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Segurança do Trabalho

Classificação de riscos ambientais de acordo


com a portaria vigente
Em atividades desenvolvidas por um trabalhador, podem existir condições de
trabalho que o
exponham a situações geradoras de acidentes (por exemplo, cortes e
fraturas) e doenças
ocupacionais (por exemplo, silicose – doença associada à inalação de
sílica livre
cristalizada; e lesões por esforço repetitivo –danos ao sistema
musculoesquelético).

Os acidentes e as doenças ocupacionais são gerados por agentes presentes no


ambiente de
trabalho que têm potencial ou característica inerente capaz de gerar um dano
ao trabalhador,
caracterizando-se uma situação de perigo.

Com relação ao perigo, existe ainda o conceito de risco. Esse conceito representa a
probabilidade de o perigo se materializar. A simples presença de um agente no ambiente
não
configura uma situação crítica. Para avaliar se a condição em que ocorre a exposição
ao
perigo é aceitável ou não, avaliam-se a probabilidade de ocorrência da lesão ou da
doença, e a frequência de exposição, ambos parâmetros que definem o risco.

Exemplo 1

Um trabalhador da construção civil, que realiza atividades em altura


(perigo),
limpando fachadas de prédios, está sujeito a
fraturas e até mesmo morte devido à queda.
A possibilidade de esse acidente
ocorrer está diretamente ligada à presença de medidas
de controle. Assim, se
existirem proteções e o trabalhador tiver uma instrução de como
executar a
atividade com segurança, a chance (risco) de ele sofrer
alguma lesão é menor.
Outras medidas podem ser adotadas até o patamar em que
a atividade se torne aceitável.
A única forma de tornar o risco inexistente é acabar com a fonte de perigo,
no caso, o
trabalho em altura.

Exemplo 2

Na movimentação manual de sacas de adubo (perigo), o


trabalhador pode
desenvolver uma lesão na coluna se a atividade não for
executada corretamente ou se a
carga exceder a capacidade física do
colaborador. Uma das possibilidades para reduzir a
probabilidade
(risco) da ocorrência de lesão é reduzir a massa de cada
saca, exigindo
assim menos esforço físico do trabalhador.

Para tornar o risco inexistente, deve-se atuar na fonte do perigo, qual seja
o
transporte de sacas, no caso mecanizando tal transporte.

Algumas situações podem resultar nos mesmos agravos à saúde. Por exemplo,
fraturas podem ser
geradas por quedas de níveis diferentes, mas também podem ser
causadas por impactos de
materiais, por prensamento em máquinas, entre outros.

Já outras situações podem ser agrupadas pelo tipo de agente envolvido. Por
exemplo, perda
auditiva e catarata ocupacional podem ser geradas por formas de energia,
uma acústica e
outra eletromagnética, respectivamente. Devido a tais características, as
situações são
agrupadas por tipo de agente e definidas como fatores de riscos
ocupacionais (a expressão “fator de risco ocupacional” é diferente do termo “risco”).

Os fatores que podem estar presentes no ambiente de trabalho são divididos em


cinco categorias, de acordo com a Portaria n.º 25, de 29 de dezembro de 1994:
físicos,
químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes. Ainda, os fatores de riscos físicos,
químicos e biológicos são classificados como agentes ambientais ou agentes de risco.

Veja a seguir os cinco grupos de riscos:


Riscos físicos

Ruídos, vibrações, frio, calor, radiações não ionizantes, radiações ionizantes,


pressões anormais, umidade.

Riscos químicos
Poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases, vapores, substâncias, compostos e
produtos químicos em geral.

Riscos biológicos

Vírus, bactérias, protozoários, fungos, parasitas.

Riscos ergonômicos

Esforço físico intenso, levantamento e transporte manual de peso, exigência de


postura inadequada, controle rígido de produtividade, imposição de ritmos excessivos,
trabalho em turno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas e outras situações
causadoras de estresse físico e/ou psíquico.

Riscos de acidente

Arranjo físico inadequado, máquinas e equipamentos sem proteção, ferramentas


inadequadas ou defeituosas, eletricidade, probabilidade de incêndio ou explosão,
armazenamento inadequado e outras situações de risco que poderão contribuir para a
ocorrência de acidentes.

