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MACAU, RN
2017
Clepson de Oliveira Brito
MACAU, RN
2017
Catalogação da Publicação na Fonte.
UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
_____________________________________________________________
M. Sc. Sheila de Lima Cunha Dantas
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Orientadora
_____________________________________________________________
Profª. M. Sc. Matilde Medeiros de Araujo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Membro
Dedico este trabalho ao meu filho recém-nascido Théo, razão de
manter-me firme.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, sem o qual eu seria como folha seca jogada ao
vento ou como o pó que é pisado pelos animais do deserto. Foi Ele quem me deu a vida e me
capacitou, esteve comigo nesta caminhada e estará sempre ao meu lado me orientando. Foi
graças a Ele que consegui esta vitória.
Agradeço aos meus pais pela maneira como eles me criaram e me orientaram.
Foram eles os responsáveis diretos pela pessoa que sou hoje, por isso sou eternamente grato
pelo esforço e constante zelo com o qual cuidaram da minha educação a despeito do baixo grau
de escolaridade que ambos têm e das condições financeiras precárias em que viviam. São meu
orgulho!
Agradeço também à minha esposa Edjania Morais da Silva Brito, pela paciência e
tolerância demostrada diante do tempo que deixei de dedicar a ela para me dedicar esta etapa
da minha vida, pelo incentivo me deu em cada momento de desânimo, angústia e tristeza ao
logo dessa jornada. O seu amor por mim foi demostrado a cada noite que ela dormiu sozinha
enquanto eu me dedicava aos estudos. Te amo minha morena linda!
Agradeço aos mestres que, com seus esforços, contribuíram com a minha formação
intelectual e humana. Em especial, sou grato a professora Sheila de Lima Cunha Dantas, Ma.,
que se prestou a orientar-me neste trabalho.
Agradeço ao ex-prefeito Ivan de Souza Padilha que tão diligentemente se dispôs a
contribuir com aminha formação, tendo prontamente aceitado meu pedido de realizar três
estágios supervisionados durante a sua gestão como prefeito de Pendencias-RN, abrindo todas
as portas que eu tivesse acesso aos dados necessários à minha pesquisa.
Agradeço também, aos colegas e amigos que passaram por mim durantes estes
anos. Sem dúvidas recebi, de todos, contribuições indispensáveis à minha formação acadêmica
e como ser humano.
"Nossos valores humanos devem falar mais alto que nossos valores
legais. Não devo aceitar pelanca de contrapeso ao comprar filé-
mignon. Mas nem por isso devo tratar mal ao açougueiro".
Antonio Francisco
RESUMO
1 PARTE INTRODUTÓRIA 13
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA 13
1.2 OBJETIVOS 14
1.2.1 Objetivo Geral 14
1.2.2 Objetivos Específicos 14
1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO 15
1.4 APRESENTAÇÃO 16
2 REVISÃO DA LITERATURA 18
2.1 O NOVO PAPEL DO MUNICÍPIO 18
2.1.1 O Pacto Federativo e a Autonomia Municipal 18
2.1.2 O Pacto Federativo e o Federalismo Fiscal 21
2.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 23
2.2.1 Governança na Administração Pública 23
2.2.2 Autonomia Financeira Municipal 26
2.3 A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL 29
2.3.1 Reforma Administrativa do Estado 29
2.3.2 A LRF e a Gestão Fiscal 31
2.3.3 Despesa Pública e Accountability 35
2.4 GASTOS PÚBLICOS E O CONTROLE DE DESPESAS COM PESSOAL 36
2.4.1 Controle de despesa com pessoal 36
2.5 IMPACTOS DA LRF SOBRE A GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL 40
2.4.1 Disciplinamento da Gestão Pública e o fortalecimento da governança 40
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 44
3.1 TIPO DE PESQUISA 44
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA 45
3.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA 45
3.4 COLETA E TRATAMENTO DOS DADOS 47
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 51
4.1 PERFIL DA ORGANIZAÇÃO 51
4.1.1 Aspectos da natureza jurídica e histórico 51
4.1.2 Descrição das atividades da organização 52
4.1.1 Estrutura Organizacional 54
4.2 CARACTERIZAÇÃO DAS RECEITAS E DEPESAS DO MUNÍCIPIO 57
4.2.1 Situação das receitas municipais 57
4.2.2 Situação das despesas municipais 63
4.2.3 Relação dos gastos com pessoal e a RCL 74
4.3 CARACTERÍSTICAS FORÇA DE TRABALHO 76
4.3.1 Aspectos da composição interna da força de trabalho 76
4.3.2 Aspectos da distribuição da força de trabalho 79
4.4 OBSERVAÇÕES SOBRE A GESTÃO E GOVERNANÇA 84
4.4.1 Aspectos sobre Liderança, Estratégias e Planos 80
4.4.2 Aspectos sobre a Sociedade e participação social 88
4.4.3 Aspectos sobre gestão de pessoal 89
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 92
REFERÊNCIAS 96
APÊNDICE 106
ANEXOS 135
1 PARTE INTRODUTÓRIA
1.2 OBJETIVOS
1.4 APRESENTAÇÃO
(...) é visível e consensual o aumento das atribuições municipais, não pela ampliação
de sua autonomia, mas pelo incontestável crescimento de suas tarefas e obrigações na
sociedade brasileira. Tais atividades são decorrentes do pleno exercício de suas
competências, da incapacidade de ação dos Estados e da União em diversos setores e
do enorme número de políticas públicas e programas governamentais que incutem nos
Municípios responsabilidades hercúleas, como ente colaborador e solidário na
estrutura político-administrativa da Federação brasileira (ANDRADA, 2004
[documento não paginado]).
(...) impostos pela incapacidade dos Estados e da União de cumprirem suas próprias
responsabilidades, seja por desarranjo financeiro, seja por má gestão, seja por
ilegalidades, seja por simples impossibilidade de cumprimento das normas que fogem
da realidade. Quando os serviços e os programas federais ou estaduais não funcionam
adequadamente ou são interrompidos, quase sempre, no extremo do processo – diante
do cidadão e das premências locais – está o Município, realizando ou assumindo
tarefas que não as suas, mas, naquele momento e dada sua importância, acabam por
transformar-se em prioridade municipal da coletividade local (ANDRADA, 2004,
[documento não paginado]).
Logo, dentro do pacto federativo, para que o município oferte bens e serviços à
sociedade, de modo a cumprir com suas obrigações e responsabilidades, angariam recursos por
diversas fontes: pela exploração de seu patrimônio, pelas contribuições representadas pelos
tributos municipais e pela participação nas receitas do governo estadual e da União, estas
recebidas por meio das transferências governamentais.
Já Santos (2012) lembra que em geral que o ente tem à disposição vem de cinco
origens principais as quais são a arrecadação própria de receitas tributárias, as receitas oriundas
de operações de crédito, as receitas de transferências constitucionais, as receitas de
transferências legais e as receitas de transferências voluntárias, essas três últimas estabelecidas
na Constituição Federal de 1988.
Em levantamentos realizados por Gomes e Mac Dowell (2000) três consequências
foram evidenciadas no que tange a redefinição da política fiscal e tributária no Brasil pós
Constituição de 1988. A primeira delas é o crescimento dos recursos fiscais tornados
disponíveis para os municípios, especialmente em relação aos recursos dos estados e da União.
Outra consequência importante é que, dentro de suas respectivas regiões os municípios muito
pequenos, dispõem de mais recursos financeiros per capita do que quaisquer outros. E a terceira
consequência para custear suas despesas os pequenos municípios dependem fortemente das
transferências de impostos, especialmente dos impostos federais, via o Fundo de Participação
dos Municípios.
Como visto, a Constituição Federal 1988 estabeleceu o pacto federativo vigente,
que redefiniu a distribuição de recursos tributários e instituiu a repartição de competências entre
os entes federados, mas destaca-se a prática do governo central de substituir os impostos por
contribuições econômicas e de intervenções. Essa prática tem causado desequilíbrios que
impactam as finanças dos pequenos municípios que são fortemente dependentes das
transferências dos impostos (GERIGK E CLEMENTE, 2011, 515).
Esse mesmo posicionamento é apresentado em Araujo, Santos Filho e Gomes
(2015), que alertam para o fato de que,
(...) a primeira diz respeito a seu caráter de instrumento, ou seja, de meio e processo
capaz de produzir resultados eficazes; a segunda envolve os atores envolvidos no seu
exercício, salientando a questão da participação ampliada nos processos de decisão;
e a terceira enfatiza o caráter do consenso e persuasão nas relações e ações, muito
mais do que a coerção. Assim, a governança existe quando ela é capaz de articular os
diferentes atores – estatais e não-estatais – para enfrentar dificuldades. Sua forma de
agir é, portanto, a articulação, construindo consensos para resolver problemas
(GONÇALVES, 2006, p. 4).
Com relação à capacidade financeira dos municípios, nesse novo modelo político-
administrativo brasileiro, cumpre lembrar a grande dependência dos municípios brasileiros em
relação às transferências constitucionais, em especial a principal transferência que é o Fundo
de Participação que, no caso dos municípios, equivale a 23,5% da arrecadação da União
Diversos estudos apontam para esta dependência, especialmente nos municípios
pequenos. Gomes e Mac Dowell (2000) demostram que os municípios com populações entre
10 e 20 mil habitantes tinha uma proporção de receitas próprias em 1996 de apenas 12,3%. Com
dados de 2007 sobre os municípios Paranaenses na mesma faixa populacional, Gerigk,
Clemente e Taffarel (2010) chegaram à conclusão de que 57% das receitas desses municípios
eram de transferências da união.
Analisando os municípios mineiros, Massardi e Abrantes (2016) constatam que os
municípios com populações até 20 mil habitantes têm nível de dependência do Fundo de
Participação dos Municípios (FPM) acima de 50% e concluem que a dependência do FPM está
diretamente relacionada ao tamanho do município uma vez que o critério de repasse desses
recursos é justamente o número de habitantes e no caso de capitais leva-se em consideração
ainda o inverso da renda per capita (MASSARDI E ABRANTES, 2016, p.184).
