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CONSPIRAÇÕES

O que fazer com tudo isso

Para muita gente da época, a destruição dos templários foi inexplicável. Como uma
organização tão importante e poderosa, aparentemente dedicada à defesa da
Cristandade e digna da proteção do papado pôde ser condenada por blasfêmia,
heresia e sodomia — acusações pressionadas peio rei da França, reforçadas pelos
inquisidores da Igreja e condenadas pelo próprio papa?
Mas com a recente descoberta do Pergaminho de Chinon e sua publicação em 2004 o
mistério foi esclarecido. A realidade é que os templários foram vítimas de uma luta titânica
entre a França e o papado, entre o nacionalismo europeu emergente, de um lado, e as
pretensões universalistas da Igreja, de outro. Os templários praticaram, sim, rituais
estranhos, mas nada incomuns entre as organizações militares, e a confissão deles foi
deliberadamente distorcida pelo Estado francês para que soasse como heresia e outras
coisas. O próprio papa entendeu que tais rituais eram inocentes em sua base e,
pessoalmente, livrou os templários das acusações — na época, ele manteve a absolvição
secreta por temer um assalto da França ao papado como instituição e morreu antes de tornar
público o documento. Na comoção causada pelo retorno do papado de Avignon para Roma,
o Pergaminho de Chinon se perdeu entre a papelada e só foi encontrado em 2001.
Por quase setecentos anos, portanto, público, historiadores e especialistas de todas as áreas
se defrontaram com relatos incompletos, repletos de falhas e aparentes contradições, mas
dramáticos o bastante para necessitarem de uma explicação — e se tornaram um convite à
especulação e as teorias da conspiração. E há tanto tempo ganharam vida própria — “Os
templários têm alguma coisa a ver com tudo isso”, escreveu Umberto Eco em O Pêndulo de
Foucault — que nem mesmo a descoberta do Pergaminho de Chinon deu a eles o merecido
descanso.
A REAÇÃO IMEDIATA
As reações mais sensíveis às acusações contra os templários e à extinção da Ordem
aconteceram na época. Como vimos, Dante escreveu o seu Purgatório na época do
julgamento dos templários e nada disse sobre a suposta ganância da Ordem. Mas não
deixou de manifestar-se contra a avareza, a sede de poder e a desonestidade do rei Felipe
IV da França e a influência maligna da dinastia Capetíngia a que ele pertencia. Os
compatriotas de Dante pensavam da mesma maneira: os banqueiros italianos na França,
bem como os judeus, já tinham sido vítimas da ganância de Felipe, tanto é que a geração
seguinte, à qual pertencia o escritor e poeta Bocaccio, autor do Decamerão, defendeu a
inocência dos templários e ridicularizou a Inquisição.
Em Portugal, o ataque francês contra os templários também foi visto como agressão, e
graças ao apoio real e à anuência do papado os templários puderam viver em paz em
Portugal com outro nome. Os alemães e os ingleses também tenderam a duvidar da culpa
dos templários. Na verdade, somente os franceses e os povos por eles dominados engoliram
o conto da heresia. Ramon Luil é um exemplo. Esse filósofo e místico catalão aguardava
ansiosamente que Felipe TV liderasse uma nova cruzada ao Oriente. A princípio acreditou
na honra e na boa fé dos templários, mas em 1308, durante o julgamento e no auge da
campanha da monarquia francesa contra a Ordem, ele mudou de idéia e se alinhou à corte
francesa; mas, se esperava que a condenação dos templários purificaria os cristãos e
lançaria uma nova cruzada, ficou desapontado.
Nesse meio tempo, enquanto a chama do ideal cruzado bruxuleava e se apagava, os
templários levavam uma vida mística.

O ROMANCE DOS TEMPLÁRIOS


Muito antes do fim da Ordem, os cavaleiros templários já habitavam os domínios do mito.
A primeira menção a eles na literatura surgiu por volta de 1220, no Parsivaldo cavaleiro e
poeta alemão Wolfram Von Eschenbach. O autor inspirou-se no romance de Chrétien des
Troyes, Perceval, O Conto do Graal que começou a ser escrito em 1181 e ainda não estava
terminado quando ele morreu, em 1190. A associação de Chrétien de Troyes é significativa:
Troyes era a capital dos condes de Champagne, que tiveram um papel importante na
fttndação dos templários e na promoção de seu principal defensor Bernardo de Claraval.
Certamente Troyes estava vinculada ao Leste por intermédio da patrocinadora de Chrétien,
a condessa Mame de Champagne, que era filha de Eleanor de Aquitaine. Eleanor era a
jovem esposa de Luís Vil, o incompetente líder da Segunda Cruzada; ela o acompanhou
nessa aventura, mas chegando ao Oriente não perdeu tempo em iniciar um flagrante caso de
amor com seu tio Raimundo de Antioquia. Mais tarde ela se casou com Henrique II, rei da
Inglaterra. Bernardo de Claraval desaprovava o espírito livre de Eleanor de Aquitaine, que
considerava frívola e indecorosa. Mas para um poeta ela era uma excelente fonte de
inspiração, e não é dificil imaginar por que Chrétien tenha criado a personagem Guinevere
em um trabalho anterior, Lancelot, the Knzght of the Cart (Lancelote, o Cavaleiro da
Carroça), escrito para Marie.
O vínculo templário no romance de Chrétien é flagrante no Parsival de Wolfram Von
Eschenbach, que considera os templários os guardiões do Graal. Eschenbach esteve em
Outremer em cerca de 1200 e compôs partes de seu poema no Oriente. Seus templários são
guerreiros puros, defensores dos territórios sagra dos que guardam o Graal, da mesma
maneira que os templárj reais defendiam a Terra Santa:
[Eles] cavalgam em surtidas em busca de aventura. Se os templários obtêm
proveito dos problemas ou da fama, eles o fazem por seus pecados. Vou dizer o
que os nutre, O que os alimenta é uma rocha cuja essência é a mais pura. Para
quem nunca ouviu falar, digo aqui o nome. É “Lapsit exilis”. Que em virtude da
pedra a Fênix transforma-se em cinzas e delas renasce. [Tadução livre]
Eschenbach explica que Lapsil-exilis, que era o nome do Graal, é a pedra que estava na
coroa de Lúcifer quando foi expulso do Paraíso; para os templários, é o elixir da vida —
noção não de todo despropositada em uma cosmologia dualista.

"Graal" significa originalmente prato de servir, bandeja. Nesta


ilustração francesa de 1316 Percival, Galahad e Boors levam a
bandeja de prata para a ilha mística de Sarras.

A busca do Graal
O Graal foi inventado no final do século XII por Chrétien de Troyes: jamais fora
mencionado antes. É curioso que nada houvesse no Graal de Chrétien que fosse
explicitamente religioso; ele nunca escreveu sobre uma taça ou um cálice na Santa Ceia.
Por essa razão ele não o descreve como taça ou cálice, mas como bandeja, que é o
significado original e usual da palavra graal no francês antigo. Mas há algo de mágico na
primeira aparição do Graal nas páginas da história de Chrétien, no início de um festim
oferecido por um milionário, e é mais maravilhoso ainda que Chrétien não tenha ter minado
sua história. Ele aparece assim na história:
Então entraram dois pajens trazendo nas mãos candelabros depuro ouro com detalhes
esmaltados. Os jovens que portavam os candelabros eram extremamente belos. A criada
que acompanhava os dois jovens trazia nas mãos uma bandeja; ela era bela, nobre e estava
ricamente trajada. Quando entrou no salão com a bandeja, o espaço iluminou-se e as velas
perderam o fulgor, assim como as estrelas e a lua quando o sol nasce (Arthurian Romances,
Penguin, 1991).
O que mais impressiona nessa aparição do Graal é que Percival, o herói do romance, sabe
exatamente do que se trata, mas não diz nada até a história ser interrompida (com a morte
de Chrétien). Seria uma alegoria? Esse aspecto é algo que se discute há mais de oitocentos
anos. E, se for, seria uma alegoria religiosa? Também não há nada definitivo a esse
respeito. Mas essa imagem fantasiosa logo inspiraria outros escritores a terminar a história
— entre eles Wolfram von Eschenbach, que em Parzival, a sua adaptação alemã do século
XIII, introduz os cavaleiros templários na literatura como os guardiões do Graal.
Chrétien de Troyes escreveu quando a sociedade medieval ocidental, tão fiel às tradições,
se abria para um mundo mais amplo, o mundo além do Mediterrâneo, o mundo oriental,
onde novas idéias e crenças eram descobertas e redescobertas, no mínimo por conta das
cruzadas. Escrever sobre o Graal era escrever sobre uma busca cultural e espiritual, embora
seja estranho que o gênero, independentemente de suas nuanças religiosas, fosse o preferido
dos escritores seculares, jamais da Igreja. E assim, livre de doutrinas e cânones, o Graal tem
sido infinita mente reinventado até hoje.

