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FREI DAMIÃO DE BOZZANO

Missionário Capuchinho

EM DEFESA
DA FÉ

3a. Edição 6o. milheiro

__________________
EDIÇÕES PAULINAS
RECIFE
1 955

http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Frei Damião de Bozzano
Missionário Capuchinho

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Nihil obstat
Recife, 20 de agosto de 1953
Frei Tito de Piegaio, ofmcap
CENSOR AD HOC

Imprimatur
Recife, 20 de agosto de 1953
Frei Otávio de Terrinca ofmcap
CUSTÓDIO PROVINCIAL

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PREFÁCIO

EM DEFESA DA FE, é um sugestivo titulo o livro que Frei Damião de Bozzano dá à


publicidade como lembrança de suas inúmeras e fecundas Santas Missões pregadas no
decurso de vinte longos anos nas capitais e no interior do Nordeste brasileiro.
Lendo o presente trabalho temos a impressão de ver realmente a bondosa o
austera figura do grande Capuchinho e ouvir o tom profético de suas candentes
apóstrofes aos pecadores, amancebados, adúlteros, protestantes, espíritas, acenando-
lhes com voz vibrante a consequência inevitável de suas vidas transviadas: O Inferno.
Laureado na Universidade Gregoriana de Roma, em Teologia Dogmática e Filosofia,
Bacharel em Direito Canônico e por vários anos erudito professor de Sagrada Escritura,
Frei Damião, usando de uma linguagem simples, compreensível, adaptada à população
provinciana, é realmente admirável na lógica cerrada de sua argumentação e nas
conclusões sempre claras e ao alcance de todos.
Além da firmeza de doutrina, da lógica impecável a da simplicidade de forma, há
ainda, neste livro outra qualidade de inestimável valor e que constituo a sua alma: A fé
inabalável e a virtude dos santos.
Sua virtude verdadeiramente excepcional, que é o segredo da eficácia de suas
missões, perfuma todas as páginas. esclarece todos os argumentos, fortalece todas as
conclusões e se transforma em poderoso motivo para a nossa adesão às verdades que
defende com tanta convicção e clareza.
É que sua vida, seus exemplos, suas palavras são a melhor demonstração das
verdades que prega.
EM DEFESA DA FÉ é pois um livro precioso que fala à inteligência e ao coração,
destinado a opor um dique intransponível à onda avassaladora do corrução com que a
heresia do Lutero ameaça as mais esplêndidas tradições do Brasil católico.
É assim que Frei Damião, visando unicamente o bem das almas, multiplica-se a si
mesmo, perpetuando no tempo e no espaço as suas grandes missões em defesa da fé
que cimentou os alicerces da nacionalidade e que recebemos, como preciosa herança,
dos nossos antepassados, para construir na solidez dos seus princípios a felicidade do
nosso futuro.
Recife, 20 do agosto de 1953.
FREI OTÁVIO DE TERRINCA, ofmcap.

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I
A verdadeira regra de fé

Regra de Fé: Meio lógico, objetivo, pelo qual podemos conhecer as verdades
reveladas por Deus.
Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou ao mundo a sua doutrina, exigindo que todos a
abraçassem sob pena de condenação eterna. Logo nos deve ter deixado um meio fácil
e seguro para conhecermos esta doutrina.
Qual este meio?
Segundo os protestantes é a Bíblia tal qual é compreendida por cada indivíduo,
ignorante ou douto.
Segundo os católicos, é um magistério vivo, infalível, autêntico, isto é, a igreja
docente, constituída por Jesus Cristo depositária das verdades reveladas. E as fontes,
onde essa igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus Cristo são a Bíblia e a Tradição.
Onde a razão? Vejamo-lo. Neste capítulo vamos apenas provar a tese católica.

a) Dizemos, antes de tudo, que Jesus, para dar conhecer ao mundo sua doutrina,
constituiu um magistério vivo, isto é, escolheu certo número de homens, aos quais
confiou o munus e o oficio de pregar a sua doutrina, obrigando todo o mundo a neles
crer. Eis as provas:
"Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui as
gentes....ensinando-as a observar tudo que vos mandei; e eis que estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos".(Mt. 28,18).
Ainda mais: "Ide, pregai o evangelho por todo o mundo. Quem crer e for batizado
será salvo, quem não crer será condenado". (Mc 10,16 )."
"Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita, e quem me rejeita,
rejeita aquele que me enviou". (Lc. 10 16).
Por estas palavras deu aos apóstolos e somente a eles o oficio de pregarem o seu
Evangelho; de fato, quando se tratou de colocar Matias no lugar de Judas que tinha
prevaricado, afim de que pudesse pregar o Evangelho com os demais apóstolos,
recorreu-se a uma eleição. (Atos 1, 23 ). Ora, esta não teria sido necessária, se Jesus
tivesse a todos os cristãos o oficio de pregar o Evangelho, pois Matias, já mesmo antes
da eleição, era cristão, discípulo de Cristo.
Se, pois, foi preciso uma eleição, quer isto dizer que Jesus Cristo confiou somente
aos apóstolos o oficio de pregar o seu Evangelho.
E os apóstolos compreenderam dessa maneira as palavras de Jesus, isto é, que Ele
lhes tinha imposto o munus e o oficio de pregar a sua doutrina. Por isso S. Marcos
acrescenta: "Eles, os apóstolos, partiram e pregaram por toda a parte ". (Mc 16, 20).
Eis, pois, o meio escolhido por Nosso Senhor para difundir sua doutrina: O
magistério dos apóstolos; eles devem ensinar, pregar esta doutrina e todo o mundo
deve acreditar nos seus ensinamentos.
b) Dizemos, além disso, que este magistério vivo, por vontade de Jesus, devia durar
até o fim dos séculos, ou por outras palavras, este munus, este oficio, que os discípulos

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receberam, não devia acabar com a morte deles, mas devia ser transmitido aos seus
sucessores.
Com efeito Jesus diz: "foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui
todas as gentes.... ensinando-as a observar tudo que vos mandei. E eis que estou
convosco todos os dias até a consumação dos séculos"(Mt. 28,18).
Mas não sabia Nosso Senhor que os apóstolos não poderiam ficar neste mundo até
o fim dos séculos, para ensinar a todas as gentes a sua doutrina? Sem dúvida o sabia.
Portanto, ele aqui falou aos apóstolos, como a pessoas que deveriam ter sucessores
até o fim dos séculos, para ensinar a todas as gentes a sua doutrina
E os apóstolos, fiéis executores do pensamento do divino Mestre, tinham cuidado
de deixar quem continuasse seu magistério. Por isso S. Paulo escreve a Timóteo: "O
que de mim ouviste por muitas testemunhas, ensina-o a homens fiéis, que se tornem
idôneos para ensinar a outros". ( IITim 2,2 ).
c) Dizemos, enfim, que este magistério vivo, é infalível, isto é, não pode ensinar erro
algum sobre a fé ou sobre a moral.
__
Com efeito, consideramos as palavras evangélicas:
"Foi-me dado, diz Jesus, todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui todas as
gentes.... ensinando-as a observar tudo que vos mandei. E e eis que estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos". (Mt. 28,18).
Como vemos, Jesus aqui impõe aos apóstolos e aos seus sucessores ensinar tudo o
que Ele ensinou e ensiná-lo até o fim dos séculos. E como esta fora uma empresa
superior a simples forças humanas, promete-lhes a assistência onipotente.
Ora, será possível que um magistério, assistido pela própria verdade que é Cristo,
possa errar? Não é possível.
Portanto, a igreja, assistida por Cristo, é infalível.
Jesus diz ainda: "Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita, e
quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou". (Lc 10, 16).
Porventura, ouvir a Jesus, não é ouvir ensinamentos infalíveis?
Ora, ele afirma que aquele que ouve os apóstolos e aos seus sucessores, isto é, à
Igreja docente, o ouve a Ele mesmo.
Portanto, quem ouve a Igreja, ouve ensinamentos infalíveis.
__
O mesmo repete Jesus naquela passagem que lemos em S. João (14 16 e 26 ) "Eu
rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco,
o Espírito de verdade... Ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo que vos
tenho dito".
Pois bem, é possível o erro onde está o Espírito da verdade, que ensina e recorda
tudo o que Jesus tem ensinado? Impossível.
Ora, Jesus afirma que o Espírito da verdade ficará eternamente com os apóstolos e
seus sucessores e ensinará e recordará tudo o que ele tem ensinado.
Portanto com os apóstolos e com os seus sucessores não pode estar o erro, logo são
infalíveis.

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__
Finalmente Jesus diz: "Ide, pregai o evangelho por todo o mundo, quem crer, e
for batizado será salvo, quem não crer será condenado."(Mt 16,15).
Ora, pergunto eu, será possível que Deus imponha ao mundo acreditar no erro sob
pena de condenação eterna? Não: isto repugnaria à sua justiça, à sua santidade, à sua
veracidade.
Portando, Jesus impondo ao mundo a obrigação de acreditar no que ensina a Igreja
sobe pena de condenação eterna, ao mesmo tempo dava a esta mesma Igreja a
infalibilidade, afim de que nunca pudesse errar.
Tudo isto é confirmado pelo Apóstolo S. Paulo quando chama a igreja: "Coluna e
sustentáculo da verdade ". (Tim. 3,15).
É claro, com efeito, que a Igreja não poderia ser coluna e alicerce da verdade se
ensinasse o erro e a superstição.
Eis portanto, provada pela Bíblia a primeira parte da tese católica.

Passemos a provar a segunda parte que sustenta serem duas as fontes, onde a
Igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus: a Divina Escritura e a Tradição.
A Divina Escritura, é a palavra de Deus contidas nos livros por Ele inspirados.
Chama-se também Bíblia, que significa: livro dos livros, livro por excelência.
A Tradição é também a palavra de Deus que não foi escrita, mas ensinada de viva
voz por Jesus e pelos Apóstolos.
Existe esta tradição, ou por outras palavras, existem verdades reveladas que não se
acham contidas na Bíblia? Existem. A própria Bíblia o declara. Eis, por exemplo, como
fala S. Paulo na 2° epístola aos Tess 2,4: "Estai firmes, irmãos, e conservai as tradições
que aprendestes de viva voz ou por epístola nossa".
E no cap. 3,6 acrescenta: "Nós vos prescrevemos, em nome de N. S. Jesus Cristo,
que vos aparteis de todos os irmãos que andam desordenadamente e não segundo a
tradição receberam de nós".
E na 2° epístola a Tim escreve: "O que de mim ouvistes por muitas testemunhas,
ensina-o a homens fiéis, que se tornem idôneos para ensinar a outros".
E no capítulo 1, 13 exorta ao mesmo Timóteo:
"Toma por modelo as Santas Palavras que me tens ouvido na fé."
E na 1° epístola aos Cor 11,2, congratula-se com os fiéis, porque haviam conservado
as suas instruções: "Eu vos louvo, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim e
guardais as minhas instruções, como eu vo-las ensinei". De que instruções fala aqui o
Apóstolo? Sem dúvida, fala de instruções dadas de viva voz, já que era esta a primeira
epístola que lhes enviava.
Como S. Paulo, assim também fala S. João, quando diz no seu evangelho: "Muitas
outras coisas há que fez Jesus, se elas fossem escritas uma por uma, suponho que nem
no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem". (Jo 21,25 ) e quando,

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concluindo as suas ultimas epístolas, diz claramente que não quis confiar tudo à tinta e
ao papel, deixando para fazê-lo de viva voz.
Os textos citados e outros, que poderíamos alegar nos demonstram que nem tudo o
que ensinaram Jesus e os Apóstolos, foi escrito: há verdade que ensinaram de viva voz;
e por isso mesmo a tradição existe. Com razão, pois, a igreja vai haurir os
ensinamentos de Jesus na Divina Escritura e na Tradição.

II
REGRA DE FÉ PROTESTANTE

REGRA DE FÉ: Meio estabelecido por Nosso Senhor, para dar a conhecer ao mundo
a sua Doutrina.
No capítulo precedente demonstramos que esse meio é um magistério vivo,
autêntico, infalível, isto é, a Igreja Docente; e demonstramos também que as fontes,
onde essa igreja vai haurir os ensinamentos de Cristo, são a Divina Escritura e a
Tradição.
Os protestantes, porém, não concordam conosco: segundo eles a única regra de fé
é a Bíblia, tal qual é compreendida por cada indivíduo, seja, ignorante ou sábio.
Portanto não há Tradição, isto é, verdades de fé ensinadas somente de viva voz;
tudo o que nosso senhor ensinou se acha na Bíblia. Nem há um magistério vivo,
infalível, que tenha direito de interpretar a Bíblia e de impor aos outros sua
interpretação: Cada qual pode interpretá-la como entender.

Vamos refutar essa doutrina.


Os protestantes dizem, em primeiro lugar, que o meio, pelo qual podemos conhecer
a doutrina de Nosso Senhor é tão somente a Bíblia.
Respondo:
__
Se assim fosse, dever-se-ia encontrar na Bíblia essa verdade, visto como seria de
suma importância conhecê-la.
Ora, pelo contrário, ninguém até hoje encontrou nem jamais encontrará, porque na
Bíblia não figura.
É, pois, esta uma afirmação gratuita dos protestantes.
__
Se Nosso Senhor pretendesse nos deixar a Bíblia como Regra de fé, isto é, como
meio para conhecermos a sua doutrina, deveria ter dito aos Apóstolos:
Ide, escrevei Bíblias para todas as nações; pelo contrário disse: "Ide por todo o
mundo, pregai o evangelho a toda criatura". (Mc 16,15).
Não foi, pois, sua intenção deixar-nos a Bíblia como Regra de fé.
E confirmou-o também com exemplo.

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__
Com efeito, quando Saulo na estrada de Damasco, lhe perguntou: Senhor, que
queres tu que eu faça? __ Ele não respondeu: "Lê a Bíblia", e sim:
__
Levanta-te, entra na cidade e ai te será dito o que deves fazer. (Atos 9,7).
__
S. Paulo falava da mesma forma na sua epístola aos romanos. (Rm 10, 14).
"Sem fé, diz ele, é impossível agradar a Deus".
Mas qual o meio para chegar à fé?
A Bíblia? Não. É a pregação dos que foram enviados a pregar. E conclui: "Logo a fé
pelo ouvido e o ouvido pela palavra de Cristo."
__
De resto a própria razão nos diz que Jesus não podia deixar-nos a Bíblia como
única Regra de fé.
De fato, ele quer que todos os homens conheçam e professem a sua doutrina. Mas
se para isso, fosse necessária a leitura da Bíblia, como poderia então os analfabetos e
os que não podem comprar uma Bíblia, conhecer e professar a doutrina de Jesus
Cristo?
Todos estes (e são maior parte do gênero humano) não poderiam ser cristãos.
Não digam os protestantes que, que é bastante para os analfabetos que seus
pastores lhes leiam e expliquem a Bíblia. Essas explicações, segundo a doutrina dos
protestantes, não passam de opiniões individuais, que não tem autoridade alguma e
variam segundo o capricho de cada um. Não são a palavra de Deus, e sim a palavra de
Fulano, de Beltrano, de Sicrano.
Por isso, repito-o, se fosse verdade, como dizem os protestantes, que o único meio,
para chegarmos à fé, é leitura da Bíblia, os analfabetos nunca poderiam ser cristãos.
Será possível que Jesus tenha estabelecido este meio para nos dar a conhecer a sua
doutrina?
Além disso, se a Bíblia fosse a única Regra de fé, como poderíamos conhecer com
certeza qual é o verdadeiro sentido dos passos difíceis?
Por exemplo: Quanto às palavras, com que Jesus instituiu à Santíssima Eucaristia, a
Igreja Católica da uma explicação, e as seitas protestantes dão, pelo menos duzentas,
cada uma sustentando que a sua é verdadeira.
Agora quem é que tem razão? Pela Bíblia é impossível resolver a questão, pois a
Bíblia é muda e a ninguém diz: Tu enxergas o verdadeiro sentido de minhas palavras e
todos os outros estão no erro.
Portanto, se a Bíblia fosse a única regra de fé, não poderíamos conhecer com
certeza o verdadeiro sentido dos passos difíceis da mesma.
Mas Jesus quer que conheçamos com certeza toda sua doutrina, todas as verdades
que Ele ensinou, tanto as fáceis, como as difíceis. É impossível, pois que nos tenham
deixado a Bíblia como Regra de fé.

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Em segundo lugar dizem os protestantes que não existe a tradição: Todas as
verdades reveladas se acham na Bíblia.
Mas quais são as razões que alegam para provar essa asserção?
Ouçamo-las e vejamos quanto valem.
S. Paulo na sua 2° Epístola a Timóteo (3, 15) diz que "todas as Escrituras são úteis e
que elas podem instruir para a salvação".
Resp. __ Se o referido texto dissesse, que a Escritura só, torna o homem instruído
em todas as coisas necessárias para a salvação, então sim, a objeção seria irrefutável;
mas dizendo simplesmente:
"Todas as Escrituras são úteis e que elas podem instruir para a salvação" não exclui
que a Tradição o seja da mesma forma.
Mas replicam, __ é certo que Jesus em Mc 7,13 e Mt 15,3 rejeita a tradição dizendo:
"E vós também, porque transgredis o mandamento de Deus pela vossa tradição?"
"Em vão, pois me honram, ensinando doutrina e mandamentos que vem dos
homens".
Os referidos textos nada provam contra a tradição: pois Jesus rejeita as doutrinas e
os mandamentos que vêm dos homens, que são feitos pelos homens. sem que
tivessem autoridade para fazê-los.
Ora, pelo contrário, a tradição que para a qual apela a Igreja Católica e que ela
reconhece como segunda fonte de verdade revelada, não contém doutrinas e
mandamentos que vêm dos homens, mas do próprio Deus; pois a tradição no sentido
católico é: Certas verdades reveladas que Jesus Cristo e os Apóstolos ensinaram de
viva voz e não por escrito e que, por isso mesmo, não se acham na Bíblia.
Mas insistem os protestantes: "Não escreveu Moisés (Pen 4,2): "Não acrescenteis
nada ao que vos digo"? __ Não escreveu S. João no Apocalipse (22,18) "Se alguém
acrescentar uma palavra a estas coisas, que Deus faça cair sobre ele os flagelos
descritos nesse livro?" Não escreveu S. Paulo (Gal 1,8). "Mas ainda que nós mesmos ou
um anjo do céu vos anuncie um evangelho diferente do que vos anunciamos, que seja
anátema"?
Resp.-- Sim, escreveram tudo isto. Esses textos porém, nada provam contra a
tradição, afirmam somente que a divina Escritura não deve ser adulterada.
Como estas, assim também são as outras razões que os protestantes alegam contra
a tradição, razões nada valem em si mesmas; e por isso bem podemos dizer que é
outra afirmação gratuita dos protestantes o não existir a tradição.
Afirmação gratuita? Não só. Mas também afirmação contrária à realidade.
Com efeito, se fosse verdade que tudo o que Jesus e os apóstolos ensinaram se
acha na Bíblia e que, consequentemente, não existe tradição, na Bíblia deveríamos
encontrar quantos e quais são os livros inspirados, pois são ambas verdades reveladas.
Mas onde se encontram?
Já dirigi esta pergunta a um pastor protestante e como resposta alegou ele o texto:
"Toda a Escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para repreender, para
corrigir, para formar na justiça (II Tim 3, 16 ).

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Ora, cada qual pode ver que o texto acima não vem ao caso. Se S. Paulo tivesse dito:
"Toda Escritura que se compõe de tais livros e tantos livros etc." então sim,
poderíamos por esse texto conhecer quais e quantos são os livros, que compõe a
Bíblia. Mas tendo dito simplesmente "Toda escritura divinamente inspirada é útil, etc."
é necessário procurar em outra parte quais e quantos são os livros inspirados. Onde?
Na Bíblia? Não, na Bíblia não figuram estas duas verdades. Devemos procurá-las na
tradição; só ela diz quais e quantos são os livros inspirados; e portanto, existem
verdades reveladas que não se acham na Bíblia, que é como dizer: A tradição existe.
Poderíamos também acrescentar que a afirmação dos protestantes, além de ser
gratuita é contrária à realidade, é também contrária aos ensinamentos claros da Bíblia,
visto que a Bíblia fala em tradição.
Dispenso-me, porém, de alegar textos como prova disto, tendo-os alegado na
exposição da tese católica.

Por fim dizem os protestantes que cada qual tem o direito de interpretar a Bíblia
conforme entender.
Mas também isto como podem demonstrá-lo?
Sei que alegam as palavras que lemos no cap. 5, 39 de S. João: "Examinai as
Escrituras, pois julgais ter nelas a salvação..."
Note-se, porém, que as alegam adulteradas, visto que Jesus não diz: "Examinai as
Escrituras..." e sim: "Vós examinais as Escrituras..." Portanto estas palavras não
contem uma ordem, como querem os protestantes, mas apenas indicam, enunciam
um fato. Os hebreus não queriam reconhecê-Lo como o enviado de Deus; então Jesus,
para lhes mostrar que era verdadeiramente o Messias, apela para o testemunho do
Pai, para o testemunho de S. João Batista, para o testemunho das obras que cumpriu
e, por fim como argumento ad hominem, diz: "Vós examinais as Escrituras, julgando
ter nelas a salvação, pois bem, são elas que dão testemunho de mim".
Qualquer pessoa pode reconhecer que Jesus aqui a ninguém impõe um preceito de
ler as Escrituras e de interpretá-las como entender.
Bem longe de dar esse direito, reprova-o pela boca de S. Pedro.
De fato S. Pedro (II Epis 1, 19 ) depois de ter recomendado... etc.. a leitura e a
meditação da Sagrada Escritura, acrescenta logo que ninguém deve ter a pretensão de
a interpretar por autoridade própria. Tendo a Deus por autor só Deus pode explicar o
seu verdadeiro sentido.
De que maneira o explica? por meio de sua Igreja, como provamos na tese católica.
O que é confirmado também pelo exemplo que lemos nos Atos dos Apóstolos (Cap.
15). Os judeus e os habitantes da Antioquia, fiando-se na sua própria razão, julgavam a
circuncisão necessária. Saulo e Barnabé pensavam de outro modo.
Apelaram para o livre exame, ou para a Bíblia interpretada por particulares? Não.
Enviaram uma deputação, com Saulo e Barnabé, para consultar os pastores da Igreja
em Jerusalém e estes decidiram a questão sob a inspiração do Espírito Santo.

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__
Mas não é preciso acrescentar argumentos, para provar que os protestantes não
tem razão em sustentar que cada qual tem o direito de explicar a Bíblia como
entender: o próprio bom senso repele esse absurdo.
Explicar-me-ei com uma comparação:
O Brasil tem seu códigos de leis. Todos podem ler esse código.
Mas quem é que o pode interpretar autenticamente?
Por exemplo: nasce uma questão entre Fulano e Sicrano. Fulano exige para si uma
herança, interpretando de uma forma a lei do código civil; Sicrano também exige para
si a mesma herança, interpretando de outra forma a mesma lei.
Agora quem é que pode resolver a questão e dizer: A lei deve ser interpretada assim
e assim; portanto a herança pertence a Fulano e não a Sicrano?
É um pessoa qualquer ou é um Tribunal, uma autoridade legitimamente
constituída? Até um menino me responderia que é um Tribunal, visto que a razão
demonstra que, se um legislador deixasse as suas leis à livre interpretação de todos os
cidadãos, poria a desordem e a confusão no seu país.
Pois bem, a Bíblia é o código de Deus. Teria Ele deixado esse código à livre
interpretação de todos? Nesse caso seria menos sábio que qualquer legislador
humano. Sendo pelo, contrário, infinitamente mais sábio do que todos os legisladores,
a própria razão nos diz que é impossível que tenha deixado a Bíblia à livre
interpretação de todos.
__
Para melhor compreensão disto, veja-se a que tristes consequências já tem
levado no passado e ainda pode levar no futuro a livre interpretação da Bíblia.
Os anabatistas de Musnter, e depois deles muitos outros, das palavras do Senhor:
"Crescei e multiplicai-vos" tiraram como conclusão necessária a legitimidade da
poligamia. Foi baseado, não sei em que passagem da Bíblia, que Lutero permitiu a
Filipe de Hessem ter duas mulheres ao mesmo tempo. João de Leyde descobriu, lendo
a Bíblia, que devia desposar onze mulheres ao mesmo tempo. Hermann ali descobriu
que ele era o Messias enviado por Deus. Nicolau, que tudo o que tem relação com a fé
é desnecessário, e que se deve viver em pecado afim de que a graça superabunde:
Sympson, que se deve andar nu pelas ruas para convencer os ricos que devem ser
despojados de tudo.
E, para dizermos tudo numa palavra, não há crime e abominação que não tenha
encontrado sua pretendida justificação em qualquer texto da Bíblia interpretado pelo
espírito privado, fora da autoridade tutelar da Igreja Católica.
Façamos aqui ponto e seja essa a nossa conclusão: A única regra de fé não é a
Bíblia, interpretada como cada qual entender. A única regra de fé é o magistério da
Igreja; e as fontes, onde ela vai haurir os ensinamentos de Jesus, são a Bíblia e a
Tradição.
Felizes os que seguem esta Doutrina.

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III
A VERDADEIRA IGREJA

Já vimos que, para conhecer a doutrina de Jesus Cristo, devemos ouvir a sua Igreja,
e não simplesmente folhear a Bíblia, interpretando-a livremente, como pretendem os
protestantes.
Mas qual a verdadeira Igreja fundada por Nosso Senhor?
A nossa, isto é, a Igreja governada por Pedro sempre vivente nos seus legítimos
sucessores, que são os Papas.
Para que apareça claramente essa verdade, é necessário provar três pontos:
I - Que Jesus Cristo fundou a sua Igreja e entregou seu governo a Pedro.
II- Que foi vontade de Jesus que Pedro transmitisse o governo da Igreja a seus
sucessores.
III- Que os sucessores de Pedro são os Papas.
Neste capítulo vou demonstrar o primeiro ponto, cujas provas são claras no
Evangelho, a não ser que alguém queira por si mesmo enganar-se.
a) A primeira nos é oferecida pelas palavras que N. Senhor dirigiu a S. Pedro após
ter Ele confessado a sua divindade.
"Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela". ( Mt 16,18 )
Observai:
Ele compara a sua Igreja, isto é, a sociedade cristã, a um edifício e diz que o
fundamento, a pedra sobre a qual construirá este edifício, será Pedro.
Ora, o que é o fundamento de uma sociedade, ou, por outras palavras, o que é que
sustenta, conserva e rege uma sociedade, assim como o fundamento conserva,
sustenta e rege um edifício?
É o poder, a autoridade suprema.
Tirai, por exemplo, o poder central que nos rege, e esta sociedade política, que se
chama Brasil se desmorona, acaba-se.
Até mesmo uma família, que é uma sociedade tão pequena, exige um chefe que
governe; se numa família o pai quiser uma coisa, a mãe outra, e os filhos se negarem a
obedecer, aquela família se tornará uma verdadeira Babel.
É, pois, certo que o fundamento de uma sociedade é o poder, a autoridade
suprema.
Portanto, dizendo Jesus a Pedro que o constituiria pedra fundamental da sua Igreja,
outra coisa não lhe quis dizer senão que lhe entregaria a autoridade suprema nesta
Igreja.
Mas, dizem os protestantes, a pedra sobre a qual foi edificada a Igreja é o próprio
Cristo.
Ninguém jamais contestou, visto que a própria Bíblia afirma o afirma claramente.

