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Segurança do Trabalho

O exercício profissional do técnico em segurança do trabalho não concorre nem


se confunde com o
de outros profissionais, apesar dos demais integrantes da empresa
também serem responsáveis pela
segurança no trabalho. A atuação de todos os
profissionais se complementa na aplicação de um
conjunto de conhecimentos técnicos
e científicos na busca permanente de encontrar os meios
possíveis para promover a
segurança e a saúde dos trabalhadores, não somente técnica e
economicamente,
mas, acima de tudo, eticamente.

Pode-se acrescentar que o conjunto de “meios possíveis para promover a


segurança e a saúde”
visa a conhecer a magnitude dos acidentes e das doenças
relacionados ao trabalho;
identificar os fatores de riscos ocupacionais; estabelecer
medidas de controle e prevenção;
e avaliar os serviços de saúde permanentemente,
visando à transformação das condições de
trabalho e à garantia da qualidade da
assistência à saúde do trabalhador.

Segundo o técnico em segurança do trabalho e coordenador do e-group SESMT,


Cosmo Palasio de
Moraes Junior:

O fato é que hoje cuidamos das formigas enquanto os elefantes andam soltos
pelas
organizações, adoecendo, mutilando e matando. Se o tempo dedicado às
pequenas coisas
fosse dedicado ao cuidado das grandes, as ações implementadas
seriam mais eficazes.

Os hábitos inseguros de trabalho estão profundamente enraizados, até mesmo


entre os
trabalhadores mais jovens. A sociedade e os seus padrões, influenciados pela
mídia,
enaltecem as atividades de alto risco. Desde muito pequenas, as crianças
aprendem que os
heróis são pessoas ousadas, que arriscam a própria vida
principalmente no exercício da
profissão.

Tais hábitos profundamente enraizados, seja no trabalhador, seja nas


organizações, associados ao não conhecimento das condições perigosas do ambiente
de trabalho, constituem as principais barreiras para a segurança e a saúde do
trabalhador.

Espera-se que a organização encontre o equilíbrio entre a perspectiva econômica


(que deve assegurar competitividade), a conformidade legal (que deve assegurar
legalidade no cumprimento da legislação aplicável), a atuação ética (que deve
assegurar responsabilidade social na busca do que é correto) e a postura política (que
deve assegurar a legitimidade junto às partes interessadas), a fim de criar um
ambiente favorável para a continuidade de suas atividades.

Como é regulamentada a profissão do técnico em segurança do trabalho?

O técnico em segurança do trabalho é um profissional integrante do SESMT


(Serviço Especializado em Saúde e Medicina do Trabalho). Esse serviço tem seu
dimensionamento fundamentado na NR-4, a qual define o número de profissionais nas
empresas em função da quantidade de funcionários e do grau de risco. Quanto mais
funcionários e maior o grau de risco da empresa, maiores serão a equipe do SESMT e
a quantidade de técnicos em segurança do trabalho.

A NR-4 contém atribuições específicas para esses profissionais, não


estabelecendo hierarquia específica. O técnico em segurança do trabalho poderá
trabalhar sozinho (muitas empresas contam com apenas um profissional de segurança
do trabalho) ou em equipes, por vezes numerosas.

Resumidamente, tais atribuições são:


Aplicação dos conhecimentos de segurança e de medicina do trabalho ao
ambiente de trabalho e a todos os seus componentes

Determinação dos equipamentos de proteção individual (EPIs)

Colaboração nos projetos e na implantação de novas instalações físicas


e tecnológicas da empresa

Orientação quanto ao cumprimento do disposto nas NRs aplicáveis às


atividades executadas pela empresa e/ou pelos estabelecimentos

Relacionamento com a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de


Acidentes)

Promoção e realização de atividades de conscientização, educação e


orientação dos trabalhadores para a prevenção de acidentes do trabalho
e doenças ocupacionais

