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na TV brasileira
Desde maio de 1967, após o Concílio Vaticano II, o Papa passa a publicar diversos
textos com referência ao meios de comunicação. Estes textos passam a integrar a
Documentação Oficial da Igreja, como diretriz. Foram criados organismos, como as pastorais,
que agem a partir de diretrizes da CNBB, para atuar em áreas específicas da sociedade como,
por exemplo, a área de comunicação e educação.
Desde 1987, a igreja já vinha articulando seu “lobby” para atuação direta nas comissões.
Nesse ano, sob a liderança de Dom Luciano, a CNBB procurou unificar o discurso a fim de
obter apoio de outras entidades civis para que a Igreja no Brasil pudesse ter, enfim, uma Rede
Católica de TV.
Existia no final dos anos 80 e começo dos 90 vários programas de rádio e programas
televisivos de curta duração. A transmissão de missas e na sequência o comentário do bispo,
vide aqueles feitos por Dom Eugênio Sales em emissoras do Rio de Janeiro. As primeiras
transmissões televisivas de Missa começaram na TV Continental do Rio de Janeiro, entre
1964 e 1965. Em 1970, a carioca TV Globo retransmitia nacionalmente pelas afiliadas dessa
emissora a celebração com nome de “Santa Missa em seu Lar”. Isto ainda era muito pouco
para os clérigos da Igreja no Brasil.
“Tenho a máxima estima para com os meios de comunicação social. Penso que a igreja não
está valorizando, tanto quanto deve, os meios de comunicação”. (NEVES, 1972)
Dom Lucas Moreira Neves, quando Vigário Geral para a Pastoral dos Meios de
Comunicação Social (1971-74), já indicava quais caminhos a Igreja deveria seguir. A
comunicação midiática na Igreja não começaria do zero mas teria ainda um longo caminho a
percorrer.
Embora não possuísse ainda um arsenal midiático capaz de fazer frente ao avanço dos
evangélicos, o poderio comunicacional católico já existente não poderia ser desprezado. A
igreja possuía no final da década de 1970 e início dos anos 1980, 14 editoras (sete de grande
porte); 23 jornais semanais (impressos sob a responsabilidade direta das dioceses); 10 jornais
publicados por congregações ou grupos leigos; 11 revistas de circulação nacional (para o
público amplo); 7 revistas de cultura, 8 revistas de teologia, liturgia e pastoral; mais de duas
dezenas de periódicos destinados a públicos específicos, organizados pela CNBB e
congregações religiosas (Diretórios de Catequese e outros); e mais uma quantidade previsível
de três mil boletins impressos ou mimeografados em todo o país pelas comunidades,
paróquias, movimentos e dioceses, perfazendo, segundo cálculos estimativos de Frei
Clarencio Neotti, em 1979, três milhões de exemplares (SOARES, 1988, p. 286).
O avanço dos carismáticos foi um duro golpe para os intelectuais ligados à esquerda e
que atuavam no campo comunicacional católico. No início dos anos 1990, o crescimento do
movimento carismático foi vertiginoso. Um dos pioneiros do avanço carismático brasileiro
nos meio de comunicação foi Eduardo Dougherty. Ele afirmava que a intelectualidade dentro
da igreja era coisa do passado, e pregava: “Queremos falar diretamente com o povo sem
formalismos”.
Importante ressaltar que as lutas internas constatados no campo católico não estavam
presentes no meio evangélico. Lutas essas não só a nível nacional mas também no âmbito
internacional. Entre os evangélicos as aplicações de diretrizes comunicacionais eram
colocadas em prática prontamente, seja pelo tipo de organização institucional bem mais leve,
seja pela despolitização de temas. Assim, não ficavam expostos aos fiéis problemas político-
teológicos, conforme observado no meio católico. Gastavam tempo e energia no proselitismo
midiático que teria como consequência o aumento vertiginoso de fiéis.
A primeira Rede de Televisão Católica e sua programação iria se valer deste embate
ideológico em sua programação como iremos ver mais adiante.
3. Nasce a REDE VIDA de Televisão: o Canal da Família
Foi no quadro exposto anteriormente que, em 1995, se daria a criação da primeira rede
de televisão católica: a Rede Vida de Televisão. Poderíamos definir o processo que findou na
criação do Canal da Família (como denominam seus fundadores) como um feixe de relações
que envolveriam ações políticas (regionais e nacionais), a atuação de um grupo de
comunicação regional e o apoio de membros da hierarquia católica.
João Monteiro de Barros Filho já era um empresário de sucesso a nível regional. Neste
patamar, alavancou muito bem suas alianças políticas locais e estaduais para pleitear a posse
do Canal 11, reservado para a região de São José do Rio Preto (SP).
O INBRAC (Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã) foi criado para ser a entidade
mantenedora da grade de programação da Rede Vida. A TVI (Televisão Independente de
Portugal) e sua forma de captar de recursos, bem como seu tipo de programação serviram de
base para a implementação do projeto televisivo do INBRAC.
A análise dos programas da Rede Vida revelou assim que projetos diferentes
de qual deve ser o papel dessa rede se intercruzam e se misturam. Essa
diversidade de projetos se relaciona com a própria diversidade do
catolicismo divulgada pela Rede Vida é plural e diversa. Nota-se, contudo,
uma forte marca clerical e a presença de uma imagem de católico de classe
média. (MARIZ, 1998, p. 53)
Definiu-se que seriam transmitidos um terço e uma missa diariamente: ritos puramente
católicos Os produtores de programação estavam desafiados a não se submeterem ao mercado
publicitário ao anunciar produtos nocivos à tradição familiar, como bebidas alcoólicas,
cigarros e outros.
