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Para muita gente da época, a destruição dos templários foi inexplicável. Como uma
organização tão importante e poderosa, aparentemente dedicada à defesa da
Cristandade e digna da proteção do papado pôde ser condenada por blasfêmia,
heresia e sodomia — acusações pressionadas peio rei da França, reforçadas pelos
inquisidores da Igreja e condenadas pelo próprio papa?
Mas com a recente descoberta do Pergaminho de Chinon e sua publicação em 2004 o
mistério foi esclarecido. A realidade é que os templários foram vítimas de uma luta titânica
entre a França e o papado, entre o nacionalismo europeu emergente, de um lado, e as
pretensões universalistas da Igreja, de outro. Os templários praticaram, sim, rituais
estranhos, mas nada incomuns entre as organizações militares, e a confissão deles foi
deliberadamente distorcida pelo Estado francês para que soasse como heresia e outras
coisas. O próprio papa entendeu que tais rituais eram inocentes em sua base e,
pessoalmente, livrou os templários das acusações — na época, ele manteve a absolvição
secreta por temer um assalto da França ao papado como instituição e morreu antes de tornar
público o documento. Na comoção causada pelo retorno do papado de Avignon para Roma,
o Pergaminho de Chinon se perdeu entre a papelada e só foi encontrado em 2001.
Por quase setecentos anos, portanto, público, historiadores e especialistas de todas as áreas
se defrontaram com relatos incompletos, repletos de falhas e aparentes contradições, mas
dramáticos o bastante para necessitarem de uma explicação — e se tornaram um convite à
especulação e as teorias da conspiração. E há tanto tempo ganharam vida própria — “Os
templários têm alguma coisa a ver com tudo isso”, escreveu Umberto Eco em O Pêndulo de
Foucault — que nem mesmo a descoberta do Pergaminho de Chinon deu a eles o merecido
descanso.
A REAÇÃO IMEDIATA
As reações mais sensíveis às acusações contra os templários e à extinção da Ordem
aconteceram na época. Como vimos, Dante escreveu o seu Purgatório na época do
julgamento dos templários e nada disse sobre a suposta ganância da Ordem. Mas não
deixou de manifestar-se contra a avareza, a sede de poder e a desonestidade do rei Felipe
IV da França e a influência maligna da dinastia Capetíngia a que ele pertencia. Os
compatriotas de Dante pensavam da mesma maneira: os banqueiros italianos na França,
bem como os judeus, já tinham sido vítimas da ganância de Felipe, tanto é que a geração
seguinte, à qual pertencia o escritor e poeta Bocaccio, autor do Decamerão, defendeu a
inocência dos templários e ridicularizou a Inquisição.
Em Portugal, o ataque francês contra os templários também foi visto como agressão, e
graças ao apoio real e à anuência do papado os templários puderam viver em paz em
Portugal com outro nome. Os alemães e os ingleses também tenderam a duvidar da culpa
dos templários. Na verdade, somente os franceses e os povos por eles dominados engoliram
o conto da heresia. Ramon Luil é um exemplo. Esse filósofo e místico catalão aguardava
ansiosamente que Felipe TV liderasse uma nova cruzada ao Oriente. A princípio acreditou
na honra e na boa fé dos templários, mas em 1308, durante o julgamento e no auge da
campanha da monarquia francesa contra a Ordem, ele mudou de idéia e se alinhou à corte
francesa; mas, se esperava que a condenação dos templários purificaria os cristãos e
lançaria uma nova cruzada, ficou desapontado.
Nesse meio tempo, enquanto a chama do ideal cruzado bruxuleava e se apagava, os
templários levavam uma vida mística.
A busca do Graal
O Graal foi inventado no final do século XII por Chrétien de Troyes: jamais fora
mencionado antes. É curioso que nada houvesse no Graal de Chrétien que fosse
explicitamente religioso; ele nunca escreveu sobre uma taça ou um cálice na Santa Ceia.
