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Universidad Nacional del Comahue - Facultad de Ciencias de la Educación

Cuarto Congreso Nacional y Segundo Internacional de Investigación Educativa

A E S CR IT A C OM O “ CU ID A D O D E S I” N O E S PA ÇO F OR MA T IV O D A
U N IV E R S ID AD E : T E NT A ND O R E IV E NT A R A E X IS T Ê NCIA E A
CO ND I ÇÃ O D O CE NT E

Valeska Fortes de Oliveira


Universidade Federal de Santa Maria. Brasil
guiza@terra.com.br

RESUMEN Primeiras palavras...


A escrita se configura como um dispositivo de formação e autoformação A escrita se configura como um dispositivo de formação e autoformação
no espaço formativo da educação superior. Nas pesquisas que temos no espaço formativo da educação superior. Nas pesquisas que temos
realizado com professores na formação inicial realizada no espaço da realizado com professores na formação inicial realizada no espaço da
universidade operamos com a escrita como uma ferramenta que coloca universidade operamos com a escrita como uma ferramenta que coloca
os sujeitos implicados como “pesquisadores de si”. Nesse sentido, a os sujeitos implicados como “pesquisadores de si”. Nesse sentido, a
investigação inicia com um processo de aproximação das investigação inicia com um processo de aproximação das
representações e dos saberes construídos nas suas trajetórias de vida, representações e dos saberes construídos nas suas trajetórias de vida,
e se estende a um processo de autoconhecimento e de autoformação. e se estende a um processo de autoconhecimento e de autoformação.
Tendo como referência dois conceitos operadores, tomados das Tendo como referência dois conceitos operadores, tomados das
reflexões de Michel Foucault (1995), na perspectiva do o “cuidado de si” reflexões de Michel Foucault (1995), o “cuidado de si” e “as tecnologias
e “as tecnologias de si”, trazemos para o território da narrativa, de si”, trazemos para o território da narrativa, tomando-a como um
tomando-a como um dispositivo onde o sujeito, provocado / implicado dispositivo onde o sujeito, provocado / implicado por um outro, se coloca
por um outro, se coloca num processo de experimentação de si. A num processo de experimentação de si.
memória, tomada por nós como trabalho, é acionada no sentido de A memória, tomada por nós como trabalho, é acionada no sentido de
reconstruir imagens, acontecimentos e experiências, produtoras de reconstruir imagens, acontecimentos e experiências, produtoras de
sentido à pessoa que se dispõe ao exercício da “escrita de si”. sentido à pessoa que se dispõe ao exercício da “escrita de si”.
Operamos também com a memória –esquecimento de Nietzsche, na Operamos também com a memória –esquecimento de Nietzsche, na
produção da narrativa como uma forma de “cuidado de si”. O produção da narrativa como uma forma de “cuidado de si”. O
esquecimento que se configura como necessidade para dar vazão a esquecimento que se configura como necessidade para dar vazão a
outras formas de vida. Nos referimos, quando falamos de um sujeito, outras formas de vida. Nos referimos, quando falamos de um sujeito,
para além e muito longe de um sujeito unitário, mas próximo de um para além e muito longe de um sujeito unitário, mas próximo de um
sujeito que se constitui através de práticas discursivas, práticas estas sujeito que se constitui através de práticas discursivas, práticas estas
sempre constituídas pelas redes de poder. sempre constituídas pelas redes de poder.
Pensando na possibilidade da experiência ética e estética – colocando a
Palabras claves: vida como “obra de arte” (Nietzsche), a escrita de si é uma experiência
Escrita – Cuidado de si – Formação – Universidade – História de Vida – na qual o sujeito, a partir de uma máxima: “ocupa-te de ti mesmo”,
