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2ª AVALIAÇÃO DE DIREITO TRIBUTÁRIO II

FERNANDO DANIEL DE MOURA FONSECA

Nomes: Ana Luiza Mendes – 22355


Paola Ferreira Morais – 21259
Sophia Ramos Ferreira – 21982

A) De acordo com o artigo 153 da constituição federal, compete à União instituir


impostos sobre Propriedade Territorial Rural (ITR). Nada obstante, neste mesmo artigo
o dispositivo prevê que o ITR será fiscalizado e cobrado pelos municípios que assim
optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer
outra forma de renúncia fiscal. Assim, os municípios que assim optarem, assumirão
todas as funções relativas à arrecadação, inclusive a de realização de lançamento, com
todos os ônus de apuração da produtividade das propriedades para obediência da
determinação constitucional da progressividade das alíquotas sobre aquelas
improdutivas. Por outro lado, toda a capacidade legislativa permanecerá naturalmente
com a União. Assim, de forma a reforçar a competência tributária federal, a própria
constituição prevê que tal exercício não poderá implicar redução do imposto ou
qualquer outra forma de renúncia fiscal, sendo esta a limitação para a atribuição por
parte dos municípios.

B) O Código Florestal (Lei 12.651/12), em seu artigo 18 determina que a área de


Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de
inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR). O CAR, é um registro público
eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a
finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais
referentes à situação das Áreas de Preservação Permanente - APP, das áreas de Reserva
Legal, das florestas e dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Uso Restrito
e das áreas consolidadas, compondo base de dados para controle, monitoramento,
planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

O § 4o do referido art. 18 disciplina que “o registro da Reserva Legal no CAR


desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis”. Ou seja, caso haja o
registro no CAR está o proprietário dispensado de efetuar a prévia averbação da área de
reserva legal à margem do registro de imóveis rurais. Além disso, a inscrição no CAR é
condição para aprovação da localização da Reserva Legal.

REEXAME NECESSÁRIO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - PROPRIEDADE RURAL -


INTERVENÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - ÁREA DE
RESERVA LEGAL - AVERBAÇÃO JUNTO AO CARTÓRIO DE REGISTRO DE
IMÓVEIS - DESNECESSIDADE - INSCRIÇÃO NO CAR - CUMPRIMENTO -
DANOS AMBIENTAIS - NÃO COMPROVAÇÃO - CONSTITUCIONALIDADE DO
NOVO CÓDIGO FLORESTAL - STF ADIs Nº 4901, 4902, 4903, 4937 - SENTENÇA
CONFIRMADA EM DUPLO GRAU - De acordo com o Novo Código florestal,
respondem por degradação à área de preservação permanente, bem como à área de
reserva legal o proprietário, possuidor ou ocupante a qualquer título - O Novo
Código Florestal (Lei nº 12.651/12) manteve a obrigação de preservação da área de
reserva legal, porém dispensou a averbação no Cartório de Registro de Imóveis,
caso haja registro no órgão ambiental competente através do CAR - Cadastro
Ambiental Rural (art. 18, § 4º) - Não havendo prova de degradação ambiental, não
há que se falar em obrigação de recuperação das áreas de reserva legal e de
preservação permanente, nem em condenação em danos morais coletivos. Para que
se verifique o dano ambiental, mister se faz a demonstração da vulneração efetiva
do meio ambiente, de forma a afetar a coletividade - O Supremo Tribunal Federal
reconheceu a constitucionalidade do Novo Código Florestal em sede de controle
concentrado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento das ADIs nº 4901, 4902,
4903, 4937, afastando, assim, qualquer discussão nesse sentido.(TJ-MG - Remessa
Necessária-Cv: 10342140000478005 MG, Relator: Belizário de Lacerda, Data de
Julgamento: 15/10/2019, Data de Publicação: 21/10/2019)

Em relação ao valor da terra nua (VTN), o contribuinte do ITR deve entregar a


cada ano, o Documento de Informação e Apuração do ITR - DIAT, correspondente a
cada imóvel, observadas a data e as condições fixadas pela Secretaria da Receita
Federal, conforme estipula o artigo 8º da Lei 9.393/96. Este documento deve trazer
características do imóvel, no que se refere às áreas de preservação permanente, reserva
legal, grau de utilização, entre outras (art. 10º, Lei 9.393/96).

Nos termos da legislação fiscal, o VTN é declarado anualmente e deverá refletir


o preço de mercado do imóvel rural, apurado em 1º de janeiro de cada ano-calendário
(artigo 8º, § 2º, da lei 9.393/96). Ainda, de acordo com a IN 1.877/19, a Receita Federal
determinou que a avaliação das terras rurais passará a ser feita com base em três
elementos principais: a localização do imóvel, a dimensão das terras e a aptidão agrícola
da propriedade (classificação que busca refletir as potencialidades e restrições para o
uso da terra). Com isso, a avaliação do valor de mercado das terras rurais levará em
consideração a valorização do imóvel em função da sua localidade, o tamanho da
propriedade e a sua capacidade (aptidão) de exploração e geração de recursos pelo
proprietário. Assim, quanto maior a capacidade de exploração da propriedade, maior
será o valor médio do VTN informado pelo município.

