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A BÍBLIA DO CÂNHAMO" ORIGINAL ESCRITA PELO SR.

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PensologoSou.pt
A "BÍBLIA DO CANHAMO" ORIGINAL ESCRITA PELO SR. JACK HERER


O CãNHAMO
E A CONSPIRAÇÃO CONTRA A
MARIJUANA
O Registo Histórico e A Proibição da Matijuana
Científico sobre a Planta e Como o Cânhamo Pode
Cannahis Sativa L. linda Salvar o Mundo

EXTR~!
A CANNABIS EM PORTUGAL
...,
Nota à Edição Portuguesa

A edição portuguesa de The Emperor Wears No Clothes, de Jack Herer, apresenta algu-
mas diferenças em relação à original, não incluindo os Apêndices, onde se reprodu-
zem fontes citadas no texto, a Documentação, uma colecção de recortes de imprensa
sobre o cânhamo-de-cannabis, e o Suplemento Publicitário. Adicionalmente, a adap-
tação do formato A4 original da edição americana desta obra obrigou a fazer algumas
alterações de pormenor ao seu conteúdo.

Penso, logo Sou!


Laboratório de Investigação da Consciência
..,,
. . .
.
DEDICATóRIA . '

A fdwin "Capitão E.d,, M. Adair Ili


Nascido a 29 de Outubro de 1940; Falecido a 16 de Agosto de 1991, de Leucemia
Pai de Scarlet, Robyn e Edwin Marsh IV

Ele foi o meu mestre, sócio e amigo; o finalmente no hospital, quatro dias antes
homem mais honrado e o mais bravo com- de ele falecer em Agosto de 1991, era do
batente pela liberdade que jamais conheci. seguinte teor: jurávamos trabalhar todos
Ele ensinou a tantos de nós como sal- os dias para legalizar a marijuana e tirar
var a Terra de nós próprios e a rir dos da cadeia todas as pessoas presas por gan-
seus inimigos, sem deixar de os estimar. Ztl, até morrermos ou a marijuana ser le-
Em 1974-75, a posse de menos de uma galizada, ou podíamos desistir quando fi-
onça de cânhamo/ganza foi descrimina- zéssemos 84 anos. Não éramos obrigados a
lizada no estado da Califórnia. O Capitão desistir, mas podíamos fazê-lo.
Ed ( à direita na imagem aci.ma, com o Quando fizemos pela primeira vez esta
autor no Encontro do Rainbow realizado no jura faltavam cinquenta anos para nos
Minnesota em 1990) tinha 33 anos e eu 34. tornarmos octogenários. Incrivelmente,
Fizemos uma jura. Nessa altura, virtual- achávamos que, à luz de toda a espantosa
mente todas as pessoas que pertenciam ao informação que havíamos descoberto so-
movimento pró-ganza californiano consi- bre o cânhamo, a batalha para a legaliza-
deravam que já tínhamos ganho. Come- ção competa da cannabis estaria termi-
çaram a afastar-se do movimento e a re- nada com facilidade em seis meses -
gressar às suas ocupações, pensando que a dois anos no máximo ...
batalha terminara e que os políticos trata- O Capitão Ed mostrou-nos que o câ-
riam dos últimos detalhes ... nhamo é um dos mais estimáveis e im -
O Capitão Ed desconfiava que os po- portantes salvadores da Humanidade. Eu
líticos fossem terminar o trabalho. E ti- comprometo-me a continuar a luta, e pe-
nha razão. ço aos meus concidadãos da Califórnia, e
A jura de Ed, que eu subscrevi em 1974, a todos os americanos, e ao resto do
e de novo em Abril de 1980, 1986 e 1988, e mundo, que se nos juntem .

15 de Julho de 1998
Introdução por Jack Herer
Prólogo por Michael E. Rose
Prefácio por George Clayton Johnson

1 Capítulo I RESENHA HISTÓRICA SOBRE O CÂNHAMO-DE-


-CANNABIS
Notas Explanatórias • O Cônhomo-de--Connabis • O Que um Nome Indica • Notas Históricas
Americanas • Notas Históricas Mundiais • Combateram-se Grandes Guerras • Por Que É Que o
Cânhamo é Tão Importante?
5 Capítulo 2 UM BREVE SUMÁRIO DOS USOS DO CÂNHAMO
Navios e Marinheiros • Têxteis e Tecidos • Papel • Quando o Cânhamo Salvou George Bush •
Cordas, Cordel e Cordame • Telas para Pintura • TTntas eVernizes • Óleo de Iluminação • Energia de
Biomassa • Medicamentos • Óleos Alimentares e Proteína • Materiais de Construção e Habitação •
Paro Fumar (Lazer e Criatividade) • Estabilidade Económica, Lucro e Comércio Livre • O Desafio •
O Efeito de Estufa e o Burocrata • Diagrama da Planta • G. W Schlichten e o Descorticador

A CONSPIRAÇÃO CONTRA A MARIJUANA

23 Capítulo l NOVO PRODUTO AGRÍCOLA MULTIMILIONÁRIO


Artigos das revistas Popular Mechanics e Mechanical Engineering, ambas de Fevereiro de 1938.
31 C apítulo 4 OS ÚLTIMOS DIAS DA CANNABIS LEGAL
Revolução no Fabrico de Papel • Um Plano poro Salvar as Nossos Florestas • Conservação e Redução
na Fonte • Conspiração vs. Competição • "Reorganização Social" • A Desinformação de Hearst •
Xenofobia e Apartheid • ATaxação da Marijuana • "Alguém Consultou a A.M.A.?" • Houve Mais
Quem Se Pronunciasse Contra • Protegendo os Interesses E.speciais • Mentiras Autoperpetuodoras
.. ~ '" . . ~ . ,:·· -:~ ,'' ... : :·. ;- ,-·.· .

45 Capítulo 5 A PROIBIÇÃO DA MARIJUANA


Esmagar a dissenção • A Erva e a Ameaça à Paz • Um Programa de Controle • AFraude
Farmacêutica de Bush/Quayle/Ully • Comportamento Criminoso
50 Capítulo 6 A LITERATURA CLÍNICA SOBRE A MEDICINA DA
CANNABIS
Cuidados de Saúde Acessíveis • Século XIX • Século XX • Aceitação Popular • A Conferência de
Asilomar • Proibição da Investigação • Juiz da DEA Delibera a Favor da Marijuana .Médico • As
Empresas Farmacêuticas • A Raposo e o Galinheiro • Minando a Competição Natural •
Envenenando o Terceiro Mundo • Reescrevendo a História

xi
ÍNDICE· ·.· . . · '/r,. : ,·.1
--
1

- - - - -

59 Capítulo 7 O USO TERAPÊUTICO DA CANNABIS


Asma • Glaucoma • Tumores • Náusea/Quimioterapia do Conao • Epilepsia, Esclerose Múltipla,
Dores nas Costas e Espasmos • A Determinação de um Homem • C8Ds Antibióticos e
AntiBaeterianos • Herpes, Rbrose Quística, Artrite e Reumatismo • Expectorante • A Connobis
Compassiva e os Culturas Cruéis • Sono e Relaxamento • Enfisema • Stress e Enxaquecas • Apetite
• A Guerra às Drogas • Salivação • SIDA, Depressão, etc. • Riscos Aceitáveis
71 Capítulo 8 A SEMENTE DE CÂNHAMO COMO ALIMENTO
BÁSICO DO MUNDO
Nutrição com Sementes de Cânhamo • A Melhor Fonte AlimentoJ da Humanidade • O Espectro do
Fome Mundial • Um Elo Fundamental na Cadeia Alimentar

75 Capítulo 9 ECONOMIA: ENERGIA E AMBIENTE


Energia e Economia • Combustível Umpo e Renovável .. Biomassa paro a Abundânda Energético •
Quintos Familiares ou Combustíveis Fósseis • Qual Éo Problema? • A Segunda Guerra Mundial •
Segurança Energética • Livre lnidotiva, Lucro Elevado • Mudanças na Alto Costvro • Resistentes
Produtos de Papel • Substituto Biodegrodável poro o Plástico • Negócios e Taxas Derivados •
Economia Verde • Recuperação do Terra e do Solo • Guardo Natural • O Corro de Biomassa de
Henry Ford
8S Capítulo IO MITO, MAGIA E MEDICINA
O Que Um Nome Indico (2) • Os Primeiros Utílizadores Conheddos de Marijuana • 2300-/000 AC.
• O Cânhamo e os Citas • O Fio da Ovilizoção • O Cânhamo no Aplicação do Leí • A Medidno
Vegetal da Cannabis • Os Filósofos Místicos • AMente Natural • Envolto em Segredo • A Unho
Judaica • O Que Diz a Bíblia • O Cristianismo Primitivo • O Sacro Império Romano • A Aristocracia
Igreja/Estado • A Política do Papel • A Proibição dos Medicamentos de Cannobis • Os Medkomentos
Medievais Legais • Contradições • ETodavia o Cânhamo Persistiu • Modelo Económico dos. Leis de
Conpsco • Iluminismo • AComparação que Jefferson Fez com o Tabaco

A CONSPIRAÇÃO CONTRA A MARIJUANA

97 Capítulo 11 A GUERRA (DO CÂNHAMO) DE t812,


NAPOLEÃO E A RÚSSIA
A história oculta do papel que o cânhamo desempenhou numa era histórico importante • De I 740
até 1815
103 Capítulo 12 O USO DAS DROGAS DE CANNABIS NA
AMÉRICA DO SÉCULO XIX
Medicação com Marijuana • Inspiração Uterório • Rebuçados de Haxixe • Salões de Fvmo Turcos •
Tão Americano Como Torto de Maçã • Calúnias

xii
108 Capítulo 13 RACISMO:A MARIJUANA E AS LEIS JIM CROW
Fumar na América • Blackface • Todo Aquele Jazz • O Ódio que Anslinger Nutria Pelo jazz • Os
Mexicano-Americanos • A África do Sul • Vestígios
1 15 Capítulo 14 MAIS DE SESSENTA ANOS DE SUPRESSÃO
Forças Armadas • A Privacidade Éum Direito • Testes à Urina • LaRouche Contra o Rock • Babe
Ruth • Dividindo Famílias • Vigilância e Confiscas • Uma Política Antiamericana • Polícia, Segredos e
Chantagem • Paul McCartney/Banda em Fuga • Humilhação Pública • Lei Feudal • Armadilhas,
fntolerância, Ignorância • A PDFA • O Programa DARE. • A Hipocrisia Absoluta • Os Média
Entorpecidos • Injustiça Continuada

_ A CONSPIRAÇÃO CONTRA A MARIJUANA

130 Capítulo 15 A HISTÓRIA OFICIAL: DESMASCARANDO A


" Cl~NCIA RASCA,,
Desperdiçando Tempo e Vidas • Conversa Dupla • Relatórios sobre Lesões Cerebrais • Efeitos
Duradouros • Os E.studos de Nahas • Relatórios sobre Lesões Pulmonares • A Radioactividade no
Tabaco • Estudos de que o Governo Não Fala • O E.studo Copta • Os Estudos Jamaicanos • O
Estudo Costarriquenho • O Modelo de Amesterdão • Corrupção: O Caso Carlton Turner • Bush Ataca
de Novo • Comparação com o Álcool
147 Capítulo 16 O REI VAI NU
A Fábula • Analogia Lógica • As Verdadeiras Consequências da Proibição • Repressão High Tech •
Desperdiçando os Nossos lmpost.os • A Supressão dos Factos pelo Smithsonian • Critérios Duplos •
Políticas de Ignorância • O Que E a Lei? • Conclusão • O Que a Justiça Exige • O Que o Leitor Pode
Fazer
158 Epílogo: O Estado do Reino do Cânhamo, 2000

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168 Actualização da 2ª edição portuguesa. Novembro 2002


169 Apêndice UMA BREVE HISTÓRIA DA CANNABIS EM
PORTUGAL
OCânhamo Nosso de Cada Dia • Quando em Portugaf Até os Padres Eram Obrigados a Cultivar
Cannobis • Gorda da Orta Apresenta o Bangue ao Ocidente • A Capital Portuguesa do Cannabis •
Eça de Queirós: "Pois Venha o Haschisch/" • ACannabis na Ungua Portuguesa • "Se Não Comes a
Sopa, Chamo o Traficante ..." • Os Mil e Um Segredos de Fátima • AGanza Estreia-se no Cinema
Nacional
207 Bibliografia: Leituras Recomendadas
213 Índice Remissivo: Referências Cruzadas

xiii
INTRODUÇÃO às edições de 1990 a 1998

ste livro é dedicado a todos os prisio- "erva assass ina" ma sim o principaJ
E neiros de consciência desta guerra
desencadeada contra uma planta; e ao
recurso natural renovável do mundo, em
benefício de um punhado de indivtduos
esp írito indomitável de pessoas em toda a e em presas abastados e poderoso .
parte que procuram conhecer a verdade os anos decorridos desde a primeira
para que possamos continuar a viver so- publicação de O Rei Vai Nu, surgiram
bre a superftcie da Terra com todas as milhares de factos novos, corroborando
suas inúmeras e abundantes plantas e a in formação recolhida in icia lmente,
substâncias naturais. corrigindo alguns pormenore secundá-
O objectivo deste livr o é apresentar rios e acrescentando substâ ncia e esclare-
uma rigorosa p ersp ectiva histórica, so- cimentos adicionais à áreas mais nebu-
cial e económica sobre o cânhan10/m a- losas do meu trabalho. Detalhes e otéri-
rijuana, a qual é necessária com vista a cos sobre um a conspiração contra a Hu-
assegurar reformas legais abrangentes, manidade começaram a encaixar- e co-
abolir as leis que proíbem esta planta, e m o peças de um quebra-cabeças gigante.
salvar os sistemas vitais da Terra. O texto foi repetidamente revisto. fo ram
Escrevi o meu primeiro livro sobre acrescentadas secções e caixas inteira-
marijuana, G.R.A.S.S., no iní.cio de 1973. m ente novas. Embora a informação aquj
À época, desconhecia qualquer ut ilização apresen tada nunca tenha sido desmenti-
para esta planta, com a possível excep ção da pelas auto ridades american as, em
do fabrico de corda, quanto mais que ela grande medida ela foi ignorada pelos
era o mais importante recurso terrestre m éd ia.
para a produção de pap el, fibras, com - Assisti à pri ão de um nú mero cada
bustível, etc. vez maior dos meus amigos, e/ou ao con-
Completei a versão iniciaJ de O Rei Vai fisco das suas casas, empregos e n~gócios
Nu em 1985, após doze anos passados a com o parte desta " Guerra à Drogal' em
recolher informaçã.o sobre o cânhamo. A escalada.
intenção do livro era ser o culminar de Isto tornou-se um pesadelo para mui-
uma cruzada pessoal muito concreta, tos dos nosso melhores cidadãos que.
que empreendi com o meu amigo de tendo confiado no eus intelectos, e
longa data e sócio, Capitão Ed Adair, pa- assumido respo nsabilidade pela sua
ra conseguir o direito de se usar ma rijua- saúde, desafiaram esta pernicio a políti-
na e educar as pessoas sobre o cânhamo. ca pública e to rnara m-se não só p ri io-
Foi o Capitão Ed quem , desde 1973, me neiros de consciência, mas verdadeiros
encorajou constantemente a registar e prisioneiros de guerra.
compilar os factos que eu ia obtendo so- Espero que, apôs a leitura de te liv ro, o
bre a marijuana e o cânhamo. leito r e junte a mim e recon heça que es-
Ao recolher um facto aqui e outro ali, sas pessoas não são fo ras-da-lei, m as sim
começou a revelar-se uma perspectiva os her óis que estão a tentar salvar a
mais alargada do cãnhamo-de-cannabis se m ente que irá saJvar o planeta.
1ovas pessoas foram atrafdas para este
e da su a supressão - perspectiva essa
que eu não antecipara. projecto, o trabalho das quais lhe conferiu
O que começou a formar-se, facto um âmbito e uma dimensão à qual no
após facto empírico, foi a imagem de um princípio eu podia a penas a mbiciona r.
mundo a ser destruído por uma perversa Elas trouxeram consigo capacidades e
conspiração para suprimir n ão uma informação que representaram uma con-

xiv
.....
tribuição de monta para este empreendi- vável para ser usada no p1aneta. Os resul-
mento. Os conflitos de egos estiveram tados da sua brilhante obra podem
ausentes quando quatro ou cinco de nós descobrir-se em todas as páginas deste
ficaram acordados noites a fio; só o me- livro. O trabalho de Lynn revelará às pes-
lhor de cada espírito se m anifestou. soas de todo o mundo a beleza, necessi-
Quando se escreve um livro como O Rei dade e facilidade do cultivo e conversão
Vai Nu original, dado que a informação de energia. Lynn trabalhou dia e noite,
que devia ser do conhecimento comum é fazendo pesquisas para este livro até 2 de
vi rtualmente desconhecida dos nossos do- Janeiro de 1990, quando foi preso por
centes e cidadãos, espera-se sempre que crime de cultivo de marijuana. Encarce-
alguém dotado de grande energia e inte- rado em Ventura County, Califórnia, por
lecto o leia, o assuma como causa e passe um período de um ano, continuou a edi-
também a ensiná-lo aos outros. tar activamente este livro por detrás das
Ao longo dos anos, centenas, talvez grades.
milhares, de pessoas que leram O Rei Vai A um dos meus grandes associados e
Nu agradeceram-me por ter escrito um redactores contribuintes, a mulher de
dos seus livros preferidos. Num concerto Lynn, Judy Osburn. A Judy tornou-se,
dos Grateful Dead, um doutorado de Ya- por necessidade e ultraje, uma respeitada
le chegou mesmo a agradecer-me e abra- autoridade em legislação sobre apreeen-
çar-me por eu ser o seu autor preferido são e confisco. A necessidade surgiu
de sempre, dizendo-se encantado por eu quando o governo apreendeu a casa da
ainda estar vivo! (Estava obviamente a familia Osburn em 1988. Desde então, o
confundir este livro com a história infan- casal Osburn desenvolveu comigo um
til homónima que Hans Christian An- plano para salvar o planeta para os nos-
dersen escreveu no século XIX, a qual a sos filhos. O excelente livro que Judy
sua mãe lhe lera quando era m enino). escreveu, Spectre of Forfeiture [O Es-
Um dia no finaJ de 1988, Chris Conrad pectro do Confisco], relatando a sua
leu O Rei Vai Nu e tornou-se o meu alia- odjsseia, encontra-se agora esgotado.
do. Com as suas infindas energias e pro- A Shan Clark, pela sua participação ac-
digiosos talentos editoriais, Chris traba- tiva na edição, catalogação e redacção
lhou 40 horas por semana durante quase deste projecto, e por tê-lo empurrado em
cinco meses, sem qualquer remuneração, frente quando ele ou eu poderíamos de
agindo todavia como se fosse receber um outro modo ter estagnado
milhão de dólares pelo seu trabalho. Du- À minha antiga assistente, Maria Far-
rante todo este tempo, a mulher de row, que me acompanhou da Biblioteca
Chris, Mikki Norris, deu o seu apoio di- do Congresso à Smith sonian Institution
versificado a este projecto. e ao Departamento de Agricultura dos
Queríamos também transmitir infu1- E.U., enquanto procurámos dúzias de
dos agradecimentos ao resto do nosso funcionários governamentais para os
dedicado grupo: inquirir sobre o cânhamo, e localizám.os
Obrigado ao meu antigo editor asso- centenas de documentos sobre esta plan-
ciado e redactor adjunto, Lynn Osburn, ta e o seu encobrimento.
que é ao mesmo tempo um grande es- A Dana Beal, por todo o seu brilhante
critor e um grande cientista da energia trabalho de investigação que permitiu ligar
do cânhamo/marijuana. Lynn dedicou- o livro DuPont Dynasties, de Jerry Colby,
-se a verificar se o cânhamo era de facto com a informação sobre a proibição do
um dos principais recursos naturais re- cânhamo.
nováveis da Terra. Ele estudou a tecnolo- A Jerry Colby, pelo seu trabalho cora-
gia capaz de gerar energia limpa e reno- joso e engenhoso, que nos tornou cons-

XV
cientes da megalom ania dos DuPonts. A A Gatewood Galbraith e Mark Brenna-
Ben Masel, pela sua crítica positiva, grande men, de Lexington, Kentucky, por toda a
assistência e investigação sobre os dados notável investigação que fizeram sobre a
mais esotérios relativos ao cultivo mundial cannabis, e pela luta que empreenderam
do cânham o, e por outras coisas ainda .. . a favor dos direitos legítimos e potencial
A Julie Kershenbaum, pela excelência dos cidadãos do Kentucky.
da sua assistência editorial e revisão de A Barry, pelos seus e>.."tensos arquivos
provas, e a D. S. H., pela sua assistência sobre o cânhamo. os quais disponibili-
edito rial e meticulosa p reocupação com zou para o movimento do cânhamo e,
exactidão e legibilidade. A Brenda Ker- em última análise, para e te projecto.
shenbaum e Doug McVay pela revisão de Aos meus queridos amigos Ron e Vicki
provas e com entá rios editorais que fize- Linker, da Star eed CoUections, de
ram para a edição de 1990. Athens, Ohio, que mostraram eloquente-
A Steve H ager, John Holmstrom e a mente aos senadores e representantes do
equipa da Hígh Times, pela sua assistên- povo de Athens quão ignorantes eles
cia editorial e total apoio que prestaram, eram obre o cânhamo e a marijuana.
não apenas a este projecto, mas à ideia de Em 19 de ovembro de 1989, Ron Linker
que a Terra pode ser salva, e que cada um começou a cumprir uma pena de prisão
de nós pode tornar-se um "Combatente federal por importação de cachimbos
pela Liberdade" em prol desta causa. hindus tradicionais {tal como fizera nos
Aos Wiz Kids da Kno Ware, Ron Law- 15 anos anteriores com a apro,•ação da
rence e Vicki Marsh aJ, que por iniciativa Alfândega). Durante a leitura da sen-
própria digitalizaram em computadores tença, o juiz federal, tendo recusado que
Mac a antiga versão de O Rei Vai Nu. Em fosse admitida a juJgamento qualquer
1989, ao regressar de uma série de pales- informação sobre o cânhamo, disse: "De-
tras universitárias sobre o cânhamo, eles sejava apenas poder aplicar-lhe uma sen-
presentearam-m e de surpresa com um tença mais severa por e.a.usa de todas as
ficheiro digital con tendo o texto do livro vidas que destruiu com estes cachimbos
antigo, o que m e conferiu o adianto de (hindus tradicionais]~ Conhecedores da
que eu carecia para realizar este enorme verdade sobre o cânhamo, Ron e Vicki
empreendimen to. sentem profundamente a injustiça de.ste
A Timothy Leary, que encorajou Ron e castigo.
Vicki e eu a realizarmos esta obra. A A Elleo Komp, por toda a contribuição
George Clayton Johnson , que durante e ajuda que deu para a edição de 1993; a
quatro anos m e fez chegar provas frescas Ed Kunkel, por nos ter ajudado a chegar
de O Rei Vai Nu e um carinhoso en coraja- à linha da meta e à tipografia; e a Chris
mento para actualizar e reeditar este Uvro. Conrad, por ter voltado a atirar- nos um
Aos meus senhorios altruístas, Ed e Es- salva-vidas no ultimo minuto, e nos ter
ther, que protela__ram os prazos de paga- puxado para a segurança. A Jeremy
m ento do aluguer, de modo a que este Stout. que de forma paciente e encora-
projecto, no qual também acreditavam, jadora ajudou a finalizar a edição de
não parasse ou est agnasse devido à mi- 1995.A Lynn e Judy Osbum, de novo, por
nha escassez de fundos. terem editado a edição de 1996 de O Rei
Aos m eus amigos doutores Tod Miku- Vai Nit.
riya e Fred O erther, pela crítica que fize- A todos o outro que acreditaram nes-
ram das secções médicas deste Jivro. ta obra e ofereceram encorajamento, di-
A Loey Glover, responsável da sede nheiro e crédito mesmo quando a coisa
n acional da N ORML, pelo seu apoio esteve apertada. São eles: David e Gloria
constante e caloroso encorajamento. Smith, Marco, Allan e Regina, Jon e Carol,

xvi
....
David e Debbie, Steve e Chuquette, Roger, meus leitores e parceiros de descoberta
Gary H. 1 Rooster, Dudley, Jim, Rose e de 1992: obrigado por todos os docu-
Chris, Gail e Billy, o Estranho Amigável- mentos, reco rtes e sugestões que nos en-
Ed, Steve e Andrew DeAngelo, Rick Pfro- viaram durante os últimos anos. Conti-
mmer, Peter A., Larry G., Floyd, Jean Mi-
nuem a enviar-me as novas informações
chel Eribon, Ron Tisbert, Richard M., T.
que nos ajudarão a completar este que-
C., Mitchel de Nova Jersey, Beau e Ra-
chael, o falecido Jonathan Drewel (que da bra-cabeças em futuras edições.
Southern Montana University nos fez A ReShard e seus amigos em Treasure
chegar toda a sua incrível energia), e Lynn Valley, Indiana.
"Thelma" Malone, por terem mantido a Desejo agradecer de novo aos meus
chama acesa durante os últimos cinco inúmeros editores, presentes e passados
anos, e a todos q uantos leram esta obra, (Leslie Cabarga, Jeff Meyers, Tod McCor-
ou para ela contribuíram, dos quais eu
mick, Jeremy Stout, Lynn e Judy Osburn,
possa ter-me esquecido inadvertidamente.
Ellen Komp, Chris Conrad, Shan Clark,
PARA A EDIÇÃO DE 1998: Bryce Garner e Carolee Wilson), por se-
rem os mais extraordinários colaborado-
A Michael Kleimnan, que teve o senti-
res, patriotas e apoiantes do cânhamo
do de previsão e negócio para tornar esta
edição do Rei a melhor de sempre. com quem alguma vez poderia ter dese-
A minha esperança é que este livro jado trabalhar. Obrigado .também a Ste-
ajude todos a compreenderem a verda- ven Saunders, Milo, Ivy e Michael M., os
deira natureza do cânhamo-de-cannabis, editores associados da edição deste livro
e que você, caro leitor, decida tornar-se em CD-Rom, The Electric Emperor.
activo no esforço para parar este crime E finalmente, à minha namorada,
contra o Homem e a Natureza: a proibi-
Jeannie Hawkins, cuja dedicação ao mo-
ção da marijuana. O objectivo deste livro é
vimento do cânhamo e trabalho duro neste
fornecer ao leitor as ferramentas, os factos
inegáveis e a sensação de ultraje neces- livro me tomaram o mais feliz e afortuna-
sários para derrotar mais de 60 anos de do de todos os guerreiros do cânhamo.
mentiras contínuas e supressão da verdade Sfoceramente,
por parte das autoridades.
Tentámos ser tão factuais e exactos
quanto é humanamente possível, mas
serão sempre necessárias revisões e cor-
recções. Por favor enviem-me cópias de
quaisquer documentos ou materiais que
fortaleçam ainda mais a próxima edição Jack Herer
do Rei. Director e Fundador, HEMP
E de novo os meus agradecimentos aos (H elp End Marijuana Prohibition)

xvii
PRÓLOGO

Redigi o meu primeiro prefácio para este livro em 1985. Muito tempo passou de de
então, mas algumas coisas m antiveram-se constante . Em 1985. referi a ocorrência de
600.000 detenções por posse de marijuana, em todo o país. o ano pa ado, 1997,
houve 642.000 novas detenções por delitos relacionados com marijuana. Pelo menos
75% desses casos envolviam posse ou cultivo para consumo pessoal.
Estes treze anos trouxera m algumas mudanças, como é claro. As actuais sanções
legais são mais severas ainda. Mais pessoas do que em 1985 estão a perder as suas casas
devido a crimes relacionados com a marijuana. Como re ultado da "guerra às drogas':
a construção de p risões - não de escolas - tomou-se a mais notória indústria em
crescimento, e as protecções consagradas na Quarta Emenda estão a tomar-se uma
memória grat a mas cada vez mais ténue.
Outra m udança pert urbadora foi a intensificação - se é que tal coisa é imaginável
- do nível de hipocrisia governamental. Apesar das proclamações públicas em con-
trário, actualmente ninguém pode acreditar que a guerra às drogas é mais ganhável
do que foi a guerra no Vietname. Ninguém pode pór seriamente em causa os benefí-
cios de um cessar-fogo permanente nesta demente guerra por causa de drogas.
Todavia, a guerra continua. Apesar do nosso conhecimento médico bastar para
excluir da questão o vaJor terapêutico da marijuana, as pessoas continuam a ser pro-
cessadas pelo uso puramente médico que fazem da cannabis. Dizem as autoridades:
"Talvez seja verdade, mas estamos a enviar uma mensagem•~Então essas 642.000 pe -
soas fo ram vítimas numa guerra que tem a pe nas uma racionaJização imbólica? Isto
soa a um enorme desperdício.
Observo os comentários que fiz há treze anos atrás e sinto um certo espan to por as
minhas palavras ainda serem exactas. O facto é decerto assaz desapontador. A minha
esperança era que pudéssemos ter decidido a questão, e que hoje o livro de Jack se
tivesse tornado uma curiosidade histórica. Não, o livro é tão oportuno hoje como
sempre, e o Rei ainda vai nu.

- Michael E. Rose, advogado em Portland, O regon, 13 de Maio de 1998

~iii

.....
PREFAclO
Jack Herer conseguiu o seu objectivo. Com incrível precisão, apoiando-se em volu-
mosas pesquisas, colocou o dedo no ponto onde convergem todas as tendências que
ameaçam sufocar o mundo. E no núcleo destas complexidades descobriu o CÂNHA-
MO. A premissa do }jvro de Jack Herer, O Rei Vai Nu, é maximamente fantasiosa: Que
as diversas propriedades da aviltada e condenada planta de marijuana podem for-
necer suficiente vestuário, óleo, medicamentos, alimentos e habitação para todos os
povos do mundo, caso ela seja completamente legalizada e comercializada; e que o
cãnhamo provará ser o meio de salvar o planeta (nós) da chuva ácida, do aqueci-
mento global e da rarefacção das nossas preciosas florestas e combustíveis fósseis.
Mais ainda - que os alegados perigos de fumar marijuana empalidecem perante
as muitas vantagens potenciais do comércio livre de cânhamo e produtos derivados.
Agora que Jack assinalou estes factos a um mundo em mudança que anda em busca
da verdade - os cidadãos irão decerto repor as coisas no seu devido lugar renun-
ciando ao Tratado da Convenção Única de 1961 sobre as drogas e a marijuana, e ape-
trechando-se de forma a produzir urna enome quantidade de bens de qualidade e
ecologicamente benignos para uma sociedade de mobilidade ascendente. Enquanto
escritor de ficção científica, sinto-me atraído por esta visão de um mundo alterado de
céus limpos e viçosas florestas, repleto de pessoas amantes da liberdade que vivem em
casas de cânhamo, usam roupas de cânhamo, comem saladas de tofu de cânhamo e
guiam os seus automóveis de cânhamo movidos a cânhamo ao longo de autoestradas
bordejadas a cânhamo. Jack argumenta muito bem em favor desta possibilidade. O
facto é que fiquei encantado com a leitura que fiz deste informativo livro.
Aparentemente, Jack Herer tem um sonho - no seu futu ro, o cânhamo está com-
pletamente integrado na sociedade, de tal forma que os combustíveis fósseis e fibras
sintéticas, por exemplo, terão sido substituídos por substâncias naturais que são
anualmente renováveis e não-tóxicas. Para além da elevação da nossa inteligência, ele
ant evê a melhoria da nossa saúde graças à proteína completa chamada edistina e aos
ácidos gordos essenciais, o linolénico e o linolei,co, que se encontram em abundância
no miolo e no óleo da semente de cãnhamo. Ele antevê como as nossas habitações, a
nossa alimentação, o nosso vestuário, os nossos medicamentos, os nossos com-
bustíveis e o nosso estado mental e espiritual serão mel.horados devido ao cânhamo.
Ele dedicou a sua vida a tornar real este seu futu ro. Eu conseguiria viver nele.

- George Clayton Johnson, autor de 8 episódios da série Twilight Zone, de


Twilight Zonc (The Movie), Logan's Run (livro e filme), Star Trek, Oceans Eleven,
Kung Fu, etc., 15 de Maio de 1998.

xix
CAMPONESES COLHENDO CÂNHAMO NO INÍCIO DO SÉCULO XX
Ao longo de muitos milhares de anos, ,por todo o mundo, familias Inteiras
juntaram-se para fazer as colheitas dos campos de cânhamo no auge da
época de floração deste, nunca sonhando que um d;o o governo dos E. U.
lideraria um movimento internacional para erradicar a planta canno·bis
do face da Terra.
Ao longo dos últimos sessenta anos, os Estados Unidos não só desencora-
jaram o uso do cânhamo, mas odof:,taram uma polftica de extinçao força-
da desta espécie de planta. O impacto de acidentalmente, ou mesmo de
forma consciente, se destruir uma forma de vida específica nunca foi to-
talmente considerado, quanto mais o efeito deste ataque concertado con-
tra aquele que é possivelment•e o prindpal recurso renovável da Terra,
tendo literalmente centenas de aplicações criticas - em especial na substi-
tuição da maioria dos usos dos combustíveis fósseis, da madeiro e dos pro-
dutos petroqufmicos.
~ ... ,-. -

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Resenha Histórica
sobre o Cânhamo-de-Cannabis
Para Que Este Livro Seja Maximamente Claro:
As explicações ou documentações marcadas com um asterisco (*) são apre-
sentadas no final do(s) parágrafo(s) relevante(s). Por uma questão de brevidade,
outras fontes de factos, episódios, histórias, estudos, etc., são citados no corpo
no texto. As notas numeradas encontram-se no final de cada capítulo.
Os factos aqui citados são em geral verificáveis na Encyclopaedia Britannica,
a qual foi impressa em papel feito primariamente de cânhamo-de-cannabis du-
rante mais de 150 anos. Porém, qualquer enciclopédia (por mais antiga que seja)
ou bom dicionário servirá para fins de verificação geral.

CANNABIS SATIVA L. NOTAS


lanta também conhecida HISTÓRICAS
P por cânhamo, cânhamo-
-de-cannabis1 cãnha1no in-
AMERICANAS
m 1619, a primeira
diano, cânhamo verdadeiro,
m uggles, weed [erva], pot
lei americana sobre
marijuana foi promul-
E
[boi, ganza], marijuana, ree- gada na Colónia de Ja-
fer [charro, passa], grass íer- mestown, Virgínia, «in-
va], ganja1 bhang, "the kind", timando" todos os agri-
dagga, herb, etc.t Todos es- cultores a "experimen-
tes nomes referem-se exac- Cannabis sativa I.
tar" (cultivar) sementes
tamente à mesma planta! de cânhamo indiano.
Leis adkionais mandatórias do cultivo
O QUE UM NOME INDICA de cânhamo foram promulgadas no
( Geografia dos E. U. ) Massachusetts em 1631, no Connecticut
EMPstead [Lugar do Cânhamo], em 1632 e nas colónias de Chesapeake até
H Long lsland; HEMPstead County, meados do século XVIII.
Arkansas; HEMPstead, Texas; HEMPhill Em Inglaterra, o cobiçad(ssimo pré-
[Colina do Cân hamo], Carolina do mio de cidadania britânica completa era
Norte; HEMPfield !Campo do Cânha- conferido por decreto real a estrangeiros
mo], Pensilvânia; entre outros lugares, qu e cultivassem cânhamo, e amiúde
foram baptizados com o nome de regiões er am aplicadas multas aos que recusas-
onde se cultivava o cânhamo, ou com sem fazê-lo.
nomes de famílias derivados do cultivo O cânhamo-de-cannabis foi moeda
de cânhamo. corrente na maior parte da América do
Norte desde 1631 até ao início do século
XIX. Porquê? Para encorajar os agricul-
t No mundo lusófono, d iz-se também "maconha" tores americanos a cultivá-lo em maior
( Brasil), " liamba" (Angola) e "soruma" (Moçambi-
que). (N. do T.)
quantidade. 1
Durante mais de 200 anos, por toda a tes de cânhamo particularmente bom, as
América puderam pagar-se impostos quais eram cont rabandeadas ilegalme nte
com cânhamo-de-cannabis. 2 da China para a Turquia. Os mandarins
Durante diversos períodos de escassez chineses valorizavam lanto as suas e-
registados na América, corria-se mesmo mentes de cânhamo que tornaram a sua
risco de prisão por não se cuJtivar can- exportação um crime capital.
nabis, p. e., na Virgínia entre 1763 e 1767. O Censo dos Estado Unidos de 1850
(Herndon, G. M., Hemp in Colonial \/iriginia, contou 8.327"... "plantações" (n o mínimo
1963; The Chesapenke Colo11ies, 1954, L.A. Times, 12 quintas de 2000 acres) que cultivavam
de Agosto de 1981; et ai.)
câ nhamo- de-cannabis para confecção de
roupa, tela, e até mesmo da cord:igem
O caracter chinês "Ma" foi o mais usada para enfardar o algodão. A maioria
antigo nome do cânhamo. Pelo destas plan tações localizava-se no ui ou
século X a.e ., Ma tornara-se o nos estados fronteiriço , primariamente
termo genérico para as fibras de devido ao trabalho e cravo barato que
todos os tipos. Por essa altura, a antes de 1865 estava di ponível para a
palavra para cânhamo tornara-se indústria do cânhamo, utilizadora de
"Tai-ma" ou "Daima", significando m ão-de-obra intensiva.
"grande cânhamo". (Censo dos E.U., 1850; Allen, James L.mc, Tl1t
&1g11 of .um~A Tak ,f rht Krmucky Htmp FiE/d5,
George Washington e Thomas Jeffer- MacMillan Co., 1900; Roffman, Roger, Ph. O.,
MllrlJIUUla as Mtdicint, Mendrone Boob, WA, 1982.)
son cultivavam cânhamo nas suas p lan-
tações. Jefferson,3 enquanto foi enviado • Esle numero n.ío inclui as dC"Zenas de mtlham
oficial em França, incorreu em grandes de quintas de menor dtm~o onde~ culm.iva cà-
despesas - e até mesmo em riscos consi- nhamo, nem as centm~ de milhJrcs - senJo mi-
lhões - de t.Ullpos famili.ttts de d nha.mo e..ustentes
deráveis, para si e para os seus agentes n.1 América; nem toma ffll consideração que bem at~
secretos - de forma a conseguir semen- este ~ e durante 200 ano>. 8o% do consumo
americano de clnh.uno devu aim.Ja a.ssim ~r impor-
tado da Rtmia. Hungria OtecO'\lo,"áqw.a e PolóruJ.
:,..
Benjamin Franklin fundou uma das
·<.' .v
·'--.c
... . -~- -
.J- .....
·:_~ ..~, :~- ~. primeiras fábricas de papel da América,
.. ~ . _:,·
. ~- ..
,
que usava cânhamo. I to permitiu à
' :~
- ·:
.-,._,.'\. ;.....; .
- ',,i
América clispor de urna imprensa colo-
., ...:
!'>" • .
nial livre em ser obrigada a mendigar ou
.....1,.- . .- justificar a importaçao de papel e livros
de Inglaterra.
Além dis o, di\ er o extractos de mari-
juana e haxixe eram os egundo ou ter-
ceiro medicamentos mais prescrito no
Estados Unidos de!>de J 42 ate ao final do
século XlX. O seu uso medic.inaJ legal em
eres humanos pro egu1u legalme,ite até
aos anos 30, e durante este período figu-
raram de forma ainda mais proeminente
em m edicamento vetennarios.
Medicamentos de extracto de cannabis
Panela contendo cânhamo (em cima) foram produzido pelas empresas Eli Lilly,
e incens6rio para queimó-lo~de um Parke-Davis, Tilden • Brother mith
sftio funer6rio cita. ( mith Brothers), Squib e muitas o utras

2
farmacêuticas e apotecários americanos. bras, tecidos, óleo de iluminação, papel,
Duran te todo este tempo não ocorreu incenso e medicamentos da Terra. Era
uma única morte causada por medj- além disso uma fonte primária de óleo
cam entos feitos de extracto de cannabis, e alim entar e proteínas essenciais para se-
não foi relatado virtualm ente nenhum ca- res humanos e animais.
so de abuso ou de perturbações mentais, Segundo virtualmente todos os antro-
pólogos e universidades do mundo, a
marijuana era ta1nbém u sada na maioria
das nossas religiões e cultos, sendo uma
da meia dúzia de drogas mais usadas pa-
ra alterar a disposição e a mente, quando
tomada como sacramento psicotrópico
ou psicadélico (que manifesta ou expan-
de o espirita).
Quase sem excepção, estas experiên-
cias sagradas (com drogas) inspiraram as
nossas superstições, amuletos, talismãs,
Ideograma sino-japonês paro
religiões, preces e códigos linguísticos.
''medicina": o caracter superior
(Ver capítulo 10 em "Religiões e Magia". )
significa "erva'' e o inferior
(Wasson, R. Gordon, Soma, Divine Mushroom of
significa "prazer''. Jmmortality; Allegro, J. M., Sacred Mushroom & the
Cross, Doubleday, NI, 1969; Plinio; Josefo; Heródo-
excepto alguns utilizadores pouco ou nada to; Manuscritos do Mar Morto; Evangelhos Gnós-
experimentados que se sentiram desorien- ticos; a Bíblia; Ginsberg T.,egends Kaballah, e. 1860;
Paracelso; Museu Britânico; Budgc; Encyc. Brita11-
tados ou excessivamente introvertidos. 11ica, "Pharrnalogical Cults"; Schultes e Wasson,
(Mikuriya, Dr. Tod, Marijua11a Medical Papers, Plants of the Gods; Investigação de Schultes, R. E.,
Medi-Comp Press, CA, 1973; Cohen, Sidney e Stil- Oept. Botânico de Harvard; Wm. EmBoden, Cal
man, Richard, Tl1empeutic Potentinl of Marijuana, State U, Northridge; et al.)
Plenum Press, Nl, 1976.)

COMBATERAM-SE GRANDES
NOTAS HISTÓRICAS MUNDIAIS GUERRAS PARA ASSEGURAR O
1

' ' Aparentemente, a mais antiga peça ABASTECIMENTO EM CÂNHAMO


de tecido conhecida foi feita de câ-
or exemplo, a causa principal da
nham o, o qual co meçou a ser trabalhado
no oitavo milénio a.C. (8000-7000)".*
P Guerra de 1812 ( que a América com-
bateu com a Grã Bretanha) foi o acesso ao
( The Columbia History of the World, 1981, cânhamo-de-cannabis da Rússia. O câ-
página 54.) nhamo russo foi também a causa principal
O corpo de literatura (p.e. arqueolo- dia invasão da Rússia em 1812 por Napoleão
gia, antropologia, filologia, economia, (à época nosso aliado) e os seus aliados
história ) referente ao cânham o está de dos "Sistemas Continentais': (Ver capítulo
acordo geral em que, no m ínimo: 12, "A Guerra ( do Cânhamo) de 1812 e
Desd e m ais de 1000 anos antes do Napoleão Invade a Rússia.")
tempo de Cristo até 1883, o cânhamo-de- Em 1942, após a invasão japonesa das
-cannabis - de facto, a marijuana - foi Filipinas ter interrompido o abasteci-
a cultura agrícola m a is importante do mento de cânhamo-de-manila (abacá), o
nosso planeta, e a sua maior indústria, governo dos E.U. distribuiu 200.000 qui-
envolvendo milhares de produtos e los de sementes de cânhamo a agriculto-
empresas; produzindo a maioria das fi- res desde o Wisconsin até ao Kentucky,

3
os quais produziram anualmente 42.000 zes hermafroditas) anual, lenhosa e her-
toneladas de fibra de cânhamo até 1946, bácea que usa o sol com mais eficiência
quando a guerra terminou. do que virtualmente qualquer outra
planta do nosso planeta, alcançando uns
POR QUE É QUE O CÂNHAMO- robustos 4 a 7 metros1 ou mais, numa
-DE-CANNABIS/MARIJUANA TEM curta e cação de crescimento. Pode er
SIDO TÃO IMPORTANTE NA cultivada em virtualmente qualquer
clima ou concliçõ~ de solo na Terra, até
HISTÓRIA?
mesmo em condjções marginais.
orque o cânhamo-de-cannabis é, em O cânhamo é, de longe, o principal
Pgeral, a m ais resistente, durável e du- recurso natural renovaveJ da Terra. Ê por
isso que ele é tão importan te.
radoura fibra mole natural do planeta. As
suas folhas e florescências (marijuana)
foram - dependendo da cultura - os Notas:
primeiros, segundos ou terceiros re- i. Clark, V.S., Histary of Manufaaurt i,r thc U11i-
médios mais usados por dois terços dos ted S1a1es, McGraw-Hill, N l. 192-9, pJg. J+
2. lbid.
habitantes do mundo durante pelo me- 3. Ver os dilrios de G«>rge W.c.hington; Wriw,gs
nos 3000 anos, até ao início do século XX. o_(Ceorge Washm10,1. caru ao dr. J.im Anden.on, 2.6
Botanicamente, o cânhamo faz parte de Maio de 179-f, Vol. 3.}, pjg. ,UJ (publtcaç.Jo do go-
verno dos E.U., 1931); cartas ao ~ fcnor, William
da mais avançada famfüa de plantas da Pearce, 1795 e t79(>; lnoma.-. Jelftt'>On, ..Jefferson'
Terra. É uma planta cüóica ( isto é, tem va- Farm Books"; Abe~ Emest, Marijuana; Thr First
riedades masculinas, femininas e por ve- u,ooo l"t-ars. Pfmurn ~ . 'J, 198o; t Aldrich, er aL

«A inalação das folhas [de cânhamo] é um bom detergen-


te para o cérebro; o sumo das folhas aplicado na cabeça
como lavagem remove a caspa e os vermes; gotas do umo
atiradas para o ouvido aliviam a do r e de troem vermes e
insectos. [O cânhamo] estanca a diarreia, é útil contra a go-
norreia, restringe as emissões sen1inais e é diurético. Re-
comenda-se o pó como aplicação externa para tratar feri- ,
das e chagas abertas, e para provocar granulações, e um
emplastro de raízes cozidas e folhas para desinfect ar infla-
mações, curar erisipelas e aliviar dores neurálgicas. As fo-
lhas secas, moídas e espalhadas sobre óleo de castor, curam
o hidrocele e os testículos inch ados,,.
- "Sobre as qualidades médicas do cânhamo," do t\.1akzham-Ei-Adwiya,
um livro m uçulmano de referência médica datando do século XVI.

4
li
Um Breve Sumário
dos Usos do Cânhamo
Apostamos I00.000 D6lares+ com o Mundo:
Tentem Provar que Estamo's Errados.
Se proibíssemos todos os combustíveis fósseis e os seus derivados,
bem como o corte de árvores para abastecer as celuloses e a cons-
trução civil, de modo a inverter o efeito de estufa e parar a desflo-
restação, salvando assim o planeta - então conhece-se alJenas um
único recurso natural anualmente renovóvel capaz de fornecer a
maior ,parte do papel, têxteis e alimentos do mundo, satisfazer todas
as necessidades mundiais em termos de transportes e energia, domés-
tica e industrial, e em simultdneo reduzir a poluição, reconstituir o
solo e limpar a atmosfera...
E essa substância é - a mesma Já fez tudo isso antes -
o Cânhamo-de-Cannabls ... a Marijuana!

1. NAVIOS E MARINHEIROS ,,. Kannabis - palavra da língua grega helenizada


ralada na bacia mediterrânica, derivada do persa e de
oventa por cento de todas as velas dialcctos semitas setentrionais mais antigos (Quanu-
N náuticas* (desde pelo menos o século
V a.C., antes dos fenícios, até muito depois
ba, Kanabosm, Cana?, Kanah?), os quais os académi-
cos fizeram agora remontar à alvorada da família de
linguas indo-semito-europeias, antigas de 6ooo anos,
da invenção e comerciaJização dos navios faladas pelos sumérios e acádios. A remota palavra
a vapor, entre meados e finais do século sumério/babilónica K(a)N(a)B(a), ou Q(a)N(a) B{a),
é uma das mais perenes raízes vocabulares da huma-
XIX) eram feitas de cânhamo. nidade. (KN significa cana e B significa dois - dois
• As restantes 10% eram cm geral feitas de linho juncos ou dois sexos.)
ou fibras menores como rami, sisai, juta, abaca.
(Abel, Emest, Marij11a11n: The First 12.000 Years,
Além das velas feitas de tela, até este sé-
Plenum Press, 1980; Heródoto, Histórias, século V culo virtualmente todo o cordame, cabos
a.C.; Fra2ier, Jack, The Marijuana Fnrmers, 1972. de âncora, redes de carga, redes de pesca,
Lldice Agricola dos E.U., 1916-1982; filme do USDA, bandeiras, sudários e vedantes (a princi-
Hcmp for Victory, 1942.} pal protecção dos navios contra a água
A palavra "canvas" é a pronúncia ho- salgada, usados como calafetagem entre
landesa (por dupla via do francês e do vigas soltas ou verdes) eram feitos da
latim) da palavra grega "Kannabis'~* haste da planta de marijuana.

• P(lra mtlÍS detalhes contactnr n organiznçào de Jack Herer: Help End MarijrJana Prohibition

(H.E.M.P.), 5632 Van Nuys Blvd. #310, Van Nuys, CA 91401; Tel. (818) 988-6210; Fax (818) 988-3319;
website: jnck/1erer.co111
PATROCINADO PELA H.E.M.P. (AM8RICA), HANF HAus /{ALEMANHA), SENSI Siros/H ASH M>.RIIUANA
MUSIIUM (HOLANDA) E T.H.C., TtlE TEXAS Hl:.MI' ~1PAIGN (AMIDUCA).

5
As roupas dos marinheiros eram tam- anos (até por volta de 1830) a Irlanda fa-
bém manufacturadas a partir de canna- bricou os melhores linhos e a Ltália fabri-
bis, até ao pormenor dos fios usados pa- cou os melhores tecidos do mundo a
ra coser as solas dos sapatos (eles pró- partir de cânhamo.
prios sendo por vezes feitos de «canvas,,). • As edições 1893-1910 da Enryclopued1a Bnwnni-
ca indicam - e, em 1938, a u,,sta Popular Meclia-
"" Nos séculos XVll a XlX, um navio de carga,
nics e:itimou - que pelo roemos metade de todo o
clipper, baleeiro ou vaso militar médio, carregava
materiaJ que foi chamado linho nJo foi confec-
entre so a 100 toneladas de cordame de cánhamo- cionado de linho mas im de cânhamo. Heródoto
•de-cannabis, para não falar nas velas, redes, etc., e
(e. 450 a.C.) diz que ~ roupas de cành.mio que o
necessitava da sua total subsútuição ao fim de um
tricios confeccionavam eram tao dd1G1das como o
ano ou dois, devido ao aprodrecimento causado pe- linho, e que "só uma ~~a muito õ.perimentJda
lo sal. (Pt:rgunte-se à Academia Naval dos E. U., ou poderia dizer se e~ eram fcit~ de cânhamo ou de
atente-se na construção do USS Constitt,tion, tam-
linho":
bém conhecido por ''Old lronsides", que está fun.
deado no porto de Boston.)
(Abel. Ernest, Marijuana; The First 12,000 Years, D papel de cânhamo durava entre
Plenum Press, 1980; Encyc. Britannica; Magoun, 50 a l 00 vezes ma;s do qu,e a
Alexander, The Frigate Constitution; filme do USDA maior parte das preparações de
Hemp for Victory, 1942..)
papiro, e era cem vezes mais fácil
Adicionalmente, no mundo europeu e barato de fabricar.
ocidental/americano, os quadros, mapas,
documentos e Bíblias dos navios foram Embora estes factos tenham ido qua-
feitos de papel contendo fibras de câ- se esquecidos, os no os antepassados es-
nhamo desde o tempo de Colombo (sé- tavam bem cientes de que o cânhamo é
culo XV) até ao princípio do século XX. mais suave que o aJgodão, mais quente
Os chineses, por seu lado, usaram câ- que o algodão, mais absorvente de água
nhamo na confecção de papel a partir do que o algodão, possui três vezes a força
século primeiro da nossa era. O papel de tênsil do algodão e é muitas vezes mai
cânhamo durava 50 a 100 vezes mais do durável que o algodão.
que a maior parte das preparações de pa- De facto, quando em 1n6 as autênticas
piro, e era cem vezes mais fácil e econó- mães patrióticas das nossas actuais elitis-
mico de confeccionar. tas "Filhas da Revolução Americana•: (as
Incrivelmente1 as velas, cordas, etc., de DAR de Boston e da 1ova Inglaterra) or-
cânhamo usadas num navio oneravam ganizaram as "abelhas fiandeiras" para
mais a sua construção do que as partes vestir os soldados de \Vashington, a maior
de madeira. parte do fio que usaram era feito com
Mas o uso do cânhamo não se restrin- fibras de cânhamo. e não fo .se a planta
gia ao mar alto . .. da marijuana1 historicamente esquecida
(ou censurada) e actua1mente aviltada, o
2. TÊXTEIS E TECIDOS Exército Continental teria morrido con-
té por volta de 1820 na América (e até gelado em Valley Forge, Pensilvânia.
A ao século XX na maior parte do resto
do mw1do), 80% de todos os têxteis e
O uso com um do cânhamo na econo-
mia era importante bastante para ocupar
tecidos usados pela Humanidade para
o tempo e os pensamentos do primeiro
Secretário do Tesouro dos E. ., Ak-
confecção de roupas, tendas, linhos,"" ta-
petes, cortinas, colchas, lençóis, toalhas,
xander Hamilton, que e crevcu num co-
municado do Tesouro redigido por volta
fraldas, etc. - e até mesmo da nossa
de 1790, intitulado .. Linho e Cânhamo":
bandeira, a "Old Glory'' - , eram feitos
"Os fabricantes destes produto po uem
principalmente de fibras de cânhamo.
tanta afinidade mútua, e amiude estão de
Durante centenas, senão milhares, de

6
tal forma interligados, que poderão van- até 400 plantas por jarda quadrada que se
tajosamente ser considerados em con- colhem ao fim de 80 a 100 dias.
junto. O tecido para velas deverá ser ta- (Relatórios sobre Colheitas Agrícolas, dados
xado em 1o% ( ... )". internacionais d o USDA. CIBA Review 1961- 62,
Luigi Castellini, Milão, Itália.)
( Herndon, G.M., Hemp i11 Colonial Virginia,
1963; histórias das D.A.R.; Abe, E., Marij11a11n: Tl,e Por volta de 1820, as novas máquinas
First u.ooo Ycars; ver também o filme de 1985 manuais para fiar algodão americanas (in-
Revolution, com A1 Pacino.) ventadas por Eli Whitney em 1793) foram
Os carroções cobertos meteram-se a ca-
minho do oeste (Kentucky, Indiana, Illinois,
Orego n e Califórnia*) cobertos com re-
sistentes lonas alcatroadas feitas de tela de
câ.nhamo,1 enquanto os navios circun-
davam o "Horn" na rota de São Francisco
usando velas e cordas de cânhamo.
• As calças Levi's originais, famosas pela sua
g rande rcsislê ncia, fo ram confeccionadas pa ra os
garimpeiros californianos a partir de velame de câ-
nhamo e rebites. Desta forma os bolsos não se ras-
gavam quando eram enchidos com ouro sedimentar
pe neirado.
As roupas de confecção doméstica
eram quase sem.pre tecidas, por pessoas
Havia mais de 60 toneladas de
de todo o mundo, a partir de fibras culti-
c8nhamo no U.S.S. Constitution,
vadas no "campo familiar de cânhamo".
distribuidas entre velas, cordame,
Na América, esta tradição durou desde o
vedantes, bandeiras e insfgnias, mapas
tempo dos Peregrinos (1620) até à proi- e B{blias; e roupas e uniformes de
bição do cânhamo nos anos 30.* marinheiros.
.. Nos anos 30, o Congresso fo i informado pelo
Gabinete Federal de Narcóticos que muitos polaco- largamente substituídas por teares e máqui-
-americanos ainda cullivavnm erva nos seus quin-
tais para fazer ceroulas ele inverno e roupas de tra- nas "industria.is" para fiar algodão fabri-
balho, os quais saudaram a tiro os agentes por estes cados na Europa, devido ao avanço que a
querere m rouba r-lhes as roupas do ano segui11te. tecnologia europeia de fabrico de ferra-
A idade e a densidade do talhão de câ- mentas e corantes levava sobre a americana.
nhamo influenciam a qualidade da fibra. Pela primeira vez, era possível produ-
Se um agricultor qu isesse fibras suaves zir roupa leve de algodão a baixo custo
da qualidade do linho, plantaria as suas para alimentar rocas e teares, evitando a
plantas de cânhamo muito juntas. m aceração (apodrecimento) e separação
Regra geral, em se cultivando para uso manual das fibras de cãnhamo. 4
medicinal ou recreativo, planta-se uma Porém, devido à s ua resistência,
semente por quatro jardas quadradas. macieza, conforto e qualidades duradou-
Quando plantadas para dar semente: ras, o cânhamo continuou a ser a segunda
quatro a cinco pés espaçadas. fibra natural* mais usada até aos anos 30.
(Folheto da E>.t. Agr. da Univ. de Kentud')', Mar- ~ Caso o leitor sinta dúvidas, a fibra de cânhamo
ço de 1943.) não contém THC, ou "ganza". ~ isso, não vale a pena
fwnar a sua camisa! De facto, tentar fumar tecido de
Plantam-se cento e vinte a cento e oi- cânhamo - ou qualquer outro tecido - pode re-
tenta sementes por jarda quadrada para velar-se faraJ!
cordame ou tecidos grosseiros. O linho
Após a promulgação da lei de Taxação
ou a renda de qualidade cuJtivam-se com

7
I. Copa da planta macho, em flor; 2. Copa da -planta fêmea~ em fruto;
3. Rebento; 4. Folículo de uma folha grande; 5. Porção de uma ffore~dncia
estaminada, com rebentos e uma flor macho maduro; 6. Flores fêmeas, com
estigmas projectando-se da bráctea peluda; 1. Fruto encerrado em bráeteo
peluda persistente; 8. Fruto, vista lateral; 9. Fruto. virto do extremidade;
I O. Pêlo glandular com caule multicelular; 11. Pêlo glandufar com caule
invisivel curto e unicelular; 12. Pêlo não-glandular, contendo um cirtollto.
/lustraçao de E.. W. Smith.
Cinquenta por cento de todos os produtos químicos hoje usados na
agricultura americana são aplicados no cultivo do algodão. O cânhamo não
precisa de produtos químicos, e conta com poucos inimigos entre as ervas
daninhas e os insectos - excepto o governo americano e a DEA.

da Marijuana em 1937, novas "fibras de Carroli (século XIX); e praticamente to-


plástico,, fabricadas p ela DuPont, sob dos os outros livros eram impressos em
licença de patentes de 1936 d etidas p ela papel de cânhamo.
corporação alemã I. G . Farben (a abdi- O primeiro rascunho da Declaração de
cação das patent~s fazia parte das inde- Independência (28 de Junho de 1776) foi
mnizações alemãs à América devidas à escrito em papel holandês (de cânhamo ),
Primeira Guerra Mundial) s ubstituíram assim como o segundo rascunho, com-
as fibras naturais de cânhamo. (A Du- pletado em 2 de Julho de 1776. Este foi o
Po nt am ericana detinha cerca de 30% do documento que naquele dia m ereceu o
capital da hitleriana I. G. Farben.) A Du- consenso e foi anunciado e publicado em
Pont lançou também o Nylon (inventado 4 de Julho de 1776 ... Em 19 de Julho de
em 1935) no mercado quando a empresa 1776, o Congresso ordenou que a Decla-
o patenteou em 1938. ração fosse copiada e gravada em p er-
(Colby, Jerry, DuP011t Dy11asties, Lyle Stewart, gaminho, tendo sido este o documento
1984.) que os delegados efectivamente assina-
Finalmente, deve notar-se que cerca de ram em 2 de Agosto de 1776.
50% de todos os produtos químicos hoje As velas e cordas inutilizadas vendidas
usados na agricultura americana são pelos proprietários de navios como Lxo
aplicados no cultivo do algodão. O câ- para serem recicladas em papel eram a
nhamo não precisa de produtos quími- matéria-prima a partir da qual nós (os
cos e conta com poucos injmigos entre as americanos coloniais) e o resto do mundo
ervas daninhas e os insectos - excepto costumávamos fazer todo o nosso papel.
o governo americano e a DEA. O restante provinha de roupas, len-
(Cavender, Jim, professor de botânica, Universi-
çóis, fraldas e cortinas usados, feitos
dade do Ohio, "Aulhorities Examü1e Pot Claims•: principalmente de cân hamo e por vezes
Atlre11s News, 16 de Novembro de 1989.) de linho, que eram vendidos a farrapei-
ras como trapos.*
3. FIBRA E PASTA DE PAPEL ,. Daí o termo "papel de trapos':

té 1883, entre 75 e 90% de todo o pa- Os nossos antepassados eram dema-


A pel do mundo foi feito com fibra de
cânhamo -de-cannabis: livros, Bíblias,
siado poupados para dejtarem coisas ao
lixo, de modo que, até por volta de 1880,
mapas, papel-moeda, acções e obri- quaisq uer farrapos ou roupas inút eis
gações, jornais, etc, incluindo a Bíblia de eran1 misturados e reciclados em papel.
Gutenberg (século XV); Pantagruel e o O papel de trapos, contendo fibra de
Pantagruelão das Ervas, de Rabelais (sé- cânhamo, é o papel de maior qualidade e
cuJo XVI); a Bíblia do Rei James (século mais durável jamais feito. Pode rasgar-se
XVII); os panfletos de Thomas Paine, quando está molhado mas regressa à sua
"Os Direitos do Homem'~ «Senso Co- resistência completa quando seca. O
mwn e'~ Era da Razãd' (século XVII1 ); papel de trapos mantém-se estável du-
as obras de Fitz. Hugh Ludlow, Mark rante séculos, a não ser em condições
Twain, Victor Hugo, Alexandre Dumas, a extremas, sendo p raticament e indestru-
Alice no Pafs das Maravill1as de Lewis tível. Até por volta de 1920, muitos doeu-

9
QUANDO O CÂNHAMO SALVOU A VIDA DE GEORGE BUSH
ais um exemplo da importância do cânhamo: Cinco anos após ,l sua
M proibição em 1937, o cânhamo-de-cannabis foi celeremente reintroduzido
em 1942 para o esforço militar da Segunda Guerra Mundial.
Foi assim que, quando o jovem piloto George Bush se e1ectou do seu a\fiao em
chamas após um combate áreo sobre o Pacífico, ele mal sabia que:
• Partes do motor do seu avião eram lubrificadas com óleo de emenre de câ-
nhamo-de-cannabis;
• 100% das cintas do páraquedas que lhe ah·ou a vida eram feitas de cã-
nhamo-de-cannabis cultivado nos E. .;
• Virtualmente todo o cordame e cordas do navio que o recolheu eram feitos
de cânhamo-de-cannabis;
• As mangueiras do navio (assim como as das escola!> que frequentara) eram
tecidas de cânhamo-de-cannabis; e,
• Finalmente, quando o jovem George Bush e viu em segurança no convé , a
costura dos seus duráveis sapatos era feita de cânhamo-de-cannabis, ta] como
continua a suceder até ao presente em todo o calçado de couro e militar.
E todavia Bush dedicou boa parte da sua carreira à erradicaç.io da planta can-
nabis e à promulgação de ]eis visando assegurar que ninguém venha a conhecer
esta informação - provavelmente incluindo ele próprio ...
(Filme do USDA, Hemp for Victory•, 1942; Folheto de Ser\ iço nº 25 da Ext Agr. da Uni\•. de Kentu-
cky, Março de 1943; Galbraith, Gatewood, Kentucky Mnr;jua11a FcruibdttJ' tudJ~t97;.)

mentos do governo dos E.U. foram redi- ciência orientais usterem superioridade
gidos, por lei, em "papel de trapos" fabri- sobre os do Ocidente durante 1400 anos
cado a partir de cânhamo.5 foi o facto da Igreja Católica Romana ter
Os académicos consideram em geral proibido a leitura e a escrita a 95°'0 das pes-
que, na China, o antigo conhecimento, so~ da Europa; aJém disso, os católicos
ou arte, da fabricação de papel de cânha- queimaram, perseguiram ou proibiram
mo (século primeiro da nossa era - 800 todos os livros estrangeiro ou nacionai
anos antes do Islão ter descoberto o pro- - incluindo a sua própria Bíblia! - du-
cesso, e 1200 a 1400 anos antes da Europa rante mais de 1200 ano sob pena de
o fazer) constituía uma das duas princi- morte, um castigo que cra amiúde aplica-
pais razões por que o co nhecimento e a do. Daí que muitos historiado~ chamem
ciência orientais superaram enorme- a este período "A Idade das Trevas~ (Ver
mente os seus equivalentes ocidentais Capítulo 10 sobre Sociologia)
durante 1400 anos. Assim> a arte da fa-
4. COROA, CORDEL
bricação de papel duradouro de cânha-
mo permitiu que a acumulação de con-
E CORDAME
hecimento conseguida pelos orientais esde tempos im~moriais, virtual-
fosse transmitida, aumentada, investiga-
da, refinada, desafiada e mudada, em
D mente todas as cidades do mundo
tinham uma indú tria de fabrico de cor-
sucessivas gerações (por outras palavras, da de cânhamo. A Rú ia, porem, era o
tratava-se de um conhecimento cumula- principal produtor mundial e o fabri-
tivo e global). cante que oferecia melhor qualidade,
A outra razão que fez o conhecimento e tendo fornecido 80% do cânhamo do

10
mw1do ocidental desde 1740 até 1940. América 58.000 toneladas* de semente
Em "Senso Comum" (1776), Thomas de cânhamo unicamente para fabrico de
Paine enumerou os quatro recursos na- tintas e vernizes. O sector dos óleos de
• • • - (t
tura1s essenna1s para a nova naçao: cor- secagem, outrora feitos de cânhamo, pas-
dame, ferro, madeira e alcatrão'~ sou principalmente para a divisão petro-
O principal destes recursos era o câ- química da DuPont. 8
nhamo para confecção de cordame. ,. Testemunho prestado pelo Instituto Nacional
Paine escreveu: "Como o cânhamo flo- dos Produtos de óleo de Semente contra a Lei de
resce em quaisquer condições, não deve- Taxação das Transacções de Marijuana de 1937.
Como comparação, considere-se que a Agência de
mos recear a falta de cordame'~ Passou
Repressão das Drogas dos E.U. (DEA) e todas as
então a enumerar os outros recursos ne- agênciais policiais de âmbito estadual e local preten-
cessários para a guerra com a marinha dem ter apreendido, durante todo o ano de 1996,
britânica: canhões, pólvora, etc. mais de 700 toneladas de marijuana cuJtivada na
Entre 70 e 90% de toda a corda, cordel Améri.ca - sementes, p lantas, raizes, torrões de terra
e tudo. Até mesmo a própria DEA admite que entre
e cordame foram feitos de cânhamo até 94 e 97 por cento de todas as plantas de marijua-
1937, q uando foram substituídos em gran- na/cânhamo apreendidas e destruídas desde os anos
de medida por fibras petroquímicas (per- 60 eram completamente selvagens e impróprias para
tencentes principahnente à D uPont, que ser fumadas como marijuana.
licenciara as patentes da I. G. Farben ale- Em 1935-37, o Congresso e o Departa-
mã) e por cânhamo-de-Manila (abacá), mento do Tesouro receberam garantias,
no qual amiúde se entrelaçavam cabos de através de testemunhos secretos presta-
aço para aumentar a resistência. O abacá dos pela DuPon t directamente a Herman
provinha da nossa "nova» possessão, as Oliphant, conselheiro-chefe do Depar-
Filipinas do Pacifico Ocidental, tomadas tamento do Tesouro, de que o óleo de
da Espanha enquanto indemnização pela semente de cânhamo podia ser substituí-
Guerra Hispano-American a de 1898. do po r óJeos petroquímicas sintéticos
fabricados principalmente pela DuPont.
5. TELAS PARA PINTURA Oliphant foi o responsável exclusivo
cânhamo é o material de arquivo pelo rascunho da Lei de Taxação da Ma-
O perfeito.7
Os q uadros de Rembrandt, Van Gogh,
rijuana q ue foi apresentado ao Con-
gresso.9 (Ver a história completa n o capí-
Gainsborough, etc., foram maioritaria- tulo 4, «os Últimos Dias da Cannabis
mente p intados em tela de cânhamo, que Legal".)
constituia o supo rte de praticamente to-
das as pint uras a óleo. 7. ÓLEO DE ILUMINAÇÃO
Tratando-se de uma fibra forte e lus- té por volta de 1800, o óleo de se-
trosa, o cânha mo resiste ao calor, ao or-
valho e aos insectos, e não se degrada sob
Amente de cânhamo era o óleo de ilu-
mjnação mais consumjdo na América e
acção da luz. As p int uras a óleo em tela no m undo. Desde essa altura até por
de cân hamo e/ou linho mantiveram-se volta de 1870 foi o segundo óleo de ilu-
em excelentes con dições du rante séculos. minação m ais consumido, excedido ape-
nas pelo óleo de baleia.
6. TINTAS E VERNIZES
O óleo de sem ente de cânhamo alu-
u rante milhares de anos> virtual- miou a lâ.mpada do lendário Aladino, a
D mente todas as boas tintas e vernizes
foram feitas com óleo de semen te de câ-
de Abraão o profeta, e, na vida real, a de
Abraão Lincoln. Era o mais b rilhante dos
nhamo e/ou óleo de linhaça. óleos de lâmpada disponíveis.
Por exem plo, só em 1935 usaram-se n a O óleo de semente de cânhamo para

11
lâmpadas foi substituído por petróleo, nhamo para obtenção de bioma sa, a
querosene, etc., após a descoberta de pe- qual é então convertida em combustível
tróleo na Pensilvânia em 1859, e o domí- mediante piróli e (c.arbonização) ou
nio que John D. Rockefeller passou a compostagem biológica, de forma a u-
exercer sobre a indústrja petrolífera na- bstituir os produtos energeticos ba eados
cional a partir de 1870. (Ver Capítulo 9 em combusta,,eis tôsse1s."
sobre «Economia':) • :-.ot.a,t'lrnt>nt~, quando 1.on~1derad.J m termos
A propósito, o célebre botânico Luther de uma ba~ gJob.il ompo ta por pl,mtla, clima e
Burbank afi rmou, "A semente [de can- solo, a cannabis é pdo mcno qU.1tro ,.éle!i. mais
rica, t po~!>h·elmcnte mwtas mai-., ,orno fonte
nabis] é cobiçada noutros países pelo seu polenciaJ, su-.ttnl~\d e renovavel de biorna\~
6leo, e o seu abandono aqui ilustra o /celuJose, do que os wu m.ai prótimo ri\ai no
mesmo uso ineficiente que fazemos dos planeta - as esri~ dt" milho, a cana de açuc.1r, o
nossos outros recursos agrícolas'~ krnaf. as .in"Oro, "-te. Y>lar Gas. 19 o· Ott1t1i. 1983;
( Burbank, Luther, How Plants Are Tramed to Umversidade de Comell, Scimcc D1s,·>r, 1983~ etc).
Work For Man, Use/ui Pla11ts, P. F. Collier & Son Co., \ er tambtm 1.-apuulo 9 .,obre· Economia-:
NI, Vol. 6, pág. 48.)
Um dos derivado da piróli e, o meta-
nol, é hoje usado pela maioria do carro
8. ENERGIA DE BIOMASSA de corrida, e foi usado rotineiramente
o início do século XX, Henry Ford e (com opçõe petrôleo/meranol di poni-
N outros génios-engenheiros futuristas
e orgânicos constataram (como ainda
vei a partir de 1920) para alimentar de-
zenas de milhare de veiculo particula-
hoje fazem os seus herdeiros intelectuais res, agrícolas e mtlitares ate ao final da
e científicos) um facto importante - egunda Guerra 1undial.
que até 90% de todos os combustíveis O metanol pode me mo er conver-
fósseis hoje usados no mundo (carvão, tido numa gasolina sem chumbo alta-
petróleo, gás natural, etc.) deviam ter mente octanada usando um procc o
sido substitufdos há muito por biomassa catalítico desenvolvido pela Unh:er ida-
tal como espigas de milho, cannabis, de Tecnol6gica da Georgia em conjunção
papel velho, etc. com a MobiJ Oil Corporation.
A biomassa pode ser convertjda em
metano, metanol ou gasolina a uma 9. MEDICINA
fracção do custo actual do petróleo, carvão
ou energia nuclear - em especial quando
se consideram os custos ambientais - e o
Desde até por volta de
18.µ
tracto , tintura e elixires
1 90, ex-
extremJ-
mente potentes de marijuana e haxixe
seu uso mandatório acabaria com as chu- (então conhecidos por e lracto de
vas ácidas e o nevoeiro sulfuroso, e inver- cannabi J eram rotineiramente o egun-
teria o efeito de estufa no nosso planeta - dos e terceiro medicamento rnai ad-
de imediato!* ministrados na América a eres humano
• O governo e as empresas produtoras de petró- (de de o nascimento. pa sando pela in-
leo, carvão, etc., insistirão que, no tocante à po·
luição, queimar combustivel de biorna~ nJo é fância, até à idade avançada), e na medi-
mais vantajoso do que gastar as nossas re~rv.u de cina veterinária até depois de 1920. (Ver
combustiveis fósseis; mas isto é patcntemente falso. capítulo 6 sobre "Medicina.,, e capítulo 13
Porquê? Porque, ao contrário dos combusuvru sobre o .. éculo XIX':)
fósseis, a biomassa provém de plantas vivas (não-
-extintas), que, ao crescerem, continuam a remover Como afirmou antes, durante pelo
da nossa atmosfera a poluição de dióxido de car• menos 3000 ano antes d 1 2, uma
bono, através da fotossíntese. Além disso, os com• grande variedade de extraao de marijua-
bustiveis de biomassa não contêm enxofre. na (copas, folhas, raizes, etc.) eram o
Isto pode conseguir-se cultivando cã- medicamento mais comum e largamente

12
usados no mundo para a ma1ona das 12,000 Years, Plenum Press, Nl, 1980; Encyclopaedia
enfermidades que afligiam a Humanidade. Britannica.)
Porém> na Europa Ocidental, a Igreja Esmagando a semente de cânhamo
Católica Romana proibiu o uso de obtém-se o seu óleo vegetal altamente
cannabis ou qualquer outro tratamento nutritivo) o qual contém a mais elevada
médico, excepto o álcool e a sangria, quantidade de ácidos gordos essenciais
durante mais de 1200 anos. (Ver capítulo de todo o reino vegetal . Estes óleos essen-
10 sobre "Sociologia,,.) ciais são responsáveis pelas nossas reac-
A Farmacopeia dos E.U. prescrevia a ções imunitárias e limpam as artérias de
cannabis para o tratamento de maleitas colesterol e placa.
tais como: fadiga, ataques de tosse, reu- Espremendo o óleo da semente ob-
matismo, asma, delirium tremens> dores tém-se um bolo de sementes contendo
de cabeça> e as cãibras e depressões asso- proteína da mais elevada qualidade, o
ciadas à menstruação. (William Embo- qual pode ser grelado (convertido em
den, professor de botânica dos narcóti- malte) ou moído e cozinhado em bolos,
cos, Universidade do Estado da Califór- pães ou pastéis. A proteína da semente de
nia, Northridge.) marijuana é uma das proteínas vegetais
A Rainha Vitória usava resinas de can- melhores, mais completas e mais facil-
nabis para aliviar as cãibras menstruais e o mente assimiláveis pelo corpo com que
síndroma pós-menstrual, e o seu reinado conta a Humanidade. A semente de câ-
(1837-1901) teve paralelo no enorme nhamo é a fonte alimentar existente mais
crescimento do uso da medicina do câ- completa para a nutrição humana. (Ver
nhamo indiano no mundo anglófono. debate sobre edistinas e ácidos gordos
No presente século, a investigação da essenciais no Capítulo 8.)
cannabis demonstrou que ela possui A semente de cânhamo era - até à lei
valor terapêutico - e completa segu- de proibição de 1937 - o principal ali-
rança - no tratamento de muüos pro- mento mundial das aves, tanto sel-
blemas de saúde, incluindo asma, glau- vagens como domésticas. Dentre quais-
coma, náusea, tumores, epilepsia, infec- quer sementes alimentares do p laneta,
ções, stress, e~aquecas, _anorexia,. de- era a preferida das aves;* em 1937, duas
pressão, reumatismo, artnte e possivel- mil toneladas de sementes de cânhamo
mente herpes. (Ver capitulo 7, ºOs Usos para aves canoras foram vendidas a
Terapêuticos da Cannabis".) retalho nos E.U. A partir de uma mistu-
ra de sementes, as aves apanharão e
10. ÓLEOS ALIMENTARES E comerão primeiro as sementes de câ-
PROTEÍNAS nhamo. As aves selvagens vivem e pro-
semente de cânhamo era regularmente criam mais quando incluem sement es
A usada em papas e sopas por virtual-
mente todas as pessoas do mundo até ao
de cânhamo na sua dieta, usando o óleo
para as suas penas e a saúde em geral.
presente sécuJo. Os monges eram obrigados (Ver mais informações no capítulo 8, ((O
a comer refeiçôes confeccionadas à base de Cânhamo como Alimento Básico do
sementes de cânhamo três vezes ao dia, a Mundo".)
tecer as suas roupas de cânhamo e a impri- * Testemunho prestado perante o Congresso,
mir as suas Bíblias em papel feito com fibra L937: "Sem ela as aves canoras não cantam", disseram
ao Congresso as companhias de rações avicolas. Re-
de cânhamo. sultado: sementes esterilizadas de cannabis continu-
(Ver Rubin, dr~ Vera, "Research lnstitute for the am a ser importadas para os E.U. vindas de Itália, da
Study of Man", lgreja Ortodoxa Orientali Cohen e China e de outros países.
Stillman, Therapeutic Potential of Marijuana, Ple-
num Press, 1976; Abel, Ernest, Marijl4ana: The First A semente de cânhamo não produz

13
qualquer efeito de droga nos seres huma- superior resistência, flexibilidade e eco-
nos n em nas aves, pois ela contém apenas nomia dos materiais de construção com-
vestígios ínfimos de THC. Na Europa>a pósitos de cânhamo por compa ração
semente de cânham o é igualmente o isco com a fibra de madeira, mesmo quando
de pesca preferido, sen do vendida em pa- são usados como vigas.
cotes nas lojas de artigos de pesca. Os pes- O Isochanvre é um redescoberto mate-
cadores atiram mancheias de sementes de rial de construção francês feito de miolo
cânhamo para os rios e lagos de forma a de cânhamo misturado com cal, que
atrai r os p eixes, que são então fisgados eventualmente petrifica num estado mi-
com anzóis. Nenhum outro isco é tão efi- neral e dura muitos sécuJos. Os arqueó-
caz, o que torna a semente de cânh amo logos descobriram no sul de França uma
ponte datando do período merovíngio
A Rainha Vitória usava resinas de (500-751) que foi construída através deste
cannabis para aliviar o seu processo.
síndroma pós-menstrual. O seu A fibra de ,cânhamo foi usada ao longo
reinado (1837-1901) teve paralelo da história para urdfr tapetes, apresen-
no enorme crescimento do uso de tando também potencialidades na ma-
remédios de cânhamo indiano. nufactura de alcatifas fortes e resistentes
ao apodrecimento, que eliminam os fu-
em geral o alimento m ais desejável e mos venenosos inerentes à queima de
nutritivo para os seres humanos, as aves e materiais sintéticos em incêndios do-
os peuces. mésticos ou industriais, bem como as
(Investigação pessoal de Jack Herer na Europa.) reacções alérgicas associadas às alcatifas
(Frazier, Jack, The Marijuana Farmers, Solar Age sintéticas.
Press, Nova Orleães, LA, 1972.) Podem fabricar-se tubos de canaliza-
ção de plástico ( tubos de PVC) usando
l'l. MATERIAIS DE celulose de cânhamo renovável como
CONSTRUCÃO. E HABITACÃO
'
matéria-prima química, substituindo o
carvão não-renovável ou matérias-pri-
ado que um acre de cânhamo produz
D tanta polp a de fibra celulósica como
4,1 acres de árvores,* o cânhamo é o ma-
mas químicas baseadas em petróleo.
Podemo pois imaginar uma casa do
futuro, construída, canalizada, pintada e
terial perfeito para substituir as árvores mobilada com o principal recurso reno-
no fabrico de tábuas prensadas, contra-
vável do mundo - o dnhamo.
placados e moldes par a construção.
• Dewey e Merrill, B11lletin #404, Dep. Agr. E.U., 12. PARA FUMAR (LAZER E
1916.
CRIATlVIDADE)
Aquecendo e comprimindo as fi bras
Declaração de lndependência da
da planta, fabrica-se um m aterial de
construção económico e resistente ao fo- A América reconhece os "direitos ina-
lienáveis" à "vida, à liberdade e à busca
go, possuindo excelentes qualidades de
isolamento térmico e acústico. Podem da felicidade". Decisões judiciais subse-
criar-se assim resist entes painéis de cons- quentes deduziram a partir daqui os
trução que substituem as paredes falsas e direitos à privacidade e à livre escolha,
o contraplacado. William B. Conde> da que fazem parte da Con tituição dos
firma Conde Redwood Lumber, nos E.U. e suas Emendas.
arredores de Eugene, Oregon, em con- Muitos artistas e escritores usaram
junção com a Universidad e do Estado de cannabis para obter estimulação criativa
Washington (1991-1993)> dem onstrou a - desde os redactores das obras-prim a

14
religiosas do mundo até aos nossos mais Ecolution, a Hempstead, a Marie Mills, a
irreverentes satiristas. Eles incluem Lewis Ohio Hempery, a Two Star Dog, a
Carroll e a sua lagarta fumadora de nar- Headcase, e na Alemanha a HanfHaus e
guilé em Alice no Pais das Ma.ra.vilhas, outras.
além de Victor Hugo e Alexandre Du- Chegou a altura de testarmos o capita-
mas; grandes nomes do jazz como Louis lismo e deixarmos que seja o mercado
Armstrong, Cab CaJ]oway, Duke Elling- não-regulamentado da oferta e da pro-
ton e Gene Krupa; e o padrão continua cura, assim como a consciência ecológica
até aos nossos dias com artistas tais "verde': a decidirem o futuro do planeta.
como os Beatles, os Rolling Stones, os Em 1776, uma camisa de algodão custa-
Eagles, os Doobie Brothers, Bob Marley, va entre 100 a 200 dólares, enquanto uma
os Jefferson Airplan e, v\Tillie Nelson, camisa de cânhamo custava entre meio e
Buddy Rich, os Country Joe & the Fish, um dólar. Por volta de 1830, camisas de
Joe Walsh, David CarradJne, David Bo- algodão mais frescas e leves estavam a par
wie, Iggy Pop, Lola Falana, Neil Dia- em preço com as camisas de cânhamo,
mond, Hunter S. Thompson, Peter Tosh, mais quentes e pesadas, proporcionando
os GratefuJ Dead, os Cypress Hill, Sinead uma escolha competitiva.
O'Connor, os Black Crowes, etc. À época, as pessoas eram livres de es-
Evidentemente, fumar marjuana ape- colher o seu vestuário baseando-se nas
nas estimula a criatividade de algumas propriedades particuJares que desejavam
pessoas, não de todas. num tecido. Hoje não t emos tal escolha.
Mas, pela história fora, diversos gru- O papel a desempenhar pelo cânhamo
e outras fibras naturais dev:ia ser determi-
pos proibicionistas e de "temperância"
nado pelo mercado da oferta e da procu-
tentaram proibir as substâncias recreati-
ra, e por gostos e valores pessoais, e não
vas preferidas de outrém, tais como o
pela indevida influência de leis proibi-
álcool, o tabaco e a cannabis, e foram
cionistas, subsídios federais e tarifas ele~
ocasionalmente bem sucedidos.
vadíssimas que impedem os tecidos na-
Abraão Lincoln respondeu a este tipo
turais de substituir as fibras sintéticas.
de mentalidade repressiva quando disse
Sessenta anos de supressão governa-
em Dezembro de 1840:
mental de informação resultaram no vir-
"A proibição ( .. . ) ultrapassa os limites
tual desconhecimento público do incrí-
da razão ao tentar controlar o apetite
vel potencial dos usos da fibra de câ-
humano através da legislação, e crimina-
nhamo.
liza coisas que não são crimes ( ... ) Uma
Usando cânhamo puro, ou misturando
lei proibicionista fere os próprios princí-
cânhamo com algodão, poderemos legar
pios sobre os quais foi fundado o nosso
,, as nossas camisas, calças e outras peças de
govern o.
roupa aos nossos netos. Uma política de
13. ESTABILIDADE ECONÓMICA, fomento inteligent e poderia substituir
essencialmente o uso de fibras petro-
LUCRO E COMÉRCIO LIVRE
químicas sintéticas por fibras naturais
creditamos que num mercado com- biodegradáveis, que são mais resistentes,
A petitivo, no qual são conhecidos to-
dos os factos, as pessoas irão a correr
baratas, frescas e absorventes do que o
nylon e o poliéster.
comprar tops ou jeans biodegradáveis A China, a Itália e países da Europa
feitos de cânha mo, un1a planta que não Oriental como a Hungria1 a Roménia, a
contém pesticidas nem herbicidas. Al- Checoslováquia, a Polónia e a Rússia ga-
gumas das companhias que abriram nham anualmente m ilhões de dólares
caminho com produtos deste tipo são a fabricando resistentes têxteis de cânha-

15
mo e cânhamo/algodão - e podiam ga- rece a prome a de uma economia e
nhar milhares de milhões. uma ecologia sustentáveis.
Estes países estão a apostar nas sua tra-
dicionais capacidades agrícolas e têxteis, EM CONCLUSÃO:
enquanto os E.U. tentam forçar a extinção
desta planta com vista à promoção de des- Devemos reiterar a nossa premissa ini-
trutivas tecnologias sintéticas. cial com o desafio que fazemo. ao mundo
Até 1991, nem sequer têxteis contendo para provar que estamo enganados:
misturas cânhamo/algodão eram autori- Se proiblssemos todos os combustlveis
zados para venda directa nos E. U. Os chi- f 6sseis e os seus tkri,,ado~ bem como o
neses, por exemplo, eram obrigado corte de árvores para abastecer as celulo-
por aco rdo tácito - a enviar-nos ra- ses e a corrstnLÇào dvil, de modo a inver-
mi/algodões de qualidade inferior. ter o efeito de estufa e parar a desflores-
(National Jmport/Export Textile Company of tação, salvando assim o planeta - e1Jtão
Shanghai, comunicações pessoais com o autor, Abril conl,ece-se apenas um único recurso
e Maio de 1983.) natural anualmente renovável capaz de
Quando seguiu para o prelo a edição fornecer a maior parte do papel, têxteis
de 1990 de O Rei Vai Nu, chegaram da e alimentos do mundo; satisfazer todas
China e da Hungria roupas contendo as necessidades mundiais em tennos de
pelo menos 55% cânhamo-de-cannabis. transportes e energia, doméstica e i11-
Em 1992, ao seguirmos para o prelo, dustrial; ao mesmo tempo que reduz a
chegaram dircctamente da China e da poluição, reconstitui o solo e limpa a
Hungria muitas qualidades diferentes atmosfera...
de tecidos feitos de cânhamo puro. E essa substârrcia é - a mesma já fez
Agora, em 1998, o tecido de cânhamo tudo isso antes - o Cânhamo-de-
está a ter uma procura explosiva em r-
-'-",,ma b.is•• , a M anJut.ma.
.. 1
todo o mundo, chegando da Roménia,
Polónia, Itália, Alemanha, e outros paí- Notas:
ses. O cânhamo foi reconhecido como o
1. Oxford Engli\h Dicuonary; Encyclopartlra
tecido mais "quente" da década de 90 Brittmmai, 11• edi o, 1910; fiJmc do USDA, Hrmp
pelas publicações Rolling Stone, Tirne, for Victory. 1943-
Newsweek, Paper, Detour, Detai/s, Made- 2. Jb,d.
moiselle, The New York Times, The Los 3. w;. tnuss · Comp.inr de · o Frana o,
Angeles Times, Der Spiegel, entre muitas Califórma, c.omuniL"aÇJO põ~.tl do autor com
Gene McClainc, 19Ss.
outras. Todas estas publicações apre en-
taram repetidamente artigos impor-
• As • --~ Oleie piruúng Jenn~ .. [rO\.,lil e .is
"\'\'hecl:t (lcamj eram lb.ld.i prin ip3lmente para
tantes sobre o cânhamo industrial e confccção dt fibra ~unJo õta ordem: c.anhamo-
nutricíonal. •de-cannabis, linbo, là, .ilgodlo, etc.
Adicionalmente, o cânhamo plantado 5. Fruier, Jack. Thc Man1u,1na Fonnn-~ Solar gc
Press, •o~-a Orlelô, l.A, 197'h Bibliotcx.i J o Con-
para obtenção de biomassa podia ali- gresso dos ê.U.; Arqui,-o 'aciona~ T~uro do
mentar uma indústria energética de um l:'..U.; rtc.
bilião de dólares por ano, ao mesmo 6. Adam,., James 1., cd1tor A/bum o/ Amenam
tempo que melhorava a qualidade do ar Hísto'), ChariQ Scrabnu•~ Son , LA. 19;-~ Bíbliotroi
e distribuía riqueza nas áreas rurais e do C.ongresso J~ [ U.; 4.rqw,o .t 1oni1 .
7. loman Larr>'• R«f~r J.lml11as.. Gro\e Press,
comunidades circundantes, tornando- 'o,a Iorque. ' I. 1979, pJg. 71.
-as independentes dos monopólios de 9. Bonnic, Ridw-d e Wlutebread, Charles. 17,r
energia centralizados. O cânhamo ofe- Marijuana Co,wiction. Uruv. of \ 'irittina Prt , 1974.

