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A segurança,

higiene e saúde
no trabalho no
sector da
reparação
automóvel
Introdução
Nos tempos actuais, deve ser crescente a preocupação
com a segurança no trabalho, com a saúde dos
trabalhadores e com as causas (directas e indirectas /
visíveis e invisíveis) que acabam por resultar em
acidentes de trabalho. O nosso quadro legislativo pode
ser considerado suficiente, embora o seu principal
problema resida na sua falta de aplicação. A análise de
riscos e a avaliação das condições de trabalho são talvez
as formas mais eficazes de combater a sinistralidade
laboral e todo o seu vastíssimo leque de consequências.
Os efeitos que, seguramente, resultam dos elevados
níveis de sinistralidade laboral, no nosso país,
representam, em primeiro lugar, o nosso anacrónico
atraso em relação aos países mais desenvolvidos,
demonstrando não só a nossa falta de competitividade
no mercado internacional, como também “levantam o
véu”, sobre todas as nossas fragilidades políticas,
económicas e sociais, bem como a ausência de uma
gestão estratégia para as nossas instituições.

É natural que este quadro pouco favorável para o nosso


país implique elevados níveis de sinistralidade laboral
(incluindo no sector da reparação automóvel), não só
pelas baixas qualificações académicas e socio-
profissionais dos nosso trabalhadores (geradoras dos
elevados níveis de literacia da maioria da nossa
população activa), mas particularmente, pela
persistência dos nosso quadros de topo em não
apostarem, efectivamente, na formação profissional dos
seus recursos humanos, na procura e investimento em
novas tecnologias, nomeadamente as de ponta, na
execução de produtos e serviço de alta qualidade, na
inovação, na investigação e nas aptidões psicossociais
(incluído o bom relacionamento humano e
comunicacional) dos seus colaboradores. Naturalmente
que os acidentes de trabalho influenciam diretamente a
produtividade (qualitativa e quantitativa) bem como os
seus custos.