Ocorre, que o contribuinte pode e deve buscar a verificação dos valores


apresentados pelos Municípios ou órgãos do Estado ao Fisco Federal como parâmetro
para atribuição de arbitramento da terra nua. Para tanto, havendo divergência de valores,
o contribuinte deverá estar munido de um Laudo de Avaliação de acordo com a ABNT
NBR 14653-3, devidamente assinado por profissional habilitado, com recolhimento de
ART, e ainda ter em mãos todos os elementos suficientes para dar sustento a alegação
do valor atribuído a terra nua pelo laudo de avaliação, que se contrapõem ao valor
obtido no SIPT – Sistema de Preços de Terra.

Neste horizonte, decidiu o CARF – Conselho Administrativo de Recursos


Fiscais:

ITR. VALOR DA TERRA NUA-VTN. SISTEMA DE PREÇOS DE TERRAS DA


SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL- SIPT. LAUDO TÉCNICO.
IMPROCEDÊNCIA. O Lançamento do ITR tem como base de cálculo o Valor de
Terra Nua -VTN, que por sua vez se utiliza das informações referenciais do Sistema
de Preços de Terras da Secretaria da Receita Federal – SIPT, quando o imposto
declarado do imóvel destoa com os padrões econômicos do valor de mercado. Para
afastar a presunção utilizada como referencial o contribuinte deve apresentar laudo
técnico, elaborado por perito especializado em consonância com as normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas › ABNT, que apresente valor de mercado
diferente relativo ao ano base questionado, oferecendo elementos de convicção
adequado e técnico referente ao que está estipulado no mercado imobiliário rural.
(Processo nº. 11080.720346/2007-86,Acórdão nº. 2301-007.357, Relator Cons.
Wesley Rocha, Sessão: 04/06/2020)
IMPOSTO TERRITORIAL RURAL. VALOR DA TERRA NUA MÍNIMO. REVISÃO.
LAUDO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO. FORMA DE APRESENTAÇÃO. NORMAS
DA ABNT. O Laudo Técnico de Avaliação, que contém elementos de prova
suficientes o
bastante para demonstrar características do imóvel em discussão que o diferenciam
em relação a outros imóveis do mesmo município de localização, ensejando um
valor tributável pelo valor da terra nua inferior ao VTN fixado pela Secretaria da
Receita Federal, tendo por base a aptidão agrícola, deve ser acolhido para revisão
dos cálculos e apuração do valor tributável correspondente. (Processo nº.
10845.720178/2008-58, Acórdão nº. 2202-001.756, Relator Cons. Neslon
Mallmann, Sessão 19/04/2012).

C) De acordo com o art. 29 do CTN, “o imposto, de competência da União, sobre a


propriedade territorial rural tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a
posse de imóvel por natureza, como definido na lei civil, localizado fora da zona urbana
do Município”. Por sua vez, o art. 31 desse dispositivo preleciona que o contribuinte do
imposto é o proprietário do imóvel, o titular de seu domínio útil, ou o seu possuidor a
qualquer título. Quanto a isso, o contribuinte do imposto referido no art. 31 do CTN
deve ser aquele que detém efetivamente a disponibilidade econômica do imóvel, com
total abstração do título jurídico da propriedade que pode padecer de vícios insanáveis,
ou até mesmo não existir. Tributar apenas aquele que formalmente consta no Registro
de Imóveis como proprietário pode implicar desrespeito ao princípio da capacidade
contributiva, além de conduzir ao malogro do processo de fiscalização e arrecadação do
imposto por diversas razões. Vale ressaltar que o proprietário que tenha a sua
propriedade invadida por posseiros e que, por conseguinte, perdeu a sua disponibilidade
econômica, não pode ser o sujeito passivo do ITR. Da mesma forma, proprietária que
perde a disponibilidade econômica por imissão na posse de outra pessoa, igualmente
não pode configurar como sujeito passivo. Nesse sentido, segue julgado do STJ:

EMENTA. PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. OFENSA AO ART. 535 DO CPC


NÃO CONFIGURADA. ITR. IMÓVEL INVADIDO POR INTEGRANTES DE
MOVIMENTO DE FAMÍLIAS SEM-TERRA. AÇÃO DECLARATÓRIA.
PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. FATO GERADOR DO ITR. PROPRIEDADE.
MEDIDA LIMINAR DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE NÃO CUMPRIDA PELO
ESTADO DO PARANÁ. INTERVENÇÃO FEDERAL ACOLHIDA PELO ÓRGÃO
ESPECIAL DO TJPR. INEXISTÊNCIA DE HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA
TRIBUTÁRIA. PERDA ANTECIPADA DA POSSE. ESVAZIAMENTO DOS
ELEMENTOS DA PROPRIEDADE. DESAPARECIMENTO DA BASE MATERIAL
DO FATO GERADOR. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA BOA-FÉ
OBJETIVA. (REsp 963499 PR 2007/0146225-0, DJe 14/12/2009Rvol. 174 p. 168,
Ministro HERMAN BENJAMIN, Sessão 19/03/2009).

