Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU
BOLETIM OFICIAL
Segunda-feira, 24 de Maio de 2010 Número 21
Dos assuntos para publicação no "Boletim Oficial", devem ser enviados o Os pedidos de assinatura ou números avulsos do "Boletim Oficial" devem ser dirigidos
original e o duplicado, devidamente autenticados pela entidade responsável, à Direcção Comercial da INACEP — Imprensa Nacional, Empresa Pública —
à Direcção-Geral da Função Pública — Repartição de Publicações — a Avenida do Brasil, Apartado 287 — 1204 Bissau Codex. — Bissau-Guiné-Bissau.
f im de se autori zar a s ua publi c aç ão. Contact o Tm : 697 72 63 - 591 68 03 Contacto Tm: 662 71 24 - 532 14 33 - 723 88 12 - Email: inacep_imprensa@yahoo.com.br
***************************************
PARTE I
entanto. dado que o Acto Uniforme não abrange
as garantias dos Direitos fluvial, marítimo e aéreo
(art.º 1.º, II do Acto Uniforme) optou-se por não
CONSELHO DE MINISTROS
mexer nestas matérias conservando-se assim
Decreto-Lei n.º 1/2010 as disposições sobre garantias marítimas no Có-
de 24 de Maio digo Comercial.
REFORMA DO REGIME JURÍDICO RELATIVO Como critério geral adoptou-se a solução de
ÀS GARANTIAS DAS OBRIGAÇÕES
manter na medida do possível a redacção tradi-
EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS cional do Código Civil, apenas a modificando
1. Generalidades. quando as disposições do Acto Uniforme da
Visa o presente diploma dar cumprimento à OHADA o exigiam. Para esse efeito, introduzi-
obrigação contraída pela República da Guiné- Bis- ram-se números e artigos novos, mas a estrutura
sau perante a Organização Para a Harmonização tradicional do Código foi preservada, evitan-
em África do Direito dos Negócios (OHADA) e os do-se assim a destruição de um monumento le-
demais Estados membros desta de proceder à gislativo fundamental na cultura jurídica guineense.
adaptação do seu Direito interno aos Actos Uni-
formes emanados dessa organização. Neste di- 2. Abolição de garantias não previstas no Acto
ploma visa-se exclusivamente o regime das ga- Uniforme.
rantias das obrigações, o qual se encontra regu- Interpretamos o art.º 150.º do Acto Uniforme no
lado por maneira quase uniforme no Código sentido de não se permitir qualquer outro regime
Civil, sem prejuízo dos poucos preceitos do Có- de garantias que ele não prevê. Nesse enquadra-
digo Comercial que dispõem nesta matéria. mento foram naturalmente abolidas garantias co-
110 BOLETIM OFICIAL DA
mo a consignação de rendimentos, a hipoteca mo-
REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU N.º 21
Atenta a atipicidade dos negócios de garan-
biliária e o direito de retenção sobre imóveis, dado tia pessoal, não parece haver, porém, obstáculos
que não são compatíveis com o Acto Uniforme. a que as mesmas sejam estipuladas.
Manteve-se, no entanto, a reserva de proprie- À semelhança do que se estabeleceu com a
dade prevista no art.º 409.º do Código Civil Guine- fiança, decidiu-se consagrar simplesmente a
ense, uma vez que, dado o seu cariz, não nos pa- sub-rogação nos direitos do credor caso o garan-
rece abrangida pelo Acto Uniforme, pese embo- te venha a efectuar o cumprimento da carta de
ra a sua grande utilização como garantia. Aponta garantia.
neste sentido a definição de garantias prevista no
art.º 2.º do Acto Uniforme. 5. O Penhor.
