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Consecução dos

objetivos da segurança
e saúde do trabalho da
empresa
5. Relacionamento intersetorial e interpessoal

Os profissionais que administram ações e atividades de cunho


prevencionista na organização devem ter um bom
entrosamento com as pessoas de todos os setores e
departamentos, promovendo o alcance dos objetivos de forma
coesa. Conforme afirma Zocchio (2002, p.63), a segurança e
saúde do trabalho “exige muito bom relacionamento
intersetorial e interpessoal, tanto na área técnica como
administrativa [...] indispensável ao bom desempenho de toda a
empresa, na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.”

Em outras palavras, todos os membros da empresa,


independentemente do setor ao qual pertençam e das
atribuições e competências que possuam, são responsáveis
pela concretização de melhorias na segurança do trabalho e
devem participar ativamente do sucesso da aplicação das
medidas lideradas pelo setor especializado no assunto
(ZOCCHIO, 2002).

Nos tópicos que se seguem será discutida a dinâmica


específica de cada uma das relações entre setores e funções
com os agentes que lideram a promoção e a divulgação das
decisões em matéria de segurança, medicina, higiene do
trabalho e temáticas afins.

5.1. Hierarquia de responsabilidades pelo serviços de


segurança do trabalho

Na distribuição das respectivas responsabilidades pela


segurança e saúde do trabalho (SST) pelos membros da
organização está a chave do sucesso das ações de prevenção.
É na compreensão dessa responsabilidade que a empresa
deve pautar sua Política interna de Segurança e Saúde do
Trabalho e seus programas de Gestão de SST (ZOCCHIO,
2002).

Essas responsabilidades podem ser divididas em dois tipos: as


institucionais e as funcionais. As responsabilidades
institucionais começam pelo fato das empresas constituírem
pessoas jurídicas, que tem o dever de zelar pela preservação
da saúde e da integridade física de seus empregados, que tem
impacto nas famílias e, em última instância, na sociedade.
Esse dever é determinado primeiramente na Constituição
Federal (CF), mas também pela Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT) e pelas NRs. Além disso, a nível municipal e
estadual as organizações devem garantir o cumprimento das
leis sanitárias e dos códigos locais (ZOCCHIO, 2002).

Os serviços de segurança, SESMT, CIPA e os Administradores


de diferentes níveis hierárquicos devem ter atenção especial às
normas, leis e regulamentos internos, buscando
aconselhamento junto ao setor jurídico da empresa, informando
aos envolvidos pelo seu cumprimento e acionando órgãos
administrativos e técnicos, quando necessário.
Para que a empresa cumpra com as suas responsabilidades
institucionais, terá́ que delegar responsabilidades individuais a
seus membros, as chamadas responsabilidades funcionais.
Estas visam o cumprimento das responsabilidades
institucionais da empresa através da participação de cada
membro da organização, no exercício de suas funçõ̃es. Ou
seja, implica no atendimento satisfatório das atividades de SST
que cabem às pessoas em particular (ZOCCHIO, 2002).

5.2. Relação entre engenharia de segurança, alta


administração, gerência e supervisão

De acordo com Chirmici (2016), no tocante ao Engenheiro de


Segurança do Trabalho, o papel da atuação desse profissional
nas organizações foi regulamentada pela Lei no 7.410, que
dispõe sobre a especialização em nível de pós-graduação em
Engenharia de Segurança do Trabalho para engenheiros e
arquitetos, de 27 de novembro de 1985. Foi ratificado pela
Resolução nº 325 do Conselho Federal de Engenharia e
Agronomia (CONFEA), de 27 de novembro de 1987, que
dispõe sobre o exercício profissional, o registro e as atividades
do engenheiro de segurança do trabalho, delimitando em seu
art. 4º:

Art. 4º - As atividades dos Engenheiros e Arquitetos


na especialidade de Engenharia de Segurança do
Trabalho são as seguintes:

1. Supervisionar, coordenar e orientar tecnicamente


os serviços de Engenharia de Segurança do
Trabalho;
2. Estudar as condições de segurança dos locais de
trabalho e das instalações e equipamentos, com
vistas especialmente aos problemas de controle de
risco, controle de poluição, higiene do trabalho,
ergonomia, proteção contra incêndio e saneamento;