Condição Docente. através de um movimento que o coloca na construção/desconstrução de
acontecimentos, imagens e representações, pode produzir a invenção
ABSTRACT de si.
The writing if configures as a device of formation and autoformation in É com esta perspectiva e a partir deste movimento que temos utilizado a
the formative space of the superior education. In the research that we produção da narrativa de vida nos espaços de formação da
have carried through with professors in the carried through initial universidade, revisitando imagens, modelos, comportamentos,
formation in the space of the university we operate with the writing as a processos de socialização, valores e práticas docentes. A partir desta
tool that places the implied citizens as “researchers of itself”. In this experimentação – a produção da narrativa – podemos, no movimento de
direction, the inquiry initiates with a process of approach of the relembrar e esquecer, tentar criar outras possibilidades, outras
representations and knowing constructed them in its trajectories of life, referências na nossa construção como pessoa e como professor.
and if it extends to a autoformation and self-knowledge process. Having A escrita de si como um processo de conhecimento e formação
as reference two concepts operators, taken of the reflections of Michel Como pesquisadores de – e através de – suas histórias de vida,
Foucault (1995), in its perspective of the “care of itself” and “the chegamos aos saberes que os (as) professores (as) em formação no
technologies of itself”, we bring for the territory of the narrative, taking it espaço da universidade vêm construindo ao longo de suas trajetórias
as a device where the citizen, provoked/implied for one another one, if pessoais, nos diferentes espaços / lugares e tempos formativos: a
places in a process of experimentation of itself. The memory, taken for escola, a família, os grupos sociais.
us as work, is set in motion in the direction to reconstruct images, events A formação, nessa perspectiva, toma o sentido do que Foucault (1995,
and experiences, producers of felt the person who if makes use to the p.48) chamava de “Tecnologias do Eu” como
exercise of the “writing of itself”. We also operate with the memory - aquelas que permitem aos indivíduos efetuar, por conta própria ou com
forgetfulness of Nietzsche, in the production of the narrative as a form of a ajuda dos outros, certo número de operações sobre seu corpo, sua
“care of itself”. The forgetfulness that if configures as necessity to give alma, pensamentos, conduta, ou qualquer forma de ser, obtendo assim
solution to other forms of life. In we relate them, when we speak of a uma transformação de si mesmos com o fim de alcançar certo estado
citizen, for beyond and very far from a unitary citizen, but next to a de felicidade, pureza, sabedoria ou imortalidade.
citizen that if constitutes through practical discursive, practical these Neste sentido, o autor nos mostra que tais tecnologias, na verdade,
always constituted by the nets of being able. dependem de diversas formas de aprendizagem e, sobretudo, da
mudança dos indivíduos não apenas em seu nível mais evidente. Ou
seja, tal mudança deve se dar não apenas no nível da aquisição de
habilidades, mas na transformação de determinadas atitudes, que
implica em uma modificação na conduta dos indivíduos.
Os processos onde as pessoas estão colocadas em reflexão consigo
mesmas, acionam com dispositivos de “cuidado de si”i, de produção de
si. Os registros trazidos na escrita pelo trabalho da memória e também
pelo esquecimento trazem à tona os processos formativos significativos

