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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané

República da Guiné-Bissau

Ministério da Educação Nacional

Faculdade de Direito de Bissau

Cadeira: Direito Económico e Economia da Guiné-Bissau

Regente: Professor Doutor João Mendes Pereira

Assessor: Dr. Tovoy Arnaldo Djú

Ano lectivo 2020/2021

Aula do dia 30.11.2020

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


NOÇÕES DE ENQUADRAMENTO

CONCEITO DO DIREITO DA ECONOMIA (NOA)1

É um ramo normativo do direito que disciplina, segundo princípios específicos e


autónomos a organização e a atividade económica (António Sousa Franco).

O Direito da economia seria um conjunto de normas jurídicas ao serviço duma mesma


finalidade de organização da atividade económica.

Para Cabral de Moncada, o Direito económico, afirma-se fundamentalmente como o


Direito público e tem por objetivo o estudo das relações entre os entes públicos e os
sujeitos privados, na perspetiva de intervenção do Estado na vida económica.

A redução do Direito Económico ao Direito de intervenção do Estado na vida


económica dá-nos um conceito do direito da economia uma concepção ao menos
tendencialmente restrita.

O Direito económico passa a ser predominantemente Direito público, não só pelas


finalidades que prosseguem as normas que o corporizam, mas também pelos
instrumentos ou meios jurídicos em que se concretizam, a expressão Jus imperri do
Estado.

A atividade económica pública regida pelo Direito financeiro assume cada vez mais
acentuadamente nos nossos dias uma orientação conformadora da atividade privada. Os
meios financeiros têm agora por objetivo relançar a atividade económica privada no
sentido considerado mais conveniente ou ainda redistribuir o rendimento (taxar as
pessoas que têm propensão de riquezas através para dar aos que não têm rendimento) ou
contrair a atividade económica.

Nesta conformidade a atividade financeira deixa de ser neutra em relação à economia,


funcionalizando-se por completo em ordem aos seus novos objetivos dirigistas e
intervencionistas. Tendo em vista um novo caráter, um novo conteúdo e um novo objeto
da atividade financeira dos nossos dias, caem as barreiras entre economia e as finanças.

O Direito económico como o Direito geral da atividade económica abrangeria assim, ao


menos parcialmente, o Direito financeiro, em especial o Direito das despesas públicas,
tudo contribuindo em suma para o diluir da noção do Direito económico. Ora, é certo
que continua a existir o Direito financeiro que não é o Direito económico. Por exemplo,
a disciplina jurídica de elaboração e execução do orçamento.

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Não Objeto de Avaliação (NOA)

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Tem a sua origem quer nas normas dos tratados constitutivos das comunidades
(UEMOA), quer nas normas de Direito derivado, quer ainda, na própria interpretação
jurisprudencial que dela foi sendo feita pelo tribunal de justiça da comunidade.

O Direito interno da economia, é aquele que será objeto expresso do nosso estudo.

AS RELAÇÕES ENTRE O DIREITO E A ECONOMIA (NOA)

É evidente a relação múltipla entre o Direito e a economia, qualquer que seja a


concepção de um e de outra, sobre um e sobre a outra. Na verdade, o Direito e a
economia são subsistemas do sistema social, como estrutura ou ordem da sociedade ou
enquanto vida social (estática e dinâmica social).

Subsistemas do sistema social que se traduzem na existência de relações


dominantemente correlativas - e de uma tal interligação entre ambas que a mesma
realidade social pode ser, de um ponto de vista, económica e de, outro, jurídica. Será
económica, enquanto se reporta as diferentes formas de vida humana pertinentes, à
afetação de bens materiais raros à satisfação das necessidades dos Homens; Será
jurídica, enquanto se prender com a relação valorativa entre os homens que resulta da
forma de regulação social imperativa que é o Direito.

De qualquer das formas, limitamos a verificar a interdependência geral entre o direito e


a economia.

Aula do dia 01.12.2020

FUNÇÕES DO DIREITO DA ECONOMIA

Para caracterizar a sua função social, bem como a configuração das respetivas
instituições, é necessário fazer uma análise da situação social em que ele exerce a
função de regulação jurídica. Ela caracteriza-se, em nosso entender, por:

Necessidade de definição jurídica dos equilíbrios do poder entre os Estados e as


entidades sociais, públicas e privadas, dada a concentração atual das unidades sociais

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(produtivas ou não) e a inadequação dos mecanismos do mercado para assegurarem
espontaneamente e só por si, tal equilíbrio.

Assunção pelo Estado de objetivos de controlo da economia, os que resultam tanto do


aumento de peso dos instrumentos de que dispõem como da assunção de novas funções
económicas e sociais. Este controlo de facto deve ser juridicamente regulado e
implementado.

Transformação, daqui decorrente, de sistema económico e dos regimes económicos


sociais tanto nos seus caracteres extra ou meta jurídicos, como nos aspetos jurídicos que
careceu de definição mais clara.

Assunção clara, em escritos Estados e sociedades, a nível constitucional ou outro, de


objetivos de transformação social (no sistema ou do sistema), com particular incidência
no domínio económico, o que pode ser feito mediante meras ações de facto, mas, em
sociedades estabilizadas em Estado de Direito, obriga em regra a uma definição de
enquadramento geral das instituições económicas fundamentais.

Aula do dia 02.12.2020

A EVOLUÇÃO DO DIRETO DA ECONOMIA (NOA)

Na nossa civilização a relação entre o Direito e a Economia pode dizer-se que se


situava, antes do capitalismo, em termos que muitos se afastam da perspetiva própria do
moderno Direito da economia. É com o aparecimento na europa dos sistemas socias do
tipo moderno- e sua imposição pelos descobrimentos, a colonização e a mundialização
da cultura e das formas sociais, as sociedades integradas em outras civilizações - que
começam a surgir novos ramos de Direito, com clareza autónomos relativamente ao
Direito civil, ao Direito canónico e ao Direito público geral, o que chamamos "sistemas
sociais modernos" caracteriza-se, por um lado pelo surgimento do Estado nacional em
forma típica de organização das sociedades políticas, no âmbito interno e no
internacional; por outro, pelo aparecimento da sociedade mercantil - comercial e
industrial.

A autonomia da realidade económica e o seu desenvolvimento, as formas novas que


assume tudo modifica de algum modo a função reguladora do Direito relativamente à
atividade económica: duma função reguladora genérica, ele passa a assumir uma função
reguladora específica. Cabe-lhe estabelecer a disciplina de novos tipos de relações e
situações que surgem na vida social - e ao exercer essa função, cabe-lhe conservar, por
um lado, e transformar, por outro a própria realidade social reguladora ou regida (pela
norma) e vivida (na instituição). O crescimento do intervencionismo e do dirigismo
estadual, tendentes a um controlo global da economia, o aparecimento de objetivos
voluntaristas de transformação social, tanto nos países desenvolvidos como nos países

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em desenvolvimento, os quais geram a definição de programas de intervenção
económica e social que tendem a originar uma nova regulação normativa das relações
económico-sociais.

O processo de crescente internacionalização da economia, que leva ao aparecimento de


uma prática e uma disciplina jurídica internacionais das instituições económicas
internacionais (ou com relevância internacional) e da vida económica internacional.

Aula do dia 09.12.2020

AS FONTES DO DIREITO DA ECONOMIA (NOA)

Enunciado geral

O direito da economia comunga com outros ramos de direito da problemática normal


das fontes do direito e da sua hierarquia. Naturalmente que a constituição constitui a
primeira e de mais importante fonte do direito da economia. A ordem jurídica
económica é constituída por todas as normas e atos jurídicos que disciplinam a atividade
económica, sejam eles leis, decretos-leis, regulamentos, portarias, despachos ou outros.
Esta multiplicidade de regras não tem, porém, um desenvolvimento incoerente ou
anático mas, pelo contrário deve constituir um sistema caracterizado por uma unidade e
coerência internas. Daí resulta que seja possível e desejável enunciar os princípios
fundamentais, os princípios gerais que desenham o modelo da nossa ordem económica.
O processo da internacionalização da economia é fator poderoso de recomposição do
sistema jurídico, a partir do direito económico. Num lugar à parte deve ser reservado, às
fontes comunitárias, entre às quais, há desde logo, que salientar os tratados da UMOA e
da UEMOA. Não só os tratados constituem, no entanto, uma fonte do direito da
economia, revelando particularmente uma fonte direta os regulamentos comunitários,
que constituem normas gerais, abstractas, obrigatórias, de aplicação imediata sem que se
torne necessária qualquer deliberação dos Estados – membros para a sua entrada em
vigor nos respectivos territórios decorrente de efeito direto e imediato. Quanto às
diretivas comunitárias constituem no entanto os Estados-membros na obrigação de
adotarem medidas tendentes à prossecução de determinados objetivos, ainda que lhes
deixem a liberdade de escolha quanto aos meios e à forma.

No domínio com a novidade e mobilidade do direito da economia, reveste-se, de facto,


da maior importância a apreciação da forma como os tribunais interpretam as normas do
direito económico, a afirmação que é válida quer para a decisão dos tribunais
administrativos, quer para a dos cíveis, crescentemente chamados a apreciar situações
jurídicas reguladas pelo direito da economia. Da mesma forma e no que respeita ao
direito comunitário económico há que referir a importância das decisões do tribunal de
justiça das comunidades no seio da UEMOA. Os tribunais têm um papel fundamental na

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aplicação e interpretação dos tratados, bem como na verificação do respeito pelos
Estados-membros das obrigações impostas pelos tratados ou pelo direito derivado
comunitário e na apreciação da validade dos atos das autoridades comunitárias e o
respeito dos seus deveres. Não se deverá, ainda aqui esquecer o crescente recurso à
formas de arbitragem e a tendência para, no âmbito da vida empresarial surgirem figuras
destinadas a resolver conflitos entre empresas ou no seio das empresas ou entre
parceiros sociais, para cima a resolução seria inadequado o recurso aos tribunais.

CONCEPÇÕES DO DIREITO DA ECONOMIA

 PRIMEIRA CONCEPÇÃO
O DIREITO DA ECONOMIA COMO DIREITO DA INTERVENÇÃO
ECONÓMICA DO ESTADO

A corrente dominante na doutrina alemã parte de uma verificação e de uma concepção


geral. A verificação é esta: o direito da economia surge como resultado, ou é expressão
da intervenção (no mais lato sentido) do Estado na atividade económica (ou,
restritamente da direção da economia pelo Estado), ou de outra forma, é um conjunto de
regras limitativas da liberdade económica. A partir desta ideia, diversas concretizações
surgem: o direito da economia como conjunto de normas que na prática executam
juridicamente a política económica; a limitação da direção económica pelo Estado e
garantia das pessoas e grupos (particulares ou sociais) perante essa intervenção. Este
tipo de concepção corresponde a uma verificação historicamente correto.

O direito da economia surge como expressão de um processo de transformação dos


sistemas económicos liberais em sistemas crescentemente intervencionistas ou
dirigistas. Estas posições têm, pois, resultados e fundamentos de muito mérito. Parece-
nos, todavia, inadequadas para definir e caracterizar a realidade científica do direito da
economia na sua latitude atual. Não se distingue corretamente entre as diferentes formas
de intervenção do Estado (por exemplo a distinção entre ordenação, intervenção e
atuação).

Aula do dia 14.12.2020

 SEGUNDA CONCEPÇÃO
O DIREITO DA ECONOMIA COMO DIREITO ADMINISTRATIVO DA
ECONOMIA

É possível desprender-se - na economia como entre nós o prof. Marcelo Caetano - que o
"Direito Económico" não é mais do que o direito administrativo da economia (ou
eventualmente, este o direito internacional económico).

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A partir da ideia anterior é possível identificar todas as formas de intervenção do Estado
como formas administrativas de intervenção. E então dir-se-á que o direito da economia
não é mais do que o direito administrativo da economia; os seus atos administrativos, os
seus contratos administrativos e assim por diante.

Crítica: Ao raciocinar assim esqueceu-se a impossibilidade de reconduzir ao conceito de


direito administrativo de muitos institutos nucleares do novo direito da economia.

- Esqueceu-se que o direito da concorrência regula comportamentos privados e é em


muitos países aplicado pelos tribunais;

- Esqueceu-se que a nova vaga do contratualismo económico e social - se aproxima


muito mais da contratação privada com o Estado - apesar de ela ser feita à luz do
interesse geral do que a contratação administrativa.

Não só no domínio do direito económico mas também em análogos ramos de direito


social).

Esqueceu-se que o direito de planeamento tem mecanismos de elaboração e imposição


bem diversos dos do direito administrativo.

Poderia em fim apontar-se que o espírito do direito da economia é em muitos aspetos


diverso do que inspira a administração e o direito administrativo: de um lado o incentivo
e a medida sem sanção, do outro a atividade direta ou a imposição de comportamentos
aos particulares por ato administrativo específico ou regulamento genérico; de um lado
a participação na tomada de decisões, do outro o dirigismo; de um o plano e o
programa, do outro o regulamento; de um lado a concertação social, do outro a
imposição unilateral e o contratualismo formal (o privilégio de execução prévia não
existe no nosso domínio (entende-se no domínio da área económica); de um lado a
regulação de comportamento de sujeitos privados ou sociais (por exemplo cooperativas,
empresas em auto gestão); do outro a imposição unilateral de comportamentos. Todavia,
existe um direito administrativo da economia; ele trata da estrutura e funcionamento da
administração pública, sobretudo de área económica e genericamente quando tem uma
atuação económica que se reflete nos institutos fundamentais da economia.

