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LIVRO - Diálogo Freiriano
LIVRO - Diálogo Freiriano
EXPEDIENTE
FICHA CATALOGRÁFICA
CDD 370.1
DIÁLOGO FREIRIANO
Diálogo Freiriano
Veranópolis - RS
2019
SUMÁRIO
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DIÁLOGO FREIRIANO
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PAULO FREIRE VIVE EM NÓS!
mundo. Ser crítico é ser um ser da transformação. Que pensar e faz uma educação
problematizadora e criadora de vida.
Eu espero que com esta obra coletiva possamos estimular outros educadores
a assumir esta postura em seus espaços educativos. Que sejamos motivação para quem
já se sente chamado a construir um novo mundo através da educação. Se você é esta
pessoa, bem-vindo, bem-vinda... se achegue e vamos trilhar juntos este caminho. Não
é fácil, mas é possível!
Por fim, compartilhe este livro com mais pessoas, para que elas possam ter
contato com as experiências pedagógicas que compõe este livro. Vamos dialogar atra-
vés das cartas pedagógicas, dos relatos de experiências e dos artigos que seguem nas
próximas páginas. Vamos fazer nosso país um país educativo, crítico e criativo.
Boa leitura a todos e todas!
Um grande abraço e força na luta!
Ivanio Dickmann
Organizador
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PARTE I
CARTAS PEDAGÓGICAS
CARTA I
Primavera de 2018.
Escrevo essa carta enquanto, da janela de minha sala, visualizo lindas árvores
com flores amarelas e ouço felizes pássaros cantando do alto delas sob o sol que ilu-
mina mais um dia, revelando a boniteza do fim da primavera. Esse cenário me inspira
a escrever essas singelas palavras e assim, humilde e respeitosamente me proponho a
redigir essa carta.
Gostaria, antes de mais nada de me apresentar, me chamo Bianca, tenho 29
anos, sou graduada em Enfermagem pela Universidade Comunitária da Região de
Chapecó Unochapecó. Possuo especialização em Saúde Coletiva com ênfase em Es-
tratégia Saúde da Família pela Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC,
mestrado em Ciências da Saúde pela Unochapecó. E atualmente, me encontro aven-
turando-me em uma nova utopia, estou em processo de doutoramento, também em
Ciências da Saúde pela mesma Universidade.
Me proponho com essa carta contar um pouco de minha trajetória, do meu
encontro com sua teoria, suas obras, sua história de vida e revelar como sua teoria tem
me influenciado. Além disso, falar sobre as escolhas que tenho feito como forma de
resistência, influenciada por seus pensamentos e como tenho de forma humilde e au-
daciosa, do ponto de vista de tudo que seu legado representa, buscado reinventar seus
propósitos.
Desde a infância nutro a vontade de ser professora, contrariando a vontade
de minha mãe. Venho de uma família materna que possui a docência em suas raízes.
Isso, sempre alimentou uma grande admiração em mim pela profissão e a vontade de
segui-la. Durante o ensino médio, precisei fazer uma das principais escolhas que uma
adolescente aos dezesseis anos precisa fazer: a profissão. Dentre muitas conversas com
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a família decidi que faria enfermagem. Escolhi a enfermagem por ser uma profissão,
assim como a docência, que exige dedicação, cuidado, diálogo, possibilidade da pro-
ximidade com as pessoas e de alguma forma contribuir de forma positiva e transfor-
madora.
Em 2011, iniciei minha atuação como enfermeira em uma Secretaria Muni-
cipal de Saúde. Atuei durante três anos em uma equipe da Estratégia Saúde da Família,
em um município de pequeno porte no oeste catarinense, momento enriquecedor e
que também contribuiu para minha formação profissional.
No ano de 2014, iniciei o mestrado, sendo que a temática de minha pesquisa
de dissertação foi: Formação profissional em saúde. Lembra de minha vontade de ser
professora? Então, foi por meio do mestrado que pensei ser possível realizar meu an-
tigo sonho profissional. Nesse período fui apresentada por minhas orientadoras às
suas obras com a proposta de utilização como referencial teórico da dissertação do
mestrado. Inicialmente, confesso, que o olhar para sua teoria foi um olhar ingênuo,
mas aos poucos fui desenvolvendo criticidade, possibilitada pelo próprio processo de
apropriação de suas teorias e conceitos. Iniciava então um mergulho por um universo
desconhecido da educação. Isso, muitas vezes, provocou-me desconforto, afinal, a in-
terdisciplinaridade, que nesse caso consistiu em fazer o diálogo entre saúde e educa-
ção, por diversas vezes me desassossegou.
Querido mestre Paulo Freire preciso dizer ainda que mal sabia eu, mas quem
lê suas obras, não permanece mais como antes, a transformação é inegável. Sua pre-
sença em minha vida mudou sentidos, alterou significados, alimentou sonhos e uto-
pias. Preciso ressaltar que essas palavras, não possuem somente um sentido poético,
mas são criadoras de uma postura crítica e de sentimento de transformação social.
Assim, seus ensinamentos têm sido incorporados como prática de vida cotidiana.
Para muitos, pode soar estranho uma enfermeira que estuda Paulo Freire,
mas ao compreender a capacidade do alcance e o teor de suas obras, fica claro que seu
pensamento pode, assim como é, ser disseminado, utilizado, apropriado e incorpo-
rado por diversas áreas do conhecimento. Devo confessar, que na área da saúde, tra-
dicionalmente marcada pelo positivismo, uma enfermeira que estuda Paulo Freire,
não raras as vezes, causa estranhamento. Nesse sentido seus pensamentos ganham
ainda mais relevância, pois, acima de tudo auxiliam no processo de humanização
dessa profissão que tem como premissa o cuidado humano. E sobre o cuidado hu-
mano, caro mestre, tens muito o que nos ensinar.
Conceitos como educação libertadora, conscientização, práxis, sujeito, diá-
logo, problematização e educação permanente dão base e sustentação para a formação
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flexão, percebo que aí está a real intencionalidade de não o querer nas escolas brasi-
leiras pelas identidades reacionárias: manter o satus quo Assim, assistimos uma as-
censão do neoliberalismo e o mais preocupante é a atitude ingênua da população bra-
sileira frente a esse cenário, me entrego a confessar então, esse como meu maior medo.
Todas essas questões se colocam como contexto para a realização de minha
tese de doutoramento em que me proponho aprofundar e mergulhar ainda mais em
suas obras, nesse momento de minha trajetória acadêmica e de vida. Mobilizada em
imergir ainda mais em sua teoria, me propus a estudar sobre as raízes epistemológicas,
buscando em que fontes o senhor mergulhou para se inspirar. Nesse sentido, iniciei
os estudos por Hegel, Marx, Husserl, dentre outros autores. Esse mergulho epistemo-
lógico ampliou minha visão de mundo e me fez compreender e me instrumentalizar
para fazermos resistência à essa onda reacionária e neoconservadora.
A partir de todas essas denúncias, querido Paulo Freire, o que me proponho
durante o processo de doutoramento é fazer o anúncio, nisso consiste meu sonho.
Buscar a partir de sua obra, elementos teóricos que deem suporte para a formação de
novos profissionais de saúde que compreendam que para além de aprender, anato-
mia, fisiologia, patologia, farmacologia, é necessário compreender o contexto político,
econômico, cultural e social que estão intrinsecamente emaranhados e formam essa
teia em que a saúde é um dos fios de seda tecidos.
É desse contexto que me posiciono para pensar em minha tese, acreditando
que não existe neutralidade na ação pedagógica de qualquer professor, nem do pro-
fessor da área da saúde e a partir disso é necessário compreender a que projeto socie-
tário esses professores que formam os futuros profissionais da saúde estão auxiliando
a construir.
Nesse sentido sua obra traz contribuições essenciais para a formação dos fu-
turos profissionais da saúde ao possibilitar a transformação da realidade. Para isso é
necessário que os professores e futuros profissionais compreendam a realidade como
ponto de partida. Entendam as relações entre opressor e oprimido, resultantes das es-
truturas e do modo de organização social que desumanizam, que provocam desigual-
dade social a partir da conscientização. Que a saúde e a doença estão diretamente re-
lacionadas a isso e que a mobilização pela consolidação do Sistema Único de Saúde
perpassa por compreender a sociedade dessa forma.
Assim, me coloco em busca do inédito-viável, assumindo o compromisso de
humildemente, transformar seus pensamentos em práxis, acreditando que é possível
fazermos, sermos e vivermos de forma diferente, a partir da educação transformadora,
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Amorosamente,
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Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação
Universidade Comunitária da Região de Chapecó Unochapecó.
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CARTA II
PENSANDO A PRÁTICA:
PARA TRANSFORMAR O MUNDO
14 de dezembro de 2018.
Caro Paulo,
Tomo a liberdade de lhe escrever esta carta. Como você jamais ouvir falar
sobre mim, é importante que eu comece por me apresentar. Tomando de empréstimo
as palavras de Belchior, aviso que eu sou apenas uma professora latino-americana,
sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vinda do interior. Mas trago im-
pressa em mim uma ideia, uma vontade de estar no mundo em um aprender sem fim,
tentando colocar em relevo o que aprendo em cada situação da vida. Mais do que isso,
buscando contagiar outros com o prazer de (vir a) saber, buscando participar dos pro-
cessos de aprender alheios, tornando-os não mais alheios, mas
É desse lugar, repito, que tomo a liberdade de escrever. Escrever para regis-
trar, para dar materialidade à reflexão sobre a docência que habita em mim, e sobre
como o encontro com você mesmo que assíncrono marca, movimenta e alimenta
essa reflexão, produzindo mudanças no meu e no meu
Na tentativa de atribuir uma certa temporalidade à docência que afirmo ha-
bitar em mim, articulando passado e presente, percebo que desde muito cedo já havia
uma vontade de estar em meio a processos de ensinar e aprender. Minha lembrança
mais remota, tanto quanto posso chegar em uma mirada retrospectiva sobre minha
história, remonta à época de meu ingresso no primeiro ano do ensino fundamental,
quando (com sete anos de idade) me acometeu imensa tristeza no período de férias
escolares de inverno. Tanto que, ao final do ano, ao chegar o período de férias de verão
que seria mais longo e, portanto, mais penoso , fiquei ainda na escola por mais dez
dias, auxiliando meus colegas com exercícios de leitura oral durante as aulas daquilo
que, naquele tempo, chamava-se antes dos exames finais.
Ao cabo, hoje, de cinco décadas de percurso, me surge, arrebatadora, a com-
preensão de que a relação com ensinar e aprender permeia toda a minha trajetória,
pessoal e profissional, a despeito de minha formação inicial não ter sido na área da
DIÁLOGO FREIRIANO
educação. Ou seja, trilhei caminhos outros, mas tive sempre a educação como fio con-
dutor desses caminhos, em que venho tecendo diferentes modos e possibilidades de
ser educadora, a cada tempo e momento, conforme escrevo e reescrevo minha histó-
ria.
De formação na área da saúde, me aconteceu, em certo ponto do caminho,
nutricionista e amanhecer Sem nenhuma (ou muito pouca)
preparação, mas com um desejo intenso (lhe asseguro), tornei-me docente. Nessa
condição, reproduzi, certamente, muito daquilo que vivi como estudante. É possível
que, ainda hoje, o faça com alguma frequência provavelmente, bem maior do que
eu mesma gostaria.
A partir daí, ao longo de duas décadas, fui fazendo-me docente na e para a
área da saúde. Incursões pelas humanidades fizeram e ainda fazem parte desse itine-
rário, no curso do qual, acredito e espero, esteja me fazendo uma educadora melhor.
Nesse sentido, o encontro com você, Paulo, representa um dos mais felizes e encanta-
dores momentos de minha viagem na docência e na vida. Um divisor de águas, por
assim dizer, a partir do qual meu ser educadora enredou-se mais com meu ser mais
gente. Meio confuso? Na verdade, o que quero dizer é que, a partir de você, Paulo, me
reconheço um ser humano melhor, empenhado em se fazer, dia a dia, uma educadora
melhor.
Se eu precisasse escolher, amigo posso chamá-lo assim? É como eu me
sinto em relação a você , eu diria que boniteza desse nosso encontro foi (e é) pro-
duzir, em mim, uma capacidade de pensar minha prática. De refletir. Todo o resto do
que tenho aprendido, contigo e de ti, vem daí. Nesse refletir, que amadurece e se avo-
luma, foi brotando uma tolerância, principalmente (mas não só) comigo mesma. E,
dessa tolerância, uma possibilidade de aceitar que tenho medos. Muitos medos. Ao
mesmo tempo, Paulo, também foi surgindo uma convicção de que esses medos po-
dem me mover para um outro melhor. E de que, no movimento de estar
sendo-indo em direção desse melhor, eu não esteja sozinha.
De todos os medos que tenho e já tive, preciso confessar a você que um é
maior do que os outros. É o medo de ter estado nesse mundo em inércia, sem ter apro-
veitado a oportunidade para fazê-lo um pouco, um pouquinho melhor para os muitos
outros que estão aí e para os que ainda virão. Só um pouquinho que seja.
Nosso mundo anda tão desafiador, Paulo... Como educadores, nos chegam
estudantes cada vez mais jovens, com uma leitura de mundo muito própria, situada
historicamente, sínteses de uma sociedade tendendo francamente ao imediatismo,
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pouco de cada vez, pensando nossas práticas, refletindo sobre elas, reinventando-as,
transformando-as e, por meio delas, transformando o mundo. Sei que esse exercício
é, às vezes, doloroso, mas também sei que é o caminho possível em direção do sonho
que coloco no horizonte. E quanto mais caminho, movida pelas utopias que vou vis-
lumbrando, vou também me impregnando da vontade de seguir buscando...
E sigo aprendendo, aprendente que vou sendo, menos certa de minhas cer-
tezas, como você me ensinou. Aprendendo que é preciso estar verdadeiramente aberta
e disponível para o diálogo. Aprendendo que diálogo é coisa que nada tem a ver com
o outro mas que envolve uma escuta atenta e ativa, uma escuta que se
aprende escutando, que implica uma desburocratização da mente, que se revela como
relação entre falar e escutar como direito, respeito e ética. Aprendendo que a curiosi-
dade é uma virtude geradora do processo reflexivo e que, em sendo criticamente cu-
riosa, preciso me perguntar incansavelmente sobre meu fazer docente. Aprendendo
que não existem respostas prontas que possam encurtar caminhos. E que, assim como
não basta a docência, tampouco pensar sobre esse fazer pode ser suficiente: é
preciso pensar a prática para produzir mudança. Sim! Mudança! Também vou apren-
dendo que mudar é preciso, é possível e que a mudança começa em mim (e em cada
um), que o novo pode ser bem simples e não, necessariamente, algo espetacular.
Aprendendo que, ser inacabado e condicionado que sou, posso enfrentar meus medos
e dar alguma materialidade a meus sonhos. Enfim, Paulo, muito venho aprendendo
contigo, pela tua palavra de denúncia e de anúncio do mundo um mundo melhor.
No curso dessas reflexões, iluminadas pelo nosso encontro, vou tornando-
me, gradativamente, mais convicta de que um mundo melhor é possível, porque pos-
sível é a mudança. Não nego os desafios nem ignoro as (minhas, nossas) limitações,
mas, contigo, acredito muito mais nas possibilidades de uma educação transforma-
dora para um mundo melhor, sempre melhor, no horizonte. Para isso, como você tão
persistentemente nos ensina, é preciso esperançar e as luvas das as-
sumindo riscos, ultrapassando as atitudes de inércia e as visões fatalistas que nos ne-
gam o sonho e a esperança. É preciso coragem para começar e continuar caminhando,
buscando uma docência emancipatória, acreditando na potência de nossa prática do-
cente para a formação de sujeitos comprometidos com a transformação do mundo.
Caro amigo, se acreditamos nessa prática docente e se nos acreditamos ca-
pazes dela, então também acreditamos e nos acreditamos disponíveis e capazes de
mudança. Uma mudança que não pode ser idealizada como algo totalizante e repen-
tino, mas como coisa que fazemos juntos (educadores e educandos), gradualmente,
pelo enfrentamento das situações-limite que nos afetam por meio da construção de
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DIÁLOGO FREIRIANO
uma sucessão de inéditos viáveis. Uma mudança que se traduza na formação de sujei-
tos críticos, autônomos, éticos, conscientes, dispostos e preparados para intervirem
no mundo, comprometidos e conectados com as realidades vividas, agentes de trans-
formação.
