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Uberaba
2019
Stela Mariana de Morais
Uberaba
2019
STELA MARIANA DE MORAIS
BANCA EXAMINADORA
Primeiramente a Deus por ter me concedido às condições de realizar mais esta tarefa.
Aos meus familiares e amigos pelo apoio incondicional desde o ingresso até o presente
momento e pela paciência comigo em cada fase deste processo.
Ao meu companheiro, Josemar José da Silva, pela paciência e bom humor comigo e,
sobretudo por ter me incentivado.
À minha orientadora, Professora Marina Cardoso de Oliveira, por ter abraçado o tema,
pela orientação eficiente e enriquecedora e pelo apoio e estímulos dedicados.
A todos os professores do Mestrado Profissional em Administração Pública da UFTM,
que com suas contribuições ampliaram meu entendimento sobre a grandiosidade da
Administração Pública.
Ao Professor Fabrício Aníbal Corradini pela indicação do tema escolhido e a Professora
Ângela Maria Soares pelas contribuições na pesquisa.
A toda equipe do Consórcio RIDES, pela acolhida e disponibilidade. Em especial ao
Belmiro Francisco Martins Paranhos que me apresentou todo o Consórcio e abriu as portas dos
municípios participantes, e ao Kássio Henrique Gama Souza que atendeu a todos as minhas
solicitações, independente dos dias e horários que eu o procurava.
A todos os municípios participantes dos RIDES, nas figuras de seus Prefeitos, Secretários
e Catadores de materiais recicláveis, pelas entrevistas e trocas de experiências.
Aos colegas de trabalho e chefias imediatas que estiveram ao meu lado durante este
tempo, pela flexibilização de jornadas, trabalho em equipe e compreensão, em especial aos
professores Cassiano Sousa Rosa e Rodrigo César Rosa e ao técnico administrativo Álvaro
Marcelo Carneiro Monteiro Guedes.
“Sempre que houver alternativas, tenha cuidado. Não
opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo
respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso.
Opte pelo que faz o seu coração vibrar. Opte pelo
que gostaria de fazer, apesar de todas as
consequências.”
Osho
RESUMO
The political and administrative autonomy of the Municipalities has been a reality since the
Federal Constitution of 1988. Although the Municipalities have the responsibility of executing
public policies, they do not always have the financial capacity for this, especially the small
Municipalities. In this context, joint management has been an alternative to municipal managers.
Against this, in 2005 the Public Consortia Law is published as a way for the State to guide this
relationship. In this context, in 2013 the Integrated Sustainable Development Region was created,
which evolves into a Consortium called RIDES, composed of 10 Municipalities of Minas Gerais,
such as Abadia dos Dourados, Cascalho Rico, Coromandel, Douradoquara, Estrela do Sul,
Grupiara, Indianópolis , Iraí de Minas, Monte Carmelo and Romaria, based in Monte Carmelo.
The objectives were to describe the process of formalization of the RIDES from the initial
motivation to the formation of criteria for inclusion of cities; analyze the achievements and
challenges for the operation of the RIDES; and propose, from the research diagnosis, a plan of
action that collaborates with the management and strengthening of the RIDES and, inspire other
managers of inter-municipal consortia. This research is limited in the field of applied social
sciences. It is a case study, a method widely used to study a well defined entity, of a qualitative
nature with exploratory and descriptive purpose. For this, interviews with semi-structured script
were carried out, which were recorded, transcribed and studied by Content Analysis methods. It
became clear that small municipalities are unable to meet all national policies, individually, for
budgetary and technical reasons, favoring the formation of territorial arrangements such as
intermunicipal consortia. In addition the RIDES had several achievements in its first
quinquennium and that its main challenges of operation are in the managerial framework, without
forgetting the political and cultural factors, therefore an Action Plan was suggested in the last one
suggesting the use of OSM methods to improve communication organization and procedures,
improve internal communication and with the consortium members, refine recruitment and
selection and reduce turnover, favor working conditions, actions to reduce delinquency, sensitize
consortium members to the importance of applying the resource, clarify the RIDES team and
consortium members their assignments and proposals to reduce political-party interference in the
management of RIDES.
Keywords: public administration, public consortia, Brazil.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
4 MÉTODO .................................................................................................................................. 28
5. RESULTADOS ........................................................................................................................ 59
6 DISCUSSÃO ............................................................................................................................. 98
1 INTRODUÇÃO
Com o novo pacto federativo do país, estabelecido em 1988, que marca o fim da ditadura
militar e o começo da democracia, os municípios brasileiros ganharam autonomia e maior
participação na vida político-administrativa do país, assumindo o papel de protagonista na gestão
abraçando significativa parcela das políticas públicas. Todavia, embora mais democrático, essa
descentralização de responsabilidades não garantiu a sustentabilidade econômica dos municípios,
sobretudo os pequenos.
Os consórcios são parcerias formadas por dois ou mais entes da federação para a
realização de objetivos de interesse comum em qualquer área. Eles foram normatizados em 2005
pelo Governo Federal, que estabeleceu as normas de criação dos consórcios públicos com a
promulgação da Lei 11.107. Desde então têm surgido inúmeros consórcios públicos no Brasil
que buscam atender as mais diversas áreas da gestão municipal ou estadual, sujeitos aos desafios
de funcionamento correlatos à Administração Pública.
Assim, buscando alcançar força política, os prefeitos dos municípios circunvizinhos
Abadia dos Dourados, Cascalho Rico, Coromandel, Douradoquara, Estrela do Sul, Grupiara,
Indianópolis, Iraí de Minas, Monte Carmelo e Romaria, todos localizados em Minas Gerais,
decidiram se unir e formar a Região Integrada de Desenvolvimento Sustentável que
posteriormente se tornou o Consórcio Público RIDES, composto por dez municípios. O objetivo
inicial era atender as diretrizes nacionais de saneamento básico estabelecidas na Lei 11.445 de
2007 conjuntamente com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), para em seguida
atender as demais áreas do gerenciamento municipal, haja vista ter sido idealizado como um
consórcio multifinalitário.
Uma vez que da gestão consorciada nasce uma entidade na forma de autarquia pública e,
esta visa atender os interesses comuns de seus consorciados, eclodem junto de sua formalização
os desafios de como se dará sua organização, seus processos, de como será sua administração
financeira, como funcionará seu gerenciamento de pessoal, quais serão as influências dos fatores
políticos dentre outros reveses inerentes à gestão.
Logo, tendo em vista a relevância deste tema para a administração pública municipal esta
pesquisa teve como objetivo descrever o processo de formalização do RIDES, desde a motivação
inicial até os critérios de inclusão de cidades e, posteriormente analisar as conquistas e os
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desafios para seu funcionamento. E a partir desse diagnóstico, propor um plano de ação com
sugestões para a condução dos consórcios municipais, em especial o RIDES, a fim de
impulsionar o seu fortalecimento. Espera-se que essa pesquisa traga conhecimento teórico e
aplicado que auxilie na gestão dos consórcios públicos intermunicipais, para que estes evoluam
na Administração Pública promovendo a otimização dos esforços dos gestores públicos,
melhorando a qualidade de vida de seus munícipes.
Esta pesquisa circunscreve-se no campo das ciências sociais aplicadas. Trata-se de um
estudo de caso, método amplamente utilizado para estudar uma entidade bem definida, de
natureza qualitativa com finalidade exploratória e descritiva. Os objetivos se dedicam a conhecer
com maior profundidade o assunto da implantação e funcionamento do RIDES, sob o prisma da
Administração Pública, já que a maioria das pesquisas encontradas sobre o tema são da área
ambiental. Para atingir aos objetivos propostos, essa dissertação está construída em sete capítulos,
iniciando pela Introdução e Referencial Teórico, que abordam o que tem sido estudado sobre o
tema, seguida pela Justificativa e Objetivos. Posteriormente encontram-se os capítulos sobre o
Método, Resultados e Discussão. Por fim, apresenta-se o Plano de Ação baseado nos desafios
encontrados e nas soluções apontadas pela literatura e as Conclusões e Considerações Finais.
18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Durante o regime militar no Brasil, com início em 1964, o Brasil teve como pilar a
centralização do poder político e das decisões administrativas e econômicas no governo federal.
Nesse contexto foram criadas quatorze regiões metropolitanas que representavam todo o território
nacional e, aspirando o caráter uniformizador e unilateral dos programas de desenvolvimento do
governo federal este definiu o planejamento integrado do desenvolvimento econômico e social
como “serviços comuns de interesse metropolitano”, quais sejam o saneamento básico, os
recursos hídricos, a poluição ambiental, o gás combustível, os transportes, o sistema viário e o
uso do solo (STRELEC, 2011).
A mesma autora conta que em 1986 os governadores ampliaram sua participação na
receita tributária e na penetração do Congresso Nacional e reivindicaram a descentralização e a
democracia, o que refletiu entre os municípios, tanto em busca da ampliação dos recursos como
pela ampliação do poder político. A expectativa neste momento era a celebração de um novo
pacto federativo (STRELEC, 2011).
Como pode ser observado na Constituição Federal de 1988, esse novo pacto federativo, já
em seu primeiro artigo garante a democracia e a participação popular:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Segundo Guimarães (2010) o atual federalismo brasileiro conta com três níveis de poder,
introduzido pela Constituição Federal de 1988 (CF-88). Neste sentido a organização político-
19
intrincadas, ou seja, sem uma distribuição indubitável de políticas que cada nível de governo
deve executar. Outro problema é que a distribuição de competências constitucionais não foi
acompanhada por uma igualitária partilha de receitas, concentrando nas mãos da União a maior
parte da arrecadação tributária.
A CF em seu artigo 23 traz uma síntese dessa intricada relação entre União, Estados,
Distrito Federal e Municípios:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar
o patrimônio público;
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras
de deficiência;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e
cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros
bens de valor histórico, artístico ou cultural;
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à
pesquisa e à inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições
habitacionais e de saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a
integração social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração
de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do
desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)
Por outro lado, a mesma autora aborda também os benefícios da descentralização, pois
pode ser considerada uma forma mais democrática, eficiente, eficaz e inovadora de gestão
pública e está associada à aproximação entre o governo e os cidadãos. Reafirma que a
descentralização ocasionou maior disseminação de informações, além de criar canais de debate e
mecanismos de fiscalização governamental. Ademais, criou um caráter inovador para a busca de
soluções administrativas já que os governantes locais estão mais sujeitos a pressão popular
(GUIMARÃES, 2010).
Mais recentemente, ao analisar os municípios brasileiros no contexto da constituição,
Baldissera (2015) afirma que a mudança de forças em razão da atribuição dos municípios como
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ente federado não os fortaleceu como se esperava, em virtude da assimetria econômica e social
entre os entes municipais. Por isso, a atribuição de responsabilidades aos municípios deve ser
acompanhada de descentralização financeira correspondente, para oportunizar a atuação
adequada frente às políticas públicas. Não obstante, para efetivar a autonomia dos municípios se
faz necessário desenvolver sua capacidade técnica e institucional, possibilitando que os serviços
sejam bem planejados e executados nessa esfera.
Com o aumento da autonomia dos municípios brasileiros advindo da democracia e da
descentralização dos poderes e deveres da União para os demais entes federados, os municípios
de menor porte ficaram frágeis economicamente diante das várias frentes de atuação. Desde
então, uma alternativa que se mostrou favorável para esses gestores foram os arranjos territoriais,
favorecendo a formação de consórcios públicos intermunicipais.
governadores fortalecidos pelas eleições diretas de 1982, pois acreditava-se que quanto maior
fosse o poder atribuído aos Estados e Municípios, mais democrático seria o país.
Assim, a transferência de atribuições entre os níveis de governo confiou ao Município o
papel de protagonista na gestão, passando-lhes significativa parcela das funções das políticas
públicas como saneamento básico, saúde, habitação e assistência social. Todavia, nem sempre a
descentralização fiscal consegue garantir a autonomia financeira para o fornecimento dos
serviços públicos locais, tanto que as décadas de 1980 e 1990 marcam o início da proliferação
dos arranjos de cooperação institucional entre municípios (RIOS, 2015).
De modo geral, os consórcios públicos são definidos como parcerias formadas por dois ou
mais entes da federação para a realização de objetivos de interesse comum em qualquer área. Os
consórcios podem discutir formas de promover o desenvolvimento regional, gerir o tratamento de
lixo, saneamento básico da região, saúde, abastecimento e alimentação ou, ainda, execução de
projetos urbanos. Eles têm origem nas associações dos municípios (SCALABRINI, 2011).
Em 2005 é promulgada a Lei nº 11.107, conhecida como Lei dos Consórcios Públicos,
que no caput do artigo 1º estabelece normas gerais para a União, os Estados, o Distrito Federal e
os municípios celebrarem consórcios públicos cuja finalidade seja a realização de interesses
comuns desses entes públicos. Estabelece ainda, no parágrafo 1º do mesmo artigo, que o
consórcio público constituirá associação pública ou pessoa jurídica de direito privado (BRASIL,
2005).
O Decreto 6.017 de 2007 veio regulamentar a Lei n.º11.107/2005, que institui sobre
normas gerais de contratação de consórcios públicos, dispõe sobre a entrada e a saída de
consorciado em seus artigos 24 e 25, garantindo que nenhum ente da Federação será obrigado a
se consorciar ou permanecer consorciado (BRASIL, 2007).
Este mesmo Decreto conceitua consórcio público como pessoa jurídica formada
exclusivamente por entes da Federação, para estabelecer relações de cooperação federativa,
inclusive a realização de objetivos de interesse comum, constituída como associação pública,
com personalidade jurídica de direito público e natureza autárquica, ou como pessoa jurídica de
direito privado sem fins econômicos.
Outrossim, visando garantir a sustentabilidade econômica dessas entidades, a Lei 11.107
de 2005 traz as regras para o contrato de rateio dos consórcios em seu art. 8º – Os entes
consorciados somente entregarão recursos ao consórcio público mediante contrato de rateio.
23
Vale ressaltar que, embora a Lei dos Consórcios tenha garantido o regramento legal para a
criação dos arranjos e deu um norte estrutural para sua gestão, ela não garante a continuidade do
consórcio, por isso é necessário a criação de políticas públicas que promovam a manutenção dos
mesmos. Porquanto, o consórcio público não é uma fórmula mágica e, tampouco é capaz de
solucionar todos os problemas que os entes públicos enfrentam e, por isso, eles devem ser
estruturados com capacidade técnica e gerencial efetivas, já que se trata de um instrumento de
cooperação que responde às necessidades da realidade (BALDISSERA, 2015).
Abrucio et al.(2013) constatou que, sozinhos, os municípios têm dificuldade em formular
e implementar todo o arcabouço de políticas públicas, o que contribui para a busca de soluções
cooperativas e consorciadas. Assim, os consorciamentos são gerados por associação
municipalista que tem papel fundamental na formação e manutenção dos arranjos
intermunicipais, ou seja, o arranjo associativo vai além das unidades municipais de cada
consórcio, sendo capaz de criar a multiplicar parcerias estáveis entre municipalidades.
Para Ravanelli (2010), o uso de consórcios públicos como instrumento administrativo
inter e intragovernamental de políticas públicas, tornou-se estratégia de enfrentamento da
insuficiência de recursos, mediante a desigualdade entre os municípios. A crescente adoção e
formalização de consórcios públicos no Brasil mostram que a articulação e cooperação têm se
24
mostrado efetivos para os governos locais. Ademais, o consórcio público pode ser ferramenta de
persuasão, poder, diálogo e negociação entre os entes federados (KUMEGAWA, 2018).
Em relação a sua constituição, os consórcios públicos podem ser formados de maneira
horizontal, ou seja, na mesma esfera de governo, ou vertical, quando formado por entes
federativos diferentes, sendo o seu território de abrangência restrito a soma dos territórios dos
entes consorciados. Seus objetivos são determinados no Protocolo de Intenções e podem ser
multifinalitários, ou seja, abranger mais de uma área da administração pública (SILVA, 2015).
Ainda sobre os tipos de consórcio, Rikils (2015) esclarece que eles podem ser de natureza
jurídica de Direito Público, isto é, associações públicas de natureza autárquica, integrantes da
Administração Indireta; ou de Direito Privado, onde pessoas jurídicas são instituídas para a
realização de objetivos de interesses comuns. Ambos assumem direitos e obrigações regidos
pelos preceitos da Administração Pública e da gestão fiscal pública.
Matos (2017) explica que o princípio da cooperação encontra-se amparado no art. 225 da
Constituição Federal de 1988, pois, além de afirmar que todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, impõem ao poder público e a coletividade o dever de proteger e de
preservar. Ademais, o art. 18 da Lei 12.305/2010 confere acesso prioritário aos recursos da União
para os municípios consorciados e o art. 19 da mesma Lei dispensa a elaboração do plano
municipal de gestão integrada de resíduos sólidos individual, cabendo ao consórcio um plano
intermunicipal que deverá preencher o conteúdo mínimo estabelecido em Lei.
Infere-se que a problemática dos resíduos sólidos urbanos tem ganhado importância nas
discussões sobre gestão urbana e regional a partir da promulgação da Lei 12.305/2010. O
crescimento sistemático na produção de resíduos tem conduzido o tema à antelação nas
administrações municipais, panorama este que demanda adoção de instrumentos de atuação
conjunta entre municípios, com destaque para o consórcio público, delineando um ambiente de
atuação colaborativa, tanto compulsória (entre os órgãos administrativos), quanto voluntária
(consórcios intermunicipais), permitindo o aumento da eficácia dos serviços realizados
(NASCIMENTO NETO et al., 2012).
Vários consórcios intermunicipais foram criados advindos da nova Lei, todavia há poucas
pesquisas sobre as condições que geram a continuidade dessas articulações intermunicipais
(ABRUCIO et al., 2013). Ademais, essas entidades apresentam autonomia administrativa e
orçamentária o que promove integração e compartilhamento das experiências, porém maximiza a
25
3 JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
4 MÉTODO
viabilizar a gestão integrada dos serviços públicos que ofereçam o desenvolvimento sustentável e
tem como objetivos executar as tarefas de planejamento, regulação e fiscalização dos serviços
públicos dentro da área dos municípios participantes, além de cumprir parte desses serviços ou
delegar sua prestação por meio de contrato de programa ou contrato de concessão.
No mês de julho de 2013, de acordo com o RIDES (2017), foi realizada a segunda reunião
junto à SEDRU – Secretaria de Desenvolvimento Regional Urbano, desta vez na cidade de Monte
Carmelo, sob o escopo ‘iluminação pública’, pois a partir de janeiro de 2014, o ativo da
iluminação pública seria assumido pelos municípios. Na ocasião a SEDRU apresentou gestão
associada e abordou a Lei 11.107/2005 como modelo do que estava sendo discutido no Brasil,
que era a criação de Consórcios Multifinalitários. Acordou-se, na mencionada reunião, que a
Região Integrada de Desenvolvimento Sustentável, se transformaria em Consórcio e inicia-se
discussão do Protocolo de Intenções, que foi firmado em 22 de agosto de 2013, com a finalidade
de constituir o Consórcio Intermunicipal – Região Integrada de Desenvolvimento Sustentável –
RIDES, no município de Monte Carmelo. Naquela data o RIDES passa a ser autarquia e fica
estabelecido que o Protocolo de Intenções seria ratificado através de Leis Municipais.
Em 6 de dezembro de 2013 foi realizada a Assembleia Geral de Instalação do RIDES, de
acordo as Leis Municipais 1, que é o dispositivo onde cada Município a sanciona o Protocolo de
Intenções de ingresso no Consórcio Público (RIDES 2017). Nesta Assembleia foi produzida a
ATA de Constituição do Consórcio com 8 municípios, pois Abadia dos Dourados não teve
interesse em ratificar sua participação no Consórcio. Ainda nesta reunião, o município de
Coromandel manifestou expressamente o interesse de entrar para o Consórcio RIDES.
A primeira reunião do Consórcio foi realizada no mês de janeiro de 2014, em Grupiara.
Na oportunidade, foi feito um ofício ao então Reitor da Universidade Federal de Uberlândia,
Prof. Elmiro Santos Resende, solicitando à UFU um estudo de viabilidade do Plano Municipal de
Saneamento Básico dos Municípios que ainda não possuíam (Cascalho Rico, Douradoquara,
Estrela do Sul, Grupiara e Romaria). Em março de 2014 foi celebrado o Convênio com a
universidade mencionada.
1
Lei Municipal nº 79, de 9 de outubro de 2013, do Município de Estrela do Sul; Lei Municipal nº 959, de 24 de
outubro de 2013, do Município de Romaria; Lei Municipal nº 605, de 29 de outubro de 2013, do Município de
Douradoquara; Lei Municipal nº 1.025, de 4 de novembro de 2013, do Município de Iraí de Minas; Lei Municipal nº
1.117, de 6 de novembro de 2013, do Município de Monte Carmelo; Lei Municipal nº 198, de 14 de novembro de
2013, do Município de Cascalho Rico; Lei Municipal nº 313, de 20 de novembro de 2013, do Município de Grupiara;
Lei Municipal nº 1.822, de 6 de dezembro de 2013, do Município de Indianópolis.
30
Brasão
Fundada em 1862
Gentílico Abadiense
Fonte: IBGE, 2010
História
Brasão
Fundada em 1890
Gentílico Cascalho-Riquense
História
Encontrando-se vestígios nas proximidades da cidade que leva-se à suposição que tenham
sido os índios tapuias os primitivos habitantes. Em 1743, o Coronel Antônio Pires de Campos, por
ordem Del-Rei, teria fundado três aldeias para a concentração de índios pacíficos: Santana, Pissarão e
Rio das Pedras. A última, construída no alto de uma colina, tinha por função primordial defender a
região contra invasores, além de servir como aldeamento de índios mansos, trazidos de Mato Grosso e
Goiás, Posto Fiscal e aquartelamento de tropas. A estrada de Anhangüera, ainda hoje existente em
alguns trechos, era passagem obrigatória para os que demandavam de Goiás, vindos de São Paulo, e o
controle da travessia no arraial era exercido pelo Capitão dos Índios que exercia também autoridade
na Aldeia. Era o Curador dos índios, nomeado pelo Governo Imperial, para proteger os interesses dos
indígenas (IBGE, 2010).
Em 1856, o Curador Manoel José de Carvalho exarou, no livro de registros eclesiásticos do
Vigário de Bagagem, declaração segundo a qual os indígenas possuíam, na Aldeia de Rio das Pedras,
uma faixa de terras de cinco léguas de comprimento por três de largura. Esta aldeia, veio a ser a Sede
do Município de Cascalho Rico (IBGE, 2010).
34
4.2.2.3 Coromandel
Brasão
Continuação da Tabela 3
Fundada em 1870
Gentílico Coromandelense
Fonte: IBGE, 2010
História
4.2.2.4 Douradoquara
Brasão
Continuação da Tabela 4
Fundada em 1962
Gentílico Douradoquarense
Fonte: IBGE, 2010
História
Brasão
Continuação da Tabela 5
Fundada em 1856
Gentílico Estrela-sulense
Fonte: IBGE, 2010
História
A Estrada Real, denominação da passagem das expedições pela região naquele tempo,
condicionou a formação de vários e pequenos arraiais como Desemboque, Sacramento, Uberaba
e Uberlândia, dentre outros. Esses arraiais constituíram-se em um ponto de passagem entre o
litoral e o sertão.
O processo de urbanização só foi intensificado a partir de 1852, quando foi descoberto o
famoso diamante ″Estrela do Sul″. Neste mesmo ano foi criado o Distrito de Paz no Arraial da
Bagagem pertencente à comarca de Patrocínio, pela Lei nº 575 de 04 de maio.
Em 1854 o curato foi elevado à categoria de paróquia pela Lei nº 667 de 27 de Abril. Pela Lei nº
777 de 30 de Maio de 1856, o distrito foi elevado à Vila, com o nome de Bagagem, instalado em
30 de Setembro de 1858.
Devido ao crescimento local, em 1861, a Vila de Bagagem foi elevada a categoria de
cidade, pela lei nº 1101 de 19 de Setembro. Foi neste momento que a cidade chegou a contar com
uma população de, aproximadamente, 30 mil habitantes. No entanto, verificou-se que essa
população, diretamente vinculada ao garimpo, apresentava significativa rotatividade em busca
dos diamantes e residia em habitações improvisadas.
Em meados do século XIX, a cidade exercia um fascínio na região que se traduzia numa
numerosa população e também na influência político-ideológica sobre grande parte da região do
Triângulo Mineiro. Este dado reforça a importância e expressão já exercidas pelo Município na
região e que, atualmente, vem tentando recuperar.
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4.2.2.6 Grupiara
Brasão
Site Oficial
https://www.grupiara.mg.gv.br/
População [2010]
1.373 habitantes
Área
192,56 km²
41
Continuação da Tabela 6
Fundada em
1962
Gentílico
Grupiarense
Fonte: IBGE, 2010
História
Foi emancipado o Distrito de Gupiara passando a ter a categoria de cidade pela Lei nº
2.764 de 30 de dezembro de 1962. Para a instalação do Município, foi nomeado pelo Sr.
Governador, o intendente Sr. Ranulfo Alves de Oliveira, instalando a intendência Municipal em
01/03/1963 e fazendo funcionar a orgânica de Grupiara.
4.2.2.7 Indianópolis
Brasão
Fundada em 1938
Gentílico Indianopolense
História
Segundo a tradição, os índios Tupis são tidos como os primeiros habitantes da região, os
quais foram expulsos pelos Tremembés, vindos do alto Jaguaribe. Estes, por sua vez, viram-se
quase imediatamente atacados pelos Caiapós que, procedendo do médio Araguaia, os compeliram
a se retirar para as cabeceiras do Rio São Francisco (IBGE, 2010).
No começo do século XVIII, quando os bandeirantes paulistas viviam à caça de ouro,
passaram por Santana do Rio das Velhas, antigo nome de Indianópolis, em demanda das minas de
Goiás, encontrando no local os Caiapós, como seus habitantes. Estes, entretanto, após tremenda
luta com os índios considerados mansos (Bororós, Parecis, Javaís e Carajás) chefiados pelo cel.
Antônio Pires de Campos, célebre sertanista, foram expulsos para outros pontos de Minas e
Goiás, passando os Bororós a dominar a aldeia que, localizada à margem direita do Rio das
Velhas, tinha por encargo proteger os povoadores que viajavam pela Estrada Anhangüera (IBGE,
2010).
É voz corrente que também os jesuítas, com suas caravanas, passaram por Santana do Rio
das Velhas, ali fixando residência por algum tempo. Assim é que o Padre Caturra, como
44
lembrança de sua passagem pela região, deixou alguns vestígios. Ainda existe uma casa de tipo
rústico, provavelmente, construída pelos índios, a qual serviu de residência aos religiosos, local
denominado “Furnas”, há outra que foi a habitação do comentado Anhangüera. Data dessa época
o erguimento do povoado, que era ponto de concentração das bandeiras vindas do sul, e das
caravanas sertanejas (IBGE, 2010).
Muitos dos habitantes de Indianópolis se mudaram para Araguari atraídos pela chegada
dos trilhos da Estação Ferroviária Mogiana, o que diminuiu progresso daquela localidade. (IBGE,
2010).
Brasão
Fundada em 1953
Gentílico Iraiense
História
Brasão
Continuação da Tabela 9
Fundada em 1892
Gentílico Carmelitano
História
Esta região era habitada por índios, conforme artefatos encontrados em diversos lugares,
tais como: machados de pedra, potes, roletes, etc. Eram índios das tribos Caiapós e Araxás
(IBGE, 2010).
Os primeiros movimentos que deram origem ao nosso povoado tiveram início em 1840.
Moradores de São João del Rei e Itapecerica, foram atraídos pela descoberta de garimpos
diamantíferos em Estrela do Sul, que na época se chamava ″Bagagem″. Por causa do ambiente
dos garimpos, pouco recomendado a famílias e também devido ao clima saudável e à excelente
água de nossa região, os garimpeiros deixavam aqui suas famílias. Estas pessoas se instalaram às
margens do Córrego Mumbuca, onde é hoje o bairro Tamboril (IBGE, 2010).
D. Clara Chaves, fazendeira conhecida por sua generosidade, doou um terreno de 6 léguas
quadradas para construírem capela para N. Sra. do Carmo, de quem era devota. Nesta área, onde
hoje é a Praça da Matriz, os moradores fizeram suas casas em torno da primeira Igreja e assim
formou-se o Arraial do Carmo da Bagagem (IBGE, 2010).
Em 1882, o Arraial foi elevado à categoria de Vila, passando a chamar-se Nossa Senhora
do Carmo da Bagagem (IBGE, 2010).
Em 1892, a Vila é elevada à categoria de cidade e passou a denominar-se Monte Carmelo,
que é o nome da montanha existente no litoral de Israel, nas proximidades da cidade de Haifa.
Carmelo, em hebraico, significa uvas de Deus e como Carmo da Bagagem situa-se próximo a um
monte semelhante ao da antiga Palestina, onde se encontra a sede da Congregação das
Carmelitas, adotaram o nome de Monte Carmelo, em consideração ao local onde se fundou a
Ordem de Nossa Senhora do Carmo e também ao monte nas proximidades da cidade (IBGE,
2010).
48
Nessa ocasião o município de Monte Carmelo abrangia cinco distritos de paz: Monte
Carmelo (sede), Douradoquara, Iraí de Minas, Nossa Senhora D′ Abadia de Água Suja e São
Sebastião da Ponte Nova (IBGE, 2010).
Brasão
49
Continuação da Tabela 10
Fundada em 1938
Gentílico Romariense
Fonte: IBGE, 2010
História
Água Suja, hoje Romaria, começou sua existência como povoado, no tempo da guerra do
Paraguai, quando alguns garimpeiros vindos de Estrela do Sul descobriram ali ricas jazidas de
diamante (IBGE, 2010).