TEMPLÁRIOS E BRUXARIA

É curioso que foi precisamente quando a


Europa saía da Idade Média e entrava na era
da iluminação e da razão que as primeiras
mistificações sinistras sobre os templários
povoaram a imaginação não só do povo,
mas dos letrados. Tudo começa em 1487,
com a publicação de Malleus Maleficarum,
ironicamente um dos primeiros livros
impressos — a invenção da imprensa
costuma marcar o fim da Idade Média.
Sempre se acreditou em espíritos malignos,
e ao mesmo tempo confiava-se que a Igreja
protegesse os crentes de suas influências; o
exorcismo era praticado rotineiramente pelo
clero para purificar espíritos, enquanto as
ameaças externas, como as conquistas
muçulmanas, eram enfrentadas pela
cavalaria e pelas cruzadas, aí incluídas as
ordens militares Mas o fracasso das cruzadas e a perda de confiança na Igreja ajudaram a
espalhar um medo patológico de que os demônios estivessem se apossando do povo cristão.
Em fins do século XV o medo da bruxaria alcançou níveis epidêmicos e obrigou a Igreja a
intervir. Em 1484 a bula papal Summis Desiderantes Affectibus legitimou a existência de
bruxas e deu permissão a bispos e autoridades seculares para persegui-las quando não
houvesse um representante da Inquisição. O Malleus Maleficarum foi publicado três anos
depois; escrito por dois dominicanos caçadores de bruxas, experientes e entusiasmados,
ditava as regras de como proceder nos julgamentos de bruxaria e logo se tornou famoso. O
título, que traduzido significa “O Martelo das Bruxas”, refere-se na verdade à perseguição
às bruxas — termo aplicado indistintamente a hereges, adoradores do diabo e praticantes de
magia, a prostitutas e a velhas supersticiosas. Por uma observação ao acaso feita em um
segundo livro publicado na seqüência, ficou estabelecida a relação dos templários com esse
mundo obscuro e paranóico do esoterismo.
O livro era De Occulta Philosophia e foi escrito por um alemão, Henry Cornelius Agrippa;
ao ser publicado em 1531, tornou-se o texto sobre magia mais lido e influente da
Renascença. Agrippa era um sério intelectual humanista cujos interesses passavam pelo
folclore e pelo ocultismo. O propósito de seu livro, dizia ele, era “fazer distinção entre a
boa e sagrada ciência da magia e as práticas impuras e escandalosas da magia negra, e
restaurar o bom nome da primeira”. Para isso ele pesquisou várias maneiras de trabalhar e
controlar os poderes que emanavam dos espíritos e demônios. E então escreveu estas linhas
fatídicas: “É sabido que os demônios malignos são atraídos pelas artes más e profanas, as
mesmas que, segundo Psellus, os mágicos gnósticos costumavam praticar e cometem
abominações tolas e desagradáveis como as que se viam antigamente nos ritos de Príapo e
nos rituais do ídolo chamado Panor, a quem as pessoas ofereciam em sacrificio suas
partes íntimas. E não diferem muito, se é verdade e não fantasia o que se lê, da detestável
heresia dos templários; e fatos similares são sabidos a respeito das bruxas e suas loucuras
senis tratando-se de ofensas dessa espécie”.
Com templários e bruxas colocados lado a lado em seus dois exemplos de mágicas cristãs
pervertidas, Agrippa inclui a ordem na fantasmagoria das forças ocultas, o tema predileto
da demên. cia perseguidora da qual o Maileus Malejicarum era o manual. Subitamente os
templários levantam-se das profundezas de seus fracassos ainda não esquecidos e se tornam
o centro das forças perturbadoras que obscureciam a mente europeia — suas vítimas e seus
mestres. Assim os templários atravessaram a Renascença e entraram na Era da Iluminação.

O TEMPLO DE SALOMÃO E OS MAÇONS


Em uma época em que os camponeses estavam presos à terra, os pedreiros eram
trabalhadores que iam onde estava o trabalho; na Escócia e Inglaterra da Idade Média eles
já se reuniam em associações de ajuda mútua. Havia dois tipos de pedreiros, os “pedreiros
rudes”, que trabalhavam a pedra bruta, construindo alicerces e erguendo paredes; e os
pedreiros mais delicados que esculpiam as finas fachadas das catedrais em pedra maleável,
as chamadas pedras de cantaria; essa era a elite dos canteiros, os pedreiros de cantaria, ou
freemasons, ou simplesmente maçons. Quando os maçons viajavam pela Grã-Bretanha,
dormiam em alojamentos, e, após a Reforma do século XVI, uma de suas atividades nesses
alojamentos era ler a Bíblia. A Igreja Católica proibia a tradução da Bíblia para as línguas
vernáculas, por temer que ela diminuísse a autoridade do clero. Isso era exatamente o que
os protestantes da Escócia não viam a hora de acontecer, porque descobriram que a Bíblia
tinha implicações revolucionárias; por exemplo, ela falava de profetas que tinham derrotado
reis perversos e, ao mesmo tempo, não afirmava em lugar algum que o bispo de Roma, ou
seja, o papa, era o líder supremo de uma Igreja universal.
Por outro lado, os protestantes concluíam que a Bíblia era a palavra de Deus, e aqueles que
eram maçons prestavam mais atenção no Segundo Livro de Crônicas, no qual Salomão
pede a Hiram para ajudar a construir o Templo e dá as medidas exatas do Templo, que só
foram determinadas por Deus, segundo eles, porque contêm profundas verdades teológicas.
Os maçons ficavam especialmente impressionados com aquele outro Hiram, não Hiram, o
rei de Tiro, mas Hiram, o filho da viúva, que chamavam de Hiram Abiff. Os trabalhos mais
notáveis no Templo de Salomão foram realizados por Hiram Abiff, como a enorme pia
chamada de "Mar de Bronze" e os dois imensos pilares, Jachin e Boaz. Segundo a Bíblia,
Hiram era um homem “cheio de sabedoria e compreensão”.
A eficácia dessas associações de assistência mútua aos maçons dependia da sua
exclusividade, de serem clubes nos quais só eles eram admitidos, e adotavam um sistema de
sinais e rituais que lhes teria sido transmitido desde a antiguidade para que seus adeptos
pudessem participar das reuniões privadas. Um dos rituais tinha relação com Hiram Abiff,
cuja história criada pelos maçons ia muito além da sua breve passagem pela Bíblia.
Segundo eles, Hiram Abiff era o único que conhecia o segredo do Templo. Três vilões o
sequestraram e o ameaçaram de morte se não revelasse a “palavra do Mestre” — termo
usado pelos pedreiros nas suas negociações para diferenciar o pagamento e as atribuições
dos operários, mas agora, segundo o ritual, ganhava um significado mais profundo e
místico. Hiram negou-se a revelar o segredo e os facínoras o assassinaram.
Salomão ouviu essa história e ficou curioso por conhecer o segredo de Hiram; mandou três
pedreiros procurarem o corpo, e disse a eles que, se não descobrissem o segredo, a primeira
parte do corpo de Hiram que fosse encontrada seria o segredo do Templo. Os pedreiros
encontraram o caixão de Hiram Abiff e, ao abri- lo, a primeira coisa que viram foi a mão —
e a partir daí os maçons passaram a usar o aperto de mão e outros sinais de reconhecimento
como o novo segredo. Originalmente os pedreiros artesãos dividiam-se entre companheiros
habilitados e seus aprendizes. Conforme a maçonaria evoluiu para uma fraternidade
filosófica, usando como base essa história, foram criados os rituais de mudança progressiva
de graus: o primeiro grau é o do maçom aprendiz, o segundo é o do companheiro e o
terceiro grau é o de mestre maçom. Para ingressar nesse terceiro grau, o iniciado aceita
passar pelos sofrimentos de Hiram Abiff se revelar os segredos dos maçons; nesse caso,
seus irmãos têm o direito de arrancar seu coração, seu fígado e suas entranhas, da mesma
maneira que um traidor foi desentranhado como parte do castigo de ser enforcado, arrastado
e esquartejado.
Mas as associações de pedreiros artesãos já passavam por uma transição que alteraria sua
natureza fundamental. Para mantê-las, os maçons convidaram patrocinadores influentes.
isso despertou a simpatia da sociedade, que, pelo inovador conceito de ajuda mútua,
somada aos estudo filosóficos que eles faziam da Bíblia, começou a atrair uma elite
interessada de cavalheiros, estudiosos, profissionais e comerciantes. Por volta de 1700,
esses “maçons especulativos” ou “admitidos” já ultrapassavam o número de “maçons
operativos”, como eram chamados os artesãos. A instituição moderna que hoje conhecemos
como Maçonaria nasceu quando quatro alojamentos londrinos de maçons operativos e
admitidos se fundiram em 1717 em uma Grande Loja Maçônica. A chefia ficou a cargo não
de um maçom praticante, mas de um cavalheiro, e desde então eles nunca mais tiveram um
pedreiro como grão-mestre.