16

.
A BATALHA DO BOLETIM 404
OU COMO A I ª GUERRA MUNDIAL NOS CUSTOU O
A

CANHAMO E AS FLORESTAS
O Cenário cionária que melhoraria as condições
Em 1917, o mundo combatia a Pri- de vida da Humanidade. Timken pro-
meira Guerra Mundial. Na América, pôs-se plantar 100 acres de cânhamo
os industriais, a quem acabava de ser no seu rancho situado nos férteis cam-
imposto o salário minirno e taxas pro- pos de Imperial Valley, Califórnia,
gressivas sobre os rendimentos, anda- mesmo a leste de San Diego, para Sch-
vam desvairados. Os ideais progressis- licbten poder testar a sua invenção.
tas foram-se perdendo à medida que Pouco tempo depois, Tim.ken reu-
os Estados Unidos tomavam o seu ]u- n iu-se com o magnata da imprensa E.
gar no palco mundial do conflito pela W. Scripps, e o velho associado deste,
supremacia comercial. Milton McRae, em Miramar, a casa de
Foi contra este pano de fundo que Scripps em San Diego. Scripps, então
teve lugar o primeiro drama do câ- com 63 anos, acumulara a maior ca-
nhamo desenrolado no século XX. deia de jornais do país. Timken espe-
Os Jogadores rava interessar Scripps no fabrico de
A história começa e1n 1916, pouco papel de jornal a partir de miolo de
depois da publicação do Bulletin 404 cânhamo.
do USDA (ver página 20). Perto de San Os barões da imprensa da viragem
Diego, Califórnia, um imigrante de 50 do século precisavam de enormes
anos chamado George Schlichten de- quantidades de papel para satisfazer as
senvolvera uma invenção simples mas suas tiragens crescentes. Quase 30% das
brilhante na quaJ dispendera 18 anos e quatro milhões de toneladas de papel
400.000 dólares - o descorticador, fabricadas em 1909 era papel de jornaJ;
uma máquina capaz de descascar a em 1914, a circulação de jornais diários
fibra de qualquer planta, deixando ficar aumentara 17% relativamente aos nú-
a polpa. Para construí-la, Schlichten meros de 1909, para mais de 28 milhões
desenvolvera um conhecimento enci- de exemplares.1 Em 19171 o preço dopa-
clopédico sobre fibras e fabrico de pa- pel de jornal subia rapidamente, e
pel. O seu desejo era pôr fim ao abate McRae, que, desde 1904, andava a con-
de florestas para obtenção de papel, siderar a hipótese de explorar uma fá-
prática que considerava criminosa. A brica de papel1 estava preocupado.
gestão florestal estava bem avançada na Plantando as Sementes
sua Alemanha natal, e Schlichten sabia Em Maio, após reunjões adicionais
que destruir florestas significava des- com Timken, Scripps pediu a McRae
truir aquíferos necessários. que investigasse a possibilidade de usar
Henry Timken, próspero industria] o descorticador na fabricação de papel
e inventor do rolamento esférico, ou- de jornal.
viu falar da invenção de Schlichten e McRae entusiasmou-se de imediato
encontrou-se com o inventor em Feve- com o plano, chamando ao descortica-
reiro de 1917. Timken considerava o dor "uma grande invenção ( .. ,) que
descorticador uma invenção revolu- não apenas prestará um grande serviço

17
-
a este pais, mas será financeiramente papel de jornal na altura! El acrescen-
lucrativa ( ... ) ele poderá revolucionar tava Schlichten, cada acre de cânhamo
as condições existentes". Corno se apro, transformado em papel preservaria
ximasse a estação das colheitas, mar- cinco acres de floresta.
cou-se um encontro, que teve lugar a 3 McRae sentiu-se impressionado
com Schlichteo. O homem que jantava
"O miolo de cânhamo é um com presidentes e capitãe~ da indús-
sucesso prático e produzirá tria escreveu a Timken: "Diria sem
papel de melhor qualidade do receio de equhoco que o Sr. Schlichten
que o normalmente usado para me impre!-Sionou c.:omo sendo um ho-
imprimir jornais," afirmou mem de grande intelectualidade e ca-
Schlichten. pacidade; e tanto quando me é dado
ob ervar, ele criou e construiu uma
máquina maravilhosa~ \1cRae incum-
de Agosto, entre Schlichten, McRae e o biu Chase de passar o máximo de
gestor do jornal, Ed Chase. tempo possível com Schlich ten e
Sem o conhecimento de Schlichten, preparar um relatório.
McRae instruira a sua secretária para Estação das Colheitas
gravar estenograficamente a reunião Em Ago~to, apó~ três me:--es apenas
de três horas. Até à data, o documento de crescimento, a cultura de cânhamo
resultante é o único registo conhecido de Timken atingira o seu tamanho
sobre o volumoso conhecimento de máximo - ~6 metros! - , o que o
Schlichten. fazia sentir•se altamente optimista
Schlichten estudara minuciosa- quanto aos prognósticos desta. Espe-
mente muitos tipos de plantas usadas rava deslocar-se a California para as-
para fazer papel, entre elas o milho, o sistir à descorticação da colheita, con-
algodão, a yucca e a Espaíía bacata. O siderando-~e um benfeitor da Huma-
cânhamo, aparentemente, era a sua mdade, graças a quem as p~soJs tra-
preferida: balhariam meno~ horas e disporiam
"O miolo de cânhamo é um sucesso de mais tempo para "d~m·olvimento
prático e fará papel de melhor quali- espiritual':
dade do que o normalmente usado Scripps, por eu lado, não e ·tava
para imprimir jornais," afirmou. num estado de espírito optimhta. Ele
Schlichten afirmava que este papel perdera a fé num governo que, acredi-
de cânhamo seria de melhor qualidade tava, estava a conduzir o pai.s a ruína
ainda do que o produzido para o Bul- financeira devido à guerra, e que rete-
letin 404 do USDA, porque o descor- ria 40% dos seu~ lucros cm impostos
ticador eliminava o processo de de- sobre o rendimento.
com posição, deixando filamentos cur- "Juma carta datada de 14 de Agosto,
tos e uma cola natural que dava con- Scripps e!>Cre, eu J sua irmã, EUen:
sistência ao papel. "Quando o Sr. McRae me inteirou
Aos níveis de produção de cânhamo do aumento iminente do preço do pa-
registados em 1917, Schlichten anteci- pel branco, dis e•lhe que me conside-
pava fabricar 50.000 toneladas de rava inconsciente bastante para não
papel por ano, a um preço de retalho me preocupar com tal coisa·: Acredi-
de 25 dólares por tonelada. Isto era tava-se que o pre<,-o do papel subJria
menos de 50% do preço que cu:,tava o 50%, o que cu taria a S"ripps a totali-

18
dade do seu lucro anual de 1.250.000 processar sete toneladas de miolo de
dólares! Ao invés de desenvolver uma cânhamo em dois dias. Schlichten
nova tecnologia. ele escolheu a saída antecipou que, em regime de pro-
mais fácil: o Rei da Imprensa de dução máxima, cada máquina proces-
Tostão planeava simplesmente subir o saria cinco toneladas por dia. Chase
preço dos seus jornais entre um e dois estimou que o cânhamo podia abaste-
cêntimos. cer facilmente os jornais de Scripps na
O Fim Costa Oeste, sobrando polpa residual
Em 28 de Agosto, Ed Chase enviou o suficiente para venda a pequenas em-
seu relatório completo a Scripps e presas. Ele estimou que o papel de jor-
McRae. Chase ficara também impres- nal custaria entre 25 e 25 dólares por
sionado com o processo: «vi uma in- tonelada, e propôs-se perguntar a uma
venção simples mas maravilhosa. fábrica de papel da Costa Leste se
estaria interessada em fazer experiên-
cias com eles.
G. -... SCHllCHfll.
• uU fU U(4ftrG U I.O • rn.lNCI . \_HIS
01\1(.UIU f ili e tlC. U. ••O•
McRae, porém, parece ter entendido
h.teateit 1a1, 1, 1919.
1,308,378. u u, '•
• I HU .... que o seu patrão já não estava muito
interessado em fazer papel a partir de
cânhamo. A sua resposta ao relatório
de Chase é cautelosa: "Muito haverá
que determinar quanto à praticabilida-
de dos custos de transporte, fabrico,
etc., etc., os quais só poderemos deter-
minar procedendo às devidas investi-
gações'~ Possivelmente, quando os seus
ideais colidiram com o duro esforço de
os desenvolver, o semi-reformado Mc-
Rae recuou.
Em Setembro, a colheita de Timken
estava a produzir uma tonelada de
fibra e quatro toneladas de miolo por
acre, e ele estava a tentar interessar
Scripps em abrir uma fábrica de papel
em San Diego. McRae e Chase deslo-
caram-se a Cleveland e passaram duas
horas a convencer Timken de que, en-

~~~di'm.,
........ quanto o miolo de cânhamo era uti-
lizável para fazer outros tipos de papel,
~· a.rl3.{!J~
~- era inviável transformá-lo em papel de
jornal assaz economicamente. É pos-
Patente do descorticador de Schlichten sível que as experiências em curso na
fábrica de papel darona leste não esti-
Acredito que ela revolucionará m uitos vessem a ser encorajadoras - afinal, a
dos processos relacionados com a ali- fábrica estava preparada para fazer pa-
mentação, o vestuário e a satisfação de pel de polpa de madeira.
outras necessidades da Humanidade'~ Por esta altura, também Timken
Chase observou o descorticador estava a sentir o aperto da economia

19
de guerra. Esperava pagar 54% de im- nária': (Até a edição de 1993 do Rei,
posto sobre rendimentos e estava a acreditava-se que o descorticador fora
tentar conseguir um empréstimo de 2 inventado ne a época.) Uma vez
milhões de dólares a um juro de 10% mais, a promi ora indústria do cân-
com vista a reconverter o seu parque
hamo foi refreada, desta ve-z pela Lei
de máquinas para fins militares. O ho-
mem que poucas semanas antes ansia-
de Taxação da Marijuana de 1937.
va por se deslocar à Califórnia já não - EllenKomp
fazia quaisquer tenção de viajar para • Ver pp. 23-29.
oeste naquele inverno. Disse a McRac:
"Acho que vou estar ocupado como o Notas:
diabo a tratar dos negócios nesta parte
l. \\'tJrld Almannr. 1914, p. u5; 1917.
do pafs'~
O descorticador voltaria a ser falado 1-. Forty )blrs of Ncwspapu,úmt, Milton

nos anos 30, quando, em art igos pu- McR.ie, 191•, Breuno'._ NI.
blicados nas revistas Mechanical Engi- 3. Arquivos de 'kripp Unn roidadc: do Ohio,
neering e Popular Mechanics,"" foi pro- Athens. t Elkn Bro,, mng Scnp~ Archav~ De-
movido como a máquina que tornaria nison Líbrar,•. Oarcmoot College, Qaremont,
o cân hamo uma "colheita multimilio- Cal.

., , .. ,.-.. ~ 1
i
· ~J'liac laT C1:J d
if~ Quando publicou o Bul-
l, n1&er.uu.,._~~~,.-:=~.-. 1,.-.4, letin 404 em 1916, o U DA
i---------~~;::::..::__~_J usou pela primeira vez pa-
pel feito de polpa de cã-
n hamo (ao invé de papel feito de polpa
de madeira ) para demorutrar as quali-
dades cxtraordinán~ do miolo de câ-
nhamo como fonte de polpa, ~ub tituin-
do a polpa de án·o~. lsto nao apenas
redwJria o abate de ánores, como eli-
-----_---~ ··.
---
. ::::::,..
.. -~ ---
;:;:.::=..- ,.:
minaria o compo to de .i ido -ulfúri-
co usado para desfazer a polpa de
árvore no fabrico de papel. O fragmen-
-
--
:~~..:::==---- :
to da capa aqui apresentado nplica
que o documento foi impresso em
papel de polpa de a1nhamo embora a
capa em i nao o ~ja.

20
POR QUE NÃO HAVEMOS DE USAR O CÂNHAMO
PARA INVERTER O EFEITO DE ESTUFA E SALVAR
O MUNDO?
o início de 1989, Jack Herer e Ma- energética - até mesmo nas nossas
N ria Farrow colocaram esta questão
a Steve Rawlings, o funcionário mais
terras marginais - , essa planta pro-
duziria todos os 75 mil triliões de bi-
graduado do Departamento de Agri- liões de BTUs [ unidades de energia]
cultura dos E.U., que estava encarre- necessários para a América funcionar
gado de inverter o Efeito de Estufa, nas anualmente? Isso ajudaria a salvar o
instalações de pesquisa internacional planeta?"
do USDA em Beltsville, Maryland. "Isso seria o ideal. Mas não existe
Começán1os por nos apresentar, uma planta assim':
dizendo-lhe que estávamos a traba- «Nós pensamos que existe".
lhar para jornais do partido político "Sim? E qual é ela?"
Verde. Então perguntámos a Rawlings: "O cânhamo':
"Na sua opinião, qual seria a fonna "O cânhamo!" Ponderou durante
ideal de parar ou inverter o Efeito de alguns momentos. "Nunca teria pensa-
Estufa?" do nele . .. Sabem, acho que têm razã.o .
Ele respondeu: "Deixar de cortar ár- O cânhamo seria a planta capaz de o
vores e de usar combustíveis fósseis'~ fazer. Wow! Essa é uma grande ideia!"
((Então por que não o fazemos?" Excitadamente, explicámos esta in-
ccNão existe qualquer substituto viá- formação em maior detalhe e delineá-
vel para a madeira que é usada para mos o potencial do cânhamo como
fabricar papel, ou para os combustí- fonte de papel, fibra, combustível, ali-
veis fósseis." mentos, tinta, etc., referindo como ele
"Por que é que não usamos uma poderia ser aplicado a equilibrar os
planta anual para fabricar papel e ecossistemas do mundo e restaurar o
aproveüamos a sua biomassa para equilíbrio do ar em oxigénio, sem cau-
produção de combustivel?" sar praticamente qualqu er pertur-
"Bem, isso seria o ideal:' concordou. baçã.o no nível de vida ao qual a maio-
"Infelizmente não existe nada de uti- ria dos americanos se acostumaram.
lizável capaz de produzir materiais Essencialmente, Rawlings concor-
suficientes•: dou que a nossa informação estava
"Bem, o que diria o senhor se exis- provavelmente correcta e que o plano
tisse uma planta assim, capaz de su- podfa muito bem resultar.
bstituir toda a polpa de papel feita de Então disse: «:É uma ideia maravi-
madeira e todos os combustíveis fós- lhosa, e acho-a capaz de resultar. Mas,
seis, de produzir de forma natural a como é evidente, não podemos usá-la':
maior parte das nossas fibras, a partir ccEstá a brincar?"i respondemos nós.
da qual seria possível fabricar tudo, ccPor que não?"
desde dfoamite até plástico, que cresce ((Bem, sr. Herer, sabia que o cânha-
em todos os 50 estados, que um acre mo é também a marijuana?"
dela substituiria 411 acres de árvores, e «Sim, é claro que sei, tenho vindo a
que se usássemos cerca de 6% da terra escrever sobre ele cerca de 40 horas por
dos E.U. para cultivá-la como fonte semana durante os últimos 17 anos':

21
"Bem, então sabe que a marijuana é entender. Mas eu sou funcionaria do
ilegal, não sabe? Não podemos usá-la': Departamento de Agricultura. Al-
«Nem mesmo para salvar o guém iria querer saber por que estou
mundo?" eu interessado em toda esta informa-
"Não. t ílegal," informou-me com ção. E então seria despedido':
ar severo. "Não podemos usar un1a Finalmente, acordámos em enviar-
coisa que seja ilegal'~ -lhe toda a informação que obtivemos
"Nem mesmo para salvar o na biblioteca do USDA para ele se li-
mundof' perguntámos, espantados. mitar a dar-lhe uma vista de olhos.
"Não, nem mesmo para salvar o Rawling~ comprometeu-se a fazê-lo,
mundo. É ilegal. Não podemos usá-la. mas, quando lhe telefonamos um mês
Ponto finar'. depois, disse que ainda não abrira a
"Não me entenda mal, é uma caixa que lhe enviáramos e que no-la
grande ideia,>' prosseguiu. '(Mas nunca devolveria por abrir porque não que-
o deixarão avançar com ela". ria ser responsaveJ por essa infor-
"Por que é que não toma a iniciati- mação, agora que a administração
va de informar o Secretário da Agri- Bush ia substituí-lo por um homem
c ultura que um tolinho da Califórnia da sua confiança.
lhe mostrou documentação provando Perguntámos-lhe se transmitiria a
que o cânhamo poderia ser capaz de informação ao seu suces or, ao que ele
11
salvar o planeta, e que a sua primeira respondeu: "Nem pensar nisso •
reacção é pensar que ele pode ter Em Maio de 1989, tivemos uma con-
razão e que o caso merece um estudo versa e um resultado virtualmente
sério? O que diria ele?" idênticos com o seu colega dr. Gary
"Bem, penso que depois de fazer isso Evans, do Depanamento de Agricul-
eu não ficaria muito tempo por aqui. tura e Ciência dos E.U., o homem en-
Afinal, sou um funcionário público,,. carregado de parar a tendéncia para o
"Bem , então por que é que não reú- aquecimento global
ne a informação no seu computador a o fina], ele di e: "Se você!i [acti-
partir da biblioteca do USDA? Foi aí vistas do cânhamo/marijuana] quise-
que nós fomos buscá-la inicialmente". rem mesmo salvar o planeta, então de-
Ele disse, "Eu não p osso requisitar vem descobrir uma forma de o fazer
essa informação'~ crescer sem a cabeça narcótica (sic] -
"Bem, por que não? Nós con egui- e entâo poderão usa-lo':
mo-lo». Ê com e te tipo de irresponsabili-
"Sr. Herer, o senhor é um cidadão. dade assustada (e a s~tadora) que
Pode requisitar o que muito bem nos defrontamos no nosso gove-rno.

22
. · · Capítulo ~ >-.T~ês
FEVEREIRO DE 1938: REVISTA POPULAR MECHANICS:

''NOVO PRODUTO AGRÍCOLA


MULTIMILIONÁRIO''
FEVEREIRO DE 1938: REVISTA MECHANICAL ENGINEERING:

~~o MAIS LUCRATIVO E. DESEJÁVEL


PRODUTO AGRÍCOLA QUE É
POSSÍVEL CULTIVAR-SE''
A tecnología moderna estava em vias de ser aplicada à produção de câ-
nhamo, o que iria torná-lo o principal recurso agrícola da América. Duas
das mais respeitadas e influentes publicações nacionais, a Popular Me-
chanics e a Mechanical Engineering, previram um futuro brilhante para
0 cânhamo americano. Milhares de novos produtos criadores de milhões
de novos empregos anunciariam o f,m da Grande Depressão. Ao invés, o
cânhamo foi perseguido, proibido e esquecido por capricho de W. R.
Hearst, que o etiquetou de nmarihuana, a erva assassina mexicana".

ão cedo como em 1901, e continuando mo estava a crescer vertiginosamente.


T até 1937, o Departamento de Agricul-
tura dos E.U. [USDA] predisse repetida-
Reproduz-se também neste capítulo
um excerto do artigo sobre o cânhamo
mente que, uma vez inventada e desen- que a revista Mecha.nicai Engineering pu-
volvida maquinaria capaz de colher, de- blicou no mesmo mês. O artigo origina-
bulhar e separar a fibra da polpa do câ- ra-se um ano antes, num relatório apre-
nhamo, este voltaria a ser o principal sentado n o Encontro sobre Processa-
produto agrícola americano. mento Agrícola realizado pela Sociedade
Americana de Engenheiros Mecânicos,
A predição foi reafirmada na imprensa
sediada em New Brunswick, Nova Jersey.
popular quando a revista Popular Mecha-
Relatórios do USDA preparados du-
nics publicou em Fevereiro de 1938 um rante a década de 30 e testemunhos pres-
artigo intitulado "Novo Produto Agrícola
tados perante o Congresso em 1937 mos-
Multimilionário". A primeira reprodução
travam que a extensão cultivada de câ-
deste artigo figurava na edição original nhamo na América viera a duplicar
deste livro. O artigo é aqui reproduzido anualmente desde a altura em que atingiu
tal como foi impresso em 1938. a sua extensão mínima, em 1930 - quan-
Devido ao prazo de fecho da revista, a do foram plantados 1000 acres nos E.U.
Popular Mechanics preparou este artigo - até 1937 - quando foram plantados
na Primavera de 1937, quando ainda era 14.000 acres - , com planos para conti-
legal cultivar cânhamo-de-cannabis para nuar a duplicar anualmente essa extensão
produzir fibras, papel, dinamite e óleo. durante o futuro previsível.
De facto, à época, a indústria do cânha- Como se verá nestes artigos, a indús-

23
tria recém-mecanizada do cânhamo- o planeta e a civilização dos combustíveis
-de-cannabis encontrava-se ainda na fósseis e seus derivados - e também da
infância, mas bem a caminho de tornar- desflorestação!
-se a principal cultura agrícola ameri- e Ansljnger, DuPont, Hearst e os polí-
cana. E, à luz de desenvolvimentos sub- ticos seus assalariados (quer o oubessem
sequentes (p. e., a tecnologia para obter ou não) não tivessem proibido o cânha-
en ergia de biomassa, a de materiais de mo - sob o pretexto da marijuana (ver
construção, etc.) sabemos agora que o o Capítulo 4, "Os últimos Dias da Can-
cânhamo é potencialmente o mais im- nabis Legal") - , e impedido os nossos
portante recurso ecológico do mundo, e docentes, inve Ligadores e mesmo cien-
portanto, potencialmente, a maior in- tistas de o conhecerem, as entusiásticas
dústria do nosso planeta. predições d estes artigos já e teriam con-
O artigo da Popular Mechanics foi a cretizado - bem como benefício adi-
primeira vez na história americana que o cionais que nessa altura ninguém con-
termo "multimilionário,, foi aplicado a seguiria imaginar - ao continuarem a
qualquer produto agrícola do país! ser desenvolvidas novas tecnologias e
Hoje, os peritos estimam conservado- utilizações para o cânhamo.
ramente que, uma vez p]enamente res- Gomo um colega tão adequadamente
tauradas na América, as indústrias do câ- o e.>.i>rimiu: "Estes artigos foram as últi-
nhamo gerarão entre 500 mil milhões a mas palavras honestas ditas a favor do
um bilião de dólares por ano, e salvarão cânhamo em mais de 40 anos . .. "

POPULAR MECHANICS Fevereiro de 1938

NOVO PRODUTO AGRÍCOLA


MULTIMILIONÁRIO
stá a ser prometido aos agricultores biJidadc. tusado para produzir mais de
E americanos um novo produto agrícola
valendo anualmente várias centenas de
5000 produtos têxteis, indo desde corda
a Lé delicadas rendas, e os "hurds" (miolo)
milhões de dólares. tudo porque foj in- lenhosos que ficam depois da remoção da
ventada uma máquina que resolve um fibra contêm mais de setenta por cento de
problema com mais de 6000 anos de celulose, podendo er usados para rabri-
idade. Esse produto agrícola é o cânhamo, car mais de 25.000 produto indo desde
e ele não competirá com as outras cultu- dinamite até celofane.
ras americanas. Ao invés, substituirá im- Máquinas dessas encontram- e agora
portações de matérias primas e produtos ao erviço no Texas. Illinois e ?vlinnesota,
manufacturados produzidos por coolies e outros estado estão a produzir fibra de
mal pagos e mão-de-obra camponesa, e cânhamo a um custo de fabrico de meio
criará milhares de empregos para os tra- centavo por libra, e a descobrir um lucra-
balhadores americanos em todo o país. thlo mercado para o resto da haste. O
A máquina que possibilita isto é conce- proprietários das máquina t?stão a
bida para extraLr o córtex fibroso do resto realizar bons lucros na competição com
da haste do cânhamo, tornando a sua fibra fibras produzidas no e trangeiro por
utilizável sem necessidade de uma quanti- coo/fos, enquanto pagam aos agricultores
dade proibitiva de trabalho humano. quinze dólares por tonelada pelo câ-
O cânhamo é a fibra-padrão do mun- nhamo taJ corno ele ai do campo.
do. Ele possui grande força tênsil e dura- Do ponto de vista dos agri ulcores, o

24

...
cânhamo é fácil de cultivar, e renderá custos eram elevados, perrua-se muita fibra
entre três a seis toneladas por acre e m e a qualidade desta era comparativamente
qualquer solo no qual possa plantar-se baixa. Com a nova máquina, conhecida
milho, trigo ou aveia. A sua estação de por descorticador, o cânhamo é cortado
crescimento é curta e pode ser plantado com uma enfardadora de cereais ligeira-
depois de terem sido semeadas outras mente modificada. Depois de ser in-
colheitas. Pode ser cultivado em qual- troduzido na máquina, uma esteira rolante
quer estado da união. As suas longas raí- transporta-o até um conjunto de braços
zes penetram no solo, esfarelando-o, e mecânicos que o racham a um ritmo de
deixando-o cm perfeitas condições para duas ou três toneladas por hora. O miolo,
a sementeira do ano seguinte. O denso cortado em pedaços muito pequenos, cai
aglomerado de folhas, suspenso oito a num semeador, do qual é soprado por uma
doze pés acima do solo, abafa as ervas ventoinha para uma enfardadora, ou um
daninhas. Duas colheitas sucessivas são camião ou vagão para transporte a granel.
suficientes para recuperar solo que tenha A fibra sai pela outra extremidade da
sido abandonado devido a infestação por máquina, pronta a enfard ar.
cardos canadianos ou ervas selvagens. A partir deste ponto quase tudo pode
Segundo os métodos antigos, o cânha- acontecer. A fibra crua pode ser usada
mo era cortado e deixado nos campos para produzir cordel ou corda fortes,
durante semanas até "macerar'~ o suficiente tecida em serapilheira, alcatifas ou reves-
para as fibras poderem ser arrancadas à timento de linóleo, ou branqueada e refi-
mão. (A maceração é simplesmente apo- nada, gerando derivados resinosos de ele-
drecimento devido a orvalho, chuva e vado valor comercial. Na verdade, ela
acção bacteriana). Desenvolveram-se má- pode ser usada para substituir as fibras
quinas pa ra separação mecânica das fibras estrangeiras que agora inundam os nos-
após a maceração estar completa, mas os sos mercados.

BILLION-
DOLLA
CROP

Artigo New Billion Dollar Crop", na Popular Mechanics de Fevereiro de 1938.


64
-
25
Milhares de toneladas de miolo de câ- Todo este rendimento pode ser disponi-
nhamo são usadas anualmente por um bilizado para os americanos.
grande fabricante de pólvora na manu- A indústria do papel oferece ainda
factura de dinamite e TNT. Uma grande maiores possibilidades. Enquanto indús-
empresa papeleira, que costumava pagar tria, factura cerca de 1.000.000.000 de
milhares de dólares anuais de impostos dólares por ano, e oitenta por cento desse
sobre mortalhas para cigarro feitas no total refere- e a importações de papel.
estrangeiro, está agora a fabricar estas Mas o cânhamo fornecerá todas as qua-
mortalhas a partir de cânhamo ameri- lidades de papel, e os números do governo
cano cultivado no Minnesota. Uma nova cakuJam que 10.000 acres dedicados ao
fábrica do Illinois está a produzir títulos cânhamo produzirão tanto papel como
fiduciários de qualidade a partir de câ- 40.000 acre de solo florestal médio.
nhamo. Os materiais naturais presente Um obstáculo na marcha em frente do
no cânhamo tornam-no uma fonte eco- cânhamo é a re istência que o agricul-
nómica de polpa para qualquer qualidade tore entem em experimentar novas se-
de papel manufacturado, e o seu alto teor menteiras. O problema complica-se devi-
de celulose alfa promete um abasteci- do à necessidade do equipamento ade-
mento infinito de matéria-prima para os quado e encontrar disponível a uma dis-
milhares de produtos celuJó icos que os
tância razoável da exploração agrícola. A
nossos cientistas desenvolveram.
máquina só pode funcionar lucrativa-
Acredita-se geralmente que todo o
mente se o eu raio de acção for uficien-
tecido de linho é feito de linho. De facto,
temente extenso, e os agricultores não
a maior parte dele provém do cânhamo
conseguirão encontrar mercados lucra-
- as autoridades estimam que mais de
tjvo a menos que di ponham de maqui-
metade dos tecidos de linho que impor-
tamos são feitos de fibra de cânhamo. aaria para tratar a colheita. Outro obs-
Outra ideia errada é que a serapilheira é táculo é a flore cência da planta fêmea de
feita de cânhamo. De facto, ela provém cânhamo conter marijuana, um narcóti-
em geral da juta, e praticamente toda a co, endo impossível cultivar cânhamo
serapilheira que usamos é tecida na Índia sem produzir a florescência. Estão em
por trabalhadores que recebem apena via de implementação diverso regula-
quatro centavos por dia. O cordel para mentos federais requerendo o registo do
amarrar é em geral feito de sisai prove- cultivadores de cânhamo, e a proposta
niente do Iucatão e da África Oriental. que foram a, ançadas para impedir a pro-
Todos estes produtos, agora importa- dução do narcotico são assaz re tritivas.
dos, podem ser produzidos n partir de Porém, a conexão do cânhamo, en-
cânhamo doméstico. Redes de pesca, quanto produto agncola, com a marijua-
cordas de arco, telas, corda re istente, na parece ser exagerada. A droga é pro-
fatos-macaco, toalhas de mesa de damas- duzida em geral a partir de cânhamo sel-
co, delicadas vestimenlas de linho, toa- ,•agem ou erva-do-diabo, que crescem em
lhas, roupa de cama e milhares de outros terrenos baldio ou ao longo das vias fer-
artigos quotidianos podem er cultiva- roviári~ em todo o estado . for pos-
dos em quintas americanas. As no sa sível implementar regulamento federai
importações de tecidos e fibra estran- de~tinados a proteger o público sem
geiros totalizam cerca de 200.000.000 de impedir a cultura legítima de cânhamo,
dólares por ano; só em fibras crua~ este novo produto agrócola pode repre-
importámos mais de 50.000.000 de dó- sentar um benefl io inestimável para a
lares nos primeiros seis me es de 1937. agricuJtura e a industna americanas.

26
MECHANICAL ENGINEERING 26 de Fevereiro de 1937

O artigo "O Linho e o Cânhamo: Da Semente ao Tear" f oi publicado no


número de Fevereiro de 1938 da revista Mechanical Engineering. Este texto foi
originalmente apresentado no Encontro sobre Processame1tto Agrícola da So-
ciedade America11a de Engenheiros Mecânicos, realizado p ela Divisão de
Indústrias de Processamen to em New Brunswick, Nova Jersey, em 26 de Feve-
reiro de 1937.

O LINHO E O CÂNHAMO: DA SEMENTE AO TEAR


por George A. Lower

ste país importa p raticamente todas rialmente os grandes agricultores e, em


E as fibras que consome excepto o algo-
dão. O tear Whitney, combi nado co m
certa medida, os pequenos. Porém, os
processos que vão da colheita à tecela-
métodos melhorados de tecelagem, per- gem são rudes, ineficazes e danosos para
mitiu que este país produzisse bens de o solo. Dentre as fibras vegetais, o cânha-
algodão a um preço de ta l forma inferior mo, além de ser a mais resistente, é a
ao do linho que a fabricação deste prati- mais produtiva por acre e a que carece de
camente cesso u nos Estados Unidos. menor atenção. Não apenas dispensa a
Somos incapazes de l,)roduzir as nossas deservagem, como mata todas as ervas
fibras a um custo inferior ao conseguido daninhas e deixa o solo em esplêndidas
por outros agdcultores do mundo. Para condjções para a colheita seguin te. Isto,
além dos custos mais elevados da nossa independentemente do seu valor m o ne-
mão- de-obra, não conseguimos índices t ário próprio, torna-o uma cultura mui-
de produção comparáveis. Por exemplo, to desejável.
a Jugoslávia, o país da Europa que regista Em termos de clima e cultivo, os seus
a mais eJevada prndução de fibra por requisitos são semelhantes aos do linho e,
acre, obteve recentemente um rendimen- tal como o linho, deverá ser colhido antes
to de 883 Jibras. Os números comparáveis de amadurecer demais. A melhor altura é
referentes a outros países são: Argentina, quando as folhas inferiores no caule
l 49 libras; Egipto> 616 libras; e 1ndia, 393 definham e as flores lançam o seu pólen.
libras; enquanto neste país o rendimento À semelhança do linho, as fibras em er-
médio é 383 libras. gem nos pontos onde as hastes das folhas
Para enfrentar lucrativamente a com- se fixam aos caules, sendo compostas por
petição mundial, devemos melhorar os filamentos laminados grudados por go-
métodos que usamos desde o campo até mas de pectose. Q ua ndo o cânhamo é
ao tear. tratado q uimicamente como o linho, ele
O linho continua a ser arrancado p elas prodU2 uma fibra esplêndida, tão pareci-
raízes, macerado num tanque, seco ao sol da com linho que só usando um micros-
e rachado até as fibras se separarem da cópio de alta potência é possível descor-
madeira. Então é tecido, e finalmente tinar a diferença - e, mesm o assim, as
branqueado com lixívia de cinzas de ma- duas fibras só se distinguem porque, n o
deira, potassa de a lgas queimadas, ou cal. cânhamo, algumas das extremidad es
Melhoramentos nos mecanismos de la- estão divic:Lidas. Molhando algun s fila-
vra, plan tação e colheita ajudaram mate- mentos fibrosos e susp enden do-os, con -

27
segue-se identificar pos1t1vamente as primeiro talhão quando o pólen é
duas fibras porque, ao secar, o linho vira- libertado no ar, o segundo e terceiro ta-
-se para a direita, o u no se ntido dos pon- lhões com um intervalo de uma semana
teiros do relógio, e o cânhamo para a ou dez dias, e o último quando a semente
esquerda, ou no sentido contrário ao dos estiver completamente amad urecida.
ponteiros do relógio. Estes quatro talhões devem conservar-se
Antes [da Segunda Guerra Mundial], a separados, e ser espadelados e processa-
Rússia produzia 400.000 toneladas de dos separadamente, com vista à detecção
cânhamo, todo o qual continuava a ser de qualquer diferença na qualidade e
rachado e espadelado m a nualmente. Os quantidade da fi bra e da semente.
russos produ zem agora metade dessa Neste país estão disponíveis diversos
quantidade e usam a maior parte dela tipos de m áquinas para colher câ nhamo.
para consumo próprio, assim como faz a Uma delas foi apre entada faz alguns
Itália, país de onde fi zemos out rora anos pela lnternational Harvester Com-
grandes importações. pany. Recentemente, os cultivadores de
Neste país, em se plantando cânhamo cânhamo do Oeste Médio reconstruíram
à razão de um bushel por acre, ele rende enfardadoras de cereal normais para fa-
cerca de três toneladas de palha seca por zer este trabalho. Esta reconstrução não é
acre, das quais entre 15 a 20 por cento é particuJarmente dispendjosa e o serviço
fibra e 80 a 85 por cento material lenho- prestado pelas máquinas é considerado
so. O mercado em rápido crescimento satisfatório.
para a celulose e a farinha de madeira A extracção da goma do cânhamo é
como matérias-primas para o fabrico de análoga ao tratamento aplicado ao linho.
plásticos p ermite acreditar que est e Embora os fiapos do cânhamo ofereçam
material até agora desperdiçado poderá provavelmente uma resistência maior à
revelar-se suficientemente va lioso para ctigestão, p or outro lado eles desfazem-se
rentabilizar a colheita, conservando o facilmente após a complecção deste pro-
custo da fibra suficientemente baixo para cesso. A partir do cânhamo pode pois
competir com 500.000 toneladas de fibra obter-se também uma excelente fibra.
dura agora importadas a nualmente. Quando o cânhamo é tratado segundo
Sendo o cânhamo duas ou t rês vezes um processo químico co nhecido, ele pode
m ais resistente do que qualquer das fi- ser tecido em teares para algodão, lã ou
bras duras, é necessário muito menos estopa, apresentando uma absorvência e
peso para fornecer a mesma metragem. durabilidade equivalentes à do linho.
Por exemplo, o cordel de sisa! com força Estão também disponíveis no m ercado
tênsil de 40 libras m ede 450 pés por libra. diversos tipos de máquinas para espa-
Um cordel de melhor qualidade feito de delar os caules de cânhamo. Antigamen-
cânham o mediria 1280 pés por libra. O te, as oficinas de espadelagem do Illinois
cânhamo não está sujeito a tantos tipos e do Wisconsin usavam o sistema con -
de apodrecimento como as fibras tropi- sistindo em oito pares de cilindros com
cais, e nenhuma destas é tão duradoura caneluras que desfaziam a porção lenho-
tanto em água doce como salgada. sa quando eram atravessados pela paJha
Enquanto n o passado a teoria foi que a seca. A partir daí, a fibra com os restos
palha devia ser cortada quando o pólen aderentes- ou hurds [miolo], como são
começa a voar, alguma da melhor fibra chamados - era transferida p or um
tratada pelos canhameiros do Minne ota operador para uma esteira contínua. A
estava cheia de semente. Esta questão fibra atravessava então dois tambores
devia ser resolvida de imediato plantan- primários guarnecidos com lâminas nas
do-se alguns acres e colhendo-se então o extremidades, os quais, girando em con-

28
junto, malhavam a maior parte do rnio1o Noutro tipo de máquina, os caules
assim como as fibras mais curtas do cau- atravessam uma série de cilindros gra-
le, conhecidas por estopa. A proporção duados guarnecidos com caneluras. Isto
de fio p ara estopa é 50 por cento em cada desfaz o miolo lenhoso em filamentos
fibra. A fibras curtas são então encamin- com cerca de 3/4 de polegada, após o que
hadas para um limpador vibratório que a fibra atravessa uma série de chapas com
elimina parte do miolo. No Minnesota e ranhuras que, fazendo um movimento
no Wisconsin experimentou-se outro de vaivém, operam entre chapas esta-
tipo de máquina, consistindo numa cionárias com ranhuras.
mesa de alimentação sobre a qual os Os filamentos aderentes são extraídos
caules são dispostos horizontahnente. da fibra, que continua a ser transportada
Esteiras contínuas transportam os caules
numa esteira rolante até à en fardadora.
até eles serem agarrados por uma cadeia
Porque não ocorre qualquer fricção entre
de grampos que os faz atravessar metade
a fibra e o cereal, este tipo de espadelador
da máquina.
Um par de malhadores entrelaçados, produz apenas fio fibroso, o qual é então
semelhantes a cortadores de relva, são dis- processado através dos mesmos métodos
postos segundo um ângulo de 45 graus em usados para tratar o linho.
relação à cadeia de alimentação, e des- Os fabricantes de tintas e lacas estão
fazem os caules d e cânhamo junto à borda interessados em óleo de semente de câ-
afiada de uma chapa de aço, com vista a nhamo por se tratar de um bom agente
desfazer a porção lenhosa da palha e ma- sec~nte. Quanto se tiverem desenvolvido
lhar o miolo da fibra. Do outro lado, e mercados para os produtos que agora são
ligeiramente adiantado em relação ao desperdiçados, as sementes e o miolo, o
primeiro conjunto de malhadores, dis- cânhamo provará ser, tanto para o
põe-se um conjunto sem elhante, masco- agricultor como para o público, a cultura
locado segundo um ânguJo de 90 graus mais lucrativa que é possível plantar-se,
em relação ao primeiro par, que também podendo tornar as fiações americanas
malha o miolo. independentes de importações.
A primeira cadeia de grampos transfere Inundações e tempestades de poeira
os caules para outra cadeia semelhante, de
recentes fizeram soar o alarme contra a
for.ma a espadelar a fibra que no início se
destruição de árvores. t possível que os
encontrava sob o grampo. Infelizmente,
produtos residuais até agora desperdiça-
este tipo de espadelador produz ainda
dos do linho e do cânhamo possam ain-
mais estopa do que o designado modelo
do Wisconsin. Esta estopa é difícil de da satisfazer uma boa parte dessa neces-
voltar a limpar porque o miolo está des- sidade, em especial no campo dos plásti-
feito em compridas lascas que aderem cos, que está a conhecer um crescimento
tenazmente à fibra. exponencial.

29
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..Cultivem C8nhamo paro a Guerra": reprodução de um carta% da Segunda Gueno


Mundial que demonstra amplamente a hip6crito atitude do governo americano
,para com a marijuana. Cortesia do Ohio Hempery.
,
Os Ultimas Dias da
CANNABIS LEGAL
Como agora sabemos, a revolução industrial do século XIX constituiu um
retrocesso para o o comércio mundial de cânhamo, devido à falta de má-
quinas para colher e rachar necessárias para a sua produção em massa.
Mas este recurso natural era valioso demais para ser relegado durante
muito tempo para o caixote do lixo da história.
fm f 916, o Bulletin 404 do USDA previu o desenvolvimento de uma má-
quina de descorticar e colher cânhamo, que voltaria a fazer deste a maior
indústria agrícola da América. Em 1938, as revistas Popular Mechanics,
Mechanical Engineering e outras apresentaram a uma nova geração de
investidores as primeiras máquinas descorticodoras de cânhamo comple-
tamente operacionais; o que nos traz à .s eguinte parte da história. Ambas
as revistas indicavam que, graças a esta máquina, o cânhamo voltaria a
ser o principal produto agrícola americano!

REVOLUÇÃO NO FABRICO DE A razão mais mrportante por que as


PAPEL revistas de 1938 projectavam novos ren-
dimen tos multimilio nários para o câ-
e o cânhamo fosse cultjvado legalmente
S usando a tecnologia do século XX, ele
seria hoje o produto agrícola mais impor-
nhamo era a utilização deste no fab rico
11
de pasta de papel" (como oposto a papel
feito de fibras ou de trapos). Outras
tante dos Estados Unidos e do mun do! razões eram a sua fibra, as sementes e
( Popular Meclwnics, Fevereiro de 1938; Mechani- muitos outros usos para a polpa.
cal Engineeri11g, Fevereiro de 1938; Relatórios do
Departamento da Agricultura dos E.V., 1903, 1910,
Esta notável tecnologia nova para pro-
19 13,) duzir pasta de cânham o foi inventada em
De facto, quando os dois artigos prece- 1916 por cientistas do Departamento de
den tes foram preparados, n o início de Agricultura dos E.U., o botânico Lyster
1937, ainda era legal cultivar câi-1hamo. E Dewey e o químico Jason Merrill.
aq ueles que prediziam ren dim entos m ul- Esta tecnologia, juntamen te com a
timilionários em novos negócios de câ- invenção da máquina descorticadora de
nhamo não estavam a con siderar renru- W. Schlichten, patenteada em 1917, tornou
m e ntos o riundos de m edicamentos, o cânhamo uma fonte viável de papel a
en ergia (combustível) e alimentos, q ue m,e nos de metade do custo do pap el feito
hoje acrescentariam cerca de um bilião de polpa de árvore. A nova ma.quinaria
de dólares à n ossa iminente economia para colheita, juntamente com a m áquina
"natural" (compa rada com a nossa eco- de Schlichten, fez descer o tempo de pro-
nomia sintética e pert urbadora do am- cessamento do cânhamo de 200 a 300 ho-
biente). O consumo de cân hamo fu mado ras-homem por acre para apenas um par
com fins relaxantes apenas acrescentaria de horas. Vinte anos depois, o avanço tec-
urna qu antidade relativam ente reduzida nológico e a construção de n ovas vias de
a este número. acesso tornaram-no m ais valioso ainda.

31
Infelizmente, por essa altura, as forças que de madeira e o custo da habitação, ao
se opunham ao cânhamo haviam ganho mesmo tempo que ajudava a reoxigenar
ímpeto, e agiram celeremente com vista a o planeta. 1
suprimir o seu cultivo. Um exemplo: e hoje os novos (em
1916) proce os de fazer polpa de papel
UM PLANO PARA SALVAR AS de cânhamo fossem legais, ele cedo subs-
NOSSAS FLORESTAS tituiria cerca de 70% de toda a polpa de
lgumas variedades de plantas de papel feita de madeira, incluindo papel
A cannabis alcançam regularmente a
altura de árvores (sete metros ou mais)
para impre ora de computador, caixas
caneladas e acos de papel.
numa estação de crescimento. A polpa de papel feita de 60 a 100%
O novo processo de fabrico de papel miolo de cânhamo é mais resistente e
usava "hurds" [miolo] de cânhamo - flexível do que a feita de pa ta de arvore .
77°/4 do peso da sua haste-, o qual era até A produção de papel feito de polpa de
então um produto desperdiçado do pro- madeira danifica o meio ambiente. O fa-
cesso de debulha da fibra. brico de papel de cânhamo não o faz.
Em 1916, o Bulletin 404 do USDA in- (Dewcy e Merrill, B11lletm ;:40.,, U.S.D.A., 1916;
New Scre,mst, 1980: Produçiio atribu1da pela
formava que um acre de cânhamo-de-
Kimberley Clark à sua subsJdi.l.Tia francc:>a De Mau-
-cannabis, em rotação anual ao longo de duit, produtora de p.1pd de fibra de cânh:imo. 1937
um período de 20 anos, produziria tanta até 1984-)
polpa para papel como 4,1 acrcs de ár-
vores que fossem abatidas durante o CONSERVAÇÃO E REDUÇÃO
mesmo período. Este processo usaria en- NA ORIGEM
tre 1/4 e 1/7 menos ácidos sulfurosos po-
1uidores para desfazer a lenhite grudenta
que liga as fibras da polpa, ou mesmo ne- Nemorigem
a da poluição encontram-
geral processos de fabrico que
e

nhuns, caso se usasse carbonato de ódio. usam petroqu1micos ou o seu derÍ\êldos.


Para fabricar polpa é preciso desfazer to- Quer a poluição a uma a forma de
da esta lenhite. A polpa de cânhamo tem CFCs (clorofluorocarbonetos) dissipa-
apenas 4 a 10% de lenhite, enquanto as dos por latas de spray, equipamentos in-
árvores têm entre 18 a 30% de lenhite. No formáticos ou de refrigeração; tritio e
processo de fabrico de papel de cânhamo plutónio produzidos para u o militare ;
evita-se o problema da contaminação ou ácidos sulfúrico usados pelas celulo-
fluvial por dioxinas, pois ele não precisa ses, a sua redução na origem é um méto-
de usar branqueador de clorina (como do de controle de resíduos e minimiza-
requer o fabrico de polpa de papel feita ção de cu to muitas vezes exigido pelo
de madeira), que é substituído por água arnbien talistas.
oxigenada) mais benigna no processo de o upermercado, quando no pedem
branqueamento. para escolher entre saco de papel ou de
Logo, o cânhamo produz quatro vezes pl:i tico, enfrentamos um dilema am-
mais polpa com pelo menos quatro a sete biental: papel feito de árvor ou acos de
vezes menos poluição. plástico feitos de combustíveis fó eis e
Como vimos, a concretização das po- produtos quamico . Com uma terceira
tencialidades da polpa de papel feita de e colh:i disponível - papel feito de
cânhamo dependia da invenção e dc~en- miolo de cânhamo - poderíamos optar
volvimento) pela tecnologia moderna, de por um papel biodegradável e duradouro
novas máquinas debulhadoras desta proveniente de uma fonte anualmente re-
planta. Isto reduziria também a procura novável - a planta do cânhamo.

32
As vantagens ambientais de cu ltiva r nhamo ambientalmente são e a tecnolo-
cânhamo anualmente - deixando as ár- gia do plástico natural teria prejudicado
vores ficar de pé! - para fabricar papel a os lucrativos esquemas financeiros de
partir do seu miolo e substituir os com- Hearst, DuPont, e o principal apoiante
b ustíveis fósseis como fonte energética financeiro deste> Andrew Mellon do Mel-
tornaram-se cruciais para a redução da lon Bank de Pitsburgo.
poluição na origem.
"REORGANIZAÇÃO SOCIAL"
UMA CONSPIRACÃO PARA
ELIMINAR A COMPETIÇÃO
NATURAL Uma série de reuniões secretas tiveram
lugar.
Em. 1931> Mdlon, no seu papel de Se-
m meados da década de 30, quando cretáno do Tesouro da administração Ho-
E máquinas para debulhar fibra de câ-
nhamo e m áquinas para conservar a sua
over> nome?u Harry J. Anslinger, seu
futuro sobrmho por afinidade, para a
polpa altamente celuJósica se tomaram chefia do recém-reorganizado Departa-
operacionais, disponíveis e competitivas> n:iento Federal de Narcóticos e Drogas Pe-
virtualmente todas as empresas proprie- rigosas (FBNDD), cargo este que ocuparia
tárias de povoamentos florestais - durante os 31 anos seguintes.
como a Hearst Paper Manufacturing Di- Estes barões da indústria e financeiros
vision> a Kimberly Clark (EUA) e a St. sabiam que maquinaria para cortar,
Regis -> bem como as celuloses e as enfardar> descorticar (separar a fibra do
grandes cadeias de jornais, aprestavam- miolo altamente celulósico) e processar o
-se a perder milhares d e milhões de dó- cânhamo em papel ou plástico estava a
lares e talvez a entrar em falência.
Por coincidência> em 1937, a DuPont Se o processo de fabrico de polpa
acabara de patentear processos para fa- de papel de cânhamo de 1916
bricar plásticos a partir de petróleo e car- estivesse hoje em uso, ele
vão> assim como novos processos "sulfa- substituiria 40 a 70% de toda a
to/sulfito" para fabrjcar papel a partir de polpa de papel.
polpa de madeira. De acordo com os re-
gistos e historiadores da própria Du- tornar-se disponível em meados dos
Pont,* eles representariam mais de 80% anos 30. O cânhamo-de-cannabis devia
das expedições por via férrea feitas pela ser eliminado.
empresa nos 50 anos seguintes. Em 1937, no Relatório Anual da Dupont
• Investigação do autor e comunicações com a aos seus accionistas> a empresa .re-
DuPont, 1985-1996. comendava fortemente o investimento
Se o cânhamo n ão tivesse sido ilegali- continuado nos seus novos produtos pe-
zado, 80% do negócio da DuPont nunca troquimicos sintéticos> cuja aceitação não
se teria materializado, e a grande maioria estava a ser fácil. A DuPont antecipava
da polujção que foi infligida aos nossos "mudanças radicais" derivadas "da conver-
rios do Noroeste e do Sudeste nunca são do potencial de colecta fiscal ( . .. ) num
teria ocorrido. instr~ent? d~stinado a forçar a aceitação
Num mercado aberto> o cânhamo teria de sub1tas 1de1as novas de reorganização
salvo a maioria das vitais quintas fami- industrial e social'>.
liares da América, e teria provavelmente ~ (DuPont Company, relatório anual, 1937, itálico
nosso.)
feito aumentar o seu número, apesar da
Grande Depressão dos anos 30. Em The Marijuana Conviction (Univ.
Mas competir contra o papel de câ- of Virginia Press> 1974), Rjchard Bonnie e

33
Charles Whitebread II explicaram este Torna- e assim ompreensível a deci-
processo em detalhe: são tomada pela DuPont'"""'" de investir em
"No Outono de 1936, Herman 0/iphant novas tecnologias baseadas em " forçar a
(conselheiro-geral do Departamento do aceitação de úbila ideia5 novas de reor-
Tesouro) decidira utilizar o poder fiscal ganização industrial e social".
[do governo federal}, mas segundo um es- • Cerca de 5000 dólar~ de 1998.
tatuto cujo modelo era a Lei das Armas de · • Ê inter~san1e notar que em 29 de Abril de
Fogo, e sem qualquer relação com a Lei 1937. duas scman~ Jf'ÓS a promulgação da Lei de
Harrison [dos narcóticos] promulgada em Taxação da ~farij~na. o pnncipal cientista da
1914. Era o próprio Oliphant que estava DuPont, Wallace Hume Carothe~ in..-entor do
encarregado de preparar a lei. Nylon para a emprt')3 e o principal caenusta or-
gânico do mundo, cometeu ruiudio be-
A11slinger instruiu o seu exér- bendo cianeto. Carothers estava
cito para apontar as bate- mono aos 41 anO!I...
rias em direcção a Wa -
shington. UMA QUESTÃO DE
'~ principal diver- MOTIVO
gência do plano de
taxação da marijua- sta perspecliva foi
na em relação à Lei
Harrison é a ideia do
Ereferida durante a
audiéncia do enado,
imposto proibitivo. Sob em 1937, por Matt
a Lei Harrison, um Ren , da Rens Hemp
utente não-médico era Company:
impedido de comprar ou r. Rens: Um imposto
possuir narcóticos legitima- a sim afastaria todos os pe-
mente. Para os dissidentes das queno produtore do ector
decisões do Supremo Tribunal William R. He arst do cultivo de cânhamo, e a
que validaram a lei, isto de- proporção de pequenos pro-
monstrava claramente que a motivação do dutores é considerável... O objectivo
Congresso era proibir a conduta ao invés principal de ta lei não é gerar receita ,
de aumentar a receita. De modo que na poi:> não?
Lei Nacional das Arrnas de Fogo, concebi- enador Brown: Bem, nó aderimos à
da para impedir o tráfico de metrallindo- proposição de que é.
ras, o Congresso "permitia" que qualquer r. Ren : A lei ,·ai custar milhões.
pessoa comprasse uma metralhadora, mas enad or Brown: 1uito obrigado.
requeria que ela pagasse um imposto de (Testemunha di pen ada. )
transacção de 200 dólares'" e formalizasse a
compra 1twna nota de encomenda. O ÓDIO DE HEARST E AS SUAS
'í\ Lei das Armas de Fogo, votada em MENTIRAS HISTÉRICAS
Junho de 1934, foi o primeiro acto destina-
preocu paç.ão com o efeito do fumo
do a ocultar os motivos do Congresso por
detrás de um imposto 'proibitivo'. O u-
estudos
A
do cânhamo Jevara já a dois grande
go,·emamentai . O Governador
premo Tribunal aprovou unanimemente a
lei anti-metralhadoras em 29 de Março de Britânico da lndia publicou o Relntorio
1937. É indubitável que 0/iphant estivera à da Comissao sobre as Drogas do Cânha-
espera da decisão do Tribunal, e o Depar- 1110-dn-lnd,n, 1893 1894, que e tudava
tamento do Tesouro apresentou a sua lei grandes fumadore de bhang no subcon-
de taxação da marihuana duas semanas tinente.
mais tarde, em 14 de Abril de 1937''. E em 1930 o GoHmo dos E.U. patroci-

34
nou o estudo da Comissão Siler sobre os No final dos anos 30, este mesmo tema
efeitos da marijuana em soldados ameri - d~ marijuana causadora de desastres de
canos estacionados no Panamá que fu- viação seria repetida1nente gravado na
mavam erva nas horas de folga. Ambos m en~e do p~blico através de manchetes
os relatórios concluíam que a marijuana re ferindo acidentes rodoviários relacio-
não era problemática e recomendavam ~ados com marijuana, e filmes tais como
que não fossem aplicadas sanções crimi- Reefer Madness,, e "Marijuana _ As-
nais à sua utilização. sassi n of Youth'~
No início de 1937, Walter Treadway,
Bastonário da Saúde Assistente dos E.U., XENOFOBIA DESCARADA
disse ao Comité Co nsultivo sobre a Can- o_m inicio na Guerra Hispano-Ame-
nabis da Liga das Nações que, (CÉ possível
tomá-la durante um período relativa-
C. ncana de 1898, os jornais de Hearst
vtnh_am a denunciar os hispânicos, os
mente longo de tempo sem que ocorra mex1cano-americanos e os latinos.
qualquer colapso sociaJ ou emocional. A Após o confisco de 800.000 acres dos
marih uana vicia ( ... ) no mesmo sentido melhores povoamentos florestais de
em que o fazem ( . . . ) o açúcar ou o café':
Hearst no México pelo exército mexica-
Mas outras forças estavam em acção. A no fumador de "marihuana», comandado
fúria bélica que levou à Guerra Hispano- por Pancho Villa,* estas calún ias intensi-
-Aln ericana de 1898 foi deflagrada e ali- ficaram-se.
mentada por William Randolph Hearst
• A canção "La Cucaracha" conta a história de
através da sua cadeia nacional de jornais, um dos homens de Villa que andava à procu-
marcando o início do "jornalismo ra do seu saquinho de "marijuana para
amarelo"* enquanto força da fumar"!
politica ameôcana. Ao lon go das três dé-
,. O dicion ário Webstcr's cadas seguintes, Hearst
define « yellow jor,1r11alism" pintou ininterr upta-
(jornalismo amarelo) como
o uso d e métodos bai-
mente a iinagem do
xamente sensacionalistas mexicano preguiço-
ou inescrupulosos em jor- so fumador de erva
nais ou outros média com - que ainda hoje é
vista a atrair ou influenciar
um dos nossos mais
leitores.
insidiosos preconcei-
Nos nos 20 e 30, a
..tos. Simultaneamente )
cadeia jornalísti ca de Hearst levou a cabo urna
Hearst manufacturou deli- _campanha de difamação ra-
beradamente uma nova amea- cista con tra os chineses, re-
ça para a América, e fomentou Harry Anslinger ferindo-se-lhes como o "Peri-
u ma nova campanha de jorna- go Amarelon.
lismo amarelo visando proibir o En tre 1910 e 1920, os jornais de Hearst
cânhamo. Por exemplo, a h istória de um
afirmavam q u e a maio ria dos inci -
acidente de viação no qual foi encontra-
d~ntes em que negros eram acusados de
do um ((cigarro de marijuana" dominaria
v10lar m ulheres brancas estavam direc-
as manchetes durante semanas a fio,
tamente ligados à cocaína. Isto conti-
enquanto os acidentes de viação rela-
n_u~u d uran te 10 anos, até H earst de-
cionados com o álcool (que eram mais
ndir q ue afinal quem an dava a violar
de 1000 vezes superiores aos acidentes
as muJheres brancas não eram "Pretos
ligados com a marijuana) eram relegados
enlouquecidos pela cocaína»- agora
para as páginas traseiras.

35
Virtualmente todas as grandes empresas proprietárias de povoamentos
florestais, bem como as celuloses e as grandes cadeias de jornais,
aprestavam-se a perder milhares de milhões de dólares e talvez a entrar
em falência.
e ram «Pretos enlouquecidos pela mari-
. ,,
Juana .
.MARIJUANA
A TAXACÃO PROIBITIVA DA
Os tablóides sensacionalistas de Hear t
as reuniões secretas realÍZéldas entre
e outros magnatas da imprensa faziam
manchetes histéricas sobre notícias repre- N 1935 e 1937 no Departamento do Te-
souro redigiram-se lei criando imposto
sentando os "Pretos" e os mexicanos co-
mo bestas frenéticas quando estavam ob proibitivos e definiram-se estratégias. A
influência da marijua na, toca ndo música "marijuana" não foi proibida de imediato;
"vodu-satânica" anti-branca (o jazz) e a lei exigia um .. impo to ocupacional indi-
lan çando desrespeito e "depravação" recto sobre o vendedoro, e um imposto
sobre o público leitor predominante- o bre as trans.1cç~ de marijuana'~
mente bra nco. Outras ofensas do género Os importadore , produtore I veade-
resultantes desta "onda de crim es» in- dore e di tribuidore de,~iam registar-
d uzida por drogas incluíam: caminhar na -se no secretariado do tesouro e pagar o
sombra de homens brancos, olhar pessoas impos to ocupacional. As transacçõe
brancas directamente nos olhos durante fo ram taxada em um dólar por onça;
três segundos ou mais, olhar d11as vezes pa- cem dólares por onça caso o vendedor
ra uma mulher branca, rir de uma pessoa n ão estive e registado. As vendas a
branca, etc. contribuinte não-regi tados eram ta-
Devido a tais "crimes•: centenas de mi- xada proibiti, arnente. O novo imposto
lhares de mexicanos e negros cumpriram, fez duplicar o preço da "droga crua,, de
em conjunto, milhões de anos em prisões cannabis, que na altura era legal e e
e trabalhos forçados, sob brutais leis se- vendia por um dólar a onça.1 O ano era
gregacionistas que vigoraram nos E.U. 1937. O Estado de 'ova Iorque co ntava
até aos anos 50 e 60. Mediante o u o exactamente com um agente antinar -
sedutor e repetitivo, Hearst martelo u a cóticos.·
obscura palavra de calão mexicano " ma- • 'ova Iorque conu agora com uma r~c de mi•
lhares de funcionário~ agento, espioo e infor-
rijuana" na consciência angló fona ameri-
madorc: rago~ - e uma cap.11.id.tdt penitenciária
cana. Entretanto, a palavra ((cânhamo" foi zo Yl'Z<S Sll~ior à de 19J;, c-mbora d~c então a
afastada e "ca nnabis': o termo científico, popubçio do C"tado ape~ tenha dupli1.ado.
foi ignorado e enterrado. Apó a decISâo tomada em 29 de farço
A paJavra espanhola para cânhamo é de 1937 pelo uprerno Tribunal, confir-
"cana mo'~ Todavia, o uso de um colo- mando a proib1çao de metralhadoras por
quia1ismo da região mexicana de Son ora via fis aJ, Herman Oliphant fez a sua jo-
- m arijua na, amiúd e americanizado gada. l:.m 14 de Abril de 1937, apre entou a
como "marihuana,, - garantiu que pou- sua propo ta de lei directamente ao
cos se apercebessem de que os termos Comité dos Modo e Meio em vez de o
correctos para designar um dos princi- fazer a outras im,tância apropriada , tai
pais medica mentos naturais do mundo, como o comik ~pedalizado em ali-
"cannabis'~ e o seu principal recurso in- mento e medicamento , agricultura, têx-
dustrial, «cânhamo': haviam sido bani- teis, comércio, etc.
dos d a língua. A ra1.ão pode ter sido o facto do « Mo-
dos e Meio " cr o un1co Comi te a enviar

36
as suas propostas de lei directa mente à «Não conseguimos perceber ainda, Sr.
bancada da Câmara, sem que sejam de- Presidente': protestou Woodward, "por
batidas por o utros cornités. O Presidente que motivo esta lei foi preparada em se-
do Modos e Meios, Robert L. Doughton, gredo durante dois anos sem ter havido
um aliado chave da DuPont,* carimbou qualquer intimação, até mesmo à profis-
expeditamen te a secreta proposta de lei são médica, de que a sua preparação esta-
do Tesouro, que atravessou o Congresso va em curso': Ele e a AMA* foram e>...-pe-
e num ápice chegou ao Presidente. ditamente denunciados por Anslinger e a
* Colby, Jerry, DuPont Dynasries, Lyle Stewart, totalidade do comité do Congresso, e su-
1984. mariamente dispensados.3
" Em 1937, a AMA e a admin istração Roosevelt
"ALGUÉM CONSULTOU A eram fortes antagonistas.
ASSOCIAÇÃO MÉDICA Quando a Lei de Taxação da Mari-
AMERICANA?" juana foi apresentada para relatório ora],
ontudo, mesmo no interior das au-
discussão e voto na bancada do Con-
C diências controladas do comité, mui-
tas testemunhas qualificadas pronuncia-
gresso, urna única pergunta pertinente
foi feita durante a sessão: ''Alguém con-
ram-se contra a ap rovação destas invul- sultou a AMA e se inteirou da sua
opinião?"
gares leis fiscais.
Por exemplo, o dr. William C. Woodwa- O representante Vinson, respondendo
rd, que além de m édico era advogado da pelo Comité dos Modos e Meios, replicou,
Associação Médica Americana (AMA), e "Sim, consultámos um tal dr. Wharton
testemunhou em nome desta. [pronúncia errada de Woodward?] e [a
Ele declarou que a argumentação fe- AMA] está totalmente de acordo':
deral consistia basicamente de histórias Com esta mentira memorável, a pro-
retiradas dos tablóides sensacionalistas! posta foi aprovada e a lei entrou em vigor
Nenhum verdadeiro testemunho fora em Setembro de 1937. Foram criadas
ouvido! Segundo \,Voodward, esta lei, forças policiais federais e estaduais, que
aprovada na ignorância, podia negar ao en carceraram centenas de milhares de
mundo um remédio potencial, em espe- americanos, somando mais de 14 mi-
cial agora que o mundo médico estava a lhões de anos perdidos em prisões e casas
começar a descobrir os ingredientes ac- de reclusão - chegando a contribuir
tivos da cannabis. para as suas mortes - tudo em prol de
Woodward informou o comité que a indústrias envenenadoras e poluidoras,
única razão por que a AMA não se pro- sindicatos de guardas prisionais, e com o
nunciara mais cedo contra a lei fiscal da fito de reforçar o ódio racial professado
marijuana fora o facto da marijuana ser por alguns políticos brancos.
descrita na im prensa há 20 an os como "a (Mikuriya, Dr. Tod, Marijuana Medical Papers,
erva assassina do México': 1972; Sloman, Larry, Reefer Madness, Grovc Press,
Assim, só "dois dias antes,, destas a u- 1979; Lindsmith, Alfred, The Addict and the Law
lndjana U. Press; Bonnie e Whitebread, The Ma~
diências da Púmavera de 1937 é que os rijunna Conviction, U. of VA Press; Registos Congr.
médicos da AMA haviam constatado que E.U.; et ai.)
a planta que o Congresso tencionava
proibfr era conhecida m edicam ente por HOUVE MAIS QUEM SE
cannabis, uma substâ ncia benigna u sada
PRONUNCIASSE CONTRA
na América há mais de cem anos com
perfeita segurança para tratar inúmeras pondo-se também à Lei de Taxação
enfermidades. O com toda a sua energia estava o Ins-

37
tituto Nacional de óleo de Sementes, que portaram-se para os E. U. 62.813.000
representava os produtores d e lubrifi- libras de semente ele cânhamo. Em 1935
cantes de alta qualidade para máquinas, importararn-se 116 milhões de libras .. . .,
assim como os fabr icantes de tintas.
Depondo perante o Comité dos Modos e PROTEGENDO OS INTERESSES
Meios em 1937, o seu conselheiro geral ESPECIAIS
Ralph Loziers prestou um eloquente
omo afirmara o dr. \ \'oodward da
testemunho sobre o óleo de semente de
cânhamo, o qual para todos os efeitos ia C M1A. o te temunho governamental
ser proibido: pre tado perante o Congre o em 1937
"Autoridades respeitáveis dizem-nos que con Í5Lira de facto qua e inteiramente de
no Oriente pelo menos 200 milhões de pes- artigos sensacional1~tas e raci ta publi-
soas usam esta droga; e devemos tornar em cado em jomai de Hear t e out ro , li-
consideração que durante centenas, me- dos cm voz alta por Harry J. Anslinger,*
lhor, milhares de anos, praticamente esse director do Gabinete Federal de ar-
número de pessoas tem usado esta droga. E cóticos (FB. ). (De de então e ta agência
significativo que na Ásia e noutros lugares pa ou a er a Admini tração de
do Oriente onde a pobreza persegue cada Repressão das Drogas [DEAj).
m ão, e onde as pessoas recorrem a todos os • 11.irry J. An\Jinger dirigiu o Gabmete Ftdernl
recursos vegetais que umn natureza pródi- de Na reótico d~e a sua aia o cm 1931 e Jurante
ga conferiu àquela região - é significa tivo o~ 31 ano cguintes, e só em 1962 fot obrigado a
rcformar-,e pt'IO pr~idente John F. KenneJ r,
que desde o alvorecer da civilização ne-
depo~ de An,lingc:r ta lentado "en~urar ;is publi-
nhuma destas 200 milhões de pessoas caçõ es e º" editore do profe~ r Alfred Lin<hmith
tenha sido alguma vez descoberta a usar a ( Tl,c Addict and thr la"~Wilihing1on Po t. 1961) e
semente desta planta ou seu óleo como chan tagear e intimidar a entidade patronal de tt-, a
droga. Unn,:r: idade de Indiana. Tao cedo como em 1934,
um senador da Pen ihi n ia, Jo~ph Guffe), atacara
"Ora, caso existissem quaisquer pro-
An:Jinger por este fau-r comcnt.irio racist3S. tai
priedades ou princípios nefastos na sua se- como refenr-~ a • pretalhada cor de {'tngibre" em
mente ou óleo, é razoável supor que estes C.lf~ m1ada ao chefô do ~ departamento
orientais, os quais devido à sua pobrezt1 em papel timbrado do FB~.
buscam tudo quanto possa satisfazer o seu Antes de 1931, An lmger fora Comi á-
mórbido apetite, os teriam descoberto... rio-A ·istente dos E. L'. para a Proibição.
"Com a licença do comité, a semente do Anslinger, lembremo , foi e colhido a de-
cânhamo, ou a semente da Cnnnabis sati- do para chefiar o novo Gabinete Federal
va I., é usada como alimento ern todas as de arcóucos pelo eu tio por afinidade,
nações orientais e também numa parte da Andrcw MeUon, euetário do Tesouro
Rússia. É cultivada nos seus campos e sob o pre idente Herbert Hoover. O mes-
comida como papa. No Oriente, milhões mo Andre\-, Mcllon era tambem o dono
de pessoas usam todos os dias sem entes d e
e principaJ ac; ioni ta do sexto maior
cânhamo como alimento. Fazem-no htf
ban co dos Estado~ L'rúdo (em 1937). o
muitas gerações, mormente em períodos
1ellon Bank de PiL burgo, que foi uma
de fome ... O tneu argumento é este -
das dua unica in~titu1 óe bJ.ncária
que esta proposta de lei é inclusiva de-
com quem a DuPont t rabalhou de de
mais. Esta proposta de lei é uma medida
1928 at ao pre ente.•
que encurralard o mundo. Esta proposta
• Ao longo da swi htitó~ de 190 ano a OuPont
de lei cria as actividades que poderão sig-
~ contraiu empr timo) bancârio-.dua.<, ,~u, uma
nificar a supressão desta grande indús- delas pan comprar o controlt <l.t Genc:r.&l Motor.>
tria, o seu esmagamento sob a sr-lpervisão no ano, 10. A Opt'ra 0c banc..tna5 d.i. DuP<>nt são
de um gabinete. No ano passado, im- coru.1derad.u a jóia cb coroa do mundo financeiro.

38
Em 1937, Anslinger testemunhou pe- lheres brancas com jazz e marijuana.
rante o Congresso, dizendo: "A marijua- Leu um relato sobre dois estudantes
na é a droga que mais violência causou negros da Universidade da Pensilvânia
na história da Humanidade". que usaran1 esta técnica com urna colega
Isto, juntamente com afirmações das branca, "com o resultado de ter ocorrido
crenças ultrajantemente racistas de uma gravidez'~ Os congressistas de 1937
Anslinger, foi dito perante um Congresso horrorizaram-se com isto e com o facto
dominado por sulistas, e é agora em- desta droga ter o aparente condão de
baraçoso de ler na totali.dade. fazer as mulheres brancas sentir vontade
Por exemplo, Anslinger coleccionava de tocar em «Pretos", ou mesmo de olhar
recortes de jornais, quase exdusivamente para eles.
a partir dos jornais de Hearst e outros À excepção de um punhado de indus-
tablóides sensacionalistas, aos quais cha- triais ricos e seus policias assalariados,
mava «Ficheiros Sanguinários" - p. e., o virtualmente ninguém na América sabia
relato de um assassínio cometido à que o principal rival dessas pessoas - o
machadada, no qual um dos partici- cânhamo - estava a ser proibido sob o
pantes fumara alegadamente um_ charro nome de «marijuana".
quatro dias antes de cometer o cnme. É verdade. Com toda a probabilidade,
Anslinger impingiu ao Congresso a marijuana foi apenas um pretexto para
como sendo um dado factual que nos a proibição do cânhamo e sua supressão
E. U. cerca de 50% de todos os crimes económica.
violentos eram cometidos por espanhóis,
mexicano-americanos, la tino-america- Em 1937, Anslinger testemunhou
nos, filipinos, afro-am ericanos e gregos, perante o Congresso, dizendo: "A
e que havia uma ligação directa destes marijuana é a droga que mais
crimes com a marijuana. violência causou na história da
(Dos registos pessoais de Anslü1ger doados à Humanidade".
Universidade do Estado da Pensilvânia; processo
dos Crimes de Li Cata, etc.) As águas turvaram-se mais ainda devi-
Especialistas que verificaram meticu- do à confusão da marijuana com a erva-
losamente os factos não acreditam na -do-diabo.t A imprensa não clarificou a
veracidade de um único dos «Fichefros situação, continuando a publicar desin-
Sanguinários" que Anslinger compilou formação até aos anos 60.
nos anos 30. 4 No alvorecer da década de 90, os mais
extravagantes e ridículos ataques contra
MENTIRAS a planta do cânhamo receberam atenção
AUTOPERPETUADORAS mediática nacional - tal como um estu-
do, largamente disseminado na imprensa
a verdade, caso Anslin~er se tivesse
N dado ao trabalho de venficar, as esta-
tísticas do FBI mostravam que pelo menos
médica em 1989, pretendendo que os
fumadores de marijuana engordavam
meia libra por dia. Agora, em 1998, os
65 a 750/o de todos os assassínios cometidos média estão apenas interessados em eyj-
nos E.U. estavam na altura - como estão tar a questã.o.
hoje - relacionados com ~ álcool. E~-
(American Health, Julho/Agosto de 1989.)
quanto exemplo do seu depounento racis-
ta A.nslinger leu perante o testemunho do Entretanto, debates sérios sobre os
C~ngresso dos E. U. (sem quaisquer aspectos da problemática do cânhamo
objecções) histórias sobre "escarumbas'' de relacionados com a saúde, as liberdades
lábios proemfoentes que seduziam mu- t A Datura stramonium, ou estramónio. (N. do T.)

39
civis e a economia são amiúde afastados Notas:
como não passa ndo de "um pretexto
t. Dc\, e)" e Merrill, Bu/lc1i11 ~-10-#, Departamento
para as pessoas fumarem erva,, - como de Agricul1ur1 do~ E.U., 1916; ªBillion Dollar Crop",
se as pessoas precisassem de pretextos Populnr Mcthanm, 19\ ; lndk~ A..ncolas dos E.U.•
para afirmar os factos de qualquer 1916 até 1982; New vumtüt, 13 de Novc:mbro de 19 o.
2 Uclmen e Hadàox, I>rob .-\b11~ and tht law,
questão.
1974.
Devemos admitir que a táctica de 3. Bonnic, Ri1.~rd e Whitebrcad, Charles, T11e
mentir ao público sobre a natureza bené- Marijumw Com·iaion, Univ. of Virginia PrtSS. 1974;
fica do cânhamo> e confundi -lo quanto à Testnnunho pintado ao Congrc.: ,o, 1937; et aL)
4 Slonan, l.arr>, Rafa ,\(rulncg, 19;-9, Bonnie e
relação deste com a «marijuana•~ foi mui- Wh1tebread, The Manjuana Comiction Umv. of
to bem suced ida. Vugirua Pre, t9i4•

QUE PERIGOS APRESENTA A MARIJUANA


COMPARADA COM OUTRAS SUBSTÂNCIAS?
Número de Óbitos Registados por Ano. em todo a América. dire-cta ou
primariamente result ant es das seguintes causas selecdonodas, segundo
Almanaques Mundiais, Estatísticas de Mo rtalidade das Companhias de
Seguros, e os últimos 20 anos de relatórios do Barton6rio da Saúde dos
E.U.:

TABACO • •
3 0.000 a 50.000
ÁLCOOL
(Não it1cfo i11do 50% de todos os acid~t,is rodcwdrios t 6511t, dt todos o IUSIUSlnios} 1S0.000

ASPIRINA {Incluindo sobredosagem delibtrada} 180 a+ de 1.000


1

CAFEÍNA
(Com o causa de stress, úlceras, irrtgult1ridades cardl.aca.s, ttc.) f .000 a + de 10.000
SOBREDOSAGEH D E DROGAS "LEGAJS"
(Deliberada ou addeu tal, devida a medicame-ntos reu;tados ou ,-rndidos rm farmdcias dou ttn
combinação com álcool - p.t., Vali um/álcool) + de 100.000
SOBREDOSAGEH DE DROGAS ILÍCITAS
(Deliberada ou acidental. dt todas a_s drogru i!Lgais) 3.800 a S.200
MARIJUANA o
Co m o causa de assasslflfos e m ortes " ª l!Strada, o.s utili.uldora dt marijuaru~ aprestntam tambim
uma incidência igual ou itrftrior d da populaf11-0 ntlo f'umndoro de morij lUIJUI tcmwd12 no stu ron-
j unto. Crancer Study, UCLA, fi11antiado com 6 milhàu de d6larn ptlo So'Tmº du, E. U.; primriro
e segundo estudos jam aica11os1 1968 a 1974; Estudos costarnqurnhos, 19'(, a , ~; tt aL Ml 'IMA
TOXICIDADE: 10096 dos est udos .realizados tm dtumu dt imhrnülJUla t mstituiçc>rs de imesti-
gação americanas mostram que a a erva nifo l l6xit'.a. A ltistória mldica não r,,gista uma única
m orte causada por sobredosagem de marijuana. ( UCI..A, Han·ard, Tmtple, etc.)

40
FIBRAS ARTIFICIAIS ...

A ALTERNATIVA TÓXICA ÀS FIBRAS NATURAIS


ntre o final dos anos 20 e o início da
E década de 30 assistiu-se à continuada
consolidação de poder nas mãos de al-
gumas grandes empresas metalúrgicas,
petrolíferas e quúnicas (munições). O
governo federal dos E. U. colocou gran-
de parte da produção têxtil destinada à
economia doméstica nas mãos do seu
principal fabricante de explosivos, a
DuPont.
O processo de nitrificar a celulose em
explosivos é muito semelhante ao pro-
cesso de nitrificar a celulose em fibras
sintéticas e plásticos. O Rayon, a primeira
fibra sintética, é simplesmente algodão-
- pólvora estabilizado, ou tecido nitrifica-
do, o explosivo básico do século XIX.
«o s plásticos sintéticos são aplicáveis
no fabrico de uma grande variedade de
artigos, muitos dos quais no passado
eram feitos de produtos naturais", exul-
tou Lammot DuPont (Popular Mecha-
nics, JW1ho de 1939, p. 805.)
"Considerem -se os n ossos recursos
naturais", continuou o presidente da
D uPont. "O quím..ico ajudou a conser-
var os recursos naturais ao desenvolver
produtos sin téticos para suplementar
ou substituir completamente os produ-
tos naturais~
Os cientistas da DuPont eram os
principais investigadores mundiais do
processo de nitrificação da celulose; de
facto, à época eles eram o maior proces-
c c xx. sador nacional de celulose.
O artigo de Fevereiro de 1938 da Po-
.-s J pular Mechanics afirm ava: «Milhares de
toneladas de miolo de cânhamo são
usadas todos os anos por um grande
fabricante de pólvora para produzir di-
Xilogravura do canhamo Ilustrando namite e TNT". A histó ria mostra que a
herbário Kreuterbuch, de DuPont obtivera um domínio quase
0
Leonardo Fuchs, 1543. absoluto sobre o mercado dos explo-

41
sivos ao comprar e consolidar, no final século XX eram feitos de celuJo e nitri-
do século XIX, as emp resas de demoli- ficada1directamente relacionada co m o
ção mais pequenas. Em 1902 ela con- proces os usado pela DuPont para fa-
t rolava cerca de dois terços da produção bricar muniçoes. O celuloide, o acetato
da indústria. e o rayon eram o plastico simples de -
A DuPont e ra o principal fabricante sa era, e o cânhamo era bem conhecido
de pólvora, tendo fornecido 40% das do~ im e tigadore da celulo e como o
munições para os Aliados durante a. e- principal recurso potencial desta indú -
gunda Gu erra Mundial. Enquanto tria. A m,·el mundial, a matéria-prima
investigadores de celuloses e fibra , o~ para os plá tico ~imples. o rayon e o
químicos da D uPont conheciam me- papel podia er forne~ida idealmente
lhor do que ninguém o real valor do por miolo de l.it1hamo.
câ nham o, o qual ultrapassa largamente As fibras d~ nylon foram desenvolvi-
o das suas fibras filamentosas; embora das entre 1926 e 1936 por \\,1llacc Caro-
estas fi bras lo ngas sejam adequadas thers, o conhecido qu1m1co de Harvard,
para a confecção de linho, tela, rede e trabalhando .i partir de patente:; alemãs.
corda me, elas constituem apenas 20% Estas poliamidas são fibrél!, longa ba-
do peso dos caules de cânhamo. 80% seada em produto ob~en ado na
do cânh amo en cont ra-se no miolo atureza. Carother , dotado pela D u -
contendo 77% celulose, e esta era a Pont com um genero o ·ubs1dio de
mais a bundante e limpa fonte de celu- im estigaçao, procedeu a um e tudo
lose (fib ra) para fazer papel, plástico e abrangente da fibras celulósica natu-
até mesmo rayon. rais, duplicando-~ no seu labora-
A e vidên cia empírica apresentada tórios. Foi a 1m que for-.im desenvolvi-
neste livro m ostra que o governo federal das as poliamidas - a fibra longas de
- através da Lei de Taxação da Ma- um proce o qu1mico e pec1fico. (Cu-
rijua na de 1937 - permitiu ao seu fa- rio amente, \\'alface Carothers uici-
brica nte de m unições fornecer fibras dou-se em Abril de 1937, uma em ana
sintéticas pa ra a economia doméstica apô o Comité dos lodo:, e leios ter
sem ter competição. A prova de uma realizado as audi ões obre a cann abi , e
conspiração b em sucedida entre estes criado a propo ta de lei que even tual-
interesses em presariais e governamen- mente proibina o clnhamo.)
tais é simplesm ente esta: Em 1997, a foram l1.>ado produtos qutmico ba-
OuPont era ainda o maior produtor de eado em alcatrão de carvao e petróleo,
fibras artificiais, enquanto há mais de e patenteados diferente di positivo ,
60 anos nenhum c idad ão colhe legal- fie1r~ e processo . Este no,·o tipo de têx-
mente um único acre de cânhamo para til, o D) Jon, seria controlado de de a fu e
fa brico de têxteis (excepto du rante o da matéria-prima, enquanto c-..i.rvão, ate
período da 2• Guerra Mundial). ao produto completado; era um produto
Um a to nelagem q uase ilimitada de qu1mico paten teado. A companhia qw-
fibra e celulose naturais teria sido dis- mica centralizava a produção e o lucro·
ponibilizada pa ra o agriculto r america- da nova fibra ..milagre•:
no em 1937, o ano em que a OuPont pa- A introduçao do nylon, a introdução
tenteo u o nylon e o poluidor processo à de maquinaria de alto débito para e-
base de sulfito para fabricar pasta de parar a fibra longa do cânhamo do e u
pap el. Perdeu-se to do o valor potencial miolo celuló ico, e a proibição do câ -
do cânhamo. nhamo como ..marijuana': todo ocor -
O s plásticos simples do princípio do reram simultaneamente.

42
As novas fibras artificiais podem Monsanto, etc. - encontram-se prote-
descrever-se idealmente como material gidas da competição através das leis
de guerra. A fabricação de fibras tornou- contra a marijuana. Estas empresas
-se um processo baseado em grandes fazem guerra ao ciclo natural e ao
fábricas, chaminés, refrigerantes e pro- agricultor comum.
dutos químicos perigosos, ao invés de ser -Shan Clark
um processo de separação das abun-
dantes fibras naturais disponíveis. Fontes:
Com um passado . de fabricantes de Encyclopedia of Textiles, 3ª edição, pelos autores
explosivos e munições, as antigas "fábri- da revista American Fabrics and Faslrions, Willi.am
cas de corantes químicos,, produzem C. Legal, Prentice- Ha!J Inc., Englewou<l Cliffs, NJ,
agora camisaria, Jinhos e telas de imi- 1980; The Emergence of Industrial America: Strate-
tação, tinta de látex e alcatifas sintéticas. gic foctors in American Econo,nic Growth Since
z870, Peter George State University, Nl; DuPont
As suas fábricas poluidoras produzem (uma biografia empresarial publicada periodica-
couro de imitação, estofamento e con- mente pela E. r. DuPont De Nemours an d Co. Inc.,
traplacado, enquanto uma parte impor- Wilmington, Delaware); The Blasting Hnndbook,
tante do ciclo natural continua a ser E. I. D uPont De Nemours & Co. Inc., WiLnington,
proibido. . . . Delaware; revista Mechanical E11gineeri11g, Fev.
A fibra-padrão da história do mw1do, 1938; Popular Meclianics, Fev. 1938; Journal of

a colheita americana tradicional, o câ- Applied Polymer Sciencc, Vol 47, 1984; Polyamides,
rhe Chemistry ofLong Molecules (autor desconheci-
nhamo, podia abastecer as nossas i11 -
do); Patente dos E.U. NQ 2.071.250 (16 Fev. 1937), W.
dústrias têxteis e do papel e ser a princi- H. Carothers; DuPont Dy11asties, Jerry Colby; Tlie
pal fonte de celulose. As indústrias béli- American People's Encyclopedia, the Sponsor Press,
cas - a DuPont, a Allied Chemical, a Chicago, 1953.

43
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THE ASSASSIN OF YOUTH

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Cartaz editado em 193S pelo Divisão de R~ressão das Drogas


da Colif6rnia.
A PROIBIÇÃO DA MARIJUANA
Anslinger lá conseguiu a sua lei contra a marijuana .. .
''Devemos acreditar em burocratas interesseiros envolvidos na repressão
às drogas ou na reabilitação de toxicodependentes, cujos salários e car-
reiras de.pendem da descoberta de números crescentes de pessoas para
prender e 'tratar?
"Mais americanos morrem num só dia em prisões, penitenciárias e casas
de reclusão do que alguma vez morreram devido à marijuana ao longo de
toda a história. Quem estão eles a proteger? De quem?"
- Dr. Fred Oerther, Portland, Oregon, Setembro de / 986.

ACCÃO PARA ESMAGAR A juana em 1937? Resposta: cabendo ao FBN de Ans-


linger a responsabilidade de processar os médicos
, DISSENÇÃO que receitassem drogas narcóticas para fins que ele,
Anslinger, considerasse ilegais, eles (o FBN ) tinham
e pois do rela.tório "LaGuardia Mari-
D juana Reporf', realizado entre 1938 e
1944 na Cidad e de Nova Io rque, ter re-
processado mais de 3000 médicos da AMA por pas-
sagem de receitas ilegais até 1939. Em 1939, a AMA
fez uma paz específica com Anslinger sobre a mari-
futado o seu argumento, ao concl uir juana. Os resultados: De 1939 a 1949, apenas tr~
que a marijuana n ão causava qualquer médicos foram processados por receitarem drogas
ilegais de qualquer tipo.
violência e citando outros resultados
positiv~s, H enry }- ~ slinger, em ~uces- Para refutar o relatório de LaGuardia,
sivas tiradas publicas, denunc10u o a AMA, por solicitação pessoal de Ans-
presidente da câm a ra de Nova Io rque, linger, conduziu um estudo entre 1944 e
Fiorella LaGuardia, a Academia de Me- 1945 que mostrou que 34 soldados negros
dicina de Nova Iorq ue e os m édicos res- e um branco ( para controle estatístico)
ponsáveis pelas investigações que esta - fumadores de marijuana perderam o res-
vam na origem do relatório. peito pelos soldados e oficiais brancos
Anslinger proclamou que estes médi- num exército segregado.
cos jamais vo ltariam a ~zer experiências Esta técnica de preconceituar o resul-
o u pesquisas com m an Juana se~ . a _sua tado de um estudo é conhecida entre os
autorização pessoal, caso contrario iam investigadores como "ciência rasca".
parar à cadeia!
Então, usou ilegalmente todo o poder A ERVA E A AMEACA
, À PAZ
do governo dos Estados Unidos para ~us- orém, de 1948 até 1950, Anslinger dei-
pender virtualmente todas as p~squ1sas
sobre a mariju ana, enquanto fa2.1a chan-
P xou de impingir à imprensa a história
de que a marijuana causava violência e
tagem com a Associação Médica Ameri- começou a usar o {<Isco Vermelho" típico
cana (AMA)* para esta denunciar a Aca-
da era McCarthy.
demia de Medicina de Nova Iorque e os
Agora o assustado público americano
seus médicos devido às investigações que
era informado de que esta droga era
tinham conduzido. muito mais perigosa do que ele origi-
,. Por que razão, perguntará o Leitor, a ~ se
nalmente pensara. Testemunhando em
encontrava agora ( t944· 45) ~o l~do de Anslmge~,
depois de se ter oposto à Lei de fãxação da Mar1- 1948 perante um Congresso fortemente

45
anticomunista - e doravante fazendo- - que ela era "causadora de violência':
-o continuamente na imprensa - Ans- Imperturbado, porém, o Congre o vo-
linger proclamou que afi nal a marijua- tou agora para manter a lei obre a ma-
na não tornava violentos os seus utiliza- rijuana - ba eado no raciocinio diame-
dores1 mas sim tão pacíficos - e paci- tralmente oposto que fora inicialmente
fistas! - que os comunistas não dci- usado para proibir a cannabi ·.
x:ariam d e usar a erva para enfraquecer .t inleres~nte, e chega a ser absurdo,
a vontade de lutar dos soldados ameri- notar que de 1948 em diante An linger e
can os. o seu princapah apoiante - o con-
Isto con stituía uma reviravolta de 180 gressist.15 ~ulistas e o seu melhor amigo
graus em relação ao pretexto original no enado, o Senador Joseph 1cCarthy,*
invocado para proibir a cannabi em 1937 do \\Tisconsm - receberam cobertura

A FRAUDE FARMACÊUTICA DE BUSH/ QUAYLE/LILLY


a América, os mais estridentes bying ilegal tanto dentro como fora do
N oponentes da marijuana são nada
mais nada menos que Nancy Reagan,
governo para permitir .is farmacêuti-
cas de~pejan:m mais remedio de -
antiga primeira-dama (1981 -1989)> e neces~ario , obsoletos, e em especial
George Bush 1 antjgo presidente (1989- substândas proibida~ no mercado
- 1993)1 director da CIA sob GeraJd doméstico, em in uspeito os paí es do
Ford (1975-77) e da "Task Force de Terceiro ~lundo.
Combate às Drogas» do presidente Enquanto foi , ice- pre idente, Bush
Reagan (1981-1988). continuou a agir tlegalmente em prol
Após deixar a CJA em 1977, Bush foi das empresa farmact:uticas, solicitan-
nomeado director da Eli Lilly por nada do pes oalmente .1s finança~ deduçõe
mais nada menos do que o pai e a famí- fi e.ais e peciai!) p.ira certa5 empre a
lia de Dan Quayle, que detinham inte- (p. e.. a I.ill ·) proprietarias de fábricas
resses maioritários na firma Lilly e no em Porto Rico. F.m 19 2, o vice-presi-
jornal Jndianapolis Star. Mais tarde1 dente Bu h foi intimado pe,soalmente
Dan Quayle agiu como intermediário pelo próprio upremo Tribunal dos
entre barões da droga> traficantes de E.U. a deixar de fazer lobb)'ing em prol
armas e funcionários governamentais das farmacêuticas junto das finanças.
nos escândalos Irão-contras. Bu h acedeu - ma) ainda assim as
Toda a família Bush era grande ac- farmacêuticas receberam uma dedu-
cionista de empresas farmacêuticas ção fi. ai adicional de 13<}0, devida à ·
como a Lilly, a Abbott, a Bristol and s uas companhia, cm Porto Rico que
Pfizer1 etc. Após a divulgação da decla- produzem e.sta droga, proibidJs na
ração de rendimentos de Bush de 1979, América para er\!m vendida.., no pai-
tornou-se público que a sua família se!I do Terceiro Mundo.
detém ainda grandes interesses na (01\'Ulgação da tkdara o Je rendimentos e
Pfizer, e q uantid ades substanciais de rt11tório fiSClll de Bush "ferrnt~ a 1979; ·· Bush
Tricd to wa)' A Tu Rufe hinge But Then
acções nas outras farmacêuticas acima
\'\'íthdrew~ ~• 1 tme5, 19 dt M io de 1981; regis-
referidas. tos cmpr~riai mi,to ; depoimento •1.3 Penca·•
De facto1 em 19811 enquanto vice- do Chri tic lnst11ute; Rda1ório Anu.i.l d;i Lilly,
-presidente, Bush fez activamente lob- 1979.)

46
noticiosa constante a pretexto do "perigo UM PROGRAMA SECRETO PARA
vermelho". CONTROLAR MENTES E
* Segundo a autobiografia de Anslinger, Tl,e ESCOLHAS
Murderers, e conforme confirmaram antigos agen-
pós 40 anos de secretismo, descobriu-se
tes do FBN,Anslinger forneceu ilegalmente morfina
a um senador americano - Joseph McCarthy -
durante anos a fio.
A através de um relatório divulgado em
1983 ao abrigo da Lei da Liberdade de Infor-
A razão apresentada por Anslinger no seu livro?
Fazia-o para impedir que os comunistas chanta- mação que Anslinger foi nomeado em 1942
geassem esle Gran~e Senador An_iericano dev!do :1 para um comité super-secreto encarregado
fraqueza da sua tox1codependtnc1a. (Dean Latuner, de desenvolver um "soro da verdade" para
Flowers ;,, tire Blood; 1Jenry Anslinger, Tlie o Gabinete de Serviços Estratégicos (OSS),
Murderers. ) o qual viria a transformar-se na CIA, a
Anslinger disse ao Congresso que os Agência Central de informações. (Rolling
comu nistas venderiam marijuana aos Stone, Agosto de 1983.)
rapazes americanos para minar a sua Anslinger e o seu grupo de espiões es-
vontade de lutar - tornando-nos uma
nação de zomb ies pacifistas. Como é evi-
dente, sempre que podiam) os comu-
nistas da Rússia e da China ridicula-
rizavam esta paranóia americana sobre a
marijuana na imprensa e nas Nações
Unidas.
Infelizmente, a ideia da erva e do paci-
fismo recebeu tanta cobertura sensa-
cionalista por parte da imprensa mun -
dial d urante os 20 anos seguintes que,
eventualmente, a Rússia, a China e os
países comunistas ~o bloco oriental (qu_e
cultivavam cannab1s em grande quanti- WEIRD ORGIES
dade) proibiram a marijuana com receio WILD PARTIES
de que a América a vendesse ou usasse
para tornar os seus soldados dóceis e
pacifistas! Cartaz de filme ontimarijuana rodado
o facto era assaz estranho porque a nos anos 40.
Rússia, a Europa Oriental e a China vi-
nham a cultivar e ingerir cannabis como colheram como primeiro soro da verdade
medicamento, relaxante e tónico laboral da América o "óleo de mel': uma forma
há centenas ou mesmo milhares de anos, muito pura e quase insípida de óleo de
sem que alguma vez tivessem tencionado haxixe, a ser administrado na comida a
legislar a marijuana. espiões, sabotadores, prisioneiros mili-
(O]. V. Dialogue Soviet ~ress Digl!st, Outubro de tares e outros que tais, para os «fazer
990 noticiava um com~rcio florescente de cânha- despejar a verdade" involuntariamente.
~o iÍegal, apesar d~s ~~forços frenétic_os das ~1stitu-
Quinze anos depois, em 1943, o grupo
ições policiais soviéticas para erradicá-lo. Só na
Quírzíguia as plantações de cãnha.m~ ~cupam 30~0 de Anslinger rejeitou os e).'tractos de ma-
h ectares'~ Noutra regjão, os ·russos vrn1am três dias rijuana como prin1eiro soro da verdade
até "um dos locajs mais s,mstros d~ dcserto de
'
da América porque se constatou que eles
MoJyn-Kumi", para colherem _uma vnnedade de e~• n em sempre eram eficazes.
nhamo de alta qualidade e resistente à seca conheci-
As p essoas que eram submetidas a inter-
do localmente como "anasha':)

47
rogatórios tendiam a sofrer ataques de risa- divulgado de acordo com a Lei da Liber-
dinhas, ou então riam-se histericamente dade de lnformação, e que os tribunais
dos seus captores, ficavam paranóicas ou não podiam anular a decisão da agência.
sentiam um apetite insaciável (seriam os Como àparte, diga- e que a revogação
m,mchies?). O relatório assinalava também desta Lei da Liberdade de Informação foi
que os agentes americanos do OSS e de um dos principais objectivos da Admi-
outros grupos de interrogatório começa- nistração Reagan/Bush/Quayle.
ram eles próprios a u:;ar ilegalmente o óleo (EdJton.us pubhados cm 19~ no LJL Tim~
de mel, não o ministrando aos espiões. 1o Tht Orq:01111111, ttc.; L«. Martin, t Schlain, Bruce,
relatório final do grupo de Anslinger sobre And Drr"ms. Gro,t Prt». ~I. 1985.J
a marijuana como soro da verdade não era
referida qualquer violência c::ausada pela COMPORTAMENTO CRIMINOSO
droga! De facto, o oposto era indicado. O
ntes de, em Anslinger ter insti-
OSS e mais tarde a CIA continuaram as
investigações e experimentaram outras Agado 1948,
o pânico de zombies pacifistas
drogas como soro da verdade; cogumelos fumadores de marijuana, ele usou publi-
de psilocibina ou amanita muscaria, e LSD, camente a música jazz., a violência e os
para referir apenas algumas. "ficheiros sanguinários'' durante mais
A CIA testou secretamente estes pre- cinco a sete anos (1943-50) na imprensa,
parados em agentes americanos durante em convenções, conferências e audiên-
20 anos. Houve pessoa i nsuspeitosas
cias do Congresso.
que saltaram de edifkios abaixo, ou jul- Sabemos agora que no tocante ao câ-
garam que tinham enlouquecido. nhamo, djsfarçado de marijuana, Aos-
Nos anos 70, após 25 anos de negações, linger era um polícia-burocrata men-
as nossas autoridades admitiram final- tiroso.
mente ter feito tudo isto ao seu próprio Há mais de 60 anos que os americanos
povo - drogado cidadãos, soldados e vêm a ser educados na aceitação dos pro-
fu ncionários públicos inocentes, invo- nunciamentos de Anslinger sobre a erva
luntários e insuspeitosos - tudo em - da ,•iolência ao pacifismo maléfico e
nome da segurança nacional, claro. chegando finalmente à inOuéncia cor-
Estas agências americanas de "segu- ruptora da música.
ra nça" fizeram ameaças constantes a in- ~ impossível ter a certeza se isto foi
dividuas, famOias e organizações, e inspirado por moti,·os económicos ou
chegaram a prender pessoas que sugeri- raciais, ou mesmo se se deveu a uma mú-
ram que havia quem tivesse sido droga- )ica cheia de vitalidade, ou a alguma es-
do involuntariamente. pécie de histeria sinergica. Sabemos e
Passaram-se três décadas até a Lei da que a informação di eminada pelo go-
Liberdade de Informação ter obrigado a verno dos E.U.• ou seja, a DEA, sobre a
CIA a admitir as suas mentiras, as quais cannabis era entlo, e continua a ser, uma
foram expostas pelo programa televisi- mentira deliberada.
vo da CBS 60 Minutes, e ou tros. Porém, Como se verá nos capitulos seguintes,
em 16 de Abril de 1985, o Supremo Tri- o peso dos factos empiricos e as grandes
bunal dos E.U. determ inou que a CJA quantidades de c,•idtncio corroboradora
não era obrigada a revelar as identida- indicam que as anteriores administra-
des nem dos indivíduos nem das insti- ções Reagan/Bush/Quayle, juntamente
tuições que tinham estado envolvidos com as suas inéditas ligações às empresas
nesta farsa. fannacêulkas (\'er caixa "Suborno Far-
O tribunal disse, de facto, que a C1A macêutico de Bush/Quayle/Lilly"), pro-
podia decidir aquilo que devia ou não ser vavelmente conspiraram aos mais altos

48
níveis com o fim de sonegar info rmação canos perderam milhões de anos em
e desinformar o público, o que resultou te mpo de prisão, e milhões de vidas
na morte evitável e desnecessária de foram e continuam a ser arruinadas por
dezenas de milhares de americanos. aquilo que teve início como as ver-
E fizeram-no, ao que tudo indica, para go nhosas falsidades económicas, viciosos
tentar salvar os seus investime ntos - e insultos racistas e gosto musical precon-
os dos seus amigos - nas indústrias dos ceituado de Hearst, Anslinger e DuPont.
fármacos, da energia e do p apel; e para
conferirem a estas indústrias venenosas e Notas:
sintéticas uma vantagem abjssal sobre o 1. Abel, Ernest, Marijuana, the First 12, 000 Years,
cânhamo natural e assim pro tegerem os Plenum Press, NI, 1980, págs. 73 e 99.
milhares d e milhões de dólares em lucros 2 . Sloman, Larry, Reefer Madness, Grove Press,

anuais que se aprestavam a perder caso a lnc., Nova lorque, L979, pág. 40.
3. Ibid, págs. 196, 197.
planta do cânhamo/marijuana não tives- 4. Investigação dos drs. Michael AJdrich, Richard
se sido proibida! Ashley, Michael Horowitz, et al.; The High Times
Em consequência, milhões de ameri- E11qclopedia of Recreational Drugs, pág. 138.

PROCURA-SE
POLlTICOS SUBORNADOS, RESPONSÁVEIS APENAS
PERANTE AS GRANDES INDÚSTRIAS PAPELEIRAS,
PETROLÍFERAS E PETROQUÍMICAS, PROCURAM A

Cannabis Sativa L.
também conhecida por 1 'MUGGLES,,, "MARY JANE'',
"BIG REEFER", "MOTHER HEMP'', "KILLER WEED", etc.
Por ter uma acção dem asiado eficaz; por conspirar para minar ou iludir a
a utoridade totalitá ria; po r ameaçar indústrias entrincheiradas, receosas da
conversão aos meios naturais para inverter o dilema ecológico da Terra; por ~
0
.Q
ridicularizar todos aqueles que há muito se lhe opõem baseados numa
pseudociência rasca, histérica e falaciosa.
J
.!!
;
1---------------------------~_, 49
--
· Capitulo <~f~/ Seis
r~
-

A LITERATURA CLÍNICA SOBRE A


MEDICINA DA CANNABIS
A nossa autoridade aqui é o corpo de literatura q ue tem início com anti-
gas materias medicae - farmacopeias chinesas e hindus e tabuinhas
cuneiformes do Próximo Oriente - e prossegue até este século, incluindo
a renascença dos estudos sobre a cannabis ocorrida nos E.U. entre 1966 e
1916, quando foram efectuados cerco de I 0.000 estudos separados sobre
as propriedades terapêuticos e efeitos da planta de cânhamo.
As fontes principais para este capitulo sobre medicina são compêndios
globais destas obras da literatura clinica, bem como entrevistas em curso
com muitos investigadores.

CUIDADOS DE SAÚDE VEGETAIS de 1969 att 1972; Dr. R.lphad Mcc.houlam, Univ. Tel
Av1v/Jerusalém, 1964-' 4; Monografia de W..B.
ECONÓMICOS E ACESSÍVEIS O' haughnesi.)', 1839; Estudo j.tm;ucanos sobre os
urante mais de 3500 anos, dependen- efeitos da marijuana a longo prazo, 1 e II, 1968-74;
D do da cultura ou da nação, a planta
~tudo) c:o ta rriquenho até 19 2 , Estudo~ do cop-
t3-" do) E.U., 19 1; Ungerlieder, Estudo militare
de cannabis/cânhamo/ m a rijuana foi a americanos realiza~ n<» ano soe 60.)
mais usada ou uma das mais usadas na
co nfecção de medicam entos. Isto inclui SUPERESTRELA DO SÉCULO XIX
a China, a fnd ia, o Médio e PróJcimo
marijuana foi o principal analgésico
Orientes, a África e a Europa pré-Igreja
Católica Romana (anterior a 476). A u ado na América durante 60 ano ,
O dr. Raphael Mechoulam, a NORML, a ntes da rede.scoberta da aspirina por
e as revistas High Times e Omni ( e- volta de 1900. De de 1842 até 1900, a
tembro de 1982) indicam todos que se a cannabís representa, a metade de todo
marijuana fosse legal ela substi tuiria de os remédios vendido , sem que a ganza
imediato entre 10 a 20% de todos os me- re ultante causasse o mínimo receio.
d icamentos legais (com base em investi- Em 1839, o dr. \\'. B. O ' haughnessy,
gações efectuadas até 1976). E Mechou- um dos membro mais re peitados d a
lam calcula que entre 40 a 50% de todos Academia Real de Ciência, publicou um
os medicamentos, incluindo os fármacos relató rio obre os u o da cannabi que
patenteados, poderiam conter a lgum foi tão importante para a meclicina oci-
extracto da planta de cannabis quando a d ental de meado do culo XIX como a
composição desta for completamente in- descoberta dos antibióticos (penicilina,
vestigada. terramicina, etc.) para a m edicina de
(Leia-se a investigação patrocinada pelo governo
meados do écuJo XX.
dos E.U. tal como resumida por Cohen e Stíllman, O Comitl sobre a Cannabis Indica da
Tliernpeutic Potentin/ of Marijunr,n, 1976; Roffman, Sociedade Médica do Estado do Ohio
Roger, Marijuana as Medicine, 1980; Mikuriya, Dr. coticluiu mesmo que "comentadores
Tod, Marij11nna Medical Papers, 1972; Ver também o [exegetas} da Biblia" acreditam "que o
trabalho dos drs. Norman Zinbcrg, Andrew Weil e
Lester Grinspoon; e os relatórios da Comissão Prt- f el e o vinagre> ou vinho mirrado, ofere-
sidenciaJ do Governo dos E.U. IComisslo ShafTcrl cido ao nosso alvad.or imediatamente

50
antes da sua cruci- autorizados sequer a debruçar-se sobre a
fixão era, com toda m edicina da cannabis.
a probabilidade, um O d elta-9-THC foi isolado em 1964
preparado de cânha- pelo dr. Raphael Mechoulam d a Univer-
mo-da- fndia'~ sidade de Tel Avive. O seu trabalho con-
(Transcrições, Soci.cda- firmou o do professor Taylor, de Prin-
dc Médica do Estado do ceton, que lidera ra a investigação e iden -
Ohio. 15° encontro anuaJ,
tificação dos precursores naturais do
12- 14 de Junho de 1860,
págs. 75-100.) delta-9-THC nos anos 30 . Kahn, Adams
e Loewe trabalharam igualmente com a
Desde 1850 até 1937,
estrutura dos ingredientes activos da
a ca1mabis foi pres-
cannabis em 1944.
crita na farmacopeia
Desde 1964, isolaram-se na cannabis
dos Estados Unidos
mais de 4 00 compostos diferentes, a par-
como o principal me-
t ir de mais de mil compostos suspeitados.
dicamento para ma.is
Pelo menos 60 dos compostos que foram
de cem enfermidades
isolados são terapêuticos. Os Estados
e problemas de saúde
Unidos, porém, proibiram este tipo de
diferentes.
Durante todo este investigação através da autoridade buro-
tempo (pré-1000 até c rática de Anslinger até à reforma com-
Extracto de pulsiva deste em 1961. ( Omni~Set. 1982.)
cannabis circa 1940), os inves-
fabricado p ela tigadores, os m éd i-
cos e as empresas
ACEITACÃO
, CRESCENTE
Park.e -Davis no
século XIX. farm acêuticas (Lilly,
Parke-Davis, Squibb, E ~ 1966,milhões de jovens americanos
tmham começado a usar marijuana.
etc.) desconheciam por completo quais Instadas por pais preocupados, desejosos
eram os ingred ientes activos da ca nnabis, de sab er quais os perigos que os seus fi-
até o dr. R. Mechoulam descobó r o THC lhos corriam, as autoridades começaram
em 1964. a financiar dezenas e mais t arde centenas
de estudos médicos sobre a marijuana.
INVESTIGAÇÃO NO SÉCULO XX Entrincheiradas nas mentes da geração
omo se esboço~ ~os capí~ulos ant~- mais idosa estavam 30 anos de histórias
C riores, a Associaçao Médica Ameri-
cana (AMA) e as empresas farmacêuticas
de terror contadas p ela dupla Anslin-
ger/ Hearst: assassínio, atrocidades, vio-
testemunharam contra a Lei de Taxação lação e mesmo pacifismo zombie.
da Marijuana de 1937 porque era sabido As investigações patrocinadas pelo go-
que a cannabis possuía um imenso po- verno federal começaram a dissipar os
tencial m édico e nunca causara qualquer receios que os americanos sentiam de que
dependência observada ou morte por a cannabis causava violência ou pacifismo
sobredosagem. zomb.ie, e centenas de n ovos estudos su-
A AMA e as farmacêuticas argumen- geriram que oculto no interior da química
tavam que uma vez isolados os ingredi- das plantas de cânhamo jazia um arsenal
entes activos da caru1abis (tais como o m édico de incrível potencial terapêutico.
delta-9-THC) e determinadas as dosa- As autoridades financiaram um número
gens correctas, a cannabis poderia tor- crescente de estudos.
nar-se uma droga- milagre. Em breve, dúzias de pesquisadores
Vinte e n ove an os passariam> porém , americanos obtinham indicações positi-
antes dos cien tistas americanos serem vas usando can nabis no tratamento de

51
asma, glaucoma, náusea decorrente da Francoforte, Alemanha, Mechoulam
quimioterapia, anorexia, tumores e epi- djsse que continuava a acreditar que a
lepsia, bem como an ti biótico de uso cannabis é o melhor remédio generalista
geral. Os resultados cumulativos mostra- do mundo.
vam provas da ocorrência de resultados
favoráveis em casos de doença de Parkin- PROIBIDA A INVESTIGAÇÃO
son, anorexia, esclerose múltipla e dis- SOBRE A MARIJUANA
trofia muscular; além de milhares de da-
orém, em 1976, exactamente quando a
dos episódicos todos merecendo um
estudo mais aprofundado. P inve tigação pluridisciplinar sobre a
Antes de 1976, relatos de efeitos posi-
marijuana devia e tar a entrar nos seus
tivos e de novas indicações terapêuticas estudos de egunda, terceira e q ua rta ge-
ração (ver Tfrerapeut,c Potential of Mari-
para a cannabis eram pratic.amente ocor-
juana e ficheiros federais compilados pe-
rências semanais nos jornais médicos e
na imprensa mundial. la OR.Ml), uma polttica " urpre a" do
governo do Estado Unido voltou a
CONFERÊNCIA NACIONAL proibir toda a prometedora investigação
ELOGIA O POTENCIAL federal obre os efoíto terapêuticos da
TERAPÊUTICO DA CANNABIS martJuana.
Desta vez, a proibiç-jo da inve tigação
m Novembro de 1975, virtualmente foi imposta quando a empresas farma-
E todos os principais investigadores cêutica americanas peticionaram com
americanos da marijuana reuniram-se suce o o governo federal no sentido de
no Centro de Conferências AsiJomar, em lhes er permitido financiar e avaliar toda
Pacific Grove, CaJifómia. Os seminários a investigação médica.
foram patrocinados pelo Instituto Na- Os anteriores 10 anos de inve tigação
cional de Abuso de Drogas ( IDA) para tinham mdicado que o uso terapêuti-
abordar um conjunto de estudos co- cos da cannabis natural eram incrivel-
brindo as suas descobertas, das mais mente prometedore , potencia] e e que
antigas às mais recentes. foi dhcretamente pa sado para a mão
Quando os seminários terminaram, das grande empresa - não para bene-
praticamente todos os cientistas concluí- ficiar o público ma im para supnmir a
ram que, dadas as provas concretas informação médica.
reunidas até ao momento sobre o poten- De acordo com a petição do fabrican-
cia] terapêutico da marijuana, o governo tes de medicamento , este plano daria às
federal devia apressar-se a inve tir rendi- empresas farmaceuncas prn adas tempo
mentos fiscais em investigação adicional. suficiente para produzirem i ersões sinté-
1

A opinião era que os contribuintes de- ticas patenteá,•cis da moléculas da can-


viam ser informados da existência de to- nabis, sem qualquer custo para o gover-
das as razões legítimas para que o campo no federal e a troco da promessa de ela
da saúde pública continuasse a pe quisa serem li, res de ganza".
em larga escala sobre a medicina e as te- Em 1976, J dministração Ford, o
rapias da cannabis. Todos os participan- i IDA e a DEA dedarararn que, para to-
tes, assim parece, acreditavam nisto. dos o~ efeito , nenhuma inve tigação in-
Muitos deles (como Mechoulam) acredi- dependente (leia-se: uni\e~itária) ame-
tavam que a cannabis seria um dos prin- ricana, ou programa fi deraJ de saúde,
cipais remédios do murado em meado voltaria a er autoriado a investigar
da década de 80. Em Março de 1997, num derivad naturais d.1 cannabi para fin
discurso proferido na Bio-Fach em médico . Este acordo foi feito em quai -

52
A investigação revelou indicações positivas quanto ao uso de
cannabis no tratamento de asma, glaucoma, náusea causada por
quimioterapia, anorexia e tumores, bem como antibiótico de uso
geral; epilepsia, doença de Parkinson, esclerose múltipla, distrofia
muscular, enxaquecas, etc. - todas estas doenças merecem
testes clínicos adicionais.

quer salvaguardas garantindo integridade cannabis se mantenha classificada como


por parte das farmacêuticas; elas foram narcótico da Cláusula Um - não tendo
autorizadas a autoregulamentar-se. qualquer utilização médica conhecida. O
Empresas farmacêuticas privadas rece- seu sucessor, Robert Bonner, que foi
beram autorização para fazer alguma in- nomeado por Bush e reconduzido por
vestigação ''livre de ganza,: mas apenas Clinton, foi ainda mais dracon iano na
sobre o delta-9-THC, e mais nenhum sua aproximação ao cânhamo/marijuana
dos outros cerca de 400 isómeros poten- enquanto remédio. Thomas Constanti-
cialmente terapêuticos que a cannabis ne, o actual administrador do DEA, no-
contém . meado em 1993 por Clinton, apoia políti-
Por que é que as companhias farma- cas muito piores ainda do que as de
cêuticas conspiraram para se apoderar Bonner.
da investigação sobre a marijuana? Por-
que as investigações conduzidas pelo go- Bem, se tudo isto é sabido desde 1975,
verno americano entre 1966 e 1976 ti- o nosso governo está à espera de quê?
nham indicado ou confirmado através
de centenas de estudos que mesmo a PROTEGENDO OS LUCROS DAS
cannabis crua «natura1,, era o "melhor e FARMACÊUTICAS
mais seguro medicamento que era pos-
NORML, a High T_im~s e a Omni (Se-
sível escolher-se,, para muitos problemas
sérios de saúde.
A tembro de 1982) rnd1cam que a Eli
Lilly Co., a Abbott Labs, a Pfizer, a Smith,
1988: JUIZ DA DEA DECRETA a Kline & French, e outras farmacêuticas
QUE A CANNABIS TEM VALOR perderiam anualmente centenas o u mi-
MEDICINAL lhares de milhões de dólares, e perderiam
milhares de milhões adicionais nos paí-
próprio juiz de direito administrati- ses do Terceiro Mundo, caso a marijuana
O vo da DEA, o conservador Francis
Young, depois de ouvir testemunhos mé-
fosse legal nos E. U. *
• Recorde-se que, em 1976, o último ano da
dicos durante 15 dias e de rever centenas administração Ford, estas empresas farmacêuticas,
devido à sua insistência (especificamente através de
de documentos da DEA e do NIDA,
intenso lobbying), conseguiram que o Governo
antagonizando a evidê~~ia apresenta~a Federal proibisse toda a investigação positiva sobre
pelos activistas da manJuana, concluiu a marijuana médica.
ero Setembro de 1988 que (<a marijuana é
uma das mais seguras substâncias tera- ENFIANDO A RAPOSA NA
peuticamente activas co nhecidas do CAPOEIRA DA SAÚDE PÚBLICA
Homem".
s empresas farmacêuticas apodera-
Mas apesar desta preponderância de
provas, John Lawn, o director da DEA, A ram-se de todos os projectos de in-
vestigação sobre análogos sintéticos de
ordeno u em 30 de Outubro de 1989 que a

53
THC, CBD, CBN, etc., bem como do as administrações Reagan/Bu h/Clinton
respectivo financiamento, prometendo querem legalizar unicamente o THC sin-
desenvolver produtos "livres de ganza» té tico porque de outro modo extracto
antes de colocá-los no mercado. A Eli simple das entenas de ingrediente da
Lilly lançou o Nabilone e mais tarde o droga crua da cannabi eriam desfruta-
Marino!, primos sintéticos em segundo dos sem que a farmacêuticas detivessem
grau do delta-9-THC, e prometeu gran- as uas patentes, a quai · geram incon-
des resultados ao governo. táveis lucros monopolista .
Em 1982, a revista Omni afirmou que,
ao fim de nove anos de uso, o Tabilone MINANDO A COMPETIÇÃO DAS
continuava a ser considerado virtual- MEDICINAS NATURAIS
mente inútil quando comparado com
Eli Lilly, a Pfizer e ou tras farmacêuti-
copas de cannabis de cultivo caseiro, que
são muito ricas em THC; e o Marino} A cas arri cam- a perder um terço do
monopólio altamente lucrativo das pa-
funciona tão bem como a marijuana em
apenas em 13% dos casos. tentes que detêm obre droga tais como
Os utilizadores de marijuana estão de o Darvon, o TuínaJ, o e onal e o Prozac
acordo em que n ão gostam dos efeitos do (bem como outro farmaco patenteado
Nabilone ou Marino] da Lilly. Porquê?~ indo de pomadas mu culares e ungento
preciso tomar-se três ou quatro veze para queimaduras até milhares de outros
mais Nabilone ou Marinol para por vezes produtos) devido a uma planta que qual-
se conseguirem os beneficios de fumar quer pe soa pode cultivar: o cãnhamo-
boas copas de cannabis. -de-cannabi .
A Omni afirmou ainda em 1982 (e con- ão é curioso que, na América, empre-
tinua a ser verdade em 1999) que após sas produtoras de fármacos e grupos de
terem sido gastos dezenas de milhões de farmacêutico • forneçam quase metade
dólares e nove anos de investigação dos do financiamento para as 4000 organiza-
sintéticos de marijuana médica, "estas ções do tipo "Família Contra a Marijua-
empresas farmacêuticas fracassaram to- na"? A outra metade é fornecida pela
talmente", muito embora a cannabis crua Action, uma agéncia federal, e por taba-
e orgânica seja um "remédio superior" queira como a Philip Morris, fabricantes
que funciona tão bem naturalmente, e de bebidas alcoólicas e ceneja como a An-
em tantas enfermidades diferentes. hauser Busch, a Coor5, etc.• ou as agência
A Omni sugeriu também às farmacêu- de publicidade que representam essa em-
ticas que, no verdadeiro interesse da presa , agindo na forma de prestadoras de
saúde pública, peticionassem o governo u erviços públicos~

no sentido de ser permitida a comerciali- · Farrnaccuuco Contra o Abuso de Drogas, ~te.


zação de "extractos crus da drogan. Até à
data, nem o governo nem as farmacêuti- ENVENENANDO O TERCEIRO
cas responderam. Ou melhor, responde- MUNDO
ram ignorando a interpelação. Entretan-
to, as administrações Reagan/Bush/ Clin- EI Ticmpo de Bogota, o maior jornal
ton têm-se recusado terminantemente a O da Colômbia, noticiou em 1983 que
autorizar o recomeço da investigação estas me mas fannacêuticas americana
real ( universitária) sobre a cannabis, em cruzada contra a marijuana eram
excepto na forma de estudos farmacêuti- culpadas de uma prática conhecida por
cos sobre derivados sintéticos. .. dumping de produtos': egundo a qual
A Omni sugere, e a NORML e a High " vendem no merLado retalhistas da
Times concordam, que as farmacêuticas e Colômbial México, Panamá, Chile, El

54
UM ._RAP" INJUSTO PARA O CÂNHAMO

pós 20 anos de estudo, o Painel ram rejeitadas. A cannabis era outrora


A Consultivo da Investigação da Ca-
lifórnia (RAP) rompeu com o gabi-
o tratamento de eleição para dores de
cabeça vasculares ou enxaquecas. (Os-
nete do procurador-geral do estado, ler, 1916; O'Shaughnessy, 1839.)
sob cuja supervisão funciona, e exigiu A cannabis tem a característica
a relegalização da cannabis. ímpar de afectar a circulação vascular
'':f: insensato manter políticas e leis do revestimento d.o cérebro - as
sem as mudar, quanto mais intensificá- meninges. Os olhos avermelhados de
-las, tendo elas falhado tão obviamente mn fumador de marijuana são um
no controle dos danos individuais e reflexo desta acção.
sociais associados ao uso de drogas': Porém, ao contrário das outras dro-
sumariou o dr. Frederick Meyers, vice- gas, a cannabis não tem qualquer
-presidente do RAP, numa carta divuJ. efeito aparente no sistema vascular em
gada com as recomendações do grupo, geral, excepto provocar uma ligeira
após o procurador-geral ter suprimido o taquicardia quando se manifestam os
relatório do painel e os membros deste primeiros efeitos da droga.
terem decidido publicá-lo à sua custa. O RAP tem desencorajado o uso de
Isto constituiu uma reviravolta com- cannabis fumada, em favor de cápsulas
pleta relativamente ao longo historial sint éticas de delta-9-THC, apesar dos
do RAP em matéria de supressão do resultados comparativos favoráveis à
uso médico de cannabis. O .impacto a cannabis crua relatados à Administra-
longo prazo desta mudança é ainda ção dos Alimentos e Drogas [FDA).
uma incógnita. Este facto foi declaradamente esca-
O presidente do RAP, Edward P, moteado tanto nos relatórios que o
O'Brien, Jr., nomeado pelo procura- RAP apresentou à legislatura como no
dor-geral, que divergia das conclusões caso NORML vs. DEA. Adicionalmen-
do painel, dominava este grupo há te, estes memorandos comparando
anos, controlando rigidamente que favoravelmente a cannabis fumada
tipo de investigações sobre a cannabis com o THC oral foram enterrados em
eram autorizadas - e limitando essas apêndices desses relatórios - os quais
aplicações ao contr~le da náusea_ e são consultáveis em apenas quatro lo-
vómitos que são efeitos secundános cais de todo o estado da Califórnia!
da quimioterapia contra o cancro. Em 30 de Setembro de 1989, o pro-
Sob O'Brien, o painel tergiversou grama de marijuana médica expirou
sistematicamente quanto ao seu man- silenciosamente, baseado na avaliação
dato para fornecer acesso médico feita pela equipa de que não tinham
compassivo à cannabis. Todas a~ ªJ:li- sido tratadas pessoas suficientes para
cações para o uso de cannab1s, m - justificar a sua extensão.
cluindo controle da dor, desordens - Dr. Tod Mikuriya
neurológicas espasmódicas, etc., fo- Berkeley, Cal., 1990

Salvador, Honduras e Nicarágua cerca de ricanas, o que indica que a prática con-
drogas ilegais e perigosas». Esta notí- tinua em 1998.
150
cia não foi contestada nem pelo governo A venda ou uso de algumas destas dro-
nern pelas empresas farmacêuticas ame- gas foi proibida nos E.U. e na Europa

55
pelas devidas instâncias de saúde, porque Dcnni Peron, fundador do Clube de
elas são reconhecidamente causadoras de Compradores de Cannabis em ão Fran-
desnutrição, deformidades e cancro. E no cisco, apresentou ao eleitorado da Ca-
entanto essas drogas são vendidas ao bal- lifórnia a Propo ta 215, uma iniciativa pa-
cão a anaJfabetos insuspeitosos! ra legalizar a cannabis como medicamen-
A Organização Mundial de aúde con- to no e tado. A Iniciativa da Marijuana
firma estas noticias com uma estimativa 1édica recolheu 750.000 assinaturas. foi
conservadora, segundo a qual cerca de integrada no plebiscito da Califórnia e
500.000 pessoas são envenenadas anual- aprovada com 56% do voto em 'o-
mente em países do Terceiro Mundo por vembro de 1996. gora, em 1998, centenas
artigos ( drogas, pesticidas, etc.) vendidos de milhar de californianos estão a culti-
por companhias americanas, mas cuja var manJuana m~ca legalmente. ão
venda está proibida nos E.U. J4 obstante, o gm.erno federal, em clara opo-
Revista Motlier )ones, 1979, "Unbroken C1rcle~ sição ao mandato popular, descobriu for-
Junho de 1989; Tlie Progress,ve, Abril de 1991; et al mas de intimidar o · clubes de compra-
dores/cultivadore de cannabi, encerran-
A DESTRUIÇ~O DOS REGISTOS do a ma1oria, incluindo o de Peron.
PUBLICOS E interessante constatar que, em l99Ó:>
mnis eleitores califomin,ros votaram a
os cerca de 10.000 estudos que foram favor da marij uana médica do que por
D realizados sobre a cannabis, 4.000 Bill Clinton.
dos quais nos E.U., apenas cerca de uma Em Agosto de 1997, completado quase
d úzia revelou quaisquer resultados ne- um ano apó a aprm-ação da Proposta 215
gativos, e estes nunca foram repetidos. A pelo sufrágio maioritário, uma ondagem
Administração Reagan/Bush lançou uma do LA Times revelou que mais de 67% dos
((sonda" em Setembro de 1983, sugerindo californianos votariam agora a seu favor
às universidades e investigadores ameri- - um aumento de 11% no primeiro ano.
canos que destruíssem todo o trabalho Em Março de 1998, noventa e eis por
de investigação feito com a cannabis no cento dos participante (quase 25.000
período 1966-76, incluindo os compên- pe oas) numa ondagem permanente
dios arquivados em bibliotecas. da CN1 na Internet di eram "apoiar o
Os cientistas e médicos ridiculariza- uso de marijuana para fins médicos•~ Por
ra m a tal ponto esta inaudita tentativa contra te, só 4% dos inquirido {meno
censória que os planos foram abandona- de 1000 votante no total) declararam
dos ... de momento. opor-se ao uso de cannab1s por p ·oa
Sabemos porém que grandes quanti- eriamente enferma .
dades de informação desapareceram desde O!> californiano que btao a beneficiar
então, in cluindo a cópia original do filme da nova lei da mariJuana médica incluem
pró-marijuana realizado pelo U DA. agentes da policia, promotores públicos e
Hemp for Victory. Pior ainda, mesmo a presidente de camara. Algumas da me -
mais leve referência ao filme foi apagada 111as pessoas que anteriormente prende-
dos registos oficiais até 1958, obrigando ao ram e processaram cidadJo por posse de
seu meticuloso restabelecimento como marijuana, médica ou outra, estão agora a
parte dos nossos arquivos nacionai . usa-la elas próprias ou as uas familias em
Muitas cópias de arquivo e referência do número sempre crescentes.
Bulletin 404 do USDA desapareceram. Em Março de 1998, ao reentrar nos
Quantos mais conhecimentos insub ti- tado unido ,•mdo do Canadá, o resi-
tuíveis terão já sido perdidos? dente da Califórnia Kareem Abdul-Jabbar,
Entre o final de 1995 e o início de 1996, o melhor marcador na história do bas-

56
q uetebol profissional, foi detido por posse Entre os milhares de actores, músicos e
de wna pequena quantidade de marijua- escritores da Califórnia que agora usam
na. Depois de pagar uma multa de 500 marijuana médica, encontra-se o famoso
dólares à Alfândega dos E.U., Abdul- autor Peter McWilliams, que padece de
-Jabbar explicou à imprensa que, enquan- SIDA e cancro. Diz ele: "Se não fossem os
to cidadão da Califórnia, estava na posse vendedores ilegais de erva (antes da Pro-
de um atestado passado por um clínico posta 215) não haveria como conseguir
para uso de marijuana m édica. marijuana e hoje eu n ão estaria vivo. A
Teoricamente, os atletas profissionais e marijuana alivia as minhas n áuseas e per-
universitários residindo na Califórnia a mite-m e reter no corpo os alimentos e as
quem um clínico tenha passado um ates- pastilhas que sou obrigado tomar para
tado para uso de marijuana médica não combater as minhas doenças. O governo
são obrigados a submeter-se a testes à uri- federa l que se foda. Se precisarem dela,
na para detecção de cannabis. usem- na>:

Despacho distribuído pela AFP (Agência France Prene) em 10 de Outubro de


1995:

AFP 101139 GMT Oct 95


zczc
00049 BRZIAFP-AQA2 -
r e China-longevidade I O - I O O166
LONGEVIDADE DE HABITANTES DE DISTRITO CHINÊS ATRIBUfDA À
ERVA

PEQUIM, 10 out (AFP) - Os habitantes de um distrito do sudoeste da China


estão a atribuir à erva, que faz parte da sua dieta, a longevidade de vórios
membros da comunidade, que chegam a ultrapassar a barreira dos I 00 anos,
informou esta terça-feira a agência noticiosa chinesa Xinhua.
Esta última revelou que o distrito autónomo de Bama Yao, na provinda de
Guangxi, aumentou este ano a área de cultivo de erva e milho, alegando que
se trata de vegetais uexcelentes para a saúde" .
Embora a notícia nao mencione os efeitos narcotizantes da erva, nem o fac-
to de ela ser ilegal na China, ressalta o enorme sucesso da dieta local e das
6'bebidas medicinais,, para obtenção da longevidade.
o censo de 1990 mostrou que entre a minoria yao da população do distri-
to, que chega a um total de 220 mll pessoas, 69 tinham I 00 anos ou mais;
226, entre 90 e 99 anos; e outros 1724, pelo menos 80 anos.
tblsb

AFP 101141 GMT oc;t 95

57
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Uma visão cada vez mais frequente: charros de marijuana m,dlca.


Foto de Andre Grossman.
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O USO TERAPÊUTICO DA CANNABIS


A cannabis contém mais de 60 compostos dotados de acção curativa em
tera-pias médicas ou vegetais. O ,principal é o THC, e a eficócia da terapia
é directamente proporcional à potência, ou concentração, deste compos-
to na erva. Noticias recentes veiculadas ,pela DfA referindo variedades
mais potentes de marijuana representam pois um avanço médico da maior
;mport8ncia; mas, incrivelmente, as autoridades usam estes dados para so-
licitar verbas acrescidas para combater a erva e penas mais severas para
os seus utilizadores.
Em 5 de Novembro de 1996, 56% dos cidadãos da Califórnia votaram a fa-
vor da Lei do Uso Compassivo (iniciativa sobre marijuana médica), abolin-
do todos os esforços legais do estado com vista a impedir os cidadãos da
Califórnia de usarem a marijuana como medicamento.
Em Novembro de 1996, os cidadãos do Arizona aprovaram igualmente, por
uma margem maior ainda - 65% -, um plebiscito que retira a classifica-
ção de ,droga à marijuana médica, entre outras substãncias, o qual foi
apoiado, entre outros, pelo falecido senador conservador Barry Goldwater.
Exercendo pela primeira vez em 90 anos o seu direito de veto sobre os
plebiscitos realizados no estado, o governador e a legislatura do Arizona fi-
zeram abortar esta iniciativa aprovada pelo povo. Zangados, os cidadãos
do Arizona responderam angariando mais de 150.000 assinaturas num pe-
ríodo referendário de 90 dias, tendo reapresentado prontamente a iniciati-
va sobre marijuana médica para ser plebiscitada em Novembro de 1998.
O que se segue explica como as pessoas beneficiarão quando o juízo e a li-
berdade de escolha de médico e doente voltarem a ser respeitados.

AVISO
O AUTOR E CIENTISTAS E CLÍNICOS RESPONSÁVEIS
ADVERTEM:
Como acontece com qualquer outra droga, o uso de cannabis pode provocar reacções
adversas. Uma pequena pcrcentngem de pessoas tém reacções negativas ou alérgicas à
marijuana. Os doentes ca~d~ncos podem te~ p~ohlemas, e1~bo~a em_gcral a cannabis alivie a
tensao, dilate as arten..1~ e em geral <.l11111nua J pressao d1ast6hca. Uma pequena
percentagem de pessoru; experimentam taquicardias especialmente elevadas e sentem
nsiedades quando usam cannabis. fatos pessoas não deveriam usá-la. Alguns padecentes de
ª asma bronquial beneficiam da cannabis; para outros, porém, ela poderá servir como
irritante adidonal.
para a esmagadora maioria das pessoas. a cannabis demonstrou possuir literalmente
centenas de usos terapêuticos. Entre eles:

59
1. ASMA rin , nem há qualquer ri co dos ocasio-
nai síndromas de morte súbita associa-
ais de 15 milhões de americanos so-
M frem de asma. O fumo da cannabis
(aguilo a que a AMA chamava a "droga
dos às drogas ou gotas farmacêuticas le-
gais receitadas para glaucomas.
Durante as décadas de 70, 80 e 90,
c rua") seria benéfico para 80% deles, e muitos oftalmologi tas da Califó rnia
no seu conjunto prolongaria entre 30 a aconselharam discretamente os seus
60 milhões de anos-pessoa a vida dos doentes a usar marijuana "de rua'' junta-
actuais asmáticos por relação com os mente com os seus medicamentos tóxi-
medicamentos tóxicos presentemente cos legais contra o glaucoma, ou para mi-
legais, como a Teofilina que é receitada às tigar a acção de. tes.
crianças. Desde tovembro de 1996, os médicos
"Há casos confirmados em que fumar da Califórnia podem de forma legal re-
uma passa de marijuana parou um ata- comendar, acon elhar ou aprovar tacita-
que de asma'~ (Comunicação pessoal mente o u o de cannabis pelos eus
com o dr. Donald Tashkin, 12 de doentes padecendo de glaucoma, os
Dezembro de 1989, e 1 de Dezembro de quais são então livre de cultivar e fumar
1997.) De acordo com a literatura clfnica, a ua própria marijuana, ou dirigir-se
o uso da cannabis como antiasmático re- ao~ poucos Clubes de Compradores de
monta há milhares de anos. Os médicos Cannabis remanescentes para adquirir
americanos do século passado publica- marijuana médica.
ram relatos laudatórios sobre o cânha- (H.trvard, Hepler e Frank, UCLA; Colégio
19.,1,
mo-da-índia (a cannabis), referindo que Mtdico da Georg13; ~cola de Medicina da
os asmáticos do mundo inteiro o ccaben- Unive~idade da Carolina do 'orte, 1975; Cohen e
çoariam" todas as suas vidas. tillman, Thcrapeut1c Potmtial of Marijuana,
UCLA, 1976, lnsttruto , acional de Oftalmologia;
Hoje, dos 16 milhões de americanos as- RegtStos de Bob Randolph/EJvy Mu.sika, 1975, 19 8.)
máticos, apenas os califomjanos, com um
atestado médico, podem cultivar e usar
3. TUMORES
legalmente remédios de cannabis, embora
este seja em geraJ o tratamento mais eficaz m tumor é um aglomerado de tecido
que existe para tratar a asma. U inchado. lnve tigadores do Colégio
Médico da Virgínia descobriram que a
{Tashkin, Dr. Ronald, Estudos Pulmonare~ da
UCLA, 1969-90; lbid., estudos sobre asma, 1969- cannabis é uma en'cl incrivelmente eficaz
-1976; Cohen, Sidney e Stillman, Tlrernpc1uic Potm- na redução de muito tipo de tumores1
tial of Marijuana, 1976; f ndices Estatístico de Apó•
lices de Seguros de Vida; Efeitos encurtadores da vi-
tanto benigno como malignos (ca n-
da provocados pela asma infântil, 1983.) cero os).
A DEA e outras agencias federais ha-
2. GLAUCOMA viam ordenado a realização destes estu-
dos em tumores apó erem erronea-
atorze por cento de toda a cegueira
C na América deve-se ao glaucoma,
urna perda progressiva de visão. Fumar
mente informadas obre po síveis pro-
blemas imunológico asso iados ao há-
bito de fumar cannabis. fa em 1975, em
cannabis beneficiaria 90% das no as vez de ocorrerem problemas de saúde,
2.500.000 de vítimas de glaucoma, e é verificou- e uma aparen te revolução
duas a três vezes mais eficaz do que médica e registaram-se eficazes reduções
quaisquer medicamentos actuais usados de tumores!
para reduzir a pressão ocular. a equência de ta notável descoberta
Além disso, o uso de cannabis não tem positiva feita pelo Colégio Médico da
efeitos secundários tóxicos no figado e Vrrgínia, foram de imediato tran mitidas

60
ordens da DEA e do lnstituto Nacional seu sofrimento. O governador da Califór-
de Saúde no sentido de serem cancelados nia, Pete Wilson, seguia um rumo seme-
os financiamentos de todas as investiga- lhante até à aprovação da iniciativa da ma-
ções e acções de divulgação em curso so- rijuana médica em Novembro de 1996.
bre a relação cannabis/tumor! Milhões
de americanos que podiam estar hoje _5. EPILEPSIA, ESCLEROSE
vivos morreram devido a estas e outras MULTIPLA, DORES NAS COSTAS
ordens da DEA sobre a marijuâna. E ESPASMOS MUSCULARES
Desde 1996, o Colégio Médico da Virgí-
cannabis é benéfica para 60% de
nia voltou a solicitar a concessão de fim-
dos para fazer investigação sobre a canna-
A todos os epilépticos. É sem sombra de
dúvida o melhor tratamento para mu itos
bis, que foram recusados pela DEA.
tipos de epilepsia, mas não todos, e para
4. ALÍVIO DA NÁUSEA (P. E., NA os traumas mentais subsequen tes ao
ataque. O e>..1:racto de cannabis é mais
SIDA, TERAPIA DO CANCRO E e_ficaz do que o Dilantin (um anti-epilép-
ENJOOI tico vulgarmente receitado, com severos
mbora seja sabidxoa que a quimiote- efeitos secundários). A revista Medical
E rapia é extremamente lesiva para o sis-
tema imunitário, os seus proponentes
World News informou em 1971: "A mari-
juana (. .. ) é provavelmente o mais po-
pretendem que ela é benéfica para pade- tente antiepiléptico conhecido da medi-
centes de cancro e SIDA. Mas a quimioter- cina actual'~ (Mikuriya, Marijuana Medi-
apia tem al~uns .outros efeitos !ecund~- cal Papers, 1839-1972, página xxii.)
rios sérios, mclumdo a náusea. A man- Os ataques epilépticos sofridos por
juana é o melhor agente para o controle utilizadores de cannabis são menos
da náusea causada pelo tratamento qui- intensos do que os ataques mais perigo-
mioterápico de cancros," afirma o dr. sos que vitimam os utentes de fármacos.
Thomas Ungerlieder, que chefiou o pro- De igual modo, provou-se que fumar
grama californiano de investigações "Ma- cannabis pode constituir uma enorme
rijuana contra o Cancro': de 1979 a 1?84. fonte de aHvio para os sintomas da escle-
Este alivio da náusea também se verifica rose múltipla, doença que afecta o sis-
no tratamento quimioterápico da SIDA e tema nervoso e é caracterizada por fra-
mesmo nas perturbações estomacais ao queza muscular, tremuras, etc.
enjoo causado pelo movimento. A excepção da morfina viciante, a
os fármacos para controle da náusea cannabis, fumada ou aplicad a como
vêm na forma de pastilhas, as quais o emplastro de ervas ou cataplasma, é tam-
doente vomita muitas vezes logo após a bém o melhor relaxante muscular, o me-
ingestão. Dado que a cannabis é i_ngerivel lhor remédio para espasmos lombares e
corno fumo, ela mantém-se no s1sten1a e a melhor medicação antiespasmódica do
continua a agir mesmo se os vómitos nosso planeta.
Em Setembro de 1993, no condado de
continuarem.
Durante os 10 anos de vigfncia da lei da Santa Cruz, Califórnia, o xerife prendeu
Marijuana Mé~ca _Compas iva! George Valerie Corral, uma epiléptica, pela se-
Deukmejian, primeiro na qualidade de gunda vez, confiscando as cinco plantas de
procurador-gera~ e _então ~~~10 go~erna- marijuana que ela cultivava por razões
dor da Calif6rma, unposs1b1litou virtual- m édicas, embora 77% dos cidadãos de
ente que quaisquer padecentes mori- Santa Cruz tivessem votado em Novembro
:undos de cancro recebessem ca.nnabis, de 1992 no sentido de instruir os agentes
sem mostrar qualquer consideração pelo da lej locais a não perseguirem os uti-

61
lizadores de marijuana médica. Ante- cas eram feitos de ou com extracto de
riormente, em Março de 1993, as acusações cannabic;. r\t(. ao ano 60, o reumatismo
contra Carrol haviam sido retirada por era tratado atravo de toda a America do
ela ter sido a primeira pe soa na Califórnia ui com tolhas de. <.ãnhamo e/ou flo-
a cumprir todos os requisitos de uma defe- rescenuas aquecida., em água ou álcool e
sa baseada na necessidade médica. :iplic.ida nas J.rticulaçõe doridas. De
Em 1997, Valerie, que dirige um clube facto, e ta forma de medicina vegetal é
de uso compassivo de cannabi , foi eleita ainda largamente usada nas áreas rurais
Cidadão do Ano em Santa Cruz. do 1éxico, Aménca úmtral e do ul. e
(Cohen e tillman, 1'hernpeut1c Potmt, 1/ of pelo-. latinos d.a Cahfomia, para alivio do
Marij11n11a, 1976; ConsuJte. .;e a formarnpc1a do reumall mo e das dores artntica .
E.V. anterior a 1937; Mikuriya, Dr.Tod11 Mari111a -
O conta to din:do com o THC matou
na Medical Pt1pers, 1839-197.2.)
o víru do herpes num estudo de investi-
gação da Um,crsidade da Florida do ul
6. CBDs DESINFECTANTES E (Tampa) conduzido em 1990 pelo dr. Ge-
ANTIBIÓTICOS/ ANTIBACTERIAtS rald Lancz. o qual a, isa que "fumar ma-
e planta!) jovens de cannabis em co- rijuana não mata o herpes': Porém, relato
Dpa podem extrair-se CilD5 (ácidos episódico m<ltcam uma ecagem e cura
mais rápida da infecção após a aplicação
cannabidiólicos). Os cannabidiói tem
muitos usos como antibiótico, incluindo tópica de ..,opa polente" embebida em
o tratamento da gonorreia. Um estudo ákooJ de fricção e prensada numa pasta.
realizado em 1990 na Florida indicava o
seu uso no tratamento do herpes. 8. LIMPEZA DE PULMÕES E
Os cannabidióis são o lado ácido do EXPECTORAÇÃO
tetrahidracannabinol, ocorrendo poi cannab1 e o melhor expectorante na-
inversamente à quantidade de THC da
planta, o que os torna mais aceitáveis pa-
A tural para limpar o pulmõe huma-
no de ar poluído, poeira e flegma a o-
ra os proibicionistas porque "não dão ciado ao uso do tabaco.
moca'~ Em estudos reaJizados na Checos- O fumo de marijuana dilata efectiva-
lováquia entre 1952 e 1955, os derivado mente as v~ ~iratórias pulmonares -
da cannabis obtiveram melhore re ulta- o brônquio - , alargando-as de forma a
dos em virtualmente qualquer doença ou permiur a entrada de m.ús oxigénio no
infecção passível de ser tratada com ter- pulm~. t também o melhor dilatador na-
ram icina.3 Em 1989, os checos onti- tural das núnusculas , ias pulmonares, o
nuavam a publicar relatórios agrícola bronqwolos., o que toma a cannabis o me-
versando estratégias para o cultivo de câ- lhor dilatador bmnqwal para 80% da po-
nhamo rico em cannabidióis. pulação (o restante 20~ revelam por ve-
(Ver também Cohen e Stillman, 11tNU~utic Po- zes ligeiras reacções negath ).
tential of Marijuana, Mikuriya, Dr. Tod 11., Mari;ua-
na Medical Papers; Roífman, Man;uana ,u M~d,cme, (\c-r a ç..o - tt ma, unu doeuça cujos es-
1982; R~umos da Farm Crops lnternation.u.) pa.'1Tl0 bloquri.im ow \ ia.\ re)p ratârias; Estud ~
de T~n mi UCLA. 1969• 3; Estudo co tarrique-
nho a . 1; Em,Jo,, janukano 1968-~+)
7. ARTRITE, HERPES, FIBROSE A e, 1denc1a estall tica - que e revela
QUÍSTICA E REUMATISMO consistentemente tomo anomalia entre
cannabjs é um analgésico tópico.2 Até populaçoe~ comparadas - indica que a
A 1937, virtualmente todos os emplastros
de milho e de mostarda, unguentos mu -
pbSO~ que fumam cigarros de tabaco
gozam em geral de melhor aúde, e
culares e cataplasmas para fibro cs quísti- vh-e-rão mais tempo, e também fumarem

62
poral uma média de meio
grau, aliviando pois o stress. As
pessoas que fumam cannabis à
noite relatam em geral um
sono mais descansado.
O uso de cannabis permite
que maioria das pessoas tenha
wn repouso mais completo,
com uma maior quantidade
de "tempo alfa» durante o so-
nó, por comparação com fár-
macos sedativos ou indutores
de sono.
Os fármacos para o sono ( as
A marijuana médica obriga-nos a repensar a designadas drogas «legais, se-
relaçao que te mos com o fumo. Ilustração de guras e eficazes") não passam
amiúde de análogos sintetiza-
Agatha Laker ©.
dos de plantas verdadeira-
mente perigosas como a man-
cannabis moderadamente (es~dos reali- drágora, o meimendro e a beladona.
zados na Jamaica e na Costa. Rica.) Tão tarde como em 1991, os médicos,
Milhões de americanos abandonaram farmacêuticos e fabricantes de fármacos
os produtos de tabaco, ou evitam fu_má- estavam a combater nova legislação vi-
-los tendo-os trocado pela ca nnab1s, o sando restringi r estes compostos amiúde
que' não são boas notícias para o pode- abusados. (L.A. Times, 2 de Abril de 1991.)
ros lobby do tabaco - o Senador }esse . Contrariamente ao valium, a cannabis
º
H lms e os seus consortes. Uma arcaica não potencia os efeitos do álcool. Esti-
c11usula, datando da viragem do sécu~o, ma-se que ela poderia substituir mais de
na lei americana sobre o tabaco permite 50'% do Valium, Librium, Thorazine,
e seJ·am adicionados entre 400 a Stelazine e outras drogas terminadas em
que lh . O d'
6000 produtos qu1m1cos nov_os. s_a 1- "zine•: bem como a maioria das pastilhas
tivos acrescentados desde entao ao.c1gar- para dormir.
tabaco médio são desconhec1dos, e Inconscientemente, ao longo das últi-
ro d e d' . d
o público americano não tern o ,reito e mas duas décadas, dezenas de milhares
saber quais eles são. . . de pais obrigaram os filhos, de idades
Muitós joggers e ~~ratomstas con si- compreendidas entre os u e os 17 anos, a
deram que a cannabis lim~a os s~u~ p~J- tratarem-se com doses maciças das desi-
-
moes, con"erindo-Jhes
11 maior res1stenc1a. gnadas drogas "zine" com o fito de os
A evidência indica que o uso de canna- faze r abandonar a erva, instados por gru -
bis provavelmente aumentará cerca ~e um pos de pais, o governo federal e adminis-
a dois anos a vida destes fora-d~-le1 ame- tradores e médicos de centros de reabili-
. nos fumadores de cannab1s- mas tação de drogas aprovados federalmente,
nca d. .
eles estão sujeitos a perder os seus ire1tos, privados e altamente lucrativos.
h os, alvarás, etc., .por usarem essa Amiúde, as drogas "zine" fazem mesmo
b ens, fil .
. egura das substâncias: a canna 61s. estes jovens deixar de usar ganza. Mas
mais s
elas fazem também os miúdos deixar de
g_ SONO E RELAXAMENTO gostar do seu cão - e as crianças têm
cannabis reduz a pressão a rterial, dilata uma hipótese em quatro de ficar a sofrer
~ s artérias e reduz a tem perat um cor- de tremuras incontroláveis para o resto

63
de de ,•1da de milhões de sofredores e
CIGARROS INDIANOS prolongando o seu período de vida.
Desde 1976, o governo dos E. U. e a
Ji1;,uw :o:a • CAHNABtS I NDICA
DEA, em a dizer que o e-feito colateral de
.-G RIMAU1Tec-'.,hw._pillS fumar marijuana, a "pedrada': não é acei-
,,,.,.,.. ..... !11!, ·• •: , ... 4e ......,..... tavel, por mais anos ou vida que salve -
Coos\ltucrn n r r~r Jruç..io a. i to embora cerca de 90 milhões de ame-
orllca:1. quo su coob&ee ,
tn J l ~ ricano tenham experimentado marij ua-
p1r.1 co mbllcr :\ asthma, a na e 25 a 30 milhões a continuem a fumá-
oppresalo,.1 su1focaçóe1, '. -la recreacivarnente. ou a u em respon a -
n t oúao corvosa, os cata.r- velmenLe como forma de automedicação
rboa ~ a illsomnia. diária, em que lenha ocorrido uma úni-
tp,üÍ!t . . Piil! s. Ru firiuH. ca morte por sobredosagem - de de
empre!
Anúncio publicado no jornal brasileiro Toda,!) as im·e!>tigações obre o efeito
Novo Tempo de I O de Outubro de da cannab1s na tran ferência do oxigénio
1B89. do sangue indicam que as dores no peito
( pulmao ), a dores nas extremidade dos
d a vida.* Mas p elo menos não a,idam membro a in uficiên ia respiratória e
ganzadas. as dor de cabe a a quai omos us-
• O Centro Americano para o Controle das ceptíveis em dia~ de ar muito poluído ão
Doenças, sediado cm Atlanta, di~se em No"embro em geral aliviados fumando- e do e
de 1983 que entre 10 e 40% dos utilizadores de dro- ligeiras de cannabis ao longo do dia.
gas "zine" têm ou desenvolverão paralisias (tre-
O dr. DonaJd Ta hk1n, que é o princi-
muras) permanentes e vitallcias. Estes medic.imen-
tos compostos de ncurotoxina~ estão químicamente pal cientista do governo americano em
ligados aos pesticidas e ao gás de nervos 5ann, ~nvestigação pulmonar relacionada com
usado pelos militares. a marijuana, di e-no em etembro de
Centenas de centros privados de rea- 1989,.. e de "º"ºem Dezembro de 1997,
bilitação de drogas e respectivos direc- que nao é po ível contrair- e o u p oten-
tores mantêm esta política viva e sob o ciar-se um enfi ema fuma ndo cannabi !
olhar dos m éd ia, citando amiúde rela- • \tJ:a-st: :a JX~u1s;1 pulmoll,ilf que Ta.shkin reali-
tórios desacreditados do NIDA e da DEA zou na UCLA, 1969•1 ~. Dcsdt' 19 1, o .iutor deste
Uno tomou ,um pe,.-oal llõ.)õ ~tud()) e ~ntrevis-
(ver capítulo 16, "Desm ascarando») - tou Tashkin sobre ilS anJi •óõ médica, para a can-
p orque realizam gordos lucros vendendo nabis; a últim.1 ffl~-hu ~ te,~ lugar em
o inútil ou destrutivo "tratamento da Dt-a:mbro de 1Q<J;.
marijuana,, q ue fazem às crianças.
Afinal, uma recaída significa apenas 11. O MELHOR ALÍVIO PARA O
voltar a usar marijuana após u ma érie STRESS E AS ENXAQUECAS
de confron tos com uma "autoridade'~
cima de tudo· nao exi te me~hor do
Isto é controle m ental e uma tentat iva de
destruir o livre arbítrio ind ividual. A que a cannab1 para o a sa mo nú-
mero um do mundo - o tre ·. Ela pode
10. POTENCIAL TERAPÊUTICO reduzir ou ubst1tuir o Valium, o Li-
EM ENFISEMAS brium, o J.kool, ou me mo o Prozac,
para rnilhõe de americano .
investigação m éd ica ind ica q ue fu ma r Apesar da intoxicação provo ada pela
A ma rijuana em pequenas quantidades
poderia beneficiar a maio ria das ,rítimas
cannab1S variar com a di po ição p i-
cológica e o ambiente ocial, «a reacção
de enfisem a leve, melhorando a qualida- mai comum t um estado calmo e leYe-

64
mente eufórico no qual o tempo abranda pâncreas (comer ou morrer). Porém,
e se manifesta uma sensibilidade amplia- desde 1976, a DEA e o governo dos E.U.
da à visão, à audição e ao tacto". têm impedido qualquer pesquisa ou uso
Por contraste com a segura acção tera- de cannabis na terapia do cancro pan-
pêutica da marij~ana, o abus? d_e benzo- creático.
diazepinas (o valiwn) é o prmc1pal pro- Colectivainente, essas autoridades per-
blema de abuso de drogas neste país, mitiram que dezenas de milhares de pes-
sendo responsável por muitas mais soas morressem anualmente, negando-
admissões a emergências hospitalares -lhes o direito de viverem vidas relativa-
nos Estados Unidos do que tanto os mente normais, saudáveis e produtivas.
problem.as re~ac~o11ados ~om a coc~ín a
como as adm1ssoes combinadas relativas 13. SALIVACÃO
, REDUZIDA
6
à morfina e à heroína. umar marijuana pode ajudar-nos a
Enquanto o tabaco contrai as artérias,
a cannab is dilata-as. Porque as enxaque-
F secar a boca quando fazemos um trata-
mento dentário. Este é o melhor modo
cas são o res ultado de espasmos arteriais não-tóxico de secar a saliva da boca,
combinados com sobre-relaxamento através daquilo que os fumadores co-
venal, as alterações vasculares causadas nhecem como o efeito ((boca de algodão':
pela cann abis no revestimento do cére- Segundo estudos conduzidos nos anos
bro (as meninges) resultam em geral no 70 pelo Gabinete de Odon tologia do Ca-
desaparecim ento das enxaquecas. nadá, a cannabis poderia substituir os
A prova das alterações vasculares cau- compostos altamente tóxicos da linha
sadas pela cannabis nos utili zadores Probathine fabricada pela Searle & Co.
pode ser observada nos olhos ver1:1eth0s Isto pode indicar também a possível uti-
destes, já que os olhos são extensoes do lidade da cannabis no tratamento de úl-
cérebro. Porém, ao con trário da maio ria ceras pépticas.
das outras drogas, a cannabis não tem
efeito aparente no conjunto do si~tei:na ADICIONALMENTE
vascular, à excepção de uma ligeira
taquicardfa n o início da gan za. SIDA, DEPRESSÃO E CENTENAS
DE OUTRAS IMPORTANTES
12. PARA ESTIMULAR O APETITE UTILIZAÇÕES MÉDICAS
u itas vezes (mas nem empre) os m efeito bem conhecido do THC é
M utilizadores de marijuana sentem U elevar o espírito, ou fazer-nos ('subir':
Os utilizadores jamaicanos de cannabis
"the munchies", um apetite estimulado, o
que, nesta altura, torna a cannabi~ o m.e- louvam os benefícios d a ganja para me-
lhor medicamento para a anorex1a exis- ditação, concentração, elevação da cons-
tente no planeta. ciência e promoção de um estado de
Centenas de milhares de americanos bem-estar e auto-estima.5 Este tipo de
'dosos em situações de convalescência ajustamento de atitude, juntamente com
1
'
ou internados · • sofrei:n d e
em hospitais, um apetite mais saudável e melhor re-
anorexia. A maioria poderiam ser aJu~~- pouso, representa muitas vezes a dife-
dos p ela cannabis - e contudo a pohtJ- rença entre sentir que se está a "morrer
ca do governo, dita~a pela sua policia, de~' SIDA ou cancro e sentir que se está
está a negar uma vida saudável a estes "viver com" SIDA ou cancro.
A cannabis também alivia as dores ligei-
americanos!
Este efeito pode também prolongar a ras e algumas fortes, e ajuda os idosos a
vida das vítimas de SIDA e de cancro do viver com achaques e dores como artrite,

65
insónia e enfermidades debilitantes, des- veis para o seus doentes. o entanto, os
frutando a vida com maior dignidade e médicos são proibidos de receitar a erva
conforto. A lenda afirma, e a evidência que o juiz federal Francis Young con-
médica indica, que a cannabis é o melhor siderou em 1988 "uma da mais seguras
tratamento geral para a demência, a senili- substância · terapeuticamente activas co-
dade e possivelmente a doença de AJzhei- nhecidas do Homem':
mer, para ccganho', de memória a longo ós não incumbimos os nossos mé-
prazo e centenas de outros beneficios. dico de impedir os crime violento . A
Estatísticas americanas dos anos 70 polícia e os promotore públicos n ão
indicavam que viveremos entre oito a 24 deviam e tar incumbido de decidir
anos mais tempo se substituirmos o uso quai as terapias vegetai que as pessoas
diário de tabaco e álcool pelo uso diário podem usar para tratar os seus proble-
de cannabis. Como é evidente, estao mas de saude.
proibidas novas pesquisas.
Notas:
RISCOS ACEITÁVEIS
1. Cohen e ':>t1llm.10, Tlier11peuric Potetrtial o/
odas as comissões do governo. ou juí- Marijwma. UC.LA. 19,6: entre\i:.tas pes:,oais com
T zes federais que estudaram as provas
concordaram que a cannabis é uma das
inv~tigado!'t' que realizaram este estudo em \Va-
,hingt()n, D. e em NO\embro de 1982.
2.. C:Ohen e ')1 llm31l T11rm~11t1c Poterrhal of Ma-
mais seguras drogas conhecidas. Com rijW11111, UCLA, 1976; 1ikuriya, Dr. Tod H., lHari-
todos os seus usos terapêutico , ela tem 11uma Medical Pnpm 1639-19iZ, \1edi-Comp Press,
apenas um efeito secundário que foi exa- Oakland, CA. 19;3
3. 'The Antib1otic EfTect of Cannabi.s Indica",
geradamente apresentado como sendo 1952-.53-55, The Antib.iderial Effect of Omnabis ln-
um problema: a "ganza•~ A DEA diz que dica~ 1955, de Murijwma Medical Papers, Coh en e
isto é inaceitável, de modo que a canna- S1illman, Tl1r111pe111ic Potct111al of Mar-ij11ana,
bis continua a ser totalmente ilegal, em LLl.A, 19;6.
+ E ol.i téJiCJ de Han·arJ. Mental Health
completo desrespeito tanto por médico Lttter, \'oi. 4, 1 ' 0 5, 'o\embro de 1987.
como por doentes. 5. Rubcn, \'ér.1, é Comi~. Lambros, Ga,IJa ;,,
Todos os dias co nfiamos em médicos Jamaica, A Afolia,l Anrhropologiml St11dy ofChronic
~farijuam, Ust', 1outon & Co., Haia e Paris. Anchor
que devem determinar se os ri cos asso-
Booh, EL .\, 1976.
ciados a drogas terapêuticas, e no entan- 6. Stopping \'alfom, Publte Citizen Health
to potencialmente perigosas1 são aceitá- Re<.earch Group. 2000 P ,t. NW, Washington, D. C.

"Espanta-me ver a marijuana associada aos


Narcóticos - à Droga e a essa treta toda . ..
ela é mil vezes melhor do que o uísque - ela
é um Assistente - um Amigo'~
- Loui Armstrong

66
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NUTRIÇÃO COM
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As sementes de cãnhamo-de-cannabis ~· . ;·t
contêm todos os amioácidos e ácidos
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gordos essenciais que são necessários à ~-. 'W·
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conservação da saúde humana. Nenhu- ~- -~ -, ~ .. _:· •! -
ma outra fonte vegetal proporciona .... ~- -~-< . ,_ . j . . ' .

proteínas completas numa forma tão Foto cortesia do USDA


facilmente digerível, nem possui os óleos essenciais à vida numa propor-
ção tão perfeita para a saúde e vitalidade humanas.

O cânhamo p ossui maior concentração o c rescimento, a vitalidade e o estado de


de ácidos essenciais do que qualquer espírito. os pulmões, o AL e o ALN es-
outra planta. tão envolvidos na transferência de oxi-
O óleo de semente de câ nhamo génio do ar até cada célula do corpo,
conta-se en tre os que contêm m enor desempenhando um papel na fixação
teor de gorduras saturadas, que repre- do oxigénio à membrana celular. O oxi-
sentam 8% do volume total de óleo. O génio funciona como barreira aos vírus
óleo prensado da semente de cânh amo e bactérias invasores, nenhum dos quais
contém 55% de ácido Linoleico (AL) e se propaga na sua presença.
2 5º/o de ácido linolénico (ALN). Só ~ A forma torcida dos ácidos gordos
óleo de linho, com 58%, contém mais essenciais impede-os de se dissolverem
ácido linolénico; porém, o ó leo de se- uns nos outros. Sendo escorregadios,
mente de cânhamo é aquele que apre- não bloquearão as artérias como fazem
senta mais elevado teor do conjunto de as gorduras saturadas, que são pegajosas
ácidos gordos essenciais, que represen- e angulosas, e os ácidos trans-gordos
tam Soo/o do volume total de óleo. presentes nos óleos culinários e nos
Estes ácidos gordos essenciais são molhos, os quais são produzidos sujei-
responsáveis p elas reacções do nosso tando-se óleos poli-insaturados como o
sistema imunitário. AL e o ALN a elevadas temperaturas
"No antigo mundo rural, os campo- durante o processo de refinação.
neses comiam manteiga de cânhamo. O AL e o ALN têm uma carga ligeira-
Eram mais resistentes à doença do que a mente negativa e tendem a formar ca-
nobreza. As classes altas recusavam-se a madas superficiais muilo finas. Esta pro-
comer cânhamo porque os pobres o priedade, chamada actividade superfi-
faziam., - R. Hamilton, Ed D., Ph. D., cial, fornece a energia necessária para o
Investigador e Bioqufmico Emérito da transporte de substâncias como as toxi-
UCLA. nas até à superfície da pele, ao tracto in-
O AL e o ALN estão envolvidos 11a testinal, aos rins e aos pulmões, onde po-
produção de energia vital a p artir dos dem er eliminadas. É a própria sensibi-
alimentos e no tratisporte dessa e11er- lidade destes ácidos que causa a sua rápi-
gia através do corpo. da decomposição em compostos tóxicos
Os ácidos gordos essenciais governam quando são refinados a elevada tempe-

67
ratura, ou quando uma armazenagem corpo carece para produzir soro huma-
inadequada os expõe à luz ou ao ar. no de albumina e soro de globulinas,
A Natureza produz sementes dotadas tais corno anticorpos de globulina gama
de uma casca que protege eficazmente potenciadores da imunidade.
da deterioração os óleos vitais e vitami- A capacidade que tem o corpo de re-
nas que se encontram no interior. sistir a doenças e delas recuperar de-
A semente de cânham o é um con- pende da rapidez com que consegue pro-
tentor perfeito, bem com o perfeita- duzir quantidades maciças de anticorpos
m ente comestível. Pode ser m oída nu- para resistir ao ataque inicial. Se for
m a pasta sem elhante a m anteiga de escassa a provisão originaJ de proteínas
amendoim, mas possuindo um sabor de globulina, o exército de anticorpos
m ais delicado. Uro Erasmus, médico pode ser pequeno demais para impedir
nutricionista> diz: "Em t ermos de valor os sintomas da doença de se instalarem.
nutritivo> a manteiga d e cânhamo en- A melhor forma de nos assegurarmos
vergonha a nossa manteiga de amen- de que o corpo possui provisões sufi-
doin,». As sem entes moídas podem ser cientes de aminoácidos para fabricar
cozinhadas em pães, b olos e p astéis. A globulina é comermos alimentos com
semente d e cânham o constitui u ma elevados teores em proteínas de globuli-
adição vigorosa às b arras de grano/a. na. A proteina da semente de cânhamo
Os pioneiros nos can1pos da bio- é composta por 65% edestina de proteí-
química e da nutrição humana acredi-
na, juntamente com alguma quantidade
tam agora que as doen ças cardiovascu-
de albumina (presente em todas as se-
lares (DCVs) e a m aioria dos cancros
mentes), de modo que a sua proteina
são de facto doen ças de degeneração das
facilmente cligerível se encontra pronta-
gorduras, doenças essas devidas ao con -
mente disponível numa forma assaz se-
sumo exagerado de gorduras saturadas e
óleos vegetais refinados que transfor- melhante àquela que assume no plasma
mam os ácidos gordos essenciais em sanguíneo.
assassinos carcinogénicos. Um de cada A semente de cânhamo foi usada no
dois americanos morrerá vitimado por tratam ento de deficiências nutritivas
efeitos de DCVs. Um de cada quatro provocadas pela tuberc ulose, uma se-
americanos morrerá de cancro. Os in- vera doença bloqueadora da nutrição
vestigadores acreditam que os cancros que causa o definhamento d o corpo.
surgem quando a reacção do sistema ( Est udo utricional Tuberc ular da
imunitário é enfraquecida. E m ais ame- Checoslováquia, 1955.)
ricanos do que nunca estão a sucumbir a A energia da vida encontra-se em
doenças derivadas de deficiências imu- toda a semente. Os alimentos confec-
nitárias. Desenrolam-se agora estudos cionados com semente de cânhamo
prometedores que usam os óleos essen - têm um sabor delicioso!
ciais para apoiar os sistemas imunitários Eles assegurarão que consunlimos
de vítimas do vírus VIH. suficientes aminoácidos e ácidos gordos
A proteína completa contida na se- essenciais para constituirmos corpos e
mente de cânhamo fornece ao corpo sistem as imunitários fo rtes, e manter-
todos os aminoácidos essenciais mos a saúde e a vitalidade.
que são necessários para con servar a Por favor copie Exct'rto de Hem~ed N lltririon,
saúde> e fornece os tipos e quantidades de Lynn Osbum. Produzido por Access Unlimited,
necessárias de aminoácidos de que o P.O. Box 1900, Fraz.ier .Park, CA 9J2.25.

68
OS MUITOS USOS DO CÂNHAMO
O Recurso Natural Mais Valioso e Versátil do Mundo
SEMENTES PARA ÓLEO E
ALIMENTAÇÃO As sementes de
cânhamo produzem óleo de
cozinha, lubrificante, com-
bustfvel, etc. A semente é
uma fonte de fJroteína
completa que reduz o
colesterol. As folh,u e flo-
res também são comestiveis.

A HASTE USA-SE PARA FAZER


TECIDOS, COMBUSTÍVEL, PAPEL
f PRODUTOS COMERCIAIS. O
canhamo é seco e decomposto em
duas partes: fibras filamentosas e
pedaços de "hurd", ou polpa. Cada
um destes produtos tem os suas
aplicações distintas:

AS FIBRAS LONGAS O MIOLO do cânhamo, co-


DA CASCA sito limpas nhecido por "hurds", contém
e tecidas em fios e celulose paro fazer papel sem
estopa para fazer usar árvores ou dioxinas; tintas e
corda, malha ou uma vedantes nao-tóxkos; materiais
grande variedade de paro fabrico Industrial: materiais
têxteis duráveis e de de construçao; hemi-celulose
alta qualidade paro para fazer plástico e muito ma/si
vestuário, tela de O cânhamo é a melhor fonte
pintura e tecidos de sustentável de polpa vegetal
muitos tipos e paro fazer combustível de bio- COM RAÍZES NA NATUREZA:
massa (corvlfo vegetal, gás, Até as roizes do canhamo têm um
texturas.
metanol, gasolina), ou mesmo papel importante: elas mantêm o
para produzir electrlcldade. solo coeso e arejado, controlando
a erosao e os deslizamentos de
terras. O cânhamo pode salvar as
Apresentado como serviço público pelo quintas fcrmiliores, criar empregos,
BUSINESS ALLIANCE FOR COMMERCE IN HEMP reduzir a chuva 6cida e a poluiçao
P. O . Box 71093, LA.. CA 90071 qulmlca, e inverter o Efeito de
Leituras recomendadas: &tufa.
o Rei Vai Nu, de Jack Herer
Manifesto do canhamo, de R.owan Robinson

Por favor copie livremente esta página poro distribuição e afixação em lugares públicos.
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Um agricultor à modo antigo: Cultivador de cdnhamo-de-connobis em Santa


Cruz, Callf6rnla. Foto de Honk Lebo#Good Times, Fevereiro de I 970.
A SEMENTE DO CÂNHAMO-DE-
-CANNABIS COMO ALIMENTO
BÁSICO DO MUNDO
Em / 937, Ralph Loziers, conselheiro-geral do Instituto Nacional de Produ-
tos de Óleo de Sementes, declarou ao comité do Congresso encarregado de
estudar a proibição da marijuana: "A semente do cânhamo ( ...) é usada
como alimento em todas as nações orientais e também numa parte da
Rússia. É cultivada nos seus campos e servida como papa às refeições. No
Oriente, milhões de pessoas usam diariamente sementes de cânhamo como
alimento. Fazem-no há muit as gerações, mormente em ,períodos de fome''.
Sabemos agora que a semente de cânhamo é a mais rica fonte de vitali-
zantes ácidos gordos essenciais que existe no reino vegetal, e que nela po-
de muito bem residir a cura do cancro e das doenças cardíacas.

A SEMENTE DE CÂNHAMO: O todos os aminoácidos essenciais nas pro-


MELHOR RECURSO ALIMENTAR porções ideais para que o nosso corpo
disponha de todos os componentes ne-
DA HUMANIDADE cessários à criação das proteínas que
as mais de 3 milhões de plantas co- combatem as doenças, tais como as imu-
D mestíveis que crescem na Terra, ne-
nhuma outra fonte vegetal se pode com -
noglobinas - anticorpos cuja acção é
d ebelar as infecções antes de se insta-
parar com as sementes de cânhamo em larem os sintomas da doença. 2
termos de valor n utritivo. Tanto a proteí- A proteína da semente de cânhamo per-
na completa como os óleos essenciais mite mesmo que wn corpo sofrendo de
contidos nas sementes de cânhamo t1Uberculose, ou praticamente qualquer
encontram-se em proporções ideais para outra enfermidade bloqueadora da nutri-
a nutríção humana. Apenas as ~ement~s ção, consiga a nutrição máxima.*
de soja registam um teor_ ~rote1co mais .. Cohen e Stillman, Therapeutic Potential of
elevado; porém, a compos1çao das proteí- Marijuana, Plenum Press, NI, 1976; Estudo Checo
Nut ricional sobre a Tuberculose, 1955.
nas contidas na semente de cânhai1:o é
, nica no reino vegetal. Sessenta e cmco Mais importante ainda para a consti-
upor cento do conteu' do proteico
. da se- tuição de um sistema imunitário forte, as
mente de cânhamo en contra-se na forma sementes de cânhamo são a maior fonte
da globulina edestina.1 (A palavra edesti- de áci dos gordos essenciais existente no
na vem do grego "edestos': significando reino vegetal. Estes óleos essenciais, os
comestível.)
ácidos ünólico e linolénico, são respon-
o teor excepcionalmente elevado em sáveis pela saúde da nossa pele, cabelo e
edestina da semente de cânhamo, combi- olhos, e até mesmo pelos nossos proces-
nado com a aJbw11ina, outra proteína sos mentais. Eles lubrificam as artérias e
globular presente em todas _as semente~, são vitais para o sistema imunológico.
significa que a proteína fac1lm.e nte assi- Estes ácidos gordos essenciais foram
milável da semente de cânhamo contém usados pela dra Joanna Budwig (que desde

71
,

1979 é an ualmente nomeada para o Nobel pode ser germinado e usado com o qual-
da Paz) para tratar com êxito padecentes quer outro rebento de semente para sa-
"terminais,, de cancro, assim como pade- ladas e culinária em geral.
centes de doenças cardiovasculares, atrofia A emelhança dos rebento de soja, as
glan dular, pedras no ementes de cânhamo germinadas ser -
rim, degeneração renaJ, vem para fazer leite. AJan "Birdseed" Bra-
acne, pele seca, proble- dy, de anta Cruz, Califórnia, e Abba D as,
mas menstruais e defi- do Colorado, usa m o leite assim obtido
ciência imunitária. para confeccionar os muitos sabores d e
Estes factos, bem co- um sorvete delicioso e nutritivo que
m o out ras investiga- reduz efectivamente o colesterol.
ções, levaram o dr. \Vi.I- A semente de cânhamo pode ser m oí-
liam Eidleman da da e usada como farinha, ou cozida e en-
UCLA e o dr. R. Lee tão adoçada e combinada com leite para
Substituto de Hamilton, Ed. D., Ph D. confeccionar um nutritivo cereal d e
queijo feito de e Bioquímico Emérito pequeno-almoço semelhante a papas de
cannabis. Foto de Pesqu isa Médica da aveia ou creme de trigo. (Tal com o acon-
cortesia de UCLA a pronuncia- tece com a fibra, o con umo de sementes
Hemprella. rem -se a favor dos "va- de cânhamo não provoca ganza.)
lo res vitalizantes" do "O cânhamo é uma das [ ementes ]
cânham o-de-cannabis. Escreveram eles: preferidas das ave , devido ao seu nutri-
"Estes óleos essenciais apoiam e prote- tivo conteúdo de óleo': ( Margaret Mc-
gem o sistem a imunitário contra vírus e Kenny, Birds in the Gardenl Reynal &
outras agressões. Estão em curso estudos Hitchcock, 11 1939.) Incrivelmente, em
com vitim as do vírus VIH, os quais até se cultivando cânhamo-de-cannabis pa-
agora se têm revelado extremamente ra produzir emente, metade do peso da
prometedores, usando os óleos essenciais planta fêmea madura depois de colhida é
para reforçar os sistem as imunitá rios. composto por semente.
"Qual é a m ais rica fon te destes óleos Em 1995, pescadores ingleses e
essenciais? Sim, adivinharam, são as se- europeus informaram-me que a semente
m entes d a plan ta de cânhamo-de-can- de cânhamo sempre foi o isco preferido
nabis. ( . .. ) As demen tes proibições de- para uma técnica u ada nos lagos e rios
cretadas contra a pla nta mais valiosa da da Europa, que consiste em lançar à água
Terra, o cânhamo-de-cannabis, devem mancheias de ementes de cânham0, o
vergar-se peran te o interesse público que faz o peixes precipitarem-se sobre
( .. . ) A p rom essa de desfrutarmos de elas, tornando fácil fisgá-los. em um
uma saúde superlativa e a possibilidade único dos pe cadores europeus com
de alim en tar o mundo encontram-se ao quem conversei sabia que sem entes de
cânhamo e de marijuana eram a mesm a
alcan ce das nossas mãos': (29 de Dezem-
coisa. Donde que n semente de cânhamo é
bro de 1991 e Julh o de 1997.)
o alimento preferido dos peixes, assim
Com o sucede com a soja, os extractos
como de muitos pássaros.
de semente de cânhamo podem ser tem-
O produto derivado da p rensagem de
perados para aquirirem gosto a galinha,
emente de cânhamo para obtenção do
carne de vaca ou de porco, e podem ser eu nutritivo óleo vegetal é um bolo de
usados para fazer coalhadas tipo tofu, e sementes altamente proteico. Até este sé-
m argarina, a um custo inferior ao da soja. culo-, o bolo de sementes de cânhamo foi
A germinação de qualquer semente re- uma das principais rações para animais
força o seu valor nutritivo, e o cânhamo de criação usadas no m undo.* A semen te

72
de cânhamo pode proporcionar uma Mais ainda, estudos recentes indicam
dieta quase completa para todos os ani- que a rarefacção da camada de ozono
mais domésticos (cães, gatos), e muitos ameaça reduzir substancialmente a co-
animais e aves de criação, o que lhes per- lheita mundial de soja - até 30% ou
mite ganhar um peso máximo por custos m esmo 50%, dependend o da flutuação
inferiores aos actuais. E isto sem usar da densidade do escudo de ozono. Mas o
quaisquer esteróides de crescimento arti- cânhamo, ao invés, resiste aos estragos
ficial ou outras drogas que estão actual- caus.ados pelo aumento da radiação ul-
mente a envenenar a raça humana por travioleta, e de facto viceja nessa situa-
via da cadeia alimenta r. ção, produzindo mais cannabinóides que
Não acha1n estranho - e não vos faz o protegem da luz ultravioleta-5
ficar doidos de raiva? - que a posse na- Não admira pois que n a América Cen-
tural e saudável do principal alimento de tral e do Sul haja quem odeie a América
todos os tempos para a maioria dos pás- e nos queira ver de lá p ara fora: vêem-
saros, peixes, cavalos, seres humanos e vida - nos como assassinos ignorantes. Duran-
te anos, o nosso governo exigiu o enve-
em geral seja ilegal nos Estados Unidos da
América, como ordenado, na linha dos na- nenamento ½om paraquatt das terras
destes agricultores, nas quais eles haviam
zis e da Gestapo, pela Agência de Repres-
sido obrigados por lei a cultivar cannabis
são das Drogas [DEA], e através dela, peJo
desde 1545, quando Filipe I de Espanha
USDA? ordenou que ela fosse plantada por todo
* lodice Agrícola dos E. U.; Fraz.ier, Jack, The Ma -
o seu império enquanto fonte de alimen-
rijuana Farmers, Solar Age Prcss, Nova Orleães, LA,
. Fats That Real, Fats That Kill~ Udo, Erasmus, to, velas, cordas, toalhas, lençóis e ca-
1972
misas - bem com o de algumas das mais
1996.
importantes medicinas populares para a
O ESPECTRO DA FOME febre, o parto e a epilepsia, e o reumatis-
MUNDIAL mo - em resumo, um dos m ais antigos
sustentas, medicamentos, produtos ali-
or si só, o uso generalizado d~ proteí- m entares e prazeres relaxantes desses
P na alimenta r d a semente de canhamo
podia salvar muitas das crianças do
povos.
Hoje, na América Central e do Sul, se
mundo que estão agora a morrer por ca~ alguém for apanhado a cultivar a sua anti-
rência de proteínas! Estima-se que 60% ga _colheita, a cannabis, a sua terra é expro-
de todas as crianças nascidas em países priada pelos seus líderes governamen-
do Terceiro Mundo (entre 12 a 20 mj- tais/militares apoiados pelos E.U., os quais
}hões por ano) morrerão d esta maneira se qualificam para ajuda externa e militar
antes de atingirem os cinco anos de adicional em troca da adopção d esta
idade. Muitas vezes essas crianças têm as política de erradicação da marijuana.
suas vidas dramaticamente encurtadas
e/ou o s seus cérebros dizimados.
3 UM ELO BIOLÓGICO
Devemos lembrar-nos que o cânha mo FUNDAMENTAL NA CADEIA
é uma planta m uito resistente que cresce ALIMENTAR
quase em qualqu er lugar, até m esm o em
condições adversas. No século XIX, os
australianos sobreviveram a duas fomes
O nossos po~ticos
s que, ~aseados em
anos de deliberada desinformação,
promulgaram estas leis proibicionistas
prolongadas não usando como fo nte de sobre a marij uan a podem ter condenado
proteinas praticamente nada senão se-
mentes de cânhamo misturadas com as t Desfolhante químico usado na Guerra do Vietna-
4 me. (N. do T.)
respectivas folhas.
73
não apenas as aves mas também a raça interdição de todo e qualquer uso da p lan -
humana à extinção por: outra via. ta. O nosso governo quer pressionar as
Muitos animais comem aves e os seus Nações Unidas no sentido de dar-se início
ovos. As aves selvagens são essenciais para ao maior e mais abrangente programa d e
a cadeia alimentar; e as populações destas erradicação de qualquer planta na história
continuam a diminuir devido a, entre da Terra, até não restar uma única planta
outras coisas, os pesticidas petroquimi- de cânhamo de qualquer tipo. t .Esta é a
cos, os herbicidas e a falta de sementes de recomendação que fazem o Porta-Voz d a
cânhamo! Com sementes de cânhamo na Câmara de Representantes Newt Gingrich
sua dieta, as aves viverão entre 10 a 20% e o seu Congresso republicano, junt a-
mais tempo, terão prole mais numerosa, e m ente com muitos dos seus parceiros
as suas penas serão mais lustrosas e democratas, num crime contra a Terra
oleosas, permitindo voos maiores. natural.
Antes de 1937, nos Estados Unidos
cresciam mais de 10 milhões de acres de Notar.
cânhamo-de-cannabis selvagem carrega- 1. Walkc-r, David D., Ph. D., Can Hcmp Save Our
do de semen tes. Centenas de m ilhões de Plnnet?, citando S1. Angdo, A. J., E. J. Conkerton, J.
pássaros alimentavam-se delas como a M. Dechnry. e A. M. Altsclml, 1966; Biochimica et
sua d ieta preferida e mais importante, Biopliy$icn Aaa, vol, 121, pp. 181; St. Angelo., A., L Y.
Yatsu e A.M. Alt.schul, 1968, Arrhives of Biod1emistry
até o nosso governo ter inkiado a sua and Biophysií$. ,-oi, 124, pp. 199-zo5; Stocl<well,
política de total erradicação deste elo O.M., J.M. Dechary, e A.M. Altschul, 1964, Biochi-
primário na cadeia alimentar. mica cr Biophys,ca Acta, ~'OI. 82, pp. 221.
1. Morroson, R.T., Organic Chcmistry, 1960;
Inconsciente deste perigo inerente de Kimb«, Gray, Stackpole, 1extbook of Anntomy and
biocídio, o nosso governo prossegue esta Physiology, 1943.
política demente de exterminar, tanto aqui 3. World Hunger Pmject, Sáve the Children, EST,
como no estrangeiro, a priincipal planta Forum.
4. frazier, Jack, Tl1e Marijuana Fam1ers, Solar
dadora de vida existente na Terra - o câ- Age Press, Nova O rleacs, LA, 1972; ve.r também
nhamo. livros sobre história da Austr:IJia.
Em Maio de 1998, os E.U. solicitaram às 5. Teramura, Afon, estudo da Universidade de
Nações Unidas a proibição do cânhamo Montana, revista Disawu, Setembro de 1989; Tes-
temunhos prestados ao Comité dos Meios e Modos
sob todas as suas formas, induindo medi- do Congresso por Ralph 1..oziers e pelo Lnstituto
camentos, alimentos, papel, roupa, e a Nacional de Óleo de Sementes, 1937.

t Por pressão de diversas ONGs, ~ ONU cancelou a


wsoluçio finar prevista no Programa de Controle
das Drogas das Nações Unidas (UNDCP), consistin-
do n.a erractic:ação mundial das plantações ilegais de
cannabis, coca e papoila mediante o rec= a va-
riantes geneticamente modificadas do fungo FU$/l-
ri11m oxysporum, que estão aaualmentc a ser desen-
volvidas por cienústas do USDA. (N, do T.)

74
Capítulo Q'TJ>Nove
~
·
.

E.CONOMIA: ENERGIA,AMBIENTE E
COMÉRCIO
Tendo explicado aquilo que o cânhamo significou historicamente para a
economia deste país, agora devemos considerar também o futuro da
planta de cannobis.
Predizemos que, na América, o e feito líquido de abolir a proibição do câ-
nhamo será o surgimento de uma economia de uefeito ondulatório,', na
qual uma agricultura americano revitalizada produzirá cânhamo cru como
matéria-Prima paro uma infinidade de indústrias que criarão milhões de
bons empregos para operórios especializados e semi-especializados por
toda a América. A riqueza resultante manter-se-á nas comunidades locais,
e junto de agricultores, pequenas empresas e empresários como o leitor!
Pedimos-lhe que considere agora:

A ENERGIA E A ECONOMIA rimos, incluindo transporte, aquecimen-


to, confecção de alimentos e iluminação.
livro Solar Gas (1980), as revistas Na sua ânsia de obter mais "valor líqui-

º Science Digest e Omni, a Aliança para do» e maior "produtividade': os ame-


a Sobrevivência, o "Partido Verde,, da
Alemanha OcidentaJ e outros calcularam
que 80% das despesas correntes de cada
ricanos - 5% da população mundial -
usam entre 25 e 40% da energia mundial.
O custo oculto para o ambiente desta
um de nós referem-se a gastos decor-
situação é incomensurável.
rentes do consumo de energia.
As nossas fontes actuais de energia fós-
Em validação: 82% do valor total de
sil representam também cerca de 80% da
todos os títulos transaccionados na Bolsa
de Nova Iorque e outras bolsas mundiais, poluição sólida e aérea que está a envene-
etc.>estão ligados directamente a: nar lentamente o planeta (Ver relatório
• Produtores de energia tais como a da Agência de Protecção Ambiental
Ex:x:on , a Shell Oil, a Conoco> a Con- fEPA] dos Estados Unidos (1983-1996),
-Edison, e outros. sobre a iminente catástrofe mundial
• Transportadores de energia tais como provocada pelo desequilíbrio em dióxido
companhias de pipelines, companhias de d e carbono causado pela queima de
transporte e entrega de petróleo, etc. combustíveis fósseis.) A melhor e mais
• Refinarias e retalhistas de produtos económica alternativa a estes métodos
petrolíferos, controlados pela Exxon, dispendiosos e esbanjadores de geração
Mobil, Shell, South Calif. Edison, Con- de energia não são painéis solares ou
- Edison> etc. eólicos> nem a energia nuclear, geotérmi-
Oitenta e dois por cento de todo o ca, e outras do género, mas sim o uso de
nosso dinheiro significa que aproximada- luz solar igualmente distribuída aplicada
m ente 33 de cada 40 horas que trabalhar- ao cultivo de biomassa.
mos servem para pagar o custo final Globalmente, a planta maximamente
energético dos bens e serviços que adqui- produtiva de biomassa é o cânhamo, 0

75
não apenas as aves mas também a raça interdição de todo e qualquer uso da plan -
humana à extinção po r o utra via. ta. O nosso governo quer pressionar as
Muitos animais comem aves e os seus ações Unidas no entido de dar- e início
ovos. As aves selvagens são essenciais para ao maior e mais abrangente programa de
a cadeia alimentar; e as populações destas erradicação de qualquer planta na história
continuam a diminuir devido a, entre da Terra, até não restar uma única planta
o utras coisas, os pesticidas petroqu imi- de cânhamo de qualquer tipo.t Esta é a
cos, os herbicidas e a falta de sementes de recomendação que fazem o Porta-Voz da
cânhamo! Com sementes de cânhamo na Câmara de Repre entantes Newt Gingrich
sua dieta, as aves viverão entre 10 a 20% e o seu Congresso republicano, junta-
mais tempo, terão p role mais numerosa, e mente com muitos dos seus parceiros
as suas penas serão mais lustrosas e democratas, num crime contra a Terra
oleosas, permitindo voos maiores. natural.
Antes de 1937, nos Estados Unidos
cresciam mais de 10 milhões de acres de Notas:
cânhamo-de-cannabis selvagem carrega- 1. Walker, David D., Ph. D., Cm, Hemp Save Our
do de sementes. Centenas de milhões de Pl,met?, citando t. Angclo, A. J., E. J. Conkerton, J.
pássaros alimentavam-se delas como a M. Dechary, e A. M. Altschul, 1966; Biochimica er
sua dieta preferida e mais importante, Biopl1ysica Acta, vol, 121, pp. 181; S1. Angelo, A., L.Y.
Yatsu e AM. Aluchul, 1968, Arcl,ivcs ofBiochemistry
até o nosso governo ter iniciado a sua and Bioph)·s,cs, vol, 124, pp. 199-205; Stockwell,
política de total erradicação deste elo D.M., J.M. Oechary, e A.M. AJtschul, 1964, Biochi-
primário na cadeia alimentar. mica et Biopltysica Acta, vol. 82, pp. 221.
2. Morroson, R.T., Orga11ic Chemistry, 1960;
Inconsciente deste perigo inerente de
Kimber, Gray, tackpole, Textbook o/ Anatomy and
biocídio, o nosso governo prossegue esta Physiology, 1943.
política demente de exterminar, tanto aqui 3. \Vodd Hunger Project, 3\'e the Children, EST,
corno no estrangeiro, a principal planta Forum.
4. Frazier, Jack, Tl,e Marijuana Fanners, Solar
dadora de vida existente na Terra - o câ-
Age Press, ova Orleães, LA, 1972; ver também
nhamo. livro sobre história da Aust:rálfa.
Em Maio de 1998, os E. U. solicitaram às 5. Teramura, Alan, e tudo da Universidade de
Nações Unidas a proibição do cânhamo Montana, revista Discover, Set embro de 1989; Tes-
temunhos prestados ao Comité dos Meios e Modos
sob todas as suas formas, incluindo medi- do Congre.~ por Ralph Loziers e pelo Instituto
camentos, alimentos, papel, roupa, e a Nacional de Óleo de Sementes, 1937.

t Por pressão de diversas O Gs, a ONU cancelou a


"soluç.10 final" prevista no Programa de Controle
das Drogas das 'ações Unidas (UNDCP), consistin-
do na erradicaçao mundial das plantações ilegais de
c-cU1nabis, coca e papoila mediante o recurso a va-
riantes geneticamente modificada do fungo Fusa-
ri11m oxysporum, que estão actualmente a ser desen-
volvidas por cientistas do USDA. (N. do T.)

74
. . · . ·-~·.:· :.-'>CapítuÍÕ.~ -Nove·,. · ·.· :··· ·.-:._ ·< .,· .·. · . '.- .:
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E.CONOMIA: ENERGIA,AMBIENTE E
COMÉRCIO
Tendo ex,plicado aquilo que o cânhamo significou historicamente para a
economia deste país, agora devemos considerar também o futuro da
planta de cannabis.
Predizemos que, na América. o efeito líquido de abolir a proibição do câ-
nhamo será o surgimento de uma economia de "efeito ondulatório'', na
qual uma agricultura americana revitalizada produziró cânhamo cru como
matéria-prima para uma infinidade de indústrias que criarão milhões de
bons empregos para operários especializados e semi-es,pecializados por
toda a América. A riqueza resultante manter-se-ó nas comunidades locais,
e junto de agricultores, ,pequenas empresas e empresários como o leitor!
Pedimos-lhe que considere agora:

A ENERGIA E A ECONOMIA rimos, incluindo transporte, aquecimen-


t-o, confecção de alimentos e iluminação.
livro Sol~r Gas (19~0 ), ~s revistas Na sua ânsia de obter mais "valor líqui-
O Science Digest e 0mm, a Aliança para
a Sobrevivência, o «Pa rtido Verde» da
do» e maior "produtividade': os ame-
r icanos - 5% da população mundial -
Alemanha Ocidental e outros calcularam usam entre 25 e 40% da energia mundial.
que soo/o das despesas correntes de cada O custo oculto para o ambiente desta
um d e nós referem -se a gastos decor-
situação é incomensurável.
rentes do consumo de energia. As n ossas fontes actuais de energia fós-
Em validação: 82% do valor total de
sil representam também cerca de 80% da
todos os títulos tran saccionados na Bolsa
poluição sólida e aérea que está a enven e-
de Nova Iorque e outras bolsas mundiais,
nar len tamente o planeta (Ver relatório
etc., estão ligados directamente a:
da Agência de Protecção Ambiental
• Produtores de energia tais como a
Ex:xon, a Shell Oi), a Conoco, a Con - [EPA] dos Estados Unidos (1983-1996),
sobre a iminente catástrofe mundial
-Edison, e outros.
• Transportadores de energia tais como provocada pelo desequilíbrio em dióxido
companhias de pipelines, companhias de d e carbono causado pela queima d e
transporte e entrega de petróleo, etc. combustíveis fósseis.) A melhor e mais
• Refinarias e retalhistas de produtos económica alternativa a estes métodos
petrolíferos, controlados pela Exxon, d ispendiosos e esbanjadores de geração
Mobil, Shell, South Calif. Edison, Con - de en ergia não são painéis solares ou
-Edison, etc. eólicos, n em a energia nuclear, geotérmi-
Oitenta e dois por cento de todo o ca, e outras do género, mas sim o uso de
nosso dinheiro significa que aproximada- luz solar igualmente distribuída aplicada
mente 33 de cada 40 horas que trabalhar- ao cultivo de biomassa.
mos servem para pagar o custo final Globalmente, a planta maximamente
energético dos bens e serviços que adqui- produtiva de biomassa é o cânhamo, o

75
único recurso anualmente renovável FONTE DE COMBUSTÍVEL LIMPO
capaz de substituir todos os combustíveis E RENOVÁVEL
fósseis.
ombustível não é sinónimo de pe•
Nos anos 20, os p rimeiros barões do
petróleo, tais como Rockefeller da Stan- C tróleo ou carvão. Os sistemas energéti-
cos baseados em biomassa podem for-
dard O il, Rothschild da Shell, etc., tor-
naram-se paranoicam ente conscientes necer uma fonte sustentável de combus-
das potencialidades da visão de Henry tível e criarão milhões de novos empregos
Ford sobre combustíveis de metanol ba- limpos. Combustíveis derivados da bio-
ratos,* e mantiveram os preços do pe- massa do cânhamo podem substituir
tróleo incrivelm ente baixos - entre 1 e 4 todos os tipos de produtos en ergéticos
dólares por barril (cada barril de pe- baseados em combustíveis fósseis.
Ao transpirarem, as plantas de cânha-
t róleo tem 42 galões) - até 1970;
mo "inspiram" C02 (dióxido de carbo-
duran te quase 50 anos! Tão baixos eram
os preços, de facto, q ue nenhuma outra no) para fabricar estrutura celular; o oxi-
génio residuaJ é expirado, renovando o
fo nte energética lograva competir com
abastecimento de ar da Terra. Então,
eles. Então, h avendo-se assegurado da
quando a biomassa do cânhamo rica em
falta de competição1 subiram o preço do
carbono é queimada para se obter ener-
petróleo para quase 40 dólares por barril
gia, o C02 é de novo libertado no ar. O
nos 10 an os seguintes.
ciclo do C02 aproxima-se do equilfürio
• Henry Ford chegou a cultivar marijuana na sua
propriedade depois de 19371 possivdmente como
ecológico quando a nova cultura de
forma de demonstrar a economia conseguida pela combustível é colhida no ano seguinte.
produção de metanol em lron Mountain, e fab ricou Plantar árvores conserva dez vezes mais
carros com plástico feito de palha de trigo, cânhamo dióxido de carbono na Terra, ao manter
e sisai (Popular MecJumics, Dez. 1941, " Pincb Hitters viva a infraestrutura de micróbios, insec-
for Defense".) Em 1892, Rudolph Diesel inventou o
motor diesel, o qual tencionava alimentar ucom tos, plantas, fungos, etc., de cada árvore.
uma diversidade de combustfveis, em especial óleos Quando maior e mais antiga fo r a árvore,
vegetais e de semente". tanto mais dióxido de carbono é manti-
Pelo ano 2000, os E.U. terão queimado do no exterior da atmosfera.
80% das suas reservas de petróleo, en- (Nem toda a colheita de biomassa acaba conver-
tida em oombustlveis. Algumas folhas, o restolho do
quanto as nossas reservas de carvão po-
caule e todas as raízes mantém-se no campo como
derão durar entre um e três séculos mais. resíduos da colheita. Esta matéria orgânica rica em
Porém, a decisão de continuar a queimar carbono aumenta a fertilidade do solo, e em cad a
carvão fóssil apresenta sérios inconve- estação subsequente um pouco mais de dióxido de
nientes. Este carvão altamente sulfuroso carbono do ar penetra no solo. Logo. as culturas de
biomassa para combustiwl reduzem Lentam ente a
é respon sável pela chuva ácida, a qual já quanudade de djóxido de carbono que está presente
m ata anualmente 50.000 americanos e na no~ atmo~fera poluída.}
5000 a 10.000 canadianos. Além disso, a A conver ão de biomassa através de pi-
ch uva ácida destrói as florestas, os rios e rólise (aplicação de calor elevado a um
os anunais. material orgânico na ausência de ar ou
(Laboratório Nacional de Brookhaven, 1986.) com ar rarefeito) produz carvão vege tal
A conversão para combustiveis de bio- que arde de forma limpa, substituindo o
m assa devia iniciar-se imediatamente, de carvão.
modo a acabar com a poluição planetária O enxofre emitido por caldeiras de
e impedir o genocíd io suicida, tornando- fundições alimentadas a can'âO é a causa
-nos energeticamente independentes de principal da chuva ácida. Medida na es-
for ma natural. cala de pH. a acidez da ehuva da Nova

76
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL:
A MAIS RECENTE VEZ QUE A AMÉRICA PEDIU AOS
AGRICULTORES PARA CULTIVAREM MAIS MARIJUANA
s n ossas necessidades energéticas
..
A são uma inegável prioridade em ter-
mos de segurança n acional. Posto isto,
vejamos o que o Tio Sam é capaz de
fazer qu ando é empurrado para a acção:
No início de 1942, o Japão cortou o
nosso abastecimento de fibras de câ-
nhamo e fibras grosseiras. A marijua-
na, que apenas cinco anos antes fo ra
proibida nos Estados Unidos por ser o
«Assassino da Juventude", era de
repente segura bastante para gue em Fotograma do filme "Hemp for
1943 o nosso governo pedisse aos jo- Vktory, 1945.
vens camponeses do Kentucky para - - - - - - - - - - - - - -
cultivarem a produção nacional de sementes. Os joven s foram instados a culti-
var pelo m enos meio acre de cânhamo, mas de preferência dois acres.
(Folheto :2.5 da Extensão Agricola da Univ. de Kentucky, 1943.)
Em 1942-43, os agriq:1ltores foram obrigados a assistfr a projecções do filme
Hemp for Víctory, realizado pelo USDA, e a assinar declarações em como tinham
visto o filme e lido um panfleto sobre o cultivo de cânhamo. Máquinas para co-
lher cânham o foram disponibilizadas a baixo custo ou gratuitamente. Foram
emitidos selos fiscais alusivos de cinco dólares>e cultivar 350.000 acres de cânha-
mo era o objectivo a atingir para 1943.
De 1942 até 1945, os agricultores "patriotas" americanos que concordaram em
cultivar cânhamo foram dispensados do serviço militar, assim como os seus fi-
lhos; o que demonstra quão vitalmente importante era o cânhamo para a
América durante a Segunda Guerra Mundial.
Entretanto, d esde o final dos anos 30 até 1945, os agricultores "patriotas»
alemães receberam do governo nazi um m anual de instruções em forma de
banda desenhada instando-os a cultivar cânhamo para a guerra.

Inglaterra situa-se amiúde entre o vina- diesel. E o nível de C02 atmosférico não
gre doméstico e o sumo de limão. Isto é se eleva quando se queimam óleos com -
mau para todas as membranas celu!ares bustíveis derivados de biomassa.
com que a chuva contacta, os maiores A pirólise us3 uma tecnologia de "cra-
estragos sendo causados às criaturas vivas cking" idêntica à empregue pela indústria
mais simples. O carvão vegetal não con- petrolífera no processamento de combus-
tém enxofre, de modo que o processo da tíveis fósseis. Após o carvão vegetal e os
sua queima industrial não emite enxofre. óleos terem sido extraídos do cânhamo,
o processo de "cracking" da biomassa podem usar-se os gases residuais para ali-
produz também óleos combustíveis não- mentar co-geradores de energia eléctrica!
-sulfurosos capazes de substituir óleos de Este processo de conversão de biomas-
combustiveis fósseis tais como o óleo sa pode ser ajustado de forma a pro-

77
Ri
se aproximava do óleo de semente de
cânhamo em termos de popularidade
como combustível.

BIOMASSA PARA A ABUNDÂNCIA


ENERGÉTICA
s hastes de cânhamo são compostas
Ade 80% "hurds" (o derivado da polpa
após a fibra do cânhamo ter sido extraída
da planta), cuja composição é 77% celu-
lose - uma matéria-prima industrial em
bruto usada na produção de produtos
químicos, plásticos e fibras. Dependendo
de qual relatório agrícola americano está
correcto, um acre de plantas de cânhamo
adultas pode fornecer sustentavelmente
Capa do uManual Divertido do entre 4 e 50 vezes, e até 100 vezes, a celu-
Cânhamo", publicado pelo Instituto lose contida nas hastes de milho, no kenaf
Nutricional do Reich em 1943. ou na cana do açúcar - as plantas se-
guintes mais celulósicas do planeta.
<luzir-se carvão vegetal, metanol e óleos Na maioria dos lugares, pode colher-se
combustíveis para geradores a vapor, cânhamo duas vezes por ano e, em áreas
assim como produtos químicos impor- mais temperadas como o sul da Califór-
tantes para a indústria: acetona, acetato nia, o Texas, a Florida e regiões seme-
etílico, alcatrão, piche e creosote. lhantes, a colheita pode fazer-se ao longo
A Ford Motor Co. operou com êxito de todo o ano. O cânhamo tem uma curta
uma fábrica de «cracking» de biomassa estação de crescimento e pode plantar-se
nos anos 30, em Iron Mountain, Michi- após terem sido feitas as colheitas.
gan, usando árvores como combustível Uma rede independente e semi-rural
celulósico. (Na produção de combustível, de agricultores eficientes e a utónomos
o cânhamo amigo da Terra é pelo menos tornar-se-á o factor económico-chave da
quatro vezes mais eficiente do que as produção de energia neste país.
árvores, além de sustentável.) Todos os anos, o governo dos Estados
"Progress in Biomass Conversion': Vol. 1, Sarka- Unidos paga ( em dinheiro ou "espécie~')
ncn e Tillman, editores; Energy Farming in America, aos agricultores para não cultivarem
Osburn, Lynn, Access Unlimited. cerca de 90 milhões de acres de campos
A semente de câ nhamo contém 30% - é o chamado "banco do solo'~ E entre
de óleo (por volume). Este óleo foi usado 10 a 90 milhões de acres de cânhamo ou
para fabricar óleo diesel combustível de outra biomassa lenhosa anual plantada
elevada pureza, e óleo lubrificante para nestes campos reservados e em pousio ( o
motores de avião e máquinas de pre- nosso Banco do Solo) mudariam radical-
cisão. Ao longo dos tempos, o óleo de mente a face da produção de energia e
semente de cânhamo foi usado para ali- constituiriam uma tentativa séria de
mentar lâmpadas a óleo. A lenda diz que fazer algo para salvar a Terra. a América
a lâm pada do génio de Aladü10 queima- há ainda 500 milhões de acres de solo
va óleo de semente de cânhamo, bem baldio e inculto que são cultiváveis.
como a do profeta Abraão. No tempo de Cada acre de cânhamo geraria 1000
Abraão Lincoln, apenas o ó leo de baleia galões de metanol. Combustíveis oriun-

78
dos d o cânhamo, juntamente com a reci- O cânhamo é a única fonte de biomas-
clagem d e papel, etc., seriam o suficiente sa disponível capaz de torna r os E.U.
para fazer a América funcionar virtual- energeticamente independentes. Em úl-
mente sem petróleo. tima análise, o mundo não tem outra
escolha ambiental racional senão aban-
QUINTAS F~MILIA~ES OU donar os combustíveis fósseis.
COMBUSTIVEL FOSSIL?
ENTÃO QUAL É O PROBLEMA?
elo ano 2000, quando as nossas reser-
P vas petrolíferas tiverem diminuído
para 20% do seu tamanho original, a O «problema" óbvio: As empresas pro-
é
dutoras de energia! Elas são proprie-
América terá seis escolhas de forma a tárias da maioria das empresas petro-
evitar a ruína económica: químicas, farmacêuticas, de bebidas alcoóli-
• Usar mais carvão, poluindo ainda cas e tabaqueiras, e estão interligadas com
mais o meio ambiente; companhias de seguros e bancos.
• Continuar a investir na energia nuclear, Segundo a imprensa, muitos políticos
arriscando a aniquilação do planeta; agora no poder são comprados e pagos
• Converter florestas em petróleo, pelas empresas produtoras de energia,
alterando permanentemente os ecossis- cujo braço no governo dos E. U. é a CIA -
temas que sustentam a vida; '¼ Companhia" (Robert Ludlwn, etc.). A
• Com bater guerras continuamente administração Bush/Quayle estava inti-
p or causa de petróleo estrangeiro; mamente ligada às petrolíferas, à impren-
• Con struir enormes sistemas gera- sa, às farmacêuticas - e à CIA.
d ores de energia eólica, solar, geotérmica O conflito monetário mundial é de
e das marés; facto um conflito energético, já que é a
• Estabelecer quintas de energia para energia que nos permite produzir alimen-
cultivo de combustíveis de biomassa. to, abrigo, transporte e entretenimento. É
• Cultivar biomassa em apenas 6% da este conflito que amiúde irrompe em
extensão dos E.U. continentais, satisfazen- guerra aberta. Se removermos a sua causa,
do todas as necessidades nacionais em ter- eles poderão não ocorrer nunca.
mos de gás e petróleo, e acabando com a (Carl Sagan; e predição da EPA dos E.U., feita em
dependência de com bustíveis fósseis. 1983, sobre um desastre mundial n forja para daqui
a 30 a 50 anos.)
Manahan, Stanley E., Environmental Chemist-ry,
4ª ecLição.
SEGURANCA ENERGÉTICA
O cânhamo é o principal recurso pro- '
dutor de biomassa existente na Terra; ele e a ~iomassa ~o cânhamo fosse intro-
p ode produzir 10 toneladas por acre em
quatro meses. O cãnl1amo não agride o
S duzida nos paises do Terceiro Mundo,
ela poderia causar a diminuição drástica
solo* e larga a sua lustrosa folhagem du- tanto da nossa aj uda externa como das
rante toda a estação, acrescentando ao razões para entrarmos em guerra, ao
solo wna cobertura vegetal que o ajuda a mesmo tempo que faria a qualidade de
conservar a humidade. O cânhamo é a vida desses países dar um salto quântico.
cultura ideal para o Oeste semi-árido da Novas indústrias não-poluidoras sur-
América e as planícies abertas. girão por toda a parte. A economia mun-
* Adam Beatty, vice-presidente da Sociedade dial prosperará como nun ca dantes.
Agricola do Kentucky, relatou casos de boas colheitas Procedendo assim, os seres humanos es-
de cânhamo obtidas no mesmo solo durante 14 anos tariam pelo menos a apostar na sobrevi-
seguidos sem que se verificasse qualquer declí.nio no
rendimento. Beatty, A., "Southern Agriculture", C. M. vência ambiental em vez de se entrega-
Saxton &. Co., NI, 1843, pág. 113; USDA Yearbook, 1913. rem indulgentemente ao consumo suici-

79
da de combustível fóssil, que ameaça semente de cânhamo voltarão a fornecer
toda a vida no planeta. às indústrias de tintas e vernizes uma
alternativa o rgânica aos petroquímicos,
LIVRE INICIATIVA E LUCROS pois o óleo da sua semente tem pro-
CHORUDOS priedades quimicas semelhantes ao óleo
de linhaça. E o m ercado está totalmente
ui tas outras áreas da economia bene-
M ficiariam com o fim da proibição do
aberto a alimentos altamente nutritivos e
deliciosos feitos de semente de cânhamo,
com seus saudáveis óleos gordos essen -
ciais e proteínas.
O cânh amo cul tivado para obtenção
de fibra retirará as indústrias da celulose
e têxtil das mãos das empresas n1ul-
tinacionais, devolvendo-as às comunida-
des locais.
Investigações feitas por diversas asso-
ciações de empresas do sector do cânha-
mo indicam que ele tem cerca de 50.000
utilizações comerciais economicamente
viáveis e competitivas no mercado,
excluindo o fumo. Elas incluem:
Henry Ford demonstra a resistência de
um automóvel construído a partir de ALTA COSTURA DURADOURA
fibras naturais. Entre elas contava-se o
aseando-se nos atributos especiais das
cânhamo, que também seria usado
como combustível pela viatura.
B fibras de cânhamo - absorção, insu -
lação, resistência e macieza - , os fa-
Foto das colecções do Henry Ford bricantes e designers de roupa voltarão a
Museum e do Greenfield Village. incluir cânhamo no linho, produzindo
novas colecções de vestuário durável e
cânhamo e a resultante estimulação do atraente, e têxteis de todos os tipos.
comércio por via da redescoberta de pro- Em 1989, a chegada da China de ves-
dutos de cânhamo, como atestam empre- tuário feito de misturas de cânhamo/al-
sas tais como a Hempstead Company, a godão marcou o início de uma nova era
Eco-lution, a Body Shop, a HanfHaus, etc. para o mundo da moda em constante
O cânh am o legal devolverá aos agricul- mudança. E agora, em 1998, empresas co-
tores milhares de milhões de dólares ge- mo a Hempstead Company (Santa Ana,
rados por potenciais recursos naturais, e Cal), a CHA - Coalition for Hemp
levar á ao coração da América milhões de Awareness (Chandler Heights, Ariz.), a
bons empregos n a produção de energia. Hemp Connection (Whitehorn, CaJ.), a
Os agricultores da energia do cânhan10 Two Star Dog (Berkeley, Cal.), a Ecolution
tornar-se-ão os maiores produtores de (Fairfax, Virgínia) e a Ohio Hempery
matérias-primas da nossa nação. (Guysville, Ohio), estão a criar ro upas e
As quintas fa miliares serão salvas. As acessórios maravilhosos e duráveis a par-
colheitas podem ser ajustadas às necessi- tir de muitas variedades de tecidos feitos
dades da nação. Pode cultivar-se cânha- de cânhamo puro importados da China,
mo para obter recursos CDB (com- Hungria, Roménia e Polónia.
bustíveis derivados da biomassa) a cerca. Embora aplaudamos os esforços destas
de 30 dólares po r tonelada. Colheitas de nações para nos abastecer com tecidos de

80
cânhamo da melhor qualidade, ansiamos Estudos recentes indicam que a rare-
pelo dia em que tecidos de cânhamo facção da camada de ozono ameaça
americano partilhem as passcrcles! reduzir substancialmente a produção
Roupa exterior, lençóis de cama quen- mundial de pinheiros loblolly (a maior
tes, toalhas macias ( o cânhamo absorve fo nte de polpa de papel) - até 30% ou
melhor a água do que o algodão), fraldas mesmo 50%, dependendo da flutuação
(mesmo fraldas descartáveis que não exi- na densidade do escudo de ozono. Mas o
gem o abate de árvores para serem fabri- cânhamo não apenas resiste aos estragos
cadas), estofos, papel de parede, tapetes causados pelo aumento de radiação
naturais, até o melhor sabão do mundo ultravioleta - de facto, viceja nela.*
- tudo isto pode agora ser concebido e ~ A radiação ultravioleta intens ificada faz o câ-
confeccionado a partir de cânhamo puro; nhamo produzir mais óleos glandulares e aumenta
trata-se em geral de artigos de qualidade, o peso da planta. (Teramura, Alan, estudo da Uni-
versidade de Montana, revista Discover, Setembro
económicos e ecologicamente benignos. de 1989.)
As barreiras alfandegárias e leis res-
tringindo o uso de fibras de cânhamo As fábricas de papel poderão regressar
importadas devem ser abolidas. a níveis plenos de produção e os
Presentemente, os têxteis e o vestuário madeireiros descobrirão novos empregos
constituem a maior quota de importações no sector do cânhamo.
feitas pelos E.U. (59%). Em 1989, a im- Os camionistas poderão continuar a
portaçáo de tê>..'teis representava 21% do carregar polpa para celulose, e madeira
défice comercial americano em mercado- para construção, embora o preço desta
rias. Os governos estrangeiros subsidiam vá baixar à medida que for diminuindo a
amiúde as suas indústrias têxteis e não pressão sobre os nossos recursos flo-
obrigam as empresas a seguir regulamentos restais, ao substituir-se a polpa de ma-
ambientais e sanitários.* O resistente câ- deira cultivada em florestas por cânha-
nhamo não causa o enorme leque de pro- mo cultivado em quintas.
blemas ambientais associados ao algodão. (Wm. Conde, Conde Redwood Lumber; Jim
Evans, Oregon Hemp.)
* The Washington Spectator, Vol. 17 N° 4, 15 Fev.
1

1991. Haverá também muito trabalho a fazer


Os Estados Unidos importam majs têx- na reflorestação. Os nossos rios atraves-
teis que qual.q uer outro artigo. Apesar do sarão um período de recuperação quando
governo ter deixado de restringir a impor- o cânhamo substituir a polpa de madeira
tação de têxteis e roupas de cânhamo, estes na indústria da celulose, resultando numa
artigos não serão competitivos até que a redução de entre 60 e 80% nos produtos
fibra do cânhamo possa ser cultivada e químicos necessários para o fabrico de
processada domesticamentc, evitando papel que neles são despejados.
taxas de importação inflacionadas e bai- Isto significa um acréscimo nos recur-
xando os custos de transporte. sos piscícolas, bem como um incremento
do campismo e do turismo nas maravi-
PRODUTOS DE PAPEL MAIS lhosas e vitais novas regiões florestais -
RESISTENTES e nas florestas antigas que deste modo
serão poupadas.
s meios ambientes e mercados labo-
O rais devastados do Noroeste da Amé-
rica e outras regiões florestais aprestam-se
SUBSTITUTOS BIODEGRADÁVEIS
a fazer uma dramática recuperação quan-
PARA O PLÁSTICO
do O cânhamo for reintroduzido na indús-
tria de papel doméstica. Acelulose é um p~límero orgânico bio-
degradável. O piche de carvão, a ma-

81
téria-prima principal dos polímeros sin- transporte, do marketing e dos bens de
téticos como o nylon, é um recurso fóssil consumo.
não-biodegradável. Não pertence à eco- As explorações agrícolas, os bancos e
logia da Terra e faz definhar a vida onde as firmas de investimento realizariam
quer que seja derramado. também grandes lucros, e os milhares de
A partir do cânhamo, uma fonte de milhões de cânhamo-dólares fluindo na
celulose da melhor qualidade, faz-se economia legal aumentariam os rendi-
papel mais forte e mais resistente à do- mentos fiscais e o capital líquido dispo-
bragem do que o papel de polpa de ma- nível para investimento e aquisição de
deira.* Cartão e sacos de papel feitos de bens de consumo.
cânhamo são mais duradouros e versá- As autoridades federais, estaduais e
teis do que produtos semelhantes feitos regionais concretizariam um jackpot de
de polpa de madeira ou de plástico. centenas de milhões de dólares em rendi-
,. Dewey e Merrill, Bulletin #404, Dep. Agr. E.U., mentos fiscais sem aumentarem os
1916. impostos nem continuarem a envenenar
a terra de forma demente.*
NEGÓCIOS DERIVADOS E • ..Se o mercado da marijuana fosse legal, as
IMPOSTOS autoridades estaduais e federai colectariam anual-
mente milhares de milhões de dólares•: disse Ethan
s recursos bioquímicos obtidos do N adJeman, antigo professor-assistente de política da
O cânhamo são utilizáveis em literal-
m ente dezenas de milhares de produtos,
Universidade de Princeton (que é agora, em 1998,
director da Fundação Lindesmith}. "Ao invés, gas-
tam-se milhares de milhões no que acaba por ser
desde tintas até dinamite. Cada uma um subsídio ao crime organizado'~ (LA. Times, 20
destas aplicações significa novas oportu- de ovembro de 1989, pág. A- 18.)
nidades comerciais e novos empregos. A Fundação Lindesmith de George
Ao desenvolver-se cada novo negócio de Sorost está a apoiar muitos dos plebisci-
cânhamo, o dinheiro fluirá dele para revi- tos estaduais sobre marijuana médica e
talizar áreas da economia aparentemente relegalização do cânhamo que estão ac-
díspares. Os trabalhadores americanos, tualmente em curso nos Estados Unidos.
bem como empresários que enriquecerão Na verdade, a Fundação Lindesmith
a curto prazo, criarão milhões de novos apoiou financeiramente a iniciativa so-
produtos e postos de trabalho. bre marijuana médica lançada por Den-
Eles também comprarão milhões de nis Peron (Proposta 215) na Califórnia,
casas, automóveis e outros bens que não que foi aprovada em 1996.
são feitos de cânhamo - ou também Em 1997-98, Soros financiou iniciati-
esses serão feitos de cânhamo? - > esti- vas sobre marijuana médica em estados
mulando assim uma expansão económi- como Washington, Oregon, Washington
ca concreta baseada no «efeito ondu- D.C., Maine e Colorado, e apoiou finan-
latório': ao invés da irracional economia ceiramente o referendo que logrou im-
"trickle down'' promovida pelo antigo pedir a legislatura e o governador do
presidente Reagan, que consistia em Oregon de recriminalizarem a cannabis
injectar dinheiro directamente na cor-
em Junho de 1997.
rente sanguínea da América empresarial,
sob o pretexto de isso ir beneficiar a ECONOMIA VERDE
Am érica profunda.
uando os agricultores americanos
Explorações agrícolas revitalizadas si-
gnificam compras adicionais de equipa- Q cultivarem cânhamo para abastecer
mento, e cada novo negócio irá criar especuJador e filantropo, considerado
t lnvl!!>údor,
empregos derivados nos sectores do um guru da globalização. (N. do i.)

82
as indústrias americanas com as maté- desh, o Nepal e o Tibete, cresce apenas
rias-primas para fabrico de fibras, teci- uma leve cobertura de musgo, após
dos, combustível, alimentos, plásticos e inundações-relâmpago terem removido
produtos recreativos/relaxantes vegetais, m ilhares de toneladas de solo superficial.
assistiremos a um rápido enverdecer da Nos anos 70, após a independência do
terra e da economia. Bangladesh, que significa literalmente «a
A economia verde baseada no uso de terra do povo da cannabis" (de bhang-
recursos agrícolas para abastecimento da -cannabis, la-terra, desh-povo ), este país
indústria criará um sistema de produção assinou um acordo "antidroga" com os
diversificado e com base local. Esta eco- E. U., abstendo-se de cultivar cânhamo.
nomia verde descentralizada permitirá Desde essa altura o país tem sofrido de
que todos participem da riqueza de mna doenças, fome e dizimação devidas a
verdadeira democracia de mercado livre inundações incontroladas.
e dela partilhem. Pois não pode haver Sementes de cânhamo largadas sobre
verdadeira democracia a não ser que solo sofrendo de erosão podiam recupe-
todos os cidadãos tenham oportunidade rar terras pelo mundo fora. As regiões
de partilhar a riqueza da nação. desertificadas que foram cultivadas até à
exaustão podiam ser reutilizadas ano
RECUPERAÇÃO DA TERRA E DO após ano, não apenas atrasando o ge-
SOLO nocídio causado pela fome mas acal-
mando também as ameaças de guerra e
recuperação de terra é outro aliciante
A argumento económico e ecológico a
favor do cultivo de cânhamo.
revolução violenta.

GUARDA NATURAL
Até este século, os nossos agricu ltores,
m vez de uma Guarda Nacional, por
tanto os pioneiros como os comuns, usa-
vam cannabis na limpeza de campos pa- E . que não implementar uma Guarda
Natural de soldados ambientais para
ra cultivo, como colheita anual de pousio
e, na sequência de incêndios florestais, serem a nossa linha da frente na luta pela
para evitar deslizamentos de terras e re- sobrevivência - plantando árvores ou
duções em lençóis aquíferos. colhendo biomassa (p. e., cânhamo) em
Em apenas 30 dias, as sementes de câ- solos agrícolas marginais?
nhamo lançam raízes com 10 a 12 pole- Uma Guarda Natural composta de
gadas, comparadas com a raiz de urna po- electricistas, canalizadores, engenheiros e
legada que ganham o centeio ou a cevada operários que trabalhassem na recons-
actualmente usados pelo governo dos E.U. trução das infraestruturas da América: as
o Sul da Califórnia, o Utah e outros nossas estradas, pontes, barragens, ca-
estados usaram rotineiramente a can- nais, esgotos, ferrovias, etc.
nabis desta maneira até por volta de 1915. Não será este o modo humano, civi-
Ela também esfarela o solo muito com- lizado e socialmente responsável de usar
pactado e excessivamente lavrado. os nossos recursos humanos, em vez de
Actualmente, na região himalaica ou- armazenar a pessoas em prisões como se
trora verdejante situada entre o Bangla- elas fossem animais?

83
Pirogravura de uma mulher da tribo dos p ictos usando vestes de cânhamo
pintadas. 0$ pictos foram os antepassados dos escoceses, tendo povoado o
norte da Grã Bretanha por volta do sécul,o IX.
MITO, MAGIA E MEDICINA:
A SOCIOLOGIA ,DO USO DO, CÂNHAMO
ATRAVES DA HISTORIA
Contrariamente à percepção popular, a ''marijuana" não é um fenómeno
com rofzes nos anos 60.
o cdnhamo-de-cannabis faz porte da nossa herança e foi o esteio das
nossas culturas mais estáveis e duradouras.
Recentes estudos psicofarmacológicos descobriram que o THC possui re-
ceptores específicos no cérebro, o que fndicia a existência de uma relação
,pré-cultural entre o Homem e a marijuana - na verdade, a cultura hu-
mana -pode muito bem ser o fruto do nossa simbiose com a cannabis.

O QUE UM NOME INDICA plantas diferem do cânhamo verdadeiro


(Parte 2) em termos de aparência e valor econó-
mico. Curiosamente, o nome «cânhamo"
o texto seguinte é ad.iptado do escrito por Lyster nunca se aplica ao linho, que se asseme-
Dewey para a secção sobre cânhamo do Anuário de lha mais ao cânhamo do que qualquer
Agricúltura de 1913 do USDA, PP· 283-93: o utra fibra comercial.
nome ''bemp" [cânhamo], derivado O cânhamo verdadeiro é conhecido
Ü do inglês arcaico "henf': começou a em diferentes línguas pelos seguintes
nomes: ca11nabis, em latim; chanvre, em
ser u sado no inglês médio por volta do
ano 1000 e pertence ainda primariamen- francês; cafiamo, em espanhol; cânhamo>
te à cannabis sativa. Também. é usado em português; canapa, em ital iano;
a ra designar a fibra longa obtida dessa canep, em albanês; konopli, em russo;
~lanta: a fibra tê:>rtil mais antiga, ma~s konopi e penek, em polaco; kemp, em
conhecida e, até recentemente, a mais belga; hanf em alemão; hennup, em
holandês; hamp, em sueco; hampa, em
usada da Terra. . dinamarquês; kenevir, em búlgaro; ta-
Há muito que o cânhamo é considera-
do a fibra longa-padrão. Nessa qualida- -ma, si-ma e tse-ma, em chinês; asa, em
japonês; nasha, em turco; kanabira, em
de, 0 seu nome acabou por ser usado co-
sírio; kannab, em árabe.
termo genérico para todas as fibras
mo as enquanto "cânhamo indiano» ou OS PRIMEIROS UTILIZADORES
l ong '
"cãnballlO verdadeiro» denota a canna b'1S CONHECIDOS DE CANNABIS
sativa. Hoje em dia os mercados de ma-
istoriadores, arqueólogos, antropó-
té n
•as-primas enumeram nomes como
" ãnhamo-de-manila · ,,, o ab acá·, "eãn l1a- Hlos e fiJólogos antigos e modernos
citam provas concretas (artefactos, relí-
c -de-sisa!': o sisai e o henequen; "câ-
mo o - das-m aunc1as, · ", a fib ra Furcraea; quias, têx.te~s~ e~crita cuneiforme, lingua-
nhª m
" " harno-da-nova-ze1ân d'ta", o 'ó .
11 rm1- gens, etc.) md1cando que o cânhamo é
can ,, C l . uma das culturas h á mais tempo pratica-
. "cãnbanio-de-sunn , a rota aria; e
"cãnha.mo-da-índ'ia,
um, ,, a Juta.
· 1io das est as das pela humanidade. A indústria da te-

85
A partir pelo menos do século XXVII a. C. até este século, a
cannabis foi incorporada em virtualmente todas as culturas do
Médio Oriente, Ásia Menor, Índia, China, Japão, Europa e África.

celagem da fibra de cânhamo teve ori- era apenas um alimento básico da vida
gem há 10.000 anos, aproximadamente diária; os medicamentos e as drogas do
na mesma altura que a cerâmica e antes cânhamo representavam uma ligação ri-
da metalurgia.* tual com os deuses.*
• Columbia History of the World, Harper & Row. "' Em geraJ, quem cultivava e/ou usava cânhaino
NI, 1981. para usos industriais quotidianos desconhecia, e a
lei/ameaça/tabu religioso impedia-os de tomar co-
No século XXVII a.C., os chineses já nhecimento, que o seu sacerdote/xamã/feiticeiro/
cultivavam ((Ma" (cânhamo-de-cannabis) /etc. usava diferentes extractos da mesma exacta
para obtenção de fibra, medicamentos e planta para fazer sacramentos, medicamentos,
aJimento vegetal. 3700 anos depois (circa unguentos, e como meio de comunhão com os
1000), a China chamava à cannabis «Ta- deuses.
-Ma': ou "grande cânhamo': para distin-
gui-la das plantas fibrosas menores, as O CÂNHAMO E OS CITAS...
quais eram agora agrupadas sob o termo
abemos hoje que os citas usavam can-
genérico para as fibras, "Ma'~ O pictogra-
ma chinês para o cânhamo verdadeiro
S nabis com muitos fins. Por exemplo, os
antigos citas colhiam o cânhamo que cul-
mostra um grande «homem", indicando a
tivavam com uma alfaia a que ainda hoje
estreita relação entre o ser humano e o
chamamos foice. t O hábito cita de inalar
cânhamo.
cannabis em rituais fune rários foi regis-
(Farmacopeia Shen Nung: Ponts'ao C11i11g; clássi-
cos da dfoastia Han; et al.)
tado pelo historiador grego Heródoto no
início do século V a.C. Os citas nómadas
introduziram esse costume entre outras
ENTRE 2300 A.C. E 1000 raças, tais como os trácios.
ribos nóm~das, oriundas provavel- (Emboden, Wm., Jr., Flesh of the Gods, Praeger
T mente da Asia Central e da Pérsia
(Irão e Iraque), e referidas nas lendas
Press, NI, 1974.)

como «arianos", invadiram e conquis- O FIO CONDUTOR DA


taram virtualmente todo o Mediterrâneo CIVILIZAÇÃO
e Médio Oriente, ultrapassando o Cáu-
esde pelo menos o século X.XVII a.e.
caso e rumando a ocidente, em direcção
à Europa.
D até este século, a cannabis foi incor -
porada em virtualmente todas as cultu-
No decurso destas movimentações e
ras do Médio Oriente, Ásia Menor, fndia,
invasões, os nómadas introduziram a
China, Japão, Europa e África devido à
cannabis e os seus djversos usos a norte e
qualidade superior das fibras, remédios,
a oeste, através da Grécia, Europa e Mé-
óleos e alimentos que dela se podiam
dio Oriente, assim como a sul, do Egipto extrair, e aos seus usos meditativos, eufó-
à Africa Negra, e a leste, pelos Himalaias
ricos e relaxantes.
acima até à Índia. O cânhamo era uma das indústrias
O cãnhamo foi incorporado nas cul- mais importantes dos nossos antepassa-
turas do Médio Oriente e lndia devido dos, juntamente com o fabrico de uten-
aos seus inúmeros usos como alimento e
fonte de óleo, matéria-prima para fibras, t Em inglês, foice diz-se scythe e cita é scythian.
medicamentos e droga. O cânhamo não (N. do T.)

86
sílios, a criação de gado e o cultivo de relaxar músculos, aliviar dores e reduzir
cereais. febres, bem como uma ajuda sem parale-
lo na obstetrícia, para não falar de cente-
O CÂNHAMO NA APLICAÇÃO DA nas de o utras aplicações medicinais.
LEI (Mikuruya, Dr. Tod, Marijuana Medical Papcrs,
1839-1972, Medi-Comp Prcss, Oakland, Cal, 1972;
través dos tempos, a planta de cânha- Shultes, R. E., Harvard Botanical; Encyc. Brit.a11nica;
A mo tem mantido uma relação curiosa
com os códigos legais vigentes no mun-
Abel, Ernest, Marijuana: The First 12,000 Years, Pie-
num Press, 1980; Rubin, Vera, Canr,abis and Culture,
Institute for the Study of Man, et a!.)
do. Como notámos antes, em diferentes
alturas foi diversamente ilegal cultivar A divisão de informação entre esta er-
cânhamo e n ão o cuJtivar. Mas o cânha- va sagrada e os usos do cânhamo indus-
mo tam.bém desempenhou um papel di- trial foi estritamente mantida pelos sa-
recto na aplicação da lei. cerdotes durante milhares de anos, até
Por exemplo: Em muitas tribos de aos últimos séculos. Aqueles que, fora da
Africa, o mais severo castigo/reabilitação classe sacerdotal, possuíam conhecimen-
aplicado a crimes capitais era forçar o tos sobre drogas eram considerados (pe-
transgressor a fumar quantidades maci- los sacerdotes, claro) bruxos, videntes,
ças de dagga (cannabis) ininterrupta- foras-da-lei e outras coisas do género,
mente durante horas a fio, mantendo-o sendo amiúde condenados à morte.
dentro de uma cabana fechada até ele
ficar literalmente inconsciente devido à OS FILÓSOFOS MÍSTICOS
inalação dos fumos. O equivalente ao eferências à cannabis e ao seu consu-
que consome em um ou dois anos um
grande fumador americano é ingerido
R mo são aspectos fundamentais de
muitas das grandes religiões do mundo.
apenas em uma hora _ou duas. ~e resulta? Por exemplo:
Os utilizadores africanos dizem que XINTOÍSMO (Japão) - A cannabis
depois do tra~ame~t~ com ~agga a taxa era usada para consolidar as relações no
de reincidência cnmmal é virtualmente matrimónio e dele afastar os maus espí-
nula. ritos, acreditando-se que gerava riso e
As culturas europeia e norte-ameri- felicidade no casamento.
cana usavam cânhamo na aplicação das HINDUÍSMO (lndia) - Diz-se que o
suas leis mediante uma forma mais ter- deus Shiva «trouxe a cannabis dos Hima-
minal do castigo máximo: o laço da forca laias para alegrar e iluminar os homens'~
feito de corda de cânhamo.* Os sacerdotes sadhu percorrem a índia e
* "Nós somos rapazes joviais / Ao cantarmos / o mundo partilhando cachimbos "chil-
endurados numa corda de cânhamo / sob a árvore lurn" enchidos com cannabis, por vezes
~. forca''. John Fletcher, Rol/o, Duke of Normandy, misturada com outras substâncias. No
A~o Ili, cena 3, 1639; "Ou pomos fim a isto, ou
enforcamo-vos até ao último / Pois nesta cidade te- Bhagavad-gita, Krishna afuma: "Eu sou a
cânhamo e mãos bastantes para enforcar todo o erva curativa" (Cap. 9:16), enquando o
: : : maldito clã''. Da lápide de um ladrão de cava-
0
Canto Quinto do Bhagarat-purana des-
;s
1 em Rapid City, Dakota do Sul, 1877; Shushan, E.
Grave Matters, Ballantine Books, Nl, 1990. Veja-se
ta-:Ubém Hemp for Victory, filme do USDA, 1942.
creve o haxixe em termos explicitamente
sexuais.
BUDISMO (Tibete, Índia e China) -
Os budistas usaram ritualmente cannabis
MEDICAMENTOS VEGETAIS do século V a.C. em diante; ritos iniciáti-
EXTRAÍDOS DA CANNABIS cos e experiências místicas com erva
arte secreta da medicina do cânhamo eram (são) comuns em muitas seitas bu-
A revelou-se eficaz para sarar feridas, distas chinesas. Alguns budistas e lamas

87
tibetanos consideram que a cannabis é a cannabis enquanto meio de obter a reve-
sua planta mais sagrada. Muitas tra- lação divina, a iluminação e a unidade
dições, escritos e crenças budistas in- com Alá. Muitos académicos, muçulm a-
dicam que o próprio «Sidarta" (o Buda) nos ou não, acreditam que o misticismo
alimentou-se exclusivam ente de semen- dos sacerdotes sufi era de facto o dos zo-
tes de cânhamo durante os seis anos ante- roastrianos que, tendo sobrevivido às
riores ao anúncio das suas verdades (as conquistas muçulmanas dos séculos VII
Quatro Nobres Verdades, o Caminho e VIII> converteram-se subsequente-
óctuplo), quando se tornou o Buda. mente ao Islão (muda de religião e aban-
Quanto aos ZOROASTRJANOS, ou dona o álcool ou serás decapitado).
Magos (Pérsia, circa séculos VIH-VII a.C. Algumas seitas de CRISTÃOS COPTAS
até séculos III-IV), muitos exegetas e (Egipto/Etiópia) acreditam que a sagrada
comentadores cristãos acreditam que os "erva verde dos campos" referida na Bíblia
três «Reis Magos': ou Sábios, que assisti- ("Farei crescer para eles uma planta reno-
ram ao nascim ento de Cristo eram refe- mada; deixarão de ser consumidos pela
rências cúlticas aos zoroastrianos. A fome e nunca ma is terão de suportar os
religião zoroastriana baseava-se (pelo insultos dos idólatras>' (Ezequiel 34:29) é a
menos superficialmente) no conjunto da cannabis, e que os incensos secretos, os
planta de cânhamo, que era o principal incensos doces e os óleos de ungir refe-
sacramento religioso da classe sacerdotal r idos na B(blia são feitos de cannabis.
e o seu mais importante medicam ento Os BANTUS (África) tinham Cultos
(p. e., obstetrícia, ritos de incenso, óleos da Dagga,. secretos, sociedades que res-
de ungir e crismar), bem como a princi- t ringiam o uso da cannabis aos regentes
pal fonte de óleos de iluminação e óleos masculinos. Os pigmeus, zulus e hoten-
combustíveis do seu mundo secular. totes consideravam todos que a cannabis
Considera-se geralmente que a palavra era um medicamento indispensável para
"mágico" deriva dos zoroastrianos - os cãibras, epilepsia e gota, e como sacra-
"Magos".
m ento religioso.
Os ESSÉNIOS (antigo Israel) usavam
• Estes cultos "Dagga" acreditavam que a Sagrada
o cânhamo medicinalmente, assim como Cannabis fora trazida à terra pelos Deuses, sendo
os TERAPUTEUS (Egipto), dos quais oriunda do sistema "Estrela Dois Cães", a que cha-
deriva o termo "terapêutico,1• AJguns aca- mamos Sirius A e 8. "Dagga" significa Literalmente
démicos acreditam que ambos eram dis- "cannabis': ~ interessante constatar que a palavra
indo-europeia que veio a designar a planta tanto
cípulos dos sacerdotes/mágicos z.oroas- pode ler-se como "canna", cana, e "bi'~ dois, como
trianos, ou pertenciam com eles a uma "canoa", de canino, e "bis': significando dois (bi) -
irmandade. "Dois Cães".
Os ANTIGOS JUDEUS. Como parte Os RASTAFAR.LANOS (Jamaica e ou-
das cerimónias sagradas judaicas reali-
tras regiões) são uma seita religiosa con-
zadas sexta-feira à noite no Templo de temporânea que usa a "ganjan como o
Salomão, entre 60 a 80.000 homens pas- seu sacramento sagrado para comunicar
savam em redor queimadores de incenso
com Deus (Jah).
cheios de kanabosom (cannabis), inalan-
do o seu fumo, antes de regressarem a "A MENTE NATURAL"
casa para a principal refeição da semana
(seria por causa dos munchies?) studos financiados pelo governo dos
Os SUFIS DO ISLÃO (M édio Oriente) E Estados Unidos na Universidade Mé-
dica de St Louis, em 1989, e no Instituto
são sace1·dotes "místicos" muçulmanos
que pelo menos durante os últimos 1000 Nacional de Saúde Mental, em 1990, fi-
anos divulgaram, usaram e elogiaram a zeram a investigação da cannabis entrar

88
Cerca de 95% das pessoas não eram autorizadas a aprender latim
a língua da Bíblia, o que permitia aos poucos padres letrados '
interpretar as escrituras como lhes aprouvesse.

num novo domínio ao confirmarem que ça-recolecção. Alguns cientistas presu-


o cérebro humano possui receptores es- mem que estes receptores não se forma-
pecíficos para o THC e os seus primos ram com o propósito de provocar ganza.
naturais da cannabis - tanto quanto se
sab e até agora, nenhuns outros compos-
tos se ligam a esses receptores.
Para um produto químico afectar o cé-
rebro, ele deve ligar-se a um receptor ca-
paz de o receber.
( Omni, Ago. 1989, págs, 144-145; Wash. Post, 9
Ago. 1990.)
E1nbora a morfina se encaixe grosso
modo nos receptores das betaendorftnas,
e as anfetaminhas correspondam grosso
modo à dopamina, estas drogas, assim
como os tricíclicos e outras drogas alte-
radoras da disposição, apresentam graves
perigos para o subtil equilíbrio dos flui-
dos vitais dos nervos. A Omni e o NY Ti-
mes não citaram quaisquer perigos físi-
cos da cannabis natu ral.
Uma das razões por que o uso da can-
nabis é tão seguro é ela não afectar ne-
nhum d os músculos involuntários liga- O santo indiano Ganesh Baba, de 92
dos à respiração e às funções vitais. Ao anos, admira alguns dos sacramentos
invés, ela afecta os seus receptores especí- da sua ordem. Foto de Ira Cohen.
ficos para o movimento ( estratégia do
movimento) e a memória (estratégias Em 1989, Allyn Howlett, professor de far-
mentais). macologia da Universidade de St. Louis,
A nível molecular, o THC encaixa-se especulou mistificado: <<Deve ter-se de-
em receptores situados no cérebro supe- senvolvido algum tipo de via neuronal
rior que parecem ter sido concebidos no cérebro, quer houvesse plantas de
com o único fim de o acomodar. Isto cannabis ou não".
aponta para uma antiga simbiose entre a Mas talvez não. No seu livro lntoxica-
planta e os seres humanos. tion: Life in Pursuit of Artificial Paradise,
É possível que estas vias neuronais o dr. Ronald K. Siegel, psicofarmacolo-
sejam o produto da relação pré-cultural gista da UCLA, indica que a motivação
entre o ser humano e a cannabis. Usando para alcançar estados ou disposições
os bosquímanos de Africa como exem- alterados de consciência é uma quarta
plo, Carl Sagan propôs evidência corro- p ulsão sem elhante à fome, à sede e ao se-
boradora de que o cânhamo foi a pri- xo. E os hwnanos não são os ónicos seres
meira planta cultivada pelo Hom em, que ficam ganzados. No decurso das suas
desd e os tempos em que praticava a ca- experiências, Siegel registou inúmeras

89
observações de animais intoxicando-se Eventualmente, a compreensão destas
intencionalmente. experiências, por vezes terapêuticas, indu-
O cãnhamo-de-cannabis faz parte da zidas por drogas e medicamentos tornar-
nossa herança cultural, espiritual e fisio~-se-ia o conhecimento espiritual mais su-
lógica, e constituía o esteio das nossas cul-
blime, desejável e necessário para cada tri-
turas mais estáveis e duradouras. Donde bo. Curar! A partir de qual extracção? Em
que, se quisermos ficar a saber quais são que dose?
os efeitos a longo prazo Preservar este co-
do uso de marijuana ... nhecimento tribal m ís-
basta olharmo-nos ao tico pa ra as gerações
espelho! futuras era uma tarefa
sem preço. Saber qu ais
ENVOLTA EM as plant as que indu-
SEGREDO ziam quais exper iên-
cias, e em que dose e
ara todas as etnias e
P culturas - desde o
gra u de mistura o fa-
ziam, significava poder
Japão, a China, a fndia,
para os detentores de
o Egipto, a Pérsia e a
tal sabedoria!
Babilónia, até às tribos
Assim, este «armazém
gregas, dóricas, ger-
sagrado» de conheci-
mânicas e europeias,
mento era ciosamente
passando pelas africa-
guardado pelo médico/
nas e das Américas do
/sacerdote das plantas, e
Norte, Central e Sul-,
cripticamente incluído
o alvorecer das crenças
em tradições e mitos
religiosas derivou de
orais e escritos. As plan-
descobertas acidentais.
tas dotadas de poderes
D eram-se exp eriên-
psicoactivos eram im-
cias de morte imi-
buídas de atributos h u -
nente, privações - fo-
manos ou animais; por
me, jejum, controle da
exemplo, o anel do co-
respiração, sede, febre gumelo Amanita mus-
- , folia incontrolada caria era representad o
devido à ingestão de de por fadas.
vinho e cerveja, e expe- Ilustração de Alfred De modo a mante-
riências inexplicáveis e Zimmermann para a Jugend rem o seu poder políti-
elevadas (comparadas Magazine. I 90 I. co, os feiticeiros e cu -
com a experiência nor- randeiros das castas de
mal abrutalhada) devidas a substâncias sacerdotes/xamãs sonegaram deliberada-
psicoactivas como cogumelos psilocybe e mente estas tradições dos membros «lei-
amanita e vinho de cannabis (bhang). As gos'' da tribo (e de todas as outras tribos).
substâncias quimicas presentes nestas Isto evitava também o perigoso «pecado»
plantas e ervas sagradas proporcionaram da ingestão, confecção o u experimentação
aos nossos antepassados visões e viagens acidental por parte das crianças da tribo;
inesperadas, imprevisíveis e inacred it á- de igual modo, não era permissível q ue os
veis aos cantos mais remotos da incrível membros tribais capturados transmitis-
consciência, suscitando por vezes senti- sem este conhecimento sagrado aos
mentos de fraternidade universal. inimigos dos seus captores.

90
Entre as poucas curas médicas permitidas aos povos da Euopa
Ocidental durante a Idade Média contavam-se as sangrias e, para
afastar a peste, o uso de uma máscara de pássaro enchida de ervas.

A partir do tempo de Júlio César, estas «A terra produziu verdura, erva com
rel igiões «arcaicas,, datando da pré-histó- semente, segundo a sua espécie, e árvores
ria, que usavam drogas ritualmente para de fruto, segundo as suas espécies, com a
se atingirem domínios extracorporais, respectiva semente. Deus viu que isto era
foram d esignadas pelos romanos de bom». Génesis: Capítulo 1: Verso 12.
''religiões de mistério orientais". "O Senhor produziu da terra os medi-
camentos; o homem sensato não os des-
A LINHA JUDAICA prezará,~ Ben Sira: 38:4 (Bíblia Católica)
cânhamo era uma das principais activi- «Não é aquilo que entra pela boca que
O dades económicas dos tempos bíblicos.
Assim como outras culturas do Médio
torna o homem impuro; o que sai da bo-
ca é que torna o homem impuro': Jesus,
citado: Mateus 15:11.
Oriente, o misticismo hebraico tradicional
«Virá o tempo em que alguns ( ... ) dirão
(p. e., a Cabala) 1;1ão ape~1as ~stava ciente da
mentiras hipócritas ( ... ) ordenando às pes-
existência de seitas reg10mus que usavam
intoxicantes naturais nos seus rituais, mas soas que se abstenhan1 daquilo que Deus
criou para ser recebido com graças por
chegava a interligar-se com elas. Como era
aqueles que acreditam e conhecem a ver-
habitual, este conhecimento era ocultado
dade,, Paulo: 1 Tim. 1:4.
por detrás de rituais, símbolos e códigos
secretos destinados a proteger sacramentos O CRISTIANISMO REMOTO
n aturais tais como «cogumelos sagrados» e
ervas para elevar o espírito, incluindo a
cannabis. Historiadores, antigas peças artísticas,
Bíblias, manuscritos, os pergami-
Allegro, J. M., Sacred Mushroom & the Cross, nhos d o Mar Morto, os Evangelhos
p 0 ubleday Co., 1970. Gnósticos, epístolas dos antigos pais da
, igreja, etc., indicam que durante os pri-
O QUE DIZ A BIBLIA? meiros 300 a 400 anos da nossa as seitas
cristãs eram em geral pacíficas, solidá-
d ificuldade em. descobr!r na Bíb~ia as
A referências codificadas a cannab1s e a
outras drogas aumenta mais ainda devi-
rias, abertas, tolerantes e desestrutura-
das: uma religião dos p obres ou dos
escravos.
do à falta de nomes b otânicos, a dis- Roma con siderava o cristianismo co-
crepâncias nas traduções, ao ~so _de mo s.implesmente outro incómodo culto
" livros» diferentes com denommaçoes de mistério oriental, como os de Mitra
diferentes, a comentários acrescentados ou Ísis, que eram então os mais popu-
aos textos originais, e a periódicas purgas lares no Império.
sacerdotais d e material considerado
inapropriado. O SACRO IMPÉRIO ROMANO
Não obstante, descobrimos que na
ace a um domínio que se desmorona-
Bíblia o uso da cannabis nunca é proibido
ou :mesmo desencorajado. Algumas pas- F va, corrupção política desenfreada e
sagens referem-se directamente à bon- uma série de guerras r uinosas com bár-
dade de usar ervas como a cannabis - e baros, o velho Império Romano estava à
prevêm mesmo a sua proibição. b eira do desastre. As con torções de

91
índole religiosa que a classe dirigente ARISTOCRACIA IGREJA/ESTADO
romana foi obrigada a exercer de forma a
pós fugirem da policia do Império
conservar o poder terreno levaram os
seus líderes políticos a reprimir a saudá-
A Romano durante 300 anos, os padres
ortodoxos cristãos haviam-se tornado os
vel diversidade de cultos e religiões in-
seus chefes. Entre os séculos IV e VI, as
dividuais.
religiões pagãs e todas as crenças, conheci-
Para se salvarem politicamente, as au-
1nentos, evangelhos, etc., cristãos, e seitas
toridades do império anteriormente
tais como os essénios, os gnósticos e os
panteísta alteraram a sua política.
merovíngios (francos), foram incorpora-
Com início em 249, diversos impera-
dos na doutrina e hierarquia oficiais ou
dores lançaram uma série de sangrentas
eliminados delas.
perseguições, as quais incluiam os incó-
Finalmente, numa série de concílios,
modos cristãos. Porém, em 306 era claro
todos os dogmas contrários (p. e., que a
que esta política não estava a resultar. O
terra era redonda, e o sol e as estrelas se
imperador Constantino suspendeu as
encontravam a distâncias s uperiores a
execuções e começou a apadrinhar o cle-
17 milhas) foram sumariamente proibi-
ro cristão, o qual adaptou prontamente
dos e empurrados para a clandestinida-
um dogma retirado do mitraismo, entre
de durante a Idade das Trevas, que du-
outras religiões: "O Sangue Real por rou de 400 a até para lá do ano 1000.
Nascimento" e "O Direito Divino de Go-
Pelo início da ldade Média, no princí-
vernar Outros Homens". pio do século XI, virtualmente todos os
O ambicioso Constantino percebeu poderes h aviam sido colocados nas mãos
que durante a clandestinidade a igreja da Igreja e do Papa; primeiro por con-
transformara -se numa hierarquia in- q uistadores germânicos, e mais tarde por
tolerante e fechada; em termos de in-
poderosos reis espanhóis e fran.ceses, e
fluência, a rede bem organizada da mercadores e nobres italianos (os Bórgias,
igreja só tinha r ival na sua. Ao combi- os Médecis e outros megalómanos), no
nar-se a igreja e o estado, cada uma das fito provável de proteger os seus segredos
p artes logrou duplicar o seu poder, pas- comerciais, alianças e fontes de riqueza.
sando a contar com o apoio/benção da Todos os povos europeus fo ram força-
o utra par te para perseguir os crimes/ dos a aderir à política do "Sacro" Império
/p ecados dos seus rivais. Romano: tolerância zero por parte de
Columbia History of the World, Harper & Row, um estado poliàaJ-clerical que professa-
Nl, 1981.
va uma fé cega numa forma única do
Constantino não tardou a converter- nosso relacionamento com Deus... a
-se ao cr istian ismo e a decretar urna qual era imposta pela infalibilidade
religião obrigatória, monista, imposta papal.
pelo estado: a Igreja Católica Romana Nesta fraude, a Igreja contou com a
(ICR); literalmente, a Igreja Romana colaboração das autoridades políticas,
Universal ("católico" sign ifica "univer- dado que agora o poder destas residia
sar' em latim). Esta era agora a religião apenas no seu novo dogma cristão, o
absoluta e oficial do império. De uma só patriarcal "Direito Divino" de governar.
penada, foram proibidas todas as so- A igreja promulgou leis impondo cas-
ciedades secretas capazes de ameaçar o tigos fantasticamente perversos mesmo
mandato de que a ICR se investira para para as mais ínfimas infracções ou here-
reger o mundo conhecido, conforme sias.* Os hereges eram implacavelmente
Roma fizera consecutivamente durante perseguidos por inqujs1dores fanáticos e
os 400 anos anteriores. sádicos que usavam fo rmas perversas de

92
LEIS DO CONFISCO: O MODELO DE UMA
INQUISIÇÃO MODERNA
o r serem versados na cannabis, ou Este perverso modelo de persegui-
P devido a centenas de outros "peca-
dos., - possuir uma ferramenta do
ção-pelo-lucro é hoje usado de forma
quase idêntica pelos guerreiros anti-
diabo (um garfo), ler um livro de droga estaduais e federais - e em 1984
"feitiçaria" ou falar em línguas (con- foi-nos imposto com idêntica hi-
hecer línguas estrangeiras), professar pocrisia devido à insistência do presi-
uma fé diferente, ter hábitos de feiti- dente Ronald Reagan, tendo sido
ceiro ( cuidar da hlgiene pessoal ou redigido para o Congresso pelo então
nadar em rios, etc.)-, entre lO a 50% senador Dan Lungren, agora procu-
das p,e ssoas da Europa Ocidental rador-geral da Califórnia. Na verdade,
foram torturadas ou condenadas à 90% dos bens apreendidos pelas
morte sem julgamento durante os 500 autoridades nunca sã.o devolvidos
anos que vigorou a Inquisição da pelos tribunais. Hoje, do informador
Igreja Católica Romana (séculos XII a ao acusador, passando pela polícia,
XVII). todos partilham do saque dos bens
Enquanto a maioria das pessoas so- confiscados.
fria, havia quem lucrasse substancial- De facto, enquanto a lei comum
mente. O Papa podia decretar que qual- britânica constitui a base do nosso sis-
quer coisa era "heresia': e usar o facto tema legal moderno, as leis de confisco
como desculpa para, de forma legal, dependem do conceito medieval de
roubar, torturar e matar os seus inimi- objecto amaldiçoado, o "Deodancf' (do
gos ou quem quer que acusasse. Du- . "deo", deus, e "dand,,, dar; s1gru-
1a t un · ·
rante mais de 300 anos, os inquisidores ficando a apreensão pela coroa de qual-
d ividiram entre si os bens confiscados a quer objecto causador da morte de um
p essoas suspeitas de heresia ou ser humano). Esta é a base da legislação
bruxaria. Quem nos denunciasse ficava americana, que prevê a apreensão e con-
com 1/3 dos nossos bens, 1/3 ia para o fisco de bens, em vez de apenas castigos
governo e t/3 para a hierarquia papal. dirigidos contra pessoas.
Porquê? É simples. As pessoas têm
"Tomai cuidado com os doutores da
Lei ( ... ) que devoram as casas das viú-
vas". Citação de Jesus, Lucas 20:46.
direitos legais garantidos; os bens
materiais não!
-
tortura para extorquir confissões ou físicas, mas também pelo futuro do seu
como forma de castigo. espírito eterno, com o «Inferno,, esprei-
,.. o
dicionário Webster's define "Heresia" como, tando apen as alguns centímetros abaixo
1
: uma crença religiosa que é oposta ao dogma da da superfície para aqueles que fossem
igreja; 2 : qualquer opinião (em filosofia, política, excomungados pela igreja.
etc.) oposta a opiniões ou doutrinas oficiais ou esta-
belecidas; 3; o acto de professar qualquer crença ou
A POLÍTICA DO PAPEL
opinião desse tipo.
Este sistema manteve · a maior parte s massas populares, "os comuns': eram
dos habitantes do mundo ocidental num A mantidas na linha através de um. duplo
sistema de medo e ignorância forçada. Todo
estado de terror constante, não apenas
receosos pela sua liberdade e segurança o ensino excepto o mais rudimentar era

93
controlado e estritamente regulamentado
A COMPARACÃO
, DE pelo clero.
JEFFERSON Os comuns ( cerca de 95% das pessoas)
eram proibidos de aprender a ler ou
homas Jefferson escreveu e agiu
T muitas vezes em prol do cânba-
1no, tendo contrabandeado semen-
escrever, sendo amiúde castigados ou
condenados à morte por o fazerem.
A população era também proibida de
tes raras para a América, redese- aprender latim, a língua da Bíblia. Isto
nhado o travão de cânhamo e re- permitia que os poucos padres letrados
digido os seus jornais agrícolas, nos interpretassem as escrituras como muito
quais escreveu o seguinte em 16 de bem lhes aprouvesse, o que fizeram du-
Março de 1791: rante cerca de 1200 anos, até à Reforma
"A cultura [do tabaco] é perni-
na Europa, circa 1600.
ciosa. Esta planta exaure grande- Os mosteiros preservavam e guar-
mente o solo. E como requer muito davam os segredos do cânhamo, pois o
estrume, as outras produções são clero sabia que ele apresentava duas
privadas dele; não gerando nutri- ameaças a esta poütica de controle abso-
ção para o gado, o estrume gasto luto: o fabrico de papel e de 61eo de ilu-
não tem retorno ( ... ) minação. A população vivia literalmente
"O tabaco é impolítico. O facto no escuro, sem iluminação e não dispon-
bem assente no sistema agrícola é do sequer de um pedaço de papel para
que o melhor cânhamo e o melhor escrever.
tabaco crescem no mesmo tipo de Mas isto não chegava.
solo. O primeiro artigo é de pri-
meira necessidade para o comércio A PROIBIÇÃO DOS REMÉDIOS
e a marinha, por outras palavras DE CANNABIS
para a riqueza e protecção da na-
ção. O último, jamais útil e por o mesmo tempo que adaptava o
vezes pernicioso, deriva a sua apre- A vinho como sacramento, e tolerava a
cerveja e as bebidas fortemente alcoóli-
ciação do capricho, e o seu valor
dos impostos aos quais foi ante- cas, a Inquisição proibiu a ingestão de
riormente sujeito. A preferência a cannabis em Espanha no século Xll, e
outorgar derivará de uma com- em França no século XIII. Muitos outros
paração mútua: No seu estado mais remédios naturais foram sim ultanea-
grosseiro, o cânhamo ocupa mais mente proibidos. Qualquer pessoa que
mão-de-obra do que o tabaco; usasse cânhamo para comunicar com
sendo um material usado para espíritos, operar curas ou com qualquer
manufacturas de diversos tipos, ele outro fim era classificada de «feiticeiro>~
toma-se subsequentemente o meio Santa Joana d'Arc, por exemplo, foi
de sustento para muitas pessoas; acusada em 1430-31 de usar uma série de
donde que deve ser preferido num drogas vegetais ((de feiticeiro·: incluindo
país populoso. cannabis, de modo a ouvir vozes.
"A América irnpórta cânhamo e
continuará a fazê-lo, e também OS REMÉDIOS LEGAIS
artigos diversos feitos de cânhamo, SANCIONADOS PELA IGREJA
tais como cordame, velas de nave- esta altura, virtualmente os únicos
gação, linho perfurado e peúgas
( ... ),,
N tratamentos médicos que os Pais da
ICR autorizavam às pessoas da Europa
Ocidental eram:

94
1. (a) Usar uma máscara de pássaro alçada - amiúde os mais educados e
(para afastar a peste). proeminentes monges, membros do
(b) Consertar ossos fracturados e clero e cidadãos - a ingestã.o de
limpar queimaduras. cannabis foi proclamada um acto heréti-
2 . Sangrar copiosamente todos os pa-
co e satânico.
decentes de gripe, pneumonia ou febre.
Apesar de este ter sido o tratamento mais CONTRADIÇÕES
usado pelos médicos na Europa e na
América até ao nosso século, ele nunca
resultou, por mais sangue que tirassem!
A pesar deste ataque multissecular de-
sencadeado pela força política e reli-
giosa mais poderosa da civilização oci-
3. Rezar a santos específicos para se dental, o cultivo do cânhamo prosseguiu
obter curas miraculosas (p. e., a Santo no norte da Europa, Ásia e África.
António para o ergotismo, a Santa Odília Enquanto a igreja perseguia os uti-
para a cegueira, a São Benedito para lizadores de cannabis na Europa, os con-
envenenamentos, a São Vito para a quistadores espanhóis afadigavam-se a
epilepsia). . plantar cânhamo pelo n1undo fora para
4 . Beber álcool, que era presento para fornecer velas, corda, estopa, roupas, etc.
uma série de problemas de saúde.
Em 1484, o Papa Inocêncio III denun- E PORÉM O CÂNHAMO
ciou os curandeiros da cannabis e outros SOBREVIVEU
praticantes de medicina vegetal, procla-
sádico Império Otomano conquis-
mando que o cânhamo era um sacra-
mento profano pertencendo ao segundo
O tou o Egipto e, no século XIV, tentou
proibir a cannabis - porque os cultiva-
e terceiro tipos de missa satânica. Esta
dores egípcios de cânhamo ao longo do
perseguição durou mais de 150 anos. Nilo estavam a liderar as revoltas contra
De acordo com a Igreja medieval, o
os impostos. Os turcos queixavam-se de
conhecimento satânico, e as respectivas que a cannabis fazia os egípcios rirem-se
missas, dividiam-se em três tipos: e mostarem desrespeito pelo Sultã.o e
• Invocar ou adorar Satanás. seus representantes. Em 1868, o Egipto
• Possuir Saberes de Feiticeiro (p. e., os tornou-se o primeiro país moderno (?) a
ervanários e os químicos) versando a proibir a ingestão de cannabis, sendo
confecção, uso ou transmissão a terceiros seguido em 1910 pela Mrica do Sul, esta
de qualquer unguento ou preparação - como forma de castigar os negros, encar-
· cluindo a cannabis -
1n enquanto
. . cerando os que praticavam os seus anti-
edicamento ou sacramento esp1ntua1; gos cultos e religiões Dagga.
m. Encenar a Missa Bufa, isto é, repre- Na Europa, o cânhamo era ampla-
entar paródias irreverentes ou satíricas mente usado tanto industrial como me-
s bre os dogmas, doutrinas e rituais da ICR dicamente, desde o Mar Negro (Crimeia)
:~ou as suas crenças absolutas. A Missa Bufa até às Ilhas Britânicas, e em especial na
equivalia aos Simpsons, ao programa ln Europa Oriental. A proibição papal da
Living Color, à música rap, a Mel Brooks, à confecção de medicamentos de cannabis
Second City-TV; aos Monty Python, ou ao no Sacro Império Romano, decretada em
Saturday Night Live (em _particular o grupo 1484, era dificilmente concretizável a
do Padre Guido Sarducc1). norte dos Alpes, razão por que até hoje
Dado que os padres-burocratas m e- os romenos, ch ecos e húngaros domi-
d"evais suspeitavam que por vezes eram nam a agronomia mundial da cannabis.
a{vo de chacota, ridículo ou troça por Na Irlanda, já famosa pelo seu linho de
parte daqueles que estavam sob a sua cânhamo, a mulher irlandesa que qui-

95
sesse saber com quem viria a casar era desde o século XIX até à proibição usa-
aconselhada a procurar a revelação atra- ram rotineiramente medicamentos de
vés da cannabis. cannabis. (ver capítulo 12, "Uso no sécu-
Eventualmente, o comércio de cânha- lo XIX")
mo voltaria a adquirir tal importância Pessoas das re]ações de John F. Ken-
para os construtores de impérios que se nedy, tais como os artistas Morey Ams-
seguiram (na Era das Descobertas/da terdam e Eddie Gordon,* dizem que o
Razão, os séculos XIV a XVIII) que de- presidente usava cannabis regularmente
sempenhou wn papel central nas intri- para controlar as dores nas costas (antes
gas e manobras de todas as grandes e durante o seu mandato), e que planea-
potências mundiais. va legalizar a «marijuana" durante o seu
segundo mandato - um plano abortado
O ILUMINISMO
pelo seu assassínio em 1963.
século XVIII anunciou uma nova era
O de pensamento e civilização hu-
.. TaJ como foi relatado directamente ao autor
por Eddie Gordon, membro dos Harmonicats e
harmonicista número um do mundo, que fumou
manos. «A vida, a liberdade e a busca da
com Kenned)' e actuou inúmeras vezes perante ele.
felicidade!" declararam os colonos na
- América. "Liberdade, Igualdade, Frater- Mais recentemente, o filho do antigo
nidade!" replicaram os seus primos fran- presidente Gerald Ford, e Chip, filho de
ceses. Os conceitos modernos de governo Jimmy Carter, admitiram ter .f umado
constitucional, garantia dos direitos hu- erva na Casa Branca. Dan Quayle, o vice-
manos e separação entre igreja e estado -presidente de George Bush, ganhou fa-
foram unificados numa política concebi- ma de ter fumado erva e usado drogas na
da para proteger os cidadãos de leis into- universidade. Segundo alguns rumores,
lerantes e arbitrárias. Ronald Reagan e mesmo a antiga primei-
No seu histórico ensaio Sobre a Liber- ra-dama Nancy«Diz Não" Reagan fuma-
dade, Ogden Livingston Mills, cuja filo- ram erva na mansão do Governador da
sofia moldou nossa democracia, escre- C alifórnia.
veu: "A liberdade humana compreende, "Smoke Screen: lnmate Sues Justice Department
primeiro, o domínio interior da cons- Over Quayle Pot Cover-up'~ Dallas Observer, 23 de
ciência no sentido mais Jato possível: Agosto de 1990; KeUey, Kiny, Nancy Reagan: The
liberdade de pensamento e de sensação, Unauthorized BiographJ~ Doubleday Co., NI, 1991.
( ... ) científica, moral ou teológica, ( ... )
liberdade de gostos e interesses': Notas gerais/Bibliografia:
Mills argumentou que esta liberdade Vedas Hindus; Farmacopeia de Shen Nung; He-
de pensamento, ou ccmental,: é a base de ródoto; Abel, Emest, Marijuatta: The First 12,000 Year:s,
todas as liberdades. As palavras imortais Plenum Press, 1980; Manuscritos do Mar Morto; High
do cavalheiro-agricultor Thomas Jeffer- Tímes Encyclopedia; Encyclopaedia Britannica, '°Phar-
son, "Sob o altar de Deus jurei hostili- malogical Cults"; Roffman, Marijuana and Medicine,
1982; Sociedade Médica do Estado do Ohio, 186o;
dade eterna a todas as formas de tirania
British Indian Hemp Report. 1894: Unge.rlieder, UCLA,
exercidas sobre o espírito do homem': es- 1982; Exército dos E.V., Arsenal de Edgewood,
tão gravadas em mármore no seu Memo- Maryland (documentos múltiplos); Shultes, Harvard
rial em Washington D. C. Botanical; EmBowden, UC Northridge; Michael
Abraão Lincoln era wn inimigo con- Aldrich, Ph.D.; Vera Rubin, Tnstitute for the Study of
fesso do proibicionismo. Após o assas- Man; Wasson, R Gordon, Soma, Divine Mus11room of
Immortality, Roffman, Marijuana and Medicine; eti-
sínio do presidente, foi receitada canna- molgista Jay Lynn; Allegro, ). M., Sacred Mushroom
bis à sua mulher para lhe acalmar os ner- and the Cross, Doubleday & Co., 1970; "How Heads of
vos. Virtualmente todos os presidentes S.tate Got High': High Times, Abril de 1980; et aL

96
" - ~ '

, . Capítulo ~ / Onze .
,AIÍÍÍ
A

A GUERRA (DO CANHAMO) DE 1812 ...


E NAPOLEÃO INVADE A RÚSSIA
Esta ,parte da história pode ter-nos causado alguma confusão quando no-
-la ensinaram na escola. Uma dúvida ,pode ter permanecido: HMas afinal
por que raio é que eles estavam a combater?,
Apresentamos aqui os acontecimentos que conduziram à Batalha de
Nova Orleães, a qual, devido à lentidão das comunicações, foi combatida
em B de Janeiro de 1815, duas semanas após o término oficial da guerra
de I B12 com a assinatura de um tratado de paz na Bélgica em 24 de
Dezembro de 1814.

ÉPOCA: mundial britânicos rolam sobre cânhamo


russo; cada navio britânico deve substi-
SÉCULO XVIII E INÍCIO DO tuir aproximadamente 50 a 100 toneladas
de cânhamo a cada ano ou dois.
SÉCULO XIX
Não existe substituto para ele; as velas
Tal como tem vindo a acontecer há mi- de linho, por exemplo, ao contrário das
lhares de anos, o cânhamo-de-cannabis é de cânhamo, começavam a apodrecer o
a principal actividade comercial e indus- mais tardar ao fim de três meses, devido
trial do planeta. A sua fibra ( ver capítulo à acção do sal contido no ar e na
2 "Usos") encontra-se na base de virtual- espuma!
diente toda a marinha mundial. A eco-
nomia de todas as nações usa e depende DE 1793 ATÉ AO SÉCULO XIX ...
de milhares de produtos diferentes pro-
A nobreza britânica é hostil ao novo go-
venientes da planta de marijuana. verno francês, primariamente porque os
britânicos receiam que a revolução popular
A PARTIR DE 1740... francesa de 1789-93 se espalhe, e/ou resulte
Graças ao trabalho barato de escravos numa invasão francesa de Inglaterra, com a
ou servos, a Rússia produz Soo/o do câ- consequente perda do Império e, claro, das
nhamo-de-cannabis do mundo ociden- cabeças da nobreza inglesa.
tal bem como produtos acabados de câ-
nhamo, e é, de longe, o produtor do me- 1803 A 1814
lhor cânhamo-de-cannabis para velas, A marinha britânica bloqueia a França
cordas, cordame e redes. napoleónica, incluindo os aliados de
A cannabis é o principal produto co- Napoleão no continente. A Grã Bretanha
mercial da Rússia - à frente das suas efectiva o bloqueio da França fechando
peles, madeira e ferro. os portos franceses do Canal Inglês e do
Atlântico (Baía da Biscaia) com a sua
1740 A 1807 marinha; além disso, a Grã Bretanha
A Grã Bretanha compra à Rússia mais domina as entradas e saídas do Mediter-
de 90% do cânhamo de que carece para_ a râneo e Atlântico, devido ao controle que
sua marinha; a armada e o comércio exerce sobre o estreito de Gibraltar.

97
1798 A 1812 rompe todo o comércio legal da Rússia
com a Grã Bretanha, os seus aliados, ou
Os jovens Estados Unidos, que são ofi- qualquer outra nação neutra agindo
cialmente "neutros" na guerra entre como agente da Grã Bretanha na Rússia.
França e Inglaterra, começam a resolver O tratado estabelece também uma zona
os seus problemas externos enviando a tampão, o Ducado de Varsóvia (aproxi-
marinha e os fuzileiros até ao Mediterrâ- madam.e nte o centro-leste da Polónia)
neo para impedir os piratas e raptores de entre os aliados de Napoleão e a Rússia.
Tripoli de cobrarem resgates de comer- A estratégia de Napoleão - e o objecti-
ciantes ianques a operar na região (1801- vo mais importante que visa com o trata-
-1805). "Milhões para a Defesa - Nem do - é impedir que o cânhamo russo
um Centavo para Resgates", era a palavra alcance Inglaterra, destruindo assim a
de ordem na América, e o incidente veio marinha britânica ao forçá-la a cani-
a ser memorializado no segundo verso balizar velas, cordas e cordame de outros
do hino do Corpo de Marines: "( ... ) até navios; e Napoleão acredita que, privada
à costa de Tripoli': de cânhamo russo para a sua enorme
marinha, a Inglaterra será eventualmente
1803 forçada a abandonar o bloqueio que
Carente de dinheiro para pressionar a impõe à França e ao continente europeu.
guerra com a Grã Bretanha e cumprir o
desígnio de dominar o continente euro- 1807 A 1809
peu, Napoleão vende ao desbarato o Ter- Napoleão considera os Estados Unidos
ritório da Luisiana aos Estados Unidos como um país neutro, desde que os seus
(por 15 milhões de dólares, ou cerca de navios não comerciem com a Grã Breta-
dois centavos e meio por hectare). nha ou em prol dela, e os Estados Unidos
Esta área representa cerca de um terço consideram-se neutros na guerra entre a
daquilo que são agora os 48 estados ame- França e a Grã Bretanha.
ricanos contiguos. Em 1806, porém, o Congresso aprova o
Pacto da Não-Importação: são proibidos
A PARTIR DE 1803 ... artigos britânicos produzidos nos Esta-
Ent re alguns americanos, na sua maio- dos Unidos mas passíveis de serem pro-
ria gente do Oeste, a compra da Luisiana duzidos noutros lugares. Em 1807, o
suscita os sonhos do "Destino Manifes- Congresso aprova também a Lei do Em-
bargo, a saber: os navios americanos não
to" - isto é, os Estados Unidos deviam
eram autorizados a importar ou exportar
estender-se até às fronteiras finais da
produtos europeus.
América do Norte: desde o cimo do
Estas leis prejudicaram mais a América
Canadá até ao fundo do México, e do
do que a Europa; seja como for, muitos
Atlântico até ao Pacífico.
comerciantes americanos ignoraram-nas
1803 A 1807 por completo.

A Inglaterra continua a transaccionar 1807 A 1814


directamente com a Rússia, comprando-
Após o tratado de Tilset ter inter-
-lhe 90% do seu cânhamo. rompido o seu comércio com a Rússia, a
Inglaterra declara que deixou de reco-
1807 nhecer paises ou rotas marítimas n eutros.
Napoleão e o czar Alexandre da Rússia Logo, qualquer navio que transaccio-
assinam o Tratado de Tilset, o qual inter- nasse com o "Sistema Continental,, de

98
aliados de Napoleão era considerado ini- Petersburgo, assinalou:
migo e sujeitava-se a bloqueio. "Em duas semanas, tantos como 600
Sob este pretexto, a Inglaterra confisca navios clipper arvorando a bandeira
navios e carga americanos, repatriando americana estiveram em Kronstadt" (o
os m arinheiros para os Estados Unidos à porto de São Petersburgo, chamada Leni-
custa dos proprietários dos navios. negrado na antiga U.R.S.S.), carregando
A Inglaterra "convence» alguns mari- principalmen te cânhamo-de-ca nnabis
nheiros americanos a servir na Maúnha para a Inglaterra (ilegalmente) e para a
Britânica. Porém, a Inglaterra afirma que América, onde o cânhamo de qualidade
só "convence" aqueles marinheiros que tinha também grande procura.
são súbditos britânicos - e cujas com- (Bem is, John Q. Adams and th e American Foreign
panhias de navegação americanas se re - Policy, Nova lorque, NI, AJfred A. Knopf, 1949.)
cusaram a pagar as despesas de repatria- Em 1809, os Estados Unidos aprovam a
mento. Lei do Não-Relacionamento que retoma
o comércio legal com a Europa, excepto a
1807 A 1810 Inglaterra e a França. Esta lei não tarda a
Secretamente, porém, quando a Ingla- ser substituída pela Lei Macon, que reto-
terra "vistoria" - aborda e confisca - ma todo o com ércio legal.
um navio americano e o traz para um
orto inglês, ela oferece aos comerciantes 1808 A 1810
pcapturados u m "acord"( o na ver dd a e Napoleão insiste com o czar Alexandre
uma proposta de ch antage~) . . para este interromper todo o comércio
o negócio: Ou o comerciante a_men ca- com os comerciantes americanos inde-
n 0 perdia para sempre ,o seu. nav10 e car- pendentes, já que estes estão a ser obriga-
regamentos, ou ia à Russia comprar se- dos a comercializar ilegalmente câ-
cretamente cânh amo para a Inglaterra, nhamo para a Grã Bretanha.
que lhe pagaria em ouro, parte dele Napoleão quer que o czar o autorize a
adiantadamente e o restante contra a estacionar agentes e soldados fran ceses
entrega d o cânh amo. . em Kronstadt com vista a assegurar que
Ao m esmo tempo, os amencanos eram o czar e as suas autoridades portuárias
utorizados a conservar as suas merca- estão a cump rir o acordo.
~orias (rum, açúcar, especiarias, algodão,
café, tabaco) e a transaccioná-las com o 1808 A 1810
czar em troca de cânhamo
. - um 1ucro
duplo para os an1encanos. Apesar do seu tratado com a França, o
czar diz "Nyet!" e faz ccvista grossa" aos
1808 A 1810 comerciantes americanos ilegais, prova-
velmente porque precisa dos populares e
Os matreiros comerciantes ianques> lucrativos artigos comerciais qu e os ame-
pe rante a escolha de .serem
b . A
obrigados a
• r icanos lhe estão a trazer a si e aos seus
participar em bloqueios ntamcos - e nobres - bem como do ow·o sonante
arr l·scarem-se ao confisco dos seus
. bar- que está a ob ter com as compras (ilegais)
cos, carga e tripulações - ou agirem co-
de cânhamo feitas pelos americanos em
mo agentes secretos da Inglaterra, com
prol da Grã Bretanha.
gar antias de. segurança
. e lucros, escolhe-
, . _
m maiontanamente esta u 1uma opçao. 1809
ra Em )8o9, John Quincy Adams (que
·s tarde seria presidente), enquanto Os aliados de Napoleão invadem o
ma1 . S
servia como cônsul americano em ão Ducado de Varsóvia.

99
1810 Nem um só senador dos estados marí-
timos vota a favor da guerra com a Grã
Napoleão intima o czar a interromper Bretanha, enquanto virtualmente todos
todo o comércio com os comerciantes
os senadores do oeste o fazem, esperando
americanos! O czar responde desvincu-
arrancar o Canadá à Grã Bretanha e
lando a Rússia da parte do Tratado de
cumprir o seu sonho do "Destino Mani-
Tilset que a obrigava a deixar de vender
festo': na crença errónea de que a Grã
bens a navios americanos neutros.
Bretanha estava demasiado ocupada co m
1810 A 1812 as guerras europeias contra Napoleão
para proteger o Canadá.
Furioso com o czar por este permitir :t. interessante notar que o Kentucky,
que o vital sangue de cânhamo para a um grande apoiante da guerra que per-
marinha chegue a Inglaterra, Napoleão turbou o comércio ultramarino de câ-
reforça o seu exército e invade a Rússia, nhamo, estava a reforçar activamente a
planeando castigar o czar e em última sua indústria doméstica de cânhamo.
análise impedir que o cânhamo alcance a Por esta altura (1812) , os navios ameri-
Marinha Britânica. canos conseguiam carregar cânhamo na
Rússia e regressar com ele três vezes m ais
1811 A 1812 depressa do que os despachantes demo-
A Inglaterra, de novo aliada e pleno ravam a enviar cânhamo do Kentucky
parceiro comercial da Rússia, está ainda a para o Leste por via terrestre - pelo
impedir navios americanos de comerciar menos até o Canal Erie ser completado
com o resto do continente europeu. em 1825.
No Mar Báltico, a Inglaterra p rocede Os estados do oeste vencem no Con-
também a bloqueios de todos os comer- gresso, e em 12 de Junho de 1812 os Esta-
ciantes americanos oriundos da Rússia, dos Unidos estão em guerra com a Grã
insistindo agora que estes deverão com- Bretanha
prar-lhe secretamente outros artigos A América entra na guerra do lado de
estratégicos (a maioria em portos medi- apoJeão, que marcha sobre Moscovo
terrânicos), fornecidos especificamente nesse mesmo mês de Junho de 1812.
por Napoleão e os seus aliados continen- Napoleão não tarda a ser derrotado n a
tais, que por esta altura vendem de bom Rússia pelo rigoroso inverno, a política
grado tudo quanto podem para reunir russa de terra queimada e 2000 milhas
capital. de linhas de comunicação recobertas de
neve e lama. A derrota de Napoleã o
1812 deve-se também a ele não ter interrom-
Privados de 80% do seu abastecimento pido a campanha durante o inverno, rea-
de cânhamo russo, os Estados Unidos grupando-se antes de marchar sobre
discutem a guerra no Congresso.3 Moscovo, taJ como previa o plano de
batalha origina].
Ironicamente, quem argumenta a favor
da guerra são representantes dos estados Dos 450.000 a 600.000 homens de que
do oeste, sob o pretexto dos marinheiros Napoleão dispunha no início da campa-
am.e ricanos «convencidos': Os represen- nha, só 180.000 conseguiram regressar.
tantes dos estados marítimos, receando a
1812 A 1814
perda de comércio, argumentam contra a
guerra, muito embora alegadamente os Após alguns sucessos iniciais na guerra
seus navios, tripulações e estados é que contra os Estados Unidos (incluindo o in-
estejam a ser afectados. cênclio de Washington em retaliação pelo

100
anterior incêndio de Toronto, então a ca- quanto as notícias do tratado atravessan1
pital colonial canadiana, ateado pelos lentamente o Atlântico.
americanos), a Grã Bretanha constata que
as suas finanças e meios militares estão a SÉCULO XX
esgotar-se - devido aos bloqueios navais,
As escolas americanas, britânicas,
à guerra em Espanha com a França, e a
francesas, canadianas e russas ensinam
uma dura e nova América nos mares.
A Grã Bretanha concorda em fazer a todas u~a versão própria e completa-
mente diferente desta história, sem fa-
paz, e assina um tratado com os Estados
Unidos em Dezembro de 1814. Os termos zerem virtualmente qualquer menção ao
factuais do tratado poucas concessões papel que teve o cânhamo nesta guerra
fazem a qualquer dos lados. (nem, no caso das versões americanas, ao
De facto, a Grã Bretanha concorda em papel que teve o cânhamo em qualquer
jamais voltar a interferir com a navega- outra altura da história).
ção americana. E os Estados Unidos con-
Notas:
cordam em desistir para sempre de todas
as suas pretensões sobre o Canadá (o que _ 1. A
Rússia - sob o domínio dos czares e da lgre-
cumprimos, à excepção do episódio "54- Jª Ortodoxa Russa -continuou a dispor até 1917 de
~40 ou 1=,uta,,).t trabalho escravo/servo/camponês virtualmente ili-
mitado para o cultivo de cânhamo.
1813 A 1814 2. Até este século, um dos maiores défices co.mer-
ci~is externos americanos era com a Rússia, devido
A Grã Bretanha derrota Napoleão em à importação de cânhamo.
Espanha e exila-o em Elba, mas ele eva- 3- Crosby, Albert, Jr., America, Russia, Hemp &
de-se durante 100 dias. Napoleo-n, Ohio State Univ. Press, 1965.
_Esta situação só começou a melhorar após a con-
qmsta e aquisição das Filipinas em 1898 (Guerra
1815 Hispano-Americana), devido à mão-de-obra coolie
A Grã Bretanha derrota Napoleão em barata e ao cânhamo-de-maniJa (abacá) .
Waterloo (18 de Junho), exilando-o na
Ilha de Santa Helena ao largo da costa da Nota do Autor:
Antártida, onde falece em 1821. Os seus
cabelos e partes íntimas são vendidos ao Desejo desculpar-me aos entusiastas das coisas
históricas devido a todas as nuances que excluí deste
público como recordações. esboço das Guerras de 1812 (p.e., os Rothschilds, os
Illuminati, as manjpulações bolsistas, etc.), mas eu
JANEIRO DE 1815 não queria escrever Guerra e Paz. Já alguém o fez.
A minha intenção é que nas escolas se ensine aos
Tragicamente para a Grã Bretanha, nossos filhos uma história verdadeira e completa e
mais de duas semanas após esta ter assi- não disparates sonsos que escondem os factos reai; e
nado, em 2.4 de Dezembro de 1814, o f~rn a Guerra de 18u parecer totalmente ininteligível
tratado de paz de Ghent com os Estados e disparatada. Ma:; não devemos admirar-nos. Muitas
vezes os próprios docentes americanos desconhecem
Unidos, Andrew Jackson derrota uma de todo as razões que conduziram a esta guerra. Se as
colossal força assaltante britânica em conhecem - ou as aprenderam recentemente - em
Nova Orleães (8 de Janeiro de 1815), en- geral sentem-se intimidados demais para ensiná-l;s.

t Slogan do partido democrata para as presidenciais


americanas de 1844, significando a disposição de
entrar em guerra com a Grã Bretanha pela posse do
Oregon até ao paralelo 54º40~ (N. do T.)

101
Ilustração de Arthur Rockham paro Alice no, País das Maravilh~ f 907.
O USO DAS DROGAS DA CANNABIS
NA AMÉRICA DO SÉCULO XIX
Embora em 1839 os produtos de cânhamo-de-cannabis para confecção de
fibra, papel, artigos náuticos, óleo de iluminação, alimentos, etc., fossem
possivelmente as principais actividades agrícolas e industriais na América
e, evidentemente, através do mundo, as centenas de usos médicos da can-
nobis (milenarmente conhecidos no Oriente e Médio Oriente) eram ainda
quase inteiramente ignoradas na maior parte da Europa Ocidental e da
América, devido à sua supressão anteriormente decretada pela Igreja
Católica medieval.
Porém, o século XIX assistiu a uma dramática redescoberta dos benefícios
das drogas extraídas da cannabis, que antes de 1863 eram o principal
medicamento usado na América. A cannabis foi substituída pela morfina
quando a nova agulha de injecção se tornou moda, mas não antes de ter
originado saudáveis elixires e fármacos, e luxuriantes Fumatórios Turcos
que foram responsáveis por um jorro de criatividade literária. A ccmnabis
continuou a ser o segundo remédio mais usado até 1901, quando foi su-
bstituída pela aspirina.

A MED~CINA DA M~RIJUANA NA -el.evado de marijuana durante um mês ou dois


(parâmetros de 1983 fornecidos pelo governo dos
AMERICA DO SECULO XIX E.U. usados para comparação).
esde 1850 até 1937, ~ cannabis foi refe- A violência era equacionada com o uso
D rida n a farmacopern dos E.U. como o
principal m edicamento para mais de 100
do álcool; a dependência, com a morfina,
que era conhecida como "doen ça dos sol-
doenças diferentes. dados':
Durante todo este tempo (até aos anos E assim, durante essa era, a cannabis
40 ), a ciência, os médic~s e as f~rmacêu- ganhou favor e foi mesmo recomendada
ticas (Lilly, Parke-DaVIs, Sqmbb, etc.) como meio de ajudar à recuperação de
ignoraram por. complet_o a identidade alcoólicos e toxicodependentes.
dos seus ingredientes act1vos. Em grande medida, porém, o Ocidente
E todavia, a par tir de 1842 e até ao final perdera as medicinas da cannabis desde
do século XIX, a marijuana, geralmente os tempos da Inquisição. (Ver capítulo
hamada Cannabis Indica ou Cânhamo- 10, "Um Olhar Sobre a Sociologia ... ")
~da-fndia, era um dos três artigos (de- Isto durou até W. B. O'Shaughnessy, um
pois do álcool e (d o ópdio) mais u.sad~s em médico britânico de 30 anos em comissão
medicamentos em oses maciças, ge- de serviço na província indiana de Ben-
ralmente por ingestão oral). gala,* observar que os médicos nativos
* Durante o século XIX, as doses tomadas num
. or bebés, crianças,jovens, adultos, parturientes,
usavam diferentes extractos de cânhamo no
dia p . a1· . tratamento bem sucedido de todo o tipo de
soas de idade eqmv 1am, em muitos casos, ao
e pes ·.....,0 estimado de um actual fumador médio- maleitas e doenças até então intratáveis no
consu .. ,

103
Ocidente, incluindo o tétano. dica do Estado de Ohio divulgou a con-
~ "Bengala" significa "Terra do Bhang·: literal- clusão de que "exegetas especializados na
mente Terra da Cannabis. Bíblia» acreditam "q ue o fel e vinagre, ou
Procedeu então a um en orme estudo vinho mirrado, oferecido ao nosso Sal-
(o primeiro conhecido no Ocidente),* e vador imediatamente antes da su a cruci-
em 1839 publicou uma monografia de 40 fixão era com toda a probabilidade uma
páginas sobre o uso de m edicam entos de preparação de cânhamo-da-índia [mari-
cannabis. Na m esma alt u ra, um médico juana], e falam mesmo do seu uso an te-
francês cham ado Roche procedia a idên- rior na obstetrícia".*
t ica redescoberta da cannabis nas medi- " Citado das transcrições do L5º encon t ro anual
cinas do Médio Oriente. da Sociedade Médica do Ohio, realizada em White
Sulphur Springs, Ohio, 12-14 de Junho d e 1860, pp.
i O'Shaugbnessy usou pessoas enfermas, animais
75-100.
e a sj próprio nas suas investigações e experiências.
A propósilo, O'Shaughnessy acabou por tornar-se A principal razão por que os remédios
milionário, tendo sido armado cavaleiro pela Rai- de cannabis caíram em desuso na Amé-
nha Victoria por ter construido o primeiro sistema
rica foi a dificuldade em identificar e p a-
telegráfico da lndia em meados do século XIX.
d ronizar as dosagens; p. e., foi só em
A monografia clínica e as descobertas 1964, 27 anos após a América ter proibido
de O'Sh aughnessy sobre os extractos de a marijuana, que o dr. Raphael Mech o u-
cânh amo espantaram o mundo médico lam da Universidade de Tel Aviv d esco-
ocidental, disseminando-se celeremente; briu que os ingredientes activos da can-
em apenas três anos, a marijuana tor- nabis eram as m oléculas delta d e THC .
nou-se uma "superestrela,, na América e Os médicos do final do século XIX tam-
na Europa. bém não lograram injectar cannab is em
Monografias escritas p or utilizado res seres humanos com as suas agulhas hi-
neófitos e m édicos americanos que usa- podérm icas novas em folha ... e até hoje
vam, tratavam o u experimen tavam com ainda não lograram fazê-lo.
cannabis, referiam correctam ente as suas Pelo final do século XIX, alguns dos
p ropriedades eufóricas, e por vezes disf6- mais populares guias m atrimoniais ame-
r icas, a expansão mental e temp oral ve- ricanos recomendavam a cannabis com o
rificada tanto em crianças como adultos, afrodisíaco de poderes extraordinários -
assim com o a hilariedade e o au mento de sem que nunca ninguém tivesse sugerido
apetite provocados pela cann abis, em um a lei para a sua proibição. E enquanto
especial das pr imeiras vezes que era se falava de uma lei de proibição do
experimentada. álcool, uma série de organizações femini-
É interessante constatar q ue, durante n as de temp erança chegaram a sugerir o
todo este período de tempo (e. 1840 a e. haxixe como substituto do "demó nio»
1930), a Lilly, a Squibb, a Parke-Davis, a álcool, que segundo elas conduzia à vio-
Sm ith Brothers, a Tildens, etc., n ão dis- lência conjugal.
p unham de qualquer modo eficaz de
prolongar a vida activa da cannabis, que UMA INSPIRACÃO POPULAR
era muito curta, e sentiam grande difi- DOS GRANÓES WLTOS
culdade em p adronizar as dosagens.
LITERÁRIOS DO SÉCULO XIX.
Como referimos an tes, du rante o sécu-
lo passado a m edicina da m arijuana era partir do início d o século XIX, alguns
de tal m odo estimada pelos americanos
(incluindo alguns teólogos protestantes)
A dos principais a utores românticos e
revolucionários mundiais que escreviam
q ue em 1860, por exemplo, o Comité so- sobre liberdade individual e dignidade
bre a Cannabis Indica da Sociedade Mé- da pessoa humana elogiaram o uso d e

104
cannabis. Hoje estudamos
as suas obras nas escolas
porque as consideramos
"clássicos:
Victor Hugo, Os Mise-
ráveis, 1862, Nossa Senhora
de Paris ( O Corcunda de
Notre Dame), 1831; Ale-
xandre Dumas, O Conde de
Monte Cristo, 1844, Os Três
Mosqueteiros, 1844; Coleri-
dge, Gautier, De Quincy,
Balzac, Baudelaire e John
Greenleaf Whittier (Barba-
ra Fritchie), etc.
O imaginário da can-
nabis e dos cogumelos in-
fluenciou Alice no País das :'Aspecto de um dos Fumatórios Turcos recentemente
Maravilhas (1865) e Do Ou- maugurados".
- NewYork Herald, Domingo. 28 de Abril de 1895
tro Lado do Espelho (1872),
de Lewis Carroll. Por volta
de 1860, o m elhor amigo de cannabis do mundo ocidental: Le Club
Mark Twain, e seu mentor, era o já famo- des Haschischins.
so escritor de sucesso e proponente da
cannabis, o jovem (na casa dos 20) Fitz REBUÇADOS DE HAXIXE
Hugh Ludlow (The Hashish Eater, 1857).
or volta de 1850, a "Ganjah Wallah Ha-
Ludlow elogiava a ingestão de haxixe co-
mo sendo urna maravilhosa aventura Pshee~h Candy Company" começou a
mental, mas avisava fortemente contra o confeccionar rebuçados de haxixe, que
em breve se tornaram uma das gulosei-
seu abuso, assim como o de todas as dro-
mas mais apreciadas na América.
gas. Durante 40 anos, os rebuçados foram
Os escritos destes autores tinham em
ve~didos ao balcão e anunciados em jor-
geral vários pontos em comum: Um ple-
no amor pela liberdade individual; res- nais, sendo ainda incluídos nos catálogos
da Sears-Roebuckt como tratando-se de
peito pela dignidade da busca que cada
um faz da consciência individual; des- um produto delicioso e divertido, além
de totalmente inofensivo.
prezo bem-humorado pelas ortodoxias,
crenças e burocracias; e denúncia das OS FUMATÓRIOS TURCOS
injustiças da sua época (por exemplo, Os
esde cerca de 1860 a~é ao início do
Miseráveis).
A ciência da psicofarmacologia teve D século XX, era habitual as Feiras
início em França com o dr. J. J. Moreau Mundiais e Exposições Internacionais
oeTours por volta de 1845, e a cannabis apresentarem uma exposição/concessão
tornou-se uma das primeiras drogas a de F_um? de Haxixe Turco. Fuma.r haxixe
serem usadas para tratar a loucura e a era mte1ramente novo para os america-
depressão. no~; os efeitos manifestavam-se muito
Moreau era grande amigo de Dumas, maLS depressa. Porém, o haxixe fumado
Hugo e Gautier, e em 1845 co-fundou t _Empresa americana de vendas poT correspondên-
com eles em Paris o primeiro clube de cia. (N. do T.)

10S
equivalia apenas um terço do efeito e América (mais tarde imposta ao resto do
duração da ingestão oral de extractos mundo ), então o que foi?
medicinais de cânhamo, que eram
receitados regu]armente mesmo às A CAMPANHA DE CALÚNIAS
crianças americanas. ue força polític.o-social seria pode.-
Em 1876, na gigantesca Exposição do
Centenário da América realizada em
Q rosa bastante para virar os ameri-
canos contra algo tão inocente como
Filadélfia, os visitantes levavam os ami- uma planta - ainda por cima uma que
gos e familiares a fumar na extremamen- todos tinham interesse em usar para
te popular Exposição de Haxixe Turco,
melhorar as suas vidas?
d e modo a "ampliarem" a sua experiência
Anteriormente, lemos como as pri-
da feira. m~iras leis federais anti-marijuana (1937)
Em 1883, salões semelhantes para fu-
surgiram devido às mentiras, ao jornalis-
m ar haxixe estavam abertos em todas as
mo amarelo e aos artigos delirantes e
principais cidades americanas, induindo
racistas publicados nos jornais de William
Nova Iorque, Boston, Filadélfia, Chicago,
Randolph Hearst, os quais Harry Anslin-
St. Louis, Nova Orleã.es e outras.
A Police Gazette calculava que por vol-
ger citou como factos em testemunhos
prestados ao Congresso.
ta de 1880 havia mais de 500 fumatórios
Mas o que é que fez Hearst lançar as
de haxixe na cidade de Nova Iorque, e a
histórias de terror racistas associadas à
polícia novaiorquina calculou que nos
marijuana? Que inteligência o u igno-
anos 20 havia ainda 500 ou mais fu-
rância, devido à qual ainda castigamos os
matórios de haxixe na cidade - nos
nossos irmãos americanos com 14 m i-
anos 20, durante o período de proibição
lhões de anos de cadeia apenas nos últi-
do álcool, estes salões eram mais nu -
mos 60 anos (só em 1997 foram pres as
merosos que os "speakeasys".t
642.000 pessoas por causa de marijuana,
TÃO AMERICANO COMO TORTA quase duas vezes mais do que em 1990)
- fez acontecer isto?
DE MAÇÃ O primeiro passo foi introduzir o ele-
mento de medo do desconhecido usando
P elo início deste século, quase quatro
gerações de americanos tinham uma palavra que ninguém ouvira antes:
(( .. ,,
vindo a usar cannabis. Virtualmente mar11uana .
todas as pessoas deste país estavam O passo seguinte foi manter as mano-
familiarizadas desde a infância com as bras ocultas do conhecimento dos médi-
"ganzas" provocadas pelos extractos de cos, cientistas e industriais do cânhamo,
cânhamo - e no entanto, após 60 anos que o teriam defendido. Conseguiu-se
de uso, os médicos não as consideravam isto realizando secretamente a maioria
viciantes, anti•socíais ou minimamente das audiências sobre a proibição.
violentas. E finalmente, os proibicionistas dedi-
Isto suscita uma pergunta importante: caram-se a atiçar emoções primárias, ex-
Se não foi o receio de consequências san- plorando directamente um reservatório
itárias ou sociais que conduzi u à even- existente de ódio que estava já a envene-
tual proibição do uso da cannabis na nar a sociedade: o racismo.

t Bares onde se serwia álcool ilegalmente durante a


Lei Seca. (N. do T.)

106
O tempo parece ter uma duração
incomensurável. Entre duas ideias
claramente concebidas, há uma infinidade
de outras que são indeterminadas e
incompletas, das quais sentimos uma vaga
consciência, mas que nos maravilham
devido ao seu número e extensão. Parece,
pois, que estas ideias são inúmeras, e como o
tempo se mede apenas através da recordação
de ideias, ele parece prodigiosamente longo.
Imaginemos por exemplo que, como
acontece com o haxixe, no espaço de um
minuto temos cinquenta pensamentos
diferentes; já que, em geral, são precisos
diversos minutos para se ter cinquenta
pensamentos, parecer-nos-á que vários
minutos passaram, e é apenas referindo-nos
ao relógio inflexível, que marca para nós a
passagem regular do tempo, que
constatamos o nosso erro. Com o haxixe, a
noção de tempo é completamente
derrubada, os momentos são anos, e os
minutos são séculos; mas sinto a
insuficiência da linguagem para
exprimir esta ilusão, e acredito que
só podemos entendê-la sentindo-a
/ / .
por nos propr10s.
- Charles Richet (1877)
Ch. Richet.
XENOFOBIA:
A MARIJUANA E AS LE.IS }IM CROW
:de a abolição da escravatura na América, o racismo e a xenofobia
rm em geral obrigados a manifestar-se de formas menos claras.
eis de proibição da cannabis ilustram de novo esta intolerância institu-
1al para com as minorias raciais, e mostram como a xenofobia se es-
de por detrós de retórica e leis que pare·cem perseguir objectivos intei-
1ente diferentes.

O HÁBITO DE FUMAR marijuana promulgada na América -


MARIJUANA NA AMÉRICA referindo-se apenas a mexican os - foi
aprovada em Brownsville n esse mesmo
mto quanto se sabe, a primeira vez ano.
1ue se fumaram copas de cannabis fê- O uso seguinte de "ganja" foi relatad o
no hemisfério ocidental foi por volta em 1909 no porto de Nova Orleães, no
870 nas índias Ocidentais (Jamaica, bairro "Storeyville", de população m aio-
amas, Barbados, etc.);* o hábito che- ritariamente negra e frequen tado por
com a imigração de milhares de in- marinheiros.
10s hindus (oriundos da lndia con- No bairro Storeyville de Nova Orleães
ada pelos britânicos) importados proliferavam cabarés, bordéis, clubes
,o mão-de-obra barata. Em 1886, os noctumos e todos os out ros adereço s
icanos e os marinheiros negros que usuais dos bairros "lanterna vermelha»
,erciavam nestas ilhas adoptaram o de todo o mundo. Nele, os marinheiros
da cannabis e espalharam-no por das ilhas passavam as suas folgas e con -
1s as índias Ocidentais e pelo México. . ..
sullllam a sua manJuana.
-lá outras Leorias sobre os primeiros fumadores
ecidos de copas de flor de cânhamo, p.e., os es- POMADA NEGRA...
,s americanos e brasiJeiros, os fndios Shawnee,
dgumas são fascinantes mas nenhuma é veri- Comissário da Segu rança Pública de
:1.
as Índias Ocidentais, fumava-se can-
O Nova Orleães escreveu em 1910 qu e
"a marijuana foi a droga mais assustado-
is em geral para aliviar o esgotante ra e perversa que jamais atingiu Nova
alho nos campos de cana de açúcar, Orleães", avisando que só em Storeyville
ntar o calor, e relaxar à noite sem o número de utilizadores regulares pode-
io de uma ressaca alcoólica na ria ascender a 200.
1hã seguinte. Desde 1910 até aos anos 30, na o pinião do
ada a sua área de uso no final do procurador-geral, dos comissários da saúde
lo XIX - as índias Ocidentais cari- pública e dos jornais de Nova Orleães, a
1as e o México-, não é de admirar insidiosa influência maléfica da marijuana
o primeiro uso de marijuana regis- manifestou-se aparentemente no facto de
' nos Estados Unidos tenha sido entre fazer os ((escarumbas" pensar que eram tão
1exicanos de Brownsville, Texas, em bons como o "hornem branco".
. E a primeira lei de proibição da De facto, a marijuana estava a ser

108
responsabilizada pela primeira recusa de bém o local de nascimento de Lo uis Ar
rtistas negros a maquiJharem-se com mstrong* (1900).
a
poro.ada negra,* e por ,azer r.
os "Pretos,, ,. Em 1930 - um ano após ter gravado "Muggles
rirem-se histericamente quando, sob a (leia-se: "marijuana"), Louis Armstrong fo i detid
em Los Angeles por posse de um cigarro de mari
s ua influência, recebiam ordens pa~a juan a, e encarcerado durante 10 dias até concorda
atravessar a rua, sentarem-se nas trasei- em deixar a Califórn ia e não regressar durante doí
ras do autocarro, etc. anos.
,.. f verdade, os olhos do leitor ~ã~ ~ engan~am. Os jornais, políticos e polícias ameri
D ev1·do a uma curiosa faceta das leis Jtm Crow (se-
. canos desconheceram virtualmente, du
gregacionistas), os americanos negros estavam proi-
bidos de actuar em qualquer palco do Sul Profundo rante 15 anos (até aos anos 20, altura en
( t arn bém na maioria dos outros "P
lugares do Norte
,. b .
eedo Oeste). Até aos anos 20, os retos eram o n- Declarou-se que a música jazz e
...1 a maquilhar-se com blackfnce-uma pomada
gauos ..
que os a rt istas b rancos usavam para parecer o u 1m1-
swing tocada por "Pretos,
essoas de cor - como fez AI Jolson quando Mexicanos e artistas" era uma
tar p I . "J. C ,,
cantou "Swanee". De facto, as eis 1m row ve- consequência do uso de marijuana.
d avam O acesso aos pal~os aos negros, que estavam
porém autorizados, devido_ao seu talento, a entrar
que um número reduzido tomou co
por portas traseiras, maquilhar-se com blnckface, e
fingir serem uma pessoa branca que descm-
nhecimento do facto), que a m arijuan.
pen hava O papel ·de uma pessoa fumada pelos "escarumbas» e o:
negra ... "chicanos" em cigarros ot
cachimbos não passava de
E TODO uma versão mais fraec
AQUELE JAZZ dos muitos remédio:
familiares de cannabi:
m Nova Orle- concentrada que to•
E ães, os brancos
preocupavam-se
mavam desde a infân ·
eia, ou que a mesm,
igualmente c~n:1 o droga era fumada le-
facto dos mus1cos galmente nos luxuoso~
negros, que eram salões de haxixe locai~
suspeitos de fumar frequentados pelo "ho-
marijuana, estarem ~ . mem branco".
espalhar uma . nov~ m us1- Durante quase duas dé-
ca "vudu" muito ntma- cadas, os racistas brancm
da que forçava até as Etiqueta de disco de Jazz redigiram artigos em jor-
mulheres brancas de- de 1945. Cortesia da nais e promulgaram leis
centes a bater o pé, e Michael Kieffer Collection. locais e estaduais contra a
cujo objectivo final era . marijuana sem estarem na
libertá-los do jugo dos ,b~anco~. ~OJe posse deste conhecimento, baseados pri-
roamos a essa nova musica ... Jazz. mariamente na perversa "insolência»*
eh a b .
O s negros jogavam o VIamente com que os "Pretos e Mexicanos» demons-
eceios que os racistas brancos de No- travam sob influência da marijuana.
os r . d « d ,,
O rleães sentiam o vu u para
va .d R • Insolência Perversa: Entre 1884 e 1900, 3500
mantê-los afastados das suas ~• as. eco- mortes documentadas de americanos negros foram
nhece-se geralmente que o Jazz nasceu causadas por linchamentos; entre 1900 e 1917, foram
bairro de Storeyville em Nova Or- registadas mais de 1100. Os números reais eram indu-
n<: s que foi o berço dos inovadores bitavelmente m ais elevados. Estima-se que um terço
leae , h
·ginais: Buddy Bohler, Buck Jo nson e destes linchamen tos se deveu a "insolência': a qual
~:tros (1909-1917). Storeyville foi tam- poderia consistir de qualquer coisa como olhar (ou

109
O ÓDIO QUE ANSLINGER NUTRIA PELOS NEGROS E PELO JAZZ
pós a sua reforma, Harry Anslinger tores e músicos: Thelonius Mo nk,
A entregou pessoalmente à Universi- Louis Armstrong, Les Brown, Count
dade do Estado da Pensilvânia os seus Basie, Cab Calloway, Jimmy Dorsey,
documentos referentes aos 30 anos Duke Ellington, Dizzy Gillespie, Lionel
que passara como principal agente Hampton, Andre Kostelanetz. Igu al-
antinarcóticos do mundo. mente sob vigilância encontravam-se a
Ficámos a saber o seguinte a partir Orquestra da NBC, os programas tele~
de documentos de Anslinger e da Bi- visivos de Milton Bearle, da Coca-Cola,
blioteca da DEA em \N'ashington, D.C. de Jackie Gleason, e mesmo o de Kate
(contendo os documentos e memo- Smith. Tudo pessoas que hoje consi-
randos do antigo FBN [Agência Fe- deramos como inovadores m usicais
deral dos Narcóticos]): Entre 1943 e e/ou americanos maravilhosos.
1948, Anslinger ordenou a todos os Durante cinco anos estas pessoas
seus agentes por todo o país que fi- foram vigiadas e os ficheiros cresce-
chassem e vigiassem virtualmente to-
dos os músicos de jazz e swing suspei-
Anslinger tinha fichas sobre
tos de usar marijuana; mas os músjcos
Thelonious Monk, Louis
não deviam ser detidos até ele estar em
Armstrong, Les Brown, Count
condições de coordenar todas as rus-
gas numa única noite.
Basie, Jimmy Dorsey, Duke
Ellington, Dizzy Gillespie, Lionel
O seu objectivo e sonho era prendê-
-los a todos numa única operação à es-
Hampton, Andre Kostelanetz, Cab
cala nacional! Isto faria as primeiras Calloway, a Orquestra da NBC,
páginas de todos os jornais da Amé- os programas televisivos de
rica, e tornaria Anslinger mais conhe- Milton Bearle, da Coca-Cola, de
cido do que aquele que desde há 20 Jackie Gleason, e mesmo o de
anos era o seu principal rival , o famo- Kate Smith.
so J. Edgar Hoover do FBI. Seria reve-
lada à juventude da América a ver- ram. De 1943 até 1948, os agentes fe-
dadeira face dos músicos de jazz e derais esperaram a altura de en trar em
swing - eram "viciados na droga,~ acção.
Anslinger ordenou aos seus agentes Eis uma ficha típica de um músico
que fichassem e vigiassem constante- de jazz "de segunda": "O acusad o é um
mente os seguintes americanos "de homem de cor vivendo em Camden ,
baixa extracção': e as suas bandas, can- Texas. Nasceu a - - - , mede 1,85

ser acusado de olhar) duas vezes para uma mulher anos, na sua maioria de trabalhos forçados, por
branca, caminhar na sombra de um branco, ou crimes cão idiotas como os que acabamos de enu-
mesmo fitar um homem branco nos olhos durante merar.
mais de três segundos, não ir directamente para as Esta era a natureza das Leis "Jim Crow" até aos
anos 50 e 60; leis essas que Martin Luther King, a
traseiras do eléc1rico, e outros "crimes''.
NAACP !Associação Nacional para o Progresso das
Para os brancos, era evidente que a marijuana
Pessoas de Cor] e o protesto público geral come-
provocava "perversidade" nos "Prews~ e mexicanos, çaram finabi,ente a erradicar da América.
ou eles não se a i reveriam a ser "insolentes': ele....
Centenas de milhares de "Pretos" e mexicanos Podemos apenas imaginar o efeito q ue
foram sentenciados a penas indo de 10 dias a 10 teve n a ortodoxia branca a recusa dos ar-

11 Oi
metros, pesa 165 libras, tem pele escu-
ra, cabelo negro e olhos negros. Apre-
senta cicatrizes no lado esquerdo da
testa, e tem gravada a tatuagem de
uma adaga e a palavra - - - no
antebraço direito. É músico e toca
trompete em pequenas <hot bands'. Suspeitos de
Tem uma boca muito grande e lábios tocar umúsica
espessos que lhe valeram a alcunha de satânica'': Cab
- - - . É fumador de marijuana". Calloway (e m
Os outros ficheiros são igualmente cima), Louis
ridículos, racistas e anti-jazz. Armstrong e Duke Ellington
E qual foi a única razão por que a
segui-los [ os músicos de
grande rusga dos músicos não se con-
jazz e swing] ?"
cretizou? O superior de Anslinger no Dr. Munch: <'Porque no
Departamento do Tesouro, o secretá-
que lhes [Anslinger, FBN] di-
rio-assistente Fowley, quando informa- zia respeito, o principal efeito
do por Anslinger da rusga nacional
que [a marijuana] provoca é
contra os músicos de jazz, escreveu em
uma dilatação ~a sensação temporal, de
resposta: "O Sr. Foley desaprova!" modo que podiam enfiar-se mais florea-
Conhecido de longa data de Anslin-
dos rítmicos na música do que limitan-
ger e seu mais íntimo associado no de-
do-se a seguir a partitura ... "
partamento, e provavelmente o seu me-
Sloman: «E que mal há nisso?"
lhor amigo, o dr. James Munch* foi
Dr. Munch: "Por outras palavras, se
q uestionado em 1978 sobre o ódio que
formos músicos, iremos tocar a coisa
Anslinger nutriu pelos músicos de jazz
[música] da forma como ela está im-
durante os anos 30, 40 e 50, numa entre-
~ressa numa folha de papel. Mas se es-
vista conduzida por Larry Sloman para
uvermos a usar marijuana, encaixa-
livro Reefer Madness, publicado pela
0 remos cerca do dobro da música entre
Bobbs-Merrill em 1979. ~ primeira nota e a segunda nota. Foi
* Durante os anos 30 e 40, o dr. Munch, quí- isso que os músicos de jazz fizeram.
mico do FBN, foj largamente promovido pelo
governo e imprensa como sendo a mais eminen- T0ham a ideia de que podian1 agitar
te autoridade americana sobre os efeitos da ma- [Jazz up] um pouco as coisas, dar-lhes
rijuana. um pouco de vida, não sei se está a
Sloman: "Por que é que ele [Anslin- entender".
ger] estava tão interessado em per- Sloman: «Estou a entender, sim".

tistas negros a usar blackface, m as sete jazz. enlouquecidos pela marijuana, os


anos mais tarde, em 1917, Storeyville foi quats mostravam um desrespeito perver-
completamente isolada. O apartheid teve so p~las "leis Jim Crow" dos brancos ao
seu momento de triunfo. caminharem nas sombras destes quando
0
Não mais os sérios e rígidos cidadãos estavam ganzados.
brancos deveriam preocupar-se que as O~ músicos negros levaram então a sua
mulheres brancas fossem ouvir música m~s1ca e a marijuana pelo Mississipi
"vudu'' a Storeyville, onde se arriscavam a acuna, até Memphis, Kansas City St
ser violadas por "aderentes negros" do Louis, Chicago, etc., onde os patri;rca~

111
7

(brancos) das cidades, com idênticas Este «racismo do charro" perdura até
motivações racistas, não tardaram a pro- hoje. Em 1937, Henry Anslinger disse ao
mulgar leis locais contra a marijuana, com Congresso que nessa altura havia entre
vista a deter a música "maléfica" e impedir 50.000 e 100.000* fumadores de m ari-
as mulheres brancas de sucumbir aos juana nos Estados Unidos, na sua maio-
negros por via do jazz e da marijuana. ria "Pretos e Mexicanos, e artistas", e que
a música que tocavam, o jazz e o swing,
OS MEXICANO-AMERICANOS derivava deste uso de marijuana.
m 1915, os estados da Califórnia e do Anslinger insistiu que esta música
E_ Utah promulgaram leis proibindo a
marijuana pelas mesmas motivações
"satânica" e o uso de marijuana faziam as
mulheres brancas "procurar ter relações
"Jim Crow,, - dirigidas porém contra os sexuais com Pretos! ,,
mexicanos, por instigação dos jornais de • Anslinger ter-se-ia passado da cabeça se sou-
besse que um dia haveria na América 26 milhões de
Hearst. utilizadores diários de marijuana, e que o rock'n'roll
Seguiu•se o Colorado em 1917. Os seus e o jazz são agora apreciados por dezenas de mi-
legisladores citaram excessos cometidos lhões de pessoas que nunca fumaram erva.
pelo exército rebelde de Pancho Villa,
cuja droga preferida era alegadamente a A ÁFRICA DO SUL HOJE
marijuana. (Se isto for verdade, significa
m 1911, a África do Sul decretou a
que a marijuana ajudou a derrubar um
dos mais repressivos e perniciosos regi- E proibição da marijuana com intuitos
idênticos aos de Nova Orleães: para deter
mes que o México jamais suportou.)
A Legislatura do Colorado considerava os negros insolentes!* Na Liga das Na-
que a única forma de impedir um banho ções, a África do Sul branca e o Egipto
lideraram o esforço internacional para
Sob a influência da marijuana, os proibir a cannabis em todo o m undo.
mexicanos exigiam um tratamento * Todavia, a África do SuJ continuava a permitir
humano, olhavam para as mulheres que os seus mineiros negros fumassem dagga no
trabalho. Porquê? Porque assim eles eram mais pro-
brancas, pediam que os seus filhos dutivos!
fossem educados enquanto os pais
De facto, nesse mesmo ano, a África
colhiam beterraba de açúcar, e
do Sul influenciou os legisladores su-
faziam outras exigências
listas americanos no sentido de proibir
"insolentesn.
a cannabis (que muitos sul-africanos
negros reverenciavam como "dagga'', a
de sangue racial e o derrube das leis, ati- sua erva sagrada.). Nessa altura, muitas
tudes e instituições ignorantes e precon- sedes americanas de empresas sul-
ceituadas dos brancos era acabar com a -africanas localizavam-se em Nova
marijuana. Orleães.
Sob a influência da marijuana, os me- Esta é toda a base racial e religiosa
xicanos exigiam um tratamento huma- (igreja católica medieval) de onde ema-
no, olhavam para as mulheres brancas, naram as nossas leis contra o cânhamo. É
exigiam que os seus filhos fossem educa- algo de que devemos orgulhar-nos?
dos enquanto os pais colhiam beterraba Até agora, cidadã.os americanos pas-
de açúcar, e faziam outras exigências "in- saram doze milhões de anos em cadeias e
solentes'~ Com o pretexto da marijuana prisões, e em regimes de liberdade condi-
(a Erva Assassina), os brancos podiam cional e pena suspensa, devido a esta
agora usar a força e racionalizar os seus absurda mentalidade racista com pro-
violentos actos repressivos. váveis bases económicas. (Ver capitulo 4,

112
"Os ú ltimos Dias da Cannabis Legal'~) VESTÍGIOS DURADOUROS
Em 1985, os E.U. encarceravam uma
mbora o blackface tivesse desaparecido
maior percentagem de pessoas do que
qualquer outro país do mundo excepto a
E enquanto lei no final dos anos
tarde como nos anos 60
20,tão
artistas negros
África do Sul. Em 1989, os E.U. ultrapas- tais como Harry Belafonte e Sammy Davis
saram a Africa do Sul, e em 1997 o nosso Jr. ainda eram obrigados - por lei! - a
, dice de encarceração é quatro vezes entrar nos recintos artísticos, bares, etc.,
lfl ' É .
erior ao desse pais. agora o mais pela porta das traseiras. Eles não estavam
su P . t
elevado do mundo e contmu~ a crescer. autorizados a alugar quartos de hotel em
Não é interessante constatar isto? Las Vegas ou Miami Beach, muito embo-
No discurso sobre política de droga ra fossem as cabeças de cartaz.
ue proferiu em 5 de Setembro de 1989, o Em 1981, na sua actuação para as ceri-
q esidente Bush prometeu duplicar de mónias da inauguração presidencial de
~~vo a popula1ão pri~ional federal, de- Ronald Reagan, Ben Vereen encenou as leis
is de ela ter Já duplicado no mandato blackface/Jim Crow vigentes neste país no
po . E
de Reagan. Conseguiu-o. m 1?93, o virar do século passado, fazendo uma exce-
esidente Clinton planeou duplicar de lente prestação sobre o genial comediante
~~vo O número de prisioneiros até 1996. negro Bert Williams (circa 1890 até 1920).
Foi O que fez. Vereen fora convidado a actuar na
Lembram-se do coro de protestos que inauguração de Reagan e aceitara apenas
levantou em 1979 quando o antigo na condição de poder contar a história
s~baixador nas Nações Unidas Andrew completa do blackface - mas toda a
~oung disse ao m~do qu~ _os E.U. ti- primeira metade do programa de Vereen,
harn mais prisioneiros pohticos do que apresentando Bert Williams e o black-
n alquer outra nação? (Amnistia Inter- face, foi censurada pela gente de Reagan
qu
nac1·anal , ACLU [Associação Americana na ABC TV, contrariamente ao acordo
de Liberdades Civis]) especial que Vereen fizera com a estação.

" p rtugal passamos de uma população prisio-


t Ern ° ·
um estado dito fascista era de aproxuna
· da-

:mente
°
nal que2 00 reclusos em 1974, para mais de 14000 em
5
,, rca de três quartos dos quais · estao
- det1'dos
8
l99 d• cliet 5 relacionados com drogas. (N. do T.)
por e o

113
l

Decretaram-se leis dementes contra a Mãe Cannabis. Colagem I ilustração


de Leslie Carboga.
MAIS DE SESSENTA ANOS DE SUPRESSÃO
-
E REPRESSAO
1937: É proibido o cânhamo. Estima-se que apenas 60.000 americanos
fumam marijuana, mas virtualmente todos no país ouviram falar dela, gra-
ças à campanha de desinformação lançada por Hearst e Anslinger.
1945: A revista Newsweek informa que mais de I 00.000 pessoas fumam
agora marijuana.
1967: Milhões de americanos fumam regular e abertamente folhas e flo-
res de cânhamo.
1971: Dezenas de milhões de pessoas fumam regularmente cannabis, mui-
tas delas cultivando as suas próprias plantas.
1998: Um em cada três americanos, cerca de 90 milhões de cidadãos, ex-
perimentou marijuana pelo menos uma vez, e entre I O e 20% (25 a 30 mi-
lhões de americanos) optaram por continuar a consumi-la regularmente,
apesar dos testes à urina e de leis mais severas.
Historicamente, os americanos têm sustentado a tradição legal de que
ninguém pode ser privado dos seus direitos constitucionais, e quem for pri-
vado destas protecções está a ser vítima de discriminação. Em 1998,
porém, se nos inscrevermos em actividades extracurriculares escolares ou
nos candidatarmos a empregos de salário mínimo, pode ser-nos solicitado
que alienemos os nossos direitos à privacidade e à protecção contra a
autoincriminação, ao cumprimento das exigências constitucionais sobre a
necessidade de motivos razoáveis para se efectuarem buscas e apreen-
sões, à presunção da nossa inocência até sermos considerados culpados
pelos nossos pares, e o esse mais fundamental de todos os direitos: o di-
reito à responsabilidade pessoal pela nossa vida e consciência.
Em I 995, o Supremo Tribunal dos E.. U. sustentou a constitucionalidade
destas intrusões à nossa privacidade individual!
Como notámos antes, em Novembro de 1996 a Califórnia aprovou por
S6% dos votos um plebiscito para legalizar a marijuana médica no esta-
do. Também em Novembro de 1996, o Arizona aprovou por 65% dos sufrá-
gios uma iniciativa que incluía a marijuana médica. Porém, ao contrário
do Califórnia, a legislatura do Arizona e o seu governador (agora impu-
gnadoJ têm rejeitado desde então a lei aprovada pelos seus cidadãos. Es-
ta foi a primeira vez em 90 anos que a legislatura e o governador do Ari-
zona rejeitaram uma iniciativa plebiscitária!

115
A SITUACÃO NA INDÚSTRIA E Esta posição é consistente com as con-
NAS FORCAS
, ARMADAS clusões dos relatórios da Comissão Siler
nomeada pelo governo americano (1933)
s Forças Armadas, assim como muitas
Aempresas civis, põem no olho da rua e da Comissão Shafer (1972), assim como
do Relatório LaGuardia (1944), do Estu-
quem fumar marijuana, mesmo se tiver
do do Governo Canadiano (1972), da Co-
sido fumada 30 dias antes do teste e fora
missão do Estado do Alaska (1989) e do
do serviço. Estes testes são feitos de forma
Painel Consultivo da Investigação da
aleatória, e amiúde não incluem a de-
Califórnia (1989), todos os quais susten-
tecção de álcool, tranquilizantes ou drogas
tam não se justificarem sanções por uso
do tipo anfetamina. Porém, segundo as
de marijuana.
a utoridades de saúde americanas (OSHA),
~s d_ados das seguradoras, e a federação TESTES À URINA INEXACTOS
smd1cal AFL-CIO, é o álcool que está en-
s. p_ara
~estes à urina
volvido em 90-95% dos acidentes de tra-
balho relacionados com drogas! O detecção _de ma-
n1uana em militares/operános são
apenas parcialmente exactos e não in-
De facto, numerosos testes sobre os
efeitos da cannabis em soldados, realiza- dicam o grau da intoxicação da pessoa.
dos durante os anos 50 e 60 pelo exército Indicam apenas se nos 30 dias anteriores
americano em Edgewood Arsenal, Mary- ela fumou ou esteve na presença de fumo
land, e outros lugares, não revelam qual- de cannabis, ou comeu óleo de semente
quer diminuição da motivação ou do de cânhamo ou qualquer outro produto
desempenho após dois anos de forte dela derivado. Quer a p essoa tenha fu-
consumo de marijuana (patrocinado pe- mado ou comido cannabis há urna hora
lo exército). ou há 30 dias atrás, os resultados do teste
-~te estudo foi repetido seis vezes pelos são idênticos: Positivo.
militares, e dúzias de vezes por universi- O dr. John P. Morgan afinnou na High
dades, com resultados idênticos ou si- Times de Fevereiro de 1989 ( e continua a
milares. (À mesma conclusão chegaram o mantê-lo em 1998): "Os testes estão longe
o Relatório Britânico sobre o Cânhamo-da- de ser fiáveis. A manipulação é comum,
-índia, o estudo Panamá/Siler e o estudo bem como elevados índices de falsos positi-
jamaicano.) vos, falsos negativos, etc., acrescendo ainda
As minas de ouro e diamantes da o facto destas companhias de testagem ade~
África do Sul autorizavam os negros, e rirem apenas aos seus próprios critérios':
chegavam a encorajá-los, a usar canna- A 20-50 nanogramas (bilionésimos de
bis/Dagga, a qual lhes permitia trabalhar grama) por mililitro de ácido carboxílico
mais. ( um metabolito) de THC, estes testes
tanto podem ler-se como positivos o u
(Relatórios do Governo dos E.V., 1956-58-61-63-
- 68-69-70-76.)
negativos - apesar de se saber que os
resultados derivados desta parte da es-
cala são desprovidos de significado. Para
A PRIVACIDADE É UM DIREITO
o observador não-treinado, qualquer
rupos como a NORML, a HEMP, a indicação positiva levanta uma bandeira
G ACLU, a BACH e o Partido Liber-
tário, por exemplo, consideram quedes-
vermelha. E a maior parte das pessoas
que conduzem os testes não têm qual-
de que os militares ou operários não fu- quer tipo de treino ou certificação. Ainda
mem cannabis no trabalho, ou durante o assim, a decisão de contratar, despedir,
período quatro a seis horas anterior ao repetir o teste ou dar início a um trata-
serviço, o assunto só a eles diz respeito. m ento de desintoxicação é imediata-

116
mente decidida no local, à nossa revelia. O BEISEBOL E BABE RUTH
«Acredito que a tendência para ler o
teste EMIT [o teste à urina para detecção
de metabolitos de THC] abaixo do limite
OV.antigo comissário do beisebol Peter
Ueberroth ordenou em que
1985
de detecção é uma das principais razões todo o pessoal sob a sua alçada, excepto
por que muitas vezes o teste não foi vali- os jogadores sindicalizados, se submetes-
sem a estes testes à urina. Dos conces-
dado em relatórios publicados," disse o
sionários e vendedores de amendoim até
dr. Morgan. aos carregadores de tacos, o teste é obri-
Em 1985, pela primeira vez, os alunos
gatório para se obter um emprego ou
da escola secundária de Milton, no Wis-
prestar um serviço. Em 1990, fora incor-
consin, receberam ordens para se subme-
porado em todos os contratos, incluindo
ter a testes semanais à urina com vista a os dos jogadores.
determinar se tinham fumado erva. Agora, desde Novembro de 1996, na
Organizações locais do tipo "Famílias Califórnia, un1 jogador profissional de
Contra a Marijuana" andavam a exigir beisebol (ou, para o caso, de qualquer
estes testes, embora os considerassem outro desporto) pode beneficiar da
desnecessários para detectar álcool, tran- cannabis enquanto medicamento e con-
quilizantes ou outras drogas perigosas. tinuar a jogar profissionalmente.
Em 1988, centenas de comunidades e Para além das questões que se levan-
escolas secundárias por todo o país tam sobre liberdades civis, esquece-se
aguardavam o resultad~ da~ deli_berações aparentemente que "Babe" Ruth tinha o
jurídicas sobre a constltuc10n~dade do costume de convidar os repórteres a
procedimento adoptado em Milton antes acompanharem-no enquanto bebia 12
de implementarem programas seme- cervejas antes de um jogo, durante a
lhantes de despistagem de drogas nas suas proibição do álcool.
regiões escolares. Dado qu~ o parecer ~oi Muitas organizações "secas': e até mes-
pronunciado a favor de Milton, a despis- mo o comissário da Liga, imploraram-
tagem de estudantes do secundário que -lhe que pensasse nas crianças que o ido-
participem em actividades extracurricu- latravam e deixasse de proceder assim1
lares foi desde então largamente adap- mas o «Babe" recusou.
tada, e prossegue através de todos os Esta- Se Peter Ueberroth ou a sua laia tives-
dos Unidos em 1998. sem sido responsáveis pelo beisebol du-
por exemplo, no Oregon, a despistagem rante a proibição, o ''Sultão da Tacada"
de atletas do ensino secundário alargou- teria sido ignominíosamente despedido e
-se por ordem judicial a toda e qualquer milhões de crianças não teriam jogado
ctividade extracurricular. Os membros orgulhosamente em "Campeonatos In-
a . . .
de bandas musicais e as maJoretes - e fantis Babe Ruth':
esmo os participantes em debates, al- Dezenas de milhões de americanos
;;ns sobre a questão da marijuana-po- médios optam por usar cannabis en-
d rn agora ser testados livremente em to- quanto automedicação ou para se rela-
d~s os estados excepto na Califórnia, onde xarem quando não estão a trabalhar,
desde 1998 mesmo um estudante do incorrendo por isso em sanções crimi-
cundário pode obter uma recomenda- nais. O desempenho laboral devia ser o
~ ou atestado de um clínico para fazer principal critério para a avaliação de
ça0 d .. todos os empregados, e não as escolhas
uso rnédico a manJuana.
(Relatórios da NORML, High Times, notícias da
pessoais de estilos de vida.
ABC, NBC e CBS, 1981-8,.; The Oregonian, 23 de Os Babe Ruths do desporto, os Henry
Outubro de 1989.) Fords da indústria, os Pink Floyds,

117
r:e-

LAROUCHE DECLARA GUERRA AO ROCK'N'ROLL


aso o leitor julgue que o fanatismo tante das publicações lançadas pela
C musical enlouquecido se esgotou «Guerra às Drogas".
nos anos 30 e 40 com a postura anti- De modo a sermos consonantes
jazz de Anslinger, então considere isto: com o papel que desempenhávamos,
Nos anos 80, uma das principais or- assinámos a petição. (John, perdoa-
ganizações dentre os cerca de 4000 -nos - estávamos a operar clandesti-
grupos do tipo "Famílias Contra a Ma- namente como agentes antinarcóticos
rijuana" era o comité "Guerra às Dro- do CMI. Recordamos-te devido a
gas" de Lyndon LaRouche, que contava «Give Peace a Chance': "Imagine», e
com o apoio de Nancy todas as outras canções.)
Reagan, Jerry Falwell, Após termos assinado
Jimmy Swaggart e outros a petição, os líderes da
activistas de direita. «Guerra às Drogal' le-
Em Janeiro de 1981, varam-nos até ao fundo
este autor e cinco mem- do salão de reuniões do
bros da Iniciativa Cali- hotel Marriott no aero-
forniana sobre a Mari- porto de Los Angeles pa-
juana (CMI) participa- ra nos elucidarem sobre
ram secretamente, pre- alguns dos objectivos
tendendo ser pró- La- que tencionavam con-
Rouche, na convenção cretizar quando chegas-
desta organização reali- sem ao poder no decurso
zada na Costa Oeste, da década seguinte.
cujo orador convidado John Lennon Espalhados sobre qua-
era Ed Davis, antigo che- fotografado em I968 tro ou cinco mesas com-
fe da polícia de Los An- por Richard Avedon ©. pridas estavam centenas
geles, que na altura aca- de discos de Bach, Bee-
bara de ser eleito senador pelo círculo thoven, Wagner, Chopin, Tchaikovsky,
de Chatsworth, Califórnia. Mozart e outros, lado a lado com deze-
Ao entrarmos separadamente, soli- nas de publicações pró-energia nuclear.
citaram-nos que assinássemos uma Fomos informados de que> junta-
petição apoiando um repórter de De- mente com novas leis contra a mari-
troit que escrevera urna carta aberta ao juana, o grupo esperava vir a imple-
novo presidente, Ronald Reagan, pe- mentar o seu objectivo mais impor-
dindo-lhe que outorgasse imediata- tante: qualquer pessoa que no futuro
mente clemência presidencial a Mark tocasse qualquer disco de rock>n•roll
Chapman, que assassinara John Lcn- ou jazz na rádio, na televisão, em esco-
non dos Beatles seis semanas antes, e o las ou em concertos, ou apenas
promovesse a herói nacional. vendesse discos de rock'n'roll, ou qual-
A carta afirmava que John Lennon quer outra música não figurando nas
fora o homem mais perrlicioso do pla- listas aprovadas de música clássica,
neta porque praticamente sozinho ti- seria encarcerada, incluindo profes-
nha "iniciado" o planeta no uso de sores de música, disc jockeys e execu-
"drogas ilícitas». Os malefícios do tivos de companhias discográficas. Os
rock'n1 roll eram e são um tema cons- professores que permitissem aos seus

118
alunos ouvir tal m úsica seriam despe- desconcertado, dizendo então com um
didos. (LA Times; KNBC-TV.) suspiro: "Quem diria, pois nunca me
A gente de LaRouche estava a falar senti tão bem na minha vida - e isto
muito a sério. é ilegal!". Este episódio seria retirado
A sua revista «Guerra às Drogas" sem- de circulação.
pre gastou 1~ais e~p~ço com de~úncias E em 1986 o falecido cóm ico Sam
da música permc1osamente nanada Kinison, famoso pelos seus estridentes
pela marijuana,, do que ~om a heroína, berros, entrou no palco do programa
a cocaína e o PCP combmados! Saturday Night Live da NBC e gritou a
Ed Davis ficou genuinamente cho- p lenos pulmões: "Vão em frente, fi-
cado e embaraçado com o cariz assu- quem com a vossa cocaína! Deixem-
mido do dogn1a antimusical do grupo, -nos apenas ficar com a nossa erva!»
e disse: "Bem, de momento não vejo Estas linhas foram apagadas do registo
hipótese de legislar a proibição destes áudio em subsequentes reposições da
outros tipos de música ou dos seus ver- série.
sos ( ... ) Mas estou em crer que com a Na sua qualidade de Co11selheiro
nova administração lei-e-ordem de Principal sobre Drogas da Casa Bran-
Reagan conseguiremos fazer aprovar ca, Carlton Turner, o czar antidroga
leis novas e mais severas contra a das administrações Reagan/Bush, ci-
parafernália associada à marijuana, e tou à imprensa passagens de "O De-
até recriminalizá-la por completo nos clínio e Queda do Império Romano", e
estados que agora têm leis de descri- declarou a polícias e entrevistadores
minalização ( .. .) Isto é só o princípio". que, com a sua música ritmada pela
Passados alguns dias telefonei para o marijuana, os músicos de jazz e os
escritório de Davis, sendo inform ado cantores de rock estavam a destruir a
por um assistente de que ele desco- sua amada América.
nhecera antecipadamente o precon- Em 1997, num episódio da série tele-
ceito musical deste grupo, e que acei- visiva Murphy Brown, protagonizada
tara o convite baseado apenas no tema por Candice Bergen, Murphy sub-
''Guerra às Drogas». A maior parte das m ete-se a um tratamento contra o
coisas que Davis predisse naquele dia cancro que lhe causa vómitos cons-
vieram a acontecer. Esses visionários tantes e perda de apetite. Finalmente, o
de uma nova sociedade, livre da seu médico acaba por aconselhá-la a
influência da erva e de qualquer men- usar marijuana ilegalmente para con-
ção dela, foram bem sucedidos na dé- trolar a náusea e estimular o apetite.
cada de 80. Lembram-se de Jam es Muphy fuma erva e salva-se por causa
Watt e os Beach Boys em 1986? disso.
Desde 1961, houve programas de TV A Parceria para uma América Livre
que foram censurados, cortados e reti- de Drogas tentou sem êxito impedir a
rados do ar por terem uma conotação exibição deste episódio, dado que ele
pró-marijuana ou mesmo por dizerem "( ... )envia uma mensagem errada aos
piadas sobre ela. _. nossos filhos ( ... )" Qual mensagem
Num episódio de Barney Miller, o !?
errad a.... . Que a manJuana
.. é o me-
detective Fish (Abe Vagoda) é infor- lhor remédio contra a náusea e o me-
mado de que alguns biscoitos que lhor estimulador do apetite existente
comera o dia inteiro estavam revesti- no planeta, e pode salvar m ilhões de
dos de erva. Por um momento parece vidas?

119
Beatles, Picassos e Louis Armstrongs das sistentes plantas de o ito meses, com cin-
artes, e um entre cada dez americanos co metros de altura. Os homens da
viraram criminosos - e milhares ficaram CAMP cortam-nas à m achadada, ati-
desempregados - por fumarem can- ram-lhes pneus para cima e regam tudo
nabis, ainda que o fizessem apenas para se com gasolina. Sendo frescas, as plantas
descontrair, na intimidade dos seus lares. queimam lentamente.
A carreira cinematográfica de Robert Noutro lugar, o p iloto de um h elicóp-
Mitchum quase foi destruída em 1948 por tero voa em círculos sob re um determi-
uma prisão por posse de marijuana. O nado quarteirão, enquanto observa uma
juiz federal Douglas Ginsburg estava câmara termossensível apontada para
prestes a ser nomeado para o Supremo uma casa. "Estamos à procura do sol
TribW1al dos E. U. em 1987 quando se interior," e>q>lica displicentemente.
soube que fumara erva quando era pro- "Só perseguimos objectivos específi-
fessor universitário, e o seu nome foi reti- cos," casas onde foram compradas lâm-
rado do escrutínio. Porém, a questão de padas de cultivo ou onde exista alguma
Clarence Thomas ter admitido em 1991 o utra base tangível para se suspeitar de
que fumara marijuana na universid ade, «manufactura de substância controlada",
não foi levantada na sua controversa con- que é um crime.
firmação como juiz do Supremo Tribunal "Olhem, aí está a luz da casa'~ O écran
termossensivel mostra calor a sair por
DIVIDINDO COMUNIDADES ... E d ebaixo dos beirais da casa. Local con fir-
SEPARANDO FAMÍLIAS mado.
A seguir os agentes obtêm um m andato
''Aj ude um amigo, mande-o para a de busca, fazem uma rusga à propriedade,
cadeia': diz um outdoor em Ventura, confiscam a casa ao abrigo de pro-
Califórnia. Este é um exemplo das tácti- cedimentos civis, e acusam o seus h abi-
cas de denúncia vicinal promovidas pelas tantes ao abrigo da lei contra o crime.
campanhas de ((tolerância zero" que (Programa 48 Hours, televisão CBS, "Marijuana
estão a ser Jançadas para impor as leis Growing in California': 12 de Outubro de 1989.)
contra o crime sem vítimas que é fumar
marijuana. POLÍTICA NÃO-AMERICANA E
Eis outro exemplo, retirado da TV: «se EXTORSÃO POLÍTICA
você tiver conhecimento de um ilícito,
m Richard Nixon ordenou ao
1971,
poderá ganha r até mil dólares. O seu
nome não será usado e não terá necessi- E FBI que vigiasse John Lennon ilegal-
mente horas por dia durante seis
24
dade de depor em tr ibunal'~* Um recluso
recebeu um postal dizendo: "O nosso meses seguidos, porque Lennon dera um
informador recebeu 600 dólares por tê- con.c erto no Michigan a favo r da liber-
-lo denunciado. Ass: Crimestoppers". tação de John Sinclair, um estudante
condenado a cinco anos de cadeia por
,. Crimestoppers, Ventura, CA, Outubro de 1989.
posse de dois charros.
(LA Times, Agosto de 1983.)
VIGILÂNCIA E CONFISCOS
De forma a assegurarem os seus lucros,
a Califórnia rural, onde o cultivo de as empresas produtoras de fármacos, pe-
N cannabis tem sustentando comu-
nidades inteiras, as forças bem armadas
tróleo, papel e álcool querem que a erva
seja eternamente ilegal, não importa
da CAMP !Campanha Contra o Cultivo quantos direitos individuais sejam supri-
de Marijuana] embrenham-se numa es- midos, ou quantos anos tenhamos de
pessa floresta e descobrem viçosas e re- p assar na cadeia.

120
Os políticos de tendência liberal são Webster solicitou então verbas e
investigados e, acreditamos nós, chanta- poderes irrestritos adicionais para acabar
geados de forma a manterem a boc~ fe- com a erva. (Programa Nightwatch, CBS,
chada sobre este e outros assuntos, p01s ar- 1 de Janeiro de 1985.) E até ao presente
riscam-se a ser denunciados devido a al- ano de 1998 todos os administradores da
guma indiscrição passada que eles ou fami- DEA e czares antidroga têm solicitado
1.ares seus tenham cometido - possivel- verbas adicionais para este fim.
mente relacionada com sexo ou drogas. (Nota de 1998: o orçamento da DEA
para in formação sobre marijuana au-
POLÍCIA, SEGREDOS E mentou 10 vezes relativamente a 1985, e
CHANTAGEM 100 vezes relativamente a 1981.)

á alguns anos atrás, o chefe da polícia


H de Los Angeles entre 1978 e 1992, Da-
ryl Gates, ordenou que o co~selheiro
m u nicipal Zev Yarslovsky, o entao advo-
gado municipal J?hn Van DeKamp e o
presidente da camara de L.A., Tom
Bradley, entre outros, fossem colocados
sob vigilância constante, tendo espiona-
do as suas vidas sexuais privadas durante
mais de um ano. (LA Times, Agosto de
1983.)
Enquanto foi director do FBI, J. Edgar
Hoover adoptou durante cinco anos um
procedimento semelhante c?r:; Mar_ti~
Luther King Jr. E, no caso ma1~ doentio, Como a DEA encara a marijuana
levou deliberadamente a actnz Jean Se- médica. Sinal de Michael M . ©.
berg ao suicídio, enviando-lhe cons-
tantemen te assustadoras cartas fe_derais e HUMILHACÃO PÚBLICA
,
passando informações aos tabl61des ex-
pondo as gravidezes da actriz e seus en- rtistas apanhados com cannabis têm
contros particulares com ((Pretos". De A sido obrigados a retractar-se ao estilo
de Galileu para evitarem a prisão ou a
f; cto durante 20 anos, usando o FBI,
~oo;er perseguiu alvos seleccionados perda dos seus patrocínios televisivos,
devido às posições adoptadas por certas contratos de actuações, etc. Para se man-
essoas em matéria de direitos civis. terem fora da cadeia, alguns foram mes-
p Em 1985, o antigo director do FBI e mo obrigados a ir à televisão denunciar a
também supervisor directo da DEA, marijuana (p. e., Peter Yarrow dos Peter,
William Webster, respondeu do seguinte Paul & Mary, e a actriz Linda Carter). Os
rnodo a perguntas sobre o esbanjamento nossos tribunais e legisladores venderam
de 50% (5oo milhões de dólares) do or- a nossa "garantida" Carta dos Direitos,
ento federal de combate à droga escrita em cannabis, para garantirem um
ça 01.
nesta forma de combater a cannab.1s: ((Oh, mundo livre de can nabis.
marijuana é uma droga extremamente "Não suspeite do seu vizinho, denuncie-
a - prestes a ehegar
perigosa e as provas estao -o'~ Todos os rumores escutados devem ser
[referia-se a estudos totalmente desacre- denunciados. O espectro que mais nos re-
d 1·tados de Heath e Nahas sobre o cérebro voltou quando éramos jovens - nazis or-
e os rnetabolitos r denando às pessoas que se espiassem e de-

121
nunciassem umas às outras; uma polícia normalizado de «inocência até ser prova-
secreta esta]inista retirando pessoas de da a culpa", garantido pela Quinta Emen-
suas casas à noite para lhes extorquir in- da, é usada para destruir a proibição de
formação; um governo espalhando menti- dupla incriminação. Mesmo a absolvição
ras e criando um estado policial - isto das acusações do crime em que se b aseia
passou agora a ser a nossa realidade quo- a apreensão não impede os mesmos fac-
tidiana amerikana, tos de serem julgados de novo porque,
E aqueles que ousan1 enfrentar a vaga de embora o governo não tivesse consegui-
opressão arriscam -se a ficar financeira- do provar que um crime fora cometido,
mente arruinados. no segundo julgamento o acusado deve
apresentar prova de inocência.
CONFISCO: LEI E ORDEM O Supremo Tribunal sustenta que é
FEUDAIS constitucional apreender bens in rem de
uma pessoa que faz um uso completa-

g uando o governo federal confisca au-


tom óveis, barcos, dinheiro, proprie-
d es e outros bens pessoais, desenca-
mente inocente e não-n egligente desses
seus bens. Os tribunais de instâncias in-
feriores aceitani argumentos de promo-
deiam-se procedimentos baseados em tores públicos segundo os quais se é per-
leis cuja origem se encontrava na su- missível apreender bens de pessoas com-
perstição medieval. p letamente inocentes, então as pro-
A lei geral inglesa da Idade Média tecções constitucionais não são aplicá-
impunha a apreensão de qualquer objec- veis a quem seja culpado mesmo de deli-
to que causasse a morte de uma pessoa. tos menores com drogas.
Conhecido como "deodand», o objecto, Ao contrário das acções cíveis entr e
tal como uma arma ou um carro de bois pessoas individuais, o governo está
desgovernado, era personificado e decla- imune a um contraprocesso, podendo
rado impuro ou maléfico, e apreendido usar os seus recursos ilimitados para
pelo rei. pressionar repetidamente uma acusação,
Os actuais procedimentos de apreen- na mera esperança de convencer um
são "in rem» (contra coisas ao invés de único jurado de que o acusado não apre-
contra pessoas) são acções cíveis dirigi- sentou provas convincentes.
das contra o próprio bem. Baseando-se As apreensões impostas pela coroa
numa analogia com o "deodand': uma britânica levaram os fundadores da nos-
ficção "personifica.dora" legal declara que sa nação a proibir as cartas de proscrição
o acusado é o bem. Ele é considerado (apreensão consequente à condenação)
culpado e condenado tal como se fosse no primeiro artigo da Constituição Ame-
uma pessoa - sendo irrelevante e a ricana. O corpo principal da Constitui-
culpa ou inocência do seu dono. ção proíbe também a apreensão de bens
Aplicando esta acção cível aos proce- por crime de traição. O primeiro con-
dimentos de apreensão, o governo passa gresso aprovou um estatuto, que ainda
à margem de quase todas as protecções hoje é lei, afirmando que ((Nenhuma
individuais garantidas pela Constituição. condenação ou julgamento resultará em
Não há nenhuma Sexta Emenda gara n- derramamento de sangue ou confisco de
tindo o d ireito a um advogado. :Ê inverti- propriedade': Porém, os antigos ame-
da a presunção de inocência até ser pro- ricanos viriam a incorporar procedi-
vada a culpa. Cada violação de um di- mentos in rem (acusações contra uma
reito constitucional é então usada como coisa) na Legislação marítima, com vista
base para a destruição de outro. a apreender navios inimigos no mar e
A violação d o procedimento devido e obrigá-los a pagar taxas aduaneiras.

122
PAUL McCARTNEV E A SUA BANDA EM FUGA
imothy White entrevistou Paul Mc- fazer era fumar erva em vez de nos
T Cartney, ex-membro dos Beatles,
para um livro, tendo transformado a
enfrascarmos.
"E é isso que a canção significa; foi a
conversa num programa radiofónico minha reacção a toda essa cena . ..
intitulado ''McCartney: Os Primeiros E o juiz de proví.ncia
2 o Anos'~ Nessa entrevista, pediu ao preconceituado como era
compositor que explicasse a sua canção procurará para todo o sempre
~'Band on the Run» [Banda em Fuga], a banda em fuga"
do álbum homónimo [dos Wings) . - De "The First 20 Years'; emitido na KLSX
''Bem, na altura, bandas como nós e 97.1 FM (Los Angeles) e outras estações da cadela
radiofónica Westwood One, 29 de Janeiro de 1990.
os Eagles estávamos a sentir-nos trata-
dos como foras-da-lei e desperadoes, e McCartney escreveu também o fa-
a ser tratados como tal," respondeu moso verso que ocasionou a proibição
McCartney. na rádjo britânica da canção «A Day in
"Quero dizer, o pessoal andava a ser the Life" [dos Beatles]: "Dei uma passa
preso - por caus~ ~e ganz:, imagine- / Alguém falou e eu comecei a sonhar'~
-se. E essa era a umca razao por que Apoiante assumido da legalização da
andávamos a ser presos. Nunca era na- marijuana, McCartney foi detido di-
da de sério. versas vezes por posse de erva e esteve
"E o nosso argumento era que nós preso 10 dias por ocasião de uma
não queríamos ser foras-da-lei. Que- tournée no Japão. O governo japonês
ríamos apenas fazer parte da cena nor- cancelou os seus espectáculos e proi-
mal, tocar a nossa música e viver em biu-o de tocar nesse país, o que lhe
paz. Não percebíamos por que é que custou milhões de dólares de prejuízo.
havíamos de ser tratados como crimi- Para seu crédito, McCartney tem con-
nosos quando tudo o que queóamos tinuado a apoiar os fumadores de erva.

Só quando rebentou a Guerra Civil é sem o incómodo das protecções propor-


que estes procedimentos aduaneiros fo- cionadas pela Constituição e a Carta dos
ram radicalmente alterados. A Acta do Direitos. "Devemos salvar a nossa consti-
Confisco datada de 17 de Julho de 1862 tuição," diz Vickie Linjer, cujo marido
declarava que todos os bens perten- cumpriu dois anos de prisão por posse
centes aos oficiais do exército confede- de cannabis. "Nós é que somos os deten-
rado ou àqueles que aju~ava~ os rebel- tores da verdade~
des podiam ser apreendidos zn rem. O
Supremo Tribunal dos E.U. deliberou ARMADILHAS, INTOLERÂNCIA E
que se a Acta era um exercício dos po- IGNORÂNCIA
deres de guerra do governo, e se fosse
aplicável apenas a inimig?s,_então era
onstitucionalmente perm1ss1vel de for- Q uando um número suficiente de pes-
soas parece não estar a cometer cri-
~ª a garantir um término expedito da mes, a DEA e os departamentos da polí-
guerra. cia recorrem amiúde a armadilhas para
Boje, as paixões da "Guerra às Drogas" criminalizar pessoas insuspeitosas e de
fizeram O Congresso vol_tar .a. usar J?ro- outro modo não-criminosas. Agentes do
cedimentos in rem para mfüg1r punição governo foram repetidamente apanhados

123
a provocar operações de contrabando e juana - a estupidez! (A qual, tanto
venda de drogas e participar nelas.* quanto sabemos, ainda não é um crime.)
~ Secção noticiosa "High Witness", revista High o final de uma manhã de Dezembro
Times; "Jnside the DEA", Dale Geiringcr, Reason de 1989, Bennett foi visto a emborcar um
Magazine, Dezembro de 1986; processo-crime "La
Penca" movido pelo Christic lnstitute; testemunhos
gin tónico quando tentava passar uma
prestados no julgamento de DeLorean, e respectivo mensagem semelhante aos representantes
veredicto de inocência; revista Playboy, etc. das cadeias emissoras e dos estúdios cine-
O resultado deste alimentar constante matográficos de Hollywood, Califórnia.
dos receios públicos sobre a marijuana (High Times, Fevereiro de 1990.)
são solicitações de verbas acrescidas para Preparem os balões e os autocolantes:
combater a "guerra às drogas" ( um Em 2000, Bennett vai candidatar-se à
eufemismo para se fazer guerra a certas presidência!
pessoas que escolhem livremente usar
substâncias específicas) e pressão política PDFA: MENTIRAS FINAMENTE
crescente para serem autorizados meios EMBRULHADAS
inconstitucionais de impor leis cada vez
utro desenvolvimento recen~e foi a
mais severas.
O formação da PDFA (Parcena para
uma América Livre de Drogas) no sector
O ultrajado investigador dr. Donald dos média. A PDFA, financiada princi-
Bium, do Centro de Estudos pal.mente em espécie por agências de pu-
Neurológicos da UCLA, disse ao blicidade e grupos de média, disponibi-
noticiário da KABC que o liza enquanto serviço público (livre de
encefalograma mostrando encargos para os média radiofónicos e a
alegadamente os efeitos da imprensa) anúncios dirigidos principal-
marijuana pertence de facto a uma mente contra a marijuana.
pessoa profundamente adormecida Além de emitirem disparates tão com-
- ou em estado de coma. pletos como um anúncio mostrando
uma sertã ("Isto são as drogas") na qual
Em Outubro de 1989, num discurso
está a fritar um ovo C'Este é o teu cére-
proferido em Louisville, Kentucky, pe-
bro. Percebes?,,), a PDFA não se coíbe de
rante os responsáveis policiais desse esta-
do, o então czar antidroga William Ben- mentir descaradamente nos anúncios
nett, bededor social de álcool e viciado que produz.
Num deles mostram-se os destroços de
em nicotina, anunciou que fumar mari-
juana torna as pessoas estúpidas.* um combojo. Ora todos concordarão que
ninguém encontrando-se sob a influência
,. Este é o mesmo homem que ajudou a conseguir
um subsídio de 2,9 milhões de dólares para a Guar-
da marijuana devia tentar conduzir um
da Nacional do Texas disfarçar os seus agentes de comboio. Mas uma voz masculina diz que
cactos e assim patrulhar a fronteira mexicana. EsLa quem nos afirmar que «a marijuana é
foi a unidade da Guarda Nacional que mais tarde inofensiva" está a mentir, porque a sua
abateu a tiro um jovem pastor mexicano nascido na mulher morreu num acidente ferroviário
An1érica por ter assumido que se tratava de um imi-
grante ilegal
causado pela marijuana. Isto contradiz o
testemunho directo do maquinista res-
Bennett não apresentou qualquer pro- ponsável por este desastre, prestado sob
va do facto, e como o crack não fosse um juramento: "Este acidente não foi causado
problema sério no Kentucky, proclamou pela marijuana': E o anúncio ignora deli-
que era necessário mais <linheiro para a beradamente o facto do maquinista ter
guerra às drogas devido a este recém- admitido que bebeu álcool, comeu e viu
-descoberto perigo induzido pela mari- televisão durante o serviço, não prestando

124
em geral atenção ade-
quada ao trabalho, e
que antes do acidente - ..J' • -. - A
,IJ,. - )J'1 """T"'
, - -- \ •• -.....,
.,

~ __,, - __-'!.,._ - - - ...:::... - -


encravou delibera-
damente o sistem a de
segurança do comboio.
E no entanto, durante
anos a fio, a PDFA disse
que este acidente fer-
roviário tinha sido cau-
sado p ela manJuaJ1a,
embora o maquinista
estivesse legalmente
ébrio e nos três anos
anteriores a sua licença
de condução a utomóv-
el lhe tivesse sido
apreendida seis ~e_zes,
da última d efimtiva-
mente, por condução
sob efeito de álcool.
Noutro anúncio da
PDFA, um casal de ar
pesaroso é informado Desafiando o ancien régime : Activistas ,pró-cânhamo
de que não poderá t~r em São Francisco, Califórnia. Foto de Baron Wolman.
filhos porque o man-
do costumava fumar
outros investigadores já haviam apresen-
erv a. Isto contradiz directam ente tanto a
tado queixa à PDFA, acrescentando que
evidência clínica desenvolvida em quase
uII1 século de estudos sobre a cannabis, os encefalogramas dos utilizadores de
bem como d as experiências pessoais de marij uana são muito diferentes e têm
milhões d e americanos que fumaram uma assinatura bem conhecida, graças a
cannabis e geraram fiJhos perfeitamente a nos de investigação sobre os efeitos da
cannabis no cérebro.
saudáveis.
Em ainda noutro anúncio, a PDFA es- Mesmo após este desm entido público,
palhou m entiras com tanta arr~gância a estação KABC-TV e a PDFA demo-
que acabou por se m e~er em sarilhos. O raram semanas a cancelar o anúncio, e até
anúncio mostrava dois encefalogramas hoje não foi apresentado qualquer pedi-
alegadamente de um jovem de 14 anos do de desculpas ou retractação pelo
11
"sob O efeito da marijuana • embuste. Apesar d a PDFA ter recebido
Ultrajado, o investigador dr. Ronald ordens judiciais para suspend er este
Bium, do centro de estudos neurológicos anúncio, no decurso da última década
da UCLA, declarou ao n oticiário da emitiu-o continuamente em centenas de
I(ABC-TV (Los Angeles) em 2 de Novem- canais de televisão por todos os Estados
bro de 1989 que os en cefalogramas mos- Unidos.*
tram de facto as ondas cerebrais de alguém • * Grupos incluindo o Conselho Americano do
profundamente adormecido - ou em Canhamo, o Consefüo Fam iliar de Consciencializa-
estado de coma. ç:~o-sobre Dr~~as e o Ajudem a Acabar com a Proi-
Declarou ainda que previamente ele e btçao da ManJuana (HEMP) decidiram aumentar a

125
A HIPOCRISIA ABSOLUTA
o mesmo passo que lançavam a sua pretensa «Guerra às Drogas': dirigida de
D facto contra camponeses do Terceiro Mundo e civis americanos, as admin-
istrações Reagan/Bush/Quayle/Clinton/Gore encorajaram e ocultaram o tráfico
e distribuição de drogas por parte de funcionários governamentais americanos
de elevada patente.
Por um lado, Bush violou a lei internacional ao invadir o Panan1á para trazer
a julgamento nos E.U. o alegado narcotraficante e empregado de longa data de
Bush e da CIA, Manuel Noriega.
Por outro lado, Bush recusou-se a autorizar a extradição de Oliver North,
John Hull, o almirante Pointdexter, o general Secord, Lewis Tambs e outros
americanos para a Costa Rica, país onde esses homens estão indiciados por nele
operarem uma rede de narcotráfico.
( The Guardian, jornal britânico, "Cocaine shipped by contra network': 22 de Julho de 1989.)
Em 1988 e 1989, audições federais conduzidas pelo Comité sobre Terrorismo e
Narcóticos, presidido pelo senador John Kerry (Massachusetts), documentaram
actos generalizados cometidos a pretexto da segurança nacional por "opera-
cionais dos serviços de inteligência" da CIA e da Agência Nacional de Segurança
(NSA), visando bloquear investigações sobre tráfico de cocaína em curso pelo
Departamento de Alfândegas e o FBI. Nenhumas acusações chegaram a ser
formalizadas, e as testemunhas depuseram sob garantias de imunidade com
escassa atenção prestada pelos média.
Investigadores especiais do caso Irão-contras coibiram-se de utilizar estas
informações ou provas, compiladas pelo Christic lnstitute,t implicando cumpli-
cidade governamental no narcoterrorismo. E quando o general Secord foi sen-
tenciado em Janeiro de 1990 por crimes relacionados com o escândalo "armas-
-por-droga" do caso Irã.o-contras, foi multado em 50 dólares e condenado a uma
curta pena suspensa quando um juiz federal decidiu que o pobre sujeito já '<so-
frera bastante,~
Isto vindo de uma administração que promove a pena de morte - até mesmo
a decapitação* - para os vendedores de marijuana.
,. Num Larry King Show do final de 1989, o czar antidroga William Bennett garantiu não ter problemas
morais em decapitar vendedores de drogas ilegais... só os tinha com vendedores das drogas legais.
t Grupo interconfessionaJ que promove investigações sobre casos envolvendo abusos de direitos hu-
manos e liberdades pessoais por parte do governo americano. (N. do T.)

pressão no sentido de denunciar as mentiras da O PROGRAMA DARE:


PDFA e proibir a transmissão das suas distorções
PROPAGANDA DA POLÍCIA
ou, m elhor ainda, substitui-las por informações
programa de âmbito nacional DARE
exactas sobre os usos médicos, sociais e com erciais
do cânhamo. O (Educação para a Resistência ao
Abuso de Drogas), criado em 1983 por
Um anúncio mais válido para a PDFA
Daryl Gates, chefe da policia de Los An-
produzir e as televisões emitirem mos- geles, tornou-se uma ferramenta adi-
traria uma sertã ({(Isto é a PDFN') e um cional para desinformar o público sobre
ovo a fritar (((Estes são os factos"). o cânhamo.

126
Tipicamente, um porta-voz de um Por exemplo> segundo professores que
departamento policial leccionará um participam nas sessões>* o agente da po-
curso de 17 semanas numa escola ele- lícia comentará: "Não posso garantir-vos
mentar local com vista à promoção de que fumar ganza irá causar lesões cere-
comportamentos responsáveis. entre os brais, porque todos vocês conhecem pes-
jovens, ao mesmo tempo que irrespon- soas que fumam ganza e parecem nor-
savelmente lhes transmite informa~ões malíssimas. Mas é isso que acontece. Só
distorcidas ou mesmo mentiras que é impossível ter a certeza -para já'~
descaradas sobre a cannabis. * Alguns dos professores com quem falámos en-
A maio r parte do curso n ão versa as contravam -se na desconfortável posição de saberem
drogas enquanto tais, mas sim a c~paci- os factos verdadeiros, ou de eles próprios terem usa-
dad e de decisão perante oportunidades do cannabis e conhecerem os seus efeitos, mas não
poderem apresentar abertamente o seu ponto de
ou pressões para beber, fumar, roub~r, vista com receio de serem submetidos a testes à uri-
mentir, infringir leis, etc. Porém, o apoio n a ou despedidos.

Nenhumas provas abonatórias são en-


"As penalidades contra a posse de tão apresentadas, e a literatura que o jo-
uma droga não deviam ser mais
vem leva para casa ( e que é potencial-
lesivas para um indivíduo do que o mente vista por pais familiarizados com
uso da própria droga". a erva) é ligeiramente mais equilibrada,
_ presidente Jimmy Carter, 2 de
Agosto de 1977 embora se refira a misteriosos "novos
estudos" demonstrando os perigos da
marijuana.
erdadeiramente útil do programa ao
V , . d Ao longo do curso, porém> os agentes
bom comportamento e _mina o por
mentiras e insinuações subJacentes sobre da polícia vão insinuando que a marijua-
efeitos da marijuana nos utilizadores.* na causa lesões pulmonares> lesões cere-
05 brais e esterilidade, e fazem outras ale-
,.. Numa e ntrevista, o principal instrutor da
D.ARE de Los Angeles, o sargento Domagalski, gações infundadas de que causa enfermi-
tou esclarecimentos sobre o programa, pro- dades e morte.
pres . b . d .
'- · do afirmações tão m su stanc1a as - e m• Ou então referem-se estudos deta-
,erlll . ··
'd·cas - como dizer que a man1uana eva
I à
veri 1 ..
ína. "O su1e1to que mora do outro lado da rua
lhando os riscos cardiopulmonares asso-
h ero .. há _ ciados ao uso de cocaína, mencionando-
ou o vizinho fumam man1uana anos e nao
e haver nada de errado com eles. Mas de facto -se então o fumo da marijuana - crian-
·parecestá e rrado, embora possa nao - ser 6bv10· ». E,
a1go fu .. do-se um nexo unicamente contextual.
"Nos anos 60, as p e~oas · rnavam rnanJ~ana e pen-
-...., que não havia nada de errado msso. Agora Ou então o agente "bem intencionado"
sav ....~ .d d .. conta episódios sobre pessoas que pre-
am e pulverizam e cm am a sua martJuana - e
reg bé m não querem saber com que é que a pulve- tende conhecer, as quais "começaram"
t~m Mas os pais desconhecem estes novos dados. com marijuana e acabaram por destruir
nzarn- d . , .
obtiveram to a as suas tntormaçoes nos anos
Eesl ão est -ao inte
. ressados nest as novas". as vidas com drogas pesadas> crime e
60 e n
Downtown News, 10 de Julho de 1989, Ver ta mbém depravação; de seguida, mistura a mari-
(
a secça 0
- de cartas dos leitores de 31 de Julho de 1989
l juana com drogas genuinamente peri-
a resposta da BACH). Ler no capftu o 16, gosas e descreve como jovens ou polícias
P ara
"Desmistificação':
" . r
os factos so6 re estas novas m m.r-
s.eus colegas foram mortos por crimi-
ações". . . .
:in Em 1998, a DARE continua a ensmar consc1ente- nosos desesperados enlouquecidos por
t estas mesmas mentiras aos nossos filhos, e drogas.
:ineo ~~ qualque r comunidade que ouse a dizer à
amea,. . 'd d . O agente encoraja então os estudantes a
ARE [ousar] que cesse as act1v1 a es no respectl-
D d.15 trito escolar. Porém, em 1997, a cidade de Oak- "ajudar" os seus amigos utilizadores de
vo d 0 a Califó rnia, retirou-se do programa DARE e
Ian , . • .
drogas, e as famílias destes> tornando-se
O ra n ão sofreu quaisquer consequenc1as. informadores da polícia. Este tipo de rnen-
até ag ·

127
tiras indirectas, contadas mediante insi- de programação - os meios de comuni-
nuações e implicações, são transmitidas de cação recusam mesmo anúncios pagos
forma displicente, calculada para deixar sobre eventos ou produtos legais de câ-
uma impressão profunda no subcons- nhamo, não destinados a ser fumados. O
ciente, sem as basear em investigações que é que aconteceu à verificação dos
concretas ou outras fontes passíveis de factos?
estudo objectivo ou desafio directo- per- Em vez de servirem como atentos vi-
manece apenas uma imagem mental du- gilantes das actividades do governo e
radoura e indistinta. garantes da confianç.a do público, os gru-
O que torna o programa DARE singu- pos noticiosos empresariais consideram-
larmente perigoso é ele fornecer alguma -se uma ferramenta lucrativa cujo objec-
informação exacta e ter um valor genuíno tivo é forjar «consensos" sobre política
para os jovens, minando-se porém a si nacional.
próprio e ao registo público ao usar estas Segundo grupos como o Justiça e
t_ácticas irresponsáveis e dissimuladas. Exactidão na Reportagem (FAIR) e in-
Se os responsáveis do DARE querem vestigadores como Ben Bakdikian e Mi-
que os estudantes tenham um comporta- chael Parenti, estas empresas definem e
mento responsável, devem agir também protegem o "jnteresse nacional,, - por
de forma responsável. Se eles estão na vezes significando os seus próprios inte-
posse de informação sobre a marijuana resses financeiros e agendas políticas dis-
que está escondida do resto de nós, que simuladas. Deve recordar-se que muitas
no-la mostrem. Mas, tanto quanto sabe- das principais empresas jornalísticas
mos, nenhum grupo do DARE ousou possuem interesses directos em povoa-
ainda debater publicamente qualquer mentos florestais para produção d e
grupo proponente da legalização da papel, e que as empresas farmacêuticas,
marijuana,* ou incluir a literatura destes petroquímkas, etc., se encontram entre
no seu programa. os principais anunciantes dos média.
Num artigo publicado na revista do
* Desde 1989, a Ajudem a Acabar com a Proibição
da Marijuana (HEMP) e a Aliança Empresarial para L.A. Times de 7 de Maio de 1989, intitula-
o Comércio em Cânhamo (BACH ) têm desafiado do (( ada funciona» (tema que desde
repetidamente para um debate público qualquer então foi retomado em centenas de revis-
representante do DARE na área de Los Angeles, tas, incluindo a Time e a Newsweek),
desafio esse que está ainda para ser aceite. Estes gru-
Stanley Meiseler lamento u os problemas
pos também se ofereceram para fornecer ao DARE
literatura grátis e exacta sobre a cannabis, mas, até que as escolas enfrentam comn os seus
Julho de 1998, não chegara qualquer resposta. programas de educação sobre drogas, e
revelou inadvertidamente os pressupos-
OS MÉDIA ENTORPECIDOS tos e preconceitos dos meios de com uni-
cação social:
pesar de, nos anos 60 e 70, os média
A n acionais terem injectado uma forte
dose de racionalidade e de factos no de-
"Os críticos acreditam que alguns
programas educativos foram prejudica-
dos devido ao exagero dos problemas
bate sobre a cannabis, em grande medida causados pelas drogas. Directores e pro-
eles foram incapazes de fazer a distinção fessores, observados de perto por res-
entre a proibição da marijuana e a mais ponsáveis municipais, sentem-se p res-
vasta histeria da "guerra às drogas': a qual sionados a não revelar aos seus alunos
"tinha mais saída" nos anos 80. que a marijuana, embora prejudicial,* é
Os activistas do cânhamo foram igno- menos viciante que os cigarros ( ... ) A
rados, os eventos que promoveram fo- incapacidade de reconhecer tais infor-
ram censurados e excluidos das grelhas mações significa que os programas esco-

12a
lares arriscam-se a perder credibilidade. sabotados por um Congresso apostado
Porém, programas mais honestos pode- em mostrar que é duro com o crime) sem
riam revelar-se mais prejudiciais ainda'~ querer saber se determinada acção é cri-
(Itálico nosso.) minosa ou coloca alguma ameaça real à
O malefício previsto por Meiseler é sociedade, por mais pessoas que sejam
um aumento previsível no consumo de prejudicadas no processo.
marijuana quando as pessoas forem E esta atitude de intolerância e opressão
informadas dos benefícios para a saúde e entrou em escalada nos anos pós-Carter.
ausência de riscos físicos ou psicológicos Em 1990, 30 estados tinham estabeleci-
que estão envolvidos. Muitas pessoas de- do campos de «Encarceração Alternativa
cidiram que preferem erva (a qual apa- Especial" (SIA) (chamados «campos de
rentemente não precisa de fazer publici- recruta") onde consumidores de drogas
dade), ao invés de álcool e tabaco, na neófitos e não-violentos são encarcerados
promoção dos ,qu~is se dispendem tantos numa instituição sob um regime tipo
dólares em anunc1os. recruta militar, baixo o qual são abusados
* No artigo não foram citados nenhuns estudos verbalmente e desgastados psicologica-
específicos mostrando os alegados_ efeitos n_efastos mente de forma abandonarem a sua ati-
da marijuana. De facto, a cannab1s mal foi men-
cionada, exepto nesta referência e numa nota dizen-
tude dissidente para com o uso de drogas.
do que as empresas de desintoxicação relatam al- Agora, em 1998, 42 estados têm campos
gum sucesso na "quebra de uma leve dependência especiais de encarceração alternativa que
de marijuana e álcool'~ implementam programas semelhantes.
Os prisioneiros são tratados com pre-
A INJUSTIÇA PROSSEGUE cisão robótica, e aqueles que não se confor-
m 2 de Agosto de 1977, o presidente mam são sujeitos a encarceração na peni-

E Jimmy Carter dirigiu-se ao Congresso


a propósito de outro tipo de malefício
tenciária estadual. A maioria destes jovens
estão detidos devido a marijuana. Há mais
causado pela proibição das drogas, di- estados que estão a considerar a imple-
zendo: ''As sanções contra a posse de uma mentação de programas semelhantes.*
droga não deviam ser mais prejudiciais * ln These Times, "Gulag for drug users': 20 de
Dezembro de 1989, pág. 4.
para o indivíduo do que o uso da própria
Qual foi o pretexto usado para "justifi-
droga".
"Sendo assim, apoio legislação emen- car" esta política antiamericana? Um pu-
dando a lei federal de forma a eliminar nhado de relatórios oficiais e estudos do
todas as sanções criminais federais para a governo, os quais são promovidos pela
posse de até uma onça de marijuana': DEA, por políticos e pelos média com
Porém, os esforços feitos por Carter há vista a mostrar que a marijuana é "pre-
anos atrás com vista a aplicar até judicial para o indivíduo». De seguida
21
mesmo este módico de racionalidade às iremos considerar alguns destes infames
leis americanas sobre a marijllana foram estudos.

129
Capítulo ~ Quinze
,
A HISTORIA OFICIAL:
DESMONTANDO A ~~CIÊNCIA RASCA"
Após ter passado 15 dias a ouvir depoimentos e mais de um ano a fazer
deliberações legais, o juiz em direito administrativo da DEA, Francis L
Young, instou formalmente a agência antidroga a autorizar os médicos a
receitarem marijuana. Num Jufxo pronunciado em Setembro de 1988,
Young considerou:,.,.A evidência constante neste registo mostra claramente
que a marijuana é reconhecidamente capaz de aliviar os tormentos de um
grande número de pessoas gravemente enfermas, e de o fazer com segu-
rança, baixo supervisão médica. ( ... ) Seria irra zoável, arbitrário e capri-
choso por parte da DEA continuar a intrometer-se entre o sofrimento
destas pessoas e os benefícios que, à luz das provas constantes neste re-
gisto, esta substância causa. Em termos estritamente médicos, a marijua-
na é muito mais segura do que muitos alimentos que consumimos nor-
malmente(•.. ) a marijuana na sua forma natural é uma das mais seguras
substâncias terapeuticamente activas conhecidas do Homem,,.
Todavia, baseados nos seus critérios ,pessoais, todos os administradores
da DEA até ao presente - nenhum dos quais é médico! - têm-se recu-
sado a acatar esta decisão, continuando a privar as f>essoas de cannabis
médica.

DESPERDIÇANDO TEMPO, velt realizou mesmo Hemp for Victory [O


DESPERDICANDO
, VIDAS Cânhamo para a Vitória], um filme glo-
rificando os nossos patrióticos culti-
ais de 100 anos passaram desde
M que o estudo conduzido em 1894 pe-
vadores de cânhamo. Nesse mesmo ano,
a Alemanha publicou O Manual Diver-
la comissão do Raj britânico sobre os tido do Cânhamo, uma banda desenhada
fumadores de haxixe na índia informou redigida em verso exaltando as virtudes
que o uso d e cannabis era inofensivo e desta planta.
mesmo benéfico. Desde então, numero- Hoje, todavia, nega-se mesmo o uso
sos estudos têm concordado; os mais humanitário do cânhamo para fins me-
proeminentes sendo os relatórios de Si- dicinais. Inquirido no final de 1989 sobre
ler, o LaGuardia, o da comissão Shafer de a não-implementação p ela DEA da sua
Nixon, o da Com issão La Dain do Cana- decisão acima citada, o juiz Young res-
dá e o do Painel Con sultivo da Investiga- pondeu que estava a ser concedido
ção da Califórnia. tempo ao administrador John Lawn para
Simultaneam ente, o cânhamo foi elo- se conformar com ela.
giado por presidentes americanos, o Mais de um ano após essa decisão,
USDA amontoou pilhas de dados mos- Lawn recusou-se oficialmente a alterar o
trando o seu valor enquanto recurso na- estatuto da cannabis, classificando-a de
tural, e em 1942 a administração Roose- novo como uma droga "perigosa" da

130
Cláusula Um, cuja utilização é proibida a High Times, etc., foram forçadas a
sequer como medicamento. avançar com repetidos processos ao abri-
Lamentando este sofrimento desne- go da nova Lei da Liberdade de Informa-
cessário de americanos impotentes, a Or- ção para esclarecer qual foi a metodo-
ganização Nacional para a Reforma das logia laboratorial concreta usada nestas
Leis sobre a Marijuana (NORML) e o "experiências».
Conselho Familiar para a Prevenção da O que eles descobriram era muito
Droga foram lestos a exigir a demissão de chocante.
Lawn. Mas os seus sucessores, Bonner e
agora Constantine, prosseguem a mesma DR. HEATH/ESTUDO DE
política. TULANE, 1974
Que hipocrisia é esta que permite aos
funcionários públicos troçar dos factos e O Boato: Lesões cerebrais e macacos
nega r a verdade? Como é que eles racio- mortos
nalizam as suas atrocidades? Como? In- m 1974, Ronald Reagan, então gover-
ventando os seus próprios peritos. E nador da Califórnia, foi questionado
sobre a descriminalização da marijuana.
CONVERSA DUPLA Depois de citar o estudo Heath/Uni-
GOVERNAMENTAL versidade de Tulane, o reputado "Grande
esde 1976, o nosso governo federal Comunicador" proclamou: «As fontes
D (p. e., o NIDA, o NIH, a DEA* e o
Action), grupos patrocinados pela polícia
científicas mais fiáveis dizem que um dos
resultados inevitáveis do uso de marijua-
( como o DARE*)) e grupos de interesses na são lesões cerebrais permanentes'~ (LA
especiais (como a PDFA*) proclamaram Times.)
a sectores da opinião pública, à imprensa O relatório do dr. Heath concluíra que
e aos pais americanos que estão na posse macacos rhesus, fumando o equivalente a
de ((provas absolutas" dos chocantes apenas 30 charros por dia, começavam a
efeitos negativos causados por fumar ficar atrofiados e morriam ao fim de 90
dias.
marijuana.
.. Instituto Nacio nal de Abuso de Drogas, Ins-
E, desde então, células cerebrais mor-
tituto Nacional de Saúde, Agência de Repressão das tas descobertas em macacos obrigados a
Drogas, Educação para a Resistência ao Abuso de fumar marijuana foram maximan1ente
Drogas, Parceria para uma América Livre de publicitadas em aterrorizantes folhetos e
Drogas. literatura de propaganda contra a erva
Quando as investigações que o gover- patrocinados pelo governo.
no americano patrocinou antes de 1976 Em meados da década de 70, o senador
indicaram que a cannabis era inofensiva Eastland, do Mississipi, usou esses dados
ou benéfica, a metodologia que presidiu para horrorizar os legisladores nacionais
a cada estudo era sempre apresentada e impedi-los de apoiar as propostas de lei
detalhadan1ente nos relatórios; p. e., leia- descriminalizadoras apresentadas ao
-se The Therapeutic Potential of Mari- Congresso pela NORML, a maioria das
juana (1976) para se _saber. exactamente quais eram patrocinadas pelo falecido
qual foi a metodologia aplicada a cada senador Jacob Javitts de Nova Iorque.
um dos estudos médicos. Relatórios do estudo foram também
Porém, quando os nossos burocratas distribuídos pela hierarquia de profis-
governamentais patrocinaram delibera- sionais de reabilitação de drogas como
damente investigações negativas sobre a parte da racionalização pseudo-científica
marijuana, a revista Playboy, a NORML, para afastar os miúdos da ganza. O estu-

131
do continua a ser usado para aterrorizar brir-se que Heath procedeu assim para
grupos de pais) organizações religiosas, não ser obrigado a pagar o salário de um
etc, que o redistribuem ainda mais. assistente durante um ano completo.
Heath matou os macacos moribundos, Os macacos estavam a ser sufocados!
abriu-lhes os cérebros e contou o núme- Três a cinco mfoutos de privação de oxi-
ro de células mortas. Tomou entã.o ma- génio provoca lesões cerebrais - ((células
cacos de controle que não tinham fuma- cerebrais mortas': (Manual de Salva-
do marijuana, matou-os, e contou as cé- -Vidas e Segurança Marítima da Cruz
lulas cerebrais mortas destes. Os macacos Vermelha )
fumadores de erva apresentavam quanti- O estudo que Heath realizou nos ma-
dades enormes de células mortas por cacos era de facto um estudo sobre as-
comparação com os macacos "caretas'~ fixia de animais e envenenamen to por
O pronunciamento de Ronald Reagan monóxido de carbono.
baseou-se provavelmente no facto do fu- Entre outras coisas, Heath havia (in-
mo de marij uana ser a única diferença tencionalmente? incompetentemente?)
existente entre os dois conjuntos de ma- omitido a questão do monóxido de car-
cacos. Talvez Reagan confiasse na fiabili- bono inalado pelos macacos.
dade e correcção da pesquisa federal. Tal- O monóxido de carbono é um gás
vez t ivesse outros motivos.
Quaisquer que fossem os seus motivos, Os macacos de Heath foram
foi isto que o governo transmitiu com obrigados a inalar em cinco
grande alarido à imprensa e às Associa- minutos 63 charros de potência
ções de Pais e Professores, que nele con- colombiana através de uma
fiaram completamente. máscara de gás!
Em 1980, a Playboy e a NORML con-
seguiram receber finalmente - após seis mortal para as células cerebrais, sendo
anos de solicitações e processos movidos emitido por qualquer objecto em com-
contra o governo - um relato exacto bustão. De facto, naquela con centração
dos procedimentos de investigação usa- de fumo, a situação dos macacos era
dos no infame relatório de Heath. idêntica à de alguém que estivesse preso
Quando os investigadores contratados dentro de uma garagem com o motor de
pela NORML e a Playboy para examinar um automóvel a funcionar!
os resultados apresentados os compara- Todos os investigadores concordaram
ram com a metodologia factual, eles que, na experiência de Heath, as desco-
desataram às gargalhadas. bertas sobre a marijuana são totalmente
inválidas porque no relatório não foram
Os Factos: Sufocação de Cobaias
considerados o envenenamento por mo-
Tal como noticia a Playboy, a metodolo- nóxido de carbono e outros factores. Este
gia "vudu" de Heath consistia em atar e outros estudos, tais como os que o dr.
macacos rhesus a uma cadeira e obrigá- Gabriel Nahas realizou em 1970, ten-
-los a inalar o equivalente a 63 charros de taram estabelecer algum nexo entre os
potente erva colombiana em "cinco mi- metabolitos de THC que são rotineira-
nutos, através de máscaras de gás» estan- mente encontrados em tecidos gordos do
ques. A Playboy descobriu que Heath cér·e bro humano, em órgãos reprodu-
administrara diariamente 63 charros em tivos e noutras áreas gordas do cérebro, e
cinco minutos num período pouco supe- as células mortas presentes em cérebros
rior a tr~s meses, em vez de administrar de macacos que tinham sido vítimas de
30 ch arros por dia d urante um ano, tal sufocação.
como se propusera fazer. Veio a desco- Estamos agora em 1998, passados 16

132
A RECEITA DE NAHAS PARA ORÇAMENTOS
POLICIAIS INFLACCIONADOS

ncrivelmente> um famoso estudo nossos impostos, mesmo anos depois


I provando a eficácia da cannabis na
redução de tumores (ver capítulo 7)
de, em 1976, o Instituto Nacional de
Saúde ter proibido especificamente
1,:. foi o riginalmente encomendado pelo Nahas de voltar a ser elegível para mais
governo federal na pressuposição de um centavo sequer de verbas oficiais
que a erva lesionaria o sistema imu- ,d estinadas a estudos sobre a cannabis,
nitário. Isto baseava-se nos estudos devido às embaraçosas investigações
"Loucura do Charro" conduzidos em que conduziu nos anos 70.
1972 pelo duvidoso dr. Gabriel Nahas * Em Dezembro de 1983, Nahas, ridiculariza-
da Universidade de Colúmbia. do pelos seus pares e com os financiamentos do
Este é o mesmo dr. Nah as que pre- NIDA cancelados, renunciou a todos os seus
estudos, conclusões e extrapolações versando a
tendeu que os seus estudos mostravam
acumulação de metabofüos e os danos provoca-
que a erva lesionava os cromossomas e dos a cromossomas específicos de tecidos em la-
a testosterona (hormona masculina), e boratório.
cau sava incontáveis outros efeitos hor- E todavia a DEA, o NIDA, a VISTA
rendos que sugeriam o colapso do sis- (Voluntários em Serviço à América], a
tema imunitário. O currículo profis- '" Guerra às Drogas», e a falecida escri-
sional de Nahas liga-se com a CIA/OSS tora Peggy Mann (em artigos da Rea-
e mais tarde com a ONU, onde traba-
der's Digest e no seu livro Marijuana
lhou em estreita associação com Lyn- Alert, prefaciado por Nancy Reagan)
don LaRouche e Kurt Waldheim.
usaram estes estudos desacreditados
Nahas continua a ser o menino
em seminários com grupos de pais,
querido da DEA e do NIDA (Instituto
como o Pais para uma Juventude Livre
Nacional do Abuso de Drogas), apesar
de Drogas, nos quais Nahas figurava
de nenhuns estudos seus terem sido
amiúde como conferencista convida-
confirmados em inúmeras outras ex-
do chorudamente pago, sem fazerem
periências. Em 1975, a Universidade de
Colúmbia desassociou-se publica- uma única referência ao que pensam
,destes estudos os pares de Nahas.
mente das investigações de Nahas
sobre a marijuana numa conferência A intenção disto, presumimos, é as-
d e imprensa especialmente convocada sustar pais, professores, legisladores e
juízes usando uma terminologia científi-
com esse fun!
Apesar de velhos e desacreditadosJ ca e falsas estatísticas não-clínicas, em
os estudos de Nahas continuam ac- última análise com o objectivo de vender
tualmente a ser brandidos pela Admi- mais equipamento de análise à urina
nistração de Repressão das Drogas, Fomentam-se assim lucros adicionais
sendo deliberadamente transmitidos a para as clínicas de reabilitação de drogas
incautos grupos de pais, igrejas e as- e suas equipas de profissionais, e man-
sociações de pais e professores como tém-se o financiamento da DEA, da po-
tratando-se de investigações válidas lícia local, de sectores judiciais, penais e
sobre os malefícios da erva. correcdonais, e de outros sombrios in-
A disseminação das perigosas histó- teresses de um estado policial.
rias de horror de Nahas* é paga com os A ((Guerra às Drogas" é um grande

133
negócio, cujo objectivo é permitir que preso caso tente testar quaisquer ideias
continue a desavergonhada solicitação sobre os usos médicos da cannabis.
de mais polícia e mais celas de prisão. De facto, usando estudos laborato-
Acrescem ainda os milhares de jllÍ2es, riais refutados e nunca repetidos sobre
legistas, polícias, leitores da Reader's os efeitos do THC sintético no sistema
Digest e pais que há anos vêm usando imunitário, histéricas Famílias para
e citando em particular os estudos de uma Juventude Livre de Drogas ou
Nahas como as principais razões para organizações do tipo "Diz Não à Dro-
manter estas leis injustas e encarcerar ga': conseguiram que a imprensa dis-
milhões de americanos durante a últi- sesse que a marijuana pode causar
ma década. SIDA - apesar dessa alegação não ter
Apesar de Nahas se ter desdito em o menor fundamento, os média de-
1989, a DEA continua a usar os seus es- ram-lhe grande destaque, gerando
tudos de forma consciente e criminosa, ainda mais Loucura do Charro!
com vista a polarizar juízes, políticos, a Hoje em dia ~briel Nahas reside em
imprensa e grupos de pais ignorantes, Paris, e viaja pela Europa fora ensinan-
desconhecedores da retractação de Na- do as mesmas mentiras a europeus
has. Estas pessoas confiam que o go- menos informados, como se do evange-
verno lhes revela a verdade que os seus lho se tratasse. Quando pedimos a Na-
impostos pagaram. A maioria dos mé- has para participar connnosco (HEMP)
dia, da imprensa aos comentadores da num debate sobre a cannabis a realizar
televisão, usam ainda os estudos de perante a imprensa mundial no dia 18
Nahas como se eles fossem o evangelho, de Junho de 1993, em Paris, primeiro
e grande parte do assustador folclore de aceitou entusiasticamente, até descobrir
mitos urbanos que se sussurram em que tencionávamos debater todas as fa-
recreios escolares origina-se neste tra- cetas da planta de cânhamo (p.e., pro-
balho "científico" enganador. dução de papel, fibra, combustível e
Continuam a ser ensinados resultados medicamentos). Então declinou parti-
refutados e nunca repetidos, enquanto o cipar, embora preenchêssemos todos os
investigador honesto arrisca-se a ser requisitos que nos impusera.

anos, e nem uma única palavra das alega- reito a que a informação e a história cor-
ções dos drs. Heath ou Nahas foi verifica- rectas sejam ensinadas nas escolas su-
da! Todavia, os estudos que fizeram conti- bsidiadas pelos nossos impostos.
nuam a ser brandidos pela Parceria para Em 1996, Gabriel Nahas, em França,
uma América Livre de Drogas, a Admi- processou Mishka, o tradutor da edição
nistração de Repressão das Drogas, uni- francesa deste livro, L'Empereur est Nu!,
dades antinarcóticos municipais e esta- por perdas e danos. Mishka escrevera que
duais, bem como por políticos. E, em vir- os estudos de Nahas eram considerados
tualmente todos os casos que são do co- lixo em todo o mundo. O tribunal fran-
nhecimento público, eles são apresenta- cês, depois de ter ouvido todos os teste-
dos como constituindo a principaJ prova munhos prestados por Nahas, e depois de
científica sobre os perigos da marijuana. este ter gasto o equivalente a dezenas de
Isto é propaganda oficial do governo milhares de dólares em custos legais, con-
dos E. U. e desinformação no seu pior! Os cedeu-lhe o seu maior insulto: uma in-
cidadãos pagaram estes estudos e têm di- demnização por perdas e danos no valor

134
de um franco, o equivalente aproximado Segundo estes médicos, os ingredien-
a 15 cêntimos americanos, sem direito a tes activos do THC são consumidos na
ressarcimento das despesas legais! primeira ou segunda passagem pelo fíga-
do. Então, de forma per feitamente nor-
OS METABOLITOS PERENES mal, os restantes metabolitos do THC
DOTHC agarram-se aos depósitos de gordura
com vista à sua posterior eliminação pelo
o Boato: Os metabolitos conservam-se corpo, o que constitui um processo segu-
no nosso sistema durante 30 dias. ro e perfeitamente natural.
o governo afirmou também que, dado Muitos produtos químicos provenien-
que os "metabolitos do THC» se conser- tes de alimentos, vegetais e remédios
vam nas células gordas do corpo até 30 agem constantemente desta forma no
dias após a ingestão deste composto, é nosso corpo. Na sua maioria são inofen-
muito perigoso fumar mesmo um único sivos, e a toxicidade potencial* dos me-
charro; insinuando ser inimaginável o tabolitos do THC no nosso corpo é me-
efeito que estes metabolitos do THC po- nor do que virtualmente quaisquer ou-
derão ter sobre a raça humana a longo tros residuos metabólicos conhecidos.
prazo, e outra conversa dupla pseudo- * O governo dos E.V. sabe desde 1946 que a dose
científica (p. e., o uso de frases como ''po- o ral de cannabis necessária para matar um rato é
cerca de 40.000 vezes superior à dose necessária
diam': "significassem hipoteticamente", para produzir sintomas de intoxicação típicos.
· 1mente", « talvez", et c.)*
"poss1ve (Mikuriya, Tod, The Marijuana Medical Papers,
.. "Pode, poderia, talvez e possivelmente n ão são 1986; Lowe, fournal of Pltarmacological and Experi-
con clu sões científicas''. Dr. Fred Oerther, Setembro mental Therapeutics, Outubro de 1946.)
de 1986. Os metabolitos residuais do THC pre-
sentes no corpo podem ser comparados
osFactos: Os próprios peritos do gover- à cinza de um cigarro: são o resíduo iner-
no dizem que os metabolitos são um
te deixado na sequência da metaboliza-
resíd uo não-tóxico e inofensivo.
ção dos cannabinóides activos pelo cor-
Entrevistámos três médicos de repu- po. São estes metabolitos inertes que as
tação nacional que trabalham actual- análises urinárias revelam quando são
rnente, ou já o fi~eram, para o g~_verno usadas para licenciar militares, operários
dos E.U. em investigação sobre mar11uana: ou atletas por terem usado cannabis, ou
. o dr. Thomas Ungerlieder, da UCLA, estado na sua presença, nos 30 dias ante-
001
eado em 1969 por Richard Nixon riores.
n ara O Comité Presidencial Selecto sobre
~ Marijuana, reconduzido por Ford, Car- ESTUDOS SOBRE LESÕES
ter e Reagan, e actualmente responsável PULMONARES
elo "Programa de Marijuana Médica" O Boato: Mais perigoso do que o tabaco.
p .
da Califórma.
. o dr. Donald Tashkin, da UCLA, que Segundo a Associação Pulmonar Ame-
os últimos catorze anos foi o principal ricana, as doenças relacionadas com os
? vestigador mundial sobre a influência cigarros e o fumo de tabaco matam por
: :marijuana nas funções puhnonares; e ano cerca de 430.000 americanos. 50 mi-
ª. o dr. Tod Mikuriya, director nacional lhões de americanos são fumadores, e
dos programas de investigação ~obre 3000 adolescentes começam a fumar to-
marijuana que o governo am ericano dos os dias.
nduziu no final dos anos 60, e res- Os estudos sobre alcatrão carcinogéni-
ponsável pelo fin anc1.amento destes.
co co realizados em Berkeley no final dos

135
anos 70 conduíram que "a marijuana é ·o que evita inteiramen te os efeitos irri-
vez e meia mais carcinogénica do que o tantes do fumo. Porém, o corpo humano
tabaco". absorve quatro vezes mais in gredientes
activos da cannabis se ela for fum ada do
O Fa.cto: Não existe um único caso do-
que se a mesma quantidade for comida.
cumentado de cancro.
E o preço da cannabis no mercado negro,
Qualquer fum o contém irritantes puJ- in:flaccionado pela proibição e combina-
monares. O fumo da cannabis causa uma do com severas sanções pelo seu cultivo,
leve irritação das vias respiratórias pul- impede a maioria das pessoas de po-
monares mais largas. Os sintomas desa- derem aceder ao luxo de um meio de in-
parecem quando se deixa de inalar o gestão menos eficiente, embora mais
fumo. saudável
Porém, ao contrário do fumo do taba-
co, o fumo da cannabis não provoca
Os Estudos Laboratoriais Não Refl.ectem
o Mundo Real
quaisquer al terações nas vias respirató-
rias mais finas, a área onde a longo prazo Ficou provado em estudos qu e muitos
o fumo do tabaco causa lesões dura- dos carcinogénicos presentes na canna-
douras. Adicionalmente, um fumador de bis podem ser eliminados usando um
tabaco fumará entre 20 a 60 cigarros por sistema de cachimbo de água. Sempre
dia, enquan to um grande fumador de que fala à imprensa, asa autoridades
marijuana poderá fumar entre cinco e omitem esta informação. Ao mesmo
sete charros por dia, menos ainda quan- tempo, os políticos proibiram a venda de
do se encontram disponíveis copas de cachimbos-de-água, etiquetando-os de
florescências de alta qualidade. "parafernália para drogas'~
Apesar de d ezenas de milhões de
Como se Originam os Boatos
americanos fumarem gan za regular-
mente, até Dezembro de 1997 a cannabis Em 1976, o dr. Tashkin, da UCLA, en-
nunca causara um caso conhecido de viou um relatório escrito ao dr. Gabriel
cancro do pulmão, segundo a maior Nahas, que participava na Conferência
autoridade pulmonar americana na área sobre os Perigos Potenciais da Cannabis
da marijuana, o dr. Donald Tashkin da Médfa, em Reims, França. Esse relatório
UCLA. Ele considera que o máximo risco tornou-se a história mais sensacionaliza-
concebível para a saúde ocorreria se uma da a emergir desta conferência mundial
pessoa fumasse por dia 16 ou mais negativa sobre a cannabis.
grandes "charutos» de folha e copa mis- Isto surpreendeu Tashkin, que enviara
turadas, devido à hipox:ia causada por quase distraidamente o relatório para a
excesso de fumo e d eficiente ox:igenação. conferência de Reims.
Tashkin considera n ão existir "qual- Tashkin informara a conferência de
quer razão" para as pessoas se preocu- Reims que numa das 29 áreas do pulmão
parem com agravamento de enfisemas humano que estudara - a traqueia - a
devido ao uso de marijuana - exacta- marijuana era mais irritante (15 vezes) do
rnente o oposto do que sucede com o que o tabaco. Este número é porém in-
tabaco. significante, já que Tashkin nota igual-
A cannabis é uma planta complexa, mente que o tabaco quase não tem efeito
alt amente evoluida. O seu fumo contém nesta área, donde que um efeito 15 vezes
cerca de 4 00 compostos. Destes, 60 pos- superior continua a ser quase nulo. Seja
suem valor terapêutico. como for, a cannabis tem um efeito posi-
A cannabis pode também ser comida, tivo ou neutro na maioria das outras

136,
TABACO RADIOACTIVO: A HISTÓRIA NÃO CONTADA
umar tabaco mata mais pessoas precisa diariamente de cerca de mil
F anualmente do que a SIDA, a heroí-
na, o crack, a cocaína, o álcool, os aci-
fumadores novos para substituir os
que morrem.
dentes rodoviários, os incêndios e os Durante cem anos (até 1890) o prin-
assassínios combinados. Fumar cigar- cipal produto agrícola do Kentucky foi
ros vicia tanto como tomar heroína, o saudável, versátil e útil cânhamo-de-
apresenta idênticos sintomas de absti- -cannabis. Desde então, foi substituído
nência, e a taxa de reincidência (75%) pelo tabaco, uma cultura não-comes-
é igual à de pessoas que tentam "lar- tível> não-fibrosa e depauperadora do
,, , h , solo, que é cultivado por lei em solo
gar cocama ou eroma.
O tabaco é de muito longe a princi- fertilizado com n1ateriais radioactivos.
pal causa actual de morte evitável nos Estudos do governo dos E.U. mos-
E.U. Os fumadores de tabaco sofrem traram que, para os nossos pulmões,
dez vezes mais de cancro do puhnão um maço e meio de cigarros por d ia ao
que os não-fumadores, duas vezes mais longo de apenas um ano equivale ao
de doenças cardíacas e têm três vezes efeito que tem sobre a nossa pele a ex-
mais hipóteses de morrer de doenças posição a cerca de 300 raios-x ao peito
cardíacas caso as desenvolvam. (usando-se o antigo filme lento de
E no entanto o tabaco é totalmente raio-x e nenhuma protecção de chum-
legal, e recebe mesmo os mais eleva- bo para a pele).
dos subsídios concedidos pelo gover- Mas enquanto um raio-x dissipa
no americano a qualquer produto instantaneamente a sua radioactivi-
agrícola, ao mesmo tempo que é o dade, o tabaco tem uma semivida ra-
nosso maior assassino! Que hipocrisia dioactiva que afectará os pulmões du-
total! rante 21,5 anos.
Nos E.U., uma em cada sete mortes O antigo bastonário da saúde C. Eve-
é causada pelo hábito de fumar cigar- rett Kopp disse na televisão nacional
ros. As mulheres deviam saber que o que a radioactividade é provavelmente
cancro do pulmão é mais vulgar que o responsável pela maioria dos cancros
cancro da mama nas mulheres fuma- relacionados com o tabaco.
doras, e que fumar durante a utilização Não existe radioactividade nos alca-
da pílula aumenta dramaticamente os trões da cannab is.
11 riscos cancerígenos e cardíacos. (Centro Nacional de Investigação Atmosféri-
ca, 1964; Ass. Pulmonar Americana; dr. Joseph R.
O negócio do tabaco é promovido DiFranza, Cenfro Médico da Univ. de Mass.;
com sete milhões de dólares por dia, e Reader's Digest, Março de 1986; Bast. Saúde C.
calcula-se que a indústria tabaqueira Everett Koop, 1990.)

áreas pulmonares. (Ver capítulo 7, "Usos encorajadores em estudos sobre a relação


Terapêuticos da Cannabis".) marijuana/pulmões. Desta feita, porém,
De seguida, em 1977, o governo ame- o governo limitava as investigações à
ricano voltou a financiar estudos pulmo- traqueia.
nares sobre a cannabis, que haviam sido Entrevistámos o dr. Tashk:in dúzias de
interrompidos dois anos antes, quando vezes. Em 1986, pedi a sua opinião sobre
Tashkin relatou resultados terapêuticos um artigo que ele preparava para o New

137
England Journal of Medicine, indicando nhecidas quando era usada para tratar
que, em quantidades ((iguais", o fumo da enfisemas.
cannabis causava tantas ou mais lesões Inicialmente, ele rira-se de mim, por-
. ..
pré-cancerosas que o tabaco. que presumira que a man1uana agravava
A maioria das pessoas desconhece, e o enfisema, mas depois de rever as provas
os média não são informados do facto, descobriu que, excepto em casos muito
que qualquer anormalidade nos tecidos raros, a marijuana tinha um efeito benéfi-
(abrasão, erupção ou mesmo verme- co nos sofredores de enfisema porque
lhidão) é designada de lesão pré-can- provocava a dilatação dos brônquios.
cerosa. E, contr ariamente às lesões pro- E foi assim que se confirmou o alívio
vocadas pelo tabaco, as lesões rela- do enfisema do qual fôramos informa-
cionadas com o TH C não contêm qual- dos por sofredores desta enfermidade
quer radioactividade. que fumavam marijuana.
Perguntámos a Tashkin quantos par- O fumo da marijuana não é o único
ticipantes, neste ou em quaisquer outros que é benéfico para os pulmões. Outras
estudos sobre fumadores crónicos de ervas, como o estramónio, foram tradi-
cannabis, como os rastas, os coptas, etc., cionalmente fumadas para aliviar os pul-
tinham acabado por desenvolver cancro mões.
do pulmão. O tabaco e os perigos que lhe estão
Sentado no seu laboratório da UCLA, associados preconceituaram tanto as pes-
o dr. Tashkin fitou -me e disse: ((Essa é soas em relação ao " fumo" que a maior
que é a parte estranha. At é agora nin- parte delas acredita que fumar cannabis é
guém que tenhamos estudado veio a de- tão perigoso ou mais do que fumar taba-
senvolver cancro do pulmão". co. Com a pesquisa proibida, estes factos
"A imprensa foi inforn1ada disto?" sobre a saúde e segurança públicas não se
«Bem, o facto é referido no artigo," encontram facilmente disponíveis.
disse o dr. Tashkin. «Mas nem um único Em Dezembro de 1997, voltámos a
jornalista levantou a questão. Eles lími- ,questionar o dr. Tashkin, e ele afirmou
taram-se a esperar o pior". Em De- inequivocamente que ua marijuana não
zembro d e 1997, voltámos a questionar causa nem potencia o enfisema'~ Além
Tashkin sobre a marijuana e o cancro disso, continua a não haver um único
do pulmão. A sua resposta foi de novo caso de cancro do pulmão alguma vez
que n em um só caso de cancro do pul- atribuído ao hábito de fumar cannabis.
m ão em alguém que apenas fumava
cannabis fora alguma vez relatado. De- E ASSIM POR DIANTE ...
ve recordar-se que há 20 anos Tashkin e
A maior parte da literatura antimari-
outros médicos h aviam predito confi-
juana que examinámos não cita uma
antemen te que centenas de milhares de
única fonte passível de confirmação, e a
fumadores de marijuana teriam pores- restante refere-se apenas à DEA ou ao
ta altura (1997) desenvolvido cancro do NIDA. Os poucos estudos que conse-
p ulmão. guimos descobrir acabam em geral por
ser relatos de casos episódicos, agrupa-
Outro Facto: Beneftcios para os Sofre-
mentos artificiais de dados, ou então
dores de Enfisema
falta-lhe metodologia de controle, e
No decurso de uma entrevista poste- nunca foram repetidos.
rior, Tashkin felicitou-me por tê-lo in- Relatos sobre crescimento de seios,
formado que a m arijuana produzfa bons obesidade, dependência e outras pertur-
resultados en tre pessoas minhas co- bações continuam por substanciar, e

138
merecem pouco crédito à comunidade prenhos e macacos na Universidade de
científica. Outros relatos, como a redu- Temple e na UC Davis (onde ratos foram
ção temporária do _n~mero de ~sp~r~a- injectados com análogos sintéticos do
tozóides, são estatisticamente ins1gn1fi- THC em terceiro grau) estão agora desa-
cant es para a população em geral, sendo creditados.
porém desproporcionadamente amplia- Embora estes estudos não sejam usa-
dos quando apresentados pela comuni- dos no discurso científico, pilhas de lite-
cação social. Outros ainda, como o pu- ratura patrocinada pela DEA e as farma-
nhado de cancros na garganta verificados cêuticas sobre os possíveis efeitos a longo
na região de Sacramento e o elevado prazo destes metabolitos no cérebro e na
nível de lesões ocorridas numa unidade reprodução são enviadas a grupos de pais
pós- traumática de Baltimore são aglom- como se se tratasse dos m ais recentes
erados de dados isolados que contrariam estudos. Esta informação está ainda bem
todas as outras estatísticas e nunca foram viva nos relatórios do governo dos E.U.,
repetidos. da DEA, do DARE e da PDFA.
No corpo da literatura científica e mé- (Leia-se o relatório de 1982 do NlH; a avaliação
dica, os resultados espúrios de Heath e de estudos passados feita pela Academia NacionaJ
Nahas, e os estudos realizados com ratos de Ciência; e o relatório costarriquenho, 1980.)

ALGUNS ESTUDOS DE QUE O GOVERNO NÃO FALA


O ESTUDO COPTA (1981) Vida Mais Longa, Menos Rugas

Nenhum dano causado ao cérebro ou à A maioria dos estudos (comparação en-


inteligência humanos tre populações passadas e presentes) in-
dica que - tudo o resto sendo igual -
Desde tempos imemoriais, o cânhamo um fumador de erva médio viverá mais
tem sido usado em virtualmente todas as tempo do que alguém que não consuma
sociedades como tónico laboral, bem quaisquer drogas; terá menos rugas, e
corno potenciador e renovador das ener- geralmente viverá com menos stress -
gias criativas. sofrerá pois de m enos doenças susceptíveis
(Estudo jamaicano; Estudo copta; Estudo costar- de perturbar o seu sistema imunitário, e
nqu enho·, Vedas·' Dr• Vera Rubin, Research Institute
.
será um vizinho mais pacífico.
for the Study of Man; et al.)
(Estudos costarriquenho e jamaicano.)
Em 1981, um estudo revelou que 10 dos
rnaiores fwnadore_s .de erva da ~ érica
(pertencendo à re~gião copta e residentes
ESTUDOS JAMAICANOS
a Florida) acreditavam que o consumo (1968-74, 1975)
~iário de 16 «charut~s"* de alta potência Beneficias Concretos para os Fumadores
0
longo de um penodo de 10 anos me- de M arij uana
~orara as suas faculdades intelectuais.
O s coptas foram estudados pelos drs. O estudo mais exaustivo sobre o há-
Vngerlieder e Schaeffer (UCLA), e não bito de fumar cânhamo integrado num
revelar am quaisquer diferenças cerebrais contexto cultural favorável é provavel-
elativamente a não-fumadores - nem mente Canja in Jamai.ca - A Medical
r confirmou qualquer aumento no QI Anthropological Study of Chronic Mari-
como os coptas h aviam
se . pretend'd 1 o. juana Use, da autoria de Vera Rubin e
* Vm charuto equivale por alto a cinco charros Lambros Comitas (1975, Mouton & Co.,
:médios americanos. Haia, Paris/Anchor Books, Nl).

139
O estudo jamaicano, patrocinado pelo briu que o uso intenso de ganja reduzia a
Centro de Estudos sobre Abuso de Nar- motivação laboral.
cóticos e Drogas do Instüuto NacionaJ de Avaliados psicologicamente, os fuma-
Saúde Mental (NIMH), foi o primeiro dores pareciam ser mais abertos n a ex-
projecto a ser empreendido na área da pressão dos seus sentimentos, bem como
antropologia médica e é o primeiro estu- algo mais levianos e sujeitos a distrac-
do intensivo e multidisciplinar a ser pu- ções. ão se descobriu qualquer indício
blicado sobre o uso de marijuana e os de lesões cerebrais orgânicas o u de es-
seus utilizadores. quizofrenia.
Da introdução do Estudo Jamaicano:
Netihuma Deterioração Fisiológica
''Apesar da ganja ser ilegal, o seu 11s0 está
disseminado, sendo muito elevadas a du- Num conjunto de testes psicológicos
ração e frequência do seu consumo; relati- sobre utilizadores crónicos de cannabis
vamente aos E. U., a ganja tem maior teor realizados em 1972 na Jamaica, Marilyn
de THC, é fumada durante períodos mais Bowman não descobriu "qualquer inca-
longos e em maiores quantidades sem que pacitação relacionada com prestações fi-
se verifiquem consequências sociais ou psi- siológicas, sensoriais e perceptuais-mo-
cológicas nefastas. A principal diferença é toras, testes de formação de conceitos, de
que tanto o uso da ganja como os compor- capacidade de abstracção e de estilo cog-
tamentos esperados são condicionados e nitivo, e testes de memória'~ Estes jamai-
controlados culturalmente por uma tradi- canos fumavam ganja entre há seis e 31
ção bem estabelecida'~
Não se descobriu "qualquer
Atitudes Sociais Positivas incapacitação relacionada com
O estudo sublinha o reforço positivo prestações fisiológicas, sensoriais e
que na Jamaica é socialmente conferido perceptuais-motoras".
aos fumadores de ganja e o elogio univer-
anos (em média há 16,6 anos), em média
sal da prática por parte dos seus utilizado-
tendo inalado pela primeira vez o seu
res, que a fumam como tónico laboral. Os
fumo aos 12 anos e seis meses.
utilizadores descreveram os efeitos de
No estudo de 1975 comparando utiliza-
fumar ganja como tornando-os mais "es-
dores e não-utilizadores de marijuana,
pertos': animados, alegres, responsáveis e
não se descobriu qualquer diferença nos
conscientes. Informaram que fumar ganja
níveis de testesterona do plasma, nenhu-
era bom para a meditação e a concen- ma diferença na nutrição total, tendo-se
tração, e criava uma sensação geral de registado um desempenho ligeiramente
bem-estar e auto-afirmação. superior por parte dos utilizadores nos
Nenhuma Ligação a Comportamento subtestes de inteligência (estatisticamente
Criminoso não significativo) e constatado que «um
módico básico de imunidade mediada
Vera Rubin e os seus colegas não des- pelas células ( ... ) não era menos vigoro-
cobriram qualquer relação da cannabis so entre os utilizadores( ... )"
com o crime (excepto prisões por mari- Finalmente, nos pares-amostra com-
juana), nenhuma debilitação das capaci- parados, os utilizadores fumavam, além
dades motoras, e constataram que fuma- de marijuana, tantos cigarros de tabaco
dores e não-fumadores apresentavam como os seus colegas. E todavia, se algu-
idênticos índices de extroversão e nenhu- ma coisa, as suas vias respiratórias eram
ma diferença em termos de registos labo- ligeiramente mais saudáveis que as dos
rais ou ajustamento social Não se desco- seus pares.

140
MAIS FRAUDES PROIBICIONISTAS
1 A revista Scientific American infor- vez usado marijuana regularmente
mava em 1990: "As estatísticas alar- apresentavam rendimentos médios 28
mantes citadas pelos proponentes da por cento inferiores aos de lares de ou-
despistagem de drogas para demons- tro modo semelhantes. Os investiga-
trar os elevados custos do abuso destas dores do RTI atribuíram a diferença
( . . . ) nem sempre retlectem fielmente nos rendimentos a "prejuízos devido
as investigações nas quais se baseiam. ao uso de marijuana".
Na verdadei alguns dos dados podiam O RTI extrapolou então os custos
ser usados para 'provar' gue o uso de do crÍJ:ne, problemas de saúde e aci-
drogas tem efeitos mínimos ou mes- dentes, chegando a um "custo social
mo benéficos». (Março, p. 18.) do abuso de drogas» de 47 mil milhões
Um dos exemplos apresentados é a de dólares . .. A Casa Branca procedeu
estatística amiúde usada que o antigo então a «ajustamentos" relativos à in-
presidente Bush utilizou em 1989: "O flação e a aumentos populacionais pa-
abuso de drogas por parte dos tra- ra concretizar a base da afirmação de
balhadores americanos custa às em- Bush.
presas algo entre 60 e 100 mil mi- Todavia, a sondagem do RTI incluía
lhões de dólares por ano em produ- também perguntas sobre uso actual de
tividade perdida, absentismo, aci- drogas, cujas respostas não revelavam
dentes relacionados com drogas, qualquer diferença significativa entre
assistência médica e furto». Todavia, os níveis de rendimento de lares com
segundo uma avaliação feita em 1989 utilizadores actuais de drogas ilegais,
pelo NIDA, tofa_s essas alegações incluindo cocaína e heroína, e outros
derivam de um umco estudo baseado lares.
numa sondagem de 3700 lares reali- Assim, as mesmas estatísticas «pro-
zada em 1982. vam" que o uso actual de drogas duras
O Research Triangle lnstitute (RTI) não resulta em qualquer "prejuízo", ao
descobriu que os lares onde pelo contrário de u ma única experiência
menos uma pessoa admitia ter alguma com marijuana no passado distante!

"Devemos concluir provisoriamente estudo (de Rubin) alguma vez tomara nar-
ou que a marijuana não tem efeitos ne- cóticos, estimulantes, alucinogénios, bar-
fastos nessas vias ou que ela oferece bitúricos ou pastilhas para dormir( .. . )"
mesmo uma leve protecção contra os Na América do final do século XIX, 2.
efeitos nefastos do fumo de tabaco. Só cannabis era usada para tratar a depen-
pesquisas adicionais poderão clarificar dência de drogas. Viciados em opiácios,
qual dos casos, se algum, é verdadeiro». cocaína e álcool fizeram tratamento~
bem sucedidos com potentes extractos
Nenhum Efeito de Escalada/Charneira de cannabis. Alguns doentes recuper-
Quanto às acusações lançadas contra a aram após terem tomado menos de uma
cannabis de ela ser o princípio da escalada dúzia de doses de extractos de cannabis.1
ou a droga-charneira: "O uso de drogas De modo semelhante, descobriu-se que
duras é até hoje virtualmente desconhe- fumar cannabis tem resultados positivos
cido entre os jan1aicanos da classe traba- no tratamento moderno da dependência
lhadora - nenhum dos participantes no de álcool.2

141
11

ESTUDO COSTARRIQUENHO disponível em cafés e bares, e programas


(1980) de reabilitação e reinserção para utiliza-
dores de drogas duras, a Holanda assistiu
Em grande medida, os resultados ja- a urna redução substancial no consumo
maicanos foram confirmados por outro de cânhamo entre os adolescentes3 e a
estudo realizado em 1980 nas Caraíbas, o uma queda de 33% no número de toxico-
Cannabis in Costa Rica - A Study in dependentes. A estratégia de, ao respei-
Chron.ic Marijuana Use, editado por tabilizar a erva, retirar as vendas de can-
William Carter para o Institute for the nabis das mãos dos traficantes de drogas
Study of Human Issues. (ISHI, 3401 Sci- duras foi muito bem sucedida. (L.A.
ence Center, Filadélfia.) Times, Agosto de 1989.) Em 1998, apesar
De novo os investigadores não desco- da pressão constante exercida pelo go-
briram quaisquer danos palpáveis nos verno dos E.U. e pela DEA, o governo
fumadores crónicos de cannabis entre a holandês recusou-se de forma termi-
população nativa. Os problemas sociais nante a r,ecriminalizar a marij uana!
causados pelo álcool, tão evidentes em
ilhas vizinhas livres de cannabis, não se Notas:
manifestam na Costa Rica.
1. "Cannabis Indica as an Anodyne and Hypno-
Este estudo torna claro que, em
tic", Mattison, J. B., M.D., The Saint Louis Medical
estando disponível, o uso de ganja social- and Surgical Joumal, vol. LVl, nº 5, Nov. 1891, pp.
mente aprovado substit uirá em grande 265-271, citado em Marijuana Medical Papers,
medida o uso de álcool (rum). Mik:uriya, Dr. Tod.
2. "Cannabis Substitution: An Adjunctive Thera-
peutic Tool in the Treatment of Alcoholism", Miku-
O MODELO DE AMESTERDÃO riya, Dr. Tod H., Medical Times, vol, 98, n° 4, Abril
Desde que adoptou uma política de de 1970, citado em Marijuana Medical Papers, Miku-
riya, Dr. Tod.
tolerância e não-perseguição dos fuma- 3. '"Collective Conscience' Breeds Dutch Tole-
dores de cann abis/haxixe, o qual está rance", The Orego11ian, 1989.

CORRUPCÃO
, OFICIAL: O CASO CARLTON TURNER
Em toda a investigação que este autor marijuana médica dos diversos estados,
realizou sobre a aplicação indevida de fim- consistisse apenas da folha da planta de
dos públicos, nada, assim parece, se com- marijuana, embora em geral esta tenha
para com o assassínio totalmente igno- apenas um terço da potência da copa e
rante ou delibera.do de irmãos americanos não contenha idêntico espectro completo
pelos burocratas e poUticos citados na da «droga crua': p. e., o THC e os CBNs.
seguinte história: + De 1971 a 1980, antes de tomar-se Conselheiro
Especial da Casa Branca (leia-se czar nacional anti-
UM HOMEM E OS SEUS droga), Carltoa Turner era o responsável por toda a
marijuana ailtivada como droga pelo estado ameri-
ESQUEMAS DE DROGA cano, devido à posição que ocupava na Universidade
do Mississipi. O Programa de Investigação da Ma-
om iiúcio nas administrações Nixon e
C Ford, e continuando sob Carlton Tur-
ner* (czar antidroga sob Reagan, 1981-
rijuana desta universidade está incumbido por alvará
estadual de descobrir ou catalogar os constituintes do
TI-!C - wna droga "crua" simples de cannabis que
tem propriedades terapêuticas - . e então sintetiz.ar as
-86), a política do governo dos E.U. deter- substâncias dotadas de propriedades médicas be-
minou que a marijuana médica federal, néficas com vi:."ta a criar um máximo de mais-valia
fornecida aos programas individuais de para as empresas fannacêuticas.

142
Por exemplo, comparado com a copa, o pia contra o cancro que usavam a folha
alívio da pressão ocular que a folha pro- federal não estava1n a sentir os famosos
voca nos enfermos de glaucoma é muito "munchies'~ a estimulação do apetite pro-
mais curto, e portanto insatisfatório. vocada pela marijuana.
Acontece também que por vezes a folha E embora não tivessem sido autoriza-
provoca dores de cabeça aos fumadores. dos estudos para comparar a folha com a
Não obstante, até 1986, o governo federal copa, conhecemos médicos que reco-
usava apenas a folha. Turner disse às far- mendam não-oficialmente a copa e vêem
macêuticas e em entrevistas que a folha os seus doentes debilitados pelo cancro
será tudo quanto os americanos jamais recuperar peso (NORML).
receberão - embora a copa resulte me-
lhor. Ainda hoje, em 1998, os oito uti- Envenenando os Fumadores de Ganza
lizadores legais de marijuana existentes
nos Estados Unidos recebem apenas uma
mistura de folha, ramo e copa. Embora as
Emfoi_A~osto e_Setembro de 1983,Turner
a televisão nacional justificar a
pulverização aérea ilegal com paraquat
copas resultem melhor para a quimiote- que o DEA efectuara na Georgia, no
rapia, o glaucoma, etc., os ramos podem Kentucky e no Tennessee. Ele declarou
ser tão tóxicos como fumar madeira. que a lição seria bem merecida se um
Turner disse em 1986 que a marijuana
natural «jamais" será disponibilizada co-
mo medicamento, e, em Abril de 1998, a BUSH ATACA DE NOVO
situação não mudou. Excepto na Califór-
m 1981, o presidente Ronald
nia, onde em Novembro de 1996 os cida-
dãos venceram um sufrágio que anulou E Reagan, por pressão do então vi-
ce-presidente George Bush, no-
os ditames do governo federal na questão
meou Carlton Turner para o cargo
da marijuana médica!
de conselheiro (czar) antidroga da
As razões apresentadas: Casa Bnmca.
Discursando em convenções de
• As copas são demasiado difíceis de
farmacêuticas (1981-1986) e do seu
enrolar numa máquina de fazer cigarros.
órgão de lobby, o American Chemi-
(Não obstante os 25 milhões de ameri-
cal Manufacturers, Turner prome-
canos que não têm quaisquer problemas
teu manter a proibição da investi-
em enrolar copas todos os dias.)
gação sobre os 400 compostos quí-
• A extracção de compostos da «droga
micos da cannabis.
cru.a" contida na copa não dará lugar a
Bush conseguiu continuar a
patentes farmacêuticas, e pois a quaisquer
supervisionar estas manobras, sim-
lucros. Logo, este programa funcionaria
plesmente não autorizando a con-
contra os anteriores patrões de Turner, o cessão de novos subsídios do NIDA
alvará legislativo da Universidade do
ou do NIH para realização de pes-
Mississipi, e respectivo financiamento.
quisas com implica~ões positivas
(Entrevistas conduzidas por Ed Rosenthal para a
pelo sector privado ou público, nem
revista High Times; Dean Latimer et al.; Organi-
zação Nacional para a Refom1a das Leis sobre a aprovando nenhuma candidatura
Marijuana [NORML].) tecente da FDA a não ser que
Embora as copas sejam mais eficazes busque resultados negativos. Pela
para a quimioterapia, o glaucoma, etc., altura em que redigimos isto (Julho
Turner disse que elas «jamais" serão de 1998), a política do presidente
disponibilizadas. Tornou-se também evi- Clinton continua a ser idêntica.
dente que os padecentes de quimiotera-

143
miúdo morresse por fumar erva envene- bolso, imprimir o anúncio e torná-lo um
nada com paraquat. homem rico.
A inquirição sobre o potencial tera - Turner não queria saber se algum miú-
pêutico da cannabis é a forma de investi- do morresse ou fosse espoliado do seu
gação mais controlada e desencorajada, dinheiro por acreditar no seu falso kit
mas quaisquer testes procurando efeitos detector de paraquat.
n egativos ou nefastos da planta são pro- Na sequência desta tentativa de fraude
movidos. Já que estes testes muitas vezes postal, em 1981 este homem tornou-se o
têm resultados opostos aos esperados, ou czar nacional antidroga do presidente
são inconclusivos, até mesmo este tipo de Reagan, por recomendação de George
investigação é rara. Bush e Nancy Reagan.
Turner citou "A Ascenção e Queda do
Império Romano" para mostrar como os Um Desprezo Completo pela Vida
cantores de jazz (rock) estão a provocar a u rner chegou mesmo a dizer que n ão
erosão da "sua" amada América através
desta droga al ucinogénica - a marij ua-
T se importava se centenas de miúdos
morressem por fumarem erva delibe-
na!-, a qual tenciona erradicar. radamente pulverizada com paraquat
Kits de Paraquat Falsos pelo governo.
Então, em 25 de Abril de 1985, na con-
m 1978, durante a vaga de pânico pro-
E vocada pela marijuana mexicana enve-
nenada com paraquat, e enquanto era ain-
ferência da PRIDE [Instituto de Recursos.
para a Educação Familiar sobre Drogas],
realizada em Atlanta, Georgia, na pre-
da um cidadão empregado na quinta de sença de Nancy Reagan e 16 primeiras-
marijuana do estado do Mississipi, este damas (incluindo Imelda Marcos),
mesmo Carlton Turner telefonou à revista Turner pediu a pena de morte para os
High Times p ara colocar um anúncio de narcotraficantes.
um detector de paraquat. Afinal, Turner era o pistoleiro contra-
Turner ignorava que a High Times esta- tado de Reagan, Bush e as farmacêuticas,
va a recusar todos os anúncios de detec- ,e considerava que a sua missão não era
tores de paraquat porque toda a evidência lutar contra a heroína, o PCP ou a cocaí-
mostrava que eles não funcionavam. na, mas sim exterminar a erva e a música
Dean Latimer - na altura editor asso- jazz/rock. . .
ciado da High Times - empatou Turner Carlton Turner foi forçado a demitir-
durante um mês em conversas telefóni- -se após a Newsweek o ter desancado vio-
cas quase diárias, ouvindo-o gabar-se do lentamente num longo editorial publica-
dinheirão que ia ganhar com as vendas do em 27 de Outubro de 1986. A sua de-
do aparelho. missão era inevitável após ter sido sati-
A High Times queria ver uma amostra. rizado no Washington Post e outras pu-
Quando Turner lhes entregou o seu pro- b licações como nenhuma outra figura
tótipo do kit detector de paraquat, cons- pública em recente memória, devido às
tatou-se que se tratava de uma fraude suas conclusões {proferidas em discursos
completa, "exactamente igual a uma dúzia públicos) de que a marijuana causava a
de kits falsos que outras companhias ten- homossexualidade e o colapso do siste-
taram anunciar nesta altura," escreveu ma imunitário e, pois, a SIDA.
Latimer num artigo publicado em 1984. Turner demitiu-se em 6 de Dezembro
Aparentemente, Turner nunca pensou de 1986. Aquilo que normalmente teria
que a High Times fosse ética bastante pa- gerado manchetes de primeira página foi
ra verificar o dispositivo, assumindo que enterrado nas páginas traseiras durante o
se limitariam a enfiar o dinheiro no escândalo Irão-contras.

144
COMPARAÇÃO COM O ÁLCOOL
uitas drogas causa~oras de dep~~dência são terríve~s. A pior de todas é o
M álcool, tanto em numero de utilizadores como deV1do ao comportamento
anti-social que é associado ao seu uso extremo. O alcoolismo é a principal causa de
morte entre os adolescentes; 8000 adolescentes americanos morrem todos os anos
e 40.000 ficam incapacitados por misturarem álcool com condução automóvel
(MADD, Mães Contra o Álcool ao Volante; SADD, Estudantes Contra o Álcool ao
Volante; NTDA, lnstituto Nacional de Abus.o de Drogas; etc.)
Na verdade, as estatísticas do governo e polícia americanos confirmam estes
estranhos números:
A mortalidade causada pelo uso de álcool é 100.000 pessoas anualmente, com-
parada com zero mortes causadas pela marijuana em 10.000 anos de consumo.
Entre 40 a 50% de todos os assassínios e mortes na estrada relacionam-se com
0 álcool. De facto, as mortes na estrada ligadas ao ákool poderão chegar a 90%,
segundo os jornais Chicago 1hbune e L.A. Hera/d &aminer.
O álcool é também referido na maioria (69 a 80%) de todos os casos de vio-
lação, ou incesto envolvendo crianças; a violência doméstica é na sua grande
maioria ( 60 a 80%) influenciada pelo álcool.
A heroína é referida em 35°/o dos roubos, assaltos à mão armada, assaltos a
bancos, fu rtos de automóveis, etc.
Em 1997, nos E.U. fizeram-se mais de 600.000 prisões por simples posse de ma-
riju ana, segundo o Relatório das Estatísticas sobre o Crime Uniforme publicadas
pela Agência Federal de Investigação [FBI] do Departamento de Justiça dos E.U.

Empresa de Testes à Urina volveu no sector da segurança high tech


pós a sua demissão, Turner fez uma empresarial após ter caído em desgraça,

A sociedade com Robert DuPont e o


antigo chefe da NIDA, Peter Bensinger,
Carlton Turner tornou-se um homem
r ico investindo naquilo que veio a tor-
nar-se wna indústria em expansão: os
visando dominar o mercado dos testes à
testes à urina.
urina, fumando contratos de consulta-
Este tipo de actividade nega os direitos
doria com 250 das maiores empresas
básicos que temos à privacidade, à pro-
para d esenvolver programas de preven-
tecção contra a autoincriminação (Quin-
ção e despistagem de drogas e de testes à
ta Emenda) e a vigilância e confisco não-
urina. -fundamentados, e à presunção de ino-
p 0 u co tempo depois de Turner deixar
,c ência até ser provada a. nossa culpa.
cargo, Nancy Reagan. recomendou que
0 A submissão humilhante que constitui
nenhuma empresa privada fosse autori-
termos as nossas partes e funções mais
zada a negociar com o governo federal íntim as observadas por um voyeur con-
sem ter implementado uma política de
tratado é agora o teste de eligibilidade
pureza urinária para demonstrar a sua para se assinar um contrato em troca de
lealdade. . um ordenado.
Assim como G. Gordon L1d dyt se en-
O novo esquema de Turner para fazer
dinheiro exige que todos os outros ame-
t Operacional da administração Nixon envolvido
escutas e arrombamento da sede do partido de- ricanos abdiquem do seu d ireito à pri-
5
:ocrata no edifício Watergate em 1972. (N. do T.) vacidade e do seu respeito próprio.

145
Ilustração de Marga Kasper I Leslie Cobarga.
. : ·.. , _Capítulo \ ~ .Dezasseis · ~ . ·_
~

O REIVAI NU
ALTERNATIVAS À PROIBICÃO

E.m conclusão, constatamos que a ,postura antimarijuana das autoridades
é tecida de refinadas mentiras. Neste capítulo, começamos por fazer luz
sobre algumas investigações que as autoridades preferem que os pessoas
desconheçam, abordàndo então algumas alternativas realistas.
Mas ,primeiro, uma curta fábula:

A HISTÓRIA DO REI QUE SE balhar de imediato, passando o dia a fin-


PASSEOU NU gir que cortavam e cosia m, enquanto
periodicamente o rei e os seus ministro
(Parafraseado do Conto de Fadas de vinham observar o produto que eles e -
Hans Christian Andersen.)
tavam a confeccionar - e liquidar as
avia outrora um rei muito mau e vai- enormes dívidas que vinham a acumular
H doso que cobrava pesados impostos
dos seus súbditos de forma a custear o
no decurso das suas actividades.
Chegou finalmente o grande dia, quan-
seu guarda-roupa_ confecc~onado a partir do todos os habitantes do reü10 foram
dos mais dispendmsos tecidos. convocados para admirar o fato novo do
Certo dia chegaram dois vigaristas que, rei, para o qual tanto tinham dispcndido
presentando-se como renomados alfaia- e do qual tanto haviam ouvido falar.
:es de wna terra longín~ua, solicitaram
urna audiência com o re1, durante a qual
Quando o rei surgiu todo nu, as pe -
soas olharam-se incrédulas e nada dis-
lhe contaram que tinham inventado wn seram. Então cantaran1 as loas do mira-
novo e fabuloso tecido, feito de uma fib~a culoso tecido novo: uf: a obra mais bela.
de ouro m uito cara que apenas as mais que jamais vW', ccMagnífico!", «Quem me
puras e sábias pes~oas ~ram capazes de dera ter wu tecido assim tão maravi-
ver. Excitado, o re1 pedm para ver uma lhoso!" Todos aplaudiram, receosos de
amostra, e os homens mostraram-lhe um serem denunciados e apodados de estú-
carreto vazio. "Nã~ achais maravilhoso?" pidos e in1puros caso procede em de
perguntaram ao rei. .. outro modo.
o rei concordou, receando admitir E o rei pavoneou-se orgulho amente
ue nada via, pois isso significaria que frente aos seus súbditos, ecretamente
;ra uma pessoa apática e estúpida. preocupado com a eventualidade de
o rei lembrou-se então de testar os seus perder a coroa caso o seu povo desco-
núnistros, convocando-os para _dare1!1 a brisse que ele próprio era incapaz d e ver
su a opinião. Uma vez que lhes foi explica- a roupa que lhe envolvia o corpo.
da a magia do tecido, todos concordaram Quando o rei passou junto da multi-
u e se tTatava de facto do melhor e mais dão, um rapazinho que estava às cavalita
~aravilhoso tecido do mun~o. do pai gritou: "Mas o rei não traz nada
o rei ordenou que a maior parte do vestido!»
ouro do tes~uro real fosse entregue aos "Escutai o que diz o inocente!» d.is e o
supostos alfiuates para estes o transforma- pai do rapaz. E as pessoas ussurraram
rern em fio. Os homens começaram a tra- umas às outras o que dissera a criança. E

147
as palavras do rapazinho espalharam-se A MORAL DA HISTÓRIA É:
entre os súbditos do rei.
Todos - ministros, guardas e povo _ Não basta denunciannos os actos frau-
perceberam então que o rei e os seus mi- du]entos e a manipulação dos factos leva-
nistros haviam sido enganados por escro- dos a cabo pelo Rei (o governo dos E.U.).
ques, e que estes não apenas os haviam Os seus guardas (o FBI, a CIA, a DEA, etc.)
enganado, mas tinham gasto nesta farsa são poderosos demais. É tal o receio que
todo o dinheiro dos impostos. sentem de ser vergonhosamente desmasca-
0 rei ouviu as pessoas rir e murmurar. rados que usam incessantemente o seu po-
Sabia que elas tinham razão, mas O seu der (financiando a maior parte das
orgulho impedia-o de admitir que se cn- cruzadas antidroga das Nações Unidas e
ganara e fizera figura de idiota. De modo mundiais) para comprar obediência me-
que o rei se empertigou todo e, do alto diante suborno e intimidação (ajuda exter-
do seu nariz, fitou os guardas, até que na, vendas de armamento, etc.).
captou o olhar de um deles. Os cidadãos americanos que se atre-
0 guarda, olhando nervosamente em vem a pronunciar contra esta tirania são
redor, consciente de que este vaidoso rei muitas vezes difamados como "drogados"
podia mandar encarcerá-lo ou mesmo ou «passados", podendo ser an1eaçados
decapitá-lo, evitou os seus olhos e fitou O com a perda dos seus empregos, rendi-
chão. Então outro guar- ______________ mentos, familias e ha-
da, percebendo que o seu veres. Se quisermos
colega deixara de rir, O governo federal e o vencer, devemos cra-
assustou-se e baixou Supremo Tribunal dos E.U. var repetidamente
também os olhos para o estão a minar rapidamente uma estaca no coração
chão. Num instante, to- as nossas liberdades tal das mentiras propal-
dos os guardas, ministros como descritas na Carta dos adas pelas autori-
e até mesmo as crianças Direitos. Mais do que dades, martelando-a
que fingiam transportar qualquer outro crime, a in1placavelmente com
o real manto feito de teci- marijuana tornou-se o os factos concretos. Só
do de ouro invisível, olha- pretexto principal para nos assim derrotaremos 0
vam fixamente para o serem retirados os nossos m al perpetrado por
chão. direitos constitucionais este in1perador insen-
Vendo os ministros e garantidos. sível - as leis injustas
os guardas, que há um sobre a cannabis. E, se
momento atrás estavam tal for necessário para
a rir do rei e agora fitavam O chão, libertar o nosso povo, devemos estar
tremendo como varas verdes, as pessoas preparados para prender estes facínoras!
deixaram de rir e não tardaram também a
baixar as cabeças.
A ANALOGIA LÓGICA
Até o rapazinho que inicialmente ex- izemos que as leis sobre a marijua-
clamara que o rei ia nu, vendo todas as D na/cânhamo são como as roupas do
pessoas crescidas à sua volta, e até rei! À imagem de tiranos e proibicionis-
mesmoº. seu pai, tão assustadas e subju- tas do passado, este rei depende de força
gadas, baixou a cabeça cheio de medo! bruta, intimidação, medo e um vi rtual
Ent~o o rei, empertigando-se de novo) estado policial para manter o seu reinado
anunciou aos seus súbditos, enquanto autoritário e despótico, enquanto sangra
marchava através do seu reino: "Quem se o tesouro federal, desmantela todos os
atreve a dizer que estas não são as m e- vestígios da Declaração dos Direitos e
lhores roupas que há?)) aprisiona almas inocentes.

148
O nosso grande país foi fundado sobre energia, farmacêuticas, produtores de
0 princípio de que cada pessoa possui "di- bebidas alcoólicas e cervejeiras, profes-
reitos inalienáveis" "à vida, à lfüerdade e à sionais de reabilitação e despistagem de
busca d a felicidade': e cada pessoa tem a drogas, polícias, guardas prisionais e
responsabilidade de conservar estes direi- constru tores de prisões - tudo gente com
tos ao lançar o seu voto individual. amplos inte resses fi nanceiros em jogo e
Os fun cionários ou executivos do m otivações dignas de um estado po.licial.
Governo dos E. U. estão a cometer ilícitos Quando funcionários do governo dos
criminais ao dirigirem ou conspirarem E.U. agem ou conspiram deliberadamen-
para lançar deliberadas campanhas de te dest a forma - sejam eles o presidente,
desinformação, omissões e m entiras des- o vice-presidente, o czar nacional anti-
caradas fin anciadas com os dólares dos droga, o director do FBI ou da CIA - ,
nossos impostos. eles deviam ser presos. E, numa socieda-
Na questão da cannabis, Ronald Rea- de america na honesta, eles seriam res-
gan, George Bush, e agora até Bill Clin- ponsabilizados pelos 14 milhões de anos a
ton, t êm d esempenhado o papel do Rei. que já condenaram tantos americanos
Poderíamos acrescentar que Nancy Rea- pelo "crime" de possuírem e rva.
gan desempenhou o papel da m aléfica e As nossas burocracias federais e o Su-
implacável Rainha de Copas da Alice no premo Tribunal dos E.U. estão a retirar-
pa{s das Maravilhas de Lewis Carroll, a -nos rapidamente as nossas liberdades tal
qual d ecretou - «sentença já, veredicto como e las são consagradas na Declara-
mais t ard e!" ção dos Direitos (redigida em papel de
Os czares antidroga passados, Carlton cânhamo). O cânhamo/ma rijuana tor-
Turner, William Bennett, Bill Martinez, nou-se o principal pretexto para nos se-
Lee Brown, e o presente, general Barry rem retirados os nossos direitos cons-
McCaffrey,t t êm desempenhado o papel titucion ais garantidos - mais do que to-
de conselheiros do Rei, todos sus- dos os outros crimes, acções políticas, re-
tentando a falácia do «puro tecido que beliões, greves, levantamentos e guerra
apenas os mais puros olhos conseguem combinados dos últimos 200 anos! E a
ver," o qual foi fabricado por Ansli.n- erosão de liberdades básicas é m ais grave
ger/DuPont/Hearst e os seus male- ainda nos nossos países satélites da
-volentes burocratas. Os czares antidroga América Central e do Sul, cujos líderes
são agora apoiados por empresas de agem instigados pela América.

t A hora de irmos para o prelo (final de Março de


), a nova administração de Geor~e W. Bush
2001
·,nela não empossara um novo czar antidroga para
ª~bstituir o da administração Clinton. em equer
: certo que o faça. em cujo caso o acto significaria
vontade de retirar ênfase à política de "guerra às
drogas•~ que está a sofrer enor me contestação. Seja
corno for, o mais forte candidato ao lugar é Jim
M cDonough, czar antidroga da Florida, estado de
ue O irmão de Bush é governador, um "duro" que
q ropôs a erradicação da marijuana na Florida usan-
~o agentes biológicos, e incentivos financeiros para
5
empresas fazerem despistagem de drogas aos seus
:rnpregados. (N. do T.)

149
Em Conclusão:

AS VERDADE.IRAS CONSEQUÊNCIAS
DA PROIBIÇÃO
uando a DuPont nos garante que De facto. abçuaindo o w,o da amnabis,
Q graças a ela teremos "Vida Melhor se retirarmo da equação a máfia e o tra-
ficantes de heroína e outras drogas, redu-
Através da Químicaº, não nos diz que es-
se estado de coisas durará apenas 100 zimo 8oelo do cnme não relacionado com
