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Força e movimento
Autores
aula
04
Governo Federal Revisoras de Língua Portuguesa
Presidente da República Janaina Tomaz Capistrano
Luiz Inácio Lula da Silva Sandra Cristinne Xavier da Câmara
Física e meio ambiente / Ciclamio Leite Barreto, Gilvan Luiz Borba, Rui Tertuliano de Medeiros.
– Natal, RN : EDUFRN, 2006.
316p. : il
1. Física. 2. Meio ambiente. 3. Sociedade. I. Borba, Gilvan Luiz. II. Medeiros, Rui Tertuliano de.
III. Título.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN -
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Apresentação
N
esta aula, discutiremos de uma forma simples e direta as leis de Newton, destacando-se
a relação fundamental entre força e movimento. Dentro desse contexto, trataremos do
conceito de inércia, e veremos que a massa de um corpo está diretamente ligada a esse
conceito de inércia. Apresentaremos as formas de interação entre os corpos e, por fim, serão
feitas algumas aplicações que relacionam essas leis a características de movimentos presentes
em nosso meio.
Objetivos
Compreender o conceito de inércia.
1
Diferenciar um referencial inercial de um outro não inercial.
2
Entender a relação entre força e aceleração.
3
Discutir os movimentos de translação e rotação.
4
V
ocê deve estar lembrado da aula 3 (Movimentos: conceitos fundamentais e descrição),
na qual foi visto um conceito comum a todos nós, o de movimento. Por outro lado, o
estudo formal do movimento vem sendo feito desde os filósofos gregos e a ele está
também associado o conceito de mudança. Era um dos objetivos da filosofia grega discutir a
relação entre mudança e movimento, ou seja, o que muda durante o movimento. Tal estudo
levou a situações bastante interessantes, como as aporias de Zenão, que levantavam o
paradoxo do movimento, a necessidade de se discutir melhor o conceito de limites e de
variação de posição com o tempo.
Fazendo referência à metafísica, lembramos dos antigos pensadores da Índia, que se
questionavam sobre a impossibilidade de se mergulhar duas vezes nas águas do mesmo
rio. Aristóteles, o grande pensador grego, foi o primeiro a relacionar o movimento com a
existência do próprio universo – o universo é todo movimento – e a associar velocidade e
força, um engano que perdurou até Galileu.
Na verdade, Aristóteles relacionou velocidade com força, pois era isso que o “senso
comum” parecia indicar, enquanto de fato é a relação entre força e aceleração, isto é, a
taxa com que a velocidade está variando, que depende da ação de forças, como veremos
ainda nesta aula.
Hoje, em Física, estamos ainda preocupados com as grandezas que são afetadas ou
que deixam de ser afetadas pelo movimento, e desse estudo tiramos leis muito importantes,
entre elas as chamadas leis de conservação (na Mecânica clássica temos as seguintes leis de
conservação: da energia, do momento linear, do momento angular e da carga elétrica). Essas
leis nos dizem o que muda ou deixa de mudar enquanto um corpo executa um movimento
qualquer. Com elas, podemos explicar fatos como o que ocorre quando uma criança usa uma
atiradeira de elástico para lançar pedras, até a estabilidade do sistema solar.
Assim, durante séculos, o tema principal da Filosofia Natural, aquela dedicada ao estudo
dos princípios da natureza, foi o estudo do movimento e suas causas. Entretanto, a partir do
século XVII, por causa de Galileu e de Newton, foi realizado um progresso extraordinário na
solução do mesmo.
Nascido na noite de Natal de 1642, o físico inglês Isaac Newton (1642-1727) viria a
ser o grande arquiteto da Mecânica Clássica. Apoiado sobre ombros de gigantes, como ele
costumava dizer quando se referia a Galileu, Kepler e Hooke, ele conseguiu produzir uma das
maiores sínteses que a mente humana foi capaz de realizar, explicando todos os movimentos
a partir de um conjunto formado por três leis e a teoria da gravitação universal. Assim, Newton
uniu a física dos corpos celestes à física de nosso cotidiano. Essa realização monumental veio
a público pela primeira vez em 1686, no livro Principia Mathematica Philosophiae Naturalis
(uma obra que quase imediatamente se tornou mundialmente conhecida e referenciada, hoje
as pessoas se referem a ela simplesmente como “os Principia”).
A essência dessas leis pode ser entendida a partir da apresentação de algumas idéias
sobre o movimento.
Explicando o movimento
I
nicialmente, vamos relembrar algumas situações que envolvem o nosso cotidiano. Quem
já passou pela experiência de ficar em pé, se equilibrando no centro da carroceria de um
caminhão ou de um ônibus que trafega numa estrada com uma velocidade constante?
