28/07/2023 Fundamentos de higiene ocupacional: princípios, conceitos, definições e noções de fisiologia humana

Fundamentos de higiene
ocupacional: princípios,
conceitos, definições e
noções de fisiologia humana
A higiene ocupacional tem como objetivo a prevenção dos agravos à
saúde e a manutenção do bem-estar do trabalhador. Leva em consideração
também as pessoas que vivem nas proximidades de áreas de risco e seus
impactos ambientais no caso de possíveis desastres industriais. Nesse
contexto, um dos maiores desafios parra a higiene ocupacional é o
acompanhamento do desenvolvimento tecnológico e legal por parte dos
profissionais da área. Portanto, a formação do Técnico em Segurança do
Trabalho tem uma grande importância nesse sentido.

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Um programa de higiene do trabalho tem como

objetivos o reconhecimento, a avaliação e o controle dos
fatores de riscos ambientais presentes nos locais de
trabalho e que podem afetar a saúde do trabalhador. Isso
implica estar atento aos agentes físicos, químicos e
biológicos envolvidos nos processos, aos métodos de
trabalho, ao fluxo dos processos, ao arranjo físico das
instalações e à quantidade de trabalhadores expostos aos
agentes.

Reconhecimento
Nessa etapa, o técnico em Segurança do Trabalho deverá tomar
conhecimento da atividade, dos processos produtivos e dos agentes que
podem estar presentes no ambiente de trabalho.

Um exemplo: Um pedreiro realiza atividade de construção civil; utiliza

equipamentos como betoneira, serra circular, furadeira, andaimes,
elevadores, manuseio de cimento, cal e areia; realiza pinturas etc. Na fase
de reconhecimento, podemos identificar de forma qualitativa os fatores de
risco como: ruídos intermitentes (furadeira, serra circular, compressores,
trânsito de veículos) e químicos (aerodispersoides provenientes da serra
circular, furadeira, betoneira, manuseio de areia e movimentação de
veículos, contato da argamassa com a pele, vapores provenientes de tintas
e solventes).

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Avaliação
Fase em que são realizadas as avaliações quantitativas, ou seja,
medições com aparelhos em que são mensurados os níveis de exposição
como: ruído intermitente, calor e sílica livre cristalizada.

Um exemplo: Em uma medição realizada ao lado de uma betoneira,

verificamos que o nível de ruído intermitente é 90 dB (A).

Controle

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Fase em que são adotadas as medidas para manutenção de níveis de

exposição saudáveis aos trabalhadores, ou seja, que se encontrem dentro
dos limites máximos de exposição segundo a legislação. Utilizando o
exemplo anterior, na etapa de controle, é que teremos de adotar medidas
possíveis para o caso do nível de ruído de 90 dB (A). São elas:

Verificação da possibilidade de lubrificação, ajustes,

regulagem ou mesmo a troca de betoneira por outra
com menor nível de emissão de ruído.

Utilização de protetor auricular – EPI (equipamento de

proteção individual) por parte do trabalhador. O fator
de redução de ruído do EPI determinará o tempo de
trabalho nessas condições.

Existem muitos processos de alta

complexidade em nosso organismo que
contribuem para seu correto funcionamento,
tornando nosso corpo uma máquina perfeita. O

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estudo desses processos chama-se fisiologia e é

imprescindível para manutenção da saúde,
prevenção das doenças e aumento da qualidade
de vida.

A importância do conhecimento da fisiologia

na segurança e medicina do trabalho é que
podemos realizar a prevenção de doenças
relacionadas ao trabalho conhecendo as formas
de interação entre os agentes agressivos e o corpo
humano como os meios de penetração, reações
esperadas, tratamentos, órgãos atingidos e meios
eficientes de proteção.

Fisiologia do corpo humano

Trata-se do estudo das funções das partes componentes do corpo dos
seres vivos sadios, principalmente dos processos de funcionamento
ocorridos em células, órgãos, sistemas e tecidos. No caso da segurança e
medicina do trabalho, a fisiologia deve interpretar as funções do corpo que
são acionadas durante a realização da tarefa do trabalhador, inclusive as
funções do sistema nervoso quando o trabalhador estiver realizando tarefas
intelectuais.