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e as aprendizagens neles construídas. Nas narrativas percebemos os aplicação”. (Idem, p.53) Para os filósofos, este será um princípio a ser
deslocamentos de sentidos numa trajetória pessoal e profissional, bem seguido por toda a vida.
como os movimentos identificatórios – as identidades transformadas A experiência como um conceito operatório e articulador da narrativa
pelas experiências vividas em tempos / espaços distintos. A análise arqueológica, complementada pela prática genealógica dos
A narrativa de si nos faz adentrar em territórios existenciais, em anos setenta, trazem a perspectiva histórica para o conceito de
representações, em significados construídos sobre a docência e sobre experiência em Michel Foucault. Nesse período até 1984, os conceitos
as aprendizagens elaboradas a partir da experiência de aluno (a). de experiência e subjetividade estarão cada vez mais correlacionados.
De posse dos materiais produzidos pelas narrativas, é possível “É experiência que é a racionalização de um processo, dele próprio
questionar as marcas e os modelos, tanto de docentes quanto de provisório, que termina num sujeito ou em vários sujeitos.” (Foucault,
práticas educativas, registrados e reelaborados pela memória, refletindo 1984, p.137).
a partir da sua pertinência no tempo presente e das possíveis inércias O conceito de experiência em Foucault, “aproximando-a de uma atitude
que não viabilizam movimentos capazes de instituir outras histórico crítica, a partir da qual um indivíduo relaciona-se consigo
possibilidades de vida. Nossos processos formativos acontecem em mesmo e com os outros, consistirá um espaço de ação no qual serão
lugares / tempos diferentes, e a memória realiza um trabalho privilegiado constituídos sujeitos históricos segundo processos definidos
ao reconstruí-lo como “recordações-referências constitutivas das historicamente.” (Nicolazzi, 2004, p.104).
narrativas de formação” (Josso, 2002, p.31) Estamos falando de um trabalho “histórico-crítico”(Nicolazzi, 2004) sobre
As histórias da nossa infância e dos nossos processos de escolarização as relações que o indivíduo estabelece consigo mesmo através das
são revisitadas no sentido das referências construídas: temos recursos quais ele se reconhece e se produz como sujeito, tendo como referência
experienciais e também representações sobre escolhas, influências, os jogos de verdade dos quais faz parte. É o processo de subjetivação
modelos, formação de gostos estilos, o que é significativo para a do indivíduo que, segundo Foucault (1984, p.12), “o ser se constitui
reflexão sobre o que somos hoje e como nos constituímos no que historicamente como experiência, isto é, como podendo e devendo ser
somos e para as possibilidades autopoiéticas que nos singularizam (ou pensado”.
não) como pessoas e professores. As “técnicas de si”, exercitadas a partir de uma “estética da existência”
Do conhecimento do que somos e como nos constituímos já estamos na tem referência tanto numa arte de governar os outros, no exercício de
possibilidade de experiência de si, da “tecnologia del yo”, “en que um seu poder, como uma arte de governar a si mesmo, na prática da
individuo actúa sobre sí mismo” (Foucault, 1995, p.49). liberdade. A partir da noção de “regiões da experiência”ii, Foucault nos
A questão que se coloca aqui, segundo Foucault, e que poderíamos permite pensar que os indivíduos, no processo de constituição de si
pensar como sendo o impasse para que o “cuidado de si” seja mesmos enquanto sujeitos de uma experiência, encontram maneiras
internalizado e transformado em atitude, como ele acreditava que diferentes de agir com relação ao “código de ação”. O indivíduo é levado
deveria ser, é justamente a herança da moral cristã, a qual nos ensinou a se transformar em sujeito moral da sua conduta. Segundo Foucault
que a renúncia ao si mesmo seria uma forma de salvação. É deste (1984, p.28), “toda ação moral comporta uma relação ao real em que se
modo que o cristianismo, através de seus princípios morais, nos efetua”, não se restringindo, o processo de subjetivação, a uma tomada
constitui como sujeitos e nos faz sentir culpa por nos ocuparmos de nós de consciência, mas a problematização daquilo sobre o que se pensa e
mesmos, “porque nuestra moralidade insiste em que lo que se debe mesmo sobre a forma como se pensa. A experiência, neste sentido, se
rechazar es el sujeito.” (Idem, p.54) constitui num campo onde uma ação se torna possível.
