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REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU
BOLETIM OFICIAL
Quinta-feira, 7 de Janeiro de 2010 Número 1
Dos assuntos para publicação no "Boletim Oficial", devem ser enviados o Os pedidos de assinatura ou números avulsos do "Boletim Oficial" devem
original e o duplicado, devidamente autenticados pela entidade responsável, ser dirigidos à Direcção Comercial da INACEP — Imprensa Nacional, Empresa
à Direcção-Geral da Função Pública — Repartição de Publicações —, a Pública —, Avenida do Brasil, Apartado 287 — 1204 Bissau Codex. — Bissau
fim de se autorizar a sua publicação. Guiné-Bissau.
3.º S U P L E M E N T O
SUMÁRIO Neste sentido, no Projecto que ora se aprova procurou-se
PARTE I delinear um modelo que, reflectindo os princípios que nor-
Conselho de Ministros: team uma economia de mercado, desse voz às mais do que
Decreto-Lei n.º 3/2009. legítimas expectativas do nosso empresariado, cujas con-
Aprovado o novo Código de Investimento, anexo ao presente diploma tribuições foram fundamentais para o modelo finalmente
e que dele faz parte integrante. adoptado, que pretende:
1. Criar um quadro jurídico seguro e atraente para o in-
********************** PARTE I
vestimento em geral, mas sobretudo para o investimento
externo;
CONSELHO DE MINISTROS 2. Implementar um sistema que permita a realização
Decreto-Lei n.º 3/2009 das operações de investimento da forma desburocratizada,
de 7 de Janeiro com reduzida e vinculada intervenção da Administração;
3. Consagrar regras transparentes que possibilitem o
PREÂMBULO
benefício automático dos incentivos fiscais através do Cré-
O regime do investimento é actualmente regulado pelo dito de Imposto atribuído com base no registo de operações
Código de Investimento, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 4/ do investimento e da obtenção do respectivo certificado.
91, de 14 de Outubro. Este Código, embora consagrado Assim:
princípios inovadores relativamente à filosofia que presidiu
à elaboração da anterior legislação sobre a matéria, encon- 0 Governo decreta, nos termos do artigo 100.º, n.º 1, alí-
tra-se ultrapassado pela dinâmica no processo de desen- nea e), da Constituição, o seguinte:
volvimento. Artigo 1.º É aprovado o novo Código de Investimento,
Com efeito, as mudanças político-económicas entre- anexo ao presente diploma e que dele faz parte integrante.
tanto ocorridas na Guiné-Bissau, de entre as quais se po- Aprovado em Conselho de Ministros de 18 de Setembro
dem salientar a rápida implementação de uma economia de 2008. – O Primeiro Ministro, Eng.º Carlos Correia. – O
de mercado aberta ao exterior, a consagração a nível cons- Ministro da Economia e Integração Regional, Dr. Carlos
titucional e institucional de um regime democrático pluri- Mussá Baldé. – O Ministro das Finanças, Dr. Issufo Sa-
partidário, bem como a adesão do país à UMOA/UEMOA nhá.
justificam, por si só, a revisão do actual Código de Inves-
Promulgado em 31 de Dezembro de 2009.
timento, enquanto se aguarda uma eventual harmonização
da legislação nesta matéria, no âmbito da nossa integração Publique-se.
económica sub-regional. O Presidente da República, Malam Bacai Sanhá.
2 3.º SUPLEMENTO AO BOLETIM OFICIAL DA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU N.º 1
assim como para o pagamento de capitais mutuados, excepto para o sector agrícola em que esse percentual é
juros, bens e serviços adquiridos ou contratados com pes- fixado em 50% (cinquenta por cento) sendo considerado,
soas ou empresas não residentes em território nacional, para o efeito da base de cálculo do incentivo a ser conce-
nos termos da legislação em vigor. dido, os investimentos realizados e contabilizados pela
Empresa, a partir desta data, como activo fixo em confor-
2. Todos os movimentos de capitais com origem ou que
midade com as normas contabilísticas aplicáveis, com ex-
se destinem ao estrangeiro e que visem a realização, ou
cepção de investimentos feitos pela conferência de bens
resultem de investimentos na Guiné-Bissau, devem ser ob-
incorpóreos, os quais não serão considerados na deter-
jecto de registo na autoridade designada pelo Governo do
minação da base de cálculo.
Ministério das Finanças.