Revela-se, aí, Paulo, ao meu ver, o objetivo maior dos processos educativos
em que nos embrenhamos com tanto afinco: transformar o mundo para melhor. E
essa missão transformadora só pode se fazer realidade se começar por cada um, em
busca de ser mais. Afinal, assim, estaremos todos, juntos, constantemente nos tor-
nando outros, transformando o (nosso) mundo e nos transformando com o mundo
e com os outros de nós.
E esse caminhar, de reflexão sobre a prática, vai nos abastecendo de clareza
sobre nosso fazer docente, sobre nosso estar no mundo. Esses muitos e fa-
em permanente renovação, são a práxis, que não acontece ou se dá pronta, mas
passa pela nossa formação, não só como educadores e educadoras, mas, fundamen-
talmente, como gente, gente que aprende e ensina, em processo, programados que
somos para aprender, como você nos ensina. Quanta sabedoria compartilhada, Paulo!
Com que propriedade você me ajudou a compreender que é também nesse percurso
reflexivo que vamos nos docentes especialmente aqueles de nós que
qualquer outra coisa e professores.
Querido amigo, é importante que te diga, ainda, que é na firme intenciona-
lidade de avançar na direção de um pensar e fazer docente certos que me coloco a
caminhar. Assumo, neste percurso, que só a reflexão sobre a ação pode nos conduzir
desde a identificação e superação dos desafios dados pelas situações-limite que se nos
apresentam até a realização de nossas possibilidades, ao vislumbrar e construir inédi-
tos-viáveis que nos coloquem em um estado melhor. Assim, sigo refletindo. Refle-
tindo para reinventar a prática, superando desafios e realizando possibilidades. Possi-
bilidades transformadoras.
Para finalizar, Paulo, quero te dizer que essa carta é um pouco desabafo, um
pouco saudade, um pouco gratidão... Gratidão por essa pessoa que, tendo te encon-
trado, e sendo ainda eu, já é uma outra. Uma outra pessoa hoje e, certamente, uma
nova outra, amanhã. Uma pessoa que, agora, já pode pegar seus medos nas mãos e
transformá-los em sonhos. Sonhos de mudança. E em compreensão. Compreensão
de que uma educação emancipadora é o que nos pode levar a fazer nossa experiência
humana ser transformadora do mundo, pela promoção do ser mais das futuras gera-
ções.
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Com amorosidade,
Carla Rosane Paz Arruda Teo 1
1
Nutricionista, Doutora em Ciências de Alimentos com pós-doutorado em Nutrição em Saúde Pública.
Atua como docente dos cursos de graduação em Nutrição e em Medicina, e dos cursos de mestrado e
doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Comunitária da
Região de Chapecó (Unochapecó).
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CARTA III
DOCÊNCIA E COMPETÊNCIA:
REFLEXÕES FREIRIANAS SOBRE A UTILIZAÇÃO
LIBERTADORA DE TDIC NA ESCOLA
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questionados e discutidos. Arquivos de áudio, vídeo e/ou texto escrito, por exemplo,
podem ocultar uma ideologia opressora, que dificulta a autopercepção de cada pessoa
como agente transformador da realidade pessoal e da sociedade.
A utilização libertadora de TDIC na escola envolve muito mais que apenas
receber conteúdo produzido por outras pessoas, em outros contextos e com outros
valores morais. A liberdade a que me refiro envolve principalmente criar conteúdo
em formato de áudio, vídeo e/ou texto escrito em blogs, redes sociais, fóruns, plata-
formas de Educação a Distância e tantos outros espaços da Internet. Esse é um pro-
cesso que, se exercido de forma consciente, revela o desenvolvimento da autonomia
humana em tempos de cibercultura.
A criação de conteúdo digital, obviamente, deve valorizar a realidade local
para nela intervir: os costumes de pessoas que vivem em uma rua, um bairro ou em
uma cidade; problemas ambientais cotidianamente vivenciados e justamente por isso
muitas vezes naturalizados, carecendo de contestação; ausência ou precariedade de
serviços públicos e diversos outros temas. Afirmo, ainda, que é necessário prezar pelo
respeito mútuo e pela ética ao abordar esses temas. Creio que o uso de Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação deva contribuir, assim, para mudanças na re-
alidade local e regional, respeitando a(s) cultura(s) que aí se encontra(m). Importar
ideias e formas de ser/agir típicas de outras culturas, sem considerar o contexto em
que hoje nos encontramos, seria contribuir para a opressão do local e do regional.
Paulo Freire destacou a dimensão político-pedagógica da ação educativa e,
neste sentido, destaco também que nenhuma forma de utilização de TDIC é neutra,
ainda mais ocorrendo este uso na sala de aula. Muitas tecnologias hoje popularmente
conhecidas não surgiram com finalidades educacionais, mas militares e econômicas.
A mera inserção desses recursos em classes escolares pode transmitir ideologias que
oprimem quando não assumimos um posicionamento crítico em relação ao potencial
das TDIC. Afirmo, neste sentido, que a intencionalidade desse uso pode convergir
para o apassivamento ou a libertação do estudante e do próprio professor.
Temos os deveres político-pedagógicos de identificar a natureza dos conte-
údos que ministramos nas escolas, conhecê-los com profundidade teórica e abordá-
los com domínio metodológico que nos permita criar condições de aprendizagem que
sejam significativas para os estudantes. Se optarmos pela utilização de TDIC como
recurso didático-pedagógico, o que recomendo em função do perfil de estudantes que
temos recebido nas escolas, aconselho que o uso dessas tecnologias não ocorra com
um fim em si mesmo. Elas são meios para favorecer o ensino e a aprendizagem pela
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DIÁLOGO FREIRIANO
porta do diálogo freiriano, ou seja, pela interação entre pessoas dotadas de conheci-
mento, autonomia e liberdade. Nós e nossos alunos somos essas pessoas.
Desenvolver-se enquanto Professor na era das TDIC e da cibercultura não é
o mesmo que há três décadas atrás. A velocidade das mudanças tecnológicas afeta e
pode até mesmo criar novas formas de comunicação, comércio e educação, por exem-
plo. Acompanhar essas transformações é um desafio para uma população que muitas
vezes não tem acesso a recursos básicos para sobreviver. Estamos presenciando tudo
isso como expectadores ou como agentes? Sabemos aonde queremos chegar quando
utilizamos TDIC? Conhecemos o suficiente para implementar metodologias críticas
e libertadores de uso desses recursos?
O potencial das tecnologias digitais pode ser explorado por nós. É isso
mesmo. Não podemos aceitar a inserção das TDIC como um elemento intruso em
escolas e salas de aula nas quais atuamos. Além de conhecer o potencial de cada re-
curso tecnológico, necessitamos identificar em que momento cada um pode contri-
buir positivamente para o ensino e a aprendizagem significativa. Necessitamos saber,
inclusive, se uma TDIC seria prejudicial dado o contexto em que nos encontramos.
O desenvolvimento de competências digitais pode favorecer a exploração do
potencial de TDIC em escolas de Educação Básica. Creio nisso porque o desenvolvi-
mento profissional na perspectiva das competências favorece a autonomia docente na
medida em que o professor poderia desenvolver uma noção crítica do uso de tecno-
logias digitais como recurso didático-pedagógico. Assim, seria possível desenvolver
formas de utilização de TDIC que correspondam às demandas do contexto escolar.
Em caso contrário, a utilização de tecnologias digitais correria o risco de se traduzir
em modismo ou imposição, ambos opressores tais como afirmei anteriormente.
Não nascemos sabendo utilizar TDIC de forma crítica, segura, ética e liber-
tadora. Aprendemos ou não a fazer esse uso, cuja ideia resume minha concepção de
competência digital. E aqui aponto outra preocupação minha: Todos nós temos a
oportunidade de refletir sobre a utilização libertadora de TDIC em sala de aula? Creio
que não. Eu mesmo me iniciei neste processo há menos de dois anos e já encontrei
resistência interna e externa. Interna e externa, eu repito, porque tanto o desejo de
desenvolver a autonomia quanto a luta contra a opressão devem ocorrer cotidiana-
mente em uma sociedade que veladamente oprime.
Identificar os contextos em que estão inseridos os estudantes, compreender
as demandas do entorno da escola, identificar diferentes perfis de aprendizagem, co-
nhecer os interesses dos estudantes e analisar possibilidades de uso do conhecimento
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DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
Sigamos!
Um abraço freiriano.
Artur Pires de Camargos Júnior1
1
Mestrando em Educação (UDE, Uruguay). Graduado em Pedagogia e Normal Superior. Especialista em
Psicopedagogia Clínica/Institucional, Tecnologias em EaD, Supervisão/Orientação/Inspeção Escolar,
Educação Inclusiva, Biblioteconomia e em Pedagogia Digital/Inovações Tecnológicas.
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CARTA IV
Primavera de 2019,
Com a intimidade que é possível entre nós mediante as tantas leituras feitas
de ti e melhor ainda, como conterrâneos nordestinos, me permitirei lhe tratar usando
o pronome você. Lembrando do que está escrito por ti quando se descreve:
jovem, apesar da aparência, apesar da escassez dos cabelos e da barba
(FREIRE, 2012, p. 90). Assim, a sua jovem alma me contagia indubitavelmente, há
mais de 10 anos, quando iniciei minha caminhada acadêmica, e conheci você, pela sua
escrita numa aula de didática, no curso de Pedagogia.
Mas antes de continuar com estas linhas traçadas com muito amor deixa eu
me apresentar a ti, para isto vou parafraseá-lo conforme você escreveu em seu livro1
sombra desta Sou primeiro hidrolandense, baiana, nordestina. De-
pois brasileira, latino-americana, gente do mundo.
Como gente deste mundo, por vezes só e não solitária, digo que os teus livros
têm sido meus companheiros por tantos e tantos momentos, consolando-me e incen-
tivando-me a prosseguir como pessoa e profissional neste mundo cada vez mais caó-
tico.
As primeiras leituras das suas palavras me encantaram tanto que quando re-
leio: brasileiro, sem arrogância, mas pleno de confiança, de identidade, de espe-
rança em que, na luta, nos refaremos, tornando-nos uma sociedade menos
(FREIRE, 2012, p. 42), volto ao tempo e revejo a minha trajetória com emoção lem-
brando todas as incontáveis vezes que teus escritos me encorajaram a prosseguir, ape-
sar das grandes dificuldades financeiras e emocionais que enfrentei. Até nos momen-
tos que fiquei num leito de hospital você foi inspiração e/ou motivação, como também
1
Paulo Freire -
DIÁLOGO FREIRIANO
nos momentos de saúde frágil eu recorri aos escritos seus para nunca perder a espe-
rança de continuar os estudos, em prol de uma formação docente cada vez mais vol-
tada para a prática humana.
Como disse o primeiro contato com sua obra foi na aula de didática com
uma professora maravilhosamente, freiriana. Dali sair encantada, cheia de sonhos, ca-
minhando pela rua para pegar o ônibus de volta para casa, após um dia inteiro de
trabalho como estagiária em uma creche, e depois de enfrentar a aula presencial da
faculdade. Pois bem, ali estava eu sozinha repetindo a frase: há educação sem
e foi assim, que por muitas e muitas noites segui o meu trajeto dentro da-
quele ônibus lotado, em pé, lendo e relendo trechos de livros teus, os quais emprestava
na biblioteca da faculdade. Quantas vezes sonhava acordada com o dia que iria utilizar
trechos de livros seus em minhas aulas...
Quanto mais lia Pedagogia da Autonomia; Pedagogia da Esperança; Peda-
gogia do Oprimido; entre outros, mas me conscientizava que tinha encontrado o meu
caminho profissional, pois por motivos afins tinha ficado sem estudar há sete anos, e
voltar para o sonho do estudo, entrando numa faculdade, encontrando estes escritos
de um nordestino lutador, que acredita e acreditou no Brasil, me encantou. E, mara-
vilhosamente, fui me apaixonando pela educação como ferramenta para transforma-
ção, ou seja, acreditei esperançosamente, que a educação seria o instrumento que mu-
daria minha vida, e por meio deste instrumento eu poderia ser mediadora de mudan-
ças na vida de muitas pessoas também.
Assim prossegui os dias de faculdade com intensas lutas, sobretudo, a sua
inspiração me levava a prosseguir em muitos e muitos momentos, quando a esperança
ficava ofuscada pelas dificuldades financeiras, físicas, emocionais, etc, as leituras de
suas obras fazia com que o som de sua voz ecoasse em meu coração: esperança na
libertação não significa já a libertação. É preciso lutar por ela, dentro de condições
historicamente favoráveis. Se estas não existem, temos de pelejar esperançadamente
para criá-las, viabilizando, assim, a libertação. A libertação é possibilidade; não sina,
nem destino, nem (FREIRE, 2012, p. 50). Assim, o sonho da libertação foi inun-
dando o meu ser, e pude ir disseminando os conhecimentos esperançosos freirianos
durante as minhas práticas educativas. Utilizando sempre a esperança contida em
seus escritos para serem combustíveis em minha caminhada neste sul do país. E este
sonho de libertar-me tomou conta de todas as áreas da minha vida, fui retomando a
minha identidade outrora roubada por situações desprezíveis e construindo e recons-
truindo a minha história com maestria. Aqui estou!
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DIÁLOGO FREIRIANO
novas estratégias diante dos educandos com dificuldade numa sala de trinta crianças,
as quais estão na fase de alfabetização, e assim, as demandas da escola são absurda-
mente, imensuráveis e poder refletir sob à luz da sua teoria mediante os obstáculos da
convivência escolar é um bálsamo para a alma.
Paulo Freire, você está presente em todas as adversidades encontradas em
minha caminhada, de forma que me encoraja a olhar nos olhos das pessoas, a exercer
a postura de ouvir as singularidades das gentes que preenchem os espaços escolares, a
tentar encontrar novas estratégias que estimulem as pessoas a continuarem suas ca-
minhadas apesar dos desmantelos sociais, políticos que destroem a esperança da nossa
gente em nosso país.
Assim, os teus escritos encorajam esta pedagoga e professora na vigente luta,
onde temos tentado resistir hasteando a bandeira do respeito mútuo, das diversidades,
das culturas, das personalidades multicores, enfim, contigo temos tentado prosseguir
mediante tantas atrocidades às circunstâncias que possibilitam à aquisição de uma
educação com maior qualidade para todas as gentes desta sociedade.
Tenho que lhe contar agora a maior alegria desta minha caminhada profis-
sional que está sendo utilizar as minhas aprendizagens da educação libertadora com
o público da EJA, tem sido espetacular! Há três anos eu falo de você para os meus
educandos, gentes de várias idades, com conhecimentos de vida tão distintos dos
meus, com tantas necessidades de serem ouvidos, etc. Assim, tenho podido falar de ti
para estas pessoas tão sublimes em minhas noites de trabalho com a turma da EJA.
Falo para eles do ser humano tão inteligente que olhou profundamente para os des-
validos do mundo, que escreveu lindamente sobre novas formas de educar, pensando
na educação como uma ferramenta para a transformação de vidas, sobre um homem
corajoso que levou a Educação de Jovens e Adultos para os palcos de discussões das
Academias. A você a nossa intensa gratidão!!!
Recentemente, fizemos uma sequência didática sobre sua forma de alfabeti-
zar, destaquei alguns dos seus escritos, principalmente àqueles que enaltecem a boni-
teza em ser gente neste mundo, como por exemplo: gosto de ser gente precisa-
mente por causa de minha responsabilidade ética e política em face do mundo e dos
outros. Não posso ser se os outros não são, sobretudo não posso ser se proíbo que os
outros sejam. Sou ser (FREIRE, 2012, p. 71).
Foi e é uma experiência majestosa dar voz e vez a estes sujeitos no interim de
nossas aulas, e ter você em nosso palco de discussão é um sonho, tenho vivenciado
pessoas simples (de condições financeiras) melhorarem seus vocabulários, falarem
abertamente que agora conseguem conversar com os médicos que lhes atendem no
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DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
Gostaria de finalizar com estas palavras suas: espera em que quem es-
pera jamais se acomoda no ato de esperar, quem espera se move, na verdade, pacien-
temente impaciente no processo da realização do sonho ou do (FREIRE,
2012, p. 104). E te dizer que estou tentando me mover sempre em favor dos sonhos
que me são caros, alimentando o amor pelas pessoas, pelo mundo que é tão lindo, por
esta nossa vida que é única e preciosa. Aprendendo a dizer não para a acomodação
todos os dias, e incentivando os meus semelhantes que comigo compartilham mo-
mentos a seguirem os seus caminhos com integridade e perseverança, afinal o conhe-
cimento nos leva além, podemos enxergar um mundo mais brilhante e repleto de pos-
sibilidades sob a ótica do conhecimento libertador.
Gratidão por todo o seu extraordinário legado!!!
