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Introdução ao

Novo Testamento
NOVA ALIANÇA

Jr. 31,31-34

Lc 22,19-20
Os gêneros Literários do Novo Testamento

NIEUVIARTS, J., “I generi literari presenti nel


Nuovo Testamento” in Guida di Lettura del Nuovo
Testamento, EDB, Bologna, 2006, 138-144

PEARSON, B. W. R. & PORTER, S. E., “The Genres


of the New Testament” in Handbook of The
Exegesis of The New Testament, Brill, Boston-
Leiden, 2002, 131-166.
Gêneros Literários

Na teoria da literatura e na crítica bíblica, os gêneros literários são os


conjuntos da literatura oral ou escrita que apresentam homogeneidade de estilo,
de formas, de técnicas (poéticas ou prosaicas), de procedimentos narrativos, de
finalidades, etc. Introduzido no estudo Bíblico por Hermann Gunkel no início do
século XX, o método dos gêneros literários classifica o conteúdo do AT e do NT em
inúmeras categorias: hinos, poesia popular, ditos, narrações, gêneros sapiencais,
documentos oficiais, parábolas, oráculos proféticos, etc. A identificação do gênero
literário é indispensável para colher-se a intenção do autor e a relação entre a
expressão literal e o seu conteúdo.

Vademecum para o Estudo da Bíblia, 43.


Sitz im Leben
Não se fala do mesmo modo a pessoas diversas e em contextos
diversos.

O “Sitz im Leben”, expressão alemã que significa “situação vital”´.

É o esforço de indicar as circucnstâncias e a situação social, religiosa,


teológica e cultural na qual se formou um gênero literário e na qual se
deve situar para que se possa compreender correctamente.

o texto bíblico no seu contexto vital.


O modo de falar de adapta a determinada situação. O modo de
escrever corresponde a um determinado lugar, momento ou situação.

Um gênero literário corresponde a uma determinada


necessidade social.

Para determinar o gênero literário, deve responder-se a


algumas perguntas como:
quem escreveu deste modo?
Quem falava assim?
De que registo linguístico se trata?
Não se fala do mesmo modo em todos os lugares e com
todas as pessoas.

O contexto (espetáculo, comédia, aula, culto, lazer,


campanha eleitoral, ) e a mensagem (animar, encorajar, exortar,
repreender, apresentar pêsames, persuadir, dissuadir, etc) que
se quer comunicar vão determinar os meios (tipo de texto,
vocabulário e outras formalidades...) a usar.

Para determinar o gênero literário de um texto se deve


perguntar: quem escreveu deste modo? Quem falava deste
modo? Que registo linguístico se encontra?
Principais Gêneros Literários do Novo Testamento

Evangelho

os estudiosos afirmam que foi o autor do evangelho de


Mc que inventou o gênero literário “evangelho”, que foi
posteriormente seguido pelos autores de Mt, Lc e Jo.

O termo “evangelho” já era usado nos textos profanos


antes de Mc. Nesses textos, a palavra signficava anúncio de uma
vitória militar, a ascensão ao trono de um rei, a visita de um
soberano, o nascimento do filho do rei.
O autor de Mc conhecia a tradição judaica sobre a
expectativa da chegada de um messias que traria a boa nova: Is
40,9; 41,27; 52,7; 61,1; Na 2,1.

Os evangelhos apresentam Jesus como o espero ungido


que traz a boa nova que trará a felicidade dos últimos tempos:
Mt 11,5; Lc 7,22;

O Novo Testamento faz um uso abundante do termo


novo testamento, tanto como substantivo assim como verbo.

Inclusão Mc 1,1 e Mc 16,15


Na tradição cristã, evangelho começou por significar
Jesus e a sua mensagem. Progressivamente, passou a significar
cada um dos documentos que conta as palavras e as obras de
Jesus.

evangelhos canônicos e evangelhos apócrifos

O evangelho não é biografia. A biografia se redige para uma


pessoa morta, mas o evangelho proclama o vivente, Jesus
ressuscitado. Os evangelhos são kerigmáticos.