Já Ortiz, Assunção e Nunes Pereira (2014) informam que o nível de dependência
dos municípios mostra-se correlacionado à população, embora seja quase sempre elevado: em
2006, variou de médias de 51% para os Municípios de mais de 300 mil habitantes até 92% para
os Municípios de até 3 mil habitantes.
Santos (2012) aponta que essa forte dependência das receitas de transferência
decorre da limitada capacidade contributiva da população dos municípios de pequeno porte
aliada ao fato de que a grande maioria dos municípios não conta com dinamismo econômico
que lhes permita arrecadar tributos com peso nas receitas municipais.
Sobre essa dependência Costa (2013) informa:
Ante o exposto, evidencia-se o risco do descontrole despesas públicas por parte dos
municípios, havendo maior preocupação em relação aos pequenos. As despesas públicas –
entendidas aqui como todos os gastos monetários efetuados pelos entes públicos a qualquer
título, sendo estas classificadas em despesas públicas despesas orçamentárias e extra
orçamentárias (SLOMSKI, 2006) – quando fora de controle oferecem grande risco à capacidade
administrativa, minando a governança municipal, impedindo que as obrigações municipais
possam ser prestadas de acordo com o demandado pela sociedade e legislação e levando ao
endividamento público.
Cabe salientar que o aumento da arrecadação própria é a fonte mais segura para
sustentar o gasto público, especialmente aqueles relativos a projetos de interesse apenas local.
Mas ao que se percebe a maioria dos municípios, com destaque para os de pequeno porte, têm
negligenciado a ampliação da sua base fiscal e troca de manter as suas despesas a partir das
transferências constitucionais e com isso limitando a sua capacidade de investimento. Além
disso vale lembrar que as despesas correntes municipais, por serem gastos regulares ao longo
do tempo, não devem ter seu financiamento dependente de receitas incertas (SANTOS, 2009).
Quando essa realidade dos municípios de pequeno porte é associada às crises
econômicas e fiscais, a situação se tornam insustentáveis. Segundo Assunção (2011),
Para este autor, tais reflexos financeiros são resultados de dois fatores associados,
quais sejam, o próprio desaquecimento da economia reduzindo a produção e o consumo e a
política anticíclica como a desoneração fiscal e as subvenções o que, consequentemente, reduz
o volume de arrecadações, afetando gravemente o equilíbrio das finanças dos pequenos
municípios, que dependem substancialmente das transferências constitucionais do FPM e
comprometendo a execução dos programas sociais, diante da inviabilidade financeira dos
municípios de arcar-se de forma autônoma com tais custos (ASSUNÇÃO, 2011, p. 117).
Souza e Arantes (2012), analisando os efeitos da crise internacional de 2008 e como
esta afetou diretamente as receitas municipais, destaca que, sendo o FPM a principal fonte de
receita para a grande maioria dos municípios brasileiros, as reduções nesse repasse prejudicam
a viabilidade econômica dos municípios.
Ao analisar a mais recente crise sob a óptica da LRF, Pinton (2016) alerta que
tempos de recessão econômica se apresentam como um grande desafio para a gestão pública,
pois ao diminuiu a arrecadação, a crise provoca nos entes federados dificuldades de manter o
básico de suas obrigações com, por exemplo, o pagamento dos servidores públicos. A situação
se tona mais crítica à medida que nos tempos de crise aumentam as demandas da por serviços
e bens públicos.
Autores como Andrade et all (2011), Costa (2008), Fioravante, Pinheiro e Vieira
(2006) e Gilberti (2005) entendem que esses objetivos da LRF acarretam um maior
disciplinamento da gestão das finanças públicas dos entes federado, já que a LRF surgiu em um
contexto em que se fazia urgente impor limites e metas aos gestores da política fiscal.
Para Gilberti (2005), ao analisar a situação fiscal dos municípios brasileiros e o
impacto da LRF sobre as despesas municipais, buscando evidencias se o limite imposto para a
despesa com pessoal afeta de alguma forma o comportamento dos administrares públicos,
aponta outros fatores que influenciam o surgimento dos déficits públicos e, consequentemente,
o endividamento, fundamentando-se nos pressupostos da Economia Política Positiva para a
suas conclusões.
Para esta autora as razões pelas quais os governos incorrem em déficits
orçamentários podem ser explicados por meio de arranjos ou aspectos político-institucionais,
os quais sejam: a) as instituições orçamentárias, ou seja, as normas formais de elaboração dos
orçamentos e as regras de procedimentos em relação a estes na forma como são adotados no
Brasil que permitem, entre outros elementos, a introdução de interesses eleitoreiros como, por
exemplo, emendas parlamentares que favorecem possíveis apoiadores; b) a organização do
Estado brasileiro, ou seja, a forma federativa de governo, associada a ao federalismo fiscal com
sua descentralização da prestação de serviços, que resulta em setores públicos locais maiores e,
consequentemente, mais dispendiosos ao mesmo tempo em que o sistema baseado na
arrecadação centralizada com posterior transferência para os governos locais, levaria estes
governos criarem o efeito conhecido na literatura como “flypaper effect”, que diz respeito ao
efeito causado pelas transferências intragovernamentais de estimular mais das despesas locais
do que as variações de renda; e, c) o sistema eleitoral baseado na fragmentação partidária com
partidos com interesses diversos e distintos, no sistema majoritário de um ou dois turnos,
dependendo da densidade populacional, e na necessidade de formar de governos de coalisão,
que envolve concessões e benefícios de características clientelista, o que leva a maiores gastos
governamentais. Para a autora, todos estes fatores estão vigentes no Brasil e explicariam o
montante da dívida pública, tanto a nível federal, como nos níveis estadual e municipal.
Daí, segundo a autora, a importância da LRF, pois não apenas estabelece os limites, como
também prevê sanções.
Caso alguma norma estabelecida pela LRF não seja cumprida por um ente da
Federação, este sofrerá sanções institucionais que vão desde a suspensão das
transferências voluntárias até a suspensão de obtenção de crédito e contratação de
operações de crédito a depender da norma infringida. Do mesmo modo, o governante
deste ente poderá ser responsabilizado e sofrer sanções pessoais que vão desde multas
e perda do cargo podendo chegar à prisão (GILBERTI, 2005, p. 7).
Sobre esse aspecto Araujo, Santos Filho e Gomes (2015) apontam a necessidade de
manter a estabilização econômica alcançada com estratégias fiscais do Plano Real, assim como
recompor as finanças a nível federal, as razões para o surgimento das leis regulatórias das
finanças públicas, com destaque para a LRF, segundo a qual os municípios tiveram “de se
adequarem à limitações regulatórias impostas pela mesma e justarem a gestão fiscal financeira
às novas condicionalidades” (ARAUJO, SANTOS FILHO e GOMES, 2015, p. 741).
Para Gerigk e Clemente (2011)
A responsabilidade na gestão fiscal induz a correta aplicação dos recursos disponíveis por parte
das entidades públicas nos três níveis de governo, nos Três Poderes e no Ministério Público,
com senso de responsabilidade e fiel observância dos preceitos constitucionais e legais. O
objetivo é prevenir os déficits nas contas públicas, manter sob controle o nível de
endividamento público, impedindo que os gestores assumam obrigações e encargos sem a
correspondente fonte de receita ou redução da despesa, e impõe a imediata correção dos desvios
na conduta fiscal, com a finalidade de assegurar o equilíbrio das finanças públicas (GERIGK e
CLEMENTE, 2011, p. 521).
Citando Costa (2007), Mello e Dalchiavon (2012) apresenta que a LRF trouxe algo
que as leis anteriores que tentaram limitar os gastos públicos não trouxeram, isto é, a LRF
implementou o planejamento governamental e a punição para quem não se enquadra no que foi
estabelecido (COSTA, 2007 apud MELLO, 2012, p. 49). Ou seja, a LRF não se restringe apenas
a impor limites ao gasto e ao endividamento, mas contempla o planejamento orçamentário,
estabelecendo diretrizes para sua elaboração, execução e avaliação, tornando obrigatório na Lei
de Diretrizes Orçamentárias (LDO) os anexos de metas e riscos fiscais e, na Lei Orçamentária
Anual (LOA), a apresentação dos demonstrativos de compatibilidade com essas metas. Isso
torna a LRF um abrangente instrumento de controle fiscal (GILBERTI, 2005). E ainda, caso
haja o descumprimento da norma estabelecida, tanto o ente como o governante sofrerão
sanções. Entre as sanções se prevê, no caso do ente, a suspensão de transferências entre outras,
e, no caso do governante, a perda do mandato ou até prisão (GILBERTI, 2005;
SACRAMENTO, 2005).
Andrade et al (2011) ainda argumentam que, nesse aspecto do controle das contas
públicas, a LRF trouxe avanços, embora não se livrasse de críticas, tais como a de não respeitar
as especificidades de cada município com diferentes portes e demandas e a de limitar a
capacidade de atuação municipal nas áreas sociais, responsabilidade esta transferida aos
municípios por meio da Carta Magna de 1988.
Como a LRF prevê no seu primeiro parágrafo o cumprimento de metas e
obediências a limites rígidos, os entes da federação precisaram adaptar-se ao cumprimento de
tais indicadores especialmente no diz respeito às despesas com pessoal e dívida consolidada
líquida, veio à tona o debate se essas exigências legais trariam prejuízos aos investimentos
sociais, já que a LRF nasceu em um período marcado pelo reducionismo do Estado que
priorizava a lógica fiscal sobre os investimentos sociais, cenário esse ligados aos códigos de
gestão disseminados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) (ARAUJO, SANTOS FILHO
e GOMES, 2015, p. 743).
Além disso a LRF trata da vinculação da despesa pública à arrecadação. A LRF não
apenas torna obrigatória a previsão de arrecadação de todos os tributos, como também limita a
expansão e criação de novas despesas ao prévio estabelecimento de fontes de receitas. Caso não
seja possível essa vinculação ou em casos de arrecadação menor do que a prevista, o ente fica
impedido de contrair ou estabelecer novas despesas, devendo essa limitação ser observada
durante toda a execução orçamentária.