Gratidão pelos inúmeros momentos que esteve sozinho, abdicando do seu
tempo em estar com os seus semelhantes para deixar os seus escritos a todos nós, os
seus discípulos freirianos.
Carinhosamente e amorosamente um dessa minúscula freiriana in-
serida neste imenso mundo, que lhe ama um bocado!!
2
Eliana Nunes Maciel Bastos. Pedagoga e Professora. Mestranda no Instituto Federal do Paraná. e-mail:
elianamaciel1982@gmail.com
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DIÁLOGO FREIRIANO
Referências
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 27ª ed. Rio de Janeiro: Edi-
tora Paz e Terra, 2003.
___________, Paulo. Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha prá-
xis. Direção, organização e notas Ana Maria Araújo Freire. 2ª ed. São Paulo: Editora
UNESP, 2003.
___________, Paulo. O caminho se faz caminhando/conversas sobre educação e
mudança social com Myles Horton e Paulo Freira. Organizado por Brenda Bell,
John Gaventa e John Pters. Tradução de Vera Lúcia Mello Joceline. Notas de Ana
Maria Araújo Freire. Petrópolis / RJ: Editora Vozes, 2003.
____________, À sombra desta mangueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2012.
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CARTA V
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DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
Pedagogia do oprimido nas primeiras páginas por imaginar que seriam ideias idealistas
e repletas de um verbalismo revolucionário. O autor afirma que essas análises, porém,
vindas de diferentes perspectivas teóricas, formaram um esforço coletivo e interdisci-
plinar para esclarecer as características e implicações das propostas de Freire.
No texto da conclusão de seu livro, Beisiegel contextualiza a chegada de
Freire para o exílio no Chile e comenta o cenário político da época. Explica também
que em 1965 foi publicada a primeira edição de Educação como prática da liberdade,
onde Freire apresenta seu método de alfabetização de adultos e inicia uma reflexão
sobre as experiências vividas no Brasil.
Francisco C. Weffort, no texto de apresentação do livro Educação como prá-
tica da liberdade, afirma que Freire não é apenas um espectador na história do povo,
já que sua teoria educacional recebe a influência de suas experiências. Freire reconhe-
ceu as prioridades a serem colocadas em prática em um contexto de emergência polí-
tica das classes populares e de crise das elites dominantes.
No mesmo texto, Weffort explica a urgência da alfabetização e da conscien-
tização das massas no Brasil, onde a desigualdade e a opressão marcam o sistema so-
cial. Sobre o livro, afirma que é uma reflexão sobre a experiência de Freire e do povo
brasileiro. A obra Educação como prática de liberdade foi caracterizada por Weffort
como uma importante oportunidade para pensar o movimento popular brasileiro. As
ideias de Freire expressam a emergência política das classes populares e conduzem a
uma reflexão sobre o movimento popular em suas dimensões sociais e políticas.
Na introdução do livro Pedagogia do oprimido, Freire afirma que a consci-
entização, por si só, não é responsável pela adesão do povo, apenas o orienta na busca
de sua afirmação. Beisiegel comenta que esta ideia está de acordo com a apresentação
escrita por Francisco Weffort para o livro Educação como prática da liberdade, onde
está dito que a tomada de consciência não conduz diretamente à expressão das insa-
tisfações sociais, porém possibilita que isso ocorra já que efetivamente há uma situa-
ção de opressão.
Freire passou a aceitar ser caracterizado como revolucionário a partir da Pe-
dagogia do oprimido. As implicações revolucionárias da sua pedagogia da libertação
ocorrem em função da resistência às estruturas de opressão. Segundo Beisiegel, Freire
escreveu o livro em uma fase de inquietações intelectuais e muito estudo, buscando
explicações para os desafios encontrados em sua prática educativa.
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DIÁLOGO FREIRIANO
Um abraço fraterno,
Débora Peruchin1
1
Sobre a autora: Doutoranda em Educação (UCS), Bolsista BPG-UCS, Mestre em Educação (UCS, 2017)
e graduada em Licenciatura em Matemática (UCS, 2014). Professora de Matemática e Ciências na rede
municipal de educação de Caxias do Sul.
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DIÁLOGO FREIRIANO
Referências
BEISIEGEL, Celso de Rui. A do educador. In: BEISIEGEL, Celso de
Rui. Política e educação popular: a teoria e a prática de Paulo Freire no Brasil. São
Paulo: Ática, 1982. p. 262-280.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do opri-
mido. 7 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São
Paulo: Paz e Terra, 2014.
WEFFORT, Francisco C. Educação e política: reflexões sociológicas sobre uma peda-
gogia da liberdade. In: FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 24 ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. p. 9-34.
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CARTA VI
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DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
analfabetismo, dizem que sou exagerada. Até pode ser, mas sabemos que rotulamos,
consciente ou inconscientemente, os não aprendentes de forma patológica. E quase
sempre lhes atribuímos culpa. Mesmo nos documentos, onde a assinatura é obrigató-
ria, juntamente com a digital, como o passaporte necessário para a viagem ao Brasil,
está lá registrado: não sabe escrever . Não, de fato não sabia. Mas sabia ler o mundo
no qual vivia, assim como sabia de cor e salteado tudo aquilo que aprendera de ou-
vir , de ver e de fazer . Desde os complicados pontos de tricô e crochê, que fazia
sem gráficos nem receitas, apenas recorrendo à memória, até as infinitas orações e
canções e cantigas típicas. Como posso dizer que minha mãe era analfabeta?
Enquanto éramos crianças, e minha mãe criou quatro filhos, trabalhou para
ajudar meu pai nas despesas e sempre se orgulhou de ter proporcionado os estudos e
formado duas filhas na faculdade. Não teve tempo para estudar. Mas depois, quando
sentiu que podia, foi fazer aquilo que nos tinha proporcionado e que lhe havia sido
negado quando criança: foi para a escola. A oportunidade surgiu numa sala de uma
dessas associações de bairro, num curso do MOBRAL. Veja, ela tinha um conheci-
mento de mundo e uma memória invejáveis. Quando aprendeu a leitura queria co-
locar esse conhecimento no papel. Escrever as rezas, principalmente. Era isso que fazia
sentido para ela. E não é essa a lição que Freire nos deixou? A leitura do mundo precede
a leitura da palavra.
Pois é assim que eu penso o trabalho com nossas crianças. Precisamos en-
tender o mundo deles, mas para isso precisamos estabelecer uma relação de confiança.
Conhecer o mundo que existe dentro da escola, para fora das paredes das salas de
aula e dos imensos corredores pode ser um caminho, literalmente. Reconhecer os es-
paços internos pode ser o começo da conversa para conhecer os externos, aqueles que
saem pelos portões trancados da escola e os levam para a casa onde vivem. Conhecer
essa realidade nos possibilita reconhecer o aprendizado que já trazem. Esse é o co-
meço. Já pensou quantas palavras farão sentido para eles?
Cara colega ensinante, parece que os ventos sopraram a nosso favor. Vejo,
nesse encontro, as mãos do destino trabalhando para colocar, lado a lado, duas pes-
soas que se importam em conhecer, aprender, compartilhar experiências, sonhos, an-
seios e transformar aquilo que está para ser transformado, num momento em que
ambas estão disponíveis para que isso acontecesse. Não é assim que lhe parece? Entre
tantos lugares, foi a esse que o caminho me levou. Apesar dos muros, das grades, das
trancas e de tantas outras amarras, as portas se abriram e nós descobrimos que havia
muito a partilhar. A sua história de vida também é um exemplo de superação, de força,
de luta. Nada foi fácil para nós duas, e isso temos em comum.
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DIÁLOGO FREIRIANO
Mas não podemos esquecer que fora desses muros houve outra escuta. O que
poderia parecer loucura se transformou numa oportunidade única de compartilhar
a sua história e a sua vivência. O incentivo e o entusiasmo na parceria com a sua for-
madora só contribuíram para o sucesso desse encontro. Veja só como é importante
enxergar as possibilidades, acreditar! E a Susan tinha no olhar aquele brilho que iden-
tifica as pessoas apaixonadas pela educação e pelo ser humano.
Nesse momento, em que você está decifrando esse mundo novo que também
se abriu em seu trabalho, eu estava buscando um novo olhar, um novo aprendizado,
um novo significado para essa nova fase da minha vida. E a troca se deu. É isso que me
encanta na educação. Nós ainda temos muito que trocar. Agradeço pela generosidade,
pela escuta, pela simplicidade, pela acolhida, pelo brilho no olhar, pelo encantamento.
Como diria Freire, o mundo não é, o mundo está sendo . E está sendo muito bom
partilhar esses momentos. Que possamos continuar trilhando esse caminho, plan-
tando árvores e flores e alimentando nossas crianças com o respeito que elas merecem.
E é claro, desviando dos espinhos que por ventura aparecerem à nossa frente.
Eliza Trapella1
P.S. Acho que Paulo Freire nasceu no começo da primavera com a missão de
fazer desabrochar as flores e as cores do mundo escondidas nas tardes bucólicas do
inverno.
1
Graduada em Jornalismo, Pedagogia e Letras. Iniciei minha carreira como Monitora do Mobral aos 18
anos, e atuei, entre outros, como Professora do Ensino Fundamental na PMSP até encerrar minha
carreira profissional. elizatrapella@gmail.com
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CARTA VII
Nem preciso perguntar como a senhora está, porque sei que está bem aí! E
nesse momento, deve estar ensinando os anjos com aquele largo sorriso no rosto e
aquela meiguice no olhar como sempre cultivará num canteiro especial e que tinha
como essencial para a sua pedagogia!
Eu?! Estou bem professora! Mas sinto muita saudade da senhora! Nunca
mais tivemos oportunidade de nos encontrarmos! Senti muita tristeza quando soube
que havias partido para a viagem eterna! Mas logo entendi, como naquele primeiro
dia de aula entendi as primeiras letrinhas que a senhora me ensinara, que essa viagem
faz parte dos planos de Deus para que possamos entender a sabedoria da vida eterna.
Essa sabedoria não se aprende na escola aqui da terra, mas somente aí no céu.
Professora, são tantas as lembranças que levo comigo da nossa escolinha.
Lembro-me como se fosse hoje, aquele meu primeiro dia aula! 1983! Eu tinha 9 anos.
Saímos de casa eu, meus três irmãos a Maninha, a Preta e o Dri, e minha bolsinha de
tergal azul marinho de que a mãe costurara com tanto carinho e dentro dela um ca-
derninho de capa xadrez na cor vermelha, um lápis preto e uma borracha e no coração
muita, mais muita vontade de aprender e uma esperança de que dias melhores viriam.
Sim porque aquele Brasil da época não estava fácil! Era uma época de transição, final
da Ditadura Militar. Mas o Brasil não vai bem até hoje professora, a senhora precisava
ver! Muita coisa falta para que a democracia seja efetivada. Vivemos num país que
ainda não valoriza a educação. Eu sinto muito! Meu sonho era ver outro país. Mas
infelizmente estamos longe disso. Voltando para o meu primeiro dia de aula. Foi na
casa da dona Maria que com quanta alegria ela nos recebeu! É impossível somar na
aritmética da vida aquela alegria toda! Uma senhora de mais de 60 anos sabia que as
paredes de sua casa poderiam servir de escola e muito mais que isso, de alicerce para
varias crianças que naquele momento da vida iniciavam uma caminhada de esperança
DIÁLOGO FREIRIANO
por um futuro. Ah!! Como ia esquecendo dela! Nesse primeiro dia de aula levei tam-
bém minha caixa de lápis de cores! Sim, ela fazia parte de meus sonhos, pois havia
dentro de mim uma imensa vontade de colorir o mundo! De transformá-lo em um
melhor lugar para todos.
E a casa da dona Maria foi nossa escola por mais ou menos uma semana até
que a nossa escolinha ficou pronta. Nossa escolinha, um barraquinho, coberto de lâ-
minas aonde as carteiras eram tocos de árvores com uma tábua para sentar e outra
para por o caderno e escrever. A escola foi feita num pedacinho de terra que seu Pedro,
generosamente doou e os pais construíram. Tudo isso era muito lindo! Mais lindo
ainda eram as paredes de floresta que protegiam nossos caminhos até chegarmos à
escola! Entre cantar de pássaros, saltos de cutias e outros animais, às vezes um medi-
nho da fera nos assombrava, mas nunca a vimos naquele caminho, sim professora,
estou falando dela, a terrível onça! Essa que em noites escuras assim dizia
meu pai, no quintal de nossa casa. Mal sabíamos nós que aquela imensa floresta por
onde passávamos todos os dias, era a mais importante floresta do mundo, a Amazô-
nica! A senhora professora nunca nos falou sobre ela, mas entendo, era proibido es-
tudar e proteger a Floresta naquela época em que a DITADURA era fresca ainda, e
que, a ordem era DEVASTAR a Amazônia! Mas tudo bem.
Naquela escola estudamos por 4 anos, três na companhia da senhora. Foi
uma época muito feliz da minha vida. Pode ter certeza, eu, meus irmãos, os filhos da
dona Tereza, da dona Otilia, da dona Maria, do seu Pedro fomos crianças abençoadas
por termos a conhecido e tido o privilégio de que fosse nossa professora. Se tivesse
hoje a oportunidade de escrever algo para marcar aquele lugar, aquela época, com
certeza, seria: estudou um grupo de crianças muito feliz, conduzido por uma
professora muito
Professora, os alicerces que a senhora construiu em minha vida, firmaram-
me em terras do conhecimento. A leitura da palavra me ajudou muito a ler
Sua pedagogia era a do carinho, afeto e amor. Essa pedagogia trago em mi-
nha bagagem de professora que sou. Seu sorriso é outra herança que carrego e pratico
em minha docência diária. Receber a crianças de modo bem feliz me faz feliz também.
Aqui não poderia deixar de lembrar o nosso querido e abençoado Paulo Freire. Esse
que nos trouxe a pedagogia do carinho! Do afeto! Da paciência! Da liberdade... Não
sei se a senhora pode estudar Paulo Freire, não sei se permitiram isso, mas a sua peda-
gogia era de puros reflexos Freirianos. Queria tanto poder dividir conhecimentos com
a senhora hoje! Contar tudo que já fiz neste mundo de professora, os prêmios que
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DIÁLOGO FREIRIANO
recebi, as conquistas e fracassos, tantos dias que já chorei... Mas tanto que também
sorri! Mas tudo bem, já disse que entendi sua viagem.
Hoje a vida de professora não é fácil, mas sei que cada momento difícil é
superado quando amamos aquilo que fazemos. Tenho plena consciência professora
do meu compromisso, enquanto educadora, com a melhoria da educação na minha
escola, cidade e país. Mas sei também da falta de compromisso de nossos governantes
que pouco investem na educação em todos os âmbitos do ensino, principalmente no
professor. O que vale a pena nessa vida de professor é o que recebemos de nossos alu-
nos. Professora interceda aí junto do Pai, nosso Criador, numa prece por dias melho-
res na educação de nosso país. Uma terra que não investe na educação está condenada
ao caminho incerto, inseguro, é como um barco que navega, mas sem leme, não sabe
aonde se quer chegar. Muito triste para todos nós professores e para nossas crianças
que estão construindo o futuro desde hoje.
Nossa professora! Tenho tanto para lhe falar! Poderia lhe escrever páginas e
páginas, mas tenho que terminar! Antes quero lhe agradecer por todo o carinho e por
ter sido tanto em minha vida, por ter me ajudado construir significados, por ter me
dado os primeiros estímulos no meu mundo acadêmico. A senhora me abriu janelas
para a vida e a vida, a vida me abriu portas.
Até algum dia professora! Iremos nos encontrar e matar toda a saudade! Um
grande abraço! Um beijo no seu coração!
Adenir Vendrame1.
1
Professora, formada em pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso. Pós-graduada em:
Educação Ambiental pela Associação Juinense de Ensino superior-AJES; Psicopedagogia clinica e
institucional pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais-INTERVALES; Práticas e Saberes na
Educação Infantil pela Universidade do Mato Grosso-UNEMAT; Educação Infantil e Ensino
Fundamental pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais-INTERVALES.
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CARTA VIII
Não escrevo somente porque me dá prazer escrever, mas também porque me sinto
politicamente comprometido, porque gostaria de convencer outras pessoas, sem a
elas mentir, de que o sonho ou os sonhos de que falo, sobre que escrevo e porque
luto, valem a pena ser tentados (FREIRE, 1994, p. 15-16).