Em 1867 foi descoberto o primeiro e daí por diante, o Córrego Água Suja, que desemboca
no rio Bagagem, tornou-se célebre, emprestando seu nome à povoação que logo foi surgindo com
os diamantes. Seus primeiros habitantes, sempre devotos de Nossa Senhora, como seus
antepassados, com grandes dificuldades, iam todos os anos à longínqua Ermida de Muquém
(centro de Goiás) a fim de cumprir suas promessas participando da concorrida romaria anual.
Nesta Ermida era invocada Nossa Senhora da Abadia, Invocação Importada de Portugal para a
capela de São Tomé, na paróquia de São José do Tocantins, em Goiás (hoje Tocantins) (IBGE,
2010).
Crescendo, a população de Água Suja, crescia também a dificuldade de se deslocarem os
devotos até Muquém. Surgiu então entre os habitantes a ideia de se construir capela em honra a
Nossa Senhora da Abadia, se os emissários do governo imperial os não viessem incomodar neste
recanto, com a designação para o serviço da campanha do Paraguai. Levaram ao conhecimento
de D. Joaquim Gonçalves de Azevedo, bispo de Goiás, a ideia, pedindo licença para que na
capela a ser construída gozassem os peregrinos dos mesmos favores espirituais de que gozavam
os de Muquém (IBGE, 2010).
50
Sobre o Protocolo de Intenções e Estatuto, pode-se afirmar, com base em dados históricos,
que são objetivos gerais do Consórcio Intermunicipal Região Integrada de Desenvolvimento
Sustentável – RIDES: executar as tarefas de planejamento; regulação e fiscalização dos serviços
públicos delimitados pelos municípios consorciados; prestar parte desses serviços ou delegar sua
prestação por meio de contrato de concessão. Além do mais, esta iniciativa qualifica as relações
entre os municípios da Região com seus prestadores, fomentando a universalização do
atendimento e, com isso, beneficiando a população mais carente e desassistida da Região
(RIDES, 2013, 2014 e 2017).
Em sua estrutura, o Consórcio é composto por seis órgãos, conforme o art. 14 de seu
Estatuto Social, que são: Assembleia Geral; Diretoria Executiva; Conselho Fiscal;
Coordenadoria de Gestão e Desenvolvimento Institucional; Câmaras Temáticas e Conferência
Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável.
Conforme o art. 15, a Assembleia Geral:
Já o Conselho Fiscal:
“… será composto por 3 (três membros titulares e seus respectivos suplentes, cabendo
indicação aos Municípios consorciados.
Parágrafo único – os membros do Conselho Fiscal serão escolhidos entre os Prefeitos
integrantes do Consórcio, que fará a indicação dos seus respectivos suplentes.”
(RIDES, 2014, p. 24)
O Estatuto prevê em seu art. 38 que poderão ser criadas Câmaras Temáticas, sobre as
áreas e segmentos de Gestão Públicas dos Municípios:
“… Poderão ser criadas Câmaras Temáticas que serão formadas pelos (as) Secretários
(as) Municipais dos Municípios integrantes do RIDES e, mais 01 (um) profissional
lotada na secretaria da área de atuação da Câmara Temática, nomeados por ofício do
Prefeito do Município consorciado a Diretoria Executiva.” (RIDES, 2014, p. 29 e 30)
4.5 PARTICIPANTES
Foram convidados a participar da pesquisa parte dos colaboradores do RIDES, nas figuras
de Agente Administrativo, Engenheiro Ambiental e Assessor da Diretoria, todos os membros da
Coordenadoria de Gestão e Desenvolvimento Institucional que, conforme o Estatuto é
responsável pelas atividades de funcionamento do RIDES. Para engrandecer a pesquisa, também
foram convidados a participar o Presidente do RIDES e os Secretários de Meio Ambiente de
outras secretarias (obras, administração e finanças), colaboradores de secretarias de meio
56
ambiente e o Coordenador Regional das Promotorias de Meio Ambiente das Bacias dos Rios
Paranaíba e Baixo Rio Grande do Ministério Público de Minas Gerais, todos envolvidos de
alguma forma com a gestão do consórcio.
Ao todo, foram entrevistados 17 participantes, sendo: 3 colaboradores do RIDES, que
compõe a Coordenadoria de Gestão e Desenvolvimento Institucional (17,6%); 1 prefeito (5,9%);
6 secretários de meio ambiente (35,3%); 3 secretários de outras pastas (obras; administração e
finanças) (17,6%); 3 colaboradores de secretarias de meio ambiente (17,6%) e 1 promotor de
justiça do MPMG (5,9%).
4.6 INSTRUMENTOS
Para a condução das entrevistas foram elaborados roteiros semiestruturados para cada
segmento, com o fim de responder aos objetivos da pesquisa. Para os colaboradores do RIDES o
57
conteúdo da fala dos participantes e, está estruturada em três fases: pré-análise, exploração do
material e tratamento dos resultados.
Nesta pesquisa, para a primeira etapa de pré-análise foi realizado a leitura flutuante das
entrevistas. Na segunda fase, de exploração do material foi realizada a criação das categorias
iniciais, separadas por entrevistado, a fim de interpretar o material coletado. Nesta etapa foram
obedecidas às regras de exaustividade (esgotar a totalidade da comunicação); representatividade
(a amostra representa o universo); homogeneidade (os dados referem-se ao mesmo tema);
pertinência (os documentos se adaptam ao objetivo da pesquisa) e exclusividade (cada elemento
só foi classificado em uma única categoria) (CÂMARA, 2013). Na sequência as categorias
iniciais foram agrupadas em categorias intermediárias, pautadas nos objetivos da pesquisa, nas
narrativas dos entrevistados e no referencial teórico. As categorias intermediárias, por sua vez,
sustentaram a construção de cinco categorias finais para o objetivo de descrever o processo de
formalização do RIDES desde a motivação inicial até a formação de critérios de inclusão de
cidades e nove categorias para responder ao objetivo de analisar as conquistas e os desafios para
o funcionamento do RIDES.
Na terceira fase da análise de conteúdo foi realizado as inferências e interpretações do
conteúdo das categorias finais, dialogando com a literatura para a partir daí, alcançar o último
objetivo específico de propor, um plano de ação que colabora com a gestão e impulsione o
fortalecimento do RIDES e inspire a gestão de outros consórcios intermunicipais.
59
5. RESULTADOS
Continuação do Quadro 1
Pelas respostas coletadas nota-se que o contexto que provocou, nesses gestores, o desejo
de trabalharem juntos, contemplava além de inexperiência no cargo (pois muitos deles estavam
em seu primeiro mandato), as mudanças da contabilidade pública, a legislação ambiental e a
busca de recursos para seus municípios, como por exemplo, o programa do Governo Federal
Mais Médicos que atendia apenas municípios com mais de 50 mil habitantes, bem como o acesso
a órgãos dos Governos Estadual e Federal, já que se tratava de municípios pequenos.
É possível notar que mais da metade (60%) dos prefeitos da época estavam em primeiro
mandato, 1 (10%) em segundo mandato não consecutivo (que inclusive ficou ausente por dois
mandatos), 2 (20%) em segundos mandatos consecutivos e 1(10%) em quarto mandato, que é
62
justamente o prefeito que conforme narrado no histórico do RIDES não ratificou o Protocolo de
Intenções e, não entrou no RIDES em 2013.
Pelos relatos, ficou claro que outro fator que contribui para a formação de uma Região
Integrada e, posteriormente a transformação desta região em consórcio, foi o tamanho dos
municípios, todos com menos de 50 mil habitantes. O quadro (2) apresenta um resumo com o
número de habitantes de cada Município, segundo o CENSO do IBGE em 2010.
Continuação da Tabela 11
TOTAL 103.326
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019
É sabido que o IBGE realiza censo das cidades brasileiras a cada 10 anos e, que no
interstício é realizado estimativa anual. Segundo a estimativa do IBGE para o ano de 2018
(última publicada), todos permanecem com menos de 50 mil habitantes, inclusive Monte
Carmelo que está com estimativa de 47.682 habitantes.
Ainda nas indagações acerca do surgimento do RIDES, foi apontado pelos entrevistados
que, após o conhecimento da Lei 11.107 de 2005 que dispõe sobre normas gerais para a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios contratarem consórcios públicos para a realização de
objetivos de interesse comum, perceberam a necessidade de transformarem a então Região
Integrada em um Consórcio Público.
O Quadro 3 apresenta uma síntese das falas dos participantes que ilustram as
especificidades da transformação da região integrada em consórcio, bem como os critérios de
inclusão das cidades no RIDES.
65
Transformação RIDES 1: "Julho... Aqui em Monte Carmelo foi organizado uma reunião, pela
em Consórcio Secretaria, na época SEDRU (Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana), e trouxeram aqui um
especialista para falar sobre consórcios públicos... Se a região viesse a ser
estruturada, nós víamos a possibilidade de começar a trabalhar de acordo com
a 11.107/2005 (Lei de Consórcios Públicos)... Então, naquela data, no final da
reunião, o Pazini (Prefeito de Indianópolis na época) conversando com os
prefeitos resolveram que, além de ser uma região... fazermos um estudo de
viabilidade para constituirmos um consórcio com esses nove municípios (...) 6
meses após a criação da (região) Rides, cria-se o consórcio... E nesta reunião
de constituição do consórcio... estava presente dez municípios, porque o
Município de Coromandel tomou conhecimento desta reunião, o então
prefeito Osmar manda o seu chefe de gabinete Luiz a vir e trazer uma carta
manifestando o interesse em saber quais seriam os procedimentos para fazer
parte do consórcio... em contrapartida o prefeito então Osvaldino de Abadia
dos Dourados... diz que naquele exato momento ele não teria o interesse (...) E
nesse interino nós começamos a desenvolver então uma Câmara Temática,
que foi então a Câmara Temática para a área ambiental"
PROMOTOR: “Nós temos uma Lei federal, que é a Lei 12.305, essa lei
impunha aos municípios até 2014 a obrigatoriedade de resolver o problema
dos resíduos sólidos. Em decorrência desse fato, o Estado através da Fundação
João Pinheiro fez uma análise e chegou à conclusão que, tendo em vista o
tamanho dos municípios mineiros, a melhor forma de resolver era através do
consorciamento... aí se criou o RIDES com sede na cidade de Monte Carmelo
que engloba... dez municípios.”
66
Continuação do Quadro 3
Critérios de RIDES 1: “Aqui nós temos uma região né, em que ela tem na sua figura
Inclusão de central o município de Monte Carmelo... E Monte Carmelo se tornou não só
Cidades uma referência, mas como uma microrregião, agregando de forma direta
Douradoquara, Grupiara, Estrela, Romaria e Iraí de Minas né e também o
município de Abadia dos Dourados...Nós tínhamos... Indianópolis numa
situação, o município de Cascalho Rico também numa situação e o município
de Coromandel numa situação de muita semelhança... mas que não tinham
uma conectividade com esses municípios... As características físicas,
geográficas, políticas, econômicas, institucionais, tudo convergiam para isso...
Então, era a forma que esses municípios viram de fazer uma grande
transformação na região era a união.”
RIDES 2: “Ser as cidades pequenas e próxima uma da outra.”
PREFEITO: “...Nós buscamos primeiro os municípios que estavam no
entorno de Monte Carmelo... Cascalho (Rico), Grupiara, Estrela ( do Sul),
Douradoquara, Abadia (dos Dourados)... Iraí (de Minas), Romaria e
Indianópolis... E também, geograficamente ele (o consórcio) ficou muito
interessante.”
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019
Continuação do Quadro 4
Cabe ressaltar que no decorrer das entrevistas, ficou compreensível que o consórcio
RIDES foi criado em 2013, com o objetivo de formalizar a então Região Integrada de
Desenvolvimento Sustentável, pois esse formato institucional daria as condições de atender todas
as demandas de gestão pública dos municípios participantes. No entanto, foi priorizado
inicialmente as demandas ambientais já que em 2010 foi publicada a Lei nº 12.305 (Política
72
Resistências PREFEITO: “As barreiras acho que elas partiram de nós mesmos. As
dificuldades que a... maioria dos prefeitos, de entender realmente, naquele
momento, a importância de você (prefeitura) ter o consórcio... superar a
negatividade, mostrar que nós tínhamos expectativas realmente que poderiam ser
concretizadas... Então eu acho que a grande dificuldade partiu de nós (prefeitos)
mesmo.”
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019
5.2.1 Conquistas
Esta categoria agregou os relatos dos participantes que ressaltaram as conquistas dos
municípios com a criação do consórcio. Todas as conquistas mencionadas foram agrupadas em
uma única categoria que se subdividiu em cinco temas que destacaram as conquistas em relação:
(1) a sede própria e personalidade jurídica, (2) o atendimento das obrigações legais, (3) a gestão
consorciada, (4) a gestão ambiental e, (5) benefícios diversos alcançados com as parcerias.
O Quadro 7 apresenta uma síntese das falas dos participantes em relação as conquistas
decorrentes do RIDES
75
Categoria: Conquistas
Sede e RIDES 1: “um dos poucos consórcios existentes na região que a gente tem
Personalidade uma estrutura própria né… porque a maioria dos consórcios hoje ou estão
jurídica dentro de uma sala de uma prefeitura ou estão dentro da sala de um entidade,
de algum órgão né pertencente ao Poder Público da sua sede (...) nós
conseguimos caminhar com uma autarquia… o consórcio ele tem uma
personalidade jurídica”
Continuação do Quadro 7
Categoria: Conquistas
Continuação do Quadro 7
Categoria: Conquistas
Continuação do Quadro 7
Categoria: Conquistas
Benefícios RIDES 1: “nós somos uma região de dez municípios dos 5570 municípios do
Alcançados Brasil, com menos de 50 mil habitantes nesse universo, que temos um plano de
com as gestão integrada de resíduos sólidos feito, elaborado e construído com um
Parcerias nível técnico de uma… Não de uma mas de três instituições de ensino
superior… Pra mim isso não tem preço (...) as belíssimas e significativas
parcerias que o consórcio conseguiu ao longo desse tempo serem celebradas e
efetivadas.”
RIDES 3: “Parceria com o BDMG pra construção do parque consorciado.”
PREFEITO: “Nós estreitamos muito os laços com a Universidade Federal de
Uberlândia (UFU) e com o Ministério Público… o consórcio nós trouxe muito
mais próximos da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas
Gerais), do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas).”
SECRETÁRIO 4: “O Ministério Público chegou a ceder uma parte do
orçamento, R$70.000,00 para o consórcio, para ele investir em coleta seletiva,
material de propaganda, cartaz, outdoor esse tipo de coisa, então, o Ministério
Público foi muito importante nisso.”
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019
O primeiro tema mencionado como conquista do RIDES foi ter uma sede própria,
independente de seus consorciados ou outro órgão público, bem como ter alcançado sua
personalidade jurídica autárquica na forma de consórcio público. Na visão dos participantes esses
são dois diferenciais do RIDES, pois a sede própria e a personalidade jurídica dão maior
autonomia ao consórcio, desvinculando seu funcionamento das prefeituras.
Na visão dos entrevistados, outra importante conquista decorrente do RIDES foi que os
municípios conseguiram atender as obrigações legais, como por exemplo, o atendimento das
79
medidas emergenciais do TAC firmado com o MPMG para a gestão dos resíduos sólidos. Neste
sentido, alguns municípios já tinham destinado local apropriado aos catadores de materiais
recicláveis. Do mesmo modo constata-se a destinação adequada do lixo hospitalar, o projeto de
despoluição do Rio Dourado. Bem como o cercamento do lixão e a elaboração do Plano de
Recuperação de Área Degradada - PRAD, o aumento do ICMS ecológico após a implantação da
coleta seletiva e a credibilidade com o Ministério Público de Minas Gerais.
Outra conquista mencionada pelos participantes, foi a gestão consorciada das demandas
municipais, indo de encontro às motivações iniciais dos idealizadores ao formar o RIDES,
mostrando que têm cumprido os anseios de seus fundadores. Pelos relatos foi possível observar
que a gestão consorciada ampliou a visão dos participantes, trouxe facilidades do trabalho em
grupo, houve aprendizado mútuo, integração entre os municípios e tem-se mostrado uma
ferramenta de ajuda e orientação, além de ser uma tendência para o futuro no que diz respeito à
gestão municipal. Ainda, os entrevistados relataram que a gestão consorciada é uma conquista,
pois, tem ajudado aos municípios pequenos, que sofrem com a falta de profissionais tecnicamente
qualificados. Além disso, as falas evidenciaram que o RIDES ajudou na gestão dos problemas
ambientais dos municípios, haja vista o aumento do prazo para cumprimento dos TACs junto ao
com o MPMG. Por fim, alguns participantes relataram que o RIDES se mostrou sustentável,
viável financeiramente e modelo ideal para os municípios pequenos, pois reduz custos, traz
representatividade regional e força política além de gerar conhecimentos.
No que se refere às conquistas na área da gestão ambiental, os entrevistados relataram a
criação do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) de todos os municípios
consorciados, bem como dos Planos Municipais de Saneamento Básico, que contemplam coleta
seletiva e a construção do Parque Sanitário. Relataram ainda as atividades realizadas na área de
educação ambiental e a mudança de hábitos da população. Foram mencionados ainda os
benefícios da implantação da coleta seletiva como a limpeza do Município, a conscientização
sobre meio ambiente e que os municípios já sabem realizar a coleta seletiva. Por fim, este tema
evidenciou-se o conhecimento transmitido para os consorciados por meio das Câmaras
Temáticas, não obstante a integração entre os consorciados.
Ainda na categoria conquistas, foram agrupadas as falas dos entrevistados que
mencionaram os benefícios alcançados com as parcerias realizadas pelo RIDES, tanto na área
técnica como na redução de custos na elaboração dos Planos Ambientais. A obtenção de recursos
80
do MPMG para realizar as atividades ambientais do RIDES e a parceria com o BDMG para a
construção do Parque Sanitário comum, que atenderá a todos os municípios consorciados.
Essa categoria agrupou os relatos que revelaram a ausência de clareza das metodologias
para realizar as operações administrativas, como por exemplo, fluxogramas e mapeamentos de
processos, bem como ausência de ferramentas de avaliação de desempenho tanto interno quanto
dos consorciados, além de problemas de comunicação.
O Quadro 8 apresenta uma síntese das falas dos participantes da pesquisa.
81
Ausência de RIDES 1: “É um aprendizado a cada dia, porque você não tem manual de
Gestão de como funciona consórcio público… um roteiro dos seus processos e
Processos procedimentos, então é uma construção a cada dia.”
RIDES 3: “É as questões administrativas, eu vejo que o administrativo do
consórcio não está bem definido (...)quero deixar registrado a questão da área
administrativa que é o que precisa de mais organização… A questão de
arquivo, a questão de propor soluções, o fluxograma de funcionários…”
RIDES 2: “em relação aos projetos eu não sei, mas eu sei que é bem
desorganizado… É procurando documento, é documento que some (...) e na
hora que tiver que prestar conta? E se cair uma fiscalização aqui? Entendeu.
Então assim, a questão de arquivo, é muito desorganizada, muito mesmo.”
SECRETÁRIO 7: “Falta de propostas do Consórcio, falta de plano de
trabalho…muita desorganização (...) muito sem objetivo, muito grandioso,
porque eu penso assim, você não pode esperar, como eu já disse no início, um
barracão de 300 mil para começar uma coleta (seletiva) porque nunca vai ter.
(..) não desenvolve; muita teoria; falta organização, foco, liderança, objetivos
definidos e humildade dos prefeitos participantes;”
Ausência de RIDES 1: “Primeiro é nas reuniões e Assembleias sempre que possível são
Ferramenta de feitas essas avaliações. E segundo é um trabalho que a gente tem feito de
Avaliação visitas aos gestores quando possibilitam nos receber para que a gente possa
ouvir, mas um instrumento formal, uma ferramenta nós não temos.”
SECRETÁRIO 1: “Que eu saiba não. A gente observa que se alguma coisa
não vai bem… a gente fala assim ‘isso não está funcionando bem’.”
SECRETÁRIO 2: “Ainda não teve uma avaliação.”
PREFEITO: “Não… eu percebo pessoalmente a condução das ações do
consórcio, no caso, por exemplo, algum desvirtuamento, algum vício, a gente
imediatamente já entra em contato com as pessoas responsáveis para tomar as
… fazer as mudanças… sanar rapidamente.”
COLABORADOR SECRETARIA 1: “Eu acho que isso é uma coisa que
falta, não há um feedback de nossa parte.”
SECRETÁRIO 4: “Não era nada documentado… era entre conversa
mesmo.”
COLABORADOR SECRETARIA 2: “A gente não tinha documentado…
era informal, não tinha um instrumento de avaliação não.”
82
Continuação Quadro 8
Ausência de SECRETÁRIO 7: “Até hoje não foi avaliado… nós não temos um
Ferramenta de instrumento de avaliação.”
Avaliação SECRETÁRIO 8: “Ainda não foi feita nenhuma avaliação.”
Problemas de RIDES 2: “eu não sei explicar porque eu não participo das reunião, eu não
Comunicação fico sabendo de nada (...) o [Presidente do RIDES] nunca vem também pra
fazer uma reunião com a gente”
RIDES 3: “A questão da comunicação também, porque hoje não existe
comunicação aqui dentro.”
SECRETÁRIO 1: “Ultimamente está meio devagar… poderia estar
melhor… podia estar mais eficiente, mais presente, mais constante. Porque
eles têm muito conhecimento.”
COLABORADOR SECRETARIA 1: “Teve um início muito bom… A hora
que o leque abriu eu acho que a Rides se perdeu um pouco, na eficiência dos
seus serviços… Por exemplo, eu não sei se hoje mudou, mas até o mês
passado, você queria ligar na Rides, não tinha telefone pra ligar. Tinha que
ligar pro Belmiro. Não é correto. Aí ele tava fazendo uma reunião...Como é
que eu vou falar com ele.”
SECRETÁRIO 6: “Por telefone, ligava, passava um fax, um e-mail, esses
trem… eu ia ligar, ligava pedia, aí eles: “não, depois eu vou ver essa
questão”, passava uma semana “ou e aí? você resolveu, o que?” e ele “não, eu
ainda vou ver essa questão”.”
SECRETÁRIO 7: “Não tem, não ocorre (...) nas reuniões a gente nunca é
ouvido… me ofereci várias vezes para ajudar e nunca fui ouvida,”
COLABORADOR SECRETARIA 3: “Participa só em reuniões, quando
tem nós participamos sim… eles vem aqui e conversa uma semana depois
passa 6 (seis) a 8 (oito) meses sem… quieto, parado, então não tem
comunicação frequente assim.”
RIDES 1: “Até o início desse ano era mensalmente, até às vezes em algumas
circunstâncias até mais de uma vez no mês, e de acordo com o que tá no
Estatuto é uma reunião mensal e duas Assembleias Ordinárias.”
SECRETÁRIO 1: “Acho que só está faltando ter mais um ‘pouquinho’ de
reunião e de cobrança em relação ao Município... teve muito trabalho bom,
que veio orientação da RIDES para fazer (...).”
83
Continuação Quadro 8
Nesta categoria, o tema ausência de gestão de processos agrupou falas que relataram a
inexistência de um manual de descrição de cargos, ou fluxograma dos processos administrativos
ou qualquer outra normativa, para além do Estatuto, que regulamenta o funcionamento
administrativo do consórcio. Os entrevistados informaram que o arquivo do consórcio está
desorganizado resultando em perda de documentos. Além disso, falta plano de trabalho para
84
Esta categoria agrupou os relatos dos entrevistados que indicaram a falta de clareza das
atribuições e responsabilidades dos entes consorciados e das dificuldades em se definir os papeis
que cada um deve desempenhar para a efetividade da gestão do RIDES.
O Quadro 9 apresenta alguns trechos das falas dos entrevistados que ilustram esta
categoria
85
Exemplo de verbalização
RIDES 2: “Na área administrativa a responsabilidade das prefeituras seria manter o repasse que
é o rateio, os pagamentos em dia pro consórcio funcionar corretamente, mas infelizmente não é
assim que funciona.”
RIDES 3: “Como problema também eu vejo a relação entre o consórcio e as prefeituras…
muitas das responsabilidades da prefeitura acaba caindo dentro do consórcio sem essa
necessidade e por ter uma política, um jogo de cintura em relação aos prefeitos, acaba
prejudicando o serviço do consórcio.”
SECRETÁRIO 1: “Eu acho que tem deixado a desejar de ambos, de nós para eles como de
eles para nós.”
SECRETÁRIO 2: “É o pagamento (...) É participação em assembleias,”
PREFEITO: “Participando das reuniões, tomando decisões… pagar regularmente para manter
ativo.”
COLABORADOR SECRETARIA 1: “a gente vai nos eventos que ele promovem…
treinamentos… nunca fomos para Monte Carmelo pra resolver um problema do Consórcio (...)
Eu sei que é pago mensalidades, agora eu não sei quanto que é, não sei em função de que eles
calcularam, mas cada Município contribui com um valor X”
SECRETÁRIO 4: “ Fizeram um Termo de Compromisso que lá indica, mas era mais em
pagamento (...) o consórcio tem por obrigação fazer um aterro sanitário em comum com os
outros município e até hoje a gente não viu nada a respeito disso, nada…”
SECRETÁRIO 7: “O nosso compromisso assim, no início a gente ia nas reuniões (...) a única
responsabilidade que eu tenho, infelizmente com o consórcio, é assinar o cheque para eles,
porque é a minha secretaria (Agricultura, Pecuária, Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável) que paga (...) tem várias conquistas, mas não tem nada a ver com o RIDES,
relacionado ao consórcio, para mim é nenhuma (...) Eu acredito que o Consórcio foi criado para
atender muito esse Plano (ambiental), aí como eles viram que não dava conta, que não
acontecia, eles partiram para outra coisa, então hoje eles atendem outras áreas que é a questão
social, que é os baile de idoso e tal, mas nesse ponto aqui!”
COLABORADOR SECRETARIA 3: “Não tem nenhuma, só paga todo mês o dinheiro deles
e pronto. (...) a única responsabilidade que eu sei que ele tem aqui é pagar em dia, mais nada. E
não tem exigência de nada, igual essa coleta seletiva, se eles exigissem ela mesmo… tinha que
estar funcionando… E não é só Iraí, os outros municípios ao redor também não estão
funcionando (... ) Uai sô, para mim igual a RIDES ali, eu não tenho nada a reclamar dela não…
eles sempre ajuda o nosso bastante aqui, tenta ajudar…Eles costumam cobrar bastante, mas na
mesma hora que eles cobram eles deixam de lado… “nós vamos começar a fazer as valas” aí
essas valas, que era para ter feito ali para os municípios todos levarem, já era para estar
pronta… mas nem começou a fazer, aí fala e apressa nós aqui e depois para… eu acho que eles
é bem devagar também” (...)”
86
Continuação do Quadro 9
Exemplo de verbalização
Inadimplência RIDES 2: “Estrela (Estrela do Sul) deve o ano todo, Grupiara deve o ano
todo, Douradoquara deve o ano todo… o [Prefeito de Grupiara]... ele queria
que assim, pra ele continuar no consórcio que esquecesse toda a dívida dele,
que é alta, além desse ano ele deve também uma quantia referente à anos
anteriores (...) Romaria a gente sabe que tem dinheiro. A Romaria ta devendo
sete meses, eles pagaram quatro meses só desse ano. Coromandel acho que ta
com uns três a quatro meses inadimplentes também... Abadia, por mais que
Abadia ta no débito automático, eu sei que antes de começar o débito
automático, Abadia tem...débitos desse ano. Então assim, é muito dinheiro
que os municípios tão devendo. (...)desde maio a “Ladir e Franco” (empresa
de advocacia do RIDES) ta aqui dentro do consórcio… e até hoje nenhuma
inadimplência foi resolvida, porque não sai da conversa, não sai do papel (...)
a dificuldade do consórcio hoje é inadimplência (...) mesmo estando
inadimplente, continua prestando serviço da mesma forma… E tem cidade
que o pagamento tá atualizado e você não vê falar que desenvolveu serviço”
RIDES 3: “Hoje eu posso te falar que eu só trabalhei para os municípios
inadimplentes. Os municípios que estão em dia eu até hoje não fiz nenhuma
ação pra eles dentro de quatro meses (data de admissão do engenheiro
ambiental entrevistado)… Nenhuma função do consórcio está condicionada a
pagamento.”
88
Continuação do Quadro 10
Categoria: Gestão Financeira
Débito RIDES 2: “E... depois que teve débito automático, tem as prefeitura que
Automático paga certinho… Indianópolis, Abadia, Iraí de Minas, Cascalho Rico e Monte
Carmelo. Essas são as cinco cidades que desde maio tá fazendo o pagamento
certinho no débito automático. Então são cinco, o consórcio é em dez, então
assim tem cinco cidades... A gente não pode contar com o dinheiro de cinco
cidades. (...) Pesquisadora: “E essas outras não são débito automático?”
RIDES2: “Não são porque eles não assinaram a autorização.”
Continuação do Quadro 10
Categoria: Gestão Financeira
O tema inadimplência agrupou as falas que informaram sobre a situação atual da gestão
financeira do consórcio. Durante as entrevistas foi possível observar que 50% dos municípios
consorciados encontravam-se em débito com o consórcio no exercício financeiro de 2018, além
de um dos municípios possuir débitos anteriores. Não obstante, existe ainda um Município
tentando condicionar sua permanência no consórcio a anistia de débitos pregressos, de outra
gestão municipal. Pelas falas dos participantes, notou-se que a prestação de serviço por parte do
RIDES aos municípios não está condicionada aos pagamentos, uma vez que mesmo
inadimplente, o atendimento segue normalmente. E para agravar a situação a assessoria jurídica
do RIDES parece não ser efetivo em apresentar soluções para receber os débitos em atraso dos
municípios consorciados.