Para Araujo, Santos Filho e Gomes (2015) essa norma aparece como um desafio
para os municípios dependentes das transferências constitucionais diante da demanda cada vez
maior por bens e serviços públicos em especial com relação aos municípios muito pequenos
que, como foi visto, apresentam uma enorme dependência em relação às transferências
constitucionais. Essa situação exige Fundo Monetário Internacional na área da gestão financeira
na busca por superávits, colocando esta área da administração pública em destaque (GERIGK
e CLEMENTE, 2011).
Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa total com
pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os
pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis,
militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como
vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria,
reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens
pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas
pelo ente às entidades de previdência.” (BRASIL, 2001, [documento on-line não
paginado]).
No que diz respeito aos gastos públicos, a LRF estabeleceu limites rígidos para o gasto
com pessoal e endividamento público, bem como mecanismos claros para a correção
de eventuais desvios (GILBERTI, 2005, p. 7).
(...)
Dentre todas as questões contempladas pela Lei, os limites de gasto com pessoal e
endividamento e a Regra de Ouro são os pontos que mais afetam o gasto público e
atuam diretamente no sentido de conter déficits e acumulação de dívidas (GILBERTI,
2005, p. 8).
A imposição de limites específicos para o gasto com pessoal está ligada ao fato deste
ser o principal item de despesa corrente e apresentar um histórico elevado por um
longo período, especialmente no caso dos Estados brasileiros (GILBERTI, 2005, p.
8).
(...)
Limitar a despesa com pessoal é atacar um dos principais itens de despesa pública e
um dos mais suscetíveis ao uso clientelista, no qual o emprego público torna-se uma
moeda de troca. (GILBERTI, 2005, p. 13).
De fato, não faltam evidencias da importância do controle de gastos com pessoal se
se busca o equilíbrio das contas públicas, ainda mais pela característica clientelista do atual
sistema político brasileiro que utiliza a máquina pública como cabides de empregos como forma
de apoio e favorecimento eleitoreiro.
Gadelha (2012), por sua vez, complementa que as despesas com pessoal exercem
forte impacto sobre as probabilidades de um município tornar-se deficitário, isso porque essas
despesas afetarem mais o resultado primário dos municípios do que a receita tributária. De Jesus
Macedo e Corbari (2009) apontam o mesmo resultado ao descrever que o maior
comprometimento dos gastos municipais com a folha de pagamento torna mais difícil a
obtenção de resultados fiscais positivos.
No entanto, Santolin, Jayme Jr. e Reis (2009) apontam as limitações impostas pela
LRF sobre os gastos com pessoal como um dos pontos mais polêmicos da Lei, embora tragam
resultados positivos, especialmente em relação a accountability. A polêmica, segundo os
autores, se dá, especialmente no caso dos municípios, por tratar todos como iguais a despeito
das evidentes desigualdades que existem entre eles. Ou ainda, pelo princípio da compensação
que impõe a obrigação de que todo aumento de gastos com pessoal seja compensado pelo
aumento de receitas, caso contrário se torna necessário o corte de outros gastos.
Cabe salientar que, entre os assuntos polêmicos com relação a estes limites, está o
fato de que, mesmo obedecendo-se o princípio da compensação, caso as despesas com pessoal
ultrapassarem os limites estabelecidos sejam por quaisquer motivos, a gestão pública fica
impedida de realizar novas contratações, promover reajustes salariais, criar novos cargos ou
alterar planos de carreira. Ou seja, ficam os governos impedidos de realizar qualquer ato no
sentido de aumentar gastos com pessoal. E ainda, caso a situação permaneça, o governo se vê
obrigado a demitir servidores não estáveis, extinguir cargos de confiança ou até mesmo demitir
funcionários concursados (BRASIL, 2001, [documento on-line, não paginado]).
Fioravante, Pinheiro e Vieira (2006), Meneses (2006) e Gilberti (2005) alertam que,
no caso dos municípios, embora em algumas situações o estabelecimento dessa limitação tenha
surtido o efeito de redução dos gastos com pessoal, na maioria dos casos houve um efeito
contrário, ou seja, ocorreu aumento dos gastos se aproximando do teto estabelecido, já que na
maioria dos municípios o volume de despesas estava muito abaixo do limite de 60%. Assim,
por um lado a LRF apresentou um efeito de controle da dívida, mas por outro promoveu o
incentivo ao endividamento ao propôs um teto muito acima do que a maioria dos municípios já
praticavam.
Tais dados sugerem uma espécie de “efeito manada” decorrente do limite imposto
pela lei. Os municípios que tinham gastos excessivos reduziram seus gastos e os que
apresentavam uma porcentagem muito baixa de gastos com pessoal como proporção
da receita corrente líquida passaram a gastar mais (FIORAVANTE, PINHEIRO e
VIEIRA, 2006, p. 16).
Os resultados extraídos da amostra analisada apontam que entre 2000 e 2010 o total
dos gastos correntes cresceu 366,14% e com pessoal, 571,80%. Portanto, índices de
crescimento bem superiores aos da despesa e receita pública totais. Esses fatos
corroboram a afirmação de que a implantação da LRF não foi suficiente para
promover a redução dos gastos correntes e, especialmente, os destinados às despesas
com pessoal e encargos no caso dos municípios do estado de Alagoas (...)
constatamos, ainda, que no período 2000-10 ocorreu uma homogeneidade dos gastos
e uma tendência de crescimento do gasto médio com pessoal, ocasionando
acomodação dos índices em níveis mais elevados (ARAUJO, SANTOS FILHO e
GOMES, 2015, 748).
Esses autores concluem que, embora o limite com despesas com pessoal seja
condição necessária para o controle do endividamento público seja condições necessária, essa
limitação não é suficiente para garantir situações de equilíbrio fiscal (ARAUJO, SANTOS
FILHO E GOMES, 2015). Isso porque os limites estabelecidos pela LRF para os gastos com
pessoal, por não considerarem a heterogeneidade dos municípios brasileiros, não foram
suficientes para reduzir a participação desse tipo de despesa no total das despesas públicas dos
municípios em sua totalidade, ocorrendo, como se pode observar na literatura, um efeito
contrário, já que a participação dos gastos com pessoal cresceu de forma significativa em grande
parte dos municípios, especialmente nos de pequeno porte ou extremamente pequenos, que são
dependentes das transferências constitucionais (GERIGK e CLEMENTE, 2011).
Santolin, Jayme Jr e Reis (2009) confirmando o efeito manada, ainda acrescenta
que a ampliação desses gastos se deve ao fato de que:
(...) antes da implantação da LRF, não havia normas claras a orientar o processo de
alocação dos gastos públicos com pessoal. Neste contexto, tendo a LRF sancionado
explicitamente qual o nível aceitável de despesas com pessoal, verifica-se uma
tendência de convergência entre as parcelas relativas que cada unidade municipal
aloca para tais gastos, induzindo aqueles que gastavam demais a gastarem menos,
porém, igualmente, induzindo os cautelosos, que gastavam menos, a gastarem mais.
Assim, a LRF, ao sancionar explicitamente um nível de tolerância, induz a uma
uniformização dos gastos com pessoal através dos diversos municípios. Naturalmente
que, diante de uma eventual rigidez real das Receitas Totais, o aumento dos gastos de
pessoal pode vir acompanhado de queda de gastos com investimentos (SANTOLIN,
JAYME JR, REIS, 2009, p. 902).
Gilberti (2005) lembra que a LRF se concentrou em combater a gasto público por
meio de dois itens da finança pública, o endividamento e o gasto com pessoal. No entanto, a
ênfase quase sempre é dada ao controle de gastos de pessoal. Mello e Dalchiavon (2012) alertam
que, a despeito desta ênfase, a situação do endividamento público a ser combatido pela LRF
não pode ser explicada por um único indicador, se fazendo necessário um conjunto de
indicadores reunidos estatisticamente.
Fioravanti, Pinheiro e Vieira (2006) lembram que a despesa com pessoal é apenas
mais um gasto público e que avaliar a dívida pública apenas por este item implica na
subavaliação de outros tipos de gastos. De modo que o controle dos déficits públicos deve ser
pautado na análise e controle de todos os itens de despesas públicas.
Vale salientar que esse debate se torna mais relevante em tempos de congelamento
de gastos públicos como o atual momento em que vive o país. Nesse sentido, os fatos e
contribuições destacadas aponta para as dificuldades que os gestores públicos enfrentam no
sentido de cumprir a legislação em relação ao controle de gastos, ao mesmo tempo em que deve
manter em execução dos serviços públicos com os níveis de qualidade exigidos, assim como
realizar investimentos nas áreas sociais.
Como apresentado nos objetivos, o presente trabalho teve como propósito estudar
os impactos da aplicação dos limites legais referentes aos gastos de pessoal sobre a governança
do município de Pendências-RN. Nesse sentido, população e amostra se confundiram por se
tratar de um único ente a ser estudado, isto é, a prefeitura do referido município, nesse sentido
a pesquisa foi censitária, pois considerou toda a população, nesse caso um único ente.
No entanto, cumpre registrar, a título de delimitação e para efeito que a coleta de
dados, que os elementos em análise levaram em consideração às cinco maiores secretarias
municipais, considerando o volume de atuações, atribuições, relevância social e densidade de
servidores, as quais sejam: Secretaria de Educação, Secretaria de Saúde, Secretaria de
Assistencia e Promoção Social, Secretaria de Administração e Secretaria de Obras e Serviços
Urbanos.
Essas secretarias foram escolhidas como base de análises por serem aquelas que
apresentam maior impacto em relação às despesas com pessoal e são mais impactadas em
relação às variações das variáveis a serem estudadas, quando consideramos as características
apontadas como justificativa da escolha das mesmas.
Para consumação dos objetivos propostos nesta pesquisa se fez uso de entrevistas
semiestruturadas e análise documental como instrumentos de coleta de dados.
As entrevistas semiestruturadas contaram com roteiros abertos de perguntas sobre
aspectos gerais da gestão no período 2013-2016, com destaque para aqueles relacionados ao
planejamento e execução financeira, aos gastos com pessoal, ao planejamento institucional, às
características político-institucionais, visão estratégica organizacional e plano de governo, às
dificuldades e impactos da crise econômica sobre as fianças públicas municipais, à gestão fiscal,
à transparência e inovação, e, sobre a aplicação da normativa legal estabelecida pela LRF.
