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Curso de Alquimia - 04/09/2021

A Putrefação
Quando entendemos que os sete metais
representam dos portões representam 7
características primárias, entendemos que temos
7 pontos principais para analisar na putrefação.
Só assim podemos passar pela lavagem, a segunda
fase da obra – para lavar qualquer coisa na água,

A
é preciso antes remover as sujeiras externas.

primeira obra na Alquimia,


mas muito incompreendida na Segundo a tabela:
“modernização” da Alquimia – Planeta Metal Características
por seus símbolos obscuros, às Sol Ouro Calor, ímpeto
vezes com alusões pessimistas,
acabada confundida com um Lua Prata Emoção
processo macabro, o que gera uma identificação Mercúrio Argento Vivo / Intelecto
negativa. Mas há algumas alusões precisas sobre Mercúrio
a putrefação: “Aqueles que semeiam com lágrimas, Vênus Cobre Sentimento
com cantos de alegria colherão. Aquele que sai Marte Ferro Ação
chorando enquanto lança a semente, voltará com Júpiter Estanho Multiplicação
cantos de alegria, trazendo os seus feixes.” (Salmos Saturno Chumbo Restrição
126:5-6); “Na verdade, na verdade vos digo que, se o
grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele
só; mas se morrer, dá muito fruto.” (João 12:24). A Aqui, devemos entender os 7 planetas e
semente precisa apodrecer para o fruto nascer, o suas derivações através dos órgãos, metais e
fruto é uma semente que passou pelo processo da características como 7 ações que ocorrem na forma
morte. desordenada. Este entendimento é fundamental
para entender a Espargiria: as características
Este é o processo da natureza e este é o processo de Saturno imperam nas plantas e ervas por ele
da Alquimia – o nosso trabalho na Putrefação dirigidas – o alquimista deve entender a função
depende deste entendimento. Enquanto em um de Saturno, isto é, densidade, peso, estrutura;
estado desordenado, todos os nossos processos são entenderá assim o baço, que é reter células mortas
sementes; mas como na natureza, são sementes e doentes; entenderá, consequentemente, sua
que, caso não morram, serão como o grão de trigo ligação com o chumbo, metal frio e seco, denso
solitário. e impermeável, utilizado na antiguidade como
Desta forma, este processo deve ser dividido em: material para amuletos de proteção contra ataques
mágicos. Segundo tais características, percebemos
1) Reconhecimento das sementes que as plantas e ervas saturninas servem para
filtrar, curar infecções e fortalecer unhas, cabelos e
2) Início da putrefação das sementes
ossos. São elas, por exemplo: consólida, orquídea,
Os alquimistas desenvolveram diversas cuscuta, cânhamo e a herniaria1.
parábolas, gravuras e processos para este evento.
Em nossa putrefação, entendemos que este
Em linguagem simbólica, este reconhecimento
“portão de Saturno” envolve aquilo que forma
começa pelos “7 corpos”, “7 águias”, “7 portais” ou “7
nossa restrição, que também foi causada para a
classes”. A ligação é evidente: as características dos
nossa proteção. E aqui entendemos o processo
7 planetas. Assim explica o “Rosário dos Filósofos”:
da putrefação, que não
“Há uma chave pela qual os sete portões é apenas “eliminar”
metálicos são abertos, e sem essa base a precisa as características dos
Obra nunca será realizada. Lavar é o fim da sete portais metálicos,
escuridão, ou purificá-la, até que o branco se torne mas transformá-los.
perfeitamente branco, e o vermelho simplesmente Devemos observar o
vermelho.” Sol e seu calor, e assim
entenderemos o ímpeto
1 CULPEPER, Nicholas. The English Physitian: or an Astrologo-physical Discourse of the Vulgar Herbs of This Nation,
ed. 1652.

1
Rafael R. Daher

em suas características que devem apodrecer na


semente, mas que também deverão crescer nos frutos.
Isso é simbolizado, nos tratados Alquímicos, com o
“Sol Negro” durante a putrefação, que é o ímpeto a
dissolver todas as outras características negativas.
Nesta antiga gravura alquímica, entendemos
melhor este processo:
O corvo da putrefação, assentado sobre uma
caveira, representando o início. Um início paradoxal:
há na Europa o ditado: “o corvo nunca se assenta
em madeira podre”. Mas aqui, ele está sobre uma
natureza morta, a caveira, indicando que o começo
da Obra começa em algo que parece morto, mas não
está de fato morto – o Corvo reconhece o princípio
da vida na morte, como na passagem do Evangelho
mencionada ou nas lágrimas descritas nos Salmos. A
vela queimando, ao lado, representa este ímpeto do Sol, que é a força movente para a obra.

A gravura acompanha a seguinte parábola:


“Através da ordenação e controle constante e do Regime do fogo.”
O ímpeto do fogo não pode ser desordenado. O excesso de fogo, ou seja, do ímpeto, queimará a Obra.
“Obteremos a única matéria universal, em uma só autoridade e ação, para um só regime do
fogo.”
Este ímpeto do fogo, quando regido da forma adequada, consegue regular todas as outras características
ou “portões metálicos”.
“A putrefação persiste e regenera, a própria natureza fará todo o trabalho”
Quando a putrefação começa, todas as características entram em um trabalho natural. Percebemos
como as características, ligadas aos órgãos, formam diversas cascas e emaranhados. A casca da semente
é rompida em sua morte, para que a semente dê frutos. Este trabalho é natural e não exige qualquer
outra coisa além da própria natureza alquimista em ação ordenada e correta.
“Controla teu fogo interior, pois ali ele habita; e assim terás ânimo e despertar pelo próximo
elemento filosófico. Portanto, o trabalhador do laboratório só trabalha com o clamor por
autorização e bênção de Deus; assim espera pelo fogo.”
Este ímpeto não cessará – depois do Sol Negro, teremos o Sol em outras manifestações, com novos
ímpetos. Por esta razão, este ímpeto é associado à regeneração, nobreza e, finalmente, incorruptibilidade.
O alquimista trabalha sob as bênçãos e aprovação de Deus, isto é, buscando na razão e no espírito a
continuação de sua obra, esperando a semente brotar. Ele deve reconhecer a morte da semente e seu
renascimento como processos divinos.

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Exercício para trabalhar em classe:

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