Sistemas do corpo
humano

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Tegumentar
É formado pela pele e suas estruturas componentes como unhas, pelos,
glândulas sebáceas e sudoríparas. Existem três camadas que compõem a pele:
epiderme, derme e hipoderme.

Possui função de auxiliar e regular a nossa temperatura, proteger o corpo

fisicamente, eliminar resíduos e receber estímulos como: temperatura, dor e
pressão.

Nas atividades em que produtos químicos são utilizados, existe o risco de

reações tópicas ou penetração do agente pelo contato com a pele do
trabalhador. A via principal de acesso à pele são os poros.

As substâncias químicas, quando em contato com a pele, podem

apresentar dois tipos de reação, diretamente na pele ou pela penetração. Caso
a substância seja corrosiva, poderá causar queimaduras. Outras substâncias
podem provocar reações alérgicas como dermatites. Algumas substâncias têm
potencial de penetração na pele, quando entram em contato com a corrente
sanguínea e podem chegar a outras partes e órgãos do corpo.

Os danos causados pela absorção pela pele dependerão das

características de cada substância como, por exemplo, o benzeno, que causa
problemas na produção sanguínea. Outras podem provocar doenças nos rins,
coração ou pulmão.

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Nervoso
Podemos dividir o sistema nervoso em duas partes: sistema nervoso
central (encéfalo e medula) e sistema nervoso periférico (tecido nervoso
localizado fora do sistema nervoso central).

Em nosso sistema nervoso, construímos nossos pensamentos e emoções,

recebemos todos os estímulos de sensações e, claro, armazenamos nossas
memórias. Os nervos do crânio formam o nosso sistema nervoso periférico e
controlam a entrada e a saída dos estímulos nervosos em nossos sistemas e
órgãos.

O sistema nervoso periférico é dividido em: somático, autônomo e entérico

(involuntário). O sistema somático transmite ao sistema nervoso central as
informações de sentidos (audição, paladar, visão) e também conduz os impulsos
ao sistema esquelético. As respostas de estímulos que podemos controlar
conscientemente chamam-se motoras.

As informações de órgãos viscerais como pulmões ou estômago são

transmitidas pelo sistema nervoso autônomo. A resposta desses estímulos é
involuntária, ou seja, não dependem de nossa vontade, por exemplo: o coração
estará batendo mesmo quando estivermos realizando outra atividade qualquer
ou dormindo profundamente.

O sistema nervoso entérico localiza-se no intestino e controla as

informações que acontecem em seu interior. Seu funcionamento também é
involuntário. O sistema nervoso conecta todas as partes de nosso corpo por
meio de impulsos elétricos enviados continuamente através de muitos bilhões de
neurônios.

É importante saber como o sistema nervoso funciona, pois há fatores de

risco que podem causar alterações nele. Por exemplo, atividades produtivas que
envolvem o uso de chumbo podem causar desde transtorno de humor,
alterações cognitivas até encefalopatia grave.

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Endócrino
São os tecidos e glândulas que produzem substâncias que regulam as
funções do corpo. Chamamos essas substâncias químicas de hormônios, que
são transportados pelo sangue pelo corpo todo até chegar aos órgãos de
destino.

O sistema endócrino relaciona a carga genética do indivíduo com o

ambiente e seus agentes, podendo ser seriamente afetado por condições
ambientais nas quais o trabalhador encontra-se exposto. Por exemplo, um
trabalhador que está submetido ao estresse por altas metas de produção tem
sua produção de adrenalina aumentada pela glândula suprarrenal. Isso provoca
aumento dos batimentos cardíacos e aumento da pressão arterial.

Outras substâncias podem ser absorvidas pelo sistema endócrino e causar

alteração na produção de hormônios, problema que pode originar sérias
doenças ocupacionais.

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Cardiovascular
É composto por sangue, coração, vasos e artérias e tem como função
realizar a circulação do sangue por meio do corpo todo. Graças ao sistema
circulatório, recebemos oxigênio e nutrientes em todas as células existentes em
nosso corpo; as toxinas são removidas e os hormônios transportados.

A circulação do sangue não seria possível sem o coração que funciona

como uma bomba. Esse sistema tem grande importância junto à segurança e
medicina do trabalho por ser o responsável pelo transporte de oxigênio e dióxido
de carbono pelo corpo inteiro. O problema é que junto com essas substâncias,
transporta também agentes tóxicos que eventualmente podem ser absorvidos
pelo corpo por diversas formas e sistemas.

Devemos, porém, lembrar que nem todas as substâncias tem a

característica de penetração na corrente sanguínea como, por exemplo, no caso
do contato da pele com cimento. Nesse caso, causa apenas reação tópica
diferente do caso de contato de solventes que podem penetrar na pele e chegar
à corrente sanguínea.

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Respiratório
É formado por pulmões, faringe, laringe, traqueia e brônquios e tem a
função de realizar as trocas gasosas levando o oxigênio (O2) para as células e
eliminar o dióxido de carbono (CO2) produzido por elas. O funcionamento
correto do nosso corpo ocorre graças à utilização do oxigênio pelas células. O
resultado disso é a liberação do dióxido de carbono.

Lembre-se de que o excesso de dióxido de carbono é tóxico e por isso ele

deve ser eliminado de forma eficiente pelo sistema respiratório.

A maneira mais comum com que as substâncias penetram no corpo do

trabalhador é pela respiração. Quando respiramos, o ar que entra pela boca e
(ou) nariz pode conter substâncias químicas danosas ao organismo conforme
atividade realizada pelo trabalhador.

Os danos ao organismo dependerão das características de cada

substância e podem provocar irritação nas mucosas do nariz e garganta e dor,
podendo chegar até o pulmão. Quando as substâncias chegam ao pulmão,
podem causar sérios problemas ao ficarem depositadas no local, como no caso
da sílica ou amianto que provocam a silicose e asbestose, consideradas
doenças muito graves. No caso do benzeno, a substância chega até o pulmão e
entra na corrente sanguínea, deslocando-se a diversas partes do corpo.

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Digestivo
É formado pelo trato gastrointestinal e órgãos acessórios como as
glândulas salivares, fígado, vesícula biliar e pâncreas. Tem a função de digestão
e absorção dos alimentos por meio da absorção das células e finalmente a
eliminação dos resíduos por excreção.

Existe também a possibilidade de penetração de substâncias tóxicas pelo

processo digestivo, ou seja, pela boca. Geralmente, acontece acidentalmente
pela contaminação durante a alimentação ou quando o indivíduo fuma no
ambiente de trabalho ou por meio de práticas inadequadas como, por exemplo,
a sifonação de líquidos (chupando-os com mangueira).

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Linfático e imunológico
É formado pela linfa, vasos sanguíneos e órgãos como baço, timo,
linfonodos e tansilas. Podemos enumerar várias funções importantes destinadas
a esse sistema, como: retorno das proteínas e plasma ao sangue, transporte de
gordura do intestino para o sistema cardiovascular, proliferação de células
brancas e produção de anticorpos.

O sistema linfático pode ser seriamente afetado pela exposição a

substâncias que contenham hidrocarbonetos aromáticos. Isso causa alteração
na produção de glóbulos vermelhos no sangue.

Para prevenir a exposição excessiva do trabalhador a

agentes que possam prejudicar o funcionamento fisiológico
correto do seu corpo, é preciso estar atento aos limites de
exposição. A legislação brasileira apresenta limites para uma
série de agentes químicos.

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Quando não houver limites de tolerância estabelecidos na

legislação brasileira, poderão ser utilizados aqueles fixados pela
ACGIH. Para usá-los, é preciso ter atenção à duração da
jornada de trabalho. A ACGIH considera a jornada de trabalho
de 40 horas, enquanto no Brasil a jornada é de 48 horas. Dessa
forma, é preciso realizar a correção em função dessa diferença.
Assim, por exemplo, o ácido nítrico não tem limite estabelecido
pelas normas regulamentadoras (NRs). Pode-se, portanto,
utilizar o limite da ACGIH, que é de 2,0 ppm, e, multiplicado por
0,88 (fator de correção), obtém-se o valor de 1,76 ppm. É
necessário considerar a duração da jornada de trabalho do
colaborador para que seja possível identificar o limite de
exposição adequado de acordo com os parâmetros da ACGIH.