Olá! Seja qual for o motivo que fez com que você chegasse até a leitura desta
sobre Cartas ficarei feliz se ao final você se sentir motivada ou
motivado a escrever e se a minha escrita puder de alguma forma apoiar a sua. De an-
temão, refiro que a finalidade com que lhe dirijo esta escrita é estabelecer novas par-
cerias para ampliar experiências, com vistas a contribuir para credibilizar as Cartas
Pedagógicas (VIEIRA, 2018) enquanto instrumento metodológico de formação. Por
isto, gostaria de expressar meu desejo de conhecer sua experiência e convidá-la/o a
trocar ideias sobre o potencial que se inscreve no processo de formação que se realiza
por meio das Cartas Pedagógicas.
Inicialmente, preciso justificar o inusitado desta Cartas Pedagógica ser da-
tada no dia 15 de outubro, em Paris. Ao concluí-la na data em que coincide com o dia
do/a professor/a, penso ser esta uma referência que sugere diversos significados que
podem ser atribuídos a esta escrita. Quanto à cidade, diz respeito à significativa fase
da vida pessoal e profissional, em que, vivendo um nesta ambiência tão
encantadora e inspiradora, estou me dedicando a sistematizar minha produção de co-
nhecimento relacionada às Cartas Pedagógicas.
Minha experiência com a pesquisa que coordenei nos últimos anos na Uni-
versidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), intitulada de gestão da es-
cola: saberes, tensionamentos e (2016-2019) ganhou ênfase, ao longo
do percurso, nos aspectos metodológicos e gestou significativas contribuições para o
processo de reinvenção das Cartas Pedagógicas. De modo não formal e informal, as
DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
em forma de cartas, Nita comenta na introdução de suas Notas à obra Cartas a Cris-
tina:
Ao fazer cartas no lugar de ensaios na sua forma mais tradicional, na qual um capí-
tulo se sucede ao outro, caracterizando-se por uma sucessão logicamente desenca-
deadas de ideias, que se iniciam, desenvolvem e encerram em cada capítulo e da su-
cessão destes no todo do texto, não o fez. Fez ensaios sim, mas ensaios em forma de
cartas, em que, sem negar as qualidades dos ensaios tradicionais, optou por esta
forma menos habitual por acreditar que ps textos assim redigidos são mais comu-
nicadores. (FREIRE, Nita, 1994, p.239)
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DIÁLOGO FREIRIANO
deste entendimento que faço desta escrita além de uma forma de apresentar minha
experiência, reflexão e considerações metodológicas, também um convite para a con-
tinuidade do diálogo.
Obviamente os limites da escrita de uma carta não permitem que eu me al-
gongue em detalhes, especialmente considerando que minha experiência com Cartas
Pedagógicas - a que me dedico a sistematizar neste momento - está próxima de com-
pletar vinte anos. Foi no ano de 2000 a primeira vez que coordenei uma oficina de
pesquisa de produção de Cartas Pedagógicas, no âmbito de meu trabalho como pro-
fessora e pesquisadora no então Centro Educacional La Salle, em Canoas, no Rio
Grande do Sul (RS). Acompanhei o trabalho de formação continuada na Escola Fun-
damental La Salle situada no Jardim América, em Sapucaia do Sul, criada pela Provín-
cia Lassalista ao propor um projeto diferenciado na rede lassalista de ensino, por oca-
sião da comemoração dos 90 anos de sua presença no Brasil.
Desde o início, nomeamos como Sonho o movimento de
reinvenção da escola, organizada por ciclos de formação e com o ensino por Com-
plexo Temático, que tomava como referência e inspiração o projeto da Escola Cidadã,
desenvolvido na Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, contando com o pensa-
mento de Paulo Freire como um de seus principais fundamentos (FREITAS, 2004).
Ao final do primeiro ano de efetivo funcionamento da escola, conscientes de que a
manutenção de um projeto desta natureza representava um desafio permanente à
reinvenção da docência, os professores e professoras da escola foram convidados e
convidadas a participar de um encontro de formação no Centro Universitário. A Ofi-
cina de Cartas Pedagógicas, realizada em um laboratório de informática, partiu da
proposição de que escolhessem um/a destinatário/a, real ou imaginário/a, para o/a
qual contassem sua experiência do primeiro ano de trabalho na escola, comparti-
lhando suas aprendizagens, mas também pedindo um conselho, sobre algum aspecto
que estivesse preocupando a ponto de lhes o
Muitas e significativas experiências decorreram desta primeira Oficina de
Cartas Pedagógicas, tanto na escola quanto na formação acadêmica dos integrantes
do Projeto Sonho Possível, contribuindo para sua recriação em outros espaços. Parti-
cularmente, além de minha tese contar com o que chamei, à época, de uma
de Cartas (FREITAS, 2004), assumi esta modalidade de escrita como
procedimento de ensino, tanto escrevendo aos estudantes, com diferentes finalidades,
quanto sugerindo e orientando as produções por eles/elas realizadas. Neste momento,
ao revisitar meus registros docentes, buscando localizar as primeiras Cartas Pedagó-
gicas produzidas, identifiquei, preliminarmente, como mais antiga a escrita datada de
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DIÁLOGO FREIRIANO
de propor a reflexão a este respeito, que o rigor acadêmico da escrita de Cartas Peda-
gógicas é um desafio que se apresenta neste momento. E me questiono: como fazê-lo
sem que se despotencialize a proximidade da escrita que mobiliza quem escreve a en-
volver-se no ato de escrever, incentivando a criatividade e a autoria de pensamento?
Ao finalizar, faço minhas as palavras de Paulo Freire quando afirma, na obra
Pedagogia do Oprimido, que olhar para trás não deve ser uma forma nostálgica
de querer voltar, mas um modo de melhor conhecer o que está sendo para melhor
construir o (FREIRE, 1987, p.73). Com este entendimento, convido as leitoras
e os leitores a seguirmos em frente, reinventando a tradição da escrita de cartas na
perspectiva de vivenciarmos o prazer de escrever ao mesmo tempo em que exercer-
mos a escrita como forma de luta por sonhos possíveis , como nos aponta a epígrafe
apresentada na introdução. Reitero a expectativa de que esta leitura seja motivadora
do conhecimento sobre o legado de Paulo Freire acerca das Cartas Pedagógicas e que
a minha escrita possa de alguma forma apoiar a sua. Por isso, não hesite em fazer con-
tato se precisar de ajuda ou mesmo se quiser trocar uma ideia. Se isto acontecer, esta
sobre Cartas estará cumprindo uma função formativa relevante.
1
Doutora em Educação pela PUCRS (2004), com pós-doutorado em Pedagogia Crítica pela Liverpool
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DIÁLOGO FREIRIANO
Referências
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Andarilhagem (verbete). In: STRECK, Danilo;
REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José (orgs.). Dicionário Paulo Freire. 4. ed.
rev. amp. - Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018, p.44-45.
CAMINI, Isabela. Cartas pedagógicas: aprendizados que se entrecruzam e se
comunicam. Porto Alegre: ESTEF, 2012.
FREIRE, Ana Maria Araújo. Notas. In: FREIRE, Paulo. Cartas a Cristina. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1994, p. 237-334.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 20ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
______. Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1979.
______. Quatro cartas aos animadores e às animadoras culturais. República de São
Tomé e Príncipe: Ministério de Educação e Desportos, São Tomé, 1980. Disponível
em: http://acervo.paulofreire.org:8080/xmlui/handle/7891/1160? Acesso: 10 de
outubro de 2017.
_______ . Professora, sim; tia, não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo, Olho
1993.
_______ . Cartas a Cristina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
______. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
UNESP, 2000.
FREITAS, Ana Lúcia Souza de. Pedagogia do inédito-viável: contribuições da
participação pesquisante em favor de uma política pública e inclusiva de formação
com educadores e educadoras. Porto Alegre: PPGE/PUCRS, 2004. 989f. Tese
(Doutorado em Educação). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre.
______. Carta sobre Cartas Pedagógicas: compartilhando experiências sobre a
formação de professores/as e de gestores/as. In: Anais do II Congresso Internacional
Paulo Freire: o Legado Global, 2018, Belo Horizonte. [recurso eletrônico]. Campinas,
GALOÁ, 2018. Disponível em: <https://proceedings.science/freire-globalconference-
2018/papers/carta-sobre-cartas-pedagogicas%3A-compartilhando-experiencias-
sobre-a-formacao-de-professores/as-e-de-gestores/as> Acesso em: 10 out. 2019.
STRECK, Danilo; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José (orgs.). Dicionário Paulo
Freire. 4. ed. rev. amp. - Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018.
VIEIRA, Adriano Hertzog. Cartas Pedagógicas (verbete). In: STRECK, Danilo;
REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José (orgs.). Dicionário Paulo Freire. 4. ed. rev.
amp. - Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018, p. 75-76.
63
CARTA IX
PRIMAVERA DE SONHOS,
INTERVENÇÕES VIRANDO REALIDADE!
1º de setembro de 2019.
Estimados Pedagogos,
alguém (...) me perguntar, com irônico sorriso, se acho que, para mudar o Brasil,
basta que nos entreguemos ao cansaço de afirmar que mudar é possível e que os seres
humanos não são puros expectadores, mas atores também da história, direi que não.
Mas direi também que mudar implica saber que fazê-lo é
(Segunda carta Do Direito e do Dever de mudar o Mundo, in Pedagogia da Indig-
nação, Unesp- 2000, São Paulo).
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DIÁLOGO FREIRIANO
destaco uma muito especial: implantamos o Grêmio Estudantil Mirim em todo o seg-
mento do EF-AI da escola através de um trabalho de conscientização nas turmas de-
monstrando de forma prática e real a importância do voto consciente. O Grêmio Es-
tudantil Mirim possibilita o fortalecimento da cidadania. Os alunos poderão exercer
seus direitos e deveres de forma mais responsável e atuante, tendo o Grêmio como
órgão máximo de representação. O que ficou marcante nesta ação foi a doação. Cada
aluno doará seu tempo ao bem comum dos outros e esta é uma ação que consiste
numa liberdade voluntária entre pessoas. Para destacar e simbolizar esta entrega nossa
turma presenteou os integrantes do Grêmio Estudantil Mirim com um colete de iden-
tificação e símbolo de doação e entrega ao próximo.
Nossa próxima ação é conhecer a Câmara de Vereadores, apresentar um
projeto de lei de autoria da turma: criação do Vereador Mirim. O principal objetivo é
oferecer aos alunos do Município uma lição de cidadania e democracia, com o exer-
cício, por um dia, das funções e dos trabalhos do Poder Legislativo Municipal. Na Câ-
mara de Vereadores, os vereadores cederão seus lugares no Plenário aos vereadores
Mirins, que vão apresentar seus projetos, defendê-los e votar as propostas apresenta-
das pelos colegas. Os partidos dos Vereadores Mirins não são iguais aos dos vereado-
res oficiais. Os partidos são temáticos. Isso significa que os temas ou assuntos preferi-
dos dos estudantes definirão seus partidos. Eles não querem parar, sentiram-se sujei-
tos, são atuantes, perceberam que aquela palavra (cidadania) que parecia estar muito
distante da realidade era algo essencial e intransferível ao outro.
A proposta da turma potencializou as práticas de cidadania na escola. A luta
das crianças pelos seus direitos e deveres enquanto sujeitos de voz e vez, passou a ser
uma constante no espaço escolar e principalmente em sala de aula. Estão envolvidos
com o próprio bem-estar, assim como de seus semelhantes. A cidadania foi trabalhada
a partir do conhecimento dos direitos e deveres do cidadão, perpassando pela melho-
ria da autoestima e a importância do desenvolvimento de valores como responsabili-
dade, solidariedade, companheirismo, amizade, empatia, ética, cuidado com o meio
ambiente, refletidos com os alunos para tomada de decisões visando o estabeleci-
mento e o cumprimento de atitudes cidadãs no cotidiano de todos os envolvidos.
Como eu iniciei... que ficaram recheadas de ... as
quais se engajaram nas palavras engajamento e
Todavia, não posso negar às vezes me vejo reproduzindo velhas fórmulas,
me vejo de perto e me rejeito, fazendo rebelde de mim mesmo vou tecendo fios de
sonhos em busca de uma aula mais produtiva. Hoje só consigo me perceber como
mediadora de aprendizagens numa perspectiva de materialização dos saberes ditos
67
DIÁLOGO FREIRIANO
teóricos, tentando possibilitar uma comunhão entre saberes teóricos e práticos, entre
o mundo das ideias e o da vivência concreta. Mas o que tiro de lição disso tudo? Ações
educativas exercem uma práxis, que mobiliza ações transformadoras nos modos de
ser e de agir dos sujeitos e também nas realidades em que estes venham a intervir.
É assim que percebo o grandioso poder transformador que temos. Por isso
que Paulo Freire tanto insistia no imperativo da formação de pedagogos críticos, aten-
tos ao mundo, sensíveis, éticos. Ele dizia que era preciso se ter e boniteza
de mãos (2006), ou seja, ética e estética sendo tomadas como princípios que
permeiam nossa intervenção no mundo. Concordam?
Infelizmente, os componentes curriculares ainda são vistos em muitas esco-
las como departamentos intransponíveis que não possuem relação entre si. Mesmo
com os Parâmetros Curriculares Nacionais orientando para a interdicisplinaridade, a
abordagem dos temas transversais e a contextualização dos saberes produzidos na es-
cola.
Assim como as cartas pedagógicas de Paulo Freire, as quais recolocam a edu-
cação no espaço do coloquial e do afetivo, tentei fazer este mesmo movimento através
do relato de minha experiência vivida. Sinceramente, ao escrever esta carta despertou-
me o desejo e o desafio de mais intervenções significativas nesse universo mágico que
é a nossa profissão.
Com o desejo de que haja beleza nos encontros, é que precisamos persistir.
Quero uma escola da prática, da pesquisa, do acolhimento, que prepara o aluno para
ler o mundo, ler como diz Clarice Lispector a entrelinha, o que não está sendo dito,
o silencioso e o não dito. Que haja sementes de possibilidades para que estas possam
semear nas escolas saberes e intervenções significativas na vida de nossos alunos. Que
a sensibilidade do Pedagogo esteja sempre presente para assim poder encontrar nestes
caminhos pedagógicos abertura ao novo.
Acreditem! Precisamos ter consciência de que o alcance de nossas atuações
cotidianas pode não ser tão grande, mas, de algum modo, por atingir diretamente as
existências de nossos alunos, que com eles estabelecemos relações socioeducativas,
pode colaborar com os desejos de transformação destes. Tenhamos humildade, paci-
ência e esperança nesses processos educativos como tão bem nos ensinou Paulo
Freire.
Remeto a você Pedagogo esta carta, desejando que girassóis cresçam em seu
A primavera quer ficar mais uma estação dentro de mim e vos
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DIÁLOGO FREIRIANO
digo: se for para tecer caminhos floridos, que esta estação permaneça em minha car-
reira profissional por longos e intermináveis anos e vos digo mais, que a floração per-
maneça!
Desejosa que esta carta possa ser saboreada por você com doçura e que vocês
tenham percebido o quanto procuro mobilizar sentimentos transformadores, é que a
remeto a você esta frase:
(...) uma carta só terá cunho pedagógico se seu conteúdo conseguir interagir com o
ser humano, comunicar o humano de si para o humano do outro, provocando este
diálogo pedagógico. Sendo um pouco mais incisivo nesta reflexão, diríamos que
uma Carta Pedagógica necessariamente precisa estar grávida de pedagogia. Portar,
sangue, carne e osso pedagógico. (CAMINI, 2012, p. 35)
1
Licenciada em Pedagogia Anos Iniciais com Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional e
Gestão Educacional. Atualmente trabalha no Colégio Marista São Francisco de Chapecó.
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DIÁLOGO FREIRIANO
Referência
CAMINI, Isabela. Cartas Pedagógicas: aprendizados que se entrecruzam e se comu-
nicam. Porto Alegre: ESTEF, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 2006.
________. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo,
UNESP, 2000.
________ Cartas a Guiné Bissau: registros de uma experiência em processo. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1978.
aulo Freire
15, 42, 2001.
________. Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis. São Paulo:
UNESP, 2003.
GOETHE, J.; SCHILLER, Friedrich. Correspondência. São Paulo: Hedra, 2010.
70
PARTE II
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
OFICINAS PEDAGÓGICAS DE DIDÁTICA FREIRIANA
Ivanio Dickmann 1
1
Editor Chefe da Editora Diálogo Freiriano. É Historiador e Pós-Graduado em Gestão de Políticas Públi-
cas e Projetos Sociais. Tem Certificação Internacional PMD Pro1 em Gestão de Projetos Sociais. Mestre
em Serviço Social pela PUC-SP. É autor e organizador, dentre outras obras, do livro Primeiras Palavras
em Paulo Freire, Pedagogia da Liderança Popular, Dinâmicas Pedagógicas e 365 Dias com Paulo Freire.
E-mail: ivanio.dialogar@gmail.com
2
Para saber mais detalhes deste conceito consultar nosso artigo completo na revista Educere et Educare.
DOI: http://dx.doi.org/10.17648/educare.v13i28.18076
DIÁLOGO FREIRIANO
74
DIÁLOGO FREIRIANO
gem um pouco e chegam para a oficina um pouco mais achegadas. Amizades são des-
pertadas pelas histórias de vida de cada membro. Pontos de interesse e saberes são
compartilhados.
O encontro presencial
ção total e irrestrita. A primeira parte começa com uma dinâmica de apresentação,
onde tentamos liberar as tensões físicas e mentais, onde cada participante se apresenta
resumidamente para uma roda de novos companheiros e companheiras de cami-
nhada. Esta dinâmica inicial quebra o gelo e deixa a todos e todas mais à vontade no
grupo.
Sentados em um círculo começamos a dissecar cada uma das 10 pedagogias
que compõe a didática freiriana3. A cada pedagogia dialogamos sobre suas caracterís-
ticas e sua conexão com o método utilizado por Freire na experiência de Angicos e
com os elementos da sua pedagogia de forma geral. Vamos reinventando o método e
construindo uma compreensão comum da didática feiriana.
3
As 10 pedagogias que compõe a Didática Freiriana são: 1. Pedagogia da acolhida, 2. Pedagogia da per-
gunta, 3. Pedagogia do tema gerador, 4. Pedagogia da contextualização, 5. Pedagogia da reflexão, 6. Pe-
dagogia da investigação temática, 7. Pedagogia da dialética, 8. Pedagogia da práxis, 9. Pedagogia do diá-
logo e, 10. Pedagogia da gratidão.
75
DIÁLOGO FREIRIANO
A pausa pedagógica
Escolhemos momentos de parada na oficina. Não avançamos sem ter a cer-
teza de que estamos aprendendo ao avançar. Para isso, fazemos uso de um instru-
mento chamado pausa pedagógica 4. É uma parada estratégica de revisão e monitora-
mento nos certificarmos, enquanto grupo, que a aprendizagem está se efetivando.
Nestas pausas o facilitador da oficina resgata com os presentes o que viu até aquele
momento.
O resgate do passo a passo, do conteúdo, das dinâmicas de grupo, dos diálo-
gos, do método usado é útil para não perdermos o acúmulo da caminhada. Uma pausa
pedagógica potencializa o que vai ser ensinado a seguir, pois os educandos e o educa-
dor refrescam as suas memórias e prosseguem com a compreensão dos temas mais
nítidos.
Desde que acrescentamos a pausa pedagógica em nossos processos notamos
uma força maior em encontros de dia inteiro e de mais de um dia. Pois, nossa cabeça
não tem condição de aglutinar uma tonelada de conhecimentos novos e ajustá-los de
forma a termos este conhecimento a nossa disposição imediatamente. Nossos novos
saberes vão se ajustando na prática e na reflexão, no uso destes conhecimentos. A
pausa pedagógica garante que consigamos acumular mais saberes. Experimente!
4
A título de registro gosto de compartilhar sempre que esta pausa pedagógica não é uma invenção nossa.
Tivemos contato com ela há alguns anos através da educadora popular Helena Bins, num curso de Agen-
tes de Desenvolvimento Local desenvolvido pelo CAMP de Porto Alegre, em 2006. Ela usou a pausa
pedagógica durante sua facilitação no curso e, desde então, incorporamos este elemento em nosso fazer
pedagógico pela potência que vemos nesta parada para resgatar e registrar a produção do conhecimento
na qual estamos inseridos/as.
76
DIÁLOGO FREIRIANO
sua realidade a ponto de dar esta orientação. Contudo, acreditamos que os três cami-
nhos poderão nos levar ao mesmo ponto com o passar do tempo.
As três maneiras são: 1. como uma estratégia pedagógica a iluminar suas
ações, 2. como um percurso educativo a ser utilizado numa sequência ordenada a pri-
meira pedagogia até a última e, 3. como uma caixa de ferramentas. Vamos entender
um pouco mais cada uma destas visões. Veja qual pode ser a sua postura pedagógica
frente a didática freiriana.
1. Estratégia Pedagógica: quando nos referimos a estratégia queremos di-
zer que você recorrerá a didática freiriana como uma diretriz para suas
atividades pedagógicas. Sempre que você estiver em dúvida do que fazer,
sempre que tiver que modelar alguma intervenção você lembrará dos
princípios presentes nas 10 pedagogias que compõe a didática freiriana.
2. Percurso Educativo: você vai usar o caminho gradual das 10 pedagogias
para preparar as tuas ações educativas. Iniciará com a pedagogia da aco-
lhida e finalizará com a pedagogia da gratidão. Esta visão de percurso é
muito útil para fazer-nos dominar as 10 pedagogias quando ainda esta-
mos nos aproximando da didática freiriana.
3. Caixa de Ferramentas: aqui pode ter duas dinâmicas. Primeira, você po-
derá já estar utilizando algumas das 10 pedagogias no seu quefazer peda-
gógico, e então, vai acrescentando as demais com o decorrer do tempo
até acumular todas e ter segurança em cada uma delas ou; segunda, você
pode ver as 10 pedagogias de forma mais ou menos isolada e utilizar
aquela que for mais útil em determinada ocasião. Numa abertura de
turma nova, por exemplo, pode intensificar a pedagogia da acolhida, en-
quanto que numa turma que já está mais tempo junto pode aprofundar
os diálogos com a pedagogia da reflexão e da investigação temática.
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DIÁLOGO FREIRIANO
De qualquer forma, você estará mais perto de Paulo Freire. Isso é importante
que saibamos. Pois, a didática freiriana não é algo fechado e finalizado. Estas oficinas
pedagógicas tem o objetivo de colocar nossas concepções à prova da comunidade frei-
riana. Queremos dialogar freirianamente com quem também tem afinidade com a
pedagogia do patrono da educação brasileira para construirmos uma didática freiri-
ana que faça sentido e que possa ser usada em diferentes espaços pedagógicos.
Sabemos que muito ainda há por ser sistematizado até termos uma versão
mais definitiva da didática freiriana, mas as contribuições de cada turma têm confir-
mado nossas intuições e hipóteses sobre a reinvenção do Método Paulo Freire para
nosso tempo e nossa realidade histórica. Temos recebido muitos retornos positivos
de educadores e educadoras experientes e que transitam a tempos pelos campos de
estudos freirianos e isso nos motiva nesta jornada de sistematizar práticas e reflexões
da comunidade freiriana.
Cremos no nosso esforço como uma contribuição ao legado de Paulo Freire
e somos gratos por todos e todas que se atrevem e se desafiam em trilhar os caminhos
do Andarilho da Utopia conosco. Sigamos juntos companheiros e companheiras. Po-
dem sempre contar conosco. #PauloFreireVive
78
A ASCENDÊNCIA TAPUIA PAIACU À MARGEM DO SABER
1
Professora vinculada à Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Desporto do Estado do Rio Grande
do Norte (SEEC/RN). Graduada em Letras pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN), Especialista em Leitura e Produção de Texto pela Faculdade Vale do Jaguaribe (FVJ) e Mestre
em Letras pela UERN.
DIÁLOGO FREIRIANO
porque ali, naquele momento, muitas das minhas práticas não tinham significado
nem para mim mesma, imagine para os meus alunos. Quase todos em processo de
alfabetização. São essas lembranças que tenho hoje como fundamentação para a cons-
ciência de que eu precisava conhecer educadores como Freire. Para isso, amparo-me
em Lowenthal (1998) quando traz uma reflexão aceitável de que a consciência do pas-
sado está fundada na memória. Hoje, eu sei que foi ali, no processo de formação em
serviço que me redescobri, me reinventei e me formei enquanto educadora.
São momentos e fatos que foram aos poucos se constituindo na minha me-
mória individual. Sim porque, segundo Lowenthal (1998) a memória pode ser indivi-
dual e coletiva, mas a primeira é inviolável. E isto é tão certo que esses elementos me
foram muito úteis para hoje entender a posição que me encontrava enquanto profes-
sora e as mudanças que ocorreram ao longo dos 17 anos que se passaram, devidas às
experiências que vivenciei na sala de aula, no convívio com colegas e com professores
do curso de Letras. Estes foram muito especiais para que eu buscasse compreender,
através de leituras de obras que foram fundamentais na construção dessa trajetória
minha na educação.
A partir de discussões e das atividades do curso, a minha sala de aula se trans-
formou em um laboratório de experiências exitosas. Passei a atuar nos anos finais do
ensino fundamental, como professora de Língua Portuguesa, espaço pedagógico no
qual me encontrei. A minha memória, nesse momento, tem um outro sentido, porque
está iluminada por muitos pontos de luz da pedagogia freiriana. Foram muitas as ex-
periências pautadas em um processo de ensino-aprendizagem que não mais estava
voltado apenas para a transmissão. Enxertei-o de muitas outras espécies didáticas,
embora ainda soubesse, conscientemente, que precisava aprofundar cada vez mais os
estudos, pois, fez parte também do meu aprendizado entender eu professor necessita
estudar sempre.
Foi com esse pensamento que conclui a graduação e ingressei na especiali-
zação, assim que terminei, no ano de 2007. Após a festa de formatura, na sexta-feira a
noite, no sábado, lá estava eu assistindo a primeira aula da especialização. Novamente,
os estudos proporcionaram vastas experiências, agora na sala de aula do ensino mé-
dio, em um contexto rural, onde podia vivenciar muitas experiências freirianas, se eu
soubesse dominar um pouco das práticas do seu método. Não, eu estava ainda em
processo de leitura, de aprendizado, mediatizando os saberes necessários à minha vi-
vência, com o anseio de me tornar uma professora-educadora, não com a mesma qua-
lidade de Paulo Freire, mas, como sua discípula. Embora me sentisse longe, mas,
muito longe de alcançar o discipulado.
80
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2
Nome oficialmente formalizado conforme pedido judicial no qual a concessão foi possível no início do
mês de outubro de 2019, pelo juiz da Vara Cível da Comarca de Apodi.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Lei n° 9.394/96 de 20 de dezembro
de 1996. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, 1996.
CHAUI, M. Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária. Perseu Abramo, 2000.
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17º ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
FREITAS, M. M. Relatos sobre o massacre de 70 índios na serra de Portalegre/RN:
argumentação em discursos de liderança indígena e alunos do ensino
fundamental. Pau dos Ferros, 2018, 297 fls. Dissertação (Mestrado Profissional em
Letras em rede nacional). Programa de Pós-Graduação em Letras, Campus Avançado
Profª. Maria Elisa de Albuquerque Maia, Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte.
LOWENTHAL, D. Como conhecemos o passado: Projeto História. Revista do
Programa de Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC-
SP - Trabalhos da Memória, São Paulo, n. 17, p.63-202, novembro, 1998.
MONTEIRO, D. M. terra e trabalho em perspectiva histórica: um exemplo do sertão
nordestino (Portalegre RN). História Econômica & História de Empresas IV.2
2001. Disponível em: <http://www.abphe.org.br/revista/index.php/rabphe/article/
view/146/162> Acesso em 25 de janeiro de 2018.
MOTA, N. Fundação do Apody. Manuscrito original em PDF (s/d).
87
RELATOS DE MEMÓRIAS REFLEXIVAS COM CONEXÕES
ENTRE O PASSADO E O PRESENTE DE MINHA EXPERIÊNCIA
PROFISSIONAL EM PAULO FREIRE
Gostaria de iniciar esse texto parabenizando toda a equipe editores por Diá-
logos Freiriano, junto com seus professores e profissionais da educação que carregam
consigo uma luta incansável de fazer educação nesse país, de contrastes e desafios po-
líticos, democráticos, educacionais e pedagógicos. Segundo destacar nosso grande pa-
trono da educação brasileira e mentor Paulo Freire com sua contribuição valiosa e
histórica para uma educação progressista, libertadora e crítica no pensamento peda-
gógico brasileiro. Gratidão.
Dando continuidade, gostaria de ressaltar como conheci Paulo Freire, mi-
nha relação com seu pensamento, bibliografias, suas teorias e métodos, seus conheci-
mentos e pesquisas e sua contribuição a uma prática escolar dotada de significados e
valias. Paulo Freire teve um grande significado para minha trajetória escolar, acadê-
mica e profissional. Quando estudante de Pedagogia na Universidade Estadual do Ce-
ará (UECE). Porém, só fui apresentado a leitura do mesmo em um seminário em 1995,
quando cursava o ensino normal pedagógico de nível médio para professor primário.
Fiquei maravilhado com alguns de seus pensamentos citados pela professora pales-
trante. Onde ressalto um deles: Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho,
os homens se educam em comunhão entre si. Fiquei maravilhado nessa perspectiva
socialista e ao mesmo tempo de humildade na relação de aprendizagem como bem
colocou Freire nessa citação. Trazendo um pensamento de liberdade e ao mesmo
tempo crítico do homem e mulher no contexto educacional. Aquele momento apesar
de ter sido curto, serviu de alerta sobre o que eu iria fazer na busca da curiosidade por
estudar mais sobre esse autor. Na época não tínhamos internet e nem material bibli-
ográfico disponível em bibliotecas sobre ele. Fiz-me contente, apenas com essa pales-
tra reflexiva de seu pensamento e biografia nesse encontro que já mencionei.
1
Professor Especialista em Psicopedagogia, Pedagogo, lotado na Universidade Estadual do Ceará (UECE),
na Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI) no setor de ensino Educação Popular e Movimentos
Sociais. Email: carlos.roberto@uece.br
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90
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das amarras e correntes da opressão. Fez uma solidariedade com as pessoas e defendia
o desenvolvimento pela inclusão e igualdade de oportunidades tendo a educação
como bandeira de luta e processo transformador.
Portanto, foi nesse contexto que fui apresentado a Paulo Freire. Enquanto
estudante, militante e a posterior como professor do município, atuando na área de
alfabetização de adultos, praticando o que aprendia na Faculdade e refletindo isso na
minha prática pedagógica de sala de aula. Confrontando as ideias com a prática. Vi-
venciando seu método no debate e círculos de aprendizagem em sala de aula. Na lei-
tura de textos de suas obras de referência, socializando os mesmos no dia a dia.
Assim nesse contexto fui sendo seu discípulo. Em todos os níveis de ensino
onde passava ia influenciando sua práxis a minhas vivências e a dos outros. Em mo-
mentos de docência com crianças, adolescentes ou adultos e em outros momentos
como gestor pedagógico em secretaria de educação e atualmente em gestão de escola
pública. O legado de Paulo Freire se consolidou as nossas vivências e hoje não pode
ser vista como algo opcional na educação. O pensamento de Freire é validado e faz
parte do modo de fazer e acontecer da educação em uma escola democrática e verda-
deiramente popular. Não dá para dizer se gosto ou não gosto de Paulo Freire. Consi-
dero o mesmo como obrigatório, sem impor, lógico a formação de professores. Con-
cepções pedagógicas intrinsecamente viáveis a um ensino significativo e real.
Portanto, falar de Paulo freire me remete sempre a essas boas memórias. Mi-
nha trajetória estudantil e minha atuação profissional como professor municipal.
A contribuição de Freire a minha prática e a minha formação se consolida
com uma realidade atual de minha atuação profissional. Seu pensamento e obras e
suas temáticas propostas, me deixam muito feliz. Não por achar a tentativa de esgota-
ló, porém pelo sentido provocador e refletivo com que os mesmos nos proporciona-
ram dialogar com a ajuda de renomados professores e intelectuais com propriedade
em provocar o assunto. Fazendo, portanto interconexões com a teoria e a prática, le-
vando ao encontro de nossa realidade profissional docente ou não.
Faço questão de colocar nesse texto a delícia das principais temáticas deba-
tidas e problematizadas por Freire e seus admiradores, como uma das temáticas é a
escola cidadã que segundo autores ressalta que a Escola Cidadã é aquela que se as-
sume como um centro de direitos, como um centro de deveres. O que a caracteriza é
a formação para a cidadania. A Escola Cidadã, então, é a escola que viabiliza a cidada-
nia de quem está nela e de quem vem a ela. Ela não pode ser uma escola cidadã em si
e para si. Ela é cidadã na medida em que se exercita na construção de quem usa o seu
espaço. A Escola Cidadã é uma escola coerente com a liberdade, que, brigando para
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DIÁLOGO FREIRIANO
ser ela mesma, viabiliza ou luta para que os educandos e educadores também sejam
eles mesmos. E como ninguém pode ser só, a Escola Cidadã é uma escola de comuni-
dade, de companheirismo. É uma escola que não pode ser jamais licenciosa nem ja-
mais autoritária. É uma Escola que vive a experiência tensa da democracia.
Assim trazendo para o nosso contexto, a escola cidadã, é a nossa escola. A
escola da essência do povo. Sem essa escola as oportunidades do povo continuam
aquém de mudanças, de busca de seus direitos. Se não existir essa escola a perpetuação
das desigualdades se eternizam e se naturalizam no sistema capitalista como normal
de existir. Como educadores Freirianos não podemos permitir que anomalias e frag-
mentações da educação adentrem essa escola. Que retrocessos e precarizações sociais
sejam retomados.
Foi, portanto, fazendo essa reflexão que fui interagindo com seu pensa-
mento, construindo esse texto e resgatando como e onde conheci Freire, fazendo esse
intercâmbio de memórias. Assim podemos citar autores freiriano e fazermos mais re-
flexões
Na primeira reflexão destaco o Prof. Gadotti como o Educar, conviver e o
transformar é fundamental na escola cidadã. Sem esses elementos somos prisioneiros
da opressão e das amarras atuais da escola que luta e briga por espaços democráticos,
por companheirismo e interação com a comunidade em geral. Ainda o professor res-
salta a contribuição de Paulo Freire no inicio de sua trajetória por essa escola pública
e popular, ou seja, do povo. Gadotti relata ainda as lutas de Paulo Freire junto com
seus pares nesse movimento que resultou em sua perseguição do governo autoritário
e ditador na época. Porém sua história e lutas permaneceram e deram frutos de resis-
tência. Ainda fala Moacir das experiências de sucesso e cidadania de várias escolas que
se mantiveram e existem no nosso Brasil, além os saberes da educação popular e de
praticas e lutas por uma educação com qualidade sociocultural e socioambiental. E
por fim que a escola cidadã não deve ser vista como mercadoria, porém como direito
do cidadão.
Na segunda reflexão, destaco Paulo Roberto Padilha, com outras caracterís-
ticas da escola cidadã que digamos assim, precisamos sempre está atento, pois esses
valores são essenciais para o existir dessa escola aberta e democrática. Assim educar
com criatividade, alegria e esperança, tornam se movimentos vivos da educação como
um ato político. Destaca ainda o método de Paulo Freire como fundamental para os
círculos de cultura e debates de palavras geradoras como emancipação, humanização,
criatividade, arte, saberes, alegria e esperanças. Padilha faz uma críticas aos retrocessos
educacionais da escola sem partido, parodiano músicas importantes e reflexivas a
92
DIÁLOGO FREIRIANO
nossa prática educação. Fala que a escola deve ser um espaço de alegria e prazer, onde
todos possam existir e coexistir em interação com todos os envolvidos, mostrando
que é possível superar o silêncio e medo, com práticas dialógicas, interativas, criativas,
ousadas e esperançosas, juntando arte e ciência.
Na terceira reflexão falo de Angela Biz que defende um educar com partici-
pação e diálogo na escola cidadã, onde a mesma destaca que a escola cidadã é aquela
que viabiliza a cidadania, destacando a gestão democrática e seus diversos sujeitos da
aprendizagem, incluindo os segmentos e setores colegiados como o conselho de classe
e o conselho de escola e seus representantes da escola e fora dela como pais, alunos,
professores, funcionários e gestores. Ressalta a importância do projeto político peda-
gógico e as tomadas de decisões nesse espaço democrático e educativo. Incentiva a
participação dos alunos em grêmios escolares e a importância da autonomia. Fala de
uma escola acolhedora, interativa e dialógica com canais de escutas e incentivos desde
cedo da participação das crianças e jovens no exercício dessa cidadania participativa.
Assim como Paulo Freire ressaltou a escola cidadã e popular deve existir em prol da
comunidade escolar em um processo de educação onde se exerça a solidariedade e a
interatividade de forma coletiva.
E por fim, a quarta e último reflexão nesse relato de memórias ressalto
Paulo Freira e a escola Cidadã, como um movimento vivo, com espaços democráticos
e significativos. Uma escola construída ou forjada a partir da realidade dos alunos e
da comunidade, da leitura de mundo proposta por Paulo Freire. Uma escola contex-
tualizada na tematização de conhecimentos e ideias com a possibilidade de problema-
tizar essa realidade e propor alternativas de mudanças e que pelo o diálogo se tenha
voz e vez de participar, opinar, debater, argumentar e existir. Nunca a cultura do si-
lêncio. Deve se valorizar a participação dos diferentes sujeitos, com respeito aos direi-
tos humanos e a diversidades, além de ter a responsabilidade de preparar o cidadão
para o mundo do trabalho e para viver em coletividade. Assim as mesmas frisam que
a escola cidadã deve ser pública, estatal e democrática.
Relato portanto, agora uma segunda etapa de reflexão de Paulo freire que é
minha experiência profissional atual. Exerço a docência no ensino superior como pro-
fessor substituto do curso de Pedagogia da UECE desde 2012, Universidade que con-
clui meu curso de graduação. Estou nessa experiência há quase sete anos ministrando
aulas no curso de Pedagogia. Minha lotação inicial foi para o setor de ensino teorias
da educação e prática de ensino, no qual ministrei aulas de Didática. Nesse contexto
tive a oportunidade de trabalhar o livro a escola cidadã de Gadotti, aprofundando o
debate que hora é resgatado nessa jornada, sobre os desafios de ensinar e aprender na
93
DIÁLOGO FREIRIANO
94
DIÁLOGO FREIRIANO
devemos unir o educar com o conviver, transformar, com criatividade, alegria e espe-
rança, com participação e diálogo além de ter sentido e vida para todos. Pois falar de
Paulo Freire é interagir com o olhar da história e da memória da educação brasileira.
Assim parafraseando o mestre Paulo Freire: educar é impregnar de sentido o que fa-
zemos a cada instante . Assim falar da escola Freiriana é da sentido a tudo que possa
existir na busca dessa sociedade melhor, dessa escola melhor. Desse cidadão melhor.
95
POR UMA EDUCAÇÃO PARA O ENVOLVIMENTO DO SER
Introdução
O presente relato de experiência tem como objetivo dar conhecimento à so-
ciedade sobre uma experiência de campo e prática de ensino realizada com os alunos
do Projeto Mundiar em uma visita ao lixão do município de Tucuruí. O Projeto Mun-
diar consiste numa parceria firmada entre a fundação Roberto Marinho e a Secretaria
de Estado de Educação do Estado do Pará (Seduc-PA). O projeto é inovador dentro
do Estado do Pará. Contudo, ele já existe em outros estados do país com nomes dife-
rentes, mas objetivos semelhantes no que tange a combater a distorção. A principal
base teórica do relato é o artigo de Pinheiro (2019), que mencionaremos no decorrer
do texto.
Conforme Pinheiro (2019) o cenário em que nasce o Projeto Mundiar apre-
senta um Estado do Pará com graves condições educacionais comparado ao restante
do país. Em 2013, conforme dados do Inep (2013) 54% da população possuía Ensino
Fundamental e apenas 40% dos jovens de 16 anos que concluíram essa modalidade.
No Ensino Médio, o percentual de jovens de até 19 anos que concluíram essa moda-
lidade de ensino somava 31%. Cerca de 350 mil jovens de 15 a 17 anos estavam fora
da escola e o IDEB da Rede de Educação do Pará, tanto para o Ensino Fundamental
como para o Ensino Médio, era um dos mais baixos do país. Em boa medida, tais re-
sultados derivam da deficiência da formação inicial dos professores da rede. Somente
55% possuíam Ensino Médio e apenas 42% daqueles que lecionam no Ensino Funda-
mental tinham formação superior.
Os dados apontados no Termo de Referência da Seduc e para implantação
de projeto de correção da distorção idade-série revelam que 42% dos alunos do Ensino
1
Licenciado em Filosofia, Especialista em Gestão de programas de Reforma Agrária e Assentamento,
Filosofia Contemporânea e História, docência do Ensino Superior. Professor Unidocente do Projeto
Mundiar na SEDUC-PA, Tucuruí Pará. E-mail: ronaldo.fpinheiro@escola.seduc.pa.gov.br
DIÁLOGO FREIRIANO
Fundamental e 58% dos alunos do Ensino Médio estavam fora da faixa de escolariza-
ção desejável.
Conforme Pinheiro (2019) na intenção de reverter esse quadro, a Secretaria
da Educação do Estado do Pará buscou organizar uma proposta pedagógica que pos-
sibilitasse a esses estudantes avançar no seu percurso escolar, através da aceleração de
estudos, nos termos do disposto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei no. 9.394/1996 Art. 24, inciso V, alínea b), quando se refere explicitamente à
aceleração de estudos no tratamento da ênfase à avaliação da aprendizagem e seu elo
com a progressão escolar, a partir do rendimento escolar, eliminando os repetidos ci-
clos de reprovação.
No Ensino Médio, busca-se que este estudante possa concluir sua escolari-
zação básica, e consequentemente possa fortalecer a recomposição de competências e
habilidades, que validam as disposições para aumento da autoestima e o desejo de re-
alizar seus projetos pessoais. Quanto à escola, pretende-se que o desenvolvimento des-
sas ações contribua para a quebra dos ciclos de reprovações e repetências que inevita-
velmente conduzem ao fracasso escolar. Então, neste cenário nasce o Projeto Mun-
diar. Que se utiliza da Metodologia Telessala que aponta para uma educação focada
no desenvolvimento do Ser .
Dentre as inúmeras experiências exitosas do Projeto Mundiar aqui relata-
mos a ida dos alunos ao lixão do município de Tucuruí, Sudeste Paraense. De uma
turma com 28 alunos regularmente matriculados e frequentes, compareceram a visita
15 alunos. Os demais não foram por motivos de trabalhos ou falta de condições, veí-
culo para o referido deslocamento.
A ação teve como principal foco o desenvolvimento do eixo do módulo dois
respondendo a indagação onde estou? e também fazer uma relação com as outras
disciplinas, neste período a turma já estava entrando no terceiro módulo com a disci-
plina de Química e também puderam fazer uma reflexão sobre os impactos ambien-
tais e a própria história da região. As etapas da ação foram primeiramente uma visita
prévia do professor ao local e mais quatro alunos, depois a arrecadação de roupas e
alimentos. Na sequência a visita com os 15 alunos e depois debate em ala de aula sobre
a experiência, produção de um memorial de relatos e por último a frustrada tentativa
de implementar um projeto de alfabetização.
Relato de experiências
A educação é uma fabulosa ferramenta, que os homens criaram, para trans-
mitir às novas gerações o seu saber. Mais do que transmitir esse saber, como nos
98
DIÁLOGO FREIRIANO
afirma Brandão (2007, p. 11), ela ajuda a pensar tipos de homens. Mais do que isso,
ela ajuda a criá-los, através de passar de uns para os outros o saber que os constitui e
legitima.
Fazer educação no século XXI tem sido desafiador, pois como nos fala Pi-
nheiro (2006, p. 12) vivemos uma época de órfãos políticos da nação, que na verdade
são crianças que mamaram lágrimas (órfãos de poder, filhos do sofrimento e da mi-
séria). Diante deste cenário nos cabe repensar nossas práticas educacionais. Pois a
nossa geração tem se deparado com uma realidade em que o problema se reflete na
alma do homem e no seu habitat.
A humanidade, nos últimos 80 anos, evoluiu de maneira incomparável, con-
tudo, na mesma proporção em que evoluímos materialmente degringolamos espiri-
tual e eticamente escreve Pinheiro (2006, p. 13) assim, precisamos refletir a trajetória
existencial da humanidade e nada melhor para isso do que fazermos uma reflexão do
saber mediante as indagações O que eu tinha? , O que eu tenho? e O que eu
quero?
Urge repensarmos nossas atitudes racionais, mas sobretudo: como temos
usufruído e aplicado esta razão? Pois, a cada dia ela tem sido insuficiente para dirimir
nossos problemas existenciais. Desta forma, os homens - disse o pequeno príncipe -
embarcam nos trens, mas não sabem mais que procuram. Então eles se agitam, sem
saber para onde ir [...] cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim [...] e não encon-
tram o que procuravam [...] os olhos são cegos é preciso ver com o coração[...]
(SAINT-EXUPÉRY, 2009, p. 78-79).
A educação (formal e informal) durante muitos séculos nos deu segurança
quanto ao que esperar do futuro. Mas agora ela precisa ser repensada, não apenas
como um produto da inteligência racional, mas também da inteligência emocional.
A verdadeira fonte das dificuldades na sala de aula está na questão dos relacionamen-
tos e da busca dos alunos por reconhecimento e aceitação. (SHINYASHIKI, 2011, p.
23).
A educação pode salvaguardar o futuro da humanidade, se conseguir ver e
tratar o ser humano de maneira holística, como um todo, emocional, racional e espi-
ritual. Pois, a crise de hoje é fruto de uma crise espiritual. (PINHEIRO, 2006, p. 48).
Desta forma, o cuidado com o Ser deve ser tarefa primordial da educação, pois sem
o cuidado o ser humano estará fadado ao fracasso. (PINHEIRO, 2006, p. 48).
Mediante tais reflexões que passamos a acreditar em uma educação para o
envolvimento do ser, da pessoa humana , que é proposta do Projeto Mundiar, con-
forme dados do Portal da Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC, 2015),
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DIÁLOGO FREIRIANO
100
DIÁLOGO FREIRIANO
Figura 2- Eixo 1 - Marinho (2013. p. 119) Figura 3- Eixo 2 - Marinho (2013. p. 119)
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DIÁLOGO FREIRIANO
Quando chegamos ao local definido, onde todo o lixo da cidade era despe-
jado de qualquer maneira e as pessoas competiam catando o que dava para recolher,
pois dali dependeria sua sobrevivência. Eram 17 famílias, com um percentual de mais
de 30 pessoas, sendo destas 16 analfabetas e 6 crianças menores de 13 anos em idade
escolar, longe da escola, residindo ali no lixão. Para os alunos do Projeto Mundiar,
mesmo que a maioria fosse oriunda de classes menos favorecidas socialmente, aquilo
era uma cena muito forte.
Figura 8 - Foto no lixão - senhor catando lixo
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DIÁLOGO FREIRIANO
O lixão está localizado próximo a dois igarapés que descem para dentro do
lago. A área é inadequada para depósito de lixo, não há nenhum tratamento ou seleção
adequada do lixo, os residentes do lixão separam o que pode ser vendido e o restante
é deixando a mercê da própria natureza, se ela quiser que se encarregue de resolver o
problema criado pelos seres humanos.
O percurso da Escola até o lixão totaliza 18.8 quilômetros. Fica distante da
cidade e consequentemente da escola para um município pequeno do interior são
grandes distâncias. No entanto, a proximidade do lixão para com as águas, tanto de
igarapés como do lago da UHE Tucuruí não exime a população de contaminação.
No momento de diálogo e interação com as famílias residentes no lixão,
muitos deles não quiseram aparecer nas fotos, a maioria das pessoas que ali residem
demonstram sentirem-se envergonhados de sua condição de vida. Tivemos um en-
contro formidável com um senhor de mais de 60 (sessenta) anos a quem denomina-
remos de Seu Francisco .
Andando pelo local, explorando a área, não demorou muito, nos deparamos
com uma casa de restos de madeira misturados com lona e material velho de constru-
ção, era meio torta, desajeitada e nada confortável, estava um pouco escondida atrás
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DIÁLOGO FREIRIANO
de uma fileira de casas mais à frente. No entanto aquela casa nos chamou atenção pela
quantidade de livros que se acumulava em suas proximidades.
Figura 13- Foto- Barraco onde reside Seu Francisco
Não demorou muito apareceu o proprietário daquela casa. Que veio checar
os inúmeros estranhos se achegando ao seu humilde território. Um senhor muito
educado e de muito bom jeito nos cumprimentou e disse que ficássemos à vontade.
Nisso, uma outra moradora já havia servido um café aos visitantes naquele inóspito
mundo, café oriundo do lixo, mas preparado com muito zelo e amor.
Tomando café, sentando a beira daquele barraco, em pleno sol equatorial
das 15 horas, fomos enfeitiçados pelas histórias de Seu Francisco , conduzidos a uma
gostosa conversa, mas ainda nos intrigava o porquê daqueles livros, quando fomos
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DIÁLOGO FREIRIANO
2
No referido período estava acumulada e o prêmio era muito alto.
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DIÁLOGO FREIRIANO
Nos conta seu Francisco que os três que tiverem a oportunidade de estudar
estão bem de vida, uma é advogada em Brasília, outra está muito bem empregada em
Teresina, e os três que não estudaram estão jogados pelos confins do mundo. Ele es-
tava naquele lixão.