Nos voltamos para a História da Sexualidade, onde Foucault (1985) A genealogia de Michel Foucault (1998) não opera com um sujeito
toma o tema da sexualidade não a partir de uma perspectiva moral, mas constituinte, podendo ser pensado fora de um campo de
de uma postura ética. Neste sentido, ele coloca que em certas acontecimentos. “O sujeito não é mais que um acontecimento
sociedades a “relação consigo é intensificada e desenvolvida” (Idem, p. historicamente datado com seu começo no já começado e seu sempre
50), sem que isso venha a contribuir para a intensificação do iminente momento derradeiro, o qual somente aparece no corpo social
individualismo. Para ele, o cristianismo tratou de desqualificar os valores por meio de práticas de subjetivação” (Nicolazzi, 2004, p.108).
da vida privada, de modo que as relações de si para consigo foram A narrativa que o indivíduo constrói sobre si é então, a possibilidade, de
reduzidas em sua significação. operar com uma técnica de reconstrução de um sujeito historicamente
Mesmo que tal atitude tenha trazido como conseqüência o datado, a partir das relações e jogos de poder / saber que a sociedade e
enfraquecimento do individualismo, por outro lado a época imperial, o tempo onde este produz a narrativa lhe permite se movimentar. A
segundo o autor, foi marcada por um fenômeno denominado como experiência se configura também a partir da própria historicidade e dos
“cultura de si”, onde as relações de si para consigo puderam ser limites temporais que a delimitam. “Em uma expressão, experiência é a
intensificadas e valorizadas. Tal fenômeno parte do pressuposto da dupla construção, a de histórias pelos sujeitos, a dos sujeitos nas
necessidade de se ter cuidados consigo, este é o “princípio do cuidado histórias.” (Nicolazzi, 2004, p.109).
de si”, tema que Foucault considera antigo na filosofia grega. No Na superfície e na profundidade da narrativa o indivíduo que se
entanto, será Sócrates o responsável por consagrá-lo, de forma que ele configura em objeto da narrativa traz consigo territórios, paisagens,
assume uma verdadeira “cultura de si”, descrita como “a forma de uma acontecimentos, sendo este sujeito também um acontecimento datado.
atitude, de uma maneira de se comportar, impregnou formas de viver;
desenvolveu-se em procedimentos, em práticas, em receitas, que eram A escrita e o esquecimento
refletidas, desenvolvidas, aperfeiçoadas e ensinadas”. (Foucault, 1985, No espaço da universidade, muitas (os) das (os) alunas (os) se deparam
p.50) com a idéia do esquecimento. Por que não lembramos desta fase da
Segundo Foucault, os epicuristas acreditavam que a filosofia deveria ser vida? Por que não lembro das minhas professoras dos primeiros anos?
considerada como exercício permanente dos cuidados consigo, princípio Por que não consigo lembrar mais detalhes? Estas são questões
este também desenvolvido por Zenão e Sêneca. Este último utilizou-se freqüentes, quanto desafiamos que escrevam suas narrativas de vida
de diversas expressões a fim de designar o que acreditava ser uma tendo como foco a infância, a adolescência e a escolha da profissão.
forma de “tornar-se disponível para si próprio”. Entretanto, o maior grau É preciso que seja acrescentada na configuração da memória, também
de elaboração sobre o tema, para Foucault, será fornecida em Epicteto, o esquecimento. Esquecemos para não reconstruir acontecimentos,
o qual apresenta em sua obra a definição de ser humano como o “ser a experiências que ou produziram dor ou não produziram sentidos nas
quem foi confiado o cuidado de si”, encontrando-se neste ponto a nossas vidas, portanto, há necessidade do esquecimento para que se
principal diferença entre o seres humanos e os demais seres vivos, pois possa dar vazão há outras formas de vida, para continuar o fluxo da
no caso dos últimos, a natureza encarregou-se de fazer com que eles, vida.
assim como os humanos não necessitassem de cuidados para com os O sentido neste movimento – a escrita da narrativa – está na
mesmos. Deste modo, para Epicteto o cuidado de si torna-se “um possibilidade de pensarmos nas marcas produzidas – o que fizeram
privilégio-dever, um dom-obrigação, que nos assegura a liberdade conosco, para então pensarmos no que podemos fazer conosco a partir
obrigando-nos a tornar-nos nós próprios como o objeto de toda a nossa de agora. Os tipos de pedagogias vivenciados por nós, nos diferentes
lugares pelos quais transitamos e aprendemos um pouco também deste

