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Fragmentos
da história cultural
de Cáceres
e outros fios da memória
Vol. I
C355f
Castrillon-Mendes, Olga Maria (Org.).
Fragmentos da história cultural de Cáceres e outros fios da memória.
Volume I. / Olga Maria Castrillon-Mendes (Org.); Natalino Ferreira
Mendes. 1ª edição. Cuiabá-MT: Carlini & Caniato Editorial, 2021.
192 p.
ISBN 978-65-88600-47-4
Editores
Elaine Caniato
Ramon Carlini
Capa
Elaine Caniato
Foto da Capa
Rai Reis
Revisão
Olga Maria Castrillon-Mendes
Apresentação...................................................................................................................... 11
Memória em Fragmentos
Apoteose........................................................................................................................... 135
Voar, velho sonho da humanidade..................................................................................... 137
Frente ao túmulo............................................................................................................... 139
Agonia luminosa de abril................................................................................................... 141
Problema de linguagem... cósmica................................................................................... 142
Ouvi estrelas...................................................................................................................... 143
Mãe.................................................................................................................................... 145
Ascensão........................................................................................................................... 146
Hosana ao filho de Davi..................................................................................................... 147
Poesia não morre.............................................................................................................. 148
Ave, Cuiabá........................................................................................................................ 149
Missa da juventude........................................................................................................... 151
Maio, mês de Maria........................................................................................................... 152
Dia da Pátria...................................................................................................................... 153
(No sesquicentenário da Independência)
Memória em Fragmentos
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de Cáceres, possibilitam, também, a reconstituição dos esgarçados tecidos de
um tempo em que as verdades absolutas eram tomadas como inquestionáveis.
Colocados à luz do contemporâneo, os livros são campos de conflito em que
se reconhecem as rupturas e incoerências.
A escrita está atualizada pelo autor, o que garante a fluidez dos textos e o
reconhecimento dos fatos que, revistos hoje, estão colocados como “fragmen-
tos”, pois são registros, cujas bases são amplamente utilizadas pelo escritor em
suas narrativas e poemas. Em variados momentos, os registros bibliográficos
foram complementados pela organizadora, o que explica a ausência da marca-
ção de datas em alguns deles, pela dificuldade de acesso às fontes.
Os dois volumes dos inéditos de Natalino Ferreira Mendes que vem à luz
por incentivo da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer SECEL/MT,
através da Lei Aldir Blanc/2020, trazem fragmentos da história e da memó-
ria cultural do Município de Cáceres. Oriundos de um projeto que objetiva
revitalizar a memória do escritor como Mestre da cultura mato-grossense,
os textos estão colocados de modo a instigar a curiosidade do leitor, como
bem gostaria de concluir o seu próprio autor, acostumado ao trabalho de
despertar os jovens à pesquisa sobre a cidade e esperançoso da dinamização
dos espaços da investigação acadêmica. É como se o Mestre, em sala de aula,
colocasse à disposição dos alunos, o planejamento de uma viagem pelo mun-
do das redescobertas de si a partir do conhecimento do seu próprio espaço
de representação. Portanto, é uma aventura pelos meandros da cultura, da
história, da memória e da reconstrução das manifestações do humano que
se solidificam nas temporalidades, muito próprios da constituição das iden-
tidades e do imaginário de cada leitor.
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Cáceres: 196 anos em busca da
concretização do sonho de Albuquerque
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surdo dos monjolos, pilões possantes movidos por força hidráulica. O ruído
dos engenhos de madeira, gritando nos eixos, espremendo a cana para fazer a
deliciosa garapa, o açúcar de barro, a rapadura.
O espírito aventureiro do homem descoberto, no seio das matas do alto
Paraguai, uma planta medicinal de grande valor: a Ipecacuanha, conhecida na
Região como poaia, dando lugar a um comércio lucrativo que tornou Cáceres
conhecida até no exterior. A busca da poaia criou o poaieiro, heroico batedor
de mato, que enfrenta de peito aberto a solidão a fera, o inseto e as doenças.
Ao lado dos poaieiros, igualmente destemidos, no seio das matas, lá estão os
caçadores de animais selvagens, extraindo peles e mais peles para os curtumes,
para exportação, incrementando o comércio. Heróis anônimos que fizeram a
grandeza do município.
Rios – Estradas que caminham: Paraguai, Jauru, Sepotuba, Cabaçal. Ouço
o rumor dos remos das canoas e batelões fendendo as águas. O bater caden-
ciado dos pés nas pranchas que sobem e descem os rios. Motores de lancha
e, acima de tudo, ouço o apito singular do vapor Etrúria, anos e anos ligando
esta terra a Corumbá.
Ouço a Natureza, a voz dos pássaros mil. O grito de anhuma nas baías.
O vento norte conduzindo fagulhas de queimadas. Sinto o cheiro da terra nas
primeiras chuvas. O sibilo das cigarras nos cajueiros. Rios e córregos tombando
em cachoeiras e cascatas. Rodas hidráulicas movimentando máquinas de usinas
como Ressaca, Jacobina e tantas outras. É a natureza cacerense. É o homem
lutando com a natureza. É o homem vencendo a natureza. O homem querendo,
o homem produzindo, o homem fazendo progresso.
A cidade cresceu sob o comércio da terra. Noites escuras e noites de luar.
A Intendência estabeleceu nas ruas lampiões à querosene. Criou-se um tipo
popular: o Lampareiro (acendedor de lampiões da rua). Eu os vejo todas as
tardes, escada ao ombro ascendendo um por um os lampiões da rua para ilu-
minar a cidade.
Cáceres das velhas tradições: festas anuais de São Benedito, senhor Divi-
no e São Luiz. Festas tradicionais tão queridas do povo: luminárias, touradas,
cavalhadas realizadas nas Praças Rio Branco e Duque de Caxias.
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Terra do folclore com danças típicas do Siriri, São Gonçalo e a célebre
“função” tão do gosto da nossa gente. Festas Juninas de S. João, Santo Antônio
e São Pedro com o espoucar de bombas e foguetes, balões no ar e sortilégios.
A descida do Judas no sábado de aleluia nos quatro cantos da cidade. O povo
divertindo-se, cantando e dançando, como lenitivo de trabalho duro cotidiano.
Meados do século XX: a rodovia atinge Cáceres e por ela os caminhões
de carga. O transporte passa a ser feito por estes e a navegação fluvial diminui
até quase a estagnação total.
A estrada facilita a penetração no ocidente cacerense, desencadeando in-
tensa imigração no município. Brasileiros de quase todos os Estados para cá
se deslocam em busca das boas terras para a agricultura. E Cáceres, em pouco
tempo, se renova. A agricultura se desenvolve a ponto de tornar Cáceres um
dos municípios de maior produção em Mato Grosso. A nova Cáceres surgiu
sob o ronco dos possantes caminhões e gente chegando, abrindo picadas, plan-
tando e colhendo. Automóveis e caminhões, jipes e tratores, serrarias e aviões
formam a orquestra de trabalho de hoje. Núcleos urbanos desenvolvem-se pelo
interior do município como sementeira de novas cidades, realizando assim o
sonho-visão de Albuquerque. A cidade quase bicentenária toma novas vestes
com suas praças ajardinadas, ruas calçadas, colégios, clubes, estádios de fute-
bol. Cáceres com energia elétrica abundante trazida pela CEMAT, ensejando
a penetração de novas indústrias para que seja esta Terra verdadeiramente um
polo de desenvolvimento de toda esta vasta região mato-grossense.
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Marco do Jauru
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gócios do Reino e fidalgo da Casa Real. Atuou o grande político patrício no
Tratado de 1750 que deu origem ao nosso monumento, ao lado de insígnes
diplomatas espanhóis e portugueses, proporcionando àquele documento a
necessária e preciosa dose de bom senso e tato diplomático com referência à
América, notadamente na preservação da paz no Novo Mundo, sob a política
boa vizinhança. “Justiça e Paz se beijaram” – inspiração do convênio para a
grande família americana.
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Marco Geodésico “Prof. Dr. Miguel Alves de Lima”
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Marco Geodésico, ponto desconhecido pelos cacerenses
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Fumaça: é a tua vez
Uma das bases em que se firmou Albuquerque para fundar Cáceres, foi a
fertilidade do solo, regado de abundantes águas. Com efeito, olhando o mapa
do Município nota-se a excelente colocação de suas terras, banhadas pelos
rios Paraguai, Sepotuba, Cabaçal e Jauru. Sabia o grande Capitão-General que
terreno fértil cortado de grandes rios, como os nossos, com nativas pastagens,
ofereceria facilidade para a criação de gado. Do solo viriam as plantações, de-
senvolver-se-ia a agricultura e as duas atividades, pastoril e agrícola, formariam
a riqueza e a prosperidade da região.
Quase duzentos anos depois assistimos à concretização daquele previsto de
Albuquerque. Cáceres foi sacudido pela nova bandeira de brasileiros de vários
Estados e alguns estrangeiros, que para aqui se deslocaram à procura de boas
terras para a cultura, criação de bovinos e exploração de produtos da terra.
Cáceres ergue-se de um pulo e procura cerrar fileira com outros municípios
para o desenvolvimento integral de Mato Grosso.
Rico de natureza e privilégios na posição geográfica, Cáceres está apare-
cendo econômica e demograficamente. Cresceu o povo, aumentou a expressão
econômica do Município. Produz-se. Mas não basta produzir. É necessário
transformar a matéria prima. O Município precisa industrializar-se. Nesse setor
estamos atrasados, porque nos falta energia elétrica abundante e barata. Mas,
de onde tirá-la? Albuquerque sustentou que a base do nosso progresso estaria
na própria terra, no solo e nas águas. E é verdade. Ali está o histórico rio Jauru:
Filho, como o Paraguai,
Da Serra de Rondon,
A Parici,
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Desce do planalto,
O Jauru
Inquieto e correntoso.
Súbito, falta-lhe o solo
E tomba
Numa queda de quarenta metros,
Formando o “véu de noiva”
Do salto da Fumaça.
Por séculos a energia, ali, flui inaproveitada, à espera do homem que a
utilize para o progresso do Município. Albuquerque deu-nos Cáceres - a terra
de promissão. Quem nos dará a Usina Hidroelétrica da Fumaça? Algo indefi-
nível paira no ar do ambiente cacerense que nos faz pensar e acreditar que esse
homem será o Governador Fragelli.
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Vias fluviais de comunicação
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não o sendo daí em diante senão por canoas. O Cabaçal, 12 quilômetros
acima, é um rio caudaloso e profundo, mas estreito e tortuoso por cuja
razão só é navegável por pequenas embarcações a remo e a zinga, isto
francamente até a barra do rio Vermelho, seu maior tributário, que tam-
bém é estreito e sinuoso. Desse ponto em diante, quanto mais se aproxima
das cabeceiras vai ele se tornando de trânsito difícil até a zona aurífera;
sendo os obstáculos na sua maior parte consistentes em tranqueiras de
paus ou árvores caídas pelo leito. Logo acima da barra do Cabaçal e a 24
quilômetros desta cidade dá entrada no Paraguai o belo Sepotuba, bem
largo e correntoso, com excelente água potável. Até o lugar denomina-
do Barra do Juba, 138 quilômetros desta, transitam, durante as águas,
embarcações a vapor de 4 pés aproximadamente de calado; e daí para
cima, em consequência das fortes correntezas e passos estreitos, rasos, só
chegam ao porto de Tapirapuã, que fica no sopé de Serra dos Paricis e a
180 quilômetros desta cidade, embarcações menores. Dois são os vapores
que fazem a carreira de Corumbá a esta praça: o “Etrúria”, de 30 cavalos
de força, com acomodações para passageiros de ré e de proa, além de
porões de carga; e a lancha “Linda Haydée”, rebocadora. As viagens são
feitas, águas acima, no termo de 4 dias, e de descida em 2 a 3 dias, isto
não havendo empecilhos de seca ou de camalotes. Nas águas do interior
do Município estão em movimento as seguintes lanchas (a vapor e a
gasolina): Nhambiquara, Sant’Ana, Juanita, Sereia, Perseverança, Seis de
Outubro, Anjo da Ventura, Maria e Izaura. Acidentalmente, no entanto,
vêm a este porto embarcações pertencentes a outras linhas, e em deter-
minados fins. Seguem-se as pranchas, batelões, montarias que, em grande
número, cruzam conjuntamente àquelas embarcações, principalmente
durante o estio, quando a estas se torna impossível o trânsito, e como
recurso imediato”.
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Viagem fluvial São Paulo-Cáceres
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enche o coração dos cacerenses, apresenta aos denodados bandeirantes
e nautas da “Carlos de Campos”, os seus efusivos saudares.