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Mas não é esse o ponto da controvérsia.
Trata-se de conhecer se também Simão Pedro, por vontade de Jesus Cristo, é a
Pedra fundamental da sua Igreja.
Ora, o texto Evangélico não deixa dúvida alguma a respeito, porque, note-se bem,
Jesus falou a Pedro em aramaico e as palavras que lhe dirigiu, traduzidas ao pé da
letra, diriam: "Tu és um rochedo e sobre este rochedo edificarei a minha Igreja".
Palavras estas que nos fazem compreender claramente que o rochedo, sobre o qual
quis Jesus edificar a sua Igreja é o próprio Pedro.
Para melhor compreensão disto, vou alegar a comparação de um autor moderno:
__
Eu digo: O Corcovado é um rochedo e sobre este rochedo foi levantado um
monumento a Cristo Redentor. __ Como se entende essa proposição? Acaso o rochedo
sobre o qual foi levantado um monumento a Cristo Redentor, não é o próprio
Corcovado?
Pois bem, o texto evangélico é do mesmo feitio. Jesus disse a São Pedro: Tu és
rochedo e sobre este rochedo edificarei a minha Igreja.
Não há, pois, dúvida alguma: O rochedo aqui é Pedro.
E se Pedro é o rochedo da Igreja, repito-o, nela tem poder supremo, visto que o
poder é o fundamento, o rochedo que sustenta e conserva a sociedade.
Nem se diga que nesse caso há contradição na Sagrada Escritura, afirmando em
outro lugar que a pedra fundamental da Igreja é Jesus Cristo, pois não é no mesmo
sentido que isto se diz de Jesus e de Pedro. Jesus é a pedra fundamental por essência,
Simão Pedro por participação; Jesus, pedra invisível, Simão, pedra visível.
b) E tanto é este o sentido do Salvador, que Ele mesmo o exprime por outros
termos não menos significativos:
"Dar-te-ei, diz Ele ainda a S. Pedro, as chaves do reino dos céus".
Jesus chama freqüentemente a sua Iigreja __ reino dos céus __ porque fundou essa
sociedade para conduzir os homens ao reino dos céus, e afirma aqui que entregará as
chaves deste reino a Pedro.
Com isto que quer significar?
Quer dizer que lhe entregará o governo deste reino.
De fato, que recebe as chaves, fica encarregado da inspeção, cuidado e governo das
coisas que elas guardam. Se eu, por exemplo, querendo sair para longe, entrego as
chaves de minha casa a um amigo, por este mesmo ato o encarrego do cuidado e
governo da mesma.
Ora, Jesus afirma que entregará a Pedro as chaves do reino dos céus, isto é, da sua
Igreja. Logo afirma que lhe entregará o cuidado, o governo dessa Igreja.
c) E como para dissipar toda dúvida, explicando ainda melhor o seu pensamento,
Jesus acrescenta: Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu, e tudo o que
desligares na terra, será desligado também no céu.
Ter poder de ligar e desligar numa sociedade, significa ter nela o poder de fazer leis;
pois toda lei impõe uma obrigação e toda obrigação é um liame da consciência.

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Jesus prometendo, portanto, a Pedro o poder de ligar e desligar na sua Igreja, lhe
prometeu o poder de nela fazer leis.
Mas notai: Pedro pode fazer todas as leis que quiser, sem que seja possível que
outro poder humano as anule, visto que serão ratificadas no céu: "Tudo o que ligares
na terra o será também no céu".
Ora, pergunto eu, quem é que numa sociedade pode assim fazer leis, senão quem
tem a autoridade suprema?
Logo Pedro tem esta autoridade na Igreja de Cristo.
Mas, dirá alguém, não deu Nosso Senhor este mesmo poder de ligar e desligar a
todos os apóstolos? (Mt 18,18).
Sim, é preciso, porém, notar que a nenhum dos demais Apóstolos disse Jesus em
singular: "Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu", mas dirigiu estas
palavras a todos eles juntamente com Pedro, que já tinha designado como chefe.
Com ele podem, portanto, ligar e desligar na Igreja, mas não o podem sem ele,
independentemente dele.
Nosso Senhor, depois de Ter prometido a Pedro a autoridade suprema na Igreja,
lh'a entrega, dizendo-lhe:
"Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas". (Jo 21, 16 ).
__
Os cordeiros, como explicam os sagrados intérpretes, são os simples fiéis; as
ovelhas, os sacerdotes, pois assim como as ovelhas dão a vida aos cordeiros, do
mesmo modo os sacerdotes dão a vida espiritual aos fiéis por meio dos Sacramentos e
da pregação do Evangelho.
Portanto, como vedes, Pedro recebe o encargo de apascentar todo o rebanho de
Cristo, tanto os cordeiros, como as ovelhas, isto é, tanto os simples fiéis, como os
sacerdotes.
Pois bem, apascentar um rebanho, não é porventura, o mesmo que o dirigir,
conduzir e governar?
Logo, recebendo Pedro o encargo de apascentar todo o rebanho de Cristo, recebe o
encargo de dirigi-lo, conduzi-lo e governá-lo; e, por conseguinte, é o príncipe, o
soberano, o chefe supremo desse rebanho.
Por estas palavras, dizem os protestantes, Jesus quis apenas substituir a Pedro o
privilégio de Apóstolo que tinha perdido pela sua tríplice negação na casa de Caifás.
Resp. __ Onde se encontra que Pedro, negando a Jesus, perdeu o privilégio de
Apóstolo? No evangelho não figura.
Todavia, mesmo admitindo esta suposição gratuita dos protestantes, respondemos
que Pedro já tinha sido reintegrado no apostolado antes que recebesse o encargo de
apascentar o rebanho de Jesus, visto que a Ele também no dia da ressurreição, Nosso
Senhor dirigiu estas palavras: "Como o Pai me enviou a mim, assim também eu vos
envio a vós". (Jo 20, 21).
__
Mas, afinal, insistem ainda os protestantes, quando Nosso Senhor disse a S.
Pedro: "Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas", quis lher dizer:
"apascenta o meu rebanho, ensinando-lhe a minha doutrina.

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Resp. No texto original grego, além da palavra "boske" que significa: apascenta,
alimenta; há também "poimane tá prôbata mou" que em nossa língua se traduz:
apascenta com império as minhas ovelhas.
Não há, pois, dúvida alguma: por estas palavras Nosso Senhor entregou todo o
rebanho a Pedro e, por conseguinte, o constituiu seu chefe supremo.
E Pedro cônscio da sua autoridade, agiu como chefe supremo da Igreja:
__
No cenáculo é ele quem ordena preencher com a eleição de Matias a vaga aberta
no Colégio dos Apóstolos pela traição de Judas. (Act 1, 13).
__
No dia de Pentecostes é ele quem fala ao publico e promulga a lei da graça. (Act
2, 14).
No Sinédrio é ele quem defende o colégio apostólico perante os príncipes dos
sacerdotes. (Act 5, 29 ).
Ele é o primeiro a percorrer e visitar as Igrejas perseguidas (Act 9, 25); a ensinar a
admissão dos pagãos ao batismo (Act. 10, 11); a infligir castigos, ferindo de morte
Ananias e Safira e excomungando Simão, o mágico (Act 5, 1-8, 20).
E no Concílio de Jerusalém, celebrado pelos Apóstolos, quem preside e põe termo
às discussões, definindo a doutrina que se deve seguir? É Pedro.
Ele fala e a sua decisão é acolhida com religioso silencio.
O próprio Tiago, que era Bispo de Jerusalém, onde se achavam reunidos os
Apóstolos, não se levanta senão para repetir a decisão de Pedro e aquiescer à mesma.
(Act 15, 17).

Algumas objeções. __ Apesar de tantas provas em favor de São Pedro, ainda há


quem queira sustentar que ele não foi constituído chefe supremo da Igreja.
Eis algumas razões que alegam:
Nos Atos dos apóstolos (8, 14 ) lemos que os Apóstolos, que estavam em Jerusalém,
tendo ouvido que a Samaria tinha recebido a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro
e João.
Ora, se envia somente um subalterno, não um superior.
Resp. __ É falso. Há dois modos de se enviar: um por mandato, outro por conselho.
Os filhos não enviam freqüentemente os pais? O exército não envia o general? Pedro
foi enviado por conselho, não por mandato.
__
São Paulo, pelo menos, não reconheceu São Pedro como chefe supremo da Igreja,
porque o repreendeu publicamente em Antioquia (Epis. aos Galátas, 2, 4).
Resp. __ Também um inferior em circunstancias graves, pode e até deve corrigir
respeitosamente seu superior.
São Pedro, tendo chegado em Antioquia judeus convertidos, por temor de
escandalizá-los, pouco a pouco se foi subtraindo das refeições dos gentios e começou a
adaptar-se por prudência às prescrições da lei mosaica. A sua conduta fez com que

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outros judeus, que já tinham abandonado os seus ritos, os retomassem, lançando,
desta maneira, confusão na Igreja de Antioquia, onde os judaizantes pretendiam que
não se pudesse ser perfeito cristão, senão observando a lei mosaica.
Por esse motivo, São Paulo, embora inferior, repreendeu a São Pedro.
__
De resto, que São Paulo reconhecesse o primado de São Pedro, dão provas as
suas epístolas. Citarei uma.
Na Epístola aos Gálatas, entre os quais alguém lhe contestava a autoridade de
Apóstolo, Paulo, para defender o seu direito, apela para a autoridade de São Pedro e
frisa que, saído de Damasco depois de sua conversão, passados três anos, foi a
Jerusalém para ver a Pedro e ficou com ele quinze dias. E não viu a nenhum outro dos
Apóstolos senão Tiago (Gal. 1, 18).
Porque frisa o Apostolo este fato?
Porque tem importância ter ele ido visitar a Pedro numa cidade cujo Bispo era
Tiago? Sem dúvida, porque Pedro era superior a Tiago e a Paulo; era, isto é, o chefe da
Cristandade.
Por tudo o que acabamos de dizer, fica pois, provado que Jesus, fundando a sua
Igreja, lhe deu um chefe supremo na pessoa de Pedro.
Querer negar esta verdade, significaria zombar das Divinas Escrituras que a ensinam
claramente.

IV
Perpetuidade do primado

Vimos que Jesus, fundando a sua Igreja, lhe deu um chefe supremo na pessoa de
Pedro, ordenando-lhe que a governasse. Agora se pergunta: este poder supremo que
Pedro recebeu para governar a Igreja de Cristo, devia expirar com a sua morte, ou o
recebeu para transmiti-lo aos seus sucessores?
O evangelho e a própria razão nos respondem que o recebeu par transmiti-lo.
Eis as provas:
A Igreja, segundo o Evangelho, é um edifício, que há de durar até o fim dos séculos.
Ora, Pedro é o fundamento de tal edifício.
Logo, ele também há de durar até o fim dos séculos, visto como um edifício não se
pode conservar de pé sem fundamento. Mas, não sabia Jesus que Pedro não poderia
ficar neste mundo até o fim dos séculos, para ser o fundamento da sua Igreja? Sem
dúvida o sabia. Portanto, Ele falou aqui a Pedro, como a Pessoa que deveria ter
sucessores até o fim dos séculos no ministério de governar a Igreja, afim de que fosse
sempre verdade que Ele, Pedro, é o fundamento da Igreja de Cristo.
__
Nosso Senhor disse ainda a Pedro: "Apascenta os meus cordeiros, apascenta as
minhas ovelhas".(Jo 21, 15) entregando-lhe, desta maneira, todo o seu rebanho, para
que o governasse. Por quanto tempo? Jesus não pôs limitação alguma. Por isso Pedro
deve governar esse rebanho enquanto existir, isto é, até o fim dos séculos. É preciso,

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pois que tenha sucessores, afim de que, por meio deles, possa governar, até o fim dos
séculos, o rebanho de Jesus.
__
De resto a própria razão nos diz que Pedro recebeu o governo supremo da Igreja,
para transmiti-lo aos seus sucessores.
Com efeito, toda sociedade exige um chefe que a dirija e governe, tanto é verdade
isto, que, quando num país não há mais quem mande, temos a desordem, a revolução,
a morte. Ora, Jesus Cristo fundou a sua Igreja, como uma grande sociedade. É possível
que não lhe deixasse um chefe supremo que a dirigisse e governasse? Nesse caso
cumpriria dizer que Ele não proveu suficientemente a sua Igreja. Mas isto não pode
ser. É claro, portanto, que Pedro recebeu o governo supremo da Igreja para transmiti-
lo a seus sucessores, que devem durar enquanto dura a Igreja, isto é, até o fim dos
séculos.

Quem são os sucessores de Pedro?


A história de todos os tempos do cristianismo nos responde que são os Papas. Isto é
tão evidente que não seria preciso prová-lo. Todavia, se alguém ousasse pô-lo em
dúvida, atenda às provas.
Lendo a historia da Igreja, dois fatos incontestáveis se deparam aos nossos olhos: O
primeiro é que os Papas, desde o tempo dos Apóstolos, governaram toda a Igreja de
Cristo, apelando para a sua autoridade de sucessores de São Pedro, o segundo é que
toda a Igreja reconheceu este governo e a ele se sujeitou sem um brado de protesto.
Com efeito observai:
__
30 anos depois da morte de São Pedro, o Papa Clemente escreve aos Coríntios
uma carta, condenando os abusos entre eles existentes e declarando que aquele, que
não lhe obedecesse, pecava gravemente, e os Coríntios não somente aceitaram a
carta, mas por muito tempo a leram em suas reuniões.
__
No segundo século nasce no oriente a discussão sobre a celebração da Páscoa:
Para alguns a Páscoa era o aniversario da morte de Cristo, para outros, o aniversario da
sua ressurreição. E S. Vítor, Papa, põe termo a discussão, obrigando todos a seguirem
os costumes de Roma, sob pena de serem excomungados. É verdade que alguns Bispos
se queixaram desta medida enérgica usada contra as Igrejas asiáticas, mas ninguém
sonhou em dizer ao Papa: "Usurpas um poder que não tem sobre toda a Igreja".
__
No começo do III século São Calixto condena os Montanistas, que negavam a
Igreja o poder de perdoar certos pecados.
No mesmo século na Ásia e na África se discute sobre a validade do batismo
conferido pelos hereges, e o Papa Sto. Estevão resolve a controvérsia, decidindo pelo
valor daquele batismo; e a sua definição é aceita por aqueles que tinham defendido a
sentença oposta.
__
No Século IV Júlio I decreta que nada se defina nos Concílios orientais sem o
consentimento dos Bispos de Roma. (Sócrates, hist. ecl. 2, 8-15).

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__
No século V abre-se o Concilio de Éfeso, e Felipe, legado do Papa, assim fala
diante de todos os Bispos reunidos: "... Celestino, sucessor e substituto legítimo de S.
Pedro, nosso santo e bem-aventurado Papa, a este concilio me envia como seu
representante".
__
No século VI o Papa Sto. Hormisdas impõe aos Bispos do oriente a subscrição de
uma fórmula de fé. Neste documento se afirma que na Sede romana, em virtude da
promessa do Salvador: Tu és Pedro etc..., sempre se conserva imaculada a fé católica. E
os Bispos, em número de 2.500, a subscrevem. É pois, claro que os Papas sempre
exerceram a sua autoridade suprema em toda a Igreja de Cristo. E se a Igreja aceitou
essa autoridade dos Papas sem oposição alguma, sem dúvida era porque, pela força
invencível da verdade histórica, estava certa de que os Papas eram os legítimos
sucessores de S. Pedro.

Outra prova no-la oferece os testemunhos dos Padres e doutores da Igreja.


SANTO INÁCIO, Bispo de Antioquia, contemporâneo dos Apóstolos, na sua Epístola
aos Romanos escreve que a Igreja de Roma "preside a comunhão universal de todos os
fiéis".
STO. IRINEU, discípulo de São Policarpo e de outros anciãos da idade apostólica,
acrescenta ser necessário para todas as Igrejas se conformarem na fé com a Igreja
Romana em razão de sua primazia de poder. (Adv. 3,3).
SÃO CIPRIANO chama esta Igreja "cátedra de Pedro, Igreja principal, de onde se
origina o sacerdócio".
STO. AGOSTINHO em mil lugares atesta claramente a supremacia do Papa e afirma
que "não querer reconhecê-lo como chefe supremo do cristianismo é indicio de suma
impiedade ou de precipitada arrogância". E isto era tão conhecido de todos que o
imperador Justiniano, escrevendo ao Papa João II, disse: "Tratando-se de negócios
eclesiásticos, não quero que se tome deliberação alguma, sem o conhecimento de
Vossa Santidade, que é chefe de todas as Igrejas. (Código de just. Tit. SSma. Trindade).
Resumamos, pois, brevemente o que dissemos neste e no capítulo precedente:
Nosso Senhor fundou a sua Igreja e entregou o seu governo a Pedro e aos seus
sucessores. Ora, os sucessores de Pedro são os Papas.
Logo, somente a Igreja governada pelo Papa é a verdadeira Igreja de Cristo.

V
Infalibilidade Papal

O PAPA será sempre o chefe visível da Igreja de Cristo, por ser o sucessor de Pedro
na sede de Roma e no primado. Várias são as suas prerrogativas. Minha intenção é
falar de sua infalibilidade, afim de que os meus leitores possam ter da mesma um justo
conceito e acautelar-se contra as calunias dos inimigos da nossa fé.

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Primeiro que tudo é preciso explicar o verdadeiro sentido da palavra infalibilidade:
pois muitos há que, por ignorância ou por malícia, a desfiguram. Infalibilidade não é o
mesmo que impecabilidade, porquanto infalibilidade significa impossibilidade de
errar; impecabilidade ao contrário, impossibilidade de pecar. O Papa é infalível, mas
não é impecável, e por isso mesmo ele também, como todos os fiéis, se confessa dos
seus pecados.
A Infalibilidade pode ser absoluta e relativa. É absoluta, quando alguém não pode
errar em qualquer gênero de verdades; é relativa, quando alguém não pode errar com
relação a certas verdades. A primeira é própria de Deus; ao Papa compete a segunda.
E quais são as verdades acerca das quais ele não pode errar? São as verdades de fé
e de costumes, isto é, as verdades que pertencem ao depósito da revelação. E note-se
bem que, mesmo com relação a estas verdades, não é infalível senão quando,
desempenhando o cargo de Pastor e Doutor de todos cristãos declara expressa e
peremptoriamente que devem ser cridas pela Igreja universal.
Isto suposto, digo que o Papa é infalível.
Eis as provas: A primeira nos é oferecida pela Divina Escritura. Já vimos em outros
capítulos que o poder e as prerrogativas de São Pedro são __ o poder e as prerrogativas
do Pontífice Romano, seu legítimo sucessor. Pois bem:
A Igreja é fundada sobre Pedro, isto é, sobre o Papa, de modo que a sua firmeza
depende da firmeza do Papa. (Mt 16, 18 ).
Ora, se o Papa pudesse torna-se mestre de erro, impondo a toda cristandade uma
doutrina falsa, bem longe de dar firmeza à Igreja, arruiná-la-ia. Portanto nunca pode se
tornar mestre de erro, que é o mesmo que dizer será sempre infalível.
Além disso, Jesus Cristo diz que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a
sua Igreja, porque é fundada sobre Pedro, sobre o Papa, portanto a contínua vitoria da
Igreja depende da vitória do Papa.
Ora, se o Papa pudesse ensinar o erro, em vez de dar a vitória à Igreja arrastá-la-ia à
derrota. Logo é impossível que ensine o erro.
Jesus dá ao Papa as chaves da Igreja e afirma que Ele ratificará no céu o que o Papa
tiver julgado na terra.
Ora, poderá Jesus ratificar o erro, a mentira, a falsidade? Não. Portanto o
ensinamento, a sentença do Papa deve ser isento de erro.
Não basta, Jesus confere ao Papa o ofício de pastorear e reger toda a sua Igreja,
todos os cordeiros e todas as ovelhas do seu redil; e por isso mesmo obriga toda a sua
Igreja, cordeiros e ovelhas a lhe obedecer e receber a sua palavra e as suas leis.
Ora, suponhamos que o Papa pudesse arrastar ao erro o redil de Jesus Cristo: que
aconteceria? Aconteceria que toda a igreja posta na absurda alternativa de
desobedecer ao Papa contra a vontade expressa de Jesus ou de seguir ao Papa, mesmo
no erro. O que é impossível de se conceber. Cumpre, pois, admitir que o Papa é
infalível.
__
Queremos uma passagem ainda mais explícita? Abramos o Evangelho de S. Lc. 22,
31-32. "Simão, Simão, diz Jesus a Pedro, satanás vos pediu com instancia para vos
joeirar como o trigo; mas eu roguei por ti, para que não desfaleça a tua fé, e tu, uma
vez convertido, confirma os teus irmãos.

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Do texto resulta que a fé em Pedro será sempre pura, verdadeira, luminosa; pois
Jesus lhe diz que rogou por ele, afim de que não desfalecesse na sua fé e é impossível
que a oração de Jesus não seja atendida pelo Pai Celestial.
Resulta também que esta promessa é feita a Pedro como chefe da Igreja e não
como Pessoa privada, pois Jesus rogou que não viesse falhar a fé, afim de que ele, por
sua vez, a confirmasse nos seus irmãos. É como se tivesse dito: "satanás vos pediu com
instancia para vos joeirar como o trigo, e eu, para defender-vos poderia orar por todos;
para todos poderia pedir essa firmeza inconcussa; mas não é preciso: orei por ti e a ti
imponho o dever de confirmar e iluminar os teus irmãos.
Portanto, não somente a fé do apostolo Pedro será sempre luminosa, pura,
verdadeira, mas também a de quem lhe sucede no ministério de governar a Igreja; a
do Papa. E por conseguinte, o Papa é infalível.

A este testemunho das Divinas Escrituras faz eco o da cristandade de todos os


tempos e de todos os lugares. Não é verdade, como dizem os nossos adversários, que
este dogma fosse desconhecido antes do século passado, em que Pio IX o definiu
solenemente. Na Igreja sempre se reconheceu a infalibilidade do Papa.
Eis alguns testemunhos que no-lo demonstramos claramente: Sto. Irineu, discípulo
de São Policarpo e de outros anciãos da igreja apostólica, refutando os hereges do seu
tempo, diz: "Com a Igreja romana, por sua primazia, devem concordar na fé todas as
Igrejas, isto é, os fiéis de todo o mundo..." (Adv. Haer. Liv. III).
Mas, se Roma pudesse errar, como ele afirmar esse dever?
Portanto, segundo Sto. Irineu, Roma, a saber. O Papa não pode errar.
S. Cipriano atesta a mesma verdade:
"Atrevem-se, diz ele falando de certos hereges, atrevem-se a dirigir-se à Cátedra de
Pedro, a essa Igreja principal, onde se origina o sacerdócio, esquecidos de que os
romanos não podem errar na fé”. (Epist. 69, 19).
S. Jerônimo escreve ao Papa São Dámaso: "Julguei meu dever consultar a Cátedra
de Pedro. Só vós conservais a herança de nossos pais..."
“Quem não colhe convosco, desperdiça... Decidi e não hesitarei em afirmar três
hipóteses". Porque ele se declara pronto a aceitar qualquer decisão do Papa, mesmo
quando, por impossível, propusesse um absurdo? Justamente porque sabe que o Papa
é infalível, não pode errar em matéria de fé e de costumes.
Ainda mais claro é o testemunho de Sto. Agostinho. Os Concílios de Milévio e de
Cartago dirigiram-se ao Papa, afim de que condenasse Pelágio, que, com suas
doutrinas, semeava a discórdia na Igreja.
Apenas respondeu o Papa, Sto. Agostinho anunciou aos fiéis a sentença nestes
termos: "sobre esta causa foram enviados dos Concílios à Sé Apostólica. Chegou-nos a
resposta; esta terminada a causa. Oxalá acabe também o erro”.
Roma, isto é, o Papa falou a a causa esta terminada, toda a dúvida cessa. Por que?
Porque o Papa é infalível, não pode errar.

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No século V S. Leão Magno escreveu ao Concilio de Calcedônia que sua doutrina
acerca do mistério da Encarnação não admitia discussão alguma e que só se tratava de
crer.
E os Bispos presentes no concílio, que eram número de 600, prorromperam numa
exclamação unânime: "Assim o cremos. Os ortodoxos assim o creem; anátema a quem
não crê. Pedro falou pelos lábios de Leão, Pedro vive sempre na sua sede”. (Ep. 93, 2).
Por que todos se submeteram sem hesitação alguma? Sempre pela mesma razão:
Porque reconheciam no Papa a Infalibilidade.
Por todos os testemunhos e outros ainda, que facilmente poderíamos alegar,
resulta que a infalibilidade Papal sempre foi reconhecida pela Igreja.

VI
Sacramentos

O Sacramento é um sinal sagrado produtivo da graça, instituído por Nosso Senhor


Jesus Cristo.
Sinal é o que conduz ao conhecimento de alguma coisa que não esta ao alcance de
nossos sentidos. Pode ser natural e convencional, segundo a sua relação com a coisa
seja fundada em a natureza ou sobre uma convenção. Por exemplo: A fumaça é o sinal
natural do fogo; as lágrimas o são da dor; uma luz vermelha colocada em meio ao
caminho é um sinal convencional de perigo.
Também os Sacramentos são sinais e sinais sagrados, porque indicam algo de
sagrado, isto é, a graça divina. Note-se, porém, que não são sinais vazios, isto é, não
indicam apenas a graça, mas de fato produzem a graça que significam. Por isso Jesus,
falando do Batismo disse: "Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não
pode entrar no reino de Deus”. (Jo 3, 5).
Como se vê, Jesus aqui atesta que também a água do batismo é causa do nosso
renascimento espiritual: O Espírito Santo é a causa principal e a água causa
instrumental, isto é, meio, instrumento de que se serve Deus, para nos fazer nascer
para a vida da graça.
Erram, pois os protestantes, quando ensinam que os Sacramentos são meras
cerimônias exteriores, testemunhando que a graça esta na alma, sem o poder de
infundi-la. Não, além de sinais, são causas que por sua própria virtude produzem a
graça independentemente dos méritos de quem os administra e das disposições de
quem o recebe. Uma chave manejada quer por uma pessoa sadia quer por uma
doente, abre sempre a porta, e assim também um Sacramento, quer administrado por
um Santo, quer por um pecador produz igualmente a graça, contanto que seja
administrado como Jesus o determinou.
Quanto às disposições de quem os recebe, são necessárias para que os Sacramentos
produzam a graça, mas não são essas disposições que dão aos Sacramentos a virtude
de produzir a graça, assim como a secura da madeira não dá ao fogo a virtude de
queimar.

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Diferem, pois, os Sacramentos da Oração, das obras e dos sacramentais, (água
benta, imposição das cinzas etc.) que tiram a eficácia unicamente das disposições
religiosas do sujeito.
Dissemos também que os Sacramentos são sinais instituídos por Nosso Senhor
Jesus Cristo. É evidente, com efeito, que somente Deus pode ligar um sinal sensível a
faculdade de produzir a graça. Não é Ele o dono da graça? Portanto Dele depende
determinar como quer comunicar a graça.
Os Sacramentos são sete.
De fato os Gregos cismáticos, que se separaram da Igreja Católica no século IX e os
Nestorianos, caldeus, coptas, que se separam no século V, tem os seus sacramentos
conforme aos nossos, quanto ao número e á natureza.
Mas não se pode admitir que tenham recebido esta crença da Igreja romana depois
da separação, considerada a hostilidade, que sempre nutriram contra os católicos
latinos.
É lógico, portanto, concluirmos que ao tempo do cisma, isto é, respectivamente nos
séculos IX e V a doutrina da existência dos sete Sacramentos era doutrina da Igreja
inteira. E, por conseguinte, tivera origem dos Apóstolos, porque caso se houvesse
introduzido, nos séculos precedentes, algum sacramento, tal inovação não se podia
realizar, sem provocar discussões muito vivas. E disto nenhum vestígio existe nos
escritos dos Padres.