A análise documental como fonte de dados tanto quantitativos como qualitativos
se deu na investigação em documentos internos da prefeitura, isto é, os documentos
governamentais municipais oficiais, tais como leis, portarias e decretos, relatórios de
atendimento, de execução orçamentária e de gestão, balanços, prestação de folhas de pagamento
e outros, já tabulados ou não. Também se utilizou de documentos externos, tanto
governamentais e de autarquias, como relatórios dos Tribunais de Contas, Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros, como de organizações não-governamentais ou
instituições de pesquisa. O Quadro 02 apresenta o Guia de Investigação que norteou o
levantamento dos documentos a serem analisados, indicado qual documento e qual o período a
ser localizado/investigado.
Os dados desta pesquisa foram coletados entre o mês de setembro do ano de 2017,
para tanto se adotou os seguintes procedimentos de coleta de dados:
Primeiramente, como já explicitado anteriormente, se utilizou do levantamento
documental como fonte primária e secundária de dados. Os documentos investigados foram os
relatórios do Sistema de Gestão de Recursos Humanos da prefeitura (folhas de pagamentos, no
qual se verificou a movimentação de servidores – admissões e demissões – e valores pagos;
resumos contábeis analíticos, no qual se verificou a natureza dos gastos com pessoal; relatórios
comparativos por órgão, onde se verificou a variação dos valores gastos com pessoal por
secretaria, comparando o início e final de cada período; relatórios de pessoal por órgão e por
cargo, aferindo quais secretarias concentravam maiores volumes de servidores e de gastos e
quais cargos com maior números de servidores e maiores salários; e, quadro de servidores por
faixa salarial).
Se optou pela análise dos relatórios do Sistema de Gestão de Recursos Humanos
dos meses de janeiro, julho e dezembro do período compreendido entre 2013 a 2016, referente
a um mandato administrativo. A escolha desses meses se deu por ser significativa na
compreensão de como o movimento e a variação dos dados pesquisados se comportaram ao
longo de cada ano.
Também se coletou dados a partir de documentos contábeis. Dos relatórios
contábeis, se analisou os Balanços Gerais do município no período compreendido entre 2013 a
2016. A análise dos balaços pautou-se na verificação da natureza e volumes das receitas e
despesas do município em cada ano do intervalo estudado. Sendo realizada a comparação entre
períodos, assim como entre os diferentes departamentos (secretarias) do município; os
Relatórios de Gestão Fiscal (RGF) e Relatórios Resumido de Execução Orçamentária (RREO),
nos quais de verificou a relação de receitas e gastos com pessoal e se a adequação à normativa
legal estabelecida na LRF estavam sendo cumpridas.
Ainda se verificou as Leis Municipais, em especial aqueles referentes aos custos
com pessoal e referente a organização da estrutura básica do município. Nesse sentido buscou-
se verificar os planos de cargos, carreira e remuneração dos servidores da saúde e do magistério,
estatuto do servidor, cuja intenção foi diagnosticar os níveis salariais e as vantagens que
impactam diretamente no custeio da folha de pagamento. O tamanho e a complexidade da
estrutura organizacional também foram verificados com intuito de compreender as dimensões
da atuação administrativa do município.
Ainda sobre a análise documental, também foram coletados dados em documentos
externos. Para tanto se investigou os relatórios censitários e estimativos da cidade junto ao
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, onde se pôde verificar tamanho populacional,
nível de empregabilidade, faixa salarial e demandas por serviços.
Além da pesquisa documental, planejou-se inicialmente a realização de entrevistas
semiestruturadas com o prefeito, o contador e os secretários das secretarias de Educação, Saúde,
Assistência e Promoção Social, Administração e Obras e Serviços Urbanos, que ocupavam as
pastas no período delimitado nos objetivos, a fim de obtenção de informações sobre as variáveis
estudadas e sobre outros temos que venham a se tornar relevantes ao logo da realização da
pesquisa.
Entretanto, foram realizadas apenas as entrevistas com o prefeito da gestão
compreendida no período estudado (Apêndice A) e com o contador do período estudado
(Apêndice B). Dificuldades encontradas ao longo da pesquisa impossibilitou a realização das
entrevistas com os secretários municipais como planejado, pois o pesquisador não logrou êxito
em realizar em tempo hábil para a produção textual as referidas entrevistas, haja vista os
reiterados pedido de novos prazos impostos pelos secretários a serem entrevista, somados a
outras dificuldades e demandas de cunho profissional e familiar que surgiram ao longo da
execução do projeto de pesquisa.
Apesar desse procedimento não ter sido realizado na íntegra, como planejado,
acredita-se que a não realização das entrevistas não causou prejuízos ao conjunto da obra, na
afetando aos resultados alcançados nem a conclusões a que se chegou ao final do presente
trabalho.
Com relação ao tratamento dos dados, por se tratar de uma pesquisa do tipo quali-
quantitativa, foram utilizadas técnicas da estatística descritiva e da estatística inferencial para
identificar e caracterizar relações entre variáveis, associadas às técnicas descritivas não
quantificáveis.
Com relação aos dados quantificáveis, se adotou as operações definidas por Quivy
& Campenhoudt (1995, p. 243) citado por Gerhardt e Silveira (2009):
(...) a etapa que faz o tratamento das informações obtidas pela coleta de dados para
apresentá-la de forma a poder comparar os resultados esperados pelas hipóteses. No
cenário de uma análise de dados quantitativos, essa etapa compreende três operações.
Entretanto, os princípios deste método podem ser transpostos, em grande parte, a outros
tipos de métodos.
A primeira operação consiste em descrever os dados. Isso remete, por um lado, a
apresentá-los (agregados ou não) sob a forma requerida pelas variáveis implicadas nas
hipóteses e, por outro lado, de apresentá-los de forma que as características dessas
variáveis sejam evidenciadas pela descrição.
A segunda operação consiste em mensurar as relações entre as variáveis, da maneira
como essas relações foram previstas pelas hipóteses.
A terceira operação consiste em comparar as relações observadas com as relações
teoricamente esperadas pela hipótese e mensurar o distanciamento entre elas. Se o
distanciamento é nulo ou muito pequeno, pode-se concluir que a hipótese está
confirmada; caso contrário, será preciso examinar de onde provém esse distanciamento e
tirar as conclusões apropriadas. Os principais métodos de análise das informações são a
análise estatística dos dados (método quantitativo) e a análise de conteúdo (método
qualitativo) (QUIVY & CAMPENHOUDT, 1995, p. 243, apud GERHARDT E
SILVEIRA, 2009, p. 58).
SEMFI
SEMT
SEMDE
Secretaria Controladoria
Assessoria
Municipal de Geral do SEMSA
Jurídica -
Governo – Município -
ASJUR
SEGOV; CGM
SEME
GABINETE DO
PREFEITO
Comissão SEMC
Assessoria Assessoria de
Permanente
Especial – Imprensa -
de Licitação - SEMOP
ASES ASIMP
CPL
SEMEL
SEMAG
SEMTU
SEPESCA
R$ 50.000.000,00
R$ 40.000.000,00
R$ 30.000.000,00
R$ 20.000.000,00
R$ 10.000.000,00
R$ 0,00
-R$ 10.000.000,00
Uma terceira análise pode ser realizada quando se verifica a composição das
transferências intergovernamentais. Pela Tabela 02, que mostra a evolução das receitas em
relação aos componentes das transferências intergovernamentais, é possível perceber que a
razão da drástica queda de receitas do município se dá não em função de queda sistemáticas das
transferências constitucionais e sim no volume das transferências de compensação, os Royalties
do petróleo. O que se pode observar é que, à exceção dos Royalties, as demais receitas desta
categoria mantiveram-se estáveis ou tiveram leve aumento na série histórica.
De fato, desde o ano de 2009 por decisão judicial o município vinha recebendo
Royalties do petróleo não só da exploração em solo, mas também da exploração em mar via
presença de City Gates em seu território. Motivado por essa decisão judicial, os valores dos
royalties chegaram a casa dos 28,3 milhões de reais em 2012, reduzindo para 21,7 milhões em
2013 e caindo para pouco mais de 5,5 milhões em 2014. Essa queda se deu por decisão judicial
em segunda instâncias que derrubou liminar anterior concedendo o direito de recebimento. No
ano de 2016 percebe-se nova queda, resultado de diversas decisões judiciais resultantes de ações
movidas pela Agencia Nacional do Petróleo, como pode ser apurado, que bloquearam valores
dos Royalties e os repassaram para cidades em outros estados da federação que tiveram perdas
no período em que Pendências e outros municípios se beneficiaram da liminar.
Uma última análise dos dados levantados diz respeito aos efeitos da crise
econômica/financeira. Sobre este aspecto não é possível estabelecer relação dos efeitos da crise
sobre as finanças no recorte de 2013 a 2016, haja vista que a queda de receita de maior vulto se
dá no volume das transferências de compensação. Nesse sentido se fez necessário comparar os
dados do período estudado com dados anteriores, pois o nível de arrecadação permanece em
certa estabilidade. A Tabela 03 mostra a comparação entre os níveis de arrecadação de 2012
com o ano referência 2013.
1
Entrevista concedida por NOBREGA, Everaldo. Entrevista I. [set. 2017]. Entrevistador: Clepson de Oliveira
Brito. Pendencias-RN, 2017. 1 arquivo .m4a (41 min.). A entrevista na íntegra
encontra-se transcrita no Apêndice B desta monografia.
Esse período foi um período muito difícil, a partir de 2014 nós tivemos o Brasil numa
crise que foi se aprofundando. 2014 foi o início, e seguiu por 2015 e 2016. E a gente
vinha até 2014, a gente cumpria tudo direitinho, tudo correto e tal. Mas devido à queda
da receita devido à crise econômica então ficou difícil de a gente manter. Aí a gente
teve que demitir pessoal, demitir uma turma. Mas mesmo, não vamos deixar só aquilo
de essencial pra a gente não ter alguns serviços públicos paralisados. Tinha alguns
serviços públicos que a gente queria preservar, na saúde, na educação, como a questão
de infraestrutura humana nas escolas, pra que as escolas funcionassem a contento, que
o hospital funcionasse a contento, que os PSFs que eram seis, que são seis na nossa
cidade, funcionassem normalmente, então tinha que ter uma base de funcionários pra
atender esses serviços. E mesmo assim a gente viu que os recursos não davam. A gente
chegava e fazia, fez esse enxugamento, mas mesmo assim a gente viu que não dava
(informação verbal)2.
