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Resenha do Artigo Geografia Eleitoral e as estratégias territoriais da Igreja Universal

do Reino de Deus, de Danilo Fiani Braga

Referências bibliográficas: BRAGA, Danilo Fiani. Geografia Eleitoral e as estratégias


territoriais da Igreja Universal do Reino de Deus. In: CASTRO, I. E. de. etall (orgs.). Espaços
da democracia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.p. 147-81

O artigo Geografia Eleitoral e as estratégias territoriais da Igreja Universal do Reino de Deus


apresenta de forma breve e sucinta uma exposição das estratégias adotadas pela instituição
religiosa Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) de expansão alcançando a esfera da
política em um contexto de fragilidade da democracia no Brasil. É feito um recorte e o autor
utiliza a cidade do Rio de Janeiro. De fato a instituição religiosa tem crescido de forma
bastante significativa nos últimos anos, inclusive na mídia, possuindo uma emissora de
televisão, a Rede Record, também tendo uma quantidade significativa de indivíduos
vinculados a mesma exercendo cargos políticos sendo portanto um fenômeno bastante
notório abrindo espaço para diversos tipos de análise.

Além da introdução e das considerações finais, Danilo Fiani Braga optou por dividir o artigo
em quatro tópicos. No primeiro tópico o autor analisa os motivos que fizeram com que a
IURD alcançou tanto crescimento e sucesso eleitoral. O pentecostalismo atrai as massas
muito facilmente trazendo a proposta de apresentar curas e milagres além de dispensar
certas formalidades valorizando segundo o autor “o uso da palavra e o conhecimento
bíblico”. A propagação do que Braga chama de “Teologia da Prosperidade” onde os fiéis
conseguirão através das práticas religiosas a possibilidade de sair de crises financeiras e
ascender socialmente é algo que propõe soluções para uma população que se percebe
negligenciada pelo estado e privada de oportunidades.

De acordo com o autor, dentro da IURD existe uma organização bastante centralizada
inteirada de questões ligadas ao território como forma de alcançar os seus objetivos
fidelizando as populações de regiões carentes que encontram na instituição a primeira
oportunidade de “conversar sobre a política e valorizar o voto” se sentindo cidadãos. Alguns
gráficos são apresentados para exemplificar, mostrando que os templos estão distribuídos
espacialmente em regiões estratégicas para atração do público-alvo.

A segunda parte aprofunda a questão de como a IURD se organiza territorialmente. O autor


trabalha então com os conceitos de território e territorialidade e utiliza os templos da
instituição como os locais de maior demonstração de controle do espaço que vai além,
utilizando territórios móveis que seriam apropriações de locais públicos e privados para a
realização de eventos estratégicos e em determinados momentos rompendo fronteiras
nacionais em acontecimentos como a “fogueira de Israel” em que um líder vai até o local
considerado Santo por grande parte dos cristãos executar um certo rito que se tornou uma
tradição entre os fiéis que tem a oportunidade de assistir a tudo. Todos os templos e locais
onde a Igreja Universal está inserida segundo o autor é algo definido estrategicamente pela
alta cúpula.

De fato no que diz respeito a escolha estratégica dos templos da Igreja Universal no Reino
de Deus, uma simples busca no site da instituição e no Google Maps sobre o principal templo
da instituição mostra que o mesmo está localizado na região do Brás, cidade de São Paulo,
bairro conhecido por ser um polo comercial focado na venda de roupas, que apesar de
próximo a região central não possui grandes arranha-céus, ao menos na região do templo, o
que confere ao mesmo uma maior impressão de imponência para quem passa próximo. O
mesmo ocorre onde está sendo erguida a segunda maior construção da instituição,
conhecida como “segundo templo de Salomão”, em Brasília, na Região administrativa de
Taguatinga, que possui em alguns pontos características similares ao bairro do Brás.

No terceiro tópico Braga fala sobre a relação vizinhança e comportamento eleitoral. O autor
define vizinhança como “é um espaço dos contato e das relações sociais, sendo um
ambiente dentro do qual os eleitores formam opiniões a respeito de como votar”. Embasado
em outros teóricos, Braga traz a informação de que a segregação socioeconômica é refletida
no voto dos indivíduos que estão inseridos em tal meio e que a IURD tem pleno
conhecimento disso na adoção de suas estratégias.

O quarto e último tópico antes das considerações finais utiliza taxonomias propostas por
alguns teóricos além de diversos mapas que mostram regiões onde alguns candidatos a
cargos na política receberam o maior percentual de votos na cidade do Rio de Janeiro e
foram eleitos. Fica evidente que existe uma distribuição concentrada territorialmente de votos
onde os candidatos da mesma instituição não competem uns com os outros refletindo as
decisões estratégicas da alta cúpula da IURD contribuindo imensamente para a eleição. Os
mapas mostram que a distribuição de votos está intimamente relacionada ao padrão de
dispersão dos templos pela cidade também.

O autor do artigo sustenta os seus argumentos de forma bastante sólida trazendo uma série
de informações que foram trazidas através de diversos levantamentos estatísticos. É
possível questionar a falta de maior exploração a respeito do papel da mídia, principalmente
a emissora de televisão Rede Record vinculada a Igreja Universal do Reino de Deus e
contendo em sua programação diversos conteúdos de cunho religioso sendo algo passível
de bastante análise no processo de como a instituição religiosa propaga os seus ideais e
exerce influência na decisão de voto dos eleitores.

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