Também nos contou que uma vez estava na rua trabalhando no serviço de
limpeza pública e enquanto varria a rua, uma mãe o olha, vira para uma criança e diz:
- está vendo, se você não estudar, vai ficar na rua catando bosta de cachorro igual
aquele homem. Para Seu Francisco foram muito duras aquelas palavras, afirma que
doeu muito, mas mesmo assim ainda não tinha tido oportunidade de aprender a ler e
a escrever.
Figura 15- Foto - Seu Francisco .
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DIÁLOGO FREIRIANO
movimento do braço em uma vez que tentaram lhe roubar e lhe atingiram o braço
com um facão o eu lhe deixou os movimentos limitados naquele membro. Seus olhos
cansados nos olhavam um a um atentamente, mas seus sorrio sempre altivo e sua fala
mansa a nos ensinar. Naquele dia, esse homem foi o professor, um sábio professor.
Nos ensinou que todo livro que achava ele guardava, pois mesmo não sa-
bendo ler, ele acreditava que aquilo era de grande valor e que um dia serviria muito
para alguém. Sua fé na educação era forte, acreditava nela como agente de transfor-
mação, como ferramenta de libertação do homem. Conforme nos fala Paulo Freire
(1987, p, 38) a mera aprendizagem da leitura e da escrita não faz milagres. Aqui se
faz notório a lição de que a leitura não é apenas um mero ato de decodificar palavras,
mas de ler o mundo, fazer a leitura da palavramundo .
Aqui entendemos a contribuição de Freire (1987, p. 39) os analfabetos ou
não, os oprimidos, enquanto classe, não superarão sua situação de explorados a não
ser a transformação radical, revolucionária, da sociedade de classes em que se encon-
tram explorados. Aqui a palavra aparece como ferramenta para libertação, aprender
a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criti-
camente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da
linguagem. (FREIRE, 1987, p. 40).
A grande aprendizagem que Seu Francisco no dá é a de que a palavra hu-
mana é mais que um mero vocábulo é palavração. (FREIRE, 1987, p. 40). Por mais
que o sonho platônico de Seu Francisco seja aprender a ler e a escrever, eu e os alu-
nos que ali estávamos aprendemos com este incrível senhor, uma primorosa lição:
aprendemos a ler o mundo. Aqueles alunos puderam ver que sabiam decodificar pa-
lavras, mas que ainda precisavam fazer a leitura revolucionária, fazer a leituração ,
fazer a leitura da palavramundo .
Aquele senhor havia percebido que tinha sido privado de uma vida digna
por não ter tido acesso ao letramento, os alunos em debate na sala de aula, posterior-
mente ao ocorrido, levantaram uma discussão sobre o assunto e suas concepções mu-
daram, sua vida mudou, fizeram a reflexão da palavra e na palavra. Compartilharam
seu entendimento e sua experiência com os demais alunos que não foram ao lixão.
Mesmo assim também aprenderam.
Uma outra discussão que tivemos depois da visita ao lixão e ao ver as fotos
dentro da sala de aula fomos motivados a pensar que compreender-se como ser hu-
mano é perceber a necessidade de se buscar um paradigma superior e uma nova ética
que compreende: saber cuidar; saber fazer transações ganha-ganha; saber conversar.
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DIÁLOGO FREIRIANO
Assim, conforme Bernardo Toro (2011) o cuidado, hoje, não é uma opção, ou apren-
demos a cuidar ou pereceremos todos .
Considerações finais
Desta experiência incrível trago aqui as palavras do saudoso Paulo Freire
(2017, p. 60) citado pelo atualíssimo professor Walter Kohan (2019, p. 15) em que nos
afirma sempre digo que a única maneira que alguém tem de aplicar, no seu contexto,
alguma das proposições que fiz é exatamente refazer-me, quer dizer, não seguir-me.
Para seguir-me, o fundamental e não seguir-me. Sempre ouvi falar de Paulo Freire,
mas nunca me interessei por buscar uma profundidade, até que um dia em uma for-
mação no Rio de Janeiro no ano de 2017, encontrei-me com Ângela Biz Antunes, e
ela me prometeu que eu ia mudar a respeito de minha concepção sobre Paulo Freire.
No ano passado, tive o privilégio de participar de um projeto maravilhoso,
365 dias com Paulo Freire , era tudo que precisava, pois minha critica era exatamente
na práxis da metodologia Freiriana, mas na Leitura de Cartas a Cristina, pude perce-
ber que tudo que eu não encontrava em Paulo Freire, na verdade estava em Paulo
Freire, não estava era em aplicadores de métodos equivocados que atribuíam a Freire.
Então descobri que tudo o que eu mais acreditava em educação, concordá-
vamos, Freire (um gigante) e eu (um mero aprendiz coadjuvante). Aqui cito nesta
obra maravilhosa denominada 365 dias com Paulo Freire, no centro desta teoria
Freire coloca o sentido de olhar para o ser humano como homem (lat. homine) e não
como coisa (lat. rem), ou como um simples operário, mas olhar para este como pessoa
(hominem), como ser, ser humano. Aqui percebemos a importância que Freire dá ao
ser humano ao escrever e olhar com tanto apreço e carinho para Cristina, que poderia
ser qualquer de nossos estimados alunos em sala de aula, ele olha afetuosamente, en-
sina e também ensina como se ensina. (PINHEIRO, 2019, p. 487).
Portanto posso dizer que Ângela Antunes, estava certa, depois de um con-
tato mais profundo com Paulo Freire descobri que eu já era Freiriano, só não sabia. E
a experiência com meus alunos no lixão me traz a memória de como a educação pre-
cisa ser pensada para diminuir a distância entre a prática e a teoria e manter a coe-
rência que é cuidar da pessoa, que não se resume ao mero ato de transferir conteúdo,
mas criar possibilidades para a sua produção ou sua construção, portanto, é estabele-
cer raízes para uma educação de envolvimento do ser. (PINHEIRO, 2019).Então par-
timos em direção a leitura, leitura da palavramundo e a rememoração de nossa pró-
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DIÁLOGO FREIRIANO
pria história para construção de significado ao que aprendemos, tanto na escola for-
mal, quanto informal, mas que seja uma aprendizagem com significado e que conduza
para libertação.
E por último aqui quero deixar meus sentimentos de admiração ao homem
guerreiro que conhecemos neste trabalho como seu Francisco , a duas semanas atrás
fui informado do seu falecimento, me doeu o coração, pois como educador espero por
meio do ensino mudar o destino de um homem, mas este mesmo sabendo ler a pa-
lavramundo não me esforcei o bastante para ajuda-lo a decifrar as letras e proporci-
oná-lo o prazer de conversar com os livros, não pude lhe ensinar, mas muito aprendi
com esta alma singela e cheia de saberes. Que os seus o receba, e que tenha a merecida
vida digna que o mundo lhe furtou. Descanse em paz Guerreiro. Nós, aqui na educa-
ção, continuamos na luta.
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DIÁLOGO FREIRIANO
Referências
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TORO, B. A coragem de pedir ajuda. TED Amazônia. Youtube, 2011. Disponivel em:
<https://www.youtube.com/watch?v=5nivihNqbXk>. Acesso em: 22 agosto 2019.
111
A VIDA É UMA FESTA!
INTRODUÇÃO
Com a proposta de realizar uma aula diferenciada e lúdica para os alunos de
sextos anos, devido o mês de outubro ser dedicado a comemoração do dia das crian-
ças, os professores da Escola Municipal Professora Terezinha Ferreira Parente lança-
ram o projeto A VIDA É UMA FESTA!
1
Professora efetiva da Rede Municipal de Fortaleza. Doutora em Ciências d aEducação pela UNIDA.
Mestre em Ciências da Educação Pela Universidade Americana. Especialista em Psicopedagogia e
graduada pela UECE.
DIÁLOGO FREIRIANO
Os alunos de sextos anos, são alunos novatos que recebemos de outras esco-
las das adjacências. Esses alunos não conhecem bem o funcionamento de nossa escola
e geralmente, estão sempre em conflitos uns com os outros. Nós professores tentamos
oferecer aulas dinâmicas, diversificadas, diferentes e até mesmo lúdica, desenvol-
vendo projetos de duração mínimas para não comprometer nossos conteúdos.
Começamos esse projeto para mostrar aos alunos o que é o cinema, posto
que alguns alunos não conheciam o espaço físico de uma sala de cinema. Os alunos
das turmas de sextos anos da escola tiveram a oportunidade de assistir ao filme que
deu nome ao projeto, que tinha também como proposta, levá-los a uma reflexão sobre
a importância e o valor da vida.
114
DIÁLOGO FREIRIANO
A finalidade da educação, para ser adequada à natureza humana, deve buscar a ver-
dade em suas dimensões ética. Estética, gnosiológica, lógica e ôntica. O belo, o bom,
o verdadeiro são objetos da busca humana de perfeição e condensam-se no Su-
premo Bem que orienta a conduta de cada um. (SILVA, 2014, p. 75)
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DIÁLOGO FREIRIANO
um grande violeiro, que, guarda um belíssimo violão. Ao tentar resgatar o violão por
algum motivo misterioso, Miguel fica preso entre o mundo dos mortos e o mundo
dos vivos. No decorrer da história Miguel encontra seus antepassados e conhece toda
a história de sua família. O filme se passa em dois mundos, o mundo dos mortos onde
Miguel passa uma parte da história e o mundo dos vivos.
A época em que o filme se passa representa o Dia dos Mortos um dia bas-
tante comemorado naquele vilarejo, onde ocorre uma grande festa nesse dia. A festa
se dá pelas lembranças que as pessoas têm de seus antepassados. O filme aborda o
amor pela família.
A ideia tinha também como propósito oferecer uma manhã de interação en-
tre os seguimentos professores e alunos, possibilitando uma manhã comemorativa ao
dia das crianças, pois nossos alunos do sexto ano são crianças entre 10 e 12 anos de
idade.
Nossa escola é uma escola de periferia da cidade de Fortaleza que acolhe alu-
nos do sexto ao nono ano. Embora ainda conte com uma creche que fica bem ao lado,
mas o trabalho é diferenciado, pois a escola e a creche contam com espaços diferentes
e discentes com idades muito distanciadas, daí os trabalhos serem totalmente indivi-
dualizados em seus ambientes próprios.
116
DIÁLOGO FREIRIANO
Cercado por múltiplas atrações eletrônicas ou sociais que cada instante suscita sua
motivação, é até certo ponto aceitável que uma criança ou adolescente não vá para
a escola estimulada pelo interesse, motivada pelo fascínio de aprender. Então, assim,
é responsabilidade do professor despertar interesse e participação, motivação e até
mesmo entusiasmo dos alunos. (ANTUNES, 2012, p. 43)
A predisposição para aprender é outro dos temas abordado por esse autor. Ao dis-
cutir as predisposições, é comum localizar os fatores culturais, motivacionais e pes-
soais que influem no desejo de aprender e de tentar solucionar problemas, como é
o caso da relação entre professor e aluno. A maneira como é estabelecida esta relação
repercute na natureza da aprendizagem, no grau em que o estudante desenvolve
uma habilidade independente. As relações entre aquele que ensina e aquele que
aprende refletem sempre na qualidade da aprendizagem. (PORTILHO, 2009, p. 49)
117
DIÁLOGO FREIRIANO
onde ocorreu uma manhã de atividades pedagógicas e ao mesmo tempo lúdica, a es-
cola tem um histórico de sempre abrir aos sábados, geralmente aos sábados a escola
tem profissionais desenvolvendo atividades importantes para nossos alunos. Alguns
projetos são permanentes durante o ano letivo, alguns são projetos artísticos e espor-
tivos que a comunidade desenvolve constantemente, a comunidade tem uma vida cul-
tural bastante ativa. Algo bem visível e estimulante nesse projeto foi a aproximação e
a colaboração entre professores e alunos.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
O Projeto: A Vida é uma Festa! Iniciou com a pesquisa sobre os verdadeiros
valores da vida. Indagações feitas ao longo das aulas de Artes, onde os alunos conse-
guiram experimentar situações de reflexão e entendimento a respeito de coisas im-
portantes para sua formação.
Assim, o ser humano não só vive de racionalidade e de técnica; ele desgasta-se, en-
trega-se, dedica-se as danças, transes mitos magias, ritos; crê nas virtudes do sacrifí-
cio, viveu frequentemente para preparar sua outra vida além da morte. Por toda
parte, uma atividade técnica, prática, intelectual testemunha a inteligência empí-
rico-racional; em toda parte, festas, cerimônias, cultos com suas possessões, exalta-
ções, desperdícios, consumismos , testemunham o Homo Ludens, poeticus, con-
sumans, imaginarus, demens. (MORIN, 2011, p. 52-53)
118
DIÁLOGO FREIRIANO
Talvez, por meio de uma ação interdisciplinar seja possível a análise de ações vio-
lentas e inconsequentes que sejam análogas no reino da História e da Biologia, em
diferentes espaços territoriais que a Geografia apontará e até mesmo em textos sig-
nificativos cuja Literatura permitirá resgatar. O importante é que o aluno agressor
possa reconstituir-se afetivamente não para descobrir que errou e, por isso, expiar a
culpa, mas para identificar que em sua rota de desenvolvimento omitiu-se de ações
solidárias ou envolveu-se em procedimentos importantes para estruturar sua per-
sonalidade. (ANTUNES, 2012, p. 30)
Parece evidente que a opinião que temos de certa pessoa nos faz esperar dela deter-
minados comportamentos, e nos permite descartar a possibilidade de que tenha ou-
tros, Transferindo este princípio para a situação escolar, podemos afirmar que alu-
nos e professores não só se vêem de determinada forma mas esperam dos outros que
se comportem em um certo sentido, de acordo com essa forma de ver. Este é o cha-
mado fenômeno das expectativas, que foi profundamente estudado no que se refere
às que os professores têm de seus alunos. (SOLÉ, 2001, p. 43)
119
DIÁLOGO FREIRIANO
colegas de sala, ou na hora do recreio com alunos de outras turmas. Além das ativida-
des na sala de aula os alunos sabiam que teria uma culminância do projeto no sábado
escolhido por nós. Esse dia seria especial porque eles iriam comemorar o dia das cri-
anças e seria um dia diferente!
E foi exatamente nesse dia que os alunos tiveram a sessão de cinema na es-
cola e ganharam algumas lembranças confeccionadas pelos professores patrocinado-
res do projeto, muitos professores participaram colaborando com alguma quantia em
dinheiro ou doando alguma guloseima.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto: A Vida é uma Festa! Teve seu ponto de culminância com uma
linda festa comemorativa ao dia das crianças. A festa foi no pátio interno da escola
com cerca de 140 alunos dos sextos anos. Foi uma manhã com muita alegria. Dispo-
mos cadeiras no pátio para as crianças assistirem o filme, em seguida fizemos uma
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DIÁLOGO FREIRIANO
os dias e o humano são aquelas pessoas que estaremos compartilhando nossas ale-
grias, nossos conhecimentos e nossos sonhos de uma sociedade mais justa e fraterna
para todos. Afinal, o melhor lugar do mundo é a escola.
122
DIÁLOGO FREIRIANO
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. (In)disciplina e (des)motivação. São Paulo, Editora Paulus, 2012.
BERKENBROCK-ROSITO, Margaréte May. HAAS, Celia May. Interdisciplinari-
dade e transdisciplinaridade: políticas e práticas de formação de professores. Rio de
Janeiro, Editora Wak, 2014.
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século XXI. Madri, Editora Moderna, 2004.
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NEVES, Libéria Rodrigues. SANTIAGO, Ana Lydia B. O. uso dos jogos teatrais na
educação possibilidades diante do fracasso escolar. São Paulo, EDITORA
PAPIRUS. 2ª edição, 2010
PORTILHO, Evelise. Como se aprende. Rio de Janeiro, Editora WAK, 2009.
123
CONVERSANDO COM PAULO FREIRE:
AS ANGÚSTIAS DE SER EDUCADORA NO SÉCULO XXI.
Não é fácil conversar com Freire, não por que ele não está entre nós na ma-
téria, mesmo por que, tenho certeza que está entre nós através de seus escritos, que
foram muitos. Não é fácil, por que ele sempre tem uma resposta pronta para todas
nossas perguntas, Freire nos responde e nos faz repensar nossas práticas constante-
mente. Quando li Freire pela primeira vez, não entendi sua profundidade, senti a ne-
cessidade de reencontrá-lo. Queria me deliciar com suas sabias palavras, mas, tinha
medo de não conseguir fazer sozinha novamente. Por isso, resolvi reencontrá-lo nessa
entrevista, que foi fruto de um trabalho de final de disciplina para o doutorado, inti-
tulada: Paulo Freire em tempos sombrios/Pedagogia da Esperança.
