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PATRICIA HORVAT
INTRODUÇÃO
Leiamos a definição:
Consideremos que estar diante de uma obra de arte é o mesmo que estar
diante da expressão do sentimento e do pensamento de um outro ser humano,
totalmente disponível para a nossa compreensão. Tendemos a compreender
esta alteridade, antes de mais nada, comparando-a a nós mesmos, trazendo-a
para o nosso universo e, então, aceitamos nela aquilo com o qual
concordamos e rejeitamos aquilo do qual discordamos, e descartamos este
“resto” como se fosse um erro. Por exemplo, quando dizemos diante de uma
obra “qualquer criança faz isso”, queremos com isso depreciar a obra, mas
antes estamos depreciando todas as crianças, pois banalizamos as suas
expressões e, depois, estaremos depreciando a nós mesmos, pois o que
ocorreu é que ou não tínhamos elementos cognitivos para compreendê-la, ou
não prestamos suficiente atenção ao observá-la. Abordamos e dizemos as
coisas com os pensamentos e as palavras de que dispomos, direcionamos
nosso olhar para aquilo que nos interessa, que é, em geral, aquilo que parece
ajustar-se aos nossos desejos e objetivos, ao nosso pequeno mundo interno.
Mas, não será esse nosso universo particular restrito demais para nele
cabermos nós e todos os outros?
É necessário que o docente amplie seus valores e seus esquemas
interpretativos. E isso ocorre, em primeiro lugar, quando assumimos que são
relativos e, a partir dessa ótica, que são mutáveis e subjetivos. Além disso,
implica reconhecer que existem infinidades de valores, que cada criação
artística tem seus próprios valores, e que não se deve pretender que tais
valores sejam “universais” ou “eternos”. Reiteramos que é preciso ver as
obras pelo que elas são, e não de acordo com aquilo que acreditamos que
devam ser, pois que, objetivamente, não o serão.
Isso nos leva à questão quanto às teorias interpretativas, que são
esquemas de referência para a interpretação das obras de arte. Adotar um
único sistema de relações e funções para interpretar as produções artísticas –
assim como para qualquer outra coisa ou fenômeno – é um engano frequente,
e a atitude de circunscrever aquilo que é interpretado em um conjunto de
tipificações prévio é uma das causas principais do fracasso da interpretação.
Obviamente, todos os sistemas conclusivos são reducionistas, logo, as atitudes
em relação à observação, percepção e análise da obra de arte devem evitar a
restrição em uma vertente única de apreciação e interpretação da obra. A
abertura e a flexibilidade em relação ao que observamos, assim como a
aceitação de suas qualidades são fundamentais na abordagem de obras de
Arte, para que não rechacemos o desconhecido pelo simples fato de ser
desconhecido. Um olhar persistente, atento e tolerante pode facilitar, em boa
medida, o processo de fruição artística.
Certamente, podemos dizer que todos nós temos idéias e valores morais
herdados, que, por tradição, assimilamos como verdadeiros. Questioná-los e
relativizá-los deveria ser um objetivo prioritário na Educação Artística, sem o
que tendemos a nos aproximar de forma equivocada dos objetos artísticos, o
que nos obstaculiza, inclusive, o conhecimento, a compreensão, a valorização
e a fruição de muitas criações. Essas novas realidades tornadas visíveis,
passam a ser inapreensíveis para aqueles que se atém aos hábitos cognitivos
previamente estabelecidos, projetando-os na alteridade. A acomodação às
estruturas de visualidade corriqueiras reproduz juízos que não se adequam à
abordagem de formas diferentes, derivando em interpretações lacunares e
insatisfatórias, muitas vezes desnecessárias. As atitudes frente à recepção da
obra de arte podem ser, então, assim resumidas:
a) Por que ter uma só chave? Existe apenas a chave que trago comigo, ou
posso obter outras e novas chaves?
b) Se a chave que possuo foi criada pela tradição que, por exemplo,
apresenta a porta da arte renascentista européia como a Arte, minha
chave abre esta porta. Mas isso significa que só exista esta única porta
da Arte? Não existiriam várias portas? Novas portas não estão sendo
constantemente geradas, ou portas antigas não estão sendo
modificadas?
c) Apesar de estar habituada (o) com um certo tipo de Arte, seria coerente
desqualificar outras formas de Arte?
d) Não seria mais interessante para mim e para meus alunos conhecer
outras formas de Arte, ampliando o nosso horizonte de compreensão do
fenômeno artístico, ampliando a nossa percepção visual, a nossa atitude
perante as obras e, antes de tudo, ao humano?
a) querer abrir a porta, ter curiosidade por saber o que há por trás dela,
enfim: curiosidade e desejo pelo conhecimento artístico;
b) imaginar que por trás de cada porta pode haver algo surpreendente,
interessante e, com isso, tomar consciência da potencialidade da Arte;
c) evitar querer que o que está atrás da porta seja algo já conhecido. Ao
contrário, desejar a surpresa. Em outras palavras: aceitar lidar com o
inesperado e não fugir daquilo que não se ajusta aos nossos esquemas
prévios;
d) uma vez aberta a porta, buscar fruir do que encontramos, em vez de
buscar o que não existe, nem querer que exista outra coisa; evitar os
preconceitos, fugir dos valores prévios, do juízo universal, e aceitar a
diversidade, para fruir daquilo que encontramos;
e) ser generoso com a aprendizagem, e estar aberto às pequenas coisas e
pequenas aprendizagens como sendo sementes que podem crescer e
desenvolver-se;
f) ter paciência, porque algumas aprendizagens operam a médio e a longo
prazo; ter consciência de que as experiências não são todas imediatas, e
de que o conhecimento artístico é extenso e complexo;
g) desejar saber mais, ampliar aquilo que aprendemos, sabendo que as
competências adquiridas têm um sentido e um valor que jamais se
perderão.
Você pode perceber, então, que para lidar com Arte, bem como para
incluir elementos e obras artísticas em sua prática docente, é necessário obter
algumas chaves, sem as quais não podemos penetrar no mundo da Arte.
Vamos, então, conhecer algumas delas, em nossas próximas aulas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS