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Faculdade: Uniruy

Matéria: Responsabilidade Civil


Alunos: Caio Antônio Almeida Arantes - 201651281068
Julia Lopes Santiago Souza - 201751235858

Paper Científico sobre a Responsabilidade Civil das fontes de água em


Salvador

Introdução

A água, recurso natural da Terra, indispensável para a sobrevivência e prevalência da


vida terrestre, vem se tornando um bem de alto valor social e econômico. A regulamentação
jurídica dos recursos hídricos vem passando por progressivas reformas para responder às
alarmantes evidências do esgotamento dos recursos naturais, que estão sendo alvos de intensa
exploração, sem devidos cuidados no que concerne à preservação ambiental. Em 2015 a
Organização Mundial das Nações Unidas(ONU) publicou em seu Relatório das Nações
Unidas sobre o Desenvolvimento da Água 2015, que “até 2030, o planeta enfrentará um
déficit de água de 40%, a menos que seja melhorada dramaticamente a gestão desse recurso”
(Unesco, 2015).
Atualmente, terça-feira, dia 23 de março de 2021, em um evento online organizado pela
Unesco, Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) e Rede Brasil do Pacto
Global da ONU, emitiu um novo Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2021, desenvolvido com o suporte de mais de 20
agências do Sistema ONU que integram o esforço interagencial denominado ONU-Água,
avaliando que é necessário reconhecer o valor da água em suas várias dimensões e incorporar
tais valores em ações políticas e de investimentos no setor. O atual relatório informa que o
consumo de água no planeta aumentou seis vezes no último século e continua a avançar com
uma taxa de 1% ao ano, consequência do aumento populacional, do desenvolvimento
econômico e das alterações dos padrões de consumo.
O relatório também contém dados sobre a escassez econômica da água, estando fisicamente
disponível, mas sem infraestrutura necessária para o acesso. Isso demonstra um horizonte,
cuja previsão do crescimento no consumo é de 25% até 2030.

Em Salvador existe uma quantidade expressiva de fontes de água, construídas para


suprir o abastecimento de água da cidade.Os principais locais de abastecimento do período
colonial e meados do século XX, sempre representaram problemas para a administração.
Eram locais de muitos conflitos, pois se caracterizavam como territórios dos aguadeiros, em
sua maioria escravos que vendiam água. O espaço publico, de modo geral, era o espaço do
negro, do trabalho escravo e do ganho, ou seja, através do sistema em como a sociedade
soteropolitana foi construida, as fontes e nascentes remanescentes foram excluidas por se
tratarem de locais frequentados por pessoas pretas, desta forma, sendo mau vista pela alta
sociedade, representada por pessoas brancas, da epoca.

Atualmente estas fontes fazem parte da história das comunidades às quais estão
inseridas, com uma carga cultural muito presente e apesar da cidade tem seu sistema de
abastecimento, elas ainda são utilizadas pela população mais vulnerável de Salvador. Logo
após a implementação do sistema de abastecimento, as fontes foram abandonadas e viraram
alvos de depredação, negligência por parte dos responsáveis a sua manutenção e cuidado.A
despoluição destes recursos é particularmente demorada e abordar este tema para Salvador
não é uma tarefa fácil, pois a cidade não tem conhecimento oficial e regular das condições
físico-químicas e microbiológicas de suas águas subterrâneas, pois o crescimento irregular da
população, a falta de estudos hídricos e o precário saneamento básico corroboram para a
poluição desses recursos naturais. Pode-se dizer que as fontes de água correspondem a
algumas nascentes remanescentes em Salvador.

Fontes de água potável em Salvador

O livro Caminho das Águas em Salvador mostra dados relevantes sobre os rios
soteropolitanos e seu estado de poluição e ressalta sobre as 41 fontes( minas d'água) presentes
em Salvador, e destas, apenas três possuem nível adequado para o consumo.
A importância histórica dessas fontes, frisa-se pelo fato de que nove destas 41 fontes
estão situadas em terreiros de candomblé. Isso reforça o contexto histórico em que as fontes
foram negligenciadas por serem utilizadas com frequência pela população preta de Salvador,
estas nascentes representam uma ligação ao seus ancestrais que se fundem a natureza,
devendo assim ser mais um motivo de preservação, além do contexto ambiental que se expõe
neste estudo.

Segundo o livro Caminho das Águas em Salvador, através dos meus estudos, todas as
fontes localizadas na cidade encontram-se inadequadas para o consumo humano, ou seja,
essas minas d'água sofreram com o processo desenfreado da urbanização descontrolado, sem
um prévio estudo de conservação das mesmas. O livro explica por tabela os níveis de
coliformes de nitratos presentes nas águas, constatando que somente, ainda, algumas delas são
adequadas para única e exclusivamente para o banho. Muitas dessas fontes se tornaram meios
para as pessoas marginalizadas, sem teto e hipossuficientes de garantir o mínimo de higiene e
matar sua sede.

A água como bem natural dentro da Constituição Federal de 1988 do


Brasil.