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lugar, a docência. Mas o sentido também reside na possibilidade do Referências Bibliográficas


esquecimento. Esquecer para poder dar passagem a outras formas de BUENO, Belmira Oliveira. É possível reinventar os professores? A
vida, de comportamento que possam fazer sentido, que possam “escrita de memórias” em um curso especial de formação de
produzir significado. professores. In:SOUZA, Elizeu C. de; ABRAHÃO, Maria Helena M. B.
A narrativa como uma forma de acompanhamento dos processos (orgs.). Tempos, narrativas e ficções: a invenção de si. Porto Alegre:
formativos, vividos no espaço e tempo da universidade, pode nos EDIPUCRS, 2006.
proporcionar o conhecimento dos movimentos e tensões nas FEITOSA, Charles. Da utilidade do esquecimento para a filosofia. In:
representações simbólicas desconstruídas/construídas no momento da FEITOSA, Charles; BARRENECHEA, Miguel A.(orgs.) Assim Falou
entrada no curso e as possíveis transformações experimentadas e Nietzsche II. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000.
percebidas por quem produz a sua história de vida. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade II: o uso dos prazeres. Rio
de Janeiro: Graal, 1984.
Palavras Finais... sem tentar concluir. ___. História da Sexualidade III: o cuidado de si. Rio de Janeiro, Graal,
A produção das narrativas de vida no tempo e no espaço formativo da 1985.
universidade, permite a pessoa que escolheu a docência como campo ___. Hermeneutica Del Sujeto. Madrid, Las Ediciones de la Piqueta,
profissional, revisitar seus repertórios, suas representações sobre o 1987.
“lugar” do professor e as figuras construídas em torno deste na sua vida, ___. Tecnologias del yo y otros textos afines. 2ª ed. Barcelona:
possibilitando problematizar modelos, práticas e comportamentos na Ediciones Paidós Ibérica, S.A., 1995.
perspectiva da produção de um professor e de uma pessoa que exercita ___. Microfísica do poder. Trad. Roberto Machado. Rio de Janeiro:
um “cuidado de si”, se produzindo melhor neste tempo e neste mundo. Graal, 1998.
Neste movimento, não somente reconstruímos nossas lembranças JOSSO, Marie-Christine. Experiências de vida e formação. Lisboa:
através do trabalho da memória e do atravessamento do esquecimento, Educa, 2002.
mas na possibilidade de refletir sobre modelos, perfis pessoais e KUREK, Deonir; OLIVEIRA, Valeska F. de. “O cuidado de si” na
profissionais que participam da nossa constituição de professor, ainda, produção da subjetividade docente. In: VASCONCELOS, José Gerardo;
na possibilidade mais radical, viabilizada pela imaginação criadora, MAGALHÃES JÚNIOR, Antonio Germano.(org.) Um Dispositivo
(re)inventarmos outras possibilidades redirecionando nossos trajetos chamado Foucault. Fortaleza: LCR, 2002.
pessoais e profissionais. NICOLAZZI, Fernando. A narrativa da experiência em Foucault e
Um número significativo de produções brasileiras têm apontado para o Thompson. In: Anos 90, Porto Alegre, v. 11, n. 19/20, p. 101-138,
potencial da narrativa como forma de conhecimento dos processos jan./dez. 2004.
formativos em todos os espaços e níveis de trabalho investigativo com OLIVEIRA, Valeska Fortes de. Educação, memória e histórias de vida:
professores. Aponta Bueno (2006, p.225) levantando algumas usos da história oral. In: História Oral. Recife: Associação Brasileira de
constatações a partir de uma revisão sobre a produção nacional que se História Oral, v. 8, n. 1, Jan./Jun., 2005.
multiplica. ORLANDI, Eni. As Formas do Silêncio: no movimento dos sentidos.
A primeira delas, que reputamos como a mais importante, foi que a Campinas: Unicamp, 1993.
intensificação de tais metodologias contribuiu para renovar a pesquisa PINEAU, Gaston. As Histórias de vida como artes formadoras da
educacional sob vários aspectos, notadamente no que diz respeito à exitência. In:SOUZA, Elizeu C. de; ABRAHÃO, Maria Helena M. B.
pesquisa e à formação de professores, fazendo aflorar o interesse por (orgs.). Tempos, narrativas e ficções: a invenção de si. Porto Alegre:
questões e temáticas novas, tais como as que se configuram nos EDIPUCRS, 2006.
estudos sobre profissão, profissionalização e identidades docentes. SANTOS, Boaventura de Souza. A crítica da razão indolente: contra o
Entretanto, uma das características que se ressaltou na produção desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000.
analisada é uma ausência quase absoluta de interlocução com as
pesquisas da área, muitas das quais não levam em conta, muitas vezes,
sequer os resultados dos trabalhos produzidos na própria instituição do
pesquisador. Mais raro, ainda, foi encontrar referências a projetos sobre
formação e profissionalização docentes desenvolvidos em países
vizinhos, numa evidente desconsideração pelas reformas educacionais
que se desenvolvem na América Latina, a partir dos anos noventa, e
que foram, em grande parte, responsáveis pelo movimento que aqui se
desenvolve, nesse mesmo período, com as histórias de vida e
autobiografias.
Esta observação mostra nosso isolamento como país em relação aos
outros países da América Latina e a nós próprios, quando num país com
a dimensão geográfica como o Brasil, não temos estabelecido relações
nem mesmo as pesquisas desenvolvidas por colegas de outras
instituições. Esse sentimento de isolamento tem sido atenuado com o
uso da informática e ainda, eventos nacionais onde temos nos
conhecido como pesquisadores envolvidos com o uso de narrativas, de
história de vida e autobiografias nas investigações educacionais, assim
como em projetos de formação inicial e continuada de professores.

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ISBN 978-987-604-035-8
i
Sobre o uso deste conceito na pesquisa com professores remetemos ao trabalho de KUREK, Deonir Luís e OLIVEIRA, Valeska Fortes de. O “cuidado de
si” na produção da subjetividade docente. In: VASCONCELOS, José Gerardo e MAGALHÃES Jr., Antonio Germano (orgs.) Um Dispositivo chamado
Foucault. Fortaleza: LCR, 2002. (Coleção Diálogos Intempestivos – 5)
ii
“Regiões da experiência”, “eixos da experiência” – trata-se de um campo moral, historicamente determinado, que define as possibilidades de condutas a
serem praticadas pelos indivíduos no que diz respeito ao seu ‘uso dos prazeres’. No caso de Foucault, a experiência da sexualidade concerne ao
processo de subjetivação dos indivíduos, isto é, à constituição de si como sujeitos de uma prática moral.

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