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Revista 777

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EDITORIAL
No dia 13 de Março de 1948, escrevia Frater Achad: “\ = 418. “Tu sabes não.” Sua
chave abre Palácio. CCXX se abriu como uma flor. Tudo resolvido, mesmo II.76 e III.47.
Você sabe PI = 3,141593? E oh! Muito mais” (sgd) AL’AIN o Sacerdote… 666”. Mas ainda
muitos anos antes, “Mas primeiro tu deves sofrer, tu deves sofrer muitas coisas”. Eis
que aqui vivemos nosso “pospandêmico” 2022, onde muito sofremos em nossos ordálios
coletivos da oferta iniciatória que o Novo Aeon nos trouxe. Nossa fase negra, alquímica,
onde o vírus se esconde no mais pesado que o ar, gotículas…. Talvez nos mostre realmen-
te a fase onde tudo é pesado, lento, carregado de cobiça, ódio, apegos, culpas. Entramos
em profunda introspecção diante de tanta escuridão. Mas sabemos a chave para educar
nossos egos, e nossos ventos, afoitos. A chave é o 1, da unidade, e o 3 do início da multi-
plicidade. Pergunte, pergunte ao Achad: qual era a chave?

A 777 deseja que você encontre a sua chance de união com o conhecimento, a ci-
ência, e o entendimento, com os textos em nossas páginas digitais. Feliz Equinócio!

Equipe: Sorore Adler, Ignis, Ayin Achad - Frati Alhudhud, Amaranthus, Arach, Stella
Cordis, H418.

Equipe 777

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SUMÁRIO

4 Você tem Medo de Bicho-Papão Ordálios? – Soror Ignis

8 Sobre o Ego Exarcebado e o Ego Quebrado – Soror NeferAset

13 Algumas Considerações Assessórias sobre o Limiar – Frater H418

17 Arte: The Beast at 66 – Frater Xeper 310

18 Iniciação parte I – Frater Achad

25 Passos Contínuos - Soror NeferAset

30 Seis de Espadas – Soror Urutu-Cruzeiro

32 Arte: Sulis – Soror Ignis

33 Cosme, Damião e as Transformações de Cada Dia – Soror Stella Cordis

34 Ciência no Iluminismo Científico: o Caso de Meredith Starr - Pêu Lama-


raum

42 Iniciação parte II – Frater Achad

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VOCÊ TEM MEDO DE BICHO-PAPÃO ORDÁLIOS?

Ordálios ou ordálias é um tema que sempre foi alvo de curiosidade por parte da-
queles que desejam iniciar sua jornada na Santa Ordem, ou mesmo por seus Aspirantes.
Há muitas dúvidas quanto a sua atuação e influência na vida cotidiana, o que os fazem
serem muito temidos e mal interpretados.

A Astrum Argentum é uma Ordem de Treinamento e de Ordálios, onde os mesmos


são ativados na assinatura do juramento, quando o Aspirante gozando de livre arbítrio e
saúde mental plena assume um compromisso para com a sua futura jornada espiritual.

É muito comum os Aspirantes confundirem os ordálios com os problemas da vida,


que são inerentes a todos, sejam financeiros, familiares, de saúde, relacionamentos etc.
Mas o que são exatamente os ordálios?

Etimologicamente, a palavra ordálio, tanto no latim “ordalium”, quanto do saxão, “or-


dal e ordel” ou de derivações do franco ou teutônio “urdela”, significam julgamento, po-
rém aquele ausente da interferência das pessoas, no sentido de uma justiça absoluta,
vinda de Deus. (fonte: Dicionário Houaiss.) A etimologia fala de justiça divina, e se parar-
mos para analisar, em Thelema não há Deus senão o próprio Ser Humano, certo? Então,
não seria autojulgamento ou melhor, ajustamento?

Como especulação proponho algumas reflexões sobre o Atu VIII, O Ajustamento. Va-
mos ao Livro de Thoth:

“(...) sua expressão demonstra sua secreta e íntima satisfação pelo domínio sobre
todo elemento de desequilíbrio no universo. Esta condição é simbolizada pela espada
mágica que ela segura nas duas mãos e os pratos de balança ou esferas nos quais ela
pesa o universo, Alfa, o Primeiro equilibrado exatamente com Ômega, o Último. Estes
são os Judex e Testes do Juízo Final; os Testes, em particular, simbolizam o andamento
secreto do julgamento por meio do qual toda experiência corrente é absorvida, trans-
mudada e finalmente passada à frente (...) à outra manifestação.

O equilíbrio permanece apartado de quaisquer preconceitos individuais (...). Neste


sentido, a natureza é escrupulosamente justa. É impossível deixar cair um alfinete sem
desencadear uma reação correspondente em toda Estrela. A ação perturbou o equilíbrio
do universo.

Ela é a parceira e o cumprimento de O Louco. Ela é a ilusão última que é manifes-

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Revista 777 - Você tem Medo de Bicho-Papão Ordálios?

tação; ela é a dança, de muitas cores, de muitas manhas, da própria vida. Em rodopio
constante, todas as possibilidades são desfrutadas sob o espetáculo-fantasma do espaço
e do tempo: todas as coisas são reais, a alma é a superfície precisamente porque elas são
instantaneamente compensadas por este Ajustamento.

(...) Mais do que isso, ela é a completa fórmula da díade. A palavra AL é o título de O
Livro da Lei, cujo número é 31, a mais secreta das chaves numéricas daquele Livro. Ela
representa manifestação que é possível sempre se compensar pelo equilíbrio dos opostos.

Suas atribuições desenvolvem esta tese. Vênus rege o signo da Balança (Libra) e isto
é mostrar a fórmula: “Amor é a lei, amor sob a vontade”. Mas Saturno representa, acima
de tudo, o elemento tempo, sem o qual o Ajustamento não pode ocorrer, pois toda ação e
reação ocorrem no tempo, e, portanto, o tempo sendo ele mesmo meramente uma condi-
ção dos fenômenos, todos os fenômenos são inválidos porque não compensados.

Toda forma de energia tem que ser dirigida, tem que ser aplicada com integridade
para a satisfação plena de seu destino.”

Implicitamente, o Atu VIII - O Ajustamento - ilustra através de sua simbologia aspec-


tos inerentes ao equilíbrio entre as polaridades. Tais trechos retirados das considerações
sobre o Arcano conseguem demonstrar um pouco do que Crowley desejava expressar
pela arte, nada mais do que as peculiaridades das forças envolvidas no processo de ajus-
tamento, do equilíbrio do Universo que está sempre em mutação para se manter estável.
Não à toa julgo (conforme indicações da etimologia) este Arcano possuir estreitas corres-
pondências aos pontos cegos de atuação dos ordálios.

Deixando as especulações teóricas e subjetivas de lado, vamos à parte prático-cien-


tífica.

Os ordálios são provas de cunho iniciático que ocorrem no decorrer do trabalho espi-
ritual na A.˙.A.˙. para serem superadas. Há um modus operandi bem complexo por detrás
de sua ação, onde a egrégora espiritual manipula forças “cegas” que envolvem o Aspi-
rante de forma que não possa, por vezes, compreendê-las e nem sequer prever de onde
possam se originar. Eventos acontecem para testar a persistência do Aspirante em trilhar
o caminho iniciático a fim de ceder às quebras de padrões necessárias para esvaziar,
pouco a pouco, as bagagens que emergem das camadas adormecidas do inconsciente,
até começar a despir-se por completo das roupagens da personalidade.

“As Ordálias tu fiscalizarás tu mesmo, salvo apenas as cegas. (...)” (AL III: 42)

Olhando por outro ângulo, sendo o trabalho na Santa Ordem entre o Aspirante e ele
mesmo, fica mais fácil visualizar que os ordálios não procedem do exterior, e sim pos-
suem um mecanismo de atuação que conjuga as emanações da egrégora espiritual com

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os impulsos da natureza interna da pessoa que se projetam na sua vida, a fazendo de-
parar-se com um grande espelho que ora reflete a realidade (conforme o seu estado de
consciência) ora a ilusão, numa sequência de loopings ativados por gatilhos provenientes
do dia a dia. Já temos ciência que vivemos num mundo de Matrix, mas ao alcançarmos
essa percepção, passamos a ter certeza da nossa não realidade. Mas isso é um processo
extremamente pessoal de compreensão cognitiva a ser conquistada gradativamente no
decorrer do trabalho espiritual.

“Obedecei meu profeta! Cumpri as ordálias do meu conhecimento! Buscai-me apenas!


Então as alegrias do meu amor vos redimirão de toda pena. Isto é assim; Eu o juro pela
cúpula de meu corpo; por meu sagrado coração e língua; por tudo que Eu possa dar, por
tudo que Eu desejo de vós todos.

Então o sacerdote caiu em um profundo transe ou desmaio, e disse à Rainha do Céu:


Escreve para nós as ordálias! Escreve para nós os rituais; escreve para nós a lei!
Mas ela disse: as ordálias Eu não escrevo; os rituais serão metade conhecidos e meta-
de escondidos: a Lei é para todos.” (AL I: 32-34)

Comentários do Liber AL: “As Ordálias são presentemente executadas sem que o
Candidato saiba (...). Esses que Ele aceita para iniciação testificam que estas Ordálias são
frequentemente independentes do seu controle consciente. Elas não são, como as ordálias
da tradição, formais, ou idênticas para todos; o candidato percebe em circunstâncias que
permitem um real teste de conduta, e o compelem a descobrir sua própria natureza, a se
tornar cônscio de si mesmo, ao trazerem seus motivos secretos à superfície.”

Abrindo um parêntese: novamente vale ressaltar que o trabalho espiritual da Santa


Ordem é entre o Aspirante e ele mesmo. Se sua vida está péssima e você acha que a culpa
é das práticas que reverberam energias nocivas, ou que a egrégora espiritual possui uma
vibração pesada ou densa, sinto lhe avisar que o problema é somente seu, pois você está
sob a influência de suas próprias projeções, seu próprio reflexo o tempo todo.

Para se ter uma ideia, cada grau da A.˙.A.˙. possui seus ordálios específicos, o que não
significa que alguns deles possam se perpetuar sucessivamente nos demais graus. Um
exemplo: um dos ordálios do probacionista é a dispersão, e neste caso ela atua de forma
com que o Aspirante desfoque do objetivo do grau. Uma vez percebida (conscientemente)
tal condição e o Aspirante passe a agir com persistência, se torna mais fácil superar tal
prova e a Grande Obra do seu grau ser concluída.

O que fazer para amenizar os ordálios?


Por sua natureza intrinsecamente espiritual, pode-se verificar que o foco dos ordálios
é sempre o Eu, a Individualidade, sendo o Ego a ferramenta de agência que influencia ao
promover resistência, de forma irracional, visando desviar o Aspirante de obter as per-
cepções necessárias para superar as provas, ou seja, obter as mudanças conscienciais que

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precisa alcançar em sua jornada a fim de experienciar a completude: o Conhecimento e


Conversação do SAG.

Sendo assim, a solução é iniciar a educação do Ego desde o princípio da sua jornada.
Não há nada melhor do que executar o Resh diariamente e realizar uma boa prática de
Asana. O treinamento mágicko não faz parte do currículo por acaso.

“A Me reverenciai! A me vinde através de tribulação de ordália, que é deleite.


O tolo lê este Livro da Lei, e seu comento; & ele não o compreende.
Que ele passe pela primeira ordália, & será para ele como prata.
Pela segunda, ouro.
Pela terceira, pedras de água preciosa.
Pela quarta, ultimais fagulhas do fogo íntimo.” (AL III: 62-67)

Contudo, pode-se ver, que a função do ordálio é fazer com que se possa adquirir, du-
rante o processo iniciático, novos estados de consciência, como produto do Eu, da nossa
porção divina e não do Ego. Não se esqueça que iniciação é mudança de estado de cons-
ciência e a experiência da gnose é espiritual (Eu) e não intelectual (Ego).