Outro tema que apareceu nas falas dos participantes associadas à gestão financeira do
consórcio foi a adesão de alguns municípios ao débito automático. Houve falas que ilustraram
que o pagamento do consórcio por meio de débito automático tem sido um mecanismo efetivo
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para receber as mensalidades dos consorciados em dia, porém metade dos municípios não assinou
a autorização do débito.
Ainda na categoria gestão financeira foi possível agrupar falas que retrataram a
insatisfação dos consorciados quanto aos valores das mensalidades e os critérios de rateio. Parte
dos entrevistados relatou que, a maior dificuldade em permanecer no RIDES é a questão
financeira. Os relatos apontaram que os municípios estão com problemas de arrecadação devido
ao atraso dos repasses do Estado, as altas despesas municipais com folha de pagamento. Além
disso, alguns entrevistados relataram que os municípios possuem outras prioridades de
investimento e que seria importante avaliar o custo de participação dos municípios para melhor
calcular o valor das mensalidades.
Por fim, no que diz respeito aos desafios para a gestão financeira do RIDES, os
entrevistados relataram a falta de prestação de contas, de forma clara e periódica, para saberem
como o recurso está sendo aplicado.
Esta categoria agrupou as falas dos entrevistados que informaram sobre a influência
político partidária nas ações do RIDES e como a troca de prefeitos nas últimas eleições
impactaram o funcionamento do consórcio, já que apenas um Município reelegeu seu prefeito,
dos sete que tinham possibilidades de reeleição na ocasião.
O Quadro 11 apresenta uma síntese dos temas que compõe esta categoria.
Continuação do Quadro 11
Continuação do Quadro 11
Apontaram que houve continuidade das atividades do RIDES, mesmo com uma troca de 90% de
seus prefeitos, inclusive afirmaram de que a troca de prefeitos não impactou no funcionamento do
RIDES e, sim a ausência de reuniões periódicas, que foi interrompida.
Definição: Indica a centralização das tomadas de decisões, bem como a centralização das
informações, por parte da gestão.
Centralização RIDES 2: “Isso aí depende muito viu. Porque tem umas decisão que o
das Tomadas de [Secretário-Executivo do RIDES] mesmo toma, tem umas que tem que ser
Decisões levada pra diretoria.”
RIDES 3: “As decisões são tomadas pelo [Secretário-Executivo do RIDES] e
repassadas para a equipe.”
SECRETÁRIO 3: “As tomadas de decisões são feitas em reuniões de
prefeitos.”
SECRETÁRIO 7: “De forma nenhuma, não participa, é a revelia sempre (...)
quem estava lá para fazer um programa de educação ambiental é um
professor de educação física aposentado… falta de diálogo, é muita
vaidade… muita imposição (...) Apenas em reunião de prefeitos (as decisões
são tomadas).
Continuação do Quadro 12
Definição: Indica a centralização das tomadas de decisões, bem como a centralização das
informações, por parte da gestão.
Centralização RIDES 3: “(...) Muitas das ações estão concentradas na mão de uma pessoa,
das Informações então o consórcio existe pra uma pessoa, a partir dessa pessoa são distribuídas
as demandas dentro do consórcio, eu vejo isso como um dos maiores
problemas hoje.”
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019
Para uma parte dos entrevistados existe a crença que o consórcio é composto por
municípios diferentes entre si e possuem demandas de gestão distintas e isso acaba dificultando
construir projetos comuns que possam ser gerenciados de forma consorciada. Esse fato
inviabilizaria a gestão do RIDES em atender as especificidades dos consorciados, o que fez com
que alguns dos entrevistados manifestassem críticas aos consórcios de maneira geral e, também
ao RIDES.
Rotatividade RIDES 2: “Desde que eu entrei aqui, já é o terceiro contador que passa… a
advogada, nunca vi ela, ela nunca vinha aqui no consórcio.”
Condições de RIDES 3: “Falta de suporte pra trabalho. Igual, eu trabalho com o meu
Trabalho notebook. Eu não tenho autonomia aqui dentro pra absolutamente nada”
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019
na equipe terceirizada, que é o caso dos assessores jurídicos, e predispõe a equipe ao desvio de
função, o que na visão dos entrevistados toma o tempo dos trabalhadores da área técnica para a
realização de funções administrativas.
Por outro lado, os entrevistados mencionaram que a seleção desta equipe é feita por meio
da influência política comprometendo os fatores técnicos na execução das atividades. De modo
geral, estes problemas traduzem-se em falta clareza do organograma institucional.
Outro tema agrupado nesta categoria relacionou-se a rotatividade. Os entrevistados
mencionaram a grande rotatividade da equipe terceirizada, como contador e assessor jurídico, o
que por sua vez afeta o funcionamento do consórcio e o atingimento de seus objetivos. Por fim,
os entrevistados mencionaram a falta de condições de trabalho, tais como equipamentos básicos
de trabalho e falta de autonomia em especial a área técnica do consórcio o que acaba
comprometendo o desempenho das tarefas.
98
6 DISCUSSÃO
chegar a 23% do PIB municipal. Pelos critérios de análise constatou-se que para os municípios
que utilizam até 6% do seu PIB com aterro sanitário é viável economicamente de forma
individual, de 6 a 12% são parcialmente viáveis e que acima de 12% são poucos viáveis
necessitando de solução consorciada. Por fim, os autores concluem que, apenas 14% dos
municípios brasileiros teriam condições de manter aterro sanitário de forma individualizada e que
esses municípios são na maior parte dos casos as capitais dos estados brasileiros, outros
pertencem a suas regiões metropolitanas ou são sedes de pólos regionais com mais de 40 mil
habitantes. Assim, a adoção de aterros sanitários individualizados torna-se uma solução
inadequada para a maior parte dos municípios brasileiros, pois consome parte relevante de seus
orçamentos (BRANDÃO; SILVA, 2011).
Além disso, foi apontado pelos entrevistados que a transformação da Região Integrada em
Consórcio multifinalitário e a formalização como autarquia foi uma alternativa para esses
gestores municipais resolverem seus problemas de forma conjunta e reduzirem custos. Nesta
direção, a literatura sobre a constituição dos consórcios informa que estes arranjos podem ser
formados de maneira horizontal, ou seja, na mesma esfera de governo, ou vertical, quando
formado por entes federativos diferentes, sendo o seu território de abrangência restrito a soma dos
territórios dos entes consorciados. Seus objetivos são determinados no Protocolo de Intenções e
podem ser multifinalitários, ou seja, abranger mais de uma área da Administração Pública
(SILVA, 2015) Ainda sobre os tipos de consórcio, Rikils (2015) esclarece que eles podem ser de
natureza jurídica de Direito Público, isto é, associações públicas de natureza autárquica,
integrantes da Administração Indireta; ou de Direito Privado, onde pessoas jurídicas são
instituídas para a realização de objetivos de interesses comuns. Ambos assumem direitos e
obrigações regidos pelos preceitos da Administração Pública e da gestão fiscal pública.
Pelos relatos ficou evidente que o RIDES foi criado para apoiar os gestores municipais,
tecnicamente em todas as áreas da Administração Pública, mas após sua criação foi priorizado
inicialmente atender às legislações ambientais, em virtude da Lei 12.305, publicada em 2010, que
deu quatro anos para a adequação dos municípios. Como já mencionado anteriormente, o RIDES
foi fundado em 2013 e uma das demandas emergentes dos municípios consorciados foi atender as
determinações da Política Nacional de Gestão de Resíduos Sólidos. Para isso eles contaram com
importantes parcerias de universidades e institutos federais da região, todavia tiveram dificuldade
técnica na operacionalização do contrato de rateio. Estes achados corroboram com as conclusões
100
maior conhecimento sobre a Região e ampliação da visão sobre o trabalho em equipe. Rios
(2015) dedicou sua tese de dourado ao estudo dos consorciamentos intermunicipais no Brasil e
em suas considerações finais explica que entender os consórcios públicos intermunicipais
representa compreender a importância das articulações horizontais para a superação equânime
das fragilidades dos municípios envolvidos, em diversas áreas, visando a formação de uma rede
de governança para o desenvolvimento territorial com forte conteúdo de cooperação,
solidariedade e reciprocidade entre os consorciados. E que a crescente adoção e formalização de
consórcios públicos no Brasil mostram que a articulação e cooperação têm se mostrado efetivos
para os governos locais. Ademais, o consórcio público pode ser ferramenta de persuasão, poder,
diálogo e negociação entre os entes federados (KUMEGAWA, 2018).
Em relação às dificuldades e aos desafios de funcionamento do RIDES constatou-se que
eles circunscrevem-se, primordialmente, ao funcionamento interno, que acaba refletindo direta ou
indiretamente nos municípios consorciados. Também foi possível notar que eles convergem para
desafios de gestão. Estes resultados acrescentam novos conhecimentos à literatura sobre os
consórcios municipais, uma vez que as referências encontradas sobre o tema não abordam o viés
gerencial dessas entidades estando muito mais relacionadas às questões de viabilidade econômica
e política. De modo geral, os estudos encontrados reforçam os objetivos dos consórcios públicos
como instrumentos administrativos inter e intragovernamental de políticas públicas, como
estratégia de enfrentamento da insuficiência de recursos, mediante a desigualdade entre os
municípios, contudo não mencionam os desafios e dificuldades gerenciais (RAVANELLI, 2010).