ILUMINISMO E MISTÉRIO
O significado da história de Hiram não é tão claro quanto se pretendia, porque a intenção
era estabelecer uma relação entre os maçons e a antiguidade. Embora as pessoas cultas do
Iluminismo olhassem para o futuro, elas se voltavam também para o passado porque
acreditavam que na antiguidade estava grande parte do aprendizado e da sabedoria que se
perdera, e sua missão era recuperar o que fosse possível dos tempos bíblicos e clássicos.
Por exemplo, a maior parte do trabalho de Sir Isaac Newton foi recuperar e decifrar durante
muitos anos a sabedoria oculta nas profecias bíblicas e na alquimia. Seu Principia
Mathematica, publicado em 1687, um tratado sobre a gravitação e as leis do movimento,
revolucionou a ciência e disseminou a aceitação de que a investigação racional poderia
revelar a dinâmica interna da natureza — Newton estava convencido de que encontrara um
conhecimento ancestral.

Newton morreu em 1727 e não era maçom, mas a Maçonaria atraiu intelectuais
importantes, entre eles vários membros da Royal Society, a academia de ciências britânica,
homens racionalistas e deístas que consideravam perfeitamente razoável que os maçons se
identificassem com o Templo de Salomão, construído por Salomão e Hiram Abiff, ambos
misteriosos exemplos de sabedoria ancestral.
Sir Isaac Newton e o Templo de Salomão
Uma das principais personagens do Iluminismo, o cientista e matemático Sir Isaac Newton,
escreveu algo em torno de 470 livros — muitos sobre temas teológicos e vários sobre o
Templo de Salomão. Newton considerava Salomão o maior filósofo de todos os tempos e
acreditava que a sua fórmula revolucionária da lei da gravidade resultara da leitura atenta
das partes bíblicas Reis 1 e Crônicas 2, que trazem em detalhes as medidas do Templo de
Salomão. Newton via nessas medidas a profecia de grandes e terríveis eventos para os anos
vindouros, como a Segunda Vinda de Cristo, em 1948.

MAÇONS E TEMPLÁRIOS
A notícia da criação da Grande Loja Maçônica de Londres e das atividades dos maçons
britânicos logo se espalhou pela Europa. Por volta dos anos 1730 foram fundadas lojas
maçônicas na Holanda, França, Alemanha e em outras partes da Europa, em geral por
representantes da Grande Loja de Londres que viajavam ao exterior com esse fim e também
por residentes locais que se inspiravam, mas não dependiam da Grande Loja. Ao mesmo
tempo em que a Maçonaria se popularizava na Europa, causava estranheza e perturbação
em alguns. Ela não germinou nas organizações de artesãos da França, Alemanha e outras
partes do continente, que há muito tempo tinham deixado de existir, mas vinha da
Inglaterra, o solo da Revolução Gloriosa de 1688, que restringira drasticamente os poderes
reais e dividira a autoridade entre monarquia, parlamento e judiciário, e instituíra certo grau
de tolerância religiosa. A Grã-Bretanha tinha a admiração do povo europeu por ser vista
como uma nação tolerante e progressiva, embora suas instituições e invenções, e também a
Maçonaria, fossem profundamente desprezadas pelos governantes autocráticos e pela Igreja
Católica.
Os maçons da Grã-Bretanha formavam uma organização inofensiva e fraternal
principalmente de classe média, cujas lojas tinham função similar ao de uma cafeteria de
Londres, mas adquiriram o culto do sigilo relacionado a um conhecimento misterioso
associado ao Templo de Salomão. Agrippa já estabelecera uma relação entre templários e
bruxaria e poderes ocultos. Para criar mais uma clássica teoria da conspiração bastava que
esses elementos fossem reunidos em um poderoso mito ocultista, o que aconteceu quando
os maçons foram diretamente vinculados aos templários, não na Grã-Bretanha, mas na
Europa continental.
O primeiro passo foi dado em 1736 ou 1737 por um escocês chamado Andrew Michael
Ramsay, um exilado jacobino que vivia na França e, como chanceler da Grande Loja
francesa, introduziu entre os maçons um passado cruzado fictício e ideais aristocráticos. A
Maçonaria britânica era democrática por natureza; entre seus membros havia artesãos e
aristocratas, profissionais liberais, intelectuais e negociantes da classe média, todos
convivendo pacificamente. Mas a convivência pacífica e a instituição nascida de
trabalhadores não eram elementos que atraíssem o estrato superior da sociedade francesa. A
pequena nobreza e a corte francesa buscavam o reconhecimento das distinções sociais, e as
queriam reforçadas pelo estilo, a nostalgia e o romance. Ramsay lhes forneceu tudo isso
quando sugeriu que os canteiros tinham sido cavaleiros guerreiros na Terra Santa, o que
logo transformou os maçons franceses em uma sociedade secreta internacional de cavalaria.
“Nossos ancestrais, os cruzados, que vieram de todas as partes da Cristandade para a Terra
Santa, reuniram pessoas das diferentes nações em urna só confraternidade espiritual”,
anunciou Ramsay em seu Discurso na Loja de São João em Paris, no dia 27 de dezembro de
1736 ou 21 de março de 1737, segundo diferentes fontes.

Uma Loja Maçônica da Inglaterra por volta de 1730

Na versão de Ramsay, os cruzados tinham tentado restaurar o Templo de Salomão em um


ambiente hostil e divisaram um sistema de sinais e rituais secretos para se proteger contra o
inimigo muçulmano, que a qualquer momento poderia infiltrar-se em seu meio para lhes
cortar a garganta Ainda segundo Ramsay, com o colapso de Outremer, os cruzados
retornaram às suas casas na Europa e fundaram as lojas maçônicas Mas com o tempo as
lojas e seus ritos foram abandonados e só na Escócia os maçons preservaram seu antigo
esplendor:
Desde aqueles tempos a Grã-Bretanha foi sede da nossa Ordem, a
preservadora de nossas leis e a depositária dos nossos segredos... Das Ilhas
Britânicas a Arte Real é agora repassada à França... Nesta era feliz em que
o amor pela paz e a virtude dos heróis, esta nação, talvez a mais espiritual
da Europa, torna-se o centro da Ordem. Aqui serão preservados nosso
trabalho, nossas imagens e nossos costumes, com graça, delicadeza e bom
gosto, qualidades que são essenciais à Ordem e têm em sua base a
sabedoria, a força e a beleza do gênio. Nas nossas futuras Lojas, como nas
escolas públicas, os franceses aprenderão, sem viajar, as letras de todas as
nações e os estrangeiros saberão que a França é o lar de todas as nações.
Na ocasião, Ramsay nada disse sobre os templários, tal vez para não ofender a ainda
poderosa monarquia francesa e a Igreja. Em 1749, porém, seis anos após sua morte, seu
monumental trabalho, The Philosophical Principies of Natural and Revealed Religion (Os
Princípios Filosóficos da Religião Natural e Revelada) foi publicado em Glasgow; nele
Ramsay diz que “todo maçom é um cavaleiro templário” e jamais ninguém se esqueceu
disso.
O vínculo com as cruzadas surgiu mais tarde na Alemanha, em cerca de 1760, quando um
francês que se dizia nobre escocês e se chamava George Frederick Johnson declarou ter
acesso aos segredos templários. Isso era algo que atendia aos anseios locais, pois os
alemães eram uma sociedade antiquada dominada por noções hierárquicas que resistiam
aos ideais igualitários e racionalistas inerentes à Maçonaria britânica. A conexão espúria
com os templários envolveu os maçons alemães em uma atmosfera gótica e um forte clima
ocultista.
Segundo a interpretação de Johnson, o tempo que os grão-mestres permaneceram no Leste
lhes permitiu aprender os segredos e confiscar dos judeus essênios tesouros que ficaram
conhecidos como Pergaminhos do Mar Morto; é provável que João Batista tivesse alguma
relação com eles. Esses ensinamentos e tesouros foram passados de um grão-mestre a
outro, até chegarem às mãos de Jacques de Molay — que, segundo consta, também se
chamava Hiram. Dizem que, na noite anterior à sua execução, Jacques de Molay ordenou a
alguns templários, que ainda circulavam livre mente, que entrassem na cripta do Templo de
Paris e retirassem o tesouro, que consistia nos candelabros de sete velas roubadas do
Templo pelo imperador romano Tito, na coroa do Reino de Jerusalém e em uma mortalha.
Os homens levaram esses objetos para o porto de La Rocheile, no Atlântico, e de lá
embarcaram em dezoito gales para a ilha de Mull, onde ficaram conhecidos como maçons.
Os maçons escoceses, disse Johnson, o falso escocês, eram os herdeiros diretos dos
templários.
Veio então a Revolução Francesa, em 1789, que abalou a população européia no próprio
cerne Para tentar entender esses fatos dramáticos, muitos aceitaram a ficção de que as
organizações secretas manipulavam as questões públicas.
A VINGANÇA DE JACQUES DE MOLAY
Jacques de Molay morreu na fogueira em Paris na noite de 18 de março de 1314. O único
relato ocular do sacrifício é o de um monge anônimo, que nos diz que ele caminhou para a
morte “com tranquilidade e determinação”. Nenhuma referência contemporânea faz
menção a imprecações lançadas pelo último grão-mestre dos templários, mas sabe-se que
ao ser envolvido pelas chamas ele jurou vingança e desafiou o rei e o papa a enfrentá-lo no
tribunal de Deus no prazo de um ano e um dia. Em menos de cinco semanas, em 20 de
abril, o papa Clemente V morreu de uma longa e penosa doença que o afligira durante todo
o seu pontificado. E nesse mesmo ano o rei Felipe TV também morreu, em 29 de
novembro, em conseqüência de uma queda de cavalo durante uma caçada.
A suposta sobrevivência do segredo dos templários ao longo de séculos abriu caminho para
que representantes da Ordem se sentissem vingados pela morte de Jacques de Molay. Com
o sentimento de uma profecia percebida tardiamente, James de Molay passou a ser
lembrado como aquele que lançou sua maldição sobre a cabeça do rei e do papa. A queda
da dinastia dos Capeto e a umilhação da Igreja Católica na França viriam com a Revolução
Francesa: uma conspiração secreta dos templários levada a cabo pelos maçons. Era no que
acreditavam alguns elementos mais conservadores da França, entre eles Charles de
Gassicour, o autor de Tambeau de Jacques Molay, publicado em 1796. Descrevendo a
morte de Luís XVI na guilhotina, Gassicour diz que uma voz se ergue na multidão e grita:
“Jacques de Molay, estás vingado!” — talvez um raivoso maçom, ou um templário, cuja
organização subversiva transtornava a ordem estabelecida. Gassicour também nos diz que
Jacques de Molay fundou quatro lojas, uma delas em Edimburgo; que os templários /
maçons tinham ligação com os Assassinos e o Ancião da Montanha; que eles sustentavam
Oliver Cromwell e que tomaram a Bastilha.

Outras vozes somam-se a essa mesma história. Por exemplo, em 1797 o abade Augustin
Barruel publica Memoirs, um relato sobre a Revolução Francesa que vincula a Maçonaria
aos templários extintos, quando...
um certo número de cavaleiros culpados, que, livrando—se do desterro,
se unem para preservar seus terríveis mistérios. Ao seu código ímpio foi
acrescentado o voto de vingança contra reis e padres que prejudicaram
sua Ordem, e contra toda a religião que anatematizou seus dogmas. Eles
atraem novos adeptos para transmitir de geração a geração o mesmo ódio
ao Deus dos cristãos, aos reis e aos padres.
Dirigindo-se diretamente aos maçons, ele continua:
Esses mistérios foram entregues a vós, que perpetuais sua impiedade, seus
votos e suas promessas. Essa é a vossa origem. O lapso de tempo e a
mudança de comportamento alteraram parte de vossos símbolos e vossos
sistemas temerários, que permanecem em essência, como também
permanecem os mesmos: os votos, o ódio, as promessas e as conspirações.
Mais tarde Barruel inclui os judeus na conspiração, vendo-os como o poder supremo por
trás dos templários e dos maçons, os grandes manipuladores de qualquer coisa que
acontecesse na Europa — a mesma teoria da conspiração que culminou nos fornos a gás do
Terceiro Reich.
Barruel estava exilado da França revolucionária quando publicou suas Memoirs em
Londres, onde foi político o bastante para agradecer ao governo britânico por lhe dar asilo e
declarar que as perigosas atividades maçônicas não se aplicavam aos respeitáveis maçons
da Grã-Bretanha. O governo britânico aceitou as desculpas. Preocupados com o vírus da
Revolução Francesa e dos boatos sobre a pretensa participação da maçonaria na sua
condução, em 1799 os britânicos aprovaram a Lei Contra as Sociedades Ilícitas, que excluía
especificamente a Maçonaria da legalidade.
UMA HISTÓRIA ESCOCESA SOBRE OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS
Durante o século XVIII e início do século XIX assistiu-se a uma explosão de ordens, graus
e sociedades, entre elas sociedades beneméritas que sobrevivem até nossos dias, como a
Odd fellows e a Royal Antediluvian Order of Buffaloes, e de grupos espirituais como os
druidas, dados à adoração de natureza panteísta, tal como os druidas celtas da Era do
Bronze. Por volta de 1800 já havia centenas, talvez mais de mil, organizações na Grã-
Bretanha que, como os maçons, incorporavam histórias antigas. A Oddfellows, por
exemplo, atribuía suas origens espirituais aos judeus que se exilaram na Babilônia por volta
de 586 a.C. Além dessas organizações, havia outras ordens e graus, cerca de trinta ao todo,
que, embora se dissessem maçônicas, em geral funcionavam não oficialmente nas lojas
locais, como a dos cavaleiros templários. Cavalaria e misticismo estavam na moda, e,
mesmo que num primeiro momento as Grandes Lojas inglesa e escocesa rejeitassem os
cavaleiros templários como uma corruptela estrangeira, no Romantismo eles se tornaram
uma moda irresistível e acabaram aceitos dentro da Maçonaria britânica.
Em 1843 a Ordem Escocesa dos Cavaleiros Templários publicou a Historical Notice of lhe
Order (Notificação Histórica da Ordem), que foi escrita pelos próprios templários
maçônicos es coceses para explicar suas origens:
É aceito por todos, até pelos franceses, que os templários se uniram sob o
estandarte de Robert de Bruce e lutaram pela causa até o final da Batalha
de Bannockburn, em 1314, para levá-lo ao trono com segurança. Ele não
foi um monarca ingrato.
A explicação seria que, após a expulsão dos cavaleiros templários na França, os templários
escoceses deram apoio a Robert de Bruce em sua guerra pela independência contra os
ingleses e que na Batalha de Bannockburn, em 24 de junho de 1314, três meses após a
morte de Jacques Molay na fogueira, uma tropa de templários atacou a Inglaterra no
momento decisivo e garantiu a vitória aos escoceses. Em gratidão, Robert de Bruce
protegeu-os, assimilando-os em uma nova Ordem, a dos maçons.

A “história tradicional’ inventada pelos maçons em 1843


diz que os templários ajudaram Robert de Bruce a vencer a
Batalha de Bannockburn em 1314

Mas nada disso foi registrado por algum cronista escocês da época. Tudo foi feito no século
XIX. Os templários maçônicos escoceses fizeram o que os maçons costumavam fazer:
inventaram uma tradição, uma conexão com o passado, sempre muito lisonjeira para a
maçonaria escocesa. Tais invenções jamais pretenderam ser histórias factuais. Quem
explica isso é Robert Cooper, maçom e curador da Grande Loja da Escócia em Edimburgo,
em seu livro The Rosslyn Hoax?:
Há inúmeras ramificações no interior da Maçonaria. Cada uma tem sua
própria “história”, sua história tradicional, para explicar aquela parte
específica do sistema maçônico... O Royal Arch Chapter tem relação com o
prédio de um segundo templo conhecido como Templo de Zerubabel. Outro
ramo da Maçonaria adota a história tradicional de Helena, mãe de
Constantino, e sua busca pelo local em que Cristo foi crucificado... Todas
as ramificações da Maçonaria têm, portanto, uma “história tradicional”
para basear suas cerimônias. Outros detalhes também são considerados (os
maçons escoceses acham exótico o Templo de Jerusalém); o Templo do Rei
Salomão deu grande prestígio a um grupo de honestos trabalhadores...
Nenhuma história tradicional dos vários ramos da Maçonaria pretendeu, ou
pretende, ser tomada literalmente. Os antepassados das nossas Ordens
Maçônicas fabricaram belos "passados" com propósitos alegóricos. Eles o
fizeram movidos por seus ideais românticos, mas sabiam que tais histórias
fabricadas por eles, e para eles, não eram verdadeiras.
Mas muita gente, maçons ou não, não soube separar fato de fantasia. Por exemplo, em sua
History of Free Masonry (História da Livre Maçonaria), publicada em Edimburgo em 1859,
Alexander Laurie, que era maçom, escreveu: “Será necessário dar algum crédito aos
cavaleiros templários, à fraternidade dos maçons, cujas riquezas e virtudes despertaram a
inveja de seus contemporâneos e cujo fim dramático e injusto excitou com frequência a
compaixão da posteridade. Provar que os cavaleiros templários era um braço da Maçonaria
seria trabalho inútil, pois o fato tem sido invariavelmente reconhecido pelos próprios livres
maçons, e nenhum deles teve mais zelo em demonstrá-lo que os próprios inimigos da
Ordem”.
Evidência e prova eram irrelevantes para Laurie. Ele afirmou que não era necessário provar
que a ordem medieval dos cavaleiros templários fosse um ramo dos maçons porque os
maçons já sabiam disso, como também o sabiam os inimigos da Maçonaria, gente como o
abade Barruel.
O mito dos cavaleiros templários começava a ganhar a sua forma moderna. A ordem
medieval sobrevivia, mas sob outro aspecto. A Batalha de Bannockburn era um elemento
central do mito. O que faltava era um lugar central, que começou a ser inventado em 1982
com a publicação de The Holy Blood and lhe Holy Graal (O Sangue Sagrado e o Santo
Graal) e prosseguiu em “histórias alternativas” como The Hiram Key (A Chave de Hiram),
escrito por dois maçons (Robert Lomas e Christopher Knight), The Templar Revelation (A
Revelação do Templário) e, claro, O Código Da Vinci, de Dan Brown, que é uma síntese
romanceada de todas essas pseudo-histórias. Todas elas incluem no mito a Capela Rosslyn,
ao sul de Edimburgo, e os St. Clair, a família à qual a capela pertencia.

Os Sinclair (que hoje se chamam St. Clair, na Inglaterra) eram templários, e a Capela
Rosslyn tornou-se um repositório dos tesouros e segredos dos templários ou de algum forte
objeto icônico como a cabeça embalsamada de Jesus Cristo, a Arca da Aliança ou o Santo
Graal. E por aí vai.

OS TEMPLÁRIOS DESCOBREM A AMÉRICA


Os templários descobriram a América. A prova está na Capela Rosslyn, que é ricamente
decorada com entalhes. Alguns desses elementos decorativos foram identificados como
milho, planta nativa da América do Norte, outros como “cacto agave”, descrita como planta
do Novo Mundo. A Capela Rosslyn foi construída em 1456; quem quer que tenha feito
esses entalhes em Rosslyn já tinha conhecimento da América quase cinqüenta anos antes da
chegada de Cristóvão Colombo em 1492.
Esse fato também explica a existência de uma antiga torre de pedra em Newport, Rhode
Island. A Torre Newport é redonda e está construída sobre arcos redondos — alguns acham
que fazia parte de uma igreja redonda construída por colonos templários na América. Os
templários teriam chegado por volta de 1308, após a extinção da Ordem na França, fugindo
com sua frota de La Rochelle alguns foram para a Escócia, outros para o Novo Mundo; ou
chegaram na pessoa de Henry Sinclair, duque de Orkney, e seu filho e herdeiro Wililam
Sinclair, lorde de Rosslyn. Henry Sinclair era templário e foi encarregado de uma viagem
pelos irmãos venezianos Nicolo e Antonio Zeno, os quais, em mapas e cartas, disseram
mais tarde ter chegado à Nova Escócia pela Groenlândia em 1389 e explorado parte da
costa norte-americana, mais de cem anos antes da viagem de Colombo.
Mas há problemas nesse relato que foram levantados pela primeira vez por Christopher
Knight e Robert Lomas, autores de The Hiram Key (A Chave de Hiram) publicado em
1996 e elaborados por outros. Para os autores, os entalhes decorativos identificados como
milho não são milho. O “cacto agave” que se vê em Rosslyn pode ser qualquer outra planta;
novamente, a identificação se limita à mera opinião dos autores. E agaves não são cactos;
são suculentas; são nativas da Africa, não da América; e certamente não sobreviveriam na
Nova Inglaterra, onde os invernos são rigorosos. A Capela Rosslyn foi construída em 1456,
e os entalhes só foram feitos depois que ficou pronta. Eles não foram feitos nas pedras
estruturais, mas separadamente e incluídos mais tarde, ou seja, foram “sobrepostos”, razão
pela qual as datas não são confiáveis.
Quanto à Torre Newport, foi construída como um moinho de grãos no século XV e é
mencionada no testamento do proprietário em 1677 como “meu Moinho de Vento feito de
pedra”. Dois estudos arqueológicos feitos na torre, um em 1951, outro em 2006, concluíram
que ela foi construída em 1650 e 1670. Os irmãos Zeno ficaram conhecidos por intermédio
das cartas e dos mapas publicados em 1558, mais de 150 anos após a suposta viagem, mas
muitos consideram falsos esses documentos. As cartas não mencionam Henry Sinclair, mas
falam de alguém chamado Zichmni, o comandante da expedição, que só com algum esforço
e muita imaginação poderia ser identificado com Sinclair. Tudo se resume a um artigo
publicado no New Orkney Antiquarium Journal em 2002.
Henry Sincluir, um duque de Orkney do final do século XIV não foi à
América. Passaram-se quinhentos anos de sua morte para que alguém
sugerisse que tivesse ido, O texto do século XVI que levantou todas
essas asserções sobre Henry e a América não afirma nada disso. Mas
diz, em muitas palavras, que alguém chamado Zichmni e seus amigos
fizeram uma viagem à Groenlândia. Nenhum contemporâneo próximo a
Henry Sinclair jamais afirmou que ele tivesse ido à América,’ tampouco
o disseram os estudiosos que escreveram sobre ele no século XVII,
embora afirmassem vários outros absurdos a seu respeito. A história é
um mito moderno, baseada em leituras desatentas, interpretações
tendenciosas e até distorcidas, e nos últimos cinco anos ganhou
proporções exageradas.
Em uma versão dessa “história alternativa”, a viagem dos templários à América é feita em
navios da sua própria frota, parte da mesma frota que partiu de La Rocheile ao norte da
França e chegou à Escócia. Mas essa frota tão decantada é ela própria um mito. Os
templários tinham, de fato, uma frota de navios que transportava peregrinos, suprimentos e
seu pessoal pelo Mediterrâneo, entre Marselha e Acre, mas nenhum deles fazia longas
viagens oceânicas nem tinha capacidade para carregar água para mais que alguns poucos
dias. Quanto aos seus navios de guerra, dificilmente a “frota” templária teria mais que
quatro galés. E, porque os templários concentravam suas atividades no Mediterrâneo e seu
principal porto era o de Marselha, é ainda mais improvável que seus navios, de qualquer
tipo, ficassem ancorados por muito tempo em La Rocheile.
Não obstante, a “frota templária” deu origem a outra invencionice. Quando a Ordem foi
extinta e os templários fugiram em seus navios, trocaram a cruz vermelha por um crânio
sobre posto por ossos cruzados e, vivendo como piratas em alto-mar, continuaram fazendo
oposição ao papado e às cabeças coroadas da Europa, com exceção do rei escocês.
A NOVA ORDEM MUNDIAL
Nos Estados Unidos existe uma lenda amplamente aceita de que os maçons estiveram por
trás da Guerra da Independência. Dizem que eles instigaram a resistência violenta aos
britânicos e desafiaram as tentativas de impor taxação sem representação organizando a
Boston Tea Party (Festa do Chá de Boston) em 1773; esboçaram a Declaração da
Independência em 1776; es tiveram à frente da Guerra Revolucionária; e participaram da
redação da Constituição em 1787.
Mas isso é um exagero. Alguns maçons talvez tenham participado da Festa do Chá, que foi
planejada por um grupo radical chamado Filhos da Liberdade. Do Comitê dos Cinco que
escreveram a Declaração da Independência, somente um, Benjamin Franklin, era maçom; a
Declaração foi quase toda redigida por Thomas Jefferson, que não era maçom. Dos 55
norte-americanos que assinaram a Declaração da Independência, apenas nove eram
maçons; e, dos 39 que aprovaram a Constituição, apenas 13 eram ou se tornaram maçons.
George Washington era maçom desde os vinte anos de idade, mas não levava a sério; ele
usava sua loja como clube e só participou de duas reuniões em 41 anos. As esferas
superiores da Maçonaria nas colônias norte-americanas eram pró-britânicas e a favor da
coroa, assim como um terço da população do país. Benedict Arnold, que venceu a primeira
grande batalha da guerra revolucionária para os norte-americanos em Saratoga, mas depois
foi derrotado pelos britânicos (tanto que nos Estados Unidos seu nome é sinônimo de
traição), era maçom.

George Washington com seu avental de maçom lança a pedra


fundamental do Capitólio, em Washington.