Este trabalho pretende elaborar uma pequena


abordagem sobre este complexo problema da
segurança, higiene e saúde no trabalho (SHST),
tentando demonstrar as nossas virtudes no campo
legislativo, contrastando com a paupérrima realidade
das nossas organizações ao nível das condições de
trabalho e da sinistralidade laboral.
Legislação aplicável à
Segurança, Higiene e Saúde
no Trabalho (SHST)
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em
1981, decide sobre algumas propostas relativas à
segurança, higiene e ambiente de trabalho, e adopta a
Convenção n.º 155. No âmbito da actual União Europeia
(antiga CEE - Comunidade Económica Europeia), a 12
de Junho de 1989, é publicada a Directiva do Conselho
n.º 89/391/CEE, na qual se prevê a aplicação de
medidas destinadas a promover a melhoria da
segurança e da saúde dos trabalhadores no trabalho.
Em Portugal é apenas a partir da década de 90 que as
preocupações com a prevenção[1] e com a segurança
ganham maior expressão, nomeadamente através da
produção normativa (Comissão do Livro Branco dos
Serviços de Prevenção, 1999) resultante, sobretudo, de
Convenções da OIT e das Directivas que era necessário
transpor na sequência da integração de Portugal na,
então, Comunidade Económica Europeia. A SHST passa
a ser encarada numa lógica de Prevenção integrada[2],
em que a função de prevenção de riscos profissionais
passa a ser uma dimensão estratégica da gestão da
organização (Comissão do Livro Branco dos Serviços de
Prevenção, 1999), deixando de se circunscrever a
prevenção apenas a determinados trabalhadores e
riscos específicos, assumindo-a globalmente e em todos
os aspectos relacionados com o trabalho, incluindo os
psicossociais.
►[1] Prevenção é a acção de evitar ou diminuir os riscos
profissionais através de um conjunto de disposições ou
medidas que devam ser tomadas em todas as fases da
actividade da empresa.
►[2] Prevenção integrada é agir na fase de concepção,
intervindo a montante (para eliminar o risco ou, pelo
menos, para o reduzir), tendo presente um número
cada vez maior de factores: organização do trabalho,
planificação do trabalho, ritmos de trabalho, monotonia
de tarefas, concepção do posto de trabalho, cargas
físicas e mentais do trabalho, factores de natureza
psicossocial. Este conceito surge na década 50/60 do
séc. XX, atingindo o auge desta abordagem na década
de 80 (Roxo, 2003).
►No nosso país o maior impulso a nível normativo e de
acção política em matéria SHST, deu-se com a
integração de Portugal na Comunidade Europeia (Roxo,
2003), altura em que se viu confrontado com a enorme
debilidade, a todos os níveis, mas cuja gravidade era
ainda mais acentuada em matéria de prevenção de
riscos profissionais. Por um lado, era necessário
transpor as Directivas Comunitárias para o direito
interno, mas o atraso estrutural e técnico em que nos
encontrávamos constituía um entrave à efectiva
implementação dos conceitos preconizados pelas
mesmas. Por outro lado, o atraso na transposição para
o direito interno de algumas Directivas, bem como a
demora na regulamentação de alguma legislação
acabava por torná-la inoperacional (Comissão do Livro
Branco dos Serviços de Prevenção, 1999). A prestação
do trabalho em condições de higiene, segurança e
saúde[4] é um direito que se encontra consagrado
constitucionalmente, no art. 59º n.º 1 al. c) da
Constituição da República Portuguesa (Canotilho, cit.
por Rego & Freire, 2001) e cuja efectivação constitui
fundamento material de qualquer programa de
prevenção.
►[4] O conceito de saúde só foi acrescentado à expressão
“higiene e segurança” na revisão constitucional de 1997
(Rego & Freire, 2001), o que faz denotar algum atraso
do nosso país, mas simultaneamente uma mudança.
►A transposição para o direito interno português da
referida Directiva Quadro, ocorre em 1991, através do
Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro (regime
jurídico de enquadramento da SHST, com entrada em
vigor a 1 de Julho de 1992), sendo este o momento
mais marcante nesta matéria, a partir do qual se deu
início ao processo de transposição de directivas e outros
regulamentos europeus (Rego & Freire, 2001; Roxo,
2003), resultando numa nova abordagem da prevenção,
em que prevenir deixava de ser sinónimo de correcção
de não conformidades, passando a significar integração
ou eliminação de riscos (prevenção integrada), com
vista a um mais eficaz combate à sinistralidade laboral.
►Desta regulamentação resulta uma obrigação de
segurança geral (abrange todos os trabalhadores e
empregadores e todos os domínios, obrigando os
empresários a prever qualquer situação de risco, ainda
que não esteja contemplada na lei), de conteúdo aberto
(incidindo sobre todos os diversos parâmetros que
integram o trabalho), de conteúdo dinâmico (exigindo
uma permanente actualização das medidas de
segurança, de acordo com a evolução da técnica) e de
trato sucessivo (“vence-se” em todos e em cada um dos
dias de trabalho).
►Neste regime jurídico de enquadramento da SHST são
definidos princípios gerais, nomeadamente: todos os
trabalhadores têm direito à prestação de trabalho em
condições de segurança e higiene e protecção da saúde;
o desenvolvimento económico deve promover a
humanização do trabalho; a prevenção de riscos
profissionais deve ser desenvolvida segundo princípios,
normas e programas que visem a definição das
condições técnicas, a determinação de substâncias,
agentes ou processos que devam ser proibidos ou
limitados, a definição de valores limite de exposição, a
promoção e a vigilância da saúde.
►O D.L. 441/91 de 14 de Novembro define ainda o
sistema de prevenção de riscos profissionais, focalizando
os seus elementos integradores, define direitos, deveres
e garantias das partes, particularmente os confinados ao
empregador, salientando o direito de informação,
formação, consulta e participação dos trabalhadores.
Neste diploma é ainda abordada a questão da
organização das actividades de SHST, que será alvo de
regulamentação posterior.

Assim, a Directiva n.º 89/391/CEE, de 12 de Junho,


Directiva-Quadro da SHST, estabeleceu um limiar
comum e inovador de Prevenção de Riscos Profissionais
para todos os Estados Membros, sendo que os aspectos
fundamentais desta directiva se resumem
► 1. Todos os trabalhadores têm direito à prestação de
trabalho em condições de segurança, higiene e de
protecção da saúde.
► 2. Deve assegurar-se que o desenvolvimento económico
vise também promover a humanização do trabalho em
condições de segurança, higiene e saúde.
► 3. A prevenção dos riscos profissionais deve ser
desenvolvida segundo princípios, normas e programas
que visem, nomeadamente:
► A definição das condições técnicas a que devem
obedecer a concepção, a fabricação, a importação, a
venda, a cedência, a instalação, a organização, a
utilização e as transformações dos componentes
materiais do trabalho em função da natureza e grau dos
riscos e, ainda, as obrigações das pessoas por tal
responsáveis;
► A determinação das substâncias, agentes ou processos
que devam ser proibidos, limitados , limitados ou
sujeitos a autorização ou a controlo da autoridade
competente, bem como a definição de valores limites de
exposição dos trabalhadores a agentes químicos, físicos
e biológicos e das normas técnicas para a amostragem,
medição e avaliação de resultados;
► A promoção e vigilância da saúde dos trabalhadores;
► O incremento da investigação no domínio da segurança,
higiene e saúde no trabalho;
► A educação, formação e informação para promover a
segurança, higiene e saúde no trabalho;
► A eficácia de um sistema de fiscalização do
cumprimento da legislação relativa à segurança, higiene
e saúde no trabalho.

