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Hamr - Mapeamento Da Alma Pela Visão Nórdica
Hamr - Mapeamento Da Alma Pela Visão Nórdica
A alma nada mais é do que o somatório de atributos etéreos, físicos, dons, habilidades e
outras características que às vezes são unicamente nossas e outras vezes são
compartilhadas por nós com outros seres, etc.
Este mesmo estudo sobre as subdivisões do ser é fruto da reunião de conceitos aferidos
por durante séculos pelos povos germânicos de grupos diversos. Se alguns chamavam a
alma de Hamr (forma) ou se outro acreditava somente na Fylgja (acompanhante), para
nós, pesquisadores religiosos, hoje, é indiferente, pois interessa-nos somente o objetivo
e a síntese desse sistema. Através da analogia sistemática dos conceitos espirituais de
diversas tribos germânicas podemos partir do pressuposto que existem diversos
atributos que formam o que sugestionavelmente acreditamos ser a alma, o espírito,
consciência, inteligência ou como melhor aprouver.
Assim, interligando seus atributos como uma rede de elementos necessários entre si,
tiramos em um resultado que é o que chamaremos (por um motivo de identificação
cultural e religiosa) de Hamr, que segundo os germanos significava “forma”, e esses
povos usavam o termo para se referir ao seu espírito.
A idéia de “nada” era incabível entre os nórdicos. Todo espaço era ocupado e não havia
uma divisão entre o mundo dos vivos e o dos mortos, ou com qualquer outro mundo.
Todos os mundos eram acessíveis de mútuo convívio. Nada de dimensões astrais ou
planetas, etc. Nada disso. Os mortos conviviam no mesmo mundo que os vivos, às
vezes iam para outros lugares mais longes como o Hel, Asgard, etc. A morte nunca era
tida como uma aniquilação absoluta, mas sim como uma passagem: a consciência, a
alma transcendia seu espaço físico e passava a ocupar um lugar de tutora do clã e
auxiliar do mesmo. O renascimento poderia existir, bem como poderia não ocorrer
dependendo de determinadas condições como vontade e outras imposições espirituais.
O nome de um ancestral, quando perpetuado dentro da família, era tido como o
renascimento daquele ancestral em um novo corpo, uma forma de chamar sua presença
à vida novamente.
2.1.1 – Angit – São seus sentidos e percepções. Os portais do corpo por onde entra a
informação e por onde podemos perceber o mundo. Funcionam como um filtro de
informações. Se eles não existissem, ficaríamos loucos com tanta informação que
receberíamos e não conseguiríamos associá-las com destreza. A percepção se dá pelo
cheiro, gosto, tato, visão e audição. É essa percepção a principal causa de nossa
equivocada e individual percepção da realidade. Nunca perceberemos a realidade e a
verdade, mas sim apenas uma parcela dela, ou seja, apenas aquilo que podemos
conceber através do que conhecemos e dentro dos limites de nossas simples
percepções.
2.2 – Münr – Memória. Pois se todo pensamento do Hügr precisa ser armazenado,
então é no Münr que encontrará sua lotação. O Münr é compreendido melhor quando
dividido em duas partes: Gemynd e Vítand.
2.2.1 – Gemynd – Memória Individual. É a memória de nossa própria vida, onde ficam
guardados nossos próprios pensamentos, nosso passado, nossas lembranças e inclusive
aquelas que esquecemos. Nada escapa à mente. É onde ficam armazenados nossos
orlogs, e é por isso que o Münr sempre está associado ao Orthanc (que veremos logo
adiante o que é). Enquanto o Gemynd é a memória individual de apenas esta existência
e nascimento, o Orthanc recolhe as memórias e heranças de existências passadas, bem
como o passado dos ancestrais.
3.2 – Dísir – Ancestrais Femininas. Dísir é o coro espiritual que assiste ao clã. São as
ancestrais mulheres que morreram e agora regem pela sobrevivência e proteção das
famílias, tribo, etc. Em geral, nos referimos a esses espíritos como Dísir, ou Idísir
(singular Dís ou Idísa), mas elas podem assumir outros aspectos, em outros contextos. É
dito que podem ser chamadas também de Walkyrjor (Valquírias) ou ainda de Norn
(apesar de muitos defenderem que as Valquírias e as Nornes compunham um grupo
diferenciado de divindades). São Walkyrjor quando devem reger assuntos de grande
importância como a morte, a vitória na batalha e outros assuntos relacionados a Odin. E
são chamadas de as três Norn quando precisam reger aspectos do destino, como os
orlogs por exemplo. Mas esta é uma concepção individual de como encarar a existência
das Dísir. Pessoalmente, eu encaro as Dísir, as Walkyrjor e as Nornor como corpos
espirituais diferentes.