anos, findos os quais todo o planeta o álcool. Como exemplo directo. o índice
morrerá em se u benefício. de assassmio subiu constantemente du-
A Inglaterra e a Holanda aprenderam a rante a era de proibiç-Jo do .ikool, o "Lou-
tratar os utilizadores de substâncias ile- cos Anos \rmte~ bai"'m_ndo então todo os
gais como seres humanos - mantendo- ano~ durante o~ dez ano ~-guintes à anu-
-os abastecidos com quantidades sufi- lação da proibição em 1933...
cientes de medicamento de modo a não ~ f.qa1u1i~ do FBI.
perturbarem as actividades dos outros. Devemo encontrar outra forma de li-
Esta poUtica, que permite a essas pessoa~ dar com o uso de <lrog~ ou ~ Larmo
levarem vidas de outro modo produtiva preparado para uma continuada erosão
e normais, está agora firmemente im- exponen iaJ da noss.1.5 liberdade • in-
plantada, é eficaz e popular naquele paí- tuindo o direito~ .i U, re pre - o, ao
ses. Em 1990, a Suíça deu início à ua debate pubh o e a urn.1 comunicação o-
própria experiência de tolerância loca- ciaJ livre incluindo 1h ro e ançõe .
lizada do uso público de droga . Ace1te--.e o facto de virtu3lm~nte todo
Quando o governo suíço tentou, em o crime relacionado com drogas decres-
1997, recriminalizar a cannabis através de cer se rrmarm > os oxico<:kpendentes e
um referendo, perdeu por 79% do votos. utiliz.adorc em , a de o retirarmos da
Sendo assim, por que é que pacíficos sociedade. D ,e.mo JjudJ-lo ·, educa-lo
cultivadores e utilizadores de cannabi e encorajá-lo a serem finJn<eir.unen te
devem ser cadastrados e perseguidos co- produth'o-.
mo se de criminosos crónicos se tratasse,
enquanto 35% de todos os roubos e as- REPRESSÃO HIGH TECH
saltos são cometidos por toxicodepen-
e modo a lh'rar a \meric.i da mari-
dentes, 40 a 50% dos assassínios, violações
e mortes na estrada se relacionam com o D Juana, todo no , fumadores e não-
-fumadores, de,eremo.s .ibdicar da no a
álcool,"" e é mais fácil encontrar heroma
nas prisões do que na rua? Acresce ainda Declara ao do D1re1to .. para empre!
que, estatisticamente, os índices de crin1e e Deveremo conform11r-no com per·o-
violência dos utilizadores de cannabis são nagen~ da laia de Lrndon LaRouche,
idênticos ou inferiores aos do conjunto da lerry Fa1well, 1 1an9 Reagan, Edwin
popuJação não fumadora de cannabis. Meesc, \\filliam Bennett, o general BJrry
• Estatísticas do FBI, 1996.
~-fcCaffre e outr~ mente., d ·e rid1 u-
lo calibn:. da uma de~ na u.i pre-
fMarço de 2001: a Sufça prepara ·$C para descrimi- 5unçosa ignorância. ta a contribuir pa-
nafü..ar nao só o consumo JndS tan1btm a produ o
de cannabis, ultrapassando a Holanda cm termos ra o em·enenamento permJnente da Ter-
de liberalização das leis antim.irijuana. (N. do T.) ra. enqu.u1to fai. tudo quanto p de parJ

ISO
drogas e obrigado a tra-
- ANNUAL CoNVtNTlôN ~
balhar clandestinamen-
VIC--flM5. Or MARIJUANA te para a DEA, visando
especificamente incri-
m inar Elders) a adqui-
rir-lhe uma pequena
quantidade de cocaína.
O filho de Elders, que
não tinha antecedentes
conhecidos de tráfico de
drogas, foi recusando,
ma acabaria por ceder
,... ÂNNUAL ('!oNVt.N1' lON ~ perante a pressão cons-
tante do amigo.
V1c-r1M~ or MARIJUANA I.Aws O governo 6 revelou
informações sobre esta
tra nsacção ao fim de
seis meses, quando pô-
de usá-las para chanta-
gear directamente a
bastonária da saúde El-
ders, para obrigá-la a
retractar a sua posição
sobre a cannabis m édi-
aniquilar completamente a única coisa ca. Ao invés, recusando ser silenciada
que pode salvar-nos: o cânhamo. Elders demitiu-se. Com tácticas tão'
Ironicamente, o computador, essa descaradamente desonestas, a DEA está a
grande dádiva .i Humanidade, irêi. permi- aproximar-nos, dia a dia, do pesadelo
tir que a polícia termine hoje o trabalho de crito por OrweU em 1984.
que a Inqui ição da Igreja Católica Ro- Um pós-escrito: na altura em que redi-
mana iniciou (ver Capítulo 10, Idade rias jo isto, o jovem Elders aguarda o resulta-
Trevas), porque a igreja não suportava do de um recurso fundamentado na sua
que os "plebeus" se risscn: de si ou co- incriminação deliberada.
nhecessem, entre outras co1 as, os segre-
dos da higiene, da astronomia e do câ- DESPERDIÇANDO OS NOSSOS
nhamo. Usando computadores, a polícia IMPOSTOS
a nti-erva pode escrutinar a vida familiar,
os recibos, os impo tos, etc., de todos
nó~, o que lhes permite chantagear e/ou e erca de 50% de todas as verbas fede-
rais e estatais gastas na repressão d e
s ubo rna r cidadãos omericanos, assim co- drogas durante os úJtimos 60 anos foram
rno de t ruir os eus polfticos, magistra- dirigida contra a marijuana!
d o e outro VIP ao expor questõc co- Entre 70 e 80% de todas as pessoas que
rno a suas vidas privadas ou o uso pes- agora se encontram em prisões federais,
soal de droga . estaduais ou municipais americanas não
p 0 r exemplo, durante eis meses, o fi- e teriam encontrado nelas enquanto cri-
lho da antiga bastonária da saúde de minosos ainda há apenas cerca de 60
Clinton, Jocelyn Eldcrs, foi_instado sis- anos. Por outras palavras, n ós, na nossa
tematicamente por um amigo eu (que igno:ãncia e xenofobia (inspiradas por
antcdormcnte fora pre o por pos e de Anshnger e Hearst!) prendemos aproxi-

151
FACTOS SOBRE O CÂNHAMO-DE-CANNABIS
SUPRIMIDOS PELO SMITHSONIAN
evia not ar-se que, embora entre 50 a 80% de todo o papel e tecidos fibrosos
D exibidos nas suas exposições "A Vida na América: De e. 1780 até e. 1800" e
"Exposição Marítima Americana, 1492-1850,, fossem feitos de cânhamo, a Smi-
thsonian lnstitut:ion retir ou todas as referências ao cânharno-de-cannabis tal
como ele era usado na confecção de papel e têxteis, referindo-se-lhe apenas
como «outras fibras': enquanto o algodão, a lã, o linho, o sisa], a juta, o cân-
hamo-de-manila, etc., são especificamente nomeados.
Quando foi questionado sobre este tópico, o curador do museu, sr. Arkadero,
deu a seguinte resposta: "As crianças já não precisam de conhecer o cânhamo;
ele causa-lhes confusão': e o director do Smithsonian disse que muito embora o
cânhamo fosse a fibra primária, <'Nós não somos um museu de fibras'~
Não referiu de que forma se determ inara que as crianças precisam de co-
n hecer as fibras menores que foram cultivadas ao longo da história americana.
Será que as perguntas inocentes das crianças sobre o cânhamo e a marijuana
estavam a causar desconforto aos guias do museu Smithsonian?
E numa carta datada de 20 de Junho de 1989, o secretário da insituição, Robert
McConnic Adam s, escreveu: "Não consideramos que das nossas tarefas fao
ap resentar estas exposições] faça parte uma catalogação das fibras outrora uti-
lizadas na América'~
«Mas por vezes este critério leva os curadores a referir os nomes dos tecidos
- tais como o linho, a lã ou outros>~
O sr. Adams devolveu-nos exemplares deste livro e do filme pró-marijuana
que o governo dos E.U. realizou em 1942 1 Hemp for Victoryl aparentemente sem
ter revisto nenhuma da informação neles contida.

madamente 800.000 das 1,2 milhões de apenas 300.000 pessoas nas prisões ame.ri-
pessoas que se encontram em prisões canas por todos os crimes combinados.
americanas (em 4 de Agosto de 1998) por Alguns pregadores radiofónicos e tele-
crimes que eram, na pior das hipóteses, visivos atiçaram a histeüa, chamando
hábitos sem importância, até à Lei Har- <'satânica e vudu" à música rock e asso-
rison de 1914 (através da qual o Sup remo ciando-a à cultura da droga. Essa gente
Tribunal deliberou em 1924 que os vicia- quer proibir o rock, queimar discos e li-
dos em drogas não eram doentes, mas vros, e prender todos quantos discordem
sim vis criminosos). deles. O mesmo deseja Carlton Turner. O
Oitenta por cento destas vítimas da mesmo deseja Lyndon LaRouche. O mes-
<'Guerra às Drogas» declarada pelo go- mo deseja William Ben nett. O mesmo
verno não traficavam, tendo sido encar- deseja o general Barry McCaffrey.
ceradas por simples posse de droga. E Durante as últimas três gerações, a
este nwn ero não inclui o quarto de mi- propaganda e as mentiras de Hearst e
lhão de pessoas adicionais que estão deti- Anslinger foram implacavelmente en fia-
das em p risões regionais. das pelas goelas dos americanos abaixo
Lem brem-se que, há apenas 20 anos, em como se fossem incontestáveis verdades
1978, antes da "Guerra às Drogas': h avia evangélicas - resultando num maciço

152
sorvedouro de dinheiro dos contribuin- Placidyl, além de estar disponível, era
tes, o qual é aplicado na construção da acessível aos seus rendimentos. O Placidyl
máquina antidroga do governo. estava também bem etiquetado quanto a
E virtualmente todos os estados en- pureza e dosagem, enquanto as pessoas
contram-se a meio da maior expansão viciadas em drogas proibidas devem
prisional da s ua história, e nquanto desenvencilhar-se com "panflos" (sacos de
abutres políticos, preocupados apenas droga) contendo substâncias cuja pureza
co:rn o crescimento das suas indústrias - seja ela 5% ou 95% - é desconhecida.
risionais ou a segurança dos seus em- A grande maioria das sobredosagens de
p regos, exigem
. - d
a construçao e mais
.
droga deve-se a este factor de pureza, que
Prisões ainda, bem como a expansão das não é conhecido, regulamentado ou eti-
p . . .
bases tributáveis com vista a prosseguir quetado.
sta loucura de "lei e ordem" que está a O governo reconhece que 80% das
ese r dirigida contra delitos .anteriormente
. sobredosagens de drogas ilegais seriam
insignificantes ou mesmo inexistentes. provavelmente evitadas com etiqueta-
gem e avisos apropriados.
CRITÉRIOS DUPLOS
os anos 80, quando William Rehn-
N quist, o principal juiz do Supremo
Tribunal dos E.U. (agora é bastonário da
UMA POLÍTICA BASEADA NA
IGNORÂNCIA
·ustiça), "passava pelas brasas" no tribu- o decurso das pesquisas que fizemos
J a1 _ e enviava outros drogados para a
n isão p or causa dos seus maus hábitos
N para este livro ao longo dos ú1 timos
24 anos, conversámos com, e questioná-
pr ele estava a alimentar um vício de mos, senadores, legisladores, juízes,
. ;0 doses de Placidyl por dia, o equiva- agentes da policia, promotores públicos,
01 " d ,, t: . l
1 nte em dólares, pe ra e e1e1to menta cientistas, historiadores, vencedores do
e urn vício de heroína "pesado" de 70 a Prémio Nobel, dentistas e médicos. To-
ªz 5 dólares diários. dos conheciam fragmentos da história e
l O p ]acidyl, primo do Quaalude, é co- dos usos da cannabis, mas virtualmente
hecido por provocar um rtorte "down», nenhum conhecia a marijuana em pro-
n ndo popular nos meios da droga devi- fundidade e na sua totalidade, à excepção
dse0 à natureza p l'ac1'da do seu e1e1to.
e .
de investigadores médicos que há muit ~
A dependência física e os efeitos men- estudavam a planta, tais como Ungerlie-
• do uso das drogas legais Placidyl, der e Mikuriya, entre outros, e de artict::-
tal5
Dilaudad, Quaa1u des, etc., sao
- vrrtu
. al- listas como Ed Rosenthal, Dean Latime
nte idênticos aos dos amaldiçoados e o dr. Michael Aldrich.
rne bitúricos, ópio,
. morfina e h erorna.
,
Por exemplo, há 15 anos atrás, nurr_z.
b
Ear essência, eles perturbam o eqm']jbro grande recolha de fundos para ~
d:.'endorfinas" (receptores e anuladores NORML realizada na Califórnia em 1983,
de dor) do corpo. . . falámos em privado com o então líder da
Rehnquist, de quem se dizia que _us~va maioria no Senado, Tom Rutherford, do
Pl cidyl muito em excesso dos hm1tes Novo México. Rutherford era um desta-
~rnais, não tinha porém necessidade cado político pró-marijuana desde há
.~~ roubar lojas de b~bida_s, assalta r fisica- uma década, sendo à época provavel-
ente os seus conc1dadaos, ou cometer mente a autoridade eleita melhor fami-
mualquer dos _ou~ros co~~ort~~.entos liarizada com a questão da marijuana
~ti-sociais atnbmdos aos ;unkies . nos Estados Unidos. Perguntámos-lhe
o seu vício era fácil de manter porque o por que razão o governo não se decidia a

153
legalizar a marijuana, em especial devido filho , da liberdade dos filhos do no -
a tudo quanto sabíamos sobre ela em ter- o~ filhos. p.ira empre.
mos médicos, industriais e histórico . [ 1 . o. meus amigo , chama- e fas i -
Ficámos chocados quando ele respon- mo; e, dito de maneira 1mples, e as leis
deu que, tanto quanto sabia, não havia sobre a e1nnabi nao forem reYogada , e
qualquer argum entação a favor da lega- se não forem d ontinuadas praticas ac-
lização da marijuana, excepto simples- tuai que de troem a Terra, como a mi-
mente de forma a acaba r com a loucura neração em profundidade, a pro pe ção
que é criminalizar aquilo que na pior das de petróleo, o abate maci o de arvores, a
hipóteses é um ilícito menor. poluição industriaJ das jguas e o uso de
De modo que lhe resumimos entusias- pesticid~ e herb1c1d~. o no o planeta
ticamente os factos e toda a história do morrerá em bre\e .1 mJo de te políti-
câ nhamo/marijuana, calcula ndo que já co ignoranl~ que se Julgam no direito
devia ter ouvido parte dela. Mas Ruther- de fuer aprovar cada vez mai leis draco-
ford ficou literalmente de boca aberta nianas com vista a encher mais e maiores
com as coisas que estava a ouvir pela pri õe e penitenciilria com alguns dos
primeira vez. Quando acabámos, disse: nos o mai decentõ cidadãos. Estes
«se eu estivesse na posse d esses dados, mesmo polttico, apresentam-se como
organizados e documentados tal como endo rnoth-ado:;; unicamente pela sua
vocês acabaram de os expor, o governo, a preocupa ao com a crianças. Entretanto,
p olícia e o sistema judicial deixariam de todo o dias eles promovem o envenena-
perseguir a erva~ mento ma.,st\O de tas m ma crianças!
"Mas isso será mesmo verdade?" acres- MJ para compreender verdadeira-
centou. m ente por que razJ.o, apó 60 anos de
Isto passou-se em Fevereiro de 1983. de informaçao que pro egue até hoje,
Aqui estava m políticos americanos que dezenas de mtlh ~ de americano con-
literalmente n ão sabiam o bastante tinuam completamente aterrado com a
sobre o cânhamo para encher com ge- en·a, considere- e a mentalidade e o
n eralidades uma única página de um caracter de Oaryl Gate: , chefe da polícia
livro, alguns dos quais renunciaram a de Lo Angeles entre 197 e 1982, que
cargos públicos na era "diz não à droga" admitiu ter aJudado a dirigir um p rogra-
de Reagan , antes de terem aprendido o ma para supnmar informação correcta
suficiente para apoiar publicamente o sobre o cânhamo, e ordenJdo a prisão e
cânhamo/marijuana. intimidação de funcion.irio da Inicia-
Mas agora são muitos os que sabem tiva Californiana obre a Marijuana que
que o cân hamo é potencialmente o prin- e tavam a cumprir o ~u dever cívico e
cipal produto agríco]a da Terra, que as con titucionaJ de angariar as ·inaturas
]eis actuais são totalmente injustificávei , para pet1çôeS.
e que a posição do governo no tocan te à Em ctembro de 19 3, na televi ão e
a travé de um porta-voz da policia, Gate
ganza é completamente falsa e incapaz de
chamou aos proponentes da reforma das
aguentar a luz simples d a verdad e.
Jeis obre o <.Jnhamo "pe oa bem-in-
O QUE É A LEI? tencionadas mas terrivelmente ingénuas
no tocante J. marijuana, pouco abendo
"Todas as leis cuja violação não causa de facto sobre ela'~
danos a terceiros são motivo de chaco- Em Janeiro de 19 4. um pai perguntou
ta'~- Espinosa (c. 1660.) a Gate , numa eM:ola pública de an Fer-
Proibir a marijuana é abdicar das no - nando \'alie\'. ,..ahfórnia; ..O que po o
sas liberdades, das Liberdades dos no os eu fuzer se descobrir que o meu filho

154
fumou marijuana?" Gates respondeu, «É ignorância ao proclamar a um público
tarde demais. Uma vez que tenham de Estocolmo: '½ taxa de assassínios na
fumado um cigarro de marijuana, perde- Holanda [onde as drogas ''leves» são
mo-los para sempre!"" tratadas como um produto legal] é dupla
,. Estas palavras exactas fora m também usadas da dos Estados Unidos ( ... ) São assim as
1
pelo promo to r público do condado de Los Angeles, drogas ~ Na realidade, a taxa de assassí-
Ira Re iner, na sua campanha de 1990 para procu- nios é 8,2 por 100.000 nos E.U., e 1,7 por
rado r -geral do estado. Reiner perdeu a eleição.
100.0 00 na Holanda, menos de um quar-
AJguns meses depois, o então procu- to da taxa americana.
rador-geral da Califórnia, John Van de Este foi apenas o último caso da carica-
KarnP, suprimiu um relatório, datado de ta desinformação propagada por Mc-
17 de Agos~o de 1990, elab~rado pelo _seu Caffrey. Em Dezembro de 1996, por exem-
próprio pamel de conselheiros e que ins- plo, os média citaram-no como tendo
tava à relegalização do cânhamo. Em s de dito: "Não há o mais leve indício de que a
Setembro, Gates testemunhou perante o marijuana possua valor medicinal" .. .
eornité Judiciário do Senado dizendo que
os fumadores de erva deviam ser "detidos CONCLUSÃO
e abatjdos': Sustentou esta posição
durante quase uma semana, até que um
protesto público :xigindo a sua demiss! ~~
0
forçou a modificar o seu comentano
e om base na informação fornecida
neste livro, exigimos um fim da apli-
cação destas leis proibicionistas. Todas as
para uma exortação no sentido de serem leis relativas ao cultivo da planta de câ-
aplicadas penalidad~ mais sever~s aos nhamo devem ser eliminadas dos estatu-
fumadores. O antigo czar antidroga tos, incluindo o Tratado da Convenção
William Bennett disse: "Os únicos proble- Única das Nações Unidas de 1961, na assi-
mas que tenho com a decapitação de uti- natura do qual Anslinger representou os
lizadores de marijuana são de ordem Estados Unidos. Embora tenha sido força-
legal': e um legislador ~o Mississipi do a aposentar-se por um presidente
declarou em 1998 que o castigo por uso de Kennedy incomodado com as palhacices
:r11arijuana dev.ia incluir a amputação de que fez na convenção democrática, o lega-
mãos, braços, pés e pernas (a sério!). do de mentiras e falsidades que Anslinger
Em 3 de Março de 1991, o mundo ficou deixou está bem vivo em 1998.
chocado ao ser informado de que os Asa autoridades devem um pedido de
agentes de Gates eram de facto capa_zes desculpas a todas as pessoas que cumpri-
desse tipo de comportamentos brutais e ram penas de prisão relacionadas com
odientos, quando foi revelado um vídeo cannabis (até agora 14 milhões de anos em
mostrando polícias de Los Angeles a es- tempo agregado), que tiveram de enfren-
pancarem selvaticamente Rodney King tar os tribunais, que viram as suas edu-
(acusado de excesso d~ velocidade e ten- cações, famílias e profissões despedaçadas,
tativa de fuga). Post_enorme~te, um teste e muitas vezes as suas vidas destruídas.
à sua urina revelaria vestígios de THC. Devemos também um pedido de des-
Gates continuou a apoiar os seus agentes culpas a docentes, polícias e juízes ho-
desde o espancamento até à altura dos nestos mas ignorantes, por não termos
motins. tido a coragem de erguer a voz e educá-
,. Reiner foi praticamente a única autoridade ofi- -los. Mas não são devidas desculpas aos
cial a apoiar Gates publicamente. líderes empresariais e governamentais
E.cn Julho de 1998, o czar antidroga que, motivados pelo lucro, agiram ilegal-
Barry McCaffrey, em i:nissão d~ recolha mente de forma a censurar e refutar a
de dados pela Europa, Juntou o insulto à verdade inegável do cânhamo.

155
O QUE A JUSTIÇA EXIGE possíveis que o cânhamo-de-cannabis -
de facto, a planta que denigramos com o
justiça exige nada menos do que o
A levantamento de todas as sanções
(criminais e cíveis) e a abolição das res-
nome de calão "marijuana" - tornar-se-
-á conhecido das gerações futuras, talco-
mo foi conhecido das gerações passadas
trições ao cultivo e uso - tanto fumado durante milénios, como a principal e
como não-fumado - desta mais notável mais abundante fonte de papel, fibra e
das nossas plantas. combustível existente à face da Terra,
Os p risoneiros a cumprir pena por
posse, venda, transporte ou cultivo pací-
ficos de cânhamo-de-cannabis devem ser
imediatamente libertados. O dinheiro e
os haveres apreendidos devem ser resti -
tuídos. Devem ser apagados os registos
criminais, concedida uma amnistia e pa-
HEMIWJIOPE NOT DOPE!

ga algum a espécie de compensação pelas


penas cumpridas. Estes prisioneiros da
cannabis são as verdadeiras vítimas deste
crime monstruoso contra a Humanidade
chamado "Guerra às Drogas'~
Em última análise, não serão aceitáveis
meias medidas.
Entretanto, devemos começar por
declarar uma moratória na aplicação das SMOKING!
leis sobre o cânhamo/marijuana. E deve-
mos proceder celeremente à. reparação e
expansão dos arquivos nacionais e registos
históricos sobre o cânhamo e os seus múl-
tiplos usos.
O QUE O LEITOR PODE FAZER
ensamos que, agora que o leitor con-
P seguiu um vislumbre adequado desta
história, tanto do nosso lado como do
lado do governo (ambos tal como os
vemos e tal como os média os projec-
tam), quererá juntar-se a nós levando esta
questão aos referendos estaduais e às le-
gislaturas deste país, no qual todos po-
dem exprimir as suas opiniões recen-
seando-se e votando da forma directa que
é estabelecida nas constituições dos nos-
sos Estados Unidos e estados individuais.
Ensinem o cânhamo a todos; falem
sobre ele - sempre. Procurem produtos
de cânhamo, peçam cânhamo - com-
prem cânhamo. Defendam o cânhamo. Autocolantes do movimento
Correndo o risco de repetição, volta- americano pró-<ânhamo. Cortesia
mos a afirmar nos mais enfáticos termos da Planet K

156
urna cultura anuaJm_ente renovável, total- O Cânhamo para a Vitória
ente sustentável e mdependente de pes- Libertem a nossa gente. Deixem a nos-
:cidaS que conta com mais utilizações do sa gente desenvolver-se. E que os nossos
ue qualquer outra planta. políticos nunca mais voltem a ser auto-
q por outras palavras, .º cânham_o-d':- rizados a impor fanáticas leis proibi-
-cannabis é a planta rnais extraordmána cionistas deste teor contra qualquer su-
que existe na Terra! bstância natural na sua forma natural.
Escrevam aos vossos representantes A democracia não funciona - nunca
le ·tos
l
e aos média n oticiosos para aju- - a não ser que seja honesta.
edar a criar uma liderança pol'1t1ca.
· 1:1alS
· E se a supressão do cânhamo é apenas
sciente e uma cobertura noticiosa um exemplo das mentiras com que os po-
con .. ânh lícias/burocratas americanos têm andado
favorável sobre a manJuana e o e a-
Recompensem os votos e as cober- a chantagear os seus patrões teóricos - os
mo. e á . .
as noticiosas 1avor veis, e queixem-se políticos eleitos e o público - entã.o esta-
tu:ando O resultado for negativo. Re~e~- mos metidos num lindo sarilho!
q · rn - se, candidatem-se a Jugares publ1-
se1e Procedemos a uma revisão tão exaustiva
e -votem sempre.1 quanto possível desta "guerra às drogas"
S
co:EJcijam ·· · de
que_ os ?ossos pns10ne1ros declarada contra o cânhamo-de-canna-
sciência seJam libertados, recompensa- bis/marijuana, e aquilo que vimos enoja-
rodn e honrados. São eles- e não a DEA ou nos. E apenas aqueles que possuem o co-
. os b'd nhecimento do cânhamo, e cujas portas da
a polícia - que mere~~m s~r redce 1 os
0 heróis, e como pns1oneiros e guer- percepção foram limpas, podem expulsar
coJil D u e receber todos
....1,..L"ta «Guerra às rogas, os patifes (os verdadeiros criminosos) dos
beneficios e dire1tos
raOCN ' dos ve t eranos. lugares que ocupam e reclamar as nossas
05
liberdades e o nosso planeta.
PENSEM NISTO: Concordamos pois com o rapazinho
do conto de Hans Christian Andersen

s e estes cidadãos "fora-da•lei" não ti-


ssem desafiado o governo e preser-
d 0 a semente doca· nh amo, o nosso go-
ve
va 0 e as suas políticas proibicionistas
que, ao ver desfilar a parada, gritou com
corajosa inocência:

~ernriam erradicado esta planta da Terra. ''O REI VAI NU!',


Já LOgo
te . - -
os heróis nesta guerra nao sao
i]J · ad-i Bennett, Nancy Reagan, Bill O QUE É QUE OS SEUS
W_ ~on a DEA ou o DARE. As vidas e OLHOS VÊM?
Cb.Il res , dos verdadeiros heróis devem
ha~fues devolvidas. Por terem desafiado O QUE Ê QUE VOCÊ
se~as leis tirânicas, essas pessoas devem TENCIONA FAZER SOBRE
es cordadas por cada um de nós para
serd re sempre. Pois . e /assalvaram a se- ISTO?
O O
,nen te que vai salvar o plat1eta!
to

1S7
O ESTADO DO REl'NO DO CÂNHAMO, 2000
ISTO AINDA NÃO ACABOU ... tima hora sobre a ue,umt~ luta para a
utiliza o legal do canhamo.
data é Setembro de 2000 e, ao fazer as
A tas apesar de tod as mudan ças po-
últimas alteraçoes a esta 11• cdi~.10, e siti,k.is que c,tâo a \'erificar-se actualmen -
12° epílogo, do Rei, de cubro-me a reflt:l.-
tc, parafra<eando Bob ~ lan, não pre-
tir de novo sob re todas as mudanças que
cisamo, que um mctrorologi ta n diga
ocorrera m desde 1985, q uando foi lança-
para que lado ~pm o ,,.ento.
d a a primeira edição deste livro.
tou aqui em Los Angele~ a meio da
A consciencialização obre o cânhamo
década mai quente jama1 regi tada -
a umentou dram aticamente de.sde então
- à vontade 10.000 vezes. Em 1985, para pa saram 9 dias on ecutivo d e um
além dos poucos artigos disponíveis na alor que bateu todo· o · reco rdes
loja do Capitão Ed e na min ha, nao ha, 1a mundiais. Tenho um charro de ma rijua-
p ratica mente nenhu ns p rodutos de c.a- na meda 3 na mão. Oe\·ido .\ arrogância
nham o à venda no mundo ocident.11, e indiferente do, cienti-.tas do go\'erno, o
eram tam bém escassos na parte oriental aquecimento global (',t.i a Jumentar d ia
do globo. Hoje, cm ctembro de 2000, a dia, m~ a mês, ano a ano.
inúmeros produlos de cânha mo são \Cn- Diz- que a camada de gelo do An-
didos em milhare~ de loja~ por toda a tártico, qut> contém 90 & <lo gelo mun-
Amé1 i_a, e m uitos miJh a re mai atra\'és dial. se est a derr ter 10 , ~zc, mais de-
do m undo, com mais lojas entrando pn:,sa do que e e,timava ha apenas 12
todos os dias na corrida do c.ânhamo. ª"º""· i)tO continuar ao ritmo actu al,
A var iedade de artigos à venda é qua,e dentro de 20 ano, o, no ,o oceano· n ão
tão ilimi tada quanto os uso~ do próprio ubirã ~na entrt: 30 cm a 1 m etro
câ nhamo: papel, ro upa, fibra, tecido , ma poderão ubir até 6 metro ! Remi-
xam pôs, cosmét icos, oleos corporai , m ncias do filme \\'aterworl,J!
lu brificantes de máqui11as, pla ticos e mto-mc profundamente l'ntri ·tecid o
uma grande variedade de alimento do e uh raiado o pen · r que t,ta d truiçã.o
mais elevado valor nutritivo. in cnsala e e ·ponen i I do no o meio
Penso com optimi mo que o medica- ambiente poderia ter ido interrompid a
mentos de cânhamo erão cm breve lc há muito tempo at , ou me-.mo evita-
gais a nível federal e se juntarao a e ta da, impl mente ul(\~.indo se d nha-
lista, pois eles já foram legalizado~ em mo para sati fa1.er no ~s ne1..e- idade
seis estados m ediante iniciativas de elei- em termo de papel. pl.isu,o . fibras e
tores, e num estado, o Havai, mediante energia, tal como o 10,erno do~ E.U. no
legislação estadual. acon •Jhou a fazer cm 1916, no Bulleti,r
Empresas internacionais como a Bod}' 404, página: 150- 155, na rt:va, tJ Popul,ir
Shop, com as suas cerca de 1600 lojas, J\1tclianic de ft>vereiro de 193 • e, em
apostaram em larga escala n o cânhamo, 1942, no filme de propJgdnda militar
e fa bricantes com o a Hanf Haus, a Two 1-lemp For Victory~ realizado pelo Depar-
tar Dog, a Headcase, a flemp tcad e a tamento de Agricultura dos E. U.
Hempy's, entre outros, adquirem maior Em 1970, o princip is média tolera-
proemincncia a cada dia q ue passa. ,·am obran dramente gan1a. A ultura
Revistas como a I ligh T;mcs, a Ca111m- juvenil e ta\'a ~m en ,.10 e os h umilde·
bis Culture (Ca nadá) e a Hrmf (Alema- pareciam destinado a herdar J terra do
nha), etc., publicam informaçoe de úl- complexo milit r-indu tria.1. Por ,olt.i de

158
1 983.o capilalismo avarento e incons- quinto dos gastos na construção de
ciente da "geração eu" fizera retroceder a prisões. Os Estados Unidos da América
onda humanista. (a Terra da Gente Livre) têm apenas cin-
Em 1978, após 202 anos de nacionali- co por cento da população mundial. E
dade, havia cerca de 300.000 americanos todavia, de todas as pessoas encarceradas
em prisões estaduais e federais e outros pelo mundo fora, 25 por cento estão
1 50.000em prisões municipais (para encarceradas nos E.U. ~ taxas estão
todos os crimes). Havia apenas 45.000 notoriamente desequilibradas.
guardas prisionais em todo o país; apro-
xiJnadamente um guarda por cada 10 QUE ESPÉCIE DE SOCIEDADE
prisioneiros. Nessa altura, a construção PREFERE CONSTRUIR PRISÕES
de escolas e universidades era uma prós- EM VEZ DE ESCOLAS?
pera indústria. cm expansão.. Gastava-se
pelo menos cmco vezes mais na cons-
trução de escolas do que na construção Em-se por encher
os tribunais estão a esforçar-
2000,
as celas das prisões -
literalmente atafulhá-las - mais depres-
de prisões.
De súbito, espantosamente, em 1978, a sa do que podem ser disponibilizadas.
nova liderança sindical dos guardas pri- Em média, consumidores de drogas nor-
sionais e as associações de funcionários malmente não-violentos estão a ser de-
correccionais transformaram o co rpo de tidos (dependendo das leis estaduais
guardas previamente ineficaz num dos individuais) por períodos 2, 3 e 4 vezes
grupos de lobb)'i11g mais poderosos, e em superiores aos verificados em 1978, e 2, 3
alguns estados o mais poderoso, do país. e 4 vezes superiores aos que cwnprem os
o que a nova liderança de guardas rei- prevarica dores violentos no respectivo
-vindicava em 1978 eram sentenças deter- estado.
minantes cada vez mais pesadas para Em Novembro de 1996, a Califórnia
crimes cada vez menos s~rios, e a virtual aprovou por 56% dos votos a Iniciativa
abolição de periodos de liberdade concli- sobre Marijuana Médica (Proposta 215),
dona1 a conceder por bom comporta- mau grado as contínuas solicitações em
mento, de forma a assegurar-se o rápido sentido contrário feitas na rádio, TV, jor-
crescimenlo das populações prisionais. nais e revistas pelos presidentes Ford,
Este desejo seria concretizado nos anos Carter, Bush e Clinton, juntamente com
Reagan. Nancy Reagan e o General Barry McCaf-
Nos últimos 22 anos, estes poderosos frey, que palmilhou o estado implorando
sindicatos de funcionários correccionais aos californianos que rejeitassem a medi-
tornaram-se o maior contribuinte indi- da. Apesar dos seus esforços, a medida
vidual dos legisladores estaduais - e em foi aprovada, dando origem a inúmeros
grande medida do Partido RepubJicano. clubes de cultivadores de cannabis, os
.Agora, em 2000, mais de 1.500.000 pes- quais foram quase todos encerrados, nu-
soas estão encarceradas e 600.000 sob ma altura ou outra, pelo governo federal,
rcgjmes de dete11çao, e o sistema penal em descarado desafio da lei estadual e da
sustenta 250.000 gL1ardas prisionais, cer- vontade maioritária do eleitorado da Ca-
ca de I guarda por cada 8 prisioneiros! lifórnia! Hoje, a maioria destes clubes
Nas últimas duas décadas, a constru- reabriu após terem incorrido em enor-
ão de prisões e o emprego 110 sistema mes despesas legais.
~risionaJ têm ~gurado entre os sectores Em Novembro de 1998:
de rnruor cre:,nmento nos E.V., enquan- Os eleitores do Alaska, de Washington,
to 05 gastos federo is e estaduais em novas do Oregon e do Arizona (estes pela se-
escolas decaíram para menos de um gunda vez) aprovaram por larga maioria

159
dólares, egundo a qual ne-
nhuma ,erba de qualquer
proveniência poderia ser usa-
da para contar o votos da Ini-
ciativa obre ~larijuana Mé-
dica de \'\'a hington, D.C.
Num epi ódio em prece-
dentes em toda a história
americana, o representante
Barr e o lcgi !adores de pen-
dor fortemente republicano,
tanto da Câmara como do
enado dos E. U. 1 ordenaram)

Alguns dos muitos produtos recentes de d~ forma deliberada e cons-


cãnhamo, incluindo rebuçados, cosmético s, papel ciente, que não fo em conta-
de escrita, bebidas, óleo alimentar, deterge nte e do voto~ nwna eleição ame-
filtros para café. rica na. Incrível, inaceitável,
impensável. finalmente, um
Iniciativas sobre Marijuana Médica se- juiz federaJ ordenou que os
melhantes à da Califórnia, a qual foi votos expresso no Di trito de Colúmbia
aprovada em Novembro de 1996. em ovembro de 1998 fo em contados
O Nevada aprovou em 1998 a primeira em Setembro de 1999~ quase um ano
de duas iniciativas eleitorais sobre mari- depois, e a medida foi aprovada oficiaJ-
~u~~a ?1édica. (A lei do Nevada obriga as mente por 69 por cento do votos. Em
m1c1at1vas a vencerem duas vezes.) A Outubro de 1999, o repre entante Barr
próxima iniciativa eleitoral decorrerá em pediu aos legisladore republicanos que
Novembro de 2000. t voltassem a recu ar-se a permitir a
A marijuana médica venceu também implementação da lei.
no Colorado, c ujo secretário de estado se Em 30 de Junho de 1997, a legislatura
recusou porém a certificar a petição) ale- votou no cotido de acabar com 24 anos
gando dúvidas sobre os métodos de an- de descrimmalização e recriminalizar a
gariação de assinaturas. Em Junho de cannabis por tão pou o como a pos e de
1999, o Supremo Tribunal dos E.U. de- uma emente. Em 3 de Junho de 1997,
cidiu que a angariação de assinaturas de- após ter promulgado "relutantemente" a
correra legalmente. O secretário de esta- lei, o governador "democrata liberal" Ki-
do do Colorado foi obrigado a submeter tzhaber di e: "A ho que esta lei tem mais
a iniciativa a um novo s ufrágio no a ver com busca e confi co do que com
plebiscito de Novembro de 2000.tt uso de marijuana': Em 4 de Junho de
Washington, D.C., sufragou uma Ini- 1997, no acampamento do Encontro
ciativa sobre Marijuana Médica muito acional do Rainbow realizado no le te
abrangente. Porém, no final de Outubro do Oregon, uma série de activistas da
de 1998, o representante Bob Parr ( repu- marijuana/canhamo, induindo eu pró-
blicano da Georgia) acrescentou uma prio, Jack Herer, entraram com a verba
emenda a uma lei de despesas extraor- necessária para contratar angariadores
dinárias orçada em 200 mil milhões de de assinaturas para um referendo de ti-
nado a impedir que a marijuana fosse
t A iniciativa foi aprovada, com 6]'% dos votos a
favor e 33% contra. (N. do T.) recriminalizada. O Oregonia11 de Port-
tt A iniciativa foi aprovada, com 53% dos votos a land, o maior jornal do Oregon, predisse
favor e 47% contra. (N. do T.) inicialmente, a partir de ondagens que

160
;...,,..r a, que perderíam os por uma mar-
- 1 Havai aprovou uma lei visando eliminar
re~ b. . a nível estadual as sanções c riminais con -
ern de 2 a 1. O nosso ~ Jectivo era an -
g iar assinatu ras su ficientes, cerca de tra pessoas seriamente enfermas que
gar . . d e
o 1 nos 87 dias seguintes, e 1orma a usam marijuana com a aprovação do seu
100.
an ul
ºº •
ar o voto da legisla tura e a assm a tura
d .
médico. É o primeiro uso deste tipo a ser
do governador, manten o a_ss1m_ a_ can - pro mulgado pela legislatura de um esta-
do ao invés de uma iniciativa eleitoral. O
nabl·s d escri mi nali1ada atéOa eletçao .
de
Govern ador do Havai, Benjamin J.
,,,.,. embro de 1998. O regolllan, o
i.,...ov d' . . Cayetano, promulgou a lei em 16 de Ja-
rnaior jornal do Orcgon , pre 1sse o n g1-
nal.Jnente, baseado na suas sondagens, neiro d e 2000.

que n ós perderíamos . por uma m a rgem SENSO COMUM É TENDÊNCIA


de z p ara 1! a realidade, ganhámos por
MUNDIAL
urna margem de 2 para 1, derrotando a
. _
recrirn inahzaçao. . m 6 de Julho de 2000, o parlamento
Ern 2 de Novembro de 1999, o eleito- E português votou no sentido de d escri-
rad o do M aine aprovou, po r uns . . esma-
.. minalizar o consumo de drogas ilegais
a o r es 61 po r cento, uma in1c1at1va tais como a cannabis e a heroína, e tratar
d . ..
g ·toral destinada a lega 1iz.ar a manJua-
os utilizadores de drogas como pessoas
e l e1 édi ca no estado med'tante a reco -
enfermas caren tes de aj uda m édica. Até
na rn 1' . A ..
rnendação de um c mico. man Juana agora, as pessoas condenadas por posse
édica é agora legal em toda a Costa de pequenas quantidades de drogas para
.rn e a Costa Leste começa a seguir-lhe uso pessoal podiam ser condenadas até
oeste
o exemplo. nh " L'b um ano de prisão. A Espanha e a Itália já
:N Alaska, a ca mpa a I ertem o descrin1inalizaram o consumo e posse de
,, ~amo no AJaska", liderada por A1 An - pequenas quantidades de d.rogas.
ca
ders, ro de
a presento u no plebiscito de No -
• ·· · b Na América, embora a nível estadual
b 2000 uma rn1 c1at1va a ran- se tenham verificado mudanças legislati-
vernte sobre ca nnab'1s1ca nhamo / manJua-
A ..
vas sobre a marijuana médica, apa-
ge;,
o
a qual legalizari~ .compl~t~m~nte to -
u sos industria is, med1cina1s e nu-
rentem ente a implem entação e interpre-
dos O .
tação destas mesmas leis está a ser feita a
. . nais da cannab1 e o seu uso pes- nível municipal. Cada município parece
toc10 . d
eUgioso ou rec reativo p or parte e estabelecer o seu próprio nível de to-
1
s~~t~s, em qualquer ~uantidade e por lerância e parâmetros de acusação.
ª
q. ua 1q uer motivo . Simultaneamente,
· 'á ·
Por exemplo, apenas na Califórnia, te-
ertaria das cadeias e pemtenc_1 nas to- mos condados como Oakland permitin-
bb pris io neiros por cannab1s, e a nu- do o cultivo de 144 plantas, Arcata 44
dos. o 5 regimes de pena suspensa ou
05 plantas, Tehama 18 plantas, lista esta que
J~r•:dade condicional por qualquer cri- se prolonga quase indefinidamente.
übe - o - violento relacionado com ma- Desde a aprovação da Proposta 215 na
~e na . . . l
, .. ~ limpando o registo cnmina Califórn ia, as detenções de utilizadores
· ·uana, .
nJ pesso as. Entregue em 7 de Janeiro não-médicos de marijuana por posse e
dessas a petição foi certificada e inclui- cultivo aumentaram 12% relativamente
d e 200O)e' biscito marcado pa ra o m . í . d
cio e aos elevados níveis anteriores, os quais já
da º~eto d e 2 000 . Cabe ao eleitorado do haviam batido todos os recordes.
fevel<a decidir em Novembro de 20 00.t Os en fermos con6nuam a ser perse-
AJ~srn 25 de Abril d e 2000, o Senado do guidos em virtude do medican1ento q ue
. . t'ava foi derrotada, com 41% dos votos a escolhem. Eis a história de um amigo
Í.flJCl:l
<t
A % contra. (N. do r. } meu. Estou certo de que todos conhecem
fa~or e 59

16 1
histórias semelhantes. Porque a perse- obtenção de marijuana m dica seria
guição dos inocentes continua, devemos moroso demais para -.er de algu m benefi-
defender os nossos direitos mudando as cio. "'\a realidade, embora a marijuana
leis. ajud~ de facto Todd. o con elho dos
médico foi moli\·ado pdo receio da lei
A QUALIDADE DE VIDA NÃO federal, das pcrsegu1çõe , m ultas e
DEVE SER NEGADA AOS ameaças aos ~~ diplomas médicos e ga-
DOENTES E MORIBUNDOS! nha-pão a que: se am!,C3\-am e recomen-
da!>~m o mo de marijuana. Quando a
odd McCormick, 29 anos, padeceu de mãe de Todd ~ afastou, um médico abor-
T cancro entre os 2 e os 15 anos, o que re-
sultou na fusão das suas cinco vértebras
dou-a a perguntou-lhe se ela conseguiria
arranjar mais marijuana? Ela ficou con-
superiores. Em 1978, quando Todd tinha fusa, pensando que tah ez ele qui es e al-
9 anos, Ann McCormick, a sua mãe, leu guma para 1, mas r, pondeu afirmativa-
na coluna «Médico de Familia'' da revista mente. O méd1co disse-lhe então para
Good Housekeeping sobre o uso de mari- continuar o que e lava a fazer e manter
juana em casos de gJaucoma e por parte total di5cri<.,ão sobre o a· unto! Foi exac-
de padecentes de cancro submetidos a tamente o que ela fez. A partir d e dia
quimioterapia. O artigo aftrmava que a Todd u~u marijuana p.ira aliviar a sua
marijuana ajudava a eliminar a naúsea e dor e !->OÍnmento.
que estimulava o apetite. Estes eram os Em 199-. em Bel Air, Califórnia, Todd
sintomas de 1bdd! Ele não conseguia emoheu-~ numa ex.periên ia utilizando
comer porque se sentia enjoado, a comi- muitas ,ruied.ad~ de cannabis para de-
da agoniava-o. e a falta de comida en- terminar a eficácia de difera1tes varie-
fraquecia-o. dades da planta no tratamento de diver-
Passados alguns meses, como o~ tumo- sas dores e doenças, bem como as fase do
res de Todd voltassem manifestar- e, a cre cimento e pJrte!i da planta mais
quimioterapia recomeçou. Após um de - promd~orns (p. e., ant da floração, de-
tes tratamentos, Todd e a mãe iam a ca- poi da flora ão. no estado vegetativo?,
minho de casa quando ela dis e ao 5eu das raiz ? da -.emente? em que idade da
desanimado filho pa ra se estender no planta? E a5,im por diante), e quais os
fundo do carro e fumar um harro. Te- produto quimi,<.1' pr~nte na planta de
nha-se bem presente que à época Todd cannabi (p. e., os c.in nabfoóides, o ácido
tinha apenas 9 anos. Chegaram a casa e, c.annabidi6tico. o tctrahidrocannabinol,
pela primeira vez, Todd con eguiu sair etc.) que eram dotado de acção terapêu-
do carro sozinho e caminhar até casa tica. Todd anda\-a a e rever um livro
apoiando-se em muletas. Então entou- met iculo.ament documentado sobre
-se à mesa e comeu o jantar! E tava de este assunto quando foi pre o pela DEA
facto com apetite! Há muito tempo que c m 29 de Julho de 1997, acusado de con-
não sentia tal coisa ... spira ão fedrnil e manufuctura (cultivo).
No dia seguinte, após o tratamento, Em 3 de , 'ovembro de 1999, no Tribu-
Ann voltou a instruir Todd para se esten- nal Federal de Lo~ Angelc , o juiz George
der no fundo do carro e fumar um char- H. King m:gou a Todd kConru k qual-
ro de mar-ijuana. De novo Todd eviden- quer po tbilidad de d~fc ·a ba eada na
ciou os mesmos resultados. Era a mari- necessidade médica, de modo que em 19
juana! ExuJtante, a mãe de Todd foi ter de TO\embro de 1999 Todd admitiu- e
com os médicos para lhe contar o que se c ulpado, e e-m 27 de ~L.uço de .2000 foi
passara. Eles n ão se pronunciaram. infor- condenado a cinco anos de detenção
mando-a apenas que o processo de pruão federal de Terminal lsland, onde

162
actualmentc cumpre os seus
cinco anos enquanlo aguarda o
resultado de um recurso judicial.
Além disso, cm Julho de 1998, o
editor de Todd, Peter McWil-
Jjams, autor de 35 livros (cinco
dos quais figuraram na lista dos
mais vendidos do New York Ti-
m es), que padecia de SIDA e can-
cro desde 1996, foj também preso
pefa DEA, alegadamente por
conspirar para subsidiar a "ope-
ração" de marijuana de Todd,
produzindo-a com intenção de a
vender a clubes de compradores
locais, tudo o qual - caso as acu-
sações fossem verdadeiras -
teria constituído a sua prerro-
gativa legal no interior do estado Foram atribuídos actos viole ntos à
da Califórnia. Mas McW.illiams marijuana.© 2000 John Jonik.
afirmou pcremptoriamente que
nu nca cultivara marijuana nem
realizara lucros com a venda de um único postas _para a sua libertação condicional.
charro, o que foi confirmado por todos os A qualidade de vida não devia ser negada
aos doentes e moribundos!
seus associados, e mesmo por inimigos
Em 9 de Agosto de 1999, a DEA solici-
seus. tou à Alfândega dos E.U. que apreendes-
Peter foi forçado a solicitar um compro-
rnisso, e devia ser sentenciado cm Julho de se todos os carregamentos de semente de
:z.ooo, enfrentando uma pena de o a 5 anos, cânhamo, ou produtos seus derivados
sern direito a recurso. Em 14 de Junho de na fronteira com o Canadá, e os testass~
para detectar qualquer THC ou elemen-
2000, Peter McWilliam faleceu.
De acordo com as condiçõe da sua to_ re!idual de THC (p.e. 10 partes por
libertação condicional (a qual foi garan- milhao). Isto gerou o caos nas empresas
tida pela hipoteca da casa que pertence à do ramo das sementes de cânhamo le-
sua mãe há 50 ano ), Peter foi obrigado a ~ando à falência algumas delas devid~ ao
abster-se do uso de marijuana, que era 0 impact~ financeiro causado pelas
único medicamento capaz de aliviar a apreensoes.
náusea causada pelos tratamentos que _ Todos os carregamentos passaram en-
fazia por causa da IDA e do cancro. Sem tao a ser apreendidos pela AJfândega dos
fumar marijuana, Pcter, juntamente com E. U. ~m Dezembro de 1999, os políticos
centenas de milharc antes de si, mal americanos conseguiram anular a or-
conseguia impedir- e de vomitar os dem, e a Alfândega concordou em não
"cocktails" quimioterápicos que era obri- ret~r o~ produtos contendo elementos
gado a engo_li_r diariamen~~- Porque não res1~ua1s ~e THC, tais como xampôs,
lhe foi perm1t1do usar manJuana médica, sab~?, raçoes para aves, substituto de
adoeceu e acabou por sufocar no próprio que1Jo, etc. Os produtos foram desem-
vómito, morrendo ubsequcntemente. bargados em teoria, mas mantiveram-se
:Num certo sentido foi assassinado pelo nos arma~ns da Alfândega dos E.V. Em
governo em virtude das condições im- 12 de Janeiro de 2000, o czar antidroga da

163
Casa Branca, Barry McCaffrey, imp6s-se miado "Cannabi-., a Pro,·as Científicas e
à DEA, que suspendera a sua a1egaç.io ~.féJiL~-." ( 9° Relatório, Documento 151
para embargar os carregamento , e orde da., ~ ,õe:-. de 199;~9 da Clmara do
nou pessoal1nente à Alfândega que apre- Lordb,, fez rccomendaçõ no entido
endesse todo e qualquer produto conten- d~ .. rem empreendido urgen temente
do mesmo quantidades re 1duai de te..tes dfni o da \;annabis para o trata-
THC. Segundo Barry McCaffrer. tole- mento de esdero,e mühipl,1 e dor cróni-
rância zero é tolerância zero, embora fo - ca-: acr6Centando que ..o gm emo deverá
sem precisos 20.000 quiloc; de semente dar passo no senlido de tr.iruferir n can-
de cânhamo para se obter TH C equiva- nabis e a resina de cannabi da CIJu ula
lente ao de um charro. 1 para a Clál.15ula z.. dt forma a permitir
que o, clinico, receitem preparações
O CÂNHAMO CONFUNDE OS apropriada.5 de C'Jnnabi embora como
TESTES À URINA reml~io não-licenciado e com ba e nas
d~nça~ rcíerid.i e que o - clínicos e far-
egundo o genera] McCaffre,·, me-
S diante testes à urina e ao cabelo de
candidatos a empregos, empregado •
maccuti o, fom am a droga receitada':
1ancendo- linhado com J. política e
prati .i do E.U., o go,·emo do Reino
condenados em regime de liberdade
nido rejeitou o relat rio do - Lordes.
condicional ou pena suspensa, e reclu-
Ap r da rcjci ão inicial, ~m Abril de
sos, é poss(vel determinar se e tas pt -
2.000 liH?ram inf io o te te cbnico de
soas con1em semente ou rebuçados de
di,· rsa forma.., de ...1.nnabts no trata-
cânhamo ou mesmo se u am xampô de
mento de dores roni\.~L
cânhamo. A racionalinçao de McCaf-
Em far o de 2000. J. recomendaçõe
frey para a proibição de produto de
da Câmara do Lorde foram onfir-
cânhamo é que eles invalidarão o ac•
mada, ~Jo anuncio teuo pel.i Pharmo.,
luais procedimenlos de despi tagcm de
uma empre famuceutic.i i ·raelita, de
THC ao criarem resultados falsamente
positivos.
que o de nabinol. um con t1tuinte da
marijuana, pode prot ~r a celuJa ere-
Como as empresa:> ga tam núlhoo de
dólares em detectore de drog~. o. qu.ús brai uJ \'tb ap6. um.1 trombo e ao
deixarão de serão fiáveis, nega-~ ao públi- bloqu~r a produ ao de glutamato, um
co americano aquela que e a mai~ saudá,· 1 ncurutr n mi r veneno .
~ 'o lrutítuto 1 a ional de uJe ~1 ntal
de todas as fontes alimentar\.: • além da
melhor fonte de papel, combusth el e fibra
d E.U. ( f)Mt-1), ~m ~tarrland, uma
existente na Terra, enquanto outras naç cquiPJ lidtmda pdo bi logo de origem
...estão a fomentar o uso desta benção divina bri nica Aidan I lampson d~obriu que a
melhorada pela Nature--1.a para ~ de seres a o d d i, componenl JCtivos da
humanos e aves. cannab' • . comp(ht · hamJd THC e
A pesquisa positiva obre a marijuana cannabid.i l. imped-.: a - rrencia de lesões
foi deliberadamente proibida nos Esta• ffll cultu d teci<l '.-. en'br..us. (Ham-
dos Unidos desde Dezembro de 1976. n1 .J., rt ut 199 . nnabicliol e o
Outros países no mundo otão a con - te1rahidrocannabin ll 10 antioxidantes
tatar os beneficio médicos da marijuana
e tomaram consci~ncia de que as p qui-
sas devem continuar.
Em n de Novembro de 1998, o Comit
Selecto da Câmara do Lorde ~obre
Ciência e Tecnologia. num ralató rio inti•

164
O ÚLTIMO TABU: A MARIJUANA E A CRIATIVIDADE
início do século XXI está a ser pouquíssimo auspicioso para os proibicionistas
O da marijuana. Acossados por todos os lados, vêem agora concretizar-se aque-
le que st!rá o mais ~ss_u~tador dos espectros que os asso1nbrarn: a cannabis como
estimuladora da cnatJv1dade. De facto, segundo revelaram recentemente as agên-
cias noticiosas, dois incontestáveis expoentes dessa faculdade tão estimada, Wil-
liam Shakespeare e Carl Sagan, fumavam cannabis precisamente com esse fim.
No caso de Shakespeare, uma investigação conduzida pelos cientistas suJ-afri-
canos Frances Thackeray e Nick van. der Merwe revelou vestígios de cannabis e
ouLras drogas nos cachimbos que o Bardo fumava, ao que tudo indica para se
inspirar. Mas estes investiga~ores vão mais ~on~e'. acreditando que há indicios
estilísticos do uso de cannab1s no trabalho literano de Shakespeare - além de
referências a uma "erva renomada" e a <(estranhos compostos"-, argumentan-
do ainda que o uso de ca nnabis pode ajudar a explicar a enorme produtividade
do maior escritor anglófono de sempre.
Quanto ao famoso astrónomo e escritor Carl Sagan ( Contacto, Cosmos), fale-
cido em 1996 aos 62 anos, a revelação de que era um "ávido'' fumador de mari-
juana surge na sua biografia Carl Sagcm: Uma Vida, da autoria de Keay Da-
vidson. Segundo esta, em 1971, sob o pseudónimo de "Mr. X", Sagan escreveu um
ensaio para o livro Marijuana Reco11sidered, no qual con sidera que, além de in-
tensificar a sua experiência alimentar, musical e sexual, fumar cannabis foi
responsável por inspirações que se saldaram_por algum do seu melhor trabalho
intelectual - · concretamente a sua obra maJs consagrada, Os Dragões do Eden,
que em grande medida terá sido influenciada pela marijuana.
"( ... ) a ilegalidade da cannabis é ultrajante, um impedimento à completa uti-
lização de uma droga que ajuda a produzir serenidade e inspiração, sen sibilidade
e camaradagem, as quais escasseiam desesperadamente neste mundo louco e pe-
rigoso'', escreve Sagan em Marijuana Reconside_red. _ .
A viúva de agan, Ann Druyan, pertence à direccçao da NORML, o mais cre-
denciado grupo advogando a legalização da marijuana.
- texto de Luís Torres Forites, para a edifãO portuguesa (Março de 2ooi).

neuroprotectores; actas da Academia Na- mata as células cerebrais após o alojainen-


cional de Ciências 95, 7 de Julho.) to do coágulo sanguíneo.
Os resultados sugerem que o cannabi- Cerca de 600.000 americanos sofrem
djol poderá vir a ser us~do no tratan~en- tromboses todos os anos, enquanto a nível
to de outras perturbaçoes neurológicas, mundial mais de s milhões de pessoas são
t~is como as doenças de Parkinson e de vitimadas anualmente por tromboses,
Alzheimer. traumatismos cranianos ou outras con-
o NIMH informou que o fumo de ma- dições associadas à morte de células cere-
·;uana é o único medicamento actual- brais. Dos 5 milhões de casos, cerca de
~ente conhecido na Terra capaz ~e evitar 350.000 ocorrem durante ou logo após
completamente as lesões cerebrais resul- uma operação, devido ao espessamento do
tantes de tromboses, (1) ao causar o alarga- sangue e à diminuição do ritmo metabóli-
mento das artérias e permitir que virtual- co resultante da anestesia, etc. E todavia,
ente qualquer coágulo flua inofensiva- dar uma única passa num cigarro de ma-
:eote através do cérebro, e (2) ao impedir rijuana logo após wna trombose pode
a produção de glutamato, que envenena e impedir as severas lesões que são suscep-

165
The Adventures of the Fabulous Furry Frea:k Brothers, por G flbert Shelton ©.

tíveis de ocorrer. Mesmo a "erva bra, a.. do a erv:i pãra o estrago em cima da hora.t
Iowa eliminará os efeitos secundários em Em tarço de 1999. o Relatório do Ins-
95% das trombose , reduzindo pratica- tituto de Medicina (IOl\l) afirmava que
mente a zero a paralisia, perda de fala e não existe l&qualqucr alternativa Iara pa-
coma decorrentes. As tromboses são a ter- ra as pessoas ~frtndo de enfermidades
ceira causa de morte no Estados Unido . crónicas pass1,eis de r aliviadas fu-
Cerca de cento e cinquenta mil pe oas mando-~ mari,uana, tais como dores ou
morrem por ano nos Estados Unidos co- a debilidade causada peb IDA"!
mo consequência de trombose ou om- O ponentes da manjuana médica
pJicações delas derivadas! Este número têm vindo a afirmar que eh1não devia ser
poderia ser teoricamente redu1ido para usada medicamente por ·er ..viciante':
7500 mediante o uso de marijuana médi- Este argumento e completamaite irrele-
ca. Outras 150.000 pessoas ficarão parali- \"'aJlte, dado que na medicina usam-se
adas, total ou parcialmente, e de\'erão muitas droga-. altamente , iciante . Mai ,
usar bengalas ou muletas. Tudo porque no u r~latório. o 10 '( informa que o
não tiveram acesso a um charro logo a potencial ,·iciante da marijuana não é
seguir à trombose. A marijuana é o unico ignificath·o. a inalando que "poucos
remédio na Terra que PÁRA as lesõc utili1,adort»S de marijuana de em,olvem
:::correntes de uma trombose, em cima depend~ncia. ç se h.i intomas de .1.bsti-
hora, em um segundo! Os medica-
.:. 1
nê'ncia des o leve e pa. sageiros".
~1entos agora usados demoram ds ho-
·:-is ou mais a começar a agir, e por ~ a
A TEORIA DA CHARNEIRA É UMA
_tura os estragos já foram feilos. TEORIA SOCIAL
Por outras palavras, quando se de cn- relatório do 10~1 afirmava também
:.1deia uma trombose, pouca~ le óe
ocorrem; as Jesões severas devem-se à
permanência prolongada do coáguJo. e só
t Em Março de 2001, a empre<.a israelita Je b1c.11«-
º queua teoria da charneira é uma teoria
S<XiJJ.l to ug requeasqualidad furma-
cológi da nnabis!marijuana não a
tornam um fo tor <le risco em termo de
nologia Pbarmos a11unciou a 1dtntifi~o imineme progre-ssão para o uso de outras drogas. Ao
de um novo compoSlo de c.innab~\ que.- é -,,nco a in,·c: é o Laruto lq;al da marijuuna que a
dez vezes mais efka;, ·• para trombo!>CS do que o dc- toma uma droga- ha.meiri!': Por outras
xanabi nol ~intético que a companlu_á e-ui ~ dn.c:n·
volver, o primeiro medicamento pMJ tratar trawm-
pala\'ra a ,-erdad ira ._chameü··..l" para as
tismos c~rebrais. Ambos os compo!>to., rnimc:-1iwn drogas dura., é a proibi o da marijuana, e
os efeitos da cannabi) natwal. ( do T.) não a marijuana!

166
O [OM di l também que, apesar de impacto da droga na execução. O com-
investigações consideráveis, não se de- portamento que evidenciam é mais ade-
monstrou que a marijuana ocasione quado para a sua incapacitação, enquanto
lesões imunológicas em seres humanos. os voluntários que receberam álcool ten-
Apesar da sua obsessão com os perigos de dem a conduzir de forma mais arriscada'~
fumar, o I0M foi obrigado a a~_m itir q~e Smiley diz que os seus resultados de-
ainda não se provou que a manJuana seJa v iam ser considerados pelas instâncias
causadora de ca ncro do pulmão, ou qual- que estão a debater testes obrigatórios de
uer outro tipo de tumor maligno. d espistagem de drogas para operadores
q Alison Smiley, investigador da Univer- d e equipamento de transporte tais como
idade de Toronto, realizou um estudo condutores de camiões ou comboios, ou
:nostrando que a marijua~a _não contribui a descriminalizaçã.o da marijuana para
ara. os acidentes rodoviános. A mono- uso médico. "Existe a suposição de que,
prafia com as descobertas de Smiley foi por a marijuana· ser ilegal, ela deve au-
g presentada num simpósio da Academia mentar os riscos de acidentes. Devemos
~ericana de Medicina Legal realizado na porém ater-nos aos factos".
Florida em Fevereiro de 1999, sendo poste- Uma equipa liderada por cientistas da
.orrnente publicada em Health Effects of Universidade da Califórnia em San Die-
~arinabis, uma edição do Centro para a go (UCSD) revelou a predominância de
Toxicodependência e Saúde Mental de To- receptores de cannabinóides na retina,
ronto, em Março de 1999. . . indicando um papel importante dos can-
Investigações recentes, reahzada~ em d1- nabinóides, uma familia de compostos
r sos países, sobre o nexo entre mcapa- que inclui os componentes psicoactivos
ve d
·ração para con uz1r . e ac1'dentes rodo- da marijuana e do haxixe, na função reti-
c1 .. d
·, rios mostram que a manJuana toma a nal e talvez na visão em geral.
Vl:jnha em quantidades moderadas não No número de 7 de Dezembro de 1999
so rnenta significativamente os riscos de das Actas da Academia Nacional de
au b . fl ,. . Ciências (PNAS), os pesquisadores da
UJ11 condutor so a sua 111_ uencia caus~r
ril acidente - ao contrán o do álcool, diz UCSD d escreveram pela primeira vez a
~o:úley, que é profess~r-adju~t~ no ~epar- distribuição específica e efeitos na fun-
tarnento de engenharia me~~m1ca e _m ~us~ ção retinal dos receptores celulares pro-
·al. Enqua11to fumar mariJuana d1mmw teicos que são activados pelos cannabi-
dtrl facto a capac1'dade de con d uçao,
- nao- nóides. Estas descobertas poderão vir a
e rtilha o efeito que o álcool tem sobre o revelar um elo perdido nos esforços que
~~ ce.rnime11to. Os condutores sob o efeito visa1n decifrar a complicada e fascinante
dJS :rnarijuaJ1a mantêm-se conscientes da maquinaria através da qual a retina
e incapacitação, o que os faz abrandar e tiansforma a luz em informação signi-
5
~ ar mais cuidadosamente para compen- ficativa para o cérebro.
~, explica Smiley. No número de Março de 2000 da revista
Nature Medicine, uma equipa de investi-
"Os riscos para a segurança gadores das universidades Complutense e
rodo-viária de conduzir sob o efeito de Autónoma, em Madrid, Espanha, divul-
marijuana são exagerados': gou as conclusões de um estudo realizado
- Alison Smilcy, Universidade de Toro11to em ratazanas e ratos, anunciando que o
ingrediente activo da marijuana chamado
''f\I11bas as substâncias incapacitam a THC matava células infectadas com tu-
ecução': diz Smiley. "Porém, o comp~r- mores em casos avançados de glioma, uma
eJC!ento mais cauteloso dos voluntários rara variedade de cancro maligno que até
tarn eceberam martJuana
.. L. d
rnz ecrescer o agora foi 100 por cento fatal.
que r
167
Os investigadores injectaram os compos- vida que cja, ou mesmo melhorar a
tos activos, chamados cannabinóides, di- qualidade de vida de qualquer ser
rectamente nos cancros cerebrais. Manuel humano, e.ste med icamento deve ser
Guzm án , o investigador principal, diz: estudado. Devemo lançar borda fora
((Observámos um notável efeito inibidor do todos os ano de falsa 1n formação e de-
crescimento dos tumo res': O THC er- sinfom1açao e buscar a verdade.
radicou os tumores cerebrais num terço luit.1.5 pessoas garantiram-me que an-
dos ratos tratados, e tes de usarem mari-
cerca de um terço juana como medica-
deles viveram "signj. mento sentiam que
ficativamente mais e~tavam a morrer de
tempo,, do que os SIDA ou cancro, e
ratos a quem não foi todavia com o uso de
administrada qual- marijuana como me-
quer droga, alguns até dicamento sentem
três vezes mais. que estão a viver com
Os estudos labora- cancro o u IDA.
toriais mostraram o ano 2000 , ape-
que o THC matava as ar de muitos acon-
células do glioma, Dançando no túmulo da proibição
tecimentos no hori-
deixando as células da cannabis. Foto de Pete Brad.
zonte do cânhamo
cerebrais normais in- cortesia da Cannabis Cult ure.
parecerem promete-
tactas. A droga cau- dore~, a intransigên-
sava a acumulação de urna molécula gorda cia do governo e da DEA em manter te-
chamada ceramida, a qual provocava uma nazmence as lei ab urdas e opressivas
espiral mortífera nas céluJas cancerosas. que An linger promulgou em 1937 con-
Guzrnán, que testou o THC em do es 1inua a infligir dor e ofrimento a todos
muito baixas e numa fa e tardia do o americano , ape ar de uma ondagem
tumor, quando os ratos não-tratado co- recente da C ', 1 indicar que 95% dos
meçavam já a morrer, predi se que o cidadãoc. americano apoiam a legaliza-
THC devia ser mais eficaz se fosse admi- ção da marijuana méclica! Uma son-
nistrado mais cedo.t dagem anterior reaU,ada na C alifórnia
Aparentemente, quanto mais inv~ti- mo trava que 40% do. inquiridos eram
gações se fazem sobre o valor medicinal da a Í3\'0r da legaliza<y.jo do uso industrial,
marijuana, tanto mais se consta·ta quão va- meditmaJ. nutriciona.J e pe · oal da ma-
liosa ela é como medicamento (para rijuana por parte de adulto com mais
tromboses) tumores cancerígenos, glau• de 21 ano
coma, esclerose múltipla, dores> náusea, A minha esperan a fervorosa é que este-
como estimulador do apetite, rela.unte jamo· simplesmente a assistir à e curidão
muscular, e sabe-se lá que mais) . que antecede a inevitável madrugada.
Enquanto cidadãos, devemos exigir que
sejam permitidas investigações obre a Jack Herer
marijuana. Se ela permjtir salvar uma Lo:> Angde:,, etembro de 2 000

t Em fevereiro de 2001, foi recusado um sub idio a


equipa de Guzmán para proced~r a in..,~tipçôe$
adicionais em seres humano~. (N. do T.)

168
ACTUALIZAÇÃO DA 2! EDIÇÃO PORTUGUESA (NOVEMBRO 2002)
a sequência do u de ctembro, a enquanto o álcool e o tabaco conti-
N causa da legali7ação da cannabis
perdeu algum ,mpeto, em especial nos
nuam a ser perigosos e legais, é um dis-
parate a cannabis se r inofensiva e
Estados Unidos. Ilustra-o o facto de, a 5 proibida': Esta med ida está a ser consi-
de Novembro de 2002, três iniciativas derada a primeira fissura na barragem
pró- marijuana terem sido rejeitadas do proibicionismo made in USA, dada
ern referendo estaduais americanos. a natural empatia que existe entre a hi-
(No Nevada, propunha-se a posse legaJ perpotência americana e a Inglaterra.
de até três onças [84 gramas] de mari- Mas outro pais anglófono está a criar
juana, além de lojas licenciad?s pelo es- sério problemas à "War on Drugs" im-
tado para a sua venda; no Anzona, que posta ao mundo por Washington - o
a posse de cannabi fosse punida como Canadá encontra-se sob forte ímpeto
urna multa de transito; e no Dakota do interno para uma mudança na política
Sul, a legaJizaçã.o da exploração de .~- antimarijuana, nomeadamente por
nharno industnal). Porém, outras 1m- parte do sistema judiciaJ, que instou o
ciativas pró-marijuana foram aprova- governo a perrojtir que doentes termi-
daS na mesma data em referendos lo- nais ou crónicos possam usar e cultivar
cais; o mun.i dpio de ão Fra.ncisc_o, por cannabis médica, enquanto o Suprem o
eJ(emplo, foi autorizado a incluir nos TribunaJ está a apreciar um caso sobre a
seus deveres oficiais o cultivo e distri- constitucionalidade da proibição da
buição de canm1bis médica. erva. Tendo também em mente que os
Entretanto, uma pequena derrota foi cinco principais partidos políticos
infligida à Ca a Branca ferozmente an- canadianos assumiram o compromisso
tirnarijuana de George W. Bush. Um de debater a liberalização das drogas, o
Tribunal da Relaçao americano deter- activista canadiano pró-cânh amo Ri-
minou em Novembro de 2002 que o chard Cowan considera possível a lega-
Departamento da Justiça não tinha po- lização completa da marijuana no seu
deres para revogar a licen~.as dos mé- país nos próximos dois anos - o que
dicos que prescrevem manJuana, pro- deixa os vizinhos americanos perante
cedimento que o Procurador-Geral um bicudo dilema, pois, diz Cowan, «o
John Ashcroft tentava impleme~tar. Canadá é branco demais para invadir
porém, desde 2001, o acontecimento mas próximo demais para ignorar':
rnais significa~ivo nest~ ~atéria foi o a área médica, prevê-se o lança-
ecentc anúncio do M1mstro do Jnte- mento, em 2003, do primeiro fármaco
\or britãnico, David Blunkett, segundo de THC natural, produzido pela em-
~ qual, no Reino Unido, em 2003 a can - presa britânica GW Pharmaceuticals,
oabis passará da Cla e B da tabela de q ue foi autorizada a cultivar anual-
ubstãn cias controladas para a Classe mente 40.000 plantas de cann abis num
~ que inclui os tranquilizantes e os es- local secreto. Agora em fase final de
te~óidcs, o que significa a sua .efectiva testes, o medicamento é ministrado por
descriminalização. A propósüo, co- spray, e revelou-se muito mais eficaz a
mentou o semanário inglês Indepen- combater os problemas de pacientes so-
dent: "Trata:se de uma capit_ulação frendo de esclerose múltipla e outras
;,ctraordinána - um reconhecimento doenças do que as pastilhas de TH C
~e que os receio envolvendo o seu uso sintético já desenvolvidas para esse fim.
são grandemente injustificados e que, -L. T. F.

169
1
A cannabis é indissociável da própria ideia de Portugaf.
APSNDICE AEDlt;AO PORTUGUESA

UMA BREVE HISTÓRIA DA


CANNABIS EM PORTUGAL
0 relocionamento lusitano com o cânhamo-de-cannabis tem tanto de
ancestral quant o de paradoxal - outrora, decretou-se entre nós que era
obrigatório cultivar esta planta; passados séculos, que era proibido fazê-lo.

Espero que o P:irneiro sucesso des~e dos eventos qu e definiram Portugal a


ensaio será de_ammar as ?ess~as ma!: cannabis era justamen te considerada a
h abeis a reflecttrem com meus cuidado, ;a ,cultura majs importante do país, hoje em
bre tudo que diz respeito a esta preciosa <lia o seu notável currículo entre nós só
5
~anta, já sobre a diversidade dos seus raramen te é referido em estudos acadé-
~ 505, que ainda com muita imperfeição micos ou com pêndios escolares - o que
c on h ecemos. em grande m edida se explica pelos efeitos
_ Tratado Sobre o Canamo, Martim da dem onização de que a planta tem sido
F r ancisco Ribeiro d'Andrade ( tradutor), vítima nas últimas décadas.
1799
N ta= No passado, em Portugal os termos " linho" e LOGO DESDE O INÍCIO
« ~ bamo'' sempre foram usados indistintamente,
b' , l , m Portugal, a cannabis terá sido in -
coP
f; indo-se ambos à ca11.11a ,s sat1va .; veJa-se o que
re er p ósito diz o historiador lêlmo Verdelho em "A E t roduzida pelos rom an os, embora te-
ª ~t':.ira do Cânhamo em Moncorvo'': "A lia mba é nham sido posteriorm ente os mouros
C d'cionaJmente
1
designada também pelo norne de q uem, na su a expan são p ela Península
tra ha
câri ,
mo e no século XVIT era chon hec1'da ~e1o nome Ibérica a partir do século VIII, dissem i-
de Linho cdnhnmo ( ...) O cân am~ ou 11am 6a era
aJ roente considerado como um 1111110, em 1656. Ao nou a cultura desta plan ta e o leque com -
ger O de t0do o Regimcnro (decreto real aplicando- pleto dos seus usos, inclusive os p sicoac-
Joni Feito ria de Mo1icorvo] as designações de linho tivos (ver "Os Mil e Um Segredos de Fá-
-s,~
e rrt
}laça sao geralmente usadas para referir o c!t11ha-
_ Do m esm o mo do as operaçõe~ dcul' e tiva e sua
tima").
0 Segundo o Tratado Sobre o Canarno, p ubl icado
~dustriaJização são também rcfend~s pelos termos
em Portugal no século XVJIJ, na Antiguidade não
l1l d 5 para o linho"; ver outras variantes do nome
u saplanta
o havia praticamente nada que n ão se fizesse com
da em "A Canuab'lS na Ll ngua Portuguesa. "
cannabis: "Alem do uso que antigam ente se fazia do
Canamo para têas, fios, e cordas, fabricava-se ainda
e h á pais para a form ação de cuja grande quantidade de obras de gran de consumo,
s identidade uma planta contribuiu como fios, redes, l inhas de pescadores, e laços para
d ecisivamente, ele é Portugal - e a plan- caça ( ... );cordões, silhas, escadas, pontes, calçados,
vestjdos, capacetes, escudos, cota de armas, urnas,
em causa é, doa a quem doer, a can- quartas, cestos, cabos, e apprestos de 'navios ( ... )
~ a b is. De facto, tendo a '.11ma nacion al Depois destes ainda não multiplicam os m uito seus
.d o forjada pelos Descobrimentos, con s- usos, com a factura de papel, e papelões, cujo co n-
51 t a - se que estes só fora m possíveis sumo he assaz grande ( ... )".
ta r q ue O cãnhamo-de-cannabis forneceu No tocante a Portugal, o cânham o-de-
Pºfibra com que se fabrica ram as velas e -cannabis acompanha-nos desde o início
ª d arnes das naus que desbravaram os
cora n os do mun do, cnan. d . .
- ele era, a p ar dos cereais e da vinha,
o o pnm e1ro um dos três pilares em que assentava a
:~ério à escala planetária. E se à época subsistência d as populações r urais

171
de uma herdade em 1306, concedida na
O CÂNHAMO NOSSO DE condição da coroa receber anualmente
CADA DIA em troca u m quinto do pão, vi nho e
linh o cânhamo ali produzidos.
importância do cânhamo na vi-
A da das populações portuguesas
da Idade Média é dramaticamente
Segundo a Nova História dt! Porwga~ "[ai cultura
do linho na arca de Guimaràe:, parece ter-se prati-
cado desde te:mpos bem remotos. A mais antiga
ilustrada p elo facto de, à época, ha- informação que possuimos (ou conhecemos) data
de 1014 e diz re!>peito aos lenumos de Guimarães, ou
ver camponeses transm ontanos que seja, aqueles indi\•iduos que trabalhavam na
se dedicavam com tal afinco à sua tecelagem do linho':
produção que desleixavam as cul- Em Po rtugal, o câ nha mo começou por
ttuas, vitais para a sua subsistência, ser usado domesticamente em contexto
dos cereais e da vinha. rural. De facto, para além dos rendimen -
É o que atesta uma carta enviada
tos der ivados da produção de fibra, no
a D. Afonso V pelos h omens-bon s campo o versátil cânham o colmatou
d a vila transmontana de Torre de durante séculos as mais diversas necessi-
Moncorvo, na qual dão conta ao rei dades, nomeadamente a fal ta de oficinas
dos problemas locais, e que a dado rurais, ao permitir o abastecim ento do
passo diz: "[E]m esta villa ha huna lavrador com artefactos que ele próprio
rribeyra que chamam a Vallariça na produzia. Como se diz no Tratado Sobre
quall os homees lavram muytos o Canamo setecentista, "A manufactura
linhos alcanaves aalem do razoado do Canamo he, a que convém mais natu-
em tall guisa que per aazo do dito ralmente aos campos, e como a todos he
linho lavrarem tanto veem a adoe- necessaria, a todos deve ser universal, o
cer e morrem ante tempo. Outro fabricante, no tempo proprio de cultura,
ssy per este aazo do dito linho lei- he lavrador, e o Lavrador, depois de
xam morrer as vinhas e leixam de acabada a colheita} he do mesm o modo
lavrar ho pam e a terra vaysse a fabricante~
monte': E, como forma de garan tir Segundo a Hisr6na Agníria da E11ropa Ocidental
que os camponeses cultivassem tri- 500-1850."I a Baixa Idade Média!, havia necessi-
go suficiente para a sua alimenta- dade, mesmo nas empresas exploradas por cam-
pone.es, d.e muitos mais panos de linbo do que
ção, na missiva a D. Afonso V os anualmente. para os panais dos malhadouros, para
homens~bons moncorvenses suge- os sacos do grão e da farinha, para o vestuário e para
rem a aplicação de multas a •tqual- pagar o salário à criadagem e aos servos. O óleo da
quer que lavrar nem semear mays semmte d.e linho emprega,-a-se na iluminação, e o
que ataa dez alqueires de linhaça~ bagaço proveniente da prensagem servia para ali-
mentar o gado': Acrescenta o jornal agrlcola Archivo
Desconhece-se se esta pretensão Rural em 1863 que .. lulma ci:rcumstancia impor-
foi atendida pela coroa portuguesa. tante e de muita considttação nas localidades em
Fonte: Capitulos especiaii, dados a Mon- que o combustivd é raro e dispendioso, é que n' estes
con'O por D. Afonso V, citados na lllustração estabelecimentos não é neccssario outro combusti-
Trarrsmonta,ia, 2° Ano, 1909. vel mais do que II parte lignosa do e.mamo, que se
~ para no rrabalho das machinas':
D urante séculos a cannab is foi também sinóni-
mo literal de papel: assim, em 1789 escreve-se nas
quando D. Afonso Henriques proclamou Mt monas Ecor1om icas tla AcatUmia Real das
a independên cia do Condado Portuca- Sciencias cw Lisboa: ..Que cousa be papel? He uma
lense, em 1143; dois séculos após a funda- compo i.ção fcita de 1rapo~ de linho, desfeit~s na
agoa quasi em pó, por meto de huma máquma, ;
ção da nacionalidade, a situação ma nti- unidos oulra vez no que cbamdmos papel ( ... ) .
nha-se, como nos dá conta o Livro 4° del- Segundo o filólogo brasileiro Antó nio de Franco,
-rei D. Diniz ao m encionar o aforam ento à tado na ln tem t t, a Carta de P~ro Va.1. de Caminha

172
rnunicando a descoberta do Brasil, "foi escrita em começou com a chegada de Vasco da Gama à 1ndia
co pe1 ' Flo re te', utilindo em documentos oficiais da em 1498 e terminou cinco séculos depois, com a reti-
iª Íf\Sula Ibérica a pa rtir do século X. Esse tipo de rada dos ingleses do continente indiano em 1949.
en d era feito de linho ou cânhamo tino, um mate-
P.ªa1P variante da cmmabis sativa, a fibra de onde se Sobre a importância crucial d o cânha-
n,arai a maconh" a. mo para a expansão portuguesa de
e O Tratado Sobre o Cn11a1110 informa também que, Quinhentos, escrevendo no século XIX,
D. Francisco S. Luiz, cardeal patriarca de
De acordo com uma avaliação feita Lisboa e historiador, depois de notar que
em 1515, ao cânhamo era "que el-Rei D. Manoel trazia comum-
atribuida a mais ele~ada cota?ão mente 300 naus suas nas conquistas de
dos géneros produzidos no remo. Ásia, África e América", é bem claro: " E se
alguém porventura se admirar, de que
tantas e tamanhas armadas se equipas-
no éc uJo )(VIII, a cannabis era utilizada na cozinha
,. s ho1J1en s pobres usão do oleo do Canamo para sem e aprestassem tão frequentemente, e
( ots rnpero do caldo das pa11ellas"), na medicina às vezes com tanta celeridade, deve aten-
o" e ·ctenc1a
a as tosses, 1 .. e gonorr1iea; seu o leo e ntra
( ~rnposição das pomadas proprias para as bexi-
der: 1° Que el-Rei D. Manoel tinha em
na e e tem a v1rtu. de reso1u11va. "); quanto aos seus vários lugares do reino Feitorias para a
~:tos psicoactivos, eles e ram conhecidos ("sua fa- fabricação de amarras, enxárcias, cor-
. etha misturada com q ualquer bebida embebeda, e doalhas, etc., de cânhamo, q ue então se
riob ta a todos, que della usão; sabe-se geralmente, cultivava em grande abun dância, em
he e 0 5 Arabes fazem huma especie de vinho, que
qu~ beda"). Ao que parece, em Portugal só havia Portugal". Em Descripçam corografica do
em ecoisa que não se podia fazer com cannabis -
uma do O Tmtado Sobtc o Cmwmo, "prohibio-se o
se~tar os mortos envolvido em têas feitas de Cana-
sep. or isso que lu manufacturas de estofos de lã,
rno,. p.roente destma
. d os a a este uso".
un1at

A PLANTA DOS
DESCOBRIMENTOS

P orém, a época áurea do cânhamo em


portugal d ecorreu entre os séculos
){V a XVIll, ~3:1tilhando as fortunas da
ansão mant1ma portuguesa. De facto,
e,qJ aparelhar os navios de madeira que
P ara urara1n a Portuga I o domm10 , . d,as
asseg oceânicas . mun ais, as maténas-
di . .
rota•mas necessánas
5 . eram b· as1camente
.
-pr1 para os canh oes - e lerragens
e e, so-
ferr~~do cânhamo-de-cannabis para as
breL.... >
la5 e cordames.
v-e . . ,. d e ..
c;anhõcs e Velas na Primeira rase a = pansão
i::rn ia O histo riador Cario M. Cipolla considera
Europe5 u ~esso dos empreendimentos marítimos eu-
O
que assenta no binómio canhões/velas, pois
rope~:titi.ur remadores por velas e guerreiros por
"[s} t.Jõ s significava, em resumo, trocar energia hu-
atJlP- e or forças inanjmadas"; esta aplicação de con-
,naft3 ! jnovadoras no fabrico de canhões e velamc
c,epçõ_f u "o domínio europeu do poder naval sobre
As cordas de cânhamo são proeminentes
na janela manuelina da Sala do Capítulo,
1
pertJ'l ~as populacionais asiáticas e o domínio dos no Convento de Cristo, em Tomar.
as maseuropeus sobre os mares': um perlodo que
povos
173
QUANDO EM PORTUGAL ATÉ OS PADRES ERAM OBRIGADOS A
CULTIVAR CANNABIS
As leis humanas são muito mudá- quer] as terras sejam minhas, o u de
veis. Em 1656 o Estado português obri- particulares a quem eu as tenha dado,
gava os povos da Comarca de Mon- ou próprias e patrimoniais de quais-
corvo e das Comarcas vizinhas a culti- quer meus vassalos, o u sejam Duques,
varem a liamba. Marqueses, Condes fidalgos do meu
-Telmo Verdelho em'½ Cultura Concelho e Casa, Desembargadores e
do Cânhamo em Moncorvo", 1981 Cavaleiros do Hospital de São João e
de nosso Jesu Cristo e mais ordens
s decretos reais conhecidos por militares e de outras pessoas isentas e
O Regimentos
foram às
ap]icados
quel no sécuJo XVlI,
feitorias do linho
privilegiadas que pretenderem serem
escusas de semearem Linhaça cânh a-
cânhamo de Torre de Moncorvo, an- ma. Hei por bem e mando, que para
tarém e Cojmbra eram taxativos - este efeito não usem as tais pessoas
dada a importância crucial da maté- dos ditos privilégios nem o utros
ria-prima em causa para o império quaisquer que sejam».
marítimo português, ao cultivo da E para não restat'em dúvidas de que
cannabis estavam obrigados não ape- todos os privilégios eram abolidos, e
nas os lavradores mas todos os terrate- não apenas os decorrentes da ordem
nentes das regiões em causa, qualquer terrena, no capítulo 24 do Regimento
que fosse a sua condição social de Moncorvo, D. João rv sublinha que
Assim, no Regirnento que S. Mages- até mesmo os membros das classes
tade manda que aja na feitoria do linho eclesiásticas deviam sujeitar-se ao
c~nhamo da cidade de Moncorvo. para imperativo de plantar cannabis, «visto
que os officiaes dei/a saibão a obrigação, er negócio encaminhado ao serviço
que devem guardar, publicado em de Deos, conservação e augmento da
1656, el-Rei D. João IV explicita: "f O Fé catholica, aprestandose com as en-
1
cuJtivo de cânhamo é mandatório :xarciasl Armadas contra Infieis '~

Reyno de Portuga~ o erudito setecentista notável discernimento ao fomentar, com


Oliveira Freire é igualmente peremptó- inicio no reinado de D. João II, o estabe-
rio, afirmando que ccé esta Io cânhamo] a lecimento de extensas canameiras (plan-
cultura de maior importância do reino, tações de cânhamo) como fonte de
para o apresto das armadas, por ter o uso matéria-prima para aprestar as ar madas
qualificado a sua bondade, e fortaleza': portuguesas, em regiões escolhidas p ela
Para se ter uma noção do gigantismo dos em- sua exceléncia para a produção de cânh a-
preendimentos navais portugueses de antanho, e do mo. egundo a investigadora Maria He-
abastecimento de cânhamo que implicavam, con- lena da Cruz Coelho, "A cultura do câ-
sidere-se que em 1513 D. Manuel enviou à actual nhamo, vitaJ para um pais que iniciava a
Mauritânia uma armada composta por 400 navios
transportando, para além dos marinheiros, 16.000 sua expansão marítima, devia ser incen-
infantes e 2.500 cavalos. a qual foi aprestada em ape- tivada pelo monarca. ( ... ) Os reis esta-
nas quatro meses e meio. vam, assim, sobremaneira interessados
Atendendo à dimensão que atingiriam na propagação desta cultura, jã com um
as aventuras navais de Portugal, consta- fim industrial e que a todos os níveis lhes
ta-se que a coroa portuguesa revelou trazia lucro, de de o monetário e imedia-

174
to das rendas e dir~itos, até ao
melhor apetrechamento da frota
nacional".
piz o verbete "cordoaria" do Dicioná-
no. da História de Portugal: "O aumento
d a nossa navegação .e a consequente
. ne-
cessidade de maténas-pnmas emprega-
d na construção naval fizeram que, no
5
::u.1
0 XVIJ , para diminuir a importação,
rocurasse intensificar a cultura do
se P )"
cânhamo ( ... ·
A taxação vigente em Portugal
n a centúria de Quinhentos, é .re-
eladora do estatuto econom1co
;rivilegiado que a cannabis des-
frutava à époc~. A_ssim~ de acordo
uma avaliaçao feita em 1515
co01 d ,
ra cálculo das ren as a pagar a

coroa, ao cânhamo era _ datribuída
, .
a rnais elevada c?taçao os_vanos
éneros produzidos no remo -
g rna p edra [oito arráteis] de
~ o cânhamo equivalia.ª.?º réis,
tra 40 réis para um le1tao> e 20
con I . d .
réis para um a .queire e tngo, ~m
1:rnude de vinho, ou um cordeiro
a .
00 cabnto.
Em consequência das Desco-
bertas, no tempo de ~· João III a Folha de guarda do Regimento da Feitoria do
cannabis foi introduzida noBNoilvo Linho Canhamo da Villa de Moncorvo, de 1656.
do nomeadamente no ras e
lvfun '
as Antilhas, d . .
por mão os pnmeiros es- semente, e na palha, mas não na folha, porque esta a
tem ao modo dos goivos. Esta palha e folha a secam
n
cravo
s para lá levados pelos nossos os cafres, e depois de bem secas as pisam, e fazem
assados. Paralelamente, os portu- em pó, e deste comem uma mão cheia, e bebem-lhe
antePs registaram o uso d a cannab.1s em ãgoa em cima, e assim ficam muito satisfeitos, e com
guese «d b. ,, o estômago confortado, e muitos cafres há que com
rnas das regiões que esco nram ,
este bangue se sustentam muitos dias, sem comer
algu 5e aperceberem de que se tratava da outra cousa, mas se comem muito junto, embebe-
se:rn a planta que fornecia a matéria pri- dam-se com ele de tal modo, como se bebessem
Jl1esmara aprestar os navios
. que os trans- muito vinho. Todos estes cafres são muito amigos
IJlatP..,aro confeccionar as roupas que desta erva, e ordinarjamente a comem , e com ela
P or aJTl
av e 'fabricar o papel d as B;bl'
1 ias que
andam meios bêbados, e os que são costumados a
ela escusam o pombe [vinho indígena feito de
usavdiam (ver ((Garcia da Orta Apresenta mi1ho], porque só com ela se satisfazem:· Na edição
braP
O Barzgue ao OCI.dent~") · . . . desta obra publicada em 1999, esclarece-se em n ota
de rodapé: "'Bangue' é a deturpação da palavra 'm-
ónica Etiópia Onentnl e Vária História de
'Na c~otáveis do Oriente, publicada em 1608, o - bangui', termo pelo qual é designado em várias re-
Cousa~ominicano Frei João dos Santos escreve a giões de Moçambique a 'suruma' ou marijuana''.
frade ·co da alimentação dos cafres (autóctones do Por outro lado, sabe-se que não passou
6
pr0 P ~ actual Moçambique): "Em toda esta con- muito tempo após o estabelecimento da
nor~e ºcria uma certa erva, que os cafres semeiam,
frartª s~arnam bangue, a qual é da própria feição de carreira Portugal-Índia até as drogas vi-
a que e espigado, e parece-se muito com ele na sionái-ias do Oriente fazerem o percurso
c0eotr0

175
GARCIA DA ORTA APRESENTA O SANGUE AO OCIDENTE
E estes moços meus c1ue. escondida- dt> Or1a, •[qlu~ .tgorJ em luz saindo / Dad na
mente de my, o tomão, dizem q11e lhes lcdicina um no\·o lume, / E descobrindo irá
~ o s certo / A todos os antigos encobertos':
faz nam sentir os trabalhos, e estar pra-
zenteiros e ter vontade de comer. Nos Col6c1uios., Garcia da Orta re-
- Garcia da Orta, sobre as ex-pc- gista 'os nomes, e a fciçam} e o uso pe-
riências dos portugueses de ra que se usa.. <lc! plantas à época ine-
Quinhentos com cannabis na fndia xistentes na Europa (a manga, a cana-
-de-acúcar, o coco, o gengibre, a cane-
la, etc. ), as quatS os portugueses espa-
Porpeusimprovável que pareça, os euro-
lidaram com a cannabis du - lhariam pelo mundo, e regista méto-
dos t: preparados terapêuticos então
rante séculos sem se darem conta dos
seus poderes psicoactivos - alias, até desconhecidos no Ocidente. Mas o
ao século XVI era-lhes completamente que torn.i os Col6q11ios um marco fun-
estranho o conceito de droga, en- dador da cient.ia moderna é a obra
tendida como agente alterador da espelhar a cn:nça, então pioneira, de
consciência. Mas as coisas começaram que a verificação e a experiência são as
a mudar devido à curiosidade e livre fontes verdadeiras da aprendizagem e
espírito de Garcia da Orla (1499?- do conhecimento. Diz o cientista Orta:
-1568), um médico e naturaJista por- "Eu não tenho odio senão aos errores;
tuguês que em 1534 viajou até Goa. nem tenho amor senão à verdade':
então a capital do império portugué.s E..,,tilisticaml.'Jll~, ~ CoMqui05 também têm
na Índia, ao que se julga para servir muito que S\· lhe dig,1. A obra assume a forma de
um diálogo entre dois médicos, o dr. Ruano e o
como "físico-mor" do respeCtÍ\'O \'ice- dr. Orta, os qu.1i" ..Jo cxten-.óes da pcrsonaJidade
-rei. de Garcia d.! Orta, ~undo .1 professora Selma
Nas três décadas seguintõ à sua l:he- dr Vieira \'clho, d.t Universid.tde de NoYa Delhi,
gada ao Oriente, Orta compilou uma que :ic~enui: ",\crl.'1.Ütamos que ~e trata do pri-
meiro US(J regi...tado do HEl ERÓNI.MO na lite-
exaustiva relação das planta~ ..medici-
ratura ponuguc~, um fonomeno que registou
nais e úteis,, indianas, que foi publicada um desen\'Olvimcnto brilhante no século XX
em Goa em 1563 sob o título Colóquio$ atmis da obra poétka de Fernando Pessoa':
dos Simples e Drogas e Cousas }.Jedici- Assim, no-, Qilócl'4tt>3, o heterónimo dr. Ruano
nais da lndia. Considerada uma das rc=prtscnta o G:1rci.1 <la Orta etnocêntrico tal co-
mo de cra ao .:hegar :\ lndi.l, o dr. Orta sendo o
primeiras manifestaçoes da ci~ncia ex- próprio n.ituro.fütn, que após três décadas de
perimental moderna, esta obra foi ímcrsllo na cuhur indiana se tomJra uma pes-
aclamada na Europa renascenti~ta soo de esp1rito uni~rsal~ta.
como a mais importante sobre flora E em parte alguma dos Colóquios
medicinal desde o compêndio de e te espírito científico de observação
botânica de Dio~coride!i, que fazia desapaixon.ida é mais notável do que
escola há 1500 anos - por ~ta razão, quando Garci<1 da Orta se debruça so-
hoje os Colóquios de Garcia da Ona s.1o bre as droga~ visionárias usadas na
talvez a única obra rortuguesa a ha\·cr Índia, como o ópio, a daturn e o ban-
alcançado estatuto unh·ers.al. gue, um preparado psicoactivo de can-
Os Colóquio1 sao precedido.!> por um poema nabis • - as considerações que o na-
de Camões que con~titui a primeira publica o turalista portugues íaz sobre estas sub-
de versos dos /.uswdM. Nde, Camoo :sradect'
ao Conde dr R.cdondQ, ,•i~-rti da lndia. a con- t!lncia~ e o seus efeitos revelam tal
cessão do alvará nC'CC5sârio a publicação da obra auc.ência de preconceito que hoje em

176
dia, mais do que notáveis, elas dificil- Cons_iderando que à época toda a obra
mente encontram paralelo. candidata ao prelo devia sujeitar-se à
" Embora o Conde de FicaJho, em nota à edi- férrea censura do Santo Oficio, a ques-
ção dos Col6q11ios que orgam1ou em 189;, infor- tão a colocar devia ser outra: caso te-
me que o bangue é "hoje mais conhecido pelo nha experimentado o bangue, poderia
nome arabico de '1asclusch", trata-se na reaJidade Orta dar-se ao luxo de ser honesto na
de preparados bebfveis ou comestíveis de can-
nabis ainda hoje confeccionados na lndia.
matéria? E fica-se na dúvida se O tom
co1!1 que o naturalista encerra O Coló-
Quanto ao bangue, Orta dedica-lhe quio do Bangue corresponde ao que de
urn capítulo, o Colóquio Oitavo do fact~ lhe ia na alma: "[I]sto não he
Bangue, no qual explica ((que cousa he ~ezinha daquellas nossas, nem que lá
( ... ) e pera que se toma, e como se faz» ªJª, nam gastemos o tempo nisso'~
esta droga cujo uso, informa, era
generalizado na Índia: "E crede que
pois isto (o bangue] he tanto usado e « Coloqufos dos íimptea
drogas he coufas mcdiçinais da !neta' e
e
de tanto numero de gente, que nam he aísi dalgüas frutas acbada-s ndlà onde >Íc
sem mysterio e proveito" (fica-se era~ algüas coulàJ tocantes amcdiçina,
rnesmo a saber que o bangue se vendia P:anca •e outras cou&s boas. pera fabcr
<~na botica feito"). copob pello Doutor garçia dorta : füko
Nas quatro páginas do Colóquio Oi- dei Rey nolfo fcnbor. vifh>s pcllo muyto
tavo, Orta explica sem pudores por que Rcuercndo fcnhor , ho.liçcnçiado
Alcxos diaz : f.akam dcfenbar•
razão o bangue era tão apreciado na
gador da cafa da fupricaçá
índia («E o proveito que disto tirão he in!,luifidor ndb.s
estar fóra de si, como enlevados sem partes.
nenhum cuidado e prazimenteiros, e
alguns rir hum riso parvo,,), referindo
alguns dos seus efeitos especificas -
afrodisíacos ("e já ouvi a muitas mo- lml>f'Cff"oem Go1, por lo~nncs
lheres que, quando hião ver algum ho- ele endern as x. di:as de
mem, pera estar com choquarerias e Abril de 1161- annos.
graciosas o tomavão"), soporíficos ("os
Folha de rosto dos Coloquios dos
grandes capitães, antiguamente acus- Simples e Drogas e Cousas
tumavão embebedarse com vinho ou Medicinais da lndia, de 1563.
com amfiam [ópio], ou com este ban-
gue, para se esquecerem de seus traba- Sugest!va da apetência que, na lndia do século
lhos, e nam cuidarem, e poderem dor- XVI,
• muitos
• portugueses sentiam pela cannab'IS
inir") e estimuladores do apetite ("pera ps1'?acttva é_ uma carta escrita em 1561 pelo padre
ter vontade pera comer, tambem pera An~que Annq~es ao Geral da Companhia de Jesus
pedmdo aut~nzação paro ingerir bangue: "[Clon~
jsto lhe ajuda"). fesso _que o clima desta terra fCeilãoI inclina ao mal
Mais informa Orta que os seus com- e assun nos sentimos mais tentados da sensuali-
patriotas na fodia não se faziam ro- dade. E porque há na fndia quem tome mézinhas
gados em experimentar os ((effeitos de (bangue] com que de todo mortificam a carne de
modo que apetite nenhum lhe vem da sensu'ali-
prazer" proporcionados pelo bangue: dad7 pergunto se não seria melhor eu tomar tais
"JOuytos Portuguezes me disserão que m~as. ~ Deus que tomando-as, elas me
tomarão': Mas e quanto ao próprio aproveitem . Para
. . se atrever a irnpinoiro- tam anha
0 peta ao supenor Jesuíta, o padre Anriques contava
orta? Devemos acreditá-lo quanto nos
decerto com a ignorãncia deste sobre os efeitos
diz, referindo-se ao bangue, que "eu tudo menos mortificadores da cannabis.
nam o provei, nem o quero provar"?

177
Os Colóquios são notáveis ainda por a fé judaica para escapar ao exílio
marcarem a pnme1ra vez que no quando D. Manuel l expulsou os
Ocidente se usou o termo «viagem" judeus de Portugal.) E, fazendo jus aos
com uma conotação para além da seus sinistros pergaminhos, a Inqui-
geográfica, estendendo-se a experiên- sição ordenou não só que o cadáver de
cias vividas em universos interiores. Orta fosse exumado e queimado na
Diz a histórica passagem: .. E o gram praça pública, mas que todos os exem-
Soltão Badur fimperador do Gujara- plares dos Colóquios fossem destruí-
te] dizia a Ma rtim Affonso de Sousa dos pelo fogo.
[capitão-mor da marinha portugue-
sa], a quem elle muito grande bem Os Colóquios marcam a primeira
queria e lhe descubria seus secretos, vez que no Ocidente se usou o
que quando de noite queria yr a termo "viagem" com uma
Portugal e ao Brasil, e à Turquia, e à conotação para além da
Arabia, e à Persia, não fazia mais que geográfica, estendendo-se a
comer um pouco de bat1gue': Pas- experiências vividas em
sariam três séculos até ser retomada a universos interiores.
noção de «viagens" induzidas por dro-
gas, por via dos haschischin Moreau,
Gautier e Baudelaire. Afortunadamente para o patrimó-
Apesar de ter notado as semelhan- nio da humanidade, porém, o obscu-
ças da planta do bangue com o cânha- rantismo vigente em Portugal não
mo, Orta considerou "nam ser isto li- conseguiu reduzir a cinzas "o fruto da-
nho alcanave", não só porque ..a se- quela Orta» (na expressão de Ca-
mente he mais pequena e mais não he mões). Dado que para lá dos Pirinéus
alva corno a outra': mas principal- o conhecimento deixara de ser consi-
mente devido ao facto da planta do derado obra do Demónio, logo no ano
bangue não ser usada na lndia para da morte do naturalista os Colóquios
produzir o linho "de que fazemos as haviam sido traduzidos para latim por
nossas camizas". Orta não podia aber um botânico francês. Nas décadas se-
que estava a comparar as duas varie- guintes surgiram edições em italiano,
dades de cannabis, a sativa, o familiar francês e inglês e, no século XVII, o
cânhamo, e a indica, que descobrira na tratado de Orta tornara-se já obra de
India - essa classificação só seria feita referência obrigatória da jovem co-
no século XVIII, precisamente a partir munidade cientifica europeia. (Em
de dados compilados pelos primeiros Portugal, os Colóquios só seriam ree-
dentistas da natureza, como Orta. ditados em 1895!)
E agora perguntamos nós, com o cinismo
ara nossa (de Portugal) desgraça, o próprio do s.écuJo X}<.J: que raio de motivo terá
P posfácio da história de Garcia da
Orta é tristemente familiar. Segundo
le~-ado a mulher de Garcia da Orca a revelar à
lnqu1s1ção a here.i.a do marido após o faleci-
mento dcslcl Njo será m.:lis lícito pensar que a
as crónicas, após a morte do naturalis- Igreja, l cpoca \.eteira nestaS artes, extorquiu a
ta, a sua mulher confessou à Inquisi- coníis.sao da viuva de Orta com o objectivo
princip.11 de destruir os Col6411ios, nomeada-
ção que, apesar de ser católico confes- mente devido às d~ições que a obra faz dos
so, Orta sempre praticara em segredo efdtos das drogól!, alucinogénicas? .Estaremos
a religião judaica. (Os pais de Orta penante a primeira campanha antidroga da
eram cristãos-novos, tendo renegado hbtõria?

,[ 78
·nverso e chegarem à Cristandade. A pro- todos os donatários de terras das regiões
1 ósito, escreveu o investigador Manuel
traz de Magalhães: « [A] difusão da dro-
ga (opiáceos, etc.), em Portugal e na Eu-
abrangidas), os Regimentos ocupavam-se
de todos os detalhes referentes à trans-
formação dos linhos e seu transporte pe-
opa não é um fenómeno das últimas dé- los produtores até às feitorias, proibindo
r adas mas uma atracçao- que começou l1a, o comércio e a fabricação particulares de
~á 500 anos com o ópio e o haxixe. Já Sá artigos de cânhamo. Sobre este claro
~ e M iranda, numa carta que escreveu em contexto de monopólio régio escreveu a
1554 diz 'Entrou há dias peçonl~a clara historiadora Maria Helena da Cruz Coe-
elos nossos portos, sem que remédio se po-
p ha; uns dorm entes, outros mortos, alguém
n TRATADO
pelas ruas sonh a '". S O li R E
J-Já a té notícia de um plano de Afonso de Al- o
u erque para tornar Portugal um grande produ- CANAMO,
buq de ópio. Assiro, em carta datada de 1 de De- COMPOSTO EM F RA NCEZ
P O ll
tor bro de 15 13, enviada da fodia a D. Manuel, es-
zern ·
v1ce-re1. d a f nd.1a: "Se me vos aJteza M R. M A RC A N D l E R ,
e O primeiro
uyser crer, rna mday semear dormydeyras das 1ºlh
crev . . as
Con~lliciro na Eleiçlo d.- E11rse1.
qd çores e m todollos paú es de purtugall, e man- TRADUZIDO
os fazer
a afia m [óp io], que he a meIh or merca don.a D:R OllX,JtM
d ay
cobre pera estas partes, e em que se gan ha dº1- DE -SU.A ALTEZA REAL
q ue . . d 6 . o
·ro"· a ideia do v1ce-re1 era ven er o pio aos
n, b.i;
ei n o 's pois "a jemte da ·lmdia
· perde-se sem elle, f>RINCIPE DO BRAZIL,
1.n~a ' " NOSSO SENHOR.
se O oam comem . i.m beneficio d " Agrieult ura • e l\larinh• de
Rsino e Domí11í.:11 Ultramarioot,
r <> ,. ,
AS FEITORIAS DQ CÂNHAMO E O MARTIM FRANCISCO RIBEtRO
IMPERIO o •ANDRADE,
JJar'1111r, J ,m Fi/.,1oplii11 • , JU •llml'IJII i.:t11 ,
ltrapassado o período exploratório J'V BL !CADO

U dos Descobrimentos, a prioridade


das autoridades . portu_gu~sas pass_ou a
p.,. P,..J.,J M.,-;.,,,,.
Jd11 •-r l'"tri~,
J• C,r1.:tif;{• Ycll•w
i•111•t • ,ai
llffrtrn
11ami11t cr1Jtir.

consolidar o tmpéno mtercontmen-


ser é u1 .
1 conquistado no s c o antenor -
ta ...,., 0 resultado da importância da can- T. 1 • ó O A. N. DCC, :'(Cor.
COP"
bis en tre nós ter cresciºdo. mais. a 'm da,
~ada a vasta armada à vela necessária
a a tal efeito. Assim, tendo como base a Folha de guarda do Tratado Sobre o
parocu pação r ég1a . 1 .
re ativamente ao Canamo, de 1799.
pre d . d' .
abastecimento a in ustna nav , em
a]
ados do século XVII a coroa promul- lho: «Os interesses nacionais de manu-
rne uma série de Regimentos destinados tenção do império ultramarino ditavam,
gouegulamentar e fiscalizar apertada- no século XVII, estas medidas rígidas e
ª rnte O cultivo e pro d uçao- d e cannabº1s, concretas':
rne licar às Feitorias do Linho Cânhamo Note-se que as Feitorias cuidavam apenas da
ª ~ptentes em Santarém, Torre de Mon- recolha e armazenamento do linho cânh amo, não
eJa.S
vo e Coirob ra, os pnnc1pa1s
. . . po' los de possuindo terras de cultivo próprias.
cor e
cultivo e trans1ormaçao - d e canna b.1s em Para compensar o carácter impositivo
portugal. . que revestiam, os Regimentos enumera-
com eçando por decretar a obngato- vam algumas compensações para os la-
. dade da cultura do linho cânhamo vradores obrigados a cultivar cânhamo,
rie.... 0 só para os lavradores com o para as quais porém se reduziam pratica-
(oª
179
A CAPITAL PORTUGUESA DA CANNABIS
enhuma localidade portugue~a
N está mais ligada l cannabi que
Torre de Moncorvo, ,·ila tran"mon-
regime apertado de controle à Feitoria
do~ linho:, Cánhamos existente em
Torr~ de ~foncorvo desde 1617.
tana que foj o principal pólo de pro- D,da a abundância local de gordu-
dução e transformaçao do canhamo ras vegc:tais re ultantes da transforma-
durante os séculos em que esta cuJtura ção do cãnhJmo, a cultura "que re-
constituía uma prioridade nacional. tempera todas as partes do Reyno"
Na história de Portugal, a remota (na~ pala\.Ta~ de um viajante seiscen-
Torre de Moncon o desde cedo mere- tista da regiao) está na origem de ou-
ceu uma atençtiO excepcional por tra industria local, a da saboaria. Se-
parte da Coroa, devido a sua posição gundo a [/lustração Transmontana,
de baluarte fronteiriço, ma sobretudo "r a) lraJiçao d'esta industria fabril em
por causa das extensas plantaçoe de Moncorvo e antiga, e pelos annos de
cânhamo cultivadas na Ribeira da Vi- 1706 a fobricJ do sabão molle, que
lariça, uma veiga da região reputada n•e ta vilJa se obrava, dava provimen-
desde tempos imemoriais pela sua fer- to a muitos lugare:, d'esta provincia, á
tilidade. Sabe-se por exemplo que, na cidade do Porto, a provincia do Mi-
era medieval, entre as obrigaçõe im- nho e ddade de Lamego'~
postas aos habitantes de MoncorYo in- A 25 de Fevereiro de 1771, um alva-
cluíam-se as actividades da cordoaria; ra pombalino ex'tinguiu a Feitoria do
assim, um documento de 22 de '\o- Linho Cânhamo de Moncorvo, por
vembro de 1387 trat4l da directiva, razões não muito claras, mas que po-
«Que nenhum vizinho de Moncorvo dem relacionar-se com as restrições
seja escusado da velas e roldas': Por aplicad.is pelo Tratado de Methuen
outro lado, estava determinado que o ( 1703) c1 exportação de tê>..-teis nacio-
moradores das povoações vizinha nah. Lra o princípio da decadência
eram obrigados a trabalh:ir na repa- irrc, er,ivel de Torre de ..\.foncorvo -
ração das muralhas da vila, enquJnto pa ado um quarto de século, na ca-
"[o}s de Moncorvo são e cusados de pital portugue,J do cânhamo opera-
pagar para as fortifkaçoc do Freixo vam apenas oito cordoeiros.
de Espada à Cinta, pela importancia O melhor emblema da relacão ínti-
do po~to que teem no Douro'. ma entre o período áureo de Torre de