Lc acosta-se mais ao gênero “biografia” (prólogo e narração da


infância de Jesus), mas mesmo assim, o seu objectivo é
proclamar a fé no vivente e não simplesmente narrar a vida de
Jesus.
A Carta

A carta é uma forma de diálogo entre o emitente e o destinatário


(Aristóteles)

Nas cartas presentes no NT, segue-se a estrutura usada na altura para


a correspondência profana

Preaescriptum: introdução
Nome do emitente e do destinatário, saudação e invocação dos deuses
(gregos e romanos)
Nas suas cartas, os autores das cartas do NT invocam a benção de
Deus e do Senhor Jesus Cristo.

O corpo da carta apresenta a mensagem da carta: informação, pedido,


notícias. Paulo apresenta um tema teológico relacionado com Jesus
Cristo

A conclusão apresenta as saudações finais


Monografia histórica

A monografia histórica é uma escrito sobre um tema


histórico. No NT o único livro correspondente a este gênero
literário é o livro dos Actos dos Apóstolos.

Mesmo assim, Lc tem não pretende contar apenas um


facto histórico (interesse histórico), mas proclamar o início da
Igreja sob a acção do Espírito Santo (interesse teológico).
Apocalipse

A palavra apocalipse signfica “revelação”.

Em geral, os apocalipses são escritos pseudoepigráficos,


pois são atribuídos de modo fictício a um personagem histórico.

Alguns apocalipses encontram-se na chamada literatura judaica


intertestamentária. Os apocalipses atribuem-se a Isaías, Baruc,
Esdras e Enoc.

Os autores dos apocalipses teriam recebido de Deus revelações


que os teriam permitido ver o futuro até ao fim do mundo.
Os apocalipses são a literatura dos tempos difíceis, sobretudo
nos períodos de perseguição.

O autor ambienta o seu escrito num passado longínguo cujo


desfecho já se sabe.

O Apocalipse usa símbolos e números para afirmar em termos


velados e misteriosos que a história é guiada por Deus.

Os apocalipses querem recordar aos seus destinatários que


estão em tempos difíceis que Deus está com eles e os salvará
desde que se mantenha firmes, perseverantes e fiéis.
O Apocalipse de São João não é uma obra pseudopeigráfica. Não
antecipa a história futura.

O Apocalipse de São João é uma carta (Ap 22,21) de Jo (1,4.9) às


sete igrejas da Ásia menor (1,4; 2,1-3,22).
Gêneros literários menores do NT

Esses gêneros se encontram dentro dos livros do NT

Narrações de milagres
As narrações de milagres são muito presentes na literatura
antiga.

Tem uma estrutura fixa


Descrição breve da situação
Uma pergunta
Palavra/gesto
Cura
Reações das pessoas
Narrações de vocação

5/6 Fases

A manifestação de Deus (Jesus para os apóstolos)


A chamada e o envio em missão
Objecção da pessoa chamada
A confirmação
O sinal da parte de Deus
Parábola/Mashal

Comparação de duas realidades em forma de conto

As parábolas faziam parte da tradição hebraica. Os profetas


usavam-nas frequentemente: 2Sm 12, Is 5, Ez 36

Jesus usa as parábolas para falar do reino de Deus (Mt); o


perdão e o acolhimento dos pecadores (Lc); e a força da palavra
(Mc)
Brown, R.

Introducción al Nuevo Testamento

Cap. II

Como Ler o Novo Testamento


O NT é formado por uma diversidade de escritos
(Gêneros literários) cristãos.

Unidade do NT: Jesus Cristo

Diversidade do NT: diferentes gêneros literários

A diversidade dos escritos do NT afecta a leitura e a


interpretação desse Corpus literário
Hermenêutica:
estudo da interpretação e da busca de sentido.
Métodos diferentes de análise dos documentos
escritos. Esses métodos são basicamente dois:
crítica e história.

Crítica textual, crítica histórica, crítica das


fontes.
História das fontes e história da redacção.

A palavra “crítica” não tem sentido pejorativo,


mas significa análise acurada e profundada.
Visão de conjunto dos métodos de hermenêutica
(ver o documento interpretação da Bíblia na Igreja)

Crítica textual

Os evangelistas escreveram os evangelhos no primeiro século

da era cristã. Não há todos os escritos originais dos manuscritos. O que

temos são cópias em grego situados entre os anos 150 a 1300 da era

Cristã. Essas cópias são diferentes. A crítica textual é a comparação, a

compreensão e a interpretação dessas diversas cópias.