Quase todo mundo, é claro!
Olhando só para o piso da carroceria você tem a sensação de estar parado (lembre-se
do conceito de referencial inercial!). Imagine agora que você, repentinamente, dá um salto na
vertical. Quando você retornar ao piso da carroceria, estará numa posição à frente ou atrás
daquela em que estava antes do salto? Ou estará naquela mesma posição?
A sua resposta certamente vai ajudá-lo a entender o princípio da inércia. Vamos analisar
juntos essa situação. Enquanto está no ar, seu corpo perde contato com o caminhão. Entretanto,
a única ação sobre o seu corpo é a ação da gravidade que o vai trazer de volta ao piso. Assim,
para que retorne ao piso numa posição à frente ou atrás, alguma ação que lhe empurre para
frente ou para trás, respectivamente, ocorre. Como não existe tal ação, resta a alternativa de
retornar ao piso na mesma posição de antes do salto. Essa alternativa permite-nos concluir
que: mesmo no ar, o corpo estaria com a mesma velocidade do caminhão, ou seja, aquela que
possuía antes do salto. Com relação à direção do deslocamento horizontal do caminhão, um
observador na carroceria veria o seu corpo em um estado de repouso nessa direção horizontal,
por outro lado, um observador parado à margem da estrada veria o seu corpo em um estado
de velocidade constante na direção horizontal.
Os dois observadores diriam que a tendência do seu corpo é permanecer em repouso
ou com velocidade constante, mesmo o seu corpo tendo sido projetado verticalmente do
piso da carroceria. Resumimos, desta forma, essa propriedade:
Inércia e segurança
Força
A
força é uma interação (de contato ou a distância) entre dois corpos, definida pelos
seus efeitos, pode causar vários efeitos diferentes em um corpo, como: iniciar ou
cessar um movimento, sustentar um corpo em repouso ou mantê-lo com velocidade
constante e também deformar um corpo. Assim, se sobre um determinado corpo está
b) Forças de campo: são aquelas que atuam a distância, sem a necessidade do contato físico
entre os corpos. Podemos exemplificar a força gravitacional, a que mantém os planetas
em suas órbitas em torno do Sol, a força que a Terra exerce sobre os corpos próximos à
sua superfície e que os atrai para o seu centro e a força de um imã sobre um prego.
O enunciado anterior indica que a força aplicada a um corpo é o agente capaz de alterar
a velocidade, vencendo assim a inércia, ou seja, a tendência natural de manter o estado de
movimento ou de repouso.
Por outro lado, um corpo livre da ação de forças, ou sujeito à ação de um conjunto de
forças cuja resultante seja nula, estará em equilíbrio, isto é, em repouso ou em movimento
retilíneo uniforme. Nessas condições, conservará, por inércia, sua velocidade constante.
Assim sendo, podemos afirmar que:
Figura 1 – R
epresentação esquemática de um boneco girando num carrossel: (a) posição de frente e (b) posição
de trás do carrossel.
Consideremos agora uma situação bastante comum na qual diversas forças agem sobre
um corpo, como mostrado na Figura 2.
(Eq. 1)
Essa representação matemática mostra que, para que uma partícula esteja em equilíbrio,
é necessário que a soma das forças que atuam sobre ele, a resultante, seja nula. O símbolo
Σ representa o somatório.
A Matemática nos auxilia na representação de um conjunto de forças atuando sobre
um determinado corpo. Usamos o vetor como sendo um segmento de reta com uma flecha
na extremidade para indicar o sentido da grandeza. O módulo ou magnitude é caracterizado
pelo tamanho do segmento de reta em escala e a direção é o ângulo que essa flecha forma
com uma reta de refência, como explicado na Figura 4, da Aula 2.
Os vetores na Figura 3 representam forças aplicadas sobre um mesmo corpo. Se
convencionamos que o vetor da esquerda aponta no sentido positivo, então, o da direita
aponta no sentido negativo, ou vice-versa. Tendo os dois vetores o mesmo tamanho, e
estando na mesma linha, o que representa a mesma direção, mas sentidos contrários, a sua
soma algébrica é nula, ou seja, a resultante das forças que atuam no corpo é nula.
Figura 3 – Representação de duas forças de mesmo módulo e direções opostas ou equivalentes,mesma direção,
mas atuando em sentidos contrários.
Exemplo 1
A Figura 4 ilustra a situação em que o caminhão mantém uma velocidade constante de 50
km/h. A seta da esquerda representa um conjunto de forças que atua no sentido de empurrar,
enquanto a da direita representa um conjunto de forças que atua no sentido de retardar o
movimento do caminhão. Desse modo, como ambas as setas têm o mesmo tamanho,
significando o mesmo módulo, dizemos que a resultante das forças sobre o caminhão é nula.