VII
Batismo

O BATISMO é um sacramento que nos torna cristãos, isto é, sequazes de Jesus


Cristo, filhos de Deus e membros da Igreja.
Que seja Nosso Senhor o autor do batismo é claro pelo próprio evangelho:
"Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, instrui todas as gentes,
batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo..."(Mt 28, 18-20).
"Ide por todo o mundo; pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for
batizado, será salvo, quem não crer será condenado. (Mc 16, 15).
"Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de
Deus". (Jo 3, 5).
Em todos os textos acima se manifesta Nosso Senhor autor do batismo e proclama a
sua necessidade para a salvação.
O batismo é para todos necessário: Para os adultos e para as crianças.
a) É necessário para os adultos. De fato, diz Jesus: "Se alguém não renascer da água
e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus". (Jo 3, 5).
Este renascimento espiritual, que Jesus proclama necessário para entrarmos no
reino de Deus, se dá pelo batismo, como aparece no próprio texto e das palavras de S.
Paulo, que chama o batismo: "Banho de regeneração". (Tito 3, 5).
Portanto o batismo é necessário para entrarmos no reino de Deus.

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b) O batismo é necessário também para as crianças, pois, Jesus não faz exceção
alguma; mas diz simplesmente: "Se alguém não renascer..."
Uma criança é alguém, isto é, uma pessoa como todos nós. Portanto, para entrar no
reino dos céus, igualmente tem que renascer pelo batismo.
Além disso ninguém pode conseguir a salvação senão por Jesus Cristo (Rom 18), isto
é, senão se incorporar com Jesus Cristo, tornando-se seu membro. Mas em o Novo
Testamento ninguém se incorpora com Jesus Cristo senão pelo batismo, conforme se
Lê na epístola aos Gálatas (3, 27) "Todos os que fostes batizados, vos revestistes de
Cristo".
Logo todos devem ser batizados, e sem o batismo não se pode conseguir a salvação.
A própria Sagrada Escritura confirma essa doutrina, pois nos fala de famílias inteiras
batizadas (Atos 16, 15,33: 18-8 Cor 1, 16).
Ora, é verossímil que nelas houvesse crianças.
Mas é especialmente pela tradição que se prova a necessidade do batismo para as
crianças. Eis alguns testemunhos antiquíssimos a esse respeito:
STO. IRINEU, que viveu no II século, diz: "Todos os que forem regenerados em Jesus
Cristo, isto é, crianças, jovens, velhos, serão salvos". (Liv. 4 cap. 22, 14 ). As palavras:
Os que forem regenerados se devem entender: os que forem batizados, pois a
regeneração em Cristo é pelo Batismo, por isso o Apóstolo o chama: "Banho de
regeneração". (Tito 3,5).
ORÍGENES, no terceiro século repete a mesma verdade: : É na Igreja uma verdade
provinda dos Apóstolos dar o batismo às crianças". (Liv 5 na epístola aos Rom 9).
S. CIPRIANO, no III século escreve: Pareceu-me bem e à todo o Concilio que as
crianças sejam batizadas mesmo antes do oitavo dia". (Ep. 63) Daí podemos
legitimamente concluir: Se os cristãos dos primeiros séculos batizavam seus filhos,
apenas nascidos, sem dúvida era por ordem dos apóstolos e, por conseguinte, do
próprio Jesus Cristo.

E porque também as crianças devem ser batizadas para entrarem no céu? Ei-lo:
O céu é a herança de Deus.
Ora, tem direito à herança somente aquele que é filho.
Portanto, tem direito ao céu aquele que é filho de Deus.
Mas, nós, simples homens, não somos filhos de Deus, pois, não possuímos a mesma
natureza como é exigida entre pai e filho.
Portanto não temos direito ao céu. O que nos torna verdadeiramente filhos de Deus
é a graça santificante, que é uma participação da própria natureza divina. Uma alma
adornada de graça santificante, é filha de Deus e, por conseguinte tem direito ao céu.
Esta graça divina tinha sido dada aos nossos primeiros pais com direito de transmiti-
la também a nós, seus descendentes, sob a condição; porém, de que se mantivessem

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fiéis a Ele. Mas não mantiveram a condição; desobedeceram a Deus; por isso perderam
essa graça para si e para todos nós. Hoje ninguém no primeiro instante de sua
existência, possui a graça santificante (exceto Maria Santíssima, em virtude dos
merecimentos de Jesus Cristo, seu Filho). E esta privação da graça santificante, em que
todos somos concebidos, é justamente o que se chama pecado original. Foi em vista
disto que S. Paulo escreveu: "Somos por nascimento filhos da ira" (Ef. 2) e também:
"Todos pecamos em Adão" (Rom 5, 12).
Quando é que pela primeira vez nos é prodigalizada a graça divina? Quando
recebemos o batismo. Eis porque também as crianças devem ser batizadas, para se
tornarem, pela graça santificante, filhas de Deus.
Dizem os protestantes: Jesus diz: "Ide, pregai o evangelho a toda criatura; quem
crer e for batizado, será salvo. Quem não crer será condenado". (Mt 15, 16).
Mas a criança não pode crer, logo não pode ser batizada.
Aqui Jesus fala dos adultos, pois fala de pregação do Evangelho; e a pregação só
pode se dirigir a uma pessoa adulta, isto é, a uma pessoa que já tenha o uso da razão.
Portanto deste mesmo texto resulta que um adulto, para ser batizado, deve crer.
Mas não resulta absolutamente que só os adultos devem ser batizados.
Ainda os protestantes: o batismo impõem obrigações; por isso não se pode
administrar a uma criança sem o consentimento da mesma. Alcance primeiro o uso da
razão, e então por si mesma resolverá, se quer, ou não quer pertencer a religião cristã
e receber este sacramento.
É verdade que o batismo impõe obrigações, mas são obrigações que a própria
criança tem que aceitar apenas tiver alcançado o uso da razão; por isso bem podem os
pais aceitar, em nome da mesma, estas obrigações, batizando-a, apenas nascida.
Além disso, o batismo confere, a quem o recebe o privilégio de filho de Deus e
herdeiro do céu.
Portanto, aos pais, batizando os filhos, apenas nascidos, bem longe de fazerem uma
afronta à sua liberdade, fazem, pelo contrário o que de melhor por eles podem fazer.
E se não batizassem seriam cruéis para com os mesmos. Explico-me com um
exemplo. Uma potentado se apresenta a dois esposos, que, há pouco, receberam a
dádiva preciosa de um filho, e lhes diz: "Tenho a vontade de constituir o vosso filho
herdeiro de todos os meus bens; é preciso, porém, que me concedais a licença de fazê-
lo". E eles: "Sentimos muito, mas não podemos conceder esta licença, porque seria
ofender a sua liberdade. O Sr. tenha a bondade de esperar que o nosso filho chegue
ter compreensão do que está fazendo, e então lhe perguntará, se quer ou não quer
aceitar a herança".
Por acaso, seria o comportamento destes pais para com o filho louvável?
Certamente que não.
O mesmo se diga em nosso caso: O batismo oferece à criança direitos e bens de
uma fortuna de inapreciável valor, de suma importância. Não é, pois, preciso esperar
que alcance o uso da razão, para se lhe administrar o batismo. Os pais que esperam
até aquela época são dignos de severa repreensão.
E de resto, não se costuma em toda parte registrar os filhos apenas nascidos?

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Ora, se por este privilégio adquirem os direitos de cidadãos do país, contraem,
igualmente os respectivos deveres; e contudo ninguém jamais pensou que se deva
fazer o registro civil, somente quando os filhos tiverem atingido o uso da razão.
Por que, pois, não será lícito administrar aos filhos, apenas nascidos, o batismo,
pelo qual adquirem eles o direito de cidadãos do céu?
Não há, portanto, motivo algum para diferir o batismo dos filhos até a idade adulta;
e os que assim fizerem, são culpados diante de Deus.

O batismo se pode conferir validamente quer por imersão, quer por infusão, isto é,
despejando água na cabeça, quer também por aspersão, isto é, jogando água no
batizando.
Prova-se pela Sagrada Escritura.
Batizar é palavra grega que em nossa língua significa não somente mergulhar, mas
também lavar. Por exemplo, a Sagrada Escritura diz que os fariseus, vindo da praça
pública, não comem sem lavar as mãos ( Mc 7, 4 ). No texto original o lavar é batizar.
Ora, uma pessoa pode ser lavada de três modos: mergulhando-a na água;
despejando-se água sobre a mesma, ou jogando-se lhe água.
De que modo Nosso Senhor quer que os homens sejam batizados, isto é, lavados?
Nada determina Ele a respeito.
Portanto, a Igreja pode determinar, escolher o modo que mais lhe aprouver.
O Batismo por imersão foi principalmente usado na Igreja por muitos séculos.
Contudo, já desde o tempo dos Apóstolos às vezes, se conferia por infusão, isto é,
despejando água na cabeça como resulta de algumas pinturas que ainda hoje se
conservam nas catacumbas, como se vê no batismo de S. Romão, administrado por S.
Lourenço e do batismo de pessoas acamadas (S. Cornélio, epist. Fábio c. 14) como
expressamente se ensina na doutrina dos doze Apóstolos (c. 7): "Se não tiveres água
de fonte, batiza com outra água; se não tiveres água fria, batiza com água morna. E se
não tiveres água suficiente para imersão, despeja três vezes água na cabeça em nome
do Padre do Filho e do Espírito Santo".
Além disso lemos na Sagrada Escritura que S. Paulo se levanta para receber o
batismo (Atos 9, 18; 22, 16) e na cidade, à meia noite, batiza o carcereiro e outros de
sua família (Atos, 16, 33).
Ora, é muito improvável que o batismo tenha sido conferido por imersão nessas
ocasiões, porque como se pode supor que na casa e na prisão houvesse tanque
próprio para nele mergulhar uma pessoa?
O mesmo se diga do batismo que foi conferido a três mil homens no dia de
Pentecostes. (Atos 2, 41).
Poderíamos também acrescentar que, se a imersão fosse necessária para o valor do
batismo, a sua administração tornar-se-ia frequentemente muito difícil por falta de
água, ou pelo frio, ou pela multidão, ou pelas enfermidades dos batizados, que podem
ser crianças recém nascidas, velhos, moribundos...

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Conclusões práticas.
As mães em estado interessante devem se abster de tudo o que podem prejudicar o
fruto que trazem no seu seio. E as que provocam voluntariamente o aborto são
duplamente homicidas porque suprime a vida ao filho e lhe impedem a entrada ao
reino dos céus, por morrer sem batismo. A Igreja, para inspirar horror a este crime,
fulmina de excomunhão não somente as mães, mas também os que mandam ou que
aconselham o aborto, os que para tal ensinam remédios ou o aplicam.
Os pais tem a obrigação grave de batizar quanto antes os seus filhos, para não
exporem ao perigo de privá-los para sempre da glória do céu. E se, por acaso, se
acharem os filhos em perigo de morte, devem batizá-los em sua casa, derramando
água natural sobre as cabeças dos mesmos e, ao mesmo tempo, pronunciando estas
palavras: "Eu te Batizo em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo". Estando
presente outras pessoas que saibam e queiram batizar, sejam batizados os filhos por
estas pessoas, e se não estiverem presentes outras pessoas, ou estas não souberem ou
não quiserem batizar, então os próprios pais batizem seus filhos, em perigo de morte.

VIII
Confirmação ou Crisma

O CRISMA é um sacramento no qual pela imposição das mãos e a unção com o


crisma, proferindo certas palavras sagradas, se comunica ao batizado o Espírito Santo,
para que valorosamente confesse a sua fé.
O Crisma é um verdadeiro sacramento da Nova Lei.

I — Prova-se pela Sagrada Escritura.

Lemos, com efeito, nos Atos dos Apóstolos (8,12,17) que os Samaritanos, tendo
recebido a palavra de Deus, foram batizados por Felipe; e os Apóstolos lhes enviaram
Pedro e João, os quais, assim que chegaram, oraram por eles, afim de que recebessem
o Espírito Santo, porque este ainda não tinha descido sobre nenhum deles, mas tinham
sido somente batizados em nome do Senhor Jesus. Em seguida lhes impuseram as
mãos e eles receberam o Espírito Santo.
Do mesmo modo São Paulo, vindo a Éfeso, batizou em nome de Jesus, discípulos de
S. João e "neles impôs as mãos, para que o Espírito Santo baixasse sobre eles". (Atos
19, 5-6).
Temos aqui — a) um sinal, um rito sagrado realizado pelos Apóstolos: a imposição
das mãos; b) produtivo da graça, pois a esta imposição se seguiu a descida do Espírito
Santo; c) um sinal instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, pois em coisa tão
importante e fundamental os Apóstolos não agiam certamente conforme a sua
vontade, mas em nome de Jesus, assim como na administração do batismo e na
remissão dos pecados.
Portanto fala aqui a Sagrada Escritura de um Sacramento, visto que um Sacramento,
como dissemos em outro capítulo, é um sinal sagrado, produtivo da graça, instituído
por Nosso Senhor.

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Ora, este Sacramento não é o batismo, pois os Samaritanos, a que S. Pedro e S. João
impuseram as mãos, já tinham sido batizados por S. Felipe e os de Éfeso, antes de
receberem a imposição das mãos por S. Paulo, foram por este batizados.
Tão pouco pode ser a ordenação sacerdotal, como alguns supuseram, pois entre os
que receberam este Sacramento em Samaria, havia também mulheres e as mulheres
não podem ser ordenadas.
Logo é o sacramento da Confirmação ou Crisma.
Obj. — A imposição das mãos era empregada para dar os carismas extraordinários
do Espírito Santo, tais como o dom dos milagres e da profecia, o dom das línguas, etc.
Resp. — A imposição das mãos era feita principalmente, para que os fiéis
recebessem o Espírito Santo, que Jesus prometeu dar a todos os que cressem Nele. (Jo
7, 38).
Nos primeiros tempos, à imposição das mãos, se seguiam frequentemente estes
prodígios, porque eram necessários para a conversão do mundo. Agora, que temos
tantas provas da verdade da nossa santa religião, os milagres não são necessários. Mas
o dom do Espírito Santo, que fortificava os primeiros cristãos e os tornava capazes de
fazer qualquer sacrifício antes que perder a fé, ainda hoje é necessário para os fiéis.
Por isso a imposição das mãos, que é justamente o Sacramento que nós chamamos —
Crisma — ainda hoje continua e continuará até o fim dos séculos.

II — Prova-se pela Tradição.

Os Padres da Igreja, falam desta imposição das mãos para a vinda do Espírito Santo,
como de verdadeiro Sacramento.
Tertuliano (II século) diz: "Depois do batismo impõem-se as mãos para a bênção, se
invoca e convida o Espírito Santo". (Livro sobre o Batismo, c. VIII)
S. Cipriano (III século) na sua Epístola a Jubaiano, referindo-se ao texto dos Atos dos
Apóstolos (8, 14) diz: "O que faltou do Batismo administrado por Felipe, isto foi feito
por Pedro e João... Isto se faz também entre nós, para que os que são batizados, por
nossa, oração e imposição das mãos, consigam o Espírito Santo".
S. Cirilo (IV século), explicando o catecismo aos catecúmenos, diz: "Enquanto se faz
uma unção visível sobre o corpo, a alma é santificada pela operação interior do Espírito
Santo".
Também Sto. Agostinho (V século), assim se exprime no seu livro contra Petiliano:
"O Sacramento do Crisma não é inferior em santidade ao próprio Batismo.
Por tudo o que acabamos de dizer fica suficientemente provado que o Crisma é um
Sacramento e que os protestantes, rejeitando-o dão prova duma grande presunção,
porque negam uma doutrina que é claramente ensinada pela Sagrada Escritura e
admitida pelos cristãos de todos os tempos.

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IX
A Eucaristia - Palavras da Promessa

A EUCARISTIA é o sacramento do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor sob as


espécies do pão e do vinho, ou, por outras palavras, é Nosso Senhor vivo e
verdadeiro assim como esta no céu.
Se quisermos acreditar no Evangelho, devemos também crer na presença real de
Jesus Cristo na Eucaristia, pois, mais claro não podia ele Ter falado, tanto quando
prometeu este sacramento, como quando o instituiu.
Palavras da promessa. Era o dia seguinte ao da multiplicação dos cinco pães, e
Jesus, estando em Cafarnaum, começou a dizer ao povo que O cercava: "Eu sou o pão
vivo que desci do céu; se alguém comer deste pão, viverá eternamente, e o pão que eu
darei é a minha carne pela vida do mundo, isto é, imolada pela vida do mundo". (Jo 6,
52 ).
Esta palavras significam claramente que Jesus queria dar em alimento o seu corpo
verdadeiro e real e não somente uma figura ou imagem do mesmo. Os seus mesmos
ouvintes desta maneira interpretaram as suas palavras e, ficando escandalizados,
exclamaram: "Como pode Este dar-nos a sua carne a comer?" (Jo 6, 53 ).
Antes de chegarmos à resposta de Jesus, cumpre-nos notar o seguinte:
Quando os ouvintes, por simplicidade ou ignorância, não tinha bem compreendido
o verdadeiro significado de Suas palavras, costuma Ele explicar a Sua doutrina,
especialmente em se tratando de coisas atinentes à salvação eterna, afim de que os
discípulos não incorressem no erro. (Disto se encontram exemplos em Jo 3, 3-8 e Mt
16, 6-12 )
Pelo contrário, quando a sua doutrina tinha sido bem compreendida, embora
desagradasse aos ouvintes, ainda mais energicamente costumava repeti-la. (A respeito
se encontram exemplos em Mt 3, 2-7 e em Jo 8, 51-59).
E agora ouçamos a resposta que dá aos judeus, que lhe perguntam: "Como nos
pode dar a sua carne a comer?" E Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo, se não
comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida
em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e eu o
ressuscitarei no último dia, porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu
Sangue verdadeiramente bebida". O que foi o mesmo que lhes dizer: Não somente vos
posso dar a minha carne a comer e o meu sangue a beber, mas disto vos imponho um
preceito sob pena de morte eterna. Queria, portanto, que as suas palavras fossem
tomadas ao pé da letra.
A semelhantes insistências do Divino Mestre, muitos discípulos se revoltam e
clamam: "É duro este discurso e quem o pode ouvir?" Por que o achavam duro?
Porque eles também não podiam compreender como pudesse Jesus dar a sua carne a
comer e o seu sangue a beber; e, não querendo admitir tantos prodígios, o
abandonaram. E acaso Jesus o detêm? Não. Pelo contrário volta-se aos doze Apóstolos
e diz: "quereis vós também retirar-vos?" Como se quisesse dizer: "Quereis ou não
quereis crer que eu vos darei a minha carne a comer e o meu sangue a beber? Se não
quereis crer, ide embora com os outros". Foi então que S. Pedro em nome dos doze,
exclamou: "mestre, para quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna; e nós temos

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crido e reconhecido que és o Cristo, o Filho de Deus. (Jo 6, 70 ). Com esta resposta
também S. Pedro declarou que nada tinha compreendido com relação ao mistério que
Jesus acabava de revelar, contudo, acreditava, porque sabia que Jesus era o Filho de
Deus.
Reflitamos um pouco sobre este fato da apostasia dos discípulos. Abandonam a
Jesus, porque não querem admitir que Ele possa dar a comer a sua própria carne e a
beber o seu próprio sangue.
Ora, suponhamos que tivessem compreendido mal as palavras de Jesus, não devia
Ele explicar-se melhor? Que lhe custava dizer: Não vades embora, pois não é do meu
próprio corpo nem do meu próprio sangue que falo, e sim apenas tenciono vos dar a
comer um pedaço de pão e a beber um pouco de vinho, como figura do meu corpo e
do meu sangue. E isto teria sido bastante para impedir que aqueles discípulos O
abandonassem. Jesus, porém, não deu esta explicação; Jesus que veio para salvar as
almas, permitiu que caíssem num abismo de misérias. Pelo que cumpre dizer que
prometeu dar a comer o seu próprio corpo e a beber o seu próprio sangue, pois era
assim justamente que aqueles discípulos tinham compreendido as suas palavras e era
por isso que O abandonavam.
Algumas objeções
Jesus declarou que as suas palavras deviam se entendidas em sentido figurado,
dizendo: "O espírito é que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que vos
tenho dito são espírito e vida". (v. 64)
Resp. — Mesmo depois destas palavras continuaram os discípulos a entender em
sentido literal o discurso do Mestre. Tanto assim que "a partir daí, — diz o Evangelho
— muitos se retiraram e já não andavam com Ele". (Jo 6, 57).
Não é verdade, portanto, que tenham declarado com isto, que as suas palavras
deviam ser entendidas em sentido figurado.
Qual é então o verdadeiro significado do v. 64?
Ei-lo: Jesus tinha dito que era preciso comer a sua carne e beber o seu sangue, para
ter a vida eterna. Julgando os discípulos que a carne de Jesus devesse ser tomada
morta e feita em pedaços, Cristo responde: "Isto vos escandaliza? A ocasião do
escândalo cessará, quando conhecerdes a minha Ascensão ao céu, pois então
acreditareis mais firmemente na minha divindade e ao mesmo tempo compreendereis
que não se trata de carne que há de ser feita em pedaços e devorada.
Toda a vida procede do espírito; e por isso a minha carne por si só, isto é, separada
da divindade, não poderia dar a vida. O que disse deve ser entendido da minha carne
vivificada pelo espírito e pela divindade; dessa maneira dará a vida".
— Jesus diz: "Eu sou o pão vivo que desci do céu". (Jo 6, 51).
Ora, o corpo de Jesus não desceu do céu. Logo Jesus não fala do seu próprio Corpo.
O Corpo de Jesus nunca se separou da sua divindade, desde o primeiro instante em
que foi concebido no seio de Maria; é unido numa só pessoa com o Verbo Divino, de
modo que quem recebe o Corpo de Jesus, recebe a própria pessoa de Jesus, recebe o
Verbo Divino. Ora, o Verbo Divino desceu do céu.
— Jesus promete a vida eterna aos que comem a sua carne e bebem o seu sangue.

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— Suponhamos que um rato coma uma hóstia consagrada. Iria para o céu? Não.
Que aconteceria? Nada. Pois um rato não é capaz de vida eterna.
Resp. — Jesus não promete, sem exceção alguma, a vida eterna a todos os que
comem a sua carne e bebem o seu sangue; mas somente aos que comem e bebem
dignamente a sua carne e o seu sangue. Tanto assim que nos adverte por S. Paulo:
"Quem come deste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente, come e bebe para si
a própria condenação.

X
A Eucaristia- Palavras da Instituição

Não menos claramente falou Nosso Senhor quando, mantendo a sua promessa,
instituiu este alimento da vida eterna. Ouçamos como os evangelistas referem o fato:
— "Na mesma noite em que Jesus havia de ser entregue aos seus inimigos, estando no
cenáculo com os discípulos, tomou nas suas santas e veneráveis mãos o pão, o
abençoou e distribuiu com eles, dizendo: "Tomai e comei; isto é o meu corpo, que será
entregue por vós a morte". E tomando o cálice, deu graças e a eles o entregou,
dizendo: "Bebei dele todos, pois este é o meu sangue do Novo Testamento, que será
derramado por muitos para a remissão dos pecados". E em seguida, dando aos
discípulos e neles, a todos os sacerdotes o poder de fazer o que Ele mesmo acabava de
fazer, acrescentou: "Fazei isto em memória de mim". (Mt 26, 26-30; Mc 14, 22-26; Lc
22, 19-22; Cor 11, 23-26).
E agora seja-me lícito perguntar: Porventura Jesus não entregou por nós à morte o
seu próprio corpo e não derramou para a remissão dos nossos pecados o seu próprio
sangue? Portanto o pão e o vinho, depois da consagração, são o próprio corpo e o
próprio sangue de Jesus Cristo, visto que ele mesmo disse: "Isto é o meu corpo, que
será entregue à morte por vós; este é o meu sangue que será derramado por muitos
para a remissão dos pecados".
O texto original grego, em que foi escrito o Evangelho pelos próprios evangelistas, é
ainda mais enérgico. Eis como refere as palavras de Jesus: "Isto é o meu corpo, meu
próprio corpo, o que por vós é dado; Isto é o meu sangue, o meu próprio sangue, o
que por vós é derramado". Pode haver coisa mais clara do que estas palavras? Afinal é
um Deus quem fala, é um Deus cujo poder é infinito; é o Verbo eterno do Pai, que com
um só ato de sua vontade fez o universo; é um pai moribundo, que na véspera de se
sacrificar pelos seus filhos, lhes patenteia os sentimentos do coração. Quem ousará
duvidar da verdade de suas palavras especialmente em tal circunstancias?

Palavras de S. Paulo (I Cor 11, 23 a 26)


Por isso os Apóstolos creram nelas firme e literalmente; e S. Paulo manifestava esta
fé quando na sua linguagem enérgica, escrevia: "Quem come deste pão ou bebe o
cálice do Senhor indignamente é réu do Corpo e do Sangue do Senhor". Notem-se bem
estas ultimas palavras: "é réu — diz ele — do corpo e do Sangue do Senhor".
Suponhamos, por ex., que alguém profane o retrato do chefe da Nação; torna-se, por
acaso, culpado do seu corpo e do seu sangue? Não. É verdade que lhe faz uma ofensa,
pois uma injúria, feita a um retrato, redunda em desonra da pessoa representada, mas

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nem por isso se torna culpado do corpo e do sangue do chefe da nação, uma vez que
não estão presentes no retrato.
O mesmo se diga em nosso caso: Se a Eucaristia fosse apenas uma figura do Corpo e
do Sangue de Jesus Cristo, alguém, profanando-a, não se tornaria culpado do Corpo e
do Sangue de Jesus Cristo.
Logo, a Eucaristia não é apenas uma figura do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo;
mas é o próprio do Corpo e o próprio Sangue de Jesus Cristo.
E continua o mesmo Apóstolo: "Examine-se, pois, a si mesmo o homem e assim
coma desse pão e beba deste cálice, porque quem o come e bebe indignamente, come
e bebe para si a condenação, não distinguindo o Corpo do Senhor". (I Cor 11, 28-29).
Ele aqui atesta novamente a presença real de Jesus Cristo há hóstia, já que, dando a
razão pela qual é culpado quem comunga indignamente, diz: Por que desta maneira
não distingue o Corpo do Senhor; isto é, não considera a SS. Eucaristia o que na
realidade é, a saber, o Corpo do Senhor.

Vamos agora refutar as razões que os protestantes alegam contra esta doutrina.
—Quando Nosso Senhor disse: "Isto é o meu Corpo" quis dizer: "Isto representa o
meu Corpo" assim quando, mostrando um retrato posso dizer: "este é Fulano" e todos
compreendem que não é o próprio fulano em carne e osso, mas uma representação do
mesmo.
Resp. — Que seja impossível interpretar assim as palavras de Jesus, demonstra-o e
explica o Cardeal Wiseman.
Alguns objetos — observa ele — por sua própria natureza são simbólicos, por
exemplo, um mapa, um retrato.
Outros o são por convenção, por exemplo, a bandeira. Portanto quando se diz:
"Saudai, é o Brasil que passa", todos compreendem que o verbo significa "representa".
Por fim quem fala ou escreve pode empregar, em sentido figurado, palavras que
não são simbólicas, nem por natureza, nem por convenção.
A ele compete advertir então àqueles que o leem ou escutam. Na parábola do
semeador, por exemplo, Jesus dirá: O campo é o mundo.
Se o afirmado nada tem de comum com estes três casos, não há dúvida que o
sentido deve ser literal.
Ora, o pão e o vinho não são, por sua própria natureza, símbolos do Corpo e do
Sangue de um homem. Não o são também, por convenção: jamais em língua alguma se
recorreu a estes dois elementos para representar a carne e o sangue humano. E, em
terceiro lugar, não dá Jesus a entender em parte alguma que se trata de uma imagem
ou de um símbolo.
Não temos, pois, o direito de interpretar, em sentido figurado as palavras: "Isto é o
meu Corpo" e traduzi-las "Isto representa o meu Corpo".