Ante todo o exposto, considerando que o ITR tem como fato gerador a
propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei
civil, localizado fora da zona urbana do Município, fato é que ocorre sua incidência no
caso em questão. Tendo em vista que Maria não deve ser inserida no polo passivo, eis
que João é de fato o contribuinte, tendo inclusive já imitido na posse (27/11/2014) à
época do fato gerador (relativo ao exercício de 2016), ele é o verdadeiro contribuinte do
imposto em questão, tendo, portanto, praticado o fato gerador.

D) O Auto de Infração lavrado em desfavor de Maria para exigir crédito tributário


de ITR relativo ao exercício de 2016, foi motivado pela ausência de comprovação, por
parte de Maria, (i) da área de reserva legal, bem como (ii) do valor da terra nua referente
ao imóvel rural.
Necessário apurar primeiramente a nulidade no que se refere a ilegitimidade do
sujeito passivo da obrigação tributária, uma vez que conforme previsão expressa no
Art.31, CTN o sujeito passivo é o contribuinte do imposto, o proprietário do imóvel, o
titular de seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título. Nesse sentido, restou
comprovado que nos autos da ação reivindicatória ajuizada por João em desfavor de
Maria que o juiz reconheceu o direito da propriedade em benefício de João por meio da
validação do título por ele apresentado, determinando sua imissão na posse do terreno,
até então ocupado por Maria. E que, na sequência, em 27/11/2014, em cumprimento à
ordem judicial, ocorreu a imissão de João na posse do terreno rural, com a sua
desocupação da área.

Conclui-se, então que há nulidade na constatação da ilegitimidade do sujeito


passivo, considerando que o Art.29 do CTN define como fato gerador do ITR a
propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, como definido na lei
civil e também que Maria não se enquadra nos incisos do Art.2º da Instrução Normativa
1651 da RFB, será nulo, nesse aspecto, o Auto de Infração lavrado.

Além disso, há outra nulidade referente a incompetência do ente tributante. Isto


porque, dispõe o art. 153, §4º, III CF, que o ITR será fiscalizado e cobrado pelos
municípios, ou seja, tendo em vista que o ente fiscalizatório é o município de São Paulo,
por ter sido reconhecido pelo TJSP a validade do título apresentado, afastando eventuais
dúvidas acerca da localização do imóvel, não poderia município de Minas Gerais cobrar
de Maria um crédito tributário que não seja de sua competência.

Ainda, a respeito do lançamento do crédito tributário, o art.142 do CTN dispõe


que: “compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário
pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a
ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável,
calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor
a aplicação da penalidade cabível.” Ou seja, antes de ter feito a cobrança a autoridade
administrativa deveria ter apurado melhor os fatos para ver o que poderia cobrar, já
existia processo anterior o que poderia ocasionar a nulidade do Auto de Infração.

Por fim, o Decreto nº 6.433/2008 em seu artigo 15 estabelece que o contencioso


administrativo relativo ao ITR observará a legislação tributária federal, e no caso de
impugnação e recursos, deverão eles ser protocolizados na administração tributária
municipal, que procederá à devida instrução do processo administrativo fiscal e os
encaminhará à unidade de julgamento da Secretaria da Receita Federal do Brasil. Ainda,
o Art. 2º da Instrução Normativa nº 1640/2016 prevê que A RFB, em nome da União,
poderá celebrar convênio com o Distrito Federal e os municípios que assim optarem,
para delegar as atribuições de fiscalização, inclusive a de lançamento de créditos
tributários, e de cobrança relativas ao ITR. Não abrangendo, portanto, o contencioso
administrativo decorrente do exercício das atribuições delegadas. Isto quer dizer que, na
hipótese de haver dúvida acerca do órgão competente para receber a impugnação,
encontrando o expediente ativo na Delegacia Regional de Julgamento da Receita
Federal do Brasil, o pedido formulado por Maria possui plena validade.

E) Inicialmente, cabe destacar que o CTN traz claro em seus artigos 29 e 31 que o
imposto sobre a propriedade rural tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil
ou a posse de imóvel por natureza. E que o contribuinte do imposto é o proprietário do
imóvel, o titular de seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título.

Dito isto, resta claro que havendo reversão do entendimento do juízo de


primeira instância nada mudaria, isto porque o acórdão não retroage, tendo efeito ex
nunc, e sendo válida a partir do momento de sua criação.

Assim, cumpre salientar no caso em tela, que em 2016 quem tinha propriedade
sobre o imóvel era o João, e entendemos que se o Fato Gerador ocorreu enquanto o
terreno estava em posse do João o ITR, mesmo que a propriedade tenha sido
transferida/devolvida à Maria depois, ele continua sendo o contribuinte à época.

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