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INTEGRAIS DUPLAS E TRIPLAS

1 – Introdução

O conceito de integral (no sentido de Riemann) pode ser generalizado, mudando o intervalo
de integração [a, b] por uma região n-dimensional, que chamaremos de região de integração R..

Figura 1: Região 1-dimensional. Figura 2: Região 2-dimensional.

Figura 3: Região 3-dimensional. Figura 4: Região n-dimensional.


2 – Integrais Duplas

Seja a função f, contínua em R, e a região retangular a ≤ x ≤ b e c ≤ y ≤ d, contida no


domínio de f, conforme representado na Figura 5.
Construímos uma soma de Riemann subdividindo a região em retângulos menores. Fazemos
isto subdividindo cada um dos intervalos a ≤ x ≤ b e c ≤ y ≤ d em n e m subintervalos iguais,
respectivamente, obtendo nm sub-retângulos (Figura 5).

Figura 5: Subdivisão de um retângulo em nm sub-retângulos.

A área de cada sub-retângulo é ∆A, que é calculado por ∆A=∆x∆y, onde ∆x=(b-a)/n é o
comprimento de cada subdivisão ao longo do eixo x, e ∆y=(d-c)/m é o comprimento de cada
subdivisão ao longo do eixo y (Figura 6).

Figura 6: Cálculo da soma de Riemann.

Para calcular a soma de Riemann multiplicamos a área de cada sub-retângulo pelo valor da
função num ponto do retângulo e somamos todos os números resultantes. Escolhendo o ponto que
dá o valor máximo Mij da função em cada retângulo obtemos a soma superior Σi,j Mij ∆x∆y.
A soma inferior Σi,jLij ∆x∆y é obtida tomando o valor mínimo em cada retângulo. Assim
qualquer outra soma de Riemann satisfaz a desigualdade:

2
∑ L ∆x∆y ≤ ∑ f ( x , y ) ∆x∆y ≤ ∑ M
l ,i
ij
i, j
i j
i, j
∆x∆y
ij

Onde (xi,yj) é qualquer ponto no ij-ésimo retângulo. Definimos a integral definida para a
função f nessa região retangular, tomando o limite para os números de subdivisões, n e m, tendendo
a infinito. Obtemos o mesmo limite fazendo ∆x e ∆y tender a zero. Assim, temos a seguinte
definição para a integral definida de f sobre a região R:


R
fd Α = lim ∑ f ( x , y ) ∆x∆y
∆x∆y →0 i , j
i j

Tal integral é chamada uma integral dupla, sendo também indicada pela notação:

∫∫ fdA = lim ∑ f ( x , y )∆x∆y


R ∆x , ∆y → 0 i , j
i j

Às vezes pensamos em dA como sendo a área de um retângulo infinitesimal de


comprimento dx e largura dy, de modo que dA=dxdy. Então usamos a notação:

∫R
fd Α = ∫ f ( x, y )dxdy
R

A soma de Riemann usada na definição, com subdivisões retangulares de igual tamanho, é


só um tipo de soma de Riemann. Para uma soma de Riemann geral, as subdivisões não precisam ser
do mesmo tamanho.

2.1 - A Região R

Em nossa definição da integral definida ∫ f ( x, y ) dA , a região R é um retângulo. Porém a


R
integral definida pode ser definida para regiões de formas diferentes, incluindo triângulos, círculos e
regiões limitadas por gráficos de funções contínuas por partes.
Para aproximar a integral definida sobre uma região R que não seja retangular usamos uma
rede de retângulos que aproxime a região. Obtemos esta rede rodeando R com um retângulo grande
e subdividindo esse retângulo, considerando apenas retângulos que estão dentro de R (Figura 7).

3
Figura 7: Subdivisão de um retângulo em nm sub-retângulos.

Como antes, tomamos um ponto (xi,yj) em cada retângulo e formamos a soma de Riemann

i, j
f ( xi , y j ) ∆x∆y .

Podemos considerar somente a soma sobre aqueles retângulos dentro de R. Quando as


subdivisões se tornam mais finas, a rede se parece mais com R. E, mais uma vez, para uma função f
contínua em R definimos a integral definida como segue:

∫ R
fd Α = lim ∑ f ( x , y ) ∆x∆y
∆x∆y →0 i , j
i j

Onde a soma de Riemann é tomada sobre os sub-retângulos dentro de R.


Você poderia perguntar-se porque podemos deixar de fora os retângulos que cobrem a
fronteira de R, ou ainda: se os incluíssemos poderíamos obter um valor diferente para a integral?
A resposta é que para qualquer região que tenhamos alguma probabilidade de encontrar a
área dos sub-retângulos cobrindo as bordas tende a 0 quando a rede se torna mais fina. Portanto,
omitir esses retângulos não afeta o limite.

