança e prevenção de acidentes. São as condições dos ambientes de
trabalho que oferecem risco de acidentes ao trabalhador.
São exemplos de condições inseguras:
• Falta de equipamento de proteção, vestiário de trabalho inadequado;
• Ambiente de trabalho inadequado: falta de ordem e limpeza, ventilação inadequada, iluminação
inadequada, assoalhos e pisos em mau estado e/ou escorregadios; escadas inseguras e sem proteção
lateral;
• Ferramentas defeituosas ou inadequadas;
• Ausência de protetores nas máquinas ou prensas;
• Instalações elétricas defeituosas.

5.5 Ergonômicos: são relacionados a fatores fisiológicos e psicológicos inerentes à execução das
atividades profissionais. Desta forma, estão ligados à postura física do trabalhador, as suas condições
antropométricas (dimensões de cada membro do corpo do trabalhador), capacidade cognitiva. Ex: esforço
físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de postura física inadequada,
imposição a ritmo excessivo de trabalho, mobiliário inadequado, controle rígido de tempo para
produtividade, trabalho em turno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia, ventilação
inadequada, repetibilidade, iluminação inadequada.

Bibliografia: BRASIL. MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Norma Regulamentadora 09 – Programa de Prevenção de


Riscos Ambientais, 2019. https://sit.trabalho.gov.br/. Pesquisa em 10/04/2021

RODRIGUES, Claudinei José Pinto. Noções Básicas de Higiene e Segurança do Trabalho.


Escola de Especialistas de Aeronáutica. Guaratinguetá: SP, 2017.

LIMA, Durval de Araújo. Avaliação de Risco na Atividade de Espeleoturismo. Anais do 32º Congresso
Brasileiro de Espeleologia. Barreiras – BA, 2013.

RUPPENTHAL, Janis Elisa. Gerenciamento de riscos. Universidade Federal de Santa Maria. Rio
Grande do Sul, 2013.

PEIXOTO, Neverton Hofstadler. Segurança do Trabalho. Universidade Federal de Santa Maria. 3ª ed.
Santa Maria, 2010.

BRASIL. Luiz Augusto Damasceno. Dicas de Prevenção de Acidentes e Doenças no Trabalho. SESI –
SEBRAE. Brasília: 2005.

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