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Identidade Profissional Docente

Profª Lucinéia Contiero


Formação de Professores e Estágio
Supervisionado
Pontos de abordagem

1. Conceitos básicos sobre Identidade e Identidade Docente;


2. Situação atual do sistema educacional brasileiro;
3. Transformações necessárias;
4. Auto formação de profissionais docentes – condições
necessárias
A identidade profissional docente: interação entre experiências pessoais e profissionais do trabalhador.
Identidade se constrói e se transmite independentemente de contexto social ou cultural.

A identidade profissional é uma construção do “si mesmo” profissional que evolui ao longo da carreira
influenciado pela escola, por reformas e contextos políticos, incluindo, ainda, compromisso pessoal, disposição
para aprender a ensinar, crenças, valores, conhecimento sobre a matéria que ensina, o próprio ensino,
experiências passadas, vulnerabilidade profissional (LASKY, 2005), enfim, tudo o que forma uma “complexa
rede de histórias, conhecimentos, processos e rituais” (SLOAN, 2006). A identidade pessoal e profissional é um
processo em constante mudança, vinculado às relações estabelecidas entre experiência pessoal e vida social.
Goffman (1998) fala em “marcas de apoio à identidade”: combinação única de fatos da história de vida que,
incorporados ao indivíduo, acabam por formar sua identidade.

Dubar (1998): a identidade humana se constrói e se reconstrói ao longo da vida, dependente não apenas do
indivíduo, mas do julgamento de outros a seu respeito: “o modo de pensar e tornar operacional esta distinção
entre identidade pessoal (o que sou/gostaria de ser) e identificação social (como sou definido/o que dizem que
eu sou) dá margem a múltiplos desdobramentos”. O processo de formação da identidade segue dois caminhos:
a “identidade para si” e a “identidade para o outro”: inseparáveis e ligadas de maneira conflitante na medida em
que a experiência do outro nunca é vivida diretamente pelo eu, mas contamos com informações sobre a identidade
que o outro nos atribui.
Ciampa (1994): a identidade humana é dinâmica. Somos o que fazemos em um determinado momento e em cada
papel que desempenhamos. A identidade pessoal ou individual é única, marca a diferença entre os indivíduos.
Já a identidade social ou coletiva reflete o “repertório de papéis” ou “perfis” que o indivíduo desenvolve
durante sua vida e sustenta em um determinado grupo social (GOFFMAN, 1998). Os quadros sociais de
identificação condicionam os percursos individuais e levam a compreender os discursos biográficos como
processos identitários individuais por meio dos quais as crenças e as práticas dos membros de uma sociedade
contribuem para inventar novas categorias, mudar as antigas e reconfigurar os próprios quadros de
socialização.

A educação é contribuição na construção da identidade profissional, através dos conhecimentos e das normas que
veicula. Porém, é na experiência do mercado de trabalho que a dupla relação entre uma identidade para si e
uma identidade profissional para o outro se efetiva. A identidade profissional: “resultado de um processo
biográfico e de um processo relacional de uma transação objetiva entre uma identidade atribuída e uma
identidade proposta” (CANÁRIO & ALVES, 2008, p.3).

Contreras (2002): a autonomia do professor é busca de uma ação consciente e transformadora, tanto no que
diz respeito às condições de trabalho, quanto no que diz respeito à efetivação do processo de ensino e
aprendizagem. Nesse movimento, o professor aprende sobre seu trabalho e suas possibilidades pedagógicas
passando por um processo de reconstrução da própria identidade profissional. O professor constrói sua
autonomia a partir das dinâmicas presentes na ação educativa e, pensada numa dimensão mais ampla, no pleno
exercício profissional. Isto demonstra uma postura consciente e crítica frente ao próprio trabalho.
Revisões recentes sobre identidade profissional docente: é composta por sub identidades mais ou menos
relacionadas entre si e que preservam relação com os diferentes contextos nos quais os professores se
movimentam, sem que haja conflito. Quanto mais firme é uma sub identidade, mais difícil mudá-la; a identidade
profissional contribui para a percepção de auto eficácia, da motivação, do compromisso e da satisfação no
trabalho docente.

Josso (2010, p. 210): “a formação de um professor é o resultado das ‘artes do tempo’, isto é, o professor se
constrói como pessoa e faz uma opção profissional pela docência” e esta transforma a vida em projeto de
conhecimento, projeto de formação.

A formação de professores avança para a reflexão sobre os próprios conceitos constituidores do processo
formativo, enfatiza a necessidade de o professor tornar-se sujeito do conhecimento agindo com autonomia no
espaço educacional e de modo a ressignificar suas práticas a partir da problematização de seu contexto. Ver o
ambiente de ensino como um dos principais espaços para realizar pesquisas deve ser o primeiro passo para a
construção da identidade de um professor-pesquisador, ou professor em situação de auto formação.
Condições básicas necessárias: um processo de descobertas voltado para a pesquisa; proposta de articulação
dos conteúdos curriculares às atividades desenvolvidas; utilizar ferramentas teórico-metodológicas que
possibilitem a ressignificação de suas práticas no transcorrer do processo; registros de experiências;
prática do acompanhamento da docência e da pesquisa por meio de consciência reflexiva de trabalho. A
consolidação dessas diretrizes como instrumentos de auto formação podem contribuir para o desenvolvimento de
um modelo de docência que, por si, propicia a formação do professor-pesquisador. A partir dessa perspectiva,
infere-se que a universidade, enquanto instituição, é também formadora de seus próprios professores, estes
comprometidos com a auto reciclagem, em condição de sujeitos da auto formação mediada pelos processos da
pesquisa e capazes, nesta triangulação, da ação educativa enquanto intelectuais autônomos, instrumentalizados
por uma educação científica e crítica. Nóvoa (1992, p. 16): identidade traduz um “espaço de construção de
maneiras de ser e de estar na profissão”.

Referências:
CHAPMAN, J., & ASPIN, D. (2001). Schools and the Learning Community: Laying the Basis for Learning Across the Lifespan. In: D. Aspin, J. Chapman, M. Hatton &
Y. Sawano (Eds.), (Vol. International Handbook of Lifelong Learning, pp. 405-446). London: Kluwer.
LASKY, S. (2005). A sociocultural approach to understanding teacher identity, agency and professional vulnerability in a context of secondary school reform. Teaching
and Teacher Education, 21, 899-916.
SLOAN, K. (2006). Teacher identity and agency in school worlds: beyond the all-good/all-bad discourse on accountability-explicit curriculum policies. Curriculum
Inquiry, 36, 119-152.
CONTRERAS, J. A autonomia dos professores. São Paulo: Cortez, 2002.
NÓVOA. A. (org.) Profissão professor. 2 ed. Porto: Porto Editora,1999.
Médicas do Sul, 2000.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

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