Conscientização dos empregadores sobre acidentes do trabalho e


doenças ocupacionais, estimulando a prevenção

Análise e registro de todos os acidentes ocorridos na empresa ou no


estabelecimento

Registro mensal dos dados atualizados de acidentes do trabalho,


doenças ocupacionais e agentes de insalubridade

Atendimento a emergências, elaboração de planos de controle de efeitos


de catástrofes, disponibilidade de meios que visem ao combate a
incêndios e ao salvamento, imediata atenção à vítima deste ou de
qualquer outro tipo de acidente

A NR-4 descreve que os profissionais integrantes do SESMT devem conter


formação e registro profissional em conformidade com o disposto na regulamentação
da profissão. Sendo assim, quanto à regulamentação da profissão do técnico em
segurança do trabalho, deve-se observar a Lei n.º 7.410, de 27 de novembro de 1985.

Cabe ao Ministério da Economia definir as atividades da função de técnico em


segurança do trabalho. Para tanto, em 21 de setembro de 1989, foi promulgada a
Portaria n.º 3.275, que, em resumo, determina os seguintes pontos:
Informar o empregador e os empregados sobre os riscos existentes nos
ambientes de trabalho e a forma de controlar esses riscos

Analisar os métodos e os processos de trabalho e identificar os fatores de


risco de acidente de trabalho e doenças profissionais e do trabalho e a
presença de agentes ambientais agressivos ao trabalhador, propondo um
controle

Executar os procedimentos de segurança e higiene do trabalho e avaliar


os resultados alcançados, visando à melhoria contínua

Executar programas de saúde e segurança do trabalho

Promover debates, encontros, campanhas, seminários, palestras,


reuniões, treinamentos e utilizar outros recursos de ordem didática e
pedagógica com objetivos de saúde e segurança do trabalho

Executar as normas de segurança referentes a projetos de construção,


ampliação, reforma, arranjos físicos e de fluxos, visando à observância
das medidas de segurança e higiene do trabalho, inclusive por terceiros

Encaminhar aos setores e às áreas competentes normas, regulamentos,


documentação, dados estatísticos, resultados de análise e avaliações,
materiais de apoio técnico e/ou educacional e outros de divulgação para
conhecimento e autodesenvolvimento do trabalhador

Indicar, solicitar e inspecionar equipamentos de proteção contra incêndio

Cooperar com as atividades do meio ambiente

Orientar as atividades desenvolvidas por empresas contratadas quanto


aos procedimentos de segurança e higiene do trabalho

Executar atividades ligadas à segurança e à higiene do trabalho,


utilizando técnicas e métodos científicos e observando dispositivos legais

Levantar e estudar dados estatísticos de acidentes do trabalho, doenças


profissionais e do trabalho e calcular a frequência e a gravidade deles

Articular-se e colaborar com os setores responsáveis pelos recursos


humanos, fornecendo-lhes resultados de levantamento técnicos de riscos
das áreas e das atividades

Informar os trabalhadores e o empregador sobre as atividades insalubres,


perigosas e penosas existentes na empresa
Avaliar as condições ambientais de trabalho e emitir parecer técnico

Articular-se e colaborar com os órgãos e as entidades relacionados à


saúde e à segurança do trabalho

Participar de seminários, treinamentos, congressos e cursos visando ao


intercâmbio e ao aperfeiçoamento profissional

Segundo Barsano (2018), a ética é definida como uma explicação teórica dos
comportamentos morais do ser humano, seja na busca da realização individual, seja
na busca do bem comum. A ética profissional na saúde e na segurança do trabalho é
de suma importância para o ambiente organizacional, pois compreende
comportamentos morais de ambos os lados (empregador e empregados) nas relações
trabalhistas.

Você, como técnico em segurança do trabalho, precisa ter compromisso com a


moral, principalmente nos atendimentos aos clientes (internos e externos), com
deveres e responsabilidades indelegáveis. Além disso, também deve cumprir as
obrigações e os deveres determinados pelo responsável da empresa e pela profissão
escolhida.

O técnico em segurança do trabalho, assim como outros profissionais, tem


responsabilidades. Conforme o artigo 186 do Código Civil, aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar prejuízo a
outro, fica obrigado a reparar o dano.