Aos heroicos patrícios Luiz Senatore Neto e Antônio Senatore, que fazem
o “raid” fluvial São Paulo-Belém, os nossos melhores e mais ardentes
votos de bons ventos, para que essa tão arrojada empresa tenha feliz
término, para maior orgulho e grandeza do nosso Brasil. (Fonte: Jornal
A Rua/junho de 1928. Cáceres-MT, 07/06/1998)
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O Telégrafo chega a Cáceres
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da Bolívia por outros dois – Corumbá e Coimbra – sem contar com São Luiz
de Cáceres, sede, como os dois outros pontos, de estacionamento de forças
militares, embora não estando no limite do território brasileiro”1.
A Estação Telegráfica instalou-se, segundo os mais antigos, na Avenida
7 de Setembro esquina com a rua Padre Casimiro, onde é hoje o Hospital São
Luiz. O primeiro telegrafista foi, de acordo com as mesmas fontes, o Sr. Fru-
tuoso Mendes.
1 Esther de Viveiros. Rondon conta sua vida. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1958.
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Telefone interurbano
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Rodovia Cáceres-Barra do Bugres
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construção gradativa da estrada ligando Cáceres a Barra do Bugres, a área do
nosso Município.
Nessa administração foram construídas as primeiras pontes do projeto,
nos seguintes cursos d’água: Barreiro Vermelho, Taquaralzinho, Cachoeirinha,
Anhumas, Tapera e Figueirinha, e os aterros nas matas do Taquaralzinho e
Anhumas. A estrada Cáceres-Barra do Bugres serve, em nosso Município, a
região tradicionalmente chamada “Morraria”, que, no passado, ficou também
conhecida como “celeiro da cidade”.
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A Primeira iluminação pública
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Cáceres entrou, assim, para o rol das cidades iluminadas artificialmente, à
noite, por meio dos lampiões de rua, que fizeram época, até que lhe veio tomar
o lugar a energia elétrica em 1951. A iluminação a querosene deu ensejo à pro-
fissão de lampareiro – o acendedor de lampiões de rua – figura que se tornou
popular e querida, pois era ele que iluminava as noites cacerenses de outrora.
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Luz elétrica no Colégio São Luiz
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professor extraordinário. Tinha sob sua direção, na mesma sala, três
turmas diferentes, terceira, quarta e quinta séries primárias, em dois
turnos diários, e a todas atendida com a mesma dedicação. Além das
aulas normais, tínhamos leitura de livros da biblioteca, cinema, teatro,
jogos educativos das mais variadas espécies e, nos intervalos de aula,
futebol. Alguns colegas aprenderam violino com Frei Salvador e outros
tornaram-se bons técnicos com base nos excelentes ensinamentos desse
mestre que ainda distraía os alunos com números de prestidigitação e
teatrinho de fantoches2.
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Imposto de iluminação pública
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Nem de tão avultado capital se necessitava (para geração de energia elé-
trica), porquanto, a força motriz poderia ser fornecida pelos senhores
Castrillon & Irmãos, que possuem em suas oficinas uma máquina a vapor
com força suficiente, 55 cavalos, segundo cálculo feito pelo engenheiro
civil Francisco Villanova, a meu pedido, para acionar um dínamo com
capacidade para fornecer sobejamente luz para esta cidade e por muitos
anos.
Diz ainda o Sr. Prefeito que os senhores Castrillon & Irmãos cederiam
uma parte de seu galpão para instalação do dínamo e de seus acessórios e tudo
isso por um aluguel a meu ver razoável, poupando ainda a Prefeitura dos incô-
modos, preocupações e aborrecimentos que tais serviços sempre ocasionam.
A obra, porém, não foi concretizada por falta de recursos e pela exiguidade
de tempo em que o Dr. Costa Marques esteve no Governo no Município de
Cáceres.
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Hóspedes ilustres (I)
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Após os cumprimentos e apresentações, foi-lhes servido, no salão da
Prefeitura Municipal, um lunch, tendo ali feito uso da palavra, para dar-lhes
as boas-vindas em nome do Prefeito e da cidade, o nosso companheiro nesta
casa, Dr. Luiz M. Ambrósio, Presidente da Câmara Municipal. Em seguida
falaram S. Ex. o Sr. Governador do Estado, o Almirante Gago Coutinho, Dr.
Gustavo Barroso e o Senador Assis Chateaubriand. Nessa mesma tarde a comi-
tiva visitou entre outros pontos da cidade, o Ginásio Estadual Onze de Março,
sendo ali homenageado o representante do Ministro da Educação. Do Ginásio
passou a comitiva para a sede da USA (União Social de Assistência), onde foi
lançada a pedra fundamental do Centro de Puericultura, doado pelo Banco
do Brasil, graças aos esforços do Senador Assis Chateaubriand, que abriu a
solenidade, enaltecendo os trabalhos da USA. Agradece a dádiva, em nome
do Prefeito, o Dr. Ambrósio Filho, diretor do Jornal A Razão. Às 20 horas do
mesmo dia, realiza-se o jantar oferecido aos visitantes pela sociedade no salão
nobre da sede do Governo Municipal, onde se fizeram ouvir vários oradores.
Após o jantar, realizou-se, na sede do Esporte Clube Humaitá, animado baile
que se prolongou “até alta madrugada”. No baile, foi o Marquês Pierre de Segur
coroado “bugre cacerense”, pela Sta. Telu, filha do Governador do Estado. Na
manhã seguinte a ilustre caravana deixou Cáceres, embarcando em aviões da
FAB – Força Aérea Brasileira.
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Hóspedes ilustres (II)
“Mais um Front. Cáceres ganhou com a visita que recebeu. À tarde do dia
da chegada dos caravaneiros, foi lançada a pedra fundamental de mais
um front da luta pela redenção da criança: um posto de puericultura, doa-
do pelo Banco do Brasil e de que será patrono o embaixador de Portugal,
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Sr. Antônio Faria. Além dos Senador Assis Chateaubriand, falaram na
ocasião os Srs. Marcos Carneiro de Mendonça, em nome do benemérito
Tio Candinho e Leopoldo Ambrósio Filho. Em seguida, fomos visitar a
sede da União Social de Assistência, que é mantida graças a uma plêiade
de ilustres damas da sociedade, capitaneadas pelo espírito diligente e
organizador da Sra. Paula Oest, esposa do Ten. Cel. Henrique Cordeiro
Oest. No posto da USA cuida-se realmente da criança.
Mas, uma viagem de tanta significação como essa teria que terminar com
uma solenidade que fugisse do comum, ao rotineiro de todas as outras.
E foi o que aconteceu numa festa realizada à noite, pelo Clube de Cáce-
res, o Humaitá: depois de uma exibição das danças regionais “Cururu”
e “Siriri”, o nobre francês Marquês Pierre de Segur, foi coroado “bugre
cacerense”. Coube a Telu, filha do Governador de Mato Grosso, a honra
da coroação. E o jovem marquês, que já conhece o Brasil mais do que
muitos brasileiros, recebeu o cocar, o cetro de penas, o arco e a flecha.
Cáceres conquistara mais um admirador.
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Abastecimento de água – 1925
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iniciativa da firma Castrillon & Irmãos, a partir da década dos anos trinta. Na
década seguinte (administração Dr. José Rodrigues Fontes – 1947/51), o serviço
de abastecimento de água passou para a competência do Município, através
do SAAE – Serviço de Abastecimento de Água e Esgoto de Cáceres, criado em
1958, e, finalmente, em 1975, foi transferido para a SANEMET – Companhia
de Saneamento do Estado de Mato Grosso.
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Dispensário São Luiz
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também gratuitamente lhes serão administrados os remédios necessários.
Essa bela iniciativa que devemos à benemérita Missão Franciscana, vem
preencher uma lacuna que muito se fazia sentir, numa cidade onde não
existe instituição alguma de caridade para mitigar as dores dos nossos
irmãos necessitados, ainda mais numa região assolada pelas endemias
tropicais e numa época de crise como a que atravessamos em que a po-
breza é um fato doloroso em muitos lares.
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Comércio em São Luiz de Cáceres – 1922
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exorbitância dos impostos federais e baixa extraordinária do câmbio, do
que resulta ficar a mercadoria de difícil venda. A corrente de transações
encaminhou-se consequentemente para as praças de São Paulo e Rio de
Janeiro, as quais abarrotam esta de mercadorias nacionais.
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A Gripe de 1921 em Cáceres
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Tráfego em Cáceres – 1947
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Vias Terrestres de Comunicação
Muitas são as estradas de rodagem que cruzam por toda parte do Mu-
nicípio, estabelecendo comunicação com a cidade. Não são, contudo,
perfeitas em razão de faltar-lhes o completo preparo: alinhamento, pontes
e pontilhões, aterros, abertura de saliências pedregosas e montículos,
de modo a tornar franco o trânsito para carros e veículos. Somente em
alguns trechos há estradas para estes, isso mesmo encontrando dificulda-
des desde que exceda de 15 a 20 quilômetros fora da cidade. Entretanto é
de lamentar que até o presente não tivesse o governo do Estado podido
destacar uma parte da verba “Obras Públicas”, que tem variado desde
200, 300 a 500:000$000 (orçamento de 1920) para acudir este Municí-
pio em melhoramento das principais vias terrestres, auxiliando assim
eficazmente as indústrias constrangidas por esses empecilhos altamente
prejudiciais. Em todos os países onde a agricultura floresce, constituin-
do a verdadeira riqueza de uma nação, é isto devido à multiplicidade
das vias de comunicação, permitindo serem aproveitados todos os bons
terrenos e valorizando-os consequentemente. Qualquer indústria rural
depende forçosamente desses meios para progredir. As estradas princi-
pais pela sua extensão, com bifurcações para os pontos intermediários,
são as seguintes:
1 - A que se dirige à Capital do Estado, via direita, na distância de 120
quilômetros até o Sangradouro Grande, que é a divisa com o Município
de Poconé. 2 - A que se dirige à mesma cidade, via Poconé, extensão de
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102 quilômetros até a Madre dos Passos. 3- A que se segue, em conti-
nuação oposta, para a cidade de Mato Grosso, até Porto Esperidião, na
extensão de 108 quilômetros. 4 - A que vai para S. Mathias, povoação
boliviana, na distância de 120 quilômetros até a linha divisória. 5 - A que
parte para a Barra do Bugres onde chega com 180 quilômetros. 6 - A que
segue para a Larga, extremo sul praticável, com 96 quilômetros.
Fora destas, caminhos há em grande número, entretendo comunica-
ção desta cidade com todos os estabelecimentos agricultores, fazendas,
feitorias e onde quer que hajam habitantes. Os produtos das herdades
marginais dos rios e das safras de Ipeca e borracha são conduzidos por
embarcações; e os da grande e pequena lavoura central por carros, carro-
ças, tropas e bois ou de burros. De Cuiabá a esta cidade há uma distância
de 300 quilômetros, estando a funcionar uma linha de correio quinzenal
a qual toca nos pontos intermediários: Livramento e Poconé, continuan-
do, em outra seção, para Mato Grosso, com viagem mensal. Da Barra do
Bugres parte a estrada de Rosário Oeste e ao Diamantino. Do Tapirapuã,
para onde há caminho margeando o Sepotuba, segue a estrada feita pela
Comissão Rondon com destino a Santo Antônio do Madeira, em segui-
mento ao traçado da linha telegráfica estratégica”.
Barra do Bugres, por esse tempo, fazia parte do município de Cáceres,
como um de seus distritos, só se emancipando em 1944.
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Estação Experimental de Ipecacuanha
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Lucídio de Medeiros, João Ponce de Arruda e Virgílio Alves Corrêa, no Rio
de Janeiro.
A resposta veio através do telegrama do Deputado João Ponce de Arruda,
nos seguintes termos: “Prefeito João Souto – Cáceres-MT – Dr. Felisberto Ca-
margo prometeu-me fazer visita essa cidade e lugar escolhido para instalação
Posto Experimental ainda este ano a fim tomar providências concretização
medida tão certa para vossos interesses econômicos”.
A Estação Experimental de Ipecacuanha já havia sido criada pela Lei nº
729 de 03/06/1949 (administração municipal do Dr. José Rodrigues Fontes),
no rio Sepotuba, subordinada ao Instituto Agronômico do Oeste, sediado em
7 Lagoas (MG), com o objetivo seguinte: estudo e defesa da cultura da Ipeca-
cuanha, prestando além disso assistência agronômica regional peculiar aos
estabelecimentos da natureza.
Na década dos anos setenta, todavia, a Estação Experimental de Ipecacua-
nha foi desativada e o respectivo pessoal transferido para o Posto Agropecuário
do Ministério da Agricultura localizado na periferia sul desta cidade, à margem
esquerda do rio Paraguai. Este Posto, por sua vez, passou para a administração
da EMBRAPA que o transformou numa Estação Experimental, sendo ainda,
posteriormente, absorvido sucessivamente pela EMPA-MT e EMPAER-MT.