Entre as maiores dificuldades gerenciais enfrentadas pelo RIDES, a falta de Organização
Sistemas e Métodos parece dificultar o funcionamento do consórcio. A literatura gerencial de
esclarece que a OSM fundamenta-se na premissa de se utilizar os melhores métodos para
alcançar os objetivos da organização, tendo como finalidade melhorar seus procedimentos e, para
tanto serve-se das ferramentas organogramas, formulários e fluxogramas (PRÉVE, 2011). Os
entrevistados, em suas falas, relataram a inexistência de práticas gerenciais que estruturam e
mantém o funcionamento de qualquer organização No âmbito do RIDES existe a necessidade de
mapear os processos, desenhar os cargos, organizar o arquivo, criar ferramentas de avaliação de
desempenho, como uma forma de receber um retorno dos consorciados sobre sua gestão e, assim
desenhar planos de ação que harmonizem suas ações. Também ficou evidente a insatisfação de
102
todos os envolvidos sobre comunicação, tanto dos consorciados em relação ao RIDES quanto da
equipe técnica, internamente.
São instrumentos de OSM o quadro de distribuição do trabalho, fluxograma, layout,
formulários, manuais de organização, diagnóstico organizacional, análise organizacional e
(re)desenho de processos. Dentro do quadro de distribuição de trabalho se encontra a descrição de
cargos, as atividades executadas, o tempo para realização de cada atividade, as que são repetitivas
e poderiam ser suprimidas dentre outras. Também está amparado em OSM, a comunicação, como
sendo a troca de informação em todos os níveis estando alicerçada nos seguintes componentes:
fonte (origem da comunicação), mensagem (conteúdo a ser comunicado), canal (meio de
transmissão) e o receptor (quem recebe a mensagem). Para a OSM existem barreiras que, em
parte, dificultam a comunicação verbal e também escrita, mas esta deve ser usada como
ferramenta de viabilizar a tradução de todo o esforço para o alcance dos objetivos da instituição
(PRÉVE, 2001). Isso demonstra que a aplicação das ferramentas de OSM no RIDES tem muito a
contribuir, pois desenharia os cargos, mapearia os processos, criaria formulários de avaliação de
desempenho e proporcionaria uma sistematização da comunicação, como ferramenta de atingir
aos objetivos do consórcio.
Foram mencionados também problemas na área de gestão de pessoas. Neste aspecto,
identificou-se alta rotatividade da equipe, falta de condições de trabalho adequadas e, que em
alguns casos, o critério de seleção de pessoal é por indicação política. A literatura de gestão de
pessoas é inequívoca ao afirmar que as pessoas são os ativos mais importantes das organizações,
sendo uma área de grande relevância para o sucesso das organizações. Os processos para
selecionar pessoas deve pautar-se nas atribuições do cargo e no perfil técnico e comportamental
dos seus ocupantes. Gaspar (2016) explica que recrutamento e seleção de pessoas é um dos mais
antigos subsistemas de Recursos Humanos ainda mais que os mercados de trabalho passaram a
ser mais exigentes quanto a contração de seus profissionais, particularmente em relação à
formação e experiências, não excluindo as competências comportamentais, cada vez mais
reconhecidas. O autor salienta que as decisões em recrutamento e seleção devem ser estratégicas,
pois refletem no alcance dos objetivos das organizações e devem ser capazes de selecionar
profissionais com perfil profissional e comportamental para entregar os trabalhos esperados pela
organização.
103
Assim, para melhorar a gestão do RIDES existe a necessidade de fazer cumprir o que já
está determinado para a Coordenadoria de Gestão e Desenvolvimento Institucional, que é órgão
executivo do RIDES. Importante mencionar que na ocasião da coleta de dados, esta
coordenadoria estava operando com apenas três funcionários sendo eles: auxiliar administrativo,
engenheiro ambiental e secretário executivo, deixando-os sobrecarregados e confusos quanto as
suas atribuições. Outrossim, no tocante a gestão centralizadora, que demonstrou centralização das
informações e das tomadas de decisões, reforça a necessidade de pessoas com formação na área
de gestão, sobretudo no cargo de gestor administrativo e a necessidade de fazer valer as
determinações do estatuto e a utilização de critérios técnicos para a seleção e contratação destes
profissionais.
104
infraestrutura, fiscalização de contratos feitos pelo RIDES para atender aos municípios
consorciados, no parágrafo primeiro reitera que “a gestão associada autorizada no caput refere-se
ao planejamento, à regulação e à fiscalização e, nos termos de contrato de programa, à própria
prestação do serviço.” E no parágrafo segundo que “fica facultado aos municípios consorciados
autorizarem, mediante lei, que o Consórcio exerça a gestão associada de outros serviços públicos
não expressamente previstos neste Estatuto” (RIDES, 2014 p. 10). No seu artigo nono, reitera
que:
E para não deixar irresolução os artigos 71 e 72 do estatuto expõe quais são os direitos e
deveres dos consorciados:
7 PLANO DE AÇÃO
Treinamento e capacitação
109
Continuação do Quadro 15
Foco Objetivo Metodologia Órgão / Setor
Mapear os processos;
Desenhar os cargos;
Continuação do Quadro 15
Foco Objetivo Metodologia Órgão / Setor
Contratar, via processos
seletivos, profissionais com
formação e experiência nas
áreas de atuação.
Aprimorar os processos de
recrutamento e seleção e Completar o quadro da
reduzir a rotatividade. Coordenadoria de Gestão e
Desenvolvimento Institucional,
Gestão de Pessoas. conforme Estatuto. Gestores políticos e Gestor
Administrativo do RIDES.
Oferecer aos profissionais os
equipamentos e condições
Melhorar as condições de necessárias para realização de
trabalho. suas atribuições, sobretudo a
área técnica.
111
Continuação do Quadro 15
Foco Objetivo Metodologia Órgão / Setor
Criar mecanismos para todos os
municípios aderirem ao débito
automático.
Reduzir a inadimplência.
Realizar a prestação de contas
do recurso aplicado, de acordo
com o estabelecido no Estatuto.
Gestão Financeira. Sensibilizar os consorciados Equipe técnica do RIDES.
para o pagamento em dia das Apresentar os critérios
mensalidades. utilizados para definir o valor
das mensalidades.
Criar procedimentos
específicos para limitar o
atendimento aos municípios
que estão inadimplentes.
112
Continuação do Quadro 15
Foco Objetivo Metodologia Órgão / Setor
Criar um cronograma anual
para as ações do RIDES e
Esclarecer a equipe do RIDES definir as atribuições de cada Gestor Administrativo do
Falta de clareza das atribuições e aos consorciados suas uma das partes. RIDES e Prefeituras.
atribuições. Realizar a apresentação do
Estatuto, sobretudo dos artigos
que disciplinam os direitos e
deveres de cada ator.
Equipe técnica, Gestor
Alavancar o desenvolvimento Desenhar um circuito turístico
Conquistas e Possibilidades. Administrativo do RIDES e
regional. para a Região do RIDES.
Prefeituras.
Mediar fóruns de discussão e
audiências públicas com as
prefeituras, universidades e Equipe técnica, Gestor
Mudança Cultural Institucionalizar o RIDES MPMG. Administrativo do RIDES
Aprimorar a acessibilidade do
sítio eletrônico do RIDES.
113
Continuação do Quadro 15
Foco Objetivo Metodologia Órgão / Setor
Criar um software de gestão de
consórcios que contemple todas
as necessidades de
gerenciamento de um
Desenvolver uma Ferramenta Construir um procedimento e consórcio, como criação de Contratação de empresa de
de Gestão trabalho organogramas, fluxogramas, desenvolvimento de software.
com métodos eficientes de
comunicação, gerenciamento
financeiro, criação de relatórios
e informações básicas de
pessoal.
Fonte: Elaborado pela Autora, 2019
114
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo tem como objetivo refletir as contribuições teóricas e práticas desta pesquisa
para a Administração Pública, além de apresentar as limitações e as recomendações para futuras
investigações sobre o tema.
Do ponto de vista teórico, esta pesquisa abordou um tema inovador na Administração
Pública e acrescenta a literatura conhecimentos sobre gerenciamento e organização de consórcios
públicos intermunicipais. Mais especificamente, o trabalho descreveu as conquistas e os desafios
para a gestão dos consórcios intermunicipais. Em termos de conquistas, os resultados desta
investigação informaram que, em apenas cinco anos de funcionamento do RIDES, foram
alcançadas muitas conquistas, como por exemplo, ter sede própria, progresso dos municípios em
relação ao cumprimento das legislações ambientais, trouxe a gestão consorciada aos líderes
municipais além de sólidas parcerias. Ainda tem-se a perspectiva de estimular o desenvolvimento
territorial, por meio de ações direcionadas ao fortalecimento turístico da região.
Em relação ás dificuldades associadas á gestão do consórcio, observou-se que a maioria
dos problemas vivenciados pelo RIDES convergem na falta de estruturação gerencial, que
poderia ser amenizada com a contratação de um Administrador para compor a equipe técnica da
Gestão Administrativa do consórcio. Acredita-se que a utilização de práticas tradicionais da
Administração resolveria a falta de organização, sistemas e métodos, aperfeiçoaria os
procedimentos de gestão de pessoas, amenizaria os problemas de comunicação, aperfeiçoaria a
gestão financeira, e amenizaria as interferências político-partidárias que tanto interferem na
efetividade da gestão do consórcio. Em conjunto, as conclusões desta pesquisa ampliaram os
conhecimentos sobre o funcionamento dos consórcios intermunicipais do ponto de vista
gerencial. .
Além das contribuições teóricas, esta pesquisa propôs, a partir do diagnóstico do
funcionamento do consórcio, um Plano de Ação que poderá servir de guia para o aprimoramento
da gestão do RIDES, bem como de outros consórcios intermunicipais que apresentam as mesmas
demandas diagnosticadas neste estudo. O Plano proposto sugere ações com diferentes focos e
elenca várias atividades com possibilidade de serem desenvolvidas pela equipe técnica do
RIDES, pelo gestor Administrativo e pelas equipes das Prefeituras. Em continuidade também foi
proposto um Produto Técnico que visa orientar de forma prática os consórcios intermunicipais, já
que se trata de um mestrado profissional.
115
REFERÊNCIAS
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OSHO (2004), Meditation: the first and last freedom, ISBN 978-0-312-33663-9, St. Martin's
Griffin.
APÊNDICES
122
APÊNDICE 1:
APÊNDICE 2:
APÊNDICE 3: