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Letícia S.

Goes (Ezalta) – Vet18 1

resposta à dano tecidual. Além disso, os adipócitos, da


DERMATOPATOLOGIA hipoderme, também são capazes de produzir citocinas
(adipocinas).
Sistema Tegumentar
Fatores exógenos que podem provocar injurias à
pele: problemas nutricionais; desequilíbrio da microbiota;
substâncias químicas; fatores físicos; parasitas; actinicos e
CAMADAS DA PELE substâncias alérgicas.

Fatores endógenos que podem provocar injurias à


pele: respostas imunológicas (doenças auto-imunes);
fatores hormonais; congênitos; hereditários; emocionais;
metabólicos.

TERMOS DERMATOLÓGICO S EMPREGADOS NAS


DOENÇAS DE PELE NA M ACROSCOPIA

 Pele hirsuta: pele revestida por pelos. A Epiderme


é mais fina.
 Pele glabra: pele sem revestimento de pelos (ex.
coxins, área interna da orelha, etc.). Epiderme é
Epiderme: epitélio estratificado queratinizado. A camada de mais espessa.
queratina é a mais externa e tem como característica ser
acelular e é uma das principais responsáveis pela resistência
e proteção da superfície do corpo. Na epiderme, encontram-  Lesões primárias: que se originam na pele.
se também os melanocitos, células que contém pigmento de
melanina, o qual protege as células da epiderme contra as Macula – alteração de cor, sem nenhuma
ações nocivas dos raios UV. alteração de volume (pele continua plana).

Derme: dividida em derme superficial, intimamente Placa – há diferença de consistência e com


relacionada à epiderme, a qual é rica em vasos sanguíneos, discreta alteração de volume.
terminações nervosas e anexos (folículos pilosos e
glândulas); e derme profunda. Entremeado à essas camadas Nódulo – aumento de volume visível (à
existe uma rede de fibras colágenas entrelaçadas, que olho nu ou à palpação) e sua localização
confere resistência e elasticidade a esse tecido. pode ser na epiderme ou na derme. Lesão
de no máximo 2 cm, bem demarcada.
Hipoderme: tecido subcutâneo. Camada altamente
vascularizada e rica em tecido adiposo. Tumor – aumento de volume em maior
grau (acima de 2 cm).

Cisto – estrutura revestida por epitélio e


DANO/LESÃO TECIDUAL que está preenchida por liquido ou
queratina. Pode haver elevação discreta da
Portas de entrada na pele: (1) sem lesão prévia, a pele, entretanto, na palpação é
umidade excessiva da pele a torna mais amolecida e, assim, perceptível.
fica mais fácil a penetração por agentes; outra forma é
através das estruturas naturais, por ex. a abertura dos Urticária – pode haver discreta elevação
folículos pilosos ou das glândulas. (2) Através de soluções de da pele.
continuidade, ex. a abertura provoca por agulhas, lesões que
Lesões especificas da epiderme, vesículas,
expõe a derme. (3) Por via hematógena (circulação
pústulas e bolhas. Decorrentes de dano
sistêmica).
aos queratinócitos, que promove uma
Os queratinocitos presentes na epiderme, tem alta separação das células com acumulo de
capacidade de resposta à injurias na pele, sintetizando liquido.
citocinas, fatores de crescimento, entre outros fatores de
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Vesículas – lesão pequena preenchida por Descrita em cordeiros, bezerros e cães.


liquido, diretamente relacionada a
doenças virais ou auto-imunes. C. Tumores (animal nasce com a presença de um
tumor)
Pústulas – lesão igual as vesículas, porém
em seu interior há pus. Ex. rompimento de Hemangiomas, em potros; melanomas, em suínos e cavalos.
folículo piloso ou acumulo de pus devido a
inflamação.