A linha carismática, ainda segundo Mariz, voltada a um público de classe média, seria
a linha mestra da programação.
Figura 2: Programação básica da Rede Vida em 2009
Os primeiros programas musicais da Rede Vida eram apresentados por artistas que
fizeram grande sucesso no passado como Sílvio Brito e Francisco Petrônio. A linguagem
televisiva seguia a lógica comercial dos programas de entretenimento.
Os programas infantis também tiveram espaço na grade. Rinaldo Magic Show era um
programa de auditório que contava com a participação especial da dupla de palhaços Patati e
Patatá.
O programa feminino da Rede Vida era o Tempo de Viver, conduzido por Meire
Nogueira. Tentava repetir a fórmula inaugurada pela TV Mulher nos anos de 1980 na Rede
Globo.
A tônica de não colocar os convidados em situações embaraçosas, permeava o
programa Prazer em Conhecê-lo, onde Brancato Júnior entrevistava personalidades do mundo
artístico e religioso.
O setor jornalismo foi marcado pelos poucos recursos técnicos e financeiros, bem
como número reduzido de profissionais. O produto jornalístico melhor editado era o
telejornal JCTV ( a partir de 1997), apresentado ao vivo às 18 horas e com reprise na manhã
seguinte. O programa mais importante do início da grade da Rede Vida era o Tribuna
Independente. Este programa possuía um apresentador, três entrevistadores e o convidado.
Este variava desde religiosos, médicos a políticos. A palavra predominava sobre a imagem
nos audiovisuais produzidos pela Rede Vida, como bem observou Mariz. (1998, p. 44).
Conforme percebemos na análise das pautas, perguntas e respostas estão voltadas a
concepções muito próximas a valores e princípios cristãos, e, em casos específicos, à doutrina
católica. Entrevistados e convidados colaboram com as preocupações editoriais da emissora.
(LIMEIRA, 2006, p. 314).
A Universidade do Vale do Paraíba, UNIVAP e a Pontifícia Universidade Católica do
Paraná contribuíram com programas de alta qualidade técnica.
Luiz Henrique Marques, em Rede Vida de Televisão: análise da prática comunicacional
da Igreja católica a partir de um referencial (1999), conclui que não existe nenhum elemento
audiovisual novo na programação televisiva da Rede Vida.
Horário Programa
A Rede Vida não pode ser considerada como uma televisão segmentada, se for seguida
a classificação oferecida por Dominique Wolton (1996). As TVs, segundo o sociólogo francês
poderiam ser classificadas em:
• TV temática –voltada para um público específico – proporciona uma nova relação que
extrapola as formas de organização da TV geralista, porém ela esgarça as relações
entre indivíduo e coletividade.
A Rede Vida não pode ser classificada apenas voltada para um segmento específico de
telespectadores católicos, a exemplo das TVs Aparecida e Canção Nova. A Rede Vida reúne
elementos comerciais próprios da TV geralista (programas infantis, futebol, quando exibe
entrevistas e variedades). Ela propôs um sistema de coexistência entre a programação
religiosa e a programação de uma emissora comercial.
Todos os programas que não característicos de uma ordem religiosa ou de produtoras
católicas podem ser classificados, de acordo com os pressupostos de Wolton, como
programação geralista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Rede Vida foi a primeira rede televisiva de orientação católica brasileira e continua a
ser uma referência no que tange a comunicação católica no Brasil. Importante ressaltar que a
Rede Vida não fora criada por uma iniciativa oficial da igreja católica. Ela não é o canal
oficial da Igreja, mas é entendida como o fosse pela maioria do seu público. Nem a Igreja,
nem o canal fazem muito esforço para deixar isto claro. A concorrência com a mídia
evangélica e mesmo com as coirmãs católicas podem explicar o fato.
A constituição de uma rede de televisão, a Rede Vida, faz com que a significativa
abrangência de seu sinal em diferentes partes do país, em curto período de tempo, a coloque
em evidência no que tange à mídia católica. O investimento em satélites e em uma
programação geralista fazem com que as dificuldades técnicas e econômicas de sua produção
de programas sejam diluídas.
A Rede Vida fez um caminho contrário das outras emissoras católicas em atuação no
Brasil. Não quis ser uma emissora de cunho essencialmente católico, com programação
puramente evangelizadora. Quis oferecer programas próprios da chamada televisão
generalista, com diretriz informativa, formativa e de entretenimento. Tudo, inclusive o
entretenimento, dentro das diretrizes católicas de ser um canal para a família.
Por fim, a formação da Rede Vida foi a porta e é uma das janelas eletrônicas para o
catolicismo no Brasil. Não acrescentou muito à inovação no mundo televisivo brasileiro.
Possui uma história de conquistas ímpares que precisam se transformar junto com o modelo
de TV inclusiva no Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS FILHO, J. M. O que é INBRAC. 2. ed. São Paulo: INBRAC; Barretos: O Diário,
2003.
KATER FILHO, A. M. O marketing aplicado à Igreja católica. São Paulo: Loyola, 1994.
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concessões televisivas e as diretrizes católicas de comunicação social, 1989-1995. 2010. 000 f.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de
Assis, 2010.
REDEVIDA
https://www.redevida.com.br (Acesso em 14 de outubro de 2022)
SCHMIDT, Gerson. TV Brasileira: novo púlpito da Igreja Eletrônica: O verbo se faz imagem
televisiva. 135 f. Tese (Mestrado em Comunicação Social) – Faculdade dos Meios de
Comunicação Social – Famecos, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2008.
WOLTON, D. Elogio do grande público: uma teoria crítica da televisão. Tradução de José
Rubens Siqueira. São Paulo: Ática, 1996.