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03/12/2014

Compensação de Reserva Legal em Unidades de Conservação de domínio público,


pendentes de regularização fundiária – uma alternativa para regularização dos
imóveis rurais.

Regina Gonçalves Barbosa Caixeta1

A Reserva Legal é conceituada pelo Código Florestal (Lei Federal


12.651, de 25 de maio de 2012), como sendo uma área localizada no interior de uma
propriedade ou posse rural, com a função de assegurar o uso econômico de modo
sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação
dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o
abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.
Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a
título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de
Preservação Permanente, observados os percentuais mínimos em relação à área do
imóvel.
Com o advento do Novo Código Florestal, o proprietário ou possuidor de
imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de Reserva Legal em extensão
inferior ao mínimo legal, ou seja, 20% da área total do imóvel, excetuado os imóveis
localizados na Amazônia Legal, poderá regularizar sua situação, independentemente da
adesão ao PRA – Programa de Regularização Ambiental, adotando as seguintes
alternativas, isolada ou conjuntamente: recomposição da Reserva Legal; regeneração
natural da vegetação na área de Reserva Legal; compensação da Reserva Legal.
A compensação da reserva legal deverá ser precedida pela inscrição da
propriedade no CAR – Cadastro Ambiental Rural e poderá ser feita mediante: aquisição
de Cota de Reserva Ambiental - CRA; arrendamento de área sob regime de servidão
ambiental ou Reserva Legal; doação ao poder público de área localizada no interior de
Unidade de Conservação de domínio público pendente de regularização fundiária; e,
cadastramento de outra área equivalente e excedente à Reserva Legal, em imóvel de
mesma titularidade ou adquirida em imóvel de terceiro, com vegetação nativa
estabelecida, em regeneração ou recomposição, desde que localizada no mesmo bioma.
Para efetivar a compensação da reserva legal, as áreas a serem utilizadas
deverão ser equivalentes em extensão à área da Reserva Legal a ser compensada; estar
localizadas no mesmo bioma da área de Reserva Legal a ser compensada; e, se fora do
Estado, estar localizadas em áreas identificadas como prioritárias pela União ou pelos
Estados.
Quando se tratar de imóveis públicos, a compensação da Reserva Legal
poderá ser feita mediante concessão de direito real de uso ou doação, por parte da
pessoa jurídica de direito público proprietária de imóvel rural que não detém Reserva
Legal em extensão suficiente, ao órgão público responsável pela Unidade de
Conservação de área localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio
público, a ser criada ou pendente de regularização fundiária.

