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Natalino Ferreira Mendes

Fragmentos
da história cultural
de Cáceres
e outros fios da memória
Vol. I

Olga Maria Castrillon-Mendes (Org.)


© Natalino Ferreira Mendes, 2021.

Todos os direitos reservados.


Proibida a reprodução de partes ou do todo desta obra sem autorização expressa (art. 184 do Código Penal e Lei 9.610,
de 19 de fevereiro de 1998).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


( Douglas Rios – Bibliotecário – CRB1/1610 )

C355f
Castrillon-Mendes, Olga Maria (Org.).
Fragmentos da história cultural de Cáceres e outros fios da memória.
Volume I. / Olga Maria Castrillon-Mendes (Org.); Natalino Ferreira
Mendes. 1ª edição. Cuiabá-MT: Carlini & Caniato Editorial, 2021.
192 p.

ISBN 978-65-88600-47-4

1. História cultural – Cáceres-MT. 2. Cáceres-MT – Memória.


I. Mendes, Natalino Ferreira. II. Título.
CDU 94(817.2)

Índice para catálogo sistemático:


1. História cultural – memória – Cáceres-MT - 94(817.2)

Editores
Elaine Caniato
Ramon Carlini

Projeto Gráfico e Diagramação


Doriane Miloch

Capa
Elaine Caniato

Foto da Capa
Rai Reis

Revisão
Olga Maria Castrillon-Mendes

Carlini & Caniato Editorial (nome fantasia da Editora TantaTinta Ltda.)


Rua Nossa Senhora de Santana, 139 – sl. 03 – Centro-Sul – CEP: 78.020-122
Cuiabá-MT – (65) 3023-5714
&
carliniecaniato.com.br
SUMÁRIO

Apresentação...................................................................................................................... 11
Memória em Fragmentos

Cáceres: 196 anos em busca da concretização do sonho de Albuquerque........................ 15


Marco do Jauru................................................................................................................... 18
Marco Geodésico “Prof. Dr. Miguel Alves de Lima”............................................................. 20
Marco Geodésico, ponto desconhecido pelos cacerenses................................................. 21
Fumaça: é a tua vez............................................................................................................. 22
Vias fluviais de comunicação.............................................................................................. 24
Viagem fluvial São Paulo-Cáceres...................................................................................... 26
O Telégrafo chega a Cáceres............................................................................................... 28
Telefone interurbano........................................................................................................... 30
Rodovia Cáceres-Barra do Bugres....................................................................................... 31
A Primeira iluminação pública............................................................................................. 33
Luz elétrica no Colégio São Luiz......................................................................................... 35
Imposto de iluminação pública........................................................................................... 37
Hóspedes ilustres (I)........................................................................................................... 39
Hóspedes ilustres (II).......................................................................................................... 41
Abastecimento de água – 1925.......................................................................................... 43
Dispensário São Luiz........................................................................................................... 45
Comércio em São Luiz de Cáceres – 1922.......................................................................... 47
A Gripe de 1921 em Cáceres............................................................................................... 49
Tráfego em Cáceres – 1947................................................................................................ 50
Vias Terrestres de Comunicação......................................................................................... 51
Estação Experimental de Ipecacuanha................................................................................ 53
25 de junho: inauguração da cidade de Cáceres................................................................. 55
Dreadnought..................................................................................................................................57
Cemitério Municipal de Cáceres – 1922............................................................................. 59
Antecedentes da grande migração em Cáceres.................................................................. 61
A fixação do homem na terra.............................................................................................. 63
Em defesa do Pantanal: Cáceres presente!......................................................................... 65
Presente!............................................................................................................................. 67
Cáceres: sonho-realidade de Albuquerque.......................................................................... 68
Cáceres: 193º...................................................................................................................... 69
Exposição Agropecuária de Cáceres................................................................................... 72
Campus Avançado do Projeto Rondon (I)............................................................................ 74
Campus Avançado do Projeto Rondon (II)........................................................................... 76
Cáceres: duzentos anos...................................................................................................... 78
Taiamã................................................................................................................................. 80
Notícia da Lei Áurea............................................................................................................ 82
No serviço da Comissão Rondon........................................................................................ 83
Cáceres na Exposição Nacional – 1922.............................................................................. 84
Cáceres não esquece o Etrúria............................................................................................ 86
Primeiro painel turístico da cidade de Cáceres................................................................... 88
Ecos de passados Festivais de Pesca................................................................................. 90
Monumento nacional........................................................................................................... 92
Cidade feliz.......................................................................................................................... 94
Instalação do serviço de recenseamento............................................................................ 96
Jardim da Praça Rio Branco................................................................................................ 98
Evento significativo............................................................................................................. 99
O ensino em Cáceres nos anos vinte................................................................................ 101
O problema do analfabetismo – 1920............................................................................... 103
Escola rural mista do Junco.............................................................................................. 105
Obras do Grupo Escolar de Cáceres.................................................................................. 106
(Impressões de um viajante)

Escola recebe nome.......................................................................................................... 108


Torneio Tríplice de Futebol, Basquete e Vôlei – 1951....................................................... 109
Crônica Esportiva.............................................................................................................. 111
Abre-se a temporada de Corrida em Cáceres.................................................................... 112
Geraldão ........................................................................................................................... 114
(Estádio Municipal “Luiz Geraldo da Silva”)

Estudiosos da Beleza........................................................................................................ 116


(No Jubileu de Diamante da Academia Mato-Grossense de Letras)

Nilo Ferreira Mendes......................................................................................................... 118


O bocejo escolar................................................................................................................ 119
Reabertura das aulas......................................................................................................... 120
Momentos de fé................................................................................................................ 121
Bodas da Missão Franciscana........................................................................................... 123
A primeira igreja................................................................................................................ 125
Festa de São Benedito....................................................................................................... 127
Lira cacerense................................................................................................................... 129
Soirée musical .................................................................................................................. 131
Famílias............................................................................................................................. 132
(Em que se fala da beleza da mulher cacerense)

Apoteose........................................................................................................................... 135
Voar, velho sonho da humanidade..................................................................................... 137
Frente ao túmulo............................................................................................................... 139
Agonia luminosa de abril................................................................................................... 141
Problema de linguagem... cósmica................................................................................... 142
Ouvi estrelas...................................................................................................................... 143
Mãe.................................................................................................................................... 145
Ascensão........................................................................................................................... 146
Hosana ao filho de Davi..................................................................................................... 147
Poesia não morre.............................................................................................................. 148
Ave, Cuiabá........................................................................................................................ 149
Missa da juventude........................................................................................................... 151
Maio, mês de Maria........................................................................................................... 152
Dia da Pátria...................................................................................................................... 153
(No sesquicentenário da Independência)

Saudamos-te, Brasil!......................................................................................................... 155


Salve, Bandeira do Brasil................................................................................................... 156
O Brasil do nosso amor..................................................................................................... 158
15 de outubro: dia do professor........................................................................................ 161
Dia do índio........................................................................................................................ 163
Dia do Trabalho................................................................................................................. 164
“Independência ou morte”................................................................................................. 167
11 de junho........................................................................................................................ 169
13 de junho........................................................................................................................ 170
Caxias................................................................................................................................ 171
Tuiuti: 103º........................................................................................................................ 172
Anchieta, apóstolo do Brasil.............................................................................................. 173
A imprensa........................................................................................................................ 174
Brasília, sonho-visão de Dom Bosco................................................................................. 176
Dom Francisco de Aquino Corrêa...................................................................................... 178
(No 1º centenário do seu nascimento – 1885/1985)

Mato Grosso 250 anos...................................................................................................... 181


Centenário da Loja Maçônica “União e Força”.................................................................. 183
“Arma poderosíssima [...] sua finalidade (a imprensa),
porém, é conduzir, mostrar ao povo os erros e as virtudes:
alertar a opinião pública, incentivar o ânimo do povo para
o desenvolvimento econômico, cultural e moral” (p. 175).
Apresentação

Memória em Fragmentos

À primeira vista, evocar a memória parece trabalho de saudosista preocu-


pado em remexer baús de papeis, registros, coisas aparentemente mortas. No
entanto, percebendo mais cuidadosamente, a memória é processo de relações
entre temporalidades, pois ao ser evocada no presente, leva o pesquisador ao
passado, sem perder de vista o futuro. São três dimensões temporais de caráter
simbólico à medida que é parte da constituição das identidades.
Os espaços das lembranças abertos pelo pesquisador entre essas dimen-
sões, mobilizam sentidos que relacionam, tanto os tipos de memória, ligados
às lembranças do cotidiano e repassadas de geração em geração, quanto os
da memória cultural, que são aquelas lembranças institucionalizadas. Estas
estão fortemente materializadas nos registros textuais, celebrações, objetos e
outros suportes mnemônicos e funcionam como gatilhos que acionam as he-
ranças simbólicas. Pelo poder de retenção, durabilidade e significados variados,
a memória cultural é mítica, remonta às experiências coletivas unificadoras
que asseguram a noção de pertencimento. Os “lugares de memória”, como
analisados por Pierre Nora (1984), nascem e vivem do sentimento que há na
memória espontânea. Por isso, como pontua, é preciso criar arquivos, orga-
nizar celebrações, manter aniversários, pronunciar elogios fúnebres, notariar
atas , porque estas operações não são naturais e, se não há espontaneidade da
memória, deve haver a possibilidade de reconstituí-la, tanto pelo espaço físico
(material), que lhe dá suporte, quanto pela formação de uma memória coletiva
(imaterial), que permite ao indivíduo o acesso aos processos de identificação.
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São, portanto, formas de conhecimento criticamente elaborados pelos diálogos
proporcionados pelos documentos (e monumentos) que colocam essa tradição
em movimento.
Nesse sentido, este livro foi pensado sob dupla perspectiva: do legado
histórico cultural da cidade de Cáceres, pelo olhar de um filho dileto, Natalino
Ferreira Mendes, e pela dimensão multidisciplinar decorrente dessas relações
identitárias, centradas em maior ou menor grau nas interações sociais com
o espaço vivido, lugar das contradições e das ambiguidades. Na memória se
circunscrevem os registros coletados em jornais, numa espécie de “miscelâ-
nea” articuladas (ou não) com os saberes produzidos em diferentes contextos
do pesquisador e que são colocados em xeque pela intervenção dos olhares
contemporâneos e do próprio olhar do autor, cuja memória individual entra
no jogo dessas representações. Os fragmentos são unidos por fios que se es-
tendem do conhecido para o desconhecido, como metáfora da dialética de um
passado mais ou menos conhecido e as incertezas do presente e do futuro. O
esforço voluntário projetado nos resultados da aventura pelos labirintos (de-
safios) postos pela pesquisa, conduz ao involuntário desejo de conhecer o lado
incógnito do mundo que é o mundo de cada um. Desta forma, os registros da
história e da memória são ferramentas para descobrir (ou não) os insondáveis
mistérios, como se encontram nos textos e que funcionam como crônicas de
um cotidiano permeado por reflexões de/sobre a vida.
Então, a pesquisa deixada por Natalino Ferreira Mendes funciona como
o fio de Ariadne que o leitor vai tecendo para deslindar as lacunas deixadas
pela história e pela memória. Desta forma, os textos foram meticulosamente
organizados entre os manuscritos e os recortes de jornais, colhidos diretamente
dos arquivos da Prefeitura Municipal de Cáceres: recortes factuais e oficiais
pertencentes à memória comunicativa e a memória cultural responsáveis pela
ativação dos sentidos diante dos acontecimentos narrados, como explica Jan
Assman (2013), ao sintetizar os dois aspectos principais de sua teoria. Por
esse viés teórico, os livros constituem ferramentas de acesso aos vestígios que
cada leitor encontra para legitimar (ou não) uma determinada ação política
do presente. Como fruto de pesquisa bibliográfica e em arquivos da cidade

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de Cáceres, possibilitam, também, a reconstituição dos esgarçados tecidos de
um tempo em que as verdades absolutas eram tomadas como inquestionáveis.
Colocados à luz do contemporâneo, os livros são campos de conflito em que
se reconhecem as rupturas e incoerências.
A escrita está atualizada pelo autor, o que garante a fluidez dos textos e o
reconhecimento dos fatos que, revistos hoje, estão colocados como “fragmen-
tos”, pois são registros, cujas bases são amplamente utilizadas pelo escritor em
suas narrativas e poemas. Em variados momentos, os registros bibliográficos
foram complementados pela organizadora, o que explica a ausência da marca-
ção de datas em alguns deles, pela dificuldade de acesso às fontes.
Os dois volumes dos inéditos de Natalino Ferreira Mendes que vem à luz
por incentivo da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer SECEL/MT,
através da Lei Aldir Blanc/2020, trazem fragmentos da história e da memó-
ria cultural do Município de Cáceres. Oriundos de um projeto que objetiva
revitalizar a memória do escritor como Mestre da cultura mato-grossense,
os textos estão colocados de modo a instigar a curiosidade do leitor, como
bem gostaria de concluir o seu próprio autor, acostumado ao trabalho de
despertar os jovens à pesquisa sobre a cidade e esperançoso da dinamização
dos espaços da investigação acadêmica. É como se o Mestre, em sala de aula,
colocasse à disposição dos alunos, o planejamento de uma viagem pelo mun-
do das redescobertas de si a partir do conhecimento do seu próprio espaço
de representação. Portanto, é uma aventura pelos meandros da cultura, da
história, da memória e da reconstrução das manifestações do humano que
se solidificam nas temporalidades, muito próprios da constituição das iden-
tidades e do imaginário de cada leitor.

Olga Maria Castrillon-Mendes


Proponente do Projeto “Natalino Ferreira Mendes: um mestre da cultura mato-grossense”
SECEL/MT/2020 e organizadora dos inéditos

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Cáceres: 196 anos em busca da
concretização do sonho de Albuquerque

06/10/1778, Pinto Rego, por ordem do 4º Governador de Mato Grosso


Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, lança os fundamentos de um
povoado na margem esquerda do Rio Paraguai, próximo à confluência dos
Rios Cabaçal e Jauru, e a meio caminho entre Cuiabá e Vila Bela da Santíssi-
ma Trindade. Em honra à Rainha reinante, recebe o nome de Vila Maria do
Paraguai. Chegam os pioneiros, entre os quais destacam: Leonardo Soares de
Souza, André Alves da Cunha, José Gomes da Silva, João Pereira Leite e Ma-
riano Ramos que lançam os fundamentos de sítios e fazendas que foram a base
do desenvolvimento desta região.
O homem descobre a capacidade do Pantanal para a Pecuária, os cam-
pos povoam-se de inúmeras reses, ao embalo dos “eias” dos vaqueiros, heróis
anônimos que ajudaram a criar os rebanhos e construir a nossa riqueza. Des-
cortinam-se a terras de Nordeste Cacerense, zona das serras e bocainas, onde
surgem sítios prósperos que passaram a ser o celeiro de Cáceres.
Outro herói anônimo: o lavrador, arrancando da terra, com os próprios
braços, o sustento seu e da cidade. Para conduzir a produção, utilizou o boi
como transporte. Este em grupo, formou a tropa, donde nasceu o tropeiro, o
homem que arranca d o solo o alimento e o transporta para o mercado. Ho-
mens anônimos que ajudaram a fazer a grandeza do Município. O lavrador
amansou o boi e o jungiu a um carro de duas rodas, rústico, feito de madeira
da própria terra: nasceu o carro de bois. Escutando o passado, ouço ainda o
monótono ruído do carro de bois mormente nas tardes quentes de verão. E
pelas estradas compridas lá vão eles quebrando o silêncio das matas. Nos sítios
o trabalho duro das roças, a limpeza da terra, a semeadura, a colheita, o baque

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surdo dos monjolos, pilões possantes movidos por força hidráulica. O ruído
dos engenhos de madeira, gritando nos eixos, espremendo a cana para fazer a
deliciosa garapa, o açúcar de barro, a rapadura.
O espírito aventureiro do homem descoberto, no seio das matas do alto
Paraguai, uma planta medicinal de grande valor: a Ipecacuanha, conhecida na
Região como poaia, dando lugar a um comércio lucrativo que tornou Cáceres
conhecida até no exterior. A busca da poaia criou o poaieiro, heroico batedor
de mato, que enfrenta de peito aberto a solidão a fera, o inseto e as doenças.
Ao lado dos poaieiros, igualmente destemidos, no seio das matas, lá estão os
caçadores de animais selvagens, extraindo peles e mais peles para os curtumes,
para exportação, incrementando o comércio. Heróis anônimos que fizeram a
grandeza do município.
Rios – Estradas que caminham: Paraguai, Jauru, Sepotuba, Cabaçal. Ouço
o rumor dos remos das canoas e batelões fendendo as águas. O bater caden-
ciado dos pés nas pranchas que sobem e descem os rios. Motores de lancha
e, acima de tudo, ouço o apito singular do vapor Etrúria, anos e anos ligando
esta terra a Corumbá.
Ouço a Natureza, a voz dos pássaros mil. O grito de anhuma nas baías.
O vento norte conduzindo fagulhas de queimadas. Sinto o cheiro da terra nas
primeiras chuvas. O sibilo das cigarras nos cajueiros. Rios e córregos tombando
em cachoeiras e cascatas. Rodas hidráulicas movimentando máquinas de usinas
como Ressaca, Jacobina e tantas outras. É a natureza cacerense. É o homem
lutando com a natureza. É o homem vencendo a natureza. O homem querendo,
o homem produzindo, o homem fazendo progresso.
A cidade cresceu sob o comércio da terra. Noites escuras e noites de luar.
A Intendência estabeleceu nas ruas lampiões à querosene. Criou-se um tipo
popular: o Lampareiro (acendedor de lampiões da rua). Eu os vejo todas as
tardes, escada ao ombro ascendendo um por um os lampiões da rua para ilu-
minar a cidade.
Cáceres das velhas tradições: festas anuais de São Benedito, senhor Divi-
no e São Luiz. Festas tradicionais tão queridas do povo: luminárias, touradas,
cavalhadas realizadas nas Praças Rio Branco e Duque de Caxias.

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Terra do folclore com danças típicas do Siriri, São Gonçalo e a célebre
“função” tão do gosto da nossa gente. Festas Juninas de S. João, Santo Antônio
e São Pedro com o espoucar de bombas e foguetes, balões no ar e sortilégios.
A descida do Judas no sábado de aleluia nos quatro cantos da cidade. O povo
divertindo-se, cantando e dançando, como lenitivo de trabalho duro cotidiano.
Meados do século XX: a rodovia atinge Cáceres e por ela os caminhões
de carga. O transporte passa a ser feito por estes e a navegação fluvial diminui
até quase a estagnação total.
A estrada facilita a penetração no ocidente cacerense, desencadeando in-
tensa imigração no município. Brasileiros de quase todos os Estados para cá
se deslocam em busca das boas terras para a agricultura. E Cáceres, em pouco
tempo, se renova. A agricultura se desenvolve a ponto de tornar Cáceres um
dos municípios de maior produção em Mato Grosso. A nova Cáceres surgiu
sob o ronco dos possantes caminhões e gente chegando, abrindo picadas, plan-
tando e colhendo. Automóveis e caminhões, jipes e tratores, serrarias e aviões
formam a orquestra de trabalho de hoje. Núcleos urbanos desenvolvem-se pelo
interior do município como sementeira de novas cidades, realizando assim o
sonho-visão de Albuquerque. A cidade quase bicentenária toma novas vestes
com suas praças ajardinadas, ruas calçadas, colégios, clubes, estádios de fute-
bol. Cáceres com energia elétrica abundante trazida pela CEMAT, ensejando
a penetração de novas indústrias para que seja esta Terra verdadeiramente um
polo de desenvolvimento de toda esta vasta região mato-grossense.

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Marco do Jauru

Na sua mudez pétrea, os monumentos são o sinal das grandes conquistas


do esforço humano, perenizando uma fase da história pátria. Aqui está, na
praça Barão do Rio Branco, bem no coração da cidade, o Marco do Jauru, tes-
temunha do esforço e da tenacidade dos nossos ancestrais. Construído para
marcar os limites das possessões lusas e espanholas, fora ele colocado em 1754
na foz do rio Jauru. Delimitava ali a fronteira dos dois Reinos que, pelo Tra-
tado de 1750 – de Madri – dividiram as suas terras pacificamente. Perdida a
validade do convênio, e deslocada a fronteira lusa mais para o sudoeste, perdeu
o Marco a sua finalidade no ponto em que se encontrava, quedou-se qual um
herói afastado do combate.
Em 1883, foi ele trazido para Cáceres, onde jaz como um gigante paci-
ficado, fora do seu verdadeiro lugar de delimitar fronteiras, conservado com
carinho pelas autoridades municipais e pelo povo cacerense como relíquia,
pois esse monumento é, não só um símbolo, mas um documento. Em sua
síntese as legendas desse marco nos recordam passagens e homens do pas-
sado. Páginas de história se nos abrem às visitas e nos convidam a estudar
o passado, onde ficam dois grandes países ibéricos. Portugal e Espanha, na
constante luta pelos domínios que cresciam, graças ao esforço e audácia de
seus filhos.
Aproximemo-nos na face sul do Marco. Ali, está gravado o versículo
bíblico Justitia et pax osculatae sunt – a justiça e a paz se oscularam. Essa ins-
crição foi ali gravada por inspiração de um patrício – Alexandre de Gusmão,
conhecido como “o pai da diplomacia brasileira”. Gusmão nasceu em Santos
em 1965. Instruiu-se nas melhores universidades da Europa. Dedicou-se à
diplomacia, sendo nomeado por D. João V, de Portugal, secretário dos Ne-

18
gócios do Reino e fidalgo da Casa Real. Atuou o grande político patrício no
Tratado de 1750 que deu origem ao nosso monumento, ao lado de insígnes
diplomatas espanhóis e portugueses, proporcionando àquele documento a
necessária e preciosa dose de bom senso e tato diplomático com referência à
América, notadamente na preservação da paz no Novo Mundo, sob a política
boa vizinhança. “Justiça e Paz se beijaram” – inspiração do convênio para a
grande família americana.

19
Marco Geodésico “Prof. Dr. Miguel Alves de Lima”

A Fundação IBGE, pela superintendência de Geografia, realizou no dia


24 de julho de 1973, nesta cidade de Cáceres, às 19:30 horas, a medição de
mais uma Base Geodésica, utilizando aparelhagem eletro-ótica de medição de
distância (geodímetro), isto é, com auxílio de sinais luminosos.
O serviço ficou a cargo da Terceira Divisão de levantamentos do Departamen-
to de Geodésia e Topografia do IBGE e o levantamento foi efetuado de Sul para
Norte com a finalidade de “prover o espaço territorial brasileiro com apoio geodé-
sico fundamental e indispensável ao mapeamento topográfico do País” (palavras
da própria Comissão que aqui esteve). O Marco recebeu o nome do Dr. Miguel
Alves de Lima, personalidade muito ligada a Mato Grosso, onde realizou estudos
e trabalhos desde a sua juventude e atualmente (1973) ocupava o elevado cargo na
Superintendência de Geografia da Fundação IBGE. Ao ato estiveram presentes o
prof. Eurico de Andrade Neves Borba, Diretor Geral da Fundação IBGE e chefes
de Departamentos daquele Órgão, destacando-se o Prof. Dr. Dorival Ferrari e Dr.
Péricles Sales Freire, além do homenageado Prof. Miguel Alves de Lima.
Localização: - no entroncamento da BR – 070 com a MT – 123 Cáceres
– Barra do Bugres.
Inscrição: (Face voltada para Poente)
F. IBGE, 1973 – Prof. Miguel nº 2292
Base Miguel Alves de Lima
Na medalha:
Marco Sudoeste
Triangulação protegido por Lei
Fundação IBGE
Deptº Geodesia e Topografia

20
Marco Geodésico, ponto desconhecido pelos cacerenses

Localizado no entroncamento da avenida Santos Dumont com a rodo-


viária MT/343, que liga Cáceres a Barra do Bugres, o marco geodésico do
IBGE “prof. Miguel Alves de Lima” certamente não é um ponto visível e passa
despercebido pelos motoristas que costumam trafegar pelo local. Entretanto
o marco possui uma função importante que é a de servir para o mapeamento
topográfico e climático da região, propiciando informações de interesse não
só nacional como regional para a economia dos municípios vizinhos, baseada
na atividade agropastoril.
Fixado no local em 1973, o marco está localizado na altitude de 16º
04’28,187” ao sul e na longitude de 57º 40’05, 483” a Oeste, numa altitude de
119,30 metros. O bloco de concreto que caracteriza o ponto possui uma placa
de bronze – tecnicamente conhecida por RN nº 2292 – a qual assinala o pon-
to de referência do local utilizado em levantamento topográfico pelo IBGE.
Segundo Salvador Loureano de Assunção, chefe da agência do Instituto de
Cáceres, o marco possui um suporte para antena que é fixada por técnicos do
IBGE quando necessitam de alguma informação sobre localização geográfica,
altitude, longitude e latitude, condições climáticas, temperatura e precipitação
pluviométrica da região. Essa antena capta e emite por ondas de frequência
sinais do satélite norte-americano Intelsat, que passa de hora em hora na região
e são gravados em fita magnética, cuja decodificação e interpretação é feita
pela sede do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, localizado no Rio
de Janeiro.

21
Fumaça: é a tua vez

Uma das bases em que se firmou Albuquerque para fundar Cáceres, foi a
fertilidade do solo, regado de abundantes águas. Com efeito, olhando o mapa
do Município nota-se a excelente colocação de suas terras, banhadas pelos
rios Paraguai, Sepotuba, Cabaçal e Jauru. Sabia o grande Capitão-General que
terreno fértil cortado de grandes rios, como os nossos, com nativas pastagens,
ofereceria facilidade para a criação de gado. Do solo viriam as plantações, de-
senvolver-se-ia a agricultura e as duas atividades, pastoril e agrícola, formariam
a riqueza e a prosperidade da região.
Quase duzentos anos depois assistimos à concretização daquele previsto de
Albuquerque. Cáceres foi sacudido pela nova bandeira de brasileiros de vários
Estados e alguns estrangeiros, que para aqui se deslocaram à procura de boas
terras para a cultura, criação de bovinos e exploração de produtos da terra.
Cáceres ergue-se de um pulo e procura cerrar fileira com outros municípios
para o desenvolvimento integral de Mato Grosso.
Rico de natureza e privilégios na posição geográfica, Cáceres está apare-
cendo econômica e demograficamente. Cresceu o povo, aumentou a expressão
econômica do Município. Produz-se. Mas não basta produzir. É necessário
transformar a matéria prima. O Município precisa industrializar-se. Nesse setor
estamos atrasados, porque nos falta energia elétrica abundante e barata. Mas,
de onde tirá-la? Albuquerque sustentou que a base do nosso progresso estaria
na própria terra, no solo e nas águas. E é verdade. Ali está o histórico rio Jauru:
Filho, como o Paraguai,
Da Serra de Rondon,
A Parici,

22
Desce do planalto,
O Jauru
Inquieto e correntoso.
Súbito, falta-lhe o solo
E tomba
Numa queda de quarenta metros,
Formando o “véu de noiva”
Do salto da Fumaça.
Por séculos a energia, ali, flui inaproveitada, à espera do homem que a
utilize para o progresso do Município. Albuquerque deu-nos Cáceres - a terra
de promissão. Quem nos dará a Usina Hidroelétrica da Fumaça? Algo indefi-
nível paira no ar do ambiente cacerense que nos faz pensar e acreditar que esse
homem será o Governador Fragelli.

23
Vias fluviais de comunicação

Em 1922, o nosso Município, ainda São Luiz de Cáceres, apresentava-se


ao mundo, na Exposição Nacional comemorativa do primeiro centenário da
Independência do Brasil, com amostras de produtos da terra e uma Monografia
focalizando aos aspectos históricos, geográficos e econômicos da região.
A memória Cacerense destaca, hoje, pela oportunidade do assunto o capí-
tulo “Vias de Comunicação Fluvial” da aludida publicação, por sinal, impressa
nesta cidade, na extinta tipografia do Jornal A Razão, de Cáceres. Diz o autor
do trabalho, Sr. João Campos Widal:

Vias de comunicação fluvial


As principais são: o rio Paraguai, que nascendo em o lugar denominado
Sete Lagoas, município de Diamantino, depois de um percurso de cerca
de 200 léguas até encontrar o majestoso Paraná, atravessa toda planície
cacerense desde a foz do rio Sant’Ana. Além deste, recebendo mais os
rios Bugres, Sepotuba, Cabaçal e Jauru, seus tributários, aumenta-lhe de
tal modo o volume das águas que franqueia navegação de longo curso
até esta cidade, para embarcações a vapor com calado de 6 pés na en-
chente e 4 na rigorosa seca; e daqui para cima até a povoação da Barra
do Bugres ainda o trânsito para essas embarcações é bem livre durante
as águas; somente não podendo na seca passar da chamada Goiabeira.
Às Três Barras, contudo, têm ido lanchas durante a enchente conduzindo
grandes chatas. Fora disso, isto é, durante a estação da baixa, o trânsito
naquelas paragens é feito por pranchas ou chatas, à zinga e sem o menor
perigo, visto não ter uma só cachoeira a transpor. O rio Jauru, distante
desta cidade 72 quilômetros, dá navegação a vapor até Porto Esperidião;

24
não o sendo daí em diante senão por canoas. O Cabaçal, 12 quilômetros
acima, é um rio caudaloso e profundo, mas estreito e tortuoso por cuja
razão só é navegável por pequenas embarcações a remo e a zinga, isto
francamente até a barra do rio Vermelho, seu maior tributário, que tam-
bém é estreito e sinuoso. Desse ponto em diante, quanto mais se aproxima
das cabeceiras vai ele se tornando de trânsito difícil até a zona aurífera;
sendo os obstáculos na sua maior parte consistentes em tranqueiras de
paus ou árvores caídas pelo leito. Logo acima da barra do Cabaçal e a 24
quilômetros desta cidade dá entrada no Paraguai o belo Sepotuba, bem
largo e correntoso, com excelente água potável. Até o lugar denomina-
do Barra do Juba, 138 quilômetros desta, transitam, durante as águas,
embarcações a vapor de 4 pés aproximadamente de calado; e daí para
cima, em consequência das fortes correntezas e passos estreitos, rasos, só
chegam ao porto de Tapirapuã, que fica no sopé de Serra dos Paricis e a
180 quilômetros desta cidade, embarcações menores. Dois são os vapores
que fazem a carreira de Corumbá a esta praça: o “Etrúria”, de 30 cavalos
de força, com acomodações para passageiros de ré e de proa, além de
porões de carga; e a lancha “Linda Haydée”, rebocadora. As viagens são
feitas, águas acima, no termo de 4 dias, e de descida em 2 a 3 dias, isto
não havendo empecilhos de seca ou de camalotes. Nas águas do interior
do Município estão em movimento as seguintes lanchas (a vapor e a
gasolina): Nhambiquara, Sant’Ana, Juanita, Sereia, Perseverança, Seis de
Outubro, Anjo da Ventura, Maria e Izaura. Acidentalmente, no entanto,
vêm a este porto embarcações pertencentes a outras linhas, e em deter-
minados fins. Seguem-se as pranchas, batelões, montarias que, em grande
número, cruzam conjuntamente àquelas embarcações, principalmente
durante o estio, quando a estas se torna impossível o trânsito, e como
recurso imediato”.

25
Viagem fluvial São Paulo-Cáceres

O dia de ontem, 06 de junho, nos recordou a chegada, a esta cidade, dos


paulistas Luiz Senatore Neto e Antônio Senatore, tripulando a embarcação
“Carlos de Campos”, que deixou São Paulo em agosto de 1926, para uma viagem
fluvial até Belém do Pará.
Eis como o jornal da época, A Rua, noticia o evento:

Raid Fluvial – Os jovens raidmen paulistas, tripulantes da “Carlos de


Campos”, saídos de São Paulo em agosto de 1926, rumo a Belém do
Pará, chegam a São Luiz de Cáceres. Há quase oito dias, está ancorada
no porto desta cidade, uma pequena embarcação que, pelo nome, con-
vencemo-nos que efetivamente era a esperada canoa dos paulistas que,
num arrojo jamais concebível, rumaram da gloriosa terra dos bandei-
rantes, pelo Tietê, rio histórico que banha a grande metrópole do café.
Tietê, Paraná, Uruguai, Prata e agora o Paraguai, os jovens nautas vêm
até nós, buscando na afoiteza de seus espíritos patriotas, incentivar nos
brasileiros a fé na grandeza do Brasil. Aqui chegaram, há cerca de oito
dias, e aguardam instruções de São Paulo, pois eram quatro os tripulan-
tes da “Carlos de Campos”, mas por motivo de moléstia adquirida na
travessia do rio Paraná, dois resolveram regressar a São Paulo. Os jovens
irmãos têm recebido de nossas autoridades e da sociedade cacerense,
as melhores provas de estima e admiração ao grande feito, que levarão
a cabo. Daqui seguirão pelo Paraguai, Jauru e Guaporé, avançando por
esse até Guajará-Mirim, Beni e daí pelo Mamoré, Madeira até pegarem
o caudaloso Amazonas. A Rua, traduzindo a grande satisfação que ora

26
enche o coração dos cacerenses, apresenta aos denodados bandeirantes
e nautas da “Carlos de Campos”, os seus efusivos saudares.

O Intendente-Geral do Município de São Luiz de Cáceres, Dr. Leopoldo


Ambrósio Filho fez, no diário dos intrépidos navegantes, o seguinte registro:

Aos heroicos patrícios Luiz Senatore Neto e Antônio Senatore, que fazem
o “raid” fluvial São Paulo-Belém, os nossos melhores e mais ardentes
votos de bons ventos, para que essa tão arrojada empresa tenha feliz
término, para maior orgulho e grandeza do nosso Brasil. (Fonte: Jornal
A Rua/junho de 1928. Cáceres-MT, 07/06/1998)

27
O Telégrafo chega a Cáceres

Agosto de 1906, dia 1º.


Cáceres está em festa. Inaugura-se a Estação Telegráfica da nossa cidade.
Em Rondon Conta sua Vida, da escritora Esther de Viveiros, está o registro do
fato: “A 1º de agosto de 1906, foi inaugurada a Estação de Cáceres, 156 quilô-
metros de linha, a partir de Poconé. Presentes altas autoridades e convidados,
li minha ordem do dia e o Maj. Varela fez discurso laudatório à Comissão”.
Em 1905, iniciara Rondon os estudos para estabelecer o melhor traçado
do ramal da linha telegráfica até Cáceres, partindo de Cuiabá. Com o ramal de
Cáceres, completava a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas no Estado
de Mato Grosso, chefiada por Rondon, a fase corresponde à ligação de Cuiabá
a Corumbá, prolongando-se até às fronteiras de Paraguai e Bolívia, inclusive
Cáceres (1900-1906).