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25 de junho: inauguração da cidade de Cáceres
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mais de quinhentos. À mingua de recursos municipais e estaduais, contribuí-
ram como puderam para minorar o sofrimento dos indigentes, as farmácias
Popular e Dulce, fornecendo medicamentos. Apela-se, então, com veemência
para o Governo do Estado. Este manda pôr à disposição da Intendência a quan-
tia de um conto de réis, “lamentando diante da angustiosa situação financeira,
não poder atender, como desejaria”. A Intendência é, pois, obrigada a fazer mais
esforço para atender os doentes e pobres, apesar, diz o Sr. Intendente, das “sérias
dificuldades que o assediam desde o início de sua administração”.
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Dreadnought
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mente pesada e grande velocidade. O primeiro couraçado construído, segundo
as novas ideias, acrescenta a mesma Enciclopédia, foi o inglês Dreadnought,
que deu o nome aos navios de guerra do mesmo tipo.
Interessante é observar que a Resolução acima citada, da Câmara Mu-
nicipal desta cidade, não foi um ato de fundamento exclusivamente oficial.
Tem ela, na base, a componente popular, caracterizada pela presença de uma
comissão organizada pela comunidade, sinal dos momentos de grande exalta-
ção da sociedade, onde, geralmente, o civismo aflora na pele dos cidadãos.
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Cemitério Municipal de Cáceres – 1922
Esse lugar, que merece a nossa veneração por ser a nossa última morada
comum, devido aos fortes aguaceiros que caíram em janeiro deste ano,
ficou transformado em um montão de ruínas; das quatro paredes que
circundavam-no, desabaram três; era, pois, preciso fazer-se mais um con-
serto, porém, uma reconstrução. O Sr. Professor José Rizzo, Intendente
Geral, em seu relatório apresentado em 1921, vos cientificou que era
de urgente necessidade aumentar-se a área do cemitério, porque cada
inumação tinha a preceder-lhe uma exumação e assim é, não porque
a quantidade de mortos ultrapassa a capacidade da área existente no
cemitério, mas, devido ao modo pelo qual tem sido e continuam sendo
feitos os sepultamentos – sem ordem nem preceito de espécie alguma.
As sepulturas ou ficam sem nenhum sinal ou são assinaladas por simples
cruzes de madeira, de curtíssima duração (se bem que durem muito mais
que as Eternas saudades que inconscientemente ostentam em cartazes
mais ou menos artísticos e vistosos), de modo que desaparecida a mo-
desta cruz, ninguém mais poderá saber o lugar e a data do sepultamen-
to, e muito menos quem era a pessoa ali sepultada; e, eis aí como, com
costume inveterado de se marcar a esmo o lugar de novas sepulturas,
frequentemente revolvem-se outros cadáveres, em estado incompleto de
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decomposição, o que pode trazer consequências funestas à saúde pública.
Atualmente não existe, e creio que nunca existiu, no cemitério desta ci-
dade, um indispensável livro para registros de sepultamentos, cujo livro
julgo imprescindível e o instituirei em 1º de janeiro de 1923. Tendo de
tratar da construção do cemitério julguei a ocasião oportuna para fazer o
aumento de que carecia, e, agregando-lhe uma faixa de terra ficou a área
aumentada de 3.073 metros quadrados. Edificou-se 25 metros de muro,
sendo 155 metros de tijolo e argamassa e 95 metros de adobes. A capela
existente no cemitério foi retelhada e forrada internamente, de madeira,
e toda pintada a tinta de óleo.
Albuquerque Nunes diz ainda, no mesmo relatório, que adquiriu um
milheiro de placas de ferro esmaltado, com numeração seguida, para assina-
lar as novas sepulturas. Do anterior administrador municipal de Cáceres, Sr.
Adolpho Frederico Josetti, guardamos estas palavras a respeito dos cemitérios:
“a cultura dos sentimentos dum povo, no que ele tenha de mais humano, é o
respeito aos mortos, sintetizando no cemitério, último abrigo dos despojos de
nossos entes queridos” (ortografia atualizada nas citações).
*
Cemitério: Pela origem da palavra, Cemitério quer dizer simplesmente
dormitório. Portanto, nada de tristeza ou horror e muito menos desespero.
Dormitório, apenas. Aqui dormimos. E dormir é descanso, repouso, paz. Por
outro lado, dormir encerra em si o despertar. Passado um certo tempo, mais
ou menos longo, quem dorme acorda. Assim é a morte: um longo sono, sem
sonho ou pesadelo. Por isso, Cemitério é lugar de silêncio e de oração. Silêncio
porque não se deve fazer rumor perto de quem dorme; oração, porque esta é
um elo que liga o vivo ao falecido. Diz-se também que Cemitério é a nossa Casa
comum. Isso é verdade porque todos aqui dormiremos o grande sono até que os
tempos se completem. Então, haverá o despertar. Será uma aurora como nunca
jamais foi vista ou sonhada na terra. Como da larva sai a borboleta multicor,
da matéria sepultada sairá o novo homem para uma existência mais perfeita.
Cáceres, novembro, 2/1961.
60
Antecedentes da grande migração em Cáceres
Até aqui, diz o Sr. Souto, o principal motivo do isolamento de Cáceres foi
a falta de comunicação rápida. Essa situação começou a modificar com a
ligação aérea, a partir dos anos trinta. A aproximação das metrópoles com
o sertão exerceu influência benéfica para o desenvolvimento do Estado
de Mato Grosso. Chegam a estas longínquas paragens, frequentemente,
homens de negócios, industriais, representantes de empresas coloniza-
doras, os quais se mostram vivamente interessados no desbravamento
de nossas terras. De outra parte, o Governo do Estado, com o propósito
de favorecer o povoamento do território, de criar núcleos agrícolas, de
intensificar a exploração das riquezas que continuam no subsolo e na
superfície, adotou um plano progressista de venda de glebas neste e em
outros municípios. Como resultado dessa política, vimos procurarem
esta região inúmeros concidadãos de outros Estados, notadamente São
Paulo, homens de larga visão, experimentados na exploração do solo e na
expansão das riquezas, os quais já começaram novo ciclo de penetração
nas zonas inexploradas do País.
Por esse tempo, 1953, a energia elétrica era fornecida somente à noite, pela
Usina Diesel da Prefeitura, deficiência que se constituía em entrave ao desen-
volvimento do município. As atenções da administração municipal passaram a
se fixar no aproveitamento do potencial hidráulico dos saltos Juba e da Fumaça,
que não se concretizou, porém, por falta de recursos.
61
Concluindo, o Sr. Ferreira Souto diz:
62
A fixação do homem na terra
5 Etnias e culturas no Brasil. Biblioteca do Exército Editora. Rio de Janeiro, 1980, p. 29.
63
espelha no modo de viver, nas rezas e nas festas, nos cantos e nas lendas
das populações menos cultas e dos sertanejos que vivem no interior
do município6.
A coragem pessoal, a dissimulação, a astúcia, a confiança em si mesmo,
são características advindas da própria situação em que se criou, de isolamento,
num meio quase sempre hostil, que o obriga a ser autossuficiente e agir com
decisão e rapidez nos movimentos.
64
Em defesa do Pantanal: Cáceres presente!
65
conviveu o cacerense em equilíbrio com a natureza. Rios, campos, matas e o
Pantanal desempenharam suas funções, adaptando-se o homem desbravador
e povoador da região ao meio-ambiente, donde tirou o seu sustento e desen-
volveu a sua economia.
Eis por que a comunidade cacerense está alerta contra as agressões ao
ambiente natural. Reúne-se, através dos seus segmentos representativos para
se posicionar em favor deste imenso e excepcional ecossistema formado pelo
Pantanal mato-grossense, considerado com Patrimônio Nacional pela Cons-
tituição Brasileira de 1988.
É no município, célula vital do País, que o espírito de vigilância e pre-
servação do nosso patrimônio deve perseverar, porque a nossa vida, como
indivíduo e sociedade, depende da manutenção do equilíbrio da vida do nosso
querido planeta, a Terra.
Cáceres-MT, 07/09/1990.
66
Presente!
Cáceres, como se pode ver pela sua história foi, guardadas as proporções, e
considerando o isolamento em que viveu no passado, um ponto de ressonância
dos acontecimentos nacionais e até internacionais. Foi e continua sendo “pre-
sença viva nas plagas fronteiriças”, que se sintetizou na divisa latina da nossa
bandeira Ad sum – Presente!
Assim é que, em 1935, através do jornal Fronteira, que se editou nesta
cidade, a memória cacerense conservou a notícia da repercussão, em Cáceres,
do fim da guerra do Chaco entre a Bolívia e o Paraguai, nos termos seguintes:
“Te Deum: por motivo de cessação das hostilidades no Chaco Boreal, para o
que muito fizera a comissão dos países neutros, merecendo assim o louvor de
toda a humanidade que dorida assistia o derramar inútil de sangue irmão. Frei
Ambrósio Daydée, do Vice-Cônsul da Bolívia, nosso prezado diretor, Sr. João
E. Curvo e do Prefeito, Sr. Armando Granja, solene Te Deum.
Após a cerimônia, à porta da igreja, perante numerosa assistência, fez uso
da palavra o Sr. Gonçalo Ortiz Saavedra, súdito Boliviano aqui em tratamento
de saúde, agradecendo o interessa e o carinho do povo cacerense para com os
aflitos vizinhos e enaltecendo a ação dos governos que interferiram na con-
tenda, notadamente a do nosso, por intermédio do seu chanceler Dr. Macedo
Soares.
67
Cáceres: sonho-realidade de Albuquerque7
7 Cf. em Memória cacerense (1998) o mesmo título com texto diferenciado, p. 23-31.
68
Cáceres: 193º
69
Um núcleo forma-se de homens decididos, os quais, herdando dos heroi-
cos bandeirantes paulistas a coragem e o espírito de aventuras, desde logo se
lançam à conquista da terra. Sítios vão surgindo pela vasta área do município
e, graças às boas pastagens, desenvolve-se a pecuária, tornando-se a principal
atividade e a maior riqueza da terra.
O tropel dos vaqueiros na sua pesada lida enche os campos. Os “eias” dos
campônios misturam-se ao tropel do gado, ecoando na amplidão dos descam-
pados ou na faina dura dos rodeios. As fazendas de gado espalham-se pelo
território através dos pantanais, consolidando a atividade pastoril do município.
Outros, tangidos pelo ardor pioneiro herdado dos seus ancestrais embrenham-
se nas opulentas matas do alto Paraguai e lá descobrem preciosa e esquiva
Poaia. É o ouro-negro que substitui o amarelo dos garimpos diamantinos. Surge
ali um personagem heroico – o Poaieiro, esse destemido batedor de mato que
merece uma página da nossa história. Não é só. Ao lado destes, lutam audacio-
sos e destemidos, os famosos caçadores de animais selvagens. Incrementa-se
o comércio de peles, alimentam-se os curtumes locais e de outras praças. Vão
peles para o exterior.
O Paraguai com os afluentes são a via de penetração para o interior e por
onde se processa o comércio cacerense. Pranchas e pequenas embarcações
subindo e descendo rios, ecoando, ao longe, o baque surdo dos pés nos bor-
dos, cadenciado, zinga no peito forte, orquestra rude do trabalho obscuro.
Mas há também os que se aferram à terra e a fazem produzir: os lavradores.
Desde os tempos mais remotos, localizaram-se os agricultores na zona nor-
deste e leste do município, na região da bela serrania que os estende de norte
a sul. Formaram-se sítios prósperos que por muitos e muitos anos foram o
celeiro de Cáceres. De lá vinha a totalidade das provisões para a cidade nas
costas dos mansos bovinos congregados em grandes tropas ou em cima de
gemedores carros-de-bois.
Quanto sacrifício suportaram, quanta dificuldade afrontaram os habitantes
desta terra longínqua, quando o Brasil era somente o litoral! Ao avaliarmos
essa luta titânica, sentimos que verdadeiramente a sobrevivência desta terra
e desta cidade se deve ao trabalho, à constância e ao espírito de brasilidade
70
de um povo que, apesar de isolado na distância, soube trabalhar e granjear a
própria subsistência.
Os tempos são outros. Nova bandeira penetra o município. Brasileiros de
quase todos os Estados da Federação redescobrem Cáceres e elegem o muni-
cípio para seu novo domicílio. A fama das terras (que Albuquerque previra)
atrai para aqui os homens da gleba. São eles o sangue novo que, em grande
quantidade vem precipitar o nosso progresso. E, da noite para o dia, o cenário
transforma-se. Povoam-se os vales dos rios Jauru e Cabaçal, avançando a colo-
nização para as margens do Sepotuba. É a terra da promissão, a mesopotâmia
cacerense. Aumentam-se as searas. A lavoura toma relevo. A produção é gran-
de, gigantesca. Cáceres muda de feição. Admira-se o crescimento da população
infantil e jovem do município, verdadeira explosão de mocidade!
Que importam os cento e noventa e três anos de idade? Cáceres está em
plena juventude. Rejuvenesce na geração nova e marcha para o progresso com
o Brasil.