Regime jurídico dos Acidentes


de Trabalho
► Durante mais de 30 anos a reparação dos acidentes
de trabalho e das doenças profissionais foi regulada pela
Lei 2127, de 3 de Agosto de 1965, estando inadequada
à realidade laboral e à evolução ocorrida desde então.

► Em 1997 foi aprovado, pela Lei n.º 100/97, de 13 de


Setembro[4], o novo regime jurídico dos acidentes de
trabalho e das doenças profissionais, regulamentado
pelo Decreto-Lei n.º 143/99, de 30 de Abril, que abarca
a reparação, aos trabalhadores e aos seus familiares,
dos danos emergentes de acidentes de trabalho, sendo
os preceitos relativos a doenças profissionais
regulamentados autonomamente pelo Decreto-Lei n.º
248/99, de 2 de Julho.
► [4] Esta Lei será revogada com a emissão da
regulamentação da parte respectiva do Código de
Trabalho Lei 99/2003 de 27 de Agosto.

► a revisão da base de cálculo das indemnizações e


pensões (passam a ser calculadas com base na
retribuição efectivamente auferida pelo sinistrado);

► o alargamento do conceito de acidente de trabalho,


nomeadamente a cobertura generalizada do risco in
itinere, (inclui expressamente as deslocações entre o
local de trabalho e o de refeição, assim como o trajecto
normal de deslocação do trabalhador e o trajecto que
tenha sofrido desvios determinados por necessidades
atendíveis do trabalhador);

► o alargamento do conceito de familiar a cargo para


efeitos de acréscimo do valor da pensão anual e vitalícia
paga por incapacidade permanente absoluta para todo e
qualquer trabalho;

► a remição de pensões de valor reduzido;

► a consideração da prestação da assistência psíquica


como direito a reparação (quando reconhecida como
necessária pelo médico assistente), e a cobertura pela
entidade responsável pelo acidente que determinou a
sua utilização das despesas de reparação ou
substituição de aparelhos de prótese, ortótese e
ortopedia, usados por força de acidente de trabalho e
deteriorados em consequência do uso ou desgaste
normais.

►Enquanto a cobertura por acidente de trabalho se


mantém na responsabilidade da entidade empregadora,
o mesmo não acontece com a protecção das doenças
profissionais, sendo este risco, além de gerido por uma
instituição de segurança social –o Centro Nacional de
Protecção contra os Riscos Profissionais –, foi integrado
como eventualidade coberta pelo regime geral de
segurança social.

►Neste quadro, o D.L. 248/99, de 2 de Julho, vem


regulamentar a protecção consagrada na Lei 100/97, de
13 de Setembro, e adoptar a sistematização própria da
legislação da segurança social, bem como adequar as
regras substantivas ao funcionamento das instituições e
aos princípios inerentes ao seu quadro normativo.

►A lista das doenças profissionais, anexa ao Decreto


Regulamentar n.º 12/80, de 8 de Maio, foi revista com
vista à sua compatibilização com a lista anexa à
Convenção n.º 121 da OIT, com as alterações que lhe
foram introduzidas em Junho de 1980, prevendo-se já a
sua compatibilização com o Código Europeu de
Segurança Social.
►Enquanto a cobertura por acidente de trabalho se
mantém na responsabilidade da entidade empregadora,
o mesmo não acontece com a protecção das doenças
profissionais, sendo este risco, além de gerido por uma
instituição de segurança social –o Centro Nacional de
Protecção contra os Riscos Profissionais –, foi integrado
como eventualidade coberta pelo regime geral de
segurança social.

►Neste quadro, o D.L. 248/99, de 2 de Julho, vem


regulamentar a protecção consagrada na Lei 100/97, de
13 de Setembro, e adoptar a sistematização própria da
legislação da segurança social, bem como adequar as
regras substantivas ao funcionamento das instituições e
aos princípios inerentes ao seu quadro normativo.

►A lista das doenças profissionais, anexa ao Decreto


Regulamentar n.º 12/80, de 8 de Maio, foi revista com
vista à sua compatibilização com a lista anexa à
Convenção n.º 121 da OIT, com as alterações que lhe
foram introduzidas em Junho de 1980, prevendo-se já a
sua compatibilização com o Código Europeu de
Segurança Social.