Portanto, Aspirante, não precisa temer seu bicho-papão de estimação. Ele surgirá
quando menos imaginar, mas seja esperto, e ao invés de brincar de pique-esconde com
ele, o encare, o acolha como aquele colega de trabalho chato, que mesmo te irritando irá
te auxiliar a alcançar suas metas.

Soror Ignis

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SOBRE O EGO EXACERBADO E O EGO QUEBRADO

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei

Ego. Por tantas vezes ele se apresenta, nas mais diversas formas… e não é um inimigo.

Entretanto, venho observando algumas coisas que tem me feito refletir. Muitas ve-
zes comecei a ver o quanto o ego é quebrado, repetidas e repetidas vezes, principalmen-
te quando iniciamos alguns estudos, como Thelema.

São coisas que aos poucos vão mexendo com nossos pensamentos, sentimentos e
emoções, e por muitos momentos, se não estamos atentos, caímos em algumas armadi-
lhas. Uma delas é a exacerbação do ego, que por mais que alguns digam que não ocorre,
é perceptível que sim, é um fato real.

Não tenho a intenção de fazer generalizações, pois cada indivíduo é um indivíduo,


e se assim não fosse, o “todo homem e toda mulher é uma estrela” cairia por terra. Po-
rém, é interessante observar que conforme estudos e leituras avançam, num primeiro
momento, alguns tendem a se sentir no cume da montanha do conhecimento, para em
seguida, escorregar ladeira abaixo. “E tá tudo bem...”, como diz uma amiga.

Esses altos e baixos são momentos que nos trazem muito aprendizado, e é nesse
ponto que quero chegar. Ocorrendo o ego exacerbado, vem a vaidade, a soberba. Altos
papos de achismos travestidos de uma “sabedoria” artificial. E quando as quebras do ego

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Revista 777 - Sobre o Ego Exacerbado e o Ego Quebrado

ocorrem, são dolorosas, principalmente quando não se está preparado para tal, ou não
ocorre a aceitação disso.

Fato observável é o reconhecimento de estar errado, ou de saber bem pouco, ou até


mesmo de não saber, o entendimento e a aceitação desses momentos. Não é um “se
diminuir”, num pensamento ultrapassado de “sou um nada, um pecador, e preciso de
salvação”, mas é uma compreensão de que não se está como senhor do absoluto conhe-
cimento, simplesmente porque começou a ter acesso a determinadas chaves que podem
abrir certas portas, que levam a novos caminhos e novas portas, e assim por diante.

O fato de se ter acesso ao sistema que nos equipa com ferramentas traz um senso até
maior de responsabilidade, pois não somente um aprender conhecimento, e sim apre-
ender e ter a aplicabilidade do mesmo. E isso inclui ter a neutralidade de passar pelas
quebras do ego, que sim é fracionado, fragmentado inúmeras vezes. Se reconstrói, se
reergue, se exacerba e se quebra de novo.

Penso que o importante é que a consciência desses acontecimentos esteja presente,


para que se receba aprendizados disso. Para que não seja uma dor, não seja um sofrimen-
to, mas sim uma observação e de fato uma lição tirada.

Em um vídeo que vi recentemente, houve uma fala que me recordou algo que sempre
penso a respeito das dificuldades que enfrentamos no dia a dia e no desejo que muitos
tem de se isolar para poder ter uma melhor percepção daquilo que estão lidando no cam-
po da magia/ocultismo, etc. Se isolar seria de fato muito bom, ir para um mosteiro no
alto de uma montanha, uma cabana no mato, porém haveria a falta do desafio do ego, que
muitas vezes é ocasionado pelo que está em nosso entorno, seja nossa família, vizinhos,
chefe do trabalho, brigas de internet, etc. Se formos pensar, seria muito “fácil” lidar com
muitas coisas estando isolados, e uma possível evolução espiritual, prática, ou o que quer
que seja, porém a lição de cada coisa que nos espeta, que nos provoca, que nos causa
vaidade, ficaria um pouco atrasada, e são essas as lições valiosíssimas.

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Revista 777 - Sobre o Ego Exacerbado e o Ego Quebrado

Percebo no estudo do sistema existente em Thelema um acesso às mais diversas áre-


as, e ele nos instiga e estimula a ir atrás de outras coisas que nos interessam e fazem
parte desse meio. Também percebo que adquirir conhecimento vai nos tornando seres
um pouco mais conscientes, com um arcabouço de coisas textuais e imagéticas que nos
permite fazer correlações e entrelaçamentos dessas coisas, tanto das que já possuímos
quanto das que entramos em contato quando aprendemos algo novo. Seja para reforçar
ou refutar, para agregar ou descartar. E que um dos maiores aprendizados que tiro disso,
é justamente o cerne desse texto: o ego, exacerbado e o ego quebrado.

Novamente aponto que quando falo do ego quebrado, não falo de um processo que
deva ser doloroso (embora muitas vezes seja). Não deve ser uma penitência e nem algo
que “todos devem passar”. Minha observação é que para que isso ocorra uma auto-ob-
servação é bem vinda, e a percepção do quanto em nossa vaidade cega, realizamos nossa
pequenez diante de um mundo vasto de conhecimento que existe e nós só estamos arra-
nhando a sua superfície. Ninguém sabe tudo, ninguém é o senhor absoluto do conheci-
mento. Podemos sim, nos sentir conhecedores de determinadas áreas, em determinados
graus de aprofundamento e falar com propriedade sobre aquilo. Ter orgulho disso, por
que não? Mas percebermos que sempre há o que aprender, apreender e aplicar.

Sobre um auto controle, vejo a importância de reconhecer que devemos seguir em


uma direção. Se em nosso dia a dia, nossas palavras, ações e pensamentos não estiverem
nessa mesma direção, nessa mesma vibração, nós nos veremos tentando conduzir uma
carroça com três cavalos, cada um querendo ir para um lado diferente. Nesse caso talvez
seja mais fácil descer da carroça e desatrelar esses cavalos rebeldes e puxar nós mesmos
esse carro. Vai dar muito mais trabalho, vai ser pesado, mas talvez traga uma boa lição.
Deixar os cavalos descansarem, os alimentar, e ver que quem precisa conduzir somos
nós, com as rédeas nas mãos, nos impondo no comando para seguir essa jornada da ma-
neira como precisa ser seguida.

Então, sim, nosso ego é quebrado inúmeras vezes quando decidimos iniciar estudos,
práticas. Quando optamos por fazer algo, por justamente mexer com coisas que estão
em nossas profundezas. E principalmente quando se está disposto a passar por isso.
Quando há a compreensão que iremos passar por isso e saber reconhecer e aceitar esses
momentos.

Vejo até de uma forma irônica, e isso é um relato pessoal, o quanto observamos os ou-
tros e pensamos: “é, ainda vai ter esse ego quebrado”. E essa observação não é por pura
vaidade e soberba de me achar melhor, mas é ver refletida nos outros, situações que eu
mesma já passei, e faço essa reflexão, não com um senso de: “ah vai se dar mal porque
logo vai ter esse ego quebrado”, mas sim de sentir que também já estive nesse lugar, me
senti assim, mas tive minhas lições aprendizados porque me vi aberta e disposta a passar
por eles, e nesse ponto aprecio desejar que os outros também possam estar abertos para

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Revista 777 - Sobre o Ego Exacerbado e o Ego Quebrado

receber suas lições. E me sinto uma anciã, como quando via pessoas mais velhas dizendo
para meu eu criança e adolescente: “ah o tempo ensina, você vai ver no futuro, etc, etc”,
aquele velho discurso que nós, enquanto em nosso ímpeto imaturo e juvenil já achamos
que sabemos de tudo, e com o passar do tempo vemos que é verdade, e nos tornamos
nós a usar das mesmas falas, porque de fato passamos e sentimos. SENTIMOS. Grande
segredo de vários aprendizados, não somente o ler, o adquirir conhecimento racional,
mas de fato sentir tudo isso. E aí olhamos, até para nós mesmos com a frase que muitos
odeiam: “eu avisei”.

Ou seja, temos nossos sentidos intuitivos nos apontando caminhos, nos mostrando,
inclusive que estamos “nos achando soberanos”, mas ou escolhemos não ouvir, não en-
xergar isso e nós nos fechamos em nossa redoma de falsa sensação de sabedoria, ou até
percebemos mas preferimos insistir, e aí quebramos a cara. Que bom, se pudermos en-
carar essa queda rindo de nós mesmos.

É normal o sentimento de “poder” que Thelema às vezes traz para alguns, a sensação
de empoderamento mesmo, de se achar melhor que outros, mas talvez uma grande lição
esteja aí, em perceber que, por ter esse acesso, a responsabilidade também é maior, afi-
nal, já não caminha mais na sombra da ignorância. Já teve um vislumbre de fora da caver-
na, e as ações começam a ser pautadas dentro de uma fagulha consciente do que se quer,
do que se busca, do que aplica relacionado ao que vai aprendendo.

À medida que vamos aprendendo, e estamos no centro de um círculo, a linha que o


limita também amplia, logo vamos expandindo nosso horizonte de forma infinita, cons-
tante.

Nebulosa de Órion

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Revista 777 - - Sobre o Ego Exacerbado e o Ego Quebrado

“Na esfera Eu sou em toda parte o centro, tal qual ela, a circunferência, em parte al-
guma é encontrada.” (Liber AL, Cap. II, v.3)

Vamos tocando esferas de conhecimento, recebendo seu influxo, nos abrindo como
receptáculos que transbordam para outras esferas, por outro lado temos a analogia da
xícara de chá, se estiver cheia, muitas vezes se achando plena de si mesma, não há como
ser preenchida do que é novo.

“Seres humanos foram dotados apenas de inteligência suficiente para ver com cla-
reza o quanto inadequada é a inteligência quando confrontada com o que existe.”
Albert Einstein.

Há muito o que se aprender, sempre e sempre. Sem o ego exacerbado, e sem o ego
falsamente humilde. Apenas um companheiro de jornada, que se faz necessário.

Amor é a lei, amor sob vontade

Soror NeferAset

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ASSESSÓRIAS SOBRE O LIMIAR

O presente estudo não tem por finalidade alguma propor algum tipo de consecução,
visto que isso é extremamente pessoal, tendo somente a finalidade expositiva de ques-
tões cabalísticas e fechando uma primeira parte de textos sobre o trabalho nas sephirot
que vem sendo publicados ao longo dos anos. E se você chegou pela primeira vez nesse
texto sugiro que dê uma pausa na leitura aqui e procure pela internet:

10 considerações sobre Malkuth - 9 considerações sobre Yesod - 8 considerações so-


bre Hod - 7 considerações sobre Netzach.

O conceito de limiar é deveras interessante, além dos tradicionais: limiar que delimi-
tam severamente limites e fronteiras. Também umbral, isto é, local de entrada interior,
ambos são termos técnicos de carpintaria para portal e portas, ou melhor, a soleira da
porta. Há um preciso porém menos conhecido significado nos velhos alfarrábios de di-
cionários que é o ponto inicial. Ora, se temos um ponto inicial temos percursos a frente
e atrás, onde outros pontos já iniciados depois de cruzados se tornam passados, e dentro
deste assunto o coração é o único guia e o parâmetro será o “aqui e agora” do tempo pre-
sente, sendo qualquer viagem no tempo ou espaço indicações de desvios.

Na tradição esotérica ocidental como Rosacrucianismo e afins, o nome daquele que


realiza esse trabalho é o Dominus Liminis, traduzido como Senhor do Limiar, porém po-
dendo também ser o Guardião do Limiar ou o Habitante do Limiar, talvez poeticamente
eu prefira a última. O mais famoso termo “habitante do limiar” foi introduzido ao público
por Edward Bulwer Lytton em seu romance rosacruciano Zanoni (1842). O capítulo IV do
romance chama-se na realidade “O Habitante do Limiar” e começa com a citação: “Fique
por detrás do que possa haver - Eu levanto o véu”.