71
Exposição Agropecuária de Cáceres
72
no local onde se encontra até hoje o respectivo parque, denominado Dr. José
Rodrigues Fontes.
Embora tenha sido sugerida para 6 de outubro a data da realização da pri-
meira Exposição Agropecuária e Industrial de Cáceres, esta aconteceu, porém,
no mês de setembro de 1965, com encerramento no dia 28, considerado, por
isso, feriado municipal pelo Decreto nº 32 de 27/09/1965.
Com 33 anos de existência perseverante, a EXPOAGRO de Cáceres estará
realizando, este ano, a sua 34ª apresentação em nossa cidade.
73
Campus Avançado do Projeto Rondon (I)
74
Foram formadas 5 equipes que se deslocarão amanhã para os seguintes
locais: Equipe 1: Glebas Salto do Céu, Rio Branco, Panorama, Lambari e
Cabaçal; Equipe 2: Mato Grosso (Vila Bela), Pontes e Lacerda, Jauru, Por-
to Esperidião e Mirassol D’Oeste; Equipe 3: Destacamentos de Fortuna,
São Simão, Casalvasco e Gleba Monte Cristo; Equipe 4: Destacamento
de Corixa e Equipe 5: Bela Vista do Norte e populações ribeirinhas do
rio Paraguai.
75
Campus Avançado do Projeto Rondon (II)
76
diversos convênios destinados à sua manutenção, constituindo-se a sua
implantação uma das maiores conquistas dos universitários mato-gros-
senses.
77
Cáceres: duzentos anos
78
na, Flechas, Descalvados, Ressaca, Taquaral, Cachoeirinha, Facão, Quilombo
e tantos outros.
Diminuída a intensidade da corrida do ouro nas lavras diamantinas, ini-
cia-se a exploração das matas do alto Paraguai. Um novo ouro salta à luz, a
Ipecacuanha – o ouro negro da floresta. Extrai-se nas matas a borracha e os
caçadores intrometem-se pela selva em busca de peles de animais silvestres. A
nossa economia se baseia então na agricultura, pecuária e na indústria extra-
tiva animal e vegetal. Essa estrutura possibilitou a Cáceres manter posição que
mereceu reparo dos membros da Comissão Rondon-Roosevelt, em 1914. O
Comandante Pereira da Cunha, que acompanhava Roosevelt, assim se expressa
a respeito desta cidade: “e essa praça ultrapassou de muito a nossa expectativa
pelos grandes recursos comerciais de que dispõe, apesar de extremo afasta-
mento dos centros comerciais e chamados civilizados”.
Cáceres, vila em 1859, recebe os foros de cidade em 1874. A Câmara ad-
ministra o município na sua dupla função de deliberar e executar, situação que
perdura até o advento da República, quando a Câmara deixa a função executiva
para um Intendente Geral. Em 1930, o chefe do Executivo passa a denominar-
se Prefeito Municipal.
Pela Lei Federal nº 5449, de 4 de junho de 1968, Cáceres foi incluída en-
tre os municípios declarados de interesse da Segurança Nacional. A partir da
década dos anos cinquenta, com o advento da rodovia ligando esta cidade a
Cuiabá e com a construção da ponte de concreto sobre o rio Paraguai, unindo
as margens orientais e ocidentais de Cáceres, o município passou a ter um rá-
pido crescimento demográfico e econômico, graças à exploração de suas terras
agricultáveis localizadas na região dos rios Sepotuba, Cabaçal e Jauru.
Hoje Cáceres acelera as suas obras prioritárias para se tornar de fato o polo
dinamizador de toda a região já conhecida como “Grande Cáceres”. Assim,
confiante e cônscia do seu peso ante as demais cidades deste grande Estado,
Cáceres remoçada, chega ao final dos seus duzentos anos, enriquecida pelo
labor da sua gente e perfeitamente sintonizada com o progresso do Brasil.
Cáceres, ano do Bicentenário, 1978.
79
Taiamã
80
Obras em Taiamã concluídas em 75 dias.
Em 75 dias deverão estar concluídas as obras físicas da Estação Ecoló-
gica de Taiamã, a segunda de Mato Grosso. No local – uma ilha de 12
mil hectares, localizada a 90 quilômetros de Cáceres, no rio Paraguai
– a construtora Tavares Ltda., firma escolhida através de concorrência
pública, irá construir para a TURIMAT um prédio central, residência
para o administrador, zelador e vigia, as redes de água e de distribuição
de energia elétrica, um ancoradouro, além de executar os serviços de
urbanização previstos no projeto.
81
Notícia da Lei Áurea9
82
No serviço da Comissão Rondon10
83
Cáceres na Exposição Nacional – 192211
O folheto foi elaborado pelo Sr. João Campos Widal que, no prefácio da
obra, assim se expressou:
84
novembro último, determinando a celebração do Sete de Setembro de
1922 que redimiu a terra de Santa Cruz do jugo estrangeiro, por meio
de uma exposição nacional. São Luiz de Cáceres, cônscio embora do
seu pouco valor na ordem do progresso para figurar em tão majestoso
cenário, não quis escapar à prova, tendo por tema somente a boa inten-
ção, visto que não tem organizadas com perfeição as poucas indústrias
em movimento.
Devo dizer-lhe que o volume sobre esse município foi aqui devidamente
apreciado, tendo sido toda a edição distribuída principalmente entre es-
trangeiros que são os que mais se interessam por esses assuntos.
85
Cáceres não esquece o Etrúria12
86
Por um destino traçado desapareceu o Etrúria da cidade de Cáceres; de-
sapareceu dos portos ribeirinhos, onde obrigatoriamente escalava para
receber lenha, deixar passageiros e carga. Garanto que o rio Paraguai
achou falta. Não quiseram nem mesmo deixar o cais como recordação,
testemunha do intenso movimento comercial e social.
87
Primeiro painel turístico da cidade de Cáceres13
88
se. Cáceres poderá desenvolver um grande papel no campo do turismo em
Mato Grosso. Trata-se de uma das principais e maiores cidades do Pantanal.
Além de se localizar à margem do rio Paraguai, que dá acesso aos pontos
turísticos mais cogitantes da região, é uma cidade histórica, com seu passa-
do plenamente reconhecido por todos os brasileiros, com o seu tradicional
Marco do Jauru”.
Segundo o arquiteto Edgar Jacintho da Silva, do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, o Marco do Jauru é um monumento de expres-
sivo conteúdo histórico valorizado por seu aporte à epigrafia brasileira que,
perpetuando o tratado de Madri, evoca para a posteridade o vulto do insígne
estadista, patrício Alexandre de Gusmão, proclamado como um dos seus ins-
piradores e artífice da grandeza territorial do País.
89
Ecos de passados Festivais de Pesca14
90
Do encerramento do X Torneio de Pesca, realizado em 1989, assim falou
o jornal Correio Cacerense:
No domingo, 24, foi a vez das equipes divididas nas categorias artesanal
e especial. A largada foi dada no cais da praça Rio Branco, após o has-
teamento dos pavilhões nacional, estadual e municipal e execução do
Hino pátrio pela banda de música do Exército. Frei Matheus abençoou
a prova em holandês e inglês.
91
Monumento nacional15
92
No dia 4 de outubro de 1978 – ano do bicentenário de Cáceres – por
iniciativa do Arquiteto Edgar Jacintho da Silva, foi inscrito no livro de Tombo
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Marco do Jauru,
localizado na praça Barão do Rio Branco, nesta cidade.
93
Cidade feliz
94
Foi criada a nova povoação para exercer presença civilizada na fronteira com
a Espanha. Sua localização a meio caminho entre a capital Vila Bela e a Cuiabá
do ouro, facilitava a comunicação e o comércio entre os dois centros. Lançada
no cruzamento de vias de transporte – a estrada e o rio Paraguai – pensava
Albuquerque, o fundador, fazer de Vila Maria (Cáceres) um entreposto comer-
cial e ao mesmo tempo uma porta de navegação com São Paulo. Chamou-lhe
a atenção desde logo o espaço físico da nova fundação: a terra fértil, regada de
abundantes águas e cheia de pastagens, bom prenúncio de riqueza e prosperi-
dade agropecuária; e os recursos naturais – flora e fauna – campo propício às
atividades extrativistas.
Sólida é, portanto, a infraestrutura que sustenta Cáceres como cidade,
porque formada pela potencialidade da terra e pelas belezas naturais que o
Brasil e o mundo vêm descobrindo, desencadeando um novo processo de de-
senvolvimento da região – o Turismo.
Cáceres tem tudo para ser feliz. E é feliz!
95
Instalação do serviço de recenseamento16
96
3. “O conhecimento de si mesmo era o princípio da sabedoria antiga.
O Censo fornecerá os dados para o Brasil se conhecer a si mesmo:
número, força, riqueza, as suas esperanças, a fé no próprio destino”,
de autoria, respectivamente, da Sra. Estela Rodrigues Ambrósio; Srta.
Hilda Dias e Frei Jerônimo Lacaze Badie, sacerdote da Ordem Terceira
Regular de São Francisco.
De acordo com o quadro territorial fixado pelo Decreto-Lei estadual nº
208, de 26.10.1938, para vigorar no quinquênio 1939/43, o Município apresen-
tava-se com dois distritos: Cáceres (ex-São Luiz de Cáceres) e Barra do Bugres
(ex-Barra do Rio dos Bugres).
Pelo Censo de 1940, a população total de Cáceres era de 17.603 habitan-
tes, sendo no distrito de Cáceres – 15.268 habitantes; e no de Barra do Bugres,
2.335 habitantes. (Sinopse Estatística do Município de Cáceres-MT – Serviço
Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro, 1948.
97
Jardim da Praça Rio Branco17
98
Evento significativo
99
da Costa e Faria; a Praça se denominará Professor Demétrio Costa Pereira; as
ruas serão numeradas e as travessas se distinguirão com letras”.
Incrementa-se a comunicação rodoviária. Declina a navegação fluvial.
Corumbá vai perdendo aos poucos para Cuiabá, a influência de entreposto
comercial na nossa região. Lenta, mas seguramente Cáceres vai-se estruturando
para, acompanhando a evolução da humanidade, continuar desempenhando a
função que lhe cabe no excelente contexto geográfico em que se insere.
100
O ensino em Cáceres nos anos vinte
101
Para concluir, diz o autor do relatório:
102
O problema do analfabetismo – 1920
103
Finaliza, o Sr. Intendente Josetti, dizendo que fez figurar no orçamento
para 1921, a verba anual de um conto e duzentos mil réis (1:200$) para criação
de uma escola noturna em nossa cidade.
Seguindo a linha da preocupação do administrador municipal de 1920,
vamos encontrar em funcionamento, nos anos quarenta, uma escola de alfabe-
tização de adultos mantida pela Prefeitura, funcionando em uma das salas em
frente ao antigo Mercado Municipal (hoje Museu Histórico). Na mesma década,
constituiu-se a Comissão Controladora do Ensino Supletivo de Adolescente e
Adultos Analfabetos, sob a presidência do Prefeito Municipal, cuja primeira
reunião se deu a 4 de agosto de 1948. A referida Comissão era formada, além
do chefe do Executivo, pelas seguintes autoridades: Juiz de Direito, Diretores do
Grupo Escolar “Esperidião Marques” e do Ginásio Estadual “Onze de Março”;
Representante do 2º Batalhão de Fronteira e Agente de Estatística Municipal.
Em 1971, instalou-se o MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetiza-
ção e constituiu-se a Comissão Municipal do Movimento, “visando a alfabeti-
zar adolescente e adultos no mais curto prazo possível, solucionando assim o
problema de alfabetização em nosso País”.
104
Escola rural mista do Junco
Foi ano de 1938, no dia 13 de maio, que se inaugurou uma escola mu-
nicipal na localidade do “Junco”, hoje um dos prósperos bairros da cidade de
Cáceres. Ao ato estiveram presentes o Prefeito, Sr. João Evaristo Curvo; Dr.
João de Lacerda Azevedo, representante do Sr. Interventor Federal do Estado;
autoridades locais, chefes de repartições federais, estaduais e municipais, dis-
tintos senhores e senhoras. Foi empossado o respectivo professor, Sr. José dos
Santos, para o qual fora nomeado por ato nº 30 do Sr. Prefeito. Por proposta
do Cap. Pedro Celestino Corrêa da Costa Filho, comandante da Guarnição
Federal, nesta cidade, foi dado ao colégio do Junco o nome de “Frei Ambró-
sio”, em homenagem ao Reverendo Frei Ambrósio Daydé, superior da Ordem
Terceira Regular de São Francisco, em Cáceres, por ter sido ele o incentivador
do ensino naquele local, onde a Ordem tinha uma casa que abrigou a escola.
Nesse mesmo dia foram inauguradas as escolas de Lava-pés e Caiçara, sob a
regência, respectivamente, da professora Etervira da Costa e Arruda e Professor
Pedro Alves Rondon.