Por essa razão ele não o descreve como taça ou cálice, mas como bandeja, que é o
significado original e usual da palavra graal no francês antigo. Mas há algo de mágico na
primeira aparição do Graal nas páginas da história de Chrétien, no início de um festim
oferecido por um milionário, e é mais maravilhoso ainda que Chrétien não tenha ter minado
sua história. Ele aparece assim na história:
Então entraram dois pajens trazendo nas mãos candelabros depuro ouro com detalhes
esmaltados. Os jovens que portavam os candelabros eram extremamente belos. A criada
que acompanhava os dois jovens trazia nas mãos uma bandeja; ela era bela, nobre e estava
ricamente trajada. Quando entrou no salão com a bandeja, o espaço iluminou-se e as velas
perderam o fulgor, assim como as estrelas e a lua quando o sol nasce (Arthurian Romances,
Penguin, 1991).
O que mais impressiona nessa aparição do Graal é que Percival, o herói do romance, sabe
exatamente do que se trata, mas não diz nada até a história ser interrompida (com a morte
de Chrétien). Seria uma alegoria? Esse aspecto é algo que se discute há mais de oitocentos
anos. E, se for, seria uma alegoria religiosa? Também não há nada definitivo a esse
respeito. Mas essa imagem fantasiosa logo inspiraria outros escritores a terminar a história
— entre eles Wolfram von Eschenbach, que em Parzival, a sua adaptação alemã do século
XIII, introduz os cavaleiros templários na literatura como os guardiões do Graal.
Chrétien de Troyes escreveu quando a sociedade medieval ocidental, tão fiel às tradições,
se abria para um mundo mais amplo, o mundo além do Mediterrâneo, o mundo oriental,
onde novas idéias e crenças eram descobertas e redescobertas, no mínimo por conta das
cruzadas. Escrever sobre o Graal era escrever sobre uma busca cultural e espiritual, embora
seja estranho que o gênero, independentemente de suas nuanças religiosas, fosse o preferido
dos escritores seculares, jamais da Igreja. E assim, livre de doutrinas e cânones, o Graal tem
sido infinita mente reinventado até hoje.
TEMPLÁRIOS E BRUXARIA
ILUMINISMO E MISTÉRIO
O significado da história de Hiram não é tão claro quanto se pretendia, porque a intenção
era estabelecer uma relação entre os maçons e a antiguidade. Embora as pessoas cultas do
Iluminismo olhassem para o futuro, elas se voltavam também para o passado porque
acreditavam que na antiguidade estava grande parte do aprendizado e da sabedoria que se
perdera, e sua missão era recuperar o que fosse possível dos tempos bíblicos e clássicos.
Por exemplo, a maior parte do trabalho de Sir Isaac Newton foi recuperar e decifrar durante
muitos anos a sabedoria oculta nas profecias bíblicas e na alquimia. Seu Principia
Mathematica, publicado em 1687, um tratado sobre a gravitação e as leis do movimento,
revolucionou a ciência e disseminou a aceitação de que a investigação racional poderia
revelar a dinâmica interna da natureza — Newton estava convencido de que encontrara um
conhecimento ancestral.
Newton morreu em 1727 e não era maçom, mas a Maçonaria atraiu intelectuais
importantes, entre eles vários membros da Royal Society, a academia de ciências britânica,
homens racionalistas e deístas que consideravam perfeitamente razoável que os maçons se
identificassem com o Templo de Salomão, construído por Salomão e Hiram Abiff, ambos
misteriosos exemplos de sabedoria ancestral.
Sir Isaac Newton e o Templo de Salomão
Uma das principais personagens do Iluminismo, o cientista e matemático Sir Isaac Newton,
escreveu algo em torno de 470 livros — muitos sobre temas teológicos e vários sobre o
Templo de Salomão. Newton considerava Salomão o maior filósofo de todos os tempos e
acreditava que a sua fórmula revolucionária da lei da gravidade resultara da leitura atenta
das partes bíblicas Reis 1 e Crônicas 2, que trazem em detalhes as medidas do Templo de
Salomão. Newton via nessas medidas a profecia de grandes e terríveis eventos para os anos
vindouros, como a Segunda Vinda de Cristo, em 1948.