Figura 5 – Caminhão sujeito a uma força resultante igual a Fres se deslocando no sentido indicado pela seta larga
Figura 6 – Esquematização das forças que atuam sobre um caminhão colocado num declive (plano inclinado)
Atividade 1
Baseado na Figura 6, analise agora a situação do caminhão quando está subindo
um declive como ilustrado na Figura 7, mostre a composição de forças agindo
sobre o caminhão.
O que o motorista deve agora fazer para, subindo o declive, manter o caminhão
numa velocidade constante?
Referencial inercial
Quando dizemos que o ponto segundo o qual levantamos o caminhão altera a forma
como ele se desloca, estamos tratando o caminhão como um corpo extenso, por outro
lado, quando o ponto segundo o qual o erguemos não altera o resultado, ele se comporta
como uma partícula.
Voltemos à discussão sobre o deslocamento do caminhão, especificamente no trecho
da curva da estrada. Se vamos considerá-lo como partícula, as forças de atrito nos pneus
devem ser iguais para o caminhão não rodar na curva. A simplificação é feita considerando
que toda força de atrito que age nos pneus é aplicada no centro de massa do caminhão.
Força e movimento
Experimente deslocar os dois caminhões ilustrados na Figura 10. Em qual deles você
aplicaria uma maior força? Se raciocinar corretamente, dirá que aplicaria uma maior força
para empurrar o caminhão (b), que está carregado. Se você aplica uma força F suficiente para
deslocar o caminhão sem carga, essa força deslocaria o caminhão carregado? Certamente
não. Isso nos leva à conclusão: uma força F qualquer não causa o mesmo efeito em corpos
diferentes. Portanto, a massa dos corpos é o diferencial entre os dois caminhões.
Nessa atividade, você deve ter percebido que, apesar de todos os cubos receberem a
mesma impulsão, eles adquiriram movimentos diferentes, pois cada um deslocou-se de uma
distância diferente sobre o plano. Além disso, alguns cubos podem não adquirir movimento.
Figura 12 – Representação esquemática da aplicação de uma força sobre uma partícula e de sua aceleração
(Eq. 2)
} como aA aB implica em mA mB
A massa de um corpo deve ser vista como uma prorpiedade da matéria que
indica a resistência do corpo à alteração de sua velocidade, ou seja, a massa
mede sua inércia.
Atividade 4
Ação e reação
Você já deve está acostumado a ouvir a seguinte frase: a cada ação corresponde
uma reação.
No nosso cotidiano essa frase pode ser permutada por: bateu, levou.
Se uma pessoa sofre uma agressão verbal ou física, geralmente, ela tenta reagir da
mesma forma. Na Ciência, a ação (força) e a outra força (reação) ocorrem simultaneamente,
pois é decorrente do processo de interação entre os corpos. Por exemplo, quando você
empurra um caixote de madeira, você sente que o caixote também está empurrando você.
No instante que você pára de empurrar, o caixote também pára de empurrar você.
Isaac Newton percebeu que toda ação estava associada a uma reação, de forma que,
numa interação, enquanto o primeiro corpo exerce força sobre o outro, também o segundo
exerce força sobre o primeiro. Assim, em toda interação teríamos o nascimento de um par
de forças: o par ação-reação.
O Princípio da Ação e Reação constitui a essência da terceira lei de Newton e pode ser
enunciada da forma que segue:
Ou seja,
(Eq. 3)
Na terceira lei de Newton, as forças de ação e reação assumem as seguintes características:
a) estão associadas a uma única interação, ou seja, correspondem às forças trocadas apenas
entre os dois corpos;
b) têm sempre a mesma natureza (ambas de contato ou ambas de campo), logo, possuem
o mesmo nome (o nome da interação);
Veja mais sobre as três leis de Newton nas referências citadas ao final da aula.
Exemplos de interações
Vejamos a seguir algumas interações básicas de forças de campo e de contato onde
aparece o par ação-reação.
Perceba nessa figura que as forças de ação e reação não se equilibram, por que elas agem
em corpos diferentes. É fato que se o boneco de massa m cair livremente de uma certa altura
em relação à superfície da Terra ele sofrerá uma aceleração expressiva na direção da superfície
terrestre, enquanto isso a Terra permanecerá imóvel diante da força exercida pelo boneco. A força
peso é dada por: P = mg, em que m é a massa do corpo e g é a aceleração da gravidade.