Frei Ambrósio Daydé nasceu em Albi (França) em 1875 e faleceu em São
Paulo no dia 13/04/1945. Sacerdote da Ordem Terceira Regular de São Fran-
cisco, trabalhou em Cuiabá 18 anos e em Cáceres, 17 anos. Foi o fundador da
Missão Franciscana em Mato Grosso e construtor da igreja do Bom Despacho
da Capital do Estado. Em Cáceres, onde era o superior do Convento da Ordem
Terceira, continuou as obras de construção da Catedral, dirigiu o Colégio São
Luiz e fundou o Hospital São Luiz.
105
Obras do Grupo Escolar de Cáceres
(Impressões de um viajante)
106
construção é o Grupo Escolar, hoje, Escola Estadual de 1º Grau “Esperidião
Marques”. O jovem educador é o professor José Rizzo, 1º Diretor do Grupo,
criado em 1912. O belo edifício do Grupo Escolar, hoje Escola Estadual de 1º
Grau “Esperidião Marques, situado à praça Duque de Caxias, esquina com a
rua Comandante Balduíno, foi inaugurado no dia 27 de março de 1920, ainda
na gestão do primeiro diretor, Prof. José Rizzo.
107
Escola recebe nome
108
Torneio Tríplice de Futebol, Basquete e Vôlei – 1951
109
O encontro futebolístico entre o Mixto Esporte Clube de Cuiabá e o Se-
lecionado cacerense realizou-se na tarde de 6 de outubro, quando Cáceres co-
memorava o 173º aniversário de sua fundação. As partidas amistosas de vôlei
e basquete realizaram-se no dia seguinte, domingo, pela manhã.
110
Crônica Esportiva
111
Abre-se a temporada de Corrida em Cáceres
112
ao meio da cancha. Mas a essa altura o jovem e habilidoso jóquei Tibi, vê
que já é tempo de fazer o rosilho avançar. Basta para isso, uma leve chi-
cotada, e o brioso animal, pondo à prova sua reserva de energias, avança
meio corpo, que continua aumentando até dar luz na chegada, de mais
de um corpo. Estrondosa e espetacular vitória do “Tira-teima”, pois seu
adversário, afamado parelheiro, trazia desde Campo Grande, um cortejo
de vitórias, ganhas em várias cidades. Verdadeiro campeão, portanto. A
multidão, tomada de grande entusiasmo, dava vivas ao Ovídio e ao seu
cavalo, enquanto que alguns outros, permaneceram perplexos e cabis-
baixos, ante à decepção e à surpresa. O Sr. João e os seus companheiros
foram de um alto espírito esportivo, pois apesar da derrota, que não es-
peravam, continuaram alegres e sorridentes, mostrando que como sabem
ganhar, também sabem perder. O rosilho ganhou fácil e folgado, pondo
mais uma vez, à prova suas belas qualidades de parelheiro. Dos lábios
do Sr. Peró, víamos escapar um sorriso de contentamento e de orgulho,
pois o rosilho é um dos muitos cavalos que têm saído dos seus afamados
rebanhos que vem atestando o alto grau em que é tida a criação cavalar
neste Município. Apesar do grande entusiasmo e exaltação esportiva, a
corrida se desenrolou, como de costume, num ambiente de serenidade e
ordem, demonstração autêntica da educação esportiva de todos quanto
ali compareceram. Tivemos assim uma manhã alegre e divertida, com
o prazer de assistir a uma corrida cem por cento honesta e que satisfez,
plenamente, aos mais exigentes em assuntos turfísticos (Assina: B.F.).
113
Geraldão
(Estádio Municipal “Luiz Geraldo da Silva”)
Hoje, nesta Cáceres que completa 196 anos de fundação, o cacerense verá
concretizado um grande sonho, há muito tempo esperado, ou seja um Es-
tádio de futebol que será inaugurado a partir das 14 horas, com presenças
de altas autoridades do Estado e do Município. Levará esta nova praça de
esportes o nome de “Luiz Geraldo da Silva”, o que nos faz acreditar, todos
irão chama-lo de “Geraldão”, nome este tirado de um herói cacerense que
se destacou na FEB, morrendo em combate nos últimos dias da Segunda
Guerra Mundial... No presente momento o Estádio consta de um campo
com dimensões regulamentares, situado no bairro do Junco, com frente
para a estrada de rodagem que liga Cáceres a Cuiabá. Possui arquibanca-
da de madeira com capacidade para cerca de 1.200 pessoas e alambrado
de tela em toda a volta do campo. Dois bons vestiários construídos de
material, dotado por enquanto somente de água, pois não há energia
elétrica naquele bairro. Não está ainda gramado pois não houve tempo
para a grama crescer, visto que a presente obra foi concluída em tempo
recorde, já que foi iniciada em 16 de julho p. passado e nesta época não
chove em Cáceres, o que prejudicou bastante o cultivo da grama.
114
Dentro de pouco tempo chegará o ônibus trazendo a Delegação de fute-
bol de Poconé, composta de 41 pessoas, entre as quais 15 jogadores que
preliarão com o grupo de futebolistas de Cáceres, a partir das 15 horas
e 30 minutos, em jogo que deve atrair muitos torcedores, não só por ser
o dia do aniversário da cidade, também para assistir e aplaudir o futebol
que os atletas cacerenses e poconeanos vão apresentar no campo. O juiz
do jogo será o Sr. Paulo Athair Ribeiro e os bandeirinhas, Sigisfredo Mota
Muniz, mais conhecido como baiano e Alecto Luiz Garcia.
115
Estudiosos da Beleza
(No Jubileu de Diamante da Academia Mato-Grossense de Letras)
116
Nessa linha de ação, poderemos ver ainda a Academia inspirando a criação
de Centros Regionais de Letras. Ligados a ela, nos municípios-polos do Esta-
do, como Cáceres, para que a luz que dimana da Entidade inspiradora atinja
diretamente a intelectualidade desta vasta e populosa região.
Cáceres é hoje sede da Universidade de Mato Grosso, com ramificações
em vários outros municípios. Conta com uma Fundação Cultural, muitos edu-
candários de 1º e 2º graus, e elevado número de professores, além de sediar um
povo constituído de pessoas oriundas de muitos Estados da Federação.
Viva está a atuante a Academia Mato-grossense de Letras nos seus setenta
e cinco anos de vida. Graças ao trabalho e idealismo dos fundadores e dos que a
conduziram com firmeza até aos nossos dias, conquistou a Instituição Literária
solidez diamantina, brilhando, com as suas congêneres, no cenário nacional.
117
Nilo Ferreira Mendes
118
O bocejo escolar
119
Reabertura das aulas
120
Momentos de fé
121
aquela enorme assistência na mais rigorosa atenção. Durante toda a noite
a Matriz ficou aberta e o fiéis lá ficaram também, até pela manhã seguinte,
muito cedo, quando, com o mesmo esplendor, foi o andor levado, como
trazido fora, pelas Filhas de Maria.
Da caravana religiosa faziam parte os Reverendos Frades Carmelitas João
Bosco Sombrio, Eliseu Maria Gomes de Oliveira, Irmão Estanislao de
Assunção e o repórter, Sr. Miguel Cacho. A cidade e o povo – concluiu
o jornal A Razão – guardarão sempre na lembrança a honrosa visita que
receberam da imagem da Peregrina Virgem do Carmo”.
122
Bodas da Missão Franciscana
123
dado momento ao pátio de recreio e do respectivo alpendre assistiram
a vários números de ginástica sueca, executados com habilidade pelo
Batalhão Infantil Desportivo Cacerense, dirigido pelo Reverendo Frei
Salvador Rouquette (ortografia atualizada).
124
A primeira igreja
125
O distrito de Vila Maria, nesse ano de 1862. Já se emancipara como muni-
cípio, graças ao desenvolvimento da sua economia ocasionado principalmente
pela navegação fluvial, e precisava de maior expressão física da sua religiosidade
e espaço para o culto. A capela construída em 1815, seria a mesma igrejinha
que Hercules Florence, desenhista da expedição Langsdorff, encontrou em Vila
Maria, quando por aqui passou, no ano de 1827, povoado que assim descre-
veu sucintamente “Um renque de casas, em mau estado, de cada lado de uma
grande praça, uma igrejinha sob a invocação de São Luiz de França, muros de
separação por trás das casas, eis tudo”20.
Humilde de início a igrejinha de 1815 foi-se transformando com a cidade,
tornando-se matriz, e está catedral, com a criação da Diocese de São Luiz de
Cáceres, no ano de 1910. Em 1919, foi lançada a pedra fundamental no mo-
numento Catedral de São Luiz, inaugurada em 1965. (Ortografia atualizada
nas citações).
20 Hercules Florence. Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Trad. Visconde de Taunay,
SP: Cultrix; Edusp, 1977, p. 137.
126
Festa de São Benedito
Junho de 1919. São Luiz de Cáceres prepara-se para realizar uma de suas
maiores, mais belas e concorridas festas tradicionais – a de São Benedito. A
pacata cidade agita-se. Habitantes dos sítios e fazendas já estão chegando para
festejar o Santo Milagroso. O movimento é grande e a alegria do povo, conta-
giante.
Pela manhã do dia 1º de junho, O Combate, jornal da terra, publica o
respectivo convite, nestes termos:
127
5. Iluminação, na noite do dia 28.
6. Missa Pontifical, no dia 29, às 8 horas da manhã.
7. Procissão, na tarde deste último dia.
8. Baile, no dia 29 à noite.
9. Cavalhada, no dia 1º, às 12 horas”.
128
Lira cacerense
Lira Cacerense – Sob este nome é conhecida a única fanfarra que te-
mos. Foi organizada e está hoje mantida por iniciativa e às expensas de
particulares, entretanto, não se pode negar que seja uma necessidade
pública, entre qualquer povo com títulos de civilizados, tornando-se-lhe
parte integrante. Apesar dos ingentes esforços dos diretores, percebe-se
que essa organização vai em decadência certamente assoberbada por
consequência da crise geral que atravessamos. Julgo ser um dever da Mu-
nicipalidade auxiliar a iniciativa e esforços dos particulares para manter
essa agremiação de músicos, a exemplo do que fazem outras municipa-
lidades, por exemplo a de Corumbá, que despende anualmente cerca
de 10:000$000 em subvenção à Banda de Música, mediante obrigações
prefixadas em contrato. É certo entre as prosperidades e arrecadações
dos Municípios de Cáceres a Corumbá não há termo de comparação,
porém, à medida das nossas forças, acho justo que se vote uma subvenção
à Banda de Música e, se pensais deste modo, deveis fixar e incluir no
orçamento a verba necessária, estabelecendo as condições e obrigações
recíprocas (ortografia atualizada).
129
Até 1909, Cáceres contou com a banda de música de 19º Batalhão de
Infantaria, que aqui esteve sediado muitas décadas no nosso passado. Com a
retirada desta Corporação Militar, a cidade passou a contar apenas com con-
juntos musicais civis, periódicos. Daí a preocupação do nosso Intendente em
preservar a abalada filarmônica.
Cáceres passou a ter novamente uma banda de música militar a partir de
1940, com a formação do 2º Batalhão de Fronteira. Nessa década (anos qua-
renta) ficaram célebres as retretas, às quintas-feiras e domingos, que a Banda
de Música do 2º B/Fron realizava no jardim público da praça Barão do Rio
Branco, com os animados bailes populares, que se improvisavam, na área cal-
çada em torno do respectivo Coreto, cuja réplica se encontra hoje na praça da
Cavalhada.
130
Soirée musical
131
Famílias21
(Em que se fala da beleza da mulher cacerense)
132
João de Miranda, o genro, era irmão da segunda esposa de Alípio, por-
tanto cunhado deste, também, razão pela qual sempre o acompanhava – o que
era facilitado pelo fato de o Telégrafo e o Serviço de Índios terem, na época,
muita afinidade por estarem sob a direção de Rondon e sua brava gente. Em
1935, Alírio Rodrigues Moreira foi transferido para o Rio de Janeiro, Angelina
e família, porém, ficaram em Cáceres. João Henrique de Miranda deixou o
Serviço Público e se estabeleceu com comércio, mantendo também, na zona
rural, a propriedade denominada “Brejão”, terras requeridas ao Estado. No sítio
produzia principalmente porcos, que eram vendidos na cidade. Em Cáceres,
onde João e Angelina moraram à rua 15 de novembro, esquina com a Volun-
tários da Pátria, nasceram-lhes os filhos: Odilza, Pery, Darcy, Miracy, Adiles
e Nilza. Em 1941, o casal mudou-se para Corumbá com os filhos, Jacy, a pri-
mogênita, já mocinha nos seus 14 anos e, em outro extremo, Nilza, a caçula,
com poucos meses, hoje esposa do nosso informante, Dr. João Alberto Novis
Gomes Monteiro. “As filhas de João e Angelina levaram para Corumbá, com
muito merecimento, a fama de beleza da mulher cacerense. Foram crescendo e
encantando os homens aos quais se uniram e, ao lado destes, tiveram – a ainda
têm – muito destaque na sociedade de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”,
diz-nos Dr. João Alberto, acrescentando:
133
A caçula, Nilza, casou-se com o médico, jornalista, escritor, Dr. João Al-
berto Novis Gomes Monteiro, membro da Academia Mato-Grossense de Letras
e seu atual presidente. Embora sua esposa só tenha voltado a Cáceres em 1984,
Diz-nos Dr. João Alberto:
134
Apoteose
135
estavam unidos com Maria. Sua Imagem foi para outros povos, mas Ela, que na
sua glória se não limita a um ponto só, continua conosco e com todos os povos
da terra. Ela estará onde quer que queiramos; basta que armemos o altar imagi-
nário da nossa devoção e A coloquemos sobre ele. Ali, Ela estará na sua glória,
toda bondade e ternura, atenta às nossas necessidades, pronta a inundar-nos de
graças de benefícios e de Paz – o bálsamo do coração. Se queremos tê-la mais
concreta, vamos a Igreja, ali está Ela esculpida nas imagens: qualquer intenção
que tivermos, pensando n’Ela, será acatada e anotada no Livro de estrelas.
