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Ações diretas de inconstitucionalidade.

Lei
Complementar 190/2022. DIFAL. Art. 3º186;.
Aplicabilidade dos princípios da anterioridade anual
e nonagesimal. Art. 24-A, §167; 4º186;. Lapso

22
temporal para adaptação tecnológica. Liberdade de
conformação. Procedência do pedido formulado na

0
2/2
ADI 7.066/DF. Improcedência dos pleitos deduzidos
nas ADI’s 7.070/DF e 7.078/CE.

1
1. Trata-se três ações diretas de inconstitucionalidade,

09/
com pedido de medida cautelar, ajuizadas pela
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e

-
Equipamentos – ABIMAQ (ADI 7.066/DF), pelo

to
Governador do Estado de Alagoas (ADI 7.070/DF) e

vo
pelo Governador do Estado do Ceará (ADI 7.078/CE),
em face de dispositivos da Lei Complementar 190
de
/2022.
2. Alegações dos autores.
ta

2.1. A Associação autora da ADI 7.066/DF alega, em


nu

síntese, que a Lei Complementar impugnada criou


uma nova relação jurídica, definiu os contribuintes,
mi

estabeleceu a forma escritural e operacional das


regras de imposto; fixou estabelecimento responsável
-

pelo recolhimento do tributo tendo por base o local


al

das operações relativas à circulação de mercadorias e


rtu

das prestações de serviços; fixa a base de cálculo de


modo que o montante do imposto a integre , a
Vi

justificar, desse modo, a incidência da anterioridade


anual (CF, art. 150, III, b ) e, conforme preceitua o art.
rio

3º186; de referido diploma legal, a anterioridade


nonagesimal (CF, art. 150, III, c ).


2.2. O Governador do Estado de Alagoas (ADI 7.070
Ple

/DF), por sua vez, sustenta que o DIFAL não


configura a instituição de um novo tributo e,
tampouco, importa em majoração daquele já
existente, visto que materializa, tão somente, a
repartição da receita do ICMS entre os estados da
federação envolvidos nas operações de consumo,
conclui-se pela absoluta impertinência de submetê-lo
à anterioridade, seja do exercício, seja nonagesimal .

1
Afirma, ainda, que o art. 24-A, §167; 4º186;, da LC 87
/1996, incluído pela Lei Complementar 190/2022, ao
suspender a exibilidade do tributo até o primeiro dia
útil do terceiro mês subsequente ao da

22
disponibilização do portal , consubstancia isenção do
ICMS concedido pela União Federal.

0
2/2
2.3. O Governador do Estado do Ceará (ADI 7.078
/CE), por fim, assevera que a Lei Complementar 190

1
/2022 não criou ou majorou tributo, sendo, portanto,

09/
inconstitucional que os Estados sejam impedidos de
imediatamente cobrar o Diferencial de Alíquota de

-
ICMS nas operações interestaduais envolvendo

to
mercadorias a consumidor não contribuinte .

vo
3. O Presidente da República, o Advogado-Geral da
União e o Procurador-Geral da República arguem
de
preliminar de ilegitimidade ativa ad causam da
associação autora da ADI 7.066/DF e, no mérito,
ta

manifestam-se pela aplicabilidade, à espécie, dos


nu

princípios da anterioridade anual e nonagesimal.


4. Preliminar. Rejeição .
mi

4.1. A autora produziu documentos comprobatórios


de sua efetiva atuação em todos os Estados brasileiros
-

e no Distrito Federal, de modo a revelar o caráter


al

nacional da entidade. Presente, ainda, o vínculo de


rtu

pertinência temática entre o objeto da ação direta e a


finalidade institucional da autora, pois as normas
Vi

impugnadas impactam diretamente na tributação das


atividades e dos produtos comercializados pelas
rio

empresas por ela representada, a evidenciar a


conexão das normas com os representados nesta


demanda pela ABIMAQ.
Ple

5. Mérito . Art. 3º186; da Lei Complementar 190/2022.


Princípios da anterioridade anual e nonagesimal .
5.1. O princípio da anterioridade tem como intuito
possibilitar o planejamento anual das atividades
econômicas, sem o inconveniente da insegurança,
pela incerteza quanto ao ônus tributário a ser
considerado (MACHADO, Hugo de Brito. Curso de
Direito Tributário . 37. ed. São Paulo: Malheiros, 2016,
2
p. 217), suprimindo, desse modo, a surpresa na seara
tributária.
5.2. A doutrina tributarista tem acentuado a íntima
relação de conexidade existente entre a anterioridade

