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transcendence and immanence, which implies passage, incarnation (and separation), however, does not resolve
the contingency character of reality, whose insistent return crosses the order and provides the filigree for its
constitution and crisis. The consequences of this re-reading expose the precariousness of the modern political
structure through the intrusion of the difference between immanence and transcendence, that is, the
transcendence denied by rationalism returns as the irreducible expression of the origin, since it carries with it,
paradoxically, the emergence of conflict and the only possibility of political form. Furthermore, such an intrusion
of difference, as a logic of the crisis-opening, is strategic in that it reveals the nihilism of modernity and the
katekhontica solution of the political. The conclusion of the research allows us to reconstruct the arguments in
the constitution of the Total State in the formulation of what Hermann Heller called “authoritarian liberalism”,
whose consequences we can still perceive in the contemporary world.
Key-words: Carl Schmitt; authoritarian liberalism; Weimar Republic; state of exception; total State.
INTRODUÇÃO
Nos anos finais da República de Weimar (1919-1933), Carl Schmitt analisa uma
alteração radical na estrutura política, qual seja, a justaposição entre Estado e sociedade civil.
Através das garantias e direitos sociais, da participação das massas no processo democrático
e, sobretudo, na tentativa de estabelecer uma democracia econômica, a Constituição
weimariana iniciara um processo de reconstrução para além dos princípios liberais. Segundo
Schmitt, o principal problema seria a ausência de forma (Formlosigkeit) que uma leitura
imanentista da política provocava ao abandonar o modelo de representação típico da
modernidade. A estrutura representativa seria o modo pelo qual a ordem concreta adquiriria
sua legitimidade, afinal, através do dispositivo teológico-político, matriz da forma política
entre decisão e exceção. Diante disso, para fazer frente às leituras políticas imanentistas
(liberalismo, comunismo, tecnocracia, economia, etc.) e preservar a noção de
Ordnungspolitik, ou seja, nos moldes de uma teoria da secularização que fornece um princípio
transcendente através da representação da forma de direito, Schmitt imprime maior
radicalidade à ruptura de decisão e da exceção ao interpretar o conceito do político como
relação extrema de conflito e, por conseguinte, a recuperação da divisão entre externo e
interno, público e privado pelo Estado, reinterpretado então como a instância hiperpolitizada
capaz de assumir novamente o monopólio do político, com ênfase na despolitização da
sociedade e do mercado, restabelecendo um Estado forte para uma economia livre.
Evidentemente, a história se conta também em seus bastidores: após a crise final dos
anos 1920, Schmitt teria elaborado essa justificação teórica sob medida para os setores
econômicos e políticos dominantes contra as reivindicações dos trabalhadores e as garantias
da social-democracia incipiente. O Estado Total não seria outra coisa senão o fim da
justaposição entre Estado e sociedade ou, pelo menos, uma proposta de desdemocratização da
sociedade, tornando autônoma a economia, numa curiosa intervenção não liberal para garantir
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imanência, ou melhor, busca uma fundamentação para além dos aspectos concretos e
históricos, visto que se refere à ideia de direito transcendente. Por isso, caracteriza-se como
um decisionismo fraco, já que se refere à transcendência constitutiva, graças ao teorema da
secularização. Embora não se configure como um fundamento normativo-abstrato – pois a
exceção significa uma situação fática de indistinção entre situação de fato e situação de direito
a partir da qual requer-se a decisão e através da qual se dá a legitimidade (justificação da
validade da ordem), isto é, se efetive a ideia de direito na realidade concreta – esta se mostra
exterior à imanência da constituição e da experiência histórico-política, pois apesar de surgir
de um nada normativo concreto, em última instância, realiza a Ideia de direito como sentido e
fundamento da ordem concreta.
A reconstrução analítica dos textos Die Diktatur e, sobretudo, de Politische
Theologie algumas evidências de que as investigações de Schmitt paulatinamente
encaminharam-se para uma abordagem contextualista e prática, ou seja, a ênfase a partir de
então recairia na análise das situações de poder, das condições constituintes fáticas de uma
ordem, pois o problema fundamental a ser tratado não seria mais o da ideia de direito abstrato
em referência a uma possível mediação, mas sim o da constituição da ordem jurídica a partir
de alguma instância fática que, afinal, possibilitaria, segundo Schmitt, a realização do direito
por meio de normas de ação técnica. Dessa forma, a relação de estabilização das condições
concreta da ordem passou a ser o tema prioritário do autor na busca de uma teoria política que
justificasse o poder público na sua atuação enquanto poder legítimo, pois a normalidade da
situação concreta tornou-se o fundamento imanente de validade de qualquer norma jurídica
(SCHMITT, 2004, p. 19). Mesmo com o esforço de uma justificativa racional para a ação e
autoridade do Estado, o argumento schmittiano ressalta a diferença entre imanência e
transcendência e instaura um ceticismo quanto às teorias políticas normativas o que explica,
sob a hipótese proposta, o complexo deslocamento conceitual em suas obras seguintes. No
conceito de ditadura, por exemplo, há o paradoxo de que a validade da ordem jurídica
pressupõe uma situação de fato na qual regras de direito não se aplicam. No conceito de
exceção, de igual maneira, a possibilidade de efetivação do direito é preservada: Schmitt
apenas demonstra a dependência funcional do direito em relação àquilo que o nega, uma
estratégia necessária para sua salvaguarda. Nesse contexto, assume relevância este argumento
para compreender a transição entre os textos do início da República de Weimar e os do final
da década de 1920, mais precisamente, como a decisão do soberano enquanto decisão pela
representação é alterada, no final da década de 1920, pelo politische Existentialismus.