3. O montante do crédito obtido pela aplicação da fór-
3. O Estado garante a transferência para o exterior,
mula descrita no n.º anterior pode, a critério do investidor,
através do sistema bancário, de dividendos e lucros, depois
de deduzidas as amortizações e liquidados os impostos ser integralmente deduzido num único exercício ou, caso
não tenha sido apurado o lucro e, em consequência, não
devidos, e a repatriação dos investimentos, tendo em conta
seja devida a Contribuição Industrial, ou, ainda, caso o
as participações correspondentes ao investimento estran-
montante do crédito seja superior ao total da Contribuição
geiro no capital próprio da respectiva empresa e o corres-
Industrial devida num exercício, o saldo positivo do tal cré-
pondente registo na autoridade designada pelo Governo
dito pode ser acumulado e utilizado para a dedução do
do Ministério das Finanças.
montante a ser pago durante os exercícios seguintes, até
4. As operações de cessão, venda ou liquidação de in- ao limite de 5 (cinco) exercícios fiscais consecutivos após
vestimentos entre não residentes ou Investidores estran- o exercício no qual o referido crédito tiver origem, sem pre-
geiros são livres e é garantida a exportação do produto da juízo da utilização cumulativa dos créditos relativos aos
cessão, venda ou liquidação de investimentos estrangeiros, exercícios subsequentes. Para o sector agrícola esse li-
depois de pagos os respectivos impostos e obrigações. mite é de dez (10) anos.
5. Todo o pessoal estrangeiro ao serviço de uma em- 4. A escrituração contabilística, a utilização e a forma de
presa e que se encontre legalmente autorizado a residir e fiscalização do uso do crédito do imposto concedido como
a trabalhar no país, tem direito de transferir para o exterior incentivo na forma do presente artigo deve ser regulamen-
a totalidade ou parte da remuneração obtida nessa empre- tado pelo Governo.
sa, sem prejuízo do cumprimento das respectivas obriga-
ções Fiscais, nos temos da legislação bancária em vigor. 5. Para o efeito da aplicação do benefício previsto no
presente artigo, não devem ser feitas quaisquer distinções
ARTIGO 8.º em relação ao montante do investimento, à sua origem
(Garantia Multilateral) (nacional ou estrangeira), observada a legislação em vigor.
O Estado pode, sempre que se fizer necessário, buscar O investidor deve, contudo, estar formalmente constituído
e dotado de personalidade jurídica.
Junto à Agência Multilateral de Garantia de Investimentos
(MIGA) e outras entidades multilaterais semelhantes, as 6. É condição indispensável para o benefício do in-
garantias adicionais que se façam à realização de investi- centivo previsto no presente artigo a manutenção de con-
mentos no país, estando o Governo autorizado a fazê-lo, tabilidade correcta e completamente escriturada em con-
observadas as normas pertinentes da MIGA. formidade com o Sistema Contabilístico da África Ocidental
(SYSCOA) e/ou o Sistema Contabilístico da Organização
CAPÍTULO III para a Harmonização do Direito de Negócios em África
DO INCENTIVO (SYSCOHADA).
a) Conformar-se às normas de qualidade nacionais lumento. No mesmo prazo, a partir da data do respectivo
e internacionais aplicáveis aos bens e serviços, registo contabilístico, pelo órgão competente da empresa
objecto da sua actividade; receptora do investimento, proceder-se-á ao registo dos
b) Confirmar-se às normas ambientais nacionais reinvestimentos de lucros.
aplicáveis às suas actividades;
5. Os capitais estrangeiros e respectivos reinvesti-
c) Empregar, prioritariamente, os nacionais guine-
mentos de lucros já existentes no país também estão su-
enses em igualdade de competência e organizar
jeitos a registo, o qual será requerido por seus proprietários
a formação e a promoção dos nacionais guine- ou responsáveis pelas empresas em que estiverem apli-
enses no seio da Empresa.
cados, dentro do prazo de 180 (cento e oitenta) dias, da
data da publicação desta lei.
CAPÍTULO IV
6. As pessoas singulares ou colectivas que dese-
DO REGISTO
jarem fazer transferências para o exterior a título de lucros,
ARTIGO 11.º dividendos, juros, amortizações, royalties, remuneração
(Registo de Investimento Estrangeiro) por assistência técnica científica, administrativa e seme-
1. Fica a autoridade designada pelo Governo sediada no lhantes, poderão fazê-lo nos termos da lei bancária relativo
Ministério das Finanças responsável para efectuar o registo às relações financeiras externas dos Estados membros
das operações de investimento, qualquer que seja a sua da UEMOA.
forma de ingresso no país, bem como de operações finan- 7. Fica o Governo autorizado a proceder a regula-
ceiras com o exterior, no qual constarão, nomeadamente: mentação do registo de investimentos estrangeiros tratado
no presente artigo.
a) Os capitais estrangeiros que ingressarem no país
sob a forma de investimento directo ou de em- CAPÍTULO V
préstimo, quer em moeda, quer em bens; DA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
b) As remessas feitas para o exterior com o retorno ARTIGO 12.º
de capitais ou como rendimentos desses capi- (Conciliação e Arbitragem)
tais, lucros, dividendos, juros, amortizações, bem 1. Na resolução de conflitos e litígios emergentes de
como as de “royalties”, ou por qualquer outro tí- operações de Investimento será privilegiada a conciliação,
tulo que implique transferência de rendimentos ou, caso esta não seja possível, a arbitragem.