As cinco categorias e o controle delas são trabalhados pela maioria das normas
regulamentadoras (NRs), de forma geral ou específica para algumas atividades
econômicas,
abrangendo um ou mais fatores de risco. Alguns exemplos são a NR-9,
voltada aos agentes ambientais, a
NR-17, relacionada às questões ergonômicas, e a NR-
35, destinada ao controle de
acidentes associados ao trabalho em altura.

Classificação dos fatores de riscos ocupacionais


Fatores de riscos físicos

Os riscos físicos são as formas de energia presentes (por exemplo, energias


sonoras,
eletromagnéticas, de pressão, térmicas e mecânicas) no ambiente de trabalho e
capazes de
gerar doenças ocupacionais. Os agentes físicos associados a tais energias
são o ruído, o
ultrassom e o infrassom, as vibrações, as temperaturas extremas, as
radiações ionizantes e
não ionizantes, as pressões anormais e a umidade.
O ruído, um agente muito presente em diversas atividades, é dividido em ruído
contínuo,
intermitente e de impacto. Os dois primeiros se diferenciam apenas pela
amplitude das
oscilações e, em termos práticos, são avaliados da mesma maneira. Já o
ruído de impacto tem
uma característica quase impulsiva, ocorrendo por breves instantes
de tempo e com intervalos
entre impactos respeitando certo critério. O ruído
contínuo/intermitente ocorre, por
exemplo, na operação de uma betoneira, no corte de
madeira com ferramentas elétricas. O
ruído de impacto pode ser encontrado na operação
de um bate-estacas.

A exposição ao ruído tem como principal problema associado a perda auditiva.


Quando o ruído
está em faixas não audíveis (abaixo de 20 Hz e acima de 20 kHz), pode
ser caracterizado como
infrassom ou ultrassom.

O agente de risco vibração é dividido em vibração de mãos e braços e vibração de


corpo
inteiro e exige o contato do trabalhador com a fonte de vibração. Um trabalhador
que utiliza
uma furadeira para colocar estruturas segura a ferramenta com as mãos e,
assim, se expõe à
vibração de mãos e braços. Um operador de empilhadeira (figura 1) que
realiza atividades de
descarregamento de materiais está exposto à vibração de corpo
inteiro por meio do assento. Embora, nesse último caso, o trabalhador possa estar exposto
à vibração de mãos e braços por meio do volante, a exposição pode ser insignificante
devido à frequência da vibração.

As vibrações podem causar danos aos nervos, aos músculos, ao sistema circulatório,
aos ossos
e às articulações.
Figura 1 – Exposição à vibração na operação de empilhadeira

Fonte:
<http://www.valinhos.sp.gov.br/noticias/senai-valinhos-abre-inscricao-para-o-curso-
de-operacao-de-empilhadeira>.

As temperaturas extremas se dividem em calor e frio. O agente calor combina dois


fatores, um ligado às temperaturas do ambiente
e outro associado ao esforço realizado
pelo trabalhador.

São exemplos de situações que expõem o trabalhador ao calor: a operação de fornos


e o
trabalho a céu aberto com ou sem demanda física elevada, por exemplo, abertura de
valas
manualmente (figura 2) ou entrega de correspondências realizadas a pé,
respectivamente.
Figura 2 – Exposição ao calor na abertura de vala

Fonte:
<https://www.tubarao.sc.gov.br/noticias/index/ver/codMapaItem/16675/codNoticia/164363>.

A exposição ao frio ocorre principalmente em ambientes refrigerados, como no


interior de
câmaras frigoríficas, e pode resultar em ulcerações e hipotermia, por exemplo.

As radiações ionizantes se dividem em radiações eletromagnéticas e corpusculares e


contêm
energia suficiente para ionizar átomos, desestabilizando moléculas e
comprometendo as
células do organismo. Os efeitos mais críticos estão associados ao
desenvolvimento de
câncer.

As radiações eletromagnéticas ionizantes nada mais são do que os raios X e a


radiação gama
(figura 3), utilizados na indústria, por exemplo, para realizar radiologia
industrial e
controle de nível em determinados processos em que o controle por meio de
elementos
tradicionais não é possível.
Na medicina, os raios X são utilizados para gerar radiografias. A radiação alfa, a
radiação
beta e a emissão de nêutrons são radiações ionizantes corpusculares. A radiação
beta tem uso
medicinal no combate a alguns tipos de câncer.