22
anual e a anterioridade nonagesimal, de modo que a
observância conjunta de ambos os princípios revela-

0
2/2
se como regra, pois as duas modalidades de
anterioridade – a genérica e a especial – entrecruzam-

1
se, ampliando a proteção conferida aos contribuintes

09/
(COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário .
12. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2022, p. 102). Assim, a

-
anterioridade nonagesimal consubstancia regra de

to
observância conjugada com a anterioridade anual, de
modo que o tributo somente poderá ser cobrado a

vo
partir do primeiro dia útil do exercício seguinte
àquele em que a lei que o instituiu ou aumentou foi
de
editada, a exigência só poderá ser feita, de qualquer
modo, noventa dias após a publicação da lei , tudo a
ta

fortalecer a segurança jurídica dos cidadãos (ÁVILA,


nu

Humberto. Sistema constitucional tributário . 5. ed.


São Paulo: Saraiva, 2012, p. 217).
mi

5.3. Para não incidência cumulativa da anterioridade


-

anual e da anterioridade nonagesimal imprescindível


al

a existência de disposição constitucional expressa


rtu

nesse sentido.
5.4. O art. 3º186; da Lei Complementar 190/2022 ao
Vi

assentar aplicável, por remissão ao art. 150, III, c , da


Carta Política, a anterioridade nonagesimal,
rio

estabeleceu, do mesmo modo, a incidência da


anterioridade anual, dada sua indissociabilidade,

ressalvada determinação constitucional expressa em


Ple

outro sentido.
5.5. O legislador ordinário não só optou,
legitimamente, a teor do art. 3º186; da Lei
Complementar 190/2022, pela incidência dos
princípios da anterioridade anual e nonagesimal,
como também – assim como ressaltado pelo Ministro
Edson Fachin em seu voto nas ADI’s 7.066/DF, 7.070
/DF e 7.078/CE – revela-se impositiva sua aplicação,
tendo em vista que o DIFAL estabelece nova
3
obrigação tributária, a caracterizar a instituição e/ou
aumento de tributo.
6. Mérito . Art. 24-A, §167; 4º186;, da Lei
Complementar 87/1996, incluído pela LC 190/2022 .

22
6.1. A regra legal em questão objetiva viabilizar ao

0
contribuinte lapso temporal para sua adaptação

2/2
tecnológica. A disponibilização do portal e o período
em referência consubstanciam mecanismos para

1
possibilitar ao contribuinte tempo para ajuste de

09/
práticas e, posterior, recolhimento do DIFAL por
meio da plataforma governamental.

-
6.2. Não há falar, na espécie, em violação do art. 113

to
do ADCT. Não estamos diante de criação ou alteração

vo
de despesas obrigatórias, tampouco de renúncia de
receita, mas tão somente de lapso temporal para
de
devida e imprescindível adaptação tecnológica.
6.3. A argumentação do Governador do Estado de
ta

Alagoas no sentido de que o art. 24-A, §167; 4º186;, da


nu

LC 87/1996, incluído pela Lei Complementar 190


/2022, seria inconstitucional haja vista que a
mi

Constituição Federal não estipulou qualquer prazo


para distribuição de receita ou para instituição de
-

plataforma específica para o DIFAL, a evidenciar


al

transgressão ao art. 99 do ADCT, não merece


rtu

prosperar.
Vi

6.4. Ao contrário do que ocorreria caso se adotasse a


concepção da Constituição como instrumento
rio

veiculador de deveres e de obrigações para todos os


aspectos imagináveis da atividade legislativa – o que

a doutrina chama de Constituição genoma –, não é


necessário reconhecer, no texto constitucional, norma
Ple

autorizativa para toda e qualquer deliberação


legislativa.
6.5. Assim, não se revela inconstitucional a norma em
análise, tendo em vista, na linha do exposto, a
liberdade de conformação de que titular o legislador
ordinário e a ausência de transgressão, direta ou
indireta, a quaisquer dispositivos constitucionais,
revelando-se insuficiente a inexistência de previsão
4
de prazo para cobrança do DIFAL na Carta da
República.
7. Conclusão .
7.1. Julgo procedente o pedido deduzido na ADI 7.066

