Você está na página 1de 41

GEOTECNIA I

Aula 07 – Estratigrafia e o tempo geológico

Lidiane da Silva Ibeiro


Sucessão estratigráfica
• No Grand Canyon, no Estado norte-americano do
Arizona, o rio Colorado atravessa sedimentos
depositados por centenas de milhões de anos de
história terrestre.

https://earth.google.com/web/

Grand Canyon Village, Arizona, EUA


Sucessão estratigráfica
• Nicolaus Steno (1667) – estudo de estratos nas rochas

• Princípio da horizontalidade original: os sedimentos são depositados sob influência da gravidade


como camadas quase horizontais. Se encontramos estratos dobrados ou inclinados, sabemos que
as camadas foram deformadas por esforços tectônicos depois da deposição.

• Princípio da superposição: em uma sequência não perturbada tectonicamente, cada camada de


rocha sedimentar é mais nova que aquela sotoposta e mais antiga que a sobreposta.

• Uma sequência cronologicamente ordenada de estratos é chamada de sucessão estratigráfica.


Registro estratigráfico
• William Smith (1793) – fósseis como marcadores do tempo geológico
• Princípio da sucessão faunística: os estratos sedimentares em um afloramento contêm fósseis em
uma sequência definida. A mesma sequência pode ser encontrada em afloramentos em outras
localizações, de forma que os estratos de um local podem ser correlacionados com os de outro.

http://www.cprm.gov.br/publique/CPRM-Divulga/O-que-sao-e-como-se-formam-os-fosseis%3F-
1048.html#:~:text=Para%20que%20ela%20ocorra%2C%20ou,respons%C3%A1vel%20pela%20
decomposi%C3%A7%C3%A3o%20dos%20tecidos.

• Fósseis são restos ou vestígios de animais e vegetais preservados em rochas. Restos são partes
de animal (ex.: ossos, dentes, escamas) ou planta (ex.: troncos) e vestígios são evidências de sua
existência ou de suas atividades (ex.: pegadas).
• A fossilização resulta da ação combinada de processos físicos, químicos e biológicos. Para que
ela ocorra, ou seja, para que a natural decomposição e desaparecimento do ser que morreu seja
interrompida e haja preservação são necessárias algumas condições, como rápido soterramento e
ausência de ação bacteriana, que é a responsável pela decomposição dos tecidos. Também
influenciam na formação dos fósseis o modo de vida do animal e a composição química de seu
esqueleto.
Registro estratigráfico
• Lacunas no registro estratigráfico
• Ao compilar a sucessão estratigráfica de uma região, os geólogos encontram lugares onde está
faltando uma formação.
• A superfície entre duas camadas que foram depositadas com um intervalo de tempo entre elas é
chamada de discordância.

• Uma discordância em que o pacote superior


• Uma discordância em que o conjunto de camadas sobrepõe-se a um inferior
superior de camadas assenta-se em uma cujas camadas foram dobradas por
superfície erosiva desenvolvida sobre um processos tectônicos e, depois, sofreram
pacote de camadas não deformado e ainda erosão em uma superfície mais ou menos
disposto na posição horizontal é chamada plana denomina-se discordância angular.
de desconformidade.
TEMPO 3
A erosão remove a camada D e parte
TEMPO 1 da C, deixando uma superfície
Os sedimentos acumulam-se, sob o mar, irregular de morros e vales.
nas camadas A-D.

TEMPO 4
Com a subsidência da região, o nível
TEMPO 2 do mar sobe, permitindo que uma
As forças tectônicas causam o nova camada, E, se deposite sobre a C.
soerguimento das camadas acima do A superfície irregular no topo de C é
nível do mar, expondo-as à erosão. preservada como uma discordância.
Soerguimento
Desconformidade Subsidência
TEMPO 3
TEMPO 1 A erosão remove os topos das
Os sedimentos acumulam- camadas dobradas, deixando
se em camadas, sob o nível um plano irregular com porções
do mar. expostas de várias camadas
dobradas.

Compressão
TEMPO 4
TEMPO 2 Com a subsidência da região, o nível do
Forças tectônicas causam mar sobe, permitindo que novos
Discordância
soerguimento, dobramento e sedimentos se acumulem sobre a angular
deformação das camadas superfície erosiva anterior. A superfície
sedimentares. Soerguimento onde os novos sedimentos e as camadas
dobradas se limitam é preservada como Subsidência
discordância angular.
• Discordância angular encontrada no Grand Canyon
Registro estratigráfico
• Uma discordância pode implicar que forças tectônicas soergueram a rocha acima do nível do mar,
onde a erosão removeu algumas camadas rochosas. Alternativamente, a discordância pode ter
sido produzida pela erosão de uma rocha recém-exposta, enquanto o nível do mar descia. O nível
do mar pode baixar durante as idades do gelo, devido à retirada de água dos oceanos para formar
os mantos de gelo continental.