Figura 3 – Gamagrafia de peça metálica


Fonte: <http://www.sidercnd.com/radiographic-and-gammagraphic-inspections-rt/>.

As radiações não ionizantes de interesse na área de segurança são as micro-ondas,


a radiação
infravermelha, o ultravioleta (figura 4) e o laser. Em algumas situações
específicas, as radiações na faixa do rádio e as radiações de frequências extremamente
baixas podem também ser de interesse na exposição ocupacional. Todos esses agentes
também são
radiações eletromagnéticas, mas de energia inferior. A exposição ao laser ou
às
micro-ondas ocorre em atividades específicas.

A presença de radiação infravermelha é avaliada como calor. Contudo, em ambientes


com fontes
térmicas substanciais, tais como operação envolvendo aberturas de fornos,
siderurgia e
metalurgia, proteções adicionais ao trabalhador são necessárias para evitar
queimaduras e
danos aos olhos. A exposição à radiação ultravioleta ocorre durante a
exposição à carga
solar e em atividades de solda elétrica.
Figura 4 – Exposição à radiação ultravioleta e a fumos metálicos (um
risco químico)
durante atividade de solda

Fonte:
<https://safe-welding.com/hazardous-substances-in-welding-fumes-how-they-affect-
the-human-body/>.

A exposição a pressões no ambiente de trabalho pode ocorrer pela injeção de ar


comprimido na
construção de túneis e fundações, para garantir a estabilidade do solo e
evitar que
infiltrações de água ocorram. Quando tal estratégia é utilizada com
trabalhadores operando
nesses ambientes, perfis de compressão e descompressão são
aplicados para evitar a
ocorrência de necrose óssea, embolia gasosa arterial, acidente
vascular cerebral, entre
outros.

A umidade é considerada um fator de risco físico. Atividades com exposição direta a


água líquida ou em
névoa, como lavagem de utensílios (figura 5) em um hotel ou lavagem
de carros, são
consideradas situações de exposição a esse agente. O contato com a água
em estado líquido, de forma contínua, mesmo sem a presença de produtos de limpeza,
pode gerar doenças como a paroníquia crônica intertriginosa.
Figura 5 – Exposição à umidade durante lavagem de louça

Fonte: <http://inopak.com/food-service-soap-hand-cleaning-products>.
Fatores de riscos químicos

Os fatores de riscos químicos referem-se à exposição do trabalhador a poeiras,


fibras, fumos, névoas,
neblinas, gases e vapores de produtos químicos, além do contato
com líquidos. As vias de exposição são a cutânea, a
respiratória e a digestiva. Porém, as
vias apresentam características de absorção
diferentes, de modo que um agente pode não
ser absorvido, por exemplo, por contato com a
pele, mas apresentar rápida absorção pelo
sistema respiratório.

Poeiras e fumos são partículas sólidas. As poeiras são geradas por processos
mecânicos (por
exemplo, abrasão e corte) e encontradas nos mais diversos processos
industriais
(beneficiamento de madeiras, extração de pedras, construção civil,
processamento de
cereais). Quando a partícula sólida contiver um comprimento maior que
o próprio diâmetro, é
classificada como uma fibra. Por exemplo, em atividades de
lixamento de tábuas, há geração
de poeira de madeira. O material é dividido e lançado no
ambiente pelo processo de abrasão
da superfície.

Já os fumos originam-se do processo de vaporização de um material sólido por meio


de
aquecimento. Quando esse material vaporizado se afasta da fonte térmica, ele retorna
à sua
fase sólida. Também é possível que esse vapor reaja com os outros elementos e
acabe formando
um composto com ponto de ebulição elevado, o que acaba por forçar
uma transição de fase
novamente, gerando o sólido. Fumos são tipicamente encontrados
nas atividades de solda
(figura 4) e na pavimentação a quente de vias.
Figura 6 – Exposição à poeira contendo sílica livre cristalizada

Fonte:
<https://www.nbcnews.com/health/health-news/dangerous-dust-government-
pushes-improve-workplace-safety-n72121>.