(lectio facilior e lectio diffficilior)


Crítica histórica

os quatro evangelistas procuraram transmitir uma

mensagem sobre Jesus aos seus específicos destinatários. Essa

mensagem chama-se sentido literal do texto. Descobrir o

sentido literal de cada texto é uma das missões da crítica

histórica.
É preciso distinguir o sentido literal do sentido LITERALISTA.
Em alguns casos, é fácil descobrir o sentido literal, em

outros, requer um conhecimento profundo das línguas antigas,

da sua gramática, expressões idiomáticas, costumes, etc.

Exemplo: Mc 7,11-12
• Que costume se encontra por detrás dessas palavras?
• Qual é a sua lógica (interesse) subjacente?
• Por que Mc explica o sentido da palavra korban aos seus
leitores?
• Qual é a relevância desse tema para os leitores de Mc?
Crítica das fontes

Este método estuda as fontes (antecendentes) a partir

das quais os autores do NT adquiraram as suas informações.

Os autores dos evangelhos muito provavelmente não

foram testemunhas oculares de Jesus, por isso, terão adquirido

as suas informações de fontes particulares: testemunhos de

pessoas que viveram com Jesus e/ou de comunidades cristãs.


Num primeiro momento, existia a tradição oral, pois que

existia a pregação ORAL sobre Jesus. Depois, parte dessa

tradição oral foi colocada por escrito.

Como se pode chegar a essas “fontes perdidas”?

Essas fontes, apesar de não existirem, podem ser caracterizadas.

Existe um grande paralelismo entre os evangelhos, o que

fortemente sugere uma fonte comum.


Crítica ou história das fontes

Estuda meticulosamente o “gênero” ou a forma da obra em questão.

Gênero literário “evangelhos”:

parábolas, história dos milagres, narrações de infância, narrações de paixão,

máximas sapienciais (vinho novo, odres novos, onde está o teu tesouro, aí está o

teu coração, a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens, etc),

ditos proféticos ou apocalíticos, regras ou normas de vida comunitária, “ditos- eu”,

metáforas, semelhanças, anedotas breves, etc.


Cada gênero literário tem as suas características próprias.
A presença ou auseência dessas características deve ser
observada e interpretada.
A crítica das formas em si mesma nada nos diz sobre a
historicidade do material moldado em determinada forma
(milagre, dito sapiencial, parábola, etc)

Pronunciou Jesus esta parábola ou este dito? Realizou tal


milagre? Ocorreu efectivamente um evento sobrenatural? A
história ou crítica das formas não pode responder às estas
questões. Bultmann (exegeta alemão) defendia que os relatos
de milagres não são históricos, mas apenas lendas edificantes.
Crítica ou história da redacção

A história das formas se concentra nas unidades pré-

existentes usadas pelos autores dos evangelhos. A crítica da

redacção concentra-se no autor e na sua obra final em sentido

unitário.
Crítica canónica

Este método estuda cada livro em relação à extensão de

todo o cânone das Escrituras (AT e NT).


Estruturalismo

O estruturalismo ou a semiótica concentra-se na forma

final das obras do NT. Procura as micro e as macro estruturas

presentes em cada livro a partir de uma grande complexidade

de critérios.
Crítica narrativa

Distingue o autor real (o autor da obra) do autor implícito (o

autor deduzido a partir da narração); leitores reais (os que leram o

texto desde a sua escritura até hoje) e os leitores implícitos (os que o

autor tinha em mente).

A crítica ou análise narrativa coloca em plano secundário o

interesse histórico e considera mais os interesses (a agenda) do autor.


Crítica retórica

Este método é próximo da análise narrativa. Analisa as

estratégias literárias usadas pelo autor para escrever o seu

relato. A selecção do que deve ser contado; a escolha dos

recursos estilísticos para veicular essa mensagem. A crítica

retórica não se circunscreve à mensagem e aos meus de a

transmitir, mas também o contexto tanto do autor como do

destinatário (leitor): o valores, interesses, emoções, etc.


Crítica social

Este método estuda o texto como reflexo e resposta a um

determinado contexto sócio-cultural. A crítica social considera

particularmente os aspectos políticos, religiosos, económicos

que levaram a produção do texto.


Síntese dos Métodos Críticos
• Inclusão de métodos para evitar a unilateralidade.
• Usar diversos métodos de modo complementar produz o
sentido mais amplo dos textos bíblicos.
• Para descobrir o âmbito total do significado, Schneiders (1991)
considera a existência de 3 mundos: O mundo por detrás do
texto – o mundo do texto – o mundo diante do texto.
Ex: evangelhos
• O mundo por detrás: a vida de Jesus, a reflexão de fé sobre
Ele, a pregação e a experiência religiosa da comunidade;
• O mundo do texto do evangelho: testemunho escrito dos
evangelistas que reflecte a sua compreensão da experiência
de Jesus.
• O mundo diante do texto: interacção dos evangelhos com os
seus leitores, interpretação e interpelação pelo texto bíblico.
Inspiração e revelação

O texto bíblico não é simples e puro produto literário

humano, mas também obra divina (obra inspirada por Deus).


Inspiração
4 ideias preliminares
• A inspiração é uma pia crença teológica sem validade (Alemanha
séc. XVIII-XIX – Reimarus, Strauss, Baur).
• Sem nenhuma avaliação positiva ou negativa, a ideia da inspiração
não deve entrar na abordagem científica das Escrituras. A doutrina
da inspiração é irrelevante.
• Estudiosos literalistas: a inspiração divina é de tal importância que
os limites dos autores humanos é irrelevante. Deus comunica
sempre para iluminar todos os problemas de todas as épocas e
latitudes, mesmo aqueles não imaginados pelos autores humanos.
Os dados da bíblia são relevantes para a ciência e a história de
maneira infalível e inquestionável.
• Posição intermédia: aceitam a inspiração como importante para a
interpretação das Escrituras. Mas a intervenção de Deus, não
elimina os limites humanos de tempo, espaço, cultura, economia,
política, mentalidade, valores. O texto bíblico não tem respostas pré-
fabricadas para todas as situações.
Inerrância: DV 3,11

Como sabemos o que Deus pôs nas Escrituras para a nossa


salvação?

Dois critérios que reflecte a divisão da cristandade desde a


reforma:
• O Espírito guia o leitor individual da bíblia até à verdade
religiosa e teológica – interpretação privada da Bíblia.
Limite: mesmo texto leitores diferentes e interpretações
diferentes. Em qual deles está o Espírito? Nem todo o Espírito
procede de Deus (1Jo 4,1-3).

• O Espírito guia através do ensinamento da Igreja –


interpretação eclesiástica da biblia.
Limite: para além das indicações de princípios, falta uma
efectiva interpretação do magistério de cada passo da Escritura.
Revelação

A revelação está direitamente relacionado com a

inspiração. A inspiração teria como fim permitir que Deus Se

revele.
Posições em relação à Revelação Bíblica

• Os radicais refutam a existência de qualquer revelação procedente de


Deus para além da criação. A crença em qualquer comunicação celeste é
considerada SUPERSTIÇÃO.

• Crença na revelação divina, mas considerada irrelevante para a


interpretação das Escrituras. As Escrituras contém ideias condicionadas
humanamente, por isso para a sua interpretação entra a lógica e não a
fé. Tudo o que não for logicamente aceitável deve ser refutado.

• Os conservadores identificam toda a Escritura com a revelação.


Defendem que a Escritura é produto da revelação, de modo que cada
palavra da Escritura é uma comunicação divina da verdade aos homens.

• Nem toda a Escritura é revelação, mas a Escritura contém a revelação.


Quanto à normatividade das Escrituras: A Escritura é o único
testemunho normativo da revelação (Protestantes); A Escritura não é o
único testemunho normativo da revelação (Católicos).
O sentido literal das Escrituras

O que pretenderam e comunicaram os autores bíblicos a


seus leitores por meio do que escreveram (Brown). Não é o
único sentido das Escrituras.

Dificuldades para chegar ao sentido literal: tempo,


espaço, cultura, língua, cosmovisão.

Sentido pleno

significado profundo pretendido por Deus. Deve ser


homogêneo com o sentido literal.

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