2.2 - Interpretação da Integral Dupla

• Interpretação como área

Suponha que f(x,y)=1 para todos os pontos (x,y) numa região R. Então cada termo da soma de
Riemann é da forma 1. ∆Α = ∆Α e a integral dupla dá a área da região R, ou seja:
Área ( R ) = ∫ 1d Α = ∫ dA
R R
− ( x2 + y 2 )
Exemplo: A integral ∫R
e dA , para 0≤x≤1 e 0≤y≤1, tem como região de integração o
retângulo (ou quadrado), cuja área pode ser calculada pela fórmula acima (Figura 8).

Figura 8: A integral dupla permite calcular a área R.

• Interpretação como volume

Assim como a integral definida de uma função positiva de uma variável pode ser interpretada
como uma área sob o gráfico da função, também a integral definida de uma função de duas

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variáveis pode ser interpretada como um volume sob seu gráfico. No caso de uma variável
visualizamos a soma de Riemann como área total de retângulos sobre as subdivisões. No caso de
duas variáveis obtemos barras sólidas em vez de retângulos. Ao crescer o número de subdivisões os
topos das barras aproximam melhor a superfície, e o volume das barras se aproxima mais do
volume sob a superfície e acima da região R.
2
+ y2 )
Exemplo: A integral ∫R
e−( x dA , onde 0≤x≤1 e 0≤y≤1 dá o volume do sólido da figura abaixo
(Figura 9).

Figura 9: Sólido com base no retângulo R.

• Interpretação da Integral quando f é uma Função Densidade

Uma função de duas variáveis pode representar uma densidade por unidade de área, por
exemplo a densidade de população (indivíduos por unidade de área) ou densidade de massa de uma
placa metálica fina. Nesse caso, a integral ∫ fdA representa a população total ou a massa total da
R
região R.

• Interpretação da Integral como um Valor Médio


Como no acaso de uma variável, a integral definida pode ser usada para calcular o valor médio
de uma função:

1
Valor médio de f na região R =
Área de R ∫R
fdA

Isto pode ser escrito como:

Valor médio x Área de R = ∫


R
fdA

5
Assim, se interpretarmos a integral como volume sob o gráfico de f, podemos pensar no valor
médio de f como sendo a altura de uma caixa com o mesmo volume que esteja sobre a mesma base.

Um modo de pensar isto é imaginar que o volume sob o gráfico é feito de cera; se a cera
derretesse e se aplainasse dentro de paredes construídas sobre o perímetro de R, então terminaria em
forma de caixa com altura igual ao valor médio de f.

2.3 – Integrais Duplas como Integrais Iteradas

Com base na noção de soma podemos escrever a soma de Riemann como soma de somas, da
seguinte maneira:

 
∑ f ( x , y )∆x∆y = ∑  ∑ f ( x , y )∆x  ∆y
i, j
i j
j i
i j

O que nos permite escrever uma integral dupla como uma integral de integrais:


R
f ( x, y )dA = ∫
d

c (∫ a
b
)
f ( x, y )dx dy

Ou simplesmente:

d b

R
fdA = ∫
c ∫ a
f ( x, y )dxdy

Onde R é a região retangular a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d.

A expressão ∫
c
d
(∫
a
b
)
f ( x, y )dx dy ou simplesmente ∫ ∫
c
d b

a
f ( x, y )dxdy , é chamada uma
integral iterada, que nos fornece uma maneira de calcularmos integrais duplas. A integral de dentro
é feita em relação a x, mantendo y constante, e depois o resultado é integrado em relação a y.

• A ordem de integração

Prova-se que:
   
∑ f (x , y i j )∆x∆y = ∑  ∑ f ( xi , y j )∆x ∆y = ∑  ∑ f ( xi , y j )∆y ∆x
j  i  i  j
i, j 

Ou seja, podemos calcular a integral dupla de duas maneiras:

d b
∫ R
fdA = ∫
c ∫ a
f ( x, y )dxdy (começando com x variável e y constante)

b d
∫ R
fdA = ∫
a ∫
c
f ( x, y )dydx (começando com y variável e x constante)

6
• Limites de integração

Os limites na integral exterior devem ser constantes.


Se a integral interior é com relação a x, seus limites devem ser constantes ou expressões em
termos de y, e vice-versa.

• Inversão da ordem de integração

Às vezes pode ser útil inverter a ordem da integração numa integral iterada.
Surpreendentemente, uma integral que é difícil ou impossível com os limites numa dada ordem
pode ser bastante razoável na outra. O exemplo seguinte mostra um tal caso.
6 2
Exemplo: Calcule ∫∫
0 x/3
x y 3 + 1 dydx .