A diferença entre névoas e neblinas, ambas partículas líquidas suspensas no ar,


também está
relacionada à forma de geração. Névoas são geradas pela ruptura mecânica
de um líquido, a
exemplo do que ocorre na pintura com pistola (figura 7). Neblinas são
geradas por
aquecimento de um líquido e pela vaporização deste, com posterior
resfriamento e retorno à
fase líquida. Em processos de galvanoplastia (figura 8), podem-se
encontrar neblinas ácidas
provenientes dos banhos de tratamentos de peças metálicas.
Figura 7 – Exposição à névoa de tinta e à névoa e a vapores do
solvente

Fonte: <https://opintorconsultoria.com/wp-content/uploads/2017/07/p1.jpg>.

Figura 8 – Tratamento superficial de peça metálica com possibilidade


de geração de
neblinas ácidas

Fonte:
<https://www.terra.com.br/noticias/dino/conheca-mais-detalhes-sobre-a-
galvanoplastia-e-sua-importancia,8a269cc5be4a38eeb69047ac53242f3a3drimgak.html>.
Vapores são originados de um produto líquido nas condições de uso – produtos
estes com certas
propriedades físico-químicas que permitem a tais substâncias volatilizar
parte do conteúdo
destas.

Por exemplo, em um posto de abastecimento de combustíveis, é possível sentir o


cheiro de
gasolina. Tal gasolina que está no ambiente é definida como vapor de gasolina,
e não como
gás de gasolina, pois o produto, nas condições de uso, encontra-se líquido.

Os gases, por sua vez, são o estado físico esperado das substâncias que, na
condição
ambiental, já são naturalmente gases, como é o caso do gás nitrogênio, do
metano e do óxido
de etileno.

Para definir um risco químico, não basta indicar se a substância é um gás, um vapor
ou
qualquer outra forma. Também é importante destacar explicitamente o agente, por
exemplo,
poeira de cedro-vermelho, vapor de acetona, névoa de óleo mineral.

Os efeitos nocivos dos agentes químicos estão associados à estabilidade, à


característica
química e à afinidade deles com sistemas ou órgãos do corpo humano.
Dessa forma, os agentes
são classificados conforme o tipo de efeito que causam. Há
agentes nefrotóxicos e
hepatotóxicos, toxinas pulmonares, toxinas do sistema
hematopoiético, neurotoxinas,
asfixiantes, entre outros, sendo possível separá-los pela
forma de ação que geram (sistêmica
ou local).

Um agente de efeito sistêmico é aquele que provoca danos em local diferente ao do


ponto de
contato. Por exemplo, fumos de cádmio são absorvidos pelo pulmão, mas
apresentam efeitos
sobre rins, fígado e ossos. Já substâncias irritantes primárias, como
amônia, provocam o
dano no ponto de contato, como nas mucosas dos olhos e do sistema
respiratório.

Fatores de riscos biológicos

Os agentes biológico são definidos como bactérias, protozoários, vírus


e
microrganismos que, de forma geral, possam entrar em contato com o trabalhador durante
as
atividades laborais e causar algum prejuízo à saúde deste. Trabalhadores de hospitais,
clínicas de odontologia e postos de saúde, por exemplo, podem estar expostos a agentes
causadores de hepatite, meningite, tuberculose, HIV.

Nesses ambientes, pode-se ter contato com agentes biológicos específicos em


função das
atividades envolvidas. Portanto, é preciso trabalhar com parâmetros como
virulência,
patogenicidade, transmissibilidade e permanência do agente no ambiente, a fim
de definir a
melhor forma de controle.

Em outros casos, os agentes biológicos são tratados de modo amplo (por exemplo,
no caso de
profissionais de higienização, trabalhadores da construção civil, da
agroindústria e do
extrativismo vegetal e trabalhadores da coleta e do processamento de
resíduos). Nessas
atividades, os parâmetros destacados podem ter um papel secundário
na avaliação, devido ao perfil
de exposição. Ainda assim, medidas de controle devem ser
adotadas.

Figura 9 – Exposição ao risco biológico na manipulação de resíduos


Fonte:
<http://www.sjp.pr.gov.br/sao-jose-dos-pinhais-destina-corretamente-mais-de-50-
toneladas-de-lixo-por-dia/>.
Na área da saúde ou em outras, a pele representa uma barreira para a maioria dos
agentes
biológicos. Em atividades que podem expor os trabalhadores a objetos que
provoquem cortes ou
punções, cuidados adicionais devem ser adotados, pois a proteção
fornecida pela pele será
comprometida, tornando o ferimento uma via potencial de
contaminação.