Virgem Santíssima, reina sobre Cáceres e sobre os nossos corações.
136
Voar, velho sonho da humanidade
137
As nossas homenagens, portanto, à Cruzeiro do Sul Ltda, que, neste mês,
completa 25 anos de serviços prestados ao Brasil. A ela, a pioneira dos serviços
aéreos, a que primeiro atingiu e beneficiou estes rincões mato-grossenses, as
nossas congratulações.
138
Frente ao túmulo
139
nos indica que essa Luz para onde sobe a alma após a morte, é Deus, o Ente
criador de tudo quanto existe. E ele, por um ato de sua vontade, fará, em tem-
po oportuno, o reenlace da matéria purificada e lúcida com o espírito, para
que as criaturas humanas continuem numa existência perene, de uma forma
que materialmente não podemos conceber. A metamorfose, neste ponto, se
completa: o ser espiritual material que é o homem aqui da terra, tornou-se
o ser sobrenatural, formado pelos elementos alma e corpo, mas este último
tão lúcido quanto a alma. A metamorfose é o filtro em que o corpo material
se converte em luz.
Cáceres-MT, 13 de março de 1951
140
Agonia luminosa de abril
141
Problema de linguagem... cósmica
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Ouvi estrelas
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Sempre o mesmo ardor em busca da chave do grande enigma que alvoroça
a criatura humana. Atualmente é o espaço que nos preocupa. Talvez lá naquele
‘cofre aberto’ esteja a solução para alguns problemas que nos inquietam. Talvez
as estrelas agora nos digam alguma coisa.
144
Mãe
Mulher privilegiada, anjo tutelar das existências que se formam, és, Mãe, o
elo sagrado e único da transmissão da vida sobre a terra. Quando pensamos que
colaboras com Deus na obra perene da criação, achamos que verdadeiramente
é nobre a tua missão, grandioso o teu destino. Ao abrirmos os olhos ainda
inocentes e maravilhados para o mundo, o que primeiro vemos é a imagem
do devotamento e do amor ao nosso lado – a nossa mãe! Desde então fazemos
dela o eixo da nossa vida e achamos, na nossa ingenuidade, que a nossa Mãe
é o princípio e o fim de tudo e a ela nos apegamos e dela não nos queremos
afastar. Ela ocupa inteiramente o nosso coração e uma corrente harmoniosa
se forma entre dois polos – Mãe e filho – criando um campo propício ao de-
senvolvimento do novo ser.
Quanta sabedoria na Providência de Deus ao formar essa personagem
ideal que é uma boa mãe! Ela gera e nutre o corpo, plasmando a alma do ente
em formação, de modo que o homem de amanhã será o reflexo da educação
do berço materno. A maternidade sublima a mulher, tornando-a perspicaz e
sábia no seu mister sagrado. Dá-lhe coragem capaz dos maiores heroísmos.
Dá-lhe paciência e abnegação para suportar os maiores sacrifícios. Ela é toda
amor-dedicação. Está sempre dando de si sem esperar outra recompensa que a
de ver seu filho possuir a vida esse dom maravilhoso de Deus. Por isso, é delas
o dia de hoje – o dia das Mães! Que o senhor abençoe a todas, as Mães vivas,
junto de seus entes queridos; às mães que deixaram o mundo objetivo para
viverem no coração dos filhos.
145
Ascensão
146
Hosana ao filho de Davi
147
Poesia não morre
Diz-se que a nossa língua nasce cantando. Com efeito, as primeiras ma-
nifestações literárias em Portugal foram poesia, cultivada pelos travadores. Os
poetas cantavam os versos acompanhando-os aos instrumentos de música. A
arte trovadoresca originou-se no sul da França, onde era denominada ‘gaia
ciência’.
Estevão Cruz nos diz que a ‘gaia ciência’ era uma grande escola de fraterni-
dade. Dela participavam reis, príncipes, grandes senhores, cavaleiros e simples
filhos do povo “Trovar era cumprir uma missão civilizadora”.
Na poesia medieval predominava o lirismo de influência provençal, onde
a mulher era alvo dos mais belos e nobres sentimentos. Esse rico manancial
de poesia e canto não ficou condenado ao esquecimento. Em 1323, em Tolosa,
formou-se uma sociedade com o fim de proteger e incentivar a poesia lírica.
Cada ano, realizavam-se certames com prêmios aos vencedores. Como esses
prêmios eram constituídos de flores, a sociedade passou a ser conhecida como
academia dos Jogos Florais: verdadeiros torneios de músicas e de poesia. Mais
tarde, a poesia desligou-se da música e os jogos Florais tornaram-se certames
literários.
No Brasil, Friburgo foi o berço dos Jogos Florais, com concursos de trovas
que tem alcançado bom êxito. Em 1964, realizam-se na Guanabara os Jogos
Florais de Normalistas, patrocinados pela Secretária de Educação daquele Es-
tado, e no ano passado, em Conservatória, Estado do Rio de Janeiro, houve um
segundo Festival da Poesia e da Canção Popular. Um dos maiores incentivado-
res da arte trovadoresca no Brasil, atualmente, é o Sr. Luiz Otávio, presidente
do Grêmio Brasileiro de Trovadores da Guanabara.
Vemos, assim, que a poesia continua viva. O homem não deixará de poetar
porque a poesia é o sentimento jorrando em ritmo do coração.
148
Ave, Cuiabá
149
belas Crônicas e na candura da poesia de D. Aquino Corrêa, vate imortal da
terra Cuiabana.
Tu foste, e ainda és, ó Cidade Real do Senhor Bom Jesus, a Capital da Cul-
tura, ao lado de fortes concorrentes que te disputam a primazia. Ave, Cuiabá,
cidade-berço do povo mato-grossense.
150
Missa da juventude
151
Maio, mês de Maria
152
Dia da Pátria
(No sesquicentenário da Independência)
153
própria Pátria. Esta Pátria que, como bem disse Rui Barbosa, não é de ninguém:
são todos. “Os que a servem são os que não invejam, os que não infamam, os
que não conspiram, os que não subelevam, os que não desalentam, os que não
emudecem, os que não acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam-
se, mas participam, mas discute, mas praticam a admiração, o entusiasmo,
porque todos os sentimentos grandes são benignos e residem originariamente
no amor”.
154
Saudamos-te, Brasil!
155
Salve, Bandeira do Brasil
156
estandarte de Cabral, manteve-se na bandeira do Império e permanece na
República recordando a origem cristã do nosso País.
A Bandeira é e será sempre o símbolo da união entre os homens da mes-
ma pátria, identificados pelos mesmos costumes, civilização e raça. Quando
ela, a Bandeira Nacional, se ergue ao topo do mastro, os cidadãos irmanam-se
e descobrem-se reverentes porque, segundo Renan, “o homem faz santidade
daquilo que crê, como a beleza daquilo que ama”.
157
O Brasil do nosso amor
158
resolvida com o “Fico”, para se lhe atribuir a devida responsabilidade nesses
fatos decisivos.
As ideias dividiam-se profundamente. Três correntes, pelo menos, dis-
putavam a direção política: a republicana, mais popular, que empolgara a
juventude letrada; a retrógada, que timidamente procurava manter os laços
de união entre o Brasil e a Metrópole; e a monárquico-autonomista, que
se batia pela proclamação do Império, separado de Portugal, com o Prín-
cipe D. Pedro por imperador constitucional. A lógica nos acontecimentos
favorecia a primeira dessas tendências. Os sentimentos “franceses” da elite
pensante, o exemplo dos países hispano-americanos, a poderosa sugestão
do tempo, aconselhavam que se fizesse a República, mal deixasse o Brasil o
príncipe, submetido à vontade arbitrária das Cortes de Lisboa. Complica-
va-se o problema, porém, com a ordem social e a integridade do território.
Previa-se que, fundado o governo popular, imediatamente se desencadearia
a desordem, com as prevenções existentes entre as classes, e se fragmentaria
o Brasil, com as províncias independentes umas das outras, à semelhança das
colônias espanholas desagregadas com a guerra de emancipação. Já não era
possível, entretanto, conter o movimento da independência da Nação, que
amadurecera para a liberdade. Fracassariam todas as tentativas para recolo-
nizá-la. Mais conveniente, pois, para a conciliação ideal, era a transição com
a Monarquia, que tinha a vantagem de combinar a integridade do território
com a continuidade da ordem estabelecida.
Aqui, a participação providencial. José Bonifácio põe-se à frente desta últi-
ma ideia. Brasileiro entre os que mais amavam a Pátria, com prestígio suficiente
para revestir de autoridade oracular as suas opiniões, chefe do movimento civil
de São Paulo, orientou os votos de sua província para o apelo que demoveu o
Príncipe e assegurou ao jovem Bragança o apoio do espírito conservador do
País.
A solução monárquica da independência estava assim esboçada. Mitiga-
va-se o choque, atenuando o conflito entre a velha e a nova era. E o que era
mais importante: mantinha-se a unidade do Brasil. O grande estadista tinha
a intuição de que a monarquia brasileira teria o caráter de uma evolução.
159
D. Pedro, herdeiro de D. João VI, além da vontade nacional que o fixaria
no trono americano, tinha por si o direito hereditário. O que era proveitoso
para o desenvolvimento pacífico da crise, e a sua aceitação pelas potências
europeias.
Para que tudo se realizasse a contento e pela grandeza do Brasil, foi
necessário o encontro de dois Temperamentos: do Príncipe e do Estadista,
do Sábio e do Herói. Dois titãs que se completam, num momento histórico
de grande perigo para conservação da integridade nacional de que desfru-
tamos hoje. “Amo a liberdade e a independência” – Este verso do poeta José
Bonifácio reflete a sua alma. Em Portugal, dedicara-se aos estudos silencio-
sos da química e da metalurgia no remanso do gabinete, nos laboratórios
e nas usinas. Alma afeita aos estudos e ás pesquisas, personalidade forjada
no cadinho da disciplina, da ordem e da harmonia do cosmo, tinha de afei-
çoar-se à liberdade que é um sobrepujar-se, um sair de si para participar da
construção do mundo.
Recomenda-nos Machado de Assis o melhor dos mestres: Estudo; e a me-
lhor das disciplinas, o trabalho. Estudo, trabalho e talento são a tríplice arma
com que se conquista o triunfo. José Bonifácio aplicou-se ao estudo, dedicou-
se ao trabalho perseverante e tinha talento. Conquistou, por isso, o triunfo.
Cabe-lhe justamente o cognome de “Patriarca da Independência”, por que a
sua sabedoria e visão de estadista, nos legou um Brasil emancipado e uno, este
mesmo País que canta, trabalha e se agiganta. O Brasil do nosso amor.
160
15 de outubro: dia do professor
161
As escolas recebem a criança a partir dos 7 anos, já desenvolvida, portanto.
A semente passou a ser arbusto. Se houve erro na educação até ali, dificilmente a
escola o corrigirá. Começa nessa idade, a ação do predecessor através dos suces-
sivos cursos até que, plenamente desenvolvida, a criança de ontem, converte-se
em jovem forte de corpo e de espírito. A criatura estará então em condições
de dar frutos. E a qualidade desses frutos dependerá muito da educação que
recebeu durante a infância, adolescência e juventude.
Continuador da educação paterna e materna, o mestre deveria ser antes
de tudo o amigo das famílias. Intenso intercâmbio é mister entre o lar e a es-
cola. Divorciados colégio e família bem pouco ou nada se conseguirá. Para o
bem da criança, que será o homem de amanhã, preciso se faz que os pais e os
professores se unam num único esforço – o de formar a mocidade.