Já em 1793, na consagração do prédio do Capitólio, George ‘Washington, em suas


atribuições de primeiro presidente dos Estados Unidos, usou seu avental maçônico,
depositou uma salva de prata sobre a pedra fundamental e cobriu-a com os símbolos
maçônicos do milho, óleo e vinho. A inscrição na salva de prata identificava a nova
república com a Maçonaria com absoluta clareza: a pedra fora lançada, segundo a
inscrição, “no 13° ano da independência norte-americana e no ano da Maçonaria de 5793”
— sendo esse o número de anos geralmente aceito da criação do mundo por Deus. Após a
conclusão vitoriosa da Guerra da Independência, e por toda a geração seguinte, a
Maçonaria foi amplamente considerada a pedra fundamental da república. A explicação
está na criação do exército revolucionário comandado por Washington. Seus oficiais
reunidos em uma diversidade de origens regionais, religiosas e sociais tiveram que assumir
grandes responsabilidades. A Maçonaria era muito popular entre os oficiais do exército
britânico na América do Norte, e o exército revolucionário continuou a prática de fundar
lojas militares, que eram muito respeitadas. Os ideais de honra e fraternidade da Maçonaria
eram a base da camaradagem entre os oficiais britânicos tão necessária para a
sobrevivência do exército e, portanto, da república norte-americana.
Mas para os mitômanos é muito mais que isso. O prédio monumental que abrigaria o
Senado e a Câmara dos Deputados em Capitol Hill fazia parte de um grande projeto para
toda a cidade, apresentado em 1791 por Pierre Charles L’Enfant, um francês que servira ao
general George Washington como engenheiro militar na guerra revolucionária. Embora
Washington o tenha indicado para projetar a nova cidade, L’Enfant não era maçom, mas os
teóricos da conspiração insistem que sim: dizem que o padrão de grade das ruas
sobrepostas por avenidas diagonais formam uma série de padrões maçônicos que
reproduzem o padrão das estrelas. A harmonia entre o céu e a terra influenciaria os
habitantes da cidade, a capital da nova república. Da mesma maneira que o deus Shalem se
manifestara no monte Ofel em uma noite estrelada, confirmando Jerusalém como a Terra
Santa, Washington se tornaria a Nova Jerusalém, e suas atividades seriam abençoadas
graças à sua relação com o mundo espiritual simbolizado pelas estrelas.
Importantes símbolos maçônicos também foram identifica dos no Grande Selo dos Estados
Unidos, reproduzido no verso da nota de dólar. O selo foi encomendado pelo Congresso a 4
de julho de 1776, imediatamente após ter sido votada e aprova da a Declaração da
Independência, mas ainda passaria por três comitês e levaria seis anos para ganhar o seu
desenho definitivo. Benjamin Franklin, que participou do primeiro comitê, era o único
maçom e sua sugestão não-maçônica de que o selo representasse a fuga dos judeus da
tirania do faraó foi rejeitada. O anverso do selo exibe uma águia com treze flechas e um
ramo de oliva com treze folhas e treze frutos presos em suas garras; a águia é defendida por
um escudo com treze listras, e sobre a cabeça, treze estrelas estão dispostas tal como no
Selo de Salomão e são conhecidas como Estrelas de Davi. O número treze representa as
treze colônias originais do país que se rebelaram contra a Grã-Bretanha e se uniram para
formar os Estados Unidos. A frase “E Pluribus Unum” significa “De Muitos, Um”. A
disposição das estrelas também levantou especulações, mas o simbolismo bíblico e
hebraico era tão comum nos séculos XVIII e XIX quanto o simbolismo clássico. Charles
Thomson, um latinista que trabalhava na Secretaria do Congresso e é o autor de várias
idéias para o selo na sua aparência final, explicou que “a constelação de estrelas denota um
novo Estado se posicionando e se inserindo entre os demais poderes soberanos”.
No reverso do selo há uma pirâmide sobreposta por um olho. A pirâmide tem treze fileiras
de tijolos e traz na base a inscrição MDCCLXXVI. Há duas divisas, uma sobre o olho,
outra embaixo da pirâmide. Novamente, Charles Thomson tem a explicação: “A pirâmide
significa força e duração: o olho sobre ela e a divisa Annuit Coeptus [ Favoreceu Nossos
Esforços] faz alusão às muitas intervenções da Providência em favor da causa norte-
americana. A data embaixo é a da Declaração da Independência, e as palavras Novus Ordo
Seclorum [ Nova Ordem das Eras] significam o início da nova era norte-americana em
1776”.
Mas as “histórias alternativas” e os teóricos da conspiração vêem as coisas de outra
maneira. Dizem que a pirâmide e o olho no verso do Grande Selo são maçônicos e
escondem um código. Os estudiosos da Maçonaria negam que o selo seja um emblema
maçônico ou que oculte símbolos maçônicos. E a pirâmide certamente não tem nada de
maçônica. Mas o olho faz parte das imagens maçônicas e está presente no avental da
Maçonaria usado por George Washington.
A questão, porém, é que não há nada que seja especificamente maçônico no olho que tudo
vê, e fazia parte da iconografia cultural dos séculos XVII e XVIII. Por exemplo, em 1614 o
frontispício da História do Mundo de Sir Walter Raleigh trazia um olho envolto por uma
nuvem onde se lê a palavra “Providentia”, contemplando o globo do alto. Não obstante,
para os chegados em uma teoria da conspiração o significado é outro qualquer. Para Robert
Langdon, o herói de Anjos e Demônios de Dan Brown, novus ordo seclorum se traduz em
“nova ordem secular”, enquanto para outros preconiza a “nova ordem mundial” anunciada
por George H.W. Bush na sessão conjunta do Congresso, quando Saddam Hussein invadiu
o Kwait e os Estados Unidos formaram uma coalizão para expulsar as forças iraquianas.
“Nestes tempos perturbados”, Bush falou ao Congresso, “pode emergir o nosso quinto
objetivo, uma Nova Ordem Mundial, a nova era”. O discurso foi feito no dia 11 de
setembro de 1990, exatamente 11 anos antes daquele outro “11/09”.
Mórmons, maçons e o segredo do Templo de Salomão
Em 1844, quando Joseph Smith, o fundador dos mórmons, foi atacado por um bando em Illinois,
mal conseguiu gritar “Oh, Senhor, meu Deus” antes de levar um tiro e morrer. Essas são as palavras
iniciais de um reconhecido brado de pesar entre os maçons — “Oh, Senhor, meu Deus, não há
esperança para o filho da viúva?” A frase é tirada de um ritual praticado pelos maçons que são
admitidos no terceiro grau, o do mestre maçom, que lhes permite participar plenamente de todos os
aspectos de sua irmandade. O drama central desse ritual de iniciação é o assassinato de Hiram, “o
filho da viúva” bíblico, chamado pelos maçons de Hiram Abiff. O iniciado representa os
sofrimentos de Hiram Abiff, que ao jurar guardar os segredos maçons com a própria vida, clama:
“Oh, Senhor, meu Deus, não há esperança para o filho da viúva?”
Joseph Smith era maçom, como também eram seu irmão e seu pai, seus muitos amigos e
correligionários. Brigham Young, que sucedeu Smith na liderança dos mórmons e levou-os para
Utah para fundar Salt Lake City também era maçom. O mormonismo e a Maçonaria nos Estados
Unidos germinaram no mesmo solo. Há, de fato, vários paralelos entre mormonismo e Maçonaria,
como os graus de elevação, os tesouros sagrados que estão ocultos na terra, um interesse por Israel
e Egito antigos, trajes simbólicos, gestos secretos de reconhecimento e a crença no papel criativo de
um ser supremo.