A exposição aos agentes pode ocorrer pelo contato com fluidos corporais,
excrementos de animais ou líquidos contaminados. Nesses casos, existe uma
probabilidade de contaminação da vestimenta do trabalhador, e ele pode ficar exposto ao
agente biológico ao longo de toda a jornada, mesmo que a atividade tenha durado apenas
alguns instantes.

Fatores de riscos ergonômicos

Os fatores de riscos ergonômicos estão associados a situações que geram estresse


físico ou psíquico. Situações que envolvem postura estática, esforço físico intenso,
repetição de movimentos, trabalho em posição inadequada – gerada pelas características
da atividade ou pelo próprio mobiliário de trabalho – e monotonia representam algumas
condições geradoras de estresse físico. Situações que envolvem conforto nos ambientes
de trabalho (por exemplo, conforto térmico, conforto acústico e nível de iluminamento)
também são consideradas riscos ergonômicos.

A operação de caixa de supermercado (figura 10), por exemplo, é uma atividade que
expõe trabalhadores a riscos ergonômicos, pois eles executam a atividade sentados ao
longo do dia, em posição estática, além de, eventualmente, passarem pelo caixa objetos
de elevada massa, provocando esforço excessivo das costas e torção do tronco durante o
movimento da carga.

Os trabalhadores de frigoríficos (figura 11) na linha de desossa realizam uma série de


movimentos para separar a carne dos ossos. Os movimentos são repetidos
incessantemente ao longo da jornada e acabam por gerar lesões nos tendões, nos nervos,
nos músculos e no sistema vascular dos membros envolvidos, a médio e longo prazos, se
medidas adequadas não forem empregadas para evitá-las.
Figura 10 – Caixa de supermercado exposta à demanda ergonômica

Fonte:
<http://voxms.com.br/wp-content/uploads/2018/04/caixa-supermercado.jpg>.

Figura 11 – Trabalhador limpando cortes de carne e executando movimentos


repetitivos

Fonte:
<http://www.iagro.ms.gov.br/tour-virtual-pela-planta-de-desossa-e-industrializados-
da-plena-alimentos-em-contagem-mg/>.

O estresse psíquico nos ambientes de trabalho está ligado à monotonia, aos


trabalhos com exigências severas de produtividade ou com controle inflexível de prazos e
metas, à demanda de atenção constante, às demandas ou às instruções conflitantes, à
exigência de decisões extremas frequentes etc.

Dois exemplos que ilustram situações que podem gerar sobrecarga psíquica de
trabalhadores são as atividades de operadores de voo e técnicos em enfermagem. Os
operadores de voo, embora auxiliados por uma série de instrumentos eletrônicos, devem
ter constante atenção, verificando se condições adequadas estão presentes para as
manobras de aeronaves e entrando em contato com pilotos para informar a situação atual.
Nessa atividade, um pequeno descuido pode resultar em um grave acidente.

No caso dos técnicos em enfermagem, em especial aqueles ligados ao atendimento


de doentes terminais e de doentes neurológicos, a carga psicológica, por lidar com o
sofrimento e a morte frequentes, é enorme e ainda está associada a outros fatores
ergonômicos, como jornadas prolongadas e esforço físico em posições inadequadas nas
atividades de movimentação desses pacientes.

A ergonomia pode ser dividida em ergonomia física, cognitiva e organizacional.

A ergonomia física foca na relação entre a atividade executada e as características


biomecânicas do trabalhador, tendo como objetivo tornar o posto de trabalho compatível
com as características físicas do funcionário.

A ergonomia cognitiva está voltada à adaptação das atividades relacionadas às


demandas mentais dos trabalhadores, objetivando tornar mais claras tais atividades e
auxiliar na execução destas.

Por fim, a ergonomia organizacional está relacionada aos processos de trabalho e


à relação destes com a comunicação entre as partes, à gestão da qualidade, à divisão de
tempo entre as atividades, entre outros. O objetivo da ergonomia organizacional é adaptar
os processos da empresa aos trabalhadores.
A ergonomia física está relacionada a situações geradoras de estresse físico. Já a
ergonomia cognitiva pode estar relacionada ao estresse psicológico. As questões de
ergonomia organizacional impactam os processos de trabalho e, consequentemente,
sobrecarregam os estados físico e psicológico dos trabalhadores.

