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Matheus Bitondi
Harmonia I
Índice
1.4. Tétrades
Tétrades são tríades acrescidas de 7ª, nota dissonante geralmente de origem melódica.
Como dito anteriormente, cada uma destas notas apresenta uma função dentro do contexto
tonal, além de uma tendência direcional, o que estabelece uma hierarquia entre elas. A tabela abaixo
apresenta a função e a direcionalidade de cada nota da escala, dispostas segundo suas relações
hierárquicas.
A essa distribuição damos o nome de escala menor natural, uma vez que não apresenta
quaisquer alterações.
Todas as notas deste modo apresentam a mesma função e tendência direcional que se verifica no
modo maior, com exceção do 7º grau, o que torna o emprego desta escala problemático no contexto
tonal.
A ausência de uma sensível em relação de semitom com a tônica e que a ela conduza enfraquece
seu poder resolutivo e amenizam o conflito entre tensão e repouso necessário ao discurso tonal.
A prática musical resolveu este problema harmônico alterando o 7º grau da escala, de modo a
aproximá-lo da tônica.
A esta escala damos o nome de escala menor harmônica. E a configuração dos intervalos passa a
ser: T 2ªM 3ªm 4ªj 5ªj 6ªm 7ªM.
Devemos nos lembrar, porém, que toda esta sequência de alterações do modo menor teve início
visando à geração de uma sensível que conduzisse à tônica. Contudo, dentro do discurso musical há
situações nas quais a tônica não é desejada – e é até evitada. Nestes casos, o 6º e o 7º graus voltam às
suas posições originais.
Podemos formular, então, que a escala menor melódica aproxima-se da tônica com 6ªM e 7ªM
e distancia-se da mesma com 6ªm e 7ªm.
A figura acima mostra os acordes do campo harmônico de Dó maior com suas respectivas
funções.
O acorde de dominante (D) expressa tensão e instabilidade. As notas que o compõem têm as
seguintes tendências direcionais:
• Fundamental: instável; tensão
• 3ªM: sensível; tende em direção à tônica
• 5ªj: reforço tímbrico da fundamental; leve tendência à tônica
Como se observa na figura acima, um acorde maior tem seu relativo e antirrelativo menores, e
um acorde menor tem seu relativo e antirrelativo maiores.
O iii desempenha a função de tônica antirrelativa (Ta), pois situa-se uma 3ª acima da tônica e
contém duas notas em comum com ela.
As notas que o formam apresentam as seguintes tendências:
• Fundamental: estável
• 3ªm: tensão, porém atenuada pela semelhança entre os acordes iii e I
• 5ªj: reforço tímbrico da fundamental; sensível
Tal explicação tampouco soa de todo satisfatória, pois sugere a presença de um acorde
incompleto – ou “defeituoso” – dentro do campo harmônico.
O quadro abaixo resume as funções de cada grau do campo harmônico maior, destacando os
acordes principais:
Grau Função
I T
ii Sr
iii Ta
IV S
V D
vi Tr ou Sa
viiº Da ou D7
É importante lembrar que, no campo harmônico menor, a 3ª do acorde de dominante deve ser
alterada, de modo a gerar a sensível tonal, nota responsável pela instabilidade e pela forte tendência
direcional que caracterizam a função. Uma dominante menor, ou seja, sem sensível, perde seu poder
de atração em relação à tônica e deixa de contrastar com esta, atenuando a diferença entre tensão e
repouso e comprometendo o estabelecimento da tonalidade.
Neste acorde, não é necessária a alteração da 5ª para gerar a sensível tonal, uma vez que o
acorde apresenta a função de tônica e, por isso, não necessita da força direcional e da instabilidade
proporcionadas pela sensível. Mesmo assim, encontraremos no repertório alguns raros casos de III
aumentado, o que discutiremos mais adiante.
Mais uma vez, encontramos dentro do campo harmônico um acorde diminuto como antirrelativo
de um acorde menor, enquanto a regra afirma que um acorde menor tem seu relativo e seu
antirrelativo maiores. Neste caso, porém, a teoria geralmente se omite.
3.2.3. viiº
Por ter a função de dominante, o vii do campo harmônico menor exige a alteração de sua
fundamental, de modo a gerar a sensível tonal. Desta forma, o acorde se torna diminuto e idêntico ao
vii do campo harmônico maior, e por isso é tratado da mesma maneira: como Da ou D7.
Assim, também as tendências da notas que o compõem são idênticas:
• Fundamental: sensível; tende à tônica
• 3ªm: leve tendência à tônica
• 5ªdim: sensível modal; tende à 3ª da escala
No repertório, existem casos em que este acorde aparece sem a alteração em sua fundamental – e
portanto maior. Estes casos serão estudados mais adiante.
O quadro abaixo resume as funções de cada grau do campo harmônico menor, destacando os
acordes principais:
Grau Função
i t
iiº Sa
III tR
iv s
V D
VI Ta ou sR
viiº Da ou D7
Maior Menor
T S D t s D
I IV V I iv V
iii ii viiº III iiº viiº
vi (vi) VI (VI)
Para preservar a homogeneidade da textura na distribuição das vozes, é recomendável que não
se ultrapasse o limite intervalar de uma 8ª entre as vozes de soprano e contralto e contralto e tenor.
Por sua vez, a distância entre tenor e baixo pode exceder a 8ª, uma vez que o baixo ocupa uma
posição destacada como sustentação da estrutura acórdica.
Uma vez que trabalhamos inicialmente com acordes de três notas dispostos em quatro vozes,
uma das notas da tríade deverá ser dobrada, isto é, duas vozes farão soar uma mesma nota, mais
frequentemente em oitavas diferentes.