Oportuno é o dia de hoje em que as vistas se convergem para o educador
em cujas mãos está, em grande parcela, o destino da humanidade na parte da
formação intelectual e moral. Oportuno para a meditação no sério problema
que nos cabe resolver.
Congratulamo-nos, pois com todos professores primários e secundários
deste Município pelo transcurso desta efeméride qual seja a elevação da tarefa
grandiosa do mestre no seio da sociedade em que vive.
Jornal A Razão de 17/10/1953.
162
Dia do índio
163
Dia do Trabalho
Dia do trabalho! Seja este dia um marco, no tempo para lembrar aos ho-
mens da labuta diária que as conquistas, quer no plano material, quer no plano
moral, são custosas e demoradas. Seja ele uma pausa para o exame do ambiente
em que vivemos, da situação em que nos achamos. Analisar o que foi para o
prever o que virá e retemperar as nossas forças para a realização do fim a que
tendemos.
Pela análise histórica dos acontecimentos, podemos ver que a humanida-
de não caminha ao léu. Complexa como ela é, só avança para melhor à custa
de muito sofrimento, de muitos erros e tentativas. Isto porque é um corpo
formado de milhões de indivíduos que por sua vez são um mundo particular,
insulado em si mesmo. Mas em cada indivíduo, no mais recôndito do seu
íntimo, mais ou menos aceso está algo indestrutível; algo, como uma agulha
magnética, a incitá-lo para o caminho certo. É o senso de moral, de justiça e de
liberdade. Essa aspiração antiga do humano ser pode ser abafada, pode sofrer
interferências estranhas e, momentaneamente abalar-se, mas passada a causa
interferente, volta ela a agir como sempre, como agulha orientadora das nossas
ações, apontando-nos o império da moral, da justiça e da liberdade.
Nem foi outro o móvel da Revolução Francesa senão restaurar, numa so-
ciedade em que uma classe vivia em detrimento da outra, o senso de moral, de
justiça e de liberdade. Não foi a Revolução um acontecimento restrito à França
convulsionada, mas uma explosão geral dessa velha e perene aspiração de li-
berdade inata no homem. Mas, se o bem, que salva, está com o homem, nele
também agem parasitariamente tendências perigosas. E uma delas, a que mais
frequentemente age em sociedade é a tendência de escravização do homem, ou
de uma classe pela outra. Manifesta-se ela de todas as maneiras. Nem sempre
164
nos apercebemos que estamos, de certo modo, dominados por uma das suas
modalidades de ação.
É certo que avançamos no terreno moral e político. O trabalhar de hoje
está mais bem assistido que os de outrora. Há leis que garantem o exercício
da sua profissão, o salário e o descanso remunerado. Entretanto, o mundo se
envereda por um caminho que nos assusta. A técnica, elevada ao máximo, pa-
rece querer exercer uma nova forma de servidão. A ânsia de o homem vencer
o espaço, dominar a Natureza, criou, ou está criando uma mentalidade nova de
moral, de justiça e de liberdade. Somos dos que pensam que o homem como
individuo é o que importa. A perfeição individual é o supremo fim a que ten-
demos. A liberdade individual é a mais cara e a única capaz de fazer o homem
verdadeiramente feliz. Por ela devemos zelar e estar atentos para que se não se
perca o nosso maior bem.
Há regimes totalitários que se implantam pela força, mas há os que podem
partir de um processo evolutivo. Assim pensam alguns observadores a respeito
das grandes potências. Segundo eles, a nova forma de escravidão é essencial-
mente evolucionista. Vem ela dá ânsia das modernas descobertas e da neces-
sidade de vencer, subjugar a natureza e obter, talvez, o controle do mundo. O
elemento humano, o indivíduo, tem de desparecer, ou melhor, transformar-se
em peça de um grande mecanismo para a consecução final do grande sonho
do homem: dominar os mundos. Anular o elemento homem em benefício de
uma força que está em formação e que não se pode saber que forma terá. Tanto
pode ser a ciência como os que manejam a ciência. Não se pode parar. Não se
pode demorar nos louros das conquistas. A vida é movimento e, segundo o
Pe. Nivaldo Monte, a linha de conduta da vida humana não é sempre retilínea:
tem suas curvas que oscilam para o alto e para baixo. A corrida começou e
dificilmente parará antes da meta desejada. Enquanto isso, lutemos para que o
senso de liberdade não se perca no processo de educação das novas gerações,
pois ele é um legado que nos vem de longe e temos que transmitir para os
nossos descendentes.
O trabalho, segundo a Mater et Magistra deve ser avaliado como a expres-
são de pessoa humana, portanto é uma ação que parte do homem e que traz
165
dele o sinete da dignidade, devendo ser olhado não como uma mercadoria que
se compra, sujeita às mais variadas especulações, mas como uma obra digna
emanada do ser humano e empregada em prol do progresso do mundo e do
próprio conforto da pessoa humana. Nem o excesso de liberalismo que prega
a concorrência sem freio, nem a luta de classes da filosofia Marxista, que são
contrários aos principais cristãos e à própria natureza humana. Tudo o que
concorre para anular o sentimento da dignidade humana deve ser classificado
como intromissão de fora; tirania, portanto. O fogo que alimenta o progresso
há de vir do interior, dos corações alimentados no princípio da fraternidade
que só é possível num mundo onde haja justiça e liberdade. Não havendo jus-
tiça, repetir-se-á sempre a conhecida máxima de “homem lobo do homem”. Na
desenfreada busca de lucro fácil e rápido o homem não se importa de construir
sua riqueza sobre os escombros da pessoa, do seu semelhante.
E o mundo se debate em crise. Chegamos a um ponto em que as aspira-
ções se chocam como as águas de um rio encachoeirado e por todos os lados
se ouvem rugidos de agitações. Vivemos uma fase de transição que poderá
durar mais ou menos. Urge que cerremos fileira em torno do nosso ideal e
que ajudemos o que mantém alguma parcela de poder, a bem governar, a agir
com justiça, para que se distribua melhor o trabalho e a riqueza a fim de que o
homem, sem dúvida nenhuma criatura privilegiada no plano da criação, possa
viver como é preciso que viva, em fraternidade, dentro de sadia moral, justiça
e liberdade.
Com este pensamento encerramos o nosso pronunciamento neste dia em
que se comemora o Trabalho, trazendo aos operários Cacerenses as nossas con-
gratulações e as nossas esperanças de que a nossa Pátria há de sair da dura crise
que ora enfrenta, para poder seguir o seu rumo certo em busca do verdadeiro
lugar que deve ocupar no concerto das outras nações.
166
“Independência ou morte”
167
de sangue acolá, mas luminosa porque em toda ela brilha o gênio pacifico e
ordeiro da raça que se formou neste País. Em cada fase histórica de realce do
nosso passado figuram personagens cujas obras são verdadeiros marcos áureos
de nobreza, força de fé nos destinos do homem. Quais gigantes, avultam-se
esses gênios, em todos os setores da vida pública do passado, como a zelarem
por aquele lapso de tempo que lhes foi dado viver para cimentar os alicerces da
civilização brasileira. Caxias, na guerra e na pacificação de irmãos; Rio Branco
na diplomacia; Rui, a Águia de Haia, na inteligência e na eloquência, e tantos
outros mostraram ao mundo o que foi e o que promete ser a nação brasileira.
E hoje, o Brasil, consciente do papel que lhe cabe na comunidade das
nações, e afinando-se ao diapasão do pensamento moderno e da contingência
do mundo atual, arregimenta as forças vivas e as possibilidades de que dispõe,
para uma arrancada lenta, a princípio, mas segura, e em aceleração, em busca,
agora, da integral emancipação econômica.
Brasil que se concentra em autocritica e corrige os hábitos e compor-
tamento à procura da sua legítima personalidade. Brasil que firma os seus
direitos, mas que não espezinha ninguém, que respeita a personalidade das
outras nações, herdeiros que somos de uma tradição de honra e reverência ao
Direito e à Justiça.
Cáceres, 7/9/1971.
168
11 de junho22
Comemora-se o dia da Marinha Brasileira. Foi neste dia que ela – a nossa
Armada – mostrou seu valor numa guerra a que o Brasil foi arrastado para
salvaguardar a integridade do seu território.
Subia Francisco Manuel Barroso o Paraná com as suas unidades quando
se defrontou com a esquadra paraguaia, próximo à foz do Riachuelo. Travou-se
luta titânica. Nada menos de oito horas de fogo intenso.
A história nos diz que Barroso, de pé sobre a caixa das rodas do Amazonas,
impávido, ignorando o perigo, faz do seu navio um aríete e arremete-se contra
os barcos inimigos, pondo fora de combate três de suas melhores unidades.
Estava decidida a batalha naquele glorioso 11 de junho de 1865. Lutaram os
heróis do Riachuelo sob o lema que Barroso içara no Amazonas: “O Brasil
espera que cada um cumpra o seu dever”. E cumpriram.
Marcilio Dias luta como leão até cair trespassado de golpes. Mas perdendo
a mão direita, empunha a espada com a esquerda e continua a lutar. Greenhalg,
o moço guarda-marinha, intimado a entregar o Pavilhão Nacional, responde:
“Na Bandeira Brasileira não se toca”, e luta até cair morto.
Assim foi no passado. A realidade, porém, persiste. Aí está a grande ex-
tensão da costa brasileira a exigir da nossa Marinha toda a atenção pela nossa
segurança no mar – imensa porta atlântica do Brasil.
22 Com igual título e texto diferente, está publicado em Memória cacerense, 1998, p. 70-72.
169
13 de junho23
23 Com igual título e texto diferente, está publicado em Memória cacerense, op. Cit., p. 73-4.
170
Caxias
171
Tuiuti: 103º
172
Anchieta, apóstolo do Brasil
173
A imprensa
Uma das maiores invenções do homem foi, sem dúvidas, a Imprensa, que
teve pioneiro Gutemberg no 15º século. Até então os raros livros e documentos
eram escritos à mão, usando-se para isso escrivães especializados. Com a de-
cadência das letras e artes greco-romanas, o mundo atravessou uma época de
indiferença pela instrução; apenas poucos liam as raríssimas obras que havia.
A maioria do povo vivia em completa ignorância.
Mas o ser humano, criado para o estudo e a contemplação, procurava, atra-
vés dos seus gênios, encontrar um meio de se multiplicarem, rapidamente, os
livros e colocá-los ao alcance da maioria. Deveria haver um modo de gravar as
letras por meio de caracteres móveis que pudessem ser usados continuamente.
Experiência sucedem-se, até que Gutemberg consegue achar a solução para o
magno problema: descobrira a impressão! O primeiro livro foi impresso, uma
bíblia – o mais sagrado dos livros.
A nova correu pela Europa e em breve novos aperfeiçoamentos foram
introduzidos na primitiva prensa. Os livros espalhavam-se; o povo começa a
ler e novamente o desejo de cultura se apoderou do homem de tal forma que os
governos, alarmados, resolveram apor barreiras às publicações. Surgiu, então,
a censura. Qualquer obra, antes de ser dada à luz, teria que ser aprovada pelos
poderes competentes. O povo, porém, é uma caudal invencível. As barreiras
que lhe interpõem podem, por algum tempo, obstar-lhe e avanço, mas acabam
ruindo para deixar livre o pensamento que se não prende. Assim caiu, também,
a censura. E se hoje ela aparece ainda, é esporadicamente, insulada em deter-
minadas regiões, nas quais também, acabará por desaparecer. E desde então a
imprensa acompanhou o homem, tornou-se parte integrante de toda a coleti-
vidade. Ela é a história diária da vida de cada circunscrição como a história é
174
o jornal de todas as raças, de todas as civilizações. Por ela ralaram os grandes
pensadores, cristalizando seus pensamentos brotados da experiência, estudo e
meditação. Arma poderosíssima, dela lançam mão o bem e mal-intencionado;
ela cria e destrói, dignifica e degrada, consola e fere fundo, instrui e perverte.
Espalha sementes de todos os gêneros: cabe a cada um separar as boas das
más. Sua finalidade, porém, é conduzir; mostrar ao povo os erros e as virtudes:
alertar a opinião pública, incentivar o ânimo do povo para o desenvolvimento
econômico, cultural e moral.
Grande é o papel da imprensa. Severa responsabilidade dos seus dirigentes.
Por isso, no dia de hoje, em que o jornal A Razão, antigo porta voz de Cáceres,
completa mais um ano de existência, queremos prestar, aqui, as nossas home-
nagens, e esse vetusto Órgão de Imprensa de nossa Terra, que, há 36 anos, vem
registrando a vida desta Urbe, concretizando, em suas folhas, os sentimentos,
os anseios, os prazeres e sofrimento de um povo que, embora separado muito
tempo dos outros centros, conseguiu vencer a força da inércia a que ficou su-
jeito até que uma nova aurora raiasse com a Constituição de 1946.