O habitante no limiar marca assim uma passagem de fronteiras e a descoberta de um


espaço secreto e potencialmente até sagrado atrás de um véu. Para levantar este véu,
contudo, o aspirante precisa enfrentar o habitante ou senhor que guarda a soleira. Isto
explica o termo latino “Dominus Liminis”. E aqui implicamos a primeira consideração so-
bre: o que ou quem é este(a) senhor(a)a da Soleira? Ok, é um trabalho e tanto!

Já vimos anteriormente (se não viu, vai lá ver) que todo um trabalho nas Sephirot (ante)
inferiores foram realizados principalmente de (re)educação e (des)construção do Ego,
sem o qual somos simplesmente enganados por nós mesmos, em nossos loops constan-
tes ou desvios sistêmicos. No entanto, se o nosso subconsciente é central nas nossas re-
lações do cotidiano, como é que interage e influencia no trabalho mágico com as outras

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quatro Sephiroth que o rodeiam? Compreender como estes elementos das nossas perso-
nalidades se desenvolvem e interagem é um passo essencial para nos aproximarmos ao
trabalho do habitante no limiar...

Obviamente se trata de um trabalho de Aspiração, o desejo ardente, almejar, um que-


rer ígneo (essa ultima ai fica na minha conta), mas sim, é um trabalho de Inteligência, de
provação, porque o(a) aspirante deve permanecer sobre o limiar (ou seja naquela encruza
dele ou dela). Porque atrás dele estão as experiências e forças das sephirot anteriores e
a sua frente o famoso e grande Véu de Paroketh, ou o acesso a Rosa Rubra sobre a Cruz
Dourada, ou a Ordem dos Amantes. Logo um dominus liminis é também um Frater Rosae
Rubeae, Lumen em Centrum, Corpus Christi, enfim, escolham o título mais adequado.
Voltando à encruzilhada, muitos autores referem se ao caminho de Samekh visto que é
um trabalho de romper dos véus, porém por experiência eu prefiro abordar uma encruza
trina de Nun, Samekh e Ayn pela característica e importância que o trabalho envolve.
Epistemologicamente toda encruzilhada é não só um encontro de caminhos como uma
afluente, subafluente e confluente de vias, todos os caminhos são meandros, e todas
experiências e percepções são válidas, porém transitórias comparadas ao observador
silente da consciência que é eterno.

Uma tradução literal do termo “véu de Paroketh” lê-se simplesmente “o véu do véu”
como paroketh é a palavra hebraica para véu. Israel Regardie, contudo, também lhe cha-
ma “o véu do Tabernáculo”. O que este termo significa é o véu específico que foi colocado
em frente da parte mais sagrada e assustadora do templo. A tradição de separar o espaço
do templo que era acessível ao público do santuário interior por um véu pode ser traçada
até aos tempos bíblicos do Antigo Testamento:

“Far-se-á uma cortina de fios azul, roxo e carmesim, e de linho fino torcido; será feita
com Cherubim habilmente trabalhado nele. Pendurá-los em Quatro Pilares de Acácia
revestidos de Ouro, que têm Ganchos de Ouro e repousam em Quatro Bases de Prata.
Pendurarás a Cortina debaixo dos Fechos, e levarás a Arca da Aliança para dentro da
Cortina; e a Cortina separará para ti o Lugar Santo do Santíssimo. Colocará o Cadeirão
da Misericórdia sobre a Arca do Pacto, no Lugar Santíssimo. Colocareis a Mesa fora da
Cortina, e o Candelabro no Lado Sul do Tabernáculo em frente à Mesa; e colocareis a
Mesa no Lado Norte. Fará uma tela para a Entrada da Tenda, de Fios Azul, Roxo, e Car-
mesim, e de Linho Torcido Fino, Bordado com Agulha. Farás para a Tela Cinco pilares de
Acácia, e cobri-los-ás com Ouro; os seus ganchos serão de Ouro, e lançarás Cinco Bases
de Bronze para eles”.
(Êxodo 26:31-37)

“No entanto, o meu Limiar está formado a partir de toda a timidez que permanece
em ti, a partir de todo o pavor da força necessária para assumir plena responsabilidade
por todos os teus pensamentos e ações. Enquanto houver em ti um vestígio de medo de
te tornares tu próprio o guia do teu próprio destino, só por muito tempo faltará a este

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Revista 777 - Algumas Considerações Assessórias sobre o Limiar

Umbral o que ainda falta construir nele”.


(Rudolf Steiner, Conhecimento dos Mundos Superiores, Capítulo X - O Guardião do
Umbral)

Tendo em vista que a maioria das pessoas é educada para preservar a conformidade
de valores, metas e prazeres estabelecidas pelo filtro do ego, a mente humana é uma das
principais defensoras desse padrão egóico - já dizia uma pichação num muro no Rio de
Janeiro - “Vamos todos morrer de conforto”.

A partir deste ponto, aqueles que sentiram lá atrás, aquela insatisfação, aquele desejo
de um algo a mais, aquele comichão de desenvolvimento pessoal, saibam que são extre-
mamente necessários os momentos significativos de crise para perturbar a conformida-
de estabelecida dos filtros e permitir que eles se ajustem de uma maneira nova e inespe-
rada. Gerando uma nova percepção, uma nova ação, logo um novo estado de consciência.
A maioria dos rituais visa precisamente este processo: eles são projetados para esgarçar
os filtros de nossa percepção e para desestabilizar a personalidade de forma controlada
e responsável. Eles rasgam os filtros que antes eram bloqueados por projeções do ego e
permitem ao estudante entrar em contato com energias que antes eram completamente
remotas e ocultas ao seu estado de ser anterior. Para muitos praticantes, esta experiência
é altamente inquietante - pois quando realizam estes rituais já não estão acostumados
a experimentar nenhum estímulo direto ou não filtrado de fora de suas personalidades.

Voltando agora aos “Cabalismos”: Paroketh de acordo com sua Gematria significa um
estado de harmonia na interação com o mundo físico. Trazer seus movimentos e ações
em harmonia com o mundo manifestado - em vez de permitir que nosso ego os distorça
com base em nossas próprias projeções, desejos, medos e ilusões - parece ser a chave
para superar o habitante no limiar, que aliás nos é muito familiar (meia palavra já basta).

“Lembrai-vos de que a Força desequilibrada é o mal. Excesso de Misericórdia é fra-


queza; excesso de Severidade é opressão. Além disso, o fascínio do mal às vezes é tão pe-
rigoso quanto o medo. Em qualquer caso, ele pode esperar ser confrontado antes de tudo
por seu gênio mau.” (Liber Aba)

Transcender o véu de Paroketh é uma questão de substituir a função tradicionalmen-


te mantida por nosso ego com seus afluentes e confluentes. A visão do espelho subcons-
ciente passivo da lua (Yesod) vai ganhando um olhar de revesguete, assim meio canto de
olho, acrescentado e depois substituído pelo fogo consciente ardente do sol (Tiphareth).
E aqui de novo a simbologia do Fogo se faz muito necessária, já diziam antigos rosa cru-
zes: “Pelo fogo a natureza se transforma, Pelo fogo as coisas naturais são encontradas,
Pelo fogo a natureza se regenera”.

Por fim, não é nossa intenção providenciar grandes chaves além daquelas espalhadas
veladamente por esse texto que fala de véus, só sabe o gosto do pudim aquele que prova

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Revista 777 - Algumas Considerações Assessórias sobre o Limiar

da iguaria, logo há que se percorrer o caminho com paciência, lá pelo início, sem atalhos,
esse fogo todo. Aquele que percorreu o caminho de Nun, já se incendiou com o calor,
agora restou iluminar-se a luz do fogo, sem ânsia de resultado, como aquela determi-
nação de quem clama por Nuit no deserto, na chama da serpente, no Sol e também na
chuva de beijos estelares sobre nossos corpos, flamejando em Luz e Vida, para em nossas
órbitas estelares possamos romper os véus e encontrar a Liberdade para viver o Amor.
Sim viver no Amor.

Força e fogo são de nós.

Hoor.

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Revista 777

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Revista 777

INICIAÇÃO PARTE I

Publicado originalmente na edição de Julho de 1923 na revista The Occult Press Re-
view

Este será o primeiro artigo de uma série que irá se tornar os dois primeiros capítulos
iniciais do livro “O ALPHA E O ÔMEGA DA INICIAÇÃO”, que será publicado no início deste
outono.

O assunto aqui levantado é sobre o que a palavra “Iniciação” quer dizer na mente dos
buscadores da verdade nos dias de hoje. E na frase anterior buscadores significa, obvia-
mente, o não iniciado, pois uma vez que a Iniciação foi experienciada conscientemente,
poucas dúvidas permanecem sobre sua natureza.

Mas como existem diferentes graus de iniciação e há muitos que, tendo experiencia-
do de alguma forma ou grau, ainda falhamos em entender ou até mesmo de começar a
compreender, o quão importante significa esta palavra. Por um lado, os diferentes tipos
de Iniciação representam Graus ou Degraus diferentes pois a palavra realmente significa
Início.

O importante é entender que nós devemos estar preparados para reiniciar tudo de
novo, diversas vezes, pois cada passo é tanto um Nascimento quanto uma Morte.

Aqui nós temos uma das grandes chaves do estudo deste assunto. Alguém poderia
sentir que tenha passado por uma iniciação. Muitos passaram realmente por alguma ce-
rimônia com este nome, enquanto outros, que talvez estejam um pouco mais avançados
possam ver que este Irmão está se auto enganando com o pensamento de que por ele
ter passado por essa cerimônia tenha então se tornado automaticamente um Iniciado.
Provavelmente o que ele mais precisa é ter um novo um recomeço, uma reinauguração,
antes que ele consiga voltar a avançar. Inversamente, enquanto ele estiver com a ilusão
que ele chegou em certo Grau- talvez no último grau em que se encontra, ele está tão
vendado e incapaz de ver os Caminhos quanto era um aspirante do Primeiro Grau, quan-
do ele estava devida e corretamente preparado e sendo levado pela mão de outro, cuja a
presença ele sentiu mas quem ele não viu, apenas presenciou escuridão do início na luz
bruxuleante do primeiro estágio em direção a Maestria.

Mas ele estava devida e corretamente preparado? Este é o ponto que mais necessita-
mos de consideração.

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Revista 777 - Iniciação Parte I

O assunto que acabamos de entrar é um daqueles que irá necessitar de bastante elu-
cidação para que possamos compreender em sua totalidade. Tudo que podemos esperar
para esse breve artigo é um singelo esboço e algumas dicas que conduzirão o buscador
verdadeiro para descobertas mais profundas, e obter, de fato, algumas experiências para
si. Mas se só ter o efeito de remover alguns véus que escondem o homem da Luz, ele terá
cumprido o seu propósito.

Primeiramente é importante entender que existem cerimônias de iniciação que fa-


lham em Iniciar. E isso é um dos pontos que criam confusões na mente de algumas pes-
soas. Há também experiências de natureza altamente iluminadas e informativas, que não
são propriamente consideradas e caracterizadas como Iniciatórias. Muitas pessoas que
experienciaram importantes e interessantes psicoses ou até mesmo estados alterados
de consciência cometem o erro de supor que isso confere algum grau de Iniciação. Isso
também é um grande causador de confusão , pois é de uma natureza sutil e não tão óbvia
como no caso anterior.

O fato de que as pessoas não estão devida e corretamente preparadas tanto pelos
seus Iniciadores quanto por si mesmas, é provavelmente a causa da maioria das falhas
supra mencionadas.

De novo, uma Ordem cuja tarefa é iniciar pessoas nos Mistérios, pode conseguir isso
por um tempo, se o Ritual em si for bom, e na sequência falhar, mesmo possuindo a Ver-
dadeira Corrente dos Poderes Superiores, quando esta corrente o é retirada. Aqui iremos
pausar e depois dar uma atenção mais cuidadosa.