Segundo o h1•aonador lelrno \'t'rddho, nC\tt 1oncono e a culturn da cannabis é a
perlodo da h1,16na forre de foncorYO foi •um Igreja Matriz da vila, a maior de Trás
centro importante relath-amente rcgilo trans- os lonte . , ~sim, a propósito da
montana, um local p.ira ond~ convergiam, por
esuadas fiscali1.adas, carreiros, aJm~-es ~ ou- épotJ imcial de construção deste tem-
tros transponadore:. do ~-à.oba.mo, um loa.l ond._- plo. o Pc Franci co MJnuel Alves, em
rcs1d1am \ .írio:. lc:trildo t muito olicws CSpt'- artigo puhlicado em 1908 na lllustra-
cializado~ que hoJe chamarí.amo técnicos".. plo Tmnsmo11tcma, informa que, se-
Três séculos depoi , a importáncia gundo determinado~ documentos do
crucial da vila para o império portu- arqui'"o municipal, os rendimentos
guês é confirmada pcJa publicaçao, em para a construçJo da Igreja Matriz de
Agosto de 1656, de um decreto real, o Torre de fom:orvo "provinham de
Regimento que S. ,\fage.stade ,mmdn terra~ no ,ralle da Villariça, celebre
que aja na feitoria do linlto cânlwmo desd kmpo antigos pela producção
da Vil/a de Monron•o, impondo um e boa qualidade do linho cânhamo':

180
rnente aos benefícios um decreto deternu-
que a terra retira desta Sendo necessário consolidar o na.ndo a const rução
c ultura, pois (Crece- império português, a na praia da Junqueira>
bem as mesmas terras importância da cannabis entre em Lisboa, de insta-
grande benefício com nós cresceu mais ainda, dada a lações mais amplas e
a dita semente, por- vasta armada à vela necessária funcionais para a
que descansam e se para tal efeito. transformação do câ-
fortalecem para em - - - - - - - - - - - - - - nhamo com fins náu-
outros anos darem maior abundância de ticos; só porém em 1788 aí começaria a
trigo". Claramente, como constata.º his- funcionar a Real Fábrica da Cordoaria da
toriador Telmo Verdelho a propósito do Junqueira, que ficou conhecida por Cor-
Regimento de Moncorvo, estes decretos doaria Nacional.
são «um testemunho do exercício viole~- Existiam no entanto em Portugal outros centros
to do poder político, da acção centrali- de transformação de cordame. Segundo o investi-
ra do Estado em prej u izo de uma gador Jorge de Macedo, "Em 1780, Agostinho Rebelo
Z ado .d da Costa cita como exemplo de uma grande "fábri-
ona do país tão desprotegi a como ex- ca" a Fábrica da Cordoaria do Linho e Cânhamo do
z torada", pois impunham O cultivo ~m Porto, cuja produção permitia dispensar a cordoaria
ferras que por veze.s n~o eram ~propna- inglesa, e que possuía cerca de 300 operários': Diz a
" t obra citada de Agostinho Rebelo da Costa, Descrip-
d as, com consequencias nega ivas p~ra ção topografica e historica da cidade do Porto: "Entre
05 lavradores transmontan~s,dque adssArm todas essas fabricas a que merece o primeiro lugar,
,~p agaram dolorosamente a m epen en- he a das Cordagens, e Massames necessarios para
eia d e Espanha e foram sa- Navios, Naos e todo o genero de em-
.ficados às necessidades barcaçoens. Está situada num largo, e
c rl comprido Campo chamado a Cor-
da colonização do Brasil". doaria nova ( .. . ) porque o seu pri-
O Regimento de Moncorv~ era meiro estabelecimento foi ao pé da
-
0
pormenorizado que dedicava Igreja de S. Pedro de M iragaya,
~ capítulo às chaves da F~itoria. aonde há huma rua, q ue ainda con-
Especificava-se ~ue ~avena três serva o nome de Cordoaria Velha'~
chaves, intransm,~sfveis, para a~e- No final do século XVIII a
der à Feitoria'. e atn~a q~e, devido cannabis era ainda a cultura
30 risco de mcênd10, nunca se
abrirá a feitoria para se receber~u não alimentar primordial em
entregar e fiar linho, senão ~e di~: Portugal, como atesta a edi-
e se fechará às horas conv;ni~ttes_ · ção em 1799 do Tratado Sobre
De facto, os processo~ . e 1 umd,- o Canamo, a versão nacional
ção então usados exigiam to as
1;:cautelas, a ponto de um adágio de uma obra francesa, que
opular ter imortal izado esse abre com a epígrafe: ccNão há
p ceio: "Por um só cabelinho pode planta alguma que seJ·a tao
re . h ,, Vi t· d
arder todo o hn °· aso comemoro ,vo O util ao homem; ainda excede
As Feitorias do Linho centenório (em 1981 ) da ao grão frumentaceo [trigot
al . sede da Associação .
C ânhamo can 1zavam a Nacional de Farmácias. Na mtrodução do Tratado, o
:maior parte dos seus stocks ___________ tradutor Martim Francisco
d e filaça para a capital do . Ribeiro d'Andrade dirige-se a
rdee l·no' mais precisamente para as oficinas D. Maria I, chamando a atenção da rainha
cordoaria e velam e.do~ Arsenais
. Reais,
. para a importância da «preciosa planta»
ue funcionaram na Ribeira das Naus, em nos desígnios nacionais, considerando a
{isboa, até à sua ~estruição por um incên- can nabis " wn dos objectos de primeira
dio que se seguiu ao terramoto de 1755. necessidade para as Poten cias Marítimas,
:r-.J"esse mesmo ano, por proposta do como a nossa, de que VOSSA ALTEZA
Nfa.rquês de Pombal, D. José promulgou REAL goza o Supremo commando':

181
EÇA DE QUEIRÓS: "POIS VENHA O HACHISCH!"
o final de Outubro de Eça de do sendo proibido!
N Queirós, então com anos, par-
tiu com um amigo, o Conde de Re-
1869,
23 - Em primeiro lugar - respon-
deu ele gravemente - há três quali-
dondo, para uma viagem ao Egipto e à dades de liachisch: há lrachisch em
Palestina. Quanto ao Egipto, o futuro pastilhas ...
romancista registou as sua impres- - Pois venham as pastilhas!
sões em notas (postumamente coli- - Há liaclzisclr em bolo ...
gidas num volume intitulado O Egip- - Pois venham os boJos!
to: Notas de Viagem), cuja leitura torna - Há liachisch em geleia ...
claro que os dois jovens portugueses - Então, venha a geleia!
estavam apostados em aproveitar a Jonas Ali encolheu os ombros -
ocasião para experimentar o haxixe, o e o olhar que nos lançou era cheio
qual no século XIX consubstanciava dum infinito desdém ...
muito do fascínio exercido pelo exó- Em O Egipto, Eça não volta a referir
tico Oriente - e, em Portugal, poucos o haxixe; mas relata como, durante a
estariam tão a par como Eça das Loas sua estadia no Cairo, participou com
que em França cantavam aos "paraísos Redondo em duas sessões de fumo de
artificiais" os seus ído]os Gautier, Bau- narguilé, cujo efeito, explica, é mergu-
delaire e de Nerval, notórios membros lhar o consumidor "naquele estado a
do «Club des Haschischins': que os árabes chamam 'kiéf'. cc[O] cé-
Assim, em O Egipto, ao relatar uma rebro , az.io de i<leia e cheio de so-
visita aos bazares do Cairo, na compa- nlhos~ abismámo-nos longo tempo
nhia de Redondo e um guia local, Eça naquele doce enlevo, no kief - no
de Queirós escreve sem rodeios: dh·ino, mole, voluptuoso. inerte, pací-
Fomos apenas uma vez ao bazar fico kief!'', e creve Eça, que refere
das drogas: procurávamos ltachisch. ainda "visões em que nos julgávamos
- Hachisch? - disse-nos Jona Califas, comendo manjares admiráveis
Ali [o guia] - mas é proibido!-- entre danças de escravas':
- Mas deve-o haver ... sobretu- Embora Eça de Queirós não explici-

\_pesar da cordoaria desde cedo ter canalizado incipiente progresso tecnológico, não
:_:::..-a si a maioria da produçuo de cânhamo na- era excepção na matéria, como dá conta
: ,vilal, as necessidades da intensa actividade dt
cons trução naval eram tais qu.e apeniu a importação
o V1Sconde de ViJla-Maior no artigo "O
permitia satisfa~-las totalmente. Segundo l.L Portu- Canamo na Villariça", publicado em 1863
gal ,w Point de V11e Agricole. obra de 1900, ..o nosso na revista Archivo Rural Depois de refe-
país é obrigado a tomar de empréstimo e imponar rir que "(a] cultura dos linhos (cânha-
da Rússia um stock bastante considenhel de cl-
nhamo em rama, porque as condições económicas mos) é fácil e incomoda pouco os lavra-
da produção agrícola tomam hoje a cultura Ml dores", Villa-Maior assinala que ('todas
causa pouco vantajosa, se cxceptuarmos as terras dt as dificuldades e embaraços aparecem
Trás-os-Montes".
depoi que a planta é arrancada para ser
Mas os tempos estavam a mudar. entregue às diversas operações que têm
Com o advento da Revolução Industrial, por fim separar a matéria filamentosa':
a atracção pelo cultivo de cãnhamo-de- após o que enumera explicações para o
-cannabis diminuía rapidamente em to- declínio desta cultura em Trás os Montes
da a Europa - e Portugal, apesar do eu no fina~ do écuJo XIX: ''l0 Porque o

182
te qual a substância que fumou " [a] nalisou, minuciosamente,
no narguilé, tratava-se obvia- as sensações que lhe dera, no
m ente de kif, as inflores- Cairo, o uso do haschisch, e
cências secas da cannabis. as visões fantásticas que
Sendo o menos potente nos preparava - porque
dos preparados psicoacti- ele e o Conde de Redondo
vos d e cannabis, o kifnão haviam-nos trazido fw-
fora proibido no Egipto schisch misturado a ge-
junto com o haxixe, razão leia, a bolos, e a pastilhas
por que Eç~ pôde iniciar- que se fumavam en1 ca-
-se tranquilamente nos es- chimbos especiais".
tados alterados de cons- Em resumo: não só Eça de
ciência em lugares públicos Queirós e o Conde de Redon-
do Cairo. do satisfizeram no Cairo
* A venda de haxixe fora Eça de Queirós à época em o desejo de ex:perimen-
proibida no Egipto um ano que se iniciou no haxixe. taro haxixe, como se en-
antes da visita de Eça.
tusiasmaram com os re-
sultados a ponto de assumirem a res-
ertas dúvidas quanto ao seguimen- ponsabilidade moral e material de "ilu-
C to desta história são esclarecidas minar" com cannabis o círculo intelec-
pelo escritor Jaime Batalha Reis, amigo tual que frequentavam - o qual, sa-
de Eça de Queirós, na introdução que liente-se, passaria à história como a ge-
escreveu em 1903 à obra deste Prosas ração de ouro das letras portuguesas.
Bárbaras: Com a revelação da faceta hascha-
Na Primavera de [1870], estávamos schin de Eça de Queirós, a bola fica se-
uma tarde - o Antero de Quental e eu guramente no campo dos que consi-
_ na casa que então habitávamos a S. deram que a apetência por estados
Pedro de Alcântara quando entrou o alterados de consciência como os pro-
Eça de Queiroz, chegado havia pouco, porcionados pela cannabis merece o
do Oriente, mas que ainda não ví- cárcere ou, mais civilizadamente, a in-
ramos'~ E, continua Batalha Reis, ao tervenção de uma Comissão de Dis-
pôr os amigos a par da viagem, Eça suasão da Toxicodependência ...

espaço que se lhe pode consagrar, e _que atraso em tudo o que diz respeito a vias
d ecerto n ão excede nem talvez atmge de comunicação torna infesadas e de
100 hectares, a restringe consideravel-
pouco vulto todas as reclamações co-
.. ) )

m ente. 2° Porque as operações verdadei- mercia1s.


ramente industriais, da preparação da Apesar de apelos bem intencionados
fi_laça, que se devem forçosamente pra- ("Por isso é precisa dos agricultores a sua
ticar num periodo muito limitado, re- atenção para que renasça esta importan-
querem m~it~s bra~os_ e é difícil encon- te cultura, e do governo a devida protec-
trá-los aqui d1spon1ve1s na época opor- ção para bem da economia do país': es-
tuna. 3° Porque a extracção do cânhamo creve-se em As Terras de Entre Sabor e
é aqui limitada pelo emprego que lhe Douro, urna obra regionalista de 1908), o
d ão os cordoeiros de Vila Nova de Foz declínio acentuou-se - e no p rincípio
C oa, que são os únicos consumidores do século XX o cultivo do cânhamo-de-
que sustentam o preço acima indicado. -cannabis estava praticamente extinto
o fjnalmente, porque o vergonhoso em Portugal.
4
183
Durante o salazarismo, reconheceu-se à cultura da cannabis "capacidade
de limpeza contra as ervas daninhas, ocupação de mão-de-obra,
regularizando a crise de trabalho existente nessa altura e, especialmente,
o facto de ser remuneradora".

O CANTO DO CISNE À época, o regente agrícola Celestino


Graça destacou-se pelo entusiasmo com
A partir de 1935, em pleno regime sala- que promoveu a cannabis, nomeadamente
.l"lzarista, o Ribatejo foi palco de um
em A Cultura do Cânhamo (1943), que
episódico renascimento da cultura do
inaugurou a prestigiada colecção de livros
cânhamo industrial em Portugal, cujo agrícolas "A Terra e o I rornem': Referindo
auge se deu durante a Segunda Guerra
as ..óptimas condições que em Portugal
Mundial. Na comunicação Pró-Cânhamo,
existem para a cultura do cânhamo» e os
proferida em 1942, o engenheiro agrícola
"resultados económicos compensadores
Antunes Júnior explica que a rein-
do trabalho intenso que a mesma
trodução do cânhamo em Por- ......~ll"'l:l"lm'limllt'fl
reclama': Celestino Graça considera
tugaJ se deveu principalmente
que devia apostar-se
aos "conflitos internacionais
sobretudo na região
que antecederam a Segunda
ribatejana, 11à qual,
Guerra Mundial, sobretudo o
por natureza, está
que opôs a Itália à Abissinia,
destinado o papel de
porque por efeito das sanções
verdadeiro solar do
económicas aplica-
cânhamo em Por-
das à Itália, em 1937, r----- tugaY:
então segundo pro-
Em A Culh,ra do Cd-
d utor m undiaJ [de nlwmo, Celestino Graça
cânhamo J, e os ele- enumera as inúmeras uti-
vados preços prati- lizaçõo da fibra da cannabis: "cabos
• promoveu para embarcações, toldos de vagões,
cados pela Espanha,
activamente encerados, barracas de campanha,
a importação atin- sacaria da melhor qualidade, e para to-
o cânhamo
giu preços proibiti- através de das as aplicações, p3nos para a apanha
vos para a indústria llvros t! da azeitona, malas para condução de
portuguesa». correspond~ncia, passadeiras, pano
broehuros. para rC'\estimcnto de 'maples' e cadeiras
Em Portugal, a reanimação da ca- de vi,1gcm, mangueiras, lonas, velas de
nhamicultura deveu-se fundamental- fragatas e rcsp«th.-a cordoaria, redes e fios de pesca,
mente à designada "Campanha da Pro- etc., etc. AJ(m disso, podem confeccionar-se com o
dução Agrícola': promovida pelo Mjnis- cã.nhamo tecidos mais ou menos finos, conforme a
tério da Agricultura e executada pelas qualidade da fibra empregada, como sejam: p~os
para cotloha, toalhas de mão, guardanapos, tecidos
Brigadas Técnicas da Direcção Geral dos para carpct~. tecido:. ~iros para vestuário, etc.
Serviços Agrícolas, as quais plantaram as (... ) nas casas de la\-oura pode aplicar-se a fibra de
primeiras sementeiras experimentais n o cânhamo na confecção d~ vários artigos da maior
Ribatejo em 1935. Esta campanha conta- ulilidadl?.. As redes para a conduçào de palha, as
sog~ as prisões para mangt.-doura, os cabrestos ou
va com a colaboração da Companhia a- cabeçad~ p:1ra g.i.do, JS cordas. e muitos outros
cion al de Fiação e Tecidos de Torres o- objectos de utilidade ogncola são de fácil fabrico e de
vas, que se comprometeu a adquirir a inromp.mi"d duraç-.lo': Celestino Graça ª<:1'escen~
totalidade das necessidades do mercado ailld.i que ªI pior efeito das culturas expenmentals
reali7"'"1das foram -lht' rttonhecidas capacidade de
p ortuguês em termos de fios de cânha- lim~ conlr.l .1.) ef\ ~ damnha.s, ocupação de mão-
mo, ou seja, entre 400 e 500 toneladas -d~-obra, reguhiriz.indo a crue de trabalho e.-cistente
por ano. nessa altura no Ribatejo, po ibilidade de ser pratica-

184

J
A CANNABIS NA LÍNGUA PORTUGUESA

m português, o termo latino Cannabis originou o vocábulo "cânave», do qual


E d erivam diversas palavras e alguns topónimos portugueses, indicadores da
importância que esta cultura teve outrora entre nós. As palavras em causa in-
cluem "canavear" (plantar cânaves), "canaveira" (lugar onde há cânaves) «ca-
naval" (terra de cânaves), "canavial" (de Carmabialis) e "canavês» (plantação de
cânave).
Quanto a topónimos, destaca-se Marco de Canaveses, vila e sede de concelho
do Douro Litoral, por se tratar de uma urbe importante que foi baptizada a par-
tir da cultura de cânhamo aí praticada. De facto, diz José Leite de Vasconcelos na
Etnografia Portuguesa: ((A cdnave [cannabis > canabe > cán ave > cânave] liga-se
também o topónimo Canaveses, conformemente ao que se lê no Dice. de Mo-
raes, 4ª ed.: 'canavez, plantação de linho canavez. Plural Canavezes": A propósi-
to, na monografia A Vila de Canaveses (1935), Manuel de Vasconcelos escreveu:
"Não vejo necessidade de ir buscar etimologias complicadas, quando o próprio
nome do local é palavra portuguesa e designa, de mais a mais, uma antiga cul-
tura nacional Canaveses ( . .. ) chamam-se as plantações o u plantios de câ-
nha mo. O nome de Canaveses dado a alguns lugares ( . .. ) inclica a existência e a
extensão, em Portugal, da cultura do cânhamo ou linho canave ou canavese [ou
alcanave] , como se dizia no português antigo".
o Diciot1ário da Língua Portuguesa Qmtempordnea~ da Academia das Ciências
de Lisboa, regista dois vocábulos com origem em "cânhamo''. São eles "canha-
maço" e "calhamaço" (ambos de cânhamo+ sufixo aço, significando estopa ou
fio do cânhamo, ou tecido grosseiro feito com essa estopa).

da em terrenos em que a primeira sementeira doutra ses, em culinária. Os resíduos da extracção do óleo
tura se perdia com as inundaçõL-s e, especialmente, constituem um excelente alimento de engorda para
eulfacto de ser remunerad ora. " o gado ovino e suíno; c) FOLHAS - Constituem um
0
No capitulo IV de O Ct111hamo, Cultura e Utili- bom adubo, enriquecendo os maus terrenos; d)
ção dos Seus Produtos, obra de 1942, o autor Jayme GOMA-RESINA - Esta gôma-resina possue proprie-
~btlo Hespanha enumera os usos não-industriais dades embriagantes, provocando uma embriaguês
da cannabis: "a) CAULES - Com o caules fazem-se nervosa cm que tôdas as ensações agradáveis ou
m echas; servem para aqu<.-ccr os fornos e fornecem desagradáveis, segundo a disposição momentânea
urn dos melhores carvões para a fabricação de pólvo- ou habitual do espírito do paciente, são considera-
r as; b) SEMENTES - A velmente exaltadas. O l1a-
sernente do cânhamo é scl1ich é uma preparação
muito empregada na das fôlhas do cânhamo
alimentação do homem, usada por algumas popu-
principalme_nte na~ pro- laçóes indígenas da Arábia
víncias oc1denta1s da e da África''.
RúsSia. Também se em- Em 1943, de acor-
prega na aHmenta~ão do com Celestino
das aves ornam.entats e Graça, «o in terêsse
anoras e, muito, nos
e us primeiros · d' d pela cultura toma
se . ,ias e
Vl
'da •
se,·am quais ,,6 rem.

aspecto de entusias-
oas sementes extrai- e mo febril. A área to-
de 20 a 25% de um.óleo tal das sementeiras
secativo usado na pmtu- Na é-poca salazarista, posava-se em boa
atingiu, aproximada-
ra, no fabrico de sabões , consciência junto o colheitas de cannabis.
rnoles e, em certos pai- - - - - - - -- - - - - - -- - - mente, 600 h ectares

185
e muito mais haveria sido se não tivesse A GUERRA À MARIJUANA
escasseado a semente"; contudo, logo
squecido o cânhamo, abria-se um no-
após o fim da 2ª Guerra, em 1945, ini-
ciou-se um processo de decadência que E ·o e controverso capítulo na longa
história da cannabis no nosso país - a
contrariou as risonhas expectativas;
como consequência, pôs-se fim a wna planta que tornara possiveis os Descobri-
investigação que muito teria beneficiado mentos era agora apresentada aos portu-
a agricultura portuguesa, se devidamente gueses como uma droga infernaJ, a mari-
desenvolvida. juana. De facto, a acreditar em deputados
Ainda segundo Celestino Graça, o gol- lusitanos do início dos anos 70, a cannabis
pe de misericórdia da cultura do cânha- era "um flagelo capaz de subverter a fanú-
mo em Portugal deu-se entre 1952 e 1956, lia, a ação, o Estado'~ causando "não só a
quando se registou "uma invasão do mer- decadência mas a morte da civilização
cado por grandes quantidades de fio ocidental'~ Chegou- e mesmo à apocalí-
espanhol que era mafa resistente (cerca de ptica conclusão, na antiga Assembleia
5%) que o melhor fio conseguido pelo •acional, que a marijuana era "o perigo
cânhamo cultivado em Portugal. A pro- n° 1 para a sobrevivência do homem'~
dução tornou-se então excedentária, ori- Tão histérico alarme era especialmente
ginando, em 1953, a existência de elevados descabido em Portugal, que à época cor-
'stocks' que provocaram incerteza e medo respondia ainda em grande medida ao
na manutenção da cultura'~ E, apesar de "orgulhosamente sós" salazarista - e o
hábito de fumar cannabis, emblemático da
em 1954 o governo ter concedido um su-
geração flower power que sacudia o
bsídio à produção do cânhamo, as últimas
mund~ era virtualmente desconhecido
plantações portuguesas de cannabis in-
entre nó . Assim, na primeira edição do
dustriaJ extingt.úram-se no Ribatejo em
festival de Vilar de Mouros (Agosto de
1970; por curiosa coincidência, o preciso
19j1), mau-grado o visual liippiede muitos
ano em que a cannabis e o seu culdvo fo.
ram ilegalizados entre nós.
Sobre as causas do desaparecimento da Chegou-se à apocalíptica
cultura do cânhamo em Portugal, e cre- conclusão, na antiga Assembleia
veu o regente agrícola Carlos Montemor Nacional, que a cannabis era "o
em tese de mestrado apresentada em perigo ni l para a sobrevivência do
1997 no Instituto uperior de Agro- homemn.
non'lia: "[A] semelhança do que aconte-
ceu com outros têxteis e oleaginosas na- dos 20.000 jov,ms presentes no «woods-
turais, a cuJtura foi vítima do progresso: tock português': ninguém - muito me-
desaparecimento dos barcos à vela, con- nos os 150 agentes da GNR presentes, al-
corrência dos têxteis e oleaginosas das guns armado de metralhadoras - des-
antigas colónias (algodão, sisai, juta, cortinou indícios de consumo de "drogas'~
amendoim, entre outras), o apareci- Entre .is dues portuguesas, porém, houve quem
mento das fibras sintéticas após a segun- csti\~ ~intoniL.õlJo com os vemos psic.idéHcos
da guerra. A redução da área cultivada e dode o ink.10. ~im, segundo o jornalista João AJ-
,·es da Cost3 ffll Droga t Prostimiçiio em Lisbot1, a
da produção global foram também pro- partir de 196;.•e...}n.1 margem costeir.1. do Algarve
vocadas pela perda de rendimento em nomtadammte c-m Fcrragudo-Albufeira - Praia
relação a outras culturas, pela dificul- da Rocha - Monte Gordo - ~ 11ovidades toxicó-
m.a.M) [marijua.n.i e LSD ' e,plodiam nas festas da
dade em encontrar mão-de obra neces-
praia na norte - n:is boices - nos apartamentos
sária, nomeadamente à execução da co- ( •.•) n an que ~ ~ os e cândalos ur-
lheita e maceração que são trabalhos b~o em'Oh~do iovt>ns consumidore e matreiros
penosos': trafiamtõ ap.m enam no jornais de Lisboa -

J86
corriam rurnorcs que era gente da
ALTA - nomes da sociedade - malta
graúda - mns a censura de inOuéncias
a padrinhagem a política de desfasa-
m en to da verdade faziam cruelmente
os seus efeitos (. , , ) ».
Aliás, quem fumou cann a-
bis em Portugal até Setembro
de 1970 fê-lo na mais comple-
ta ]egaJidade, po is entre nós o
consumo de substâncias "estu-
pefacientes,, só passou a ser
considerado um crime após a
p romu lgação, n esse mês, dos
Decretos- Lei n° 420/70 e
4 35/70, m ediante os quais Por-
tugal ratificava acordos inter-
na cionais visando o chamado
"combate à droga'', tais como a
Convenção Única sobre Estu-
pefacientes, subscrita pelo go-
verno sa]azarista em Março de
1 961 em sede da ONU. Como -
assinala um texto do Movi-
mento Anti-Proibicionista so-
bre esta legislação, « fn] este pe- Cartaz da campanha "Droga-Loucura-Morte" afixado
ríodo a atitude tomada foi na em Lisboa em Junho de 1912.
prática e n a teoria o uso exclu-
mente inexistente em PortugaJ: "São cerca de 137 os
sivo da repressão a todos os níveis> não casos que foram detectados de consumo de droga
sendo definidos quaisquer esforços na nos últimos dois anos na Metrópole ( ... ) Detectou-
área da profilaxia': -se LSD, marijuana e haxixe. Nenhum caso de heroí-
A pena prevista para o crime de consumo de na." Quanto às razões para tão baixos Ú1dices de con-
sumo, diz o artigo "Química da Loucura" publicado
cannabis, incluída na tabela de substâncias psicoac-
no Sécufo Ilustrado de 4/3/72: "É também a nossa
tivas ilegalizadas, oscilava entre os 6 meses e os dois
eterna posição de parentes pobres e afastados da
a nos de prisão, e multa de 5 a 50 contos (entre 250 a
opulenta familia ocidental que nos tem preservado (e
2500 euros). ainda preserva) de certas doenças da riqueza, como é
Em Junho de 1972> surgiram afixados o caso das drogas. Para a grande maioria da nossa
em outdoors por todo o país centenas de juventude, o problema é a inda a sobrevivência''.
cartazes com a imagem de uma caveira Por esta razão> a primeira campanha
ostentando na fronte o símbolo da paz antidroga nacional foi amplamente de-
(associado aos hippies), tudo acompa- nunciada, mesmo à época. Escreveu-se
nhado pelos dizeres «Droga-Loucura- por exemplo no Século Ilustrado que
-Morte". Iniciava-se a primeira campa- "cartazes como o da Droga-Loucura-
n ha.n acional cont ra a droga, não obstan- -Morte ( ... ) induzem em vez de afastar,
te Portugal ser um país onde, como se es- criando o fascínio pelo p erigoso e pelo
creve na imp rensa da época, "só se ouvia proibido" - um efeito tanto mais pre-
falar de haxixe e LSD pelo noticiário visível quanto era abissal a dessintonia
internacional dos jornais". entre o caquético regime de Marcelo
Em 1973, o deputado Agostinho Cardoso confir- Caetano e a juventude portuguesa. Re-
mava que o consumo de drogas ilic itas era pratica- centemente, Cândido de Agra, investi-

187
usE NÃO COMES A SOPA, CHAMO O TRAFICANTE ... "
pós décadas de propaganda, ficou lescente aumenta o grau de intoxi•
A bem enraizado na psique naciona1
o mito de que o "flagelo da droga" se
cação. Até qut.: vem o dia em que o
adolc cente já nao tem com que com-
deve em grande medida a abomina- prar o ,eneno ... Então o traficante, na
veis traficantes que impingem droga a sua capa de bom rapaz, propoe-lhe so-
jovens inocentes. Para que conste~ a ciedade: por que nJo h,í -de o jovem
versão original desta história da ca- viciado passar também a vender a
rochjnha conten1porânea data de 1973, droga? Ao;~im nunca deixaria de ter
quando foi declarada guerra à droga dinheiro com que a adquirir ... E o cir-
em Portugal, e reza assim: "[Os trafi- culo infernal alarga•~, vai-se alargan-
cantes] não procuram criar uma do ·empre a outro jovens e a outros
clientela entre os adultos, mas apenas mais, e de tal modo que a diferença
entre os adolescentes e as crianças; por entre o traficante e o chamado 'con-
isso começan1 a aparecer, à hora cm 5.Umidor• é, na pratica, mínima. Todo
que terminam as aulas, junto do o consumidor, a menos que nade em
liceus e das esco]as comerciais, esta- oiro, será, amanhã, fatalmente um
belecem relações, oferecem 'baleias' os traficante~ (E.,ceno de comunicação
que se apresentam motorizados, em- do deputado toura Ramos à Assem-
prestam discos e livros; depois um dia, bleia •acional1 citada no Diario de
1
como que por acaso, distribuem , 01iâ11s de 16 de 1arço de 1973.)
alguns cigarros de marijuana, mais A indighl ia da retórica anti-marijuan.i em
tarde alguns comprimidos de L. .D. E Vor1ug.al nos primt'lro trmpo, d.1 guerr.1 .10 "fl.i-
~elo da droga"/ demonstrada por ClitJ p~gem
para esses adolescentes e essas criança~ dr um.a obra de N;;. 1\ Droi:t1, Bmçào ou
está, assim, transporta a porta do (aldip1o, de Josl Am.ul.o:Apoa.r d;is variaçõe:,,
11

inferno. Quando voltam a pedir cigar- a maconha E s.cmpre m~.1nador.a, m.m do que
ros de marijuana, já esse cigarros tém oul111 droga qualqua; u olho-- do viciado, pes-
a) in«cnl ou muito migas tr:insformam-!>e
um preço, mas ainda baixo. Preço. im..-diatal'llfflte cm çand inimigO!> que o:. es-
todavia, que irá subindo sempre ine• preitam para os ~l~ar mortalmente: pJrJ n.io
xoravelmente, à medida que no ado- morlU atira•'I<. (W ~ se forro w,d mata-as·:

número ck 'drog.:ido • c:m Portugal.(. ) nào seco-


5ador dos fenómenos da droga e do cri- nhtu qualquer otudo, ainda que elementar, sobre
me, escreveu em Dizer a Droga, Ouvir as U1di<«."S Je ri.'-Co antt-rior 1 camranh.i': Em 2002., o
Drogas que u[ e]sta grande campanha pu- psicólogo lw ~rn3.nd~ t"$Cre, eu na revista A
blicitária tem sido apontada por favore- Página da .&l11c11 ao .a propó,110 Ja C1mp,mha "'dro-
cer a difusão do fenómeno [o consumo ga-lou1.ura-morti": "Sob o gno da dfabolizaçao do
fenómeno. comandada pd.t política de tolerância
de drogas ilícitas] que à data era pratica-
~«o do maior produtor mundfal de marijuana -
mente inexistente". os EUA - afa.,tou-~ a p\iroacth id.lde d.1s funções
Sobre esta campanha, escrewu Càndido de Agra que mai a ;apruum..i.,'lUll do,- eu usos anc~ ttais-
na obra citada: "IN}enhum acontec1meuto .;ignifi- rituai psiadélicos, Íe>th-os. hlclico ou curativos -
cati110, em matéria de consumo de drog.i~. tinha e, no fim d. linha da caça às hru:<as. expulsou-se a
lançado a inquietação quanto a 1."-la problemática po~.)lõilidack de com1vmci.i p:ic1fi..-a COO) J. translu-
junto dos portugueses. Por outro lado, nenhum cidtt. r~,udo unilatttalmait~ o que nela havia de
e1>tudo cpidemfológ1co i;obre a inddcncia e prt• ahhmo, ~ pmtiçio. ~ tngêdi.i, de parologi:1, de
valência do fenómeno da d.rog.i fundamentava tal tra.nsgrcss1o. A u:i pro1biç!o lcg:tl ~-guiu- e o seu
campanha. (...) .1:. nem sequer foi avançada qualquer inmdito. mesmo nos rromtos m.1i:. u.i,es da liber-
estimativa, mesmo que infundada. quanto ao Jàck d~ acu um·.

188
Note-se que à época, mes-

t
mo em Portugal era bem sc1-
bido que, enquanto "<lroga", a
cannabis erJ pouco menos
que inofensiva. Assim, cm
• I,
, o p~iqui.11ra )oJo Frago•
1973
50
Mendes, prcs1<lentc da
Liga Portuguesa de Higiene
I
N{ental, com1dcra, a cm en
trcvista .to Século 1/ustmdo:
" [Na) maio na das drogas de
que tanto se tem falado ulti-
mamente e que se conside-
ram o riginar to;,.irnmJni.1s
_ marijuana, LSD, etc. - ,
( ... ) nao exi te nem depen-
dência nem s!ndroma de
abstinência''.
Embora por detrás Primeiros jovens presos em Portugal por posse e consumo de
da campanha " Droga- cannobis, em Julho de 1972.
-Loucura-Morte» esti- mescla de conflito de gerações e revo-
vesse obviamente a pre ão dos Estados lução de costumes em curso no Oci-
t)nidos (onde o presidente Nixon, acos- dente; tal como em tantas outras áreas
sado pelo escândalo Watergate, lançava estávamos simplesmente atrasados e~
0
portunisticamente a "War on Drugs"), relação ao que se passava "lá fora". E, com
isso n ão invalida que os nossos gover-
alguns ano~ de desfasamento, espalhou-
nantes de então, acreclitando que Por-
-se entr,e ~ JUve_ntude portuguesa o gosto
tugal era uma espécie de reserva moral pela m us1ca psicadélica e o estilo de vida
do Ocidente, se sentissem genuinamente
hippie - quanto a experimentar as dro-
aterrados com a ideia de implantar-se
gas catalizadoras do fenómeno contra-
entre nós a contracultura juvenil que
cultural, a marijuana e o LSD, a maioria
abalava o mundo industrializado. Neste
dos candidatos lusitanos precisou de
espírito, para combater o que foi desi-
esperar um pouco mais.
gnado de "plano diabólico para cor-
romper a juventude11, em 1973 chegou a a imprensa da época fizeram-se ouvir algumas
:02.es ponderadas sobre a atracção que sentiam os
er advogado na Assembleia Nacional o Jove~s pelos estados alterados de consciência pro-
"controle do movimento 'hippie' por- porc1onad~s pela cannabis e o LSD. Por exemplo,
tuguês, evitando-se por todos os meios a para o soc16logo Fernando Jorge Micael Pereira "a
entrada em Portugal dos seus adeptos droga é um fenómeno culturaJ, ( ... ) aparece ligada

estrangeiros", advogando-se ainda "o


controle dos festivais 'pop', responsáveis O factor mais importante na difusão
por tumultos e difusão das drogas». da marijuana em Portugal toram os
Sublinhe-se os ve-Les que forem necessári:'.ls que, militares portugueses que
efl'l port ugaJ nos anos 70, a substâncias que estavam participaram nas guerras coloniais
implicadas n ll "drogagem da juventude" eram exclu-
sivamente os diver os preparados psicoactivos de em África.
cannabís, e os psicadélicos - n lrerofna, nomeada-
,rrente, estavn ausente da "problemdticn dn droga''. As-
ao grupo e à festa. ( ... ) a droga aparece como
sim, em 1972, o propósito do primeiro juJgamento de ?esve_nda~do ou pretendendo imaginar um mundo
droga reali1:1do em Portugal, escreveu-se na revista imaginário. Apresenta-se como pesquisa do futúro
observador. "O cànhamo indiano, o kif, a marijua- ( .. -~ela é um rito_de iniciação no futuro ( ... ) parec;
na, o haxixe, a mncomba, a lian~ba e o LSD faziam a~m uma nova Vla, é uma aventura, uma experiên-
parte do vaslo stock de estupefacientes que os forne- cia. E todos esperamos que sejam sobretudo os jo-
cedores distribuinm.'' v~ns quem se aventure, quem experimente" (entre-
Mas Portugal não escaparia à explosiva vista ao Século Ilustrado, 2/6/73).

189
um patético cxerc1c10 de
tapar o ~oi com uma pe-
neira. 'ada podia impedir
e tudante~ e jovens profis-
siona1S de viajar até países
e trangeiros, principalmente
a Inglaterra e a Holanda, on-
de com facilidade experi-
mentavam as famosas dro-
gas dos hippies, muitas vezes
tornando- e depois proséli-
to delas entre nós; outro
pólo de difusão da cannabis
Em Agosto de l'176, a RTP anunciou oo pah <0 Flagt!!lo
1
eram o turistas europeus
do Liam ba" . que começavam a eleger
Portugal como destino de
Foi assim num clima de histeria anti- férias - o Algar..,e preocupava de forma
cannabis que, em Abril de 1973, te,·e iru- particular o~ guardiões da nação, ·'por ser
cio em Lisboa o julgamento conhecido zona de turi mo, portanto frequentada
por "novo caso das drogas': o qual de - por milhare- de e lrangeiro 1 que conta-
pertou enorme interesse, pois entre as giam o perigrn,o vício ao habitantes
dezenas de arguidos por po e e consu- daquela provmci:1~
mo de marijuana contavam-se nomes Mas o factor mais importante na
sonantes do meio artí tico e cultural li - difusão da marijuana em Portugal foram
boeta. O Ministério Público pediu a con- ~m du"ida o militare portugue es que
denação dos réus a prisão efectÍ\•a. parhc.iparam nas guerras de Africa. Mui-
insistindo que o norteava o '\·alor pre- to deles, tendo d~pertado para os pra-
ventivo da repressão judicial ao con umo zere d~ fumar li.imba ou suruma nas
e transmissão de droga. maL1> do que a antigas colóni~ african~~ ao regressa-
gravidade das infracções"; a defe a in ·1s- rem da uas com~oe de erviço fa-
tiu na tónka de que os réus 1'nunca pre- liam-" acompanh.ir de amo tras das
tenderam nem pensaram na comercia- potentb ,-ariedades de cannabis africana
lização de plantas considerada~ e tupcfo- (boi-cola, mangarro a), que partilha-
cientes". No finaJ, tendo-se prm·ado a ,·am com amigo, e familia re .
participação da maioria em " e5 oes de • ' 1rnprch.S,l do) ,u10 ~uink-s ao 2s de Abril, o
fumo': 27 dos acusados foram condena- papd ~ militares na introduçJo d..J. cannnbis entre
dos a penas de pri ão indo de 3 a 33 nós f um daJo adquiriJo. Dob nemplos: "Em
Ponupl. 001 ullimos 20~. ;a roxicomania terá
meses (além de multas); toda a pena wírido um grand( m~rnnrnto. :,obretuJo através
seria m porém suspensas excepto uma. dC7.I mdi~ rcgrl:'51<1J ~ gurrrn coloniais e dos
Entre os "médico._, ~!tores, pintores, ~ríro- 1ur· t.u , indo> ~ Amtna do 'ortc t' da Europa
rcs, actores, puhlici tas. d~J,aJo~ cstudantn'" Ocidm1aJ" (O S«u/,o llmtmdo 11/6/;6), e "Em An-
ar1:1uidos n~slc Jiroce~so cont3,am-~ o~ actores gob, ~ni Moçamhiqu~. n.a Guiné, os soldados fuma-
Eunice Muno1 e Joao Perry, e o, pin1orõ Antónto ,;,am li.unb.l (.•.). E \-Olta~am. h,1bitu11dos à liamba,
Areal e Lagoa I lenriqucc.; entre as tcstmiunhas lraundo-~ omi~>. e5p.a,lh.anJo•J n.:u. su:ls aldeias e
abonatórias estiveram Amtti.a Re-) C.Olaço, António po\~ ( ...) ( \'ui., MunJi.;JI z.6/8/7ó).
Alçada Baptii,ta e Ary dol, Santo!.. Em ~larço de 19i4, pela primeira vez
Os esforços que o rt!girne marcefüta em Portugal, ~omumiram- ·e joints (à
fez para estancar a difusão do hábito de época ainda n.10 era comum usar-se o
fumar cannabis não pa55aram porem de krmo .. harro") o ten ivamente num

190
evento público. A ocasião foi o concerto q~ant.idades industriais. Era um privilégio que cu
da banda rock Genesis no Pavilhão de nao tmha, só as pessoas que estiveram em África
nomeadamente os soldados, a conheciam''. '
Cascais, onde, segundo informa o jorna-
Jista João Alves da Costa no livro Droga e Não que a situação dos apreciadores
Prostituição em Lisboa, "o ar quase não se nacionais de marijuana tivesse melhora-
distinguia do fumo - a inconfund ível do com a Revolução dos Cravos; de facto
associação sensorial que a marijuana tem a única continuidade descortinável entr~
com o a roma acre ( ... ) o amb iente a ditadura derrubada e o novo regime
pouco menos que irrespirável- o fumo d_emocrático é o "combate à droga,~ As-
d a 'erva' ca usava tosse a q uem tivesse de sim, n~s anos turbulentos a seguir ao 25
encher os pulmões muitas vezes - ~e.Abril, apesa r da aguda polarização po-
mesmo sem respirar o forno absorvia-se ltt1ca que quase conduziu o país à guerra
p or osmose". Concluindo, Alves da Costa civil,_ direita e esquerda em Portugal con-
afirma que "aquela sessão constitui talvez seguiam estar de acordo numa coisa - a
n o nosso país a primeira m aciça de- demonização da cannabis. Nas palavras
rnonstração colectiva do grau de disse- de Cândido de Agra, para a direita a can-
minação elevado em que a droga se en- nabis era o "sintoma de crise de uma so-
contrava no seio da juventude': ciedade ainda n ão preparada para viver
Logo no mês seguinte, dá-se o 25 de em liberdade"; para a esquerda, ela e ra
Abril. Numa eventual História Psicadé- "introduzida do eÃ.'1:erior malevolamente
lica de Portugal, - - -- - - - - - - - - - - - para destruir a comba-
1974 se rá decerto Um vespertino indignou-se com o tividade revolucionária
co nsiderado o ano facto da brigada de da nossa juventude."
do nosso Verão do estupefacientes da PJ, em vez de Apesar de ser um segredo de
AJnor, pois o clima investigar denúncias de cultivo Polkhinelo que muitos militares
de Abril, incluindo figuras
de liberdade, opti- de cannabis, estar "a ser,
gradas da Revolução, apre-
mism o e idealismo inexplicavelmente, ocupada com ciavam liamba, o espírito farma-
vivido nos meses serviços de bombas e cologicamente correcto que im-
seguintes à Revo- explosivos". pcr~ entre os historiadores e jor-
nalistas portugueses impede
lução dos Cravos
qualquer referência ao facto.
fo i o cenário utópico no qua l milha res de
p o rt~gue esse ini~iar~m n~ '?? sumo de A partir do final de 1975, registou-se
mariJua na - CUJa d1spornb1hdade au- um novo e decisivo impulso na dissemi-
m entara ainda mais com o regresso dos nação do hábito de fumar cannabis na
contingentes mjlitares estacionados nas sociedade portuguesa quando, na se-
colónias africa nas. A democratização em quência da independência das colónias
c urso no pais estendia-se ta mbém ao há- africanas, cerca de 600.000 residentes de
bito de fum ar cannabis: "O consumo da origem europeia fugiram espavoridos de
droga não é hoje excl usivo das classes Angola e Moçambique. Apesar de muitos
privilegiadas ( ... ) Dos filhos das familias destes "r~tornados" trazerem consigo
pode ro as a droga depressa alastrou até pouco ma1s do que a roupa que vestiam,
aos estudantes em gcraJ e começa agora a outros fizeram-se acompanhar de
p enetrar entre os lrabalhadores': diz-se grandes quantidades de erva africana,
numa Vida Mundial de 1976. sabendo que a m esma tinha grande
o realiiador de cinema Rui Simões, que co- procura na ex-Metrópole. Os registos in-
.rneçou a fumar cannabis em 1968, em Bruxelas, dicam que foi na praça lisboeta do Ros-
onde era exilado polltico, conta como foi regressar a
sio, lugar de concentração inicial dos re-
portugal em 1974, cm plena "festividade revolu-
cionária": "Uma das urpresas agradáveis era que tornados, que se inaugurou o comércio
havia imensa erva angolana, a chamada üamba, em regular de cannabis em Portugal; mas ra-

191
7

pidamente a liamba e a suruma espa- plantai destrua-a·: Sob o mote «o Flagelo


lharam-se por Portugal inteiro} à medida da Liamba': iniciava-se a segunda cam-
que os «deslocados do Ultramar,, se iam panha antidroga em Portugal.
fixando pelo país fora. Os resultados foram imediatos. A par-
Diz-se num artigo publicado no Sémlo ll1L.<tmdo tir do dia seguinte à divulgação das ima-
em 1976 sobre o "vício" de cannabis de um jovan de gens da cannabis na televisão, as autori-
uma vila não identificada do incerior: "E se ante5 a
dades não tiveram1 segundo o vespertino
tinha de procurar [a 'erva'J, com alguma difiruJd.ide,
entre os soldados que reg~vam das chamadas A Capital, ..um minuto de descanso a
'comissões de serviço: em terras do 'lmpéno Colo-- acorrer a toda as ·olicitações de popu-
nial~ agora a questao está bem mais facilit.ida: alguns lares que aqui e ali vão detectando novas
dos retornados constituem e.xc.dente mercado': E. plantações, uma mais vasta , o utras em
mais adiante, afirma um professor, Domingo~ Bap-
tista, depois de enumerar uma ~rie de mouvos que simples e ' inocentes' vasos colocados à
levam os alunos a drogar-se: "Acrcscrnte-se a tudo janela~ Centenas de plantações ou pés de
isto a avalancha de retornados das ex-colónias. cannabis foram denunciado em todo o
país; a acreditar na imprensa da época1 o
Apesar do consumo maciço, o tabu Porto e os ~eus arredores, em particular,
sobre o uso de cannabis tem-se estavam a transformar-se "em verdadei-
mantido firme em Portugal - ros quintais de liamba~ O cronista Carlos
apenas em 1990 consegue Ca cais foi dos poucos a ubtrair-se à
encontrar-se, em letra de imprensa, histeria reinante, perguntando ironica-
uma descrição "por dentro" dos mente na revista Flama; "Que out ra
efeitos da ganza. planta parece querer tornar-se tão popu-
lar como a sardinheira?"
Em 19;3, .i,ança-~ com 3 estimativa de "exis-
grande parte dos quais são reais ou pott-ndais toxicó-
lirem em Portugal cerca de 400-500 casos de droga-
manos ( ... )': Mais informa o psicólogo Artur Par-
dos" (inqurnto dt' Carlos Planrier, iru/o Ilustrado,
reira, no Expresso de 24/9/76: "Embora já exisossem
1.6/;/73): três anos depois, em 1976, fula-se de "mais
algumas drogas entre nós, foi na altura das mo,i-
mentações de e para Á.frica que começou a ',('J' uuro-
dt 100 mil drogad~ e cerca de 2-0 mil plantações de
duzida a cannabis sativa !., liamba como é conhecida, liamb.t• ( \ ítk \1und1al, 1t,/8/76). Embora nada ri-
gorosos, CSlC) da.do) tbtemunham o crescimento
primeiro com o regresso de militares, depois com a
vinda maciça de retomados (... ) as condi ões para a expio ivo do cofilurno de d~m·.ido:; de cannabis em
Portupl.
sua introdução tornaram-se propícias pela instabili-
Rrgutr-~ que a dõculpa mais frequentemente
dade sociaJ que se seguiu ao 15 de Abril. com o desa-
apmt"nt.l~ p.ira a planta :.lo caseiro de liamba era a
parecimento das instituições de repres.são e controlo,
derrubadas com bastanle rapidez~ obtrn~ de snnmte-; para a alimemaç-3o de pás-
s:tr~

"O FLAGELO DA LIAMBA" Valores mais alto e alevantavam, de


no,·o - encarnando o conceito de d ro-
ntretanto, constatada a facilidade de
Ese cultivar cannabis ao ar livre nume
clima moderado como o nosso, gerara-
ga, a cannabis tornara-se, para o regime
democrático, o arqui-inimigo que o co-
munismo fora para o saJazarismo. A sim
o hábito de plantar a "erva angolana" em se explica que, apesar de não terem
quintais e varandas para consumo pró- decorrido ainda doi ano obre o 25 de
prio; era possível fazê-lo com certa tran- AbriJ e a extinção dos "bufos,, da PIDE,
q uilidade, visto a planta ser virtualmente este regresso à política de denúncia de
desconhecida em Portugal. Mas tudo cidadãos praticamente não tenha levan -
mudaria a 16 de Agosto de 1976, quando, tado protesto . Pelo contrário: um ves-
num comunicado do Ministério da Jus- pertino lisboeta indignou-se com o facto
tiça, a RTP divulgou imagens de um pé da brigada de estupefacientes da PJ, em
de cannabis e da sua característica folha, vez de se dedicar exdusivamente à inves-
acompanhadas da legenda: "Se vir esta tigação de denúncias de cultivo de can-

192
OS MIL E UM SEGREDOS DE FÁTIMA
A nossa causa é um segredo contido
num segredo, um segredo bem protegi-
do, um segredo que s6 serve a um segre-
do, um segredo velado por um segredo.
- Ja' far al-Sadiq(m. 765), VI0
Imam fatimida

endo os historiadores nacionais


L sobre a época da fundação de Por-
tugal, fica-se com a ideia de que os
mouros que então habitavam as re-
giões entre o Douro e o Algarve existi-
ram principalmente para levar valen-
tes traulitadas dos nossos antepassa-
dos. Noções simplórias como esta, se
bem que estimulem uma certa auto-
estima colectiva, têm o inconveniente
de reduzir o passado a uma fanto-
chada literal, quando, pelo contrário, a M ístico sufi atingindo o êxtase. Detalhe
riqueza e complexidade da Históda é de iluminura de manuscrito f)ersa do
tal que chega a desafiar a interpretação século XVI.
- como nos permitem constatar, se
nos dermos ao trabalho de os analisar vorecia a religião interior e individual,
mais a fundo, os povos a quem cha- alegando que a leitura alegórica do
mamos distraidamente mouros. Corão «abre as portas à espiritualida-
Quando falan10s em mouros esta- de, aos segredos da gnose e só está ao
mos a referir-nos às tribos berberes alcance dos iniciados» - um enten-
Macemuda e Zenaga, que em 711 dimento que se encontra nos antípo-
invadiram a Península Ibérica a partir das do professado pelo islão ortodoxo
do Norte de Africa. Estas populações (sunismo), que impõe uma leitura li-
teral dos te>...1:os sagrados e rejeita todo
A conexão dos fatímídas com o o misticismo.
haxixe é tão íntima que os dois Nota: Dado que na era medieval as diversas cor-
rentes heréticas islâmicas quase não se di.stin~
termos chegam a ser sinónimos. guiam entre si, neste texto usam-se de forma in-
termutável com fatimismo os termos ismaelis-
eram de obediência maioritariamente mo, chiismo e sufismo.
fatimida, um movimento político- A época de maior proeminência fatimida no
-religioso originado no Magrebe cujos Oriente foi o Califado Fatimida do Cairo {959-
-1171), que "marcou o islão pela criatividade in-
seguidores se consideravam herdeiros telectual e artística, e pela tolerância religiosa'~
espirituais de Fátima, a filha de Mao- Os fatimidas medievais viveram porém em con-
mé, e enquanto tal legítimos represen- flito permanente com o islão legalista, por vezes
tantes da fé islâmica revelada pelo devendo organizar-se em confrarias secretas e
guerrilheiras. "Os séculos de luta entre os fati-
Profeta. midas e os ortodoxos sunitas (X-XII) foram a
Basicamente, o fatimismo era uma única época de criatividade científica e cultural
teologia de índole messiânica que fa- do islão ( ... ). Passado esse desafio {com a su-

193
como "o~ efei lo da iniciação tradu-
zem -se por um caudal de visões» e "o
iniciado nesse grau começa a 1.1er coisas11
são consiscent~ com as experiências in-
duzidas fiavelmente pela cannabis psi-
coactiva. Acresce ainda que estes místi-
cos não sentiam pudores quanto aos
meios a utilizar para vislumbrar o
Oculto, pois «[para os sufis) a expe-
riência visionária pode ser o único cri-
tério de perfeição espiritual': Os seus
inimigo , esses) nunca tiveram dúvidas
sobre a questão - uQuanto aos seus
pretensos êxtases e visões, é o efeito do
haxixe ou cânhamo indiano, drogas
proibida - pela religião," lê-se num
libelo anti-sufi publicado pelas autori-
dades iranianas contemporâneas.
A conexão do fa6midas com o ha-
Pintura do século XIX representando a
universidade de al-Azhar, no Cairo; xixe é tão íntima que os dois termos
fundado pelos fatlmidas hashashin em chegam a er inónimo - assim, a
970, é a mais antiga do mundo ainda mais notória seita fatimida oriental, a
em funcionamento. Ordem dos Irmãos da Sinceridade (ou
da Pureza), c uja exist~ncia Marco Polo
pressão dos íatimidas], instalou-se no i~lão o revelou à Cri tandade, era conhecida
obscurantismo e o pasmo, ill é hoje': n o islâo por hasha.shin, os consumido-
Ora sucede que entre as técnicas ini- res de haxixe. ob o efeito do haxixe,
ciáticas usadas pelos místicos i làmi- diúa-se, os iniciado nesta ordem ti-
cos medievais contava-se o conslllllo nham visõe do Paraíso, q ue os inspi-
de haxixe, que "estava muito divulgado r.ivam a obedecer cegamente aos seus
entre os fatimidas", devido ao e u chefes, executando com zelo suicida as
efeito de «elevar a imaginação até atin- mis ões terroristas e de espionagem
girem uma beatífica tomada de cons- que lhes eram confiadas. Tão temida
ciência das alegrias do mundo futuro~ e ra a seita pela sua eficácia na execução
e por ser "inspirador das mais sel,ra- de assassinato~ políticos que, ao lati-
gens especulações panteístas, as mais nizar-se. a pala,-ra liashashin originou
o termo ..assa ino':
desordenadas fantasias metafISicas, as
Os hwh&hm estao mi origem da conspiração
mais incríveis visões e êxtases, as mais
do~ Uluminati, n.t '~NO data sociedade secreta
variadas alucinações". congeminada pdo romanc1 ta e ensatsra Robert
Outras técnicas iniciáticas fatimidas refcrid,l) Anton Wibon; ,n O Lfrro dos lllumiru1ti (Via
na literatura são a recitação ou re-pet1çao exau ti- Ôptima, Porto, 1999\.
va (dhikr), a dança e a odonúa. E foi como ..os Assassinos'' que a
O mais certo mesmo é que o haxixe confraria futimida-has/Jash;,, e tornou
fosse o principal meio usado pelos ía- lendária» embora as suas actividades
timidas para atingir a lluminação; con- ultrapa ~ssem largamente a arte de
siderações sobre o sufismo medieval eliminar lideres unita e cristãos. Com

194
base em AJamut, uma fortaleza inex- "O ismaelismo podia passar por uma
pugnável situada j~nto_ ao Mar Cá~p~o1 seita cristã gnóstica: a imamologia
no actual Irão, a seita tmha por m1ssao [culto dos Imarns] é conversível numa
antes de mais combater a ignorância, cristologia de coloração gnóstica, e Fá-
considerada responsável pela sub- tima a Resplandecente corresponde a
missão do povo ao li teralismo sunita. Maria; a escatologia e o messianismo
Neste espírito, os hashashin criaram são idênticos numa e noutra religião>:
uma rede de escolas de ''estudos gerais" Dado o secretismo envolvido, poucas
( madrasas), as quais serviram de mo- certezas há sobre a extensão das rela-
delo às universidades europeias, e com- ções entre as duas confrarias; mas
1
chega a falar-se numa " cavalaria ecu-
ménica' englobando os cavaleiros cris-
Os templários e os hashashin
tãos e os cavaleiros do islão (que eram
podem ter formado uma nova
os hashashin), uma nova versão dos
versão dos Cavaleiros do Graal. Cavaleiros do Graal': Certo é que «con-
luio com os islâmicos" foi a acusação
pilaram a enciclopédia Rossaila, con- mais grave lançada contra os templá-
siderada a primeira súmula do saber rios aquando do seu julgamento pelo
humano. O maior líder hashashin foi rei francês Filipe o Belo, que conduziu
0 Imam Hasan i-Sabbah (1090-1124), à extinção da ordem em 1314.
mitificado nas crónicas cristãs medie- Ede notar que os Jiashashin e as suas técnicas
vais como o Velho da Montanha. iniciáticas antedatam de vários séculos a Ordem
''Entre os seus, 11 ordem Idos lraslwshin] tam- do Templo, que foi fundada por volta de 1118, em
b6n era conhecida pot· Os que pregam a verdade Jerusalém, depois dos cruzados terem conquis-
interior (ba tinitt1s), Os que se sacrificam (fidai- tado a cidade aos fatimidas. A influência destes
y ,111) e Os que ensinam". Em Os Templários na na nova confraria pode ter sido seminal; assim,
Formação de Porwgal, Paulo
Alexandre Loução consi-
r-::-n~~l='iiif-
~iff,:"fim:n~r,;'rd°rurJ~~=:::~::-,
l '1~ lt' Sr
dera: " [~] evidente o papel 1-r;:r.:==~==
destas elites árabes, nomea-
damente os mestres s11fis e os
assassi110s, na transmissão do
saber clássico perdido. Fo-
ram um cio da cadt.'i.l
histórica''.
Sabe-se ainda que,
no decurso das Cru-
zadas, a ordem dos
Templários estabeleceu
contactos com as
facções fatimidas do
oriente, em particular
com os hashashin, os
quais ªcausaram nos
cdstãos uma forte
Iluminura das Viagens de Marco Polo, intitulada ~•o
impressão de simpa-
Velho forma perfeitos hashasis", mostrando a entrada de
tia,: De facto, os supos-
um Iniciado no Jardim do Paralso, pela mão do Velho da
tos Infiéis revelaram- Montanha. Manuscrito francês de finais do século XIII.
-se irmãos espirituais:

195
em Port11gaf Razão t: Mistério, o füó.i,ofo mismo medie\'al, e o ibérico em parti-
nacionalista António Quadros refere ~ keni-
cular, é ..o universo do delírio visioná-
gmáLic-.i.s relações do~ lemplários com os ismae-
litas da Palestina, em especinl com a organias~Jo rio~ um mundo onde "teofanias (apa-
mais ou menos secreta dos Assar, ou Assnâ11t rição de ente divinos), ubiquidade e
( ... ) sobre a ,111,11 11 Mi/iria Crrsttl parrcr ter sido t elepatia são o pão quotidiano dos ini-
moldada 11a Silo 1tierarqma t compnsiç110" (italico ciado:>': Posto i to, com base principal-
nosso). Quanto ao papel do haxtxe no de~cul-
mente na toponímia em torno da Cova
tar do mysterimn /r,:mend11m, Ol> fatimidas té-lo-
-ão revelado aos templários? E!.ta questão, ape-
sar de óbvia e pert inente, não e .ibordada pelos As apariç.ões marianas na Cova
histor iadores; aparentemente, tal here.i,ia e da Iria podem ter sido uma
admisslvcl apenas no Jmb1to da ficção histórica repetição de fenómenos
- e Umberto Eco, em O Pbtdulo de Fouamlt, ocorridos no tempo dos
romance sobre o Segredo dos Templarios, refere
os r ituais "que os Templários ~foctuavam sob a
fatimidas visionários.
iofluêncía do primeiro segredo que tinham
aprendido no Oriente, o uso do haxixe~ A ser da Iria. onde em 1917 ocorreu o cha ma-
assim, terá a mfstica templária sido inOuendada do Milagre de Fátima, o soc iólogo
por experiências visionárias com haxixe vmd~ mostra como no tempo dos mouros
pelos cruzados? Ê o que sugerem certas ln:,p1ra-
ções obtidas pelos lemplários na Pai_estina, as
esta região era um santuário do culto
quais tresandam a motes do movimento upai e hashasliin devotado a "Fátima, a Vir-
amor" dos anos 60, quando o consumo de ma- gem Imaculada, a Resplandecente':
rijuan a se disseminou emre a juventude ociden-
Segundo ~I. E.sp1nto S.anto, (XI.Ta além d.i loca-
tal: "Tnstruldos provavelmente pelos fatimid.15
hwde de F".itim. , enu-e ~ 1opõmrnos locais signi-
do Cairo, os tem plários conceberam a pos,íbili- fi,.•11.i\'05 contam-~ Iria (de Eyria ou rya:. grau de
dade de um universalismo religioso pacifista': inici3çlo sufi que ,;ignitici "mo~tr.lr-se, apare-
cer..): o nbeiro da Chita (de chüta); Fazarga (ou

.N que a n otável obra de aná lise transdis-


cip linar tem guiado esta ex-
fal.agra), oca~ .iObran eiro a Cova da lria (de
,u-l)iam, ..m1,,l.mdecrnte': J twf.ima primordial
de Fátinu); Aljuscrd, a .uda.1 onde nasceram os
posição, Os Mouros Faúmidas e as Apa- ,·idcnto (dc ~\hh n u 'eli, gente que invoca o re-
gres.so de Ali llll.lriJo de Fátima e primo e g,mro
rições de Fdtima, o sociólogo Moisé do from.1), mo e, fatimid»l; \'alinho, nome de
Espírito Santo sublinha que o fati- uma colim 10011 (de ~uliitti. os inidados fotimi-
da)): Qurirnad.J, a encosta da al-
Jct.t de Fatim1 (dt Qa'ymat. res-
urrei~ ou JC\-anlilmcnto, desi-
gnaç:io d.A dourrin,l f.itimida). Por
ouw lado ~ Odl urai~ do Ribatejo
(a <Jut' pcrtc!nc.c 11 fttgucsia de Fá-
tima) o chamad~ gaibéus, nom~
qt1t pro\ ira do .1rabe Gaylmlt., o
Oculto, o que sugere que a região é
oonhecidJ h.i muito como palco de
manifôtJÇ~ mútcrio~ note-se
q~ nela ~ illSCre\e o chamado
•Tn.mgulo fraico Português~
(Fátima, Tomar e To~ Novas~
-Ellrroncamcnro). N.b n..-dondczas
de FâJima, as tnbos Macemuda e
âfuga ~o recordadas rcspecti-
Observadores do "MIiagre do Sol" ocorrido a 13 de \'llmfflte n<>'S nomes d.i po,-oaç--:10
Outubro de I 917 no Cova do Iria, em foto da de ~ioçomO<fu e de um bairro
Ilustração Portuguesa. da aldeia de Ôl.x.l.riJs eh.amado
Zarug.i..

196
~ de referir que, à époci das aparições, o mente por a 13 d e Outubro as visões n a
Ribatejo era a única região do país onde subsisti-
a rn plantações de cânhamo-de-cannabis, as quais
Cova da Iria terem adquirido o carác-
perduraram até 1970. ter de uma iniciação colectiva: ccQ ue
técnica (o u fen óm eno psíquico) faz
Conclui-se pois que o Milagre de Fá-
com que milhares de pessoas vejam
tima ocorre u na exacta região de
Portugal. a serra d'Aire,
simultaneamente coisas
no céu?''
que séculos antes e ra um
A noção de Segred o é
"alfobre de visionários crucial nas gnoses de Fátima
m essiânicos" cuja "meto- e de Maria. Para os místicos
d o logia para t:nlrar em i.::;l â ruicus, o Segredo re1u um
contacto com o supra- sentido m últiplo, a saber: a
experiência incomunicável
sensível" incluía o haxixe do contacto com o inefável
de forma proeminente. E (o Oculto, o [mam , Fátima a
M o isés Espírito Sa nto Resplandecente); "a cap aci-
dade de interpretação das
s uge re mesmo que as visões teofãnicas"; "o méto-
a parições marianas na do de cada via [sufi) que faz
Cova da ]ria podem ter com que os iniciados
11ejam"; e a obrigação de
sido uma repetição de fe-
nada dizer sobre a doutrina
nómenos ocorridos lo- secreta aos não-iniciados.
calmente no tempo dos Na gnose de M aria, o
fatimidas visionários: Segredo de Fátima é, m ais
prosaicamente, uma m en -
"No passado, u m vulto Qu,e p ensar do facto da sagem p rofética; esta, n o
jmaculoda Virgem Mario,
d e luz identificado com entanto, "tem ares de ser
Nossa Senhora de Fátima, ser uma ideia exógena posta a
Fátima a Resplandecente
venerada num antigo santuário circular no local e que as cri-
foi venerado, esperado mouro d edicado õ Senhora
anças adoptaram; talvez
ou aparecera no sítio viesse das bandas de O urém
Nossa Fátima, a Virgem
onde aparecerá depois a Imaculada? Escultura mariana [ da Igreja Católi ca] ( .. . )
Senhora brilhante da Co- de Teixeira Lopes. Compreendemos esta dé-
. )) marche de Lúcia: uma vez
va da Ina . que o público reclama o se-
Segundo Moisés Espírito Santo, os marroqui- gredo e sendo ele intransmissível (como podem
nos actua.is "e~tao persuadidos de que os Portu- estas coisas ser ditas aos transeuntes?) teve-se de
g ueses ve11eram, na Cova da fria, Saidatrma inventar um segredo-m en sagem'~
f (ltemah (Senhora Nossa Fát ima) ou Leiln À luz da conexão tem plários- haslrnshin, é
Fatemah (Dama Fátima) dos Macemuda fatimi- curioso constatar que a parte mais antiga do ac-
das, e que - pensam eles - se trata dum antigo wal castelo de Ourém (situado à vista da Cova da
culto islamo-fatimida recuperado pelos cristãos': Iria) foi a se.de do poder fatimida .local até à sua
tomada (em 1136?) por D. Afonso Henriques, q ue
Moisés Espírito Santo m ostra n a cederia a fortaleza a G uaJdim Pais, grão. mestre
obra citada que as visões teofân ica.s templário iniciado na Palestina. Moisés Espírito
dos três pastorinhos em 1917 parecem San to especula: "Teriam os templários cultivado a
m(stica ismaelita depois da Reconquista e lançado
decalcadas d a gn ose do "culto d a (ou continuado) o culto da Respland ecen te na
Senhora portadora do Segredo" prati- serra d ' Aire? Teria uma confraria clandestina
cado pelos mouros lzashash;n; mas [fatirnjda] resistido depois da Reconquista em
daquj por diante as águas t u rvam-se ligação com os templários?"
de todo. O sociólogo admite que, face Será deslindável a teia d e mistérios
aos conhecimentos actuais, não é in- entrecruzados que relaciona as apari-
terpretável o nexo entre as duas gn o- ções marianas de 1917 n a Cova da Iria,
ses, a mariana e a fa timida, nomead a- o culto aí praticado na Idade Média

197
pelos fatimidas, a ordem templária in- da Iria contou-se a do Imaculado Coração de
Maria~ ora .. F,hrma 11 lmaculiuln ,lo Komssa11
fluenciada por estes visionários, e o
(Falimnh ai- talu11UJl1 1il-J...11orflSSt1n) é J refe-
haxixe, notório método usado pelo t<'llci.1 a santa nwis imporrante dos fatimidas e
místicos islâmicos para atingir a Ilu- do~ d.iita.. dt"pOis de Fátima J Resplandeceotl;
minação? E duvidoso que ta] proeza otanJo õta santa f.nimida do século IX "sepul-
esteja ao alcance de qualquer diligên fada ffll Qom. no Korass.in, província do norte
da Pé~ia que foi alfobre de \'i~1onario e onde se
eia de ordem racional; provavelmente. itua,a a fortalC'.t.a i madíta Jc AJamut;
os diversos Segredos em cau a conti-
- E.xcepto onde indicado, todas as ci-
nuarão a merecer-lhe a maiú cula.
taço~ provêm de Os A1ouros Patim idas
Tratar, se~á apenas de um Íetl\'31 de coin-
cidências, mas, como sugestão do nexo entrC"
e as Aparições de Ftirima, de :Moisés Es-
todos elites mi-slérios, a seguinte associaçao de pírito anta. algumas correspondendo
factos é eloquente: Dedarou a vidente Lúcia que à prosa do autor e outra· a obras por
entre as visões tidas pelos pa~lorinhos na Co,a de citada!t.

nabis, estar "a ser, inexplicavelmente, pequena quantidades do derivado de


ocupada com serviços de bombas e cannabi pro crito no Ocidente. E cada
explosivos". vez mais haxe marroquino começou a ser
Diz uma das poucas vozes dissonantes em contrabandeado para Portugal, primeiro
relação à campanha "O Flagelo da Liamba" publi- por enrusiastas destemidos para conswno
cadas na imprensa da época: "O que se consegue próprio e de amigo ; com o tempo> o
com es1a saloia campanha anti-droga? A) De~pert.ir
o polícia que há cm cada português. crà o obJecti·
aba tecimento passaria para as mãos de
vo da questão suficientemente fundamental, sufi- redes de traficantes profi ionais.
cientemente nacional? Por que não ocorreu as Segundo dad~ do Ministério da Justiça, actual-
autoridades ulilizar este faro detective~o da po- mrnte cemi de mttade do haxixe introduzido em
pulação para desmontar a rede bombista ou para Pon-upJ (46% cm 1995) pro,tm de S. Tomé e
procurar os pides que fugiram? B) Faur crer que o Príncipe.
problema número J do pais reside nõ~o pu de
liamba que crescem nalgum, quintaib e que t'!>te ~ A partir da década de 80, tornou-se
resolve arrancando-os. C) Fazer tomar o todo pela claro que o acéfalo moralismo antidroga
parte, identificando 'droga' com o canabis ou liam- do governo português gerara um mons-
ba''. (Júlio 1Ienriqucs, r.xpresso, 3/9/76) tro - a autoridades estavam completa-
Resultante deste sobressalto, ia iniciar- mente desacreditada quando ocorreu
-se um novo ciclo na difusão do consumo uma e..-..:plo~ão no consumo de heroína
de caimabis em Portugal - a partir desta entre a juventude. Duas décadas depois,
altura, o uso da resina pren ada de can- em 2002, a jornalista I abel Stilwell
nabis, o haxixe, começou a tornar-se do- ob ervou a propó5ito: " e as campanhas
minante entre nós em detrimento da erva. dizem que o charro matam tanto como
De facto, por um lado, com a cessação do a heroína, o re ultado pode ser que
fluxo de repatriados estancam a ent rada quando eles [os miúdos} percebem que
de marijuana africana em Portugal; por isso nao e verdade para os charros,
outro, a campanha «o Flagelo da Liamba" a umam que também não o é no caso
fizera esfrjar drasticamente entre nós o da heroína': E, de facto, está por apurar
entusiasmo pelo grow your own. Já e per- até que ponto milhares de jovens portu-
filava porém num horizonte pouco gueses se V1ciaram em beroína nos anos
longínquo a alternativa para satisfazer o o devido ao efeito perver os da desin-
crescente apetite dos lusitanos pelo THC formação com que as autoridades ater-
- Marrocos, onde a produção de haxixe rorizaram a população durante anos a
é milenar, e de onde aliás já chegavam fio. equacionando a inócua cannabis

198
com o mal absoluto dos nossos tempos, a
droga. Reflectindo esta nova e dramática A GANZA ESTREIA-SE NO
realidade, operou-se uma alteração se- CINEMA NACIONAL
mântica na palavra "droga", que deixou
de ser sinónimo de cannabis e passou a
sê-lo de heroína. ( Data também desta E m 1981, pela primeira vez desde
o início do proibidonismo, o ci-
altura a substituição da palavra «toxico- nema português abordou> embora
mania" po r "toxicodependência".) elipticamente> a questão do uso de
Sobre os efeitos do proibicionismo, o comenta- drogas, nomeadamente
. o haxixe,
dor Alexandre Melo escreveu no Expresso de 8/7/oo: entre os Jovens. O filme pioneiro é
"Depois de dfradas de repressão - cada vez m ais Chico Fininho, de Sério Fernandes
djspendiosa - os resultados do proibicionismo sào inspirado no terna homónimo d~
tão devastadores, na sua monstruosa perversidade,
Rui Veloso (de 1979), 0 qual mar-
que, hoje cm dia, antes de poder tratar os problemas
provocados pelas drogas é preciso resolver os pro- cara por sua vez a primeira alusão
blemas provocados pela proibição". ao consumo de drogas na cultura
Agora que o combate ao «flagelo da popular portuguesa. No filme Chico
droga" assentava as suas baterias noutra Fininho o papel do "freak da Can-
s ubstância ilegal, o expediente encontra- tareira" é desempenhado pelo actor
do para legitimar a continuada proibição Vítor Norte, que faz aqui a sua es-
d a ca nnabis - agora promovida a "droga treia cinematográfica.
Jeve" - foi a designada "teoria da esca- * O single Marijuana (1980), da banda
rock Arte e ~ficio, é única referência explíci-
lada", segundo a qual o charro é o pri- ta à cannab1s na música nacional da época.
111.eiro passo num caminho que leva
jnelutavelmente à "droga dura" heroína.
A PI considera que a teoria da escalada é validada
por uma estatística que a instituição apurou, segun-
do a qual nos crimes contra a propriedade, no-
meadamente o fur to e o roubo, 91% dos implicados
que j~ tinham expcrimc11tado herofna illiciaram-se
nas drogas ilícitas pelo ha}(ixe - uma ilação pouco
evidente a retirar dos dados da PJ pois, segundo a
mesma fonte, no momento do delito a droga con-
sumida em 98% dos casos era a heroína,
Foi assim que, após uma breve e vis-
t osa fase inicial, o consumo de derivados
p sicoactivos de can nabis, ofuscado pela
h eroína, adquiriu em Portugal um ex-
traordinário /ow profile (ao contrário,
po r exemplo, dos Estados Unidos, onde o
u so de ma rijuana pela geração dos sixties
se torno u um cl ich é nacional). Sendo a
enorme maioria dos fumadores de can-
nabis aquilo que a retorcida gíria proibi-
cionista designa de ('consumidores não-
- problemáticos,,, este sector da sociedade
lusitana esbateu-se na paisagem social
quando, na representação popular do
d rogado, o freak, herdeiro do hippie, deu Vítor Norte como Chico Fininho, a
lugar ao junkie, o toxicodependente. primeira f>ersonagem ganzada do
Em 2-000, um pouco como quem descobre a pól- cinema português.
vora, escreve-se 11a imprensa nacionaJ: "Os consu-

199
perspectivas diferentes, estender o espaço
dos universos interiores, teorizar a razão
de não fazer nada ou exibir a evidência de
uma figura de cstupido~
Dos anos 90 em diante, assistiu-se ao
reemergir da cannabis em Portugal, para
urpresa de quem pensara que a aprecia-
ção da erva e do haxixe era um fenó-
meno datado, Hgado às gerações de 60 e
70. Para além da sua pre ença previsíveJ
na "'renascença psicadélica"' que começa-
va então a ganhar visibilidade entre nós,
a aura de tran gressão e rebeldia da can-
nabis ajudou à sua adopção pelas cultu-
ras alternativas entretanto surgidas, do
hip hop ao trance. Com a folha da erva
elevada a condição de bandeira-logótipo
informal de um leque de estilos de vida
alternativo e/ou radicais, pode a partir
Em 2000, consumir cannobis deixou de ser de então faJar- e de uma assumida can-
uma octividade publicamente inominóvel nabis cultztre em Portugal, com vertentes
em Portugal. politicas, ambientais e e pirituai.s (como
m idores ocasionais existem. Constituem a maioria é o ca o do movimento reggae). E, na so-
dos consumidores de drogas, mas oão arrumam ciedade em geraJ, o cákulo dos que já ex-
ca rros nem roubam para pagar a 'do~e: E.~udam, perimentaram cannabis chega aos 30%
trabalham, casam, tem filhos. São invisl\·e1s f!
querem continuar a sê-lo, peJo me.no~ enquanto o da população adulta portuguesa ...
consumo for penali:t.à<lo'~ (Not,c,as MagRZÍne. E. inconlot.l\·d que não tJltam consumidores de
18/7/00) haxm t'ffl Portugal Aplie.tndo-sc par.ímetros de-
finidos pelas Nações UniJ.u (o volume de droga
Certo é que que o tabu sobre o uso de confuada rq>rtstnt.i 10 a 15 por cento do total da
cannabis tem-se mantido firme em Por- movimmúada) a dadO) ra."t'nte:. fornecidos pela
tugal - apenas em 1990 consegue en- Poljcia Judiciária (em 2000 llS autoridades portu-
contrar-se, em letra de imprensa, uma gut":>as apreenderam 30 toneladas de haxixe, com
descrição "por dentro" dos efeitos da gan- um recorde de 52 toneladas em 1996), chega-se à '
õtim.itil-.t de que, no irucao dolc milénio, circula
za; ainda assim, apesar da ousadia ter sido
em Portugal pdo meno:. uma rondada de haxixe
cometida numa publicação de pendor pot di.i.
alternativo e irreverente (o jornal grátis
portuense Metro), o autor Paulo Abru- En tretanto, o fumadores de cannabis
nhosa preferiu ocultar-se por trás de um Jusilano começam a assumir- e. Prova-o
6bvio pseudó nuJ10. Escreveu pois Timó- o artigo "Consumidores de Haxixe Dão a
teo Lírico sobre o efeito do haxixe que este Cara~ publicado cm Julho de 2000 na
np ode traduzir-se em transformações rotfcias .Magazine, onde cinco portugue-
aleatórias da percepção e é susceptível de ses "consumidores oca ionaisn de haxixe
conduz.ir o utilizador a uma descida à sub- e marijuana faJam livremente da sua re-
jectividade do pormenor, à to..'tllra do lação com o fu mo da cannabis. Por
prazer e à obnubilação relativa do mundo exemplo, para o realizador cinematográ-
exterior. ( ... ) No m ais, também tem sido fico Rui imões, hoje com 58 anos, o que
pretexto para relaxar o u estimular a mente mais aprecia na experiência é o "trazer-
ou o corpo, redefinir os sentidos ou eroti- -me para um registo diferente do hab i-
zar o amor, enquadrar um pôr do sol em tual. Aumenta a capacidade auditiva, é

200
Está por apurar até que ponto milhéJres de jovens se viciaram em heroína
nos anos 80 devido ao efeito perverso da desinformação com que as
autoridades aterrorizaram a população durante anos a fio, equacionando a
cannabis com o mal absoluto dos nossos tempos, a droga.

muito agradável, é uma forma de estar bis, não obstan te os novos regulamentos
diferente': europ eus que estimulam o sector do câ-
Em entrevista concedjda à Notícias Magazi11e em nhamo para cultivo serem aplicáveis a
1998, José Sócrates, então ministro com a pasta da todos os est ados-membro.
toxicode pendência, depois de ter revelado que aos
Esta contradição foi obviada através d a publi-
vinte anos frequemara os coffee-sl10p5de Amsterdão,
cação de um decreto regulamentar em O utubro de
resp ondeu da seguinte forma à pergunta "E experi-
i999.
mentou [cannabisj?": "Aaa .. . Se expeúmentei ou
não ? Espere aí. Oiça. eu não quero responder a essa Para Augusto Teixeira, dono da Cânha-
pergunta, acho que não tem relevância para a ma- mo de Portugal, este sucedido ilustra o
téria. Eu fui um jovem da minha época". Se nào pa-
rece mesmo a formulação nacional, palavrosa e tor- d sco dos preconceitos vigentes em relação
t uosa, do clintoniano " Fumei mas não travei", ... ao cânham o dificultarem o ren ascer
daquela que foi outrora a rainha das cul-
RENASCE O CÂNHAMO turas portuguesas; exem p lificando, o
INDUSTRIAL empresário ch ama a atenção para o facto
da nova legislação impôr condições de
m 1998, após um hiato de um quarto produção tão apertadas ao cânhamo que
E d e século, relançou -se em Portugal o
cult ivo do cânhamo industrial, que pas-
o n egócio torna-se p ouco rentável. O que
é especialmente frustrante para quem, co-
sara a ser in centivado em toda a União mo Augusto Teixeira, está tão consciente
Europeia (desde que as sementes apre- das incríveis potencialidades da cannabis
sentassem um teor de THC inferior a ind ustrial: "Não h á nad a que lhe ch egue
0,3%) por t erem sido reconhecidas a sua aos pés. Permite uma p rodução de fib ra
versatilidade, rentabilidade e vantagens completamente fo ra do real; tem capaci-
ecológicas. Assim, supervisionados pela dade de produzir em quatro m eses a
empresa Cânhamo de Portugal, pioneira mesma quantidade de pasta de papel que
nesta área entre nós, 18 agr icultores su- produz o m esmo hectare de eucaliptos em
bsidiados pela Unj ão Europeia, planta- sete anos,: E, sublinhando que se trata de
ram 33 h ecta res de cannabis industrial de uma cultura biológica em que n ão são
no rte a suJ do país. permitidos p esticidas nem h erbicid as,
Porém, ap esar dos agricu ltores estarem Augusto Teixeira resumiu assim, em de-
mun idos com os n ecessários avais do Mi- clarações ao Público, a questão da versati-
nistério da Agricultura e da Polícia Ju- lidade da cannabis industrial: "Não há
diciária, a GNR, eterna arqui-inimiga da praticamente nada que não p ossa ser feito
can nabis, não esteve com meias medidas com cânhamo, excepto haxixe':
e prontamente deteve, em Lagos e Tonde- Entretant o, com a abertura em Por-
la, dois destes cultivado res legítimos de t ugal das prin1eiras "lojas do cânhamo»
cânhamo industrial, acusando-os de pro- (a p ioneira sendo a Hemp House-Noia,
dução de estupefacientes. O picaresco na Ribeira do Porto), acelero u-se a divul-
episódio foi possível por não estar ainda gação entre nós das inúmeras utilizações
completamen te transposto o Direito Co - extra-visionárias da cannabis e das suas
munitário para o Direito Nacional, sendo qualidades ambientais, com o resultad o
q ue à data a nossa legislação continuava a da planta p roscrita ter começado a ga-
proibir todo e qualquer cultivo de canna- nhar uma imagem positiva junto do pú-

201
Apesar do proibicionismo nacional admitir que o átcool e o tabaco são
drogas cuja nocividade é muitíssimo superior à da cannabis, o consumo
desta continua a ser considerado um .-.comportamento desviante".

blico em geral. E, sinal dos tempos, em apreciadoro de unnabis excepto os mais espartanos
Março de 2001 foi publicado O Rei Vai a>ntinua.m a s.er considerJdos traficantes.

Nu (Via Óptima, Porto), a edição portu- Porém, apesar do proibicionismo na-


guesa do manifesto de Jack Herer que cional admitir hoje que o álcool e o taba-
originou o movimento pró-cânhamo. co ão drogas cuja nocividade é ordens de
magnitude superior à da cannabis, con-
A DESCRIMINALIZAÇÃO tinua a ser de rigor considerar o consumo
desta como um "comportamento des-
de Julho de 2001 foi descriminaliza-
A 1
do o consumo de drogas ilícitas em
viante'~ Assim, atolado na piedosa premis-
sa de que o uso de cannabi é "a prazo um
Portugal. O facto não veio alterar gran -
factor de rotura com a sociedade e com a
demente a situação no terreno em relação
vida" (Vitalino Canas dixit), o discurso
à cannabis, pois o cosrume de fumar char-
oficial na matéria tomou-se um linguajar
ros já era tolerado m esmo em bares e ou-
que só se toma inteligivel quando se trata
tros locais públicos; com esta medida, que
de apelar a mais verbas para fazer mais
colocou o nosso país na vanguarda mun-
estudos, e do qual se destacam por vezes
dial de políticas mais pragmáticas sobre as
tiradas reveladoras, tal como esta infor-
drogas, visava-se sobretudo atender ao
mação facultada em Julho de 2002 pelo
catastrófico problema de saúde pública,
site do rnstituto Português da Droga e da
criminalidade e exclusão social criado pela
Toxicodependência: "A maior parte dos
repressão das substâncias ilícitas praticada
utilizadores Ide cannabis] têm , de vez em
até então em Portugal, e associado princi-
quando) sensações de paranóia e ansie-
palmente ao uso de heroína.
dade., o que os faz sentir muito ansiosos e
Na altura, Vitalino Canas, ministro do
desconfortáveis (a campainha da porta
governo PS com a tutela da toxicodepen -
toca e acham logo que é a polícia)': 'Ê uma
dência, fez mesmo uma espécie de mea
culpa institucional, declarando que as cândida constatação de q ue a designada
autoridades portuguesas tinham con e- "poütica da drogl' se resume à imposição
guido "ultrapassar o discurso passadista da raurologia orwcUiana "certas ubstân-
da 'droga, loucura, morte•-: e se compro- cias são proibidas por serem drogas, e são
metiam a "adoptar wna nova atitude (. .. ) droga por serem proibidas':
que não negue a realidade e que (... ) as- À opmiao pública portuguesa raramente é dada a
suma que a droga dá prazer•: Por subli- oportunidade de con,;iderar que as motivações para
nhar ficou o facto de tão magro resulta- a manutenção do proibicionc.mo não se esgota m na
preocupação com o futuro das no~ criancinhas;
do - a promessa dos supostos guardiões em grande medida., a m1prensa em gemi e o Qpi11io11
da sanidade mentaJ passarem a agir em mn/cnJ rm particular continuam a papaguear o dis-
conformidade - ter sido obtido à custa CUJ'M) oficial sob~ o "flagelo da droga~ revelando to-

de verbas astronómicas do erário público tal desinteresse por graves afirmações como esta, que
pode ler-se numa moção sectorial do PS sobre a
e sobretudo da criminalização de muitos
drog., .ipro.entada em 1999: "IA) droga continua a
milhares de cidadãos, com o decorrente ser um dos negócios mais rent.iveh do tempo pre-
rol de consequências sociais adversas. sente, prova,-dmente tambtm dos tempos que virão,
Não deve esquecer-se que a nova legislação isenta e o.à.o só no que Sé! rtporu aos canéis do t.ráfico: há
apenas da acusaç:;o de rráfico quem possuir menos que ttt a coragem de afirmar que os sectores jurídi-
de "dez doses" de qwtlquet droga iliata, o que no co e de ter.t~uliCil lJ.mbém têm prosperado com
caso da canoabis equivale a 5 gramas de haxixe e z,5 esta ~•tu.içJo, \·hendo-se uma autfoticn sobrepo-
gramas de erva - donde que à face da lei ,odo o ,;içlo dt t n l ~ entre os lfoto!I e os iUdtos'~

202
A 15 de Agosto de 2001 realizou-se a pri- ? desf~cho judicial do caso não podia ter sido
m eira manifestação pública em Portugal a mais ~ : no: de poi~ de terem cumprido nove me-
s~ de pn sao preven~wa, !oringel foi condenado a 46
favor da completa legalização da canna- dias de multa e o pai a oito meses de prisão.
b is. * Exibindo uma faixa alusiva, algumas
cen tenas de pessoas juntaram -se frente à Um sinal seguro de que a cannabis cul-
Muralha de Lagos, no Algarve, e fumaram ture portuguesa estava a sair do armário
m a rijua na e haxixe abertamente perante foi ~ado nos concertos de Manu Chao
os impávidos agentes da autoridade pre- realizados em Lisboa em Junho de 2001.
sentes no 1ocaJ. Custa pois a crer que tenha Segundo o Público, num dos espectáculos
sido uma coincidência o que se passou um Manu Chao incluiu uma canção dedica&
m ês depois: a 13 de Setembro, a GNR pro- a ~ob Marley, que apresentou como «0
cedeu a uma rusga a casa do organizador
ma10r fumador de marijuana de todos os
te mpos," enquanto « uma bandeira perdi-
do "fum ício" de Lagos, Bernd Gutbub, um
activista pró-cânhamo alemão residente
da entre a assistência desfraldava ao vento
a grande palavra de ordem dos antiproibi-
no Algarve, descobrindo 250 plan tas de
cionistas: (Legalize it!,,,
cannabis na sua propriedade de Aljezur,
além de pequen as quantidades de haxixe e Não que hoje em dia seja difícil encontrar em
Portugal quem se pronuncie a favor da legalização
m arijuana. da canna bis, ou mesm o de todas as substâ ncias ac-
• Em 1999, o Bloco de Esquerda
promovera, em bares lisboetas e
portuenses, diversas "Noite da Fo-
lha" dedicadas ao projecto-lei, apre-
sen tado por este partido, de des-
penalização da cannabís e separação
dos me rcados das drogas, através
da legalização do comércio passi-
vo dos seus derivados. Na altura, a
Juventude Social Democrata apre- 1 A,J(n.-,,1•:·

sentou uma proposta de teor seme-


lhante.
As coisas ter-se-iam resu-
mido a mais um fait divers
da guerra contra a cannabis
caso o Tribunal de Lagos
não tivesse confirma do a
prisão preventiva do filho de Postal-convocatória para a primeiro manifestação em
Bernd, Joringel, à época com Portugal a favor da legalização da cannabis.
17 anos, que estava presente
no local aquando da rusga. Esta decisão tualmente ilí_citas. Algumas dessas vozes chegam até
revelo u-se uma pedra no sapato da de sectores m ~sp_erados -:-- por exemplo, a presi-
justiça portuguesa, pois a opinião públi- d: nt~ da C~m1ssao de _D1ssuasã? da To:xicodepeo-
de_nc1a de Lis boa,
d Mana . Antóma Almeida San t os,
ca reagiu mal ao encarceramento de um nao p~~ece na_a con~1cta do sucesso da instituição
menor numa prisão de adultos pelo que ~mge, po1s considera que"[ t]alvez seja melhor
crime de estar presente num campo de caminhar P.ara a despenalização total". E vai per-
cannabis, tendo o pai assumido a ~ nta_ndo: O qu~ é que nós ganhámos quando isto
fo1cnme? Qual
. foi
. a vantagem? A droga dimm·UIU.
· ?
responsabilidade pelo cultivo ilícito das N ão. O~ crimes 11gados à droga diminuíram? Pelo
plantas - no balanço final, quem saiu a co.ntráno. Quanto mais repressão, pior foi''. (Pú-
ganh ar com o episódio foi a causa da blico, 10/7/o1)
legalização da cannabis, que ganhou uma Com a entrada no novo milénio O tó-
visibilidade inédita entre nós devido à pico "cannabis" deixou de ser ~ tabu
m ediatização do caso. absoluto entre nós, passando à categoria

203
sem arruinar a carreira, as virtudes da can-
nabis terapêutica, em particular no alívio
da dor de pacientes de cancro, sida, escle-
rose múltipla, epilepsia e artrite.* De facto,
a oficialização dos poderes curativos da
cannabis (THC) está a fazê-la perder rapi-
damente o estigma de planta maligna que
adquirira na consciência nacional, resul-
tante de décadas de propaganda promovi-
da por autoridades de todas as persuasôes
políticas, com o aval das instituiçõe médi-
cas e cientificas - as quais começam
agora a informar-nos que afinaJ a cannabis
não é uma droga mas sim um remédio.
• O ím"C'itigador <'m G1usa, Jorge Gonçalves, da
Fac:uld.u:k de F.irm.1cia da Uniwrsidade do Porto,
refere em d« brações JO Pub{,co ouu-as propriedades
lerapblúau do~ canabinóides: redução da ansieda-
Em Portugal, o t endê ncia é para
de, inibiç-Jo ~ n.iuseas e vómitos; há ainda outros
exteriorizar aquilo que até há pouco só eftitos ~ruficicntemmte documentados•:
ousava sussurrar-se.
Assim, quanto ao fururo, para além de
de temática discutível em programas po- pre\isíveis controversias ligadas à igual-
pulares de rádio e TY, em particular os de- mente pre,isívd abertura de coffee shops e
dicados aos jovens. Na imprensa, come- grow shops (comércio de sementes de can-
çam a atenuar-se os pruridos algo saloios nabi e acessórios para o seu cultivo), adi-
que manifestam os jornalistas portugueses vinha-se que entre nós o cãnhamo-de-can~
perante a realidade do consumo de haxixe nabis recupere, e talvez ultrapasse, o seu
e marijuana. Assim,. em 2002, a propósito antigo estatuto de "preciosa planta~ à me-
do Festival de Vilar de Mouros, um jornal dida que, contra a ignorãncia, os precon-
português (o Público, honra lhe seja feita) ceitos e os interesse.s oculto , se vai impon-
refere pela primeira vez que fumar charros do o roJ impressionante de efeitos positivos
é das actividades mais praticadas em festi- que ele pode ter na nossa existência e na do
va is e concertos de música moderna em planeta que habitamos. A ver vamos rumo
Portugal; este facto, que há décadas salta à a que dimensões a integração em curso das
cara de qualquer frequentador de tais múltiplas facetas da cannabis fará agora
eventos, sempre fora puritanamente aba- viajar Portugal, e o mundo ...
fado, enquanto o consumo público de ál- Apro~cte c:ste op--.1ço que sobra para indui.r
cool é reportado com naturalidade. utn.1 JlOQ ~ f ft{'Q!tt l1mttca: e St', como 11d.o registam
Por outro lado, impressiona a forma como mesmo ~~o jo,'ffl"l luis de C'tmóes - marginal,
os mais esclarecidos média portugueses se ob~hnarn bomtio. G\-entureiro -tulo st> tiver escusado n experi-
em perpetuar a confusão da canmb.is com a farruge- menw.r o bangu . qU.lJ'ldo garantid.une:nte deparou
rada "droga~ Por exemplo, utna notíaa publicada no com a famosa drog:i d:a lm:ii31 { ver "Garcia da Orta
Público no fiJ1aJ de 2.002 sobre o "consumo probk- Apresenta o Ba11gue .10 Ood~'llte"). Assim, caso Ca-
mático de droga" (um eufemismo para o uso d~ opii- mõõ unha alguma \~ prod.unado "Pois venha o
ceos) nos países da União .Europeia, apesar ele nJo bangut>!': ~ condlblo manim;i a retirar t que a can-
referir uma única veia cannabis, é ~trado com WDJ n:ibi> nJo tcM' ~r.umntt' o efoíto de ,ião inspirar o
fotografia da confecção de um charro de haxixe... ~ a redigi, as csuo ô vuionJr~ dos Lusladas.. .

Por outro lado, é significativo que em LUls Torres Fontes,


Outubro de 2002 um investigador médico com João Carvalho
português tenha defendido em público, ovembro de 2002

204
"Os vossos filhos são vítimas pobres e infelizes de mentiras em que vós
acredita is. Foi lançada uma maldição sobre a ignorância, que afasta os
jovens da verdade que eles merecemu.
- Frank Zappa, 196 7

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Créditos das ilustrações do apêndice da edição port11guesa. Autor desconhecido: 185; BibLiotheque Nationale, Paris: 194; Bod-
lean Library: 193, 195; Dirlrio de Notfciru: 187; D.R.: 197; Fernando Peçonha: 170 (fm), 173, 181 (fm), 190, 199, 201; Henrique
Nunes: 183; J/l11s1raçào Portugwna: 19<>; Polícia Judiciária: 189.

211
Abdul-Jabbar, Kareem 57 Bennett, William 124, 126, 149, 150, 152, 155, 156
Abel, Ernest 4 , 5, 6, 13, 49, 87, 96 Bensi.nger, Peter 145
Abrunhosa, Paulo 200 Bergen, Candice 119
ácido linoleico 67 Berle, Milton 110
ácido linolénico 67 Bíblia 3, 6, 9, 10, 11 , 50, 88, 91, 921 104, 175
ácidos gordos essenciais 13, 67, 68, 71 Black Crowes 15
acne 72 Blum, Dr. DonaJd 125
Adams, John Quincy 99 Bohler, Buddy 109
Adams, Robert McCormic 152 Bonner, Robert 42, 106
Afonso d e Albuquerque 179 Bonnie, Richard 16, 34, 37, 40
Afonso H enriques> D. 172, 197 Bowie, David 15
Afonso V, D. 172 Bowman, Marilyn 140
Agra, Cândido de 187, 188, 191 Bradley, Tom 121.
Alamut 195, 198 Brady, Allan 72
Brown, Lee 149
Aldrich, Dr. Michael 4, 49, 96, 153 Brown, Les 110
Alexandre, Czar 98, 99 budismo 87
alívio do stress 13, 63, 64, 139 Budwig, Drª. Joanna 72
Allan, James Lane 2 Bulletin 404 17, 31, 56, 158
Allegro, J. M. 3, 91, 96 Burbank, Luther 12
Altschul, A. M. 74 Bush, George 10, 22, 46, 48, 49, 53, 54, 56, 79,
Amesterdão 142 96, 113, 119, 126, 141, 143, 144, 149, 159
analgésico tópico 62 Bush. George W. 169
Andersen, Hans Christian 147, 157
Anheuser Busch 54 Cabarga, Leslie 66, 114, 147
anorexia 13, 52, 64, 65 cãibras 13, 88
Anslinger, Harry 22, 33, 34, 37 ff., 45 ff., 51, cãibras menstruais 13
106, uo, 111, 118, 149, 151, 152, 155, 167 Cairo 182-3
antibiótico 50, 62 Calloway, Cab 15, 108, 109
Armstrong, Louis 15, 109, no, 113, 117 Camões, Luís de 176, 178, 204
Arte e Ofício 199 Canas, Vitalino 202
artérias 13, 63, 64, 67, 71, 163 cancro 55, 56, 57, 61, 65, 68, 71, 72, 136, 137,
artrite 13, 62, 65 138, 143, 162, 163, 165, 167, 204
Ashcroft, John 169 cancro pancreático 65
Ashley, Richard 49 Cânhamo de Portugal 201
asma 13, 52 Carothers, Wal]ace 34, 42
Associação Médica Americana 37, 38, 45, 51, Carradine, David 15
58 Carroll, Lewis 9, 15, 105, 149
atrofia glandular 72 Carter, Chip 96
Carter, Jimmy 96, 129, 135, 159
Badur, Sultão 178 Carter, Linda 121
Bakdikian, Ben 128 Carter, William 142
Balzac 105 cataplasmas para fibroses 47
Bangue 175, 176- 8 celulose 12, 14, 24, 26, 28, 41, 42, 43, 781 82
Bantus 108 Chapman, Mark 118
Basie, Count 88 Chase, Ed 18, 19
Batalha Reis, Jaime 182-83 Chico Fininho 199
Baudelaire 105, 178, 182 cintas de páraquedas 10
Beatles 15 Clark, V. S. 4
Belafonte, Harry 113 Clinton, Bill 53, 54, 56, 113, 126, 143, 149, 151,

213
156, 159 Dumas, Alexand re 9, 15, 105
Co.lby, Jerry 9, 37, 43 DuPont & Co. 9, 11, 24, 33, 34, 37, 38, 41, 42,
Colóquios dos Simples e Drogas e Cousas 43, 49, 149, 150
Medicinais da lndia 176-8 DuPont, Robert 145
Comissão do Estado do Alaska 116
Comissão Shafer 50 Eagles 15
Comissão Siler 35, 116, 130 Eça de Queirós 182-83
Comitas, Lambros 66, 139 Ecolution 15, 80
Conde de Ficalho 177 efeito de estufa 5, 12, 16, 21
Conde de Redondo 176, 182-83 Eidleman, Dr. William 72
Con-Edison 75 Elders, Jocelyn 151
Conde, WiJliam 14, 81 Eli Lilly 2, 46, 51, 53, 54, 103, 104
Conk.erton, E. J. 74 Ellington, Duke 15, 110, 111
Constantine, Thomas 53, 130, 131 Emboden, William, Jr. 3, 13, 86
contaminação por dioxinas 32 Encyclopaedia Britannica 1, 6, 13
Coors 54 enfisema 64, 138
Count Basie no enxaquecas 13, 55, 64
Country Joe & the Fish 15 epilepsia 13, 52, 61, 73, 88
Cova da Iria 196, 197 erva-do-diabo 26, 39
Cowan, Richard 169 esclerose múltipla 52, 61, 164, 167, 169, 204
Crosby, Alfred, Jr. 101 espasmos musculares 61
Cultura do Cânhamo, A 184 estudo copta 139
Cypress Hill 15 estudo costarriquenho 142
Estudo de Tulane 131
Davis, Ed 118, 119 Estudo do Governo Canadiano 116
Davis, Jr., Sammy 113 estudos jamaicanos 139-41
DEA (Agên cia de Repressão das Drogas) 9, Evans, Dr. Gary 22
11, 38, 49, 52, 53, 55, 59, 60, 61, 63, 64, 65, 73, expectorante 62
uo, 121, 123, 129, 130, 131, 133, 134, 138, 139, Exxon 75
142,143,148,151, 156,162, 163,167
Dechary, J. M. 74 fadiga 13
Declaração de Independência 9, 14 Falana, Lola 15
degeneração renal 72 Falwell, Jerry 118, 150
Departmento do Tesouro 6, 11, 16, 34, 36, 37, Farmacopeia dos E. U. 13, 62, 103
111 Farrow, Maria 21
depressão 13, 65, 105 Fátima, Milagre de 196-8
DeQuincy 105 Fátima a Resplandecente 196, 197, 198
Descobrimentos, 173-5, 179 fatimidas 193-198
descorticador 17, 18, 19, 25 FBI 39, n o, 120, 121, 126, 145, 148, 149, 150
DeTours, Dr. J. J. Moreau 105 Feitorias do Linho Cânhamo, 172, 179, 180,
Deukmejian, George 61 181
Dewey, Lyster H . 14, 31, 32, 40, 82, 85 Fernandes, Sério 199
Diesel, Rudolph 76 fibrose quística 62
Diniz, D. 172 "Flagelo da Liamba" 190, 192, 198
distrofia muscular 52 Fletcher, John 87
doença de Alzheimer 65, 164 Ford, Gerald 46, 52, 53, 96, 135, 142, 159
doença de Parkinson 52, 164 Ford, Henry 12, 76, 80
doenças cardíacas 71, 137 Ford, Jack 96
doenças cardiovasculares 68, 72 Franklin, Benjamin 2
Doobie Brothers 15 Frazier, Jack 5, 14
dores nas costas 61, 96 Fritchie, Barbara 105
Dorsey, Jimmy no Fundação Lindesmith 82
Doughton, Robert 1 , 37
"Droga-Loucura-Morte" 187, 188 Gainsborough, Thomas 11

214
Galbraith, Gatewood 10 Jolson, AI 109
Gates, DaryJ 121, 126, 154, 155 Jonik, John 151, 163
Gillespie, Dizzy no, m José 1, D. 181
Gingrich, Newt 74 Júnior, Antunes 184
Ginsburg, Douglas 98
glaucoma 13, 52, 60, 143, 162, 166 Kelley, Kitty 96
Gleason, Jackie 110 Kennedy, John F. 38, 94, 96, 155
GNR 186, 201, 203 Kerry, John 126
Goldwater, Barry 59 Kief(ou kif) 182-3
Gonçalves, Jorge 204 Kimberly Clark 33
gonorreia 4, 62 King, Jr., Martin Luther uo, 121
Gore, AI 126 King, Rodney 155
Graça, CeJestino 184, 185, 186 Kinison, Sam u9
Grateful Dead 15 Koop, C. Everett 110
Grinspoon, Dr. Lester 50 Kostelanetz, Andre 137
Guerra de 1812 3, 97 ff. Krupa, Gene 15
Guerra Hispano-Americana n, 35
Guffey, Joseph 38 LaGuardia Marijuana Report 45, 116, 130
G utbud, Bernd e Joringel 198 LaRouche, Lyndon 118, 119, 133, 150, 152
GW Pharrnaceuticals 168 Latimer, Dean 45, 143, 144, 153
Lawn, John 53, 130, 131
Hamilton,Alexander 6 Lee, Martin 48
Hamilton, Dr. R. 67, 72 Lei do Uso Compassivo da Califórnia 55, 59
Hampton, Lionel 110 Lennon, John 118, 120
Hasan i-Sabbah 195 Liddy, G. Gordon 145
haschaschin 194-8 Lincoln, Abraão 11, 15, 78, 96
Hearst, W.illiam R. 23, 24, 33, 34, 35, 36, 37, Lírico, Timóteo 200
49, 51, 106, 112, 115, 149, 151, 152 Loziers, Ralph 38, 7 1 , 74
H elms, Jesse 63 Ludlow1 Fitz Hugh 9, 105
Hemp for Victory10, 56, 77,130 Ludlum, Robert 79
herbicidas 15, 54, 174
herpes 13, 62 Macemuda 193, 196
hip hop 195 madrasas 195
Hitler, Adolf 9 Mann, Peggy 133
Hoover, Herbert 33, 38 Manu Chao 203
Hoover, J. Edgar 110, 121 Manue1 I, D., 173, 174, 175, 17 8
Horowitz, Michael 49 Marco de Canaveses 185
Howlett, Allyn 89 Marcos, Imelda 144
Hugo, Victor 9, 15, 105 Martinez, Bjll 149
Hull, John 126 Marrocos 198
hurds (miolo) de cânhamo 14, 17, 18, 19, 24, Makzham-Ei-Adwiya 4
26, 28, 32, 41, 42, 76 McCaffrey, Barry 149, 150, 152, 155, 159, 163,
164
insónia 65 McCarthy, Joseph 45, 46, 47
lsocbanvre 14 McCartney, Paul 123
McCormick, Todd 162
Jackson, Andrew 101 McKenny, Margaret 71
Javitts, Jacob 131 McRae, Milton 17-20
Jefferson Airplane 15 McWilliams, Peter 57, 163
Jefferson, Thomas 2 , 9 4, 96 Mechoulam, Dr. Raphael 50. 51, 52, 104
João fl, D. 174 Meese, Edwin 150
João III, D. 175 Meiseler, Stanley 128, 129
João rv, D. 174 Mello n, Artdrew 33, 38
Johnson, Buck 109 Merrill, Jason L. 14, 31, 32, 401 82

215
-
Meyers, Dr. Frederick 55 Pró-Cânhamo 184
Mikuriya, Dr. Tod. 33, 37, 50, 55, 61, 62, 66, Proposta 215 66, 161
135, 142, 153 Público (jornal) 204
Mills, Ogden Livingston 96
Miranda, Sá de 179 Quayle, Dan 46, 48, 49, 79, 96, 126
Mitchum, Robert 120 Quental, Antero de, 183
Mobil Oil Co. 12, 75 qu.imioterapia 51, 55, 61, 143, 162, 163
Monk, Thelonius no
Morgan, Dr. John P. 116, JJ7 Rackham, Arthur 102
Morroson, R. T. 74 rações para animais 13, 73, 74
Munch, D r. James 111 Rainha Vitória 13
Rawling!,1 $teve z.1
Nahas, Gabriel 121, 132, 133, 134, 136, 139 reggae 200
Napoleão 3, 97, 98, 99, 100 Reagan, ~ancy 46, 118, 133, 144, 145, 149, 156
ná usea 13, 52, 55, 57, 61, 119, 163, 167 Reagan, RonaJd 46, 48, 54, 82, 93, 96, 113, u8,
Nelson, Willie 15 119, 1.26, 131, 1J2> 135, 142, 143, 144, 149, 154, 159
NIDA (Instituto NacionaJ de Abuso de Regimento de Moncorvo 174, 175, 180
Drogas) 52, 53, 63, 131, 133, 138, 143, 145 Rehnquist, William 153
Nixon, Richard 120, 130, 135, 142 Rens, Matt 34
Noriega, Manuel 126 retornados do Ultramar 191-2
Norte, Vítor 199 reumatismo L3, 62, 73
North, Oliver 126 Ribatejo, 184, 186
Notíâas Magazine (revista) 200 Rich, Buddy 15
«Novo caso das drogas" 190 Richet, Charles 107
Rockefeller, John D. 12, 76
O'Brien, Edward P., Jr. 55 Roffman, Roger 2-, 50, 62, 96
O' Connor, Sinead 15 Rolling $tones 15
O'Shaughnessy, W. B. 50, 55, 103, 104 Roseothal, Ed 143, 153
Oerther, Dr. Fred 45, 135 Rossailn, enciclopédia 195
Ohio Hempery 15, 30, 80 Rothschild 76
ó leo de sem ente de cânhamo 10, 11, u, 29, 38, Rubin, Dr-. Vera 13, 87, 96, 139, 140, 141
67, 78, 80, 116 Rutherford, Tom 153
Oliphant, Herman u, 34, 36
Organização Mundial de Saúde 56 Sagan, Carl 79, 89
Orta, Garcia da 176-8 Schlain, Bruce 48
Osbum, Lynn 68, 78 Schlichcen, George 17, 18, 19, 31
Schultes, R. E. 3
Paine, Thomas 9, 11 Scripp , E. W. 17, 18, 19
Painel Consultivo da Investigação da Seberg, Jean 99
Califó rnia 55, n6, 130 Segunda Guerra Mundial 10, 12, 28, 30, 42, 77
Pais, Gualdim 197 semente de cânhamo 13, 14, 38, 68, 71, 73, 78,
Papa Inocên cio III 95 163
papel 2, 7, 10, 25, 26, 54, 58, 73, 172.-3 Shushan, E. R. 87
paraquat 73, 143, 144 SIDA 571 Óll 65, 134, 144, 163, 204
Parenti, M ichael 28 Siegel, Dr. Ronald 89
pedras no rim 72 Sindair, John 120
Peron, Dennis 56, 82 Sloman, Larry 16, 37, 40,. 49, ru
Philip Morris 54 Smith, Kate 110
Polícia Judiciária 199, 201 Sócrates, José 201
Polo, Marco 200 Soros, George 82, 83
Pombal, Marquês de 181 Sousa, Martim Afonso de 178
Pop, Iggy 15 St. Angelo, A. J. 74
pressão arterial 63 Standard Oil 76
Primeira Guerra Mundial 9 Stoc.lcwcll, D. M. 74

216
Van Gogh 11
sufis 88, 193, 194 Veloso, Rui 199
Swaggart, Jimmy u8
Vereen, Ben 113
veterinária, medicina 2, 12
Tambs, Lewis 126 VIH. vírus 68, 72
Tasbkin, Dr. Donald 60, 62, 64, 135, 136, 137, Vilar de Mouros, festival 186, 204
138 Villa, Pancho 35, 112
taxação da marijuana 7, 8, 11, 34, 37, 42-, 45, 51 Vi.lla-Maior, Visconde de 182
Teixeira, Augusto 201
25 de Abril 191
Templários 195-8
Teramura, Alan 74, 81 Waldheim, Kurt 133
Thomas, Clarence 120 Walker, Dr. David 74
Thompson, Hunter S. 15
Walsh, Joe 15
Timken, Hetlry 17, 18, 19 Washington, George 2, 4, 6
Torre de Moncorvo, 172, 179, 180, 181
Wasson, R. Gordon 3, 96
Tosh, Peter 15 Watt, James 119
trance 200 Webster, William 121
Tratado Sobre o Canarno, 171, 172, 179, 181
Weil, Dr. Andrew 50
Treadway, Walter 35 White, Timothy 1.23
tuberculose 68, 71 Whitebread, Charles II 34
tumores 13, 52, 60, 133, 162, 167 Wbittier, John Greenleaf 105
Turner, Carlton 119, 142, 143, 145, 149, 152
Williams, Bert u3
Twain, Mark 9, 105
Wilson, Pete 61
Woodward, Dr. William C. 37, 38
U.S.D.A. 17, 18, 21, 22, 23, 31, 32, 56, 73, 77, 130
U.S.S. Constitution 6, 7
Yarrow, Peter 121
Udo, Erasmus 73 Yairslovsky, Zev 121
Ueberroth, Peter V. 117
Young, Andrew u3
úlceras pépticas 65 Young, Francis L. 53, 65, 130
Ungerlieder, Dr. Thomas 50, 61, 96, 135, 139,
153 Zenaga 193, 196
Zinberg, Dr. Norman 50
Van DeKamp, John 121

217
D iverso s U nivqrsos

??
O NOSSO Dl:SAFIO AO MUNDO:
l'ENTEM PRO :AR QUE-ESTAMOS EI\.IUlDOS..,

Se p.roibis emos todos os combusttveis


fósseis e os seu.$ derivados, bem como o cot1e
de árvores para abasfccer as celuloses e a
con11trução civil, de mo.-.o a inverter o feito
de estufa e parar a desOorestação, salvando
assim o planeia • entáo conhece-se apen s
um iánico recursp nat~al natural~entc
renovável capaz e forn cer a maior 1>arte
do pap~I, têxt~is e imcn~os do ~undf;),
s'atisfazer todas as necessidades mundiais
em erm~s de ransp rtes ene~gia,
doméstica e industrial, e em simultâneo
. u z i ~ á pol ~ção, con ituir solo t t
l i m ~ a a,mosfem--· E ~.,sa sub tãncia é • a
me!ftna qtle já féz tuão isso antes • o
~a~•de-~nna~;s ••. a ~p.rijua9a!

~ o_.apjlte ti,_ Aplicações do G~amo_ na Confecção


de MEPicame~tos, Alim~tos, Combust1ve1s, Fibr~s, f~pel e
PlástiW - ApeàWs os Fad!Ms Sobre o Fumo ela Mar11uan~ ~ ~s
Seus Efeitos nas Pessoas - Po~ê e Como Começou a Proib1çao
dif,eanna}Jij,e o QueJ'Ja Tem Sibnificado Para o M'1l}do - O~em
I&ra com lSupressfó do Cãruiamo e Como Vamos Abohr as
Leis ~ibicioniltas - O d•e Podemos Fazer p ara Acelerar o

,,ória
Proce'i'so e Benlficiar dilf Mudanças Iminentes - Uma Breve
da annab~ Po111ff···

ISBN 972.9:,so- 16 2

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