Bolhas – lesão maior, devido por ex. INJURIAS QUÍMICAS


queimaduras, atrito, pressão, etc. A. Ergotismo gangrenoso

 Lesões secundárias: sequelas. Causada por uma micotoxina produzida pelo fungo Claviceps
purpúrea, o qual forma um enovelado de hifas em torno de
Descamação.
grãos de cereal, formando estruturas denominadas
Crostas – restos necróticos. Podem ser escleróteas. A doença se desenvolve caso o animal ingira
sequela de rompimento de vesícula ou cereal contaminado com essa micotoxina.
pústula, ou de um furúnculo, ou lesão viral,
Essa micotoxina provoca vaso constrição de pequenas
etc.
artérias (= periférica) nas extremidades do corpo, assim, o
Fissuras – muitas vezes relacionadas a animal pode ter gangrena de extremidades (necrose).
proliferação exagerada da camada de
B. Fotodermatite (fotossensibilização)
queratina. Podem ser portas de entrada à
bactérias. Sensibilidade exagerada aos raios solares, devido a ingestão
de um princípio ativo fotossensibilizante. A lesão provocada
Erosão – ulceração superficial, restrita a
pelos raios solares inicia-se com uma área eritematosa,
epiderme.
muitas vezes associado a edema, e evolui para a necrose. O
Ulcera – lesão mais profunda. grau da lesão depende do nível de intoxicação. Essa injúria,
pode ser:
Cicatriz.
Primária – ingestão e absorção direta do agente. Ex. as
Liquenificação – espessamento da pele, plantas trigo mourisco e trigo sarraceno.
incluindo a camada de queratina.
Decorrente de lesão crônica (ex. sarna). Secundário ou hepatógena – ingestão de plantas
hepatotóxicas, que causam estase biliar no fígado. Essa lesão
Alopecia – ausência de pelos, pode ser no fígado provoca o acumulo da toxina (filoeritrina) devido a
difusa ou focal. morte de hepatócitos, os quais são responsáveis por
metabolizar esse composto e eliminado com a bile. Assim, a
filoeritrina acumulada atinge o sangue e em seguida a pele.

ALTERAÇÕES CONGÊNITAS

A. Epiteliogênese imperfeita
DOENÇAS VIRAIS
A formação do epitélio é imperfeita, assim, algumas áreas do
A. Ectima contagioso
animal não apresentam pele com todas as camadas
formadas perfeitamente. Comum em pequenos ruminantes.

Desse modo, camadas mais internas da pele estão sendo A lesão é caracterizada por formação crostosa ao redor da
expostas à inúmeros contaminantes ambientais, o que boca. Essas crostas são material necrótico resultante da
favorece o desenvolvimento de processo inflamatório morte das células epiteliais devido a replicação do vírus
cutâneo local, bem como, sistêmico. Poxvírus.

B. Astenia cutânea Inicialmente há a formação de uma mácula no local onde


houve a penetração do vírus e início de sua replicação nas
Hiperelasticidade da pele, decorrente de defeitos na síntese,
células epiteliais (comumente a boca), isso induz uma
anormal, de colágeno.
resposta inflamatória, promovendo a elevação da pele na
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área da lesão (pápulas). Em seguida, no local onde o vírus B. Dermatofilose


destruiu as células epiteliais, formam-se vesículas,
posteriormente há a invasão desse sitio por leucócitos, Provocada pela bactéria Dermatophilus congolensis. Ela
formando as pústulas. Com o rompimento dessas pústulas, contamina a pele após traumas ou umedecimento
surgem as crostas. prolongado da pele, pelos ou lã.

A lesão na pele é do tipo supurativa associada a presença de


bactérias.
DOENÇAS NUTRICIONAIS
Na citologia é possível observar que as bactérias se
A. Paraqueratose dos suínos organizam em filamentos, que lembram uma “pilha de
moedas”.
A paraqueratose é um tipo de hiperqueratose, em que a
proliferação da camada de queratina ocorre de forma muito C. Dermatite bacteriana granulomatosa (lepra felina)
rápida e, assim, as células não tem tempo de perderem seu
Dermatite granulomatosa multifocal profunda associada a
núcleo. Observa-se que a pele do animal fica espessada,
presença de micobacteria intralesional (=bacilos álcool-ácido
enegrecida, extremamente crostosa e áspera, porém o
resistentes). Caracterizada por múltiplas lesões nodulares
animal não apresenta prurido.
ulceradas.
Doença causada pela deficiência de zinco na dieta. Os fatores
Na análise histopatológica de uma amostra dessa pele é
que predispõe a essa deficiência são: (1) baixa quantidade
possível observar a presença de inúmeros macrófagos no
desse nutriente na ração; (2) alta concentração de cálcio
local da lesão e utilizando coloração especial é possível
e/ou ácido fítico na dieta, que são elementos que competem
visualizar, dentro dos macrófagos, diversos bacilos álcool-
com o zinco, promovendo um desequilíbrio natural desse
ácido resistentes.
nutriente; (3) alteração da flora intestinal ou infecções do
TGI por agentes virais ou bacterianos, o que diminui a
absorção de nutrientes.
DOENÇAS MICÓTICAS
Essa doença é mais frequente em suínos jovens, entre 2 e 4
meses. A. Dermatofitoses

Deve ser feito o diagnóstico diferencial de sarna sarcóptica Causada pelos fungos Microsporum canis, Microsporum
(provoca intenso prurido) e de epidermite exsudativa. gypseum (cães, gatos e humano) e Tricophyton
mentagrophytes.