Por outro lado, uma pessoa não tendo nenhum conhecimento consciente que ele es-
teja ligado a alguma Ordem, pode receber experiências de caracteres distintamente Ini-
ciatórias, e então descobrir que por muitos anos estava ligada à Corrente, os laços invi-
síveis que o atraíram de forma sutil e notória para a verdadeira Irmandade. Esse alguém
provavelmente devotou toda a sua atenção para a preparação adequada afim de tornar-
-se apto para o serviço, enquanto busca nenhuma recompensa para si, e assim acha que,
sem esforço consciente, que a Coroa será dada a ele.

Mas, apesar disso tudo, a Iniciação é um Começo, e ele ocorrerá bem se ele não con-
fundir com o Fim, pois assim acabaria se excluindo do verdadeiro Avanço.

Será mais interessante se focarmos nossa atenção para as instância mais concretas.
Vamos primeiramente observar algumas das formas mais externas que estão conectadas
a esse assunto.

Iniciação é devidamente associada com algum tipo de Ordem ou Irmandade. Nós


encontramos por aí muitas Sociedades Fraternas que, possuem algum “conhecimento
secreto” em comum, que pretende iniciar aqueles que se candidatam para serem admi-

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Revista 777 - Iniciação Parte I

tido em seu meio. O laço real dessas sociedades são baseadas em cima da idéia de uma
experiência especial compartilhadas entre os membros qualquer, e está não sendo dis-
cutida com pessoas de fora do círculo, tem a tendência a formar um laço permanente
que mantém esta Sociedade coesa.

Num sentido mais amplo de laços comum com a Irmandade, causada por uma Expe-
riência Especial ao qual toda a humanidade, e até os animais inferiores compartilham,
forma a base da Verdade da Sociedade deste tipo. Nascimento, Vida e morte são experi-
ências que todos nós iremos passar, quer queira quer não, e elas formam os Tema dos 3
primeiros Graus de qualquer Ordem.
Muitas vezes esta é a base é clara nos rituais, às vezes apenas tem traços dessas idéias
fundamentais.

Mas existe as experiências que o Homem é capaz de ter, e que os animais e seres hu-
manos inferiores não o são, e esses formam naturalmente e necessariamente a base dos
Graus Elevados que tendem a manter uma coesão de objetivos comuns daqueles que já
tiveram experiências correlatas, e feito com aquilo que é passível de transmissão. No en-
trando, estas iniciações são feitas, no entanto, depois de um certo estágio e criadas para
trabalhar com os Mistérios do Nascimento, Vida e Morte mas num sentido e de forma
mais elevada e mais abrangente. O Elo entre esses Graus é, ou deveria ser, algum conhe-
cimento de Deus, onde o Homem possa aprender a se relacionar de forma correta com o
Grande iniciador, o Princípio de Todas as Coisas.

A experiência direta de Deus não é compartilhada por toda humanidade, mas forma-
-se um vínculo de mais proximidade e um Laço de Irmandade entre aqueles que atingi-
ram isso. Esta é uma experiência que não é possível transmitir a não ser que o candidato
esteja DEVIDA E Corretamente Preparado, e não só o candidato, mas também os Oficiais
da Loja, pois eles precisam ser o Canais Aberto da Verdadeira Luz.

É por isso que algumas organizações mais abertas se tornaram um pouco mais que
uma farsa, pois mesmo se eles têm o propósito de lidar com os Mistérios do Nascimen-
to, Vida e Morte, como eles irão Iniciar nestes Mistérios se eles não sabem nada de seus
Princípios?

Eu não gostaria de diminuir o possível valor de Sociedades exotéricas, mas apenas


pontuar que na maioria das instâncias seu trabalho é meramente Simbólico, e representa
só um véu da verdadeira Iniciação.

Muito dos meus leitores já devem ter passado por um desses tipos de amostra externa
de Iniciação. Poucos terão alcançado os significados mais internos daquilo de que eles
passaram. Muitos buscadores sinceros podem ter atravessado este caminho com um
desejo verdadeiro pela Luz, e alguns, sem dúvida terão experienciado um certo desapon-
tamento.

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Revista 777 - Iniciação Parte I

Muitos foram perguntados “De onde tu viestes?” e foram ensinados a pronunciar uma
resposta desprezível. Mas, meu leitor, deixe me perguntar de novo “de onde tu viestes?”
Você consegue responder de supetão? Se não, é melhor você buscar a Iniciação no Prin-
cípio, e tendo assim encontrado a Fonte de onde você veio, ter um novo começo como
um Iniciado de verdade, com uma Iniciação Real. E quando você voltar para essa Loja - O
Mundo- é bem provável que encontrará resistência, porém você pode posteriormente
ganhar admissão se demonstrar os verdadeiros sinais e pronunciar a Verdadeira Palavra.

Ver este mundo em sua verdadeira perspectiva é difícil, tanto pela a fraqueza de nossa
visão, e quanto por ser tão complexa a sua estrutura. Mas o Plano ainda está no Cavalete
do Grande Arquiteto, e o Iniciado o estuda, pelo menos uma parte peculiar daquilo que é
seu dever cumprir, e tendo visto o Plano, ele é capaz de conscientemente cooperar para
a completude de sua Casa que não é feita com as mãos, mas sim construir o Templo Vivo
em seu corpo que deverá ser como o plano do Templo Maior do Corpo da Humanidade.

Mas, você pode me dizer, a Palavra foi perdida. E para isso posso te responder: A pa-
lavra não fora perdida, exceto para aqueles que estão dispostos em aceitar uma palavra
substituta, uma palavra substituta qualquer, pelo tempo suficiente para que possam eles
escapar da penalidade. Quantos de vocês acredita que o Mestre possui a Verdadeira Pa-
lavra e estaria preparado para receber o impacto da “Verdadeiro Malho” ao invés de um
Malho substituto. Mas você não pode escapar do “Malho Real” com um truque simples
como esse, a Morte vêm para todos que não lutaram contra Ele pela Palavra Verdadeira
através da qual nós triunfaremos sobre Ele.

Qual é a Palavra Verdadeira? Obviamente Eu não poderia te dizer, mesmo se eu sou-


besse. Mas eu irei dizer te trará pelo menos a letra INICIAL da Verdadeira Palavra do Seu
Ser. A outra letra pode ser a palavra inicial do Grande Livro, e sua Palavra uma de muitas
Palavras por aí, mas para Você isto é de vital importância, pois a partir desta Palavra você
irá triunfar sobre a Morte.

Apenas os verdadeiros Mestres de Templo a sabem, só Ele pode sussurrar eu seu


ouvido, e gravar na Pedra Branca. Ninguém pode saber além de você mesmo, pois isto
é o Único Segredo de seu Ser. Todas as Palavras dos seus irmãos serão diferente, mas o
conhecimento desta palavra irá permitir que ele descubra muitos pontos de irmandade,
jamais sonhadas.

Já temos referências o suficiente sobre esse aspecto dentro deste assunto, pois pou-
cos são os Mestres que conseguem transmitir a Palavra correta para o devido candidato,
portanto a Iniciação não será obtida em todas as Lojas.

O fato de que existe uma Ordem exterior ainda preservando e usando a Palavra ori-
ginal do “Terceiro Grau” num sentido mais amplo, e isso não nos importa no presente

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Revista 777 - Iniciação Parte I

momento; e para aqueles que buscam admissão estes deverão estar preparados para en-
contrar resistência. Isto talvez eles não gostem, sem pouco perceber que apenas através
da oposição de forças a estrutura se mantém coesa.

Agora algumas poucas palavras que podem ser ditas sobre as Ordens ou Sociedades
que pretendem conferir os Graus elevados.

Há os Graus Elevados, mas falando em termos gerais,os graus inferiores, os dos mis-
térios do Nascimento, Vida e Morte, são os que Candidato mais precisa entender. Sem a
Fundação correta o Templo não vai permanecer em pé. Não é muito sábio considerar a
“Casa que não é feita com as mãos” como sendo composta apenas de ar quente; embora
algo possa ser dito para aqueles que repararem que a Palavra deve ser o resultado do
Sopro Divino. Mas não assopre nem uma palavra sobre esse assunto, a não ser que você
tenha muita certeza do que esteja falando. Pois o Quarto poder da Esfinge é o Silêncio.

Agora vamos direcionar a nossa atenção para uma manifestação mais séria da Grande
Ordem, e ainda trabalhando na Ordem Externa. Em algum lugar vamos ler:

Em Nome do Iniciador, Amém.

1. No princípio havia a Iniciação. A carne em nada se aproveita; a mente em nada se


aproveita; aquilo que é desconhecido para ti e está acima destes, enquanto firmemente
baseado em seu equilíbrio, dá a vida.

2. Em todos os sistemas de religião deve-se encontrar um sistema de Iniciação, que


pode ser definido como o processo pelo qual um homem vem a aprender sobre aquela
Coroa desconhecida.

3. Ninguém pode comunicar o conhecimento ou o poder para alcançar isso, que po-
demos chamar de Grande Obra, mas é possível que iniciados guiem os outros.

4. Todo homem deve superar seus próprios obstáculos, expor suas próprias ilusões.
Outros, porém, podem ajudá-lo a fazer essas duas coisas, e podem capacitá-lo a evitar
muitos dos falsos caminhos, que não levam a lugar nenhum, que tentam os pés cansados
do peregrino não iniciado. Eles podem ainda assegurar que ele seja devidamente prova-
do e testado, pois há muitos que se consideram Mestres que nem sequer começaram a
trilhar o Caminho de Serviço que conduz até lá.

5. Agora, a Grande Obra é uma, e a Iniciação é uma, e a Recompensa é uma, por mais
diversos que sejam os símbolos pelos quais o Indizível é vestido.
E de novo em outro lugar:

0. Aprende primeiro — Ó tu que aspiras à nossa antiga Ordem! — que Equilíbrio é a

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Revista 777 - Iniciação Parte I

base do Trabalho. Se tu mesmo não tens um alicerce firme, sobre o que tu ficarás para
dirigir as forças da Natureza?

1. Então saiba que já que o homem nasce neste mundo em meio à Escuridão da Maté-
ria e à disputa de forças conflitantes; portanto, seu primeiro esforço deve ser o de buscar
a Luz através de sua reconciliação.

2. Então, tu que tens provações e problemas, regozija-te por causa deles, pois neles há
Força, e por sua via se abre um caminho para a Luz.

Aqui temos um vislumbre do significado simbólico da escuridão, das provações e dos


problemas no “alojamento”, mas como que nós apreciamos o valor das provações e pro-
blemas desta Loja Mundo, em que todos nós estamos Iniciados pela Grande Hierarquia?
Ou, iria dizer, Devida e corretamente preparado para a Iniciação? Nossos diários estão
cuidadosamente analisados e a não ser que sejamos dignos e bem qualificado, é que nós
iremos conscientemente adentrar a Grande Loja, ou avançar, ou obter o poder de levan-
tar os caídos, que será você mesmo ou outrém.

Poucos conseguem compreender a existência da Grande Hierarquia, que, tendo gran-


de Conhecimento da Ordem Mundial, e das Altas Ordens, conscientemente acerta o
mundo pelo prumo.

Poucos conseguem levar em consideração a “Circumambulação” do Planeta, assim


correm cegos no seu curso em volta do Sol, esta uma das Maiores Luzes na nossa Loja;
eu, com Ele e junto com todos os Oficiantes(oficiais?), girando nos Círculos Maiores e
mais Grandiosos em volta do centro, este centro que nos é ensinado a buscar.

Todo dia homens nascem, vivem e morrem, inconscientes do movimentos da grande


Loja. Pensando, talvez que eles é que estejam parados e firmes, quando tudo é mudança,
que é a propria Vida, enquanto eles permanecem estagnados, que é a morte.

Poucos de fato conseguem pensar em dois infinitos, o Infinitamente pequena e o in-


finitamente Grande, e mirar na primeira, a infinitamente pequena, o Ponto de Luz não
estendido no centro do próprio Ser (que é o centro está em todos os lugares pois a cir-
cunferência está em lugar nenhum) e receber conselhos dos nossos Antigos Irmãos que
claramente falam pra nós “Busque o Centro”.