MAÇONS E TEMPLÁRIOS
A notícia da criação da Grande Loja Maçônica de Londres e das atividades dos maçons
britânicos logo se espalhou pela Europa. Por volta dos anos 1730 foram fundadas lojas
maçônicas na Holanda, França, Alemanha e em outras partes da Europa, em geral por
representantes da Grande Loja de Londres que viajavam ao exterior com esse fim e também
por residentes locais que se inspiravam, mas não dependiam da Grande Loja. Ao mesmo
tempo em que a Maçonaria se popularizava na Europa, causava estranheza e perturbação
em alguns. Ela não germinou nas organizações de artesãos da França, Alemanha e outras
partes do continente, que há muito tempo tinham deixado de existir, mas vinha da
Inglaterra, o solo da Revolução Gloriosa de 1688, que restringira drasticamente os poderes
reais e dividira a autoridade entre monarquia, parlamento e judiciário, e instituíra certo grau
de tolerância religiosa. A Grã-Bretanha tinha a admiração do povo europeu por ser vista
como uma nação tolerante e progressiva, embora suas instituições e invenções, e também a
Maçonaria, fossem profundamente desprezadas pelos governantes autocráticos e pela Igreja
Católica.
Os maçons da Grã-Bretanha formavam uma organização inofensiva e fraternal
principalmente de classe média, cujas lojas tinham função similar ao de uma cafeteria de
Londres, mas adquiriram o culto do sigilo relacionado a um conhecimento misterioso
associado ao Templo de Salomão. Agrippa já estabelecera uma relação entre templários e
bruxaria e poderes ocultos. Para criar mais uma clássica teoria da conspiração bastava que
esses elementos fossem reunidos em um poderoso mito ocultista, o que aconteceu quando
os maçons foram diretamente vinculados aos templários, não na Grã-Bretanha, mas na
Europa continental.
O primeiro passo foi dado em 1736 ou 1737 por um escocês chamado Andrew Michael
Ramsay, um exilado jacobino que vivia na França e, como chanceler da Grande Loja
francesa, introduziu entre os maçons um passado cruzado fictício e ideais aristocráticos. A
Maçonaria britânica era democrática por natureza; entre seus membros havia artesãos e
aristocratas, profissionais liberais, intelectuais e negociantes da classe média, todos
convivendo pacificamente. Mas a convivência pacífica e a instituição nascida de
trabalhadores não eram elementos que atraíssem o estrato superior da sociedade francesa. A
pequena nobreza e a corte francesa buscavam o reconhecimento das distinções sociais, e as
queriam reforçadas pelo estilo, a nostalgia e o romance. Ramsay lhes forneceu tudo isso
quando sugeriu que os canteiros tinham sido cavaleiros guerreiros na Terra Santa, o que
logo transformou os maçons franceses em uma sociedade secreta internacional de cavalaria.
“Nossos ancestrais, os cruzados, que vieram de todas as partes da Cristandade para a Terra
Santa, reuniram pessoas das diferentes nações em urna só confraternidade espiritual”,
anunciou Ramsay em seu Discurso na Loja de São João em Paris, no dia 27 de dezembro de
1736 ou 21 de março de 1737, segundo diferentes fontes.
Outras vozes somam-se a essa mesma história. Por exemplo, em 1797 o abade Augustin
Barruel publica Memoirs, um relato sobre a Revolução Francesa que vincula a Maçonaria
aos templários extintos, quando...
um certo número de cavaleiros culpados, que, livrando—se do desterro,
se unem para preservar seus terríveis mistérios. Ao seu código ímpio foi
acrescentado o voto de vingança contra reis e padres que prejudicaram
sua Ordem, e contra toda a religião que anatematizou seus dogmas. Eles
atraem novos adeptos para transmitir de geração a geração o mesmo ódio
ao Deus dos cristãos, aos reis e aos padres.
Dirigindo-se diretamente aos maçons, ele continua:
Esses mistérios foram entregues a vós, que perpetuais sua impiedade, seus
votos e suas promessas. Essa é a vossa origem. O lapso de tempo e a
mudança de comportamento alteraram parte de vossos símbolos e vossos
sistemas temerários, que permanecem em essência, como também
permanecem os mesmos: os votos, o ódio, as promessas e as conspirações.