22
/DF, para declarar a inconstitucionalidade parcial,

0
sem redução de texto, do art. 3º186; da Lei

2/2
Complementar 190/2022, estabelecendo que o DIFAL,
em razão da aplicabilidade, ao caso, dos princípios da

1
anterioridade anual e nonagesimal, somente poderá

09/
ser cobrado a partir de 1º186;.01.2023.
7.2. Julgo improcedente os pleitos formulados nas

-
ADI’s 7.070/DF e 7.078/CE.

to
Voto-Vogal

vo
A Senhora Ministra Rosa Weber (Presidente) : 1. Trata-se três ações
diretas de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, ajuizadas
de
pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos –
ABIMAQ (ADI 7.066/DF), pelo Governador do Estado de Alagoas (ADI
ta

7.070/DF) e pelo Governador do Estado do Ceará (ADI 7.078/CE), em face


nu

de dispositivos da Lei Complementar 190/2022.


2. A Associação autora da ADI 7.066/DF alega, em síntese, que a Lei
mi

Complementar impugnada criou uma nova relação jurídica, definiu os


contribuintes, estabeleceu a forma escritural e operacional das regras de
-

imposto; fixou estabelecimento responsável pelo recolhimento do tributo


al

tendo por base o local das operações relativas à circulação de mercadorias e


rtu

das prestações de serviços; fixa a base de cálculo de modo que o montante


do imposto a integre , a justificar, desse modo, a incidência da anterioridade
Vi

anual (CF, art. 150, III, b ) e, conforme preceitua o art. 3º186; de referido
diploma legal, a anterioridade nonagesimal (CF, art. 150, III, c ).
rio

Requer, em medida cautelar e no mérito, seja dada interpretação


conforme à Constituição ao art. 3º186; da LC 190/2022, para assentar a


aplicabilidade da anterioridade anual e nonagesimal.
Ple

3. O Governador do Estado de Alagoas (ADI 7.070/DF), por sua vez,


sustenta que, a despeito de este Supremo Tribunal Federal já ter
considerado que a EC 87/2015 estabeleceu uma nova relação jurídico-
tributária, não seria possível conceber o diferencial de alíquota do ICMS
(DIFAL) como um novo tributo. Assim, o DIFAL não configura a instituição
de um novo tributo e, tampouco, importa em majoração daquele já
existente, visto que materializa, tão somente, a repartição da receita do

5
ICMS entre os estados da federação envolvidos nas operações de consumo,
conclui-se pela absoluta impertinência de submetê-lo à anterioridade, seja
do exercício, seja nonagesimal .
Afirma, ainda, que o art. 24-A, §167; 4º186;, da LC 87/1996, incluído pela

22
Lei Complementar 190/2022, ao suspender a exibilidade do tributo até o
primeiro dia útil do terceiro mês subsequente ao da disponibilização do

0
portal , consubstancia isenção do ICMS concedido pela União Federal.

2/2
Pleiteia, em medida cautelar e no mérito, a declaração de
inconstitucionalidade ( i ) do art. 24-A, §167; 4º186;, da LC 87/1996, incluído

1
09/
pela Lei Complementar 190/2022 e ( ii ) da expressão observado, quanto à
produção de efeitos, o disposto na alínea “c” do inciso III do caput do art.
150 da Constituição Federal constante do art. 3º186; da Lei Complementar

-
190/2022.

to
4. O Governador do Estado do Ceará (ADI 7.078/CE), por fim, assevera

vo
que a declaração de inconstitucionalidade, nos autos da ADI 5.469/DF, do
Convênio 93/2015 não teria acarretado a invalidação das leis estaduais
de
instituidoras do diferencial de alíquota a que se refere a EC 87/2015. Na
realidade, de tais diplomas estaduais voltaram a produzir seus efeitos
ta

regulares com a publicação da Lei Complementar 190/2022, revelando-se


nu

inviável a aplicação da anterioridade anual e nonagesimal.


Aduz que a Lei Complementar 190/2022 não criou ou majorou tributo,
mi

sendo, portanto, inconstitucional que os Estados sejam impedidos de


imediatamente cobrar o Diferencial de Alíquota de ICMS nas operações
-

interestaduais envolvendo mercadorias a consumidor não contribuinte .


al

Pede, em medida cautelar e no mérito, seja declarada a


rtu

inconstitucionalidade da expressão observado, quanto à produção de


efeitos, o disposto na alínea “c” do inciso III do caput do art. 150 da
Vi

Constituição Federal constante do art. 3º186; da Lei Complementar 190


/2022.
rio

5. Adotado o rito do art. 12 da Lei 9.868/1999, o Presidente da República,


em suas informações oficiais, arguiu preliminar de ilegitimidade ativa ad

causam da ABIMAQ (ADI 7.066/DF), tendo em vista ( i ) que referida


Ple

associação representa apenas fração de categoria e ( ii ) a ausência de


pertinência temática. Quanto ao mérito, defendeu a aplicabilidade da
anterioridade anual e nonagesimal, porquanto a Lei Complementar 190
/2022 acarretou instituição ou majoração de tributo.
6. O Presidente do Senado Federal também argumentou no sentido da
ilegitimidade ativa ad causam da ABIMAQ (ADI 7.066/DF) e, no mérito,
acentuou ( i ) a inaplicabilidade da anterioridade anual, pois a LC 190/2022
não instituiu nem majorou tributo, sendo certo que o DIFAL já vem sendo
exigido desde 2015 por meio da disciplina normativa do Convênio ICMS 93
6
/2015 ; ( ii ) que, após amplo debate legislativo, optou-se por fixar prazo
para início da vigência da lei remetendo ao art. 150, III, c , da Constituição
Federal.
7. O Presidente da Câmara dos Deputados deixou transcorrer in albis o

22
prazo assinalado.
8. O Advogado-Geral da União pronunciou-se, em preliminar, pelo não

0
conhecimento da ADI 7.066/DF em razão da ilegitimidade ativa da autora e,

2/2
no mérito, pela aplicabilidade da anterioridade anual e nonagesimal, no
tocante às ADI’s 7.070/DF e 7.078/CE pela improcedência dos pedidos.

1
09/
9. O Procurador-Geral da República, de outro lado, também opinou pela
ilegitimidade ativa ad causam da ABIMAQ (ADI 7.066/DF) e, no mérito,
pela procedência do pedido formulado na ADI 7.066/DF e pela

-
improcedência dos pedidos deduzidos nas ADI’s 7.070/DF e 7.078/CE. Eis a

to
ementa de seu parecer:

vo
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO
TRIBUTÁRIO. ART 3º186; DA LEI COMPLEMENTAR FEDERAL 190
de
/2022. PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE ATIVA DA REQUERENTE.
MÉRITO. ATO NORMATIVO QUE REGULA A COBRANÇA DO
ta

ICMS NAS OPERAÇÕES E PRESTAÇÕES INTERESTADUAIS


nu

DESTINADAS A CONSUMIDOR FINAL NÃO CONTRIBUINTE DO


IMPOSTO (DIFAL). LEI COMPLEMENTAR QUE DÁ CONCRETUDE
mi

À CRIAÇÃO DE NOVA RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA ENTRE


O REMETENTE E O ESTADO DE LOCALIZAÇÃO DO
-

DESTINATÁRIO DA MERCADORIA. ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL


al

NA SUJEIÇÃO ATIVA DA RELAÇÃO TRIBUTÁRIA. DIPLOMA


LEGAL QUE DEFINE A OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA, OS
rtu

CONTRIBUINTES, BEM COMO AS BASES DE CÁLCULO E


ALÍQUOTAS DO IMPOSTO. SUBMISSÃO À REGRA DA
Vi

ANTERIORIDADE DE EXERCÍCIO. ART. 150, III, “B”, DA CF/1988.


rio

1. Não tem legitimidade ativa para o ajuizamento de ação direta a


entidade que represente fração de categoria profissional, cujos

objetivos institucionais não guardem relação direta e imediata com o


conteúdo material da norma impugnada.
Ple

2. A Lei Complementar 190/2022, ao disciplinar e dar concretude à


nova relação jurídico-tributária criada pela EC 87/2015 entre o
remetente e o estado de destino, quando o destinatário não for
contribuinte do ICMS, promoveu alteração substancial na sujeição
ativa da obrigação tributária do ICMS, ganhando força normativa
equivalente à instituição de tributo e submetendo-se, por isso, ao
princípio da anterioridade tributária.
3. Extrai-se da tramitação do projeto que resultou na Lei
Complementar 190/2022 a intenção do legislador de que a produção
7
dos efeitos do referido diploma legal seja submetida às anterioridades
geral e nonagesimal, a confirmar a natureza da exação disciplinada.
4. A anterioridade tributária nonagesimal está atrelada, por
expressa determinação constitucional, à observância da anterioridade

22
de exercício (CF, art. 150, III, “c”), ressalvadas disposições
constitucionais em sentido contrário.

0
5. Na hipótese de não se submeter o conteúdo da Lei

2/2
Complementar 190/2022 ao postulado da anterioridade geral, que seja
observado o prazo mínimo estabelecido pelo legislador para a

1
09/
produção dos efeitos do diploma legal, qual seja, 90 (noventa) dias a
contar de sua publicação.
— Parecer pelo não conhecimento da ação direta e, no mérito, pela

-
procedência do pedido, para que seja conferida interpretação

to
conforme à Constituição ao art. 3º186; da Lei Complementar 190/2022,

vo
de modo a reconhecer que os efeitos do diploma legal estão
submetidos ao princípio da anterioridade de exercício.”
de
10. O Ministro Alexandre de Moraes, Relator, em 17.5.2022, indeferiu as
medidas cautelares requeridas.
ta

11. Na sequência, determinada a inclusão do feito em pauta para Sessão


nu

Virtual (23.9.2022 a 30.9.2022). O Ministro Alexandre de Moraes, Relator,


votou pela improcedência do pedido deduzido no âmbito da ADI 7.066/DF
mi

ao entendimento de que a Lei Complementar 190/2022 não modificou


hipótese de incidência tributária, tampouco a base de cálculo do imposto e,
-

ainda, não acarretou instituição ou majoração de tributo. Em relação aos


al

pedidos deduzidos no âmbito das ADI’s 7.070/DF e 7.078/CE, o Relator


rtu

votou pela parcial procedência do pedido, para declarar a


inconstitucionalidade da expressão observado, quanto à produção de
Vi

efeitos, o disposto na alínea "c" do inciso III do caput do art. 150 da


Constituição Federal constante do art. 3º186; da Lei Complementar 190/2022
rio

ao fundamento de que o legislador ordinário não poderia estabelecer


interpretação autêntica das normas constitucionais sob pena de usurpação

da competência deste Supremo Tribunal Federal.


O Ministro Dias Toffoli, na Sessão Virtual realizada entre 23.9.2022 e
Ple

30.9.2022, pediu vista, sendo certo que devolveu os autos para continuidade
de julgamento na Sessão Virtual de 04.11.2022 a 11.11.2022. Na
oportunidade, Sua Excelência, assim como o Relator, assentou que a Lei
Complementar 190/2022 não instituiu ou aumentou imposto, a afastar, em
relação à Lei Complementar 190/2022, a aplicação dos princípios da
anterioridade anual e da anterioridade nonagesimal (art. 150, III, b e c , CF).
Reconheceu, no entanto, a constitucionalidade da parte final do art. 3º186;
da LC 190/2022, por entender que o legislador infraconstitucional desejou

8
estabelecer lapso temporal mínimo de 90 (noventa) dias para produção de
efeitos do novo diploma legislativo, devendo prevalecer a deliberação
congressual.
Na Sessão Virtual em que devolvida a vista, o Ministro Edson Fachin

22
apresentou divergência em relação aos votos dos Ministros Alexandre de
Moraes e Dias Toffoli, para julgar procedente o pedido deduzido na ADI

0
7.066/DF, para dar interpretação conforme à Constituição ao art. 3º186; da

2/2
Lei Complementar 190/2022 estabelecendo a necessidade de observância
dos princípios da anterioridade anual e da anterioridade nonagesimal (art.

1
09/
150, III, b e c , CF), pois o diploma legal em questão criou nova obrigação e
aumentou o ônus tributário.
Em referida Sessão Virtual (04.11.2022 a 11.11.2022), acompanhei a

-
divergência aberta pelo Ministro Edson Fachin juntamente com os

to
Ministros Ricardo Lewandowski e André Mendonça e com a Ministra

vo
Cármen Lúcia. Posteriormente, o julgamento foi paralisado, uma vez mais,
por pedido de vista do Ministro Gilmar Mendes.
de
O Ministro Gilmar Mendes devolveu os autos para continuidade de
julgamento na Sessão Virtual de 09.12.2022 a 16.12.2022, oportunidade na
ta

qual acompanhou, in totum , o voto parcialmente divergente do Ministro


nu

Dias Toffoli.
Na sequência, em 12.12.2022, tendo em vista a profusão de
mi

entendimentos manifestados e as peculiaridades jurídicas, políticas e


econômicas que envolvem a presente discussão, pedi destaque das ADI’s
-

7.066/DF, 7.070/DF e 7.078/CE.


al

É o breve relatório .
rtu

Passo a votar e já adianto que mantenho o posicionamento externado


em ambiente virtual .
Vi

12. Entendo não assistir razão ao Presidente da República, ao Presidente


do Senado Federal, ao Advogado-Geral da União e ao Procurador-Geral da
rio

República quanto a preliminar arguida.


13. O estatuto da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e

Equipamentos – ABIMAQ revela tratar-se de entidade de classe de âmbito


Ple

nacional, regularmente inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas.


A autora produziu documentos comprobatórios de sua efetiva atuação
em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal, de modo a revelar o
caráter nacional da entidade.
Presente, ainda, o vínculo de pertinência temática entre o objeto da ação
direta e a finalidade institucional da autora, pois as normas impugnadas
impactam diretamente na tributação das atividades e dos produtos
comercializados pelas empresas por ela representada, a evidenciar a
conexão das normas com os representados nesta demanda pela ABIMAQ.
9
Destaco que, em contexto similar ao presente, o Plenário desta Suprema
Corte reconheceu a legitimidade ativa da entidade de classe autora (ADI
3.702/ES, Rel. Min. Dias Toffoli , Tribunal Pleno, j. 01.6.2011, DJe 30.8.2011).
Reconheço, desse modo, a legitimidade ativa ad causam da autora, forte

22
no art. 103, IX, da CF e no art. 2º186;, IX, da Lei 9.868/99.
14. Como já assentado pela jurisprudência desta Casa, o princípio da

0
anterioridade tributária traduz expressiva garantia titularizada pelos

2/2
contribuintes em face do Estado, haja vista consubstanciar uma importante
e poderosa limitação ao poder de tributar. É por essa razão que o Plenário

1
09/
desta Corte, ao exame da ADI 939/DF, Rel. Min. Sydney Sanches , Tribunal
Pleno, DJ 18.3.1994, assentou que referido princípio constitucional (art. 150,
III, b , CF) revela-se como verdadeira cláusula pétrea, por se constituir em

-
garantia individual associada à segurança jurídica.

to
O princípio da anterioridade, nesse contexto, tem como intuito

vo
possibilitar o planejamento anual das atividades econômicas, sem o
inconveniente da insegurança, pela incerteza quanto ao ônus tributário a ser
de
considerado (MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário . 37.
ed. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 217), suprimindo, desse modo, a surpresa
ta

na seara tributária. É por essa razão que a Carta Política, a teor do art. 150,
nu