 TERCEIRA CONCEPÇÃO
DIREITO DA ECONOMIA COMO DIREITO DA ORGANIZAÇÃO OU DO
SISTEMA ECONÔMICO

Fazendo prevalecer os aspectos organizativos tem-se defendido que o direito da


economia seria o direito da organização ou do sistema económico.

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Aluno: Bacar Alfino Mané


Os sistemas económicos podem definir-se como formas típicas de organização e
funcionamento da economia, decorrentes de princípios fundamentais que regem
economias de estruturas diversas.

Podem ser tipos ideais de organização, definidos com elevado grau de abstração, ou
sistemas concretos, formas de ordenação, estrutural e funcional de economias concretas.
Deve reconhecer-se que é importante a contribuição do direito da economia para a
definição do sistema económico. Mas a noção do sistema económico não é jurídica, e
como tal não serve para proporcionar uma adequada configuração do direito da
economia.

Por outro lado, mesmo no plano estadual, esquece-se uma outra noção- quadro
importante a do regime económico que entendemos ser a forma como, num determinado
sistema económico-social se articulam as relações estáveis (ou estruturais) do poder.

- Também ela não poderá ser tomada, de per si, como elemento definidor do direito da
economia, mas deve considerar-se relevante para tal fim, a título semelhante ao do
sistema. Todavia, nem tudo no direito da economia se reconduz a esta função
normativa: muito dos seus institutos ou instituições não tem que ver com a definição do
sistema ou do regime, na parte em que isso é acessível ao sistema jurídico, e se situam
em planos de concretização institucional que transcendem amplamente as noções de
sistema e do regime económico.

Aula do dia 15.12.2020

 QUARTA CONCEPÇÃO
O DIREITO DA ECONOMIA COMO FENÓMENO NORMATIVO OU
INTERPRETATIVO DE NATUREZA ESPECIAL

Diversas concepções caracterizam ainda diferentemente o Direito da economia. Uns


limitam a acentuar que as novas necessidades e a nova realidade da vida moderna -
levam ao aparecimento do novo tipo de produção normativa, orientado para regular ou,
mais ambiciosamente, dirigir a vida económica. Mas esta verificação situa-se apenas no
plano da política legislativa; e não basta o aumento quantitativo de normas sobre
determinado tipo de matérias para que surja um ramo de direito juridicamente
autónoma.

Acentuam outros que este novo tipo de produção normativa exige uma nova
metodologia de interpretação e aplicação da lei e determina até nova especialização
entre as profissões jurídicas (a dos juristas económicos). Mas, pós esta observação se
situa no plano das profissões do Direito, ela será sem dúvida importante, mas não
justifica a autonomia de um ramo de direito e duma correspondente disciplina jurídica.

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A formação específica para certas matérias ou o estudo aprofundado de certos métodos -
por exemplo, o Direito comparado - são importantes em Direito, mas situam-se em
plano diverso do dos ramos de Direito.

Outros vão um pouco mais longe, detectando um espírito novo na ordem jurídica e em
diversas das suas normas, o qual como que atravessa em diagonal" toda a ordem
jurídica, novo método de pensamento jurídico. E, ao fazê-lo, encontram normas de
Direito económico - como normas de sobreposição ou de segundo grau - que dão novo
sentido às normas próprias dos ramos de direito tradicional. Constituíram elas assim um
corpo de princípios inspiradores (desprovidos de normatividade concreta, mas
modeladores de soluções ditados ao legislador ou ao aplicador da lei pela concorrência
global do ordenamento) ou de algumas normas ou comandos concretos, com reflexo
sobre o conjunto do ordenamento, mas sem a especificidade, autonomia e coerência
própria de que deve resultar um ramo de direito caracterizado.

Outros reconhecem que existe uma transformação na regulação das relações jurídicas
em tempos recentes, que daí decorre um novo espírito, um novo método, uma nova
visão da realidade jurídico-económico.

*Mais produção legislativa, é mais uma especialização quase tipo pós graduação.

Aula do dia 16.12.2020

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DA ECONOMIA

 O CARÁTER RECENTE DO DIREITO DA ECONOMIA

O direito administrativo desde sempre regulou matérias com incidência económica


como os concursos públicos de empreitadas, de fornecimento de bens ao Estado ou
concessão de exploração dos serviços públicos. É por isso que o direito público da
economia enquanto direito da intervenção do Estado na economia - é um ramo do
direito jovem em relação ao direito público geral da economia. Atua ele como
instrumento de coordenação e estímulo à iniciativa privada ou como instrumento de
gestão do setor público.

A juventude do direito público da economia é assim o resultado direto das finalidades


especiais a prosseguir e dos regimes jurídicos utilizados no âmbito do atual
intervencionismo estatal.

 DIVERSIDADE

O direito da economia reflete a heterogeneidade da ordem económica dos países


dispostos numa graduação que vai desde as economias de mercado mais ou menos puras

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às economias integralmente planificadas, tornando inviável a elaboração no seu seio de
uma teoria geral de vocação ecumênica. É pois um direito, mais do que qualquer outro,
dependente da estrutura económica dominante em cada país.

Apesar da diversidade das estruturas económicas dos diferentes países, em todos eles
se acentua a gestão do direito público da economia, e mesmo naqueles que acusam um
forte pendor liberal se pode falar de um direito público da economia. Isto resulta da
superação da ideia de que a atividade económica é estranha à atividade estadual,
superação que conduziu ao intervencionismo estatal e ao consequente atenuar da ordem
económica liberal, deixando a economia de constituir um setor indiferenciado e
exclusivo da atividade privada.

 MALEABILIDADE

As normas de direito público da economia contêm frequentemente regras-quadro menos


rígidas que as do direito administrativo clássico. As causas da maleabilidade são
diversas:

- Grande diversidade de organismos que intervêm na atividade económica;

- O caráter variado dos regimes jurídicos da intervenção estadual;

- O aparecimento de tipos de atos com características próprias e específicas em


contraste com os atos de direito público comum. Por exemplo o plano, cuja a natureza
coloca problemas novos não se subsumindo nos quadros jurídicos clássicos; as diretivas
de tipo indicativo do plano e as informações que o Estado nele presta e que visam
facilitar o enquadramento da atividade particular, as ofertas de bonificação de juros, os
contratos de viabilização, as recomendações do governo à banca estatizada para
conceder crédito à determinada empresa, etc.

Aula do dia 21.12.2020

 MOBILIDADE OU MUTABILIDADE DO DIREITO PÚBLICO DA


ECONOMIA

As normas deste ramo de direito não podem aspirar a longa duração, pois as frequentes
alterações da conjuntura económica e política tendem a encurtar o ciclo biológico dos
diplomas. Daí que se recorra abundantemente aos regulamentos, aos despachos e às
resoluções que têm um processamento mais simples, dado que podem ser mais
facilmente revistos e revogados. Ganha assim maior peso o poder executivo na
elaboração das normas, relativas ao direito público da economia, deslocando-se o centro

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de gravidade da produção normativa, no âmbito do direito público da economia, do
legislativo para o executivo, também por esta razão.

** Ou seja, suas normas são sujeitas a constantes mudanças de ordem política e


econômica, havendo tendência de curta vigência no que se refere a seus diplomas legais.
Daí decorre uma produção normativa abundante e constante, havendo necessidade de
não sujeitar seu disciplinamento apenas ao crivo do Poder Legislativo, outorgando
grande parcela de competência normativa ao Executivo, ante a especificidade do tema e
a celeridade de soluções que seus conflitos exigem.suas normas são sujeitas a constantes
mudanças de ordem política e econômica, havendo tendência de curta vigência no que
se refere a seus diplomas legais. Daí decorre uma produção normativa abundante e
constante, havendo necessidade de não sujeitar seu disciplinamento apenas ao crivo do
Poder Legislativo, outorgando grande parcela de competência normativa ao Executivo,
ante a especificidade do tema e a celeridade de soluções que seus conflitos exigem.

 HETEROGENEIDADE DO DIREITO PÚBLICO DA ECONOMIA

O ecletismo do direito público da economia é o resultado do recurso simultâneo a regras


e instituições de direito público e de direito privado. A simultaneidade do uso de
regimes jurídicos de direito público e de direito privado deriva das necessidades de
regulamentação das situações e dos problemas levantados pela intervenção estadual na
economia.

**O Direito da economia é mais amplo e portanto é ramo de direito mitigado. A


competição dos sujeitos no mercado tem que ver com o direito da economia. O Direito
da economia tem matéria do direito público e direito privado.

O direito financeiro é puramente público. Por exemplo o Estado quando vai cobrar
impostos não negocia com os contribuintes.

 PERMEABILIDADE AOS VALORES POLÍTICOS

O direito público da economia é particularmente sensível aos valores e orientações


políticas do legislador e da administração. Sendo as normas do direito público da
economia enunciadas em temos imprecisos e vagos, além de com referência constante
aos princípios valorativos, deixam à entidade encarregada de as pôr em ato
(concretizar), o legislador, se se tratar de normas constitucionais ou a administração se
se tratar de leis ordinárias, uma ampla esfera de liberdade que será preenchida
chamando à colação critérios políticos ao sabor do peso das maiorias parlamentares ou
das opções dos governos.

A vontade política dos órgãos do poder é deste modo um componente essencial e


evidente do direito público da economia. Pois, ele segue a corrente ideológico-
partidária de quem se encontra no poder.

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Claro é que a vontade política não é exclusiva daquelas normas manifestando-se porém
nelas de modo muito nítido e justamente a medida que a intervenção na economia se vai
alargando em extensão e profundidade. A intervenção do Estado na economia faz da
vontade política do legislador, seu ator principal, o regulador das decisões económicas,
a par do mercado (onde funciona a regra da oferta e da procura).

Vontade política e o mercado, eis os dois elementos essenciais do modo de ser da


atividade económica e que imprimem, na sua complexa síntese, um cunho especial ao
direito que a estuda.

** (Os deputados é que determinam a alteração das medidas económicas, pois eles
enquanto atores políticos é que dão aval).

CARACTERÍSTICAS SECUNDÁRIAS

O professor Dr. Eduardo Pais Ferreira, acrescenta a estas características, outras como:

 - Declínio da imperatividade e coercibilidade das normas, com recurso crescente


a incentivos, em detrimento das medidas de repressão;
 - Crise das generalidades da norma e crescente importância do casuísmo;
 - Necessidade de recurso frequente a estudos pluridisciplinares; *(não impor
sanções de imediato mas dar possibilidade de pagamento faseado, defende a
necessidade de não meter tudo no mesmo saco).
 - Crescente autonomização científica e pedagógica de sub-ramos de direito da
economia.

Aula do dia 04. 01.2021

CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA

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Noção

As principais caracterizações da constituição económica nasceram na doutrina


germânica, que desde logo contrapôs, no âmbito do direito público da economia, o
direito constitucional económico, integrado pelas normas constitucionais ou
fundamentais da economia, ao direito administrativo económico integrado pelo regime
jurídico da intervenção económica do Estado. A constituição económica é o conjunto
de normas e princípios constitucionais relativos às economias, ou seja, a ordem
constitucional da economia.

Formalmente, é a parte económica da constituição do Estado, onde está contido o


ordenamento essencial da atividade económica desenvolvida pelos indivíduos, pelas
pessoas coletivas ou pelo Estado. Esse ordenamento é basicamente constituído pelas
liberdades, direitos, deveres e responsabilidades destas entidades no exercício daquela
atividade. Neste sentido, a constituição económica é conformadora das restantes normas
da ordem jurídica da economia. Ela é pois, uma parte fundamental da ordem jurídica da
economia, ou seja, a parte estruturadora e básica dela. Fala-se em constituição formal
para designar normas e princípios obtidos, principalmente com base em textos
constitucionais.

Em sentido material, a constituição é o conjunto de normas e princípios que


estruturam e legitimam determinada ordem jurídica. A constituição económica
material integra um núcleo essencial de normas jurídicas que regem o sistema e os
princípios básicos das instituições económicas, quer constem quer não do texto
constitucional: máximo quer seja ou não dotada de particular estabilidade que
caracteriza as normas nos textos constitucionais. A constituição económica formal
compreenderá apenas as normas, tal como acima definidas, que estejam integradas no
texto constitucional formal com incidência económica, ainda que desprovidas de per si
daquela particular relevância material. É naturalmente o conceito da constituição
económica material, aquela que nos interessa fundamentalmente e que permite a
integração de um conjunto de leis que são fundamentais na definição da ordem jus-
económica, tais como as leis da concorrência ou as que regulam a atividade específica
de determinados setores da economia.

Fala-se por vezes da constituição económica para designar precisamente os princípios


fundamentais que dão unidade à atividade económica geral e dos quais decorrem todas
as regras relativas às organizações e funcionamento da atividade económica de uma
certa sociedade. Não é exigível que tais princípios constem de alguma parte especial da
constituição, a eles dedicada, bastando que as disposições económicas estejam dispersas
pelo texto constitucional ou por legislação avulsa. Segundo os autores a constituição
económica, assim entendida como conjunto dos princípios fundamentais informadores
da atividade e da organização económica é constituída simultaneamente por normas
formalmente constitucionais, isto é, normas inscritas no texto constitucional, e por

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normas apenas materialmente constitucionais, isto é, pilares da organização básica da
ordem económica sem assento no texto constitucional.

NOA

Para Guilherme Oliveira Martins, a constituição económica como conjunto de


princípios e normas fundamentais porque se regem juridicamente, uma comunidade
política, a organização e o funcionamento económico de uma comunidade política.
Nestes termos a constituição financeira corresponderá ao conjunto de princípios e
normas fundamentais porque se regem juridicamente, uma comunidade política, a
organização e o funcionamento respeitantes à atividade económica dos entes públicos
que afetam bens ou meios económicos próprios à satisfação de necessidades que lhes
estão confiados. De acordo com esta linha de raciocínio, a constituição financeira fará
parte da constituição económica a qual, por sua vez, se integra na constituição latu-
sensu.