Na Comissão 1900-1906 – disse Rondon – não se cogitava apenas de levar


a cabo tentativas de assegurar comunicações da Capital com os lindes de
Mato Grosso. Tratava-se de obra m uito mais extensa e completa: encerrar
os principais pontos estratégicos, dos confins do Brasil com o Paraguai
e a Bolívia, nas malhas de uma grande rede telegráfica que permitiria
constante comunicação com aquelas longínquas paragens e, desse modo,
sobre elas exercer proveitosa vigilância. E o principal teatro de operações
de tal envergadura eram os insondáveis pantanais do Paraguai, através
dos quais deveriam ser transportados fardos pesadíssimos.

E acrescenta o grande desbravador mato-grossense: “Ficara a fronteira do


Paraguai ligada por dois pontos principais – Porto Murtinho e Bela Vista – e a

28
da Bolívia por outros dois – Corumbá e Coimbra – sem contar com São Luiz
de Cáceres, sede, como os dois outros pontos, de estacionamento de forças
militares, embora não estando no limite do território brasileiro”1.
A Estação Telegráfica instalou-se, segundo os mais antigos, na Avenida
7 de Setembro esquina com a rua Padre Casimiro, onde é hoje o Hospital São
Luiz. O primeiro telegrafista foi, de acordo com as mesmas fontes, o Sr. Fru-
tuoso Mendes.

1 Esther de Viveiros. Rondon conta sua vida. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1958.

29
Telefone interurbano

Em agosto de 1976, dia 12, inaugurava-se, em Cáceres, o Sistema Telefôni-


co Interurbano, com a presença do Ministro das Comunicações, Comandante
Euclides Quandt de Oliveira e do Governador do Estado, Dr. José Garcia Neto.
Pelo Jornal de Cáceres desse dia, a TELEMAT – Telecomunicações de Mato
Grosso S/A, empresa Grupo Telebrás, anunciava: “Cáceres hoje já pode falar com
Mato Grosso e o Brasil. Parece um milagre, não? A partir de hoje o seu telefone
chama por interurbano Cuiabá, a Capital, e todo o Brasil. As coisas ficam mais
fáceis para o provo de Cáceres”. Para ligar, informava o mesmo jornal: “Discando
o número zero, o usuário será atendido pela telefonista, que completará a ligação
pedida”.
O Jornal Diário de Cuiabá, de 12/08/76, noticiava que o Ministro Quandt
de Oliveira vinha a Cuiabá para cumprir, juntamente com o Governador Garcia
Neto, programa de inaugurações de obras da TELEMAT em diversas regiões
do Estado, tais como Rondonópolis, Cáceres, Poconé, Cuiabá, Campo Grande
e Dourados. O Serviço Telefônico em Cáceres foi iniciado pela firma Brasília
Promoção de Vendas Ltda., de Goiânia, que, por falta de recursos não pode
levar avante a obra. Por vontade dos acionistas da Empresa e com autorização
da Câmara Municipal, assumiu a Prefeitura inteira responsabilidade sobre o
acervo e patrimônio da Brasília Promoção de Vendas Ltda., com o encargo de
instalar o serviço, o que foi feito através da “Siemens do Brasil Companhia de
Eletricidade”, de São Paulo, sendo inaugurado no dia 25 de agosto de 1965,
quando aconteceu também a inauguração da Catedral de São Luiz.
Mais tarde, por força da Lei nº 412, de 27.09.1973, o Serviço Telefônico
de Cáceres passou para TELEBRAS – Telecomunicações Brasileiras S/A, e, em
1979, de 28 de março, inaugurou-se a Estação Telefônica de Cáceres, juntamen-
te com os Sistemas DDD e DDI, no local onde hoje se encontra.
Jornal Correio Cacerense, de 23/08/1998.

30
Rodovia Cáceres-Barra do Bugres

Agosto nos traz à memória a inauguração da rodovia Cáceres-Barra do


Bugres, na época com a designação oficial de Rodovia MT-123. O ato solene de
entrega da estrada ao tráfego se deu no dia 12 do referido mês, no ano de 1972.
O jornal Correio Cacerense, edição de 17/08/72, sob o título “Cáceres e
Barra do Bugres inauguram rodovia”, assim se pronunciou a respeito:

No último sábado, às 11 horas, foi inaugurado um trecho da rodovia MT-


123, que liga Cachoeirinha a Porto Estrela, numa solenidade que bem
demonstrou a união que existe entre os municípios de Cáceres e Barra
do Bugres. A inauguração contou com a presença do Governador José
Fragelli, Dr. Wander Rosa Júnior, chefe da Residência do DERMAT, além
de outras autoridades civis, militares e eclesiásticas, que contribuíram
para que o ato fosse coroado de pleno êxito. A fita simbólica foi cortada
pelos Prefeitos das cidades ora ligadas por rodovia, o Sr. Amando Barbo-
sa Motta, Alcaide de Barra do Bugres e Dr. Luiz Marques Ambrósio, de
Cáceres. Após a inauguração da estrada, pessoas convidadas por Cáceres
e outras por Barra do Bugres, juntamente com as autoridades presentes,
deliciaram-se com um churrasco oferecido pela Prefeitura dos municí-
pios recém-ligados pela Rodovia MT-123, construída pelo DERMAT.
Agora, em poucas horas, o cacerense chegará àquela cidade, bem assim
o barrense virá até aqui em menos de duas horas de viagem.

A construção da Rodovia Cáceres-Barra do Bugres teve início na adminis-


tração municipal do Engenheiro José Rodrigues Fontes (1947/1951), quando foi
elaborado o Plano Rodoviário Municipal de Cáceres e criado o Departamento
Municipal de Estradas de Rodagem (DMER), com recurso do Fundo Rodo-
viário Nacional instituído em 1945. O referido Plano Rodoviário estabelecia a

31
construção gradativa da estrada ligando Cáceres a Barra do Bugres, a área do
nosso Município.
Nessa administração foram construídas as primeiras pontes do projeto,
nos seguintes cursos d’água: Barreiro Vermelho, Taquaralzinho, Cachoeirinha,
Anhumas, Tapera e Figueirinha, e os aterros nas matas do Taquaralzinho e
Anhumas. A estrada Cáceres-Barra do Bugres serve, em nosso Município, a
região tradicionalmente chamada “Morraria”, que, no passado, ficou também
conhecida como “celeiro da cidade”.

32
A Primeira iluminação pública

Constata-se, pelos arquivos municipais, que a iluminação pública de Cá-


ceres (com lampiões de querosene) teve início na administração do Inten-
dente-Geral, Sr. Joaquim da Costa e Faria (1906/1908). No livro próprio da
Intendência Municipal foi registrado o contrato celebrado, em 1908, entre o Sr.
Leopoldo Torraca e a Municipalidade, para execução do serviço de iluminação
pública da cidade de Cáceres, nos termos seguintes:

Aos 30 dias do mês de julho do ano de 1908, no Paço Municipal desta


cidade, o Sr. Major Vice-Presidente do Município comigo Secretário da
mesma Câmara adiante nomeado, aí compareceu o Sr. Leopoldo Torra-
ca que vinha assinar o termo de contrato para os serviços de custeio da
iluminação pública, desta cidade, conforme edital publicado, no dia 20
do corrente, e a proposta apresentada no dia 28 do mesmo. Depois de
pago o imposto de 2% do § 20 da Tabela B do Orçamento vigente e devi-
damente afiançado pelo Sr. José Tarsio, de uma morada de casa sita à rua
Gen. Deodoro, lavrou-se o respectivo contrato com as cláusulas seguintes:
Dentro de 5 meses a contar do dia 1º de agosto próximo, o contratante
se obrigará a fazer o custeio da iluminação com as condições seguin-
tes: acender os lampiões às 6 e ½ horas da tarde; fazer o serviço com
todo o esmero e capricho, não faltando com a devida limpeza, para não
causar algum dano. Depois de ser lido e achado conforme vai assinado
e rubricado pelo Sr. Major Vice-Intendente com as testemunhas abaixo
assinadas e o fiador. Do que para constar lavrou-se o presente termo.
Eu, Antônio dos Santos Araujo, Vice-Intendente; Leopoldo Torraca; José
Gonçalves Tarsio” (Ortografia atualizada).

33
Cáceres entrou, assim, para o rol das cidades iluminadas artificialmente, à
noite, por meio dos lampiões de rua, que fizeram época, até que lhe veio tomar
o lugar a energia elétrica em 1951. A iluminação a querosene deu ensejo à pro-
fissão de lampareiro – o acendedor de lampiões de rua – figura que se tornou
popular e querida, pois era ele que iluminava as noites cacerenses de outrora.

34
Luz elétrica no Colégio São Luiz

No dia 7 do mês em curso, recordamos a solenidade de instalação de luz


elétrica, em 1935, no Colégio “São Luiz”, da Missão da Ordem Terceira Regular
de São Francisco. O educandário, particular funcionava numa dependência do
Convento dos Franciscanos, na Avenida Sete de Setembro, nesta cidade, onde
ainda se encontra. Com a introdução desse melhoramento, o Colégio inaugu-
rou também o cine Pathé, para complemento da educação e lazer dos alunos.
Como a cidade não dispunha de cinema, na ocasião, o Colégio estendeu a sua
atividade cinematográfica à comunidade, em sessões semanais, com pagamento
de módica contribuição pelos frequentadores que, geralmente, lotavam o salão,
onde, periodicamente, eram exibidas peças teatrais ensaiadas pelos alunos, sob
a direção do professor Frei Salvador Rouquette.
Justo é ressaltar aqui a obra educacional dos Franciscanos em Cáceres,
na qual sobressai, no passado, o Colégio “São Luiz”, criado pelos Franciscanos
em 1906, quando o Padre Marie-Louis Galibert, depois Bispo de São Luiz de
Cáceres, veio fundar o terceiro posto da missão da Ordem Terceira em nossa
cidade, com a finalidade de cultivar vocações sacerdotais futuras. Nesse mesmo
ano, chegaram as primeiras quatro Irmãs Azuis que, logo, abriram uma escola
para meninas.
Sobre o professor Frei Salvador Rouquette, queremos repetir o que dis-
semos no prefácio do livro Uma Igreja na Fronteira, de D. Máximo Biennés:

Particularmente, como ex-aluno dessa escola (Colégio São Luiz), que-


remos render nossa homenagem aos professores desse educandário,
dentre os quais se destaca Frei Salvador Rouquette, cuja competên-
cia habilidade e natural pendor para o magistério tornaram-no um

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professor extraordinário. Tinha sob sua direção, na mesma sala, três
turmas diferentes, terceira, quarta e quinta séries primárias, em dois
turnos diários, e a todas atendida com a mesma dedicação. Além das
aulas normais, tínhamos leitura de livros da biblioteca, cinema, teatro,
jogos educativos das mais variadas espécies e, nos intervalos de aula,
futebol. Alguns colegas aprenderam violino com Frei Salvador e outros
tornaram-se bons técnicos com base nos excelentes ensinamentos desse
mestre que ainda distraía os alunos com números de prestidigitação e
teatrinho de fantoches2.

Embora o Colégio São Luiz tenha encerrado as suas atividades, é confor-


tador lembrar que o trabalho educacional dos Franciscanos, iniciado em 1906,
continua com a missão Franciscana Holandesa, desde 1958, no já tradicional
e eficiente Instituto Santa Maria, ou Colégio dos Freis holandeses, como é
popularmente chamado3.
Pela história percebe-se a constante que existe na evolução de um povo.
Em Cáceres, por exemplo, pode-se ver essa linha, que se projeta no futuro, no
setor da instrução: das primeiras escolas isoladas do sexo masculino e femini-
no para a congregação destas sob uma só direção, no Grupo Escolar de 1912.
Depois, o primeiro ginásio, em 1948, o segundo grau, na década de 1960, e,
finalmente, o terceiro grau que se consolida hoje na UNEMAT – Universidade
do Estado de Mato Grosso.

2 Biennés, Max. Uma igreja na fronteira. São Paulo: Loyola, 1987.


3 m 2020, os últimos franciscanos holandeses retornaram à terra natal (Gumaru Sterke, Matheus Fey-
en, Marino Vermeer), quando o Colégio passou a pertencer à Missão Salesiana, com o nome de
“Colégio Salesiano Santa Maria”.

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Imposto de iluminação pública

Uma tentativa de instalação de energia elétrica – Pelo Decreto nº 08, de


26 de junho de 1931, o Prefeito Municipal de Cáceres criou o imposto de
iluminação pública para ser lançado e cobrado juntamente com o de décimas
prediais. Estabelecia, o mencionado decreto, em seu artigo 1º, a seguinte ma-
neira de cobrança:
1. Os Terrenos abertos, sem prédio e dentro do perímetro urbano, paga-
riam 1000 (um mil réis) por metro linear de frente.
2. Quando fechados por cerca ordinária, isto é, de madeira não serrada
e simetricamente feita ou de taquara, $ 800 (oitocentos réis).
3. Com prédios, mas abertos, por metro quadrado de frente, $ 500 (qui-
nhentos réis).
4. Terrenos com prédios, mas vedados por cercas ordinárias, $ 400 (qua-
trocentos réis).
5. Quando murados ou fechados com gradis artísticos, $ 300 (trezentos
réis).

Os terrenos da zona suburbana, de acordo com o artigo 2º do mesmo de-


creto, pagariam a mesma taxa com abatimento de 50%. Foi considerada zona
urbana toda área iluminada (ainda por lampiões de querosene). O produto do
imposto em apreço seria destinado ao estabelecimento de luz elétrica na cidade.
O administrador municipal, Dr. Joaquim Augusto da Costa Marques, es-
tava empenhado em dotar a cidade de energia elétrica, conforme se vê na sua
exposição ao Interventor Federal do Estado, no relatório, que lhe enviou, sobre
sua gestão à frente da Prefeitura Municipal de Cáceres:

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Nem de tão avultado capital se necessitava (para geração de energia elé-
trica), porquanto, a força motriz poderia ser fornecida pelos senhores
Castrillon & Irmãos, que possuem em suas oficinas uma máquina a vapor
com força suficiente, 55 cavalos, segundo cálculo feito pelo engenheiro
civil Francisco Villanova, a meu pedido, para acionar um dínamo com
capacidade para fornecer sobejamente luz para esta cidade e por muitos
anos.

Diz ainda o Sr. Prefeito que os senhores Castrillon & Irmãos cederiam
uma parte de seu galpão para instalação do dínamo e de seus acessórios e tudo
isso por um aluguel a meu ver razoável, poupando ainda a Prefeitura dos incô-
modos, preocupações e aborrecimentos que tais serviços sempre ocasionam.
A obra, porém, não foi concretizada por falta de recursos e pela exiguidade
de tempo em que o Dr. Costa Marques esteve no Governo no Município de
Cáceres.

38
Hóspedes ilustres (I)

De regresso de Vila Bela da Santíssima Trindade, a ilustre comitiva que


fora àquela cidade para participar do seu bicentenário, chegou a Cáceres na
tarde do dia 09 de junho de 1952. Compunha-se a comitiva das seguintes per-
sonalidades: Dr. Fernando Corrêa da Costa, Governador do Estado, a Exma.
Esposa, Sra. Maria E. Bocaiuva C. Costa, e a filha, Sta. Tereza (Telu); Senadores
Assis Chateaubriand e Vespasiano Martins; Deputados Virgílio Corrêa, Aral
Moreira e Lício Borralho; historiadores Gustavo Barroso e Virgílio Corrêa
Filho; Almirante Gago Coutinho (uma das glórias da aviação mundial); Dr.
Barroso Júnior, representante do Ministro da Educação; Pe. João Pedron dire-
tor do Serviço de Assistência a Menores; Dr. Jaime Cortesão (escritor e poeta
lusitano); Dr. Herculano Rebordão, representante do Embaixador de Portugal;
Dr. Hélio de Vasconcelos, Presidente do Tribunal de Justiça; Dr. Antônio de
Arruda Marques, diretor do Departamento de Educação e Cultura do Estado;
Marquês Pierre do Segur, Dr. Ulpiano Barros; Jornalistas Carlos Gaspar, Badaró
Braga, Walkirio Pierat, Utaro Kanai e vários outros distintos visitantes.

A cidade – conta o jornal A Razão, da época – recebeu os seus ilustres


hóspedes com indizível satisfação. Antes mesmo do sinal da chegada, já
o nosso correto 2º Batalhão de Fronteira, Ginásio (o Onze de Março) e
todos os colégios da cidade se encontravam em rigorosa formatura em
frente ao prédio da Prefeitura (hoje Câmara Municipal). As autoridades
locais e muitas pessoas foram ao Campo (de aviação), para de lá virem
com os visitantes. Ao chegar à Prefeitura, vindo no primeiro carro, o Sr.
Governador do Estado, foram-lhe prestadas as honras militares, tendo S.
Ex., em companhia do Prefeito, Sr. João Souto, Coronéis Ivo Arruda, dig-
no comandante do 2º B. Fron. e Henrique Oest, passado revista à tropa.

39
Após os cumprimentos e apresentações, foi-lhes servido, no salão da
Prefeitura Municipal, um lunch, tendo ali feito uso da palavra, para dar-lhes
as boas-vindas em nome do Prefeito e da cidade, o nosso companheiro nesta
casa, Dr. Luiz M. Ambrósio, Presidente da Câmara Municipal. Em seguida
falaram S. Ex. o Sr. Governador do Estado, o Almirante Gago Coutinho, Dr.
Gustavo Barroso e o Senador Assis Chateaubriand. Nessa mesma tarde a comi-
tiva visitou entre outros pontos da cidade, o Ginásio Estadual Onze de Março,
sendo ali homenageado o representante do Ministro da Educação. Do Ginásio
passou a comitiva para a sede da USA (União Social de Assistência), onde foi
lançada a pedra fundamental do Centro de Puericultura, doado pelo Banco
do Brasil, graças aos esforços do Senador Assis Chateaubriand, que abriu a
solenidade, enaltecendo os trabalhos da USA. Agradece a dádiva, em nome
do Prefeito, o Dr. Ambrósio Filho, diretor do Jornal A Razão. Às 20 horas do
mesmo dia, realiza-se o jantar oferecido aos visitantes pela sociedade no salão
nobre da sede do Governo Municipal, onde se fizeram ouvir vários oradores.
Após o jantar, realizou-se, na sede do Esporte Clube Humaitá, animado baile
que se prolongou “até alta madrugada”. No baile, foi o Marquês Pierre de Segur
coroado “bugre cacerense”, pela Sta. Telu, filha do Governador do Estado. Na
manhã seguinte a ilustre caravana deixou Cáceres, embarcando em aviões da
FAB – Força Aérea Brasileira.

Fonte: Jornal A Razão de 04/07/1952 – Cáceres-MT.

40
Hóspedes ilustres (II)

Um bugre honorário para os sertões, o Sr. Carlos Gaspar publicou no O


Jornal, do Rio, edição de 18/06/1952, a seguinte reportagem da visita que nos
fez a comitiva oficial de regresso de Vila Bela da Santíssima Trindade, onde fora
participar do bicentenário da antiga Capital de Mato Grosso:

No dia seguinte, já os aviões da FAB chegavam a Cáceres, no norte de


Mato Grosso, cidade fundada por D. Luiz de Albuquerque de Mello Pe-
reira e Cáceres. Trata-se de uma cidade que (pelo menos essa foi a nossa
primeira impressão) é muito superior à capital do Estado, Cuiabá. Parece
uma princesa, sempre alegre, orgulhando-se da beleza de suas jovens, no
que, aliás, tem toda razão. Não fosse a falta de calçamento, a cidade seria
realmente um primor. Falta, porém, o auxílio do governo federal, pois
uma caixa d’água que vai abastecer a cidade, por exemplo, encontra-se
com a sua construção paralisada em virtude da verba que lhe fora desti-
nada pela União não haver sido, até agora, liberada. Foi tudo isso que a
população, que prestou à comitiva visitante uma recepção maravilhosa,
nos explicou. A cidade, aliás, rejubilou-se com a chegada das personalida-
des que integravam a caravana, tendo sido decretado feriado municipal.

Prosseguindo, diz o articulista:

“Mais um Front. Cáceres ganhou com a visita que recebeu. À tarde do dia
da chegada dos caravaneiros, foi lançada a pedra fundamental de mais
um front da luta pela redenção da criança: um posto de puericultura, doa-
do pelo Banco do Brasil e de que será patrono o embaixador de Portugal,

41
Sr. Antônio Faria. Além dos Senador Assis Chateaubriand, falaram na
ocasião os Srs. Marcos Carneiro de Mendonça, em nome do benemérito
Tio Candinho e Leopoldo Ambrósio Filho. Em seguida, fomos visitar a
sede da União Social de Assistência, que é mantida graças a uma plêiade
de ilustres damas da sociedade, capitaneadas pelo espírito diligente e
organizador da Sra. Paula Oest, esposa do Ten. Cel. Henrique Cordeiro
Oest. No posto da USA cuida-se realmente da criança.

Concluindo, o repórter enfatiza:

Mas, uma viagem de tanta significação como essa teria que terminar com
uma solenidade que fugisse do comum, ao rotineiro de todas as outras.
E foi o que aconteceu numa festa realizada à noite, pelo Clube de Cáce-
res, o Humaitá: depois de uma exibição das danças regionais “Cururu”
e “Siriri”, o nobre francês Marquês Pierre de Segur, foi coroado “bugre
cacerense”. Coube a Telu, filha do Governador de Mato Grosso, a honra
da coroação. E o jovem marquês, que já conhece o Brasil mais do que
muitos brasileiros, recebeu o cocar, o cetro de penas, o arco e a flecha.
Cáceres conquistara mais um admirador.

O Sr. Carlos Gaspar é um dos jornalistas que integraram a comitiva oficial


presente às solenidades do bicentenário de Vila Bela da Santíssima Trindade.

Fonte: Jornal A Razão, de 04/07/1952 – Cáceres-MT.

42
Abastecimento de água – 1925

O Intendente-Geral do Município de Cáceres, Dr. Humberto Dulce, no


relatório que apresentou à Câmara Municipal em 1925, comenta o problema
do abastecimento de água na cidade, da forma seguinte:

Abastecimento de água. É por certo digno da vossa atenção o estudo do


problema do abastecimento d’água potável a esta cidade, dependendo
dela a boa higiene e a saúde de sua população. Como sabeis, a água que
se consome nesta cidade é a pior possível e a razão disso está ao alcance
de todos: os vendedores de água vão captá-la nos pontos mais próximos
da cidade exatamente nos lugares de menor correnteza do rio, quando
deviam procurar sanar este mal que de ano em ano se agrava e poderá
seriamente prejudicar a saúde pública, penso ser de toda a conveniência
a construção, num ponto central da cidade, de uma caixa de água com a
capacidade de 15.000 litros aproximadamente. No seu abastecimento se
poderá empregar um pequeno motor, a vapor ou gasolina, de força de
dois cavalos, com o respectivo encanamento partindo de um trecho do
rio à montante da cidade. Dever-se-á proibir em absoluto a venda de água
que não for procedente da referida caixa e os vendedores do precioso
líquido pagarão uma quantia módica de cada vez que dela encher suas
pipas. Da receita daí proveniente sairão os meios não só para aquisição de
combustível como também para remuneração do pessoal indispensável
à manutenção do serviço (ortografia atualizada).

Apesar da sugestão do Sr. Intendente-Geral, Cáceres só passou a bene-


ficiar-se de um serviço (particular) de fornecimento de água encanada, por

43
iniciativa da firma Castrillon & Irmãos, a partir da década dos anos trinta. Na
década seguinte (administração Dr. José Rodrigues Fontes – 1947/51), o serviço
de abastecimento de água passou para a competência do Município, através
do SAAE – Serviço de Abastecimento de Água e Esgoto de Cáceres, criado em
1958, e, finalmente, em 1975, foi transferido para a SANEMET – Companhia
de Saneamento do Estado de Mato Grosso.

44
Dispensário São Luiz

Na data de hoje, do ano de 1935, inaugurava-se, nesta cidade, uma Casa de


Caridade: O Dispensário São Luiz, sob a responsabilidade da Missão da Ordem
Terceira Regular de São Francisco e direção clínica dos médicos Luiz Alves da
Cunha e Leopoldo Ambrósio Filho. Localizou-se, de início, a novel instituição
à praça Barão do Rio Branco nº 22-A. A bênção foi dada pelo Vigário da Pa-
róquia, na época, Frei Ambrósio Daydé.
O jornal que circulava em Cáceres, na ocasião, Fronteira, na edição de 28
de julho de 1935, assim fala do acontecimento:

Dia 20 do mês corrente, perante autoridades e pessoas gradas da nossa


cidade, foi inaugurado o Dispensário São Luiz. Começou a cerimônia
com a bênção dada pelo Rev. Frei Ambrósio Daydé. Em seguida fez uso
da palavra o Telegrafista, Sr. Antonio Maria Coelho, pronunciando um
discurso alusivo ao empreendimento caritativo que se realizava, o qual
foi muito aplaudido pelos assistentes. O Dispensário ocupa três saletas do
prédio em que está funcionando: sala de espera, o consultório e o quarto
hospitalar para casos particulares: já está sumariamente mobiliado, pos-
sui não pequeno material cirúrgico e bom número de medicamentos.
O projeto que anunciáramos semanas atrás aos nossos leitores é, pois,
brilhante realidade: está aberto no prédio nº 22-A da praça Barão do Rio
Branco, o Dispensário São Luiz. Os indigentes doentes encontrarão nesse
estabelecimento de caridade, todas as terças e sextas-feiras, das 07 e meia
às 08 e meia horas da manhã, os cuidados médicos dos nossos facultati-
vos, Drs. Luiz A. Cunha e Leopoldo Ambrósio Filho gratuitamente, como

45
também gratuitamente lhes serão administrados os remédios necessários.
Essa bela iniciativa que devemos à benemérita Missão Franciscana, vem
preencher uma lacuna que muito se fazia sentir, numa cidade onde não
existe instituição alguma de caridade para mitigar as dores dos nossos
irmãos necessitados, ainda mais numa região assolada pelas endemias
tropicais e numa época de crise como a que atravessamos em que a po-
breza é um fato doloroso em muitos lares.

O Dispensário São Luiz mudou-se depois para a Avenida 7 de Setembro,


esquina com a rua Padre Casimiro e, mais tarde, foi transformado no Hospital
São Luiz, também de iniciativa da Missão da Ordem Terceira Regular de São
Francisco.

46
Comércio em São Luiz de Cáceres – 1922

Participando da Exposição Nacional de 1922, no Rio de Janeiro, em come-


moração ao centenário da Independência do Brasil, Cáceres (ainda São Luiz de
Cáceres), pela sua Municipalidade, em relatório que acompanhou a Mostra en-
viada àquele Certame, apresenta o Comércio do Município da forma seguinte:

Comércio – Com diversas praças da Europa e da América do Norte e do


Sul mantém São Luiz de Cáceres relações diretas, importando mercado-
rias gerais e exportando seus produtos que são: ipecacuanha, borracha,
courama, penas de garça e outros de menor importância. O valor das
exportações para o estrangeiro no ano de 1921, somente de ipeca, peles
silvestres e couros, foi de 289.300$000, afora as encomendas postais. Não
se inclui o da borracha que gozando de livre trânsito, ignora-se a respec-
tiva cifra. Resta ainda o das penas de garça, que devido ao contrabando
impossível de ser vedado, em virtude da habilidade dos contraventores,
não pode ser calculado. Ambos, porém, constituem efeitos de vulto, con-
correndo fortemente para encontro das importações. A exportação do
charque está sendo encaminhada via férrea Noroeste, ignorando-se o
verdadeiro destino desse produto. Relativamente à importação, que em
outro tempo era ampla e corrente, acha-se limitada nos principais artigos
de consumo procedentes do rio da Prata como sejam: sal, trigo, querose-
ne, óleos minerais, nafta, soda cáustica, breu, estopas, valvulina4, vinhos
comuns etc. Alguns negociantes da praça ainda continuam recebendo
da Europa certos artigos essenciais, porém, em diminuta quantidade, em
relação há dez anos atrás, isto motivado pelos dois prementes fatores: a

4 Óleo para caixa de velocidade dos veículos.

47
exorbitância dos impostos federais e baixa extraordinária do câmbio, do
que resulta ficar a mercadoria de difícil venda. A corrente de transações
encaminhou-se consequentemente para as praças de São Paulo e Rio de
Janeiro, as quais abarrotam esta de mercadorias nacionais.

Fonte: “O Município de São Luiz de Cáceres na Exposição Nacional de 1922, Tip. de A


Razão, Cáceres.

48
A Gripe de 1921 em Cáceres

Os primeiros casos surgiram, conforme a imprensa da época, a bordo do


Vapor Etrúria, vindo de Corumbá. Avisado, o Intendente Geral, professor José
Rizzo, comunicou o fato ao Inspetor de Higiene local, Dr. Elysio Mello, soli-
citando medidas profiláticas para se evitar a propagação do mal. As medidas,
diz o jornal O Combate de 25/08/1921, “Não foram executadas, não só porque
não tínhamos nem temos recursos, mas também porque se os tivéssemos, nada
adiantariam contra a disseminação da gripe”.
E acre scenta o semanário:

Ainda estão nítidos em nosso espírito os inauditos esforços dos centros


civilizados, de além-mar, e das nossas capitais, notadamente Rio e São
Paulo, onde a higiene é um fato, a fim de impedirem que a implacável
pandemia tomasse as proporções sinistras, que tomou, quando ela os
assolou.

Prossegue o mesmo jornal comentando:

Além disto, confiados no clima salubérrimo, que possuímos, segurança


única a nosso favor, contra as epidemias, que devastam desapiedada-
mente outros lugares, era possível que a gripe não tivesse expansão entre
nós, circunscrevendo-se o seu raio de ação lamentável aos marinheiros
do Vapor Etrúria.

49
Tráfego em Cáceres – 1947

Em 1947, vamos encontrar a Prefeitura Municipal de Cáceres regulamen-


tando o tráfego de veículos na cidade. As medidas a serem adotadas constam
do seguinte edital datado de 10 de fevereiro de 1947:
“Edital – De ordem do Sr. Prefeito Municipal, torno público que, a fim de
regularizar o tráfego de veículos na cidade, serão tomadas imediatamente as
seguintes medidas:
1. Nenhum condutor de automóvel poderá se manter no exercício de sua
profissão sem que seja possuidor de carteira de motorista ou de um
certificado provisório fornecido pela Prefeitura Municipal.
2. O certificado provisório será fornecido pela Prefeitura mediante apro-
vação no exame de habilitação procedido por uma comissão de três
membros, nomeados pelo Prefeito, e licenciados pelo Serviço de Trân-
sito da Capital da República.
3. A comissão a que se refere o item 2 será composta dos Senhores Ma-
jor Rosauro de Araujo Suzano, primeiros-tenentes Milton de Quei-
roz Paim e Jefferson Silvério de Souza, gentilmente cedidos pelo Sr.
Comandante do Segundo Batalhão de Fronteira para colaborarem na
organização do tráfego, nesta cidade”.

A seguir, o edital enuncia as regras mais comuns de trânsito, abrangen-


do, também, os veículos de tração animal. Coloca a fiscalização do trânsito
sob a responsabilidade do Fiscal Municipal, estipula a multa aos faltosos em
Cr$ 50,00 e estabelece que nenhum veículo poderá trafegar sem que tenha a
placa numerada e expedida pela Prefeitura. Todos os condutores de veículos
motorizados, alerta o documento, são convocados a comparecer na Prefeitura
Municipal para o registro até o dia 28 de fevereiro daquele ano.

50
Vias Terrestres de Comunicação

Eis como o Sr. João Campos Widal, na Monografia O Município de São


Luiz de Cáceres na Exposição Nacional de 1922, referiu-se às vias terrestres de
comunicação da nossa cidade no começo da segunda década deste século:

Muitas são as estradas de rodagem que cruzam por toda parte do Mu-
nicípio, estabelecendo comunicação com a cidade. Não são, contudo,
perfeitas em razão de faltar-lhes o completo preparo: alinhamento, pontes
e pontilhões, aterros, abertura de saliências pedregosas e montículos,
de modo a tornar franco o trânsito para carros e veículos. Somente em
alguns trechos há estradas para estes, isso mesmo encontrando dificulda-
des desde que exceda de 15 a 20 quilômetros fora da cidade. Entretanto é
de lamentar que até o presente não tivesse o governo do Estado podido
destacar uma parte da verba “Obras Públicas”, que tem variado desde
200, 300 a 500:000$000 (orçamento de 1920) para acudir este Municí-
pio em melhoramento das principais vias terrestres, auxiliando assim
eficazmente as indústrias constrangidas por esses empecilhos altamente
prejudiciais. Em todos os países onde a agricultura floresce, constituin-
do a verdadeira riqueza de uma nação, é isto devido à multiplicidade
das vias de comunicação, permitindo serem aproveitados todos os bons
terrenos e valorizando-os consequentemente. Qualquer indústria rural
depende forçosamente desses meios para progredir. As estradas princi-
pais pela sua extensão, com bifurcações para os pontos intermediários,
são as seguintes:
1 - A que se dirige à Capital do Estado, via direita, na distância de 120
quilômetros até o Sangradouro Grande, que é a divisa com o Município
de Poconé. 2 - A que se dirige à mesma cidade, via Poconé, extensão de

51
102 quilômetros até a Madre dos Passos. 3- A que se segue, em conti-
nuação oposta, para a cidade de Mato Grosso, até Porto Esperidião, na
extensão de 108 quilômetros. 4 - A que vai para S. Mathias, povoação
boliviana, na distância de 120 quilômetros até a linha divisória. 5 - A que
parte para a Barra do Bugres onde chega com 180 quilômetros. 6 - A que
segue para a Larga, extremo sul praticável, com 96 quilômetros.
Fora destas, caminhos há em grande número, entretendo comunica-
ção desta cidade com todos os estabelecimentos agricultores, fazendas,
feitorias e onde quer que hajam habitantes. Os produtos das herdades
marginais dos rios e das safras de Ipeca e borracha são conduzidos por
embarcações; e os da grande e pequena lavoura central por carros, carro-
ças, tropas e bois ou de burros. De Cuiabá a esta cidade há uma distância
de 300 quilômetros, estando a funcionar uma linha de correio quinzenal
a qual toca nos pontos intermediários: Livramento e Poconé, continuan-
do, em outra seção, para Mato Grosso, com viagem mensal. Da Barra do
Bugres parte a estrada de Rosário Oeste e ao Diamantino. Do Tapirapuã,
para onde há caminho margeando o Sepotuba, segue a estrada feita pela
Comissão Rondon com destino a Santo Antônio do Madeira, em segui-
mento ao traçado da linha telegráfica estratégica”.

Barra do Bugres, por esse tempo, fazia parte do município de Cáceres,
como um de seus distritos, só se emancipando em 1944.