(II)
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interior e exterior, guerra e paz, militar e civil, neutralidade e não-neutralidade, mas também,
de modo concreto, público e privado, Estado e mercado, política e economia.
Segundo Schmitt, embora na sua criação o Estado moderno tenha se estruturado
como Estado absolutista, a noção de Estado de direito (Rechtsstaat), ou melhor, o bürgerliche
Rechtsstaat é a forma política capaz de expressar os ideais liberais burgueses e se desenvolver
como Estado Liberal. Apesar de designar uma realidade constitucional especificamente alemã
ao buscar uma alternativa entre o constitucionalismo da restauração baseada na soberania
monárquica (Carta constitucional de Luís XVIII de 1812) e o constitucionalismo da revolução
com seu princípio da soberania nacional ou popular, o Estado de direito torna-se, na verdade,
desde o século XIX sinônimo de Estado liberal de direito, pois limita-se à defesa da ordem e
segurança públicas em prol da autonomia privada. Neste contexto, a esfera da liberdade
individual delimita ou circunscreve o âmbito do Estado, estabelecendo a primazia dos direitos
à liberdade e à propriedade (Freiheit und Eigentum) e tornando o soberano, da mesma forma,
limitado pelo direito que, em última instância, estava submetido ao império da lei (Herrschaft
des Gesetzes). Schmitt considera que a expressão Rechtsstaat denomina um estatuto jurídico
marcado por, pelo menos, três características: a. legalidade; b. constitucionalidade; c.
independência da magistratura. Em relação à primeira característica, pode-se afirmar que há
uma determinação de que toda medida estatal deve apoiar-se em alguma norma legal; em
outras palavras, ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei, pois o princípio da preeminência da lei, especialmente no tocante à proteção de
direitos individuais, articula-se com a noção de Estado de direito dotado de uma constituição
capaz de executar um controle formal da legalidade dos atos estatais – por exemplo, o
princípio da anterioridade da lei penal que afirma “nullum crimen, nulla poena sine lege”,
bem como o princípio da anterioridade da lei tributária e, de forma paradigmática, o princípio
da legalidade da administração pública – e, dessa maneira, garantir a segurança e a ordem
jurídica baseada na autonomia privada. Em relação à segunda característica, o
constitucionalismo estabelece uma complexa tecnologia de limitação do poder político que,
para ser exercido, deve observar o conjunto de competências explicitamente definidas por
meio de uma lei fundamental. Em relação à terceira característica, permite o controle judicial
da atividade da administração além é claro do controle de constitucionalidade a posteriori dos
atos governamentais, legislativos e administrativos e, por conseguinte, o direito de recurso
contra decisões do poder público caso prejudiquem interesses privados protegidos
(SCHMITT, 2003, p. 125-138).
Embora estas sejam algumas características funcionais do Rechtsstaat há, segundo
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enquanto modo de ser de uma forma de vida, ou seja, para além da exclusividade dada ao
elemento jurídico, Schmitt aposta na primazia da politicidade como fator determinante na
configuração do Estado que, mesmo sem abdicar da sua forma jurídica, possui como
fundamento uma grandeza política:
(III)
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Para Schmitt, porém, o político não se esgota na realidade estatal, pois o Estado
como status da unidade política não é nada mais do que o status político de um povo
organizado em um território, ou seja, a forma institucional moderna do político conforme a
tese afirmada logo no ínicio do Begriff des Politischen, "o conceito de Estado pressupõe o
conceito do político" (SCHMITT, 2002, p. 20) e aprofundada na Verfassungslehre. Em outros
termos, em relação à Zeitalter der Staatlichkeit e a configuração do jus publicum europaeum,
Schmitt afirma:
Não faz muito tempo, a parte européia da humanidade vivia uma época em
que os conceitos jurídicos procediam integralmente do Estado e o supunham
como modelo de unidade política. […] Realmente existiu a época em que a
identificação dos conceitos estatal e político era justificada, pois o Estado
europeu clássico tinha conseguido essa coisa completamente inverossímil
que foi instaurar a paz no interior e excluir a hostilidade enquanto conceito
do direito. […] E, de fato, dentro desse Estado não havia mais do que uma
polícia, a política estava ausente […] somente era político no sentido pleno,
alta política, a política externa praticada por um Estado soberano enquanto
tal em relação a outros Estados soberanos que reconhecia como tais
(SCHMITT, 2002, p. 10-11).