Esses agentes têm alta afinidade pela camada morta da pele,


DOENÇAS BACTERIANAS desse modo, causam lesão nas áreas onde há queratina
(superfície da pele, especificamente a camada córnea; unha,
A. Epidermite exsudativa
em humanos; e no folículo piloso).
Acomete animais muito jovens (5 – 35 dias).
As lesões causadas por esses fungos são: alopecia circular
Doença causada pela bactéria Staphylococus hycus presente focal, com pelos quebradiços no centro (fungos mortos) e
no ambiente, principalmente aqueles em que não há com fungos ativos na periferia da lesão. Deve ser colhida
limpeza adequada. Os animais para se infectarem precisam amostra da periferia para a realização do diagnóstico.
apresentar lesões prévias na pele (lesões de continuidade),
Geralmente afeta animais mais jovens, devido ao seu
as quais são geralmente provocadas pelo manejo necessário
sistema imune ser menos desenvolvido.
ao animal recém-nascido (mossagem; castração; brigas;
caudotomia). A evolução é rápida.

A pele do animal está espessada e apresenta crostas úmidas. Dependendo do local em que o fungo se localiza no pelo ele
As lesões ocorrem principalmente ao redor dos olhos, é classificado em: ectotrix, os esporos do fungo estão
focinho, patas e porção ventral do abdómen e tórax. aderidos a camada externa do pelo ou endotrix, os esporos
do fungo estão dentro do pelo.
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B. Esporotricose B. Sarna sarcóptica

Zoonose. Sarcoptes scabiei; Otodectes cynotis (conduto auditivo do


gato); Notoedris cati (região da cabeça de gatos); Psoroptes
Provocada pelo Sporothrix schenkii e se caracteriza por ser cuniculi (coelhos); Psoroptes ovis (ovinos).
uma dermatite piogranulomatosa, com fungos
leveduriformes semelhantes a um “charuto”. Esses parasitas afetam a camada de queratina da pele, onde
formam “galerias”. A capacidade de atravessar essa camada
Os fungos entram no organismo, apenas, após um é decorrente de componentes da saliva da fêmea. Esses
traumatismo na pele. Dentro da pele, eles passam a migrar componentes são altamente irritantes e provocam reações
através dos vasos linfáticos (linfangite) promovendo, assim, inflamatórias no local, assim, o animal apresenta severo
fistulações (do interior do vaso para a superfície da pele). prurido, crostas e espessamento da pele.
Com isso, surgem lesões ulceradas na superfície da pele.

O contato com a secreção liberada pelas feridas promove a


contaminação, seja dos equinos, mulas, cães, gatos, suínos, DOENÇAS IMUNOMEDIADAS
bovinos, bubalinos ou ser humano. O animal morto, com
essa doença, continua promovendo a contaminação (até Doenças provocadas por uma resposta exacerbada do
mesmo do ambiente). sistema imune.

Reações de hipersensibilidade:
C. Pitiose
Tipo I Tipo II Tipo III Tipo IV
Zoonose.

Agente: Pythium insidiosus. Habita áreas alagadas. Reagente IgE (15-30 IgG ou IgM IgG ou IgM (3- Linfócito
Imune min) (min a hrs) 10 hrs) CD4+,
Infecta principalmente equinos, quando esses entram em tipo TH1
águas contaminadas por esporos desse agente e possuem (48-
solução de continuação. 72hrs).
Antígeno Antígeno Antígeno Antígeno Ligação
As lesões afetam, principalmente, os membros, porções exógeno ligado na solúvel do Ag
inferiores do abdômen, peito e mama, além de face e lábios (pólen, superfície (endógeno ou solúvel
inferiores. leveduras, da pele ou exógeno). ao MHC
saliva de a parte da II.
A ferida é progressiva e ulcerada, com abundante exsudato insetos). membrana
viscoso serosanguinolento e com fistulações contendo celular
restos necróticos amarelados, irregulares e firmes (desmosso
(“Kunkers”). mos).
Mecanism Ativação de Sistema Sistema Ativação
o efetor mastócitos compleme complemento de
(degranulaç nto. . macrófa
DOENÇAS PARASITÁRIAS ão). gos.
Exemplos Dermatites Pênfigo Lúpus Diagnósti
A. Sarna demodécica (Demodex)
atópicas, eritematoso co de
urticárias, sistêmico, infecção
O parasita se localiza dentro do folículo piloso, onde causa a
anafilaxia. púrpura na por
sua destruição e desencadeia uma reação inflamatória. O infecção por Mycobac
animal apresenta alopecia, inúmeras lesões papulares Streptococcus teria.
(pequenos nódulos) e não há prurido. equi.