52
Estação Experimental de Ipecacuanha

Em 1953, Cáceres está preocupada com a gradativa extinção de uma de


suas maiores riquezas naturais: a Ipecacuanha, regionalmente conhecida por
poaia. A incúria dos extratores da erva e o fogo ateado às matas eram as causas
principais da diminuição do produto, cuja coleta contribuía eficazmente para o
desenvolvimento da nossa economia. Era, pois, necessário encontrar um meio
de sustar a devastação da mata e estimular o plantio da poaia. Por isso, a admi-
nistração municipal de Cáceres passou a atrair a atenção do Poder Central da
República para o problema, a fim de se evitarem sérias consequências advindas
da extinção total da Ipecacuanha no Município.
Nesse ano (1953), o então Prefeito Municipal, Sr. João Antonio Ferreira
Souto, faz o seguinte apelo à representação mato-grossense no Congresso Na-
cional:

Tendo há poucos dias solucionado processo doação terras pelo Estado


Mato Grosso para instalação Posto Estação Experimental Ipecacuanha,
neste Município, cujas verbas já foram consignadas orçamento República
vigente total novecentos e cinquenta mil cruzeiros, correndo pela Valo-
rização Amazônia e Orçamentária, estando prestes encerrar exercício
financeiro corrente ano ameaçadas por consequência, pela terceira vez,
recolhimento referidas verbas, apelo ao nobre e prezado amigo no sentido
tratar assunto junto Dr. Ministro Agricultura (que) vem demonstrando
ampla visão das grandes necessidades nesta zona oeste brasileira.

O telegrama acima foi enviado aos Senadores João Villasboas e Mário


Motta e aos Deputados Dolor Ferreira de Andrade, Athayde de Lima Bastos,

53
Lucídio de Medeiros, João Ponce de Arruda e Virgílio Alves Corrêa, no Rio
de Janeiro.
A resposta veio através do telegrama do Deputado João Ponce de Arruda,
nos seguintes termos: “Prefeito João Souto – Cáceres-MT – Dr. Felisberto Ca-
margo prometeu-me fazer visita essa cidade e lugar escolhido para instalação
Posto Experimental ainda este ano a fim tomar providências concretização
medida tão certa para vossos interesses econômicos”.
A Estação Experimental de Ipecacuanha já havia sido criada pela Lei nº
729 de 03/06/1949 (administração municipal do Dr. José Rodrigues Fontes),
no rio Sepotuba, subordinada ao Instituto Agronômico do Oeste, sediado em
7 Lagoas (MG), com o objetivo seguinte: estudo e defesa da cultura da Ipeca-
cuanha, prestando além disso assistência agronômica regional peculiar aos
estabelecimentos da natureza.
Na década dos anos setenta, todavia, a Estação Experimental de Ipecacua-
nha foi desativada e o respectivo pessoal transferido para o Posto Agropecuário
do Ministério da Agricultura localizado na periferia sul desta cidade, à margem
esquerda do rio Paraguai. Este Posto, por sua vez, passou para a administração
da EMBRAPA que o transformou numa Estação Experimental, sendo ainda,
posteriormente, absorvido sucessivamente pela EMPA-MT e EMPAER-MT.

54
25 de junho: inauguração da cidade de Cáceres

Dia 25 de junho de 1874, realizou-se, no Paço da Câmara Municipal, a


inauguração da nossa cidade, com o nome de São Luiz de Cáceres. O Legislativo
Municipal reuniu-se, pela manhã daquele dia, estando presentes os Vereadores:
Francisco Vieira d’Azevedo, Presidente; Manoel dos Santos Araújo, Manoel
Alves Pereira da Motta, Lucidoro Paes da Costa e Miguel José de Sampaio.
Aberta a sessão, o Sr. Presidente declarou o motivo da reunião: a inau-
guração da cidade de São Luiz de Cáceres a cuja categoria Vila Maria havia
sido elevada pela Lei Provincial nº 3 de 30 de maio de 1874, do teor seguinte:

O Bacharel José de Miranda da Silva Reis, Comendador das Imperiais


Ordens da Rosa e São Bento de Avis, Oficial da Imperial do Cruzeiro,
condecorado com as medalhas do Mérito Militar e da Campanha do
Paraguai, General Presidente e Comandante das Armas da Província de
Mato Grosso. Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia
Legislativa Provincial decretou e eu sanciono a seguinte lei: Artigo único.
Fica elevada à categoria de cidade com a denominação de São Luiz de
Cáceres a Vila de São Luiz do Paraguai, revogadas as disposições em con-
trário. Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento
e execução da referida Lei pertencer que o cumpram e faça cumprir tão
inteiramente como nela se contém. O Secretário desta Província a faça
imprimir, publicar e correr. Palácio do Governo da Província de Mato
Grosso, Cuiabá aos trinta dias do mês de maio de 1874, quinquagésimo
terceiro da Independência do Império.

Infelizmente dentro de poucos dias o mal foi invadindo todos os organis-


mos, robustos ou não, velhos ou não, estimando-se o número de atacados em

55
mais de quinhentos. À mingua de recursos municipais e estaduais, contribuí-
ram como puderam para minorar o sofrimento dos indigentes, as farmácias
Popular e Dulce, fornecendo medicamentos. Apela-se, então, com veemência
para o Governo do Estado. Este manda pôr à disposição da Intendência a quan-
tia de um conto de réis, “lamentando diante da angustiosa situação financeira,
não poder atender, como desejaria”. A Intendência é, pois, obrigada a fazer mais
esforço para atender os doentes e pobres, apesar, diz o Sr. Intendente, das “sérias
dificuldades que o assediam desde o início de sua administração”.

56
Dreadnought

Cáceres, prova-nos a sua história, viveu sempre atenta aos acontecimentos


de interesse geral, ciosa de sua condição de célula integrante do Estado e da
Nação. Esse comportamento tornou-se, com o correr do tempo, uma carac-
terística da cidade e do seu povo, a ponto de cristalizar-se na divisa latina da
nossa bandeira: ADSUM (Presente), simbolizando a atitude de sensibilidade e
participação que mantém Cáceres em relação ao todo onde se insere.
A memória cacerense traz à luz, hoje, a Resolução nº 52, de 23 de agosto
de 1910, da Câmara Municipal da ainda São Luiz de Cáceres, autorizando
o Executivo Municipal a participar, financeiramente, do reforço da esquadra
brasileira com a aquisição de um vaso de guerra. Em seu artigo único, diz a
referida Resolução:

Fica o Intendente Geral do Município autorizado a entregar a quantia


de duzentos mil réis ao tesoureiro do comitê desta cidade, encarregado
de angariar donativos a aquisição de um Dreadnought a incorporar à
esquadra nacional com o glorioso nome de Riachuelo. Revogam-se as
disposições em contrário. Paço da Câmara Municipal de São Luiz de
Cáceres, 23 de agosto de 1910. (A) José Jacintho de Moraes Botelho,
Presidente; Felipe Liberato Paes de Arruda, Norberto Alves da Costa
Garcia, José da Costa e Faria e João Rosa de Lima.

Segundo o Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro Lello Universal,


Dreadnought significa “que não receia cousa alguma. (Mar.). Grande couraça-
do poderosamente armado”. A Enciclopédia e Dicionário Internacional, nos
esclarece ainda que, em 1905, deu-se uma grande revolução na construção dos
couraçados, donde surgiu a corrente a favor do navio com artilharia exclusiva-

57
mente pesada e grande velocidade. O primeiro couraçado construído, segundo
as novas ideias, acrescenta a mesma Enciclopédia, foi o inglês Dreadnought,
que deu o nome aos navios de guerra do mesmo tipo.
Interessante é observar que a Resolução acima citada, da Câmara Mu-
nicipal desta cidade, não foi um ato de fundamento exclusivamente oficial.
Tem ela, na base, a componente popular, caracterizada pela presença de uma
comissão organizada pela comunidade, sinal dos momentos de grande exalta-
ção da sociedade, onde, geralmente, o civismo aflora na pele dos cidadãos.

58
Cemitério Municipal de Cáceres – 1922

No Relatório apresentado à Câmara Municipal de São Luiz de Cáceres,


em sessão ordinária de 5 de novembro de 1922, o 1º Vice-Intendente em exer-
cício, Sr. João de Albuquerque Nunes, prestando conta da sua gestão à frente
da Intendência Municipal, assim se refere ao Cemitério Público desta cidade
(o São João Batista):

Esse lugar, que merece a nossa veneração por ser a nossa última morada
comum, devido aos fortes aguaceiros que caíram em janeiro deste ano,
ficou transformado em um montão de ruínas; das quatro paredes que
circundavam-no, desabaram três; era, pois, preciso fazer-se mais um con-
serto, porém, uma reconstrução. O Sr. Professor José Rizzo, Intendente
Geral, em seu relatório apresentado em 1921, vos cientificou que era
de urgente necessidade aumentar-se a área do cemitério, porque cada
inumação tinha a preceder-lhe uma exumação e assim é, não porque
a quantidade de mortos ultrapassa a capacidade da área existente no
cemitério, mas, devido ao modo pelo qual tem sido e continuam sendo
feitos os sepultamentos – sem ordem nem preceito de espécie alguma.
As sepulturas ou ficam sem nenhum sinal ou são assinaladas por simples
cruzes de madeira, de curtíssima duração (se bem que durem muito mais
que as Eternas saudades que inconscientemente ostentam em cartazes
mais ou menos artísticos e vistosos), de modo que desaparecida a mo-
desta cruz, ninguém mais poderá saber o lugar e a data do sepultamen-
to, e muito menos quem era a pessoa ali sepultada; e, eis aí como, com
costume inveterado de se marcar a esmo o lugar de novas sepulturas,
frequentemente revolvem-se outros cadáveres, em estado incompleto de

59
decomposição, o que pode trazer consequências funestas à saúde pública.
Atualmente não existe, e creio que nunca existiu, no cemitério desta ci-
dade, um indispensável livro para registros de sepultamentos, cujo livro
julgo imprescindível e o instituirei em 1º de janeiro de 1923. Tendo de
tratar da construção do cemitério julguei a ocasião oportuna para fazer o
aumento de que carecia, e, agregando-lhe uma faixa de terra ficou a área
aumentada de 3.073 metros quadrados. Edificou-se 25 metros de muro,
sendo 155 metros de tijolo e argamassa e 95 metros de adobes. A capela
existente no cemitério foi retelhada e forrada internamente, de madeira,
e toda pintada a tinta de óleo.

Albuquerque Nunes diz ainda, no mesmo relatório, que adquiriu um
milheiro de placas de ferro esmaltado, com numeração seguida, para assina-
lar as novas sepulturas. Do anterior administrador municipal de Cáceres, Sr.
Adolpho Frederico Josetti, guardamos estas palavras a respeito dos cemitérios:
“a cultura dos sentimentos dum povo, no que ele tenha de mais humano, é o
respeito aos mortos, sintetizando no cemitério, último abrigo dos despojos de
nossos entes queridos” (ortografia atualizada nas citações).
*
Cemitério: Pela origem da palavra, Cemitério quer dizer simplesmente
dormitório. Portanto, nada de tristeza ou horror e muito menos desespero.
Dormitório, apenas. Aqui dormimos. E dormir é descanso, repouso, paz. Por
outro lado, dormir encerra em si o despertar. Passado um certo tempo, mais
ou menos longo, quem dorme acorda. Assim é a morte: um longo sono, sem
sonho ou pesadelo. Por isso, Cemitério é lugar de silêncio e de oração. Silêncio
porque não se deve fazer rumor perto de quem dorme; oração, porque esta é
um elo que liga o vivo ao falecido. Diz-se também que Cemitério é a nossa Casa
comum. Isso é verdade porque todos aqui dormiremos o grande sono até que os
tempos se completem. Então, haverá o despertar. Será uma aurora como nunca
jamais foi vista ou sonhada na terra. Como da larva sai a borboleta multicor,
da matéria sepultada sairá o novo homem para uma existência mais perfeita.
Cáceres, novembro, 2/1961.

60
Antecedentes da grande migração em Cáceres

Em entrevista ao jornal Folha da Manhã, de São Paulo, o ex-Prefeito de


Cáceres, Sr. Antônio Ferreira Souto, já prenunciava, em 1953, que o nosso mu-
nicípio se converteria num dos mais promissores centros de produção nacional.

Até aqui, diz o Sr. Souto, o principal motivo do isolamento de Cáceres foi
a falta de comunicação rápida. Essa situação começou a modificar com a
ligação aérea, a partir dos anos trinta. A aproximação das metrópoles com
o sertão exerceu influência benéfica para o desenvolvimento do Estado
de Mato Grosso. Chegam a estas longínquas paragens, frequentemente,
homens de negócios, industriais, representantes de empresas coloniza-
doras, os quais se mostram vivamente interessados no desbravamento
de nossas terras. De outra parte, o Governo do Estado, com o propósito
de favorecer o povoamento do território, de criar núcleos agrícolas, de
intensificar a exploração das riquezas que continuam no subsolo e na
superfície, adotou um plano progressista de venda de glebas neste e em
outros municípios. Como resultado dessa política, vimos procurarem
esta região inúmeros concidadãos de outros Estados, notadamente São
Paulo, homens de larga visão, experimentados na exploração do solo e na
expansão das riquezas, os quais já começaram novo ciclo de penetração
nas zonas inexploradas do País.

Por esse tempo, 1953, a energia elétrica era fornecida somente à noite, pela
Usina Diesel da Prefeitura, deficiência que se constituía em entrave ao desen-
volvimento do município. As atenções da administração municipal passaram a
se fixar no aproveitamento do potencial hidráulico dos saltos Juba e da Fumaça,
que não se concretizou, porém, por falta de recursos.

61
Concluindo, o Sr. Ferreira Souto diz:

A principal fonte de riqueza do município continua a ser a pecuária. Esti-


ma-se que existem em nossas campanhas cerca de 350 mil reses. O preço
do boi em pé tem variado muito e oscila, geralmente, entre Cr$ 800,00 a
Cr$ 1.000,00 por cabeça. Seu principal mercado é o Estado de São Paulo,
através de Campo Grande. No município são abatidas, anualmente, cerca
de 30 mil reses nas charqueadas de Barranco Vermelho e Descalvado e
quase toda a produção é exportada para os Estados nordestinos, princi-
palmente Pernambuco.

Fonte: Jornal A Razão, edição de 24/01/1953.

62
A fixação do homem na terra

A formação de núcleos populacionais em Cáceres se deu em torno da


agropecuária com o surgimento das roças, dos sítios e das fazendas. Foram
eles, como diz Manuel Diegues Júnior5, esses núcleos de exploração econômica,
que representaram verdadeiros centros sociais estáveis e tornaram possível a
ocupação da terra. Neles fixaram-se os grupos humanos e plasmaram-se os
tipos sociais.
O homem que aqui se fixou revelou, desde logo, as suas tendências mode-
ladas pelas energias do meio físico a que se adaptou. Tornou-se ele o trabalha-
dor rural, o agregado, o vaqueiro, o canoeiro, o boiadeiro, o tropeiro, o peão,
o carreiro, o pescador, e, continuando o espírito aventureiro dos ancestrais,
fez-se também o garimpeiro, o seringueiro, o caçador de animais silvestres, e,
sobretudo, o poaieiro, que sustentou rendoso comércio por muitos anos em
nosso município.
Como os Guató, que viviam em aterrados à beira dos rios e baías na pla-
nície do Pantanal, o nosso homem ribeirinho adaptou-se ao ambiente, apren-
dendo a conviver com as águas nas enchentes, suportando toda sorte de ad-
versidades com paciente resignação. Na luta dos campos imensos de criação
de gado, na faina diuturna da lavoura nos sítios e fazendas, e nas atividades
extrativas, formou-se a índole da nossa gente, como escreveu o conterrâneo
Dr. Gabriel Pinto de Arruda

Ao influxo de suas sensibilidades e paixões, misto de fetichismo indí-


gena, crenças pagãs dos africanos e misticismo próprio dos brancos
afastados da civilização, dando-lhe um sentir peculiar que ainda se

5 Etnias e culturas no Brasil. Biblioteca do Exército Editora. Rio de Janeiro, 1980, p. 29.

63
espelha no modo de viver, nas rezas e nas festas, nos cantos e nas lendas
das populações menos cultas e dos sertanejos que vivem no interior
do município6.

A coragem pessoal, a dissimulação, a astúcia, a confiança em si mesmo,
são características advindas da própria situação em que se criou, de isolamento,
num meio quase sempre hostil, que o obriga a ser autossuficiente e agir com
decisão e rapidez nos movimentos.

6 Um trecho do Oeste brasileiro. Rio de Janeiro: Borsoi e Cia, 1938, p. 12.

64
Em defesa do Pantanal: Cáceres presente!

Cáceres esteve presente no Encontro Internacional do Pantanal/Brasil,


Bolívia e Paraguai, realizado em Corumbá/MS, nos dias 20 a 23 de agosto do
ano em curso. Representou oficialmente o município o Engenheiro Agrônomo
Arno Rieder, professor da Fundação Centro de Ensino Superior de Cáceres e
técnico da EMATER/MT, nesta cidade. Como convidado, participou também
do Encontro o pecuarista cacerense com larga experiência pantaneira, Sr. Na-
talino Rodrigues Fontes.
Desde a criação do CIDEPAN – Consórcio Intermunicipal para o Desen-
volvimento do Pantanal, em 1971, Cáceres se faz presente na luta pela defesa,
preservação e desenvolvimento do Pantanal, onde se encontra cerca de 50%
da sua área territorial, hoje reduzida a 24.395 quilômetros quadrados. O rio
Paraguai corta o município de norte a sul, recebendo volumosos tributários
como o Sepotuba, Cabaçal e Jauru, e, logo abaixo, espraia-se pela imensa bai-
xada – o Pantanal, cuja superfície o Marechal Cândido Rondon estimou em
32.000 quilômetros quadrados.
A cidade de Cáceres desenvolveu-se em plena bacia do alto Paraguai, ba-
seando-se a sua economia na função portuária, pecuária agricultura e na ati-
vidade extrativista. Com a construção da Rodovia Cuiabá-Cáceres-Rondônia
(BRS 070/174/364), ligando as bacias platina e amazônica, Cáceres se posicio-
nou no cruzamento de rodovias com hidrovia, e, com a divisão de Mato Grosso,
com notável papel a desempenhar na política de integração latino-americana,
com duas portas abertas ao intercâmbio comercial, pelo rio Paraguai e por
rodovia, através da Bolívia.
É notável a posição de Cáceres com parte de suas terras integrando a gran-
de baixada pantaneira e parte colocada nas suas bordas, ao norte. Secularmente

65
conviveu o cacerense em equilíbrio com a natureza. Rios, campos, matas e o
Pantanal desempenharam suas funções, adaptando-se o homem desbravador
e povoador da região ao meio-ambiente, donde tirou o seu sustento e desen-
volveu a sua economia.
Eis por que a comunidade cacerense está alerta contra as agressões ao
ambiente natural. Reúne-se, através dos seus segmentos representativos para
se posicionar em favor deste imenso e excepcional ecossistema formado pelo
Pantanal mato-grossense, considerado com Patrimônio Nacional pela Cons-
tituição Brasileira de 1988.
É no município, célula vital do País, que o espírito de vigilância e pre-
servação do nosso patrimônio deve perseverar, porque a nossa vida, como
indivíduo e sociedade, depende da manutenção do equilíbrio da vida do nosso
querido planeta, a Terra.
Cáceres-MT, 07/09/1990.

66
Presente!

Cáceres, como se pode ver pela sua história foi, guardadas as proporções, e
considerando o isolamento em que viveu no passado, um ponto de ressonância
dos acontecimentos nacionais e até internacionais. Foi e continua sendo “pre-
sença viva nas plagas fronteiriças”, que se sintetizou na divisa latina da nossa
bandeira Ad sum – Presente!
Assim é que, em 1935, através do jornal Fronteira, que se editou nesta
cidade, a memória cacerense conservou a notícia da repercussão, em Cáceres,
do fim da guerra do Chaco entre a Bolívia e o Paraguai, nos termos seguintes:
“Te Deum: por motivo de cessação das hostilidades no Chaco Boreal, para o
que muito fizera a comissão dos países neutros, merecendo assim o louvor de
toda a humanidade que dorida assistia o derramar inútil de sangue irmão. Frei
Ambrósio Daydée, do Vice-Cônsul da Bolívia, nosso prezado diretor, Sr. João
E. Curvo e do Prefeito, Sr. Armando Granja, solene Te Deum.
Após a cerimônia, à porta da igreja, perante numerosa assistência, fez uso
da palavra o Sr. Gonçalo Ortiz Saavedra, súdito Boliviano aqui em tratamento
de saúde, agradecendo o interessa e o carinho do povo cacerense para com os
aflitos vizinhos e enaltecendo a ação dos governos que interferiram na con-
tenda, notadamente a do nosso, por intermédio do seu chanceler Dr. Macedo
Soares.

Fonte: Jornal Fronteira, de 23/06/1935 – Cáceres-MT.

67
Cáceres: sonho-realidade de Albuquerque7

D. Bosco anteviu, num sonho-visão, o nascimento de uma grande civi-


lização entre os paralelos 15 e 20, no lugar onde se formara um grande lago.
Três gerações depois, precisamente em 1960, no dia 21 de abril, realizava-se
aquele sonho com a inauguração de Brasília, a mais nova, moderna e arrojada
cidade do mundo.
Albuquerque, há 192 anos, ao tomar conhecimento do território que ad-
ministrava, previu, para a região a sudoeste de Cuiabá, até a fronteira com
Castela, um futuro promissor. Aqui, pensaria o grande Capitão General, será
uma verdadeira terra de promissão: solo fertilíssimo banhado de abundantes
águas; rios caudalosos, pantanais imensos. Isto é prenúncio de riquezas e pros-
peridade agrícolas!
Assim pensando, a realidade do vir a ser se entremostrou, numa visão,
para Albuquerque. Viu ele campos sem fim pontilhados de reses. Viu o traço de
união entre o Nascente e o Poente, ligando as duas margens do rio Paraguai. E
gente chegando. Às dezenas, centenas, milhares. Gente penetrando os sertões,
abrindo picadas, fundando cidades. Ao Poente, viu glebas e glebas enlourecen-
do-se nas searas, enchendo e transbordando os maiores celeiros. Viu barcos
singrando as águas dos rios, transportando a riqueza.
Não teve dúvida. “Funde-se Vila Maria”, dissera a Pinto Rego. “Seu destino
será glorioso e dela se há de falar através do Brasil”!
E Vila Maria – Cáceres de hoje – surgiu com o seu enorme território, guar-
dado ciosamente pelos homens da terra, até que chegou a hora de realizar-se
o sonho fundador.
Sonho, realizando-se hoje. Sonho-realidade.
(Ao comemorar Cáceres seu 192º aniversário de fundação, 1970)

7 Cf. em Memória cacerense (1998) o mesmo título com texto diferenciado, p. 23-31.

68
Cáceres: 193º

A cidade engalana-se. Veste a roupagem mais festiva para comemorar


a sua data magna. A Bandeira ergue-se ao mastro – unidade nacional! Soa o
Hino do Brasil – fervor patriótico! Faz anos uma terra. Terra vestida de matas
verdejantes, regadas de grandes rios, coberta em grande parte, pelos pantanais;
terra de serranias, de vales e campinas; terra bem brasileira. Cáceres!
A sua origem está no valor e na coragem de um luso ilustre e forte, de es-
tirpe guerreira. Não só guerreiro, mas administrador de larga visão. Albuquer-
que! Este nome é uma bandeira de penetração. Avançar para o sul, para oeste e
sudoeste deste imenso Mato Grosso, devassando sertões, recuando fronteiras,
plantando povoações. Tempos heroicos! As marchas dos heróis são epopeias
vivas. Mato Grosso viveu a sua e, dentro dela, nasceu Cáceres, a 6 de outubro
de 1778. Não foi em vão que Albuquerque escolheu este local. Orientaram-no
fatores importantes não só determinados pela época de colonialismo e de lutas
de fronteira, mas de significação no futuro, tais como a fertilidade do solo, a
abertura de uma porta à navegação fluvial a meio caminho entre Cuiabá e a
capital de então – Vila Bela.
Albuquerque anteviu, na espessura das nossas matas, nos pantanais on-
deantes de verdes pastagens, na feracidade do solo e na situação geográfica
deste município, possibilidades que levariam Cáceres a um elevado grau de
progresso. Lançou, pois, entre o caudaloso Paraguai e a bela serrania, que
nos cerca a leste, a semente da futura sede do município – Vila Maria do
Paraguai. A imaginação vai buscá-la no fundo dos tempos. Vemo-la humilde
ainda, com a primeira praça, duas ruas e duas travessas. Em volta, os naturais
e os pioneiros. Os donos da terra e os conquistadores. O rio correndo man-
samente. A serrania azul com o morro cortado. E, a Oeste, a mata, a grande
mata a perder de vista.

69
Um núcleo forma-se de homens decididos, os quais, herdando dos heroi-
cos bandeirantes paulistas a coragem e o espírito de aventuras, desde logo se
lançam à conquista da terra. Sítios vão surgindo pela vasta área do município
e, graças às boas pastagens, desenvolve-se a pecuária, tornando-se a principal
atividade e a maior riqueza da terra.
O tropel dos vaqueiros na sua pesada lida enche os campos. Os “eias” dos
campônios misturam-se ao tropel do gado, ecoando na amplidão dos descam-
pados ou na faina dura dos rodeios. As fazendas de gado espalham-se pelo
território através dos pantanais, consolidando a atividade pastoril do município.
Outros, tangidos pelo ardor pioneiro herdado dos seus ancestrais embrenham-
se nas opulentas matas do alto Paraguai e lá descobrem preciosa e esquiva
Poaia. É o ouro-negro que substitui o amarelo dos garimpos diamantinos. Surge
ali um personagem heroico – o Poaieiro, esse destemido batedor de mato que
merece uma página da nossa história. Não é só. Ao lado destes, lutam audacio-
sos e destemidos, os famosos caçadores de animais selvagens. Incrementa-se
o comércio de peles, alimentam-se os curtumes locais e de outras praças. Vão
peles para o exterior.
O Paraguai com os afluentes são a via de penetração para o interior e por
onde se processa o comércio cacerense. Pranchas e pequenas embarcações
subindo e descendo rios, ecoando, ao longe, o baque surdo dos pés nos bor-
dos, cadenciado, zinga no peito forte, orquestra rude do trabalho obscuro.
Mas há também os que se aferram à terra e a fazem produzir: os lavradores.
Desde os tempos mais remotos, localizaram-se os agricultores na zona nor-
deste e leste do município, na região da bela serrania que os estende de norte
a sul. Formaram-se sítios prósperos que por muitos e muitos anos foram o
celeiro de Cáceres. De lá vinha a totalidade das provisões para a cidade nas
costas dos mansos bovinos congregados em grandes tropas ou em cima de
gemedores carros-de-bois.
Quanto sacrifício suportaram, quanta dificuldade afrontaram os habitantes
desta terra longínqua, quando o Brasil era somente o litoral! Ao avaliarmos
essa luta titânica, sentimos que verdadeiramente a sobrevivência desta terra
e desta cidade se deve ao trabalho, à constância e ao espírito de brasilidade

70
de um povo que, apesar de isolado na distância, soube trabalhar e granjear a
própria subsistência.
Os tempos são outros. Nova bandeira penetra o município. Brasileiros de
quase todos os Estados da Federação redescobrem Cáceres e elegem o muni-
cípio para seu novo domicílio. A fama das terras (que Albuquerque previra)
atrai para aqui os homens da gleba. São eles o sangue novo que, em grande
quantidade vem precipitar o nosso progresso. E, da noite para o dia, o cenário
transforma-se. Povoam-se os vales dos rios Jauru e Cabaçal, avançando a colo-
nização para as margens do Sepotuba. É a terra da promissão, a mesopotâmia
cacerense. Aumentam-se as searas. A lavoura toma relevo. A produção é gran-
de, gigantesca. Cáceres muda de feição. Admira-se o crescimento da população
infantil e jovem do município, verdadeira explosão de mocidade!
Que importam os cento e noventa e três anos de idade? Cáceres está em
plena juventude. Rejuvenesce na geração nova e marcha para o progresso com
o Brasil.

71
Exposição Agropecuária de Cáceres

A organização da primeira Exposição Permanente Agropecuária e In-


dustrial de Cáceres deu-se no dia 21 de fevereiro de 1965, em Assembleia
Geral Extraordinária (2ª convocação) da Associação Rural de Cáceres, na
sede do Esporte Clube Humaitá. Aberta a sessão pelo Presidente, Sr. José
Novaes de Souza, secretariada pelo Sr. Evilásio da Costa e Faria, foi dada a
palavra ao Sr. Aldo Borges, que sugeriu as seguintes medidas para organização
da Exposição: Nome – Exposição Permanente Agropecuária e Industrial de
Cáceres. Data da realização do certame – dia 6 de outubro, aniversário da
cidade, com encerramento no dia 10 seguinte. Local – terreno a ser doado
pela Prefeitura Municipal, à margem esquerda da estrada do aeroporto mu-
nicipal. As sugestões foram aprovadas, bem como outras medidas de ordem
estrutural, de promoção e divulgação do evento. Foi constituída uma comis-
são organizadora composta dos seguintes sócios: Dr. José Rodrigues Fontes,
Presidente de Honra; Sr. Carlos da Costa Marques, Presidente; Sr. Rubens
Paes de Barros, Vice-Presidente; Dr. Joaquim da Cunha Fontes, 1º Secretá-
rio e Sr. José Villar Dantas, Tesoureiro. Deliberou-se ainda, nessa reunião,
que a comissão constituída entrasse em entendimento com o Secretário de
Agricultura, Dr. Bernardo Bais Neto, no sentido de conseguir verbas para
a construção de dois pavilhões destinados a expositores. O Sr. Aldo Borges
exercia, na ocasião, o cargo de Supervisor da ACARMAT – Associação de
Crédito e Assistência Rural de Mato Grosso. Estiveram presentes à reunião,
conforme a ata respectiva, 38 sócios.
Pela Lei nº 248, de 22/05/1965, foi o Prefeito Municipal autorizado a fazer
a doação do terreno à Associação Rural de Cáceres, com a área de 19.0514 hec-
tares, para instalação da Exposição Agropecuária e Industrial do Município,

72
no local onde se encontra até hoje o respectivo parque, denominado Dr. José
Rodrigues Fontes.
Embora tenha sido sugerida para 6 de outubro a data da realização da pri-
meira Exposição Agropecuária e Industrial de Cáceres, esta aconteceu, porém,
no mês de setembro de 1965, com encerramento no dia 28, considerado, por
isso, feriado municipal pelo Decreto nº 32 de 27/09/1965.
Com 33 anos de existência perseverante, a EXPOAGRO de Cáceres estará
realizando, este ano, a sua 34ª apresentação em nossa cidade.

73
Campus Avançado do Projeto Rondon (I)

Há 25 anos, na data de hoje, chegava a Cáceres o Ministro José Costa


Cavalcanti, do Interior, para tratar da instalação de um Campus Avançado do
Projeto Rondon, no Município.
Iniciado no final da década de sessenta, objetivava o Projeto Rondon
“aprimorar a formação profissional do estudante durante as férias escolares;
estimular sua participação no desenvolvimento real das condições de vida e
trabalho no interior”8.
Cáceres passou a receber assistência do Projeto Rondon desde 1969, quan-
do aqui chegou o primeiro grupo de universitários integrados à instituição.
Desse evento, assim nos fala o jornal Correio Cacerense, edição de 16/01/1969:

Chegaram anteontem às 16 horas, no aeroporto de nossa cidade, 25


universitários de Ribeirão Preto, integrantes do Projeto Rondon, que
visa atender a população deste município e de Mato Grosso/Vila Bela
da Santíssima Trindade.
Com uma grande dose de entusiasmo, os universitários pretendem, com
o apoio do 2º Batalhão de Fronteira, atender com o máximo de esforços
maior número de necessitados. O grupo é liderado pelo quartoanista
de engenharia civil Igor Halvern Barbovitch, da Escola São Carlos da
Universidade de São Paulo e conta ainda com um médico, Dr. Gualter
Silva Jardin; três cirurgiões-dentistas, José Traveira, Maria Auxiliadora
Cortossi Molinari e Miguel Dai; oito acadêmicos de medicina, seis de
odontologia, dois de farmácia, três de agronomia e uma acadêmica de
assistência social.

8 Pequena enciclopédia de Moral e Civismo. Ministério da Educação e Cultura/FENAME – Fundação


Nacional de Material Escolar, 1975.

74
Foram formadas 5 equipes que se deslocarão amanhã para os seguintes
locais: Equipe 1: Glebas Salto do Céu, Rio Branco, Panorama, Lambari e
Cabaçal; Equipe 2: Mato Grosso (Vila Bela), Pontes e Lacerda, Jauru, Por-
to Esperidião e Mirassol D’Oeste; Equipe 3: Destacamentos de Fortuna,
São Simão, Casalvasco e Gleba Monte Cristo; Equipe 4: Destacamento
de Corixa e Equipe 5: Bela Vista do Norte e populações ribeirinhas do
rio Paraguai.

Concluindo, diz o Correio Cacerense: “A provável duração da agradável


companhia destes dedicados patrícios será de 30 dias”.
Por ser, na época um município de grande extensão territorial e área de
intensa migração e colonização, cuja economia se baseava na agropecuária
e extrativismo, foi Cáceres escolhida para sediar um Campus Avançado do
Projeto Rondon, sob a responsabilidade de quatro universidades: três do Rio
Grande do Sul e uma de Mato Grosso. Assim, a 1º de fevereiro de 1973, está
em Cáceres o Ministro do Interior, José Costa Cavalcanti, para assinar convê-
nios com a Municipalidade e dar início à instalação do Campus Avançado do
nosso Município.

75
Campus Avançado do Projeto Rondon (II)

Inaugurou-se, no dia 13 de setembro de 1973, o Campus Avançado do


Projeto Rondon de Cáceres. A solenidade contou com a presença das seguin-
tes autoridades: Ministro do Interior José Costa Cavalcanti; chefe de gabinete
deste, Dr. Walter Ferri; Vice-Governador do Estado Dr. José Monteiro de Fi-
gueiredo; Superintendente da SUDECO, Dr. Nelson Jairo Ferreira Faria; Cel.
Lourival Mazza, da Comissão Especial da Faixa de Fronteira; Prefeitos Ari
Alcântara, de Pelotas e Cid Scarone Vieira, de Rio Grande; Cel. Sérgio Mário
Pasquali, Coordenador-Geral do Projeto Rondon; Cel. José Maria Amorim
Monteiro, Coordenador Regional do Projeto Rondon; Reitores das Universi-
dades interessadas no Campus: Dr. Delfim Mendes Silveira, da Universidade
Federal de Pelotas; Dr. Eurípedes Falcão Vieira, da Universidade Federal de
Rio Grande; Dom Antônio Zattera, da Pontífícia Universidade de Pelotas e
Dr. Gabriel Novis Neves, da Universidade Federal de Mato Grosso; Coorde-
nador Dr. João Neves da Silva e Diretor do Campus Avançado de Cáceres,
Dr. Marco Antônio Rauch.
Noticiando o evento, o jornal Diário de Cuiabá, edição de 21 de setembro
de 1973, diz:

O dia 13 do mês em curso marcou um dos mais importantes aconteci-


mentos para o grande e progressista município de Cáceres, pois naquela
data as autoridades e o povo cacerense recepcionaram festivamente o
ilustre Ministro José Costa Cavalcanti, do Interior, que, acompanhado de
numerosa e brilhante comitiva, ali fora presidir a solenidade de implan-
tação, em caráter definitivo, do Campus Avançado do Projeto Rondon,
o 21º a ser instalado no País e o primeiro de nosso Estado, bem como

76
diversos convênios destinados à sua manutenção, constituindo-se a sua
implantação uma das maiores conquistas dos universitários mato-gros-
senses.