As nossas homenagens ao seu atual diretor Dr. Leopoldo Ambrósio Filho,
ao seu proprietário, Sr. Nilo Ferreira Mendes e a todos os que labutam em suas
oficinas.
Cáceres, 17 de maio de 1953.
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Brasília, sonho-visão de Dom Bosco
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formal – a fixação da data de mudança – de 21 de abril de 1960. O prazo era
inferior a três anos.
A geração, em cena, convocada para a grande obra, acorreu impetuosa
e correspondeu à missão que lhe coube desempenhar. No dia 21 de abril de
1960, Brasília surgiu ao mundo estarrecido, como a Capital triunfante do Brasil.
(SIDNEM)
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Dom Francisco de Aquino Corrêa
(No 1º centenário do seu nascimento – 1885/1985)
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aceitos, conservados e aumentados, a par de uma simplicidade e naturalidade
também extraordinária”.
Segundo o Pe. Raimundo C. Pombo, D. Aquino falava corretamente o
português, o italiano, o francês, o espanhol e o latim, tinha profundos conheci-
mentos do grego, de inglês, do alemão, do polonês, além do hebraico e guarani.
Para o Prof. Lenine Póvoas, “D. Aquino foi glória incomparável da inteli-
gência mato-grossense e a mais viva cintilação do nosso talento”, tendo marcado
uma era em Mato Grosso, - como disse o Dr. Gabriel Novis Neves – uma era de
Dom Aquino, o que significa que tudo gravitou, num certo tempo, em torno
da vida do grande Arcebispo.
Dom Aquino Corrêa, cognominado o “Príncipe das Letras Mato-Gros-
senses”, foi inspirado poeta, orador consagrado, jornalista, e escritor emérito,
qualidades que o conduziram à Academia Brasileira de Letras, onde ocupou
a cadeira de nº 34.
Entretanto, como acentua o Prof. Pe. Antônio Rodrigues Pimentel, Dom
Aquino foi acima de tudo Pastor. “E ao sublime pastoreio do seu rebanho, que
nunca postergou ante injunções terrenas fossem elas de que ordem fossem,
subordinou pelo contrário toda exuberante pujança dos dotes humanos e todo
o cabedal artístico-cultural com que soubera enriquecer o espírito “. Em 1938
representou o Brasil no Congresso Internacional de Educação em Genebra,
do qual foi eleito vice-presidente. Foi Presidente de honra da Academia Mato-
Grossense de letras, Presidente efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de
Mato Groso e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
D. Aquino faleceu em São Paulo, no dia 22 de março de 1956. Seu corpo
foi trasladado para Cuiabá e sepultado da nave da Catedral do Senhor do Bom
Jesus, com honrar de Chefe de Estado.
Obras:
Odes (poesia, 1917); Terra Natal (poesia, 1940); Nova et Vetera (poesia);
A Fronteira de Mato Grosso e Goiás (1917); Mensagens Governamentais (1918
– 1922); Cartas Pastorais (1919); O Sacerdócio (1935); O Brasil em Genebra
(conferência de Genebra, 1938); Dom José Antônio do Reis (biografia, 1944);
O Batismo e a Vida Cristã (Carta Pastoral, 1945); Uma Flor do Clero Cuia-
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bano (biografia do Pe. Armindo M. de Oliveira, 1951); Pétalas do Evangelho
(Coleção de Artigos de D. Aquino, publicados pela Arquidiocese de Cuiabá,
1981). Autor de letra do Hino de Mato Grosso, D. Aquino foi quem deu a
Cuiabá o epíteto de “Cidade Verde”, na poesia em que saúda sua terra natal
e assim começa:
Cáceres, 1985.
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Mato Grosso 250 anos
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Devemos consignar, em abono dos portugueses, o esforço continuado
para alargar as nossas fronteiras e fixar metas nestes rincões os principais
influxos civilizadores, traduzidos na língua, na religião, nos costumes e
demais elementos integrantes da nacionalidade que ia nascendo e depois
se consolidando.
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Centenário da Loja Maçônica “União e Força”26
Sessão Branca
Em prosseguimento às comemorações do ano centenário, a Loja Maçônica
União e Força abre, hoje, as suas portas a convidados não maçons para o exer-
cício da interação que deve haver entre os homens de boa vontade, mormente
em situações especialíssimas em que se avalia a vivencia de uma instituição
humana na consecução dos seus objetivos.
Como cacerenses, que se tem dedicado ao estudo e divulgação desta terra,
não poderíamos deixar de aceitar o honroso convite, que nos faz o Presidente
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desta Entidade, Sr. Joaquim Castrillon, para, como leigo, participar das co-
memorações do Centenário da Maçonaria em Cáceres, adicionando a tantos
outros pronunciamentos, as nossas impressões como simples observador do
seio da nossa Comunidade.
Comemorar é lembrar, solenizar, festejar. Festejamos um fato histórico
acontecido há um século, perscrutando as consequências que dele advieram e
que influíram na sociedade dos homens. Aqui nos reunimos, pois, para lembrar
e refletir, baseados na experiência adquirida no caminho percorrido, a qual,
sabemos bem, já se insere no programa de ação da Loja para o presente-futuro.
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Inauguração de monumento
No mesmo dia, às 18 horas, inaugurava-se na praça Barão do Rio Branco,
o Obelisco “Aprendiz na Pedra Bruta” – símbolo maçônico assentado na praça
principal, autorizado por lei do Município, ao lado de dois outros monumentos,
um de fé do nosso povo, a Catedral de São Luiz, exprimindo na imponência de
suas linhas arquitetônicas, o arrojo e a perseverança da Comunidade Cacerense;
outro, o Marco do Jauru, comemorativo do Tratado de Madri de 1750, onde se
lê o ideal máximo da humanidade no versículo dos Salmos: “A Justiça e a Paz
se beijaram”, síntese radiosa – como disse Dom Aquino Corrêa – do soberano
acordo, donde resultou o tratado madrileno.
Na sua simbologia, o monumento “Aprendiz na Pedra Bruta” exprime
na praça pública a preocupação da Maçonaria pela educação que, como
pensa o Professor Marculino Camargo, “tem que ser libertadora do indiví-
duo; ela não pode ser impositiva ou massificante; ela tem que ser criadora
enquanto permite à pessoa ser ela mesma num sentido dinâmico de fazer
opções; ela deve abranger todos os aspectos da personalidade e não me-
ramente o intelectual ou profissional”. A educação – continua o Professor
Camargo – “fazendo a pessoa construir-se a sim mesma, leva-a a encontrar
seu lugar na sociedade não como mero objeto de grupos, mas como sujeito
consciente e transformador da realidade; assim ela deixa e ir a reboque dos
fatos e se torna um agente da história; ao mesmo tempo percebe que ela se
educa enquanto os outros também se educarem numa participação e num
respeito mútuo”27.
Fraternidade milenar
“A Maçonaria – diz o Sr. Carlos de Souza Neves28 - constitui uma fra-
ternidade de irmãos livres. Segundo consta, esse movimento é muito antigo,
chegando mesmo à pré-história: constitui uma forma abreviada dos mistérios
praticados nas pirâmides egípcias, desde o seu início”.
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Não vamos aqui deter-nos na história da Instituição. Cingir-nos-emos ao
conceito que dela faz o escritor Octacilio Schuler Sobrinho29, que nos apresenta
a Maçonaria como uma escola do conhecimento, dizendo:
29 Maçonaria: uma escola do conhecimento. Florianópolis/SC: Ed. Livraria e Editora Obra Jurídica
Ltda.
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metafísicos, obtém um conhecimento claro da sociedade e seu percurso
evolutivo para atingir uma de suas metas principais que é a valorização
humana.
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Barão de Batovi que governou a Província em 1883/84. “O ano de 1870, con-
tinua Dr. Lenine Póvoas, no qual a 1º de março, ocorreu o término da Guerra
da Tríplice Aliança, tornou-se o marco na vida social de Mato Grosso, uma
vez que a partir dele muitos acontecimentos ocorreram, de grande relevo na
história econômica, política e cultural da antiga Província”, acrescentando o
douto historiador que “a partir de 1871 várias Lojas maçônicas foram funda-
das, contribuindo para difundir por Mato Grosso, os ideais que empolgavam
os seus integrantes”.
A Maçonaria em Cáceres
Cáceres teve sua primeira Loja Maçônica, segundo ainda o Dr. Lenine
Póvoas, em 1880, denominada “Beneficência do Alto Paraguai”, fundação pa-
trocinada por José Dulce, maçom e comerciante nesta cidade. Entretanto, a
Maçonaria se instalou definitivamente em Cáceres, no começo do ano 1900,
precisamente no dia 3 de fevereiro. Pequenina urbe plantada à margem es-
querda do rio Paraguai, São Luiz de Cáceres, como era chamada, vivia de sua
economia baseada na agricultura, pecuária, extrativismo animal e vegetal e
comercio com outras praças, através de Corumbá, facilitado pela navegação
fluvial, única via permanente de comunicação com o exterior.
Embora pequena, a cidade apresentava apreciável surto de progresso que
atraía para aqui pessoas de bom nível de cultura e discernimento, formando,
com os naturais da terra, uma sociedade das mais desenvolvida de Mato Gros-
so. Foi assim que em seu seio germinou a semente da Maçonaria que, há cem
anos, se integrou na nossa Comunidade, trabalhando e crescendo com ela,
acompanhando-lhe os passos nas transformações sociais, políticas, culturais
por que passou o nosso povo nesta centúria. Foi um século de trabalho silen-
cioso, próprio da Ordem do qual nós, lá fora, não tomamos conhecimento, em
grande parte.
Basta passar os olhos pelos fundadores da Loja União e Força, em 1900,
para termos uma visão do cuidado que tem a Maçonaria na escolha dos seus
membros, dentre os quais se contam homens das mais variadas atividades
profissionais, visando ao que nos parece, reproduzir dentro da Loja, a própria
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sociedade onde ela se insere, e assim contar com trabalhadores à altura de de-
sempenhar as mais diversas funções na Comunidade que a serve.
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rio de Cáceres deveria funcionar, no primeiro momento, no próprio prédio da
escola primaria particular. Instituto Onze de Março, o qual seria encampado
pelo Estado. Isto não aconteceu, porém, tendo o ginásio iniciado o seu fun-
cionamento, em 1948, no prédio estadual do então Grupo Escolar Esperidião
Marques, na praça Duque de Caxias, nesta cidade.
Mais tarde, seguindo os ideais do pai, Sr. Raimundo Cândido dos Reis,
que, antes, participara da campanha em prol do ensino, o Deputado Estadual,
na época, Airton Reis, também maçom, participa de nova luta pela educação
em Cáceres, agora tendo por escopo a implantação do ensino superior. Ao De-
putado Airton Reis coube a elaboração dos projetos que se transformaram em
lei municipal, criando o Instituto de Ensino Superior de Cáceres, o IESC, como
instituição do Município, depois transformado em Universidade do Estado de
Mato Grosso, UNEMAT.
Notícias do começo do século dão-nos conta da assistência dada, pela
família do maçom, Cel. José Dulce, às primeiras freiras da Congregação Azul,
que, da Europa vieram para Cáceres, via fluvial, a fim de instalar um colégio
feminino. Nessa ocasião, forma-se a Comissão Auxiliadora do novel colégio, da
qual fazem parte o Cel. José Dulce e outros, inclusive o Major Vicente Pinto de
Araújo, também maçom, como o Sr. José Dulce. Dentro dessa mesma linha de
procedimento, criou a Loja Maçônica União e Força, na sua sede, uma escola
ao perceber que havia crianças fora da sala de aula por falta de espaço para
alojá-las. Hoje o mesmo prédio da Instituição abriga duas unidades escolares:
uma de 1º grau, Escola Estadual União e Força, e a outra, de 2º grau, que traz
o nome, já mencionado, de um lutador pelo ensino no passado, Sr. Raimundo
Cândido dos Reis.
Por esses sinais visíveis e contemporâneos nossos na maior parte, pude-
mos conhecer um dos principais objetivos da Ordem Maçônica – a Educação
do homem, coerente, pois, com o simbolismo do monumento instalado na
praça Rio Branco: “O Aprendiz na Pedra Bruta”, que nos aponta para o valor
do conhecimento, pelo qual, já diziam os antigos, “se torna a vontade sincera,
o coração se concerta, cultiva-se a vida pessoal, regula-se a vida familiar, a vida
nacional é ordenada e o mundo está em paz”.
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A partir destas comemorações do centenário da Loja Maçônica União e
Força, a maioria delas públicas, mais evidente se torna a presença da Maçona-
ria no seio do nosso povo, que, naturalmente, procurará conhece-la melhor e
apreciar a sua atuação cada vez mais visível na nossa Comunidade.
Nossas congratulações, Sr. Presidente, à Loja Maçônica União e Força e
às suas Irmãs – Liberdade Cacerense e Seis de Outubro – pelo transcurso do
centenário da introdução definitiva da doutrina maçônica em Cáceres.
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