►A alteração do regime jurídico dos acidentes de trabalho


e doenças profissionais, produzida pela Lei n.º 100/97,
de 13 de Setembro, e pelo Decreto-Lei n.º 248/99, de 2
de Julho, e a análise comparativa com listas oficiais de
vários países e com a lista proposta pela recomendação
da União Europeia n.º 90/326/CEE, de 22 de Maio, bem
como a evolução das ciências médicas no período
temporal decorrido, aconselham uma actualização da
lista, mantendo no essencial a sua configuração e
estrutura.

►O Decreto Regulamentar n.º 6/2001 de 5 de Maio, faz


então a actualização da lista nacional de doenças
profissionais, em que foi considerado oportuno explicitar
e conferir a necessária actualidade a conceitos e
denominações ultrapassados.

►O regime de acidentes de trabalho e doenças


profissionais transcrito na Lei 99/2003, de 27 de Agosto
(art. 281º a 312º), só será aplicável e, nessa altura,
revogará a Lei 100/97, de 13 de Setembro (bem como
os diplomas decorrentes daquela), quando for publicada
a legislação regulamentadora destas especificações do
código do trabalho. No entanto apresentam-se já
algumas alterações, nomeadamente:

►a não exclusão do direito à reparação em caso de


predisposição patológica do sinistrado, salvo se esta
tiver sido ocultada;

►nulidade dos contratos que renunciam aos direitos


patentes no código do trabalho;
►exclusão da reparação/indemnização por parte do
empregador, em situações de acidente provocado
dolosamente pelo sinistrado, ou de negligência grosseira
ou ainda se o acidente for resultado de forças
inevitáveis da natureza, sendo ainda desonerado desta
obrigação no caso do sinistrado receber uma
indemnização superior à do empregador.

►Os acidentes de trabalho estão naturalmente associados


a fortes défices estruturais e conjunturais, identificados
no sistema nacional de prevenção de riscos profissionais
e de gestão de segurança e saúde no trabalho; todavia,
é relevante referenciar as ligeiras melhorias (embora
insuficientes) que o país tem conseguido na área da
prevenção de acidentes de trabalho e das doenças
profissionais. Só é possível definir objectivos, que se
traduzam em metas realistas e mensuráveis, através de
políticas estratégicas rigorosas de prevenção, formação
e informação de trabalhadores e empregadores; pois só
estas posições firmes possibilitam atingir a credibilidade
nacional, interna e externa, podendo constituir-se numa
firme ancoragem na cultura de prevenção da
sinistralidade laboral. A criação de metodologias
próprias para análise de riscos no trabalho (bem como a
utilização das já existentes) é uma das formas mais
eficazes no combate à elevada sinistralidade laboral.
Somente se torna possível a redução dos acidentes de
trabalho e das doenças profissionais mudando a
mentalidade, a cultura e as práticas de actuação dos
nossos trabalhadores, das suas chefias intermédias e
dos gestores de topo e/ou empregadores, de modo a
que todos em conjunto possamos continuar os esforços,
que alguns já iniciaram de forma pró-activa,
assegurando a qualidade dos seus resultados.

Os principais riscos laborais do sector da


reparação automóvel

►A relação de riscos de acidentes nesse ramo de


actividade é extensa, incluindo desde cortes com
ferramentas até acidentes de trânsito durante teste de
veículos, bem como quedas relacionadas a condições de
pisos, acidentes com máquinas manuais motorizadas,
queda de materiais sobre o corpo, acidentes com
equipamentos para elevação de veículos, queimaduras
por contacto com superfícies aquecidas ou por incêndios
ou explosões associados ao manuseio de gasolina,
ferimentos causados por ar sob pressão, lesões oculares
por intrusão de corpos estranhos, electrocussão, etc.

►Em relação aos riscos com agentes físicos, o ruído


constitui a exposição mais frequente, com efeitos
indesejáveis, tanto auditivos, estreitamente relacionados
à dose-equivalente, como extra-auditivos, menos
influenciados pela dose. Em determinadas
circunstâncias, os níveis de ruído podem atingir valores
iguais ou superiores a 110 dB(A), sabendo que o tempo
de exposição diário a níveis acima de 85 dB(A) podem
implicar lesões irreversíveis do aparelho auditivo. Além
das consequências a nível auditivo, os efeitos nocivos do
ruído sobre o organismo podem ser divididos em
fisiológicos e psicológicos:

Fisiológicos:

►Perturbações vasculares periféricas provocadas por


“stress” sonoro intenso.