2
Entrevista concedida por PADILHA, Ivan de Souza. Entrevista I. [set. 2017]. Entrevistador: Clepson de
Oliveira Brito. Pendencias-RN, 2017. 1 arquivo .m4a (22 min.). A entrevista na
íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta monografia.
diversos, contribuições entre outros) que passa de mais de 22 milhões em 2013 para menos 13
milhões em 2014, com a queda se perpetuando, chegando a 2016 como pouco mais de 8,5
milhões.
Consequentemente, em alinhamento com Assunção (2011), essa redução acarreta
perca da quantidade e qualidade dos serviços prestados e a descontinuidade de programas
sociais, haja vista que diminui os insumos a disposição da efetivação desses serviços.
Socialmente traz impactos profundos, pois, se consideramos que a manutenção da limpeza
pública, merenda escolar, auxílios financeiros às pessoas carentes, aquisição de medicamentos
e insumos hospitalares, aquisição de combustível e outros tantos itens de consumo têm seu
financiamento a partir desses recursos, percebe-se a gravidade da redução desse item da
despesa.
A título de exemplo desses impactos sociais, um serviço que foi prontamente
cortado do rol de despesas foi o programa de desjejum implantado no município e que fornecia
a todos os alunos da rede pública municipal café da manhã antes do início das aulas, programa
esse com resultados evidentes na qualidade do aprendizado. Outro exemplo que pode ser dado,
ainda na área da educação foi o corte da distribuição gratuita de material escolar a todos os
alunos da rede pública. Na área da saúde houve a redução da distribuição de medicamentos de
alto custo e não fornecidos pelo programa de farmácia básica. E na área da assistência social
houve o fim do programa de aluguel social, entre tantos outros.
Percebe-se, neste aspecto, um novo alinhamento com as conclusões apontadas na
literatura analisada. O descontrole das despesas públicas por parte do município, vem limitando
e até impedindo, em certas situações, a capacidade administrativa, minando a governança
municipal, impedindo o cumprimento das obrigações municipais, de acordo com o demandado
pela sociedade e legislação e levando ao endividamento público, como aponta Slomski (2006).
Cabe salientar que o aumento da arrecadação própria é a fonte mais segura para
sustentar o gasto público, especialmente aqueles relativos a projetos de interesse apenas local.
No entanto, o município de Pendências-RN, segue a tendência geral apresentada por Santos
(2009) em relação à maioria dos municípios, especialmente os de pequeno porte, ou seja, tem
negligenciado a ampliação da sua base fiscal e troca de manter as suas despesas a partir das
transferências constitucionais e com isso limitando a sua capacidade de investimento.
Como resultado dessa negligência, ao cair as receitas de transferências
intergovernamentais, as obras de infraestrutura do município foram suspensas, tais como
pavimentação e capeamento asfáltico de ruas, reconstrução e ampliação de escolas e a
construção de um centro de educação integral, prevista para ter início no ano de 2014. Como
consequência direta houve a redução de número de pessoas empregadas, assim como a redução
de impostos sobre serviços, afetando ainda mais a arrecadação própria da prefeitura.
Verifica-se ainda que vertiginosa queda dos valores de investimento, que partem
de mais de 7 milhões em 2013 chegando a pouco mais de 300 mil em 2016, valor este que
representa apenas 4,5% do valor gasto no ano de 2013. As amortizações da dívida pública
também têm seus montantes extremamente reduzidos, chegando a meros 5,2% do valor gasto
em 2013, como pode ser visto no Gráfico 02.
R$30.000.000,00
R$25.000.000,00
R$20.000.000,00
R$15.000.000,00
R$10.000.000,00
R$5.000.000,00
R$-
1 2 3 4
Por outro lado, as despesas com pessoal e encargos sociais na prática não sofrem
queda, mantendo-se nos mesmos níveis, exceto no ano de 2013. Pelo contrário, a realidades
apresentada é de leve aumento em 2015 e 2016, anulando os efeitos da redução realizadas em
2014 e indo na direção contrária de todos os outros itens das despesas, como pôde visualizado
no Gráfico 02.
Esse ponto merece especial atenção, pois, como alerta o contador da prefeitura
3
Cf. nota 1 deste capítulo.
o principal componente das despesas correntes dos municípios, embora alguns autores admitam
que, mesmo o limite com despesas com pessoal seja condição necessária para o controle do
endividamento público, essa limitação não é suficiente para garantir situações de equilíbrio
fiscal, como alertam Araujo, Santos Filho e Gomes (2015).
Os dados trazem à tona a impossibilidade ou a incapacidade de o município reduzir
gastos com a folha de pessoal. A explicação mais óbvia é que o corte com outras despesas é
muito mais rápido e fácil de se dá do que o corte de despesas com pessoal. No entanto outros
fatores devem ser levados em conta, tais como existência de uma política de valorização do
salário mínimo e vencimentos de professores a nível federal, existência de planos de carreira e
remuneração, quadro de servidores efetivos e nível de remuneração destes servidores, aplicação
do princípio da irredutibilidade de vencimentos, entre outros fatores. Entretanto, analisar o
detalhamento da natureza dos gastos com pessoal pode trazer luz à questão da não redução dos
gastos com pessoal.
0% 2%
13% PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS*
OUTRAS DESPESAS CORRENTES
INVESTIMENTO
INVERSÕES FINANCEIRAS
41% AMORTIZAÇÃO DA DÍVIDA INTERNA
44%
1% 0%
0% RECEITAS
PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS*
OUTRAS DESPESAS CORRENTES
26%
INVESTIMENTO
INVERSÕES FINANCEIRAS
73% AMORTIZAÇÃO DA DÍVIDA INTERNA
Os dados apontam para o que De Jesus Macedo e Corbari (2009) e Gadelha (2012)
esclarecem, ou seja, as despesas com pessoal exercem forte impacto sobre as probabilidades de
um município tornar-se deficitário, isso porque essas despesas afetarem mais o resultado
primário dos municípios do que a receita tributária e também quer que o maior
comprometimento dos gastos municipais com a folha de pagamento torna mais difícil a
obtenção de resultados fiscais positivos. Ambas as conclusões estão presentes na realidade
estuda aqui como comprova o contador
[...] ao meu entender a folha de pagamento subiu tanto, a despesa subiu tanto que a
receita não acompanhou tanto, que fugiu ao controle, que chegamos ao ponto de ter
várias folhas atrasadas. E ainda continua. Tem pessoas que não receberam as folhas
de outros anos. Tem pessoas ainda com vários meses para receber [...] (informação
verbal)4.
Sobre a situação das despesas municipais um outro fator merece destaque: trata-se
do “flypaper effect” apontado por Gilberti (2005). Sobre este aspecto vale registrar ainda as
palavras do contador da prefeitura na gestão 2013-2016, segundo o qual
4
Cf. nota 1 deste capítulo.
5
Cf. nota 1 deste capítulo.
Além das despesas de custeio, o município foi encorajado a aumentar as despesas
com pessoal. Na gestão anterior foi revisto e atualizado o Plano de Cargos, Carreira e
Remuneração do magistério com o ajustamento dos níveis salariais e incremento de diversos
direitos e benefícios que incidiam diretamente sobre os vencimentos, tais como gratificações
quando o professor assumir cargos de direção e/ou coordenação administrativa. Também se
atualizou a lei da estrutura organizacional, criando diversos cargos comissionados, adicionando
novas funções e criando novas secretarias a partir do desmembramento de funções, tais como a
Secretaria de Esporte e a Secretaria de Cultura, antes departamentos vinculados a Secretaria de
Educação, a Secretaria de Finanças e a Secretaria e Tributação, antes departamentos vinculados
a Secretaria de Administração e as novas Secretarias de Pesca e Aquicultura, a Secretaria de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico e a Controladoria Geral, que não existiam na
estrutura organizacional do município
Assim, como esse aumento de custos não se deu a partir de um aumento da base
tributária local e sim pelo aumento dos Royalties de petróleo, caracterizando o “flypaper effect”,
evidencia-se o descontrole das despesas públicas por parte do município, prejudicando a
capacidade administrativa, minando a governança municipal, impedindo que as obrigações
municipais possam ser prestadas de acordo com o demandado pela sociedade e legislação.
Uma última análise que se faz necessária sobre a situação das despesas do
município está relacionada com as despesas por setor ou unidades administrativas. A Tabela 06
apresenta os valores dessas despesas e que são sintetizadas no Gráfico 05.
R$20.000.000,00
R$15.000.000,00
R$10.000.000,00
R$5.000.000,00
R$-
R$12.000.000,00
R$10.000.000,00
R$8.000.000,00
R$6.000.000,00
R$4.000.000,00
R$2.000.000,00
R$-
R$3.000.000,00
R$2.500.000,00
R$2.000.000,00
R$1.500.000,00
R$1.000.000,00
R$500.000,00
R$-
A relação de gastos com pessoal e a Receita Corrente Líquida (RCL) adota limites
extremamente rígidos. No caso específico do executivo municipal esses limites são de no
máximo 54% da receita corrente líquida. A despeito da LRF estabelecer limites rígidos para o
gasto de pessoal por ser este o principal item de despesas corrente e o de menor elasticidade,
ou seja, o mais difícil de cortar, como apontando na literatura e já anteriormente analisado, os
dados coletados possibilitam aferir a tendência de aumento relação dos gastos com pessoal e a
receita corrente líquida de Pendências-RN.
De acordo com o Gráfico 08, que apresenta o comparativo da apuração do
cumprimento do limite legal de despesas com pessoal entre 2013 e 2016, o município
encontrava-se no primeiro semestre de 2013 dentro de uma situação ideal de gastos com
pessoal, atingindo um comprometimento de 44,35% da receita corrente líquida. Percebe-se,
então, o aumento desse comprometimento que chega a 64,27% no primeiro semestre de 2015,
ou seja, mais de 10% acima do limite máximo. Chega, no último semestre de 2016 no patamar
de 58,37%, com 2,37% acima do limite máximo.