Figura 14 – Representação gráfica das forças atuando sobre um caixote colocado na carroceria do caminhão
n Força de tração – Quando penduramos uma bola através de um fio, como mostrado na
Figura 15, ela exerce uma força denominada força de tração sobre a ponta do fio. Por
outro lado, a ponta da haste exerce uma força de tração sobre a bola, mas aponta
em sentido contrário.
Você poderá pesquisar nas referências citadas no final desta aula, outras formas de
interação, como força elástica, de arraste, empuxo etc.
n Força de atrito – Seja um caixote de massa m colocado numa superfície plana no qual
você aplica uma força F insuficiente para que ele entre em movimento, como ilustrado
na Figura 16.
Figura 16 – Representação de um caixote em repouso sobre uma superfície plana mesmo com a aplicação da força F
Mas, pela segunda lei de Newton, um corpo está em repouso porque a resultante das
forças que atuam sobre ele é nula. Se, aparentemente, na direção horizontal, só existe a força
F atuando no corpo, então, somos obrigados a admitir a existência de uma força oposta à
tendência do movimento. Tal força é chamada de força de atrito, fE representada na Figura 17.
Figura 17 – R
epresentação de um caixote em repouso no plano, sujeito à ação de duas forças de módulos iguais,
mas com sentidos diferentes
Nos casos (b) e (c), o ponto de aplicação da força de tração do cabo é diferente do
ponto de aplicação da força peso que está localizada no centro de massa. Com isso, além do
caminhão ser erguido, ele sofre rotação.
Chamaremos aqui de braço da força a distância do ponto de aplicação dela ao centro
de massa do corpo, ou também a distância a um eixo em torno do qual o corpo possa girar.
Em relação ao 9(a), o braço da força é zero, portanto, o caminhão não sofre rotação.
Quando vamos abrir uma porteira, o eixo de rotação está nas dobradiças e
aplicamos a força na outra extremidade, de modo a facilitar a sua abertura. Vamos
N = rF (Eq. 4)
Dessa forma, como o momento da força foi definido, r e F são vetores perpendiculares entre
si (o sentido de aplicação da força ao abrir uma porta é perpendicular ao plano da porta). Você
certamente irá aprofundar-se nesse assunto na disciplina Movimentos e Mecânica Clássica.
Resumo
Nesta aula, observamos que, de acordo com a primeira lei de Newton, para um
corpo permanecer em repouso ou em movimento retilíneo uniforme é necessário
que a resultante das forças que atua sobre o corpo seja nula. Vimos que pela
segunda lei de Newton, se essa força resultante é não nula o corpo adquire uma
aceleração que é dada pela razão entre a força e a massa do corpo. E de acordo
com a terceira lei de Newton, se um corpo interage com outro exercendo sobre
este uma força F, o outro reagirá com uma força de igual módulo, mas de sentido
contrário, produzindo o par ação-reação. Vimos ainda que quando aplicamos uma
força sobre um corpo fora do seu centro de massa ou mesmo fora de um eixo
qualquer, certamente o mesmo adquire movimento de rotação.
Auto-avaliação
Suponha que o corpo da Figura 15 tem uma massa de 40 kg. Considerando que a
1 aceleração da gravidade seja de 10,0 m/s 2, responda ao que se pede.
c) Qual a tração exercida sobre o fio, se o corpo estiver descendo com velocidade constante?
Quando a força F vence o atrito, a resultante das forças sobre o caixote é a diferença
3 entre F e a força de atrito cinético. Se o garoto exerce uma força F de módulo igual a
480 N sobre o caixote , e sendo o coeficiente de atrito cinético entre o caixote e o piso
igual a 0,4, qual a força resultante sobre o caixote e a aceleração adquirida por ele?
Referências
GALILEU Galilei. Disponível em: <http://www.esec-luisa-gusmao.rcts.pt/.../galileu.jpg>.
Acesso em: 24 nov. 2006. Figura 1.
MÁXIMO, Antonio; ALVARENGA, Beatriz. Curso de física. São Paulo: Scipione, 2006. V.1.
NUSSENZVEIG, Moysés. Curso de física básica: mecânica. 4. ed. São Paulo: Edgar Blücher,
2002. V.1.
POTIERS, Guido. Leis de Newton. Porto Alegre, 2003. Disponível em: <http://www.fisica.
potierj.pro.br/poligrafos/leis_newton.htm>. Acesso em: 24 nov. 2006.
Física e meio ambiente / Ciclamio Leite Barreto, Gilvan Luiz Borba, Rui Tertuliano de Medeiros.
– Natal, RN : EDUFRN, 2006.
316p. : il
1. Física. 2. Meio ambiente. 3. Sociedade. I. Borba, Gilvan Luiz. II. Medeiros, Rui Tertuliano de.
III. Título.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN -
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
D I S C I P L I N A Física e Meio Ambiente
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