Quando um processo não é adequado ergonomicamente, resulta, a médio e longo


prazos, em doenças ocupacionais e na queda da produtividade.
Fatores de riscos de acidentes

Quando um agente ou uma situação no ambiente de trabalho tem potencial para


causar um dano imediato ao trabalhador (fraturas, cortes, quedas, choque elétrico,
queimaduras, incêndio, morte e outras situações equivalentes), tal agente é classificado
como fator de risco de acidente.

Os riscos de acidentes referem-se à presença de energia elétrica, à probabilidade de


incêndio e explosões, à existência de animais peçonhentos no ambiente ou podem estar
relacionados a alguma característica de execução da atividade, com equipamentos
inadequados ou defeituosos, sem proteção de elementos, sem instruções da forma de uso
e sem caraterísticas do ambiente.

Em manutenção de redes elétricas energizadas (figura 12) ou em proximidade


destas, na operação de equipamentos elétricos com cabos de alimentação danificados ou
em locais úmidos, a presença de eletricidade é um fator a ser considerado na avaliação de
riscos. A eletricidade é especialmente crítica, pois, além do potencial para causar graves
ferimentos, a presença dela não pode ser constatada por uma inspeção visual.

Já nas operações de transferência de combustível entre um caminhão-tanque e uma


aeronave ou um posto de combustível, na manipulação de explosivos ou na verificação de
detonações que falharam, em depósitos de materiais inflamáveis, a possibilidade de
incêndio ou de explosões é relevante.
Figura 12 – Atividade com exposição à eletricidade em rede de distribuição

Fonte:
<http://www.eletrobrasamazonas.com/cms/index.php/eletrobras-realiza-melhorias-
na-rede-eletrica-e-reforca-equipes-durante-a-copa-do-mundo/>.

Máquinas e equipamentos são elementos que podem causar acidentes, seja pela
ausência de proteções em sistemas mecânicos (engrenagens, correias), seja pelas
próprias zonas de operação que realizam conformações mecânicas (cortes, furos,
impactos, entre outros).

A probabilidade de acidente com tais dispositivos é elevada quando são utilizados


equipamentos inadequados, como no caso de corte de materiais com serra circular,
usando discos impróprios para o material ou com capacidade máxima de rotação inferior à
da máquina. Essa situação pode gerar um contragolpe do disco ou a própria ruptura deste,
ambos acidentes com potencial de ferimentos graves.
Figura 13 – Prensa com zonas perigosas protegidas por sistemas fixos (grade em
amarelo)

Fonte:
<http://portaldostrabalhadores.com.br>.

Ambientes desorganizados, com materiais acumulados nas vias de circulação e com


armazenamento realizado incorretamente, como no caso de empilhamento além da
capacidade segura, ou com materiais empilhados e escorados em paredes não projetadas
para tanto, contribuem para ocorrerem acidentes. Ambientes com pouca iluminação que
prejudiquem a percepção da existência de elementos representam outra condição de risco
associada ao ambiente.

As situações de acidentes, na maioria das vezes, são fáceis de serem identificadas e


avaliadas quanto ao potencial de dano quando comparadas aos demais riscos. Por
exemplo, um trabalhador em um açougue cortando algo com uma faca: aqui, é razoável
imaginar que ele pode se cortar com a lâmina, mas não é possível prontamente afirmar se
ele poderá desenvolver uma lesão por esforço repetitivo devido à atividade que exerce.

A escolha inadequada de equipamentos de proteção pode contribuir para a


ocorrência de acidentes. Para os trabalhadores que operam ferramentas rotativas e
utilizam luvas, se houver a possibilidade de a luva entrar em contato com a superfície que
está em rotação, existe uma chance substancial de a mão do funcionário ser puxada para
o mecanismo de transmissão de força. O mesmo pode ocorrer com vestimentas longas,
como camisas, e cabelos longos.

Em atividades em que há ruído, a escolha incorreta de protetores auditivos pode


resultar em superatenuação. Se nesse ambiente for importante a comunicação entre
funcionários ou houver alarmes sonoros, talvez o trabalhador não consiga identificar um
alerta ou um aviso de uma máquina.