É hoje, no entanto, possível verificar que a todos os sistemas económicos têm uma
constituição económica que traduz numa decisão global sobre a ordem da vida
económica de uma sociedade, reconduzindo-se à uma opção fundamental de uma de
duas formas globais da organização da vida económica de mercado, ou economia
planificada centralmente.

Aula do dia 05.01.2021

CARACTERIZAÇÃO E ENQUADRAMENTO CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA

A noção da constituição económica integra a parte fundamental - porque o mais


importante - da ordem jurídica da economia.

Importa, pois, definida.

As principais caracterizações da constituição económica nasceram na doutrina


germânica que cedo contrapõe, no âmbito do direito público da economia, o direito
constitucional económico, integrado pelas normas constitucionais ou fundamentais da
economia, ao direito administrativo económico, integrado pelo regime jurídico da
intervenção económica do Estado.

Vimos como esta dicotomia se tornou progressivamente insuficiente para


caracterizar, de modo capaz, o conteúdo do direito da economia em sociedades
modernas.

Ele não é apenas público, nem apenas privado, ele não se resume como, na etapa
imediata posterior ao liberalismo, a tratar um certo enquadramento da ação económica

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do Estado (tanto de intervenção como de atuação como sujeito económico), define o
regime jurídico geral da ordem económica.

É deste é que decorre os critérios de intervenção do Estado e não ao contrário.

A constituição económica foi, pois, um conceito que, primeiro se formalizou, com


base na integração em textos constitucionais de normas sobre a atuação económica do
Estado e a sua intervenção, e, depois de certos programas, cada vez mais amplos e
globais que haviam de enquadrar essa atuação. Nessa medida, nada obstaria a que se
tratasse de um mero direito constitucional especial.

Contudo, o Direito constitucional da economia foi progressivamente evoluindo no


sentido de integrar uma regulação global das questões fundamentais da ordem jurídica
da economia, independente da ação do Estado (embora integrando) e não concebido
como mero objeto da ação política (excepto no tocante à sua sujeição a todo o que é
direito legislado).

A integração numa área normativa autónoma da do direito público torna-se claro,


chegando, então preferir-se abandonar a noção da constituição económica para falar
antes, por exemplo, de princípios gerais de direito económico.

É frequente, todavia, que vá além disso, a partir do argumento de que a constituição


material é também constituição da sociedade enquanto ser político, de modo que a sua
formulação restrita rejeita a perspectiva científica adequada ao político como categoria
de fenómeno social.

Obs: como que enquadra a constituição económica dentro da constituição política.

Há quem acha que é a parte especial da constituição política e outros acham que são
princípios.

Aula do dia 06.01.2021

Obs: Noção do sistema económico e regime económico - objeto de avaliação.

SISTEMA E REGIME ECONÓMICO COMO OBJETOS DA CONSTITUIÇÃO


ECONÓMICA E COMO ESTRUTURAS DE ENQUADRAMENTO DA
PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO

NOÇÃO DO SISTEMA ECONÓMICO E DO REGIME ECONÓMICO

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Podemos definir os sistemas como formas típicas de organização e funcionamento da
economia, baseadas em certo número de princípios fundamentais que regem economias
com estruturas diversas.

Podemos falar de sistemas abstractos e sistemas concretos, consoante o grau maior


ou menor de abstração, com que se concede os respetivos princípios, como modelos
informadores e interpretativos de diferentes realidades.

Designamos por regimes económicos as formas diversas como - no âmbito de cada


sistema - o poder (máximo o poder político) se articula com a realidade económica.

A caraterização do regime económico constitui uma moldura explicativa dos princípios


da intervenção do Estado e da sua atuação financeira, tanto no plano das ideologias
inspiradoras como no das instituições de enquadramento.

Ela refere-se, naturalmente, a uma articulação complexa, transcende em muito o


mero domínio jurídico. Ainda que o determine, na parte em que a ordenação económica
visa configurar ou disciplinar certas regras ou critérios de intervenção, sendo ainda
determinada por ela na medida em que cada regime se exprime através da ordenação
económica (e da sua parte fundamental que é a constituição económica. A noção do
regime não se esgota assim, na forma politica do poder, mas inclui as demais formas de
poder: os poderes sociais, sindicais, patronais etc), os próprios poderes económicos -
formas de dominação com estrutura de carácter essencialmente económico: campo das
relações entre si (por exemplo: o princípio da subordinação do poder económico ao
poder político) como nas respetivas relações com a realidade económica em qualquer
das suas expressões (mercado, plano, empresa, etc).

**O regime explica a ideologia de cada estado regula a intervenção do estado e da sua
atuação financeira, relaciona com outras realidades extra por exemplo as realidades
sociais e mais...

Aula do dia 11.01.2021

PRINCÍPIOS DA DIREÇÃO CENTRAL E DA ECONOMIA LIVRE

Os sistemas abertos serão tipos ideais de organização de economia. Trata-se, então dos
princípios opostos que inspiram a organização e funcionamento da economia para
resolver os três problemas fundamentais: que produzir? Como produzir? Para quem
produzir?

Para dizer de outra forma a mesma coisa, os problemas de consumo, da produção e da


repartição - com todos os demais fenómenos económicos deles derivados (circulação e
comércio externo, designadamente).

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Um é o da Direção Central (ou Direção Central total, ou planificação integral, ou
economia centralizada);

Outro, o da economia livre (ou economia livre de mercado, ou economia de mercado,


economia descentralizada).

O PRINCÍPIO DA DIREÇÃO CENTRAL DA ECONOMIA

O sistema da direção central parte do princípio de que, todas as decisões económicas


serão tomadas por uma mesma entidade central, que dispõe de meios de fazer executar
as suas decisões pelos membros da sociedade.

Assim, à essa entidade central cabe:

- Interpretar as necessidades de cada um dos sujeitos económicos, estabelecendo quais


elas são, qual a respectiva prioridade relativa de satisfação, quais os bens que serão
produzidos para as satisfazer e, em que quantidade (consumo).

- Fixar as quotas de resultados de produção que serão distribuídos a cada sujeito


económico, a cada fator de produção e a cada região e setor (repartição).

Com estas decisões globais, serão resolvidos pela autoridade central, os problemas
económicos fundamentais - restando aos económicos executar as decisões económicas.

Este sistema é, assim, totalmente centralizado independente de um plano centralmente


obrigatório que todos na economia executam: é ele o seu instrumento privilegiado de
regulação ou ajustamento da economia.

Obs: é o Estado quem toma as decisões, interpreta as necessidades dos sujeitos


económicos. Faz a distribuição dos bens económicos por setores sociais. Atualmente, o
sistema económico é mitigado.

PRINCÍPIO DA ECONOMIA LIVRE

O princípio da economia livre inspira um sistema totalmente descentralizado, em que a


resolução dos problemas económicos fundamentais se passa se não houvesse Estado
(anarquia económica).

- O consumo é determinado por cada consumidor que traça a sua tabela de necessidade
e define as suas prioridades e intensidades confrontando-se as posições de todos,
atrações da licitação recíproca dos mercados livres.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


- A produção é organizada livremente pelos agentes económicos que escolhem as
técnicas e os bens a produzir; eles produzem para as necessidades que si próprias
sentem (Auto produção e autoconsumo), ou para troca com os produtos criados pelos
outros, confrontando as ofertas e procuras pela livre licitação no mercado (produção
para o mercado).

A repartição do produto é feita também através dos mercados de fatores de produção em


que, uns vendem trabalho, capital, terra ou técnica e, outros, as unidades de produção,
compram tais bens, com as receitas das vendas dos seus produtos no mercado.

Aqui, o instrumento essencial do ajustamento racional das decisões económicas é o


mercado.

Obs: é um sistema como se não existem regras do Estado. Produzem para próprio
consumo. E, a licitação, quando maior é a oferta, menos é o preço.

Partilha de fatores de produção!

É um sistema capitalista!

Aula do dia 12.01.2021

OS SISTEMAS ECONÓMICOS CONCRETOS COMO MODELOS DE


ESTRUTURAÇÃO DE CADA SOCIEDADE

Muitas vezes, a querela doutrinária entre sistemas tem em vista apenas os tipos ideais.

Procura-se então apurar-se, sobretudo, qual é mais racional, permitindo menor


desperdício de recursos e maior bem-estar; qual é mais eficaz, permitindo uma produção
mais eficiente e maior riqueza; qual é mais justo, gerando menos desigualdades. Qual,
em suma, é mais conforme ao conceito de sociedade que cada um tem.

Mas a realidade concreta é muito mais profunda: os princípios ideais sofrem


sempre limitações, ao menos pela estrutura de cada sociedade e pelo facto de alguns
elementos do sistema dominante serem limitados ou temperados por elementos do
sistema oposto.

Os Estados capitalistas modernos têm planos globais em muitos casos, mas o


seu mecanismo fundamental não deixa de ser o do mercado; há Estados socialistas em
que existem mercados, sem que o elemento essencial do sistema deixe de ser o plano.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Nenhuma economia é 100% livre e descentralizada: há sempre um Estado e
formas de intervenção dele na atividade económica. Nenhuma economia é 100%
planificada e centralizada: há sempre margens de liberdade - ou por outra forma o
sistema, de tão burocrático, lento, pesado e autoritário, não poderia funcionar.

O que caracteriza um sistema económico em concreto são:

 As instituições fundamentais da vida económica e social;


 A técnica dominante de produção;
 O móbil típico que domina o comportamento dos sujeitos económicos.

Aula do dia 13.01.2021

O SISTEMA CAPITALISTA

CARACTERIZAÇÃO JURÍDICO-ECONÓMICA

O sistema capitalista, ou do mercado, ou de economia de mercado, ou de economia


livre, ou da livre empresa, qualquer que seja o nome que se lhe dê, é o mais antigo
sistema da sociedade industrial podemos recorrer para a caracterização sinteticamente
aos três traços fundamentais:

1- Um certo número de instituições jurídico-sociais típicas. O mercado, a empresa, o


capital, a iniciativa e a propriedade privadas;

2- Uma técnica evoluída e dinâmica de produção;

3- Um móbil típico das atividades económicas, designadamente das produtivas; o


espírito de ganho, em especial na forma de lucro. As instituições económicas do
capitalismo são o mercado, o capital e a empresa. As instituições-quadro típicas do
capitalismo, no plano jurídico, assentam basicamente em 2 princípios: o da
propriedade privada e o da liberdade, designadamente de iniciativa privada.

As leis e os princípios económicos fundamentais dum sistema capitalista são


informados pela ideia de que a liberdade económica é a melhor forma de realizar o
progresso e o bem-estar económicos. O mercado e a moeda constituem as fundamentais
instituições de ajustamento ou regulação dos mecanismos económicos, completadas no

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


domínio jurídico pelo contratualismo e pelo voluntarismo (Princípio da autonomia da
vontade individual).

A LIBERDADE E A INICIATIVA PRIVADA

O princípio da liberdade económica - como expansão da personalidade em atos, em


conjugação com o exercício da propriedade e dando origem à sua aquisição - tem
igualmente múltiplas expressões jurídicas de que se destacam como nucleares:

A liberdade de contratar - Princípio da autonomia da vontade entendido em termos


jurídico-formais, absolutos, que vão se limitando progressivamente nas modernas
economias sociais; cada contrato situa--se num mini mercado bilateral, o princípio
essencial do mercado é a livre contratação. ** As partes negociarem e determinarem as
cláusulas contratuais dentro do âmbito da lei e desde que não ponha em causa a
dignidade da pessoa humana.

A liberdade de trabalho - cada um exerce em abstrato, a profissão que deseja, segundo


sua livre opção, contratando livremente, de forma individual, as suas condições de
trabalho.

A liberdade económica tem uma expressão peculiar e autónoma no reconhecimento do


direito de tomar iniciativas (liberdade de iniciativa), designadamente no domínio
produção e muito em especial a livre criação (com subordinação apenas da lei mesmo
que dependa de atos de administração) de unidades de produção “máxime” empresas
(liberdade de empresa); não apenas no tocante à criação de empresas com a livre
decisão na empresa.

Uma última expressão relevante da liberdade económica é a liberdade de consumo,


isto é, a liberdade de escolha do tipo de grau de necessidades a satisfazer por cada
sujeito portador de carências económicas. Da liberdade de consumo resulta o livre
funcionamento dos mercados. Mas a necessidade de compensar as manipulações que
limitam ou suprimem a livre escolha pelos consumidores leva a que da liberdade de
consumo meramente formal - no mercado - se passe a liberdade substancial. O
funcionamento das instituições jurídicas de defesa do consumidor. Em sentido
amplíssimo, todas estas formas de liberdade constituem a liberdade económica.

De vez em quando essa liberdade de escolha é manipulada e daí a necessidade de


existir uma organização de defesa dos consumidores no nosso caso dá-se o exemplo
de ACOBES.

Aula do dia 18.01.2021

MOTIVAÇÕES TÍPICAS DOS SUJEITOS ECONÓMICOS

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


O elemento mais característico deste sistema é que, nos encontramos perante o que se
tem chamado uma economia de lucro: isto é, os sujeitos económicos são, todos eles
movidos pela intenção de obter ganhos (os ganhos da empresa são lucros) na sua
atividade e relações com outros: e o sujeito económico dominante e típico é o produtor,
que comanda o mercado na realidade, sendo o consumidor relativamente passivo
perante ele (produtor).