• Apenas mudanças no volume de gelo nos continentes afetam diretamente o


nível do mar.
• À medida que as geleiras continentais crescem, o volume dos oceanos diminui
e o nível do mar desce. Quando as geleiras continentais derretem, seu volume
diminui e o nível do mar sobe.
Relações de seccionamento
• Falha
• A falha é uma fratura que desloca a
rocha em ambos os lados paralelos a
ela. O deslocamento pode ser de
apenas alguns metros, enquanto ao
longo de uma falha transformante
grande, como a de San Andreas, pode
chegar a centenas de quilômetros.

Camadas de rochas,
anteriormente contínuas,
deslocadas ao longo da falha por
forças tectônicas.
Relações de seccionamento
• Diques
• Formam-se quando o magma força fraturas abertas preexistentes ou abre canais pela pressão ao
ser injetado. São a principal rota de transporte de magmas através da crosta.

Sugere a geólogos que


Pode seccionar e
a rocha intrusiva fora
romper camadas
forçada nas fraturas
sedimentares.
como um líquido.
Relações de seccionamento
• Relações de seccionamento permitem que os geólogos estabeleçam as idades
relativas de intrusões ígneas ou falhas em uma sucessão estratigráfica.
• Os geólogos podem combinar relações de seccionamento, discordâncias e
sucessões estratigráficas para decifrar a história de regiões cuja geologia é
complexa.
TEMPO 3
TEMPO 1 Um dique de magma líquido
Os sedimentos acumulam- intrude-se nas camadas
se em camadas sob o nível dobradas, cortando-as.
do mar. Verifica-se que a sedimentação
e o dobramento antecederam Dique
a intrusão.

Plúton (grande
massa ígnea)

TEMPO 2
As forças tectônicas causam
soerguimento, dobramento TEMPO 4
e deformação das camadas O falhamento desloca as
sedimentares. camadas e o dique. Como as
camadas sedimentares e o
dique estão ambos deslocados,
a ocorrência do falhamento é
considerada posterior a eles.
Falha
O tempo geológico

• Os processos geológicos ocorrem em escalas de tempo que variam de


segundos (explosões vulcânicas, terremotos) a dezenas de milhões de anos
(reciclagem da litosfera oceânica) e até bilhões de anos (evolução tectônica dos
continentes).

• A imensidão do tempo foi uma grande descoberta geológica que mudou nosso
pensamento sobre como a Terra opera em termos de um sistema.
O tempo geológico

• Para dar sentido à imensidão da história


terrestre, os geólogos a subdividiram num
esquema hierárquico.

• A escala do tempo geológico divide a


história da Terra em intervalos marcados
por conjuntos distintos de fósseis, impondo
limites nesses intervalos quando esses
conjuntos sofreram uma mudança abrupta.
• As maiores divisões são os éons,
incluindo o Fanerozóico, que se
estende de 540 milhões de anos atrás
até os dias atuais.

• Dentro do Fanerozóico há três eras: a


Paleozoica (do grego paleo, que
significa “antigo”, e zoi, “vida”), a
Mesozoica (“vida intermediária”) e a
Cenozoica (“vida recente”).
• As eras são subdivididas em
períodos, a maioria deles
denominados de acordo com o nome
da localidade geográfica onde as
formações estão mais bem expostas,
ou onde foram descritas pela primeira
vez, ou por alguma característica
distintiva das formações.

• Alguns períodos têm outra subdivisão


em épocas.

• Hoje vivemos a Época Holocena


(“completamente nova”) do Período
Quaternário da Era Cenozoica.
• Limites de intervalos marcam extinções em massa
• Muitos dos principais limites na escala de tempo geológico representam extinções em massa:
intervalos curtos durante os quais uma grande proporção das espécies vivendo ao mesmo tempo
simplesmente desaparecem do registro fóssil, seguidos do surgimento de muitas novas espécies.
• Essas mudanças abruptas nas sucessões faunísticas eram um grande mistério para os geólogos
que as descobriram. A teoria da evolução de Darwin explicava como as novas espécies
conseguiam evoluir, mas o que havia causado as extinções em massa?
• Em alguns casos, pensamos ter a resposta. A extinção em massa no final do Período Cretáceo,
que dizimou 75% das espécies vivas, inclusive todos os dinossauros, foi quase com certeza o
resultado do impacto de um grande meteorito que escureceu e envenenou a atmosfera e imergiu a
Terra em muitos anos de clima extremamente frio. Esse desastre marcou o fim da Era Mesozoica
e o início da Cenozoica.
• Em outros casos, ainda não há certeza. A maior extinção em massa, no fim do Período Permiano,
que define o limite entre as eras Paleozoica e Mesozoica, eliminou aproximadamente 95% de
todas as espécies vivas, mas a causa desse evento ainda é debatida.
• Além do impacto de bólidos, os cientistas
têm proposto outros tipos de eventos
extremos, como variações climáticas
rápidas ocasionadas por glaciações e
enormes erupções de material vulcânico.
• As extinções em massa reduzem o número
de especies competindo por espaço na
biosfera. Com a “diluição da multidão”,
esses eventos extremos podem promover a
evolução de novas espécies.
• Após o fim dos dinossauros há 65 milhões
de anos, os mamíferos tornaram-se a
classe dominante de animais. A rápida
evolução dos mamíferos em espécies com
cérebros maiores e mais destreza levou à
emergência de espécies humanoides
(hominídeos) cerca de 5 milhões de anos
atrás e à nossa própria espécie, o Homo
sapiens (palavra latina para “homem
sábio”), há aproximadamente 200 mil anos.
https://www.youtube.com/watch?v=MPATtHrY1AM
Museu Americano de História Natural em Nova York
Cinema

https://www.youtube.com/watch?v=iMsJe3Tymq
Y
Carbono Ao longo do tempo geológico, esses remanescentes
orgânicos são transformados em petróleo, gás natural e
O bloco de construção essencial à toda vida na Terra é o depósitos de carvão. Quando extraímos e queimamos
carbono. Em nosso planeta, sempre que a vida estiver esses depósitos, estamos movendo carbono da litosfera
presente, haverá carbono. Nenhum outro elemento para a atmosfera na forma de emissões de CO2.
químico equivale-se a esse em termos de variedade e
complexidade dos compostos que pode formar. Parte do
motivo dessa versatilidade é que o carbono pode formar
quatro ligações covalentes consigo próprio e com outros Água
elementos, o que permite uma ampla variedade de A vida como a conhecemos exige água (H2O). Todos os
estruturas. O carbono age como o modelo em torno do organismos na Terra são compostos primariamente de
qual são construídas as moléculas orgânicas, como os água, tipicamente de 50 a 90%. Sabe-se que os humanos
carboidratos e as proteínas. Assim, esse elemento é podem viver semanas sem comer, mas a maioria morreria
criticamente importante para os organismos porque faz em apenas alguns dias sem água. Mesmo microrganismos
parte da fabricação de todas as partes deles, de genes a que vivem na atmosfera devem obter água de minúsculas
estruturas corporais. A biosfera controla, em grande parte, gotas que condensam em torno de partículas de poeira, e
o fluxo de carbono pelo sistema Terra. Os organismos os vírus devem obter água de seus hóspedes. A água é o
marinhos extraem carbono – que está presente na água habitat no qual a vida emergiu pela primeira vez. As
marinha na forma de CO2 dissolvido – para formar propriedades químicas da água e a forma como ela
conchas e esqueletos carbonáticos. Quando os responde a mudanças de temperatura a tornam um meio
organismos morrem, seus esqueletos depositam-se no ideal para a atividade biológica. As células de todos os
assoalho oceânico, onde se acumulam como sedimentos, organismos são compostas basicamente de uma solução
movendo o carbono da biosfera para a litosfera com aquosa que promove as reações químicas da vida. A água
eficiência. O acúmulo dos remanescentes orgânicos de também ajuda a moderar o clima terrestre, que tem dado
organismos em pantanais de água doce e no assoalho suporte à vida por, pelo menos, 3,5 bilhões de anos.
oceânico move esse elemento da biosfera para a litosfera.
Somos recém-chegados na biosfera!

Comprimindo os 4,567 bilhões de anos da história da Terra em uma linha do tempo virtual de 24
horas, determine os horários que representariam os seguintes eventos:

a) a extinção dos dinossauros;


b) o aparecimento do Homo Sapiens;
c) o descobrimento da América por Colombo.
https://data.worldbank.org/indicator/SP.POP.TOTL
Datação
• Idades relativas
• No início do século XIX, os geólogos começaram a aplicar princípios estratigráficos em afloramentos
por todo o mundo. Os mesmos fósseis característicos foram descobertos em formações
semelhantes em vários continentes. Além disso, as sucessões faunísticas de diferentes continentes
frequentemente exibiam as mesmas mudanças nas sequências de fósseis.
• Comparando as sucessões faunísticas e usando relações de seccionamento, os geólogos
conseguiram determinar as idades relativas de formações rochosas em nível global. Por volta do fim
do século, haviam montado uma história mundial de eventos geológicos – a escala do tempo
geológico.
• A escala do tempo geológico, baseada em estratigrafia e em sucessões faunísticas, é relativa. Com
ela, os geólogos podem dizer se uma formação ou assembleia de fósseis é mais antiga que outra,
mas não a duração real em anos, de eras, períodos e épocas.
Datação
• Medição do tempo absoluto com relógios isotópicos
• Estimativas do tempo necessário para haver erosão de montanhas e acúmulo de sedimentos
sugeriram que a maior parte dos períodos geológicos havia durado milhões de anos, mas os
geólogos do século XIX não sabiam se a duração de qualquer período específico era de 10 ou 100
milhões de anos ou mesmo mais do que isso.
• O período mais recente da história geológica registrado por sucessões faunísticas era o Cambriano,
quando a vida animal, na forma de fósseis de conchas, apareceu subitamente no registro geológico.
No entanto, muitas formações rochosas eram nitidamente mais antigas, porque ocorriam abaixo de
rochas cambrianas em sucessões estratigráficas. Mas essas formações não continham nenhum
fóssil reconhecível, então não havia como determinar suas idades relativas.Todas essas rochas
foram agregadas na categoria geral chamada de Pré-Cambriano.
• Que fração da história da Terra estava trancada nessas rochas enigmáticas? Que idade tinha a
rocha mais antiga do Pré-Cambriano? Que idade tinha a própria Terra? Essas questões suscitaram
um debate acalorado na segunda metade do século XIX.
Datação
• Descoberta da radioatividade
• Em 1896, um avanço na física moderna pavimentou uma maneira confiável e precisa de medição
das idades absolutas. Henri Becquerel, um físico francês, descobriu a radioatividade do urânio.
Menos de um ano depois, a química francesa Marie Sklodowska-Curie descobriu e isolou outro
elemento altamente radioativo, o rádio. Em 1905, o físico Ernest Rutherford sugeriu que a
radioatividade poderia ser usada para medir a idade exata de uma rocha. Ele calculou a idade de
uma rocha a partir de medições de seu teor de urânio. Esse foi o início da datação isotópica, que
consiste em usar elementos radioativos naturais para determinar as idades das rochas. Poucos anos
depois, as idades de muitas outras rochas foram determinadas, enquanto os métodos de datação
iam sendo refinados e mais elementos radioativos eram descobertos. Uma década depois da
primeira tentativa de Rutherford, os geólogos conseguiram demonstrar que algumas rochas pré-
cambrianas tinham bilhões de anos.
• Em 1956, o geólogo Clair Patterson mediu o decaimento do urânio em meteoritos e em rochas
terrestres para determinar que a Terra havia se formado 4,56 bilhões de anos atrás.
Datação
• Isótopos radioativos: os relógios das rochas
• Como os geólogos utilizam a radioatividade para determinar a idade de uma rocha?
• O núcleo de um átomo consiste de prótons e nêutrons. Para um determinado elemento, o número de
prótons é constante, mas o número de nêutrons pode variar entre diferentes isótopos do mesmo
elemento. A maioria dos isótopos é estável, mas o núcleo de um isótopo radioativo pode
desintegrar-se (decair), ejetando partículas e formando um átomo de um elemento diferente.
Chamamos o átomo original de pai, e o produto do seu decaimento é o filho.
• Um isótopo-pai forma um isótopo-filho por decaimento a uma taxa constante. As taxas de
decaimento são estabelecidas em termos da meia-vida de um elemento – o tempo requerido para
que a metade do número inicial de átomos transforme-se em átomos-filho. No final do período da
primeira meia-vida, a metade do número de átomos-pais ainda permanece. No final do período da
segunda meia-vida, a metade daquela metade, ou um quarto do número original, ainda resta, e
assim sucessivamente.
• Um elemento útil para a datação isotópica é
o rubídio, que tem 37 prótons e dois
isótopos de ocorrência natural: o rubídio-85,
que tem 48 nêutrons e é estável, e o
rubídio-87, que tem 50 nêutrons e é
radioativo. Um nêutron no núcleo de um
átomo de rubídio-87 pode ejetar um elétron
de forma espontânea, assim transformando-
se em próton, que permanece no núcleo. O
isótopo-pai rubídio-87, então, forma um
isótopo-filho estável, o estrôncio-87, com 38
prótons e 49 nêutrons.
Datação
• Muitas pesquisas ativas seguem buscando respostas para decifrar a história da Terra

• Antártida é destino de pesquisa de cientistas brasileiros


• Pesquisadores buscam vestígios de uma floresta que existiu no local

https://globoplay.globo.com/v/6692750/
Referências Bibliográficas
• GROTZINGER, J; JORDAN, T. Para entender a terra. 6. ed. Porto Alegre: Bookman,
2013, 738p.
• POPP, J. H.; Geologia Geral. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017, 352p.

Você também pode gostar