3. Planejar e desenvolver a implantação de técnicas


relativas a gerenciamento e controle de riscos;

[...] 6. Propor políticas, programas, normas e


regulamentos de segurança do trabalho, zelando
pela sua observância;

[...] 14. Orientar o treinamento específico de


segurança do trabalho e assessorar a elaboração
de programas de treinamento geral, no que diz
respeito à segurança do trabalho;

[...] 18. Informar aos trabalhadores e à comunidade,


diretamente ou por meio de seus representantes,
as condições que possam trazer danos à sua
integridade e as medidas que eliminam ou atenuam
estes riscos e que deverão ser tomadas. (CONFEA,
1987, art. 4º).

Nesse sentido, o Engenheiro de Segurança do Trabalho, o


técnico de segurança do trabalho e os demais profissionais que
compõem o SESMT devem manter um relacionamento estreito
com a diretoria e os administradores do nível hierárquico mais
elevado, os “cabeças da empresa”, a fim de dar suporte a
tomada de decisões que afetarão toda a organização,
sobretudo a definição do planejamento estratégico. A
discussão de possíveis alterações na Política interna de
segurança e saúde do trabalho e nos procedimentos gerais dos
trabalhadores são questões nas quais o aconselhamento do
SESMT é útil e recomendável a alta administração (ZOCCHIO,
2002).

Também deve haver uma proximidade entre os membros do


SESMT e os gerentes do nível hierárquico intermediário, os
quais orientam os seus subordinados quando ao cumprimento
de todas as diretrizes da empresa, incluindo a Política de
Segurança e Saúde do Trabalho. A esses líderes compete
repassar as ordens da alta administração, orientar quanto aos
objetivos e cobrar o desempenho dos envolvidos. A segurança
do trabalho é manejada por gerentes para que as condições de
trabalho sejam adequadas, garantindo um ambiente salubre e
propício ao sucesso das atividades. É nesse relacionamento
entre SESMT e gerência que ocorre a discussão das medidas
técnicas e administrativas que devem ser tomadas para
diferentes setores e departamentos, além da apreciação dos
resultados alcançados com os programas de segurança do
trabalho (ZOCCHIO, 2002).

O papel do Engenheiro de Segurança do Trabalho e do


Técnico de Segurança do Trabalho na orientação e apoio dos
supervisores e encarregados na instrução dos trabalhadores
comuns tem como fim colocar em prática as tarefas prescritas
pelos gestores de nível hierárquico mais elevado, incluindo as
atividades que visam à prevenção de acidentes e doenças
ocupacionais. Isso deve ser feito com os recursos de que
esses atores dispõem, com disciplina e comprometimento.
Todas as avaliações acerca dos acontecimentos na área,
envolvendo descumprimentos de procedimentos de segurança,
doenças e acidentes de trabalho devem ser conduzidas com a
participação do SESMT, a fim de propor novas medidas de
prevenção e controle da exposição a riscos. É desejável
promover uma maior aproximação desses supervisores e
encarregados também com a CIPA, visando o planejamento
mais amplo das mudanças que venham a ser necessárias
(ZOCCHIO, 2002).
Uma relação de confiança e proximidade deve ser construída
entre o SESMT e o contingente de trabalhadores da base da
pirâmide hierárquica das funções administrativas, pois só assim
haverá: um canal de troca e comunicação de riscos e perigos;
cooperação para a eliminação e neutralização destes a partir
de condutas definidas pelo SESMT, em parceria com a CIPA; e
colaboração para a efetivação dos cuidados diários obrigatórios
e dos procedimentos padrões de segurança.

5.3. Relação entre engenharia de segurança, trabalhadores


e CIPA

A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) é


composta por funcionários que representam o empregador e
outros que representam os empregados. Durante a gestão,
essas pessoas têm algumas funções rotineiras específicas,
tendo em vista a prevenção de acidentes junto aos
empregados comuns. Devido ao conhecimento aprofundado do
processo e do método de trabalho que a CIPA possui, é
importante que esta tenha um relacionamento harmonioso com
o SESMT, o qual possui um maior aprofundamento em termos
de conhecimento teórico e prático de SST, favorecendo o
andamento das ações de prevenção (ZOCCHIO, 2002).