*O móbil específico aqui é a obtenção de ganhos, o produtor tem que calcular as


despesas da matéria-prima, pagamento de renda se assim for e a fixação do preço final.

AS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO NO CAPITALISMO

O capitalismo é um sistema que integra, como essencial padrão cultural, uma cultura
científica e tecnológica dinâmica. Ele correspondente também, nesse domínio, a um
elevado índice de civilização, e a um tipo de civilização que busca o progresso
constante. Não é, todavia, apenas a existência de uma tecnologia avançada e dinâmica
que, como é próprio de um sistema de sociedade industrial que caracteriza o
capitalismo. Também uma elevada capacidade de inovação - por ventura maior,
porque se trata de um sistema descentralizado e competitivo, do que a dos sistemas
socialistas - o demarca: a inovação tanto atinge as práticas económicas e os modelos de
comportamento individual, como a estrutura técnica, como a aplicação da técnica à
atividade económica.

**São esses três aspectos que interessam: as instituições típicas do capitalismo, o


móbil dos sujeitos económicos e as técnicas de produção (técnica inovadora).
ATENÇÃO PARA ORAL E ESCRITA

TIPOS E FORMAS DO CAPITALISMO - NOA

O pré-capitalismo, o capitalismo nascente, o capitalismo comercial e financeiro o


capitalismo comercial e financeiro (ou melhor: o pré-capitalismo) corresponde a uma
primeira fase de evolução, em que os traços do capitalismo começam a nascer nas
sociedades de economia urbana da Europa. Ele veio do século XV ao século XVIII (ou
começos do século XIX). Caracteriza-se pelo aparecimento da mentalidade, das
instituições e práticas capitalistas, sobretudo nas cidades do centro e norte da Europa,
sem que o artesanato se tivesse ainda transformado em indústria moderna e assumido o
lugar dominante na estrutura produtiva.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


A atividade manufatureira e agrícola, característica da economia urbana, vai-se
sobrepondo a atividade comercial dentro da Europa. O comércio gera novas instituições
e práticas, desenvolve e generaliza a mentalidade capitalista.

Os Estados nacionais asseguram uma estabilidade social e política. E a acumulação de


capital, a par do espírito de poupança, leva ao incremento de um comércio que vai além
da simples função de intermediário e promotor de transporte de mercadorias,
dinamizando o respetivo mercado. A atividade financeira (finanças privadas, que é a
função de intermediário nos mercados da moeda e do crédito).

Aula do dia 03.03.2021

O CAPITALISMO INDUSTRIAL - NOA

A revolução industrial ocorrida em Inglaterra e na América do norte, na segunda metade


do século XVIII - introduz uma mais profunda transformação nas técnicas de produção.
A indústria com a elevada intensidade de capital e tecnologia mais sofisticada, continua
até hoje a sua atividade dominante nas sociedades capitalistas desenvolvidas:

Ao ponto de a segunda revolução industrial já no século XX, que se deve à descoberta


de computadores e as novas tecnologias industriais - consistir ainda na criação de meios
de capital que visam substituir ou complementar, não apenas a força do trabalho do
homem, mas a sua própria capacidade de concepção intelectual.

Terceira fase: O capitalismo de maturidade

Tardio, social ou amadurecido.

A correção de injustiças, o peso de correntes ideológicas socialistas e o desafio da


revolução Russa de 1917 provocaram a transformação maior do capitalismo, no final da
primeira Guerra Mundial até hoje: ele (o capitalismo social) tende a tonar-se social e
mundial. Aumenta a intervenção do Estado, tanto em termos de produção como para
satisfação de necessidades sociais (saúde, segurança social, emprego, bem-estar)
aumenta as atividades produtivas de serviços, em detrimento relativo da indústria.
Assim o capitalismo deixa de ser liberal, para passar a ser crescentemente social,
diferente do que era no século de ouro (apogeu) do industrialismo.

Em síntese podemos distinguir três modelos principais do sistema capitalista:

- Reduzido peso do poder político e atividade económica desenvolvida essencialmente


com base na liberdade de múltiplos sujeitos individuais e liberalização do Estado -
abstencionismo (liberal). Esta é a fase do capitalismo puramente liberal.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

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- Acentuado peso e diversidade de funções económicas do poder político, embora com
respeito pelos princípios fundamentais da propriedade privada e da liberdade individual;
o Estado intervém apenas para corrigir e defender o funcionamento do sistema, mas não
para o orientar ou dirigir - intervencionismo;

- O Estado propõe fins económicos próprios e procura dirigir ou orientar o


funcionamento da economia, embora sem suprimir de raíz as instituições e princípios
básicos da economia do mercado - dirigismo. (Esta é a fase do capitalismo social).

SISTEMAS SOCIALISTAS - IDEIAS GERAIS - Objeto de avaliação

Sistemas socialistas contemporâneo caracterizam-se essencialmente por três traços: a


apropriação pública dos meios de produção, com desaparecimentos tendenciais da
iniciativa privada capitalista, gestão administrativa da economia; a atividade
económica subordinada ao plano e subtraída, em princípio, às leis do mercado;
motivações ideais de igualdade, solidariedade social, disciplina e bem-estar coletivo. O
socialismo tem em comum, ao que parece, uma ideia de fundo: pretendem, rejeitando a
ideologia liberal, instaurar um sistema (ou um regime) económico-social que reduza as
desigualdades e injustiça do funcionamento do princípio do mercado. Tenta-se, assim,
instaurar um certo primado de valores sociais sobre os individuais e reforçar a
solidariedade e a igualdade, embora com eventual detrimento da liberdade.

Aula do dia 09.03.2021

PRINCÍPIOS ECONÓMICOS FUNDAMENTAIS

O sistema capitalista, assente na liberdade económica, baseia-se no funcionamento de


leis de oferta e de procura. Nada disto sucede porém no sistema socialista: a
planificação é o seu princípio económico fundamental. O funcionamento da
economia depende de planos globais, que disciplinam primariamente a produção e
derivadamente a repartição e consumo, em toda a economia. Tais planos são em
princípio imperativos para todos os agentes económicos: isto é, com base em formas de
participação mais ou menos descentralizada na sua preparação e revisão na fase de
execução, que se impõe, com metas necessárias a atingir, a todos os sujeitos
económicos.

O plano representa, em relação a um dado período um conjunto de previsões e decisões.


Previsões da evolução da economia; decisões a cerca do que vai ser produzido, do que
há de ser consumido ou investido, do que vai remunerar os trabalhadores ou do que é
atribuído à cobertura de encargos sociais.

MOTIVAÇÕES TÍPICAS

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Aluno: Bacar Alfino Mané


É difícil tentar precisar em que consiste a motivação típica dos sujeitos económicos nos
sistemas socialistas. Em termos teóricos, poderíamos dizer que será o bem-estar, dentro
de uma ideia de solidariedade social (que domina o comportamento dos sujeitos
económicos integrados em tais estruturas) e do princípio da igualdade coletiva.
Pretender-se-á assim superar os fins individualistas (espírito de ganho) da economia
capitalista; mas não se deixa de manter a primazia de finalidades económicas sobre
outros objetivos sociais e culturais, ao menos na prática efetiva.

Obs: não tem o ganho como principal objetivo.

Aula do dia 10.03.2021

AS CONTITUIÇÕES ECONÓMICAS GUINEENSE2

No percurso do constitucionalismo guineense podemos apontar vários períodos:

I – (O primeiro período), iniciado com a outorga de uma constituição pelo movimento


de libertação, em resultado da proclamação unilateral da independência e em plena
situação de guerra.

II – (um segundo período), demarcado pela aprovação duma segunda constituição pela
Assembleia Nacional Popular, em resultado de um golpe de Estado;

III – (Um terceiro período), resultante da revisão do texto constitucional de 1984, que
se carateriza pela consagração de uma democracia pluralista, por uma tendencial
emancipação da sociedade civil e, nomeadamente, pela liberalização da economia;

IV - (Um quarto período), que decorre da revisão constitucional de 1993 e que passa
pelo aprofundamento do elenco e do regime de direitos, liberdades e garantias, pela
reordenação do sistema do governo e pela consagração da fiscalização jurídica da
constituição.

Estes quatro períodos poderão reduzir-se a dois grandes movimentos de história


constitucional guineense:

- Primeiro, um movimento de construção do Estado, de inspiração socialista e de


economia dirigida;

- Um segundo, movimento iniciado com a revisão de 1991 que se abre para as


virtualidades (benefícios) do mercado e que pretende implantar o verdadeiro Estado de
direito.

2
Atenção para o exame

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Preocupar apenas com aquelas quatro fases!!!

Aula do dia 16.03.2021

A constituição de 1973 não se deteve a desenhar os contornos e a estrutura da


organização económica. Limitou-se a apresentar os objetivos genéricos impostos pela
proclamação do Estado da Guiné-Bissau (e que eram o progresso económico do país e a
elevação constante do nível de vida social e das populações) e a incumbir o Estado de
prosseguir através da planificação, estes objetivos. O artigo 8º da constituição de 1973
reza o seguinte: “o Estado desempenha um papel decisivo na planificação e no
desenvolvimento harmonioso da economia nacional. A propriedade do Estado
colonialista e a propriedade dos traidores da pátria serão transformados em propriedade
nacional”. Deixou assim o poder constituído a faculdade de conformar livremente à
economia e ao Estado a de se assumir como único decisor económico. Ao nível da
propriedade apenas nos aparece uma referência na segunda parte do artigo 8º, que
determina a transformação em propriedade nacional da propriedade do “Estado
colonialista” e à propriedade dos traidores da pátria.

Importa referir que:

1- Os bens do Estado português nacionalizados não estavam dependentes deste preceito


para passarem à esfera do Estado guineense, visto que tal decorre automaticamente de
regra do direito internacional respeitante à transferência da propriedade pública numa
sucessão de Estados;

2- A transformação da propriedade dos “traidores da pátria” configura uma situação de


nacionalização-sanção que não implica qualquer critério material de delimitação de
setores.

Verificamos assim que não ficam aqui incluídos nem delimitados quaisquer setores de
propriedade pública, cooperativa ou privada.

A constituição de 1973 foi outorgada num período específico em que a preocupação


central residia na afirmação da soberania. A tarefa de organização foi deixada para o
poder constituído definir na melhor oportunidade e a oportunidade surgiu em 1975.
Todo um conjunto de diplomas infraconstitucionais foi desenhando e colorindo a
economia da Guiné-Bissau.

Aula do dia 17.03.2021

- Foi a classificação e afetação do solo em todo o território nacional, rural e urbano, ao


domínio público, com a possibilidade do uso e fruição por concessão (lei 4/75);

Foi a reserva pelo Estado de várias atividades como a importação de produtos


farmacêuticos (lei 8/75), a exploração de riquezas florestais (Decreto 12/76), a

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Aluno: Bacar Alfino Mané


comercialização e importação de arroz, farinha de trigo, semente, sabão (Decreto 8/77),
óleo de palmo (Decreto 36/77), a atividade seguradora (Decreto 14/79);

- Foi a criação de empresas públicas com monopólios de atividade (Decreto 10/75). Já


no texto constitucional de 1984 com a revisão de 1991 (primeira revisão), consagra 3
princípios:

1º Princípio da economia de mercado, que vem substituir o anterior princípio da


Direção central e planificação estatal;

2º Princípio da subordinação do poder económico ao poder político, o que de certo


modo pode implicar uma apropriação coletiva dos principais meios de produção e o
planeamento democrático da atividade económica;

3º Princípio da coexistência das propriedades pública, cooperativa e privada. A


constituição garante a coexistência de 3 distintos setores de propriedade dos meios de
produção. Na identificação dos setores de propriedade manda a constituição atender à
titularidade respetiva e ao modo social de gestão de cada um. Por "titularidade" deve
entender-se a inclusão dos bens no âmbito dos poderes de disposição de um destinatário.

Aula do dia 22.03.2021

AS CONSTITUIÇÕES ECONÓMICAS COMUNITÁRIAS - NOA

O tratado constitutivo da União Económica e Monetária da Africa Ocidental (UEMOA),


de 1994 prevê no seu artigo 4º alínea a) o reforço da competitividade das atividades
económicas e financeiras dos Estados membros no âmbito do mercado aberto,
concorrencial e dum ambiente jurídico racionalizado e harmonizado. Na alínea c) do
mesmo preceito preconiza a criação de um mercado comum baseado na livre circulação
de pessoas, bens, serviços, capitais e o direito de estabelecimento das pessoas exercendo
uma atividade independente ou assalariada, assim como a instituição duma pauta
externa comum e de uma política comercial comum.

Com efeito, o tratado prevê no seu artigo 76, a instituição de regras comuns de
concorrência aplicáveis as empresas públicas e privadas, assim como as ajudas públicas
(auxilio do Estado) em vista a realização de um mercado comum.

As funções essenciais das regras comunitárias da concorrência aplicáveis às empresas


consiste em evitar os acordos, práticas concertadas ou abusos de posição dominante
mantenham os obstáculos ao comércio entre os Estados membros eliminados por força
das regras sobre 4 liberdades económicas.

Por aplicação do artigo 88 do tratado da UEMOA, são incompatíveis com as regras do


mercado comum as ajudas acordadas pelo Estado ou com os recursos do Estado sob
qualquer forma, desde que falseiam ou susceptíveis de falsear a concorrência

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Aluno: Bacar Alfino Mané


favorecendo certas empresas ou certas produções. O artigo 87/IV, do tratado da
UEMOA prevê as regras de concorrência no espaço da união económica e monetária. O
regulamento comunitário número 2/97 do conselho de ministros da UEMOA de 28 de
novembro adota a Pauta externa comum.

Quanto a comunidade económica dos Estados da Africa Ocidental (CEDEAO), a


criação duma união aduaneira está baseada em várias fases, isto e, a implementação de
livre comércio, a adoção de uma pauta externa comum e duma politica comercial
comum em relação aos países terceiros, e a eliminação das barreiras a livre circulação
das pessoas, dos bens, dos serviços e dos capitais no seio da região. Assegurar o
funcionamento efetivo duma zona de livre comércio como primeira fase de um futuro
mercado comum.

Conferir a lei número 5/2010

Aula do dia 23.03.2021

PRINCÍPIOS GERAIS DA ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA - Exame oral

Princípio da coexistência de setores de titularidade

Art. 12 CRGB

A garantia da existência de três setores de titularidade dos meios de produção - pública,


privada e cooperativa - tem sido um constante no texto constitucional,
independentemente das variações no peso e importância relativa a cada um deles.

A coexistência e compatibilidades de formas de apropriação e gestão de bens e


unidades produtivas constituem, aliás uma das características da complexidade do texto
constitucional.

A repartição da atividade económica em setores assenta na natureza dos sujeitos


titulares da propriedade e/ou no poder de direção desta mesma atividade.

Assim, a atividade distribui-se por qualquer destes setores, tendo como base objetivos
diferenciados.

O setor público tem que ser entendido no âmbito de incumbências gerais do Estado em
matéria económica e social e articulado com as outras formas de regulação
constitucionalmente previstas.

No setor privado que se concentra a atividade económica. Essa atividade organiza-se


e desenvolve-se livremente de acordo com os objetivos lucrativos que lhe são inerentes,

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


sujeitando-se aos condicionalismos e às restrições constitucionais ou legalmente
previstas.

 O setor público é constituído pelos meios de produção cuja propriedade e


gestão pertencem ao Estado ou outras entidades públicas. A acumulação da
propriedade e gestão é a condição necessária dado que pode haver bens públicos
geridos por empresas privadas ou cooperativas e pode haver intervenção pública
na gestão das empresas privadas, embora a título excecional e com o caráter
transitório, sem que por isso, em qualquer dos casos devem esses bens ou
empresas considerar-se integrados no setor público. Assim sendo, fazem parte
do setor público os meios de produção públicos geridos diretamente pela
Administração pública (por exemplo, sob a forma de serviços públicos
económicos), ou por outras entidades públicas que poderão assumir a forma de
institutos públicos, empresas públicas, sociedades de capitais públicos ou
sociedade de capitais mistos. Quando maioritariamente controladas pelo Estado
e desde que este tenha também a maioria dos órgãos de gestão.

Aula do dia 24.03.2021

Não interessa para teste/exame escrito mas para ORAL interessa!!!

 O setor privado, é constituído pelos bens e unidades de produção cuja


propriedade ou gestão pertencem a pessoas singulares ou coletivas
privadas. Estão, assim, naturalmente abrangidos todos os meios de produção
que sejam propriedade de entidades privadas, exceto se forem geridos por
cooperativas em obediência aos princípios cooperativos. Pertencem igualmente
ao setor privado todos os meios de produção que sejam propriedade publica, mas
cuja gestão tenham sido - por via contratual ou não - entregue a entidades
privadas.
 O setor cooperativo e social compreende os meios de produção geridos por
cooperativas de acordo com os princípios cooperativos (independentemente da
forma de propriedade, que tanto pode ser pública, privada, ou cooperativa); os
meios de produção comunitária, possuídos e geridos por comunidades locais, os
meios de produção objeto de exploração coletiva por trabalhadores, os meios de
produção geridos por pessoas coletivas sem caráter lucrativo e com objetivos de
solidariedade social.

O código cooperativo define as cooperativas "as pessoas coletivas autónomas, de livre


constituição, de capital e composição variáveis, que visam através da cooperação e entre
ajuda dos seus membros, com obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins
lucrativos, a satisfação das necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais
destes (membros), podendo ainda, a titulo complementar, realizar operações com
terceiros". Evitou-se deste modo qualificar unilateralmente as cooperativas como
associações ou sociedades comerciais.

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Aluno: Bacar Alfino Mané

Constituição económica é a última matéria para o teste.

Aula do dia 12.04.2021

Da generalidade das intervenções estaduais na economia, nomeadamente das que


traduzem em medidas de estímulo e formato das atividades económicas e que
constituem a maior parte da intervenção económica do Estado nos nossos dias
nomeadamente naquelas formas de intervenção que se concretizam em prestações a
favor dos particulares como é o caso dos subsídios, subvenções, empréstimos etc).

Neste âmbito legitima-se desta maneira a utilização da figura do regulamento de


origem governamental, mais adaptada às exigências móveis da conjuntura económica.

Trata-se de questões de importância as mais das vezes conjunturais sem dignidade


necessária para o seu tratamento a nível legislativo, mas que assumem medida sócio
económica nos nossos dias uma importância estratégica considerada, não sendo no
entanto o suficiente para exigir a presença direta da lei na globalidade do respetivo
tratamento.

Tal presença confereria à intevenção prestativa do Estado uma legitimidade e uma


dignidade especiais mas subtraía aos poderes público a capacidade de manobra, que se
pretende rápida e facilmente adaptável, para resposta às questões postas, as mais das
vezes carecendo de soluções de conteúdo técnico. Os poderes públicos perderiam em
eficácia o que ganhavam em legitimidade e dignidade, e é por vezes necessário
sacrificar aquele valor.

**Intervenção que visa restringir certos direitos fundamentais mas que deve assumir a
forma de lei.

PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA PÚBLICA

Em matéria de iniciativa económica os poderes de intervenção do Estado podem ir até


ao ponto extremo de excluir a gestão privada da empresa, anulando o conteúdo do
Direito de livre iniciativa privada. Nesta medida poderão os poderes públicos obrigar as

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


empresas privadas, independentemente da vontade destas no cumprimento de
obrigações positivas, de facere.

Os poderes públicos podem utilizar as empresas privadas como instrumento da sua


política económica, obrigando-as a acomodar-se e a prosseguir os seus ditames, muito
embora só o possam fazer na forma de lei e "transitoriamente" nos próprios termos
legais. Claro está que as exigências da forma de lei e da transitoriedade não são
verdadeiros limites qualitativos às vicissitudes da política económica nem nesta medida
verdadeiras condicionantes de fundo quanto à amplitude e à profundidade da intevenção
estadual.

**Tentar corigir num espaço limite de tempo porque o Estado não pode ad-eterno gerir
uma empresa privada.

Aula do dia 13.04.2021

O INTERVENCIONISMO ESTATAL

Noção do intervencionismo económico do Estado.

As relações ativas do Estado com economia isto é, as formas da determinação da


economia ou certos aspetos dela pelo que são muitas vezes designadas como
intervenção económica do Estado integrando tal como a ordenação do sistema e os
direitos fundamentais económicos, os elementos essenciais da ordem económica.

Adotando uma visão mais própria de certos tipos de intervenção, há quem sobretudo na
moderna teoria anglo-saxónica principalmente norte-americana prefira falar de
“regulation”, definindo-a como atuação do Estado que interfere com as forças do
mercado e reflexivamente, de regulação como movimento tendente à abolir tais formas
de atuação, mantendo apenas as atuações do Estado que sejam conforme às “forças do
mercado” ou ao livre “funcionamento do mercado”. A regulação é, assim, a realização
de compromissos sociais e a procura de equilíbrios institucionais que permitem a
eficiência e a equidade do sistema económico.

A ARTICULAÇÃO DO ESTADO COM A ECONOMIA

Por nós, temos preferido estabelecer uma tipologia tripartida das articulações do Estado
com a economia. Haverá ordenação económica sempre que se trata de estabelecer
normas e princípios jurídicos a que obedece as atividades económicas e de as executar
segundo critérios exclusivamente jurídicos nomeadamente através dos tribunais. No

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


fundo consiste no estabelecimento das regras para condicionar os sujeitos
económicos.

Nuns casos o Estado (ou outras entidades públicas) atua para a satisfação de
necessidades suas ou da sociedade, sendo ele próprio o sujeito económico que faz
opções:

Escolhe e hierarquiza necessidades, afeta-lhe bens, financia esses bens obtendo


recursos, suporta, destribui ou repercute esses custos sobre outros sujeitos. Essa
atividade tem um aspeto extraeconómico (administrativo, civil ou militar; político,
judicial e técnico) e um aspeto económico: é o seu aspeto que integra as finanças
públicas (atuação económica do Estado).

Obs: na atuação económica, o Estado ele próprio desenvolve política de sociedade -


uma atividade enquanto sujeito económico e social.

Noutros casos, o Estado interfere sem a mera intenção de estabelecer um


ordenamento jurídico geral na atividade económica de outros sujeitos: temos então a
intervenção em sentido extrito.

Em sentido amplo, a intervenção do Estado é uma expressão utilizada pelos


autores com os mais diversos sentidos jurídicos como económico, social ou político.

Para alguns, ela chega a identificar-se com toda a espécie de comportamento


económico do Estado.

Para outros só há intervenção do Estado quando a sua conduta, no domínio


económico social tem uma finalidade, conteúdo e eficácia conformadoras da realidade
económica (regras, instituições ou relações concretas).

Para outros ainda a intervenção diferencia-se de outras formas de atuação por ter
um conteúdo concreto e visa interferir na atividade dos agentes económicos não
estaduais.

Em coerência com o conceito antes desenvolvido, para nós a intervenção


económica do Estado é todo o seu comportamento (ou de outras entidades
equiparáveis) cuja função e finalidade consiste na modificação concreta da
atividade económica. Não se demita a ordenação abstrata de regras ou instituições
jurídicas que orientam, enquadram ou condicionam o desenvolver da atividade
económica (ordem económica).

Nem se traduz nos comportamentos em que o próprio Estado (ou entidade


equiparada) desenvolve-se uma atividade económica própria, dispondo de bens raros
suscetíveis de aplicação alternativas para satisfazer necessidades (próprias do aparelho
estadual ou da sociedade) que lhe cumpre satisfazer atividade financeira.

31
APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


É, pois, essencialmente um sentido teleológico que demarca a intervenção das
outras formas de atuação do Estado, combinado com um critério substancial (forma
de realizar a função estadual de intervenção). Por outro lado, o conceito de base é
essencialmente económico: o poder legislativo relativamente à economia pode ser em
forma de ordenação, mas pode ser também instrumento de intervenção concreta (é
forma de ordenamento, por exemplo, quando regula abstratamente o comportamento de
outros agentes ou cria e rege normativamente os próprios institutos os instrumentos de
intervenção; mas pode servir para direta e concretamente inferir o comportamento
económico de outros sujeitos, e então será meio de intervenção.

Regular o regime dos preços administrativos é ordenação económica; definir


efetivamente os preços administrativamente condicionados de certos bens em cada
momento é uma forma de intervenção.

Por outro lado, a atividade financeira em si é uma forma de atuação económica do


Estado, mas pode ser usada como meio de intervenção (por exemplo atribuindo
benefícios fiscais para incentivar determinadas atividades económicas ou iniciativa dos
particulares).

O conceito de intervenção define uma função clara e um conjunto coerente de


normas jurídicas económicas que no essencial se caraterizam por operarem uma
delimitação dos poderes do Estado relativamente do comportamento dos sujeitos
económicos que seriam livres.

Aula do dia 14.04.2021

MODALIDADES DE INTERVENÇÃO

a) Quanto à doutrina inspiradora

A intervenção do Estado corresponde, ou a um conjunto desgarrado de instituições,


práticas e atos, ou a um sentido global e coerente de atuação funcional do Estado. Neste
segundo sentido, nas sociedades modernas, integra formas diversas de superação da
ordem liberal e dos regimes económicos que lhes correspondem.

Como doutrina e como modalidade de prática histórica é correto distinguir


intervencionismo simples, dirigismo e planificação.

O intervencionismo simples existe quando o Estado, respeitando no essencial a


liberdade de atuação dos agentes económicos privados, procura realizar objetivos
próprios relativos ao conjunto da economia, condicionado ou influenciado com tal fim a
atividade dos particulares.

32
APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


O dirigismo (ou direção económica) existe quando o Estado formula objetivos
globais e pretende propó-los, ou até impô-los aos sujeitos económicos.

Dirige assim a sua atividade (em vez de se limitar a corrigí-la) embora com
respeito pelos princípios essenciais da liberdade económica e pelo mercado como
instrumento regulador.

A planificação existe quando o Estado define objetivos globais, setoriais e


estratégias de comportamentos por eles ditados, impondo-as mediante o plano
imperativo, à generalidade dos sujeitos económicos, aos principais sujeitos económicos
ou só aos sujeitos produtivos. De qualquer forma o mercado deixa de ser o principal
instrumento regulador do sistema, passando esta função a ser exercida pelo plano.

De quanto se disse decorre que o intervencionismo simples e o dirigismo são


compatíveis com sistemas de economia de mercado e com sistemas mistos de
dominante mercantil, enquanto a planificação é uma prática decorrente ou integrante de
sistemas socialistas de direção central ou sistemas coletivistas.

Com a planificação, tal como a definimos, convém não confundir o simples


planeamento. Este é um mero instrumento, que pode ser compatível - se respeitar no
essencial as liberdades económicas - com a economia de mercado (normalmente, em
práticas de direção económica, orientação ou dirigismo global).

b) Intevenção de facto e intevenção jurídica

A intevenção económica pode configurar-se e origináriamente assim se perfilha -


como mero comportamento de facto do Estado e seus órgãos e agentes, ou como
comportamento jurídicamente tipificado e configurado.