para fora do país;
2. Os Investidores e as Empresas poderão, à sua esco-
c) Os reinvestimentos de lucros dos investimen- lha, submeter a resolução dos conflitos com o Estado às
tos estrangeiros; regras de conciliação, mediação e arbitragem resultantes:
d) Eventuais alterações do valor monetário do capi-
a) De pactos ou acordos de mediação e arbitragem
tal das empresas, procedidas de acordo com a concluídos entre as partes, conforme regras arbi-
legislação em vigor.
trais aplicáveis eleitas por estas;
2. O registo de Investimento estrangeiro tem por fina- b) De acordos ou tratados relativos à protecção de in-
lidade a emissão de um certificado de Investimento, des- vestimentos celebrados entre a República da Gui-
tinado a comprovar o total do montante investido pelo In- né-Bissau e o Estado de que o detentor da parti-
vestidor e possibilitar a remessa para o exterior a título cipação social é nacional;
de lucros, dividendos, juros, amortizações, royalties, remu-
c) Da Convenção de 18 de Março de 1965 para a Re-
neração por assistência técnica, científica, administrativa
solução de Conflitos Relativos a Investimentos
e semelhantes, bem como a liquidação do Investimento e
(CIRCI) entre o Estado e Nacionais de outros Esta-
a repatriação de capital.
dos, estabelecida sob a égide do Banco Internacio-
3. O registo de Investimento estrangeiro deve ser nal para a Reconstrução e o Desenvolvimento -
efectuado na moeda do país de origem pelo preço decla- BIRD, caso o Investidor reúna as condições esta-
rado no momento de ingresso no País, caso se trate de belecidas pelo artigo 25.º da referida Convenção;
bens, e o de Reinvestimento de lucro simultaneamente
d) Das disposições regulamentares do mecanismo
em moeda nacional e na moeda do país para o qual po-
suplementar aprovado a 27 de Setembro de 1978
deriam ter sido remetidos, realizada a conversão à taxa
pelo Conselho de Administração do Centro Interna-
cambial do período durante o qual foi comprovadamente
cional para a Resolução de Conflitos Relativos a In-
efectuado o Reinvestimento.
vestimentos - CIRCI, caso o detentor da participa-
4. O registo do investimento estrangeiro é requerido ção social não reúna as condições estabelecidas
dentro de trinta dias da data do seu ingresso no país, inde- no artigo 25.º da Convenção referida na alínea
pendentemente do pagamento de qualquer taxa ou emo- anterior.
7 DE JANEIRO DE 2009 5
3. O consentimento das partes no que respeita à Con- ferida deve, contudo, observar os limites impostos pelo
venção referida na alínea c) e às disposições regulamentares presente Código, sendo vedada a concessão ou restrição
referidas na alínea d), ambas do número anterior, resulta de direitos sobre matérias constantes no presente di-
para a República da Guiné-Bissau da presente lei. ploma além daqueles aqui estabelecidos.
ARTIGO 13.º
ARTIGO 16.º
(Recurso aos Tribunais)
(Estabilidade)
Na falta da aplicação das disposições constantes do
Artigo 12.º do presente Código, podem as partes recorrer Os direitos e garantias outorgados aos investidores
aos Tribunais Judiciais da República da Guiné-Bissau para no presente Código permanecerão válidos e serão respei-
a resolução de conflitos no âmbito de operações de inves- tados em caso de transferência do investimento, sob qual-
timento. quer forma, desde que as condições previstas no presente
Códi-go para a sua obtenção e usufruto se verifiquem e se
CAPÍTULO VI
man-tenham estáveis.
DISPOSIÇÕES FINAIS
ARTIGO 17.º
ARTIGO 14.º
(Revogação)
(Força Obrigatória)
Fica revogada toda a legislação que contrarie o pre-
Os direitos consignados nos termos do presente di-
sente diploma, designadamente o Código de Investi-
ploma têm força obrigatória para todos os serviços cen-
mento aprovado pelo Decreto-Lei n.º 4/91, de 14 de Ou-
trais e locais da Administração Pública.
tubro e o artigo 8.º do Código da Contribuição Industrial,
ARTIGO 15.º aprovado pelo Decreto n.º 39/83, de 30 de Dezembro.
(Regulamentação) ARTIGO 18.º
O Governo, sob proposta do Ministro responsável (Entrada em vigor)
pela economia, fica autorizado a estabelecer as normas O presente diploma entra em vigor na data da sua
necessárias à regulamentação do presente diploma. A re- publicação.