►Perturbações cardíacas em face de certos ruídos padrão


de frequência e intensidade.

►Alterações da circulação e pressão arterial assim como


hipoglicémia e ainda alterações. do E.E.G.
(electroencefalograma).
Psicológicas:

►Um local de trabalho ruidoso contribui para aumentar as


tensões a que um indivíduo está normalmente sujeito.
Pode ocasionar irritabilidade em indivíduos normalmente
tensos, agravar os estados de angústia em pessoas
predispostas a depressões.

►Além do ruído, cabe citar as exposições a vibrações por


manuseio de ferramentas manuais motorizadas e a
radiações ultravioleta e infravermelha em operações de
corte e solda. Também devemos considerar importantes
todos os riscos de intoxicação crónica, nomeadamente a
exposições a substâncias químicas provenientes de
emissões da combustão incompleta de gasolina ou de
gasóleo. Segundo a Internacional Agency for Research
on Câncer (IARC), a emissão de gases por motores a
diesel é provavelmente cancerígena para seres
humanos, sendo classificada no grupo 2A e, como
possivelmente cancerígena, a de motores a gasolina,
classificada no grupo 2B. Cabe destacar ainda as
emissões de monóxido de carbono, dióxido de enxofre,
óxidos de nitrogénio e hidrocarbonetos policíclicos
aromáticos. Segundo a IARC, a combustão incompleta,
tanto do diesel, como da gasolina, gera exposições a
milhares de substâncias químicas sob a forma gasosa e
de partículas. Dentro dos inúmeros efeitos nocivos à
saúde mais citados pelos especialistas de análise de
riscos deste sector, encontram-se as doenças do foro
dermatológico, as reacções alérgicas, a irritação ocular e
os problemas respiratórios, além de asma ocupacional e
das eventuais neoplasias.

►Nos Estados Unidos, constatou-se a presença de


isocianatos em endurecedores usados em tintas para
veículos e a existência de risco de ocorrência de asma
ocupacional, tendo sido propostas algumas
metodologias para controlo de riscos decorrentes de
exposições a produtos químicos em oficinas de pintura
de veículos. No Reino Unido, a exposição a tintas
contendo isocianatos é apontada como uma das mais
importantes causas de asma ocupacional. As lesões
músculo-esqueléticas relacionadas a esforços físicos e
posições incómodas de trabalho constituem outro
importante grupo de doenças profissionais. Devido à
gravidade potencial das exposições a substâncias
químicas, recomenda-se que a ventilação nas oficinas
renove pelo menos 60 m3 de ar/hora/ por trabalhador.
São também recomendadas medidas que visem prevenir
a ocorrência de acidentes do trabalho e surdez
ocupacional.
Conclusão

►A área da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho


(SHST) só recentemente começou a ter mais
importância nas organizações, embora a preocupação
com a segurança no trabalho se encontre patente
mesmo antes da Revolução Francesa, em que a
aprendizagem profissional abarcava as regras de
segurança (Comissão do Livro Branco dos Serviços de
Prevenção, 1999).

►A SHST pode ser analisada em quatro fases sucessivas,


sendo a primeira a das concepções tayloristas e
fordianas (tarefas definidas, riscos compensados por
prémios e prejuízos reparados por indemnizações), a
segunda caracterizada pelas preocupações da Escola
das Relações Humanas (ambiente de trabalho,
auscultação dos trabalhadores, etc.), a terceira
originada pelas lutas das décadas de 60 e 70 (melhoria
das condições de trabalho) e a quarta fase, a situação
actual, que assenta em preocupações internacionais de
melhoria de qualidade de vida, enquanto forma de
maior competitividade organizacional.

►É do conhecimento geral a existência de inúmeras


situações de precariedade das condições de trabalho,
geradas por profundas deficiências dos métodos de
organização e planeamento do trabalho, sabendo que as
empresas do sector de reparação automóvel estão
incluídas nesta extensa lista de instituições. Este é um
problema de proporções alarmantes em Portugal. Os
elevados índices de acidentes de trabalho e doenças
profissionais, deveria fazer-nos reflectir sobre algumas
evidências da realidade nacional. Estamos
profundamente convictos, que este flagelo que assola
diariamente o nosso país tem explicações a montante,
isto é, os acidentes de trabalho e as doenças
profissionais não são mera fatalidade do destino,
existem causam objectivas que os determinam. Essas
causas são as diversas formas de risco às quais todos
nos encontramos expostos, muitas vezes, sem possuir-
mos uma consciência efectiva da sua existência e dos
seus eventuais efeitos.

FIM

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