Mais tarde Barruel inclui os judeus na conspiração, vendo-os como o poder supremo por
trás dos templários e dos maçons, os grandes manipuladores de qualquer coisa que
acontecesse na Europa — a mesma teoria da conspiração que culminou nos fornos a gás do
Terceiro Reich.
Barruel estava exilado da França revolucionária quando publicou suas Memoirs em
Londres, onde foi político o bastante para agradecer ao governo britânico por lhe dar asilo e
declarar que as perigosas atividades maçônicas não se aplicavam aos respeitáveis maçons
da Grã-Bretanha. O governo britânico aceitou as desculpas. Preocupados com o vírus da
Revolução Francesa e dos boatos sobre a pretensa participação da maçonaria na sua
condução, em 1799 os britânicos aprovaram a Lei Contra as Sociedades Ilícitas, que excluía
especificamente a Maçonaria da legalidade.
UMA HISTÓRIA ESCOCESA SOBRE OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS
Durante o século XVIII e início do século XIX assistiu-se a uma explosão de ordens, graus
e sociedades, entre elas sociedades beneméritas que sobrevivem até nossos dias, como a
Odd fellows e a Royal Antediluvian Order of Buffaloes, e de grupos espirituais como os
druidas, dados à adoração de natureza panteísta, tal como os druidas celtas da Era do
Bronze. Por volta de 1800 já havia centenas, talvez mais de mil, organizações na Grã-
Bretanha que, como os maçons, incorporavam histórias antigas. A Oddfellows, por
exemplo, atribuía suas origens espirituais aos judeus que se exilaram na Babilônia por volta
de 586 a.C. Além dessas organizações, havia outras ordens e graus, cerca de trinta ao todo,
que, embora se dissessem maçônicas, em geral funcionavam não oficialmente nas lojas
locais, como a dos cavaleiros templários. Cavalaria e misticismo estavam na moda, e,
mesmo que num primeiro momento as Grandes Lojas inglesa e escocesa rejeitassem os
cavaleiros templários como uma corruptela estrangeira, no Romantismo eles se tornaram
uma moda irresistível e acabaram aceitos dentro da Maçonaria britânica.
Em 1843 a Ordem Escocesa dos Cavaleiros Templários publicou a Historical Notice of lhe
Order (Notificação Histórica da Ordem), que foi escrita pelos próprios templários
maçônicos es coceses para explicar suas origens:
É aceito por todos, até pelos franceses, que os templários se uniram sob o
estandarte de Robert de Bruce e lutaram pela causa até o final da Batalha
de Bannockburn, em 1314, para levá-lo ao trono com segurança. Ele não
foi um monarca ingrato.
A explicação seria que, após a expulsão dos cavaleiros templários na França, os templários
escoceses deram apoio a Robert de Bruce em sua guerra pela independência contra os
ingleses e que na Batalha de Bannockburn, em 24 de junho de 1314, três meses após a
morte de Jacques Molay na fogueira, uma tropa de templários atacou a Inglaterra no
momento decisivo e garantiu a vitória aos escoceses. Em gratidão, Robert de Bruce
protegeu-os, assimilando-os em uma nova Ordem, a dos maçons.
Mas nada disso foi registrado por algum cronista escocês da época. Tudo foi feito no século
XIX. Os templários maçônicos escoceses fizeram o que os maçons costumavam fazer:
inventaram uma tradição, uma conexão com o passado, sempre muito lisonjeira para a
maçonaria escocesa. Tais invenções jamais pretenderam ser histórias factuais. Quem
explica isso é Robert Cooper, maçom e curador da Grande Loja da Escócia em Edimburgo,
em seu livro The Rosslyn Hoax?:
Há inúmeras ramificações no interior da Maçonaria. Cada uma tem sua
própria “história”, sua história tradicional, para explicar aquela parte
específica do sistema maçônico... O Royal Arch Chapter tem relação com o
prédio de um segundo templo conhecido como Templo de Zerubabel. Outro
ramo da Maçonaria adota a história tradicional de Helena, mãe de
Constantino, e sua busca pelo local em que Cristo foi crucificado... Todas
as ramificações da Maçonaria têm, portanto, uma “história tradicional”
para basear suas cerimônias. Outros detalhes também são considerados (os
maçons escoceses acham exótico o Templo de Jerusalém); o Templo do Rei
Salomão deu grande prestígio a um grupo de honestos trabalhadores...
Nenhuma história tradicional dos vários ramos da Maçonaria pretendeu, ou
pretende, ser tomada literalmente. Os antepassados das nossas Ordens
Maçônicas fabricaram belos "passados" com propósitos alegóricos. Eles o
fizeram movidos por seus ideais românticos, mas sabiam que tais histórias
fabricadas por eles, e para eles, não eram verdadeiras.
Mas muita gente, maçons ou não, não soube separar fato de fantasia. Por exemplo, em sua
History of Free Masonry (História da Livre Maçonaria), publicada em Edimburgo em 1859,
Alexander Laurie, que era maçom, escreveu: “Será necessário dar algum crédito aos
cavaleiros templários, à fraternidade dos maçons, cujas riquezas e virtudes despertaram a
inveja de seus contemporâneos e cujo fim dramático e injusto excitou com frequência a
compaixão da posteridade. Provar que os cavaleiros templários era um braço da Maçonaria
seria trabalho inútil, pois o fato tem sido invariavelmente reconhecido pelos próprios livres
maçons, e nenhum deles teve mais zelo em demonstrá-lo que os próprios inimigos da
Ordem”.
Evidência e prova eram irrelevantes para Laurie. Ele afirmou que não era necessário provar
que a ordem medieval dos cavaleiros templários fosse um ramo dos maçons porque os
maçons já sabiam disso, como também o sabiam os inimigos da Maçonaria, gente como o
abade Barruel.
O mito dos cavaleiros templários começava a ganhar a sua forma moderna. A ordem
medieval sobrevivia, mas sob outro aspecto. A Batalha de Bannockburn era um elemento
central do mito. O que faltava era um lugar central, que começou a ser inventado em 1982
com a publicação de The Holy Blood and lhe Holy Graal (O Sangue Sagrado e o Santo
Graal) e prosseguiu em “histórias alternativas” como The Hiram Key (A Chave de Hiram),
escrito por dois maçons (Robert Lomas e Christopher Knight), The Templar Revelation (A
Revelação do Templário) e, claro, O Código Da Vinci, de Dan Brown, que é uma síntese
romanceada de todas essas pseudo-histórias. Todas elas incluem no mito a Capela Rosslyn,
ao sul de Edimburgo, e os St. Clair, a família à qual a capela pertencia.
Os Sinclair (que hoje se chamam St. Clair, na Inglaterra) eram templários, e a Capela
Rosslyn tornou-se um repositório dos tesouros e segredos dos templários ou de algum forte
objeto icônico como a cabeça embalsamada de Jesus Cristo, a Arca da Aliança ou o Santo
Graal. E por aí vai.
"Oh, Senhor, meu Deus, não há esperança para o filho da viúva?” é o brado
de pesar dos maçons e se refere ao assassinato de Hiram Abiff. Joseph Smith,
fundador dos mórmons, começou a dizer essa frase antes morrer com um tiro
em 1844.
As duas organizações também usam extensivamente imagens como a colméia, o esquadro e o
compasso, o olho onipresente, as duas mãos direitas entrelaçadas, e o sol, a lua e as estrelas.
Particularmente, as lendas maçônicas sobre uma palavra sagrada perdida, que um dia foi gravada na
salva triangular de puro ouro, afetou profundamente a família Smith, que se tornou conhecida por
suas atividades de caça ao tesouro. E é nessa salva de ouro desenterrada por Joseph Smith no estado
de Nova York que estão as palavras do Anjo Moroni, traduzidas e publicadas no seu Livro do
Mórmon, o evangelho da nova fé, do qual ele era o profeta. A missão dos mórmons é recuperar a
verdadeira revelação que se perdeu após a morte de Jesus. E, segundo os mórmons, seus símbolos e
rituais foram dados por revelação divina e se originaram no Templo de Salomão.