A instalação do Campus Avançado de Cáceres – diz o Boletim Informativo


LEIA, do Projeto Rondon, edição nacional de 13/09/1976 – foi determinada em
virtude da potencialização econômica da região e dos planos que o Governo Fe-
deral teve com relação à microrregião onde se encontra o município, e também
por sua localização estratégica, que favorece a oportunidade de maior ajuda às
populações fronteiriças. Como norma geral, prossegue o Boletim Informativo,
os campi avançados são instalados onde possam ter condições de, juntamente
com a comunidade local, transformar a área num polo de desenvolvimento,
um centro irradiador de progresso nos seguintes setores: saúde, educação, só-
cio-econômico, agropecuário e tecnológico.
Esteve em atividade o Campus Avançado de Cáceres até 1989, quando,
extinta a Fundação Projeto Rondon, que lhe deu origem, encerrou sua função
nesta cidade, mediante cessão definitiva do respectivo acervo patrimonial à
Municipalidade de Cáceres.

77
Cáceres: duzentos anos

Há duzentos anos, Cáceres surgia oficialmente ao mundo. A sua fundação


se deu a 6 de outubro de 1778, pelo Tenente de Dragões Antônio Pinto do Rego
e Carvalho, que veio até esta localidade, por ordem do Governador e Capitão
General da Capitania de Mato Grosso, Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e
Cáceres, “para com efeito fundar, erigir e consolidar uma povoação civilizada
onde se agregasse todo o maior número de moradores possível”, a qual deu o
nome de Vila Maria do Paraguai, em homenagem à rainha reinante, D. Maria
I, “esperando-se que de semelhante estabelecimento haja de resultar grande
utilidade ao real serviço e comodidade pública”.
Vila Maria surgia com um futuro promissor dentro de um plano estra-
tégico de assegurar o domínio dos rios Paraguai e Guaporé e consolidar as
conquistas dos bandeirantes que ultrapassaram os limites do tratado de Madri;
situada no ponto em que o caminho entre Cuiabá e a capital de então – Vila
Bela – cruza com o rio Paraguai, constituía uma porta aberta para a navegação,
ligando o Norte da Província com São Paulo; acostada às possessões espanholas,
era um núcleo de defesa e incremento da vasta fronteira com Castela; e lançada
a meio caminho dos dois maiores centros demográficos e econômicos da época,
Vila Bela e Cuiabá, tornar-se-ia em breve um entreposto comercial de grande
desenvolvimento. Sobre tudo isso as terras. As terras que os exploradores do
arguto Governador revelaram ser boas para a agricultura e a pecuária. Terras
de matas altas e terras inundáveis, cobertas de verdes pastagens e cortadas de
rios caudalosos como o Paraguai e seus afluentes Sepotuba, Cabaçal e Jauru.
A terra boa e dadivosa atrai para cá os pioneiros que fundaram os primeiros
estabelecimentos agropastoris na região leste e nordeste do município. São
sítios e fazendas que constituem a primitiva infraestrutura desta terra: Jacobi-

78
na, Flechas, Descalvados, Ressaca, Taquaral, Cachoeirinha, Facão, Quilombo
e tantos outros.
Diminuída a intensidade da corrida do ouro nas lavras diamantinas, ini-
cia-se a exploração das matas do alto Paraguai. Um novo ouro salta à luz, a
Ipecacuanha – o ouro negro da floresta. Extrai-se nas matas a borracha e os
caçadores intrometem-se pela selva em busca de peles de animais silvestres. A
nossa economia se baseia então na agricultura, pecuária e na indústria extra-
tiva animal e vegetal. Essa estrutura possibilitou a Cáceres manter posição que
mereceu reparo dos membros da Comissão Rondon-Roosevelt, em 1914. O
Comandante Pereira da Cunha, que acompanhava Roosevelt, assim se expressa
a respeito desta cidade: “e essa praça ultrapassou de muito a nossa expectativa
pelos grandes recursos comerciais de que dispõe, apesar de extremo afasta-
mento dos centros comerciais e chamados civilizados”.
Cáceres, vila em 1859, recebe os foros de cidade em 1874. A Câmara ad-
ministra o município na sua dupla função de deliberar e executar, situação que
perdura até o advento da República, quando a Câmara deixa a função executiva
para um Intendente Geral. Em 1930, o chefe do Executivo passa a denominar-
se Prefeito Municipal.
Pela Lei Federal nº 5449, de 4 de junho de 1968, Cáceres foi incluída en-
tre os municípios declarados de interesse da Segurança Nacional. A partir da
década dos anos cinquenta, com o advento da rodovia ligando esta cidade a
Cuiabá e com a construção da ponte de concreto sobre o rio Paraguai, unindo
as margens orientais e ocidentais de Cáceres, o município passou a ter um rá-
pido crescimento demográfico e econômico, graças à exploração de suas terras
agricultáveis localizadas na região dos rios Sepotuba, Cabaçal e Jauru.
Hoje Cáceres acelera as suas obras prioritárias para se tornar de fato o polo
dinamizador de toda a região já conhecida como “Grande Cáceres”. Assim,
confiante e cônscia do seu peso ante as demais cidades deste grande Estado,
Cáceres remoçada, chega ao final dos seus duzentos anos, enriquecida pelo
labor da sua gente e perfeitamente sintonizada com o progresso do Brasil.
Cáceres, ano do Bicentenário, 1978.

79
Taiamã

No ano do bicentenário de Cáceres, de 1978, dia 24 de setembro, o jornal


Correio Cacerense publica a notícia de abertura de licitação, pela TURIMAT
(Empresa Mato-Grossense de Turismo S/A), para implantação da Estação Eco-
lógica de Taiamã, neste Município, nos termos seguintes:

A TURIMAT acaba de abrir concorrência pública para a construção da


Estação Ecológica de Taiamã, ilha do rio Paraguai que ocupa uma área
de 12 mil hectares no Município de Cáceres. Nela existe grande número
de viveiros naturais de aves e de outros animais pertencentes a espécies
em extinção em outras regiões do Pantanal mato-grossense. A Estação
Ecológica de Taiamã será implantada pela Turimat com recursos da Se-
cretaria Especial do Meio Ambiente/SEMA e da Fundação Brasileira para
a conservação da natureza e será a segunda de Mato Grosso. A primeira
fica no Município de Aripuanã, em área de 266 mil hectares doados à
SEMA pelo Governo do Estado e deverá ser inaugurada no próximo
mês de outubro. A ilha, que fica a 90 quilômetros de Cáceres, foi doada
à SEMA pelo Serviço do Patrimônio da União/SPU. Para a assinatura do
termo de transferência, estiveram no último dia 30 com o Governador
Cássio Leite de Barros, no Palácio Paiaguás, o Secretário Executivo da
SEMA, Paulo Nogueira Neto, e o Delegado do SPU , Manoel Vieira. Após
instalada, a Estação Ecológica de Taiamã será utilizada para pesquisas e
para realização de safáris fotográficos.

A respeito do assunto, o Jornal do Comércio e Indústria de Cuiabá, de
18/01/1979, publica o seguinte:

80
Obras em Taiamã concluídas em 75 dias.
Em 75 dias deverão estar concluídas as obras físicas da Estação Ecoló-
gica de Taiamã, a segunda de Mato Grosso. No local – uma ilha de 12
mil hectares, localizada a 90 quilômetros de Cáceres, no rio Paraguai
– a construtora Tavares Ltda., firma escolhida através de concorrência
pública, irá construir para a TURIMAT um prédio central, residência
para o administrador, zelador e vigia, as redes de água e de distribuição
de energia elétrica, um ancoradouro, além de executar os serviços de
urbanização previstos no projeto.

Segundo o Boletim Informativo do Governo do Estado, de 30/08/1978, a


estação Ecológica de Taiamã será usada por estudantes universitários, através
de convênios com o Ministério da Educação, quando poderão fazer compara-
ções das mudanças ocorridas nas zonas urbanas, em decorrência da utilização
inadequada da natureza, relacionadas com a erosão, clima, etc., concluindo o
BI que “a estação será usada, ainda, para o turismo ecológico”.

81
Notícia da Lei Áurea9

No dia 18 de junho de 1888, chegou a São Luiz de Cáceres a notícia da


extinção da escravidão no Brasil. Naquele dia, a Câmara Municipal de nossa
cidade reuniu-se com os vereadores presentes, Ayres, Luciano, Cunha Pontes,
Ferreira Mendes e Pio, para tomar conhecimento do ofício circular da Presidên-
cia da Província de Mato Grosso, sob n. 63, de 9 de junho de 1888, comunican-
do à Câmara Municipal de Cáceres “que, no dia 13 do mês próximo passado,
foi promulgada a lei que extingue a escravidão no Império, conforme se vê do
telegrama expedido pelo Exmo. Sr. Presidente do Conselho a esta Província,
na qual chegou o dito telegrama no último paquete”.
A Câmara Municipal deliberou que se respondesse o ofício à Presidência
de Mato Grosso e “se congratulasse por esta ocasião excepcionalmente com os
seus munícipes por tão faustoso acontecimento que nos traz uma data gloriosa
a qual será repetida pelos nossos vindouros”
Determinou também a Câmara que se desse a maior publicidade possível
do fato não só por edital que será publicado no jornal Atalaia, como também
por boletins que serão distribuídos no município.
Extraoficialmente, desde o dia 8 de junho, já se sabia aqui, da boa-nova da
extinção da escravidão no Brasil, tanto é que o Vereador Ayres Antunes Maciel
propôs, nesse dia, cantar um Te Deum em ação de graças pela promulgação da
Lei Áurea, solenidade que se realizou no dia 10 do mesmo mês, por iniciativa
da Câmara Municipal, através de uma comissão por ela nomeada.

Fonte: Ata da Câmara Municipal de S. L. de Cáceres, 18/06/1888.

9 Publicado no jornal Correio Cacerense de 21/06/1998.

82
No serviço da Comissão Rondon10

Tenente Marino Mesquita da Costa


A notícia nos é transmitida pelo jornal cacerense da época, Argos, em sua
edição de 12 de julho de 1914:

2º Tenente Marino Mesquita da Costa – Se a pena do noticiarista se


subordinasse tão somente ao coração, seria esta uma das vezes em que
ela nada escreveria. A parca, implacável, impiedosa, arrebatou o Tenente
Marino, quando se lhe deparava o futuro radiante e feliz. O morto de
que damos, em linhas de escorço, esta notícia, fazia parte da Comissão
de Linhas Telegráficas, chefiada pelo Coronel Rondon, há quase dois
anos. Acometido pelo beribéri em Juruena, pôs-se a caminho para esta
cidade, na qual esperava encontrar alívio para o seu mal. Na manhã de 5
do vigente, chegou a Tapirapuã, donde saiu acompanhado de seu amigo,
Sr. Mário Tupin, vindo a falecer, em viagem, a 4 e ½ hora da tarde do
dia 6. O corpo do oficial foi recebido pela oficialidade do 5º Batalhão de
Engenharia e depositado numa das salas do quartel, que fora transfor-
mada em câmara ardente, sendo inumado às 4 horas da tarde de 7. Ao
enterramento compareceram os senhores oficiais do referido Batalhão e
numerosos amigos do inditoso militar. Sobre o caixão mortuário vimos
uma rica coroa, com a seguinte inscrição: “Ao tenente Marino, homena-
gem da Comissão de Linhas Telegráficas”. O Tenente Marino era filho
de Taquari, Rio Grande do Sul, e pertencia a uma das distintas famílias
daquela localidade (ortografia atualizada).

10 Publicada no jornal Correio Cacerense de 26/07/1998.

83
Cáceres na Exposição Nacional – 192211

Há 76 anos, Cáceres, em uníssono com os demais municípios do país,


participava, na semana da Pátria, da Exposição Nacional comemorativa do
primeiro centenário da Independência do Brasil, realizada no Rio de Janeiro,
com amostras de produtos da terra e uma monografia. A participação de Cáce-
res foi autorizada pela Resolução nº 106, de 10.04.1922, da Câmara Municipal,
que diz em seus dois primeiros artigos:

Art. 1º - Fica o Intendente-Geral do Município autorizado a prepa-


rar e remeter à Exposição do Centenário da Independência do Brasil,
uma coleção de todo produto da indústria local e também amostras
dos vegetais e minerais existentes no município, explorados ou não.
Art. 2º - Deverá também contratar um particular que se encarregue da
confecção de um folheto relativo ao mesmo assunto, do qual constem:
a parte histórica e geográfica da cidade, sua atual indústria, as riquezas
minerais e vegetais não expostas e tudo o que interessar para o conhe-
cimento da localidade.

O folheto foi elaborado pelo Sr. João Campos Widal que, no prefácio da
obra, assim se expressou:

Exibir aos olhos do mundo civilizado o vasto panorama do culto Brasil


durante cem anos; satisfazer a mais exigente curiosidade na indagação
do que seja este País de hoje, pela culminância que progressivamente
vai atingindo; estabelecer o confronto de suas indústrias e artes com
as das concorrentes; dar provas da capacidade em ação e da difusão de
todos os ramos da ciência aplicada, foi certamente a mira do decreto de

11 Publicado no jornal Correio Cacerense de 06/09/1998.

84
novembro último, determinando a celebração do Sete de Setembro de
1922 que redimiu a terra de Santa Cruz do jugo estrangeiro, por meio
de uma exposição nacional. São Luiz de Cáceres, cônscio embora do
seu pouco valor na ordem do progresso para figurar em tão majestoso
cenário, não quis escapar à prova, tendo por tema somente a boa inten-
ção, visto que não tem organizadas com perfeição as poucas indústrias
em movimento.

O mostruário com que Cáceres concorreu à Exposição Nacional foi cedido


ao Museu Agrícola e Comercial criado anexo ao Ministério da Agricultura.
Sobre a monografia que acompanhou a Exposição, disse o Sr. Amphilóquio
Marques, em correspondência ao Intendente Geral, Sr. João de Albuquerque
Nunes:

Devo dizer-lhe que o volume sobre esse município foi aqui devidamente
apreciado, tendo sido toda a edição distribuída principalmente entre es-
trangeiros que são os que mais se interessam por esses assuntos.

85
Cáceres não esquece o Etrúria12

Em mais de meio século descendo e subindo o rio Paraguai, o Vapor


Etrúria fez história em Cáceres, conduzindo cargas e passageiros. Nele viajou,
em março de 1909, de Corumbá a esta cidade, o chefe da Comissão de Linhas
Telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas e comandante do 5º Batalhão de En-
genharia aqui sediado, Coronel (na época) Cândido Mariano da Silva Rondon,
acompanhado de sua exma. Esposa. Na recepção solene, nesta cidade, tocou a
banda de música do “Dezenove” – 19º Batalhão de Infantaria que guarneceu a
nossa fronteira desde o fim da Guerra do Paraguai até o ano de 1909.
O Etrúria ficou no coração da gente desta terra de Luiz de Albuquerque.
Interessante é notar que a nova geração se encanta com a história do elegante
Vapor que tanto se uniu à vida de nosso povo.
O Sr. Victalino Ferreira Gomes que por espaço de quinze anos comandou
o Etrúria, escreveu-nos de Corumbá, em 1972, emocionado pelo carinho com
que Cáceres se lembra da famosa embarcação, citando os nomes de dois outros
comandantes, Senhores Salvador de Campos e Luiz Felipe Gomes (o Luiz Prá-
tico). Recordava as viagens feitas com regularidade, tanto nas cheias como nas
vazantes. Dizia ele: “No quinto dia de viagem, partindo de Corumbá, o “barco
airoso”, lançando ao ar o inconfundível apito na volta do rio no porto Fonseca,
entrava, ao entardecer, na baía em frente à praça Barão do Rio Branco. Por toda
a barranca do rio e no cais distribuía-se o povo cacerense para ver a querida
embarcação. E ajunta o missivista: “Que alegria se notava naquela gente quando
abraçava os parentes e conhecidos que chegavam. Era uma festa”!
Concluindo, dizia ainda o ex-comandante:

12 Publicado no jornal Correio Cacerense de 13/09/1998.

86
Por um destino traçado desapareceu o Etrúria da cidade de Cáceres; de-
sapareceu dos portos ribeirinhos, onde obrigatoriamente escalava para
receber lenha, deixar passageiros e carga. Garanto que o rio Paraguai
achou falta. Não quiseram nem mesmo deixar o cais como recordação,
testemunha do intenso movimento comercial e social.

Feliz, portanto, a ideia dos organizadores do Festival Internacional de


Pesca/98, elegendo o Etrúria como tema da ornamentação da praça Barão do
Rio Branco. A reprodução aproximada do histórico barco é mais um incentivo
à pesquisa do nosso passado que, ultimamente, se intensifica nas instituições
de ensino de Cáceres.

87
Primeiro painel turístico da cidade de Cáceres13

Em setembro de 1986, realizava Cáceres o Primeiro Painel de Turismo.


Sobre ele falou o jornal Folha do Povo, de 26.09.86: “Desde a noite de ontem,
está sendo desenvolvido nas dependências do Esporte Clube Humaitá, o Pri-
meiro Painel de Turismo de Cáceres promovido pela Secretaria de Indústria,
Comércio e Turismo, através da TURIMAT, com apoio da Prefeitura Municipal
de Cáceres. O evento conta com a participação de diversas autoridades, hote-
leiros, agentes de viagem, transportadores, locadores, proprietários ligados ao
setor turístico de Mato Grosso.
Na abertura, o primeiro conferencista foi o presidente da TURIMAT, Fran-
cisco Cunha Lacerda, que falou sobre a intensificação do turismo na região
de Cáceres, por sua posição geográfica considerada privilegiada e pelas suas
potencialidades”.
Hoje, dizia o jornal Folha do Povo, Lacerda estará falando sobre a im-
portância do turismo como atividade econômica em todo o mundo e o que
vem sendo feito nesta área pelos governos estadual e federal. A programação,
continua o jornal, prevê ainda a participação de outros palestrantes como o
diretor de Operações da TURIMAT, Mário Corrêa Cardoso, e do Marketing,
Jaime Yasuo Okamura, bem como projeção de filmes turísticos de Mato Grosso
e torneio de caiaque do “Caiaque Clube” de Cuiabá.
Do jornal Estado de Mato Grosso, edição de 28.09.86, guardamos as se-
guintes referências a Cáceres: “O presidente da Empresa Mato-Grossense de
Turismo (TURIMAT), Francisco Lacerda, defendeu em Cáceres, por ocasião
do primeiro painel de turismo, a necessidade de esta cidade ter uma maior
representação junto a Corumbá/MS em relação ao Pantanal mato-grossen-

13 Publicado no jornal Correio Cacerense de 20/09/1998.

88
se. Cáceres poderá desenvolver um grande papel no campo do turismo em
Mato Grosso. Trata-se de uma das principais e maiores cidades do Pantanal.
Além de se localizar à margem do rio Paraguai, que dá acesso aos pontos
turísticos mais cogitantes da região, é uma cidade histórica, com seu passa-
do plenamente reconhecido por todos os brasileiros, com o seu tradicional
Marco do Jauru”.
Segundo o arquiteto Edgar Jacintho da Silva, do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, o Marco do Jauru é um monumento de expres-
sivo conteúdo histórico valorizado por seu aporte à epigrafia brasileira que,
perpetuando o tratado de Madri, evoca para a posteridade o vulto do insígne
estadista, patrício Alexandre de Gusmão, proclamado como um dos seus ins-
piradores e artífice da grandeza territorial do País.

89
Ecos de passados Festivais de Pesca14

O Torneio Internacional de Pesca de Cáceres é uma promoção que


se vem afirmando, num crescente de entusiasmo e organização, di-
zíamos na introdução do convite do Festival de 1992, o décimo ter-
ceiro. Tão grande tem sido a repercussão do certame que, este ano, a
convite da Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos,
será realizado, em Cáceres, juntamente com o tradicional Torneio, o
Campeonato Brasileiro de Pesca em Água Doce.
A escolha de Cáceres para sediar o evento brasileiro se deu não só pelo
reconhecimento da sua potencialidade natural como pela confiança que
o tradicional desporto aquático cacerense inspira em Mato Grosso e no
Brasil, dada a seriedade e eficiência com que vem sendo tratado pelos
seus promotores.
Cáceres se renova nos seus anseios de progresso. Torna-se, dentro de uma
programação abrangente, um centro de interesse nacional e internacional
pela sua posição privilegiada à margem do rio Paraguai, no cruzamento
deste com a BR-070/174/364, onde as vias de comunicação se encontram,
fazendo de Cáceres um polo de ligação com a bacia amazônica, com o
Pacífico, através da Bolívia, e com os países do Prata pelo rio Paraguai.
Dotado que é o Município de belezas naturais e históricas oferece campo
propício ao Turismo. Assim, o XIII Torneio Internacional de Pesca e o
Campeonato Brasileiro de Pesca em Água Doce, concorrendo para o
incremento do turismo e educação ecológica no Município, encontram
o povo cacerense com o espírito aberto, lutando pela conquista das metas
de trabalho e desenvolvimento em harmonia como o equilíbrio ecológico
da região.

14 Publicado no jornal Correio Cacerense de 27/09/1998.

90
Do encerramento do X Torneio de Pesca, realizado em 1989, assim falou
o jornal Correio Cacerense:

Por inscrever maior número de equipes em relação aos anos anteriores,


registrando participação maciça da população e a presença de equipes
do exterior, como Holanda e Irlanda, além de inúmeros concorrentes dos
Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Brasília, da região
da grande Cáceres e de outras cidades mato-grossenses, o Torneio In-
ternacional de Pesca de Cáceres, na sua décima edição, foi considerado
o maior e mais bonito. O maior sucesso!

Finalizando, diz o Correio Cacerense:

No domingo, 24, foi a vez das equipes divididas nas categorias artesanal
e especial. A largada foi dada no cais da praça Rio Branco, após o has-
teamento dos pavilhões nacional, estadual e municipal e execução do
Hino pátrio pela banda de música do Exército. Frei Matheus abençoou
a prova em holandês e inglês.

91
Monumento nacional15

Assim, a urbe de Luiz de Albuquerque se orgulha de ostentar em sua pra-


ça principal, entre a Catedral de São Luiz e o rio Paraguai, o Marco do Jauru,
expressivo monumento oriundo do Tratado de Madri – símbolo perene, como
dele disse o Dr. Luís Philippe Pereira Leite, que em sua obra Vila Maria dos
meus maiores, nos dá um trecho da oração proferida pelo imortal Arcebispo de
Cuiabá, Dom Aquino Corrêa, por ocasião do bicentenário do Tratado de 1750:

Por último, Senhores, o que justifica plenamente esta liturgia sacra de


ação de graças, é o espírito que presidiu à elaboração desse Tratado do
qual com a sua ímpar autoridade, escreveu o Barão do Rio Branco que
deixa no ânimo de quem o estuda, a mais viva e grata impressão de
boa-fé, lealdade e grandeza de vistas, que inspira esse ajuste amigável de
antigas e mesquinhas querelas, consultando-se unicamente os princípios
superiores da razão e da justiça e as conveniências da paz e da civiliza-
ção da América. E dirigindo-se à nossa Pirâmide, da Praça Barão do
Rio Branco, atestado eloquente daquele Convênio, diz: Marco do Jauru:
Tu perpetuaste para sempre, nos relevos artísticos das tuas quatro pá-
ginas, os homens das duas augustas realezas, que foram as altas partes
contratantes de Madri, a Majestade Católica de Dom Fernando VI da
Espanha, e a Majestade Fidelíssima de Dom João V, de Portugal mas nos
lembras também, no teu sugestivo silêncio, todos quantos colaboraram
no memorável pacto, que ora festejamos, e sobre os quais paira, excelsa e
inconfundível, como alma que foi dessas negociações políticas, honrando
sobremaneira a nossa Pátria e a nossa gente, a figura de Alexandre de
Gusmão, o grande diplomata brasileiro.

15 Publicado no jornal Correio Cacerense de 4/10/1998

92
No dia 4 de outubro de 1978 – ano do bicentenário de Cáceres – por
iniciativa do Arquiteto Edgar Jacintho da Silva, foi inscrito no livro de Tombo
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Marco do Jauru,
localizado na praça Barão do Rio Branco, nesta cidade.

93
Cidade feliz

Já disse alguém que “a história é uma ressurreição”. A data de 6 de outubro


nos oferece oportunidade de reviver o passado. Pensar que não estamos sós. Há
toda uma vivencia bissecular a nos sustentar o presente, onde atuamos, com os
olhos no futuro que vamos construindo minuto a minuto.
Concluindo discurso pronunciado em Cáceres, quando aqui esteve, per-
gunta o jornalista Chateaubriand: “Que basta para uma cidade ser feliz?” Ele
mesmo responde: “Um véu de noiva para casar-se com o fulgor solar; um sol
radiante que lhe dê um ar sempre juvenil; um povo para amá-la. E, por fim,
a consciência de que tem uma missão a desempenhar”. Cáceres tem o véu de
noiva na beleza natural que a adorna e que se casa admiravelmente com o brilho
do sol. Um povo – verdadeira síntese do Brasil – aqui se estrutura, interessado
no conhecimento das raízes culturais da terra, para conscientemente amá-la e
desenvolvê-la. Tem a floração dos jovens que aos revérberos do sol, dá à cidade
um ar sempre novo.

O céu cacerense, disse o escritor conterrâneo Gabriel Pinto de Arruda,


em certas épocas do ano, principalmente no verão e outono, na sua gran-
diosidade, pontua-se de nuvens numerosíssimas e de bizarras formas. E
pinta-se de tão infinitas cores ao nascer e mormente ao pôr-do-sol que
os forasteiros embevecidos ficam absortos a contemplá-lo nas suas ma-
ravilhosas mutações que se sucedem como o desenrolar magnífico das
lindas cenas cinematográficas.

Pela origem, Cáceres liga-se à política estratégica de Portugal quanto à


consolidação das terras conquistadas pelos luso-brasileiros em Mato Grosso.

94
Foi criada a nova povoação para exercer presença civilizada na fronteira com
a Espanha. Sua localização a meio caminho entre a capital Vila Bela e a Cuiabá
do ouro, facilitava a comunicação e o comércio entre os dois centros. Lançada
no cruzamento de vias de transporte – a estrada e o rio Paraguai – pensava
Albuquerque, o fundador, fazer de Vila Maria (Cáceres) um entreposto comer-
cial e ao mesmo tempo uma porta de navegação com São Paulo. Chamou-lhe
a atenção desde logo o espaço físico da nova fundação: a terra fértil, regada de
abundantes águas e cheia de pastagens, bom prenúncio de riqueza e prosperi-
dade agropecuária; e os recursos naturais – flora e fauna – campo propício às
atividades extrativistas.
Sólida é, portanto, a infraestrutura que sustenta Cáceres como cidade,
porque formada pela potencialidade da terra e pelas belezas naturais que o
Brasil e o mundo vêm descobrindo, desencadeando um novo processo de de-
senvolvimento da região – o Turismo.
Cáceres tem tudo para ser feliz. E é feliz!

95
Instalação do serviço de recenseamento16

Foi instalado solenemente, no dia 25 de abril de 1940, o Serviço de Re-


censeamento do município de Cáceres. A solenidade realizou-se às 20 horas
daquele dia, no salão nobre da Prefeitura, que funcionava ainda no prédio do
Governo Municipal, ocupado, hoje, pela Câmara dos Vereadores. Tomaram as-
sento à mesa os Senhores João Evaristo Curvo, Prefeito Municipal; Cap. Taltíbio
de Araújo, Comandante do 2º Batalhão de Fronteira; Dr. Leopoldo Ambrósio
Filho, Diretor do jornal A Razão; Dr. Gabriel Pinto de Arruda, Juiz de Direito
da Comarca; Dr. Luiz Marques Ambrósio, Promotor de Justiça; Nelson José
Nassif, Secretário do Serviço de Recenseamento de Corumbá e Luiz Pinto de
Arruda, Delegado Municipal.
Aberta a sessão pelo Sr. Prefeito, foi por este dada a palavra ao Sr. Nelson
José Nassif que falou da finalidade do recenseamento na vida dos povos, decla-
rando por fim instalado o serviço em Cáceres. Com a palavra o Dr. Ambrósio
Filho concitou a todos os habitantes da terra a auxiliarem o Recenseamento
Nacional.
Em prosseguimento, foi feita a entrega dos prêmios aos concorrentes vi-
toriosos no concurso de frases sobre o Censo, realizado no dia 15 do mesmo
mês e ano acima citados, certame esse patrocinado pelo jornal A Razão. As três
frases classificadas foram as seguintes:
1. “Brasil, grande Pátria, Grande Terra! Quantos, porém, labutam pela
sua grandeza? Só o recenseamento no-lo dirá. Auxiliai-o, pois”.
2. “O Brasil vai mostrar ao estrangeiro e aos seus próprios filhos, através
dos resultados censitários o que ele de fato já é como nação organizada
e progressista”.

16 Publicado no jornal Correio Cacerense de 15/11/1998.

96
3. “O conhecimento de si mesmo era o princípio da sabedoria antiga.
O Censo fornecerá os dados para o Brasil se conhecer a si mesmo:
número, força, riqueza, as suas esperanças, a fé no próprio destino”,
de autoria, respectivamente, da Sra. Estela Rodrigues Ambrósio; Srta.
Hilda Dias e Frei Jerônimo Lacaze Badie, sacerdote da Ordem Terceira
Regular de São Francisco.
De acordo com o quadro territorial fixado pelo Decreto-Lei estadual nº
208, de 26.10.1938, para vigorar no quinquênio 1939/43, o Município apresen-
tava-se com dois distritos: Cáceres (ex-São Luiz de Cáceres) e Barra do Bugres
(ex-Barra do Rio dos Bugres).
Pelo Censo de 1940, a população total de Cáceres era de 17.603 habitan-
tes, sendo no distrito de Cáceres – 15.268 habitantes; e no de Barra do Bugres,
2.335 habitantes. (Sinopse Estatística do Município de Cáceres-MT – Serviço
Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro, 1948.

97
Jardim da Praça Rio Branco17

O primeiro jardim público de Cáceres, construído por uma Comissão pre-


sidida pelo Major PM e Delegado de Polícia do Município, na época Oswaldo
Cícero de Sá, foi inaugurado no dia 19 de novembro de 1936. No obelisco que
se ergue no centro daquele logradouro, lê-se: “Ao Major Oswaldo Cícero de
Sá, idealizador e construtor deste jardim, a homenagem do povo cacerense”.
O jornal A Razão, que circulava nesta cidade, edição de 21 de novembro
de 1936, assim fala do ato de inauguração:

No dia da Bandeira, na praça Barão do Rio Branco, foi inaugurado o jar-


dim construído por uma comissão presidida pelo Major Oswaldo Cícero
de Sá. O ato festivo realizou-se às 5 horas da tarde diante de numerosa
assistência, na qual se destacam famílias, autoridades locais e ilustres
Cavalheiros. O primeiro a usar a palavra foi o Major Oswaldo fazendo en-
trega do jardim à Prefeitura na pessoa do Sr. Manoel F. F. Cuiabano, atual
detentor do cargo de Prefeito. Em seu nome respondeu o Sr. Farmacêu-
tico Dormevil M. da Costa e Faria aceitando a obra e prometendo zelar
com carinho e engrandecer o logradouro público à medida dos recursos
de que dispuser o Município. Também fez uso da palavra o Dr. Leopoldo
Ambrósio Filho, por si, a pedido do Cel. Bertholdo e como representante
desta Folha. Paraninfaram a inauguração as senhoras Ana Virgínia Dulce
e Rita Caldas Castrillon e os senhores Manoel F. F. Cuiabano, Prefeito, e
Bertholdo Leite da Silva Freire, Deputado à Assembleia Estadual.

17 Publicado no jornal Correio Cacerense de 22/11/1998.

98
Evento significativo

Por decreto nº 2, de 20 de janeiro de 1961, desse mês e ano, é considerado


feriado municipal em Cáceres, em virtude da visita do Governador do Estado
Dr. João Ponce de Arruda. O chefe o Executivo Estadual, já no fim do seu
mandato (1956-1961), vinha a esta cidade para inaugurar a ponte de concreto
sobre o rio Paraguai (hoje Marechal Rondon). Na mesma data foram também
inaugurados o novo Coreto da praça Barão do Rio Branco (posteriormente
demolido) e a pavimentação asfáltica das primeiras ruas beneficiadas por esse
tipo de calçamento: João Pessoa, Cel. José Dulce e respectivas travessas, bem
como parte da praça Barão do Rio Branco.
Na placa inaugural da ponte, segundo fotografia da solenidade (arquivo
particular), lê-se: “CER-MT-Governo Ponce de Arruda – BR-30 – Cáceres-Por-
to Esperidião. Ponte Engº João Ponce de Arruda. Extensão 300 metros. Entre-
gue ao trânsito público em janeiro de 1961”. CER-MT é a sigla da Comissão
de Estradas de Rodagem de Mato Grosso, criada em 1947 e mais tarde (1966)
substituída pelo DER-MAT – Departamento de Estradas de Rodagem de Mato
Grosso.
A ligação permanente por estrada de rodagem entre Cáceres e Cuiabá se
deu pouco antes, em 1960, pela antiga rodovia BR-30. A ponte sobre o rio Pa-
raguai, inaugurada em 1961, veio facilitar a penetração nas terras ocidentais do
Município, iniciada a partir da década de 1950. A cidade começou a receber as
primeiras obras de urbanização. Em 1962, já se percebem os primeiros sinais do
nosso expansionismo urbano. Por lei, a Câmara Municipal autoriza o Prefeito
a lotear uma área de terreno ao sul da cidade, para implantação de um bairro,
com a denominação de Jardim São Luiz. Estabelecia a referida lei em seu artigo
2º: “A Avenida (do loteamento) terá o nome do Deputado Dormevil Malhado

99
da Costa e Faria; a Praça se denominará Professor Demétrio Costa Pereira; as
ruas serão numeradas e as travessas se distinguirão com letras”.
Incrementa-se a comunicação rodoviária. Declina a navegação fluvial.
Corumbá vai perdendo aos poucos para Cuiabá, a influência de entreposto
comercial na nossa região. Lenta, mas seguramente Cáceres vai-se estruturando
para, acompanhando a evolução da humanidade, continuar desempenhando a
função que lhe cabe no excelente contexto geográfico em que se insere.

100
O ensino em Cáceres nos anos vinte

Uma visão do ensino em Cáceres no começo da década dos anos vinte


nos é dada através do relatório da Intendência Municipal para a Exposição
Nacional do Rio de Janeiro (1922), elaborado pelo Sr. João Campos Widal.
No Capítulo “Instrução Pública” desse documento, assim se expressa o autor:
“Sete são os estabelecimentos de instrução em plena função, inclusive o Grupo
Escolar ‘Costa Marques’, único de caráter oficial, sendo os demais particulares”.
A relação das escolas, segundo o relatório, é a seguinte: Grupo Escolar
Costa Marques, com 220 alunos; Ginásio Luiz de Albuquerque, com 19 alunos;
Colégio Imaculada Conceição, com 40 alunos; Colégio Costa Pereira, com 14
alunos; Colégio São José, com 27 alunos; Escola Dona Presciliana, com 10 alu-
nos e Escola Dona Leonídia, com 25 alunos, totalizando 355 escolares, sendo
197 do sexo masculino e 158 do feminino.
Continuando a informação sobre as nossas escolas, diz o Sr. Campos Widal:

O grupo Escolar, cujo corpo docente se compõe de 9 funcionários entre o


diretor e os professores adjuntos, contempla em seu programa a instrução
primária propriamente dita. O ginásio Luiz de Albuquerque é um estabe-
lecimento com plano de curso de humanidade, havendo posteriormente
à sua fundação adicionado o de instrução primária, ficando assim misto.
O colégio Costa Pereira admite o ensino de materiais de 1º e 2º graus,
ou seja, primário e secundário. O Colégio Costa Pereira admite o ensino
de matérias de 1º e 2º graus, ou seja, primário e secundário. O colégio
Imaculada Conceição, dirigido por irmãs religiosas, é de instrução pri-
mária com seções de artes: pintura, música e trabalhos de agulha. Todos
os demais são para instrução elementar.

101
Para concluir, diz o autor do relatório:

Há no distrito da Barra do Bugres, povoação pertencente ao município,


uma escola pública mista, porém com diminuta frequência. Pelos sítios,
fazendas, arraiais, também existem escolas particulares isoladas, de pouca
importância, pois que não dispondo elas de professores hábeis, estão
reduzidas a simplesmente combater o analfabetismo.

Das escolas acima referidas estão ainda em pleno funcionamento o Grupo


Escolar, com o nome de “Esperidião Marques” e o Colégio Imaculada Con-
ceição.

102
O problema do analfabetismo – 1920

No relatório apresentado à Câmara Municipal do então Município de


São Luiz de Cáceres, na sessão de 5 de novembro de 1920, o Intendente em
exercício, Sr. Adolpho Federico Josetti, no capítulo “Instrução Pública”, assim
analisa o problema do analfabetismo:

O problema do analfabetismo ocupa seriamente o espírito de todos os


brasileiros, que aspiram uma prática, não só sadia no corpo, senão no
espírito, que entra como fator imprescindível no cômputo do humano
progresso. Somos uma parcela atômica, por assim dizer, na vastidão do
território ubérrimo, que é o Brasil. Não obstante, que de louvável não iria
numa generosa ação nossa, se participássemos com as migalhas de renda
municipal, em proveito de tão patriótico e incomparável surto. Não po-
demos, bem o sei, criar escolas, mesmo porque isto compete ao governo
estadual, bem como a execução da lei da obrigatoriedade do ensino, já
aprovada. Criemos, ao menos, uma escola noturna para adultos, onde
os humildes e valentes obreiros da faina diurna, possam receber aquelas
primeiras luzes de que tanto precisamos para sua modesta representação
social. Há pouco, o eminente Dr. Miguel Couto, Presidente da Academia
Nacional de Medicina, um entusiasta da Liga contra o analfabetismo,
dizia do alto da sua sabedoria, com o amplo descortino de seus conheci-
mentos científicos, que ‘vencido na luta pela vida, sem necessidade nem
ambições, o analfabeto contrapõe o peso morto de sua indolência ou
peso vivo da sua rebelião a toda ideia de progresso, entrevendo sempre,
na prosperidade dos que vencem pela inteligência cultivada, um roubo,
uma extorsão, uma injustiça (ortografia atualizada).

103
Finaliza, o Sr. Intendente Josetti, dizendo que fez figurar no orçamento
para 1921, a verba anual de um conto e duzentos mil réis (1:200$) para criação
de uma escola noturna em nossa cidade.
Seguindo a linha da preocupação do administrador municipal de 1920,
vamos encontrar em funcionamento, nos anos quarenta, uma escola de alfabe-
tização de adultos mantida pela Prefeitura, funcionando em uma das salas em
frente ao antigo Mercado Municipal (hoje Museu Histórico). Na mesma década,
constituiu-se a Comissão Controladora do Ensino Supletivo de Adolescente e
Adultos Analfabetos, sob a presidência do Prefeito Municipal, cuja primeira
reunião se deu a 4 de agosto de 1948. A referida Comissão era formada, além
do chefe do Executivo, pelas seguintes autoridades: Juiz de Direito, Diretores do
Grupo Escolar “Esperidião Marques” e do Ginásio Estadual “Onze de Março”;
Representante do 2º Batalhão de Fronteira e Agente de Estatística Municipal.
Em 1971, instalou-se o MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetiza-
ção e constituiu-se a Comissão Municipal do Movimento, “visando a alfabeti-
zar adolescente e adultos no mais curto prazo possível, solucionando assim o
problema de alfabetização em nosso País”.

104
Escola rural mista do Junco

Foi ano de 1938, no dia 13 de maio, que se inaugurou uma escola mu-
nicipal na localidade do “Junco”, hoje um dos prósperos bairros da cidade de
Cáceres. Ao ato estiveram presentes o Prefeito, Sr. João Evaristo Curvo; Dr.
João de Lacerda Azevedo, representante do Sr. Interventor Federal do Estado;
autoridades locais, chefes de repartições federais, estaduais e municipais, dis-
tintos senhores e senhoras. Foi empossado o respectivo professor, Sr. José dos
Santos, para o qual fora nomeado por ato nº 30 do Sr. Prefeito. Por proposta
do Cap. Pedro Celestino Corrêa da Costa Filho, comandante da Guarnição
Federal, nesta cidade, foi dado ao colégio do Junco o nome de “Frei Ambró-
sio”, em homenagem ao Reverendo Frei Ambrósio Daydé, superior da Ordem
Terceira Regular de São Francisco, em Cáceres, por ter sido ele o incentivador
do ensino naquele local, onde a Ordem tinha uma casa que abrigou a escola.
Nesse mesmo dia foram inauguradas as escolas de Lava-pés e Caiçara, sob a
regência, respectivamente, da professora Etervira da Costa e Arruda e Professor
Pedro Alves Rondon.
Frei Ambrósio Daydé nasceu em Albi (França) em 1875 e faleceu em São
Paulo no dia 13/04/1945. Sacerdote da Ordem Terceira Regular de São Fran-
cisco, trabalhou em Cuiabá 18 anos e em Cáceres, 17 anos. Foi o fundador da
Missão Franciscana em Mato Grosso e construtor da igreja do Bom Despacho
da Capital do Estado. Em Cáceres, onde era o superior do Convento da Ordem
Terceira, continuou as obras de construção da Catedral, dirigiu o Colégio São
Luiz e fundou o Hospital São Luiz.

105
Obras do Grupo Escolar de Cáceres
(Impressões de um viajante)

Sobre a construção do Grupo Escolar desta cidade, o Comandante H.


Pereira da Cunha, no seu livro Viagens e Caçadas em Mato Grosso18 relata as
suas impressões desta forma:

No dia seguinte, passeando durante a manhã pelas tranquilas ruas de


Cáceres, deparei com um edifício em construção. De grandes projeções
e magnífica aparência e indagando qual seria o destino, soube, com vivo
prazer e não sem algum espanto, que era destinado a uma grande escola
pública, que estava sendo edificada sob os moldes paulistas, e que uma
missão de professores, também paulistas, contratada pelo Estado, esta-
va espalhada por algumas das principais cidades, tendo sido Cáceres
contemplada nesse número. Fui bastante feliz por ter ensejo de travar
conhecimento com o jovem educador que aí se achava e, com ele visi-
tando as antigas escolas, tive conhecimento do progresso obtido aí e em
outras cidades de Mato Grosso. Roosevelt que, como homem inteligen-
te e experimentando estadista, liga uma grande importância ao magno
problema da instrução, teve palavras muito elogiosas para o professor a
quem apresentei e, à página 127 do seu interessante livro, cita com elogio
o fato que aí fica exposto e que tanto me satisfaz.

O fato acima referido se deu em janeiro de 1914, dia 6. O comandante H.


Pereira da Cunha fazia parte da Comitiva de Theodoro Roosevelt, ex-presidente
dos Estado Unidos, quando passou por Cáceres, naquele ano. O prédio em

18 4ª edição. Livraria Francisco Alves, 1949, p. 69.

106
construção é o Grupo Escolar, hoje, Escola Estadual de 1º Grau “Esperidião
Marques”. O jovem educador é o professor José Rizzo, 1º Diretor do Grupo,
criado em 1912. O belo edifício do Grupo Escolar, hoje Escola Estadual de 1º
Grau “Esperidião Marques, situado à praça Duque de Caxias, esquina com a
rua Comandante Balduíno, foi inaugurado no dia 27 de março de 1920, ainda
na gestão do primeiro diretor, Prof. José Rizzo.

107
Escola recebe nome

Vem-nos à lembrança, este mês, o decreto municipal nº 2 do ano de 1980,


dia 3, que deu à escola do bairro “Cidade Alta”, desta cidade, o nome de Pro-
fessor Demétrio Costa Pereira.
Educador emérito, Demétrio Costa Pereira dedicou-se, em Cáceres, ao
magistério público e particular. Exerceu o cargo de diretor do Grupo Escolar
‘Esperidião Marques’, onde se aposentou em 1929. Fundou, nesta cidade, o
Colégio Costa Pereira, de sua propriedade, em 1901, que instruiu e educou
muitas gerações, e de onde saíram homens de importância no cenário cacerense
e mato-grossense. Foi o pioneiro no ensino de matérias do curso secundário
em sua escola. Além de educador, exerceu várias outras funções em Cáceres:
na Câmara Municipal, Vereador, Juiz de Paz e por substituição legal, § 2º,
do art. 22, do Decreto nº 21, de 29/01/1982), o cargo de Intendente-Geral
do Município (1911). Era advogado provisionado e jornalista. Montou com
correligionário o jornal A Razão (1917), do qual foi o primeiro diretor. Filho do
Gen. Domingos José da Costa Pereira, que comandou as Armas da Província
de Mato Grosso, Demétrio Costa Pereira foi, segundo o historiador Estevão de
Mendonça, “um dos espíritos mais cultivados da cidade de Cáceres”. Faleceu,
nesta cidade, a 14 de setembro de 1939.

108
Torneio Tríplice de Futebol, Basquete e Vôlei – 1951

O extinto jornal A Razão, de Cáceres, em sua edição de 18 de outubro de


1951, estampa, na coluna Notas Desportivas, a seguinte notícia:

O Mixto Esporte Clube da Capital do Estado, a convite da Liga Espor-


tiva Cacerense veio a esta cidade, durante as festas de comemoração do
173º aniversário de Cáceres, competir em um torneio tríplice de futebol,
basquete e vôlei com selecionados locais. A luzida embaixada visitante
deixou-nos ótima impressão, não só sob o ponto de vista disciplinar
como também esportivo. A partida de futebol, assistida por considerável
massa, talvez a maior já vista em nossos gramados, foi prenhe de emoções
e de jogadas vibrantes. Pena que a vitória tivesse fugido nos derradeiros
minutos da porfia. Com uma vantagem no marcador de dois tentos con-
signados por Juquinha e por Victor, ambos no primeiro tempo e mantido
esse resultado até quase o final da luta, com o selecionado da Liga atuan-
do acertadamente, eis que o panorama da peleja, ao faltarem oito minu-
tos para o seu término, se modifica, o nosso quadro se desnorteia e, em
menos de cinco minutos, o onze cuiabano, numa virada impressionante,
por intermédio de Leônidas, consigna dois pontos consecutivos, que lhe
vieram trazer o empate, resultado para nós por demais injusto. Temos,
no entanto, a satisfação de ressaltar o ambiente altamente cordial que
predominou em todo o transcurso da pugna, nenhum incidente tendo
sido registrado durante o desenrolar de uma partida tão ardorosamente
disputada. Nos jogos de vôlei e de basquete saíram vencedores os quadros
do Mixto. Vitórias na verdade merecidas, porquanto a nossa atuação em
ambos os cotejos, mormente no basquete, ficou aquém da expectativa.

109
O encontro futebolístico entre o Mixto Esporte Clube de Cuiabá e o Se-
lecionado cacerense realizou-se na tarde de 6 de outubro, quando Cáceres co-
memorava o 173º aniversário de sua fundação. As partidas amistosas de vôlei
e basquete realizaram-se no dia seguinte, domingo, pela manhã.

110
Crônica Esportiva

Há 34 anos, o jornal Pioneiro, que se editava em Cáceres e que, como


outros, teve vida efêmera, publicou, no dia 26 de maio de 1963, a seguinte
crônica esportiva:

Em defesa dos nossos árbitros.


Há um velho refrão que diz: é impossível contentar a Deus e a todo
mundo ao mesmo tempo. Isso vem sendo confirmado semanalmente,
ou melhor, aos sábados e domingos, quando são disputadas as nossas
partidas de futebol pelo campeonato da cidade. Como sabemos o juiz é
autoridade máxima em campo. Pois bem, o time vencedor sempre acha
que o árbitro atuou maravilhosamente e que nada tem a reclamar. O per-
dedor, porém, diz que ele é parcial, não conhece regras e, muitas vezes,
até ameaça a sua integridade física. Não querem lembrar, tanto um como
outro, que ele em campo agiu de acordo com o seu conhecimento das
regras, imparcialmente. Por ser simpático a um dos disputantes, não há
para ele, interesse que vença este ou aquele, mas sim porque deve vencer
o que jogou melhor e fez maior número de tentos. Isto porque deixa de
lado, durante a peleja, a sua simpatia, para agir exclusivamente de acordo
com a sua consciência de apitador honesto e imparcial. Continuando a
sofrer as injúrias que vem recebendo os nossos apitadores, estamos fa-
dados a não serem mais realizadas partidas de futebol em nossa cidade,
porque não desejarão mais continuar apitando somente para dar chance
aos que desejam ofendê-los, de o fazer nessa oportunidade. Aos recla-
madores perguntamos: Por que não se candidatam a apitadores? E a eles
também pedimos: vamos prestigiar os nossos apitadores que estaremos
prestigiando o esporte e aprendendo a célere máxima: “É tão nobre saber
perder como saber ganhar.

111
Abre-se a temporada de Corrida em Cáceres

É o extinto jornal A Razão, do dia 10 de maio de 1948, que apresenta a


seguinte crônica, intitulada “Reinício das corridas em Cáceres”, cujo autor se
esconde sob as iniciais B. F.:

Com grande animação teve início, a 1º do corrente, a temporada das cor-


ridas em Cáceres. Grande número de pessoas acorreu à nossa pista, para
assistir ao desenrolar da sensacional carreira, que há meses atrás, fora
combinada entre o rosilho e Ovídio e o negro calçado do João. O picarso
do João, chegou ao local da corrida, todo envolto em uma elegante capa
de cetim, especialmente confeccionada pelas mãos habilidosas de uma
das melhores costureiras da cidade. O rosilho de Ovídio, ao contrário,
apareceu em pelo e já equitado pelo habilidoso jóquei Tibi, que também
foi o treinador do “Tira-teima”. Depois de algumas horas de exibição dos
dois afamados parelheiros, que desfilavam diante dos olhos do público,
mostrando as suas belas formas e músculos possantes, ambos se dirigiram
para o ponto da partida. Em todos se via grande animação e uma onda de
nervosismo invadia os mais apaixonados do Turf. Elevadas somas foram
apostadas. E o cruzeiro, esse apreciado companheiro, que de há muito
andava desaparecido, surgiu como por encanto, em reluzentes notas de
quinhentos e de mil. Caiu no agrado geral, o negro calçado, que se tor-
nou, portanto, o favorito da multidão. Uma pequena minoria ficou com
o rosilho do Ovídio, cujas belas qualidades, não podiam ser desprezadas.
Depois de alguns minutos de aflitiva espera, o juiz de partida dá o grito,
e os dois elegantes cavalos se atiram pista afora, em vertiginosa corrida.
No arranco da partida, leva o preto pequena vantagem, que conserva até

112
ao meio da cancha. Mas a essa altura o jovem e habilidoso jóquei Tibi, vê
que já é tempo de fazer o rosilho avançar. Basta para isso, uma leve chi-
cotada, e o brioso animal, pondo à prova sua reserva de energias, avança
meio corpo, que continua aumentando até dar luz na chegada, de mais
de um corpo. Estrondosa e espetacular vitória do “Tira-teima”, pois seu
adversário, afamado parelheiro, trazia desde Campo Grande, um cortejo
de vitórias, ganhas em várias cidades. Verdadeiro campeão, portanto. A
multidão, tomada de grande entusiasmo, dava vivas ao Ovídio e ao seu
cavalo, enquanto que alguns outros, permaneceram perplexos e cabis-
baixos, ante à decepção e à surpresa. O Sr. João e os seus companheiros
foram de um alto espírito esportivo, pois apesar da derrota, que não es-
peravam, continuaram alegres e sorridentes, mostrando que como sabem
ganhar, também sabem perder. O rosilho ganhou fácil e folgado, pondo
mais uma vez, à prova suas belas qualidades de parelheiro. Dos lábios
do Sr. Peró, víamos escapar um sorriso de contentamento e de orgulho,
pois o rosilho é um dos muitos cavalos que têm saído dos seus afamados
rebanhos que vem atestando o alto grau em que é tida a criação cavalar
neste Município. Apesar do grande entusiasmo e exaltação esportiva, a
corrida se desenrolou, como de costume, num ambiente de serenidade e
ordem, demonstração autêntica da educação esportiva de todos quanto
ali compareceram. Tivemos assim uma manhã alegre e divertida, com
o prazer de assistir a uma corrida cem por cento honesta e que satisfez,
plenamente, aos mais exigentes em assuntos turfísticos (Assina: B.F.).

113
Geraldão
(Estádio Municipal “Luiz Geraldo da Silva”)

No dia 06 de outubro de 1974, inaugurava-se, em Cáceres, o Estádio Mu-


nicipal “Luiz Geraldo da Silva” (Geraldão).
O jornal Correio Cacerense, de 06/10/1974, fala do evento da forma se-
guinte:

Hoje, nesta Cáceres que completa 196 anos de fundação, o cacerense verá
concretizado um grande sonho, há muito tempo esperado, ou seja um Es-
tádio de futebol que será inaugurado a partir das 14 horas, com presenças
de altas autoridades do Estado e do Município. Levará esta nova praça de
esportes o nome de “Luiz Geraldo da Silva”, o que nos faz acreditar, todos
irão chama-lo de “Geraldão”, nome este tirado de um herói cacerense que
se destacou na FEB, morrendo em combate nos últimos dias da Segunda
Guerra Mundial... No presente momento o Estádio consta de um campo
com dimensões regulamentares, situado no bairro do Junco, com frente
para a estrada de rodagem que liga Cáceres a Cuiabá. Possui arquibanca-
da de madeira com capacidade para cerca de 1.200 pessoas e alambrado
de tela em toda a volta do campo. Dois bons vestiários construídos de
material, dotado por enquanto somente de água, pois não há energia
elétrica naquele bairro. Não está ainda gramado pois não houve tempo
para a grama crescer, visto que a presente obra foi concluída em tempo
recorde, já que foi iniciada em 16 de julho p. passado e nesta época não
chove em Cáceres, o que prejudicou bastante o cultivo da grama.

Abrilhantando a inauguração, realizou-se o jogo entre as seleções de Po-


coné e de Cáceres. Com a palavra o mesmo jornal:

114
Dentro de pouco tempo chegará o ônibus trazendo a Delegação de fute-
bol de Poconé, composta de 41 pessoas, entre as quais 15 jogadores que
preliarão com o grupo de futebolistas de Cáceres, a partir das 15 horas
e 30 minutos, em jogo que deve atrair muitos torcedores, não só por ser
o dia do aniversário da cidade, também para assistir e aplaudir o futebol
que os atletas cacerenses e poconeanos vão apresentar no campo. O juiz
do jogo será o Sr. Paulo Athair Ribeiro e os bandeirinhas, Sigisfredo Mota
Muniz, mais conhecido como baiano e Alecto Luiz Garcia.

Na coluna “Sociedade” da mesma edição do Correio Cacerense pudemos


ler as seguintes informações sobre o patrono do Estádio:

Para que o leitor tome conhecimento, acrescentamos a seguir alguns da-


dos sobre o sargento Luiz Geraldo da Silva, patrono do Estádio de futebol
construído pela Municipalidade, que hoje será entregue aos desportistas
cacerenses: Luiz foi incorporado em 23 de janeiro de 1939 à 2ª Compa-
nhia de Fronteira, atual 2º Batalhão de Fronteira. Serviu na 4ª Companhia
em Casalvasco e foi promovido a cabo em março de 1940. Em 11 de feve-
reiro de 1942, já se revelando um grande desportista, recebeu as divisas
de sargento. Em 21 de julho de 1944, foi desligado do 2º B. Fron por ter
sido transferido para a FEB – Força Expedicionária Brasileira – sendo,
posteriormente, enviado para Itália com o 11º RI. Faleceu em combate
na localidade de Lazzari, no dia 28 de março de 1945.

115
Estudiosos da Beleza
(No Jubileu de Diamante da Academia Mato-Grossense de Letras)

Completa, neste dia 07 de setembro, a Academia Mato-Grossense de Le-


tras, setenta e cinco anos de existência, e comemora, solenemente, o seu Jubileu
de Diamante.
Para D. Aquino Corrêa, fundador e um dos maiores incentivadores da
Instituição Acadêmica, surgiu esta “como uma das mais alvissareiras florações
da primavera intelectual que agita o espírito da moderna geração mato-gros-
sense”. Aos representantes dessa mocidade pensante, interessados no culto às
belas letras e às tradições de nossa terra, chamou-se o inolvidável Arcebispo,
“Estudiosos da Beleza”, pensamento luminoso, que constitui a legenda do Bra-
são da Casa de Leverger.
As gerações sucederam. Mudaram-se os tempos e o modo de pensar. Mas
o objetivo da Academia Mato-grossense de Letras, continua o mesmo: a busca
do Belo.
No princípio, era o Belo nas letras: a procura do melhor na expressão
oral e escrita; o cultivo da forma e fundo da obra literária, com preferência,
no desenvolvimento deste, aos temas regionais, visando à formação de uma
literatura mato-grossense.
Ora, o Belo, que se funde no Bem, é a suprema aspiração do homem. Um
dos meios de atingi-lo seria, pois, exercitar-se o estudioso na arte de exprimir
as suas ideias, através da palavra, a partir do meio-ambiente de que faz parte,
no patriótico empenho de elevar e tornar conhecida a nossa cultura.
Adaptando-se às mudanças que ocorrem na sociedade humana, a Aca-
demia vem abrindo as portas aos valores humanos dos diversos ramos do
conhecimento. Dinamizam a Instituição pensadores de variados matizes, todos
fiéis ao princípio que a fundamentou – o culto do Belo.

116
Nessa linha de ação, poderemos ver ainda a Academia inspirando a criação
de Centros Regionais de Letras. Ligados a ela, nos municípios-polos do Esta-
do, como Cáceres, para que a luz que dimana da Entidade inspiradora atinja
diretamente a intelectualidade desta vasta e populosa região.
Cáceres é hoje sede da Universidade de Mato Grosso, com ramificações
em vários outros municípios. Conta com uma Fundação Cultural, muitos edu-
candários de 1º e 2º graus, e elevado número de professores, além de sediar um
povo constituído de pessoas oriundas de muitos Estados da Federação.
Viva está a atuante a Academia Mato-grossense de Letras nos seus setenta
e cinco anos de vida. Graças ao trabalho e idealismo dos fundadores e dos que a
conduziram com firmeza até aos nossos dias, conquistou a Instituição Literária
solidez diamantina, brilhando, com as suas congêneres, no cenário nacional.

117
Nilo Ferreira Mendes

Morreu como havia vivido: calma e corajosamente. Durante sua enfermida-


de jamais sentiu desânimo; tinha sempre planos para continuar a viver. O traba-
lho era o eixo em torno do qual girava a sua vida simples, dedicada ao ofício que
abraçou desde moço. Sua existência tinha muito de semelhança com esses rios
de planície, bordados de meandros que, com as cheias comunica-lhes fertilidade.
Caríssimo tio: Hoje não mais nos pertence. Teu corpo, cuja presença amiga
confortava, entregue à terra, cumpre já a Lei Divina: “És pó em pó te tornarás”,
mas tua alma, aquele sopro de vida que te animava o ser, que punha sorrisos
em teus lábios a luz em teus olhos, essa, regressou à Fonte Suprema. Tragou-te
a morte, é bem verdade, mas através da filosofia cristã, divisamos-te em alguma
parte. A morte não será o fim de tudo. O amor é um sentimento forte que deve
ultrapassar a morte: sua expressão mais alta estará do outro lado do tumulo.
Quem sabe que miragens haverá ao se abrirem os olhos do espírito quando se
fecham os do corpo?!
Como concha do mar, no dizer do poeta, conserva a ressonância do Ocea-
no distante. A fé, a esperança, o amor, em nossos corações, são ressonâncias
sutis da Eternidade – esse mar infindável a que vão ter todos os cursos d’água
que somos nós os mortais. O livro da tua vida está encerrado; a morte foi o seu
epílogo. Em nossos corações nasceu uma flor de sutil aroma merencório: é a
flor roxa da saudade. Ela aqui está para com seu perfume nos lembrar sempre
o ente querido que partiu enquanto, no Cemitério, no local onde teus restos
mortais com a terra se misturam, uma cruz – símbolo da Fé – nos relembra o
grande, sublime mistério da Redenção. E, em segredo , no mais íntimo do nosso
ser, uma voz parece sussurrar: “não deploreis a matéria que aqui se transforma.
Olhai o céu. Um dia Deus unirá novamente o espírito com o corpo já purificado
pela metamorfose da morte”. Adeus! Caro tio. Descansa na paz de Deus.

118
O bocejo escolar

Quantas vezes nos aborrecemos, na aula, com um discípulo, que abre a


boca num bocejo. Nem sempre, porém o bocejo significa falta de atenção ou
preguiça mental do aluno, muitas vezes é errado repreender o escolar por esse
ato espasmódico espontâneo, durante uma aula. A questão é o discípulo abrir
a boca com os cuidados exigidos, pelos bons costumes.
O fenômeno do bocejo é ainda mal conhecido através das suas múltiplas
manifestações, e as obras de fisiologia definem-no “como um ato respiratório,
de produção reflexa e acompanhado de contração de diversos músculos da face
o que teria por função aumentar a oxigenação do sangue”. Em geral bocejamos
por fadiga, tédio, sono ou quando temos fome. O bocejo muitas vezes provoca a
emissão de lágrimas. Curioso é notar que este fenômeno é contagioso. Por quê?
Talvez pela sensação de torpor que provoca em nós o bocejar de outra pessoa.
Dumpert, fisiologista alemão, compreende o bocejo “como parte de um
reflexo mais geral o reflexo de espreguiçamento, que tem por função facilitar a
circulação sanguínea no corpo e especialmente no cérebro”. Portanto, bocejar,
fenômeno que, à primeira vista, nos parece insignificante e sem expressão em
nossa vida, à luz das pesquisas e observações dos estudiosos, assume interes-
sante importância, digna da atenção especialmente dos educadores. Na aula,
quando uma criança boceja repetidas vezes, quem poderá avaliar a luta que se
desenrola naquele ente para vencer as sensações que provocam esse fenômeno!
Talvez a aridez da matéria, a hora em que se realiza a aula, o tempo em que está
sentado numa só atitude, cerceado pela disciplina imposta à classe, excitem no
instruindo o tédio que por sua vez incita o bocejo com a vontade de espreguiçar.
Dumpest afirma que o bocejo e o espreguiçamento se realizam sempre juntos:
um provoca o outro. Entretanto a vontade humana exerce influência sobre eles,
advindo daí a dissociação: por isso há bocejo sem espreguiçamento e vice-versa.

119
Reabertura das aulas

Março, mês do reinício das aulas. Amanhã, a cidade amanhecerá colorida


dos uniformes das nossas escolas. Bandos álacres de crianças e jovens estarão
a caminho dos colégios. Vão buscar o alimento do espírito, os conhecimentos
da vida e para a vida. Crianças do jardim da Infância e o dos Cursos Médios
– ginásio, científico, normal e comercial: Eia, estudantes! Achegai-vos às es-
colas: alimentai-vos do saber. Se, antigamente, escola queria dizer descanse,
o que se faz na hora do descanso, pois, o estudo era então ocupação de quem
não precisava trabalhar, hoje, escola é obrigação para todos, é necessário e é
formação para a vida que, dia a dia, se torna mais complexa e mais exigente,
mormente na parte intelectual. Março é a aurora de um novo ano letivo. Ele
vem alegre, cheio de vida, de esperança e colorido! A vós, estudante de todas
as idades, lutadores para a vida, queremos dizer: Bons estudos! E a vós, pro-
fessores e professoras, que instruis e orientais, as nossas confraternizações e
nosso respeito pelo vosso trabalho.

120
Momentos de fé

Vivíamos o ano de 1951. A 10 de março, chegava a Cáceres a imagem


peregrina de Nossa Senhora do Carmo. O jornal A Razão, ainda circulando
na cidade, registrou, para a posteridade, o acontecimento religioso, nos termos
seguintes:

Na tarde de 10 do corrente (março de 1951), a população católica de


Cáceres teve a honra insígne de receber a visita da imagem peregrina
de Nossa Senhora do Carmo. Dias antes já o mundo católico cacerense
havia ido ao aeroporto em visita à imagem da milagrosa Santa que estava
de passagem para o norte. Radiantes regressaram todos com a boa-nova
de que, na tarde de 10, aqui estaria novamente para passar a noite entre
os fiéis.
Assim, naquela tarde, uma verdadeira romaria, uma multidão como nun-
ca se viu em Cáceres, se deslocou para o campo (de aviação) e para a
frente do Convento dos Padres Franciscanos à espera da imagem da Vir-
gem milagrosa. Todos queriam vê-la, queriam carrega-la, queriam fazer
a sua prece, pedir a sua benção. Ali de formou, então, a maior procissão
que já assistimos e que, percorrendo as principais ruas da cidade, veio
até a Catedral, onde se realizou a bênção, tendo, em seguida, ocupado o
púlpito o Revmo. Frade Carmelita João Bosco Sombrio, que num sermão
arrebatador, concitou o povo cacerense à devoção à virgem do Carmo.
O Ver. Vigário, Frei Severino Rouquette, do altar onde celebrou a benção
dirigiu as suas palavras ao povo, dizendo da sua satisfação por aquela
visita e por aquela demonstração de crença e fé. Com eloquência, fala
aos fiéis o Frade Carmelita Eliseu Maria Gomes de Oliveira, mantendo

121
aquela enorme assistência na mais rigorosa atenção. Durante toda a noite
a Matriz ficou aberta e o fiéis lá ficaram também, até pela manhã seguinte,
muito cedo, quando, com o mesmo esplendor, foi o andor levado, como
trazido fora, pelas Filhas de Maria.
Da caravana religiosa faziam parte os Reverendos Frades Carmelitas João
Bosco Sombrio, Eliseu Maria Gomes de Oliveira, Irmão Estanislao de
Assunção e o repórter, Sr. Miguel Cacho. A cidade e o povo – concluiu
o jornal A Razão – guardarão sempre na lembrança a honrosa visita que
receberam da imagem da Peregrina Virgem do Carmo”.

Fonte: Jornal A Razão de 21/03/1951, Cáceres-MT.

122
Bodas da Missão Franciscana

Em 1931, a 6 de janeiro, a Missão Franciscana comemorava, nesta cida-


de, o 25º aniversário de sua presença em Mato Grosso. O jornal da época – A
Razão – edição de 10/01/931, assim nos fala do evento:

Missão Franciscana – suas bodas de prata. No ano próximo passado,


fez exatamente 25 anos que o Revmos. Padres da Ordem Terceira Re-
gular de S. Francisco vieram estabelecer-se em nosso Estado, graças às
instâncias do Arcebispo D. Carlos Luiz D’Amour, de saudosa memória.
Primitivamente dirigiram o Seminário Episcopal de Cuiabá e tiveram a
seu cargo a administração paroquial da Freguesia da Sé e das que ficam
mais próximas da capital. Posteriormente também foram colocados à
frente dos destinos espirituais das paróquias que hoje formam a vasta
e futurosa Diocese de Cáceres. Com o justo fim de comemorar com
seus irmãos de hábito as bodas de prata da Missão Franciscana, aba-
lou-se da Europa e esteve entre nós durante três meses, que passaram
muito rapidamente, o Revmo. Padre Frei João Luiz Bourdoux, dignís-
simo superior da Ordem e um dos valorosos pioneiros da benemérita
Missão Franciscana. O dia 6 do corrente (janeiro de 1931), festa da
Epifania, foi o escolhido pelos Padres Franciscanos para solenemente
testemunharem a seu respeitável superior geral toda a gratidão pelo
sacrifício que fez, vindo de tão longe e sujeitando-se a toda sorte de
incômodos, com o objetivo de passar entre eles as festas jubilares. No
referido dia 6, às 10 horas da manhã, pelas dependências do colégio
de S. Francisco, a convite do Reverendo Frei Ambrósio, se agrupavam
os amigos e admiradores dos Padres Franciscanos. Passaram todos em

123
dado momento ao pátio de recreio e do respectivo alpendre assistiram
a vários números de ginástica sueca, executados com habilidade pelo
Batalhão Infantil Desportivo Cacerense, dirigido pelo Reverendo Frei
Salvador Rouquette (ortografia atualizada).

Após a ginástica, prossegue o referido periódico, realizou-se o almoço


que a comunidade ofereceu ao Padre João Luiz Bourdoux. À sobremesa usa-
ram da palavra os doutores Costa Marques, Gabriel Pinto de Arruda e Frei
Ambrósio Daydé. Na ocasião foi inaugurado o retrato do Bispo D. Luiz Maria
Galibert, oferecido pelo Sr. João Francisco de Oliveira. A festa foi animada
pela banda de música “Lira Cacerense”. Em nome do Batalhão Infantil do
Colégio falou estudante Hélio Esteves. Mais de setenta anos de relevantes
serviços prestou a Ordem Terceira Regular de São Francisco a Cáceres nos
campos religiosos, da educação, saúde e social. Da sua grei saíram os dois
primeiros bispos da Diocese de São Luiz de Cáceres: Dom Luiz Maria Galibert
e Dom Máximo Biennés.