A empresa, quando não estabelece ações de prevenção à saúde e à integridade


dos trabalhadores e dos prestadores de serviço ou quando tem comprovada a sua
culpa por algum tipo de acidente de trabalho, tem o dever de indenizar o dano material
e o dano moral requeridos.
O artigo 132 do Código Penal determina: Expor a vida ou a saúde de outro em
perigo direto ou iminente. Pena – detenção, de três meses a um ano, se o fato não
constitui crime mais grave. O artigo pune a simples exposição a título de perigo à vida
ou à saúde do trabalhador. O perigo deve apresentar-se direto e iminente, isto é, como
realidade concreta, efetiva, presente, imediata (por exemplo, exposição à substância
altamente tóxica, máquinas perigosas sem proteção e operários atuando em grandes
alturas sem equipamentos de proteção).

Responsabilidade civil é a obrigação de reparar o dano que uma pessoa causa a


outra. No direito, a teoria da responsabilidade civil procura determinar em que
condições uma pessoa pode ser considerada responsável pelo dano sofrido por outra
e em que medida aquela está obrigada a repará-lo. A reparação do dano é feita por
meio da indenização, que é quase sempre pecuniária. O dano pode ser à integridade
física, à honra ou aos bens de uma pessoa.

Especificamente, para imputar a responsabilidade civil, podem-se utilizar dois


dispositivos legais:

(#modal-codigo)
(#modal-constituicao)

Percebe-se então que a empresa também assume a responsabilidade civil em


casos de acidente do trabalho. Após concluído o devido processo legal e comprovada
a culpa da empresa no acidente, esta será responsabilizada civilmente por reparar o
dano causado ao empregado, tanto no campo patrimonial quanto no plano moral.

Quando o empregador desatende às normas e às recomendações de segurança


do trabalho, embora dispusesse de meios para concretizá-los, expõe-se ao duplo risco
de ter de responder criminalmente pelas consequências de seu gesto, e de ressarcir
os danos sofridos pelo empregado vitimado, que a legislação acidentária cobre de
modo imperfeito.
O profissional da área de segurança do trabalho assume a responsabilidade
criminal em casos de acidente do trabalho com lesões corporais ou morte do
trabalhador, situações em que devem ser instaurados o inquérito policial e,
posteriormente, a ação penal. Comprovada a omissão, a imperícia ou a negligência do
profissional como causa do acidente, o profissional poderá ser penalizado nos termos
dos artigos 121 e 129 do Código Penal.

Toda empresa, inclusive os governos federal, estadual e municipal, os órgãos da


administração direta ou indireta, as fundações e as demais entidades do país, está
sujeita às responsabilidades legais com relação aos acidentes ocorridos em suas
dependências durante a jornada de trabalho.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o acidente de trabalho é


um dano à vida e à saúde do trabalhador e pode produzir, em um primeiro caso, como
consequência de uma causa brusca, resultado direto de uma condição de casualidade,
ou, em um segundo caso, um risco nocivo, permanentemente existente no local de
trabalho e que, pouco a pouco, pode atingir a saúde do trabalhador.

No primeiro caso, caracterizam-se os acidentes típicos; e, no segundo, as


doenças ocupacionais decorrentes do trabalho realizado com fatores de riscos
nocivos, que podem levar a vítima – ou os beneficiários dela – à propositura de ação
de reparação de dano, pela omissão (culpa) do empregador em cumprir a legislação
de segurança e medicina do trabalho.

Conclui-se, assim, que neste material foi possível compreender melhor as


atribuições, a ética e a responsabilidade do técnico em segurança do trabalho.
Código Civil

Responsabilidade criminal é a obrigação de sofrer o castigo ou incorrer nas


sanções penais impostas ao agente, em decorrência de fato ou omissão
criminosa:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

[...]

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar danos a outrem,
fica obrigado a repará-lo. (BRASIL, 1999)
Constituição Federal

De acordo com a Constituição Federal, no artigo 7.º, são direitos dos


trabalhadores:

XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de


saúde, higiene e segurança [...];

[...]

XXVIII – seguro contra acidente do trabalho, a cargo do empregador, sem


excluir a indenização a que está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.
(BRASIL, 1999)

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