III, b , veda a cobrança de tributos no mesmo exercício financeiro em que


publicada a lei, pois o contribuinte, para realizar o devido planejamento
mi

econômico-financeiro, deve ter prévia ciência a respeito do ônus a que será


submetido.
-

Assim, tendo em vista a importância do princípio da anterioridade


al

anual, esvaziada a partir de práticas institucionais, o constituinte derivado,


rtu

em reforço à segurança jurídica, promulgou a Emenda Constitucional 42


/2003, criando uma nova hipótese de vedação a cobrança de tributos por
Vi

meio da anterioridade nonagesimal. Segundo o art. 150, III, c , da


Constituição Federal não serão cobrados tributos antes de decorridos
rio

noventa dias da publicação da respectiva lei, desde que observada, ainda, a


anterioridade anual prevista na alínea b do inciso III do art. 150 da Carta

Política.
Ple

Com efeito, a doutrina tributarista tem acentuado a íntima relação de


conexidade existente entre a anterioridade anual e a anterioridade
nonagesimal, de modo que a observância conjunta de ambos os princípios
revela-se como regra, pois as duas modalidades de anterioridade – a
genérica e a especial – entrecruzam-se, ampliando a proteção conferida aos
contribuintes (COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário . 12. ed.
São Paulo: SaraivaJur, 2022, p. 102). Assim, a anterioridade nonagesimal
consubstancia regra de observância conjugada com a anterioridade anual,
de modo que o tributo somente poderá ser cobrado a partir do primeiro dia
10
útil do exercício seguinte àquele em que a lei que o instituiu ou aumentou
foi editada, a exigência só poderá ser feita, de qualquer modo, noventa dias
após a publicação da lei , tudo a fortalecer a segurança jurídica dos cidadãos
(ÁVILA, Humberto. Sistema constitucional tributário . 5. ed. São Paulo:

22
Saraiva, 2012, p. 217).
Desse modo, para não incidência cumulativa da anterioridade anual e

0
da anterioridade nonagesimal imprescindível a existência de disposição

2/2
constitucional expressa nesse sentido. Destaco, ainda – estabelecido que, em
regra, ambas as anterioridades devem incidir –, que o tributo somente

1
09/
poderá ser cobrado no exercício posterior à lei que o criou ou majorou e
após o transcurso de noventa dias de sua publicação, sendo que os prazos
transcorrem simultaneamente, e não sucessivamente (ADI 5.282/PR, Rel.

-
Min. André Mendonça , Tribunal Pleno, DJe 07.11.2022, v.g. ).

to
Nessa senda, impõe-se destacar que, a teor do art. 150, III, b e c , da

vo
Constituição da República, o princípio da anterioridade – além de, nos
termos da disciplina constitucional, comportar inúmeras mitigações, a
de
exemplo dos empréstimos compulsórios (art. 148, I, c/c art. 150, §167; 1º186;,
ambos da CF) – se aplica às hipóteses de instituição ou majoração de
ta

tributos.
nu

15. In casu , pedindo vênia às compreensões em sentido contrário,


entendo que o art. 3º186; da Lei Complementar 190/2022, ao fazer remissão
mi

ao art. 150, III, c , da Constituição da República, atraiu não só a incidência


da anterioridade nonagesimal como também da anterioridade anual. É que,
-

como visto, ambas as espécies de anterioridade encontram-se, em nosso


al

sistema normativo, umbilicalmente conectadas, de modo que somente


rtu

dispositivo constitucional em sentido contrário pode afastar sua


aplicabilidade conjunta .
Vi

Em outras palavras: o art. 3º186; da Lei Complementar 190/2022 ao


assentar aplicável, por remissão ao art. 150, III, c , da Carta Política, a
rio

anterioridade nonagesimal, estabeleceu, do mesmo modo, a incidência da


anterioridade anual, dada sua indissociabilidade, ressalvada determinação

constitucional expressa em outro sentido.


Ple

16. Assim, compreendo que o legislador ordinário não só optou,


legitimamente, a teor do art. 3º186; da Lei Complementar 190/2022, pela
incidência dos princípios da anterioridade anual e nonagesimal, como
também – assim como ressaltado pelo Ministro Edson Fachin em seu voto
nas ADI’s 7.066/DF, 7.070/DF e 7.078/CE – revela-se impositiva sua
aplicação, tendo em vista que o DIFAL estabelece nova obrigação tributária,
a caracterizar a instituição e/ou aumento de tributo.
Esse fato, portanto, leva à compreensão segundo a qual o art. 150, III, b e
c , da Constituição da República – dispositivos materializadores dos
11
princípios da anterioridade anual e da anterioridade nonagesimal – se
aplica plenamente à hipótese, haja vista, utilizando a expressão do Ministro
Edson Fachin, o aumento do ônus tributário .
17. Cumpre analisar, por fim, a alegada inconstitucionalidade do art. 24-

22
A, §167; 4º186;, da Lei Complementar 87/1996, incluído pela LC 190/2022.
O dispositivo legal impugnado, ao estabelecer que as novas definições

0
de contribuinte, local e momento do fato gerador em operação envolvendo

2/2
consumidor final em outra unidade da federação somente produzirão
efeitos após a disponibilização do portal do DIFAL com as informações

1
09/
necessárias ao cumprimento das obrigações tributárias, principais e
acessórias, em análise, não padece de qualquer vício de
inconstitucionalidade.