124
A primeira igreja

No ano seguinte ao da fundação de Cáceres, Luiz de Albuquerque, Gover-


nador da Capitania de Mato Grosso, já tomava providências para a criação da
paróquia da nova povoação por ele fundada, Vila Maria, e a vinda do respectivo
pároco. Em carta dirigida à secretaria do Reino, Martinho de Mello e Castro,
datada de 25 de dezembro de 1779, de Vila Bela, Albuquerque fala da neces-
sidade de se erigir em paróquia a recém-criada Vila Maria, “tanto para mais
respeitosa memoria, e profundo obséquio do Augusto Nome da Rainha Nossa
Senhora”, como para facilitar “a mais frequente administração dos sacramentos
da Igreja, de que até aqui não participavam, que raríssimas vezes”. Na mesma
carta o Governador dá notícia ao Secretário do Reino de já ter chegado à Vila
Maria o pároco, que lhe fora destinado, “apesar de não pequenas dificuldades
que se opuseram”19.
Portanto, em 1779, Vila Maria já havia sido constituída em paróquia e
dispunha do respectivo pároco. Quando teria sido erguida a primeira Igreja
de Cáceres? A Câmara Municipal, de 1862, nos dá uma luz a respeito, através
do relatório ao Governo da Província, onde pleiteia recursos para a construção
de uma igreja que sirva para matriz da paróquia de Vila Maria “porque – diz o
relator – a capela onde se celebram os ofícios divinos depõe contra o aumento
e prosperidade deste Munícipio”, argumentando que o referido templo “foi
edificado por um homem particular no ano de 1815, que limitou a construir
o quanto bastasse para acomodar uma porção de índios chiquitanos e seus
oriundos emigrados, formando nesta localidade uma aldeia ou colônia”.

19 Universidade Federal de Mato Grosso. Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional/


NDHIR. Publicação comemorativa do 2º centenário de fundação de Cáceres, 1978.

125
O distrito de Vila Maria, nesse ano de 1862. Já se emancipara como muni-
cípio, graças ao desenvolvimento da sua economia ocasionado principalmente
pela navegação fluvial, e precisava de maior expressão física da sua religiosidade
e espaço para o culto. A capela construída em 1815, seria a mesma igrejinha
que Hercules Florence, desenhista da expedição Langsdorff, encontrou em Vila
Maria, quando por aqui passou, no ano de 1827, povoado que assim descre-
veu sucintamente “Um renque de casas, em mau estado, de cada lado de uma
grande praça, uma igrejinha sob a invocação de São Luiz de França, muros de
separação por trás das casas, eis tudo”20.
Humilde de início a igrejinha de 1815 foi-se transformando com a cidade,
tornando-se matriz, e está catedral, com a criação da Diocese de São Luiz de
Cáceres, no ano de 1910. Em 1919, foi lançada a pedra fundamental no mo-
numento Catedral de São Luiz, inaugurada em 1965. (Ortografia atualizada
nas citações).

20 Hercules Florence. Viagem fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829. Trad. Visconde de Taunay,
SP: Cultrix; Edusp, 1977, p. 137.

126
Festa de São Benedito

Junho de 1919. São Luiz de Cáceres prepara-se para realizar uma de suas
maiores, mais belas e concorridas festas tradicionais – a de São Benedito. A
pacata cidade agita-se. Habitantes dos sítios e fazendas já estão chegando para
festejar o Santo Milagroso. O movimento é grande e a alegria do povo, conta-
giante.
Pela manhã do dia 1º de junho, O Combate, jornal da terra, publica o
respectivo convite, nestes termos:

Como festeiros do Glorioso São Benedito, no corrente ano, apraz-nos


convidar a população desta cidade para os atos da festa que serão cele-
brados na Igreja Matriz e na residência do Exmo. Sr. Major Pedro Ale-
xandrino Pinheiro de Lacerda, à praça Barão do Rio Branco nº 10, a
começar no dia 22 de junho.

No convite, já o apelo à população para colaborar pelo bom êxito das


festas: “Outrossim, aproveitando a oportunidade, vos pedem a fineza de uma
prenda para auxílio e bom êxito do seu desideratum, agradecendo em nome
do Glorioso São Benedito, desde já, o comparecimento e a oferta de cada um”.
Assinam o convite, que é do dia 17/06/919, a Sra. Maria Suzana Marques e o
Sr. Adolpho Frederico Josetti.
Segue-se o programa da festa nestes termos:
1. Posse dos novos festeiros, no dia 22, às 8 horas da manhã.
2. Esmolas no dia 23,24 e 25 – itinerário de costume.
3. Leilão de prendas, no dia 26, às 7 horas da noite.
4. Missas na madrugada de 26,27 e 28.

127
5. Iluminação, na noite do dia 28.
6. Missa Pontifical, no dia 29, às 8 horas da manhã.
7. Procissão, na tarde deste último dia.
8. Baile, no dia 29 à noite.
9. Cavalhada, no dia 1º, às 12 horas”.

Eram nada menos de 15 dias de grande azáfama na cidade, se somarem à


novena dos festejos propriamente ditos, os dias de preparativos, que já cons-
tituíam uma festa para o povo da longínqua e isolada São Luiz de Cáceres, da
segunda década do presente século.

128
Lira cacerense

Atendendo às necessidades culturais do povo, o Intendente-Geral do então


município de São Luiz de Cáceres, Sr. João Albuquerque Nunes, percebendo as
dificuldades financeiras por que passava, na ocasião, a única banda de música
existente na cidade, solicita à Câmara Municipal, através do seu relatório de 5
de novembro de 1922, um auxílio para o conjunto musical cacerense, justifi-
cando o pedido da forma seguinte:

Lira Cacerense – Sob este nome é conhecida a única fanfarra que te-
mos. Foi organizada e está hoje mantida por iniciativa e às expensas de
particulares, entretanto, não se pode negar que seja uma necessidade
pública, entre qualquer povo com títulos de civilizados, tornando-se-lhe
parte integrante. Apesar dos ingentes esforços dos diretores, percebe-se
que essa organização vai em decadência certamente assoberbada por
consequência da crise geral que atravessamos. Julgo ser um dever da Mu-
nicipalidade auxiliar a iniciativa e esforços dos particulares para manter
essa agremiação de músicos, a exemplo do que fazem outras municipa-
lidades, por exemplo a de Corumbá, que despende anualmente cerca
de 10:000$000 em subvenção à Banda de Música, mediante obrigações
prefixadas em contrato. É certo entre as prosperidades e arrecadações
dos Municípios de Cáceres a Corumbá não há termo de comparação,
porém, à medida das nossas forças, acho justo que se vote uma subvenção
à Banda de Música e, se pensais deste modo, deveis fixar e incluir no
orçamento a verba necessária, estabelecendo as condições e obrigações
recíprocas (ortografia atualizada).

129
Até 1909, Cáceres contou com a banda de música de 19º Batalhão de
Infantaria, que aqui esteve sediado muitas décadas no nosso passado. Com a
retirada desta Corporação Militar, a cidade passou a contar apenas com con-
juntos musicais civis, periódicos. Daí a preocupação do nosso Intendente em
preservar a abalada filarmônica.
Cáceres passou a ter novamente uma banda de música militar a partir de
1940, com a formação do 2º Batalhão de Fronteira. Nessa década (anos qua-
renta) ficaram célebres as retretas, às quintas-feiras e domingos, que a Banda
de Música do 2º B/Fron realizava no jardim público da praça Barão do Rio
Branco, com os animados bailes populares, que se improvisavam, na área cal-
çada em torno do respectivo Coreto, cuja réplica se encontra hoje na praça da
Cavalhada.

130
Soirée musical

Estampa o jornal da terra – Fronteira – de 21 de julho de 1935, um con-


vite ao povo para uma soirée musical em benefício dos pobres de São Luís, a
realizar-se, na mesma data, no salão nobre do edifício do Governo Municipal,
a partir das 19 horas e 30 minutos, cujo programa constava de duas partes. A
primeira, com oito números e a segunda, com dez números. Do sarau, diz a
Folha, participam, ao piano, as senhoras Carolina Dulce, Yolanda de Pinho e
Joaninha F. Carstene e senhoritas Maria Ambrósio, Edith P. de Arruda, Alayde
P. de Arruda, Vera P. de Arruda, Irene Pinto de Arruda, Nilza e Guimar Curvo,
Diana e Juno Motta, e ao violino, o professor Georges Pommot. O concerto,
segundo o mesmo jornal, termina com um grandioso baile.
E uma nota importante: “Pede-se às distintas famílias o favor de manda-
rem levar suas cadeiras”.

131
Famílias21
(Em que se fala da beleza da mulher cacerense)

Com a chegada dos fios telegráficos do Marechal Rondon a Cáceres, mui-


tos funcionários da Repartição Geral dos Telégrafos para cá vieram, a partir do
primeiro telegrafista da Estação, inaugurada em 1906, Sr. Frutuoso Mendes.
Dentre eles, o Sr. Alípio Rodrigues Moreira.
O ilustre Confrade da Academia Mato-Grossense de Letras, seu atual Pre-
sidente, Dr. João Alberto Novis Gomes Monteiro, Casado com uma das netas
do Sr. Alípio Rodrigues Moreira, atento à história de Cáceres, terra natal de sua
esposa, deu-nos inestimáveis informações sobre a família de sua Exma. Con-
sorte. Assim, pudemos resgatar uma página de nossa vida social, considerando
que a família foi e deverá continuar sendo a base da sociedade.
Informa-nos o Dr. Alberto Novis Gomes Monteiro que o avô de sua senho-
ra, o poconeano Alípio Rodrigues Moreira, depois de ter servido em diversas
cidades no sul de Mato Grosso, chegou a Cáceres em 1930, para desempenhar
as funções de Chefe do Telégrafo. Com ele estavam a esposa Rosa, e os filhos,
do primeiro casamento, Alípio (Jr) e José (gêmeos), então com 11 anos, e An-
gelina. Esta acompanhada do marido, João Henrique de Miranda, funcionário
do Serviço de Proteção aos Índios, e dois filhos nascidos em Aquidauana: Jacy,
com 3 anos, e Hermes, com 1 ano. Hermes viria a falecer em Cáceres, ainda na
primeira infância, vítima de difteria. A primeira esposa de Alípio, falecida em
1921, em Cuiabá, foi Alice Penteado Bastos, filha de André Bastos e Angelina
Penteado Bastos. Do Casamento de Alírio com Alice nasceram: Angelina – já
citada -, Eremita, Anita – que foi casada com o cacerense José Estevão de Fi-
gueiredo Filho (Bugre) – e aqueles gêmeos Alípio (Jr.) e José.

21 Publicado no Jornal Diário de Cuiabá. Opinião A3. Cuiabá, 14/5/1999.

132
João de Miranda, o genro, era irmão da segunda esposa de Alípio, por-
tanto cunhado deste, também, razão pela qual sempre o acompanhava – o que
era facilitado pelo fato de o Telégrafo e o Serviço de Índios terem, na época,
muita afinidade por estarem sob a direção de Rondon e sua brava gente. Em
1935, Alírio Rodrigues Moreira foi transferido para o Rio de Janeiro, Angelina
e família, porém, ficaram em Cáceres. João Henrique de Miranda deixou o
Serviço Público e se estabeleceu com comércio, mantendo também, na zona
rural, a propriedade denominada “Brejão”, terras requeridas ao Estado. No sítio
produzia principalmente porcos, que eram vendidos na cidade. Em Cáceres,
onde João e Angelina moraram à rua 15 de novembro, esquina com a Volun-
tários da Pátria, nasceram-lhes os filhos: Odilza, Pery, Darcy, Miracy, Adiles
e Nilza. Em 1941, o casal mudou-se para Corumbá com os filhos, Jacy, a pri-
mogênita, já mocinha nos seus 14 anos e, em outro extremo, Nilza, a caçula,
com poucos meses, hoje esposa do nosso informante, Dr. João Alberto Novis
Gomes Monteiro. “As filhas de João e Angelina levaram para Corumbá, com
muito merecimento, a fama de beleza da mulher cacerense. Foram crescendo e
encantando os homens aos quais se uniram e, ao lado destes, tiveram – a ainda
têm – muito destaque na sociedade de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”,
diz-nos Dr. João Alberto, acrescentando:

Assim, as belas cacerenses – as “Mirandas”, como eram chamadas em


Corumbá, com certa pontinha de despeito, pelas concorrentes casadoiras
locais, casaram-se: Odilza, com Antônio Pedro de Barros, médico, exem-
plar como cidadão e criatura humana, grande pecuarista em Corumbá;
Darcy, com Cássio Leite de Barros, advogado, abastado pecuarista, polí-
tico – último governador de Mato Grosso antes da divisão – foi, portanto,
Darcy primeira-dama do Estado; Darcy, com José Sebastião Cândia, ar-
quiteto, professor universitário, ex-prefeito de Corumbá, tendo sido então,
professor universitário, ex-prefeito de Corumbá, tendo sido então Miracy
primeira-dama da cidade Branca; Adiles, com Enéas Vinagre, oficial do
Exército que, reformado como Coronel e já diplomado em Administração
de Empresas, exerceu o cargo de diretor da Mineração Urucum.

133
A caçula, Nilza, casou-se com o médico, jornalista, escritor, Dr. João Al-
berto Novis Gomes Monteiro, membro da Academia Mato-Grossense de Letras
e seu atual presidente. Embora sua esposa só tenha voltado a Cáceres em 1984,
Diz-nos Dr. João Alberto:

É interessante observar que, tanto Nilza quanto seus outros irmãos


cacerenses, sempre manifestaram muito orgulho pela terra onde
nasceram”. Como ilustração, narra-nos o seguinte fato ocorrido em Cam-
po Grande, há poucos anos. “Eu já era presidente da nossa Academia
de Letras e fui convidado pelo saudoso, então presidente da Academia
Sul-Mato-grossense de Letras, Elpídio Reis, para uma reunião vespertina,
na qual estiveram presentes muitos acadêmicos, com seus familiares, e
outros importantes convidados. Compareci com minha esposa. Todos os
participantes, ao falarem, dirigiam-se a mim reverenciando o presidente
da vetusta Academia Mato-grossense de Letras e citavam a presença da
minha mulher. Chegando a sua vez, o acadêmico Couto Pontes, um dos
mais ilustres daquele Sodalício, em sua saudação registrou a presença da
minha esposa exaltando-a como ‘digna representante da mulher cuia-
bana’, Incontinenti a Nilza, pedindo licença, corrigiu: ‘Cuiabana’, não,
cacerense’. Por isto, recebeu os aplausos do orador e de todos os presentes.

134
Apoteose

Cáceres nunca assim se agitou, nunca assim vibrou, engalanada de flores


e de luz. Três dias magníficos, maravilhosos; dias de céus serenos e de bastante
luz; dias em que conosco esteve concretizada numa obra de arte e de inspiração
divina, a mais terna, a mais doce, a mais carinhosa dentre os santos e anjos
– Maria Santíssima – Mãe de Jesus, e, por concessão divina, nossa mãe. Oh,
sublimidade! Se a vista da imagem da Virgem Peregrina, obra de um mortal,
de um artista, é certo, já tanto cativa através daquele gesto angélico que, num
momento feliz e oportuno, o autor fixou na madeira bruta, que diríamos da
visão real da Virgem?! Gloriosa pelos seus méritos, Ela é a luz do céu, a meigui-
ce, a intercessora atenta. Seu coração não cansa de amar os homens, mas nós,
filhos pródigos, estamos sempre a afastar-nos da casa paterna para dissipar as
nossas riquezas herdadas do céu. E Ela, a Mãe vigilante, não perde a esperança;
Ela, - a fonte inesgotável dessa linfa misteriosa e confortadora.
E agora, sentindo seu amor aos humanos transbordar, com pena de nos-
sas misérias, manda sua Imagem, onde colocou um pingo da sua luz, correr
mundo, a fim de que seja vista pelos povos da terra, para que os homens se
recordem que seu coração é a fonte da Paz. Basta que O procuremos, - nós que
ansiosos buscamos a felicidade. Mas, como fazê-lo? Rezando. Sim, elevando
o pensamento – essa faculdade divina do homem – para Deus, adorando-O
na plenitude do poder humano, acendendo no peito o fogo sagrado da fé, que
há de purificar o nosso corpo e a nossa alma, queimando o veneno produzido
pelas nossas misérias e torpezas.
Três dias grandes viveu Cáceres, dias de imaginável repercussão futura.
Muita gente chorava ao despedir-se da linda Imagem da Virgem. Não é para
menos; passaram tão felizes esses dias, felizes porque rezaram muito, porque

135
estavam unidos com Maria. Sua Imagem foi para outros povos, mas Ela, que na
sua glória se não limita a um ponto só, continua conosco e com todos os povos
da terra. Ela estará onde quer que queiramos; basta que armemos o altar imagi-
nário da nossa devoção e A coloquemos sobre ele. Ali, Ela estará na sua glória,
toda bondade e ternura, atenta às nossas necessidades, pronta a inundar-nos de
graças de benefícios e de Paz – o bálsamo do coração. Se queremos tê-la mais
concreta, vamos a Igreja, ali está Ela esculpida nas imagens: qualquer intenção
que tivermos, pensando n’Ela, será acatada e anotada no Livro de estrelas.
Virgem Santíssima, reina sobre Cáceres e sobre os nossos corações.

136
Voar, velho sonho da humanidade

Um dos grandes sonhos da humanidade, durante muitos séculos, foi sem


dúvida, voar. Deixar o solo a que parecia preso, e elevar-se no espaço infinito,
onde as aves descrevem graciosas evoluções, constituía a mais alta espiração do
homem. As lendas provam que a vontade de voar vem de muito longe, sempre
inspirada, naturalmente, pelo voo dos pássaros. Umas das mais interessantes
é a lenda grega, segundo a qual Dédalo e seu filho Ícaro, fugiram da prisão
utilizando-se de asas pacientemente fabricadas de penas de aves, por Dédalo.
Ícaro contrariando os conselhos de seu pai, subiu mais alto do que podia, e
rompendo-se-lhe as asas, caiu no mar Egeu.
O sonho porém, persistiu. A humanidade guardou-o no escrínio das
suas mais altas ambições. Séculos depois, encontraram-se entre os desenhos
de Leonardo da Vinci, esboços e cálculos de um aparelho voador. O voo,
contudo, continuava sendo o dom dos pássaros, somente. Com o apareci-
mento dos balões, entretanto, raiaram para o homem novas esperanças. Já era
possível erguer-se no ar, subir a grande altura, mas quão longe estava ainda
de se imitarem as aves nas suas evoluções! O aeronauta, no espaço, ficava à
mercê das correntes aéreas.
Santos Dumont, nosso heroico patrício, um dia, quando ainda jovem pen-
sou que seria possível dar direção aos balões: pensou e quis. E, como “querer
é poder”, partiu para a França onde conseguiu concretizar o seu ideal. Partiu
para a França onde conseguiu concretizar o seu ideal com sucessivos voos, em
aparelhos por ele mesmo construídos.
Vieram depois os primeiros aeroplanos, que em poucos anos se trans-
formaram, pelo engenho humano, nos modernos aviões que cruzam os céus
do Brasil e do mundo inteiro, semelhantes a gigantescas águias, impávidos,
serenos, aproximando nações, unindo indivíduos, tornando o mundo menor.

137
As nossas homenagens, portanto, à Cruzeiro do Sul Ltda, que, neste mês,
completa 25 anos de serviços prestados ao Brasil. A ela, a pioneira dos serviços
aéreos, a que primeiro atingiu e beneficiou estes rincões mato-grossenses, as
nossas congratulações.

138
Frente ao túmulo

Os homens da Prefeitura Municipal baixaram o corpo inanimado da velhi-


nha à terra do Cemitério, restituindo ao pó o que lhe pertencia. Era uma anciã
que na miséria mais extrema vivera os seus últimos instantes de existência.
Felizmente, pessoas dedicadas a acudiram em tempo e lhe foi dado, pela Mu-
nicipalidade, uma rede, assim como algum recurso para atende-la no desfecho
do drama da sua vida: a Morte!
Morte! Esta palavra é título de um impenetrável mistério! Será ela uma
metamorfose?! Parece que a morte realiza um grande e nobre metamorfose:
primeiro há o desenlace; desliga-se a corrente que alimenta a vida, e o facho
da existência se apaga, como uma lâmpada da qual se desligou a corrente
elétrica. Então, o corpo se queda inanimado. Tudo se paralisa para jamais
reviver. Separou-se já a alma que é luz, do corpo que é matéria, buscando
cada um o seu ponto de origem. E a metamorfose se inicia desde o instante
em que a criatura deixou de viver. O corpo, sem a energia da alma, reduz-se
a uma porção de matéria inerte que, com o decorrer do tempo, se decompõe
e lentamente se vai desfazendo: é o seu regresso ao pó de onde saiu! Os anos
passam e o corpo pouco a pouco se dilui, misturando-se com a terra até que
ele, decomposto, se torna também terra. Entrementes, a outra parte que é
etérea, não baixa à terra como o corpo, mas busca as alturas, misturando-se
com a luz que lhe deu origem.
Neste ponto nosso pensamento desvanece. Os olhos não veem mais, a
meditação se limita. Chegamos ao ponto máximo em que podemos penetrar
neste mistério inacessível às criaturas humanas. A crença, porém, nos possi-
bilita ir mais longe, assim como o telescópio permite aos estudiosos do céu,
ver mundos que a olhos desarmados não veem. A Crença, alimentada pela Fé,

139
nos indica que essa Luz para onde sobe a alma após a morte, é Deus, o Ente
criador de tudo quanto existe. E ele, por um ato de sua vontade, fará, em tem-
po oportuno, o reenlace da matéria purificada e lúcida com o espírito, para
que as criaturas humanas continuem numa existência perene, de uma forma
que materialmente não podemos conceber. A metamorfose, neste ponto, se
completa: o ser espiritual material que é o homem aqui da terra, tornou-se
o ser sobrenatural, formado pelos elementos alma e corpo, mas este último
tão lúcido quanto a alma. A metamorfose é o filtro em que o corpo material
se converte em luz.
Cáceres-MT, 13 de março de 1951

140
Agonia luminosa de abril

Há 83 anos, pela coluna “Fitada Quinzena”, do Jornal Argos, de 26/04/1914,


que se editava nesta cidade, mavioso cronista, colaborador da extinta Folha,
sob o pseudônimo de Leo Gil, despedia-se do mês de abril daquele ano com
estes belos pensamentos:

Eis-nos testemunhando a doce agonia luminosa de abril. Envolto em sua


túnica talar de ouro e azul, emergindo pela manhã de um horizonte de
névoas e desaparecendo por entre a policromia crepuscular, vai gloriosa-
mente se eclipsando na curva do tempo o mês que os antigos consagra-
ram a Afrodite, homenageando assim a divindade mitológica do amor
e da fecundidade. Tiveram razão os nossos remotos ancestrais. Apesar
de neste hemisfério ser outoniço, abril entre nós bem corresponde à sua
derivação etimológica, pois, segundo um enciclopedista neste mês parece
a terra abrir o seu seio para nos franquear os seus tesouros. Verdade é
que nesta parte do planeta o outono e a primavera são realmente meros
períodos de transição entre as únicas estações características que temos,
a da “seca” e a das “águas”. E daí a similitude de ambas, que se rivalizam
em prodigalizar à terra não só os tesouros de que reza a enciclopédia,
como também grande soma de naturais encantos. Eis por que penaliza
a gente o esvaecimento dessa amena e clara estância, cujos derradeiros
dias como as contas de um rosário, vão caindo aos poucos e sumindo-se
lentamente no crepúsculo dos tempos. Fica-nos a esperança fagueira de
que a sua sucedânea, essa bela temporada de maio, festiva e álacre, que,
conquanto antigamente consagrada “às pessoas de idade provecta” é para
nós o mês das maiores festas e das tradicionais loucuras.

Cáceres-MT, abril de 1997.

141
Problema de linguagem... cósmica

Em edição de 1º de janeiro último, a Folha de S. Paulo, na seção “Cartas


à Redação”, abre o debate sobre a grafia do vocábulo, significando o clarão da
terra vista da lua: Teerar ou Terral?
Como o homem está em véspera de atingir a lua, o assunto é palpitante.
O missivista, que motivou a questão, Sr. Júlio Buttner (Capital), defende a
forma Terral (com L. Final), conforme já teve ocasião de usar em trabalhos
anteriores. Baseia-se ele no latim, onde se se empregava o sufixo ALIS quando
no substantivo original havia R; e, ARIS, nas palavras onde houvesse L. Ambos
os sufixos têm o mesmo sentido: indicaram qualidade nos adjetivos derivados
de substantivos.
M. Said Ali (Gramática Histórica) ensina que o latim tirou numerosos
adjetivos de substantivos com as terminações Alis e Aris, trocando-se Alis em
Aris, por dissimilação, quando havia um “L” prévio situado no radical. Passando
tais adjetivos ao Português – prossegue o gramático – fez-se distinção análoga
no emprego de AL e AR. Dessa maneira, dever-se-ia dizer TERRAL (com L.
final, pois no radical da palavra terra não tem L), como se diz LUAR (com R
final, por ter este vocábulo um L inicial). Mas, aceitará o povo (quem faz a
língua) a forma Terral? Ou, sob a ação da analogia com Luar, preferirá dizer
Terra para clarão da Terra visto da lua?
Agora, a imaginação: se habitantes houvesse na lua, que nome teria ali a
nossa Terra e o seu clarão? O futuro dirá a palavra final.

142
Ouvi estrelas

Temos ainda em mente os deliciosos versos de Bilac, nos quais o admirá-


vel poeta expressa os seus sentimentos para com as estrelas. A sua vasta obra
está pontilhada de manifestações líricas a respeito do céu e dos astros. Esta-
mos vendo noites e noites com os olhos fitos no espaço a contar estrelas ou
conversando com elas. Tão grande era a atração das estrelas que num de seus
maravilhosos sonetos confessa que “para ouvi-las, muita vez desperto/ E abro
a janela, pálido de espanto”.
O céu passou a ser seu amigo e confidente das alegrias e pesares que o
compelia a falar assim com os brilhantes habitantes do firmamento? Por que
tantas vezes despertava para ouvir as mensageiras celestes, suas amigas? E,
quando o sol se erguia, por que o Bardo “inda as procurava pelo céu deserto?”
Bilac era um inspirado Vate. No seu coração exuberante, como numa con-
cha acústica, devia sentir algo que os outros não percebiam: alguma radiação
sutil e misteriosa. Ondas que só poderiam provir de estrelas. O abismo cósmico
o provocava através de estranha manifestação e o poeta sentia, em alvoroço,
alma e coração. Seus arroubos vinham da grandiosidade do universo. Este,
tão grande, e o homem mal conhecendo a si mesmo e a sua origem, o seu fim.
Angustia que nos atinge a todos que pensamos e que nos maravilhamos com
as obras da criação. A grande esfinge celeste, que não fala, o atraía sugerindo a
contemplação, o estudo, a oração: “Ora (direis), ouvir estrelas! Certo perdeste
o senso!”
Não. Não eras louco ó poeta; vate, isto sim, eras tu. Já sentias, confusa-
mente embora, que os cientistas acabam de descobrir. Ouvias as estrelas através
do teu astro aprimorado e vivo. Hoje, a ciência, observadora e fria, constrói
poderosos ouvidos eletrônicos para... ouvir estrelas!

143
Sempre o mesmo ardor em busca da chave do grande enigma que alvoroça
a criatura humana. Atualmente é o espaço que nos preocupa. Talvez lá naquele
‘cofre aberto’ esteja a solução para alguns problemas que nos inquietam. Talvez
as estrelas agora nos digam alguma coisa.

144
Mãe

Mulher privilegiada, anjo tutelar das existências que se formam, és, Mãe, o
elo sagrado e único da transmissão da vida sobre a terra. Quando pensamos que
colaboras com Deus na obra perene da criação, achamos que verdadeiramente
é nobre a tua missão, grandioso o teu destino. Ao abrirmos os olhos ainda
inocentes e maravilhados para o mundo, o que primeiro vemos é a imagem
do devotamento e do amor ao nosso lado – a nossa mãe! Desde então fazemos
dela o eixo da nossa vida e achamos, na nossa ingenuidade, que a nossa Mãe
é o princípio e o fim de tudo e a ela nos apegamos e dela não nos queremos
afastar. Ela ocupa inteiramente o nosso coração e uma corrente harmoniosa
se forma entre dois polos – Mãe e filho – criando um campo propício ao de-
senvolvimento do novo ser.
Quanta sabedoria na Providência de Deus ao formar essa personagem
ideal que é uma boa mãe! Ela gera e nutre o corpo, plasmando a alma do ente
em formação, de modo que o homem de amanhã será o reflexo da educação
do berço materno. A maternidade sublima a mulher, tornando-a perspicaz e
sábia no seu mister sagrado. Dá-lhe coragem capaz dos maiores heroísmos.
Dá-lhe paciência e abnegação para suportar os maiores sacrifícios. Ela é toda
amor-dedicação. Está sempre dando de si sem esperar outra recompensa que a
de ver seu filho possuir a vida esse dom maravilhoso de Deus. Por isso, é delas
o dia de hoje – o dia das Mães! Que o senhor abençoe a todas, as Mães vivas,
junto de seus entes queridos; às mães que deixaram o mundo objetivo para
viverem no coração dos filhos.

145
Ascensão

Bethânia, arredores de Jerusalém. É o momento da despedida. Cristo vai-


se desta terra. Senhor da força de gravidade, sobe aos céus por seu próprio
poder, em presença dos fiéis amigos, os apóstolos, agora reduzidos a onze.
Emocionados, olham estes o espaço, na esperança de rever o Mestre. Embalde.
É preciso, agora, que se reúnam em Jerusalém, que ensejem coesos na oração.
Jesus não mais se revelará pela presença sensível. Ele se ligará aos humanos,
mais intimamente, pelo espírito da verdade, o qual esclarecerá o coração de
todo o homem de boa vontade, que espontaneamente o aceitar.
Cristo partiu, mas deixou com os homens, batendo-lhes às portas do cora-
ção, a cada pulsação deste o espírito de sabedoria e amor. Basta que lhe demos
entrada para que nos iluminemos e distingamos, no mundo perturbado de
hoje, a Verdade entre as vaidades.

146
Hosana ao filho de Davi

Para os que temos em Cristo o Mestre e Modelo, o dia de hoje – Domingo


de Ramos – é de grande significação. Jesus montando em um jumento, entrava
triunfalmente em Jerusalém, onde era aclamado como o filho de Davi, o en-
viado do Senhor. A multidão, que o precedia, aclamava-o espontaneamente,
erguendo ramos de árvores, e atapetando o caminho com seus próprios mantos.
Jesus, o Profeta, Jesus de Nazaré da Galileia fazia entrada, em triunfo, na
grande metrópole. Modestamente montava num jumento “filho do que levava
o jugo”. Sua missão redentora, passando pelo período de jugo, seria o caminho
para o futuro triunfo sobre o mal e a entrada definitiva na “nova Jerusalém”,
nossa pátria eterna.
O tempo passa e a obra de erguimento do homem continua. Nunca se fa-
lou tanto, como hoje, em tomada de posição, em reexame de nós mesmos, em
opção, fraternidade, compreensão entre os homens e necessidade de paz. Tudo
são apenas novas formas de exprimir os mesmos princípios imorredouros do
Cristo que veio transformar os corações, fazê-los íntegros, para que o homem
só produza boas obras. “Hosana ao Filho de Davi” – repetimos hoje. “Bendito
o que vem em nome do senhor”!

147
Poesia não morre

Diz-se que a nossa língua nasce cantando. Com efeito, as primeiras ma-
nifestações literárias em Portugal foram poesia, cultivada pelos travadores. Os
poetas cantavam os versos acompanhando-os aos instrumentos de música. A
arte trovadoresca originou-se no sul da França, onde era denominada ‘gaia
ciência’.
Estevão Cruz nos diz que a ‘gaia ciência’ era uma grande escola de fraterni-
dade. Dela participavam reis, príncipes, grandes senhores, cavaleiros e simples
filhos do povo “Trovar era cumprir uma missão civilizadora”.
Na poesia medieval predominava o lirismo de influência provençal, onde
a mulher era alvo dos mais belos e nobres sentimentos. Esse rico manancial
de poesia e canto não ficou condenado ao esquecimento. Em 1323, em Tolosa,
formou-se uma sociedade com o fim de proteger e incentivar a poesia lírica.
Cada ano, realizavam-se certames com prêmios aos vencedores. Como esses
prêmios eram constituídos de flores, a sociedade passou a ser conhecida como
academia dos Jogos Florais: verdadeiros torneios de músicas e de poesia. Mais
tarde, a poesia desligou-se da música e os jogos Florais tornaram-se certames
literários.
No Brasil, Friburgo foi o berço dos Jogos Florais, com concursos de trovas
que tem alcançado bom êxito. Em 1964, realizam-se na Guanabara os Jogos
Florais de Normalistas, patrocinados pela Secretária de Educação daquele Es-
tado, e no ano passado, em Conservatória, Estado do Rio de Janeiro, houve um
segundo Festival da Poesia e da Canção Popular. Um dos maiores incentivado-
res da arte trovadoresca no Brasil, atualmente, é o Sr. Luiz Otávio, presidente
do Grêmio Brasileiro de Trovadores da Guanabara.
Vemos, assim, que a poesia continua viva. O homem não deixará de poetar
porque a poesia é o sentimento jorrando em ritmo do coração.

148
Ave, Cuiabá

Vila Real do Senhor do Bom Jesus surgiste – incipiente arraial espraian-


do-se ladeira abaixo do Morro do Rosário, diante do histórico e lendário
córrego da prainha. O ouro, que ostentava à flor da terra, para ali atraiu Mi-
guel Sutil, orientado, como dizem as crônicas, por dois de seus índios que,
saindo à procura de mel, em vez do precioso alimento trouxeram pepitas
do cobiçado metal. A notícia do novo achado correu célebre e em breve a
povoação da Forquilha do Coxipó esvaziava-se e a sua gente demandava as
minas do Rosário.
Nascia assim a primeira povoação do futuro Mato Grosso: Cuiabá, berço
do povo mato-grossense; Cuiabá, a eleita, mais tarde, para Capital da Provín-
cia e do Estado; Cuiabá, o ponto de residência e contra-ataque aos invasores
paraguaios, donde partiu a força que retomou Corumbá – feito heroico de
Antônio Maria Coelho; Cuiabá, núcleo de desenvolvimento de toda a região
do norte do Estado. Não fora ao acaso a tua colocação bem no centro da Amé-
rica do Sul. Tinhas um destino e uma missão – servir de eixo de concentração
e de irradiação política, econômica e cultural. Teu nome está ligado ao rico
piscoso manancial que te banha as praias. Rio por onde subiram as monções,
conduzindo os audazes desbravadores do sertão, corações ávidos de outo. E tu,
Cuiabá, deste-lhes ouro em profusão.
Hoje, nos teus 250 anos bem vividos, tu sofreste uma grande metamorfose.
Já não és aquela Cuiabá à antiga, tradicional e pacata. Do teu solo erguem-se
edifícios tentaculares, destacando-se o teu palácio do governo como obra do
arrojo dos teus filhos.
Sobre Cuiabá poética e tradicional paira, majestosa e bela, a Cuiabá mo-
derna qual borboleta que sai, úmida ainda, do casulo, ensaiando o voo pela
amplidão do sol, da luz, de cores. A Cuiabá do passado está na História, nas

149
belas Crônicas e na candura da poesia de D. Aquino Corrêa, vate imortal da
terra Cuiabana.
Tu foste, e ainda és, ó Cidade Real do Senhor Bom Jesus, a Capital da Cul-
tura, ao lado de fortes concorrentes que te disputam a primazia. Ave, Cuiabá,
cidade-berço do povo mato-grossense.