Exposições descontroladas a agentes físicos (por exemplo, calor) ou a agentes


químicos podem resultar em um acidente devido a um mal súbito provocado pelo agente.
Em situações que envolvem esforço físico extremo durante grandes intervalos de tempo,
uma queda do nível de glicose no sangue também pode resultar em um acidente.

A forma como as atividades são organizadas pode contribuir para acidentes. Uma
demanda por atendimentos, por exemplo, em atividades no setor elétrico de distribuição
pode acabar forçando que as atividades sejam realizadas mais rápida e descuidadamente,
o que contribui para elevar o risco de choque elétrico.

Além dos fatores diretos que resultam no acidente, tais como operação de
equipamentos sem autorização, falha na sequência de procedimentos, uso de proteções
inadequadas etc., existem outros fatores que suportam tais situações, os quais estão
relacionados, por exemplo, à capacidade física, à falta de conhecimento, à falha na
supervisão e à compra inadequada. Esses pontos devem ser considerados na proposição
de controles para esse risco ocupacional.

Identificação dos fatores de riscos ocupacionais


A prevenção de acidentes e de doenças ocupacionais por meio de medidas de
controle adequadas somente pode ser realizada após a identificação dos fatores de risco
que estão presentes no ambiente. Na etapa de levantamento inicial dos fatores de riscos
ocupacionais, duas situações são possíveis: as atividades são executadas sempre no
mesmo ambiente e da mesma maneira ou são executadas em ambientes variados, mas
com a mesma finalidade.
Quando uma tarefa é realizada da primeira maneira, um levantamento dos fatores de
risco e um controle na modificação dos processos envolvidos são suficientes para definir
as formas de controle.

Tal levantamento pode ser realizado com uma checklist que contemple as seguintes
informações:

Cargo

Atividade desenvolvida e duração dela

Substâncias e máquinas utilizadas

Identificação dos prováveis fatores de risco

Normalmente, nesse levantamento, as medidas de controle são propostas em um


segundo momento, ou seja, não é durante o reconhecimento que o potencial de dano é
avaliado e que a melhor estratégia é definida.

Em atividades executadas em ambientes variados, além dos fatores de risco


inerentes, outras condições podem estar presentes em situações específicas. Por
exemplo, nos trabalhos de conservação de fachadas de prédios, existe risco de acidente
associado ao trabalho em altura. Contudo, se a atividade envolver pintura ou for realizada
nas proximidades das instalações elétricas, então outros fatores de risco devem ser
considerados – no caso, um químico (envolvendo a tinta) e outro de acidente (envolvendo
eletricidade). Portanto, cabe realizar uma avaliação padronizada em cada local, para
identificar todos os fatores de risco e definir as medidas de controle adequadas.

A avaliação é feita por meio de ferramentas específicas, como a análise preliminar de


riscos (APR), a qual avalia cada situação com base no potencial de gravidade do acidente
ou da doença, na probabilidade de ocorrência e na frequência de exposição. Dessa forma,
podem-se definir o nível de riscos e as medidas adequadas.

A checklist ou as APRs podem ser utilizadas em ambas as situações descritas. O


profissional de segurança do trabalho deve utilizar a ferramenta mais adequada ao
processo analisado e a que estiver mais habituado.
Ao avaliar os fatores de risco ocupacionais no ambiente de trabalho, podem-se
também encontrar situações de trabalho que exponham o trabalhador a mais de um tipo
de fator de risco. Inicialmente, os fatores de risco são avaliados independentemente.
Porém, há certas combinações de fatores de risco que requerem atenção especial, pois
normalmente envolvem um agente ambiental.

É o caso, por exemplo, do trabalhador de roçagem, o qual tem uma demanda


ergonômica por sustentar o equipamento ao longo da atividade ao mesmo tempo que está
exposto à vibração. Ambos os agentes têm potencial para danos nos mesmos sistemas do
corpo. Sendo assim, a exposição conjunta pode resultar em um agravo maior do que os
fatores de risco analisados individualmente.

Observe os exemplos a seguir. Neles, será apresentado um levantamento de fatores


de risco para atividades de roçagem e pavimentação de vias. O levantamento indica a
existência dos riscos, mas não é avaliado o potencial de dano ao trabalhador, em função
de características da atividade ou das proteções existentes. Obviamente, nem sempre
deve ser usado esse levantamento como padrão para esse tipo de exposição.