A intevenção de facto pode corresponder a simples intervenção política pura (atos


materiais de conteúdo político ou atos políticos) ou atos económicos, sociais etc.

A intervenção jurídica, integrando-se em institutos jurídicos destinados a


articular o comportamento condicionado dos outros sujeitos e o comportamento
condicionado do Estado, é naturalmente a que interessa estudar, nos seus principais
fundamentais institutos ou fundamento jurídico.

AS NACIONALIZAÇÕES E FIGURAS AFINS

Deve, no entanto, considerar dominante, entre nós, a tendência para utilizar o


conceito de nacionalizações em sentido restrito, como constituindo uma medida coativa
que determina a transferência da propriedade de empresas, participações sociais,
universalidade de bens, prédios rústicos e, ou urbanos e ainda de outros bens de pessoas
privadas, para entidades públicas, por razões de política económica e social.

33
APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


É possível isolar alguns traços que integram o conceito de nacionalização e que
ficam, de seguida, referenciados.

I. A nacionalização opera sempre por via coativa, não se podendo falar dela se
tiver havido uma compra pelo Estado de bens privados;
II. É preciso que se verifique uma transferência efetiva de propriedade dos bens
que deixam de se integrar no setor privado;
III. A nacionalização é um ato político, jurídicamente expresso, quase sempre, num
diploma formalmente legislativo, que provoca a transferência dos bens de
propriedade privada para a órbita de propriedade pública ou nacional e exprime
o intuito de gerir os bens no interesse coletivo.

obs: ou seja, a NACIONALIZAÇÃO significa a transferência, por intervenção


legislativa, do controlo ou da propriedade (total ou parcial) de bem, empresa ou
atividade económica anteriormente detida ou explorada por privado(s), para a
posse do Estado, com alteração do seu modo social de gestão.

Entendida a nacionalização nos termos restritos que ficaram assinalados, parece


necessário distinguí-la de outras figuras afins.

A 1ª figura que importa referenciar e que levanta problemas especialmente


melindrosos é a expropriação.

A expropriação dos bens de produção implica igualmente a passagem da sua


propriedade privada à propriedade pública, excluindo contudo a propriedade nacional.
Significa isto que a expropriação não se faz a favor das cooperativas e dos coletivos de
trabalhadores, mas só a favor do Estado ou de outras pessoas coletivas públicas.
Acresce que a expropriação se distingue claramente da nacionalização quanto aos
respetivos fundamentos...

Efetivamente, com a nacionalização visa se limitar amplamente o papel da propriedade


privada enquanto fundamento da ordem económica.

A nacionalização está vinculada à uma conceção dogmática ideológico-política da


propriedade pública e nacional dos bens de produção, nomeadamente das empresas,
enquanto que a expropriação assenta em razões económicas sociais de índole
pragmática que, em certas condições exigem que se ponha termo a propriedade de
certos bens, nomeadamente a da terra.

O que se pretende com a nacionalização é levar a cabo um programa de alteração


diferença radical das estruturas de propriedade dos bens de produção. A expropriação é
uma simples medida pragmática de atenuação do individualismo e do puro
individualismo económico.

34
APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


A expropriação dá sempre lugar ao pagamento de justa indemnização, cujo critério
a lei estabelece. Ora a nacionalização nem sempre comporta o princípio da
indemnização e muito menos por um valor idêntico ao que é contabilizado para efeitos
de expropriação.

A expropriação na medida em que implica a reposição a favor do titular do bem


expropriado de um valor ao menos tendencialmente idêntico ao bem expropriado não é
um instrumento apto, ao invés da nacionalização, a alterar radicalmente a repartição
social dos bens de produção.

A expropriação nunca é um instrumento revolucionário.

Formalmente a distinção é clara. A expropriação é consequência de ato


administrativo e a nacionalização de um ato legislativo.

A nacionalização distingue-se, ainda da reversão que se dá quando, por efeito de


extinção de certo organismo ou pessoa coletiva, o património da pessoa extinta reverte
para o Estado.

Da mesma forma, não se pode identificar a nacionalização ou o resgate de


concessão, que ocorre quando um ente público retoma a gestão direta de um serviço
público concedido antes de findo o prazo por força de razões de interesse público,
pagando uma justa indemnização.

A nacionalização distingue-se, igualmente, do confisco, que consiste na


apreensão e perda a favor do Estado de todo ou parte do património do agente de uma
infração sem que haja lugar a qualquer indemnização.

Aula do dia 19.04.2021

A ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA

- A administração económica: várias facetas (sentidos)

- A administração em sentido orgânico e em sentido material

A atividade dirigida à satisfação das necessidades coletivas dos cidadãos (gestão


pública) chama-se, em direito administrativo, administração pública em sentido material
(ou objetivo).

Quando esta ação se circunscreve à esfera da atividade económica fala-se, de


forma mais restrita, em administração económica do Estado (em sentido material).

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Enquanto atividade, a administração económica tem-se caraterizado por um
alargamento das áreas de regulação (em detrimento da intervenção direta) e, em
simultâneo, por uma complexidade crescente das formas e técnicas usadas para o
efeito. A condução dessa atividade requer existência de um aparelho institucional com
capacidade para tomar decisões, gerir e aplicar os recursos necessários. Este aparelho é
a administração económica do Estado em sentido orgânico (ou subjetivo).

Esta integra, assim órgãos e instituições da administração pública que a vários


níveis, territoriais ou funcionais, estudam, preparam, emitem ou executam as decisões
económicas do Estado.

A ADMINISTRAÇÃO , REGIONAL E LOCAL

Na estrutura da administração económica do Estado, é exemplo da adminitração


pública em geral, há que distinguir a administração estadual e as administrações
descentralizadas infraestaduais (administração autónomas territoriais, como as regiões e
as autarquias locais). As administrações regional e local possuem serviços e
competências próprias, também de índole (natureza) económica, naturalmente
circunscritos a sua área territorial, não estando sujeitas a qualquer tipo de controlo
hierárquico por parte do governo ou da administração central, mas apenas a mera tutela
administrativa.

Obs: trata-se da realidade portuguesa.

OA3

A ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA GUINEENSE

A coordenação global do governo e da administração económica cabe sempre ao


Primeiro ministro, o qual em muitas vezes assistido nessa função por um conselho de
ministros especializados artigo 100/2 CRGB “podem ser criados conselho de ministros
em razão da matéria”. No vértice da administração económica situa-se o governo. O
governo engloba o núcleo variável de ministros com função económica.

O ministério das finanças ocupa normalmente da economia numa perpetiva global


(macro economia), na medida em que lhe compete um papel determinante na
preparação do orçamento e no controlo da sua execução.

Os departamentos responsáveis pelo orçamento e tesouro exercem, de facto, um


controlo significativo sobre as intervenções económicas e financeiras do Estado.

3
Objeto de avaliação

36
APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


A ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA

Centrando a atenção na administração, esta pode ser direta ou indireta.

A base da administração direta é a administração central, sistema integrado de


departamentos (ministérios, secretarias de Estado e as suas dependências) de que o
governo é o órgão superior, cabendo-lhe dirigir os serviços e a atividade da
administração direta do Estado, a quem cabe executar as políticas por aquele definidas.

A administração direta inclui ainda formas de administração desconcentrada. A


desconcentração traduz-se no (descongestionamento de competência dos órgãos e
serviços administrativos supremos do Estado em benefício de órgãos e serviços
periféricos ou locais“ ou simplesmente inferiores por exemplo, as Direções regionais de
diferentes ministérios não personalizadas (sem autonomia).

A administração indireta (ou mediata) é aquela que é confiada a estruturas


dotadas de personalidade jurídica e grau variável de autonomia administrativa (por
exemplo institutos públicos). Mas se este é o núcleo essencial da administração
económica do Estado (aquele que possui natureza exclusivamente pública), a verdade é
que, por força das novas formas de interpenetração e equilíbrio entre o público e o
privado, se assiste à emergência de outros agentes de administração económica que,
integrados no Estado ou parcialmente sob o seu controlo ou direção, possuem natureza
híbrida ou até privado quanto à composição, organização, método de direção e forma
jurídica. Assim sucede quando, por exemplo, entidades privadas são associadas a tarefas
de administração pública, mais vezes sob simples forma de informação ou consulta
(administração consultiva e ou concertada), outras com funções executivas por
delegação de poderes públicos (administração delegada).

Aula do dia 20.04.2021

CARACTERISTICAS GERAIS DA ADMINISTRAÇÃO ECONÓMICA

A administração económica compartilha das caraterísticas da administração pública em


geral, mas também apresenta algumas especificidades.

No exercício das funções da administração implica o poder de impor as suas


decisões aos cidadãos. Por isso suscita um problema de legalidade, isto é, de
conformidade (e de controlo de conformidade) da respetiva atuação com a lei.

O princípio da legalidade da administração é um princípio integrante de um Estado


de direito fundando numa constituição, na separação de poderes e no respeito de direitos
e garantias do cidadão. Este é o limite fundamental da atuação da administração.

37
APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


A constituição da Guiné-Bissau, estabelece no seu artigo 8º/1 «o Estado subordina-
se à constituição e basea-se na legalidade democrática». E no número 2 do mesmo
artigo acrescenta que «a validade das leis e dos demais atos de Estado e do poder local
dependem da sua conformidade com a constituição».

Todovia, para atuar com eficiência, a administração requer um certo grau de


autonomia e discricionariedade na tomada de decisão, seja quanto à oportunidade, seja
quanto a forma, ou também quanto ao próprio sentido da decisão administrativa. Há
uma margem de liberdade que deve ser-lhe autorizada, embora sempre dentro dos
limites da lei, ou seja, “vinculada”.

Em geral, pode dizer-se que a administração económica é caraterizada por uma


importante doze de discricionariedade.

Obs: essa última parte da satisfação das necesssidades coletivas é que mais interessa.

PLANOS ECONÓMICOS

Conceito de plano desenvolveu-se com o aparecimento de novos instrumentos de


racionalização da atuação do Estado, fundamentalmente ocorrido com a intensificação
da intervenção do Estado e com a administração racional que tende a instalar-se ao
longo do século XX.

Em termos gerais, os planos económicos podem ser definidos como documentos


aprovados pelos poderes políticos competentes, que se destinam a analisar as
possibilidades de evolução da situação económica, a definir uma orientação para essa
evolução e a procurar dirigir os sujeitos económicos no sentido de cooperarem para a
realização dos objetivos estabelecidos.

Com base nesta definição, é possível identificar três elementos essenciais dos
planos económicos:

- A previsão económica - o plano constitui, antes de mais, uma tentativa de


calcular qual será a evolução provável da economia.

Por exemplo prever daqui a determinados anos qual será o crescimento da


economia da Guiné-Bissau.

- A fixação de objetivos - os poderes políticos, nos termos em que a constituição e


demais legislações estabeleçam, determinam certos objetivos a alcançar.

** Aqui determina-se as metas a atingir pelo Estado em vários domínios.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


- A escolha e a ordenação dos meios necessários para atingir as metas
definidas, selecionando o plano do conjunto das ações consideradas indispensáveis para
alcançar os objetivos.

**Procura-se orientar os sujeitos económicos a atuarem de determinada forma ou


seja no sentido de colaborarem para a prossecução dos objetivos pré-determinados pelo
Estado.

Aula do dia 26.04.2021

CARATERÍSTICAS DO PLANO ECONÓMICO

1ª - O Plano é um ato jurídico vinculativo aprovado pelos órgãos políticos;

2ª - O Plano é um ato unilateral, não bilateral e muito menos contratual; (Não é


negócio).

3ª - O Plano é um documento que tem uma duração limitada no tempo;

4ª O Plano tem por objeto definir ou enquadrar o comportamento dos órgãos do Estado
e os particulares em determinados setores ou áreas, podendo incluir formas de
influenciar o comportamento dos agentes económicos.

O plano é um documento, que de alguma forma se situa entre a mera ideia de


ordenação da economia e a atribuição de direitos e deveres a sujeitos concretos.

Trata-se, assim, de instrumento que pode ser considerado compromissório entre esses
dois extremos: a mera ordenação, por um lado, e a atribuição de Direitos e deveres, por
outro.

A ideia de planos económicos nasce inicialmente nas economias socialistas, como


resultado da coletivização dos principais meios de produção, o que implica o abandono
das regras do mercado, o qual deixa de poder definir os níveis de produção, o tipo de
bens a produzir, as quantidades e os preços, como ocorre nas economias capitalistas.

O Plano económico tem, então, a função primordial de assegurar a direção central


da economia definindo regras imperativas para os agentes económicos.

O Plano é, consequentemente, vinculativo para os agentes económicos públicos. É, na


medida em que só muito risidualmente se pode encontrar pequenas parcelas de atividade
económica que não estejam estatizadas, tende a ser aplicado a toda a atividade
económica.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané

A NATUREZA JURÍDICA DO PLANO 4

A contestação da natureza jurídica do plano foi feita com especial vigor na doutrina
francesa que tendeu a considerá-lo como um mero ato técnico ou de política
governativa, entendendo não se tratar de um instrumento jurídico mas, tão só, de um ato
político.

Não se encontraria aqui as caraterísticas normais de um ato jurídico e, designadamente,


a criação de determinados direitos e obrigações na esfera jurídica de um sujeito de
direito.

Pertinentemente, Gomes Canotilho e Marcelo Rebelo de Sousa notam que se trata


de uma lei duplamente reforçada por integrar o domínio da reserva absoluta da
Assembleia e inserir-se até na zona primordial desse domínio.