O procedimento mais indicado é o dobramento da fundamental, já que é esta a nota mais
importante do acorde. Na impossibilidade de dobrar a fundamental, deve-se optar pela 5ª, que
normalmente funciona como reforço daquela nota. A última opção, que deve ser evitada, é o
dobramento da 3ª do acorde, pois esta nota pode “roubar” o caráter de fundamental do acorde,
alterando sua função.
Quando necessário, a 5ª do acorde pode ser omitida, sendo então triplicada a fundamental.
Deve-se atentar ainda para que não ocorram movimentos de uníssono, 5ªj e 8ªj paralelos, como
mostra o exemplo abaixo:
• Cadência à dominante: como o nome indica, esta forma cadencial se caracteriza por uma
parada no acorde de dominante, não importando o acorde que o precede. Por ser
claramente inconclusiva, esta cadência só muito raramente é encontrada em finais de
peças.
Para indicar que uma tríade se encontra na 1ª inversão, grafa-se um 6 ao lado do grau, devido
ao intervalo de 6ª que se forma a partir do baixo.
Deve-se ter cuidado, ainda, para não dobrar a 3ª do acorde. Uma vez que esta nota já se
encontra no baixo, ele não deve aparecer em nenhuma outra voz.
Por ter sua função enfraquecida, o acorde na 2ª inversão somente será usado em duas situações:
O acréscimo de uma 7ªm à tríade da dominante gera um trítono entre a 3ª (sensível tonal)e a 7ª
(sensível modal). Se esta tétrade ruma para o acorde de tônica, deve-se atentar para a resolução deste
trítono, seguindo a tendência direcional das sensíveis. Assim, a 3ª do acorde de dominante (sensível
tonal) deve ascender para a tônica, e a 7ª do acorde de dominante (sensível modal) deve descender
para a 3ª do acorde de tônica. Este procedimento é recomendado principalmente se o movimento
harmônico V7 – I constituir uma cadência autêntica, na qual se pretende a resolução completa da
tensão da dominante.
O acréscimo de 7as aos demais acordes do campo harmônico dá origem a diferentes tipos de
tétrade. O quadro abaixo discrimina estes tipos nos modos maior e menor:
Em uma tonalidade menor, se eventualmente o acorde de tônica com 7ª sucede uma dominante,
pode ocorrer que sua 7ª seja maior, ao contrário do que mostra o quando acima. Isso acontece porque
a sensível tonal alterada na dominante permanece após a chegada do acorde de tônica.
9.1. Preparação da 7ª
Nos exercícios propostos, sempre que possível as 7as dos acordes deverão ser preparadas, como
ocorre em grande parte do repertório. Isso quer dizer que a 7ª de um acorde deve vir ligada a partir
de uma consonância do acorde anterior.
• 2ª inversão: A 5ª do acorde está no baixo. Com respeito à 2ª inversão da tétrade, não são
necessários os cuidados indicados para a 2ª inversão da tríade, pois a dissonância da 7ª
anula o efeito desestabilizador do intervalo de 4ª com o baixo.
Como a tônica na 1ª inversão tem seu caráter conclusivo enfraquecido, dificilmente encontraremos a
dominante na 3ª inversão em posições cadenciais.
Este procedimento visa a estender e valorizar a dominante na cadência, por ser geralmente este
acorde o ponto culminante de tensão da progressão. A figura acima indica também a sua cifragem.
Ao se deparar com esta cifragem, deve-se proceder de acordo com os seguintes passos:
1) Posicionar a fundamental da dominante no baixo;
2) Dobrar a fundamental em alguma das outras vozes, de acordo com a condução a partir do
acorde anterior;
3) Acrescentar a 4ª na voz mais conveniente, de acordo com a condução;
4) Acrescentar a 6ª na voz mais conveniente, de acordo com a condução;
5) No tempo fraco, conduzir a 4ª à 3ª;
6) Ainda no tempo fraco, conduzir a 6ª à 5ª.
Pode ocorrer, ainda, que a dominante que se completa no tempo fraco do compasso receba
também uma 7ª. Neste caso, é a fundamental duplicada que deve caminhar para a 7ª. Repare nas
diferentes cifragens, indicando a posição da 7ª no compasso.
• Dominante com 11ª (V11): Após a resolução das sensíveis, a 11ª do acorde de dominante
permanece estática, tornando-se a fundamental do acorde de tônica.
Não se deve esquecer ainda que, em tonalidades menores, a 9ª e a 13ª da dominante são
menores.
Portanto, se alteramos uma nota qualquer da escala, alteramos também a posição do trítono
dentro dela. Por sua vez, as notas que formam este novo trítono tenderão a ser ouvidas como
sensíveis, e exigirão a resolução em uma nova tônica.
Na figura acima, a alteração da nota Fá para Fá# transporta o trítono do intervalo Fá-Si para o
intervalo Fá#-Dó. Com isso, o Fá# passa a ser ouvido como sensível tonal e pede resolução em Sol; e
o Dó passa a ser ouvido como sensível modal, pedindo resolução em Si. Tem-se assim uma nova
tônica: Sol maior.
Observe-se que, após a alteração do Fá, o Si, que antes era a sensível tonal (instável), perde sua
força direcional e passa a ser a mediante (estável). Já o Dó, que antes era a tônica (estável), adquire
força direcional na presença do Fá#, tornando-se a sensível modal (instável).
Na figura abaixo, vemos um outro exemplo deste fenômeno:
SCHOENBERG, Arnold. Funções estruturais da harmonia. São Paulo: Via Lettera, 2004.