O regime do penhor foi objecto de grandes mo-
3. O novo regime da fiança dificações, de que salienta a adaptação do regi-
Foram necessárias bastantes modificações me geral do penhor ao Acto Uniforme e a introdu-
do regime da fiança, dado que o Acto Uniforme im- ção no Código dos regimes especiais de penhor.
plica grandes afastamentos do regime tradicional. Em relação à adaptação do regime geral é de
Em certos casos aproveitou-se as permissões salientar que não se introduziu a faculdade pre-
concedidas pelo Acto Uniforme para não intro- vista no art.º 47.º, I, do Acto Uniforme, que admite a
duzir grandes alterações de regime. Assim, dado oposição do credor pignoratício à reivindicação da
que o art.º 5.º do Acto Uniforme dispensa os Es- coisa empenhada por quem não tem legitimidade
tados-membros de exigir o domicílio do devedor para tal, nos termos aplicáveis ao possuidor de boa
na jurisdição onde a fiança deve ser prestada, re- fé. Efectivamente, este regime relaciona-se com a
solveu dispensar-se esta exigência. Da mesma posse val e título, o qual não se encontra
forma, decidiu manter-se o regime tradicional do be- genericamente consagrado no Código Civil
nefício da excussão, referido nos arts.º 638.º e ss., Guineense.
dado que tal é permitido pelo art.º 10.º do Acto
Uniforme, ainda que este supletivamente consagre Também se decidiu não se consagrar a exigên-
a regra inversa. cia de forma escrita e registo do contrato de pe-
nhor para a sua oponibilidade a terceiros, dado
Os arts.º 20.º e 21.º do Acto Uniforme distin- que o art.º 49.º II do Acto Uniforme expressamen-
guem entre a sub-rogação nos direitos do credor e te o permite.
um direito contra o devedor, com base na relação
entre este e o fiador. Não se considerou, porém, 6. A introdução dos penhores sem entrega.
vantajoso importar esta distinção, que iria afectar
O Acto Uniforme da OHADA sobre as garan-
todo o regime da sub-rogação, previsto nos arts.
tias prevê a figura do penhor sem entrega, apli-
589.º e ss., do Código Civil Guineense.
cável aos penhores sobre direitos sociais e va-
Aboliu-se o regime da oponibilidade do caso jul- lores mobiliários, estabelecimento comercial,
gado contra o fiador em relação ao devedor, cons- equipamento profissional, veículos automóveis
tante do actual art.º 635.º, bem como o chamamen- e estoques de matérias primas e mercadorias.
to à demanda previsto no art.º 641.º, dado que o Hesitou-se em instituir este regime no Código
art.º 15.º do Acto Uniforme passou a impor a cita- Civil, dado que, salvo quanto aos veículos auto-
ção do devedor em caso de demanda do fiador. móveis, se trata de matéria essencialmente co-
mercial. Pensou-se, no entanto, que o facto de o
4. A introdução da carta de garantia. Acto Uniforme da OHADA colocar estas figuras
ao lado do penhor e a conveniência de colocar
O Acto Uniforme da OHADA veio a prever, ao todo o regime das garantias num único diploma
lado da fiança, a carta de garantia, que no fundo levou a que se consagrasse preferível a solução
constitui uma situação de garantia autónoma à pri- de os instituir no Código Civil, para o que se inter-
meira solicitação (cfr. art.º 28.º), com justificação calaram no mesmo os arts. 685.º-C a 685.º-V, que
documental (art.º 34.º), a qual é restrita às pes- reproduzem o regime previsto no Acto Uniforme
soas colectivas (art.º 29.º II). Neste aspecto, en- para esta matéria.
tendeu-se seguir o regime instituído pelo Acto
Uniforme, dado que a sua definição de garantias 7. A Hipoteca.
pessoais no art.º 2.º parece pressupor que a al-
ternativa à fiança se coloca tipicamente na ga- Dado que, nos termos do art.º 117.º do Acto
rantia autónoma à primeira solicitação, nada re- Uniform e da OHADA , a hipoteca constitui
ferindo sobre a garantia autónoma simples, nem necessariamente uma garantia real imobiliária, foi
sobre a fiança ao primeiro pedido, pelo se consi- necessário abolir a hipoteca mobiliária sobre
derou que, se estabelecêssemos uma previsão automóveis, substituída por penhor sem entrega.
legislativa destas figuras, destruiríamos o objec- Não se mexeu, no entanto, na hipoteca sobre navios
tivo de uniformização pretendido. e aeronaves, dado que estas garantias mantêm-se
24 DE MAIO DE 2010 111
(... ) (... )
1. ....................................................................... 1. …………………....………………………………..