Trata-se, primordialmente, de afirmar a anterioridade conceitual do político na
determinação do conceito do Estado, da sua soberania, representação e resolução pacífica das
disputas internas, uma vez que embora a forma moderna institucional do político seja a
estatal, esta depende daquela por conta da conflitividade que a fundamenta ou seja por conta
da sua dimensão decisória e histórica. Dessa maneira, após as guerras político-religiosas, a
Staatlichkeit moderna passou a ser determinada a partir da sua capacidade de decisão política
e, de certa forma, detém não apenas o monopólio da decisão, mas também o monopólio do
político, pois no decorrer do século XX a forma do Estado de direito constitucional liberal
parlamentar encontra-se em declínio e indica outra realidade institucional que Schmitt
denomina Estado Total: há no século XX uma dissolução da delimitação entre público e
privado, sociedade civil e Estado, cuja consequência seria a extensão radical do político para
qualquer instância da ação humana, pois a interpenetração entre sociedade e Estado provocou
uma politização total uma vez que, quando separadas, as esferas sociais e políticas não se
imiscuiam, porém quando confundidas, houve uma expansão do político tornando políticas
relações outrora meramente sociais. Isso acarreta um declínio da Staatlichkeit moderna, mas
não do político que a partir da preeminência do econômico e da ruptura com o direito
internacional europeu moderno apresenta-se, renovado, em outras relações humanas3.
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Conforme KERVÉGAN, 1992, p. 80-81: “Il semble pourtant que l'Etat soit devenu la forme indépassable du
politique. Très probablemen, la forme politique qui succédera à l'Etat libéral sera encore un type – inédit – d'Etat
[...] Au moment même où il s'efforce de dissocier conceptuellement Etat et politique, Schmitt paraît ainsi
constater leur identification durable”.
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amigo e inimigo. Nesse sentido, todo Estado autêntico é um Estado total; sempre tem sido
assim, enquanto societas perfecta deste mundo; há muito tempo, os teóricos do Estado sabem
que o político é o total” (SCHMITT, 2003, p. 361), ou seja, não há nada que não possa ser, ao
menos potencialmente, estatal e político. Entretanto, Schmitt argumenta que o Estado total por
força resulta do processo democrático de identificação entre o Estado e o povo e não entre o
Estado e a sociedade (leia-se: economia). Desse modo, ao dar ênfase ao aspecto democrático,
o jurista procura uma legitimação plebiscitária ao Estado que se tornaria, então, numa
grandeza política, pois substituiria a lógica liberal por uma lógica democrática, ou seja, um
princípio econômico por outro especificamente político, pois, ao comentar sobre Estado
fascista em 1929, Schmitt revela o que está em questão nessa substituição, no fundo,
antiliberal em prol do liberalismo:
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Mas qual o problema? Ora, na era da técnica e da economia, isto é, no período do
liberalismo, o Estado perdeu o monopólio do político. Além disso, uma forma de organização
estritamente técnica ou econômica não forneceria a forma de direito, visto que seria algo
exclusivo, segundo Schmitt, da representação política, inalcançável seja pelo positivismo
(domínio da legalidade), seja pelo liberalismo (domínio dos processos imanentes do
mercado). Assim, a hipótese de nossa leitura é que os deslocamentos conceituais da obra
schmittiana seriam resultado da necessidade de representação política, efeitos que a
contingência da imanência – ou seja, a ausência da forma de direito – implica e, por
conseguinte, uma resposta ao desafio da Ordnungspolitik.
Em outras palavras, apenas a decisão política, via Estado, teria a capacidade de pôr
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REFERÊNCIAS
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nazisme. Paris: Descartes & Cie, 1997.
GALLI, Carlo. Genealogia della politica. Bolonha: Il Mulino, 2010.
HOFMANN, Hasso. Legitimität gegen Legalität. Der Weg der politischen Philosophie Carl
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______Verfassungslehre (1928). 9. Auf. Berlim: Duncker & Humblot, 2003.
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______Staat, Grossraum, Nomos. Arbeiten aus den Jahren 1916-1969. (1995) Berlim:
Duncker & Humblot, 1995.