4.1 – Ásdr – É o papiro secreto que a Norn Skuld vela, onde está escrito o dia do
nascimento e o dia da morte de cada ser. O Ásdr está no sangue porque é lá que
acontece toda troca de orlogs entre o ser e seu meio e assim que homens e mulheres
podem aumentar ou encurtar seu tempo de vida em Midgard. O Ásdr não controla
apenas o tempo que viveremos aqui, mas também pode controlar nossa qualidade de
vida, uma vez que as Nornor (distribuindo os orlogs) podem alterar nossa configuração
social de vida. É através do Ásdr que todos os orlogs fazem-se acontecer em nossa vida.
No ásdr está escrito o dia do nascimento, da morte e a se vida será levada com qualidade
ou com decadência.
4.2 – Fjör – ou Wyrd. Destino. O destino nunca é visto como algo fatídico, mas sim
como algo previsível dadas certas condições passadas. Nosso Fjör segue uma direção já
formulada por nossos ancestrais e também por nosso próprio passado. Nossas heranças
como dons, talentos, bênçãos, maldições, qualidades, defeitos, e também nossas atitudes
como desonras e glórias determinam como será o Fjör. Esse mesmo Fjör está em
constante processo de adaptação à nossas possibilidades uma vez que ele é o gerador
dos orlogs. Um orlog é uma conseqüência, uma reação natural do mundo contra
qualquer ação. Toda ação possui uma reação, e essa reação é chamada de Orlog (é
aquilo que o mundo nos devolve). A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. Os
orlogs podem ser bons ou ruins e estamos constantemente recebendo-s o tempo todo. O
Fjör é descrito nos mitos como um fio escarlate que a qualquer momento poderá ser
rompido bastante que Skuld diga o dia da morte do homem. O destino é inexorável e
não importa o caminho que tomamos, o que nos foi legado é nosso por direito, sem
fuga.
4.3.1 – Orlog – Sob a Lei. Lei fixada nas origens. Esta lei é herdada por todos os seres e
ela diz que toda ação terá uma reação. Toda destino retorna a sua origem. Esta é a lei
básica dos mundos, a que nada escapa. Cada ação passada é responsável é originária de
um orlog, uma conseqüência arbitrária e ordinária.
4.3.2 – Forlog – Lei fixada no avanço. Na tentativa de alterar nosso Ásdr, de melhorar
nosso Fjör, podemos lutar contra o orlog e alterar nosso destino. O Forlog então é a
força que geramos para mover nosso destino em outra direção diferente daquela que nos
é herdada. Algumas ações excepcionais podem gerar Forlogs.
4.3.3 – Mjovutdr – Destino que está fixado desde as origens. O Mjovutdr é fardo da
família. Aquilo que, desde a sua origem, as pessoas estão fadadas a carregar consigo por
todas as gerações, aquilo que é imutável, como fato de sermos humanos, ou o fato de
termos determinadas doenças, ou de que por toda uma geração muitos nasceram gênios,
etc. É difícil decifrar o Mjovutdr, pois somente um ancião que conheça bem o Orthanc
da família poderia enunciar o que faz parte ou não do Mjovutdr. O Mjovutdr pode ser
composto por alguns Gaefas (ver a frente).
4.3.4 – Auna – Destino como concessão feita pelos Deuses. A vontade dos deuses é
suprema e assim como transformaram árvores em seres humanos, também podem nos
aniquilar. É dito que os deuses também são regidos pelas mesmas leis de destino que
somos, mas são interminavelmente mais poderosos que a nossa vontade. Apesar dos
deuses não interferirem na vontade dos homens, alguns deles podem ceder ao capricho e
alterar a natureza das coisas. Ou ainda podem fomentar um destino completamente
diferente daquele que o Fjör pretende formar, independente de como é o Orthanc.
Mesmo que não faça parte do Orthanc de uma pessoa ela ter nascido como o dom para a
arte, ali houve uma vontade extraordinária que alterou a predisposição das coisas,
concedendo assim um Auna.