150
Missa da juventude

Realizou-se domingo passado, dia 25, na Catedral de São Luís, a missa da


juventude cacerense, em ritmo moderno. A mocidade desta vez não esteve só
presente, mas participou do ofício religioso, lendo a epístola, as preces pelas
necessidades humanas, e, sobretudo, louvando ao Senhor através das músicas
mais cotadas no seio da gente nova. O ato impressionou-nos pela firmeza e
seriedade dos jovens. Eles corresponderam à confiança que as autoridades da
igreja neles depositaram. Confirmaram aquilo que pensamos dos moços: dan-
do-se-lhes oportunidade, demostram o que são e o que podem.
A igreja, nessa experiência, agiu como mãe atenta e carinhosa. Quis fazer
da casa um ambiente agradável, adaptado ao presente, acolhendo no seu âmbito
aquilo de que, no mundo, os jovens mais gostam – a música! A música que
lhes move a alma, produzida nos instrumentos da sua predileção. A música de
hoje, no compasso do tempo que vivemos e que traduz a linguagem da nova
geração. O importante é a comunicação com Deus. Se os jovens já não vibram
com o ritmo do passado, por que negar-lhes os do presente, apenas por respeito
à tradição e medo das mudanças exteriores?
A vida é marcha, é luta, são constantes mutações. Nem se pode dormir
sobre os louros das conquistas ontem realizadas, A religião, como a vida, é mo-
vimento, ação, comunicação com o Senhor do Universo. Ao homem compete
adorar o senhor por todos os meios de expressão de que dispuser. A Igreja são
os homens. Ela evolui com eles, sofre com eles e com eles luta para a sobrevi-
vência em Cristo, Nosso Senhor.

151
Maio, mês de Maria

No giro do tempo, desenrola-se o mês de maio, dedicado especialmente


a Maria, mãe inefável do Salvador dos homens. Preces enguem-se da terra,
fervorosas, para a Consoladora dos aflitos, aquela que, neste mundo, sofreu as
maiores aflições diante do sacrifício cruento do Filho adorado.
As igrejas regurgitam-se de flores e anjos. Flores da natureza para adorno
da imagem da primeira entre as mulheres. Anjinhos – flores humanas – para
coroarem a Rainha do Anjos. Tudo o que de mais belo temos, oferecemos
a Maria, porque é mulher e é mãe. Nela resumimos todas as mães terrenas,
porque, pela sua divina maternidade, aproximou o céu da terra, tornando-nos
participantes da grande obra redentora.
Maria, pela sua missão sagrada, pela humanidade santa, pela coragem
consciente e calma, elevou a condição de mulher, exaltou a maternidade. Atra-
vés dela se realizou o reatamento do céu com a terra. Por isso a chamamos
bem-aventurada. Todas as gerações a chamarão bem-aventurada. Maria é o
modelo das mães. Sua vida foi humildade, obediência, paciência e, sobretudo,
temor a Deus. A grandeza de Maria se confirmou naquele instante em que se
entregou à Providência Divina, dizendo: “Eis a escrava do senhor. Faça-se em
mim a sua vontade”.

152
Dia da Pátria
(No sesquicentenário da Independência)

Após uma programação de festividades, cuja abertura solene se deu no


dia 22 de abril do corrente ano, com o “Encontro Cívico Nacional”, celebramos,
hoje, o Dia da Pátria, por ser esta a data da nossa emancipação política.
Todo o amplo programa de festa cumprido durante o ano teve como es-
copo comemorar o Sesquicentenário da Independência do Brasil, com a maior
participação do povo que se une física e espiritualmente dentro de um Brasil
integrado e consciente da sua responsabilidade e do papel que tem a desem-
penhar no concerto das nações.
Aqui está, ainda por hoje, o Fogo Simbólico da Pátria, ardendo no coração
de Cáceres e no coração do Povo. Fogo que saiu dos quatro pontos extremos
do Brasil, passou por todas as cidades de Estado, Territórios, Distrito Federal e
Municípios ao longo das rotas e que aqui deixou uma centelha para entusiasmo
e dedicação do povo de um Município atalaia de fronteira. Civismo é arder
íntimo. Ardor é energia, chama. Daqui a pouco, o Fogo Simbólico da Pátria
será apagado na pira, mas ficará no peito de cada cacerense o ardor íntimo – o
amor à Pátria. O Fogo era um Símbolo. O patriotismo é uma realidade, uma
vivência, de trabalho sério, honesto e dedicado ao bem comum.
Cáceres está presente ao Sesquicentenário da Independência do Brasil.
Presente com o País todo, comemorando os 150 anos de nossa Independência,
bem como todos aqueles que trabalharam pela nossa emancipação política,
vultos inconfundíveis como Tiradentes, Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves
Lobo, Cairu. D. João VI e tantos outros, que a história conserva para a Glória
Pátria.
Confortador é o calor humano. Propulsora do progresso é a união em
torno dos sábios ideais. Feliz é o povo que se une para a construção de sua

153
própria Pátria. Esta Pátria que, como bem disse Rui Barbosa, não é de ninguém:
são todos. “Os que a servem são os que não invejam, os que não infamam, os
que não conspiram, os que não subelevam, os que não desalentam, os que não
emudecem, os que não acovardam, mas resistem, mas ensinam, mas esforçam-
se, mas participam, mas discute, mas praticam a admiração, o entusiasmo,
porque todos os sentimentos grandes são benignos e residem originariamente
no amor”.

154
Saudamos-te, Brasil!

No 148º ano da independência, saudamos-te, Brasil, ouvido o eco do bra-


do de “Independência ou Morte”! Brado que ecoou, em 1822, nas margens do
Ipiranga, e que se repete todos os anos como a lembrar-nos que a independên-
cia não é simples herança histórica. Ela precisa ser feita dia a dia, ano a ano,
geração a geração.
Nesta “Semana da Pátria” – vemos-te Brasil, em retrospecção descoberto
por Cabral, ensaiando teus primeiros passos pelo litoral. Cresceste e, audacio-
so, fizeste a grande investida do sertão – Brasil – bandeirante! Experimentaste
o Império, mas teu destino era a Republica. E agora, vemos-te todo voltado
para a integração nacional. Teu solo, antes deserto no interior, está-se bordan-
do de estradas. Deixas de ser a faixa litorânea para ser um todo – integração
nacional! E não é só. No mundo de hoje os países não podem isolar-se. E tu,
Brasil, cônscio disso, procuras unir teus esforços com os vizinhos para maior
prosperidade e independência da família latino-americana.
Aí estão as estradas nacionais de integração construídas e a construir. Aí
está o convênio a que se deu o nome de Alta do Rio Branco, e do qual sairá a
maior rodovia do continente – A marginal da Selva ou Bolivariana, cujo plano
audacioso empolga.
Tua produção cresce. Tua indústria de transformação toma vulto. Teu po-
tencial hidrelétrico faz figura entre os maiores do mundo. Tua cultura literária
e artística já repercutiu lá fora. E, no esporte és tricampeão de futebol. Tu te
transformas constantemente. É prova de que cresces.
Saudamos-te, Brasil novo, através da mocidade – fonte perene da juven-
tude da Pátria que não envelhece porque se renova a sua geração moça.
Cáceres, 7/9/970
SIDNEM

155
Salve, Bandeira do Brasil

A bandeira que simboliza a República do Brasil foi instruída por Decreto


nº 04 de 19 de novembro de 1889. Desde os tempos mais remotos, usou o ho-
mem representar os seus ideais, suas crenças, partidos ou família, dignidade
ou função, por meio de símbolos, dos quais fazia motivo de honra, de fé, de
respeito e de glória.
Cabral, empunhando a Bandeira da Ordem Militar de Cristo, descobre o
Brasil. É a primeira bandeira que a nossa Pátria vê. É o Lábaro que permanece
junto ao altar da primeira missa rezada em terras brasileiras, empunhado pelos
valorosos portugueses. Enquanto a nossa terra se povoa, desenvolve e se educa,
vive ela sob as insígnias da gloriosa Metrópole Lusitana. Mas aos poucos as co-
res nacionais vão-se acentuando e, em breve, o verde e o amarelo predominam,
insinuados pela verdura sem par das nossas florestas e pelo ouro!
O Brasil independente, com D. Pedro, conserva muito da influência Lusa
e a Bandeira ostenta ainda as armas portuguesas – a esfera armilar de ouro e
a Cruz da Ordem de Cristo. O destino do Brasil, todavia, não era a coroa. A
República lhe acenava de longe. Para ela marchou e com ela teve encontro na
manhã de 15 de novembro de 1889.
As ideias evoluem; evoluem os símbolos, mas não se esquece o passado. A
Bandeira republicana manteve os motivos tradicionais e, para mais fortemente
exprimir o ambiente nacional, foi nela retratado um trecho do céu brasileiro,
onde fulgem as estrelas representando os Estados da Federação. E, nesse pe-
dacinho do céu brilha a constelação do Cruzeiro do Sul, lembrando-nos que
ela, a Cruz de Cristo, é uma constante em nosso meio: viu nascer o Brasil no

156
estandarte de Cabral, manteve-se na bandeira do Império e permanece na
República recordando a origem cristã do nosso País.
A Bandeira é e será sempre o símbolo da união entre os homens da mes-
ma pátria, identificados pelos mesmos costumes, civilização e raça. Quando
ela, a Bandeira Nacional, se ergue ao topo do mastro, os cidadãos irmanam-se
e descobrem-se reverentes porque, segundo Renan, “o homem faz santidade
daquilo que crê, como a beleza daquilo que ama”.

157
O Brasil do nosso amor

Estamos em plena semana da Pátria. Estas comemorações são uma afir-


mação. E, o que afirmamos. O nosso patriotismo. Na juventude diz Bilac, pa-
triotismo é brilho, clarão, fervor, explosão natural da alma inocente, amor in-
considerado e espontâneo. Na maturidade, ele é o feito de reflexão e de certeza,
de carinho bem sentido e afeto bem pensado, de gratidão refletida e de amor
consciente. Nesta idade, o patriotismo alarga-se e aprofunda-se, ganha raízes
no sentimento e na inteligência, liberta-se das ideias errôneas e emancipa-se
de preconceitos. Podemos assim concluir que amamos a Pátria porque a co-
nhecemos. Amamo-la nas suas virtudes, nos seus sofrimentos, no seu grande,
nobre e inalterável desejo de ser pacífica, de seguir o aminho da verdade, de
vencer e prosperar pelo trabalho.
A vida dos grandes homens nos revela uma fonte fecunda de ensinamentos
e de advertências que nos levam a confiar mais no estudo, no trabalho persis-
tente, na busca constante de caminhos certos para o futuro e de compreensão
para o presente, conscientizando-se no valor do esforço próprio, do silencioso
batalhar, do devotamente cotidiano aos deveres de cidadão.
A Pátria, diz Coelho Neto – não é um somente o território; não basta
amar o céu e as arvores, os rios e as montanhas, as fontes que constituem por
assim dizer, o corpo, é preciso amar os homens, nas suas obras imortais que
constituem a História, que é a alma das nações.
Entre as figuras notáveis no Brasil, destaca-se José Bonifácio de Andrade e
Silva, sábio político, estadista, literato e poeta. E o que queremos aqui ressaltar
desse vulto extraordinário é a sua participação na nossa emancipação política
que lhe deu merecidamente o cognome de “Patriarca da Independência”. Como
bem diz o historiador Pedro Calmon, é preciso rever a caótica situação de 1821,

158
resolvida com o “Fico”, para se lhe atribuir a devida responsabilidade nesses
fatos decisivos.
As ideias dividiam-se profundamente. Três correntes, pelo menos, dis-
putavam a direção política: a republicana, mais popular, que empolgara a
juventude letrada; a retrógada, que timidamente procurava manter os laços
de união entre o Brasil e a Metrópole; e a monárquico-autonomista, que
se batia pela proclamação do Império, separado de Portugal, com o Prín-
cipe D. Pedro por imperador constitucional. A lógica nos acontecimentos
favorecia a primeira dessas tendências. Os sentimentos “franceses” da elite
pensante, o exemplo dos países hispano-americanos, a poderosa sugestão
do tempo, aconselhavam que se fizesse a República, mal deixasse o Brasil o
príncipe, submetido à vontade arbitrária das Cortes de Lisboa. Complica-
va-se o problema, porém, com a ordem social e a integridade do território.
Previa-se que, fundado o governo popular, imediatamente se desencadearia
a desordem, com as prevenções existentes entre as classes, e se fragmentaria
o Brasil, com as províncias independentes umas das outras, à semelhança das
colônias espanholas desagregadas com a guerra de emancipação. Já não era
possível, entretanto, conter o movimento da independência da Nação, que
amadurecera para a liberdade. Fracassariam todas as tentativas para recolo-
nizá-la. Mais conveniente, pois, para a conciliação ideal, era a transição com
a Monarquia, que tinha a vantagem de combinar a integridade do território
com a continuidade da ordem estabelecida.
Aqui, a participação providencial. José Bonifácio põe-se à frente desta últi-
ma ideia. Brasileiro entre os que mais amavam a Pátria, com prestígio suficiente
para revestir de autoridade oracular as suas opiniões, chefe do movimento civil
de São Paulo, orientou os votos de sua província para o apelo que demoveu o
Príncipe e assegurou ao jovem Bragança o apoio do espírito conservador do
País.
A solução monárquica da independência estava assim esboçada. Mitiga-
va-se o choque, atenuando o conflito entre a velha e a nova era. E o que era
mais importante: mantinha-se a unidade do Brasil. O grande estadista tinha
a intuição de que a monarquia brasileira teria o caráter de uma evolução.

159
D. Pedro, herdeiro de D. João VI, além da vontade nacional que o fixaria
no trono americano, tinha por si o direito hereditário. O que era proveitoso
para o desenvolvimento pacífico da crise, e a sua aceitação pelas potências
europeias.
Para que tudo se realizasse a contento e pela grandeza do Brasil, foi
necessário o encontro de dois Temperamentos: do Príncipe e do Estadista,
do Sábio e do Herói. Dois titãs que se completam, num momento histórico
de grande perigo para conservação da integridade nacional de que desfru-
tamos hoje. “Amo a liberdade e a independência” – Este verso do poeta José
Bonifácio reflete a sua alma. Em Portugal, dedicara-se aos estudos silencio-
sos da química e da metalurgia no remanso do gabinete, nos laboratórios
e nas usinas. Alma afeita aos estudos e ás pesquisas, personalidade forjada
no cadinho da disciplina, da ordem e da harmonia do cosmo, tinha de afei-
çoar-se à liberdade que é um sobrepujar-se, um sair de si para participar da
construção do mundo.
Recomenda-nos Machado de Assis o melhor dos mestres: Estudo; e a me-
lhor das disciplinas, o trabalho. Estudo, trabalho e talento são a tríplice arma
com que se conquista o triunfo. José Bonifácio aplicou-se ao estudo, dedicou-
se ao trabalho perseverante e tinha talento. Conquistou, por isso, o triunfo.
Cabe-lhe justamente o cognome de “Patriarca da Independência”, por que a
sua sabedoria e visão de estadista, nos legou um Brasil emancipado e uno, este
mesmo País que canta, trabalha e se agiganta. O Brasil do nosso amor.

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15 de outubro: dia do professor

Celebra-se hoje o dia do Professor. Iniciativa partida da União Pan-ame-


ricana, a ela associou-se, com entusiasmo, a partir de 1947, o grande Estado
Bandeirante, tendo o Governo Paulista decretado, esse dia, feriado escolar. O
Dia do Professor é festejado em todo o continente americano. É a data em que
os povos da América prestam a sua homenagem ao educador, aquele que dá
tudo o que possui e nada espera em recompensa, senão a satisfação de ver ger-
minar crescer e dar frutos a semente de que cuidou nos corações juvenis. Mas
o professor, mormente nestas longínquas paragens, é tão mal compreendido
porque, lutando com centenas de jovens, não pode, de forma alguma, contentar
a todas as famílias donde saem os seus alunos, advindo, daí a revolta, o combate
velado à sua ação de mestre, a intriga e outros males que são como aguçados
espinhos na vida daquele que abraçou o magistério.
Entretanto, como a vida não é nenhum mar de rosas, prossegue, resoluto, o
mestre a missão de apóstolo: pregar, instruir, educar. Trabalho grande, silencio-
so. Sua obra não aparece de pronto porque construída no coração e no espírito.
Somente o longínquo futuro poderá mostrar-lhe, em reflexos, o resultado do
trabalho quotidiano. Como bem definiu Amoroso Lima num belo discurso de
paraninfo, na faculdade de filosofia de São Paulo, educar é despertar o que está
latente, é revelar o aluno a si mesmo, é avivar na criança, no moço ou no adulto
o homem que dorme. Eis a grande, nobre e incompreendida tarefa do mestre.
Cada ser humano, no momento da criação, recebe, como germe, a personagem
que seria mais tarde. Ora, toda semente perfeita é boa e tem latente a força do
arbusto ou árvore que será depois. A vida do vegetal depende do trato que se
lhe dá desde a origem. Assim a criança. Dentro de si está o princípio do homem
ou da mulher. A educação, que começa no lar, vai cultivar essa semente.

161
As escolas recebem a criança a partir dos 7 anos, já desenvolvida, portanto.
A semente passou a ser arbusto. Se houve erro na educação até ali, dificilmente a
escola o corrigirá. Começa nessa idade, a ação do predecessor através dos suces-
sivos cursos até que, plenamente desenvolvida, a criança de ontem, converte-se
em jovem forte de corpo e de espírito. A criatura estará então em condições
de dar frutos. E a qualidade desses frutos dependerá muito da educação que
recebeu durante a infância, adolescência e juventude.
Continuador da educação paterna e materna, o mestre deveria ser antes
de tudo o amigo das famílias. Intenso intercâmbio é mister entre o lar e a es-
cola. Divorciados colégio e família bem pouco ou nada se conseguirá. Para o
bem da criança, que será o homem de amanhã, preciso se faz que os pais e os
professores se unam num único esforço – o de formar a mocidade.
Oportuno é o dia de hoje em que as vistas se convergem para o educador
em cujas mãos está, em grande parcela, o destino da humanidade na parte da
formação intelectual e moral. Oportuno para a meditação no sério problema
que nos cabe resolver.
Congratulamo-nos, pois com todos professores primários e secundários
deste Município pelo transcurso desta efeméride qual seja a elevação da tarefa
grandiosa do mestre no seio da sociedade em que vive.
Jornal A Razão de 17/10/1953.

162
Dia do índio

A ideia surgiu no México – berço da grande nação Azteca. Homens de boa


vontade, imbuídos de novos e sadios ideais de humanidade, reuniram-se em
Patzcuaro, para tratar da posição dos descendentes dos primitivos habitantes da
terra americana. Estes, porém, sempre enganados pelos brancos invasores das
suas terras, não se fizeram representar, embora fossem convidados de honra.
Notando, contudo, mais tarde, a sinceridade dos homens que compunham o
Grêmio, resolveu o indígena comparecer ao Conclave. Isso se deu num dia que
os convencionais consagraram à comemoração anual do americano – 19 de abril!
Estava instituído o Dia do Índio. Criou-se, depois, o instituto Indigenista
Interamericano, com sede no México, ao qual se ligariam todos os Institutos
congêneres nacionais, independentes, mas com a finalidade principal de zelar
pelo bem-estar do aborígene.
No Brasil, um homem estava já empenhado inteiramente na grande obra de
civilização da silvícola – Rondon, o Pagmejera (grande chefe) dos Parici. Enquan-
to estendia ele, pelos sertões inóspitos, a linha telegráfica, ia também pacificando
os índios aos quais infundiu inteira confiança. Finda a obra ciclópica das matas,
Rondon não descansou até conseguir do então Presidente Vargas, em 1951, a
adesão do Brasil à Convenção que criara o Instituto Indigenista Interamericano,
do qual a nossa terra se tornou membro. O governo determinou ainda que, com
os demais países americanos a data de 19 de abril fosse, no Brasil, o Dia do Índio,
instituindo, também, a respectiva semana comemorativa (13 a 19 de abril).
Esforços como os dessa Convenção Internacional merecem ser lembrados
e sentidos. São movimentos sinceros. Demonstram que, a despeito de tudo, vive
no homem forte sentimento de fraternidade, que é preciso cultivar para a con-
secução de um mundo melhor. Por isso, adotou Rondon o lema de – Servir. E,
já nas culminâncias da sua glória, duramente conquistada, chegou à conclusão
de que “nada há de real no mundo senão amar”.

163
Dia do Trabalho

Dia do trabalho! Seja este dia um marco, no tempo para lembrar aos ho-
mens da labuta diária que as conquistas, quer no plano material, quer no plano
moral, são custosas e demoradas. Seja ele uma pausa para o exame do ambiente
em que vivemos, da situação em que nos achamos. Analisar o que foi para o
prever o que virá e retemperar as nossas forças para a realização do fim a que
tendemos.
Pela análise histórica dos acontecimentos, podemos ver que a humanida-
de não caminha ao léu. Complexa como ela é, só avança para melhor à custa
de muito sofrimento, de muitos erros e tentativas. Isto porque é um corpo
formado de milhões de indivíduos que por sua vez são um mundo particular,
insulado em si mesmo. Mas em cada indivíduo, no mais recôndito do seu
íntimo, mais ou menos aceso está algo indestrutível; algo, como uma agulha
magnética, a incitá-lo para o caminho certo. É o senso de moral, de justiça e de
liberdade. Essa aspiração antiga do humano ser pode ser abafada, pode sofrer
interferências estranhas e, momentaneamente abalar-se, mas passada a causa
interferente, volta ela a agir como sempre, como agulha orientadora das nossas
ações, apontando-nos o império da moral, da justiça e da liberdade.
Nem foi outro o móvel da Revolução Francesa senão restaurar, numa so-
ciedade em que uma classe vivia em detrimento da outra, o senso de moral, de
justiça e de liberdade. Não foi a Revolução um acontecimento restrito à França
convulsionada, mas uma explosão geral dessa velha e perene aspiração de li-
berdade inata no homem. Mas, se o bem, que salva, está com o homem, nele
também agem parasitariamente tendências perigosas. E uma delas, a que mais
frequentemente age em sociedade é a tendência de escravização do homem, ou
de uma classe pela outra. Manifesta-se ela de todas as maneiras. Nem sempre

164
nos apercebemos que estamos, de certo modo, dominados por uma das suas
modalidades de ação.
É certo que avançamos no terreno moral e político. O trabalhar de hoje
está mais bem assistido que os de outrora. Há leis que garantem o exercício
da sua profissão, o salário e o descanso remunerado. Entretanto, o mundo se
envereda por um caminho que nos assusta. A técnica, elevada ao máximo, pa-
rece querer exercer uma nova forma de servidão. A ânsia de o homem vencer
o espaço, dominar a Natureza, criou, ou está criando uma mentalidade nova de
moral, de justiça e de liberdade. Somos dos que pensam que o homem como
individuo é o que importa. A perfeição individual é o supremo fim a que ten-
demos. A liberdade individual é a mais cara e a única capaz de fazer o homem
verdadeiramente feliz. Por ela devemos zelar e estar atentos para que se não se
perca o nosso maior bem.
Há regimes totalitários que se implantam pela força, mas há os que podem
partir de um processo evolutivo. Assim pensam alguns observadores a respeito
das grandes potências. Segundo eles, a nova forma de escravidão é essencial-
mente evolucionista. Vem ela dá ânsia das modernas descobertas e da neces-
sidade de vencer, subjugar a natureza e obter, talvez, o controle do mundo. O
elemento humano, o indivíduo, tem de desparecer, ou melhor, transformar-se
em peça de um grande mecanismo para a consecução final do grande sonho
do homem: dominar os mundos. Anular o elemento homem em benefício de
uma força que está em formação e que não se pode saber que forma terá. Tanto
pode ser a ciência como os que manejam a ciência. Não se pode parar. Não se
pode demorar nos louros das conquistas. A vida é movimento e, segundo o
Pe. Nivaldo Monte, a linha de conduta da vida humana não é sempre retilínea:
tem suas curvas que oscilam para o alto e para baixo. A corrida começou e
dificilmente parará antes da meta desejada. Enquanto isso, lutemos para que o
senso de liberdade não se perca no processo de educação das novas gerações,
pois ele é um legado que nos vem de longe e temos que transmitir para os
nossos descendentes.
O trabalho, segundo a Mater et Magistra deve ser avaliado como a expres-
são de pessoa humana, portanto é uma ação que parte do homem e que traz

165
dele o sinete da dignidade, devendo ser olhado não como uma mercadoria que
se compra, sujeita às mais variadas especulações, mas como uma obra digna
emanada do ser humano e empregada em prol do progresso do mundo e do
próprio conforto da pessoa humana. Nem o excesso de liberalismo que prega
a concorrência sem freio, nem a luta de classes da filosofia Marxista, que são
contrários aos principais cristãos e à própria natureza humana. Tudo o que
concorre para anular o sentimento da dignidade humana deve ser classificado
como intromissão de fora; tirania, portanto. O fogo que alimenta o progresso
há de vir do interior, dos corações alimentados no princípio da fraternidade
que só é possível num mundo onde haja justiça e liberdade. Não havendo jus-
tiça, repetir-se-á sempre a conhecida máxima de “homem lobo do homem”. Na
desenfreada busca de lucro fácil e rápido o homem não se importa de construir
sua riqueza sobre os escombros da pessoa, do seu semelhante.
E o mundo se debate em crise. Chegamos a um ponto em que as aspira-
ções se chocam como as águas de um rio encachoeirado e por todos os lados
se ouvem rugidos de agitações. Vivemos uma fase de transição que poderá
durar mais ou menos. Urge que cerremos fileira em torno do nosso ideal e
que ajudemos o que mantém alguma parcela de poder, a bem governar, a agir
com justiça, para que se distribua melhor o trabalho e a riqueza a fim de que o
homem, sem dúvida nenhuma criatura privilegiada no plano da criação, possa
viver como é preciso que viva, em fraternidade, dentro de sadia moral, justiça
e liberdade.
Com este pensamento encerramos o nosso pronunciamento neste dia em
que se comemora o Trabalho, trazendo aos operários Cacerenses as nossas con-
gratulações e as nossas esperanças de que a nossa Pátria há de sair da dura crise
que ora enfrenta, para poder seguir o seu rumo certo em busca do verdadeiro
lugar que deve ocupar no concerto das outras nações.

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“Independência ou morte”

A vida de um povo está cimentada de suores, sacrifícios e sangue. Uma


civilização custa inúmeras vidas quer dadas em holocausto à causa pública
quer consumidas inteiras em estudos, meditação e pesquisa. Em toda parte, os
homens, em essência, são iguais: filhos da terra que os prende pelo corpo, pro-
curam pelo espírito, alçar o voo através do tempo e do espaço, sondando atrás
dos fenômenos uma nova realidade. Assim, a vida do indivíduo isoladamente
e de um povo todo é uma constante procura da melhoria do aperfeiçoamento,
do bem-estar. A vida não para e cada geração trata de dar, no seu século, a
máxima contribuição para o progresso do país a que pertence e ao mundo de
que faz parte.
Pedro I, herdeiro do trono português, não titubeou quando, instado pelo
povo brasileiro, teve de escolher entre a coroa de Portugal e o Brasil. Preferiu
a jovem Terra de Santa Cruz onde sua ação era necessária e onde poderia con-
correr muito mais para a elevação de um povo e de uma nação do que na velha
pátria de Camões. Não importa fosse ele mais tarde obrigado, por injunção
política, a deixar o Brasil. Importava, isto sim, servir-se de instrumento ativo
de emancipação de um povo que prometia ser grande no futuro.
Soou o brado de Independência: 4:30 horas da tarde de sábado, 7 de se-
tembro de 1822! Pedro I, o príncipe, fogoso, dá o golpe final no laço que unia
ainda o Brasil a Portugal. Sublime momento histórico de uma nação! O Brasil
livre, desfralda suas velas aos ventos, e, castigado pelas borrascas, sofrendo aqui,
vencendo ali, impertérrito sempre, avança para cumprir o seu destino que se
afigura grande e glorioso.
Nos 149 anos que decorreram daquele memorável dia até hoje, que vemos
nós? Uma longa esteira no mar do passado, agitada de lutas aqui manchada

167
de sangue acolá, mas luminosa porque em toda ela brilha o gênio pacifico e
ordeiro da raça que se formou neste País. Em cada fase histórica de realce do
nosso passado figuram personagens cujas obras são verdadeiros marcos áureos
de nobreza, força de fé nos destinos do homem. Quais gigantes, avultam-se
esses gênios, em todos os setores da vida pública do passado, como a zelarem
por aquele lapso de tempo que lhes foi dado viver para cimentar os alicerces da
civilização brasileira. Caxias, na guerra e na pacificação de irmãos; Rio Branco
na diplomacia; Rui, a Águia de Haia, na inteligência e na eloquência, e tantos
outros mostraram ao mundo o que foi e o que promete ser a nação brasileira.
E hoje, o Brasil, consciente do papel que lhe cabe na comunidade das
nações, e afinando-se ao diapasão do pensamento moderno e da contingência
do mundo atual, arregimenta as forças vivas e as possibilidades de que dispõe,
para uma arrancada lenta, a princípio, mas segura, e em aceleração, em busca,
agora, da integral emancipação econômica.
Brasil que se concentra em autocritica e corrige os hábitos e compor-
tamento à procura da sua legítima personalidade. Brasil que firma os seus
direitos, mas que não espezinha ninguém, que respeita a personalidade das
outras nações, herdeiros que somos de uma tradição de honra e reverência ao
Direito e à Justiça.
Cáceres, 7/9/1971.

168
11 de junho22

Comemora-se o dia da Marinha Brasileira. Foi neste dia que ela – a nossa
Armada – mostrou seu valor numa guerra a que o Brasil foi arrastado para
salvaguardar a integridade do seu território.
Subia Francisco Manuel Barroso o Paraná com as suas unidades quando
se defrontou com a esquadra paraguaia, próximo à foz do Riachuelo. Travou-se
luta titânica. Nada menos de oito horas de fogo intenso.
A história nos diz que Barroso, de pé sobre a caixa das rodas do Amazonas,
impávido, ignorando o perigo, faz do seu navio um aríete e arremete-se contra
os barcos inimigos, pondo fora de combate três de suas melhores unidades.
Estava decidida a batalha naquele glorioso 11 de junho de 1865. Lutaram os
heróis do Riachuelo sob o lema que Barroso içara no Amazonas: “O Brasil
espera que cada um cumpra o seu dever”. E cumpriram.
Marcilio Dias luta como leão até cair trespassado de golpes. Mas perdendo
a mão direita, empunha a espada com a esquerda e continua a lutar. Greenhalg,
o moço guarda-marinha, intimado a entregar o Pavilhão Nacional, responde:
“Na Bandeira Brasileira não se toca”, e luta até cair morto.
Assim foi no passado. A realidade, porém, persiste. Aí está a grande ex-
tensão da costa brasileira a exigir da nossa Marinha toda a atenção pela nossa
segurança no mar – imensa porta atlântica do Brasil.

22 Com igual título e texto diferente, está publicado em Memória cacerense, 1998, p. 70-72.

169
13 de junho23

Transposto o Forte de Coimbra pela força de Barrios, Corumbá tornou-se


presa fácil dos paraguaios. Os que não se retiraram com o bravo tenente Oli-
veira Melo, caíram prisioneiros. O General Albino de Carvalho, no governo
da Província, “sem dinheiro, sem gente, sem recursos”, nada pode fazer pelos
nossos patrícios da cidade conquistada. A gente de Lopes tinha livre o rio Para-
guai, de Coimbra ao São Lourenço, não indo a Cuiabá por respeito ao Melgaço
onde se fortificara Augusto Leverger.
Couto Magalhães, assumindo o governo, em 1867, trata de organizar a ex-
pedição que reconquistaria Corumbá. Três grupos se formam, um deles em Vila
Maria (Cáceres) sob a direção do Major João Carlos Pereira Leite. O comando
geral é confiado ao então Ten. Cel. Antônio Maria Coelho. O segundo grupo
tem por chefe ao Major Antônio Jose da Costa e a Esquadrilha é comandada
pelo Cap. Balduíno José Ferreira de Aguiar.
Conta o nosso historiador Virgílio Corrêa Filho que Antônio Maria Coe-
lho desceu com mil homens, pelo Pantanal, até o Rabicho, à jusante de Corum-
bá, onde desembarcou na madrugada de 13 de junho e o ataque se deu pela
uma hora da tarde. Tão rigorosa foi a investida, diz aquele autor, que dentro de
uma hora Antônio Maria dominava a praça, perecendo o comandante Hermó-
genes Cabral, bem como o comandante do Rio Apa, e diversos outros oficiais
paraguaios e 115 soldados, além dos desaparecidos no rio. Os perderam 29
homens entre os quais o Cap. Cunha Cruz.
Libertara-se Corumbá! Resgatadas estavam as nossas patrícias que, segun-
do o Sr. Antônio Fernandes de Souza, eram escravas dos paraguaios.

23 Com igual título e texto diferente, está publicado em Memória cacerense, op. Cit., p. 73-4.

170
Caxias

Caxias! Este nome hoje é um símbolo Padrão correto da vida patriótica


intensa – um nome nacional. Representa a própria Pátria! Falar de Caxias
é falar do Brasil, forte, grande, impoluto, magnânimo. As glorias de Caxias
transpuseram os muros dos quartéis, invadiram o Brasil, empolgando-o de
norte a sul, de leste a oeste. É que Caxias foi ao mesmo tempo guerreiro e
administrador; condutor de exércitos e condutor de povo; duro nos combates
e magnânimo com os vencidos. Seu coração, férreo nos prélios ferozes, abria-
se bondosamente aos irmãos subjugados e desviados momentaneamente do
verdadeiro caminho.
Adversário altivo e temível, nunca derrotado, era também o vencedor sem
vinganças, que só empanam o brilho das vitórias e desmerecem o guerreiro.
Seu grande coração pulsava pela paz, embora tivesse de muito guerrear para
pacificar e propiciar ambiente sereno à marcha triunfal da Pátria.
Padrão de soldado, mereceu o epíteto de “alma militar do Brasil”. Desde
então, os nossos homens de armas vêm-se inspirando nesse modelo, verdadeiro
espírito que anima a nossa força armada, guardiã atenta da nossa soberania,
herdada dos antepassados.
O culto dos heróis é a forma mais digna de honrar a Pátria. Penetrar a
vida de vultos eminentes, por si só, já é ler um livro de civismo e de conduta
do cidadão para com a Pátria. E nenhuma vida oferece mais ricas páginas de
civismo, de honradez, de simplicidade, de trabalho e sacrifício pelo Brasil, que
a vida de Caxias.
Por isso o País, que amou e a que serviu, identificou-se com o herói a ponto
de ser ele, Caxias, um símbolo vivo da pujança da nossa Nação livre, amante da
paz, mas que sabe repelir qualquer tentativa de agressão contra a sua soberania.