A Constituição Federal de 88 revolucionou suas noções em relação à água, carregando


uma grande modificação em relação às Cartas Magnas anteriores. Atualmente, os recursos
hídricos são vistos como um bem econômico, melhorando, assim, sua forma de aplicação em
favor da sua proteção e preservação.
A água como bem ambiental, passou a ter preceitos, considerado como bem comum do
povo, de acordo com o art 225, caput da Constituição Federal, além disso, é um recurso
natural limitado, sendo dotado de valor social e econômico, tendo esse valor aplicado nas
prestações de serviços de captação de água e seu tratamento.

Como bem essencial, a água é fundamental para a qualidade de vida da população,


seja no saneamento ou na distribuição, estes meios garantem, também, o princípio da
dignidade humana que constitui os fundamentos do estado democratico de direito, art 1º,
inciso lll da Constituição Federal, e relacionados com os direitos sociais contidos no art 6º da
referida Carta. Ser considerado pela nossa Constituição como um bem de uso comum do
povo, é um direito de toda e qualquer pessoa, porém se baseando sempre nos limites
constitucionais. Portanto, a água se encaixa como bem ambiental, e sua utilização está
associada a preservação ecológica do ambiente, se preocupando em resguardar através do
Poder Público e da coletividade, a sustentabilidade dos nossos recursos naturais.

A Carta Magna de 88, modificou amplamente o domínio das águas no país, no art 20º,
inciso lll, responde: ‘’ São bens da União: os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
terrenos , ou que banham mais de um estado, sirvam de limites com outros países, ou se
estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as
praias fluviais. Mas o Brasil possui três esferas de administração: União, Estados e
Municípios; nesta razão que a mesma Constituição, em seu art 26º, l, estabelece que
‘’incluem-se entre os bens dos Estados as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito”.
Existe a necessidade em mencionar a competência que cabe ao Município, de acordo
com o art. 30, inciso I da Constituição Federal, que dá a ele competência para legislar sobre o
assunto de interesse local, se faz necessário em deixar claro que a preocupação com a emissão
de efluentes domésticos e industriais, é assunto de grande interesse local, já que é dever do
município manter a água limpa, em condições de ser destinada ao abastecimento doméstico,
após o devido tratamento. Sendo assim, é entendido que à União atribui-se à criação, alteração
e extinção de direito sobre as águas, ao contrário da regulamentação de normas
administrativas relativas à utilização, preservação e recuperação, do bem ambiental, na
qualidade de bem público.

Pertencer, na verdade, é um modo de dizer. As águas, tanto dos chamados rios


federais, como dos rios estaduais, pertencem ao povo, cabendo aos entes administrativos a sua
gestão, por se tratar de bens de uso comum.

Responsabilidade civil em relação aos Recurso Hídricos

Os danos aos bens naturais no Brasil são constantes, a interferência no equilíbrio


ecológico é corriqueira aos redores do país e dentro deste âmbito jurídico da responsabilidade
civil, se abre uma vertente dessa matéria em face do direito ambiental. Quando ocorre um
dano, compete distinguir o autor e o nexo causal entre a ação e o dano. No que tange a água,
dano ambiental, pode ser cometido por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, em suas
práticas podem lesionar o meio ambiente local. Já as pessoas de direito público, podem
lesionar o bem água em falhas nas políticas ambientais, falha na fiscalização, não exercendo o
princípio constitucional da precaução.

Desta maneira, cabe ao operador do direito localizar o dano, identificar o autor e fazer
a relação entre a ação do autor e o dano descoberto. Nesse momento se diferencia a
responsabilidade civil no direito tradicional e a responsabilidade civil no âmbito ambiental,
que é objetiva em tempo integral, ou seja, o empreendedor assume os riscos da sua atividade
sem excludentes.

Quando acontece um dano ao meio ambiente, especificamente, a água, basta ligar o


dano ao seu autor e interpretar de acordo com o nexo causal. O caso fortuito e força maior não
exime o sujeito responsável do dever de reparar o dano.

A hipótese do dever de indenizar, em matéria de responsabilidade, baseada no risco da


atividade, está restringida à comprovação da ocorrência do evento dano e o seu nexo de
causalidade que o direcionam à atividade desenvolvida pelo autor.

Não se leva em conta, qualquer discussão a respeito do animus que envolve a conduta
do agente. Deixando de lado, portanto, a comprovação de dolo ou culpa, sendo exigida
apenas, em responsabilidade fundada no ato ilícito.

Se a atividade causadora do dano for considerada lícita, não pode ser admitida como
excludente da responsabilidade, pois vai contramão ao sistema de responsabilidade objetiva.

O art.14, §1º da Lei 6.938/81 cita, “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas
neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade...”.

Admite-se a condenação simultânea e cumulativa das obrigações de fazer, de não fazer e de


indenizar na reparação integral do meio ambiente.
Os responsáveis pela degradação ambiental são co-obrigados solidários, formando-se, em
regra, nas ações civis públicas ou coletivas de litisconsórcio.