Solução: Como y 3 + 1 não tem primitiva elementar, não podemos calcular a integral
interior simbolicamente. Tentamos inverter a ordem de integração. Assim, quando invertemos a
ordem de integração obtemos:

6 2 2 3y
∫∫ 0 x/3
x y 3 + 1 dydx = ∫
0 ∫
0
x y 3 + 1 dxdy

Agora pelo menos podemos resolver a integral interior porque conhecemos a primitiva de x,
o que nos permite iniciar o processo:
x =3 y
2 x 
2
2 3y
∫∫
0 0
x y 3 + 1 dxdy = ∫ 
0
 2
y3 + 1 
 x =0
dy =

2
2 9 y2 3 1 3
=∫ y +1 ( ) 2
( 3
dy = y + 1 ) 2
= 27 − 1 = 26
0 2 0

Portanto, invertendo a ordem de integração chegamos a uma integral “muito mais fácil” que
a inicialmente proposta. Observe que um caminho para inverter a ordem é primeiro esboçar a região
de integração.

3 – Integrais Triplas

Uma função contínua de três variáveis pode ser integrada sobre uma região sólida W no 3-
espaço do mesmo modo que uma função de duas variáveis é integrada sobre uma região no 2-
espaço. Novamente, partimos de uma soma de Riemann. Primeiro subdividimos W em regiões
menores, depois multiplicamos o volume de cada região por um valor da função nessa região e
somamos os resultados. Por exemplo, se W é a caixa a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d, e ≤ z ≤ f, então
subdividimos cada lado em l, m e n partes, com isso subdividindo W em lmn caixas menores, como
se vê na Figura 10.

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Figura 10: Subdivisão de uma caixa tridimensional W.

O volume de cada caixa menor é ∆V = ∆x∆y∆z , onde:


b−a
∆x =
l
d −c
∆y =
m
e− f
∆z =
n
Nesta subdivisão, tomamos um ponto (xi, yj, zk) em cada ijk-ésima pequena caixa e
construímos uma soma de Riemann:

∑ f ( x y z )∆V
ijk
i j k

Se f é continua, quando ∆x, ∆y e ∆z se avizinham de zero, esta soma se avizinha da

integral definida ∫
W
fdV , chamada de integral tripla, que é definida por:

∫W
fdV = lim
l , m , n →∞
∑ f ( x , y , z )∆V
i , j ,k
i j k

3.1 – Integrais Triplas como Integrais Iteradas

Como no caso de integral dupla, a integral tripla pode ser calculada como integral iterada.

 d f ( x, y, z )dx dy  dz
∫W
fdV = ∫
e
f
 ∫c
 (∫ a
b
) 

8
Onde y e z são tratados como constantes na integral mais interna (dx), e z é tratado como
constante na integral do meio (dy). A integração pode ser feita em qualquer ordem, observando-se
os limites de integração.
• Limites de integração (observação prática)

Os limites para a integral externa são constantes.


Os limites para a integral do meio só podem envolver uma variável (a da integral externa).
Os limites para a integral interior podem envolver duas variáveis (as variáveis das duas
integrais externas).

4 – Integração Numérica: O Método de Monte Carlo

Há muitas integrais definidas em uma variável em que o integrando não tem primitiva
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elementar. Um exemplo familiar é ∫
0
e − x dx Existem também integrais duplas e triplas intratáveis.
Elas podem ser aproximadas por somas de Riemann ou por variantes de um método chamado de
regra de Simpson. A seguir, damos um método alternativo chamado o método de Monte Carlo.

Um exemplo em uma variável

1 1
Consideremos a integral ∫0
x 2 dx , cujo valor, como sabemos, é
3
. Agora vamos aproximá-
lo probabilisticamente. Fazemos o gráfico de y = x2 no quadrado 0 ≤ x ≤ 1 ≤ , 0 ≤ y ≤ 1 e jogamos
dardos no quadrado (Figura 11). A fração dos dardos que batem abaixo da curva dá uma estimativa
da razão da área sob a curva para a área do quadrado. Esta é a base do método de Monte Carlo.

1
Exemplo 1: Aproxime a integral ∫ 0
x 2 dx usando o método de Monte Carlo.
Solução: Se escolhermos pontos do quadrado unitário na Figura 11 ao acaso, esperamos que a razão
do número de pontos na região R, digamos NR, para o número total N de pontos aproxime a integral:

1
NR
=
∫0
x 2 dx 1
= ∫ x 2 dx
N Área do quadrado unitário 0

Como estamos escolhendo os pontos ao acaso não podemos esperar obter a mesma razão a
cada vez, mas quando o número de pontos cresce a aproximação deve melhorar. A Tabela 1 mostra
os valores de NR/N para seis tentativas diferentes cada uma com N = 50 pontos. Estas experiências,
e todas as subseqüentes, foram obtidas usando um programa de computador para gerar pontos
aleatórios na região e contar quantos caem em R.

9
1
Figura 11: Região cuja área é ∫ 0
x 2 dx como fração do quadrado unitário.

N = 50 1 2 3 4 5 6
NR / N 0,2 0,24 0,52 0,36 0,38 0,28

Tabela 1: Seis jogadas com N = 50 pontos.

Estas aproximações não são particularmente boas. Sua média é 0,33 que tem precisão de
dois dígitos. Repetindo este processo com N = 50 têm-se os resultados da Tabela 2.

N = 50 1 2 3 4 5 6
NR / N 0,44 0,42 0,28 0,34 0,28 0,32

Tabela 2: Mais seis jogadas com N = 50 pontos.

1
Observe que a média destas é 0,347. Isto não está tão perto do valor verdadeiro quanto o
3
anterior, mas lembre que isto é um processo aleatório. De cada vez que ele é repetido esperamos um
1
resultado diferente. Para continuar com este exemplo agora aproximamos ∫
0
x 2 dx tomando valores
cada vez maiores de N, digamos N = 10, 100, 1.000 e 10.000 Os resultados de um experimento no
computador são dados na Tabela 3, mas se você realizar um experimento semelhante seus
resultados provavelmente serão um pouco diferentes. Porém, acontece que quando N cresce a razão
1
se aproxima do valor exato .
3

N 10 100 1.000 10.000


NR / N 0,2000 0,3400 0,3250 0,3343

Tabela 3: Seis jogadas com N = 50 pontos.

A base do método de Monte Carlo é a geração de números aleatórios. Felizmente quase


todas as linguagens de programação têm um gerador de números aleatórios embutido.Quaisquer

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dois pontos aleatórios x e y, entre 0 e 1, dão um ponto (x,y) no quadrado unitário. Então verificamos
se y ≤ x2.. Se isto é verdade o ponto esta na região sob a parábola. Assumimos que todo ponto tem
igual probabilidade de ser escolhido, permitindo-nos calcular a área da região sob a parábola pelo
seguinte método.

Método de Monte Carlo para estimar uma Integral

b
Suponha que a integral ∫a
f ( x )dx é dada pela área de uma região R. Circunde a região por
um retângulo de área A. Se N pontos aleatórios são escolhidos em A e NR deles caem na região R
então esperamos
b
N R Área( R ) ∫a f ( x )dx
≅ =
N Área( A) Área( A)

Um exemplo em duas uma variáveis

Podemos estender a idéia do método de Monte Carlo ao cálculo de integrais de mais de uma
variável.

1 1 2
+ y2 )
Exemplo 2: Use o método de Monte Carlo para aproximar a integral dupla ∫ ∫
0 0
e −( x dxdy .
Solução: Esta integral dá o volume da região W acima do quadrado unitário e embaixo do gráfico
2 2
de z = e − ( x + y ) . Como o volume que consideramos está contido no cubo C dado por 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y
≤ 1 e ≤ 0 ≤ z ≤ 1, contamos pontos da forma (x,y,z) que estão no cubo e que satisfazem à
2 2
condição 0 ≤ z ≤ e − ( x + y ) (Figura 12).

1 1 2
+ y2 )
Figura 12: Região W cujo volume é ∫ ∫
0 0
e −( x dxdy como fração do cubo unitário C.

Se NR dos pontos escolhidos aleatoriamente satisfazem a esta condição, então, como Vol(C)
= 1 temos:

N R Vol (W ) 1 1 2
+ y2 )
≅ = Vol (W ) = ∫ ∫ e −( x dxdy
N Vol (C ) 0 0

11
N=100 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
NR / N 0,54 0,60 0,57 0,60 0,51 0,53 0,59 0,56 0,56 0,57

Tabela 5: Dez tentativas, cada uma com N = 100.

A Tabela 5 mostra o valor de NR/N para dez tentativas com N = 100 pontos cada uma. A média dos
dez valores NR/N é 0,563. Consideramos isto como um valor aproximado para a integral. Tomando
N = 10.000, temos:

1 1 2
+ y2 ) NR
∫ ∫
0 0
e −( x dxdy ≅
N
≅ 0,5654

Que é uma aproximação melhor (mais “próxima” do valor real).


Quando se usa o método de Monte Carlo é importante escolher uma pequena caixa C que
contenha completamente a região R. Intuitivamente, quanto melhor o ajuste entre os dois volumes
menos números aleatórios são necessários para obter uma aproximação razoável. Na verdade, o
maior problema com o método de Monte Carlo é o de achar uma caixa retangular suficientemente
pequena que contenha o volume.

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