171
Tuiuti: 103º

Transcorreu ontem o 103º aniversário da Batalha de Tuiuti, ferida entre


as forças aliadas (argentina, uruguaia e brasileira) e as do ditador Francisco
Solano Lopez. Foi a maior batalha travada em solo sul-americano, não só pelo
número de homens dela participantes como pelo número de mortos e feridos.
A vitória coube aos aliados, sobressaindo nela o General Osório, comandante
da força brasileira.
Tuiuti era apenas um sítio no território inimigo. Mas constituía-se um ob-
jetivo de importância estratégica no teatro da guerra do Paraguai. Lopez, com as
suas forças desarvoradas em Tuiuti, poderia ter sido batido completamente se,
como queria Osório, as forças vitoriosas continuassem a perseguição ao inimigo
até sua derrota total, abreviando assim a duração da guerra. Mas o comandante
supremo – Mitre, não era da mesma opinião; julgava a ideia arriscada. Dessa
forma, Lopez se refez rapidamente para sustentar a guerra por mais três anos,
custando ao Brasil inauditos sacrifícios.
As guerras não compensam. São, ao contrário, um aspecto negativo da
civilização humana. O reforçar-se um país para conquistas põe a humanidade
em constante sobressalto. É um grave problema que desafia os responsáveis
pelas nações do globo.
Várias iniciativas se fizeram para solucionar o perigo. Dentre elas, a mais
significativa é, sem dúvida, a O.N.U., ou seja, Organização das Nações Unidas,
criada para preservar a paz entra os povos, evitar as guerras de conquista e de-
fender a propriedade do mais fraco contra a ambição do forte. Os horrores dos
campos de batalha nos movem a lutar contra a guerra, e a reafirmar. Como os
membros da O.N.U., a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e
no valor do ser humano, na igualdade dos direitos dos homens e das mulheres,
assim como das nações grandes e pequenas.

172
Anchieta, apóstolo do Brasil

Dentre as datas comemorativas e campanhas nacionais, o Curso de Edu-


cação Moral, Social e Cívica, dos Irmão Maristas, lembra-nos, hoje, Anchieta
e a Campanha de Saúde. A história no diz que Anchieta nasceu a 19 de março
de 1534, em Tenerife, Canárias. Com menos de vinte anos veio para o Brasil,
onde se dedicou inteiramente à catequese do gentio. Por isso, foi chamado, com
justiça, “Apóstolo do Novo Mundo”. Tinha o dom de línguas: aprendeu, com
facilidade, o tupi e escreveu as suas obras nesta língua em latim, português e
espanhol. Foi, pode-se dizer, o primeiro professor no Brasil e muitos historia-
dores o consideram fundador de nossa literatura.
Para ensinar os índios, escrevia peças de teatro (Autos), representadas pe-
los próprios discípulos. O mestre sabia motivar devidamente o ensino e assim
atrair os silvícolas. Integrou-se plenamente no novo meio americano e, abne-
gadamente, sacrificou repouso, honras e conforto ao esforço de civilização dos
índios: torná-los seres humanos como os da raça humana. Essa dedicação lhe
valeu os títulos de protetor, pai, médico e enfermeiro dos silvícolas. Médico do
corpo, e, sobretudo, das almas. Inspiração para as campanhas de saúde física e
moral. Humanista profundo, buscava o homem para instruí-lo, para elevar-lhe
a condição humana e, como apóstolo, pregar-lhe o reino de Deus trazido por
Jesus Cristo. Viveu com os índios, e entre os índios, seus amigos, faleceu, em
Reritiba (atual Anchieta), no Espírito Santo, depois de quase meio século de
trabalho pelo Brasil. Sua divisa, nos moldes jesuíticos, era “Tudo para a maior
glória de Deus” (Ad maiorem Dei Gloriam).

173
A imprensa

Uma das maiores invenções do homem foi, sem dúvidas, a Imprensa, que
teve pioneiro Gutemberg no 15º século. Até então os raros livros e documentos
eram escritos à mão, usando-se para isso escrivães especializados. Com a de-
cadência das letras e artes greco-romanas, o mundo atravessou uma época de
indiferença pela instrução; apenas poucos liam as raríssimas obras que havia.
A maioria do povo vivia em completa ignorância.
Mas o ser humano, criado para o estudo e a contemplação, procurava, atra-
vés dos seus gênios, encontrar um meio de se multiplicarem, rapidamente, os
livros e colocá-los ao alcance da maioria. Deveria haver um modo de gravar as
letras por meio de caracteres móveis que pudessem ser usados continuamente.
Experiência sucedem-se, até que Gutemberg consegue achar a solução para o
magno problema: descobrira a impressão! O primeiro livro foi impresso, uma
bíblia – o mais sagrado dos livros.
A nova correu pela Europa e em breve novos aperfeiçoamentos foram
introduzidos na primitiva prensa. Os livros espalhavam-se; o povo começa a
ler e novamente o desejo de cultura se apoderou do homem de tal forma que os
governos, alarmados, resolveram apor barreiras às publicações. Surgiu, então,
a censura. Qualquer obra, antes de ser dada à luz, teria que ser aprovada pelos
poderes competentes. O povo, porém, é uma caudal invencível. As barreiras
que lhe interpõem podem, por algum tempo, obstar-lhe e avanço, mas acabam
ruindo para deixar livre o pensamento que se não prende. Assim caiu, também,
a censura. E se hoje ela aparece ainda, é esporadicamente, insulada em deter-
minadas regiões, nas quais também, acabará por desaparecer. E desde então a
imprensa acompanhou o homem, tornou-se parte integrante de toda a coleti-
vidade. Ela é a história diária da vida de cada circunscrição como a história é

174
o jornal de todas as raças, de todas as civilizações. Por ela ralaram os grandes
pensadores, cristalizando seus pensamentos brotados da experiência, estudo e
meditação. Arma poderosíssima, dela lançam mão o bem e mal-intencionado;
ela cria e destrói, dignifica e degrada, consola e fere fundo, instrui e perverte.
Espalha sementes de todos os gêneros: cabe a cada um separar as boas das
más. Sua finalidade, porém, é conduzir; mostrar ao povo os erros e as virtudes:
alertar a opinião pública, incentivar o ânimo do povo para o desenvolvimento
econômico, cultural e moral.
Grande é o papel da imprensa. Severa responsabilidade dos seus dirigentes.
Por isso, no dia de hoje, em que o jornal A Razão, antigo porta voz de Cáceres,
completa mais um ano de existência, queremos prestar, aqui, as nossas home-
nagens, e esse vetusto Órgão de Imprensa de nossa Terra, que, há 36 anos, vem
registrando a vida desta Urbe, concretizando, em suas folhas, os sentimentos,
os anseios, os prazeres e sofrimento de um povo que, embora separado muito
tempo dos outros centros, conseguiu vencer a força da inércia a que ficou su-
jeito até que uma nova aurora raiasse com a Constituição de 1946.
As nossas homenagens ao seu atual diretor Dr. Leopoldo Ambrósio Filho,
ao seu proprietário, Sr. Nilo Ferreira Mendes e a todos os que labutam em suas
oficinas.
Cáceres, 17 de maio de 1953.

175
Brasília, sonho-visão de Dom Bosco

“Entre os paralelos 15 e 20, no lugar onde formara um lago, nascerá uma


grande civilização e isto acontecerá na terceira geração. Aqui será a terra pro-
metida”. Eis como o fundador da Ordem Salesianas anteviu, num sonho-visão,
a grandeza e o destino de Brasília. Três gerações depois, a 21 de abril de 1960
– data de sacrifício de Tiradentes – inaugurava-se, apoteoticamente, a mais
nova, moderna e arrojada cidade do mundo: Brasília – Capital do Brasil. A
visão de Dom Bosco tornava-se realidade, demonstrando o que pode um povo
quando dirigido para um objetivo superior, e, sobretudo, quando ele se sente
protagonista de uma ação importante na marcha da civilização.
Várias são as capitais transferidas de lugar, ou adrede construídas. Umas
se localizam junto ao mar, outras, interiorizam-se, dependendo dos fatores
imperiosos do momento, políticos ou estratégicos.
Em nossa Terra, a interiorização da Capital Federal é ideia que remonta à
monarquia. Por muito tempo os mapas foram impressos com os dizeres “Futuro
Distrito Federal”, encerrados em um quadrilátero, marcando o lugar da Urbe
que, plantada no planalto central brasileiro, seria Brasília, a sonhada Capital
do País. Era um plano traçado, mas sempre adiado.
Chegados, porém, os tempos, precipitam-se os acontecimentos. O pre-
sidente Kubitschek, num gesto ousado, assina, em 1956, a mensagem para
apresentação ao Congresso do projeto dispondo sobre a mudança da Capital
Federal, e nomeia, no mesmo ano, o presidente da Comissão Urbanizadora,
Dr. Israel Pinheiro. A 3 de maio do ano seguinte, é celebrada a primeira mis-
sa nas terras da futura nova Capital brasileira. E, finalmente, o compromisso

176
formal – a fixação da data de mudança – de 21 de abril de 1960. O prazo era
inferior a três anos.
A geração, em cena, convocada para a grande obra, acorreu impetuosa
e correspondeu à missão que lhe coube desempenhar. No dia 21 de abril de
1960, Brasília surgiu ao mundo estarrecido, como a Capital triunfante do Brasil.
(SIDNEM)

177
Dom Francisco de Aquino Corrêa
(No 1º centenário do seu nascimento – 1885/1985)

Dom Francisco de Aquino Corrêa nasceu em Cuiabá, capital do Estado de


Mato Grosso, no dia 02 de abril de 1885. Foram seus pais o Comendador An-
tônio Tomáz de Aquino Corrêa e D. Maria d’Aleluia Gaudie de Aquino Corrêa.
Com 17 anos de idade entrou para o Noviciado dos Padres Salesianos de D.
Bosco. Em 1904 embarcou para Roma a fim de continuar os estudos, tendo-
se doutorado, nessa cidade, em Filosofia e Teologia. Ordenado sacerdote, na
cidade Eterna, ali mesmo celebrou a primeira Missa, na Basílica de São Pedro.
Regressando a Cuiabá, em 1910, dirigiu, por 4 anos, o Liceu – salesiano São
Gonçalo, onde lecionou Português, Latim e História Universal. “Suas aulas”
– disse o Prof. Francisco A. Ferreira Mendes – “prendiam nossos espíritos.
Ouvíamo-lo atentos como em ascese. Suas palavras atraiam, magnetizavam”.
Já em 1914, é nomeado bispo titular de Prusíade e auxiliar de D. Carlos Luís
D’Amour, sendo sagrado no dia 1º de janeiro de 1915.
Eleito em novembro de 1917 e empossado a 22 de janeiro de 1918, assumiu
o governo do Estado de Mato Grosso, permanecendo à frente da administra-
ção estadual até 21 de janeiro de 1922, prestando ao nosso Estado relevantes
serviços. Fundou o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, o Centro
Mato-grossense de Letras, hoje Academia Mato-grossense de Letras e instituiu
o Brasão d’ Armas de Mato Grosso. Aos seu Governo se deve a primeira ilu-
minação elétrica de Cuiabá.
Em 1922, por falecimento do Arcebispo D. Carlos Luís D’Amour, assumiu
D. Aquino a Arquidiocese de Cuiabá, à frente da qual permaneceu 34 anos, até
sua morte em 1956. “Em Dom Aquino” – disse o Padre Cometti – “tudo foi sin-
gular: Parece que a Deus aprouve marca-lo com dons e carisma extraordinários,

178
aceitos, conservados e aumentados, a par de uma simplicidade e naturalidade
também extraordinária”.
Segundo o Pe. Raimundo C. Pombo, D. Aquino falava corretamente o
português, o italiano, o francês, o espanhol e o latim, tinha profundos conheci-
mentos do grego, de inglês, do alemão, do polonês, além do hebraico e guarani.
Para o Prof. Lenine Póvoas, “D. Aquino foi glória incomparável da inteli-
gência mato-grossense e a mais viva cintilação do nosso talento”, tendo marcado
uma era em Mato Grosso, - como disse o Dr. Gabriel Novis Neves – uma era de
Dom Aquino, o que significa que tudo gravitou, num certo tempo, em torno
da vida do grande Arcebispo.
Dom Aquino Corrêa, cognominado o “Príncipe das Letras Mato-Gros-
senses”, foi inspirado poeta, orador consagrado, jornalista, e escritor emérito,
qualidades que o conduziram à Academia Brasileira de Letras, onde ocupou
a cadeira de nº 34.
Entretanto, como acentua o Prof. Pe. Antônio Rodrigues Pimentel, Dom
Aquino foi acima de tudo Pastor. “E ao sublime pastoreio do seu rebanho, que
nunca postergou ante injunções terrenas fossem elas de que ordem fossem,
subordinou pelo contrário toda exuberante pujança dos dotes humanos e todo
o cabedal artístico-cultural com que soubera enriquecer o espírito “. Em 1938
representou o Brasil no Congresso Internacional de Educação em Genebra,
do qual foi eleito vice-presidente. Foi Presidente de honra da Academia Mato-
Grossense de letras, Presidente efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de
Mato Groso e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
D. Aquino faleceu em São Paulo, no dia 22 de março de 1956. Seu corpo
foi trasladado para Cuiabá e sepultado da nave da Catedral do Senhor do Bom
Jesus, com honrar de Chefe de Estado.
Obras:
Odes (poesia, 1917); Terra Natal (poesia, 1940); Nova et Vetera (poesia);
A Fronteira de Mato Grosso e Goiás (1917); Mensagens Governamentais (1918
– 1922); Cartas Pastorais (1919); O Sacerdócio (1935); O Brasil em Genebra
(conferência de Genebra, 1938); Dom José Antônio do Reis (biografia, 1944);
O Batismo e a Vida Cristã (Carta Pastoral, 1945); Uma Flor do Clero Cuia-

179
bano (biografia do Pe. Armindo M. de Oliveira, 1951); Pétalas do Evangelho
(Coleção de Artigos de D. Aquino, publicados pela Arquidiocese de Cuiabá,
1981). Autor de letra do Hino de Mato Grosso, D. Aquino foi quem deu a
Cuiabá o epíteto de “Cidade Verde”, na poesia em que saúda sua terra natal
e assim começa:

Sob os flabelos reais de mil palmeiras


Tão verdes, sobranceiras
E lindas como alhures não as há,
Sobre alcatifas da mais verde relva
Em meio à verde selva,
Eis a “cidade verde”: Cuiabá!

Cáceres, 1985.

180
Mato Grosso 250 anos

Transcorreu ontem, a 250º aniversário da criação da Capitania indepen-


dente de Mato Grosso, desmembrada de São Paulo, por ato do rei de Portugal,
D. João V, datado de 9 de maio de 1748. Um brasileiro na corte de Lisboa –
Alexandre Gusmão, contribuiu eficazmente para que o desmembramento se
efetuasse, fazendo ver ao Conselho Ultramarino a necessidade de se estabelecer
governo próprio na região do Cuiabá, em vista da sua proximidade com os es-
panhóis. Além disso, estavam em andamento os estudos para o estabelecimento
de um ajuste dos limites coloniais entre as duas Coroas Ibéricas, assinado dois
anos mais tarde – Tratado de Madri, de 1750 (13 de janeiro).
Era preciso concentrar a atenção na nova Capitania. Por isso, Portugal es-
colhia os mais competentes do reino para governarem Mato Grosso na qualida-
de de Capitães-Generais. Foram eles – acentua o historiador Dr. Luiz Philippe
Pereira Leite, (1)24 “homens clarividentes, dotados de grande lucidez política
e administrativa, de senso e de experiência, demonstrando nas situações mais
difíceis o acerto da Coroa ao indicar-lhes o nome para tão alta e espinho-
sa investidura”. Tão grande era a preocupação da metrópole pela integridade
da novel Capitania que recomenda ao 1º Capitão-General, Antônio Rolim de
Moura, instalar a sede do Governo na região do Guaporé, e preparar a defesa
da fronteira que, gradativamente, foi pontilhada de fortes e povoações, dentre
as quais, Vila Maria, a nossa Cáceres, na retaguarda da linha nevrálgica dos
Comitês das possessões das duas coroas ibéricas.
Reconhece essa atuação de Portugal, o ínclito escritor mato-grossense,
Desembargador Antônio de Arruda (2)25, quando diz:

24 Luís Philippe Pereira Leite. Capitães Generais de Mato Grosso, pág.13.


25 Antônio de Arruda Passeios pelo passado e pelo presente Rev. Acad. Mato-Grossense de Letras, anos
XXV – XXVI – Tomos XLIX a LII, pág. 97.

181
Devemos consignar, em abono dos portugueses, o esforço continuado
para alargar as nossas fronteiras e fixar metas nestes rincões os principais
influxos civilizadores, traduzidos na língua, na religião, nos costumes e
demais elementos integrantes da nacionalidade que ia nascendo e depois
se consolidando.

Duzentos e cinquenta anos já temos de província e Estado. Com D. Aqui-


no Corrêa, recitamos, com júbilo a primeira estrofe do hino mato-grossense:

Limitando, qual novo colosso,


O ocidente do imenso Brasil,
Eis aqui, sempre em flor, Mato Grosso,
Nosso berço glorioso e gentil.

182
Centenário da Loja Maçônica “União e Força”26

Comemora este ano a Loja Maçônica União e Força, o centenário de sua


instalação em Cáceres. O evento foi marcado com uma programação que se
iniciou com alvorada festiva e culminou com jantar de confraternização, no dia
5 de fevereiro último, na sede da Associação Atlética Banco do Brasil.
Que bom seria se tivéssemos à disposição, para consulta, a história escrita
da Maçonaria em nossa cidade, nesse espaço de tempo dos anos novecentos, tão
pleno de conquistas nos diversos campos do conhecimento humano. História
feita de ações visíveis e invisíveis, impulsionadas por ideais que incendeiam o
coração dos homens na busca incessante da sua autorrealização num mundo
em constante mudança.
Mas o que foi semeado não se perdeu. Ao contrário, germinou e cresceu
em novas formações através das duas outras Lojas Irmãs, a Seis de Outubro e
a Liberdade Cacerense, centros de instrução preparando os iniciados para a
obra, que nos compete a todos, de construção de um mundo melhor.

Sessão Branca
Em prosseguimento às comemorações do ano centenário, a Loja Maçônica
União e Força abre, hoje, as suas portas a convidados não maçons para o exer-
cício da interação que deve haver entre os homens de boa vontade, mormente
em situações especialíssimas em que se avalia a vivencia de uma instituição
humana na consecução dos seus objetivos.
Como cacerenses, que se tem dedicado ao estudo e divulgação desta terra,
não poderíamos deixar de aceitar o honroso convite, que nos faz o Presidente

26 Palestra na Sessão Branca comemorativa do Centenário da Loja Maçônica “União e Força”, em


Cáceres, dia 25/03/2000, publicada no Boletim 04, Maio/2000, do Grande Oriente do Estado de
Mato Grosso.

183
desta Entidade, Sr. Joaquim Castrillon, para, como leigo, participar das co-
memorações do Centenário da Maçonaria em Cáceres, adicionando a tantos
outros pronunciamentos, as nossas impressões como simples observador do
seio da nossa Comunidade.
Comemorar é lembrar, solenizar, festejar. Festejamos um fato histórico
acontecido há um século, perscrutando as consequências que dele advieram e
que influíram na sociedade dos homens. Aqui nos reunimos, pois, para lembrar
e refletir, baseados na experiência adquirida no caminho percorrido, a qual,
sabemos bem, já se insere no programa de ação da Loja para o presente-futuro.

Alvorada de um novo tempo


Cinco de fevereiro. Ano 2.000. Esperança de renovação na alma nacional
e local. Tempos difíceis para a humanidade. Mas, também, momentos de
reflexão, que levam os homens a procurar soluções para os seus problemas,
e encontrar em si mesmos a força para subsistir num mundo em rápidas
transformações, unindo esforços em busca do seu maior objetivo – o aper-
feiçoamento próprio.
Pela manhã daquele dia, fomos despertados pelo espocar de fogos da alvo-
rada festiva da Loja Maçônica União e Força, em frente ao respectivo Templo.
Era a sociedade maçônica que, festejando uma conquista, anunciava da sua
parte, a alvorada de um novo tempo. Tempo que está a exigir mais estreita
união entre os segmentos da sociedade, que são suas colunas de sustentação,
para uma sólida resistência aos embates das tormentas que a açoitam de ma-
neia inesperada e violenta. Tempo de rever a rota percorrida, corrigir os erros
e avançar com novo entusiasmo e novas forças, em busca do ideal de vida para
a humanidade, como já foi dito pelo pensador Huberto Rohden:

Quando o homem tem o suficiente critério para saber o que convém


ser guardado e o que convém ser abandonado das coisas de ontem; e
ao mesmo tempo possui a necessária iniciativa para ultrapassar a etapa
já alcançada – então despontará para a humanidade a alvorada de uma
evolução realmente positiva, dinâmica e construtiva.

184
Inauguração de monumento
No mesmo dia, às 18 horas, inaugurava-se na praça Barão do Rio Branco,
o Obelisco “Aprendiz na Pedra Bruta” – símbolo maçônico assentado na praça
principal, autorizado por lei do Município, ao lado de dois outros monumentos,
um de fé do nosso povo, a Catedral de São Luiz, exprimindo na imponência de
suas linhas arquitetônicas, o arrojo e a perseverança da Comunidade Cacerense;
outro, o Marco do Jauru, comemorativo do Tratado de Madri de 1750, onde se
lê o ideal máximo da humanidade no versículo dos Salmos: “A Justiça e a Paz
se beijaram”, síntese radiosa – como disse Dom Aquino Corrêa – do soberano
acordo, donde resultou o tratado madrileno.
Na sua simbologia, o monumento “Aprendiz na Pedra Bruta” exprime
na praça pública a preocupação da Maçonaria pela educação que, como
pensa o Professor Marculino Camargo, “tem que ser libertadora do indiví-
duo; ela não pode ser impositiva ou massificante; ela tem que ser criadora
enquanto permite à pessoa ser ela mesma num sentido dinâmico de fazer
opções; ela deve abranger todos os aspectos da personalidade e não me-
ramente o intelectual ou profissional”. A educação – continua o Professor
Camargo – “fazendo a pessoa construir-se a sim mesma, leva-a a encontrar
seu lugar na sociedade não como mero objeto de grupos, mas como sujeito
consciente e transformador da realidade; assim ela deixa e ir a reboque dos
fatos e se torna um agente da história; ao mesmo tempo percebe que ela se
educa enquanto os outros também se educarem numa participação e num
respeito mútuo”27.

Fraternidade milenar
“A Maçonaria – diz o Sr. Carlos de Souza Neves28 - constitui uma fra-
ternidade de irmãos livres. Segundo consta, esse movimento é muito antigo,
chegando mesmo à pré-história: constitui uma forma abreviada dos mistérios
praticados nas pirâmides egípcias, desde o seu início”.

27 Valores da existência humana. Rio de Janeiro: Vozes Ltda.


28 Sociedade, transição e futuro: vias intermediárias e fundamentos. Rio de Janeiro: Ed. do autor.

185
Não vamos aqui deter-nos na história da Instituição. Cingir-nos-emos ao
conceito que dela faz o escritor Octacilio Schuler Sobrinho29, que nos apresenta
a Maçonaria como uma escola do conhecimento, dizendo:

[...] a qualidade que caracteriza a sociedade maçônica, consiste em ser


ela uma união de homens livres, o que lhe imprime a nobreza de uma
‘aliança’ e lhe dá o sentido de ‘ordem’. O princípio soberano de ordem é
o respeito hierárquico e a subordinação de regras estabelecidas, dentro
de uma plataforma democrática e laica, onde cada um é agente e sujeito
indutor destas mesmas regras. “Como escola do conhecimento – escla-
rece – a Maçonaria é uma Sociedade Ritualística, ornada pela vida e pela
compreensão do sopro criador, tendo como escopo o endereçamento
da ética, da moral e da estética, que fazem a distinção entre o valor e
a significação e permitem ao Maçom ser o grande analista simbólico.
Pelos procedimentos múltiplos e pelo trabalho, procuram (os maçons)
a verdade e a desenvolvem pela beneficência, edificando uma vida nova,
tranquila e fundada pelo amor. Atendem aos tempos e movimentos bus-
cando suas raízes nas Corporações de Pedreiros Lapidadores.

A maçonaria – prossegue o mesmo autor – é a Escola que estuda o ‘ser’ e


a ‘sociedade’, onde a ‘matéria objeto’ é a vida coletiva, valendo-se de prin-
cípios metafísicos e físicos. Os ‘princípios metafísicos’ permitem abordar
os setores do conhecimento em vários sentidos: pragmático, utilitário,
transcendental, místico, enfim, conduz a uma exponencial transforma-
ção do homem. Os ‘princípios científicos’ são os estudos dos fenômenos
sociológicos, que são os acontecimentos, traduzidos no fato social, na
ação social e na relação social, sensivelmente observados por meio da
percepção externa, inferindo uma suscetível descrição, interpretação e
explanação, sempre aprofundados e valendo-se de valores simbólicos. O
estudo maçônico exige compreensão da matéria-objeto e, pelos princípios

29 Maçonaria: uma escola do conhecimento. Florianópolis/SC: Ed. Livraria e Editora Obra Jurídica
Ltda.

186
metafísicos, obtém um conhecimento claro da sociedade e seu percurso
evolutivo para atingir uma de suas metas principais que é a valorização
humana.

Sintetizando, diz ainda o autor:

O conhecimento é a base em que está alicerçada a Maçonaria, e que a


cognição do Maçom se realiza evolutivamente, segundo estruturas in-
ter-relacionadas, dentro do universo ‘simbólico’, que é a cópia do real.

Entendemos que, como escola do conhecimento, a Maçonaria age por duas


linhas-mestras: uma vertical em busca da Realidade Absoluta; outra horizontal,
da ética, da fraternidade. O fim é a transformação do homem, simbolizada,
como vimos, no Obelisco “Aprendiz na Pedra Bruta”, pois, seguindo o pensa-
mento de Huberto Rohden30, “só o homem espiritual, o realista integral, é que
pode redimir a humanidade, porque só ele possui a necessária verticalidade
mística e a indispensável horizontalidade ética, para reconduzir ao Deus do
mundo os homens que vivem no mundo de Deus ignorando Deus”.

A Maçonaria em Mato Grosso


Segundo o historiador mato-grossense, Dr. Lenine Póvoas31, “antes do
término da Guerra da Tríplice Aliança não há notícia da existência de Lojas
maçônicas em Mato Grosso. “Diversos personagens que vieram ao nosso
Estado, em cumprimento de missões políticas ou militares, pertenciam a
organizações maçônicas existentes em outros pontos do país”, citando entre
elas o Dr. José Antônio Pimenta Bueno, que foi Presidente da Província; o
Engº militar Alfredo D’Escragnolle Taunay; o Oficial da Marinha Augusto
João Manoel Leverger, que também exerceu a Presidência da Província; o
Visconde do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos, eleito Senador por
Mato Grosso em 1862; o Brigadeiro Manoel de Almeida Gama Lobo D’Eça,

30 Profanos e iniciados. São Paulo: Editora Alvorada/Livraria.


31 História Geral de Mato Grosso. Vol. 1. São Paulo: Editora Resenha Ltda.

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Barão de Batovi que governou a Província em 1883/84. “O ano de 1870, con-
tinua Dr. Lenine Póvoas, no qual a 1º de março, ocorreu o término da Guerra
da Tríplice Aliança, tornou-se o marco na vida social de Mato Grosso, uma
vez que a partir dele muitos acontecimentos ocorreram, de grande relevo na
história econômica, política e cultural da antiga Província”, acrescentando o
douto historiador que “a partir de 1871 várias Lojas maçônicas foram funda-
das, contribuindo para difundir por Mato Grosso, os ideais que empolgavam
os seus integrantes”.

A Maçonaria em Cáceres
Cáceres teve sua primeira Loja Maçônica, segundo ainda o Dr. Lenine
Póvoas, em 1880, denominada “Beneficência do Alto Paraguai”, fundação pa-
trocinada por José Dulce, maçom e comerciante nesta cidade. Entretanto, a
Maçonaria se instalou definitivamente em Cáceres, no começo do ano 1900,
precisamente no dia 3 de fevereiro. Pequenina urbe plantada à margem es-
querda do rio Paraguai, São Luiz de Cáceres, como era chamada, vivia de sua
economia baseada na agricultura, pecuária, extrativismo animal e vegetal e
comercio com outras praças, através de Corumbá, facilitado pela navegação
fluvial, única via permanente de comunicação com o exterior.
Embora pequena, a cidade apresentava apreciável surto de progresso que
atraía para aqui pessoas de bom nível de cultura e discernimento, formando,
com os naturais da terra, uma sociedade das mais desenvolvida de Mato Gros-
so. Foi assim que em seu seio germinou a semente da Maçonaria que, há cem
anos, se integrou na nossa Comunidade, trabalhando e crescendo com ela,
acompanhando-lhe os passos nas transformações sociais, políticas, culturais
por que passou o nosso povo nesta centúria. Foi um século de trabalho silen-
cioso, próprio da Ordem do qual nós, lá fora, não tomamos conhecimento, em
grande parte.
Basta passar os olhos pelos fundadores da Loja União e Força, em 1900,
para termos uma visão do cuidado que tem a Maçonaria na escolha dos seus
membros, dentre os quais se contam homens das mais variadas atividades
profissionais, visando ao que nos parece, reproduzir dentro da Loja, a própria

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sociedade onde ela se insere, e assim contar com trabalhadores à altura de de-
sempenhar as mais diversas funções na Comunidade que a serve.

Uma linha de ação da Maçonaria


Como cidadão convivendo, há muito tempo, com amigos e conhecidos
maçons e acompanhando apenas por reflexos os trabalhos da Instituição ma-
çônica em nosso meio, pudemos traçar, de leve embora, uma das linhas de ação
da Loja Maçônica União e Força: a atividade desta no setor da Educação em
nossa cidade, paralela, naturalmente, às ações filantrópicas que exerce.
No início de 1947, o Instituto Onze de Março, criado em 1944, pelo então
Capitão do Exército Cândido Nunes da Silva, sob nossa direção, estava amea-
çado de encerrar suas atividades por falta de recursos financeiros. A campanha
de renovação do ensino primário que se operava em Cáceres, e também pela
criação de um ginásio, fez com que reagisse a Comunidade em favor do edu-
candário deficitário, tendo feito o Sr. Raimundo Cândido dos Reis, através da
imprensa, veemente apelo à população para que se encontrasse uma forma de
dar prosseguimento ao Instituto Onze de Março.
Como estivesse próximo o início do ano letivo, procurou-nos, logo depois,
o Sr. Raimundo Cândido dos Reis, como membro da Loja Maçônica União e
Força, informando-nos que a Maçonaria em Cáceres se propunha levar avan-
te o funcionamento d escola cobrindo os déficits mensais que o educandário
apresentasse mediante balancete. Dessa forma, pôde o Instituto Onze de Março
prosseguir as suas atividades até ser encampado para nele ser criado o ginásio
estadual, que começou a funcionar em 1948, coroando assim o esforço de mui-
tos em prol da introdução do ensino secundário em Cáceres.
Mas o primeiro ginásio cacerense tem também seus fundamentos ligados
à Maçonaria, seja pela cooperação da Loja local, seja, isoladamente, por seus
membros dentro da Comunidade. Como Cáceres não tinha, na época, repre-
sentante na Assembleia Legislativa, coube ao Deputado por Corumbá, Dr. José
Henrique Hastenreiter, maçom, apresentar ao Parlamento Estadual o projeto de
lei criando o Ginásio Onze de Março. Aprovado o projeto, foi ele sancionado
pelo então Governador Dr. Arnaldo Estevão de Figueiredo. O curso secundá-

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rio de Cáceres deveria funcionar, no primeiro momento, no próprio prédio da
escola primaria particular. Instituto Onze de Março, o qual seria encampado
pelo Estado. Isto não aconteceu, porém, tendo o ginásio iniciado o seu fun-
cionamento, em 1948, no prédio estadual do então Grupo Escolar Esperidião
Marques, na praça Duque de Caxias, nesta cidade.
Mais tarde, seguindo os ideais do pai, Sr. Raimundo Cândido dos Reis,
que, antes, participara da campanha em prol do ensino, o Deputado Estadual,
na época, Airton Reis, também maçom, participa de nova luta pela educação
em Cáceres, agora tendo por escopo a implantação do ensino superior. Ao De-
putado Airton Reis coube a elaboração dos projetos que se transformaram em
lei municipal, criando o Instituto de Ensino Superior de Cáceres, o IESC, como
instituição do Município, depois transformado em Universidade do Estado de
Mato Grosso, UNEMAT.
Notícias do começo do século dão-nos conta da assistência dada, pela
família do maçom, Cel. José Dulce, às primeiras freiras da Congregação Azul,
que, da Europa vieram para Cáceres, via fluvial, a fim de instalar um colégio
feminino. Nessa ocasião, forma-se a Comissão Auxiliadora do novel colégio, da
qual fazem parte o Cel. José Dulce e outros, inclusive o Major Vicente Pinto de
Araújo, também maçom, como o Sr. José Dulce. Dentro dessa mesma linha de
procedimento, criou a Loja Maçônica União e Força, na sua sede, uma escola
ao perceber que havia crianças fora da sala de aula por falta de espaço para
alojá-las. Hoje o mesmo prédio da Instituição abriga duas unidades escolares:
uma de 1º grau, Escola Estadual União e Força, e a outra, de 2º grau, que traz
o nome, já mencionado, de um lutador pelo ensino no passado, Sr. Raimundo
Cândido dos Reis.
Por esses sinais visíveis e contemporâneos nossos na maior parte, pude-
mos conhecer um dos principais objetivos da Ordem Maçônica – a Educação
do homem, coerente, pois, com o simbolismo do monumento instalado na
praça Rio Branco: “O Aprendiz na Pedra Bruta”, que nos aponta para o valor
do conhecimento, pelo qual, já diziam os antigos, “se torna a vontade sincera,
o coração se concerta, cultiva-se a vida pessoal, regula-se a vida familiar, a vida
nacional é ordenada e o mundo está em paz”.

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A partir destas comemorações do centenário da Loja Maçônica União e
Força, a maioria delas públicas, mais evidente se torna a presença da Maçona-
ria no seio do nosso povo, que, naturalmente, procurará conhece-la melhor e
apreciar a sua atuação cada vez mais visível na nossa Comunidade.
Nossas congratulações, Sr. Presidente, à Loja Maçônica União e Força e
às suas Irmãs – Liberdade Cacerense e Seis de Outubro – pelo transcurso do
centenário da introdução definitiva da doutrina maçônica em Cáceres.

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