4.3.5 – Gaefa – Presente. O Gaefa é ligado ao ser durante o nascimento, pois é ali que
as Dísir, ou Norn, presenteiam o novo ser com seus talentos, dons e atributos. Um Gaefa
é sempre especial e todo ser possui pelo menos um. O Gaefa não poderá ser diferente
daquele de sua família, mesmo que destacado, a não ser que haja um Auna contra isso.
Pode ser considerado um Gaefa a beleza, a saúde, a força, a inteligência, o talento para a
arte, a perícia com as mãos, etc (também há Gaefa de cunho mágico). O Gaefa se
confunde com o Mjovutdr por serem ambos heranças ancestrais. Para desmistificar isso
podemos dizer que os Gaefas são partes menores do Mjovutdr, se este último pudesse
ser decomposto.
4.3.6 – Afl Okkat – Nossa força. É o somatório das glórias conquistadas por uma
família, tribo ou clã que juntos se transformam em força efêmera e propiciam a sorte, a
prosperidade e a vitória em muitas questões da vida, inclusive garantindo a imortalidade
da alma entre os heróis. Esse dote faz parte do Orthanc porque é uma herança dos
ancestrais a todas suas gerações. Todo membro de um clã sempre contribui para
fortalecer ou enfraquecer o Aett Afl Okkat (A força do clã).
5 – Likh – Corpo. Obviamente é o corpo que faz parte da Hamr e não o contrário, uma
vez que somos a forma pensada pela vontade dos deuses. O Likh é a configuração
física, corporal que assumimos para que a Hamr possa habitar. A saúde do Likh é de
suma importância para o bem estar da Hamr. Está unido à Hamr através do Mágn.
Juntamente com nossa Hamr também anda, lado a lado, o Frith que é a paz, mas não a
paz no sentido da guerra, mas sim a paz no sentido da ordem, da felicidade, da
tranqüilidade, do bem-estar do kindred. Talvez este seja nosso objetivo consciente em
vida, atingir o Frith. A meu ver não há outro sentido senão buscarmos o Frith e estarmos
satisfeitos com nosso Ásdr. Frith e Ásdr são como irmãos.
Existem três fontes que geram friths, e são elas: Kenship (parentesco), Healldream
(“alegrias do salão”, que são os atos de lealdade, entre duas partes) e Frithyards (que é o
relacionamento do humano com suas divindades). O relacionamento social entre os
seres humanos é a principal fonte de Frith, mas não a única. A individualidade e a
solidão também sabem mostrar o Frith através da temperança e da disciplina.
O Kenship, é a principal fonte de Frith, nossa família, nosso clã, nosso irmãos, pais,
avós, primos, esposas e maridos, o Sippa em si, são as coisas mais importantes em vida
para nós e por isso precisamos estar em paz com eles, protegê-los, guiá-los no Ritta (Lei
Cósmica) e assim alcançar a felicidade e a paz. Sippa é a principal fonte de Frith, que é
a família. Ritta é a lei cósmica do universo que fala como devemos perceber a realidade
como apenas um ponto de vista e sobre nossa condição humana de lutar contra o
sofrimento.
O Healldream se refere aos atos de lealdade entre um líder e seu povo, entre um mentor
e um aprendiz, entre um senhor e seu servo, entre um vassalo e um suserano, entre um
Jarl e um Karl, entre um amante e sua parceira(o). A lealdade garante a amizade, a
confiança, a honra, a bravura e por isso faz aumentar nosso Ásdr, e logo gera Frith.
E finalmente o Frithyards que se refere ao relacionamento que uma pessoa tem com os
seres divinos e vice-versa. Crer e cultuar uma divindade traz paz, segurança e respostas
para perguntas universalmente questionáveis, e as divindades se agradam disso
provendo fartura, fertilidade e paz, o que também é fonte de Frith.
Este estudo de nenhuma forma irá se tornar um dogma dentro do neopaganismo
nórdico. Ele é síntese de pesquisas sobre a espiritualidade nórdica e sobre os mais
diversos conceitos de alma e vida encontrados entre as muitas tribos germânicas. Da
mesma maneira, por sermos reconstrutivistas, este texto está sujeito a críticas, bem
como alterações mediante novos estudos.
Vagner Cruz