Exemplo 1 – Atividade de roçagem

Observe a imagem a seguir. Nela, o trabalhador está realizando a atividade de


roçagem. Que fatores de risco podem ser levantados quanto à atividade em questão?
Figura 14 – Trabalhador em atividade de roçagem

Fonte:
<http://agencia.sorocaba.sp.gov.br/prefeitura-realiza-rocagem-e-limpeza-em-16-
bairros/>.

Fatores de riscos ocupacionais que podem ser levantados

Fatores de riscos físicos

Exposição a ruído intermitente produzido pelo próprio equipamento

Exposição à vibração produzida pelo próprio equipamento e transmitida ao


trabalhador pelas empunhaduras da máquina, caracterizando uma vibração
de mãos e braços

Exposição ao calor devido à exposição ao sol e ao trabalho com esforço

Exposição à radiação ultravioleta

Fatores de riscos químicos

Exposição a gasolina devido à possibilidade de contato com o combustível


líquido durante o abastecimento da roçadeira
Fatores de riscos biológicos

Vírus, pela possibilidade de contato com vetores de transmissão de doenças,


tais como mosquitos

Bactérias, protozoário, fungos, entre outros, pela possibilidade de contato


com áreas alagadas e contaminadas

Fatores de riscos ergonômicos

Postura em pé mantida por longo tempo

Flexão do pescoço continuamente na direção do ponto de roçagem

Sustentação do equipamento pelo trabalhador durante todo o período da


atividade

Posição predominantemente estática dos membros superiores e preensão


constante da empunhadura

Exigência de atenção constante com pessoas no entorno

Fatores de riscos de acidentes

Projeção de material pelo sistema de roçagem (lâmina ou linha), tais como


pedras e madeira, contra o trabalhador

Tráfego de veículos quando a roçagem ocorrer em uma via pública ou


próximo a esta

Presença de animais peçonhentos

Queda de mesmo nível devido a irregularidades e presença de materiais no


solo

Exemplo 2 – Atividade de pavimentação de vias

Observe a figura a seguir. Com relação à pavimentação de vias, que riscos


ocupacionais poderiam ser levantados?
Figura 15 – Atividade de pavimentação de vias

Fonte:
<https://www.jornaldooeste.com.br/noticia/prefeitura-de-nova-santa-rosa-realiza-
pavimentacao-asfaltica-na-linha-gabiroba>.

Riscos ocupacionais que podem ser levantados

Fatores de riscos físicos

Exposição a ruído intermitente gerado pelos equipamentos e pelos veículos


utilizados na pavimentação

Exposição à vibração de corpo inteiro nos veículos de pavimentação


transmitida pelo contato direto com os assentos

Exposição ao calor devido à exposição ao sol ou ao ambiente quente e ao


trabalho com esforço

Exposição à radiação ultravioleta devido à exposição ao sol

Fatores de riscos químicos


Exposição a vapores e a fumos de asfalto originados do aquecimento do
produto de pavimentação (a composição dos fumos e dos vapores depende
da tecnologia e das temperaturas empregadas, mas pode conter
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, como fluoreno, benzo(a)antraceno e
benzo(a)pireno)

Exposição a substâncias utilizadas para limpeza de máquinas ou preparação


de asfalto (por exemplo, querosene)

Fatores de riscos biológicos

Vírus, pela possibilidade de contato com vetores de transmissão de doenças,


tais como mosquitos

Fatores de riscos ergonômicos

Repetição do movimento em função dos comandos executados pelo


trabalhador na máquina

Postura inadequada ao sentar no assento da máquina

Fatores de riscos de acidente

Contato com superfícies aquecidas, com o asfalto ou com outros produtos


quentes

Atropelamento por veículos e máquinas em movimento

Contato com elementos de máquinas com potencial para diversas


consequências, como prensamento e cortes

As estratégias de controle para os diversos riscos dependem diretamente da


identificação destes, das rotinas e das atividades desempenhadas e das máquinas e dos
produtos empregados. Uma atividade poderá ser desenvolvida com segurança, na
presença de riscos ocupacionais, desde que o nível de risco seja corretamente controlado.

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