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É de admirar que os protestantes interpretem em sentido figurado as palavras da
instituição e que, por isso, considerem a Eucaristia como figura do Corpo e do Sangue
de Jesus Cristo. É de admirar, digo, porque eles sustentam que Deus proíbe, na sua lei,
fazer imagens, e prestar culto às mesmas. E depois este mesmo Deus, segundo eles,
nos teria deixado uma imagem, uma figura do seu Corpo e do seu Sangue, instituindo a
Eucaristia.
— São Paulo diz: "Fazei isto em memória de mim". (I Cor. 11, 49).
Ora, não se recordam senão as coisas ausentes.
Portanto Jesus Cristo não esta presente na hóstia.
Resp. — A lembrança se opõe ao esquecimento. E nós podemos esquecer não
somente o que é ausente, mas também os que não cai sob nossos sentidos; como, por
exemplo, nos esquecemos de Deus, ainda que esteja presente em toda parte; por isso
a Sagrada Escritura nos exorta: "Lembrai-vos do Vosso Criador durante a vossa
mocidade". (Ecles 12, 1).
Ora, Jesus é invisível na SS. Eucaristia; não cai sob os nossos sentidos. Podemos,
pois muito bem consagrar a SS. Eucaristia em memória dele.
Além disso a Eucaristia não se consagra justamente em memória de Cristo, mas da
sua paixão e morte, conforme atesta S. Paulo: "Todas as vezes que comerdes deste
pão... recordareis a morte do Senhor até que Ele venha"(I Cor 11, 26).
Ora, a paixão e a morte de Nosso Senhor são ausentes.
— A Sagrada Escritura nos representa o Corpo de Jesus como estando no céu, de
onde não deve mais sair até o fim dos séculos.
Portanto não pode estar na Eucaristia.
Resp. — Mas a Sagrada Escritura nos assegura que o Corpo de Jesus esta também
na Eucaristia e, por isso, cremos nessas duas coisas.
E, de resto, quando ela nos diz que não voltará Jesus a este mundo, senão no fim
dos séculos, fala da sua vinda gloriosa, mas não exclui outras vindas, tanto assim que
nos fala da aparição de Jesus a S. Paulo no caminho de Damasco. (Atos, 9, 3-7).
— Nosso Senhor mesmo disse: "Vós tereis sempre pobres entre vós, mas a mim não
me tereis sempre".
Resp. — Ele fala aqui da presença visível do seu Corpo mortal, mas não
exclui a presença visível do seu Corpo na SS. Eucaristia; diz, com efeito, em outra parte:
"Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos".
— S. Paulo chama a Eucaristia pão (I Cor 11, 26).
Como se pode dizer, portanto, que é o Corpo de Jesus?
Resp. — Ele a chama pão, porque é feita do pão e tem aparência de pão; mas
acrescenta também que aquele que participa deste pão, participa do Corpo de Cristo.
Além disso temos na Sagrada Escritura numerosos exemplos em que uma coisa que
mudou de natureza conserva ainda o nome do que era antes.
Assim Eva é chamada o osso de Adão (Gen 2, 23). Adão se chama barro; porque foi
feito de barro, a varinha de Aarão chamou-se varinha, mesmo depois que se

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transformou-se em serpente (Ex. 7, 12); a água que se mudou em vinho, é ainda
chamada água. (Jo 2, 9).
A Sagrada Escritura chama também muitas vezes as coisas conforme a sua
aparência: assim os anjos em forma humana são chamados homens. (Gen 18, 2)

XI
A Eucaristia e a Tradição

E agora, depois de termos ouvido o testemunho Divino da Sagrada Escritura, vamos


ouvir o testemunho da história. Os nossos irmãos separados, os protestantes, tem a
coragem de afirmar que o dogma da presença real de Jesus na hóstia foi introduzido
na Igreja no século VIII, isto, porém, é contrário a verdade histórica. Com efeito, ouça o
leitor como falaram da Eucaristia os Padres e Doutores da Igreja, que existiram antes
do século VIII.
No primeiro século havia uma espécie de hereges chamados fantasiastas ou
docetas, que negavam a realidade do Corpo de Jesus Cristo, isto é, sustentavam que
Jesus não tinha assumido da Virgem Maria um corpo real, mas apenas aparente.
Sto. Inácio, Bispo de Antioquia desde o ano 68, discípulo de S. Pedro, falando
desses hereges, diz: "Abstêm-se da Eucaristia e da oração, porque não confessam que
a Eucaristia é a carne de Jesus Cristo Nosso Salvador, a qual foi sacrificada para a
remissão dos nossos pecados e que o Pai ressuscitou por sua benignidade”. (Epist. ad
Smyrn. 7).
O testemunho é peremptório: No I século professava-se na Igreja, exatamente
como hoje, que na Eucaristia existe o Corpo de Jesus Cristo, o mesmo que foi
crucificado, o mesmo que ressuscitou glorioso e triunfante.
No segundo século S. Justino mártir, na sua Apologia dirigida ao Imperador
Antonino, depois de ter falado da consagração do pão e do vinho, acrescenta: "Não
devemos receber a comunhão como se fora um pão comum, ou uma bebida ordinária,
tendo sido nós instruídos pela palavra de Deus que aquele alimento da Eucaristia é a
carne e o sangue de Nosso Senhor.
No mesmo II século aparece Sto. Irineu, que, combatendo os hereges que negavam
a divindade de Jesus Cristo, diz: "Como é que eles hão e acreditar que a Eucaristia é o
Corpo do Senhor e o seu Sangue, se não confessam que Jesus Cristo é o Filho do
Criador do mundo?"(Contra Hereses c. 28). Como se dissera: quem nega a divindade
de Jesus Cristo, não pode confessar a sua presença real na Eucaristia. Era, pois,
doutrina corrente no século II a da presença real.
No terceiro século Tertuliano afirma claramente a presença real de Jesus Cristo na
hóstia com estas palavras: "A nossa carne se nutre do Corpo e Sangue de Cristo afim
de que a nossa alma se alimente de Deus”. (De carne ressurrectionis. 8).
Também Orígenes manifesta a sua fé na presença, real, dizendo: "Outrora foi dado
em figura como alimento o maná, mas hoje é, na realidade, a carne do Filho de Deus o
nosso verdadeiro alimento (Homilia VII no liv. os Números ).

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A estes testemunhos dos três primeiros séculos podemos acrescentar o seguinte:
Com espírito de denegração, que o ódio inspira, os gentios acusavam os cristãos de se
nutrirem das carnes de um menino, em horríveis festins que a luz do dia não devia
iluminar. Os primeiros apologistas repeliram com horror e indignação esta atroz
calúnia; ela, porém, é para nós um índice precioso da fé inabalável dos nossos
primeiros pais. As carnes vivas e puras de Jesus Cristo se tornavam, para os inimigos
mal informados, uma carne humana, carne de um menino.
No IV século S. Cirilo de Jerusalém, expondo aos catecúmenos a doutrina católica
sobre os sacramentos, declara que o pão e o vinho, depois da consagração, são o
Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, e por isso os cristãos, recebendo o Corpo e o Sangue
de Jesus Cristo, se tornam verdadeiramente seus concorpóreos e consanguíneos.
(Catechs. 19, 7).
No século V Sto. Agostinho assim afirma a presença real de Jesus Cristo na
Eucaristia: "Aquele Pão, que vedes no altar, santificado pela palavra de Deus, é o
Corpo de Cristo; e aquele vinho, que se contém no cálice, é o seu Sangue”. (Serm. 117).
E comentando o salmo 98 diz: "Ninguém come aquela carne sem a ter adorado”.
No mesmo século ergue-se a voz potente de S. Cirilo de Alexandria que,
associando-se à Carta Sinodal, que os Padres do Concilio Alexandrino dirigiram a
Nestório, diz: "Nós celebramos um sacrifício incruento na Igreja e somos santificados,
participando do mesmo Corpo sagrado e do Sangue precioso de Jesus Cristo, Redentor
de todos; porque não recebemos a sua carne como carne comum, e sim como a
própria carne do Verbo, que se fez homem para a nossa salvação (can. 8).
No sexto século podemos, entre outros, alegar como testemunha da presença real
Cassiodoro na França, Fortunato na África e S. João Clímaco na Ásia, que diz: "A Igreja,
recebendo os hereges, que abjuraram completamente as suas heresias, torna-os
dignos do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo e participantes deste santo Sacramento”.
(Gradus. 15).
Finalmente no século sétimo temos o testemunho de S. Isidoro de Sevilha e o de S.
Teodoro de Canterbury que entre os pecados que devem ser manifestados em
confissão enumera também o de receber indignamente o Corpo do Senhor.
Portanto, como cada qual pode ver, não é verdade que o dogma da presença real
de Jesus Cristo na hóstia fosse desconhecido antes do século VIII. Não, a cristandade,
desde o seu berço, sempre acreditou nesse dogma; e se acreditou foi porque o próprio
Jesus Cristo lh’o ensinou por meio dos seus Apóstolos.
Resta resolver alguma objeções que os incrédulos podem fazer. Ei-las:
— Como é possível que esteja Jesus presente naquela hóstia pequenina, naquele
diminuto espaço.
Sim, isto é um mistério de fé, mas porventura não os há também na natureza? Por
exemplo, explique quem puder, como é que a natureza com a verdura dos seus
campos, com seus montes, com o seu firmamento estrelado, com todas as suas
magnificências, tão perfeitamente se reflete na minha pupila, que é apenas um ponto
imperceptível; como é que uma árvore gigantesca esta contida numa insignificante
semente, como é que alguns grãos de pólvora colocados sob um castelo o manda
pelos ares num instante. Disto ninguém pode dar uma explicação cabal. Não é, pois, de
admirar, se não podemos explicar de que maneira esta Jesus numa pequenina hóstia.

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— Como podemos admitir, dizem outros, a mudança do pão e do vinho no Corpo e
Sangue de Jesus Cristo, se o pão e o vinho permanecem os mesmos, que antes quer
depois da consagração?
É de notar que uma coisa qualquer devemos distinguir os acidentes e a substância.
Os acidentes são os elementos variáveis da coisa; a substância é o elemento invariável
e faz com que a mesma seja o que é e não outra. Por exemplo, tenho aqui um pão cru.
Mando cozê-lo; é ainda o mesmo pão? Quanto à substancia é, somente mudaram a cor
e o sabor. — Parto este pão. Em cada uma das partes que o dividi, tenho sempre o
mesmo pão? Tenho. E então, são a mesma coisa um pão inteiro uma metade, uma
migalha? São a mesma coisa quanto à substancia, não o são em relação à quantidade.
— Outro exemplo: Eu sou sempre o mesmo que há 30 anos atrás. E entretanto se
alguém comparasse a minha pessoa com um retrato que naquele tempo mandei tirar,
diria que aquele não é o meu retrato, pois nele apareço menor, imberbe, sem cabelos
brancos, mais ágil, menos feio do que agora. Que mudou em mim? Mudaram os
acidentes, mas a substância permaneceu a mesma, por isso sou o mesmo pobrezinho
que há trinta anos atrás.
Daí se pode compreender que os nossos sentidos percebem apenas os acidentes e
não a substância de uma coisa. Ora, por força das palavras da consagração a
substância do pão e do vinho se convertem na substância do Corpo e do Sangue de
Jesus Cristo e permanecem os acidentes do pão e do vinho; isto é, a cor, o sabor, a
quantidade, a qualidade. Eis porque tanto antes como depois da consagração não
percebemos nenhuma mudança no pão e no vinho.
— Como se pode afirmar que o Corpo de Jesus, que esta no céu, ao mesmo tempo
se acha em todas as hóstias do mundo? Então Ele tem tantos corpos quantas são as
hóstias consagradas?
Não. Jesus tem um só Corpo. Não é o Corpo de Jesus que se multiplica e sim as
hóstias que contém esse Corpo divino. É um mistério este, uma verdade que não se
pode compreender. Podemos porém, encontrar na natureza comparações que nos dão
uma pálida idéia disto.
Pronuncio uma palavra diante de um grande auditório e todos os ouvintes recebem
inteira essa palavra, e se a pronunciasse ante o microfone de uma potente difusora
poderia ser ouvida em todas as partes do mundo.
Desta maneira a minha palavra, pronunciada uma única vez, se acharia ao mesmo
tempo presente um todas as partes do mundo.
E Jesus, que é Deus, não poderá fazer com que o seu Corpo se ache presente em
todas as hóstias consagradas no mundo?
Não, repito-o, não podemos compreender semelhante portento, mas Jesus Cristo o
afirmou. Por isso curvemos a fronte e digamos: Senhor, eu creio.

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XII
A Comunhão sob as Duas Espécies

A COMUNHÃO sob as duas espécies não é necessária para os simples fiéis.


A existência deste preceito não se pode provar nem pela Sagrada Escritura nem
pela Tradição.
Não se pode provar pela Sagrada Escritura.
Com efeito, examinemos os textos que se podem alegar em favor da sentença
contrária.
Jesus disse: "Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu
Sangue, não tereis a vida em vós".
Estas palavras, como todos o reconhecem, contém um verdadeiro preceito de
Nosso Senhor, pelo qual impõe a todos comerem a sua carne e beberem o seu sangue.
Logo também os leigos tem que tomar o vinho consagrado.
Resp. — Efetivamente Nosso Senhor aqui impõe a todos beberem o seu sangue,
mas não diz de que maneira deve ser bebido.
Ora, o sangue de Nosso Senhor se acha também sob as espécies do pão, visto que o
corpo de Jesus, que se acha no pão consagrado, é um corpo vivo, e um corpo vivo não
está separado do sangue.
Logo, cumprimos o preceito de Jesus, mesmo recebendo somente o pão
consagrado.
— Jesus disse, consagrando o vinho: "Bebei disto todos". Portanto também os
leigos devem beber do cálice.
Resp. — Estas palavras foram dirigidas unicamente àqueles a quem logo depois
disse: "Fazei isto em memória de mim", e dava assim; o poder de consagrar a SSma.
Eucaristia.
Ora, este poder foi dado somente aos Apóstolos e aos seus sucessores no
sacerdócio.
Portanto o preceito de beber do cálice foi imposto apenas aos sacerdotes, quando
consagram a SSma. Eucaristia, isto é, quando celebram a Santa Missa.
— Quando Jesus consagrou o pão, não disse: "Comei disto todos"; mas só
acrescentou estas palavras para o cálice. Não foi, porventura, para condenar
antecipadamente a negação do cálice aos simples fiéis?
Resp. — Quando Jesus deu o pão, não era preciso que acrescentasse: — Comei
disto todos — porque Ele mesmo fez as partes e a cada Apóstolo deu uma parte, como
atesta o Evangelho.
Mas quando se tratou do cálice, a coisa era diversa, porque consagrou somente um
cálice e queria que todos bebessem do conteúdo daquele cálice. Era pois, preciso, que
acrescentasse: "bebei disto todos" e queria, com isto dizer: "Cada um de vós beba uma
porção do conteúdo deste cálice, de modo que chegue para todos".

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Não somente pela Escritura não se pode provar a existência de um preceito, que
imponha a todos os fiéis beberem do cálice, mas também por ela se pode provar que
este preceito não existe.
Com efeito, Jesus diz: "Quem comer deste pão, viverá eternamente". (Jo. 6, 59); isto
é, promete a vida eterna também aos que comerem apenas o pão consagrado.
Ora, se houvesse um preceito para todos, impondo beberem também do cálice, não
teria, certamente feito esta promessa pois quem transgride mesmo um só preceito de
Jesus, não pode esperar a vida eterna.
Portanto é claro que este preceito não existe.
O que é confirmado também pelas palavras de São Paulo: "Quem come deste pão
ou bebe o cálice do Senhor indignamente, é réu do Corpo e do Sangue do Senhor". (I
Cor 11, 27).
De fato, se o Apóstolo tivesse julgado necessário que os fiéis comungassem sob as
duas espécies, teria dito: "Quem comer deste pão e beber o cálice do Senhor
indignamente, é réu do corpo e do sangue do Senhor": mas, pelo contrário, disse:
"Quem come deste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente.."
Por conseguinte, assim como a recepção indigna de uma espécie é suficiente para a,
condenação, assim também a recepção digna de uma só espécie basta para a salvação.
Como acabamos de ver pela Sagrada Escritura não se pode provar a existência de
um preceito que imponha a todos beberem também o cálice, mas antes pelo contrário
o oposto se pode provar.
— Mas ao menos pela Tradição se pode provar a existência deste preceito, isto é,
pela praxe da Igreja antiga.
Não. A Igreja, desde os primeiros tempos, nunca pensou que existisse este preceito,
pois, se a comunhão, nos primeiros séculos, era dada ordinariamente sob as duas
espécies, nem por isso, se desconhecia o costume de dá-la sob uma só espécie.
Assim, por exemplo, refere Eusébio, (Hist. liv. 6, cap. 44) que, estando para morrer
o abade Serapião, S. Dionísio de Alexandria lhe enviou, por um dos seus sacerdotes, a
sagrada Comunhão sob as espécies do pão, mandando-lhe que a desse ao moribundo,
umedecida em água. Do mesmo conta S. Paulino, biógrafo de Sto. Ambrósio, que Sto.
Honorato, bispo de Vercelli, levou a Sto. Ambrósio, o Corpo do Senhor, o que apenas
feito, expirou o Santo. — Também as crianças comungavam na antiga Igreja sob uma
das duas espécies. Assim refere Nicéforo (Hist. Eccl. liv. 3, cap. 7). E em tempo de
perseguição, como atesta Tertuliano (De Uxoribus liv. 2, cap. 5) os fiéis levavam
consigo o pão consagrado para comungarem antes do martírio.
Mas, dirá alguém, o Papa Gelásio não ordenou a todos os católicos que recebessem
a comunhão sob as espécies do vinho?
Sim. Mas não porque julgasse ser isto obrigatório por preceito de Nosso Senhor. Ele
deu esta ordem com o fim de descobrir os maniqueus, que consideravam o vinho
como criatura do demônio. Esses hereges, ocultando os seus princípios aproximavam-
se, com os católicos, da Santa Comunhão. Então o Papa ordenou que se desse a
Comunhão aos fiéis sob as duas espécies do pão e do vinho, supondo que, por esse
meio, impediria os hereges de profanarem a SSma. Eucaristia.

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Fica, pois, provado que não existe preceito algum da parte de Nosso Senhor, que
imponha aos simples fiéis beberem o cálice. Por conseguinte a Igreja tem liberdade de
concedê-lo ou de negá-lo, conforme julgar oportuno.
Os motivos que levaram a Igreja a proibir o uso do cálice, são os seguintes:
Evitar o derramamento do vinho consagrado, o que, aliás, seria quase inevitável na
comunhão de pessoas já muito idosas, trêmulas, nervosas, doentes e muito jovens.
Para afastar o perigo de contágio, que ameaçava, se todos indistintamente
devessem beber do mesmo cálice.
Para facilitar a Comunhão aos abstêmios e aos que por graves motivos sentissem
repugnância de participar com outros do mesmo cálice.
Para facilitar a Comunhão aos doentes, que, aliás muitas vezes não poderiam
comungar, por causa da dificuldade de conservar ou de lhes levar o vinho consagrado.
Para, prover as dificuldades de se encontrar vinho em alguns lugares e não onerar
com despesas supérfluas paróquias muito pobres.
Por estes motivos e outros ainda, que enumera o catecismo romano, a Igreja julgou
oportuno suprimir o cálice aos simples fiéis e também aos clérigos, quando não
celebram.
Mas ninguém afirme que, com isto, transgrediu um preceito de Nosso Senhor; pois,
assim como provei acima, este preceito não existe.

XIII
O santo sacrifício da Missa

A SANTÍSSIMA Eucaristia não é somente um sacramento, mas também um


sacrifício.
Sacrifício, em geral, é a oferta de alguma coisa a Deus, com a destruição da mesma,
para honrá-Lo e adorá-Lo como Senhor supremo.
Houve desde o começo do mundo sacrifícios e o Antigo Testamento nos mostra que
eles foram rigorosamente ordenados por Deus.
Estes sacrifícios, porém, deviam ser abolidos, porque não passavam de figuras do
verdadeiro sacrifício da Nova Lei, tanto assim que Daniel predisse o fim dos tempos
com bastante clareza. (c. IX, v. 26-27).
O sacrifício da Nova Lei e do próprio Jesus Cristo no patíbulo da cruz. E quanto a isso
não há divergência alguma entre católicos e protestantes.
A divergência consiste nisso que nós católicos sustentamos que este sacrifício é
comemorado, representado, reproduzido na Santa Missa, e que, por isso mesmo, a
Santa Missa, é um verdadeiro e próprio sacrifício, o que de nenhuma forma admitem
os protestantes.
Quem é que tem razão? Consultemos a Bíblia.

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Ela nos demonstra que a Santa Missa é um verdadeiro e próprio sacrifício.
No Sl. 109 lemos de Jesus Cristo: "Jurou o Senhor e não se arrependerá: Tu és
sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque.
Um sacerdócio difere de outro sacerdócio em razão de sacrifício; pois, conforme
nos diz S. Paulo na Epístola aos Hebreus, cap. 5, o sacerdócio é instituído para oferecer
sacrifícios a Deus.
Se, pois, Jesus Cristo é sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, resulta que
deve oferecer um sacrifício semelhante ao que oferecia Melquisedeque. Ora, lemos no
Gênesis (16, 18) que o sacrifício de Melquisedeque consistia em oferecer pão e vinho.
Portanto Jesus Cristo devia oferecer o seu sacrifício sob as espécies do pão e do vinho.
O que se realiza na Santa Missa. Logo a Missa é um verdadeiro sacrifício.
Em Malaquias (1, 10) lemos: "Quem há entre vós que feche as portas e acenda o
lume do meu altar gratuitamente? O meu afeto não esta em vós, diz o Senhor dos
exércitos, nem eu receberei algum donativo da vossa mão. Porque desde o nascente
do sol até o poente é o meu nome grande entre as gentes e em todo lugar se sacrifica
e se oferece em meu nome uma oblação pura.
O profeta aqui prediz uma oblação, um sacrifício que no N. T. deve substituir os
sacrifícios judaicos e, descrevendo os caracteres, diz: a) que será oferecido desde o
nascimento do sol até o poente, que é como dizer, em toda a parte; b) Entre as gentes,
isto é, entre povos distintos dos judeus; c) E que será mundo.
Ora, isto convém somente à Santa Missa.
Portanto a Santa Missa é um verdadeiro sacrifício. Vamos explicar o argumento.
Que o profeta fale aqui de um sacrifício que será oferecido no Novo Testamento, é
claro, pois ele prediz que esse sacrifício substituirá os sacrifícios dos judeus, que serão
repudiados por Deus; o que não se deu somente no Novo Testamento; depois da vinda
de Nosso Senhor.
Igualmente é claro que os caracteres deste sacrifício convêm à Santa Missa. De fato
a Santa Missa é oferecida em toda parte, pois em toda parte há sacerdotes que
celebram; é oferecida entre as gentes, isto é, entre povos distintos dos judeus, pois
nós católicos, que oferecemos a Santa Missa, não pertencemos ao povo judaico; e é
uma oblação munda, isto é, pura e aceita a Deus, pois é o próprio Jesus Cristo que se
oferece a Si mesmo.
Por fim é claro que estes caracteres não convém a nenhum outro sacrifício: a) não
são sacrifícios judaicos da antiga Lei, pois, se ofereciam somente no templo de
Jerusalém e além disso o profeta diz abertamente que deviam ser repudiados; b) não
aos sacrifícios dos pagãos, pois não eram puros, nem aceitos a Deus. c) não ao
sacrifício da Cruz, pois foi oferecido num só lugar e entre os judeus.
Portanto, das duas uma: ou a Santa Missa é um verdadeiro sacrifício, ou o profeta
errou, predizendo uma coisa que não havia de ter cumprimento. Quem pode, porém,
afirmar isto? É, pois, evidente que a Santa Missa é um verdadeiro e próprio sacrifício.
Tudo isto não é verdade, replicam os protestantes, pois a oblação munda de que
fala o profeta, são as preces e as boas obras que em toda a parte os fiéis oferecem a
Deus.

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Esta objeção de nada vale, pois, as preces e boas obras não constituem um sacrifício
propriamente dito, que é oferta de coisa sensível, com alguma destruição da mesma,
feita legitimamente a Deus, para demonstrar o seu próprio domínio.
Ora, pelo contrário, o profeta anuncia uma oblação que será um verdadeiro e
próprio sacrifício, de fato a palavra hebraica — minchah — traduzida: oblação pura —
significa um verdadeiro e próprio sacrifício. Além disso, o profeta fala de um sacrifício,
que ainda não existia e que só começaria a ser celebrado no tempo de Jesus Cristo; ao
passo que os sacrifícios espirituais de louvores e de obras, desde o começo do mundo,
se ofereciam a Deus pelos justos.

O terceiro argumento, para provarmos que a Santa Missa é um verdadeiro e próprio


sacrifício, nos é oferecido pelas palavras com que Nosso Senhor instituiu a Santa
Eucaristia.
Com efeito, Ele não disse simplesmente: “Isto é o meu Corpo, isto é o meu
Sangue"e sim "Isto é o meu Corpo que por vós é dado", a saber: agora mesmo se dá
por vós; "este cálice é o novo Testamento em meu sangue, que é derramado para
remissão dos pecados" a saber: agora mesmo se derrama.
Assim lemos no texto original de Lc. (22, 19-20).
Ora, dar o corpo e derramar o Sangue pela remissão dos pecados, significa na
linguagem da Divina Escritura, oferecê-los em sacrifício.
Logo, Jesus instituindo a SSma. Eucaristia, ofereceu um sacrifício; segue-se,
portanto, que a Santa Missa é um verdadeiro sacrifício, pois, os sacerdotes na Santa
Missa fazem o que Jesus fez na última Ceia, conforme o mandamento do próprio Jesus:
"Fazei isto em memória de mim".

Enfim, o próprio S. Paulo na sua primeira Epístola aos Coríntios (10, 16) atesta que
os primeiros cristãos ofereciam a Deus o sacrifício da Missa.
Eis o texto: "O cálice da benção ao qual bendizemos, não e comunhão do Sangue de
Cristo?
O pão que partimos, não é a participação do Corpo de Cristo?.... Considerai a Israel
segundo a carne; não são participantes do altar aqueles que comem dos sacrifícios?....
não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa do demônio."
O Apóstolo quer, por estas palavras, afastar os cristãos de comerem das vítimas
oferecidas nos altares dos falsos deuses dos pagãos. Para este fim assim argumenta:
Quem come das vítimas oferecidas num altar, por isto mesmo participa deste altar,
isto é, participa do culto que se tributa à divindade adorada neste altar, e confirma a
sua asserção pelo exemplo do povo de Israel que, comendo das vítimas oferecidas no
templo de Jerusalém, por isso mesmo participava do culto tributado a Deus nesse
templo. Ora, se isto é verdade, como podeis vós, que fostes participantes da mesa do

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Senhor, onde o cálice que bebemos é a comunhão do Sangue de Cristo e o pão que
partimos é a participação do Corpo de Cristo, como podeis, digo, comer das vítimas
oferecidas nos altares pagãos e, por conseguinte, participar do culto dos demônios,
pois as divindades dos pagãos são demônios? Não vedes que não podeis participar da
mesa do Senhor e da mesa dos demônios?
Portanto, segundo São Paulo, os primeiros cristãos tinham, assim como os judeus e
os pagãos, um altar em que sacrificavam a Deus, e a vítima deste altar era o Corpo e o
Sangue de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, como é evidente pelo texto; ou
por outras palavras, os primeiros cristãos, assim como nós, celebravam o Santo
sacrifício da Missa.

A mesma doutrina repete o Apóstolo, quando na sua Epístola aos Hebreus (13, 10)
diz: "Nós temos um Altar, do qual não têm faculdade de comer os que servem ao
tabernáculo, isto é, os judeus".
Qual é este altar? Não pode ser o da Cruz, pois o Apóstolo aqui fala de um altar,
cuja vítima pode ser comida; e Jesus, a vítima do altar da Cruz, não o pode ser da
forma natural em que morreu.
Logo é o altar que oferece a Missa.
— Mas não diz o Apostolo S. Paulo na sua Epístola aos Hebreus que Jesus Cristo se
ofereceu uma só vez e consumou para sempre, com esta única oferenda, a obra da
expiação?
Sim, disse; e por este motivo não deve ser oferecido outro sacrifício, para completar
aos méritos da Redenção.
Mas a Santa Missa não é um sacrifício diferente do sacrifício da Cruz: É o próprio
sacrifício da Cruz; nem se oferece para completar os méritos da Redenção, e sim para
nos serem aplicados estes méritos.
Outro argumento com que se pode provar que a Santa Missa é um sacrifício se
deduz na Tradição.
Segundo a Tradição o apóstolo Sto. André disse ao pro cônsul, que o conjurava a
sacrificar aos ídolos: "Eu ofereço todos os dias no altar do verdadeiro Deus onipotente
não a carne dos touros, nem o sangue dos bodes, mas o Cordeiro Imaculado de Deus;
e quando todo o povo dos fiéis se alimentou com a Carne consagrada, o Cordeiro que
foi oferecido fica sempre intacto e vivo".
Na sua primeira apologia ao Imperador romano, S. Justino que faleceu († 150) fez
menção das partes do sacrifício cristão: leitura e explicação da Sagrada Escritura,
oferta do pão e do vinho, transubstanciação das ofertas e sua distribuição aos fiéis.
Quando o Papa São Xisto era levado ao suplício o diácono São Lourenço seguia-o
dizendo: "Padre, Santo, vós partis sem mim, vós que todavia nunca oferecestes o santo
sacrifício sem a minha assistência".
Os mais antigos doutores da Igreja falam do santo sacrifício da Missa.

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Santo Irineu († 202) diz: "O sacrifício da nova aliança é a Ceia; Jesus Cristo instituiu-a
não só como sacramento, mas também como sacrifício em todo Universo."
São Cipriano, Bispo de Cartago († 258) escreve: "Os Padres da Igreja oferecem o
sacrifício exatamente como Cristo ofereceu" e acrescenta: "Nós oferecemos todos os
dias, nas épocas de perseguição e nas de paz, o sacrifício pelo qual preparamos os fiéis
a imolarem-se como vítimas pelo martírio".
"O único sacrifício — diz S. Leão I — do Corpo e do Sangue de Cristo substitui todos
os outros sacrifícios".
Todos os afrescos das catacumbas provam este sacrifício, assim como as mais
antigas liturgias, isto é, os livros que encerram as orações usadas neste sacrifício e as
cerimônias que se deviam observar para o oferecer.
Este testemunho e muitos outros, que poderia alegar, penso que sejam suficientes
para nos convencermos de que a cristandade sempre acreditou na Missa como
sacrifício.
Quem primeiro negou esta verdade foi Lutero e ele mesmo diz que foi o diabo que
o impeliu a fazê-lo.
Que pena, pois, é abandonar a doutrina da Igreja, para abraçar uma doutrina
sugerida pelo demônio!
Leitor amigo, jamais cometas semelhante estultice.

XIV
Confissão
Palavras da instituição

A CONFISSÃO para quem cometeu faltas graves após o batismo, não é facultativa,
mas estritamente necessária, tão necessária que nenhuma razão nos pode eximir de
fazê-la, a não ser que se torne impossível. E por que? Porque Deus assim o
estabeleceu. Com efeito, não dos homens, mas do próprio Jesus Cristo teve origem a
confissão.
A Sagrada Escritura, a história e a razão se unem para demonstrar esta verdade do
mais evidente e incontestável modo. Neste capítulo citarei apenas as provas
escriturísticas.
Abro o Santo Evangelho e encontro em S. João (20-21 e seg.) que Jesus, depois da
sua ressurreição, aparece de improviso diante dos apóstolos, que estavam reunidos no
Cenáculo, por temerem aos judeus e lhes augura a paz: "A paz esteja convosco" e
depois diz: "Como o Pai me enviou a mim, assim também eu voz envio a vós". Assim
dizendo, soprou sobre eles e acrescentou: "Recebei o Espírito Santo, aqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles quem retiverdes, ser-lhes-ão
retidos".
Ora os protestantes dizem que Nosso Senhor aqui fala apenas do perdão das
ofensas recebidas e assim explicam estas palavras: "Perdoando eu aos meus inimigos,
também Deus lhes perdoará, não lhes perdoando eu, também Deus não lhes
perdoará". Esta interpretação, porém, é absurda e ridícula, porque, suponhamos, por

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exemplo, que alguém me injurie: Perdoando-lhe eu por amor de Jesus Cristo, talvez
Deus lhe perdoe, se não estiver ele sinceramente arrependido? Não, já que não há
perdão algum diante de Deus sem arrependimento. E se eu lhe negar o perdão, ainda
que m'o peça entre lágrimas, porventura Deus também l'ho recusará? Não, já que esta
escrito que Deus nunca despreza o coração contrito e humilhado. Não é, pois,
verdade que, perdoando eu aos meus inimigos, Deus também lhes perdoe, e não lhes
perdoando eu, Deus também não lhes perdoe.
Ademais, quantas vezes temos que perdoar aos nossos inimigos as ofensas
recebidas? Não temos que perdoar sempre? Logo é claro que no texto citado, Jesus
não fala do perdão das ofensas recebidas, pois deu não somente o poder de perdoar
pecados, mas igualmente o poder de os reter, isto é, não podemos deixar de perdoá-
las.
Qual pois o verdadeiro sentido das palavras citadas por Nosso Senhor? Ei-lo:
Segundo a doutrina católica, Jesus quis, por estas palavras dar aos discípulos e,
neles, aos sacerdotes, o verdadeiro poder de perdoar ou reter os pecados cometidos
contra Deus. De fato, envia os seus discípulos com o mesmo poder que Ele tinha
recebido de seu Pai, dizendo-lhes claramente: "Como o Pai me enviou a mim, assim
também eu vos envio a vós".
Ora, Jesus Cristo, mesmo como homem, foi enviado com o poder de perdoar os
pecados; tanto isto é verdade que operou um milagre, para provar este poder. (Cf. Lc
5, 25 e sgs.)
Portanto, também os discípulos foram enviados com este mesmo poder.
Além disso, trata-se de um perdão, cujo autor principal é o Espírito Santo; dizendo
Jesus: "Recebei o Espírito Santo", como se quisesse dizer: "O poder de perdoar os
pecados é poder divino; pois bem, recebei este poder, recebei o Espírito Santo;
aqueles a quem perdoar os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem
retiverdes ser-lhes-ão retidos ".
Ora, o Espírito Santo verdadeiramente perdoa os pecados cometidos contra Deus.
Logo os discípulos receberam o poder de conceder este perdão.
E de resto o próprio bom senso nos diz que assim hão de ser interpretadas as
palavras de Jesus. Suponhamos, por exemplo, que um patrão diga ao seu
administrador: "Todas as dívidas que perdoardes, eu também as darei por perdoadas;
e as que não perdoardes, tão pouco eu as perdoarei". Pergunto eu: Este
administrador, não por si mesmo, mas pela faculdade recebida, tem ou não o direito
de perdoar as dívidas contraídas com o seu Senhor? Tem, e seria ridículo negá-lo.
Pois bem, o pecado é uma dívida contraída para com Deus e com relação a esta
dívida, Jesus disse aos seus discípulos, aqueles a quem perdoardes os pecados ser-
lhes-ão perdoados, aqueles a quem retiverdes, ser-lhes-ão retidos".
É pois certo que os discípulos receberam o poder de perdoar os pecados cometidos
contra Deus.
Somente eles o receberam? Não: Jesus lhes confiou este poder para que o
transmitissem aos seus sucessores que hão de durar até o fim dos séculos.

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De fato, diz São Paulo (II Cor 5, 18) Todas as coisas vêm de Deus que nos reconciliou
consigo por meio de Jesus Cristo e nos deu a nós o ministério da reconciliação, isto é,
o ministério do perdão dos pecados.
Do texto acima se deduz que Jesus deu o poder de perdoar os pecados e que este
poder não foi comunicado somente aos apóstolos, mas também aos demais
sacerdotes, pois S. Paulo não viveu com Jesus.
Além disso, Jesus instituiu os meios de salvação não somente para os tempos
apostólicos, mas para todos os tempos.
Acaso não pecamos também nós, assim como pecavam os contemporâneos dos
apóstolos?
Portanto o poder de perdoar os pecados não devia acabar com a morte dos
Apóstolos.
Foi também somente aos Apóstolos que Nosso Senhor disse: "Ide, batizai", "Ide,
instruí todas as gentes".
E todos compreendem que não somente os Apóstolos receberam estes poderes,
mas os receberam para transmiti-los aos seus sucessores. O mesmo se diga do poder
de perdoar os pecados; enquanto houver pecadores no mundo, sempre haverá na
Igreja estes poderes. E quem são a este respeito os sucessores dos Apóstolos? São os
sacerdotes, assim como nos atesta as história do todos os séculos do cristianismo.
Mas — dizem os protestantes, quem pode perdoar os pecados é somente Deus.
E quem jamais o contestou? Sem dúvida, quem pode perdoar uma ofensa é
somente o ofendido; se, por exemplo, alguém me insultar, sou eu quem lhe pode
perdoar e não outrem. Eu, porém, posso perdoar de dois modos ao meu inimigo: por
mim mesmo, dizendo-lhe: a ofensa que me fizeste esta perdoada e posso também me
servir de um intermediário que em meu nome lhe conceda o perdão. Também neste
caso sou eu quem perdoa, mas por meio de outrem.
Igualmente se diga em nosso caso: Quem perdoa os pecados é somente Deus; Ele,
porém, pode perdoá-los por si mesmo e pode também se servir do ministério de um
homem, para fazer as pazes com o pecador e lhe conceder o perdão. E de fato aprouve
a Nosso Senhor escolher este segundo modo, pois, como acabo de demonstrar,
confiou aos homens o poder de perdoar os pecados.
Dai a necessidade da confissão; isto é, a necessidade de declararmos os nossos
pecados, afim de que sejamos perdoados, porque, note-se bem: Jesus confiou aos seus
ministros dois poderes: o de perdoar os pecados e o de os reter. Portanto eles devem
conhecer quais são os pecados que devem ser perdoados e quais os que devem ser
retidos.
Mas, podem conhecê-los, se o próprio pecador não lh'os manisfestar? Não, não
podem.
Devemos, pois, concluir que enquanto dava Jesus aos seus ministros os poder de
perdoar e de reter os pecados, ao mesmo tempo impunha aos fiéis a obrigação de
confessá-los aos sacerdotes, afim de que eles pudessem com justiça exercer este
sublime ministério.
Aqui, porém, nasce uma dificuldade: a confissão pode ser pública e secreta ou
auricular: É pública quando se manifestam publicamente os pecados; secreta ou

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auricular quando se os manifestam somente ao sacerdote, assim como se costuma
hoje. Ninguém é capaz de provar que Ele proibisse a confissão secreta, nem que
ordenasse a pública.
A Igreja pode, portanto, escolher uma ou outra, conforme lhe aprouver.

XV
A Confissão
Sua Instituição Divina Provada pela Tradição e pela Razão

S. João na sua primeira Epístola diz: "Se confessarmos os nossos pecados, Deus é
fiel e justo para nos perdoar esses nossos pecados, e nos purificar de toda iniquidade".
Ele aqui não diz a quem devemos confessar os nossos pecados; somente apresenta a
confissão como condição para que Deus seja fiel em manter a sua promessa de
perdoar. Mas por um lado, em nenhum lugar do Novo Testamento lemos que Jesus
tenha prometido perdoar os pecados aos que se confessassem somente a Deus; e por
outro lado, o mesmo Apóstolo declara no seu Evangelho que Jesus prometeu dar por
perdoados os pecados que perdoassem os seus ministros; pelo que cumpre dizer que
São João fala aqui numa confissão feita aos homens e não somente a Deus.
De resto S. Tiago diz abertamente que a confissão deve ser feita aos homens e não
somente a Deus: Confessai uns aos outros os vossos pecados, para serdes salvos." (3,
16).
A que classe de homens devemos confessar nossos pecados? Sem dúvida àqueles
que receberam o poder de perdoá-los, como resulta de outros textos da Sagrada
Escritura. Por ex., S. Lucas nos atos dos Apóstolos nos refere que então uma grande
multidão de fiéis vinham aos pés dos Apóstolos, vinham até onde estavam Paulo e
Barnabé, para confessarem e declararem os seus pecados. (Atos 19, 18).
É, pois, certo, pela própria Sagrada Escritura, que a confissão era praticada pelos
cristãos desde os primeiros tempos.
Desde então vemos a confissão praticada em todos os séculos posteriores.
Desta divina instituição fala, no primeiro século do cristianismo, S. Clemente
Romano, que, exortando numa sua Carta, os fiéis de Corinto a recorrerem à
misericórdia divina, dizia-lhes: "Enquanto estamos neste mundo arrependemo-nos de
todo o coração, porque depois da morte não podemos mais confessar os nossos
pecados, nem fazer penitência".
Desta divina instituição, fala, no segundo século, Tertuliano, que assim adverte os
que, por vergonha, deixam de acusar faltas graves na confissão: "Se podemos
esconder nossos pecados aos homens, talvez possamos igualmente escondê-los aos
olhos de Deus? Que será mais conveniente, perdermo-nos, por esconder os nossos
pecados, ou salvarmo-nos, declarando-os? (De Poenc. c. 9).
No mesmo século Sto. Irineu, falando das mulheres, que Marco Gnóstico seduzira
por meio de filtros e feitiçarias, divide-as em três classes: umas, voltando ao seio da
Igreja católica, confessavam-se de se terem deixado levar por um louco amor ao seu
sedutor; outras, não se contentando com essa confissão secreta, confessavam

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publicamente o próprio pecado; havia finalmente outras que, por vergonha, deixavam
de se confessar e se entregavam ao desespero. (Ad. haer 1, 13).
No terceiro século, S. Cipriano assim exorta os pecadores: "Confesse cada um os
próprios pecados durante o tempo da vida presente, em que a confissão é ainda
possível, em que a satisfação e a remissão feita pelos sacerdotes ainda é aceita a
Deus."(De lapsis, 29).
No século IV Sto. Ambrósio, dirigindo-se ao penitente, diz: "Apresenta-te ao
sacerdote, mostra-lhe a tua ferida, afim de que ele possa te curar. Deus certamente
conhece o teu mal, mas espera a confissão dele pela tua própria boca". E acrescenta:
"Não esperes ser acusado; se tu te acusas a ti mesmo, não terás outro acusador a
temer, porque a confissão humilde dos pecados, nos livra das nossas culpas". (De
Poen. liv. 2, c.1).
No século V Sto. Agostinho assim se exprime a respeito da confissão: "Ninguém
diga: peco em segredo, peco diante de Deus; Ele que conhece o meu coração, me
perdoará. Jesus Cristo disse, pois, sem razão: o que desligardes na terra, será desligado
no céu? Foram as chaves dadas, sem fim algum, à Igreja?"E conclui: "Venha, pois, o
pecador aos sacerdotes, que receberam o poder de perdoar e deles aceite o modo de
penitência". (De agone crist. 31, 33).
E a estes testemunhos dos primeiros séculos poderíamos acrescentar os outros de
S. Leão, papa, de São Bernardo, de Sto. Anselmo, como também dos Concílios de
Chalon, de Paris, de Mogúcia e chegar até ao Papa Inocêncio III, que os protestantes
querem fazer crer inventor da Confissão, só porque no Concílio de Latrão ordenou que
todos os fiéis dotados de uso da razão, se confessassem, ao menos, uma vez cada ano.
— Mas pense como quiser, Lutero — dizia o mesmo Henrique VIII, ainda que
herege, as provas são evidentes demais: não por costume dos povos, não por
instituição de Pontífices ou de Padres, e sim por Deus teve origem a confissão".
E na realidade podemos, falando com razão, negar a instituição divina da confissão
e sustentar que foi inventada pelos padres? Não; seria um absurdo, porque, se tivesse
sido inventada pelos padres, poder-se-ia indicar o seu autor. De fato a história, que
registra os nomes dos que fizeram alguma invenção, sem dúvida nos teria transmitido
também o nome daquele que inventou a confissão, tanto mais que se tratava dum
negócio de suma importância. Ora, pelo contrário, ninguém pode indicá-lo. Logo
grande estultice é dizer que a confissão foi inventada pelos padres, ao passo que não
se sabe indicar o seu nome.
Não basta; a razão mostra outrossim que ninguém, senão Deus, podia inventar a
confissão. De fato, quem, fora Deus, a teria inventado? Os simples fiéis? Não; eles
nunca teriam imposto a si mesmo uma obrigação que tanto humilha o orgulho
humano e a que muitos hoje também recusam sujeitar-se.
Talvez os sacerdotes? Mas que motivo, pergunto eu, que motivo os teria podido
induzir a impor aos outros este jugo? O interesse? — Ninguém tem coragem de
afirmá-lo: na Igreja jamais se costumou receber recompensa para administrar este
sacramento.
O prazer? Belo prazer deveras, estar sentado longas horas num confessionário, para
ouvir sempre as mesmas misérias humanas!

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A curiosidade? Meu Deus! Que querem saber os sacerdotes? Como vão os negócios
do penitente, quais são os segredos de sua família? Mas todos sabem que ele não se
importa com tudo isto. Ele não quer saber senão os pecados, afim de perdoá-los em
nome de Deus. Se a curiosidade tivesse induzido os sacerdotes a instituírem a
confissão, nunca teriam imposto a si mesmos a obrigação de guardar os segredo de
tudo o que ouvem na confissão a custa até da própria vida.
Mas suponhamos, se quiserdes, que um sacerdote, ou bispo ou padre, tivesse um
dia forcejado por introduzir a confissão: como teria podido induzir os outros abraçá-la?
Pensais que ninguém teria reclamado, dizendo: — porque tantas peias para nós?
Porque dificultar-nos, desta maneira, o caminho do céu? Por que impor-nos uma
obrigação que nossos pais desconheceram?
E ainda que esse sacerdote tivesse podido introduzir essa novidade na sua
freguesia, na sua diocese, como teria podido propagá-la, universalizá-la, de modo que
se sujeitassem a ela simples fiéis, padres, bispos, cardeais, papas, reis, príncipes,
imperadores, sábios, como na realidade se sujeitaram e se sujeitam?
Portanto, como cada qual pode ver, querer negar a instituição divina da confissão é
querer ir não somente contra a Sagrada Escritura e a Tradição, mas também contra a
razão e o bom senso.
O pecado é um ato de orgulho contra Deus: Queremos preferir a nossa vontade à
própria vontade de Deus; e Deus, para conceder-nos o perdão, exige a humilhação
desse orgulho. Ora é já uma boa humilhação ajoelharmo-nos diante de um outro
homem como nós, batermos no peito e dizermos: Eu cometi este pecado. Eis porque
Deus quer a confissão: para curar o nosso orgulho.

XVI
Extrema Unção

A EXTREMA UNÇAO é um Sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para
alívio espiritual e também corporal dos cristãos gravemente enfermos.
Chama-se "Extrema Unção", porque é a última unção que a Igreja subministra ao
cristãos depois do Batismo e do Crisma.
O rito da Extrema Unção é descrito por S. Tiago nos seguintes termos:
"Adoece algum de vós? Chame os sacerdotes da Igreja, os quais orarão por ele e o
ungirão com óleo em nome do Senhor. E a oração cheia de fé salvará o doente; e o
Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhes-ão perdoados". (Tiago, 5,14).
Este rito é um Sacramento, isto é, um sinal sagrado produtivo da graça; instituído
por Nosso Senhor.
a) É um sinal sagrado, pois S. Tiago fala de prece e de unção que se faz para, aliviar
o doente e lhe perdoar os pecados.
b) É um sinal produtivo da graça, pois S. Tiago afirma que, de fato, são perdoados
aos doentes os pecados.
c) É um sinal instituído por Nosso Senhor, pois só Ele, por um meio material, pode
comunicar a graça, qual é a de salvar a alma, apagando os pecados. — Alem disso o

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Santo não fala duma coisa nova, mas recomenda, um rito já conhecido e praticado. Se
se tratasse de um rito novo teria devido determinar o modo de administrá-lo e indicar
as orações que se devem recitar. Ele tencionou somente regular um uso pacífico,
praticado desde os primeiros tempos da Igreja e que não pode ter como autor senão
Jesus Cristo.

Toda a tradição católica concorda em considerar a Extrema Unção com um


Sacramento instituído por Jesus Cristo. Já na Didaké (documento do I século do
cristianismo) se acena a este Sacramento por estas palavras: «A respeito da unção, dai
graças desta maneira: "Nós Vos agradecemos, Pai Nosso, pela unção que nos tendes
indicado por meio de Jesus Cristo Vosso Filho; glória a vós nos séculos. Amen". —
Orígenes (século III) tratando do capítulo V de S. Tiago, diz abertamente que a Extrema
Unção é um Sacramento.
— S. João Crisóstomo (século IV) fala da mesma forma na Homília sobre o
sacerdócio n. 6.
Inocêncio I (século V) na, sua epístola a Decêncio, escreve: "Não há dúvida que se
devam entender, as palavras de S. Tiago, dos fiéis doentes, a serem ungidos com o
santo óleo do Crisma, preparado pelo Bispo não só para os sacerdotes, mas para,
todos os cristãos".
E aqui façamos ponto, reconhecendo que, também a este respeito os protestantes
não seguem a Bíblia, pois, se a seguissem, admitiriam este Sacramento, de que fala S.
Tiago.

XVII
Ordem

Todos nós, que recebemos o batismo fazemos parte da Igreja. Mas nem todos
somos iguais. Há alguns na Igreja que se chamam sacerdotes e que exercem poderes
especiais, tais como: O de reger os fiéis, pregar o Evangelho, consagrar a SSma.
Eucaristia, perdoar os pecados.
Pergunta-se: a) Foram eles instituídos por Jesus Cristo? b) O rito pelo qual um
cristão entra a fazer parte do sacerdócio, é um Sacramento?
A estas duas perguntas temos que responder afirmativamente.
Eis as provas:
a) Jesus Cristo instituiu o sacerdócio católico.
De fato, desde o começo de sua vida pública chamou alguns discípulos, entre os
quais André, João, Pedro, Felipe, Natanael, a quem, em seguida, confiou o ofício de
santificar os homens. "Vinde após mim, e vos farei pescadores de homens".(Mt 1,19).
Pouco depois, tendo passado uma noite inteira em oração, chamou os discípulos, e
escolheu doze dentre eles, que também chamou Apóstolos. Eram estes que o seguiam

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em toda a parte e a quem instruía de maneira toda especial, tanto assim que lhes disse
certa vez: "A vós foi concedido conhecer o mistério do reino de Deus, mas aos outros
se lhes fala por parábolas". (Lc 9, 10).
Somente a estes, na última ceia, deu o poder de consagrar o seu corpo e o seu
sangue, dizendo-lhes: "Fazei isto em memória de mim". (Lc 22,19). Somente a estes no
dia da Sua ressurreição deu o poder de perdoar os pecados. (Jo 20, 22); somente a
estes deu o poder de pregar o Evangelho, de receber súditos na Igreja por meio do
batismo e de cuidar que as leis divinas fossem observadas. (Mt 28, 18-20).
E note-se, outrossim, que Jesus lhes deu estes poderes especiais para que os
transmitissem aos seus sucessores por isso os Apóstolos tinham cuidado de deixar nos
lugares, que tinham evangelizado, quem continuasse o seu ministério. Assim, por
exemplo, lemos de S. Paulo, que constituía nas várias Igrejas que tinha fundado,
presbíteros, cujo ofício era "governar a Igreja de Deus". (Atos 20, 28), "dispensar os
mistérios de Deus"(I Cor 4) e "oferecer sacrifícios em nome de todo o povo". (Hebr. 5).
Portanto, o sacerdócio católico vem de Jesus, pois sacerdote é justamente aquele
que exerce estes ofícios na Igreja.
b) O rito pelo qual um cristão passa a fazer parte do sacerdócio, é um sacramento.
Isto se prova especialmente pelas palavras que S. Paulo dirigiu a Timóteo: "Não
desprezes a graça, que está em ti, que te foi dada pela profecia, com a imposição das
mãos do presbitério"(I Tim. 4,14); "Eu advirto que ressuscites a graça de Deus, que
esta em ti pela imposição das minhas mãos". (II Tim. 1, 6).
Desse testemunho se segue: a) que os ministros da Igreja são constituídos pela
imposição das mãos, por isso como um sinal sensível; b) por um sinal sensível
produtivo da graça, pois abertamente se declara que por esta imposição das mãos,
comunica-se a graça; c) por um sinal sensível instituído por Jesus Cristo, pois só Ele
pode anexar a graça a um sinal sensível. E de fato, o Senhor, que já tinha escolhido os
Apóstolos e de maneira especial os tinha educado, na última ceia conferiu aos mesmos
o poder e a graça de consagrar, quando lhes disse: "Fazei isto em memória de mim"; e,
depois da ressurreição, o poder e a graça de perdoar os pecados: "Aqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados; aqueles a quem os retiverdes, ser-lhe-
ão retidos".
Portanto, o rito, pelo qual se confere o sacerdócio, é um sacramento, visto que por
sacramento se entende "um sinal sensível produtivo da graça, instituído por Jesus
Cristo".
1 Obj. — S. Paulo na sua Epistola aos Gálatas (3, 28) diz: "Já não há judeus, nem
grego; não há escravo, nem livre; não há macho, nem fêmea, porque todos vós sois um
em Jesus Cristo".
Com estas palavras nega o Apóstolo qualquer servidão e sujeição entre os fiéis, e
por isso qualquer superioridade, pela qual uns presidem aos outros na Igreja por
direito divino.
Resp. — Destas palavras se seguiriam também que o Apóstolo nega a diversidade
dos sexos, que é por condição da natureza, o que é absurdo.
Ele tenciona apenas ensinar que estas diferenças não constituem apenas
desigualdades em ordem à justificação, salvação, graça, à qual todos são chamados e
da qual ninguém é excluído por ser escravo, ou fêmea etc.

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2 Obj. — A respeito de todos os cristãos foi dito: "Vós sois a raça escolhida, o
sacerdócio real"(I Pedro 2, 9); "E nos fez ser o reino e os sacerdotes de Deus e seu Pai".
(Apoc. 1, 6).
Resp. — Nem S. Pedro, nem S. João tencionam afirmar que os leigos sejam
sacerdotes no sentido próprio da palavra, mas que o são em sentido figurado; de fato,
no mesmo texto de S. Pedro os fiéis são chamados reis e todos compreendem que são
assim chamados em sentido figurado, sem que sejam excluídos os verdadeiros reis.
Além disso afirma S. Pedro que os cristãos oferecem hóstias espirituais, isto é,
sacrifícios impropriamente ditos, como sejam as boas obras, o coração contrito e
humilhado; portanto não são sacerdotes no sentido próprio da palavra.
E por fim, estas coisas se afirmam dos cristãos, como outrora do povo de Israel (Ex.
19, 6) que era chamado reino sacerdotal em sentido figurado, pois todos sabem que
havia diferença divinamente estabelecida, entre os levitas e o povo em geral.
Portanto, também os cristãos são chamados sacerdotes e reis em sentido figurado,
sem que sejam excluídos os verdadeiros sacerdotes e os verdadeiros reis.

XVIII
O santo sacramento do matrimônio

Inúmeros são os abusos que devemos deplorar com relação ao matrimônio. Um dos
principais é o não querer considerá-lo como um sacramento instituído por Nosso
Senhor; pelo que não é raro se encontrarem uniões ilícitas também entre católicos.
Procurarei este abuso demonstrando que o matrimônio entre os cristãos é um
sacramento.
O matrimônio mostra-se sagrado desde a sua primeira instituição.
Com efeito, é o próprio Deus quem desce ao paraíso terrestre e que, comovido à
vista da solicitação do nosso primeiro pai, exclama: "Não é bom ficar o homem
sozinho; façamos-lhe um adjutório, semelhante a ele". É Deus que, proferidas essas
palavras, infunde em Adão um sono profundo, durante o que lhe tira do lado uma das
costelas e forma a primeira mulher. É Deus que acordando o homem, lhe apresenta
aquela que deverá ser a sua inseparável companheira e lhe inspira este cântico
nupcial: "Eis aqui agora o osso de meus ossos e a carne de minha carne. Esta se
chamará Virago, porque de varão foi tomada. Por isso deixará o homem a seu pai e a
sua mãe e se unirá a sua mulher e serão dois numa só carne". É Deus em suma, que
desde o princípio dos tempos, instituiu o matrimônio e, por meio das palavras
inspiradas a Adão, promulga a sua indissolubilidade.
Em seguida, depois da prevaricação dos nossos primeiros pais, o matrimônio não
tardou a decair da sua primitiva santidade, conservando, todavia, o caráter de coisa
sagrada, pois, era sempre ao pé dos altares e diante dos sacerdotes que os bons iam se
casar.
Vindo, porém, Nosso Senhor Jesus Cristo a este mundo, não somente reconduziu o
matrimônio à sua primitiva santidade, mas também o elevou a dignidade de
sacramento. Eis as provas.

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A primeira nos é oferecida pelo apóstolo S. Paulo, que na sua Epístola aos Efésios (5,
32), falando da união do homem com a mulher, diz: Este sacramento é grande, mas eu
digo que é grande em Jesus Cristo e na sua e na sua Igreja. Isto quer dizer que o
matrimônio é, na Nova Lei de Jesus Cristo e na sua Igreja um grande sacramento.
Sei que os protestantes põe a palavra — mistério — em lugar da palavra —
sacramento — nesta passagem de S. Paulo; mas da no mesmo. Com efeito, que
mistério haveria no matrimônio, se não fosse ele sacramento? Seria um contrato
natural como todos os outros e nada mais. Além disso se o matrimônio não fosse um
sacramento, como poderia o apóstolo afirmar que "é maior em Jesus Cristo e na sua
Igreja, do que o era em outras épocas?"
Cumpre pois, afirmar, mesmo admitindo a tradução protestante, que a Sagrada
Escritura nos ensina que o matrimônio é um sacramento.
A este testemunho da Bíblia faz eco o de todos os séculos do cristianismo. Os
protestantes vão dizendo que apenas no século XII se começou a ensinar na Igreja que
o matrimônio é um sacramento. É, porém, uma das muitas calúnias, que eles levantam
contra nós. Não, desde o tempo dos Apóstolos, os cristãos sempre reconheceram o
matrimônio como sacramento.
Vejamo-lo:

Consta que a Igreja greco-cismática, que se separou da Igreja romana no ano de


870, acredita como nós, no matrimônio como sacramento. Ora, é impossível que ela
tenha recebido essa crença da Igreja Romana depois da separação, considerada a
tenacidade com que sempre manteve as suas tradições e a aversão com que sempre
mostrou para com os católicos latinos.
Logo, este acordo entre Igreja Romana e a grega, com relação ao matrimônio como
sacramento, é anterior à separação, isto é, anterior ao século IX.
É igualmente anterior ao século V?
Sim, pois as seitas orientais da Ásia: a nestoriana, a monofisita, a copta, e a
armênia, que se separaram da Igreja católica naquele século, sempre acreditaram e
acreditam, como nós, no matrimônio como sacramento. Ora, isto é uma prova de que
mesmo antes da separação concordavam neste ponto com a Igreja católica. Do
contrário, como explicar este acordo? Todas aquelas seitas hostis à Igreja Romana,
depois da separação por certo nunca teriam recebido desta uma prática desconhecida.
Para melhor compreensão deste argumento suponhamos, por exemplo, que a
nossa Igreja inventasse hoje uma nova doutrina e dissesse a todo o mundo que deveria
ser abraçada como verdade revelada por Nosso Senhor: abraçá-la-iam, porventura, os
protestantes? Bem longe disso, bradariam alto contra a Igreja.
O mesmo diga-se em nosso caso. Se a nossa Igreja, depois que as seitas orientais
dela se separaram, tivesse inventado que o matrimônio é um sacramento instituído
por Nosso Senhor, estas seitas nunca teriam abraçado semelhante doutrina. Se, pois,
como nós, admitem que matrimônio é um sacramento, quer isso dizer que esta
doutrina já se ensinava antes do século V, época em que se deu a separação.

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Ensinou-se também nos quatro primeiros séculos do cristianismo? Ensinou-se, disto
são testemunhas os Padres e Doutores da Igreja.
Sto. Agostinho que viveu no século IV e parte do século V (+ 430), no seu livro
intitulado — De bono conjugii — escreve: "No casamento das nossas mulheres, a
santidade do sacramento é de máxima importância". E mais ainda: "Entre as outras
nações o grande bem do casamento consiste na geração dos filhos e na fidelidade dos
cônjuges. Mas entre os cristãos há, além de tudo isto, a santidade do sacramento (cap.
24 ).
No século IV, Sto. Ambrósio assim se exprimia a respeito do matrimônio: "Há um
grande sacramento na união do homem com a mulher". (Livro I sobre Abraão). E S.
Cirilo acrescenta: "Jesus Cristo santificou o matrimônio e lhe conferiu uma graça"(com.
em S. João cap. 2).
No século III Orígenes, no seu comentário em São Mateus, declara expressamente
que o matrimônio é um sacramento. (I cap. 14).
No século II é Santo Irineu, que nos repete a mesma doutrina, dizendo: "É preciso
meditar muito sobre o sacramento do matrimônio". (Liv. I contra as heresias).
E nota-se: Este testemunho de Santo Irineu tem, para nós, suma importância,
porque foi discípulo de São Policarpo, e esse, por sua vez, o foi de São João apóstolo;
podia, pois, Santo Irineu conhecer qual a doutrina ensinada pelos apóstolos a respeito
do matrimônio.
Finalmente no século I — Sto. Inácio, contemporâneo dos apóstolos, na sua epístola
a Policarpo (cap. 5) escreve: "Os esposos convêm que se unam por sentença do Bispo,
afim de as núpcias serem segundo o Senhor e não segundo às paixões".
É, pois, certo que a cristandade sempre considerou o matrimônio como um
sacramento desde os tempos dos apóstolos. Pelo que é preciso concluir que esta
doutrina lhe foi ensinada pelos próprios apóstolos e, por conseguinte, pelo próprio
Jesus Cristo.

E, de resto, que se entende por sacramento? Entenda-se um sinal sagrado


produtivo da graça. Ora o matrimônio é um sinal sagrado, pois, no dizer de São Paulo
(Ef. 5, 24), a união do homem com a mulher representa a união de Jesus Cristo com a
sua Igreja. É um sinal produtivo da graça, pois a união de Jesus com a sua Igreja, não é
apenas uma união de amor porém, uma união de graça, por conseguinte, tal há de ser
também a união do homem com a mulher, isto é, o matrimônio.
Logo, nada lhe faltando do que constitui a essência do sacramento, é preciso
reconhecê-lo como tal.
Com muita razão, pois, o concílio de Trento declara que é herege excomungado
quem se atreve a negar que o matrimônio é um dos sete sacramentos instituídos por
Nosso Senhor.
E agora se me permita fazer uma aplicação desta doutrina à vida prática: Se o
matrimônio é uma coisa sagrada, ou melhor, um sacramento, a que autoridade deverá

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estar sujeito? As coisas sagradas estão sujeitas tão somente a Deus e àquela
autoridade que Ele constitui sua legítima representante na terra, isto é, a Igreja.
Se, pois, o matrimônio é uma coisa sagrada, ou melhor, um sacramento, só à Igreja
esta sujeito, e só ela pode administrá-lo validamente.
Daí, porém, não se deve concluir que o contrato civil não seja lícito, pelo contrário,
afirmo que um católico não somente pode, mas deve também fazê-lo para assegurar a
si mesmo e a seus filhos a proteção das leis. O que não é lícito é o seguinte: Fazer
somente o contrato civil e deixar de lado o contrato religioso; ou fazer hoje o contrato
civil e depois de um mês, um ano, cinco anos, o contrato religioso, isto sim, não é
lícito; é repudiar a religião de Nosso Senhor Jesus Cristo. O contrato civil não une as
almas, não une os corpos; une apenas os bens. Um homem para poder viver
honestamente diante de Deus com uma mulher, tem que fazer o contato religioso.
Contratando-se apenas no civil, peca, não pode esperar a benção de Deus e, morrendo
naquele estado, não se salva.
Mas, se pode dizer: Não sei porque o casamento religioso é tão importante. Com
efeito, é somente uma formalidade exterior. E é também uma formalidade exterior se
contratar o casamento diante do oficial civil. Não é suficiente? (Cfr. Thiamer Toth).
Seguramente não: Isto não basta. Quem fala desta maneira não tem ideia alguma
do matrimônio cristão.
No matrimônio cristão, dois cristãos se entregam inteiramente um ao outro sem
reserva.
Ora, os cristãos, segundo a fé, quando receberam o batismo não somente foram
mudados do pecado original, não somente obtiveram a graça santificante, mas
também se tornaram membros do Corpo Místico de Jesus Cristo, propriedade de Jesus
Cristo. Por isso quando querem contratar casamento e quando querem se entregar um
ao outro não podem fazê-lo sem Jesus Cristo. O seu casamento não terá validade, se
também Jesus Cristo não der o seu consentimento, isto é, se não se casarem diante do
altar de Jesus Cristo.
Eis porque é necessário casar-se diante da Igreja.
Efetivamente não se pode conceber que um cristão ouse abraçar o estado
matrimonial sem ter pedido a graça de Jesus Cristo, isto é, sem se casar na Igreja. Vais
viajar? faze uma prece — diz um provérbio; Vais por mar? faze duas preces. Vais casar?
faze cem preces.
Sim, a vida de uma família exige um grande sacrifício; e o lugar do sacrifício é o
altar. Só Cristo imolado no altar pode ensinar a suportar o sacrifício exigido pela vida
familiar. Aqui esta porque Nosso Senhor deu ao matrimônio a dignidade de
sacramento, aqui está, porque ele dirige os primeiros passos dos noivos para o altar,
afim de que do altar jorre sobre eles a graça necessária para cumprirem os deveres
próprios do estado matrimonial.

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XIX
Indissolubilidade do matrimônio à luz da fé

Acabamos de demonstrar que o matrimônio entre os cristãos é um sacramento.


Agora consideremos a sua indissolubilidade.
Duas pessoas, desposando-se, contraem um liame que se chama laço matrimonial.
Este laço somente pode ser dissolvido pela morte de um dos cônjuges; é isto que
queremos significar, dizendo que o matrimônio é indissolúvel. Opõe-se à
indissolubilidade do matrimônio o divórcio que é a dissolução do laço matrimonial.
Ouçamos o que a respeito nos diz o Evangelho. A lei de Moisés permitia, em certos
casos, o divórcio, por isso perguntaram um dia os fariseus a Jesus: "Tem o homem
direito de repudiar sua mulher?" Jesus, então, respondeu com estas palavras
eternamente memoráveis: "Por causa da dureza dos vossos corações é que Moisés vos
permitiu repudiardes vossas mulheres; no começo não era assim. Que o homem não
separe aquilo que Deus uniu. Eu, porém, vos declaro que aquele que repudiar a
própria mulher e se casar com outra, comete adultério". (Cfr. Mt 18, 9 — Lc 16, 18 —
Mc 10 3-12).
Por essas palavras Nosso Senhor declara abertamente que um homem que se casa
com outra mulher repudiada pelo esposo, sempre comete adultério.
Ora, isto já não seria verdade se o laço matrimonial pudesse ser dissolvido, pois,
nesse caso, a repudiada poderia muito bem se casar com outro homem e este não
seria adúltero, vivendo com a mesma.
É pois, certo, pela palavra de Jesus, que o laço matrimonial nunca pode se dissolver.
Sei que os protestantes se opõem estas palavras de Jesus: "Todo homem que
repudiar sua mulher, salvo em caso de adultério e casar com outra, comete adultério".
(Mt 19, 9). Eis, dizem eles, mais uma vez a Igreja católica em oposição ao expresso
ensinamento de Cristo, porquanto Cristo afirma que o adultério desvincula o
matrimônio; a Igreja pelo contrário o nega.
Para responder a essa objeção, dos protestantes é preciso compreender o justo
significado das palavras de Jesus. Podemos distinguir duas espécies de divórcio: a) O
divórcio perfeito, pelo qual o próprio vínculo matrimonial cessa e pode contrai um
novo matrimônio; b) o divórcio imperfeito, pelo qual, ainda permanecendo o vínculo,
se dissolve a comunhão de vida e os esposos já não coabitam no mesmo lar.
Ora, Jesus declarando que o adultério é motivo suficiente para um homem
abandonar sua esposa, entende falar do divórcio imperfeito e não do perfeito; ou por
outras palavras a frase, salvo em caso de adultério se deve referir ao que precede e
não ao que se segue, de modo que este é o sentido: "Todo o homem que repudiar sua
mulher (o que não é licito a não ser em caso de adultério) e casar com outra, comete
adultério". É como se alguém dissesse "Todo aquele que espancar o próprio filho, salvo
em caso de grande crime, será punido". Nesta proposição, como é evidente, a frase —
salvo em caso de grande crime — se refere à primeira parte da proposição, e não à
segunda, pois nem sequer por grave crime é licito ao pai tirar a vida ao filho.
E que assim se deva entender essa passagem de S. Mateus é claro, pois, do
contrário, haveria oposição positiva — em matéria de fé — entre ele e os outros

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evangelistas, que declaram, sem exceção alguma, a indissolubilidade do matrimônio.
Ora, essa oposição não se pode absolutamente admitir, porque, sendo a Sagrada
Escritura a Palavra de Deus, Deus se contradiria a si próprio. Mas, deixando de parte
este argumento, o próprio contexto de S. Mateus exige a nossa interpretação; de fato,
pouco antes tinha dito Jesus: "O homem não separe o que Deus uniu", querendo com
isso significar que o matrimônio na Lei Nova deveria ser conforme a primitiva
instituição em que era absolutamente indissolúvel. Com que coerência, portanto, teria
feito, logo depois, exceção em caso de adultério?
Não basta. Os apóstolos tendo ouvido as palavras de Jesus, disseram: "Se tal é a
condição do homem com a mulher, não convém casar". Ora, esta admiração não teria
motivo, se eles não tivessem entendido que Jesus falava de absoluta
indissolubilidade. Ademais no Velho Testamento o adultério era punido com a morte,
pena que foi abolida na Nova Lei. Se, pois, Cristo tivesse feito exceção para a
indissolubilidade do matrimônio em caso de adultério, teria dado motivo bastante
impulsivo a cometê-lo aos que desejassem passar a novas núpcias, porque o adultério,
enquanto era isento da pena com que era punido no Velho Testamento, teria sido um
meio para se libertar do vínculo do matrimônio. Mas quem pode dizer semelhante
coisa de Cristo? É, portanto, indubitável que na lei de Jesus o matrimônio não se pode
dissolver por motivo algum.
E efetivamente os Apóstolos assim compreenderam. É o que provam estas palavras
de S. Paulo: "A mulher casada esta ligada a seu marido, enquanto ele viver. Portanto
se, vivendo o marido, desposar outro homem, será adúltera". (Rom 7, 2-3).
A única coisa que a Igreja pode fazer em caso de adultério ou de outra grave causa,
é permitir a separação de comunidade de vida, assim como diz Jesus em S. Mateus,
mas não a dissolução do matrimônio; o que é confirmado também por S. Paulo,
quando diz: "Quanto as pessoas casadas, ordeno não eu, mas o Senhor, que a mulher
não se separe do marido. Se estiver separada dele, fique sem casar ou se reconcilie
com seu marido. E o marido não deixe a mulher". (I Cor 7, 10).
Eis a lei de Deus: Um homem que se casa, uma mulher a que ele se une, estão
unidos para a existência inteira; para os bons dias e para os maus instantes; para as
horas felizes e para os momentos infaustos.

XX
Indissolubilidade do matrimônio à luz da razão

Na Lei de Jesus Cristo o matrimônio é indissolúvel e, sendo Deus o autor dessa lei, é
ela, sem dúvida, sumamente sábia e razoável. Basta, porém, refletir um só instante,
para disto nos convencermos.
Supondo a possibilidade de se romper o laço matrimonial e a paixão brutal não terá
mais limites na formação da família. As mais das vezes não terão a virtude, a nobreza
da alma, os dotes do caráter que determinarão a escolha, e sim a beleza, a graça, o
espírito, numa palavra, tudo o que é brilhante mas infecundo e passageiro. De fato, se
no momento em que se funda a família, se apresentar à mente a ideia da possibilidade
de outro casamento, o coração, cheio de ardores juvenis, estimulado pelos sentidos,
dirá: "é verdade, esta beleza que agora me atrai, é uma flor que bem depressa

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fenecerá. Mas que importa. Farei a experiência: se não me der bem com esta mulher,
procurarei outra; se não tiver sorte neste casamento, contrairei outro".
E se o coração, jovem e ardente, assim disser quem o deterá para contrair um
matrimônio a que os sentidos convidam, mas a razão se opõe?
Admiti a possibilidade de se romper o laço matrimonial; sobrevindo doenças,
desgraças, dissabores, todas as pessoas de pouca virtude cairão em desânimo,
desgosto; ao passo de que muitas outras, não havendo possibilidade de nutrir a ilusão
de encontrar a felicidade em outras uniões, resistirão e carregarão com paciência a sua
cruz.
Imaginai a possibilidade de se romper o laço matrimonial; e a condição da mulher
tornar-se-á simplesmente espantosa. De fato, ela sabe muito bem que, uma vez
abandonada pelo esposo, não pode alimentar a esperança de novas núpcias, que a
possam consolar, especialmente se já não é jovem, e além disso não é bela, nem
robusta, nem rica; por isso lhe será a vida continuamente envenenada pela suspeita de
um improviso abandono, e se julgará obrigada a sofrer todo e qualquer maltrato, pelo
temor de ser, pelo esposo, lançada fora como um trapo.
Presumi a possibilidade de se romper o laço matrimonial, e que será dos filhos que
são o fruto do matrimônio que se vai dissolver? Interrompida a sua educação, quando
mais precisava continuá-la; arrebatadas do convívio de quem mais concorreu para lhes
dar a vida, levados para uma casa estranha, expostos às antipatias, aos rancores de um
padrasto ou de uma madrasta cruel, não tardarão a sentir o peso de sua infelicidade e
a maldizer o dia em que tornaram-se filhos de tão malvados pais. Assim que possam
subtrair-se-ão a uma autoridade que os oprime sem compensação; talvez a seu tempo,
sigam os funestos exemplos dos próprios pais, e assim se multiplicarão a corrução e a
discórdia e a sociedade cairá em ruína.
É por isso que a Igreja, guarda vigilante das leis divinas e verdadeira mãe dos povos
cristãos, sempre permaneceu inflexível e manteve resolutamente a indissolubilidade
do casamento, mesmo quando prevendo que a sua atitude lhe custaria um país,
mesmo quando previa que deveria contar com o desprezo, com a incompreensão, e,
não raro, com a perda de inúmeros fiéis.
E o Brasil, graças a Deus, não introduziu na sua Constituição o divórcio;
condenando-o como prejudicial à sua prosperidade. Contudo, há entre nós, homens
que adotam na prática e, aborrecendo-se de suas esposas, vão ilicitamente se unir a
outras. Que horror! Minha alma freme quando se me apresentam alguns desses
casos. Um dia, de mim se aproximou uma pobrezinha, coberta de andrajos, com uma
criança despida ao colo e dois pequeninos ao lado, pedindo-me uma esmola. —
Perdoe-me, não ando com dinheiro. — e ela: — Meu padrinho, peço-lhe ao menos,
que de um jeito para que meu marido volte para minha companhia. —
Onde está ele? — Não sei. Carregou uma sujeita e foi-se embora com ela, deixando-me
no meio da rua com cinco filhos; dois já morreram de fome e me restaram estes três,
que sustento com as esmolas que me dá o povo.
Fitei-os comovido e não puder conter as lágrimas. Meu Deus, que responsabilidade
para os que assim procedem!
E que dizer dos que, tendo feito somente o contrato religioso com suas esposas, vão
com outras se contratar no civil? Podem fazê-lo? Não; o contrato civil deve ser feito
com a mesma mulher com quem foi feito o religioso, e não com outra. Um homem

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casado no religioso, que abandona sua mulher para se contratar com outra no civil, vai
tirar um passaporte para o inferno. Por que? Porque "ninguém pode separar o que
Deus uniu", e um homem que se contratou no religioso com uma mulher, a ela foi
unido pelo próprio Deus. É inútil pois, que procure outra e se apresente ao magistrado
civil para dizer: "esta é minha esposa". Sua esposa? Não, meu amigo, sua esposa é
aquela pobrezinha que você deixou no pranto e na miséria e sua permanecerá até a
morte. Esta, com quem agora quer fazer o contrato civil, sabe que é? É uma infeliz, de
quem o demônio se serve para arrastá-lo à perdição eterna.
Mas, dirá alguém — Minha mulher tem um caráter diferente do meu e a vida com
ela se tornou demasiado para mim insuportável. Não me posso então me divorciar?
Não. Era preciso estudar melhor o caráter de sua esposa, antes de se casar. Agora já
não há remédio.
Minha mulher — diz outro — é impaciente, descuidada, teimosa, caprichosa,
ninguém a pode tolerar.
Pouco importa, tem que ficar igualmente com ela.

Sempre desculpei tudo em minha esposa — acrescenta um terceiro — mas agora


apareceu uma novidade: Deu um erro e não posso de forma alguma lhe perdoar essa
falta; vou abandoná-la e me contratar o civil com outra.
Não, não pode; nesse caso lhe é permitido viver separado de sua esposa, mas não
pode procurar outra sempre permanecendo intacto o laço matrimonial. Procurando
outra, transgride a lei de Deus e atrai sobre si os seus castigos, castigos que não
tardarão a vir como a experiência de cada dia no-lo ensina.
Julguei oportuno dizer tudo isto para refutar certas ideias errôneas que circulam
por aí além. E para fechar a porta a semelhante desordem, penso que seria
conveniente que os cristãos fizessem o contrato civil logo depois do religioso. Esse
seria suficiente diante de Deus. Mas visto que o governo não o reconhece como
impedimento para firmar o contrato civil com outra pessoa, façam os dois contratos: O
religioso e o civil. Desta maneira será possível casar honestamente diante de Deus e
diante dos homens.

XXI
O Culto de Deus, dos Santos e das Imagens

Adorar significa reconhecer alguém como nosso Criador e nosso Soberano Senhor.
Ora, somente Deus é o criador, o Soberano Senhor de todas as coisas.
Logo, somente ele deve ser adorado. Mas a fé nos ensina que em Deus há três
pessoas: Padre, Filho e Espírito Santo. Cada uma das pessoas divinas deve ser
adorada? Sem dúvida, pois cada uma das pessoas divinas é Deus.
Deus se adora principalmente com a alma, porque é ela quem pode reconhecer a
Deus como Criador e Soberano Senhor. E a alma O adora, fazendo atos de Fé, de
Esperança e de Caridade: pela Fé O reconhece como Suma Verdade, pela Esperança

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como Sumo Bem, que nos pode tornar plenamente felizes, pela Caridade como Sumo
Bem, que merece ser amado acima de todas as coisas.
Deus, porém, deve ser adorado também exteriormente com o corpo, porque
dependemos de Deus, também quanto ao corpo. E adoramos a Deus exteriormente
como o corpo, ajoelhando-nos, inclinando a fronte, rezando, recebendo os
sacramentos, oferecendo-lhe a Santa Missa, fazendo votos.
Note-se, todavia, que todos esses atos exteriores de religião, a não ser a Santa
Missa e o voto, não são por si mesmos atos de adoração: só se tornam atos de
adoração pela intenção com que os acompanhamos. Eu, por exemplo, me ajoelho
diante da hóstia consagrada: a minha genuflexão, nesse caso, é um ato de adoração,
porque tenciono com ele reconhecer aquela hóstia como meu Deus, como meu
Criador e meu Soberano Senhor. Mas, se eu não tiver esta intenção, posso muito bem
me ajoelhar diante de um santo e até mesmo diante de um homem desta terra. Acaso
um menino que se ajoelha diante de seu pai, para pedir perdão de uma desobediência
que cometeu, adora a seu pai? Um pobre que se ajoelha diante de um rico, para lhe
pedir uma esmola, adora ao rico? Não. Por isso a genuflexão, por si mesma, não é um
ato de adoração; tanto assim que Jesus na parábola do credor inflexível, nos
representa o seu servo, prostrado a seus pés, pedindo misericórdia. (Mt 18, 29).

Como acabo de demonstrar, somente Deus deve ser adorado: Os santos e Maria
Santíssima não devem ser adorados. E, de fato, na Igreja ninguém jamais adorou os
santos ou a Maria, porque mesmo o mais atrasado católico sabe que os santos e Maria
não são Deus.
Daí,porém, não devemos concluir que os santos não mereçam honra alguma;
merecem por serem amigos de Deus. Assim como honramos os homens beneméritos
da pátria, da sociedade, assim também é justo e conveniente que honremos os
homens beneméritos da religião, que foram os santos.
O próprio Deus nos dá o exemplo disto. Com efeito diz Jesus: "Se alguém me servir,
será honrado por meu Pai". (Jo. 12, 29). Ora, os santos serviram a Jesus, trabalharam
pela difusão do seu reino. Portanto são honrados pelo Pai celestial. E se Deus honra os
santos, também nós podemos e devemos honrá-los.
E entre todos os santos qual o que merece maior honra? É sem dúvida alguma a
Virgem SSma.: na corte de um príncipe é mais honrada a mãe do que os servos. Ora,
Maria no céu é a Mãe de Deus. Portanto Maria merece ser honrada mais do que todos
os santos.
E Deus é o primeiro a fazê-lo. Com efeito, depois da queda de Adão o Onipotente A
honrou, designando-A quatro mil anos antes, como a mulher, cujo Filho devia esmagar
a cabeça da serpente infernal.
Em Isaías (8, 14), Ela é ainda o objeto de uma profecia, e os lábios sagrados do
Profeta do Senhor proclamaram a sua virgindade: virtude que em todos os tempos foi
considerada como digna das mais elevas honras.

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E, quando se completaram os tempos, vemo-La escolhida entre todas as filhas de
Eva, para ser a Mãe de Jesus. Esta escolha foi feita pela adorável Trindade e lhe foi
enviada a mensagem por um arcanjo, que assim lhe falou em nome de Deus: "Eu vos
saúdo, cheia de graça! O Senhor é convosco, bendita sois entre as mulheres".
Que honra para Maria ser assim exaltada por Deus!... E se Deus honra, exalta a
Maria também nós podemos e devemos honrá-la. E Jesus deve nisto se comprazer,
assim como todo o bom filho se compraz em ver honrada e exaltada sua mãe.

Como consequência lógica do que dissemos acerca do culto dos santos, resulta a
legitimidade do culto das imagens. De fato, quando honramos a uma pessoa,
naturalmente honramos também a sua imagem, o seu retrato. Por exemplo: os pais
merecem honra, por isso honramos também os seus retratos; a pátria merece honra,
por isso honramos também o símbolo da pátria: a bandeira; o chefe da nação merece
honra, por isso honramos também o seu retrato.
Igualmente se diga em nosso caso: Os santos merecem honra, por isso merecem
igualmente honra as suas imagens.
Note-se, porém, que essa honra não é absoluta e sim relativa, isto é, não se refere
ao papel, à madeira, à pedra, ao metal, de que as imagens são feitas, mas aos santos
representados pelas imagens. É como quando tributamos honra ao retrato dos pais, ou
à bandeira nacional: esta honra não se refere ao papel de que são compostos os
retratos, nem à fazenda de que é feita a bandeira, mas aos pais e à nação neles
representados.
O mesmo acontece quando rezamos diante das imagens e pedimos aos santos que
intercedam por nós: a nossa oração não se refere ao papel, à madeira, à pedra, ao
metal de que são feitas as imagens, e sim aos santos representados no papel, e na
madeira, na pedra, no metal. Tanto assim que, rezando diante das imagens, não
dizemos: ó imagem de Jesus Crucificado, tende piedade de mim! Ó imagem de Maria
SSma., de S. Pedro, de S. Paulo, rogai a Deus por mim! Dizemos, pelo contrário: Ó Jesus
Crucificado, tende piedade de mim! Ó Maria SSma., ó São Pedro, ó São Paulo, rogai a
Deus por mim!, a saber não invocamos ao papel, a madeira, a pedra... mas os santos
que as imagens representam.
Aqui, porém, é preciso resolver uma objeção, é esta: Se dirigimos a nossa oração
aos santos representados nas imagens e não às próprias imagens, porque então
frequentemente vamos aos santuários para fazer as nossas orações? Por exemplo: em
todo o nordeste brasileiro é célebre o Santuário de S. Francisco Canindé, onde chegam
todos os anos milhares de peregrinos, para rezar diante da imagem de S. Francisco,
que ali se venera. Não é este, por acaso, indício evidente de que colocamos nossa
confiança nas imagens?
Não, certamente não. O motivo das nossa romarias aos santuários não é porque
julgamos que as próprias imagens nos possam ajudar, mas porque ali Deus concede
graças que não concede em outros lugares, ou porque naqueles Santuários se
encontram relíquias dos santos, e por isso ali mais facilmente rezamos com aquela fé,
viva, que arranca de Deus as graças almejadas.

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A estas explicações, porém, os protestantes não ligam importância alguma, porque
a Bíblia — dizem eles — proíbe fazer imagens e prestar culto às imagens. E alegam
principalmente o cap. 20, 2-5 do Êxodo, em que Deus diz: "Eu sou o Senhor, teu Deus...
Não terás deuses estranhos, diante de mim. Não farás para ti imagens de escultura,
nem figura alguma do que há em cima do céu, nem embaixo na terra, nem nas águas
debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás, culto, porque eu sou Jeová teu
Deus".
Eis a resposta:
Se fosse proibida toda e qualquer imagem, Deus estaria em contradição consigo
mesmo, pois em outros lugares da Sagrada Escritura encontramos que ele mesmo
mandou fazer imagens.
Por exemplo: ordenou a Moisés que fizesse dois Querubins de ouro e os colocasse
no Oráculo, no lugar de culto, sobre a Arca Santa. (Ex 26; 18-22).
Foi também por ordem expressa de Deus que Moisés levantou no deserto uma
serpente de bronze, afim de livrar o povo das picadas das serpentes venenosas.(Num
21, 8).
Trata-se aqui de imagens religiosas, porque aqueles querubins eram figuras dos
anjos do céu; e a serpente de bronze era figura de Jesus Cristo levantado na Cruz. (Jo
3, 14).
Trata-se de imagens veneradas porque faziam parte da Arca Santa, que era objeto
de culto para os hebreus; e a serpente de bronze era contemplada pelos hebreus com
confiança, para serem sarados. É verdade que mais tarde Moisés mandou destruir essa
serpente de metal, mas só quando o povo queria idolatrá-la.
E então quais são as imagens proibidas por Deus no Êxodo?
Repito, pois, o que acima já disse: Se Deus proibisse toda e qualquer imagem e
prestar culto às imagens, estaria em contradição consigo mesmo, proibindo e
mandando fazer aquilo que proíbe. Mas Deus não se pode contradizer. Por isso
devemos concluir que os protestantes erram, quando afirmam que Deus proíbe toda e
qualquer imagem e presta culto às imagens.
São as imagens dos deuses dos gentios. Naquele tempo os pagãos adoravam o sol, a
lua, as estrelas, os pássaros, os animais, os homens, os peixes, os crocodilos, os
monstros marinhos. A proibição divina versa sobre esses ídolos; por isso o texto
Sagrado diz: Não farás para ti imagens de escultura, nem figura alguma do que há em
cima no céu, isto é, no firmamento: sol, lua, estrelas; nem embaixo na terra, isto é,
pássaros, animais, homens, nem debaixo da terra, isto é, peixes, crocodilos, monstros
marinhos.
Estas palavras: "Não fará para ti imagem de escultura etc..."não constituem o
segundo mandamento, como, querem os protestantes, mas fazem parte do primeiro
mandamento; e o sentido é este: "Eu sou o senhor teu Deus... Não terás, outros
deuses diante de mim. E destes deuses não fará para ti imagem de escultura, nem
figura alguma".
E que seja este o verdadeiro sentido das palavras divinas, pode-se confirmar por
outros textos, em que Deus fala das imagens e veremos que sempre se refere às
imagens dos deuses dos gentios. Por exemplo: no Sl 113 ou segundo a Bíblia

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protestante, 114, falando dos gentios diz: Os ídolos deles são ouro e prata, obra das
mãos dos homens".
Mas acaso as nossas imagens são dos deuses dos gentios? São imagens de Júpiter,
de Diana, de Apolo, de Mercúrio, de Vênus?.... Não, são imagens de Jesus Cristo, de
Nossa Senhora, dos santos; nem as fazemos para adorá-las. Portanto Deus não proíbe
absolutamente as nossas imagens. O que ele proíbe é fazer imagens dos deuses dos
gentios, para adorá-las.
Mas — dizem os protestantes, no texto sagrado lemos: "Não farás para ti imagens
de escultura, nem figura alguma do que há no céu..."
Ora, Jesus Cristo, a Virgem Maria e os santos estão no céu. Portanto também são
proibidas as imagens de Jesus, da Virgem Maria e dos santos.
O céu de que fala o texto do Êxodo, não é o céu habitado por Deus e sim o céu do
firmamento, isto é, o céu onde brilham os astros. Com efeito no Deuteronômio em que
é repetida a mesma proibição, lemos: "Não seja que, levantando os olhos ao céu vejas
o sol, a lua, as estrelas e todos os astros do céu e, caindo no erro, adores e dês culto a
essas coisas". (Deut 4, 19).
Alegam também os protestantes contra o culto das imagens as palavras que lemos
em S. João 4, 23 "a hora vem e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o
Pai em espírito e em verdade".
Estas palavras, porém, nem por sombra se referem às imagens. Vendo a Samaritana
que Jesus era um profeta logo lhe propõe a questão agitada entre os judeus e os
samaritanos: — Os nossos pais adoravam a Deus neste monte (indicando o monte
Garizin, perto da cidade de Siquem), e Vós dizeis que é necessário adorar em
Jerusalém. — E Jesus lhe responde: Mulher, crê-me que a hora chegou, em que Deus
não será adorado nem neste monte, nem em Jerusalém. Vós, samaritanos, errais com
relação ao culto de Deus, não só quanto ao lugar que Deus escolheu, mas também
quanto ao conhecimento do próprio Deus e quanto ao modo com que deve ser
adorado. Nós, pelo contrário, conhecemos quem é Deus e em que lugar e de que
maneira deve ser adorado. Mas a hora vem e agora é, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade". (Jo 19-23).
Com estas últimas palavras evidentemente prediz Nosso Senhor a cessação do culto
figurativo e carnal dos judeus. — Portanto o verdadeiro sentido é o seguinte:
"Adorarão o Pai em espírito" — isto é, não com as cerimônias dos judeus que davam
toda a importância aos sacrifícios dos animais e as cerimônias externas, e pouco se
importavam com os atos internos virtuosos.
— "Em verdade", isto é, não com um culto falso e enganador, qual era o dos
samaritanos.
Outra objeção que fazem é esta: A Bíblia reprova abertamente o culto que se presta
aos santos e por conseguinte, reprova também o culto das imagens dos santos.
"Temerás somente ao Senhor teu Deus e só a Ele servirás". (Deut 6, 13). "Somente a
Deus honra e glória". (I Tim 1, 17).
Resp. — A Bíblia reserva para Deus somente o culto de latria, de adoração, não um
culto qualquer.
De fato, no livro do Gênesis (27, 29), Isaac abençoando a Jacó, diz: "Sirvam-te povos
e nações se curvem diante de ti". E o Apóstolo que escreve a Timóteo: "Somente a

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Deus honra e gloria"na sua epístola aos Romanos (2, 10) diz: "Glória, honra e paz a
qualquer que opera o bem".
— Mas ao menos a Cruz não merece culto algum; pelo contrário nos deve inspirar
horror, assim como a um filho inspira horror a faca, com que foi assassinado seu pai.
A faca que assassinou o pai, apenas recorda ao filho o crime hediondo que o
homicida cometeu, por isso justamente lhe causa horror. A Cruz, pelo contrário, é o
instrumento, que livremente escolheu Jesus Cristo por nosso amor; afim de nos salvar
do inferno, por isso a amamos e veneramos ou, se quiserdes a adoramos, por ser
símbolo, figura de Jesus Cristo, ao qual se refere a nossa adoração. E quem a despreza,
deve temer, pois, diz S. Paulo (Filip 3, 18-19): Muitos andam, dos quais muitas vezes
vos disse e agora também digo, chorando, que são inimigos da Cruz de Cristo, cujo fim
é a perdição.
Como cada qual pode ver, as razões que alegam os protestantes, de nada valem e
assim esta provado que Deus não proíbe absolutamente fazer imagens e prestar culto
às imagens.
E como poderia proibir, se esse culto é tão proveitoso para as nossas almas? Vendo,
por exemplo, a imagem do Coração de Jesus, logo nos recorda aquela imagem o que
fez Jesus Cristo por nosso amor. Se, pois, não tivermos um coração de pedra, seremos
excitados por ela a amar Jesus Cristo.
Vendo a imagem de Jesus Crucificado, logo nos lembramos do quanto custou a
Jesus o pecado e o evitaremos pelo horror que nos há de inspirar.
Bem longe de proibi-lo, sempre o confirmou com os milagres. Pode alguém, por
exemplo, visitar o Santuário de Canindé e os ex-votos que adornam as paredes do altar
da imagem de S. Francisco, que lá se venera, lhe atestam que diante daquela imagem
os fiéis alcançaram verdadeiros prodígios.

Finalmente podemos provar pela Sagrada Escritura e pela história que o culto das
imagens remonta aos primórdios do cristianismo.
a) Pela Sagrada Escritura: De fato a sombra que projeta a nossa pessoa colocando-
nos contra o sol, é uma figura, uma imagem de nós mesmos; e se alguém se colocasse
debaixo dela, confiando assim receber de Deus algum benefício, tributaria culto
religioso a essa imagem.
Pois bem, justamente isso faziam os primeiros cristãos com a sombra de S. Pedro.
"Transportavam os enfermos para as ruas e os punham em leitos e camilhas, para que
a sombra de Pedro, quando passasse, cobrisse alguns deles". (Act. 5, 16). Portanto a
própria Sagrada Escritura atesta que os primeiros cristãos praticavam o culto das
imagens.

b) A história o atesta igualmente: Na verdade, Eusébio, historiador de grande mérito e


renome, narra que a mulher do Evangelho, que, havia doze anos, padecia de um fluxo
de sangue, e que foi prodigiosamente curada, tocando apenas orla do vestido de Jesus
(Mt 9, 20-22); em memória deste insigne beneficio levantou ao mesmo divino Salvador

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uma estátua de bronze, por ele mesmo, Eusébio, vista e apreciada, admirada e
venerada na imensa praça de Cesaréia de Felipe. (liv. 7 hist. ecles. cap. 18).
Filostórgio assevera que os cristãos tributavam grande homenagem de honra e
veneração a dita imagem de bronze (livro 7, cap 6).
Sozomeno afirma que essa estátua foi despedaçada por Juliano — o apóstata —
não porque desprezasse o culto das imagens, mas sim, porque ela representava a
Cristo, a quem ele odiava e os cristãos amavam e honravam tanto na referida imagem
(Hist. Ecl. Liv. 5, cap. 20).
Tertuliano, escritor do século II, atesta que os cristãos dos primeiros séculos
possuíam algumas imagens e costumavam representar Jesus Cristo principalmente sob
a figura do Bom Pastor. (Livro de pudicitia cap. 7 e 10).
E, por último, se entrarmos nas catacumbas, se penetrarmos nesses imensos
subterrâneos de Roma, onde a Igreja primitiva viveu sepultada por bem 300 anos, para
escapar a perseguição e à morte dos imperadores romanos, ali veremos figuras
gravadas em cálices, nas paredes, nos túmulos dos mártires; encontraremos a cada
passo representada a Virgem Maria com o Menino Jesus nos braços e outras muitas
imagens, objeto do culto dos antigos cristãos.
Ora, se a Igreja dos primeiros séculos, que estava sob a direção dos apóstolos ou
dos discípulos dos apóstolos, possuía imagens e tributava culto às imagens, como é
que a nova seita de ontem vem nos dizer hoje que semelhante culto é uma
superstição, é uma idolatria?
Então, tantos milhões de cristãos por três longos séculos foram idólatras?
E todos os santos que brotaram do seio da Igreja católica e que, sem dúvida, como
filhos da Igreja, praticaram o culto das imagens, foram idólatras? Idólatra um S.
Francisco de Assis? Idólatra um Santo Antonio? Idólatra um São Luiz de Gonzaga?
Idólatra uma Santa Teresinha do Menino Jesus?
Portanto agora estão no inferno, porque a idolatria é um pecado gravíssimo contra
o primeiro mandamento da lei divina.
Acredite nisso quem quiser, eu por mim, continuarei a prestar culto às imagens e no
outro mundo de bom grado me resignarei a seguir a sorte de S. Francisco, de Sto.
Antonio, de S. Luiz de Gonzaga, e de Santa Teresinha do Menino Jesus.

XXII
Intercessão da Virgem Ssma. e dos Santos

Nós católicos, além de dirigirmos as nossas orações a Jesus Cristo, recorremos


também à intercessão da Virgem Maria e dos Santos. Podemos fazê-lo?
Os protestantes negam. A Igreja, pelo contrário, nos responde que podemos fazê-lo
e com muito proveito.
Eis as provas:
Um justo que mora aqui na terra pode rogar a Deus por nós e alcançar-nos graças.
De fato diz Jesus Cristo: "Orai pelos que vos perseguem e caluniam". (Mt 5, 44). E S.

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Tiago nos assegura da eficácia desta oração, feita pelos outros, dizendo: "Orai uns
pelos outros, porque a oração do justo muito pode"(Tg. 5, 17 ). Por isso o apóstolo S.
Paulo sempre se recomendava às orações do fiéis e na sua epístola aos romanos (15,
30) dizia-lhes: "Rogo-vos, irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do
Espírito Santo, que me ajudeis com as vossas orações por mim a Deus".
Ora, se um justo sobre a terra pode rogar a Deus por nós a alcançar-nos graças,
muito mais o pode um justo no céu, um santo. Digo "muito mais", porque um santo no
céu está mais unido a Deus pelo vínculo do amor, da caridade.
— Mas a Virgem Maria e os Santos não ouvem as nossas orações, não conhecem as
nossas necessidades — dizem os protestantes.
Por exemplo: alguém aqui pede uma graça à Virgem Maria, outros, ao mesmo
tempo, pedem outras graças na Europa, na África, na Ásia, na Austrália. Como é que
Ela pode ouvir estas orações, que lhe são dirigidas de vários pontos da terra? Seria
preciso que se achasse, ao mesmo tempo, na América, na Europa, na África, na Ásia,
na Austrália e em toda parte. Ora, em toda parte está somente Deus.
É inútil, portanto, recorrermos à intercessão da Virgem Maria e dos Santos.
Resp. — É verdade que a Virgem Maria e os Santos não se acham em toda parte;
mas é absolutamente falso que Maria e os Santos não ouçam as nossas orações e não
conheçam as nossas necessidades, pois a Bíblia nos ensina que os Santos conhecem os
acontecimentos da terra e conhecem até mesmo os nossos pensamentos, desejos e
afetos.
Os Santos conhecem os acontecimentos da terra, de fato lemos no Apocalipse (2,
26): "Aquele que vencer e guardar as minhas palavras até o fim, dar-lhes-ei poder
sobre todas as nações e as governará".
Ora, os Santos venceram na luta contra o demônio, contra a carne, contra as
paixões e guardaram até o fim as palavras divinas.
Logo governam as nações, o mundo. E se governam o mundo, é claro que
conhecem os acontecimentos do mundo.
Os Santos conhecem até mesmo nossos pensamentos desejos e afetos.
De fato, "Os Santos no céu são como os anjos de Deus"(Mt 22, 30) "Eles são iguais
aos anjos". (Lc 20, 36).
Ora, os anjos conhecem nossos pensamentos, desejos e afetos.
Logo conhecem também os Santos.
E que os anjos conheçam nossos pensamentos, desejos e afetos é claro pelo
testemunho do próprio Jesus Cristo, pois, declara que há alegria entre os anjos de
Deus, quando um pecador faz penitencia". (Lc 15, 10).
A penitencia é um afeto interior da alma e os anjos o podem ver, porque se
regozijam quando um pecador faz penitência. Portanto vêem o que se passa na alma,
no coração, daquele pecador.
E o mesmo, repito-o, deve-se dizer relativamente dos Santos, visto que são iguais
aos anjos.
E de que maneira os Santos conhecem os acontecimentos da terra e conhecem até
mesmo os nossos pensamentos, desejos e afetos?

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Em Deus. Ele é a própria ciência infinita conhecendo-se a si mesmo, conhece tudo:
o presente, o passado, o futuro, ou melhor, não há para Ele nem passado, nem futuro,
mas tudo é presente.
Ora, os Santos vêem a Deus face a face diretamente como é em si. Portanto em
Deus conhecem os acontecimentos da terra, e conhecem até mesmo os nossos
pensamento, desejos e afetos. E conhecendo-os, podem muito bem rogar a Deus por
nós e alcançar-nos as graças.
E de resto Jesus o afirma claramente, dizendo: "Granjeai amigos com o dinheiro da
iniquidade; afim de que, quando vierdes a precisar, vos recebam nos tabernáculos
eternos". (Lc 16, 9).
Quem são esses amigos? São os Santos, que nos podem ajudar especialmente no
dia da prestação das contas, que é justamente o dia da nossa morte.
E entre todos os Santos quem mais pode é, sem dúvida, a Virgem SSma. por ser a
Mãe de Deus. Veremos em seguida que lhe convém perfeitamente este título.
Somente digo aqui que também no céu o conserva, pois é preciso notar que a visão
beatífica de Deus faz de todos os eleitos uma só família de uma só alma e de um só
coração; mas não são por isto apagadas as nobres afeições de pai, de mãe, de esposo,
de filho, de amigo. Deus as gravou no coração humano com a força da natureza, não as
destrói na glória. Deus que nem sequer destrói os seres inanimados, mas, assim como
diz S. Pedro, fará novos céus e novas terras; muito menos destrói as nobres afeições da
alma, que para ele vale muito mais do que todo o mundo visível.
Portanto, Maria no céu, continua a ser Mãe de Jesus Cristo e Jesus Cristo no céu
continua a ser Filho obsequioso da Virgem SSma. Se, pois Ela lhe pedir graça,
misericórdia, é impossível que não seja atendida. Também nós, ainda que sejamos tão
maus, por pouco que amemos nossa mãe, sempre estamos dispostos a favorecê-la.
Muito mais Jesus Cristo sempre esta disposto a favorecer a sua Mãe, ele que é o mais
amante dos filhos.

Mas então — dizem os protestantes — como se explicam aqueles textos da Sagrada


Escritura, em que se afirma que "há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus
Cristo?" e que "só há um nome que foi dado aos homens, para se salvarem: O nome de
Jesus".
É fácil responder a essa objeção. Note-se bem: As graças que nos fazem a Virgem
SSma. e os Santos, não são deles, e sim de Jesus. É Jesus a fonte de todas as graças; é
ele o Pai Celestial que nos abençoa e nos salva. Maria e os Santos com a sua
intercessão fazem com que essas graças mais facilmente e mais cedo cheguem a nós.
Posso explicar essa doutrina com uma comparação: Suponhamos que eu tenha
necessidade de alcançar uma graça do Sr. Governador do Estado. Sei que é muito bom
e que costuma atender aos pedidos de seus súditos.
Mas para alcançar mais facilmente a graça, que faço? no palácio do governo tenho
um amigo que é favorecido do Governador. A ele recorro, afim de que me apresente
ao mesmo e lhe diga uma palavrinha a meu favor. Nesse caso mais facilmente alcanço

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a graça do que se me apresentasse sozinho. E ainda mais facilmente alcançaria a graça
se me apresentasse juntamente com a sua digna mãe. Conheço a mãe do Governador,
e lhe rogo que se digne interceder por mim junto a seu filho.
Faço o pedido, a boa senhora interpõe também por mim: "Meu filho — lhe diz —
deves conceder este favor a este homem; sou eu quem te peço, eu que te dei a vida".
E que pode o Governador diante disto? Ainda que não tivesse vontade de conceder o
favor, tem que concedê-lo, diante da súplica daquela que lhe deu o ser.
Pois bem, é justamente isto que fazemos, nós católicos, quando recorremos à
intercessão da Virgem Maria e dos Santos. Sabemos que o único mediador entre Deus
e os homens é Jesus Cristo; sabemos que só nos podemos salvar por Jesus Cristo; mas,
outrossim sabemos que junto ao trono de Jesus, estão os Santos, que são seus amigos;
sabemos que junto ao trono de Jesus está a sua Mãe Santíssima, que tem um poder
imenso sobre seu coração adorável; por isso recorremos aos Santos e, sobretudo, à
Nossa Senhora, afim de que interponha a sua intercessão e nos alcance de Jesus, seu
Filho, as graças que precisamos e a própria salvação eterna.
Quem ousará afirmar que essa doutrina é contraria aos ensinamentos da Bíblia?
Continuemos, pois, a ser devotos de Nossa Senhora e dos Santos e invoquemo-los
todos os dias de nossa vida.

XXIII
Divina Maternidade da Virgem Santíssima

A Igreja nos ensina a dizer no Credo, a respeito de Jesus Cristo: "Nasceu de Maria
Virgem". Nestas três palavras estão expressas duas verdades muito claras para nós
cristãos: A Maternidade divina de Maria e a sua Pureza virginal.
Estudemo-las em dois capítulos distintos.

A Divina Maternidade da Virgem SSma. pela primeira vez, foi negada explicitamente
por Nestório e depois pelos protestantes. E a razão que alegam é esta: Maria não deu
a divindade a Jesus Cristo; deu-lhe somente a humanidade. Portanto pode ser
chamada — Mãe de Cristo-Homem — mas não — Mãe de Deus.
A divina Escritura, porém, e a própria razão estão contra eles.
I — Antes de tudo a divina Escritura, pois nela encontramos Maria, saudada Mãe
de Deus.
a) De fato Isaías (7, 14) diz: "Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho e o
seu nome será Emanuel, isto é, Deus conosco".
Como cada qual pode ver, o profeta aqui diz abertamente que o filho, que havia de
nascer da Virgem seria Deus.
Ora, se da Virgem SSma. nasceu um Deus, quer dizer que é Mãe de Deus.

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b) Na anunciação disse o Arcanjo S. Gabriel à Maria: "O Santo, que nascerá de Ti,
será chamado Filho de Deus".
Ora, Jesus (o Santo que devia nascer da Virgem SSma.) é Filho de Deus no sentido
estrito da palavra, isto é, nasceu da própria substância de Deus e é Deus como seu Pai.
Logo Maria é a Mãe de Deus.
c) S. Paulo na sua Epístola aos Romanos (9, 5) diz que Cristo, o qual é Deus bendito
sobre todas as coisas, pertence aos judeus segundo a carne.
Ora, Ele pertence aos judeus, enquanto nasceu da Virgem SSma.
Logo, da Virgem SSma. nasceu Aquele que é Deus bendito sobre todas as coisas e,
por conseguinte, é Mãe de Deus.
d) Sta. Isabel, cheia do Espírito Santo, assim saudou à Maria, quando veio visitá-la:
"Donde me vem esta dita que é a Mãe do meu Senhor me venha visitar?".
Ora, a palavra — Senhor — nesta passagem, indica Deus. Isto se pode deduzir dos
cap. 45 e 46, onde a palavra — Senhor — é repetida em sentido verdadeiramente
divino, e todo o capitulo I do Evangelho de S. Lucas, onde esta palavra tem sempre
sentido exclusivamente divino.
Logo Santa Isabel, chamando a Virgem SSma. — Mãe do meu Senhor — não fez
outra coisa senão chamá-la Mãe de Deus.
II — A razão também está contra Nestório e os protestantes. De fato, em Jesus,
Filho de Maria, não há duas pessoas: a divina e a humana; mas só a pessoa Divina. Ele
é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, que reúne substancialmente a natureza
divina e a humana.
Portanto Maria, Mãe daquela pessoa que é, ao mesmo tempo, Deus e homem,
pode e deve ser chamada Mãe de Deus.
É verdade que Maria deu apenas a natureza humana a Jesus e não a divina.
Mas esta natureza humana, que Ela lhe deu, pertence a uma pessoa divina.
Por isso com toda a razão podemos e devemos dizer que é Mãe de uma pessoa
divina, e por conseguinte Mãe de Deus.
Uma senhora que tem um filho que é Padre, é chamada mãe do Padre; outra que
tem um filho que é Prefeito, é chamada mãe do Prefeito, embora não seja a mãe quem
ordena seu filho sacerdote, quem proclama seu filho Prefeito.
Da mesma forma, pois, deve Maria ser chamada Mãe de Deus, por ter um Filho que
é Deus.

XXIV
Virgindade de Nossa Senhora

A perfeita virgindade de Nossa Senhora é uma verdade revelada por Deus, definida
pela Igreja, em que devemos crer, assim como cremos nos mistérios da SSma.
Trindade, da Encarnação e nos dogmas do Credo.
Maria foi sempre virgem antes do parto, no parto e depois do parto.

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Maria foi virgem antes do parto.
Já Isaías o tinha predito: "Eis que uma virgem conceberá"(Isaías 7, 14) e às palavras
do profeta respondeu a realidade. De fato o Evangelista atesta que o Arcanjo S. Gabriel
foi enviado por Deus a uma Virgem desposada com José. E quando lhe propôs a divina
maternidade, muito se perturbou e não a aceitou, senão depois de lhe ter sido
assegurado que a sua virgindade não teria sofrido detrimento. Eis a cena tal como a
conta o Evangelho:
"Como se dará isso? — perguntou Maria ao anjo — pois não conheço varão?"
Respondeu-lhe o anjo, dizendo: "O Espírito Santo descerá sobre Ti e a força do
Altíssimo te cobrirá com sua sombra". Somente Maria deu o seu consentimento,
dizendo: "Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra". (Lc
1, 34 e Seg.).
Maria foi virgem no parto. Com efeito, Isaías não somente diz que uma virgem
conceberá, mas também que dará à luz um filho. Oráculo este que se realizou em
Maria, conforme atesta S. Mateus.
Nota — que na profecia de Isaías se trata de uma pessoa que concebe e dá à luz,
sendo e permanecendo virgem, é manifesto, pois se trata de um sinal prodigioso.
Ora, que uma virgem se case e pelas relações com seu esposo chegue a ser mãe;
não é um caso nem um sinal prodigioso.
O prodígio está, portanto, em que essa mãe era e permanecerá virgem.
Como do seio da aurora surge resplandecente o sol; como o raio penetra o cristal
sem quebrá-lo; como a plácida estrela emite o seu esplendor e a rosa o seu perfume,
conservando todavia a sua integridade, assim também do seio de Maria veio o
Salvador, sem absolutamente lesar a sua virgindade.
O próprio bom senso nos diz que o milagre, que Lhe guardou a sua virgindade no
dia da Encarnação, nenhum sentido teria tido, se devesse cessar no momento da
natividade.

Maria foi virgem depois do parto.


Prova-se pela Sagrada Escritura.
Quando o Arcanjo S. Gabriel anunciou à Maria que devia conceber e dar à luz um
filho, ela respondeu: "Como se fará isto, se não conheço nenhum varão?"Com o que
lhe quis dizer: — Tenho um sério impedimento, que me veda de ser mãe: é a promessa
de perpétua virgindade que fiz, e que jamais deixarei de cumprir fielmente.
Com efeito, se assim não fosse porque essa sua pergunta ao Arcanjo? Não seria ela
descabida, estulta, inepta?
Bem lhe podia retorquir o Arcanjo: — Se atualmente o desconheces, ó Maria, logo o
conhecerás; não é José teu esposo?
Portanto, as palavras de Maria: "Não conheço varão, não significam": "atualmente
não conheço varão, mas sim: "Não me é permitido, não posso conhecer varão".

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E se Maria fez esta promessa, não há quem possa razoavelmente duvidar de que a
tivesse observado até à morte.
"Que Maria se conservasse sempre virgem — diz o próprio protestante Pearson —
se infere necessariamente do privilégio eminentíssimo e sem igual de ser Mãe de
Deus; da honra e reverência devida a tal Filho e que Maria sempre Lhe tributou; do
respeito ao Espírito Santo que descera sobre Ela; do poder do Altíssimo que a cobriu
com a sua sombra e, finalmente, da piedade singular do seu esposo José". (Explicação
do Credo, pag. 173).

O Evangelho diz: "Estando já Maria, desposada com José, antes de coabitarem, se


achou ter concebido por obra do Espírito Santo" — E "ele (José) não a conheceu
enquanto não deu à luz a seu primogênito".
Logo concluem os protestantes — coabitaram depois; a conheceu depois.
Resp. — No Salmo 109: lemos "disse o Senhor ao meu Senhor: senta-te à minha
direita até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés."; poder-se-á então
deduzir que quando o Pai Celestial tiver submetido a Jesus Cristo os seus inimigos, Ele
(Jesus) deixará de sentar-se à sua direita? Não.
Da mesma forma, o não ter José coabitado com Maria; o não tê-la conhecido até
dar à luz o seu primogênito, não traz, como consequência necessária, que coabitassem
depois, que a conhecesse depois. O santo Evangelista, nas passagens alegadas, quis
apenas nos dizer o que não se tinha feito.
— S. Mateus e S. João chamavam a Jesus primogênito de Maria. Que isto dizer que
ela teve outros filhos além de Jesus.
Resp. — Na Sagrada Escritura — primogênito se denomina aquele que foi gerado
primeiro, quer tenha nascido outro depois dele ou não. De fato no Êxodo cap. 34 e
Num. c. 18 Deus prescreveu que todos os primogênitos Lhe sejam consagrados. Ora,
nessa lei a palavra — primogênito significa simplesmente aquele que primeiro sai do
ventre materno, afim de que, o que antes tinha nascido começasse o ser primogênito;
mas logo depois de um mês devia ser remido. (Num 18)
— O evangelho fala dos irmãos de Jesus (Mt. 13, 54). Logo Maria teve outros filhos
além de Jesus Cristo.
Resp. — É verdade que o Evangelho fala dos irmãos de Jesus, mas em lugar algum
diz que são filhos de Maria.
Para a justa compreensão do citado texto do Evangelho é preciso notar que a
Sagrada Escritura muitas vezes emprega a palavra — irmãos — para designar parentes
de linha colateral. É assim por exemplo, que Abraão chama a Lot de seu irmão, embora
fosse apenas seu sobrinho (Gen 13, 14), e Labão diz a Jacó (seu primo em segundo
grau) "acaso, porque és meu irmão, deves tu me servir de graça? Dizei-me, pois, que
paga queres?". (Gen 29, 15).
Portanto, quando o Evangelho fala dos irmãos de Jesus, refere-se aos seus primos. E
tanto é verdade que o mesmo Evangelho nos diz o nome do pai e da mãe desses
irmãos de Jesus.

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Com efeito, estes supostos irmãos, conforme lemos e Mateus (13, 56) são: Tiago,
José, Simão e Judas Tadeu. Ora Tiago era filho de Alfeu ou Cleofas (Lc 61, 15) e sua
mãe era Maria, irmã da SSma. Virgem (Jo 19, 25). Portanto os outros três tinham os
mesmos pais; e por conseguinte, não eram filhos de Maria Santíssima.
Além disso Nosso Senhor prestes a morrer, confiou sua Mãe ao Apostolo S. João; o
que por certo, não teria feito, se Maria tivesse outros filhos.
Aleguei as razões que nos demonstram a virgindade perpétua de Nossa Senhora e
refutei as em contrário. Fica, pois demonstrado que Maria foi sempre Virgem: Virgem
antes do parto, no parto e depois do parto.

XXV
A Imaculada

Criando Deus os nossos primeiros pais, além dos dons da natureza, concedeu-lhes
também outros dons gratuitos e principalmente lhes infundiu a graça santificante, pela
qual se tornaram seus filhos adotivos e herdeiros do céu. Esta graça deveriam eles
transmiti-la aos seus herdeiros, mas com a condição de que se mantivessem e Lhe
obedecessem.
Instigados por Satanás desobedeceram e por isso perderam esta graça tanto para si
mesmos como para nós também. Jesus veio para no-la restituir e para tal fim
derramou todo o seu Preciosíssimo Sangue. Note-se, porém, que essa graça não nos é
infundida desde o primeiro instante da nossa existência, mas somente ao recebermos
o santo Batismo. Esta privação da graça santificante, na qual todos somos concebidos,
é justamente o que se chama pecado original e que todos contraímos, por sermos
filhos de Adão e Eva.
Criatura alguma foi preservada deste pecado? Sim. Dele foi preservado Nossa
Senhora e isto é o que queremos significar quando a chamamos de Imaculada. Ela não
contraiu o pecado original em vista dos merecimentos de Jesus seu Filho; portanto,
isto quer dizer que desde o primeiro instante da sua existência foi bela e santa aos
olhos de Deus.
Eis o que vou demonstrar e para proceder com a maior clareza possível, dividirei o
tema em dois pontos: 1° Era conveniente que Deus preservasse Maria do pecado
original: 2° E de fato A preservou.
Sob todo que qualquer aspecto que consideremos a Virgem SSma. Sempre aparece
como sumamente conveniente a sua Imaculada Conceição. Estavam as três pessoas
divinas empenhadas em conceder a Maria este privilégio. Vejamo-lo, começando pela
primeira pessoa.
Desde toda a eternidade o Pai Celestial predestinara Maria a ser Mãe do seu Filho
Unigênito, logo a vinculava a si de modo em extremo admirável, chamando-a a
compartilhar consigo da suprema honra de gerar a Jesus Cristo. E Nela já via um
principio, um começo de seu Filho humanado; Nela; pois; já O amava.
É possível que a consentisse, mesmo por um único instante, escrava do demônio e
manchada de pecado?
Não, a própria razão se revolta ante semelhante suposição.

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Além disso, predestinando-a o Pai Celestial para ser Mãe de Jesus Cristo a associava
à obra redentora, afim de que tivesse na ordem da reparação o lugar que Eva teve na
ordem da nossa ruína, espiritual: Eva cooperou com Adão para nos arrastar à perdição
e assim também deveria Maria cooperar com Jesus para nos remir.
Mas, pergunto eu, como teria Ela podido, honrosamente cooperar na redenção dos
homens se tivesse sido escrava de satanás?
Eis porque a primeira pessoa da SSma. Trindade, o Padre Eterno, estava empenhado
em preservá-la do pecado original.
A segunda pessoa não o era menos.
De fato, desde toda a eternidade elegia Maria por sua Mãe.
Ora, se a um homem fora dado escolher a própria mãe, quem ao invés de Rainha, a
escolheria escrava? ou podendo tê-la nobre, a escolhesse vil? ou podendo tê-la amiga,
a escolhesse inimiga de Deus? Ninguém; pois a natureza nos leva sempre desejarmos
para nossa mãe todo o bem possível. Portanto o Filho de Deus que pode escolher a
própria Mãe, a seu bel prazer, sem dúvida a escolheu tal qual convinha a um Deus.
Mas a um Deus puríssimo, convinha uma Mãe puríssima, isenta de toda culpa. Fê-la,
portanto, puríssima, isente de toda culpa, escreve S. Bernadino de Sena.
Isto melhor ainda se compreenderá, se considerarmos que a honra ou a desonra
dos pais resulta em honra ou desonra dos filhos.
Ora, que desonra não seria para Maria ter contraído o pecado original e por isso
mesmo ter sido escrava de Satanás? Conta-se que o rei Abimeleque ao dar a liberdade
à sua escrava Sara, lhe disse: "estás livre; lembra-te, porém, de que fostes minha
escrava". Com muito maior razão repetiria Satanás à Maria estas palavras humilhantes,
se tivesse Ela contraído o pecado original. "Eu vos liberto, mas lembrai-vos de que
foste minha escrava: esmagareis a minha cabeça, mas não esqueçais de que meu foi o
principio da tua existência; minhas foram as primícias da vossa vida". Palavras
desonrosas para Maria! Desonra esta que teria redundado na desonra do próprio Jesus
Cristo. É possível que Ele permitisse semelhante coisa? Não, absolutamente não.
Devia, pois, criar a própria Mãe isenta do pecado, sem dependência alguma do
demônio, toda santa e imaculada. E assim de fato a criou.
Portanto, como se vê, o Filho, assim como o Pai Celestial, estava empenhado em
preservar Maria do pecado original.
E o Espírito Santo não estava nisto igualmente empenhado? Reflitamos um pouco.
Ele deveria com o sangue da Virgem SSma. plasmar a humanidade de Jesus Cristo.
Teria, pois, podido permitir que o demônio profanasse aquele sangue? Possuísse,
mesmo por um só instante aquele coração, que haveria de escolher por seu santuário,
seu jardim de delícias?
Não, impossível admiti-lo. Fê-la, pois, imaculada, isenta da culpa de origem. "A
torrente do pecado — escreve S. Francisco de Sales — se deteve, assim como se
detiveram as águas do Jordão à passagem dos Israelitas. Diante do Maria se retiraram-
se as águas turvas do pecado, respeitando e temendo a presença do verdadeiro
tabernáculo da eterna Aliança". Todas estas razões, porém, demonstram apenas a
conveniência de que se impunha de ser preservada Maria SSma. do pecado original. De
fato foi preservada? Foi. É testemunha disto a Sagrada Escritura.

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Depois que nossos primeiros pais desobedeceram e perderam o estado de
inocência, Deus os chamou às contas. Primeiro perguntou a Adão porque Lhe tinha de
desobedecido, e este se desculpou, acusando a Eva. Em seguida, perguntando a esta
Lhe tinha desobedecido, disse-lhe a mesma que fora seduzida pela serpente. Então
pronunciou Deus a sentença contra os três e quando chegou a vez da serpente, disse:
"Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a dela. Ela te esmagará
a cabeça".
Segundo a interpretação comum dos Padres e Doutores da Igreja, a serpente aqui é
o demônio e a mulher é Maria SSma.; a semente do demônio é o pecado e a
posteridade da Virgem SSma. é Jesus Cristo.
O texto, como se vê, afirma que não somente haverá inimizade entre o demônio e a
Virgem SSma. mas também que esta inimizade perdurará entre a semente do demônio
e a posteridade da Virgem. Pelo que se cumpre afirmar que é a mesma inimizade que
existe entre Jesus e o demônio e entre Nossa Senhora e o mesmo.
Ora, perpétua foi a inimizade entre Jesus Cristo e o demônio.
O mesmo, pois, devemos afirmar da inimizade de entre a Virgem Maria e o
demônio. Por conseguinte, desde o primeiro instante da sua Conceição foi dele
inimiga, o que é o mesmo que dizer: — foi isenta do pecado, visto que só o pecado é
pacto da aliança e amizade com o demônio.
Outra prova da Imaculada Conceição de Maria no-la oferecem as palavras que o
Arcanjo S. Gabriel proferiu ao lhe anunciar que deveria se tornar Mãe do Salvador:
"Ave, ó cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres".
Que significam estas palavras?
Um recipiente só esta completamente cheio quando já não mais comporta. Se for
possível adicionar ao seu conteúdo algo a mais, é indicio de que ainda não esta cheio.
Ora, a Virgem SSma. é chamada cheia de graça por excelência, como se fosse este o
seu próprio nome. Portanto recebeu de Deus todas as graças que a uma criatura é
dado conter. E por isso mesmo, também foi preservada do pecado original.
Aliás, já não seria a cheia de graça, faltando-lhe pelo menos esta: a preservação do
pecado.
A figura deste privilégio de Maria, que mais expressiva me parece é a da Rainha
Ester.
Tendo esta Rainha entrado para falar com Assuero sem ser chamada, indo assim, de
encontro à lei inviolável dos Assírios, que decretava pena de morte para todos aqueles
que sem serem chamados, chegassem à presença daquele rei, dominada por terror
incontido diante do extremo rigor da lei, já ia quase desfalecendo, quando Assuero
inclinando o cetro sobre ela, disse-lhe: "Não temas Ester, esta lei obriga a todos, mas
não a ti".

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A Igreja sempre acreditou nesta verdade: Os Santos Padres e Doutores desde os
primeiros séculos escreveram sobre a Virgem em tais termos que os seus louvores e as
suas declarações exprimem exatamente este singular privilégio. A Igreja o reconheceu,
instituindo a festa da Imaculada Conceição e animando os fiéis a invocarem a Maria
sob este título. Finalmente Pio IX, aos 8 de dezembro de 1854 proclamava a Imaculada
Conceição de Maria, verdade e dogma de fé, com esta solene definição: "Para glória da
SSma. Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo; pela autoridade de Jesus Cristo, dos
Santos Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, declaramos, decretamos, definimos ser
verdade revelada que a Virgem SSma. por singular privilégio e graça de Deus, em vista
dos merecimentos de Jesus Cristo, Redentor do gênero humano, desde o primeiro
instante da sua Conceição foi preservada da culpa original".
Com esta solene definição, como é claro, não criou o Papa um novo dogma, mas
apenas reconheceu e declarou ser a Imaculada Conceição de Maria uma verdade
revelada por Deus e universalmente admitida pela Igreja.
E a palavra do Papa teria sido bastante, para nós pois sabemos que, quando ele fala
como pastor e mestre supremo dos fiéis e define verdades de fé e de costumes, é
infalível, isto é, não pode errar. Contudo Nossa Senhora para dos seus filhos ainda mais
confirmar a fé, quis com a sua palavra augusta fazer eco à palavra infalível do Papa.
Na pequenina e pitoresca cidade de Lourdes, ao sopé dos Pirineus, uma menina de
14 anos, Bernadete de Soubirous, juntamente com outras companheiras,
perambulavam pelos arredores da gruta de Massabielle, em busca de lenha. Enquanto
a inocente criatura se dispunha a atravessar um cristalino e cantante regato, eis que se
vê envolvida por uma impetuosa rajada de vento. Atônita, maravilhada volve os olhos
em derredor e vê que o roseiral silvestre, que com os seus longos ramos despojados de
folhas adornava a base da gruta, era grandemente agitado por uma suave viração.
Enquanto Bernadete estática contemplava o roseiral ligeiramente ondulante, eis
que se ilumina a gruta de uma claridade celestial e envolta naquela luz deslumbrante
resplandece uma beleza incomparável sob a forma de uma graciosa senhora, revestida
e cândida veste, cingida de uma faixa azul celeste, que, suavemente descendo, Lhe
aflora os pés, tendo no céu fixo o olhar castíssimo e pendente das mãos postas um
níveo rosário.
Verdadeira visão do paraíso! À pergunta de Bernadete: "Quem sois?" Com voz
melodiosa responde aquela Senhora: "Eu sou a Imaculada Conceição".
E desde então Lourdes se tornou célebre em todos os recantos da terra. No sítio em
que a Virgem apareceu, ergueu-se uma suntuosa basílica e ali peregrinos de todos os
quadrantes do globo invocam a Maria sob o título de Imaculada e alcançam as graças
almejadas: os cegos vêem, os mudos falam, os paralíticos andam, os doentes
recuperam a saúde.
Tudo isto é irrefutável testemunho de que a visão que teve Bernadete, não foi uma
simples ilusão, mas uma verdadeira aparição de Nossa Senhora, que por isso é
Imaculada como as suas próprias palavras o afirmaram: "Eu sou a Imaculada
Conceição".

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XXVI
Purgatório

Purgatório é o estado, ou antes, o lugar em que as almas dos justos, saídas deste
mundo, sem terem satisfeito perfeitamente suas culpas, acabam de expiá-las antes de
serem admitidas ao céu.
— A existência do Purgatório é verdade de fé. De fato, no II livro dos Macabeus,
lemos que Judas, depois de renhido combate, em que sucumbiu uma grande multidão
de guerreiros, fez uma coleta e mandou 12 mil dracmas de prata a Jerusalém para que
fosse oferecido a Deus um sacrifício expiatório pelos pecados dos mortos. Depois de
relatado este fato, o historiador sagrado acrescenta: "Portanto, santo e salutar é o
pensamento de rezar pelos defuntos, afim de que sejam absolvidos dos seus pecados".
(II Mac. 12, 46).
Esta passagem nos dá o direito de concluir que entre o céu e o inferno há um lugar
de expiação. Com efeito, as almas que estão no céu não têm necessidades das nossas
orações, as que estão no inferno não podem, pelas mesmas, receber este alívio.
Portanto deve haver um terceiro lugar, em que as nossas orações sejam úteis às
almas que nele se encontram, lugar que nós, católicos, chamamos de Purgatório.
Mas dizem os protestantes, os dois livros dos Macabeus são apócrifos, não
pertencem à Divina Escritura.
Quem os declarou apócrifos foram Lutero e Calvino. Mas a Igreja Universal os
considerou sempre como autênticos e divinos e como tais tem sido citados pelos SS.
Padres mais antigos: por isto Sto. Agostinho pode dizer: "A Igreja de Deus tem
reconhecido sempre os livros dos Macabeus como livros canônicos, isto é, como
pertencentes à Divina Escritura". (Cid. de Deus 36).
Contudo, dado é concedido que estes dois livros não sejam divinos, o texto aludido
decide admiravelmente a favor do Purgatório; pois mostra claramente que o povo
judaico cria no Purgatório e que, para sufragar as almas dos mortos, não só recorria às
súplicas e orações, mas também oferecia sacrifícios no templo e instituíra para este
fim ritos solenes; o que não podia fazer, não teria feito, se isto não tivesse aprendido
por Divina Revelação.
Mas citemos os textos que também se acham na Bíblia protestante.
No Evangelho de S. Mt. (cap. 12, 32) Jesus diz: "Aquele que disser uma palavra
contra o Filho do Homem ser-lhe-á perdoado, mas ao que falar contra o Espírito Santo,
não lhe será perdoado nem neste século, nem no futuro".
Pela distinção estabelecida nestas palavras de Jesus, é evidente que há pecados que
são perdoados neste século, isto é, neste mundo e no outro mundo.
Mas onde serão perdoados? no céu? Não, pois, lá o pecado não pode entrar. No
inferno? Tão pouco, porque aí não há mais perdão nem remissão. Onde então? Num
lugar diferente do céu e do inferno e que nós, os católicos chamamos de Purgatório.
Ainda no Evangelho de S. Mt. (5, 26) Jesus diz: "Reconcilia-te com teu adversário...
enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te

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entregue ao Juiz e o Juiz te entregue ao ministro e te encerrem na prisão. Em verdade
te digo, que de modo algum sairás de daí, enquanto não pagares até o último ceitil".
Qual esta prisão de onde uma alma só poderá sair depois de ter pago o último
ceitil?
O céu não é, pois o céu não é uma prisão.
O inferno também não é, pois ninguém sai do inferno.
Não é uma prisão terrena, pois com um advogado, protetores e amigos se retira da
cadeia até mesmo um criminoso ou, pelo menos, se lhe pode diminuir a pena.
Qual será então?
É o Purgatório, ou lugar de expiação, onde a alma expia suas faltas, purifica-se das
suas derradeiras manchas, antes de entrar no céu.
— S. Paulo na sua 1a. Epístola aos Coríntios diz: "O fogo provará as obras de cada
homem. Aquele, cuja obras subsistirem, será recompensado; aquele cujas obras forem
consumidas, ficará prejudicado, contudo será salvo, mas pelo fogo". (3, 13-16).
O fogo de que fala aqui o Apóstolo, não pode ser o que há de abrasar o mundo
antes do último juízo, porque esse fogo não provará as obras de quem quer que seja e
agirá indiferentemente sobre os bons e os maus.
Não pode ser o do inferno porque esse é eterno, nem pode salvar.
Logo, é o fogo de outro lugar que chamamos Purgatório.
O mesmo Apóstolo na sua epístola aos Filipenses (2, 10) diz: "Ao nome de Jesus
todo joelho se dobra no céu, na terra, e debaixo da terra". Por aqueles que "estão
debaixo da terra" designa o Apóstolo não os corpos dos finados, mas as almas dos
mortos que não se acham no céu. Estas almas ou estão no Purgatório ou estão no
inferno.
Impossível, porém, que se refira às que estão no inferno, porque bem sabia que no
inferno não se dobra o joelho ao nome de Jesus. Refere-se, pois as que estão no
Purgatório.
S. João (Apoc. 21, 27) diz, falando do céu:
"Nada manchado lá entrará".
Ora, façamos uma suposição: morre de improviso um justo, que tem cometido
apenas algum ato de impaciência.
Para onde irá a sua alma? Para o céu? Não, porque está manchada por aquele ato
de impaciência.
Para o inferno?
Também não, porque um pequeno ato de impaciência não merece uma pena
eterna.
Para onde irá então? Para um lugar intermediário entre o céu e a terra, que se
chama Purgatório.
A este testemunho das divinas Escrituras faz eco o de todos os séculos do
cristianismo.

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Os protestantes dizem que o Purgatório teve origem no século VI, com Gregório, o
Grande.
Ao que respondemos: mentem. A palavra é um pouco dura, mas merecida. Com
efeito, em todos os séculos anteriores ao VI se conheceu o Purgatório. Eis as provas:
No século V Sto. Agostinho assim escrevia no seu livro intitulado — As confissões: —
"Senhor, dignai-vos de perdoar a minha mãe. Lembrai-vos de que, estando ela para
morrer não pensou no corpo, não pediu as honras fúnebres. Tudo quanto ela desejou,
foi que se fizesse memória dela no Santo Altar, onde sabia que se oferece a Santa
Vítima que apaga e destrói a cédula da nossa condenação". (Liv. 9 cap. 13).
No mesmo século S. Jerônimo na sua carta a Pamáquio dizia: "É costume cobrir de
flores o túmulo das mulheres; mas seguistes um uso melhor derramando sobre o
túmulo da vossa esposa algumas moedas para o alívio da sua alma".
No século IV, S. João Crisóstomo assim falava a respeito das almas do Purgatório:
"As lágrimas dos vivos não são inúteis aos mortos; as orações e as esmolas os aliviam
(Rom I, Ep. ad Cor).
E S. Cirilo de Jerusalém, explicando a liturgia, dizia: "Em seguida oramos pelos
defuntos, sabendo pela fé que a oração é muito útil para as almas, pelas quais se
oferece". (Catc. 23, 9).
No século III S. Cipriano, Bispo de Cartago, ensinava claramente: "Além do túmulo
existem para as almas três estados distintos: O céu, para onde sobem os Santos; o
inferno para onde descem os pecadores impenitentes, e o Purgatório, onde são
purificados pelo fogo os predestinados ainda imperfeitos".
E com a mesma clareza acrescenta: "Há uma notável diferença entre subir ao céu
imediatamente depois da morte, e lá chegar depois de uma demora, mais ou menos
longa, nas penas expiatórias do Purgatório". (Epístolas 52s e 56a).
No século II Tertuliano, depois de ter referido o costume dos cristãos de oferecem
sacrifícios em sufrágio dos defuntos, acrescenta:
"Se procurardes uma lei desta prática, nenhuma achareis escrita; mas a tradição dos
nossos maiores no-la representa como antiga, o costume, a confirma e a fé manda-vos
observá-la". (De coron. Milit. cap. 3 e 4).
Este testemunho de Tertuliano demonstra que também no século I já se costumava
oferecer sacrifícios em sufrágio dos mortos, visto que ele chama antiga esta prática.
Finalmente temos as catacumbas, que remontam aos primeiros séculos, onde se
leem ainda hoje nos túmulos dos mortos estas ou outras semelhantes inscrições:
"Deus refrigere o teu espírito; Vitória descanse em paz o teu espírito; Casemiro,
conceda-te Cristo a luz eterna".
Todos estes testemunhos mostram que desde a idade dos apóstolos, os cristãos
sempre costumavam rezar pelos mortos e por isso mesmo, mostram também que os
cristãos sempre acreditaram na existência do Purgatório, visto que os eleitos não tem
necessidade alguma de nossas orações; e aos réprobos não podem ser úteis.
Mas — dizem os protestantes — não esta escrito (I de S. João 1, 7) que o sangue de
Jesus nos purifica de todo pecado?
Sim, esta escrito. Eis, porém, a resposta.

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Quando cometemos um pecado ofendemos a Deus e merecemos um castigo.
Ora, o sangue de Jesus Cristo, se nos arrependermos de nossos pecados e os
confessarmos, nos perdoa a ofensa e, por conseguinte, também nos livra da pena
eterna; já que Deus, perdoando a uma alma, lhe restitui a sua amizade e uma alma
amiga de Deus é impossível que seja condenada ao fogo eterno. Este sangue, porém,
nem sempre nos dispensa de sofrer uma pena temporal pelos pecados cometidos. Por
isso se uma alma sair deste mundo, sem ter pago à divina justiça esta pena temporal,
vai pagá-la no Purgatório.
Davi tornou-se homicida e adúltero. Tendo sido advertido por Natan, arrependeu-se
e exclamou: "Pequei contra Deus". Natan lhe replicou: "O Senhor perdoou o teu
pecado, não perecerás". Portanto a ofensa e o castigo eterno lhe são perdoados; mas
notai bem que este castigo eterno é substituído por uma pena temporal: "Todavia,
acrescentou o profeta, como deste aos inimigos do Senhor ocasião de blasfemar por
esta razão o filho que te nasceu morrerá". (II Reis, 12).
De outra vez, o mesmo Davi cometeu um pecado de vaidade, querendo saber de
quantos súditos era soberano, e o profeta Gad lhe deixou a escolher entre a guerra, a
fome e a peste, ainda que o seu pecado já lhe tivesse sido perdoado. (II Reis 24, 12).
É, pois, a própria Bíblia que nos ensina a fazer no pecado a distinção entre a ofensa
e a pena; é a própria Bíblia que nos ensina que podemos alcançar de Deus o perdão da
ofensa e da pena eterna sem que possamos ser dispensados de sofrer uma pena
temporal.

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ÍNDICE

I — A verdadeira regra de fé
II — Regra de fé protestante
III — A verdadeira Igreja
IV — Perpetuidade do primado
V — Infalibilidade do Papa
VI — Os Sacramentos
VII — O Batismo
VIII — Confirmação ou Crisma
IX — A Eucaristia — Palavras da promessa
X — A Eucaristia — Palavras da instituição
XI — A Eucaristia e a tradição
XII — A comunhão sob as duas espécies
XIII — O santo sacrifício da missa
XIV — Confissão — Palavras da instituição
XV — Confissão — sua instituição divina provada pela tradição e pela razão
XVI — Extrema Unção
XVII — Ordem
XVIII — O Sacramento do Matrimônio
XIX — Indissolubilidade do matrimônio à luz da fé
XX — Indissolubilidade do matrimônio à luz da razão
XXI — O culto de Deus, dos Santos e das imagens
XXII — Intercessão da Virgem Santíssima e Santos
XXII — Divina maternidade de Maria
XXIV — Virgindade de Nossa Senhora
XXV — A Imaculada
XXVI — O Purgatório

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