Gráfico 08 – Comparativo de apuração do cumprimento do limite legal de despesas com
pessoal 2013-2016 da PMP.
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
1º 2º 1º 2º 1º 2º 1º 2º
SEMESTRE SEMETRE SEMESTRE SEMETRE SEMESTRE SEMETRE SEMESTRE SEMETRE
2013 2014 2015 2016
Considerando que a maior queda de receitas dá entre 2013 e 2014, era de se esperar
que a maior proporção da relação dos gastos com pessoal e a receita corrente líquida se desse
nesse período. Mas não é o que se dá. Entre o primeiro e o segundo semestre de 2013 o aumento
do percentual é de apenas 2,98%. E quando se compara o segundo semestre de 2013 com o
segundo semestre de 2014, verifica-se uma queda de 0,31%, fechando o ano de 2014 com um
comprometimento de 47,01%. No entanto, quando se analisa os percentuais de 2015
comparados à variação da receita em relação à 2014, percebe-se um aumento que não se
relaciona apenas com redução da receita.
Poder-se-ia inquirir que – como a relação dos gastos com pessoal e a receita
corrente líquida feita semestralmente sofre influência do nível de despesas e receitas do ano
anterior – essa elevação se dá porque o impacto da queda de receita só é sentido neste primeiro
semestre de 2015. Mas a informação não se confirma, haja vista a queda de percentuais no
segundo semestre de 2014 que não sofre mais influência das receitas de 2013.
Há na verdade um aumento do volume de despesas com pessoal associado à queda
de receitas. Ao contrário do que ocorre em 2014, no ano de 2015 o volume total de despesas
com pessoal volta a crescer, influenciado por novas nomeações a cargo comissionados, pela
contratação de servidores temporários em níveis compatíveis com 2013 e pelo aumento dos
níveis salariais (cabe destacar que neste ano de 2014 foi aprovado o Plano de Cargos, Carreira
e Remuneração dos servidores das Saúde, ocasião em que foram reajustados os salários,
gratificações, valores dos plantões entre outras vantagens).
A despeito das sanções previstas em lei, o município continua mantendo muitos
cargos comissionados e contratando anualmente servidores temporários. A única medida de
grande impacto foi a promulgação da Lei Municipal 584 de 10 de agosto de 2013 que Programa
Municipal Bolsa-Qualificação Profissional, de caráter assistencial, que pagava uma bolsa de R$
365,00 a estudantes de escolas públicas que em contrapartida prestariam serviços sem vínculo
empregatício ao município.
Sobre esse tema o prefeito reconhece:
A gente não consegui cumprir a lei, porque isso é uma coisa matemática. A gente não
consegui atender a lei porque tinha serviço que eu digo não agora a gente vai ter que
manter isso, eu não vou deixar não, porque era a velha faca de dois gumes, se você
deixar fechar uma escola, fechar uma unidade de saúde, o prejuízo era bem maior para
a população. Então a gente teve que manter. E essa lei ela foi descumprida, também
em virtude disso, ou a gente descumpria ou a gente não prestaria o serviço. Mas ele
influenciou muito. Ela influenciou muito porque a gente cortou muito ainda. A gente
espremeu até onde não dava mais pra espremer [...] Mas você tem uma unidade de
saúde, por exemplo, funcionando e faltar funcionários para fazer a limpeza, faltar
funcionário pra fazer a alimentação dos pacientes, faltar funcionário numa escola pra
fazer a merenda escolar, pra fazer a limpeza escolar. Quer dizer, são coisas mínimas
que a gente tem de manter. Mas mesmo pra isso, se a gente fosse cumprir o limite
prudencial, por exemplo em 2015, a gente não conseguiria. A gente não conseguiu.
Tenho de reconhecer que cheguei ao final da gestão com atraso de comissionados,
desse pessoal de bolsa, justamente porque não tinha receita (informação verbal)6.
6
Cf. nota 2 deste capítulo.
11 de janeiro de 2013, alterada pela Lei Municipal 563/2013 de 01 de março de 2013 e
estabelece um total de 187 cargos comissionados, tais como assessores, secretários municipais,
chefes de gabinetes, coordenadores, diretores, encarregados de setores e supervisores
(PENDÊNCIAS, 2013).
O Gráfico 09 apresenta a distribuição de servidores por regime jurídico de vínculo
nos anos de 2013 a 2016, levando em consideração os meses de janeiro, julho e dezembro, de
modo as visualizar melhor as variações de servidores. A partir do gráfico pode-se tirar algumas
conclusões.
1000
800
600
400
200
0
JAN JUL DEZ JAN JUL DEZ JAN JUL DEZ JAN JUL DEZ
2013 2014 2015 2016
[..] Ela (a LRF) influenciou porque mesmo a gente não conseguido cumprir, a gente
fez todo o possível. A gente não consegui cumprir a lei, porque isso é uma coisa
matemática. A gente não consegui atender a lei porque tinha serviço que eu disse: não
agora a gente vai ter que manter isso, eu não vou deixar não. Porque era a velha faca
de dois gumes, se você deixar fechar uma escola, fechar uma unidade de saúde, o
prejuízo era bem maior para a população [...] Quer dizer são coisas mínimas que a
gente tem de manter... se a gente fosse cumprir o limite prudencial, por exemplo em
2015, a gente não conseguiria. (informação verbal)8.
7
Cf. nota 2 deste capítulo.
8
Cf. nota 2 deste capítulo.
4.3.2 Aspectos da distribuição da força de trabalho
Tabela 07 – Valores mensais da folha de pagamento da PMP por secretaria de 2013 a 2016.
SECRETARIA 2013 2014 2015 2016
ADMINISTRAÇÃO 123.167,10 125.946,51 103.616,52 90.870,44
AGRICULTURA 20.633,00 19.543,00 15.959,00 7.600,00
ASSISTÊNCIA SOCIAL 69.884,30 114.030,94 97.784,04 42.220,13
CULTURA 0,00 4.500,00 7.076,00 3.500,00
DESENV. ECON. E MEIO AMBIENTE 13.504,60 7.125,40 7.851,80 9.283,40
EDUCAÇÃO 656.205,75 629.925,24 687.393,43 694.940,55
ESPORTES E LAZER 20.484,00 13.968,00 10.406,67 7.380,00
FINANÇAS 8.600,00 9.600,00 5.500,00 5.500,00
GABINETE DO PREFEITO 38.692,65 39.095,10 32.143,57 38.196,50
GOVERNO 9.000,00 8.500,00 4.000,00 3.000,00
OBRAS 66.006,99 65.270,18 61.551,13 34.860,00
PESCA E AQUICULTURA 9.900,00 8.948,00 6.500,00 1.000,00
SAÚDE 515.729,18 519.694,24 531.294,14 524.933,15
TRIBUTAÇÃO 7.500,00 7.536,20 7.660,73 6.804,00
TURISMO 12.156,00 10.824,00 7.600,00 0,00
TOTAL GERAL 1.571.463,57 1.584.506,81 1.586.337,03 1.470.088,17
Fonte: PMP – Elaborada pelo autor (2017)
53%
53%
53%
52%
24%
24%
23%
23%
15%
14%
14%
14%
4%
4%
4%
4%
3%
3%
3%
3%
3%
3%
3%
3%
49%
39%
33%
33%
29%
27%
24%
21%
14%
13%
12%
11%
11%
11%
10%
9%
9%
9%
8%
8%
7%
7%
6%
1%
41%
40%
39%
39%
36%
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12%
11%
8%
7%
6%
5%
5%
4%
4%
4%
4%
3%
2%
2%
2%
2%
Entendo que do lado social, me parece ter sido uma boa administração, ou seja,
atendimento à população, os serviços que foram prestados e a própria melhora da
cidade é visível. Eu entendo que do lado social foi positiva. Agora do meu lado técnico
administrativamente falando eu entendo que não foi boa, poderia ter sido melhor,
poderia ter se saído melhor se ele tivesse tomado determinadas atitudes, que
infelizmente tem essas atitudes teriam prejuízos políticos, digamos, ou prejuízo
públicos da própria população em si, que acabariam refletindo um prejuízo políticos,
mas como eu sou técnico, então, administrativamente falando, eu como técnico teria
tomado atitudes que provavelmente o gestor, por ser um gestor político, ele tem uma
grande dificuldade de tomar, como por exemplo, demitir pessoas é muito difícil do
gestor demitir pessoas porque ele tem o contato direto com as pessoas, ele tem o lado
humano também, como se diz, então, o gestor não é uma máquina que aperta botão, o
gestor é uma pessoa que tem sensibilidade, e graças a Deus que é assim, por que se
todo gestor que nós tivéssemos em todos os níveis, fossem e agissem assim só
exclusivamente como técnico, as pessoas morreriam no meio da rua, porque uma
pessoa técnica, que agisse apenas com o lado técnico, não se incomodaria que as
pessoas morressem no meio da rua desde que ele cumprisse com o determinado limite
legal, desde que ele obedecesse as normais, não se incomodaria de não atender as
pessoas (informação verbal)9.
Acima de 4000,00 7%
9
Cf. nota 1 deste capítulo.
Aqui se faz necessário um destaque: apenas os servidores lotados na saúde e os
professores e supervisores têm Planos de Cargo, Carreira e Remuneração aprovados por leis
municipais específicas. Todos os demais servidores seguem o Plano de Cargos e Salários em
Regime Estatutário estabelecido pela Lei Municipal 334/2001 de 04 de julho de 2001. Essa
situação tem causado distorções de vencimentos para servidores de uma mesma função que
estejam lotados em outras secretarias quando comparados aos que estão lotados na secretaria
de saúde.
A partir desse destaque e analisando as folhas de pagamento do município, percebe-
se que, mais uma vez as secretarias de educação e saúde ganham destaque. De fato, quando se
olha para os valores pagos, verifica-se que, enquanto a grande maioria dos servidores das
demais secretarias recebem vencimentos varia entre próximo aos mil reais, sendo quase em sua
totalidade são servidores que recebem um salário mínimo acrescido de alguma vantagem. Por
outro lado, as médias dos vencimentos das secretarias de educação e saúde ultrapassam esse o
valor dos dois mil reais, incluindo aí vencimentos e vantagens.
Essas duas secretarias também são as únicas a pagar vencimentos acima dos três
mil reais. Na educação essa média se dá pelos vencimentos dos professores e na saúde a média
é elevada devido ao pagamento de médicos plantonistas e profissionais da saúde. A análise da
folha de saúde, por exemplo, aponta médicos plantonistas recebendo mais de 22 mil reais por
mês. Apenas em plantão médico, o município pagou na média de novecentos mil por ano, na
série estudada. Já na folha da educação, encontramos profissionais da educação com
vencimentos superiores aos cinco mil reais, com média variando próxima aos 3,5 mil reais.
Além disso o município apresenta o pagamento de um elevado número de gratificações e outras
vantagens concedidas aos efetivos. A título de exemplo segue o Quadro 08 que apresenta outras
vantagens recebidas pelos servidores efetivos do município no mês de dezembro de 2016.
Normalmente nas prefeituras ditas pequenas, médias e pequenas, isto fica como
incumbência do próprio contador ou de alguém ligado diretamente a ele, algum
auxiliar imediato dele. Mas, normalmente em pequenas prefeituras, o contador é quem
se encarrega de iniciar esses trabalhos e elaboração tanto do PPA como da LDO
(informação verbal)10.
10
Cf. nota 1 deste capítulo.
Nesse sentido, o PPA existe meramente como peça contábil. Apesar de na
elaboração do último terem sido realizadas reuniões com a sociedade civil, cumpre informar
que coube ao contador da prefeitura a confecção da peça, tendo as reuniões com a sociedade
civil relegada ao cumprimento da formalidade legal. Um exemplo desse fato foi a realização da
ampliação do hospital municipal com a construção de um centro cirúrgico que nunca foi
utilizado por falta de profissionais e equipamentos, sendo que a população estabeleceu como
prioridade no PPA a construção de uma unidade básica de saúde em um distrito da Zona Rural
do município.
Quando se trata da mobilização e responsabilização da força de trabalho com vistas
a melhorar a eficiência e o atingimento das metas estratégicas, observa-se que a liderança não
dispõe de uma política nesse sentido com vistas a melhorar a eficiência e o atingimento das
metas estratégicas, restringindo-se a cobrar o cumprimento da efetiva jornada de trabalho e da
realização das tarefas intrínsecas à função de cada servidor.
Já em relação ao monitoramento da estratégia e do desempenho institucional com
foco no atendimento dos objetivos governamentais, este ocorre apenas naqueles programas em
que há alguma exigência legal, de modo geral aqueles que recebem verba federal. De modo
geral não há uma estrutura de monitoramento e avaliação dos objetivos, restringindo se a
existência de uma controladoria interna, mas esta atua quase exclusivamente no aferimento de
os procedimentos burocráticos foram atendidos, não realizado avaliação de desempenho.
Não se identifica, portanto, a implementação de processos que contribuem
diretamente para a formulação de uma estratégia consistente, coerente e alinhada aos objetivos
de governo.
Além disso, observa-se que a organização não tem a missão, a visão e os valores
claramente definidos e nem formalizados em um documento, o que dificulta a disseminação
desses elementos fundamentais a toda organização e que, por sua vez, dificulta a definição e
disseminação dos objetivos e as diretrizes organizacionais entre os membros da sua força de
trabalho.
Ainda sobre a definição dos objetivos e diretrizes, observamos a inexistência de
planejamento estratégico, de modo que, a exceção daquelas estabelecidas a nível federal, as
ações são realizadas a medida que problemas ou situações exigem a tomada de decisão, mesmo
ainda sem uma visão claramente definida dos resultados. Logo não existem metas claramente
estabelecidas e, portanto, não há indicadores para se acompanhar o desempenho e
desdobramentos dos planos de ação de curto e longo prazo e das ações desenvolvidas.
Nesse aspecto a fala do gestor do período analisado é reveladora:
Olhe a gente até buscava... a gente trabalhou muito pessoalmente conversando com a
turma, a gente se reunia muito com os secretários, os secretários se reuniam com os
diretores de unidades... agora eu fazendo uma análise do nosso trabalho, a gente
poderia ter sido melhor nessa área, poderia ter feio uma coisa mais técnica, mais
eficiente. Porque a gente conversou pra que as coisas acontecesse mas a gente não fez
um planejamento estratégico... eu acho que faltou isso. A gente pode dizer que era
falta de “pulso”. Mas na verdade faltou projeto, planejamento. A gente discutia,
discutia, planejava alguma coisa e executava pouco... nós não executamos que era pra
executar [...] A gente vai pra prefeitura pensando que vai administrar o dinheiro da
prefeitura, mas o dinheiro da prefeitura, em momentos de crises, você não temo que
administrar. Ele já vem todo “carimbadozinho” pra isso, pra isso e pra aquilo outro e
não dá, a verdade é essa. Então você tem que estar preparado pra isso[...] A gente
queria que a educação funcionasse, a gente queria que a saúde funcionasse, a gente
queria que as coisas funcionassem bem, mas pra que elas funcionassem que acontecer
muita coisa, tem de consertar, tem de ser feito todo um planejamento e uma
organização. Então, o gestor está preparado pra isso? Quantas vezes ele administrou
uma entidade pública, né? Então a gente, pelo menos no meu caso, tinha sonhos e a
gente direcionava para aquilo ali [...] (informação verbal)11.
Percebe-se, ante o exposto, que a alta administração do município não realiza suas
ações baseadas em um plano de metas previamente estabelecido, no qual o impacto do
acrescimento de despesas, por exemplo com contratação de servidores, esteja previsto e
alinhado com os objetivos institucionais e metas estabelecidas. Nesse sentido a administração
não atua no sentido de buscar a eficiência preconizada pela Constituição Federal, refletindo
uma governança.
Portanto, devido à falta de um planejamento que seja, não apenas eficiente, mas
eficaz e efetivo, na medida em que atende satisfatoriamente as demandas da sociedade, sem
deixar de cumprir a legislação, o controle de despesa com pessoal e o disciplinamento da gestão
pública, que propiciam o fortalecimento da governança, são ações que não se mostram
presentem na gestão em análise.
Sobre esse assunto o contador comenta:
[...] me parece que, tirando aquela questão da bolsa que foi uma tentativa de controlar
as despesas, mas fora aquilo não se tomou as decisões que deveriam ser tomadas.
Porque administrar não é simplesmente pagar não, é planejar também. Acho que falta
é uma atitude de realmente se dizer não. [...] com o planejamento você tem a ideia que
que fazer, e se você planeja e segue o planejamento, fatalmente você chega aonde que
chegar [...] mas se você não planeja, muito menos executa o mínimo planejamento,
sempre vai estar no escuro e eu acho que aqui faltou isso, faltou planejar [...] não vi
nenhuma providencia de se corrigir o rumo que se estava tomando [...] (informação
verbal)12.
11
Cf. nota 1 deste capítulo.
12
Cf. nota 2 deste capítulo.
Diante dessa realidade percebe-se que, a despeito de a nova administração pública
pauta-se no desafio de gerir recursos escassos ou limitados para a atender a demanda cada
sempre crescente pela prestação de bens e serviços à sociedade, o município de Pendências-RN
não foi capaz de atuar nesse sentido. Enfraquecendo sua governança. Essa situação, de fato, se
revela nos números estudados anteriormente.
A título de exemplo temos a volumosa contratação de professores que, anualmente,
impactam a folha de pagamento do município. Quando analisada a composição da folha de
pagamento da educação verifica-se que o município contratou em média 76 professores por ano
no recorte temporal desse estudo para suprir a necessidades das escolas municipais. Por outro
lado, relatórios da Secretaria de Educação revelam a gestão central que existem 67 professores
efetivos afastados de sala de aula. Deste total, apenas oito estão afastadas por readaptação
motivada por problemas de saúde, os demais estão em parceria com outros órgãos, cedidos a
outras secretarias municipais ou assumindo cargos de direção, coordenação ou supervisão. Só
de vencimentos, sem contar as gratificações que os professores efetivos por lei recebem ao
assumirem funções de coordenação de programas ou direção escolar, esses professores
afastados impacto em mais 233 mil reais a folha de pagamento, situação essa que se vinha se
repetindo da gestão anterior e se manteve, a despeito da queda de arrecadação.
Com relação à Secretaria de Saúde, outra grande demandante de recursos para
pagamento de pessoal, aponta-se como falta de planejamento a aprovação em 2014 de duas leis
que na prática elevaram os vencimentos de servidores da saúde, além de garantir outras
vantagens: as leis municipais 601/2014 e 602/2014, ambas de 14 de agosto de 2014. A primeira
delas trata da instituição do Piso Salarial dos Agentes Comunitários de Saúde e dos Agentes de
Combates às Endemias, resultado direto da promulgação na esfera federal da lei 12.994 de 17
de junho de 2014. A segunda lei dispões sobre o Pleno de Cargos, Carreira e Remuneração dos
Servidores da Saúde. Especialmente essa segunda, fruto de pressão de sindicatos, a despeito
dos direitos e necessidades dos servidores, refletem a falta de planejamento e priorização das
metas, pois eleva despesas com servidores em um período em que essas despesas já ultrapassam
o limite prudencial estabelecido na LRF.
Outro exemplo da falta de uma gestão voltada para a eficiência e ainda relacionada
com a contratação de servidores temporários, diz respeito ao número elevando de cargos
comissionados executando tarefas administrativas na Secretaria de Administração no período
em análise, enquanto dezenove auxiliares administrativos efetivos lotados nessa secretaria
permaneceram cedidos ao Fórum da Comarca de Pendências-RN.
Esses, entre outros exemplos, revelam a falta de tomada de mediadas necessárias
ao controle de despesa com pessoal e o disciplinamento da gestão pública do município. Logo,
fica claro o distanciamento da prática gerencial adotada no município com o preconizado como
excelência gerencial. Como resultado desse modo de gestão não preocupado com o
planejamento tem-se a grave crise financeira e administrativa que a prefeitura enfrentou no
período estudado.
13
Cf. nota 2 deste capítulo.
Sobre esse critério, ainda é importante registar que a prefeitura não possui a Carta
de Serviço ao Cidadão, deixando de lado esse importante instrumento de informação ao cidadão
acerca dos serviços prestados pela mesma, assim como das formas de acesso a esses serviços e
dos respectivos compromissos e padrões de qualidade de atendimento ao público. Ao lado
disso, não existe mecanismo ou instrumento formal de tratamento das solicitações, reclamações
ou sugestões dos cidadãos-usuários, assim como não foram identificados manuais de normas e
padrão de atendimento e prestação de serviço e/ou mecanismo ou instrumento formal de
avaliação da qualidade dos serviços prestados aos cidadãos-usuários.
No trato com a sociedade, no que tange aos canais e instrumentos que a organização
utiliza para divulgar e prestar contas dos resultados institucionais perante à aquela, observamos
que a organização se utiliza do quase exclusivamente do portal da transparência,
disponibilizado em seu sitio oficial na internet, para apresentar e expor sua prestação de contas.
No entanto, esta, restringe-se meramente aos resultados contábeis (despesas e receitas) e temas
relacionados. Não há, portanto, a prática de publicação de Relatórios Institucionais que, mais
do que a gestão contábil, apresente resultados relacionados ao alcance das metas estabelecidas
no PPA e de avanços nos aspectos social, econômico e ambiental.
A despeito de a literatura apontar a governança como sendo a capacidade de
governar, o que envolve também o conjunto dos mecanismos e procedimentos para lidar com a
participação social, a realidade apresentada na PMP demostra que o sentido o conceito e prática
da accountability se mostra prejudicado, haja vista não existir um programa de fortalecimento
do controle social e participação popular realmente eficaz.
A literatura ainda aponta para a transparência instituída na LRF como um
importante marco na accountability brasileira o que, de acordo com Sacramento (2005) o
controle das contas públicas pela sociedade foi consequência natural da transparência.
Entretanto observa-se no município a existência do portal da transparência como único
mecanismo existente, isso mesmo sem a devida preocupação em divulgar.
Apesar de ter uma lei aprovada que trata do acesso à informação, neste quesito o
município também apresenta deficiência. Não existe o balcão de informações, como preconiza
a lei, tampouco meio informatizado de acesso e busca de documentos. E ainda, não existe
ouvidoria local por meio do qual a população possa reclamar ou fazer sugestões.
Mais uma vez o município limita-se a cumprir o estritamente estabelecido em lei
federal, sem dar um passo a mais no sentido de buscar uma governança pautada na
transparência e participação social.
4.4.3 Aspectos sobre gestão de pessoal
Olha, aí foi uma das grandes falhas nossa. A gente não teve esse controle. O secretário
vinha e ... esse secretário era quem dizia e definia... não foi feito um trabalho, um
diagnóstico de quantos funcionários precisava. Nós fomos negligentes nessa parte. As
contratações eram feitas de acordo com o que os secretários diziam que havia a
necessidade e a gente pegava e contratava... até porque até 2014 a receita do município
ela dava pra gente ter essa falta de zelo, vamos dizer. A gente tinha uma receita
razoável que dava pra gente contratar. Aí depois de 2014, quando veio a crise aí foi
que a gente teve de “cortar gordura”, a gente teve de fazer um trabalho mais
consistente (informação verbal)15.
14
Cf. nota 1 deste capítulo.
15
Cf. nota 2 deste capítulo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
16
Autores como Andrade et all (2011), Araujo, Santos Filho e Gomes (2015), Gerigk e Clemente (2011) e Gilberti (2005) apresentam essa
necessidade de impor limites à dívida pública dentro de um cenário de influência do FMI e como resultado da crise econômica dos anos 1990.
A partir dos dados sobre as receitas do município de Pendências-RN, verifica-se
como fatores do desequilíbrio orçamentário a realidade municipal de extrema dependência de
transferências intergovernamentais e a drástica queda de arrecadação dessas transferências,
motivada especialmente pela queda de arrecadação de Royalties do petróleo. Fatos estes
comprometedores das finanças públicas, levando o município a incorrer na inadimplência
(déficit orçamentário), no aumento da dívida pública, no não cumprimento de compromissos e
a não realização de investimentos e prestação de serviços públicos.
Além da grande dependência das transferências intergovernamentais, os dados
apontam para a influência do “flypaper effect”, uma vez que o município elevou seu nível de
gasto depois que passou a ter excedente de receitas, resultante dos altos valores de royalties.
Quando, pois, esses valores se reduziram, o município não consegui mais retornar aos níveis de
despesas anteriores.
Nesse aspecto o município de Pendências-RN, não destoa da realidade apontada na
literatura no que se refere aos municípios de pequeno porte, podendo se encontrar, na realidade
estudada, diversos contributivos do desequilíbrio orçamentário no qual a LRF veio enfrentar.
Aqui a realidade de Pendências-RN de alinha com Gilberti (2005, p. 16), quando assinala que
além da relação de dependência dos municípios em relação às transferências
intragovernamentais, aponta para o fato de que as variáveis político-institucionais vigentes no
Brasil levam ao endividamento.
Os dados levantados permitem concluir que a crise fiscal a nível federal provocou
efeitos consideráveis nas receitas municipais no período estudado ao ponto de interferir
significativamente na governança municipal, haja vista que, no sistema federativo em voga no
Brasil, os valores das arrecadações municipais, especialmente as das transferências
intergovernamentais, são fortemente afetadas pelas crises, assim como os valores de repasses
dos Royalties são influenciados pelo baixo crescimento econômico e pela redução do preço do
barriu de petróleo no mercado.
No entanto, os números estudados não permitem inferir que a crise econômica em
curso no período estudado tenha trazido efeitos tão severos às finanças do município de
Pendencias-RN, ao ponto de inviabilizar a gestão. Percebe-se, na verdade, que embora a crise
tenha impactado consideravelmente a gestão fiscal – favorecendo o endividamento público
municipal, o desequilíbrio orçamentário do município e o desrespeito aos princípios
estabelecidos na LRF em relação aos gastos com pessoal – as dificuldades da gestão municipal
se deram muito mais pela falta de planejamento do que propriamente pela crise.
Desse modo, a despeito da crise econômica, pode-se concluir que o
descumprimento da LRF se deu menos pela falta de recursos financeiros e mais pela falta do
planejamento da gestão municipal que, associou o “flypaper effect” com a falta tomada de
medidas eficazes (desgoverno).
Com relação às despesas do município, dos dados permitem concluir que o volume
de gastos do município decresce juntamente a queda das receitas, a partir de ano de 2014, como
era de se esperar. No entanto, essa queda não acompanha a mesma proporção da redução das
receitas, o que provocou descontrole das despesas públicas gerando déficit orçamentário e
elevação da dívida pública municipal, acarretando em prejuízo à capacidade administrativa.
Além disso a redução do volume de gastos se dá essencialmente nos recursos
destinados a investimentos e custeio da máquina pública, em contrapartida os gastos com
pessoal permaneceram no mesmo nível, o que torna o município “vigia de folha de
pagamento”17. No período estudado não há redução dos valores globais da folha de pagamento,
isso se dá pela opção de manter os serviços nas áreas da educação e saúde (áreas que apresentam
os índices mais elevados de pagamento de pessoal) funcionando em detrimento da necessidade
de adequação das despesas municipais aos dispositivos da LRF.
Nesse sentido, enquanto os trabalhos de Gerigk e Clemente (2011) apontam para o
fato de que a LRF acarretou mudanças na estrutura financeira dos municípios estudados por
eles, aumentando a importância da poupança, acarretando maior uniformidade às estruturas
administrativas e influenciando positivamente o espaço de manobra, promovendo a valorização
da variável de gestão em detrimento das preferencias individuais na condução das escolhas, a
realidade de Pendências-RN contraria os resultados apresentados apontando no sentido
contrário, onde as escolhas discricionárias do governo são mais valorizadas que a variável de
gestão, e portanto a governança.
Em suma, conclui-se que, embora tenha influenciado em certa medida na gestão
municipal de Pendências-RN no período de 2013 a 2016, os limites legais definidos na LRF
referentes aos gastos de pessoal não causaram impactos significativos sobre a governança do
município de Pendências-RN no período estudado, contrariando os resultados de Gilberti (2005,
p. 17), cujo trabalho permitem concluir que a LRF é um instrumento relevante para controlar o
gasto com pessoal, beneficiando os municípios que apresentaram um gasto elevado com esse
item do orçamento.
17
Entrevista concedida por CONTADOR, Sr. Entrevista I. [set. 2017]. Entrevistador: Clepson de Oliveira Brito.
Pendencias-RN, 2017. 1 arquivo .m4a (41 min.). A entrevista na íntegra
encontra-se transcrita no Apêndice B desta monografia.
Essa conclusão baseia-se no fato de que, embora desde o primeiro semestre do ano
de 2014 os relatórios de gestão fiscal mostrem o aumento dos percentuais para níveis acima do
limite prudencial, não se encontra na gestão municipal a tomada de medidas efetivas para evitar
a superação do limite máximo. Opta o município, portanto, pelo descumprimento dos limites
legais referentes aos gastos com pessoal, mantendo-se acima do limite máximo e assumindo o
desequilíbrio orçamentário e o aumento da dívida pública municipal em troca de manter a
prestação dos serviços à população. Vai, portanto, na direção contrária dos resultados apontados
por Mello (2012) que estudando as finanças dos municípios potiguares, conclui que as
limitações impostas pela LRF têm logrado êxito, já que os municípios pesquisados se encontram
dentro das metas estabelecidas, apontando para a eficácia da LRF, freando possíveis exageros
das administrações públicas municipais.
Por fim, considerando que, embora a despesa com pessoal ganhe destaque na LRF,
ela não pode ser considerada o único instrumento de avaliação da gestão fiscal e da governança
municipal, sugere-se, para uma melhor compreensão da governança do município de
Pendências-RN, a realização de outros trabalhos que possam aprofundar o detalhamento das
contas públicas sobre o enfoque dos gastos com investimentos, a dependência das transferências
intergovernamentais, os possíveis meios de elevar a arrecadação municipal, aferir os impactos
sociais das medidas previstas na LRF, além de outros temas os temas abordados
superficialmente aqui.
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