No que tange à Política interna de segurança e saúde do


trabalho, a CIPA tem algumas responsabilidades adicionais que
dizem respeito ao seu cumprimento, as quais são descritas no
Esquema 1.
Esquema 1 – Responsabilidades da CIPA no cumprimento da
Política Interna de Segurança e Saúde do Trabalho.

ZOCCHIO, 2002 (Adaptado)


5.4. Relação entre serviços de segurança e medicina do
trabalho

Como comentado anteriormente, o SESMT é composto por


profissionais credenciados pelo Ministério do Trabalho, com
expertise nos assuntos compreendidos pela Segurança e
Saúde do Trabalho. Logo, atua em todos os níveis técnicos e
administrativos das empresas, possuindo uma colocação
vertical, uma vez que suas competências incluem: o
planejamento e desenvolvimento das medidas de prevenção de
acidentes e doenças do trabalho; a coordenação, fiscalização e
assessoramento na tomada de decisões pelos gerentes dos
níveis hierárquicos mais elevados (ZOCCHIO, 2002).

Nesse sentido, o SESMT se relaciona com os setores de


Recursos Humanos (RH) e Financeiro, na medida em que
estes podem impactar diretamente no andamento da Gestão
da SST em toda a organização.

O RH tem como principal atribuição selecionar e recrutar


pessoas. Com isso, podemos dizer que esse setor dá o
primeiro passo para a prevenção de acidentes e doenças
ocupacionais, ao passo que identifica quais pessoas tem
condições de assumir os postos de trabalho disponíveis.
Adicionalmente, o RH fornece o treinamento dos admitidos,
tendo a oportunidade de conectá-los com a cultura de
segurança mantida na organização. Também monitora a
consecução das atividades de SST por essas pessoas
(ZOCCHIO, 2002).

O Financeiro realiza os orçamentos anuais e de projetos


individuais, os quais devem contemplar e priorizar as ações
preventivas. Caso isso não aconteça, devido a uma lacuna de
participação e aconselhamento do SESMT nessas tarefas tão
essenciais, pode ser omitida a parte que corresponde à
segurança do trabalho. Essa omissão pode ter consequências
sérias, implicando em problemas de segurança, que podem até
mesmo ocasionar acidentes (ZOCCHIO, 2002).

5.5. Relação entre engenharia de segurança e outras


engenharias

O Engenheiro de Segurança do Trabalho, por possuir uma


formação básica de engenharia, detém o domínio de alguns
conhecimentos técnicos que o diferenciam dos demais
membros do SESMT e o tornam apto a lidar mais de perto com
os engenheiros e técnicos que trabalham com projetos,
processos e manutenção. Esses setores tem um eixo comum
de atuação pertinente à parte operacional, essencial ao
funcionamento da empresa e ao rendimento do negócio. Por
isso, funcionam como norte da implementação de ações de
SST. A importância de sua atuação conjunta com o SESMT é
discutida no Esquema 2.

Esquema 2 – Relação dos engenheiros e técnicos dos setores


de projetos, processos e manutenção com a garantia da SST.
ZOCCHIO, 2002 (Adaptado)

Atividade extra
Assista ao filme O voo (2012), que conta a história de um piloto
de sucesso que tenta seguir sua vida e enfrentar a própria
consciência após causar um grave acidente, que colocou em
risco a vida dos passageiros por conta de um conjunto de
atitudes e comportamentos irresponsáveis.

Referência Bibliográfica

CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. de. Introdução à


segurança e saúde no trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2016.
Conselho Federal de Engenharia e Agronomia
(CONFEA). RESOLUÇÃO Nº 325, de 27 novembro de 1987.
Disponível em:
< http://normativos.confea.org.br/ementas/visualiza.asp?idEme
nta=373>. Acesso em: 21 de fev. de 2021.
ZOCCHIO, A. Prática da prevenção de acidentes: ABC da
segurança do trabalho. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

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