2. ....................................................................... 2. ........................................................................
118 BOLETIM OFICIAL DA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU N.º 21
2. A inscrição provisória e a inscrição defini- e suas sucursais, estas devem ser individualiza-
tiva devem ser feitas, respectivamente, após a das pela indicação precisa da sua sede.
decisão que autorize a constituição do penhor ARTIGO 685.º-J
sem entrega e a sentença judicial transitada em
julgado que valide a primeira. Forma e menções obrigatórias
3. Os direitos do credor pignoratício caducam 1. O penhor sem entrega deve ser constituído
passados cinco anos a contar da data da inscrição por documento autêntico ou particular devida-
do penhor, sem prejuízo da possibilidade da sua mente registado, o qual deve incluir, sob pena de
renovação. nulidade, as menções seguintes:
4. Sem prejuízo do disposto nos números an- a) Os nomes, apelidos e domicílios do credor,
teriores, o penhor sem entrega contratual ou judi- do devedor e do autor do penhor, se este
cial deve ser notificado à sociedade comercial ou for um terceiro;
à pessoa colectiva emitente dos direitos sociais e b) O número de matrícula das partes no registo
dos valores mobiliários, ou dos títulos de onde comercial, se as mesmas estiverem sujei-
constem os referidos direitos. tas a esta formalidade;
ARTIGO 685.º-H c) A designação precisa e a indicação da
Efeitos do penhor sem entrega sede do estabelecimento e, se for esse
O penhor sem entrega de direitos sociais e va- caso, das suas sucursais;
lores mobiliários é dotado de sequela e prevalên- d) Os elementos do estabelecimento comer-
cia nos mesmos termos do penhor de coisas, cial empenhado;
sendo-lhe aplicável o disposto no art.º 675.º. e) A quantia do crédito garantido;
à condição de que a criação de tais títulos se en- destinadas a venda podem ser empenhadas sem
contrasse prevista pelo acto constitutivo do penhor entrega através da emissão de um título de penhor,
e registada no registo comercial. com a condição de, antes da emissão deste, cons-
5. No que diz respeito aos veículos automóveis tituírem um conjunto determinado de coisas fun-
sujeitos a uma declaração de entrada em circula- gíveis.
ção e a uma matrícula administrativa, o penhor deve ARTIGO 685.º-S
ser inscrito no registo automóvel, sendo averbado Forma, menções obrigatórias e registo
quer no documento administrativo que corporize a
1. O penhor sem entrega deve ser constituído
autorização de circulação, quer na respectiva
por documento autêntico ou particular devida-
matrícula.
mente registado, o qual deve incluir, sob pena de
ARTIGO 685.º-P nulidade, as menções seguintes:
Direitos do credor pignoratício
a) Os nomes, apelidos, domicílios e profissões
1. O credor pignoratício do equipamento pro- das partes e, se for este o caso, o número
fissional ou dos veículos automóveis goza de se- de matrícula no registo comercial do deve-
quela e de prevalência no pagamento pelo valor do dor que constitui o penhor;
capital constante da inscrição registral, e ainda em b) Uma descrição precisa dos bens em-
relação a dois anos de juros, sendo-lhe aplicável o penhados, que permita a sua identificação
disposto no art.º 675.º. pelos critérios da natureza, qualidade,
2. O disposto no número anterior é igualmente quantidade, valor e situação;
aplicável no caso de o equipamento profissional ter c) O nome do segurador que segura o esto-
sido empenhado em simultâneo com outros ele- que empenhado contra incêndio e des-
mentos do estabelecimento. truição, bem como o nome do imóvel onde
3. O credor pignoratício dos instrumentos profis- estes se encontram armazenados;
sionais goza de preferência no pagamento em caso d) A quantia do crédito garantido;
de execução do estabelecimento.
e) As condições de exigibilidade da dívida
ARTIGO 685.º-Q principal e dos juros;
Posição do devedor f) O nome do banqueiro através do qual o tí-
1. O devedor não pode vender a totalidade ou tulo de penhor foi emitido.
parte do equipamento profissional empenhado 2. O penhor sem entrega de estoques não pro-
sem consentimento prévio do credor pignoratí- duz efeitos sem que o mesmo esteja inscrito no
cio ou, na ausência deste, sem autorização judi- registo comercial, sendo aplicáveis os n.ºs 4 e 5 do
cial. art.º 685.º-L.
2. Na ausência de acordo ou de autorização 3. O credor conserva os seus direitos durante
judicial, a venda dos instrumentos empenhados um ano a contar da data da inscrição; cessam os
acarreta a exigibilidade imediata da obrigação. efeitos desta se a mesma não for renovada antes
3. Não sendo paga a dívida, o devedor estará su- do fim deste prazo.
jeito ao processo de recuperação judicial de em-
presas ou de falência, se estes forem aplicáveis. ARTIGO 685.º-T
Título de penhor
4. A ilegitimidade e ineficácia dos actos prati-
cados decorrentes da falência pessoal, bem como 1. O devedor recebe, após a inscrição um tí-
as sanções previstas para o crime de abuso de tulo de penhor, o qual deve mencionar de forma
confiança aplicam-se ao devedor ou a qualquer legível o seguinte:
pessoa que, por manobras fraudulentas, prive ou
a) As palavras “penhor sem entrega de es-
diminua o credor pignoratício dos seus direitos.
toques”;
SUBSECÇÃO IV b) A data da sua entrega, que corresponde à
data da inscrição no registo;
PENHOR SEM ENTREGA DE ESTOQUES
c) O número de inscrição no registo crono-
ARTIGO 685.º-R lógico;
Objecto do penhor sem entrega d) A assinatura do devedor.
As matérias primas, os produtos de uma explo- 2. O título é entregue pelo devedor ao credor
ração agrícola ou industrial e as mercadorias através de um endosso assinado e datado.
24 DE MAIO DE 2010 123
DISPOSIÇÕES GERAIS
ARTIGO 690.º
ARTIGO 686.º ( ... )
Noção
(Revogado)
1. A hipoteca é uma garantia real convencional
ARTIGO 691.º
ou coerciva sobre imóveis registados pertencen- ( ... )
tes ao devedor ou a terceiro.
(Revogado)
2 . .....................................................................
ARTIGO 692.º
3. A hipoteca atribui ao credor as faculdades de
( ... )
sequela e prevalência, a exercer respectivamente
segundo as regras da penhora de imóveis e do 1 . ......................................................................
art.º 760.º. 2. ........................................................................
124 BOLETIM OFICIAL DA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU N.º 21
titulares segundo o disposto nos artigos 760.º e da segurança social, o prazo apenas começará a
761.º. correr a partir da notificação ou de qualquer outro
meio de interpelação para o pagamento.
2. A legislação especial que venha estabelecer
4. Os privilégios creditórios do Tesouro Público,
outros privilégios creditórios gerais deverá
da Administração Alfandegária e dos organismos
determinar a sua categoria e hierarquia do confronto de Segurança Social têm a duração de três anos a
com o disposto no art.º 737.º; na falta da mesma contar da data do registo, cessando então os seus
determinação, ocuparão estes privilégios o último efeitos, salvo se ocorrer renovação que ocorra antes
lugar previsto pelo artigo 737.º. do fim do mesmo prazo.