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Discente: Maria Clara Da Costa Araújo

Turma: Direito - manhã 2° período


Atividade integradora 2° ciclo

Tema: Justiça Restaurativa

1.DAMÁSIO E. DE JESUS.

1.1 Conceito de Justiça Restaurativa.

Para Damásio de Jesus, a justiça Restaurativa deve ser analisada sob uma
perspectiva adotada por Paul McCold e Ted Wachtel, sendo esta considerada como
um “processo colaborativo”.

Paul McCold e Ted Wachtel, do Instituto Internacional por Práticas


Restaurativas (International Institute for Restorative Practices), em trabalho
apresentado no XIII Congresso Mundial de Criminologia, realizado de 10 a 15
agosto de 2003, no Rio de Janeiro, afirmam que a Justiça Restaurativa
constitui "uma nova maneira de abordar a justiça penal, que enfoca a
reparação dos danos causados às pessoas e relacionamentos, ao invés de
punir os transgressores" [1]. Seu postulado fundamental é: "o crime causa
danos às pessoas e a justiça exige que o dano seja reduzido ao mínimo
possível".A Justiça Restaurativa é um processo colaborativo que envolve
aqueles afetados diretamente por um crime, chamados de ‘partes
interessadas principais’, para determinar qual a melhor forma de reparar o
dano causado pela transgressão". (Boletim jurídico, 2005)
Tais autores criaram uma teoria de Justiça Restaurativa, composta de
três estruturas, sendo elas: “A Janela de Disciplina Social”; “O Papel das Partes
Interessadas” e, por fim, “A Tipologia das Práticas Restaurativas”. O autor faz uma
análise sobre essas três estruturas e por fim expressa sua compreensão a respeito
do tema.

Esses autores criaram uma teoria de Justiça Restaurativa, composta de "três


estruturas conceituais distintas, porém relacionadas": "Social Discipline Window – A Janela
de Disciplina Social – (Wachtel, 1997, 2000; Wachtel & McCold, 2000); Stakeholder Roles –
O Papel das Partes Interessadas – (McCold, 1996, 2000); Restorative Practices Typology – A
Tipologia das Práticas Restaurativas – (McCold, 2000; McCold & Wachtel, 2002)". A Janela
de Disciplina Social busca evitar práticas puramente punitivas (ou retributivas), as quais
tendem "a estigmatizar as pessoas rotulando-as indelevelmente de forma negativa", ou
meramente permissivas, buscando "proteger as pessoas das conseqüências de suas ações
erradas".

A "abordagem restaurativa, com alto controle e alto apoio, confronta e


desaprova as transgressões enquanto afirmando o valor intrínseco do transgressor".

Dizem os autores acima: "a essência da justiça restaurativa é a resolução de


problemas de forma colaborativa. Práticas restaurativas proporcionam, àqueles que foram
prejudicados por um incidente, a oportunidade de reunião para expressar seus sentimentos,
descrever como foram afetados e desenvolver um plano para reparar os danos ou evitar que
aconteça de novo. A abordagem restaurativa é reintegradora e permite que o transgressor
repare danos e não seja mais visto como tal. [...] O engajamento cooperativo é elemento
essencial da justiça restaurativa". Trata-se, enfim, de suprir as necessidades emocionais e
materiais das vítimas e, ao mesmo tempo, fazer com que o infrator assuma responsabilidade
por seus atos, mediante compromissos concretos.

O Papel das Partes Interessadas é o elemento estrutural cujo enfoque é relacionar o


dano causado pela infração penal às necessidades específicas de cada interessado "e às
respostas restaurativas necessárias ao atendimento destas necessidades".

As principais partes interessadas compõem-se das vítimas e dos


transgressores. "Aqueles que têm uma relação emocional significativa com uma vítima ou
transgressor, como os pais, esposos, irmãos, amigos, professores ou colegas, também são
considerados diretamente afetados. Eles constituem as comunidades de assistência a
vítimas e transgressores." As partes secundárias, por outro lado, são integradas pela
sociedade, representada pelo Estado, pelos vizinhos, "aqueles que pertencem a
organizações religiosas, educacionais, sociais ou empresas cujas áreas de responsabilidade
incluem os lugares ou as pessoas afetadas pela transgressão". O dano sofrido por essas
pessoas é indireto e impessoal, e a atitude que deles se espera é a de "apoiar os processos
restaurativos como um todo".

No processo de conciliação, promovido por meio de debates e mesas-redondas,

todas as partes interessadas principais "precisam de uma oportunidade para expressar seus
sentimentos e ter uma voz ativa no processo de reparação do dano"."As vítimas são
prejudicadas pela falta de controle que sentem em consequência da transgressão. Elas
precisam readquirir seu sentimento de poder pessoal. Esse fortalecimento é o que
transforma as vítimas em sobreviventes. Os transgressores prejudicam seu relacionamento
com suas comunidades de assistência ao trair a confiança das mesmas. Para recriar essa
confiança eles devem ser fortalecidos para poder assumir responsabilidade por suas más
ações. Suas comunidades de assistência preenchem suas necessidades garantindo que algo
seja feito sobre o incidente, que tomarão conhecimento do ato errado, que serão tomadas
medidas para coibir novas transgressões e que vítimas e transgressores serão reintegrados
às suas comunidades. As partes interessadas secundárias, que não estão ligadas
emocionalmente às vítimas e transgressores, não devem tomar para si o conflito daqueles a
quem pertence, interferindo na oportunidade de reconciliação e reparação. A resposta
restaurativa máxima para as partes interessadas secundárias deve ser a de apoiar e facilitar
os processos em que as próprias partes interessadas principais determinam o que deve ser
feito. Estes processos reintegram vítimas e transgressores, fortalecendo a comunidade,
aumentando a coesão e fortalecendo e ampliando a capacidade dos cidadãos de solucionar
seus próprios problemas."

Por fim, o último elemento estrutural da Justiça Restaurativa compreende a


Tipologia das Práticas Restaurativas.

Todas as partes interessadas, diretas e indiretas, desde que haja consenso, são
chamadas a buscar, em conjunto, uma solução efetiva para o conflito, de modo a preencher
suas necessidades emocionais. Os três grupos devem ter participação ativa e se engajar no
processo de conciliação.

Se a legislação de um determinado país estipular que participará apenas um


dos grupos de partes interessadas principais, por exemplo, as vítimas, na hipótese em que o
Estado lhes beneficia com uma compensação financeira, o processo é denominado
"parcialmente restaurativo". Se, por outro lado, somente a vítima e o transgressor
participarem de um processo de mediação, sem as comunidades, esse será "na maior parte
restaurativo".

Para que se dê a realização plena do conceito de Justiça Restaurativa, é

fundamental os três grupos participarem ativamente, como em "conferências ou círculos".

Pode-se concluir, na esteira dos autores acima citados:

"A justiça requer que o dano seja reparado ao máximo. [...] A justiça restaurativa é

conseguida idealmente através de um processo cooperativo que envolve todas as partes

interessadas principais na determinação da melhor solução para reparar o dano causado


pela transgressão. A teoria conceitual apresentada possibilita uma resposta abrangente que
explica o como, o por quê e o quem do paradigma da justiça restaurativa. A Janela de
Disciplina Social explica como o conflito pode se transformar em cooperação. A Estrutura de
Papéis das Partes Interessadas Principais mostra que para reparar os danos aos
sentimentos e relações requer o fortalecimento das partes interessadas principais, afetadas
de forma mais direta. A Tipologia das Práticas Restaurativas explica porque a participação da
vítima, do transgressor e das comunidades é necessária à reparação do dano causado pelo
ato criminoso". (Boletim jurídico, 2005)

Para Damásio, o dano causado deve ser reparado ao máximo quando


trata-se de justiça restaurativa, as partes envolvidas devem ser levadas em
consideração tal como também suas emoções, quando a justiça decide apenas dar
punição a um crime não está levando em consideração as necessidades emocionais
e sociais dos afetados pelo crime.

"Um sistema de justiça penal que simplesmente pune os transgressores e desconsidera as

vítimas não leva em consideração as necessidades emocionais e sociais daqueles afetados


por um crime. Em um mundo onde as pessoas sentem-se cada vez mais alienadas, a justiça
restaurativa procura restaurar sentimentos e relacionamentos positivos. O sistema de justiça
restaurativa tem como objetivo não apenas reduzir a criminalidade, mas também o impacto
dos crimes sobre os cidadãos. A capacidade da justiça restaurativa de preencher essas
necessidades emocionais e de relacionamento é o ponto chave para a obtenção e
manutenção de uma sociedade civil saudável". (Boletim jurídico, 2005).

2. MARÍLIA MONTENEGRO.
Marília Montenegro trata do assunto destacando os atributos da justiça
restaurativa, de que forma enxergar o crime e como as partes interessadas devem
ser levadas em consideração, tendo como maior objetivo recuperar os danos
causados pelo crime não ignorando a vítima nem o transgressor.

(...)”Um dos principais atributos da justiça restaurativa é que ela enxerga o crime como uma
violação contra pessoas “reais” no lugar de uma violação dos interesses abstratos do Estado
ou de normas jurídicas abstratas. Assim, no modelo restaurativo de justiça criminal, o Estado
não tem mais o monopólio sobre a tomada de decisões” e “os principais tomadores de
decisão são as próprias partes” (MORRIS; YOUNG, 2000, p. 14). Isto é, os conflitos são
devolvidos a quem pertencem (vítimas, infratores e comunidade), e a lógica da justiça
criminal é invertida: no lugar da repressão contra o inimigo (o infrator), a busca é pelas
respostas mais significativas de reparação (dos danos advindos do crime) e, se possível, de
reconciliação (entre as partes em conflito).” (MONTENEGRO, 2015, p. 103)

Para a autora, há um processo extremamente significativo que viabiliza a


participação das partes, sendo de extrema importância para um resultado potencial
restaurativo.

“Nesse sentido, a justiça restaurativa envolve um processo que permite e viabiliza o efetivo
engajamento das partes; um processo no qual todos os participantes ajudam a definir o mal
provocado pelo delito e a desenvolver um plano para a reparação desse mal. E quanto mais
inclusivo for esse processo, melhor – quer dizer, quanto mais pessoas (atingidas pelo crime)
forem incluídas, quanto mais cedo elas forem envolvidas, e quanto mais efetiva for a
participação de cada uma delas ao longo do processo, maior será o potencial restaurativo
desse processo. É principalmente por essa razão que o modelo ideal ou “purista” (MCCOLD,
2000) de justiça restaurativa é de um processo em que as partes envolvidas se encontram
“cara-a-cara”. Isto é, na prática, os programas de justiça restaurativa devem envolver,
sempre que possível, um (ou alguns) encontro(s) “ao vivo” entre as partes afetadas pela
ocorrência criminosa, para que todos tenham a oportunidade de expressar seus sentimentos
e partilhar suas opiniões sobre como enfrentar as consequências do crime (MORRIS;
YOUNG, 2000; ZINSSTAG, 2012)” (MONTENEGRO, 2015, p. 104)

3. FERNANDA CRUZ FONSECA ROSENBLATT.


A autora traz sobre o processo restaurativo como um “instrumento de
empoderamento das partes” (ambas assumindo seu próprio conflito), para que
juntos superem os danos materiais causados pelo crime.

O processo restaurativo também é concebido como um instrumento de “empoderamento”


(empowerment) de vítimas, infratores e comunidades, a fim de que essas partes possam unir
esforços na superação dos danos materiais, psicológicos e relacionais decorrentes do crime
(BRAITHWAITE, 2002; JOHNSTONE, 2011; ZEHR, 1990). Com efeito, para romper com a
mentalidade de que os profissionais são os mais aptos a decidir como é que as pessoas
diretamente afetadas por um crime devem ser ajudadas ou tratadas, as vítimas precisam de
empoderamento para “assumir” o seu próprio conflito – quer dizer, elas devem ser
empoderadas para opinar sobre o destino do seu próprio caso. Por outro lado, a fim de
superar uma longa tradição em que o condenado “recebe”, passivamente, uma punição, os
infratores devem ser empoderados para “assumir” o seu comportamento desviante, para
realmente enfrentar as consequências de suas ações, reparando os danos provocados a
indivíduos e relacionamentos, e aproveitando toda e qualquer oportunidade para demonstrar
confiabilidade e buscar a sua reintegração na comunidade. Por fim, os membros da
comunidade vitimizada (incluindo os familiares e amigos afetados) devem ser empoderados
para resolver os seus próprios conflitos comunitários, e para ajudar a traçar um plano de
ação por meio do qual os infratores arrependidos possam ser (re)inseridos naquela
comunidade. (MONTENEGRO, 2015, p. 104)

Por fim, Fernanda Cruz conclui que a justiça restaurativa inclui a vítima em
“seu processo”, dando voz a ela, pois é comum que o crime seja tratado e julgado
por ser contra o Estado, desconsiderando a vítima. A justiça restaurativa, assim,
considera ambas as partes envolvidas, tratando não somente de ajudar somente a
vítima e punir o transgressor, mas envolvendo as partes no real processo
restaurativo.

Nesse contexto, cabe destacar a importância dada ao papel da vítima nos processos
restaurativos. Porque o crime é tradicionalmente concebido como uma infração
contra o Estado, “não é de se estranhar que as vítimas são tão consistentemente
deixadas de fora do processo [penal] e que suas necessidades e desejos são tão
pouco atendidos” (ZEHR, 1990, p. 82). De fato, o modelo tradicional de justiça
criminal, ao conservar uma mentalidade orientada para o castigo, onde a ênfase é
colocada na “justa medida da pena”, acaba por negligenciar “as mais complexas e
não retributivas necessidades das vítimas” (DZUR; OLSON, 2004, p. 91). Nesse
contexto, as pesquisas vitimológicas têm reiteradamente revelado o que as vítimas
de crime mais querem do sistema de justiça criminal: mais informações sobre o “seu”
caso, mais “voz” dentro do “seu” processo, mais atenção aos danos emocionais e
psicológicos decorrentes da “sua” experiência de vitimização, e assim por diante
(STRANG; SHERMAN, 2003). Para os proponentes da justiça restaurativa, há fortes
razões para acreditar que o sistema restaurativo de abordagem dos conflitos é mais
benéfico para as vítimas do que a míope tradição de punição e retribuição
profundamente arraigada no sistema de justiça criminal (HOYLE, 2002). Com efeito,
existe crescente evidência empírica de que: diante do real envolvimento da vítima no
processo, os programas de justiça restaurativa criam mais oportunidades para que
elas fiquem sabendo sobre o andamento do “seu” caso; os processos restaurativos
permitem a ativa participação. (MONTENEGRO, 2015, p. 18 e 19.)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

Damásio E. de Jesus, Justiça restaurativa no Brasil, Boletim Jurídico, 2005,


https://www.boletimjuridico.com.br/artigos/direito-penal/882/justica-restaurativ
a-brasil, 25/10/2021.
MONTENEGRO, Marília e ROSENBLATT, Fernanda.Para além do Código de
Hamurabi: estudos sociojurídicos,Editora Universitária,cap. VII, p. 103-104,
2015.
ROSENBLATT, Fernanda e MONTENEGRO, Marília. Para além do Código de
Hamurabi: estudos sociojurídicos,Editora Universitária,cap. VII, p. 104,105 e
106, 2015.

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