Poucos percebem que aquele velho amigo bobo que geralmente nos dá bons conse-
lhos de maneira jocosa, sem se intrometer nos nossos afazeres, nunca interferindo na
nossa verdadeira vontade, mas quem preferimos desprezar por causa de sua idade ou de
sua desgastada aparência, talvez este possa ser o Trolhamento da Grande Loja; quase

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Revista 777 - Iniciação Parte I

sempre pronto para nos admitir no momento em que estivermos devida e verdadeira-
mente preparados para encontrar, mesmo com um pouco de resistência, o nosso bem
verdadeiro. Poucos ainda irão perceber que esse antigo companheiro é provavelmente
um Past Master do Jogo da Vida, aquele que prefere ver do lado de fora da porta e se di-
vertindo ao observar aqueles que estão cobertos de condecorações, e que ainda buscam
pela Iniciação.

Frater Achad

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Revista 777

PASSOS CONTÍNUOS

Caminhada longa. O quanto procuramos, tentamos, pensamos que é uma coisa e


quando percebemos é outra. A caminhada é essa, a percepção do quão ignorantes somos
de nós mesmos e daquilo que nos permeia.

Quando nos damos a abertura para dar os passos, quando nos permitimos, de ver-
dade, as coisas começam a acontecer. Perdidos estamos, sempre, em meio a um mar
caótico de ventos desfavoráveis. Tal qual Ulisses, duvidamos, adormecemos e nos vemos
redirecionados, de forma negativa para outros portos que não o que almejamos chegar.

A confiança em nossa força é de tudo, uma das coisas mais importantes, pois focar
onde se quer chegar exige a disciplina para caminhar a passos firmes em direção a esse
lugar.

Se perceber nas esferas desorganizadas desse cotidiano louco que nos toma de arrou-
bo é um passo essencial para tirar de nós o senso tão arrogante de achar que já se está
em algum lugar, porto seguro, terra firme, solo sagrado.

Estamos na tormenta, e reconhecer isso é uma luz em meio a escuridão. Começar a


jornada, recolhendo materiais necessários para a construção da ponte que nos levará de
fato até a porta que precisamos cruzar.

Ferramentas adquiridas através de estudos e práticas, o que aumenta nosso arcabou-


ço nos dando uma boa base de consulta, e itens a título de comparatividade que nos auxi-

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Revista 777 - Passos Contínuos

liam a corroborar ou refutar muito do que vivencia-


mos. Um dos segredos, é justamente esse, vivenciar,
viver, experimentar e sentir. A saída do mental para
a execução no real. A plasmação do conhecimento,
a aplicação. E essa ação não ocorre somente em um
contexto de uma ritualística toda cheia de pompa e
circunstância, mas sim no dia a dia.

A alquimia que ocorre dentro de nós, a transmu-


tação, mutabilidade, renovação, é perceptível quan-
do de fato vemos que aplicamos em nosso cotidiano
isso que vamos estudando, e muitas vezes de forma
nem tão perceptível a princípio, porém notável à
medida que paramos para nos auto observar.

Há uma gama imensa de conhecimentos que va-


mos tomando contato ao longo da jornada dentro de
Thelema, e ledo engano de quem pensar que Thele-
ma é uma coisa limitada. O espectro tem muitas e muitas nuances, e um leque abrangen-
te de temas, sistemas, conhecimentos.

Quando se tem contato com determinados sistemas,


percebe-se o entrelaçamento desses conhecimentos e
se souber fazer a costura correta, o resultado é algo im-
pressionante. Uma colcha de retalhos, arrematada com
o poder da vontade, da Vontade que termina de cozer e
fechar o que se apresenta enquanto conhecimento e sa-
bedoria dentro de cada um.

Um caleidoscópio de múltiplos fragmentos que apre-


senta belas formas a cada giro, todas em uma união para
formar algo maior.

Estar no meio do caos e entender que a terra firme


está em nosso foco de objetivo é importante para que
saibamos reconhecer o que precisamos fazer para con-
tinuar a navegar. Quando é o momento de equilibrar o
lastro, quando é preciso içar a vela, quando remar, quan-
do jogar a âncora e aguardar ou quando se entregar e se
deixar levar pela corrente.

Perceber e se orientar pelo sol e ter a confiança nas


estrelas. E novamente: não adormecer e deixar que as

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Revista 777 - Passos Contínuos

dúvidas libertem os ventos desfavoráveis e nos desviem de nossa Ítaca particular.

Como lidar com a organização de pensamentos que tantas vezes nos soam traiçoei-
ros, um tanto quanto Hermes, zombeteiro, mensageiro do ir e vir entre mundos?
Estudos, práticas, estudos, vivências. Mesmo as nossas dúvidas precisam ser observa-
das, trabalhadas. Dedicação, disciplina, foco, objetivo, sem ânsia de resultado.

Nos vemos deslumbrados com um mundo inicial, a empolgação e o fogo que nos insti-
ga, e muitas vezes vemos a chama se tornar pequena brasa, e somos engolidos pelo caos,
engolfados pelos ventos, sufocados pelo desespero de querer desistir. Nesses momentos
precisamos nos lembrar de que iniciamos essa jornada porque decidimos, porque perce-
bemos que podemos descortinar os véus que nos cegam, e que o trabalho não seria fácil.

Principalmente por ser um trabalho que se volta para dentro de nós mesmos, reve-
lando nossas facetas mais obscuras, ampliando diversas coisas que ecoam dentro de nós.
Nesse ponto, como muitos dizem, a terapia é excelente aliada, pois vamos lidar com mui-
to mais do que imaginamos.

Quando nos vemos em encruzilhadas, paralisados pelo medo, pela dúvida, mesmo
dentro de nossa própria caminhada em Thelema, em muitos momentos precisamos de
fato parar para ouvir o silêncio. Como em algumas citações dos oráculos caldeus, Hekate,
com sua face voltada para as direções, inspira o caminhante a continuar, onde a escolha
é sempre nossa do caminho a tomar. Nosso norte, nossa bússola interna, aquela voz que
conseguimos ouvir no silêncio.

O trabalho de lapidação e evolução se dá em diversos níveis e mundos. Trabalhamos


o físico, o mental, o emocional e o espiritual. O cruzamento dos saberes dentro de nós
alimenta o cadinho que possui o elixir que estamos trabalhando, em busca de nossa pe-
dra filosofal. Chama está que precisa estar sempre cuidada, como uma vestal, precisamos
estar atentos.

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Revista 777 - Passos Contínuos

Navegamos contra a corrente, a favor da corrente, nos tornamos a corrente. Num


constante ir e vir, segurar e entregar. Aprender, apreender, adquirir para em algum mo-
mento também deixar ir. A dissolução.

“Pois eu estou dividida por causa do amor, pela chance de união.


Esta é a criação do mundo, que a dor de divisão é como nada, e a alegria da dissolu-
ção tudo.”
(Liber Al Cap. I, v.29,30)

Alquimia mais que perfeita, das fases do preto, vermelho e branco. Permeadas pelo
amarelo, e muitas outras cores que ocorrem no processo de transformação.

Quando nos vemos em Mortificatio, tudo parece parar em suspensão, precisamos


enfrentar a morte, deixando o antigo ir para o novo surgir.

SOLUTIO, CALCINATIO
NIGREDO, ALBEDO, RUBEDO
CITRINITAS
COAGULATIO, SUBLIMATIO,
MORTIFICATIO, SEPARATIO
CONIUNCTIO.

Numa tentativa de unir aqui pensamentos, coloco em palavras um pouco do que pen-
so, processo que eu mesma passo, passei e sei que vou passar inúmeras e inúmeras vezes.
Exprimo um pouco do que grita por dentro, e silencia em mim. O que queima na cha-
ma e transmuta, sempre e sempre, perpetuamente.

Barco no oceano de forças primordiais, folha embalada pelo vento, pedra em processo
de lapidação, elemento em transmutação alquímica. A visão voltada para a busca da Ver-
dade, guiada pela Vontade.

Amor é a lei, amor sob vontade

Soror NeferAset

Referências:
Oráculos Caldeus – textos e vídeos de acervo particular.

HOMERO. Odisséia. – referência retirada do podcast da Nova Acrópole. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=VXtnnrU6sCU&ab_channel=Organiza%C3%A7%-
C3%A3oInternacionalNovaAcr%C3%B3poledoBrasil

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A Alquimia Como Processo Transformador. Disponível em: https://www.jungna-


pratica.com.br/a-alquimia-como-processo-transformador/#:~:text=As%20fases%20
mais%20importantes%20s%C3%A3o,opera%C3%A7%C3%B5es%20est%C3%A3o%20
dentro%20dessas%20fases.

As 4 fases da Obra Alquimica: a terceira etapa – citredo. Disponível em:


https://lifestyle.sapo.pt/astral/espiritualidade/autoconhecimento-espiritualidade/
artigos/as-4-fases-da-obra-alquimica-a-terceira-etapa-citredo

Crowley ,Aleister - Liber Al Vel Legis

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6 DE ESPADAS

1 Introdução

Para entender essa lâmina do tarô, é necessário, antes, um estudo prévio dos princi-
pais elementos que a compõem, completando com a interpretação pictórica dada pelo
Tarô de Thoth.

2 Desenvolvimento

2.1 Os quatro mundos arquetípicos da Cabala

A palavra-chave para a sabedoria hebraica é o ”Nome” traduzido nas versões oficiais


da bíblia como ”Senhor”e ”Jehovah”nas edições revisadas. Essa palavra não é um nome,
isto é, não corresponde a algum tipo de personificação, mas antes é uma fórmula verbal,
numérica e geométrica. É derivado de um verbo hebreu que, corretamente traduzido
significa ”Aquilo que foi, Aquilo que é, Aquilo que será”. “Aquilo”, não “Ele”.

Logo, é um símbolo verbal perfeito para a Una Realidade. Em resumo, podemos dizer
que IHVH é um símbolo verbal para a Energia Consciente que leva a todas as coisa e cria-
turas a exist
ˆ encia.

A Cabala classifica todas as operações possíveis nessa Realidade em quatro planos ou


mundos. Cada plano ou mundo é representado por uma letra de IHVH, como segue:

I (fogo) O Mundo Arquetípico, ou o mundo das ideias puras.

H (água) O Mundo Criativo, onde as ideias do mundo arquetípico são especializadas


em padrões particulares.

V (ar) O Mundo Formativo, onde as ideias que passaram do mundo arquetípico ao


mundo criativo assim se tornando padrões criativos, ganham expressão factível. É o pla-
no dos processos, o mundo das forças atrás do véu das coisas materiais. O mundo for-
mativo é o explorado por físicos e químicos, por exemplo. É o plano das atividades vi-
bratórias e também do plano astral do ocultismo. A sabedoria atemporal relacionou esse
mundo com o elemento ar, representando a energia vital que as pessoas sábias associam
ao fôlego.

H (terra) O Mundo Material, que é o plano onde as formas se manifestam plenamente.

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Revista 777 - Passos Contínuos

Em cada um desses quatro mundos, a Cabala concebe a operação de dez aspectos da


Energia Consciente.

2.2 Significado Oculto dos números (até o número 6)

0 O zero representa o Ovo Cósmico, de onde todas as coisas vêm. Zero é um símbolo
de ausência de qualidade, quantidade ou massa. Logo, ele denota a liberdade absoluta de
qualquer tipo de limitação.

1 O número 1, é o primeiro número que possui qualidade e por isso, denota inicia-
tiva, originalidade, unicidade, singularidade e isolamento. É a consciência do verdadeiro
Self. Logo, em uma personalidade humana ele manifesta a Auto Consciência.

2 O significado dos dois inclui: dualidade, reflexão, receptividade, dependência, al-


ternação, antagonismo e outros similares. Os cabalistas chamam esse nú mero de Sabe-
doria.

3 Alguns dos significados do nú mero 3 são: multiplicação, desenvolvimento, cresci-


mento e expressão exterior. Em Cabala, 3 é Conhecimento. 4 Esse número sugere plane-
jamento, ordem, classificação e similares. O nú mero 4 é chamado
poŕ em de Inteligência Medidora.

5 Esse nú mero significa mediação, adaptação, meios, processos. 5 é a Lei dinâmica
procedente da Ordem Abstrata (4). Um dos títulos cabalísticos desse número é Medo,
pois pessoas ignorantes não se dão conta que a adaptação é o segredo para a Liberdade
e por isso tentam apaziguar a força que temem ver manifesta. Outro título cabalístico
dessa carta é Força e Severidade.

6 O significado desse número segue das ideias dos numerais precedentes: O livre
poder de ação viva (0), conhecendo a si mesmo perfeitamente (1), explorando todas as
possibilidades de seu ser (6) entendendo como essas possibilidades podem ser expres-
sadas exteriormente (3), nunca esquecendo de si mesmo ou qualquer detalhe da perfeita
ordem de sua própria manifestação (4) e desenvolvendo essa ordem através de uma lei
ou método perfeito (5) que é trabalhado através de uma perfeita, simétrica, balanceada
de um belo resultado (6). O título do número 6 é Inteligência da Influência Mediadora ou
Inteligência das Emanações Separadas.

2.3 Mercúrio

Mercúrio é o primeiro planeta que gira ao redor do Sol e leva aproximadamente um


ano para dar uma volta completa em torno deste. Nunca está a mais de 28º do Sol. Mer-
cúrio rege a mente, em tudo que concerne ao pensamento abstrato. Na mitologia ro-
mana Mercúrio (Hermes) era o mensageiro dos deuses e era um ser hermafrodita. Isso

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Revista 777 - Passos Contínuos

representa uma influência puramente mental, comunicativa e assexuada.

2.4 Aquário

Representa a parte fixa do ar. Regido por Saturno, denota um signo tradicional, mas
não no
âmbito fixo, mas sim no das ideias, dando a esse signo a habilidade de inovação no
pensamento. Apesar de alguns considerarem que esse signo denota uma mentalidade
aberta, isso é um engano, uma vez que a orientação positiva (ar) dá a esse signo a habili-
dade inovadora no pensamento, enquanto Saturno dá a ele a estrutura e a padronização
dos mesmos. Por isso, Aquário representa de certo modo uma capacidade de inovação
dentro de uma estrutura de pensamento que preserva a tradição.

2.5 Mercúrio em Aquário

Essa energia provoca muita estimulação mental, fazendo prosperar a troca de ideias e
de contatos sociais. Propicia clareza de pensamento, mas também teimosia nas opiniões,
a inventividade e interesses especiais, especialmente os ligados à percepção e ao conhe-
cimento.

Essa energia provoca muita estimulação mental, fazendo prosperar a troca de ideias e
de contatos sociais. Propicia clareza de pensamento, mas também teimosia nas opiniões,
a inventividade e interesses especiais, especialmente os ligados à percepção e ao conhe-
cimento.

3 6 de Espadas

Essa carta é Tiphareth (6) no Mundo Formativo (Ar), regida por Mercúrio em Aquário
mostra o pleno estabelecimento do equilíbrio das ideias criativas na Árvore do Ar. Na
representação pictórica, os punhos das Espadas, os quais são bastante ornamentais, são
na forma do hexagrama. As pontas das Espadas tocam as pétalas externas de uma rosa
vermelha sobre uma cruz dourada de seis quadrados, indicando deste modo a Cruz com
a Rosa como o segredo central da verdade científica.

Ela carrega em si todas as qualidades de suas características cabalísticas (6, Tiphareth,


na Árvore do Ar, o Mundo Criativo) e de sua regência astrológica (Mercúrio em Aquário).

Soror Urutu-Cruzeiro

4 Referência Bibliográfica

Crowley, Aleister The Equinox I. New York: Ordo Templi Orientis, An V Solis in Aries,
412 p.

32
Revista 777

33
Revista 777

COSME, DAMIÃO E AS TRANSFORMAÇÕES DE CADA DIA

Quando eu era pequena, minha tia vivia me arrastando para as missas de domingo.
E todo dia às nove da manhã, minha mãe sintonizava numa rádio que fazia corrente de
orações. E eu orava junto com ela.

Assim passei boa parte da infância: rodeada pelos símbolos da fé católica.

Mas quando eu tinha em torno de uns sete, oito anos a minha prima, que era umban-
dista, passou a fazer festas de Cosme e Damião em casa todo mês de setembro.

Confesso que participava delas com um misto de alegria, repulsa e curiosidade. Ale-
gria pelos doces e por ver tantas crianças reunidas; repulsa pela forma como a minha
prima e as amigas manifestavam as incorporações e os trejeitos; de ouvir as “vozes estra-
nhas” mas ainda assim a curiosidade era maior. Afinal, o que acontecia ali?

E mais de trinta anos se passaram.Posso dizer que de certa forma fui privilegiada por
minha família não se opor tanto em relação a minha participação nessas festas mas du-
rante um bom tempo o pensamento de que coisas “diabólicas” aconteciam ali permeavam
minha mente. E assim como busquei, busco entender até hoje todo tipo de manifestação
e simbolismo religioso possível.

O que posso dizer é que em todas essas buscas, o que sempre notei são as quebras de
padrão. De pensamentos, de ideias enraizadas pela sociedade em geral. Quebra do medo
do desconhecido e do quanto essas ideias padrão nos tolhem de diversas formas, afinal
tudo o que não se encaixa nos padrões eurocentricos são “de Satanás “. Do quanto deixar
nosso corpo se manifestar, dançar, rir, chorar, se alegrar, amar, SER… é coisa de gente
“doida e endemonhada”

Em pleno 2022 assistimos com tristeza a uma sociedade doente, onde muitas pessoas
se enfiam em cabrestos e palavras de medo dentro de templos religiosos em nome de
uma fé cega e um livro dito sagrado. É uma pena. Mas ainda acredito que aos poucos,
todos nós viveremos o verdadeiro sentido da palavra “religare”.

Que a força e a doçura dos Erês encontrem morada em você.

Soror Stella Cordis

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Revista 777

CIÊNCIA NO ILUMINISMO CIENTÍFICO: O CASO DE MEREDITH STARR

Originalmente publicado dia 04 de julho de 2021 em https://peulamaraum.teo.br

“Boyle replaced knowledge by comprehensibility but he did not find in this re-
placement any guarantee. He argued for it as the cause for intellectual satisfaction
— although Bacon had deemed satisfaction a major inducement for the develop-
ment of prejudices. In one way Boyle did agree with Bacon more than with Decartes
(and rightly so): Bacon had claimed that intellectual satisfaction with the theories we
have at hand may lead to stagnation. Boyle concluded from this that satisfaction it
not enough: we need power too.”

Joseph Agassi, “The Very Idea of Modern Science”, p. 202

“It is not enough to be right. It also has to work.”

Neil deGrasse Tyson, “Neil deGrasse Tyson teaches scientific thinking and commu
nication”, masterclass.com

Em seu primeiro número, o “Equinox”, publicação oficial da A.´. A.´., anunciou-se como
“a revista do Iluminismo Científico”. O quê «ciência» significa, qual conceito de Ciência se
aplica ou é aplicável, são questões recorrentes nas discussões da Ordem e seu Sistema.
Neste trabalho, exploramos o conceito de Ciência no Iluminismo Científico através de
um caso exemplar: o caso de Meredith Starr.

Em seus comentários aos versos 48-52 do capítulo 5 do “Liber Cordis Cincti Serpen-
te”, Aleister Crowley discute o que afirma ser o erro mais perigoso que magistas em trei-
namento podem cometer: tentar correr antes de conseguir andar, percorrer o caminho
sem assegurar a firmeza de cada passo, avançar sem fortificar cada posição. Para ilustrar
o problema, ele cita o caso de Meredith Starr.

(…) he turned up one afternoon and informed me that he had just acquired the
power of taking any poison without affecting him. I suggested that I try him out,
and he was besotted enough to receive the suggestion joyfully. “Ring up Whineray”,
I said to Neuburg, with the aplomb and savoir faire peculiar to the English race,
“and tell him to send a boy down at once with ¼ ouce of Strychnine.” Neuburg went
to the telephone-and a faint gleam of common sense flashed across Starr’s mind.
He asked me if I could not think of something that would be less devastating in its
effect in case he had not got the power quite perfect yet. I said yes, I could accom-

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Revista 777 - Ciência no Iluminismo Científico: o Caso de Meredith Starr

modate him, and fetched 10 grains of Calomel from my medicine case. He placed
the tablets in his open left hand and picked them up one by one and swallowed
them, on each occasion grinding out between his teeth, with the most horrific gro-
ans-which he intended to represent the power of will — “Strength beyond Stren-
gth, Pow-wer beyond Pow-wer, Adonai!”. We then proceded to talk about other
matters. An hour or so later, he said he would go home, having demonstrated his
power over Calomel. I suggestd that perhaps something might happen later on.
But he laughed the idea to scorn. He promised, however, to let us know if anything
happened after all.

A história prossegue com o relato das sucessivas ligações telefônicas de Starr para
dar explicações sobre terríveis fenômenos intestinais que o afligiram noite adentro. Em
conclusão, Crowley diz:

As I said above, this is an extraordinary case. But the general type constitutes, as a
moderate estimate, at least 70% of so-called occult students. Even quite serious as-
pirants fall into the trap before they are any good. I have to drill them in scepticism
and the scientific method of verifying one’s results for months on end.

Qual é a relação entre os dois componentes deste remédio, “ceticismo” e “o método


científico de verificar os próprios resultados”, e como ela pode nos ajudar a conceituar
Ciência no Iluminismo Científico?

Segundo o dicionário Houaiss, «ceticismo» significa coloquialmente falta de crença;


descrença, incredulidade, dúvida, e, filosoficamente denota a doutrina filosófica segundo
a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que
resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata
incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real.

Em sua “Introdução à História da Filosofia”, Marilena Chauí conceitua a doutrina filo-


sófica do ceticismo:

Quando se fala em ceticismo, imediatamente entende-se uma filosofia que argu-


menta de todas as maneiras para mostrar que não existe nenhuma base sólida, ne-
nhum fundamento para o conhecimento e até mesmo para a crença. A instabilidade
sensorial, a pluralidade de opiniões e convenções, as contradições lógicas indicam
que nem a sensação nem o pensamento racional podem apresentar-se como ali-
cerces do conhecimento. (…) Quando, no livro IX das “Vidas e doutrinas”, Diógenes
de Laércio se refere a um grupo de filósofos seguidores de Pirro, escreve que “os
filósofos céticos passavam seu tempo destruindo os dogmas de outras escolas e não
estabelecendo nenhum que fosse seu próprio1.”

1 op. cit., pp. 48-49

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Revista 777 - Ciência no Iluminismo Científico: o Caso de Meredith Starr

Crowley dá seu entendimento sobre o ceticismo no “The Soldier and the Hunchback”:

INQUIRY. Let us inquire in the first place: What is Scepticism? The word means
looking, questioning, investigating. One must pass by contemptuously the Christian
liar’s gloss which interprets “sceptic” as “mocker”; though in a sense it is true for
him, since to inquire into Christianity is assuredly to mock at it; but I am concerned
to intensify the etymological connotation in several respects. First, I do not regard
mere incredulity as necessary to the idea, though credulity is incompatible with it.
Incredulity implies a prejudice in favour of a negative conclusion; and the true scep-
tic should be perfectly unbiassed. (…) Eagerness, intentness, concentration, vigilan-
ce — all these I include in the connotation of “sceptic.” (…) I picture the true sceptic
as a man eager and alert, his deep eyes glittering like sharp swords, his hands tense
with effort as he asks, “What does it matter?2”

Crowley portanto conceitua o ceticismo caracterizado não pela dúvida que rejeita
mas pela dúvida que investiga; o cético anseia por saber e não se dá por satisfeito facil-
mente, não se deixa enganar por ilusões; o cético investiga guardando vigilância para
manter-se perfeitamente imparcial. Estas marcas nos conduzirão a uma certa concepção
de Ciência, como vermos a seguir.

A Encyclopaedia Britannica nos diz «método científico» denota técnica matemática


e experimental aplicada nas ciências. Mais especificamente, é a técnica usada na cons-
trução e teste de uma hipótese científica. Na imaginação popular, Ciência é uma coisa
realizada por uma classe selecionada de indivíduos chamados Cientistas, cuja prática se
dá em lugares chamados Laboratórios onde, através do uso de instrumentos especializa-
dos de alta precisão, obtém-se a Comprovação Científica da verdade. Apesar das enor-
mes controvérsias provocadas pela dissecação desses conceitos pelos pesquisadores da
história e da filosofia da ciência, permanece ainda hoje no imaginário popular a ideia de
um progresso contínuo e linear em direção à uma verdade cuja irrefutabilidade obtém-se
através de um mecanismo especial chamado método científico. Em sua dissertação “The
Very Idea of Modern Science”, Joseph Agassi analisa as raízes dessa situação na obra de
Francis Bacon e Robert Boyle.

We may remember that towards the middle of the nineteenth century Auguste Com-
te introduced positivism explicitly as the religion of science, albeit in a somewhat
new sense of the word. Nonetheless, that religion is Bacon’s doctrine of prejudice:
science is the source of all progress and metaphysics is but an obstacle to it. Grosso
modo, already in the eighteenth century it was the received opinion among rese-
archers with almost no exception. (…) To spell it out, the received opinion was this.
First, researchers cannot help going on discovering new facts and new theories as
long as they proceed with their proper scientific research. Second, the results of
their discoveries are unassailable truths. In short, the received opinion was that we
2 op. cit., seção 1

37
Revista 777 - Ciência no Iluminismo Científico: o Caso de Meredith Starr

possess a science-producing machine of sorts. More abstractly, the received opi-


nion was that humanity is in possession of a science-producing machine.3

A origem deste moderno mito da ciência rastreia-se para a obra de Francis Bacon,
notavelmente seu “Novum Organum”, onde encontramos declarada com todas as letras a
concepção de que o progresso científico segue-se inevitavelmente, por virtude de uma
força inata e genuína da mente humana, a partir da aplicação de duas regras simples:
primeiro, a completa renúncia e o esvaziamento de todas as noções previamente con-
cebidas; segundo, a constrição e a repressão do ímpeto pela formação de novas noções.
Para Bacon, a aplicação dessas duas regras habilitaria a perfeita observação da natureza,
pura de qualquer intromissão, a partir da qual necessariamente a verdade das coisas viria
a se configurar eventualmente no pensamento.

Jam vero tempus est ut artem ipsam Interpretandi Naturam proponamus: in qua li-
cet nos utilissima et verissima praecepisse arbitremur, tamen necessitatem ei abso-
lutam (ac si absque ea nil agi possit) aut etiam perfectionem non attribuimus. Etenim
in ea opinione sumus: si justam Naturae et Experientiae Historiam praesto haberent
homines, atque in ea sedulo versarentur, sibique duas res imperare possent; unam,
ut receptas opiniones et notiones deponerent; alteram, ut mentem a generalissimis
et proximis ab illis ad tempus cohiberent; fore ut etiam vi propria et genuina mentis,
absque alia arte, in formam nostram Interpretandi incidere possent. Est enim Inter-
pretatio verum et naturale opus mentis, demptis iis quae obstant: sed tamen omnia
certe per nostra praecepta erunt magis in procinctu, et multo firmiora.4

Todo erro, portanto, deriva da poluição da mente por noções preconcebidas que fra-
cassou-se em extirpar como exigido pelo método. Bacon conceitua quatro formas de
preconceito, por uma metáfora da idolatria: a adoração do Ídolo da Tribo, o ímpeto de
opinar sobre as coisas; a adoração ao Ídolo da Caverna, a disposição inata de gostar das
próprias ideias; a adoração ao Ídolo do Mercado, a disposição de acompanhar as ideias
que são correntes; a adoração ao Ídolo do Teatro, a adoração da metafísica. A esta última
Bacon atribui a grande falha dos supostos grandes pensadores, mesmo como Platão e
Aristóteles, e em virtude dela Bacon prescreve o que nenhuma pessoa educada no século
XXI compreenderia como científico: a abolição da formação de teorias e hipóteses.

O encontro do pensador ideal de Bacon e o cético ideal de Crowley parece claro:


ambos são caracterizados, entre outras coisas, por uma característica de imparcialidade
perfeita, ou seja, de um esvaziamento absoluto de todo preconceito.

O remédio prescrito por Crowley, na sua componente “método científico”, mais es-
pecífico: ele prescreve o método científico de verificar os próprios resultados. A no-
ção de verificação dos resultados pertence à concepção contemporânea e coloquial: a
3 op. cit., p. 16
4 op. cit., livro 1, aforismo 130

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Revista 777 - Ciência no Iluminismo Científico: o Caso de Meredith Starr

Comprovação Científica obtém-se necessariamente de uma outra pessoa que, através do


método científico, validou nossos resultados. Certamente uma pessoa não pode atribuir
Comprovação Científica ao seu próprio resultado. Consequentemente, é necessário que
o resultado seja algo passível de ser repetido por outra pessoa.

Segundo Agassi, a instituição da Reprodutibilidade como uma característica sine qua


nom da moderna pesquisa científica atribui-se a Robert Boyle.

The demand for the repeatability of empirical information is obtainable from the
writings of Galileo and of Descartes. Boyle’s contribution was that he instituted it.
Before that he stated it sharply and at length and discussed it — also at length. His
institution of the demand for repeatability in the Royal Society made it a must in the
whole of modern scientif c literature to date. It is possible to try to explain the failure
of an unsuccessful experiment, Boyle observed. It may then be possible to test the
conjecture that explains it; this test may very well turn a failed experiment into a
success and the conjecture into a scientific hypothesis.5

This was Boyle’s major problem: as he legislated for the whole commonwealth of le-
arning, he had to offer some guidelines, but he could not go beyond the one practical
guideline: what courts accept as eye-witness testimony is accepted if two indepen-
dent sources testify to it and if it is taken to be repeatable.6

O conceito moderno de Ciência, em geral, e de Método Científico em particular, en-


volve uma noção de que a verdade decide-se através de experimentar hipóteses, ou seja,
emerge de atos com o efeito de verificar se uma certa proposição é ou não é verdade
sobre o mundo. Assim como o perfeito cético de Crowley, o perfeito cientista de Francis
Bacon observa o mundo com completa imparcialidade e nenhum viés, obtendo do pró-
prio mundo seu testemunho nu e cru sobre o que são as coisas.

Para nossa investigação, é desnecessário problematizar a ingenuidade dessas noções


e seu progresso ao longo do tempo; é suficiente notar sua relação com o erro, sua con-
ceituação do preconceito ou viés como fonte de erro, e sua prescrição de corretivos.
Starr obtém uma falsa certeza; sendo falsa, deve haver uma fonte de erro; esta fonte é
a vaidade que o faz tender a admitir com facilidade crenças elogiosas sobre si mesmo,
como, por exemplo, a crença em ter poderes mágicos.

Os discípulos desmiolados professam resultados ao sabor da vaidade: professam re-


sultados sem assegurá-los, confirmá-los. Starr anuncia a obtenção do poder de imuni-
dade aos efeitos dos venenos; ao ser oferecido estricnina, ele se escusa; ao consumir
calomel, o resultado contraria a expectativa de imunidade e concorda com a expectativa
do purgante. Em retrospectiva, tornou-se evidente que Starr possui nenhuma imunidade
5 “The Very Idea of Modern Science”, p. 176
6 ibid., p. 208

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Revista 777 -Ciência no Iluminismo Científico: o Caso de Meredith Starr

contra venenos.

A formação da crença, ou certeza, está no coração da questão. Na história, Starr vem a


adquirir a certeza de ser imune a venenos. Infelizmente, os acontecimentos contrariaram
sua expectativa: ele tinha certeza que o calomel não o afetaria, mas, afeta. Ele não age
maliciosamente, ele age ingenuamente: ele se submete a um teste convicto do resultado.
Ele se submete ao teste motivado pela dúvida de outra pessoa, após fazer alegações; ele
não se submete ao teste antes, motivado por sua própria dúvida. Sua certeza se desfaz
no primeiro teste, um teste acessível, envolvendo uma substância de fácil obtenção e
tolerável efeito colateral. Starr foi crédulo.

The only way to test clairvoyance is to keep a careful record of every experiment
made. For example, Frater O.M. once gave a clairvoyant a waistcoat to psychometri-
ze. He made 56 statements about the owner of the waistcoat; of these 4 were nota-
bly right; 17, though correct, were of that class of statement which is true of almost
everybody. The remainder were wrong. It was concluded from this that he showed
no evidence of any special power.7

Diante da alegação de clarividência, formula-se a pergunta — por acaso esta pessoa


tem o poder de obter informação que uma outra pessoa qualquer não obteria? — e da
pergunta deriva um teste. O ato da verificação emerge da dúvida sobre se a alegação é
ou não é o caso. A presença da dúvida é a marca do cético: ele não admite prontamente
a alegação como certeza, ele exige algo mais. De seus discípulos, Crowley exige o ceti-
cismo, não apenas sobre as alegações dos outros mas também sobre as alegações de si
mesmo. A Starr, por uma razão qualquer, ocorreu que teria adquirido o poder da imuni-
dade contra venenos. Da ausência de verificação sobre se isto era ou não era o caso nós
inferimos que não lhe ocorreu nenhuma dúvida, ou seja, ele progrediu de uma intuição
inicial direto à certeza, sem nenhum rigor.

A necessidade de utilizar métodos e ferramentas para lidar com as fontes de erro


ocorre proeminentemente nas duas instruções fundamentais do sistema de Iluminismo
Científico da A⸫ A⸫, “Liber Exercitiorum” e “Liber Manus et Sagittae”.

The time and place of all experiments must be noted; also the state of the weather,
and generally all conditions which might conceivably have any result upon the expe-
riment either as adjuvants to or causes of the result, or as inhibiting it, or as sources
of error.8

The student, if he attains any success in the following practices, will find himself
confronted by things (ideas or beings) too glorious or too dreadful to be described.
It is essential that he remain the master of all that he beholds, hears or conceives;
7 “Magick in Theory and Practice”, cap. 28
8 “Liber Exercitiorum”, seção 1

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Revista 777 - Ciência no Iluminismo Científico: o Caso de Meredith Starr

otherwise he will be the slave of illusion, and the prey of madness. (…) There is little
danger that any student, however idle or stupid, will fail to get some result; but there
is great danger that he will be led astray, obsessed and overwhelmed by his results,
even though it be by those which it is necessary that he should attain. (…) It is desi-
rable that the student should never attach to any result the importance which it at
first seems to possess.9

O registro dos experimentos funciona explicitamente como um mecanismo de con-


trole do erro. É preciso notar todos os fatores relevantes, quer sejam possíveis condições
do resultado, ou seja, condições necessárias para a geração do efeito observado, quer
sejam possíveis condições de erro, ou seja, possíveis condições para que sejam formadas
concepções incorretas sobre o que foi observado. No século 21, quando o conceito de
ciência parece implicar a utilização de instrumentos conectados a computadores para
gerar uma infinidade de números, algo tão pobre não passaria como registro científico.
Porém, retornando para trás no tempo, nos estágios anteriores da formação da ciência,
encontraremos níveis de rigor muito próximos: encontraremos uma noção mais simples
do registro científico como a honesta e imparcial anotação dos fatos observados. A am-
bição então é a mesma ambição de agora: evitar a tendência do sujeito humano a gostar
dessa ou daquela verdade através de certos rigores capazes de corrigir as certezas. É
devido usar os melhores instrumentos que estiverem disponíveis.