"Oh, Senhor, meu Deus, não há esperança para o filho da viúva?” é o brado
de pesar dos maçons e se refere ao assassinato de Hiram Abiff. Joseph Smith,
fundador dos mórmons, começou a dizer essa frase antes morrer com um tiro
em 1844.
As duas organizações também usam extensivamente imagens como a colméia, o esquadro e o
compasso, o olho onipresente, as duas mãos direitas entrelaçadas, e o sol, a lua e as estrelas.
Particularmente, as lendas maçônicas sobre uma palavra sagrada perdida, que um dia foi gravada na
salva triangular de puro ouro, afetou profundamente a família Smith, que se tornou conhecida por
suas atividades de caça ao tesouro. E é nessa salva de ouro desenterrada por Joseph Smith no estado
de Nova York que estão as palavras do Anjo Moroni, traduzidas e publicadas no seu Livro do
Mórmon, o evangelho da nova fé, do qual ele era o profeta. A missão dos mórmons é recuperar a
verdadeira revelação que se perdeu após a morte de Jesus. E, segundo os mórmons, seus símbolos e
rituais foram dados por revelação divina e se originaram no Templo de Salomão.
CRÂNIOS E OSSOS
Alguns acreditam que Nova Ordem Mundial (Novus Ordo Mundi) signifique uma
organização construtiva das questões mundiais através de instituições como as Nações
Unidas. Para outros, é uma conspiração de um grupo pequeno e fechado que tem como
objetivo neutralizar e eliminar os estados soberanos, restringir as liberdades individuais e
estabelecer um governo mundial que só preste contas a si mesmo. Esta última concepção
tem muito em comum com o que acreditavam Charles de Gassicour e o abade Barruel, para
os quais a Revolução Francesa era a culminância de um antigo complô histórico de
templários e maçons que tinham pactos com todos, dos assassinos aos judeus.
Segundo os teóricos da conspiração, a infraestrutura dessa Nova Ordem Mundial já está
instalada em organizações como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o
Conselho de Relações Exteriores, a Comissão Trilateral, o Grupo Bilderberg, a Otan, a
União Européia — e também as Nações Unidas. Eles citam o discurso de David
Rockefeller proferido no Conselho de Comércio das Nações Unidas em setembro de 1994:
“Estamos à beira de uma transformação global. Só precisamos de uma grande crise para
que as nações aceitem a Nova Ordem Mundial”. Mas a frase é sempre citada fora de
contexto, em supostas ligações com fatos como o ocorrido em 11 de setembro, quando de
fato Rockefeller referia—se à necessidade de agir em conjunto contra o aquecimento global
e a superpopulação.
Os ataques de 11 de setembro de 2001 são vistos como uma conspiração, sendo comum a
versão de que foram uma operação conjunta de elementos do governo dos Estados Unidos
e do Mossad, o serviço secreto de Israel. Os maçons também têm sua responsabilidade,
como se vê neste texto extraído do site de um ex-oficial da Força Aérea Norte-Americana e
professor de sistemas aeroespaciais:
O que aconteceu em 11 de setembro de 2001 foi nada menos que um
ritual satânico elaborado, cuidadosamente arquitetado e
dinamicamente representado. Acredito que o desmoronamento das
torres gêmeas do World Trade Center tenha sido um sacrifício de
sangue... Representou—se ali uma variação satanicamente energizada
do ritual do terceiro grau da Maçonaria — o grau de mestre maçom
— em que o candidato (representando o papel de Hiram Abif o
anticristo) deitado em um caixão é erguido pelas fortes garras da Pata
do Leão. É lembrado no ritual que os dois pilares (as torres), Jachin e
Boaz, ruíram e devem ser restaurados O que transpirou em 11 de
setembro foi uma cerimonia de magia negra cuja intenção era
restaurar o Templo de Salomão em Jerusalém e reerguer os dois
pilares derrubados...
Para que um grupo pequeno e ultrafechado promova a Nova Ordem Mundial não é preciso
ir além do campus da Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut. Na High Street,
um prédio greco-egípcio sem janelas, popularmente conhecido como Tumba, abriga a
Order of Skull and Bones (Ordem da Caveira e dos Ossos). Embora sejam conhecidos
como "bonesmen” no mundo exterior, internamente eles se tratam como cavaleiros e seus
símbolos, o crânio e os ossos, são os mesmos que os cavaleiros templários teriam adotado
no lugar da cruz vermelha. Em qualquer caso, se você fosse Dan Brown, eis uma coisa que
deveria pesquisar para o seu próximo romance.
A Skull and Bones foi fundada em 1832 como rivais da fraternidade Phi Beta Kappa. Mas
são, de fato, organizações muito diferentes. Nos anos 1830 a Phi Beta Kappa estava
presente em sete universidades (e hoje se estende a quase trezentas), enquanto a Skull and
Bones continua exclusiva de Yale. A Phi Beta Kappa recruta seus membros entre os
calouros e em qualquer momento conta com meio milhão de membros; já a Skull and
Bones não tem mais que oitocentos e não aceita novos membros até o último ano de
faculdade, quando já se pode identificar quem ocupará cargos de excepcional importância
no futuro.
Dizem que originalmente a Skull and Bones era a facção norte-americana de uma
organização estudantil alemã chamada Clube Eulogiano, de Eulogia, a deusa da eloqüência.
A história, porém, seria uma fachada. Alguns anos antes, em 1826, um maçom chamado
William Morgan foi assassinado em Nova York supostamente por revelar segredos
maçônicos, e provocou revolta e reação populares tão fortes que a Maçonaria simplesmente
desapareceu dos Estados Unidos. Se alguém quisesse fundar uma loja maçônica, o melhor
que tinha a fazer era disfarçá-la de qualquer outra coisa. Ninguém sabe explicar por que o
crânio e os ossos foram escolhidos como símbolos. Dizem que o número “322” que se vê
inscrito no prédio é o ano da morte do grande orador Demóstenes, mas “32” também pode
ser o ano em que a ordem começou, e o número “2” final significa a segunda facção, atrás
da original alemã.
O convite para ingressar na Skull and Bones é feito com um tapa no ombro, quando o
relógio da torre bate oito horas e o bonesman pergunta: “Skull and Bones, aceita ou
rejeita?”. O presidente William Howard Taft e vários
juízes da Suprema Corte e outras figuras importantes
do governo dos Estados Unidos pertenceram à Ordem.
Mas pouco se sabe o que acontece internamente, por
que o juramento de guardar segredo é levado muito a
sério. Se alguém perguntar ao presidente George W.
Bush sobre essa fase de sua vida, ele dirá apenas: “No
meu último ano ingressei na Skull and Bones, mas a
sociedade é tão secreta que não posso dizer mais
nada”. Quando perguntaram ao senador John Kerry,
adversário de Bush nas eleições presidenciais de 2004,
o que era ser um bonesman, ele respondeu: “Não é
nada, porque é segredo”. O pai de George W. Bush,
George H. W. Bush, também era bonesman; ele governou o país de 1988 a 1992, mas antes
foi diretor da CIA. Se não é verdade que a OSS, que precedeu a CIA, foi fundada por
bonesmen, ao menos a Skull and Bones pode se orgulhar de que um número
desproporcionalmente grande de alunos, os chamados patriarcas, esteja nos serviços de
inteligência e ocupe altos cargos no governo e entre o empresariado.
Os teóricos da conspiração veem a Skull and Bones como a proponente de uma Nova
Ordem Mundial motivada pela filosofia hegeliana que acredita na supremacia do Estado e
que a mudança só pode ser gerada pelo conflito, já infiltrado em todos os grupos de
controle da elite dos Estados Unidos. Um jornalista que tentou obter informação interna foi
advertido: “Eles não gostam de bisbilhoteiros. O poder dos bones é incrível. Eles têm nas
mãos todos os mecanismos de poder do país. É como querer espiar a Máfia por dentro”.
Mas George W. Bush desconversa e diz que “são acusações do tipo ligue-os-pontos e é
praticamente impossível refutar”.

TEMPLÁRIOS PARA SEMPRE


A história dos templários começa na sua formação em Jerusalém em 1119 e termina com a
sua extinção dois séculos mais tarde na França. Mas há outra versão que determina sua
origem três mil anos antes no monte Ofel e segue pelo futuro. O sigilo dos templários, sua
natureza híbrida como monges com espadas, os mundos exóticos que conheceram, o
romance e a queda súbita são mistérios que permanecem sem solução porque o
desaparecimento de seus arquivos os fizeram crescer na imaginação popular, onde
sobrevivem e vicejam. A forte associação com a Igreja do Santo Sepulcro e o Monte do
Templo ampliou as dimensões espirituais da Ordem e acrescentou camadas de história,
lenda e mito. Românticos e maçons, charlatães e lunáticos, radicais e reacionários, cristãos,
judeus e muçulmanos, todos contribuíram para a sua história.
Assim como a busca de relíquias sagradas na Idade Média pôs os objetos mais improváveis
nos lugares mais convenientes, também as falsas histórias e os romances fantasiosos
farejam dinheiro e acrescentam novos locais, fatos e concepções ao mito — a Escócia e a
Revolução Francesa já têm participação bem definida, e a dos Estados Unidos ainda vem
sendo desenvolvida. Não seria surpresa um salto iminente de Rosslyn a Washington,
passando por Rhode Island, Salt Lake City e New Haven.
Em O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco, os editores estão planejando uma nova série
de livros que agrade a acadêmicos, ocultistas e teóricos da conspiração, que “nestes tempos
obscuros ofereça algo para se acreditar e vislumbrar o além”, e renda algum dinheiro. Um
deles sugere pegar várias teorias, alimentá-las em um computador, “por exemplo, os
templarios fugiram para a Escócia, ou o Corpus Hermeticum chegou a Florença em 1460”,
e acrescentar “algumas frases de ligação como ‘É óbvio que’ e ‘isso prova que”. E assim
começar aleatoriamente:
“José de Arimateia leva o Graal para a França”; “Segundo a tradição templária, Godofredo
de Bulhões funda o Grão-Priorado do Sião em Jerusalém”; “Debussy era rosacruciano”;
“Minnie Mouse é noiva de Mickey”. Não! Não se pode exagerar, adverte um editor, mas
outro replica: “Nós temos que exagerar Se admitimos que em todo o universo não há um
único fato que não revele um mistério, estaremos violando o pensamento hermético. “É
verdade”, diz o primeiro. “Minnie fica". E, se me permitem, acrescentarei um axioma
fundamental: os templários têm algo a ver com tudo isso.”
SOBREVIVENTES
As Novas Ordens

Um peregrino alemão visitou a Terra Santa em 1340 e encontrou dois anciãos nas
montanhas sobre as praias do Mar Morto. Os homens lhe disseram que tinham sido
templários, falaram das lembranças que guardavam da Ordem e dos companheiros
dizimados na batalha desesperada de Acre, no outono de 1291. Os dois anciãos foram
presos e por 50 anos viveram como lenhadores, afastados da Cristandade ocidental.
Quando o peregrino os ajudou a retornar à França, eles ficaram sabendo que os
templários não existiam mais, e o último grão-mestre fora queimado na fogueira como
herege. Mesmo assim, os dois anciãos foram respeitosamente recebidos pela corte
papal em Avignon e viveram o tempo que lhes restava de vida na paz e no conforto.

Restaram poucos templários vivos naquela época. Uns sobreviviam precariamente nas
masmorras reais da França, outros se recolheram no silêncio dos mosteiros e pensionatos,
alguns se tomaram mercenários ou se casaram. A época da Ordem dos Cavaleiros
Templários coincidiu com o período de domínio espiritual e temporal universal do papado,
mas agora a Europa era um novo mundo de nações-Estado em ascensão. Quando aqueles
dois templários retomaram à França das praias do Mar Morto a Ordem a que eles
pertenciam e o mundo que defenderam por duzentos anos já não existia mais.