ACGIH – Conferência Governamental

Americana de Higienistas Industriais
(American Conference of Governmental
Industrial Hygienists – É uma associação
profissional de higienistas industriais e
praticantes de profissões relacionadas).

Grupos homogêneos

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Para melhor prevenir as doenças relacionadas aos riscos ocupacionais,

podemos dividir os trabalhadores em grupos homogêneos de exposição (GHE).
Segundo a Instrução Normativa Nº 1 de 20/12/1995 do MTE, podemos definir
grupo homogêneo de exposição da seguinte maneira:

"O grupo homogêneo de exposição corresponde a

um grupo de trabalhadores que ficam expostos de modo
semelhante, de forma que o resultado da avaliação da
exposição de qualquer trabalhador, ou do grupo, seja
representativo da exposição do restante dos
trabalhadores do mesmo grupo."

Portanto, ao avaliar alguns membros do grupo, é possível saber a

exposição homogênea do grupo, o que possibilita buscar medidas preventivas
para os agentes de risco proporcionais a tais membros.

Essa divisão pode ocorrer pela união das funções dos trabalhadores em
grupos. Como exemplo podemos citar uma oficina mecânica. Na oficina, temos
alguns funcionários e funções específicas. Logo podemos separar grupos
homogêneos de exposição (GHE) da seguinte maneira:

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GHE1 – administrador e secretário

• Sem exposição significativa a fatores de riscos

biológicos, físicos e químicos

GHE2 – mecânico e auxiliar

• Exposição a fatores de risco como ruído intermitente do

torno e esmeril, óleos, graxas, querosene

GHE3 – chapeador e soldador

• Exposição aos fatores de riscos físicos, ruído

intermitente (esmeril, lixadeiras), radiação não ionizante

do tipo UV (solda) e calor (solda) e aos fatores de riscos

químicos como alguns tipos de fumos metálicos (solda)

e compostos oriundos das tintas automotivas

empregadas.

Como podemos ver, nos grupos homogêneos de exposição são listados os

riscos de cada uma das funções. Aquelas que têm a mesma exposição são
incluídas no mesmo GHE.

Por exemplo, soldador e chapeador dividem funções e espaços na oficina e

fazem parte do mesmo grupo devido às atividades que realizam, as quais
envolvem contato com os mesmos agentes. Com essa separação, torna-se mais
fácil reconhecer e prevenir os fatores de risco.

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Depois de separados os grupos, a identificação dos fatores de risco torna-

se mais fácil.

A eficiência da determinação dos grupos depende da observação de

alguns fatores:

determinação dos tipos de processo ou operação;

funções dos trabalhadores;

identificação dos agentes ambientais;

concentração e intensidade dos agentes;

identificação de todos os trabalhadores (quantidade);

acesso e análise dos exames médicos dos

trabalhadores;

interferência das tarefas relacionadas ou próximas;

dados de levantamento nas fases de antecipação.

O GHE é uma das formas mais eficientes de

organização de processos de gestão de segurança do
trabalho e riscos. Também é uma ferramenta que aceita o

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mapeamento eficiente e rápido dos fatores de risco,

permitindo a adoção de medidas, ações e determinação
de prazos dentro de um cenário real e não burocrático.

Ainda hoje, é possível afirmar que os resultados

positivos proporcionados pela higiene ocupacional não
foram incorporados totalmente à cultura da área de
segurança e saúde do trabalho. Há profissionais e
empreendedores que ainda deixam questões como a
proteção da saúde e do meio ambiente de trabalho fora
dos planos.

Assim, é comum encontrarmos empresas

organizadas e que têm disponibilidade de recurso, mas
que não incluem o desenvolvimento e a prática da
higiene ocupacional como uma prioridade.

A higiene ocupacional, quando praticada com base

em conhecimentos técnicos, tem potencial para
contribuir consideravelmente para o desenvolvimento
econômico, social e sustentável das empresas.

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