CRÂNIOS E OSSOS
Alguns acreditam que Nova Ordem Mundial (Novus Ordo Mundi) signifique uma
organização construtiva das questões mundiais através de instituições como as Nações
Unidas. Para outros, é uma conspiração de um grupo pequeno e fechado que tem como
objetivo neutralizar e eliminar os estados soberanos, restringir as liberdades individuais e
estabelecer um governo mundial que só preste contas a si mesmo. Esta última concepção
tem muito em comum com o que acreditavam Charles de Gassicour e o abade Barruel, para
os quais a Revolução Francesa era a culminância de um antigo complô histórico de
templários e maçons que tinham pactos com todos, dos assassinos aos judeus.
Segundo os teóricos da conspiração, a infraestrutura dessa Nova Ordem Mundial já está
instalada em organizações como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o
Conselho de Relações Exteriores, a Comissão Trilateral, o Grupo Bilderberg, a Otan, a
União Européia — e também as Nações Unidas. Eles citam o discurso de David
Rockefeller proferido no Conselho de Comércio das Nações Unidas em setembro de 1994:
“Estamos à beira de uma transformação global. Só precisamos de uma grande crise para
que as nações aceitem a Nova Ordem Mundial”. Mas a frase é sempre citada fora de
contexto, em supostas ligações com fatos como o ocorrido em 11 de setembro, quando de
fato Rockefeller referia—se à necessidade de agir em conjunto contra o aquecimento global
e a superpopulação.
Os ataques de 11 de setembro de 2001 são vistos como uma conspiração, sendo comum a
versão de que foram uma operação conjunta de elementos do governo dos Estados Unidos
e do Mossad, o serviço secreto de Israel. Os maçons também têm sua responsabilidade,
como se vê neste texto extraído do site de um ex-oficial da Força Aérea Norte-Americana e
professor de sistemas aeroespaciais:
O que aconteceu em 11 de setembro de 2001 foi nada menos que um
ritual satânico elaborado, cuidadosamente arquitetado e
dinamicamente representado. Acredito que o desmoronamento das
torres gêmeas do World Trade Center tenha sido um sacrifício de
sangue... Representou—se ali uma variação satanicamente energizada
do ritual do terceiro grau da Maçonaria — o grau de mestre maçom
— em que o candidato (representando o papel de Hiram Abif o
anticristo) deitado em um caixão é erguido pelas fortes garras da Pata
do Leão. É lembrado no ritual que os dois pilares (as torres), Jachin e
Boaz, ruíram e devem ser restaurados O que transpirou em 11 de
setembro foi uma cerimonia de magia negra cuja intenção era
restaurar o Templo de Salomão em Jerusalém e reerguer os dois
pilares derrubados...
Para que um grupo pequeno e ultrafechado promova a Nova Ordem Mundial não é preciso
ir além do campus da Universidade de Yale, em New Haven, Connecticut. Na High Street,
um prédio greco-egípcio sem janelas, popularmente conhecido como Tumba, abriga a
Order of Skull and Bones (Ordem da Caveira e dos Ossos). Embora sejam conhecidos
como "bonesmen” no mundo exterior, internamente eles se tratam como cavaleiros e seus
símbolos, o crânio e os ossos, são os mesmos que os cavaleiros templários teriam adotado
no lugar da cruz vermelha. Em qualquer caso, se você fosse Dan Brown, eis uma coisa que
deveria pesquisar para o seu próximo romance.
A Skull and Bones foi fundada em 1832 como rivais da fraternidade Phi Beta Kappa. Mas
são, de fato, organizações muito diferentes. Nos anos 1830 a Phi Beta Kappa estava
presente em sete universidades (e hoje se estende a quase trezentas), enquanto a Skull and
Bones continua exclusiva de Yale. A Phi Beta Kappa recruta seus membros entre os
calouros e em qualquer momento conta com meio milhão de membros; já a Skull and
Bones não tem mais que oitocentos e não aceita novos membros até o último ano de
faculdade, quando já se pode identificar quem ocupará cargos de excepcional importância
no futuro.
Dizem que originalmente a Skull and Bones era a facção norte-americana de uma
organização estudantil alemã chamada Clube Eulogiano, de Eulogia, a deusa da eloqüência.
A história, porém, seria uma fachada. Alguns anos antes, em 1826, um maçom chamado
William Morgan foi assassinado em Nova York supostamente por revelar segredos
maçônicos, e provocou revolta e reação populares tão fortes que a Maçonaria simplesmente
desapareceu dos Estados Unidos. Se alguém quisesse fundar uma loja maçônica, o melhor
que tinha a fazer era disfarçá-la de qualquer outra coisa. Ninguém sabe explicar por que o
crânio e os ossos foram escolhidos como símbolos. Dizem que o número “322” que se vê
inscrito no prédio é o ano da morte do grande orador Demóstenes, mas “32” também pode
ser o ano em que a ordem começou, e o número “2” final significa a segunda facção, atrás
da original alemã.
O convite para ingressar na Skull and Bones é feito com um tapa no ombro, quando o
relógio da torre bate oito horas e o bonesman pergunta: “Skull and Bones, aceita ou
rejeita?”. O presidente William Howard Taft e vários
juízes da Suprema Corte e outras figuras importantes
do governo dos Estados Unidos pertenceram à Ordem.
Mas pouco se sabe o que acontece internamente, por
que o juramento de guardar segredo é levado muito a
sério. Se alguém perguntar ao presidente George W.
Bush sobre essa fase de sua vida, ele dirá apenas: “No
meu último ano ingressei na Skull and Bones, mas a
sociedade é tão secreta que não posso dizer mais
nada”. Quando perguntaram ao senador John Kerry,
adversário de Bush nas eleições presidenciais de 2004,
o que era ser um bonesman, ele respondeu: “Não é
nada, porque é segredo”. O pai de George W. Bush,
George H. W. Bush, também era bonesman; ele governou o país de 1988 a 1992, mas antes
foi diretor da CIA. Se não é verdade que a OSS, que precedeu a CIA, foi fundada por
bonesmen, ao menos a Skull and Bones pode se orgulhar de que um número
desproporcionalmente grande de alunos, os chamados patriarcas, esteja nos serviços de
inteligência e ocupe altos cargos no governo e entre o empresariado.
Os teóricos da conspiração veem a Skull and Bones como a proponente de uma Nova
Ordem Mundial motivada pela filosofia hegeliana que acredita na supremacia do Estado e
que a mudança só pode ser gerada pelo conflito, já infiltrado em todos os grupos de
controle da elite dos Estados Unidos. Um jornalista que tentou obter informação interna foi
advertido: “Eles não gostam de bisbilhoteiros. O poder dos bones é incrível. Eles têm nas
mãos todos os mecanismos de poder do país. É como querer espiar a Máfia por dentro”.
Mas George W. Bush desconversa e diz que “são acusações do tipo ligue-os-pontos e é
praticamente impossível refutar”.
Um peregrino alemão visitou a Terra Santa em 1340 e encontrou dois anciãos nas
montanhas sobre as praias do Mar Morto. Os homens lhe disseram que tinham sido
templários, falaram das lembranças que guardavam da Ordem e dos companheiros
dizimados na batalha desesperada de Acre, no outono de 1291. Os dois anciãos foram
presos e por 50 anos viveram como lenhadores, afastados da Cristandade ocidental.
Quando o peregrino os ajudou a retornar à França, eles ficaram sabendo que os
templários não existiam mais, e o último grão-mestre fora queimado na fogueira como
herege. Mesmo assim, os dois anciãos foram respeitosamente recebidos pela corte
papal em Avignon e viveram o tempo que lhes restava de vida na paz e no conforto.
Restaram poucos templários vivos naquela época. Uns sobreviviam precariamente nas
masmorras reais da França, outros se recolheram no silêncio dos mosteiros e pensionatos,
alguns se tomaram mercenários ou se casaram. A época da Ordem dos Cavaleiros
Templários coincidiu com o período de domínio espiritual e temporal universal do papado,
mas agora a Europa era um novo mundo de nações-Estado em ascensão. Quando aqueles
dois templários retomaram à França das praias do Mar Morto a Ordem a que eles
pertenciam e o mundo que defenderam por duzentos anos já não existia mais.