A SOBREVIVÊNCIA DOS HOSPITALÁRIOS

É bem possível que os cavaleiros hospitalários tivessem estranhos rituais similares aos que
eram praticados pelos templários, e assim mesmo sobreviveram a estes últimos e até se
beneficiaram com o fim deles porque adquiriram grande parte de suas propriedades. Talvez
tenham sido poupados da avareza e ambição de Felipe IV por estarem aquartelados na ilha
de Rodes, mas isso não explica tudo, porque a maioria das suas propriedades ficava na
França. Já em 1312, Felipe fazia ameaças ruidosas de “reformar” os hospitalários, e nesse
mesmo ano, como que para devolver a voz ativa ao papado, Clemente V anunciou seu
próprio inquérito e um programa de reformas. Mas tanto Felipe IV quanto Clemente V
morreram no mesmo ano que Jacques de Molay, fato que pode ter salvado os cavaleiros
hospitalários.

Embora não tenham sido formalmente acusados de heresia, blasfêmia e sodomia, a


atmosfera acusadora contra os templários acabou atingindo a reputação dos hospitalários.
Até o papa Clemente VI, que adotou o mesmo nome do Clemente anterior que tudo fizera
para salvar os templários, escreveu com tristeza em 1343 que era “a opinião quase unânime
entre clérigos e leigos” que os hospitalários não tinham feito nada para ampliar os
interesses da Cristandade e promover a fé.

Não obstante, os hospitalários permaneceram na ilha de Rodes até serem expulsos pelos
turcos otomanos em 1522. En tão se refugiaram em Malta, onde resistiram a cinco meses de
cerco otomano, em 1565. Seis anos mais tarde os navios hospitalários integraram aquela
grande armada ocidental que derrotou a frota otomana em Lepanto, na costa oeste da
Grécia, a batalha que pôs um fim definitivo à agressão muçulmana iniciada na Terra Santa
havia noventa anos. Isolada em Malta, a ordem dos cavaleiros hospitalários ficou
debilitada; em 1792 a Assembleia Nacional Francesa confiscou suas terras, e em 1798 os
hospitalários não ofereceram resistência quando Napoleão 5 em Malta e expulsou-os da
ilha.

Os hospitalários dispersaram-se pela Europa, mas se reestruturam na Rússia, com o czar


como grão-mestre; na década de 1820 foi fundada a Soberana Ordem Hospitalária de São
João de Jerusalém, cujo objetivo era criar um exército mercenário para libertar a Grécia do
governo otomano. Mas a Ordem assumiu uma natureza inteiramente pacífica e caridosa, da
mesma maneira que suas ramificações na Grã-Bretanha (onde Henrique VIII confiscara a
propriedade da Ordem original), Alemanha e Itália,
Aqui, a Soberana Ordem de Malta tem sede em
Roma e status de membro observador das Nações
Unidas (como estado quase soberano).
Recentemente retornou a Malta, onde o governo
arrendou o Forte Sant’Angelo.

Na Grã-Bretanha, os atuais hospitalários — a


Ordem Hospitalária de São João de Jerusalém —
são uma organização de prestação de serviços, a
Saint John's Ambulance Brigade, que foi criada em
1887, mas em 1882 a Ordem já tinha o seu Saint
John’s Eye Hospital em Jerusalém. A Ordem tem
atividades na Grã-Bretanha, na Comunidade
Europeia e nos EUA, e sua sede está em St. John’s
Gate em Clerkenwell, Londres — a antiga portaria
do medieval Grão-Priorado dos Cavaleiros
Hospitalários.
A sede da atual Ordem do Hospital de
São João em Jerusalém está OS TEMPLÁRIOS NA GRÃ-BETRANHA
no St. John’s Gate em Londres.
Em 1307, quando Felipe TV da França ordenou a
extinção dos templários, Eduardo II da Inglaterra considerou implausíveis as acusações
feitas contra eles e as desprezou. Embora pressionado pelo rei da França e pelo papa,
Eduardo resistiu à Inquisição, que não tinha nenhuma sustentação nas leis inglesas. Por fim
os templários tiveram permissão de fazer a declaração pública “Estou gravemente
difamado” pelas acusações, e só por isso, e não porque fossem culpados, todos pediram e
lhes foi prometida a reconciliação com a Igreja, e foram viver na paz e na tranquilidade de
alguma fundação monástica. O rei também não tinha interesse em devolver as propriedades
dos templários à Igreja, sob o argumento de que tinham sido doadas à nobreza inglesa e
caberia a ela devolvê-las. Embora os hospitalários recebessem algumas propriedades dos
templários, o rei sentiu-se livre para redistribuí-las como bem quisesse. A reintegração das
propriedades dos templários no tecido da vida inglesa ajuda a explicar por que tanta coisa
do passado dos tem plários sobrevive até hoje.

A Escócia se envolveu em uma série de guerras quando os dias dos templários chegavam
ao fim. Robert de Bruce assassinara seu rival John Comyn, lorde de Badenoch, em 1306,
ato que colocou escocês contra escocês mesmo quando Bruce com bateu as forças inglesas
chefiadas por Eduardo TI, para libertar a Escócia. Finalmente a Batalha de Bannockburn
em 1314 — ano em que Jacques de Molay foi queimado na fogueira — resultou na
conquista da independência escocesa pelos séculos vindouros. Em anos recentes os autores
da “história alternativa” atribuem aos templários um papel mais importante nesses eventos
e defendem a sua sobrevivência marginal ou disfarçada, por exemplo, como maçons. Essas
especulações serão examinadas no capítulo seguinte, “Conspirações”.

No mundo mais prosaico da realidade, o destino dos templários na Escócia, bem como na
Inglaterra, não foi a punição, mas a dissolução da Ordem e a doação de grande parte de
suas terras aos hospitalários. Mas a propriedade original das terras jamais foi esquecida,
porque até hoje elas são designadas nas transações como “Templarland” (Terra dos
Templários).

ESPANHA - A ORDEM DE MONTESA

Os templários também foram muito bem recebidos na Espanha pela valiosa ajuda que
deram na longa luta para expulsar os árabes da península Ibérica. Mesmo condenados por
heresia e outros crimes na França, os templários julgados em Aragão foram inocentados.

Apesar dos protestos do rei Jaime II de Aragão, a bula do papa Clemente que extinguia a
Ordem não podia ser contestada. Mas Jaime não permitiu que as propriedades templárias
em Aragão e Valência passassem para os hospitalários. Para impedir que isso acontecesse,
em 1317, com a permissão do papado, o rei criou a nova Ordem de Montesa — um corpo
essencialmente igual ao dos templários —, que herdou os bens dos antigos templários e
encarregou-se de defender as fronteiras. Os templários continuaram, então, na Espanha com
outro nome. Mais 175 anos se passaram até que Fernando de Aragão e Isabel de Castela
expulsassem os últimos invasores muçulmanos de Granada em 1492 e durante todo esse
tempo os descendentes dos templários sempre tiveram um importante papel. A Ordem
entrou em declínio logo em seguida, e em 1587 Felipe II incorporou a sala do grão-mestre à
da coroa.

A ORDEM DE CRI STO EM PORTUGAL


Em Portugal, a contribuição dos templários para a emergência e a independência do reino
em suas guerras contra a ocupação muçulmana não foi esquecida. Em 1319, com a
permissão papal, o rei português dom Dinis reinstituiu os templários como Ordem de Cristo
(Ordem dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo), e após quatro anos de negociações o
papa João XXII autorizou-a a herdar os bens dos templários. Mais que isso, em 1357 a
Ordem de Cristo, que a princípio estabeleceu-se no Algarve, foi transferida para os antigos
quartéis templários em Tomar, a nordeste de Lisboa, cuja magnífica rotunda e domo foram
inspirados na Igreja do Santo Sepulcro de Constantino. Em essência, a Ordem de Cristo era
os templários com outro nome; a principal diferença é que, além dos votos de pobreza e
castidade, os cavaleiros juravam obediência ao rei; nacionalizados, eles passaram a servir
aos interesses da coroa portuguesa.

Sucessivos reis de Portugal nomearam príncipes e outros protegidos como grão-mestres da


nova Ordem. O principal deles foi o príncipe Henrique, o Navegador, nomeado em 1418,
que usou o dinheiro da ordem para findar a escola de navegação de Sagres. Foi onde surgiu
a primeira grande onda de viagens exploratórias, também financiadas pela Ordem, à costa
da África, ao redor do Cabo da Boa Esperança e por fim à Ásia. Vasco da Gama, que
descobriu a rota marítima contornando a África em 1497, pertencia à Ordem, e a cruz
templária, adotada pela Ordem de Cristo, podia ser vista nas velas dos navios portugueses
que viajaram ao Brasil, à Índia e ao Japão. No final do século XV a Ordem possuía 454
jurisdições de comando em Portugal, África e nas Índias. Não é exagero dizer que a fortuna
dos templários, agora aplicada aos objetivos do príncipe Henrique, o Navegador, inaugurou
uma nova Era das Descobertas, que transformaria o mundo — e descortinaria o Novo
Mundo — pelos próximos quatro séculos.

O príncipe Henrique, o Navegador, e outras personagens portuguesas da


Era dos Descobrimentos sã homenageados neste monumento em Lisboa. Os
templários, reinstituídos em Portugal como Ordem de Cristo, tiveram
importante papel no financiamento das explora que resultaram na
descoberta do Novo Mundo.

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