Uma primeira linha possível para defender a natureza material da lei do plano é aquela
que é seguida por Marcelo Rebelo de Sousa, que sustenta que se trata de “uma lei
material de tipo estruturante, já que acrescenta à mera inclusão de um mini programa
económico social e parlamente de governo uma natureza do projeto nacional genérico e
abstrato de alteração das estruturas económico-sociais”.

Outra linha possível é a de Manuel Afonso Vaz, que assentua na existência de


disposições do Plano que têm caráter obrigatório pelo menos para os agentes públicos
que as devem executar.

É certo que, contra o argumento da obrigatoriedade, se podem levantar duas objeções: a


inexistência de sanções no caso de as normas não serem cumpridas e a flexibilidade e
mobilidade do plano, sujeito a frequentes revisões. Por um lado, a existência de uma
norma jurídica não se confunde com a coercibilidade dessa norma, por outro, a ausência
de sanção é caraterística frequente de Direito Económico, como, de resto, sucede
noutros ramos de direito mais estruturados. Também a alegada possibilidade de revisão
do plano e a sua flexibilidade não parecem constituir argumentos relevantes, porque
naturalmente não implicam que, a cada momento, se não deva verificar o cumprimento
do plano tal como ele existe.

4
Para o exame oral

40
APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


A consideração do plano como uma lei em sentido material não implica que não lhe
reconheça um caráter sui-generis, uma vez que, como assinala Manuel Afonso Vaz,
existe uma juridicidade direta e imediata em relação ao Estado e meramente indireta
para as entidades independentes do Estado.

Aula do dia 03.05.2021

DA EXECUÇÃO DO PLANO

São apontados 3 tipos de medidas essenciais de concretização do plano:

- Medidas coercivas;

- Medidas de estímulo psicológico;

- Medidas de concessão de incetivos, quer se trate de incentivos gerais, quer


setoriais.

Diferente como o próprio nome indica, medidas coercivas são aplicadas em função da
existência de certas regras que criam limites à atividade dos agentes económicos. Não é
o plano, em si, que constitui uma regra coerciva, mas há determinadas regras, por
exemplo as relativas à fixação de preços, que podem ser utilizadas durante a execução
do plano.

Estímulos psicológicos são medidas que visam, transmitir à sociedade as


vantagens resultantes da prossecução dos objetivos definidos, através de uma campanha
hábil, designadamente nos “mass media”.

Finalmente, as medidas de concessão de incentivos consistem na atribuição de


determinadas formas de apoio económico, a agentes económicos privados, que aceitam
coordenar a sua atividade em função do plano. Falando das medidas coercivas, este
sistema carateriza-se por existirem várias modalidades de preços, que de seguida se
enunciam, ainda que seja patente a tendência para a liberalização e o recurso cada vez
menor a este tipo de fixação administrativa que levanta problemas à uma economia
livre:

- Os preços máximos, aplicados a determinados bens cujo valor é fixado nos vários
estádios de produção não podendo ser ultrapassados;

- Os preços declarados, que correspondem aos casos em que produtores são


obrigados a comunicar à administração os preços que desejam praticar, ficando esta
com a faculdade de se lhes opor;

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


- Os preços contratados, que resultam de um acordo entre governo e as principais
entidades de determinado setor no sentido de serem praticados determinados preços;

Os preços ou margens de comercialização fixadas, casos em que o produtor possa


aplicar uma margem mínima;

- Os preços vigiados, que são os preços de uma série de bens comunicados à


administração económica a fim de que esta mantenha algum controlo sobre a evolução
desses preços;

- Os preços livres, que funcionam em relação aos restantes bens. A prática de


preços que contrariem essas regras dá origem ao crime de especulação. Admitindo que
cada agente económico atua no mercado convista a maximizar seu proveito individual,
há determinadas circunstâncias em que o Estado deve apoiar essa atividade individual,
do qual podem resultar melhores níveis de satisfação geral. O Estado atua, assim, muitas
vezes, pela atribuição de auxílios públicos, que correspondem a formas de concessão de
apoio direto que, em teoria correspondem à satisfação dum interesse de ordem geral. O
auxílio de Estado pode revestir-se de diversas modalidades estabelecendo-se a distinção
fundamental entre subvenções financeiras e subvenções fiscais.

Quanto aos mecanismos de crédito, elas correspondem à concessão direta de


empréstimos, à bonificação de empréstimos concedidos ou à concessão de garantias por
parte do Estado.

No que respeita às subvenções de natureza fiscal, elas são de natureza ainda mais
variada, correspondendo, de uma maneira geral, a situação em que o Estado se abstém
de tributar.

EMPRESA PÚBLICA - NOÇÃO

A nossa ordem jurídica consagra uma noção legal de empresa pública.

O diploma fundamental é o Decreto nº 55/93 de 25 de outubro, publicado no boletim


oficial nº 43 de 25 de outubro de 1993.

42
APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Assim, segundo o artigo 1º define as empresas de capitais públicos, as empresas criadas
pelo Estado com capitais próprios e ou fornecidos por outras entidades públicas para
exploração de atividades de natureza económica e social, desde que não sejam
constituídas sob a forma de sociedades em conformidade com a lei comercial.

Assim podemos concluir que empresas de capitais públicos são:

As criadas pelo Estado com capitais fornecidos pelo Estado ou outras entidades
públicas, e, naturalmente, para explorarem atividades de natureza económica ou social e
desde que não sejam constituídas sob a forma de sociedades comerciais.

As empresas públicas diferem das empresas nacionalizadas.

As empresas nacionalizadas, são aquelas que, já existindo como realidades


empresariais, foram diretamente objeto de um ato legislativo de nacionalização.

As empresas públicas são pessoas coletivas de natureza empresarial e de origem


institucional ou seja, instituídas por ato de autoridade.

Efetivamente a personalidade jurídica de Direito público assume face ao nosso


direito uma importância essencial para a caraterização da figura jurídica da empresa
pública, pós que o ato de nacionalização teve por efeito a desapropriação da
universalidade que é a empresa desde logo o seu ativo e passivo, extinguindo
consequentemente a sua personalidade jurídica de direito privado e criando em
substituição uma nova pessoa jurídica para quem transferiu a titularidade dos bens e
direitos integrados no respetivo património; O caráter público da empresa depende da
sua titularidade por um ente público.

As empresas públicas distinguem também dos institutos públicos como meio de


desconcentração da administração pública. Dispondo de autonomia administrativa e
financeira e frequentemente dotados de personalidade jurídica, distinguem-se das
empresas públicas por não desenvolverem uma atividade direta de exploração
económica ou social, pelo que não dispõe de capital próprio nem se estruturam e
funcionam sob a forma empresarial.

As empresas públicas diferem das empresas ou sociedades de economia mista,


empresas que associam capitais públicos e privados.

Aula do dia 04.05.2021

PERSONALIDADE JURÍDICA E CAPACIDADE

Artigo 2º, Lei base dos capitais públicos

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Todas as empresas públicas têm personalidade jurídica, distinta portanto, da do Estado
e, evidentemente, uma nova personalidade jurídica em relação às entidades privadas a
que porventura tenha sucedido. A capacidade jurídica de cada empresa pública mede-se,
em concreto, pelo seu objeto.

O objeto das empresas públicas consiste na exploração de atividades de natureza


económica ou social e consta obrigatoriamente dos respetivos estatutos.

A empresa pública é uma pessoa coletiva autónoma relativamente ao Estado.


Dispõe de personalidade jurídica própria. Não havendo personalidade jurídica
autónoma, a atividade empresarial seria sempre exercida pela entidade pública estatal ou
local, pelo que se configuraria sempre como uma atividade acessória relativamente à
atividade global do Estado ou das autarquias.

A personalidade jurídica autónoma é assim condição indispensável para que a


atividade empresarial possa ser configurada como a atividade principal da entidade e a
partir daí construir em tal conformidade o respetivo regime jurídico.

A concessão da personalidade jurídica traz atrás de si como os seus corolários, a


personalidade judiciária plena, a representação através de órgãos próprios e a autonomia
patrimonial.

A capacidade jurídica de direito privado das empresas públicas não diverge da


capacidade das pessoas coletivas prevista no código civil. Vigora para elas o princípio
da especialidade nos termos do qual não podem praticar atos contrários aos seus fins,
medindo-se pois a capacidade, em concreto, pelo seu objeto. O objeto da empresa
pública é sempre definido especificamente pela lei, nem outra coisa se compreenderia,
pois que ela existe para o desempenho duma função de interesse público. Este objeto é
um limite à sua competência, sendo nulos todos os atos e contratos praticado e
celebrados pela empresa que trascendam contrariem o seu objeto. A capacidade jurídica
de direito público é aquela que a lei lhes concede ao determinar a sua competência.

Aula do dia 05.05.2021

AUTONOMIA ADMINISTRATIVA

A autonomia administrativa das empresas públicas significa que podem praticar atos
administrativos definitivos e executórias, que é como quem diz, que dos atos praticados
pelos órgãos e no âmbito das suas competências não cabe recurso hierárquico, mas só
contencioso para os tribunais artigo 55º/2 da Lei base das empresas de capitais públicos.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané

AUTONOMIA FINANCEIRA

Significa a autonomia financeira das empresas públicas que elas (empresas) dispõem de
um orçamento privativo (a forma de elaboração e de execução é diferente da do OGE)
por elas elaborado e aprovado. Este orçamento não faz parte integrante do orçamento
geral do Estado nem sobre ele incide qualquer ato de aprovação parlamentar. Por esta
razão tem a empresa competência para cobrar as receitas provinientes da sua atividade
ou que lhe sejam facultadas nos termos dos Estatutos ou da Lei e para realizar as
despesas inerentes à prossecução do seu objeto.

** Obs: Na elaboração orçamental a regra é do penúltimo exercício.

AUTONOMIA PATRIMONIAL

Significa este princípio que pelas dívidas das empresas responde apenas o respetivo
património, excluindo os bens do domínio público sob administração da empresa
pública artigo 34/4 da Lei base das empresas de capitais públicos. Pelas dívidas da
empresa não responde o património do Estado porque ela tem personalidade jurídica
autonónoma.

A autonomia patrimonial é assim o resultado da personalidade jurídica própria.

CRIAÇÃO E EXTINSÃO DAS EMPRESAS PÚBLICAS

As empresas públicas são criadas por diploma do governo artigo 4º/1 e só se extingue
por iniciativa governamental por via de cisão ou fusão com outras artigo 47º/1. A
extinsão é da competência exclusiva do conselho de ministros artigo 48 da Lei base e
por meio de decreto, conforme os termos do artigo 40º.

Aula do dia 10.05.2021

GESTÃO ECONÓMICA DAS EMPRESAS

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


O regime de gestão económica da empresa pública consta da lei.

Á sua lógica orientadora é a rentabilidade económica, a do lucro, nas mesmas condições


de qualquer empresa privada. Nesta perspetiva não deve a empresa ser gerida com base
em critérios de prioridade política, nem a custa de disponibilidades orçamentais.

Os princípios básicos de gestão das empresas públicas são o da economicidade, o


da eficiência e de planeamento.

O PRINCÍPIO DA ECONOMICIDADE

O princípio da economicidade exige o lucro empresarial ou seja, o excidente. Os


preços praticados pela empresa devem ser pois superior ao custo. O lucro empresarial
é a regra e o subsídio à exploração a exceção.

A rentabilidade económica penetra dentro do regime da empresa pública, mesmo


da que tem a seu cargo serviços públicos.

O lucro tem o destino legal. Deve assegurar o auto financiamento da empresa, do


modo a não onerar a empresa através do recurso ao crédito e remunerar o capital
investido.

O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

Através deste princípio fica a empresa obrigada a acomodar a sua gestão económica a
um aproveitamento racional dos meios humanos (pessoal) e materiais de que dispõe,
minimizando os custos de produção, de modo a poder responder na maior escala
possível as necessidades de que propõe satisfazer. Trata-se de um corolário do princípio
da economicidade que visa criar as condições para que a rentabilidade empresarial seja
possível.

Obs: este é um sub-princípio da economicidade.

Mesmo ao nível da compra dos equipamentos de trabalho deve-se comprar os


equipamentos com prioridade e tendo em conta as necessidades. Chama-se a atenção da
necessidade de evitar o excedente do pessoal.

O PRINCÍPIO DE PLANEAMENTO

Através deste princípio deve a empresa pública perspetivar racionalmente a sua atuação
quer anual quer a médio prazo, assim esclarecendo a sua decisão económica quotidiana.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Não se pretende com este princípio substituir os mecanismos de mercado por uma
metodologia dirigista e centralizada da decisão económica.

A empresa dispõe de inteira liberdade de gestão, como já se diz. Pretende-se tão só


que os órgãos diretivos se habituem a perspetivar a sua decisão económica a médio
prazo de acordo com a evolução da conjuntura, assim contribuindo para o seu
esclarecimento. Significa isto que a lei requer para a empresa pública uma estratégia
económica anual e de médio prazo.

** Quem elabora o plano ou estratégia da empresa é o conselho de administração e


o Diretor em regra tem que seguir o plano da empresa elaborado por conselho de
administração.

Na prática acontece tudo ao contrário, pois o Diretor em várias ocasiões desobedece as


orientações do Conselho de administração.