-
Como amplamente exposto pelo Ministro Alexandre de Moraes,

to
Relator, a regra legal em questão objetiva viabilizar ao contribuinte lapso

vo
temporal para sua adaptação tecnológica. A disponibilização do portal e o
período em referência consubstanciam mecanismos para possibilitar ao
de
contribuinte tempo para ajuste de práticas e, posterior, recolhimento do
DIFAL por meio da plataforma governamental.
ta

18. Não há falar, na espécie, em violação do art. 113 do ADCT. Não


nu

estamos diante de criação ou alteração de despesas obrigatórias, tampouco


de renúncia de receita, mas tão somente de lapso temporal para devida e
mi

imprescindível adaptação tecnológica.


19. A argumentação do Governador do Estado de Alagoas no sentido de
-

que o art. 24-A, §167; 4º186;, da LC 87/1996, incluído pela Lei


al

Complementar 190/2022, seria inconstitucional haja vista que a Constituição


rtu

Federal não estipulou qualquer prazo para distribuição de receita ou para


instituição de plataforma específica para o DIFAL, a evidenciar transgressão
Vi

ao art. 99 do ADCT, não merece prosperar .


Esta Suprema Corte, ao exame da ADI 5.469/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
rio

Tribunal Pleno, j. 24.02.2021, DJe 25.5.2021, e do RE 1.287.019-RG/DF, Red.


p/ acórdão Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, j. 24.02.2021, DJe 25.5.2021,

firmou entendimento no sentido da necessidade de lei complementar para


Ple

cobrança do DIFAL, sendo insuficiente a edição de convênio pelo CONFAZ.


O Congresso Nacional, em conformidade com a jurisprudência desta
Casa e dentro de sua liberdade de conformação, deliberou projeto de lei
complementar, posteriormente sancionado e convertido na LC 190/2022.
Nesse contexto, cumpre rememorar que, tal como acentuei ao exame da
ADI 5.795-MC/DF, de minha relatoria, nenhuma ordem constitucional é
capaz de encerrar a totalidade do fenômeno jurídico-normativo de uma

12
determinada comunidade. É por essa razão que a Constituição confere, ao
legislador, amplo espectro para fazer ou deixar de fazer em conformidade
com a conveniência e oportunidade que lhe é dispensada.
Disso resulta que, ao contrário do que ocorreria caso se adotasse a

22
concepção da Constituição como instrumento veiculador de deveres e de
obrigações para todos os aspectos imagináveis da atividade legislativa – o

0
que a doutrina chama de Constituição genoma –, não é necessário

2/2
reconhecer, no texto constitucional, norma autorizativa para toda e
qualquer deliberação legislativa .

1
09/
Assim, não se revela inconstitucional a norma em análise, tendo em
vista, na linha do exposto, a liberdade de conformação de que titular o
legislador ordinário e a ausência de transgressão, direta ou indireta, a

-
quaisquer dispositivos constitucionais, revelando-se insuficiente a

to
inexistência de previsão de prazo para cobrança do DIFAL na Carta da

vo
República.
20. Ante o exposto, com a devida vênia aos entendimentos em sentido
de
contrário, acompanho a divergência aberta pelo Ministro Edson Fachin,
para julgar ( i ) procedente o pedido deduzido na ADI 7.066/DF, para
ta

declarar a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, do art. 3º186;


nu

da Lei Complementar 190/2022, estabelecendo que o DIFAL, em razão da


aplicabilidade, ao caso, dos princípios da anterioridade anual e
mi

nonagesimal, somente poderá ser cobrado a partir de 1º186;.01.2023 e ( ii )


improcedente os pleitos formulados nas ADI’s 7.070/DF e 7.078/CE.
-

É como voto .
al
rtu
Vi
rio

Ple

13

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