É bem possível que os cavaleiros hospitalários tivessem estranhos rituais similares aos que
eram praticados pelos templários, e assim mesmo sobreviveram a estes últimos e até se
beneficiaram com o fim deles porque adquiriram grande parte de suas propriedades. Talvez
tenham sido poupados da avareza e ambição de Felipe IV por estarem aquartelados na ilha
de Rodes, mas isso não explica tudo, porque a maioria das suas propriedades ficava na
França. Já em 1312, Felipe fazia ameaças ruidosas de “reformar” os hospitalários, e nesse
mesmo ano, como que para devolver a voz ativa ao papado, Clemente V anunciou seu
próprio inquérito e um programa de reformas. Mas tanto Felipe IV quanto Clemente V
morreram no mesmo ano que Jacques de Molay, fato que pode ter salvado os cavaleiros
hospitalários.
Não obstante, os hospitalários permaneceram na ilha de Rodes até serem expulsos pelos
turcos otomanos em 1522. En tão se refugiaram em Malta, onde resistiram a cinco meses de
cerco otomano, em 1565. Seis anos mais tarde os navios hospitalários integraram aquela
grande armada ocidental que derrotou a frota otomana em Lepanto, na costa oeste da
Grécia, a batalha que pôs um fim definitivo à agressão muçulmana iniciada na Terra Santa
havia noventa anos. Isolada em Malta, a ordem dos cavaleiros hospitalários ficou
debilitada; em 1792 a Assembleia Nacional Francesa confiscou suas terras, e em 1798 os
hospitalários não ofereceram resistência quando Napoleão 5 em Malta e expulsou-os da
ilha.
A Escócia se envolveu em uma série de guerras quando os dias dos templários chegavam
ao fim. Robert de Bruce assassinara seu rival John Comyn, lorde de Badenoch, em 1306,
ato que colocou escocês contra escocês mesmo quando Bruce com bateu as forças inglesas
chefiadas por Eduardo TI, para libertar a Escócia. Finalmente a Batalha de Bannockburn
em 1314 — ano em que Jacques de Molay foi queimado na fogueira — resultou na
conquista da independência escocesa pelos séculos vindouros. Em anos recentes os autores
da “história alternativa” atribuem aos templários um papel mais importante nesses eventos
e defendem a sua sobrevivência marginal ou disfarçada, por exemplo, como maçons. Essas
especulações serão examinadas no capítulo seguinte, “Conspirações”.
No mundo mais prosaico da realidade, o destino dos templários na Escócia, bem como na
Inglaterra, não foi a punição, mas a dissolução da Ordem e a doação de grande parte de
suas terras aos hospitalários. Mas a propriedade original das terras jamais foi esquecida,
porque até hoje elas são designadas nas transações como “Templarland” (Terra dos
Templários).
Os templários também foram muito bem recebidos na Espanha pela valiosa ajuda que
deram na longa luta para expulsar os árabes da península Ibérica. Mesmo condenados por
heresia e outros crimes na França, os templários julgados em Aragão foram inocentados.
Apesar dos protestos do rei Jaime II de Aragão, a bula do papa Clemente que extinguia a
Ordem não podia ser contestada. Mas Jaime não permitiu que as propriedades templárias
em Aragão e Valência passassem para os hospitalários. Para impedir que isso acontecesse,
em 1317, com a permissão do papado, o rei criou a nova Ordem de Montesa — um corpo
essencialmente igual ao dos templários —, que herdou os bens dos antigos templários e
encarregou-se de defender as fronteiras. Os templários continuaram, então, na Espanha com
outro nome. Mais 175 anos se passaram até que Fernando de Aragão e Isabel de Castela
expulsassem os últimos invasores muçulmanos de Granada em 1492 e durante todo esse
tempo os descendentes dos templários sempre tiveram um importante papel. A Ordem
entrou em declínio logo em seguida, e em 1587 Felipe II incorporou a sala do grão-mestre à
da coroa.