O caso de Meredith Starr nos revela que o conceito de ciência em jogo no Iluminismo
Científico é um conceito mais simples do que aquele do século 21, com sua tecnologia,
sua eletrônica e sua computação, e sua modelagem matemática, e assim por diante. O
conceito que está em jogo envolve a disciplina e o governo do processo de formação de
certezas através da aplicação de rigores capazes de evitar fontes de erro, dentre elas,
principalmente, os ídolos do pensamento humano, a tendência para gostar ou não gostar
de certezas, como é o caso da pessoa vaidosa com relação aos fatos elogiosos de si mes-
ma. A pessoa que trabalha o programa do Iluminismo Científico deve portanto cultivar o
ceticismo, ou seja, a característica de não formação de certezas, de permanecimento na
dúvida, que tem a virtude de motivar os testes e verificações. Ela deve observar com total
imparcialidade e vazia de viés todos os fatos observados em um registro, o mais básico e
principal instrumento de sua prática.

Pêu Lamaraum

Referências
Aleister Crowley, “Liber LXV eith Commentary”, in “The Equinox”, volume IV, número
1, Samuel Weiser, 1996, ISBN 0877288887

Aleister Crowley, “Liber E vel Exercitiorum”, in “The Equinox”, volume I, número 1, fa-
csimile digital em https://keepsilence.org/the-equinox/1.1/liber-librae_low.pdf
9 “Liber Manus et Sagittae”, seção 1

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Revista 777

Aleister Crowley, “Liber O vel Manus et Sagittae”, in “The Equinox”, volume I, número
2, facsimile digital em https://keepsilence.org/the-equinox/1.2/liber-o_low.pdf

Aleister Crowley, “Magick in Theory and Practice”, in “Magick”, segunda edição revisa-
da, Weiser Books, 1997, ISBN 9780877289197

Aleister Crowley, “The Soldier and the Hunchback”, in “The Equinox”, volume I, nú-
mero 1, facsimile digital em https://keepsilence.org/the-equinox/1.1/the-soldier-and-
-the-hunchback_low.pdf

Francis Bacon, Thomas Fowler (ed.) “Novum Organum”, McMillan and Co., Clarendon
Press, Oxford, 1878; facsimile digital por Google, consultado do facsimile digital em ht-
tps://books.google.com.br/books?id=N0YBAAAAQAAJ

Marilena Chauí, “Introdução à História da Filosofia”, volume 2, Companhia das Letras,


2010, ISBN 9788535917154

Joseph Agassi, “The Very Idea of Modern Science”, in “Boston Studies in the Philoso-
phy and History of Science”, volume 298, Springer, 2013, ISBN 9789400753518

42
Revista 777

INICIAÇÃO PARTE II

Meu coração me diz que a primeira parte desta série, que inicialmente pretendia ser
um pequeno ensaio sobre o assunto da iniciação, porém não ficou suficientemente com-
pleto em seu propósito. Devo então tratar de alguns outros pontos de forma extensa.

Uma menção foi feita sobre a necessidade de estar “devida e propriamente prepara-
do” para a Iniciação. Em uma das Ordens externas o candidato é perguntado: “No meu
coração!”. Em um outro Rito da Ordem a mesma pergunta é feita, mas a resposta a essa
questão é: “No Coração, Verdadeiramente!”

A primeira vista, ao ouvir os dois, ambas as formas de resposta podem soar muito pa-
recidas, e a diferença apenas superficial, Ambas implicam que antes de buscar qualquer
tipo de Iniciação, o coração do candidato o impeliu em livre escolha e concordância, e
que, em resposta a essa urgência, ele tomou os passos necessários para tomar este ca-
minho a sua frente
.
Mas tem uma diferença sutil, e sendo que a resposta foi dada pelo guia do candidato,
expõe um grande grau de sabedoria em uma das versões, pela parte do guia ou aquele
que idealizou este grupo de rituais. A primeira resposta indica uma solicitação puramente
pessoal, “No meu coração.” O segundo não apenas dá uma impressão de impessoalidade
pelas palavras “no coração” que pode igualmente ser para o coração do homem, quanto o
da Humanidade ou do Universo, mas é seguido de “Verdadeiramente” indicando que esta
é uma solicitação da “Verdade”. Mas tem o que está escondido, pois se você as iniciais (e
as iniciais são muito importantes quando o assunto é Iniciação), nós vemos que era dão
IHV(NT: In heart Verefly), formando um Nome de Deus Triuno e as primeiras letras do
Tetragramaton ou o nome inefável IVH H. Essas três letras são aquelas do Pai, Mãe e Fi-
lho, assim indicando a Trindade que está manifesta em todos os planos, sua numeração
10+5+6= 21, que é o número de AHIH (eheieh) a Palavra do Ser Puro; enquanto que a letra
do Pai mais o da Mãe dá o valor numérico de 15 que reduzindo-o dá seis , que é o número
do Filho, e o do próprio coração que é onde esta operação se passa.

O dito acima é apenas uma dos possíveis exemplos que mostram como dois formatos
de ritual, que aparente propõem idéias bastante similares na superfície, podem variar
bastante nas suas qualidades essenciais; e embora no momento em que tiver ele pas-
sando pela iniciação elas possam deixar uma impressão similar na mente do candidato,
podem no primeiro exemplo parar ali a experiência enquanto o outro, quando sua mente
vai se tornando mais desperta durante a vida, ainda pode continuar trabalhando nele, le-
vando-o a descobrir camadas após camadas de verdade no momento em que ele se torna

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Revista 777 - Iniciação Parte II

verdadeiramente preparado para recebê-las.

A Real iniciação acontece dessa forma no Coração; a cerimônia de iniciação na loja


tem como propósito plantar uma semente. Se esta semente irá germinar ou não a vida
faz toda a diferença, claro. Assim como o solo que essa semente é colocada.
Sugestão e Auto Sugestão são os fatores principais nas cerimônias deste tipo. O mé-
todo é bastante científico se feito propriamente.

A loja em cada grau, sugere, ou deveria sugerir, pelo texto,pelo arranjo dos móveis, etc..
alguma alta Ordem do Universo. As ações e movimentos dos oficiais, e os que o candidato
é instruído a performar, deveria representar os movimentos da ordem da Natureza, ou
da Ordem Cósmica, ou algo mais elevado. Toda a cena deveria servir para impressionar a
mente do candidato com uma visão em miniatura do seu Macro Eu de que ele é parte e
reflexão, ou uma parte importante disso, então em grau após grau serve para erigir uma
figura completa no Universo como ele É, e não como aparenta pro não iniciado.

Cada palavra ou sinal dado para o candidato deveria ser estritamente simbólico vin-
do de uma verdade mais profunda, e todas deveriam encontrar suas correspondências
na Natureza, Deus e no Universo. Cada palavra deveria ser uma verdadeira palavra de
Poder, e o arranjo das letras desta palavra, seu valor numérico, som e outras proprieda-
des, deveriam todas velar o significado que o candidato poderia continuar a aprender se
aprofundando a partir de sua própria INICIATIVA, em direção a um entendimento mais
profundo e completo desta cerimônia e que ele jamais obteria quando passou por ela na
primeira vez.

Durante uma cerimônia desse tipo, o candidato é brevemente tirado de seu ambiente
normal, e se causa um estado mental de impressionamento, e então algumas sugestões
são dadas a ele, que, quando aceitas, se tornarão auto sugestões que continuará traba-
lhando em seu subconsciente às vezes por anos após a experiência. Se estas sugestões
realmente farão bem ou não depende parcialmente da sabedoria demonstrada dentro do
próprio ritual, e parcialmente pelo poder daquele que o inicia. Uma boa parte depende
também do momento imediatamente sequencial de tempo em que ele é simbolicamente
trazido a luz, e vê pela primeira vez a natureza da loja onde ele fora levado. Ele pode ser
levado com ter uma impressão da Coroa Inominável da Glória ou ter a impressão mais
próxima de um chapéu tubular de fogão. E isso não será sua culpa, se ocorrer o segundo
caso.

Vamos voltar a nossa atenção para uma pesquisa de uma série de graus simbólicos, em
que eles deveriam estar em ordem para haver uma efeito iniciatório real.

O grau mais inicial irá representar provavelmente algum estado antes do nascimento,
e como é a escolha da Alma em buscar uma nova encarnação neste planeta. Esse grau
pode ser simples em aparência, mas é de grande importância. O Primeiro Grau, propria-

44
Revista 777 - Iniciação Parte II

mente, irá representar o nascimento e a responsabilidade da encarnação na raça hu-


mana. Parte dessa responsabilidade devem ser dos pais, que por sua vez deve instruir o
filho recém nascido nas devidas ações e procedimentos. O grau deveria pelo menos su-
gerir as viagens da criança com a Lua antes que ele comece definitivamente sua jornada
com o Sol. Depois vem um grau sobre o avanço na vida, com todas as responsabilidades
que vai se amontoando nas costas do indivíduo, e a vida deveria ser a preparação para a
grande mudança chamada Morte, que para muitos é um fantasma terrível que sorri iro-
nicamente, e para outros é o estágio da coroação de uma carreira bem feia. O Terceiro
Grau irá mostrar o homem que aprendeu a viver, e a maneira correta de morrer, e deve-
ria mostrar a ele que não há morte, pois o Sol está sempre brilhando apesar da criação
aparencia da noite e dia que há neste planeta. Também deveria dar a ele um significado
de que através dessa passagem a morte pode ser superada em um combate justo, e re-
conhecido como nosso irmão e amigo ao invés de nosso inimigo.

Todos que nasceram neste Planeta devem passar por estas experiências e o dever da
loja é instruí-los no curso de ação correto em respeito disso.

Então chegamos a um ponto que alguns homens são capazes de ir além nas experi-
ências durante sua vida, que outros não estão suficientemente avançados e estão pre-
parados para compartilhar. Pelo bem deles, devemos prosseguir, se possível, e desde
que tenhamos obtido essas experiências, nós podemos aprender a criá-los quando for
nossa vez. Mas não podemos esperar fazer isso sozinho e sem ajuda, pois é necessário
para o próximo grau que possamos encontrar um conhecimento verdadeiro da Natureza
de Deus. Tendo obtido pelo menos um vislumbre disso, e talvez a verdadeira fórmula do
Nome de Deus com que irá trabalhar, se torna necessário que nós formamos um Con-
selho, pois nós temos pelo menos um entendimento vago que nós não somos indivíduos
separados e sim partes de um Grande Todo. Isso se torna cada vez mais claro para o
verdadeiro iniciado, que então se torna preparado para desistir de sua “personalidade”
ou “máscara” para que eassim ele possa se unir ao Eu Maior, este que não está limitado
ou escravizado pelos laços da matéria. Existe um grau perdido aqui, e assim é proposital,
pois a ponte deve ser construída do Leste para o Oeste, onde ele estará entrando em
uma vida mais completa. Tendo ele assim não cruzado oficialmente esse Abismo, por as-
sim dizer, o próximo grau dos mistérios da auto-crucificação se torna claro, para que na
verdade o iniciado possa aprender a dizer “Este é o meu corpo que eu destruo para que
ele possa ser renovado”. Tendo aprendido esse segredo da Vida em seu significado com-
pleto, ele então passa por graus que conferião sobre ele mais e mais poder de expressão
e de todas as formas possíveis, até no estágio final ele é preparado para trazer a Luz
para os seus companheiros que estão mais na escuridão do que ele e sem, ou desistindo
de, toda a glória dos altos cargos, ele descende e se junta com a humanidade nos graus
inferiores, se importando com seu avanço e nada mais- pois ele está chegando próximo
do Fim e este ele já descobriu que é uno com o Início - com exceção do fato que seu Eu
maior, o Corpo da Humanidade, avança com ele.

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Revista 777 - Iniciação Parte II

Então, pela primeira vez ele pode ser considerado como um iniciado de fato, não me-
ramente um iniciado simbólico. Pois ele está preparado (devida e completamente prepa-
rado) para começar de novo.

Então será dito sobre ele, que ele está buscando se INICIAR.

Frater Achad

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