Aula do dia 24.05.2021

A ECONOMIA CONCERTADA

Nessa redefinição de quadro entre atividade pública e privada, ganha importância


fundamental a negociação de compromissos entre os parceiros sociais e entre estes e o
governo, relativamente à adoção implementação e execução de medidas de natureza
económica e social, particularmente, no domínio da legislação laboral, das políticas
económicas, de rendimentos e dos preços. Francois Blocn Lainè carateriza a economia
concertada pelo facto de “os representantes do Estado ou das comunidades locais e os
representantes das empresas (públicas e privadas) se reunirem de forma organizada, a
fim de trocar informações e confrontar previsões e de, em conjunto, tomar decisões ou
formular pareceres”.

Não deixa, aliás, de ser curioso, que as ideias de concertação económica e social e de
administração concertada vão conhecer uma grande popularidade em França, país
marcado por uma forte centralização administrativa e por uma grande importância da
atuação do Estado na vida económica.

Não se poderá, por outro lado, ignorar que, ainda que por ventura com menores
preocupações teóricas, a concertação social desenvolveu-se muito antes de França e de

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


uma forma muito mais marcada em outros países, sendo, talvez a Áustria a referência
mais significativa.

Em portugal deve-se a Batista Machado, num texto da maior importância, uma


chamada séria de atenção para o fenómeno da concertação social, ao escrever:

“Uma das formas de participação que, a seguir à participação política nas eleiçõs se
acha em mais adiantado estado de institucionalização no Estado neoliberal
contemporâneo é a que dá pelo nome de concertação ou ação concertada”.

A concertação é método flexível de governar ou de administrar em que os


representantes do governo ou da administração participam em debates conjuntos com
representantes de outros corpos sociais autónomas (autarquias, sindicatos, oganizações
patronais e outras associações económicas) com vista à formação de um concenso sobre
medidas de política económica e social a adotar.

O método tem de caraterístico o recurso à persuasão e aos incentivos, de


preferência ao recurso aos meios de coação jurídica. Através dele, organizações
privadas são associadas ao exercício de uma função pública - o estabelecimento de uma
orientação económica global - participando assim, até certo ponto, na formação da
vontade política do governo ou de outros órgãos da administração.

Nesta forma de participação trata-se de conciliar o princípio da liberdade das partes


interessadas, isto é dos parceiros sociais do governo ou da administração, com
determinadas diretivas de ordem global.

Verifica-se uma troca de informações, de opiniões e de previsões entre as entidades


administrativas e os referidos parceiros sociais (associações de interesses, como
sindicatos, organizações de empresários, câmaras de comércio e indústria etc).

Espera-se que através desta troca de opiniões e em fase de dados orientadores


fornecidos pela administração, seja possível chegar a um concenso, por exemplo, quanto
às medidas anti céticas e da correção de conjunturas a adotar, de modo a conseguir-se a
estabilidade dos preços, um elevado grau de emprego, o equilíbrio da balança de
pagamento e um desenvolvimento económico equilibrado.

Uma vez alcançado o concenso, espera-se da realidade dos parceiros que as


medidas acordadas com vista a uma atuação “concertada” nos vários setores
económicos e sociais sejam efetivamente adotadas por eles e que designadamente os
parceiros socias da administração pública atuem junto dos respetivos associados em
defesa de tais medidas.

Aula do dia 26.05.2021

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


CONTRATUALISMO ECONÓMICO - ASPETOS GERAIS

Ficou só sublinhado que o Estado liberal assentava numa distinção radical entre o
universo público e o privado, que comportava a recusa de que a administração pública
dotada de poderes de autoridade, podesse lançar a mão do contrato para a execução das
suas tarefas. Também sabe-se já que a passagem para formas de Estado intervencionista
implicou uma grande diversificação das atividades estaduais e o recurso crescente à
formas de Direito privado, que implicam uma diminuição de caráter unilateral de
atuação do Estado.

A verificação de tal circunstância leva a que alguns autores como Giannini, apareçam a
sugerir que o futuro da administração pública está no contrato, ideia que ganhou adeptos
em França, sobretudo a partir da publicação de um artigo de Michel Vasseur, que
defende que a administração cada vez mais recorrerá ao contrato e cada vez mais tentará
o acordo com os particulares. Trata-se, por ventura, de formulações extremadas
(radical), mas não se pode ignorar que, na realidade, o contrato tem vindo a ganhar uma
importância fundamental como instrumento de atuação da administração púbica.

OS CONTRATOS ECONÓMICOS 5

Muitas são as vezes, no entanto, em que o Estado, ao agir na área económica, não se
coloca nessa posição de supremacia, nem reserva para si quaiquer poderes especiais,
atuando de forma semelhante à de qualquer sujeito económico.

Por esta razão, a doutrina tem sentido alguma dificuldade em classificar os contratos
económicos do Estado em bloco, como contratos de Direito público ou como contratos
de direito privado. Nesta medida, parece mais sensata a posição seguida por Sousa
Franco e Sérvulo Correia, que consideram que os contratos económicos são contratos
celebrados por pessoas coletivas integradas na administração pública, e entre estas
e particulares no âmbito da intervenção económica do Estado evitando tomar
posição sobre a natureza dos mesmos.

É preciso, em qualquer caso, notar que a figura do contrato económico, que se tem
espandido muito, tem dado lugar, com bastante frequência, a alguns exageros,
procurando ver-se contratos em sítios onde não existem, mas, antes, estamos apenas em
presença de formas de diminuição da unilateralidade da ação do Estado. É,
consequentemente, feliz a posição de Sousa Franco, ao introduzir a ideia de
contratrualismo económico e social, conceito bastante mais amplo que o do contrato
económico, que se traduz em diversas modalidades.

Estariam abrangidos por este contratualismo económico e social, aquilo que


podemos designar por simples acordos de cavalheiros (simples entendimento) entre o

5
Para o exame oral

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Estado e os particulares; o condicionamento de certos atos da administração a acordo
dos particulares; a celebração de acordos coletivos genéricos e a celebração de acordos
individuais. Não se poderá, entretanto, esquecer que o aparecimento da figura do
contrato económico tem suscitado muitas dúvidas de qualificação doutrinária. Em
frança, os administrativistas tentaram retrabalhar o conceito de contrato administrativo,
por forma a abranger o contrato económico.

François Laubadère, por exemplo, distinguiu entre os contratos de colaboração


económica que corresponderiam aos tradicionais contratos administrativos, e os
contratos da administração económica - os novos tipos de contratos em que o Estado
acordava com vista à prossecução de determinados objetivos.

A concertação económica e social é uma tendência dominante na política, no


Direito e na administração económica nos Estados modernos.

O contratrualismo é a forma acabada da concertação, quer mediante contratos


económicos genéricos - quer exprimem a mera adesão individual a programas
económicos de interesse geral - quer em contratos económicos específicos (os acordos
entre entidades económicas ou entre o Estado e pessoas singulares ou coletivas, que
definem, por via contratual, os regimes de exercício de determinadas atividades
económicas, ou alguns dos seus aspetos relevantes). Visto que a ideia de
“contratualização” está na moda e corresponde efetivamente a uma tendência do
intervencionismo económico atual.

Existe uma propensão para reconhecer a qualificação jurídica de contratos a todos


os processos em que se manifesta a procura de um acordo entre a administração e os
agentes económicos com os quais ela trata. Os contratos económicos têm por objetivo,
realizar a política de intervencionismo concebida e decidida pelo Estado. São
instrumentos de realização desta política. Normalmente, esta realização parece exigir
mais o processo da decisão, mas o Estado prefere frequentemente, hoje em dia, recorrer
ao contrato para atingir objetivos que outrora procurava de preferência através da ação
unilateral. No que diz respeito aos parceiros, os contratros económicos são concluídos,
como os outros contratos administrativos, entre o poder público e os parceiros privados.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané

Aula do dia 01.06.2021

PRIVATIZAÇÕES E REGULAÇÕES

PRIVATIZAÇÕES - ASPETOS GERAIS

Parece, com efeito que, depois de um período de largas décadas, em que se acreditam na
excelência da atuação pública e na vantagem da existência dum setor público alargado,
se entrou numa fase em que se dá primazia à iniciativa privada e aos mecanismos de
mercado como forma de conseguir o máximo do bem-estar na sociedade.

Importa, de facto, reter que movimento de privatização começa por ser um


fenómeno caraterístico dos países ocidentais desenvolvidos, nos quais vai conhecer
rítmos variados, que se ligam quer com vicissitudes políticas dos próprios países, quer
com as condições económicas gerias.

Essa amplitude de movimento de privatizações levou, aliás, a que já fosse afirmado


que “as privatizações foram um processo muito diverso nas várias áreas do mundo, às
vezes decidido autónomamente, muitas vezes forçado por fatores externos e realizado
com ausência de regras e instituições adequadas, daí derivando da imagem dum
processo difícil, muitas vezes incompleto e com erros”.

Nos últimos tempos, assistiu-se a uma aceleração do processo em muitos países,


que passou, na generalidade dos casos, pela adoção duma nova legislação
simplificadora das privatizações.

Também se reveste duma especial importância a privatização que está a ser levada
a cabo em países em desenvolvimento, sob influência das políticas de estabilização do
Fundo Monetário Internacional (FMI) e de ajustamento estrutural do Banco Mundial
(BM), que exigem a redução da máquina administrativa e a privatização do setor
produtivo.

A privatização do setor produtivo tem-se deparado, no entanto, nesses países com


problemas resultantes da ecassez de capitais privados e dos problemas éticos que coloca
no plano da redistribuição da riqueza, mas parece existir da parte dos organismos
internacionais e dos países doadores uma firme decisão de prosseguir nesse caminho.

As acusações de que, ao exigir este tipo de política interna, o Banco Mundial


estaria a violar a regra de Apoliticismo constante dos seus Estatutos, responde o Banco
com a afirmação de que a atual orientação a favor do mercado é determinada por razões
ideológicas, mas antes é o fruto da evolução ao longo dos tempos e deve ser vista à luz
do falianço de muitos projetos estimulados pelo próprio Banco, particularmente em
África. Deverá, todavia, ter-se presente que o equilíbrio entre o setor público e o setor

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


privado nesses países, à luz da contribuição para o desenvolvimento económico,
continua a ser uma questão especialmente delicada e que se prende com
desenvolvimento e a institucionalização de sistemas democráticos e de sociedades civis
com a possibilidade de responsabilizar os governos.

As explicações para o sucesso das políticas da privatização são múltiplas, mas por
ventura, reveste-se duma especial importância a situação fiscal que se começa a fazer
sentir de forma especialmente nítida nos finais da década de 70, quando os contribuintes
começaram a dar claros sinais de que não estão na disposição de continuar a suportar o
aumento da carga fiscal.

Estado de bem-estar social, instalado após a segunda Guerra Mundial, resistiu mal
às crises económicas da década de 70, que envolveram um aumento de despesas
públicas e que obrigou a repensar globalmente as relações entre o Estado e a economia e
criou um clima desfavorável à existência de grandes setores públicos.

A este pano de fundo favorável à redução do setor público, vieram, ainda, juntar-se
outras circunstâncias que favoreceram, igualmente, a tendência no sentido das
privatizações. Foi este caso, por exemplo de desenvolvimento da tecnologia em setores
onde, normalmente, não havia empresas privadas por corresponderem a áreas de
monopólio o que veio a retirar argumentos para a subtração desses setores à iniciativa
privada como sucedeu de forma especialmente marcante na área das telecomunicações.

Também a internacionalização dos mercados e a crescente mundialização da


economia, com as empresas a terem, cada vez mais, que estabelecer acordos com
empresas de outros países e a criarem processos de união entre elas, veio acentuar
(agudizar) as dificuldades de estrutura da propriedade pública.

Aula do dia 02.06.2021

MOTIVAÇÕES ECONÓMICAS E FINANCEIRAS NOS PROCESSOS DE


PRIVATIZAÇÕES

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Nas motivações de caráter económico, há que salientar a intenção de introduzir
alterações profundas no funcionamento de determinadas empresas, associada à ideia de
que a gestão privada é mais eficaz do que a pública.

Noutra linha de argumentação defende-se, ainda que a gestão privada permite


políticas de emprego mais rigorosas, afirmando-se que, quando a luta sindical se trava
entre patrões, privados e sindicatos, é mais fácil que exista uma verdadeira luta
económica, pondo-se de parte as considerações de ordem social, enquanto que as
empresas públicas parecem ser mais sensíveis aos aspetos de política social.

Outro argumento de caráter económico é o que se prende com maior racionalidade


das empresas privadas, opondo-se aquilo que seria o caráter burocrático do setor
público, prezado e pouco dinâmico, ao setor privado que tem outras possibilidades de
nacionalização.

Finalmente, há que referenciar as motivações de ordem financeira que são,


essencialmente, três (3) tipos.

Em primeiro lugar, sublinha-se o facto de as empresas privadas terem um acesso


mais rápido aos mercados internacionais de capitais, que são cada vez mais importantes.

Em segundo lugar, sustenta-se que as privatizações aparecem como um fenómeno


capaz de criar uma dinâmica favorável nos próprios mercados de capitais dos países
onde ocorrem.

Finalmente, há que notar que com as privatizações, surge a possibilidade de


libertar o Estado do peso dos pedidos de financiamento das empresas de setor público,
reduzindo as pressões orçamentais.

** Eficácia racionalidade na gestão; Acesso aos mercados de capitais.

MODALIDADES DE PRIVATIZAÇÕES

Artigo 8º

Dec. Nº 5/92, de 10 de Agosto.

Lei Quadro de privatizações.

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APONTAMENTOS DIREITO ECONÓMICO E ECONOMIA DA GUINÉ-BISSAU 2020/2021

Aluno: Bacar Alfino Mané


Concurso público aberto;

Subscrição;

Oferta pública sujeita a licitação.

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