1
Advogada inscrita na OAB/MG sob o nº 117.945. Graduada pela Faculdade de Direito do Centro
Universitário de Patos de Minas-UNIPAM. Pós-graduada em Direito Público pela Universidade
Anhanguera-Uniderp em parceria com a Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes (LFG). Ex-Assessora
Jurídica do Instituto Estadual de Florestas – Escritório Regional de Florestas e Biodiversidade do Alto
Paranaíba. Atua na área do Direito Ambiental desde maio de 2014 na Barbosa e Caixeta Advocacia
Especializada.
Para esta modalidade de compensação de Reserva Legal - em Unidades
de Conservação de domínio público, pendentes de regularização fundiária - o Estado de
Minas Gerais, através do COPAM – Conselho Estadual de Política Ambiental deliberou
sobre o tema, publicando em 22/08/2014 a Deliberação Normativa COPAM n. 200.
A compensação da Reserva legal se efetivará com a doação ao órgão
gestor da unidade de conservação de área referente ao passivo de Reserva Legal do
imóvel rural, podendo ser realizada a compensação em condomínio em um único
processo de doação.
No entanto, diante da necessidade de estabelecer procedimentos para a
compensação de reserva legal mediante a doação de áreas pendentes de regularização
fundiária localizadas em Unidades de Conservação de domínio público, foi publicada
em 28/11/2014, a Resolução Conjunta SEMAD/IEF n. 2.225.
Dispõe a citada resolução que compete à Secretaria de Estado de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - SEMAD, através das Superintendências
Regionais de Regularização Ambiental - SUPRAM e dos Núcleos Regionais de
Regularização Ambiental - NRRA, e ao Instituto Estadual de Florestas- IEF, através dos
seus Escritórios Regionais e da Gerência de Regularização Fundiária - GEREF, a
regularização de reserva legal através da compensação em Unidades de Conservação
estaduais de domínio público, pendentes de regularização fundiária.
Para a Compensação de Reserva Legal em Unidades de Conservação de
domínio público, o imóvel pendente de regularização de Reserva Legal - denominado
imóvel matriz - deverá estar inscrito no Sistema de Cadastro Ambiental Rural do Estado
de Minas Gerais - SICAR-MG e a área a ser doada em compensação - denominada
imóvel receptor - deverá estar localizada no interior de Unidade de Conservação de
domínio público, assim consideradas conforme disposições da Lei Federal 9.985 de 18
de julho de 2000.
O processo para Regularização de Reserva Legal em Unidade de
Conservação terá início com apresentação de Requerimento, pelo interessado, conforme
modelo próprio, a ser protocolado na SUPRAM ou NRRA responsável pela área de
abrangência do imóvel matriz, acompanhado da documentação necessária.
O NRRA ou SUPRAM responsável irá vistoriá-lo, após análise e
aprovação dos documentos juntados para instrução do processo administrativo, ficando
a cargo do requerente o recolhimento dos custos de vistoria do imóvel matriz nos
termos da Resolução Conjunta SEMAD / IEF / FEAM nº 2.125, de 28 de julho de 2014.
Posteriormente, o NRRA/SUPRAM deverá emitir parecer atestando a
possibilidade de realização da compensação, cujo conteúdo deverá atestar a existência
de vegetação nativa em percentual inferior a 20% (vinte por cento) no imóvel matriz,
em 22 de julho de 2008.
Sendo deferida a possibilidade de promoção da regularização da reserva
legal do imóvel matriz na modalidade de Compensação da Reserva Legal em Unidade
de Conservação, deverá ser anexada ao processo administrativo a Autorização para
Realização do Procedimento de Compensação de Reserva Legal em Unidade de
Conservação.
A citada autorização deverá ser solicitada, pelo requerente, ao Escritório
Regional do IEF responsável pela área de abrangência do imóvel receptor - Unidade de
Conservação pendente de regularização fundiária - atendidos demais dispositivos da lei.
Os órgãos envolvidos solicitarão entre si, a tramitação dos processos para
conclusão das análises.
Deferido, o requerente será comunicado por meio idôneo, que lhe
assegure a certeza quanto à emissão da Autorização para Aquisição de Área Localizada
em Unidade de Conservação para fins de Compensação de Reserva Legal.
Por fim, o processo administrativo será encaminhado à GEREF, para fins
de adoção das providências cabíveis em relação à doação do imóvel receptor ao IEF,
elaborando a “Minuta da Escritura Pública de Doação Plena”, que será encaminhada ao
Cartório de Registro de Imóveis responsável pela emissão da escritura pública
definitiva.
A Escritura Pública de Doação Plena deverá ser assinada pelo requerente
da compensação de Reserva Legal na UC e pelo Diretor Geral do IEF, ficando a cargo
do requerente, providenciar o registro do imóvel em nome do IEF, para fins de efetivar
a doação, oportunidade em que também deverá ser providenciada a averbação da
doação no registro do imóvel matriz e do imóvel receptor.
Importante lembrar que ao final, concluída a doação do imóvel receptor o
doador deverá alterar a sua titularidade no SICARMG para o Instituto Estadual de
Florestas ou outro órgão gestor da UC.
A GEREF encaminhará a SUPRAM ou NRRA responsável pela análise
da compensação de Reserva Legal na UC cópia do registro do imóvel doado e da
certidão atualizada do imóvel matriz, para fins de comprovação da regularização da
Reserva Legal.
Nos casos em que a compensação de reserva legal cujo imóvel matriz
esteja localizado no Estado de Minas Gerais, a ser realizada em Unidades de
Conservação localizadas fora do Estado ou que não forem de domínio público estadual,
o requerente deverá procurar o órgão gestor da UC e proceder à doação da área,
devendo apresentar ao NRRA ou SUPRAM responsável pelo imóvel matriz, a cópia do
Registro do Imóvel doado e a Certidão atualizada do imóvel matriz, constando a
averbação da doação de Reserva Legal, para fins de comprovação da regularização da
mesma.
Em situação contrária, ou seja, para compensação de reserva legal em
áreas localizadas no Estado de Minas Gerais, cujo imóvel matriz esteja localizado em
outro estado da Federação, é necessária a publicação de ato específico do Chefe do
Poder Executivo, identificando as áreas prioritárias, conforme disposições do inciso IV
do §6° e do § 7°, do art. 38 da Lei Estadual 20.922 de 2013.
Aparentemente extenso, mas de forma clara, temos na atualidade todo o
procedimento a ser observado para que se possa atender ao disposto no atual Código
Florestal, que sem dúvidas, traz com esta modalidade de compensação de reserva legal,
solução jurídica envolvendo três grandes problemas: Primeiramente, do proprietário de
imóvel rural com déficit de área para reserva legal, que encontra grandes dificuldades
em adotar as demais alternativas para regularização de seus imóveis. Segundo, do
proprietário de imóvel onde se encontra a Unidade de Conservação, que poderá ser
indenizado de forma mais rápida e com preço mais justo, sem a necessidade de longos
processos administrativos e judiciais para discussão do valor do imóvel; Terceiro, o
Estado, que se livra da obrigação de desapropriar as áreas de Unidades de Conservação
de domínio público, que necessitam de disponibilidade orçamentária, dentre outros
entraves burocráticos.

Patos de Minas, 20 de janeiro de 2015.


Regina Gonçalves Barbosa Caixeta.

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