O Demodex é parte da flora normal da pele, em baixas Tipo IV Tipo IV


concentrações. Entretanto, alguns animais nascem com Reagente imune Linfócito CD4+, tipo Lifócito citotóxico
deficiência na resposta a esse parasita, possibilitando, assim, TH2. CD8+.
que ele se multiplique e provoque a doença. Antígeno Ligação do Ag solúvel Ag associado a célula
ao MHC II. se liga ao MHC I.
Mecanismo efetor Ativação de eosinófilos Citotoxidade.
Exemplos Dermatite atópica. Doença de enxerto.
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A. Dermatite por alergia a saliva das pulgas (DASP) Muitas vezes esse tumor começa como uma mancha plana
acastanhada ou enegrecida (mácula) na pele e com o tempo
Caracterizada por inflamação pápulo-crostosa da pele com muda seu aspecto, aumenta de tamanho, se eleva e pode
intenso prurido (resposta a degranulação dos mastócitos). ulcerar. Em pequenos animais, a lesão cutânea não é tão
As pápulas eritematosas crostas e alopecia local podem agressiva quanto a observada no ser humano.
evoluir para a liquenificação da pele (pele espessada).
D. Hemangioma e hemangiossarcoma
Acomete mais frequentemente a região lombossacra dorsal, E. Mastocitoma
estendendo-se para as coxas, porção ventral da cauda e do
abdômen. A derme é infiltrada por mastócitos neoplásicos bem
diferenciados.
B. Dermatites auto-imunes (pênfigo)
O animal pode apresentar um ou mais nódulos na pele, que
Afeta a epiderme e as lesões são visículo-bolhosas a são irregulares e eritematosas. Clinicamente, podem
ulcerativas, nas junções muco-cutâneas (boca, nariz e ânus). lembrar áreas de inflamação, já que os mastócitos podem se
desgranular e liberar mediadores inflamatórios, como
Patogenia: formação de anticorpos contra os desmossomos,
histamina, fatores quimiotáticos para eosinófilos e
ocasionando separação dos queratinócitos (acantólise),
neutrófilos, prostaglandinas, esterases séricas e TNF-α,
formando fendas (=vesículas). As quais posteriormente irão
levando à resposta inflamatória.
ulcerar e formar extensas lesões crostosas na pele.
F. Fibroma ou fibrossarcoma
C. Dermatites induzidas por alérgenos ambientais
Tumor de tecido conjuntivo.
(atopia)
G. Tricoepitelioma
Hipersensibilidade tipo I por substancias do ambiente.
Tumor benigno de folículo piloso.
As lesões são pruriginosas e há infiltrado rico em eosinófilos, H. Adenoma ou adenocarcinoma de glândulas
mastócitos, neutrófilos e macrófagos. sebáceas/sudorípara
I. Linfoma
Tumores malignos de linfócitos.
NEOPLASIAS

Os tumores tentam mimetizar o tecido normal, quanto TÉCNICAS PARA DIAGNÓSTICO


maior a capacidade do tumor de fazer isso, mais
diferenciado ele é. Por outro lado, quanto menos o tumor se Um procedimento correto de coleta de amostra para
parecer com o tecido original, mais indiferenciado ele é e, biópsia, inclui: coleta de várias amostras representativas das
portanto, é mais agressivo. variações das lesões; incluir crostas; a biópsia deve ser feita
antes de usar terapia de anti-inflamatória; escolher o
A. Carcinoma epidermóide procedimento correto de biópsia para o tipo de lesão e
acondicionar as mostras em frascos com formol e
Tumor altamente invasivo. Forma, na epiderme, identificando as áreas de coleta.
ilhas/ninhos compostos externamente por uma camada de
células basais e mais internamente por uma camada de Além disso, é importante coletar
queratinócitos - pérola córnea. região de transição entre a pele
integra e a afetada. É necessário
Geralmente se apresentam como lesões ulceradas. Ocorre, desenhar uma linha na amostra
mais comumente, em animais de pelagem clara. da pele normal e na pele afetada
para orientar os laboratoristas a
B. Papiloma
cortar a amostra para que a
Causada pelo Papiloma vírus, que se multiplica dentro das interface entre a pele normal e afetada esteja presente na
células da epiderme. Forma uma proliferação de aspecto avaliação microscópica.
verrucóide.
Os tipos de biópsia são:
C. Melanoma
 Incisional – coleta-se apenas um pedaço da lesão.
Proliferação anormal de melanócitos.  Excisional – retirada completa da lesão.
 Punch – amostra perfuracionais.

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