Responsabilidade Civil Ambiental em relação às Fontes/nascentes de


Salvador

Exposto os termos doutrinários sobre as responsabilidade civil perante as leis ambientais,


se entra o questionamento: Mas quem é responsável pela proteção destas fontes/nascentes
remanescentes de Salvador? Bom, a União delimitou os direitos e deveres administrativos,à
luz da Constituição, que os Estados e Municípios devem se comprometer diante a danos
hídricos, ou seja, a depender do dano causado o Estado e o Município podem intervir exigindo
a reparação do desequilíbrio ecológico acometido. Porém o que tange ao tema abordado neste
trabalho, resta ao Governo Estadual fiscalizar as águas subterrâneas, de acordo com o Código
florestal: toda nascente corresponde a uma manifestação em superfície do lençol freático,
ainda no Código Florestal ressalta-se: ‘’Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente,
em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:
IV – as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua
situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros.

Portanto, o Estado deve arcar com a responsabilidade civil em âmbito ambiental a fim
de reparar os danos sucedidos pela má fiscalização de atividades de pessoas físicas do poder
privado em face da reparação das lesões ecológicas causadas pelo mau gerenciamento do
poder público, em caráter de pessoas jurídica pública (O ESTADO DA BAHIA). Vale frisar a
legislação estadual em sua lei de recursos hídricos LEI Nº 11.612 DE 08 DE OUTUBRO DE
2009:

Art. 3º - São objetivos da Política Estadual de Recursos Hídricos:


I - assegurar que os recursos hídricos sejam utilizados pelas atuais e futuras gerações,
de forma racional e com padrões satisfatórios de qualidade e de proteção à biodiversidade;
II - compatibilizar o uso da água com os objetivos estratégicos da promoção social,
do desenvolvimento regional e da sustentabilidade ambiental;
III - assegurar medidas de prevenção e defesa contra danos ambientais e eventos
hidrológicos críticos de origem natural ou decorrente do uso dos recursos naturais;
IV - assegurar a eqüidade e a justa distribuição de ônus e benefícios pelo uso dos
recursos hídricos.

Ainda deve-se abordar o dano patrimonial histórico e cultural em que se encontram as


fontes que teve estruturas construídas na época colonial, que no estado atual encontram-se
depredadas e até inexistentes.

Jurisprudência.

Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Civel: AC 0005697 -


41.2014.8.13.0400 Mariana

Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Cível: AC 10071150016526001 MG

Tribunal de Justiça de São Paulo TJ-SP - Apelação Cível : AC 0000428-90.1992.8.26.0477


SP 0000428-90. 2992.8.26.0477

Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG - Apelação Civel: AC 5001932-


60.2018.8.13.0521 MG

Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO ESPECIAL : REsp 1376199 SP


2011/0308737-6

Tribunal Regional Federal da 5º Região TRF-5 - APELREEX- Apelação/ Reexame


Necessário: REEX 2001830000001
Conclusão

Como já foi conhecida pelo nome de ‘’cidade das mil fontes’’ pela sua riqueza hídrica,
hoje, se encontra em um cenário de desfasamentos das leis ambientais, da corrupção gerada
pela ganância política negligenciando um dos nossos bens mais preciosos e fartos, a água!
Junto com os recursos naturais se degradando se esvai nossa história, pois Salvador é
constituída, tanto pelas suas belezas naturais e pelas riquezas históricas também.

Para que criar leis se estas não vêm sendo aplicadas? Dando espaço para uma política
que inviabilize nosso crescimento como sociedade, como cultura, como um todo. A crítica se
versa sobre o magistrado brasileiro que também falha na sua execução, dando prioridade às
grandes empreiteiras e empresas imobiliárias.

Não é necessário impedir o progresso econômico do mundo para que haja proteção ao
meio ambiente, só é preciso que o ser-humano haja de forma sustentável e consciente, desta
maneira, nossos recursos naturais se manterão preservados e nossa qualidade de vida irá
aumentar.
Referências

http://www.meioambiente.ba.gov.br/arquivos/File/Publicacoes/Livros/caminhod
asaguas.pdf

https://www.abas.org/arquivos/legislacaoba.pdf

https://rigs.ufba.br/index.php/rigs/article/viewFile/17937/11590

https://brasil.un.org/pt-br

https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/antigas-fontes-da-capital-baiana-
sao-entregues-ao-descaso/

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

https://leismunicipais.com.br/a/ba/s/salvador/decreto/2018/2992/29921/decreto-
n-29921-2018-regulamenta-os-dispositivos-da-lei-municipal-n-8915-de-26-de-
setembro-de-2015-que-dispoe-sobre-a-politica-municipal-de-meio-ambiente-e-
desenvolvimento-sustentavel-e-institui-o-cadastro-municipal-de-atividades-
potencialmente-degradadoras-e-utilizadoras-de-recursos-naturais-cmapd-no-
municipio-de-salvador-e-da-outras-providencias

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