Nossos encontros com esse sábio, em um curto semestre e com tantos con-
tratempos na minha vida, mas, eram encontros necessários. Necessários para me re-
encontrar como educadora. Realizei jornadas pelo instituto Paulo Freire, mas preci-
sava de uma troca cara a cara. Fui à busca...
Seu nome é Paulo Reglus Neves Freire, nascido dia 19 de setembro de 1921,
Pernambucano, faleceu aos 75 anos no dia 02 de Maio de 1997, educador e filosofo
Brasileiro, reconhecido mundialmente e Patrono da Educação Brasileira, embora al-
guns poucos loucos queiram negar sua importância, autor de diversas obras, tem
muito a nos ensinar sobre educação. Foi um homem de seu tempo e também muito
além de seu tempo, por isso, precisava de sua ajuda em algumas questões. E fui entre-
vistá-lo.
Hoje percebo que fui educada em uma com nenhuma
reflexão sobre os conteúdos depositados em mim, durante a escola nunca questionei
e na faculdade comecei a questionar alguns conteúdos e suas contradições. Muitas das
vezes tive podado meu poder criador e no momento atual, sinto-me pouco criativa e
insegura quando inquirida ou estimulada a fazer uma critica. Não sei se tenho
1
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas
Populares, UFRRJ. Mestre pelo mesmo programa. Professora de Educação Física na Prefeitura Municipal
de Macaé e pela Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro.
DIÁLOGO FREIRIANO
da liberdade2 que tenho hoje, mas, tenho medo de estar fazendo com meus alunos o
que fizeram comigo.
Paulo Freire: Quanto mais se lhe imponha passividade, tanto mais ingenui-
dade, em lugar de transformar, tendem a adaptar-se ao mundo, à realidade parciali-
dade nos depósitos recebidos. Na medida em que esta visão anula o poder
criador dos educandos ou o minimiza, estimulando sua ingenuidade e não sua criti-
cidade, satisfaz aos interesses dos opressores: para eles, o fundamental não é o desnu-
damento do mundo, a sua transformação. O seu e não humanismo,
está em preservar a situação de que são beneficiários e que lhes possibilita a manuten-
ção de sua falsa generosidade... Por isto mesmo é que reagem, até instintivamente,
contra qualquer tentativa de uma educação estimulante do pensar autêntico, que não
se deixa emaranhar pelas visões parciais da realidade, buscando sempre os nexos que
prendem um ponto a outro, ou um problema a outro3.
Joanna: Sim Freire, compreendo o que diz, precisamos ser seres para a trans-
formação, precisamos ser mais críticos que os demais, por sermos educadores e influ-
enciarmos as instituições através de nossas práticas educativas, e mostrar que também
somos educados enquanto educamos, por sermos sujeitos desse processo de educação
e crescermos através dele.
Freire: Claro, pois, maneira, o educador já não é o que apenas educa,
mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser edu-
cado, também educa.4 (...) a educação sozinha não transforma a sociedade, sem
ela tampouco a sociedade muda5
Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da
equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o dife-
rente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa
opção. Encarná-la, diminuindo assim a distância entre o que fizemos e o que fazemos.
Desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explodindo os
outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estarei ajudando meus filhos a
ser sérios, justos e amorosos da vida e dos outros6.
2
Pedagogia do Oprimido, 2018. 66. ed. p.31
3
Pedagogia do Oprimido, 2018. 66. ed. p 83-84
4
Ob. cit. p.95-96
5
Pedagogia da Indignação: Cartas pedagógicas e outros escritos. Organização e participação de Ana Maria
Araújo Freire. 2014. p. 77
6
Ob. cit. p. 77. Terceira Carta: Do assassinato de Galdino Jesus dos Santos índio Pataxó. Nessa Carta
Paulo Freire
126
DIÁLOGO FREIRIANO
7
Trecho em Pedagogia da Indignação: Cartas pedagógicas e outros escritos. Organização e participação
de Ana Maria Araújo Freire. 2014, p. 53
8
Idem. p. 54.
127
DIÁLOGO FREIRIANO
fortes para acumular capital em face da pobreza e às vezes da miséria das maiorias,
mas de uma democracia de que o Estado, recusando posições licenciosas ou autoritá-
rias e respeitando realmente a liberdade dos cidadãos, não abdica de seu papel regu-
lador das relações sociais9.
Joanna: Tivemos e ainda estamos tendo muitos embates dentro de nossas
escolas, com nossos colegas de trabalho e também com alunos, devido aos acalorados
debates políticos. O que o senhor diria da situação que vivemos no momento eleitoral
e que se estende ao pós-eleitoral?
Freire: Não posso aceitar como tática do bom combate a política do quanto
pior melhor, mas não posso também aceitar, impassível, a política assistencialista que,
anestesiando a consciência oprimida, prorroga, sine die10, a necessária mudança da
sociedade. Não posso proibir que os oprimidos com quem trabalho em uma favela
votem em candidato reacionário, mas tenho o dever de adverti-los do erro que come-
tem. Da contradição em que se emaranham. Votar no político reacionário é ajudar a
preservação do status quo. Como posso votar, se sou progressista e coerente como
minha opção, num candidato em cujo discurso, faiscante de desamor, anuncia seus
projetos racistas11?
Joanna: também pensamos assim Freire, mas, às vezes esquecemos as urgên-
cias dessas pessoas. Muitas votam pelo imediato. Realmente, votam no menos pior,
pelo que está fazendo no momento para a comunidade, no que prometem ou no que
elas querem ouvir.
Freire: é que o poder dos opressores, quando se pretende amenizar ante a
debilidade dos oprimidos, não apenas quase sempre se expressa em falsa generosi-
dade, como jamais a ultrapassa. Os opressores, falsamente generosos, tem necessi-
dade, para que a sua continue tendo oportunidade de realizar-se, da
permanência da injustiça. A social injusta é a fonte geradora, permanente,
desta que se nutre da morte, do desalento e da miséria.
Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o
significado terrível de uma sociedade opressora? Quem melhor que eles, para ir com-
preendendo a necessidade de libertação? Libertação a que não chegarão por acaso,
mas pela práxis de sua busca; pelo conhecimento e reconhecimento da necessidade de
lutar por ela. Luta que, pela finalidade que lhe derem os oprimidos, será um ato de
9
Trecho em Pedagogia da Indignação: Cartas pedagógicas e outros escritos. Organização e participação
de Ana Maria Araújo Freire. 2014.p. 54.
10
Do latim, sem dia, sem data marcada.
11
Idem, p. 93.
128
DIÁLOGO FREIRIANO
amor, com o qual se oporão ao desamor contido na violência dos opressores, até
mesmo quando esta se revista da falsa generosidade referida12.
Joanna: Em Pedagogia da Esperança o senhor relata pesquisa que fez, inclu-
sive diz que esta não era nada sofisticada, que propunha perguntas a pais e mães em
torno de suas relações com filhas e filhos. Relata o contraste dos castigos físicos que os
pais da área urbana de recife na Zona da Mata impunham aos seus filhos, e uma frase
que me marcou muito foi: duro é que faz gente dura, capaz de enfrentar a
crueza da vida. Pancada é que faz homem e a quase inexistência de castigos
por parte dos pais das áreas pesqueiras, onde o gosto pela liberdade era estimulado.
Poderia falar um pouco sobre essa relação autoridade e liberdade vinda de casa e os
reflexos na escola para nós?
Freire: Não sei mesmo até que ponto poderíamos considerar aquele com-
portamento licencioso, faltoso de limites ou se, pelo contrário, os pescadores, ao en-
fatizar a liberdade, condicionados por seu próprio contexto cultural, não estariam
contando com a natureza mesma, com o mundo, com o mar... Era como se, ameni-
zando ou diminuindo o seu dever de educadores de seus filhos, pais e mães o compar-
tilhassem com o mar, com o mundo mesmo, aos quais caberia através da prática de
seus filhos estabelecer-lhes os limites a seu quefazer. Me lembro de que, à época da
pesquisa, indagamos sobre a razão por que vários alunos vinham faltando tão fre-
quentemente às aulas. Alunos e pais, separadamente, respondiam. Os alunos,
somos Os pais, são livres. Um dia Os castigos nas demais
áreas as crianças amarradas em um tronco de árvore (...), a surrá-las com correia de
couro. Este último era castigo preponderante em uma cidade da zona da Mata, famosa
por sua fabricação de calçados.
Uma das minhas preocupações, na época, tão valida ontem quanto hoje, era
com as consequências políticas que um tal tipo de relação pais-filhos, alongando-se
depois nas relações professores-alunos, teria com vistas ao processo de aprendizagem
de nossa incipiente democracia. Era como se família e escola, completamente subju-
gadas ao contexto maior da sociedade global, nada pudesse fazer a não ser reproduzir
a ideologia autoritária13.
Joanna: então, como proceder?
12
Pedagogia do Oprimido, 2018, 66ed, p. 41 a 43.
13
Pedagogia da Esperança. p. 29 a 31.
129
DIÁLOGO FREIRIANO
14
Idem, p. 31.
15
Pedagogia da Indignação: Cartas pedagógicas e outros escritos. Organização e participação de Ana Maria
Araújo Freire. 2014, p. 37-38.
130
DIÁLOGO FREIRIANO
realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito de sua própria
educação. Não pode ser objeto dela. Por isso, ninguém educa ninguém16.
A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados.
Estamos todos nos educandos. Existem graus de educação, mas estes não são absolu-
tos. A sabedoria parte da ignorância. Se num grupo de camponeses conversarmos so-
bre colheita, devemos ficar atentos para a possibilidade de eles saberem muito mais
do que nós. Se eles sabem selar um cavalo e sabem quando vai chover, se sabem se-
mear, etc., não podem ser ignorantes, o que lhes falta é um saber sistematizado. Por
isso não podemos nos colocar na posição superior que ensina um grupo de ignoran-
tes17.
Com base no inacabamento, nasce o problema da esperança e da desespe-
rança. Podemos fazer dele o objeto de nossa reflexão. Eu espero na medida em que
começo a busca, pois não seria possível buscar sem esperança. Uma educação sem
esperança não é educação.
Joanna: Professor Paulo Freire, só tenho a agradecer suas palavras e o quanto
elas me ajudam a refletir questões na nossa educação. Sabemos que existem perguntas
que nunca terão respostas e que na educação não existe formulas mágicas ou receitas
de bolo, sabemos que o senhor viveu em um tempo em que discutia-se pouco as ques-
tões raciais e também as questões de gênero, por isso sabemos das limitações de deba-
ter esses temas tão caros à educação. No entanto, foi um prazer poder beber de sua
fonte inspiradora e poder te parafrasear será sempre um grande prazer. Tenho certeza
que recorrer a ti nos momentos angustiosos da educação será sempre um refresco di-
ante das pancadas diárias que encontramos no chão da escola, será sempre uma fonte
de esperança. Pois, com suas palavras aprendi a amar o diálogo e a nutrir-me dele e em
face ao novo, não repelir o velho por ser velho, nem aceitar o novo por ser novo, mas
aceitá-los na medida em que me forem válidos18. Aprendi a acreditar que a educação
será sempre possível, enquanto houver a Esperança.
16
Educação e Mudança. 39ªed. p. 33-34.
17
Idem p. 35.
18
Parafraseando Freire. Educação e Mudança. 39ª ed. p. 54.
131
ENSINAR EXIGE RESPEITO À AUTONOMIA
DO SER EDUCANDO
1
Assistente Social graduada pela Unileão. Especialista em Seguridade Social pela FAK. Crato CE.
2
Enfermeira Residente em Saúde Coletiva pela COREMU-PE. Juazeiro do Norte CE.
3
Enfermeira graduada pela Unileão. Especialista em Saúde pública e da Família pela FAK. Crato - CE
DIÁLOGO FREIRIANO
134
CAFÉ COM PAULO FREIRE
PARA PENSAR E MUDAR O MUNDO:
A EXPERIÊNCIA DO NÚCLEO VARGINHA/MG
Priscilla Bibiano 1
INVERNO DE 2018
Uma coceira nas lembranças de Liana2, faz memória a um grupo que ela ha-
via participado, chamado Café com Morin. Em uma conversa com sua grande amiga,
Ana Felíccia3, a memória do patrono da educação brasileira - Paulo Freire - une o
vivido à utopia. Liana e Ana, lançam em suas redes sociais um sonho: o sonho de ver
o legado de Paulo Freire sendo pensado e repensado. Neste processo de reinventar
Freire, nasce uma esperança, um inédito viável, chamado Café com Paulo Freire, que
tem por objetivo principal pensar e transformar o mundo. Para Ana Felíccia, este é
um dos modos de resistir aos processos políticos de ataque às lutas populares e crimi-
nalização dos movimentos sociais e, em especial, à defesa legítima e imprescindível da
imagem e trajetória de Paulo Freire.
Liana e Ana, "mães biológicas" da ideia, ao experienciarem a boniteza do
fruto que estava sendo gestado em seu coração, como todo bom(a) freiriano(a), não
conseguiram ficar com o tesouro só para elas. Ao ser compartilhada, a proposta foi
sendo amada por tantos outros corações freirianos e, assim - desde julho/2018, o Café
com Paulo Freire vem cooptando assento em outros colos amorosos.
1
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Lavras/MG, pedagoga, autora do livro Educação po-
pular freiriana: por uma pedagogia da humanização, curadora local do Café com Paulo Freire.
2
Doutora em Educação. Professora da Rede Municipal de Porto Alegre. Co-criadora do Café com Paulo
Freire
3
Doutora em Educação. Professora Estadual e da Rede Municipal de Porto Alegre. Co-criadora do Café
com Paulo Freire
DIÁLOGO FREIRIANO
136
DIÁLOGO FREIRIANO
Como dito, foi o voar - ou melhor, o não voar - que nos possibilitou entrar
nesta teia. Ao ver a publicação de Angela, ainda no mesmo dia (23h13min), meu co-
ração acelerou. Em tempos sombrios, de uma política suja e desumana, a possibilidade
de sonhar novamente acontece e mobiliza. Fiquei "maluca" de vontade de participar.
Ao olhar o local, o coração dói: Porto Alegre/RS. Impossível voar até lá todo mês. Mas
sou freiriana, trago em mim a vocação ontológica de ser mais, de ser inconformada,
de ir além do que é dado. Dormi pensando no Café; na manhã do dia seguinte, acordei
pensando novamente. A coceira nas ideias me atacou e não resisti. Se não posso voar
até o Café, por que não pedir que ele voe até mim? Foi assim, que o desejo individual
de participar virou coletivo: por que não pedir que ele voe até nós?? Afinal, café sugere
queijo, queijo sugere Minas Gerais...
Um tanto quanto receosa, deixei a coragem e ousadia - outras características freiria-
nas, falarem mais alto. Com esperança, entrei em contato com Liana e indaguei da
possibilidade de trazer a ideia para nosso município. Três dias depois, ela me retorna
dizendo que era possível formar grupo em qualquer lugar, desde que trabalhássemos
os mesmos temas. Foi assim que, no mesmo dia, comecei a convidar pessoas. Em duas
semanas tínhamos 34 pessoas se dizendo interessadas. Agora era fazer acontecer.
137
DIÁLOGO FREIRIANO
Desde então, este grupo vem encontrando-se nas ideias e ideais, seja física
ou virtualmente.
138
DIÁLOGO FREIRIANO
Era inverno o contexto político do país exigia, ainda mais, mobilização po-
pular frente aos retrocessos e atrocidades que vinham se legitimando mas, uma se-
mente havia sido plantada... agora era regar, adubar, cuidar, para vê-la florescer. Mais
do que nunca, o Café com Paulo Freire constituía-se como inédito viável.
ESTRUTURAÇÃO
Mas, o que estudar neste contexto? O que fazer? Como fazer? Onde fazer?
Com quem fazer? A proposta exige organização e rigorosidade metódica, a fim de não
cair em mero verbalismo ou ativismo; como diz Freire (1996, p.24): "A reflexão crítica
sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria/prática sem a qual a teoria
pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo".
Para tanto, foi estabelecido coletivamente que os encontros aconteceriam da
seguinte maneira:
139
DIÁLOGO FREIRIANO
b) Periodicidade: mensal
Embora o desejo fosse (e ainda é) de reunir quinzenalmente, a escassez do
tempo cronológico e agendas de cada participante, são dificultadores. Então, o que
tem sido feito, é buscar driblar essa escassez do tempo do relógio (tempo contado
cronos) contando com a ajuda do tempo vivido (tempo sentido kairos). Ou seja, o
aproveitamento do tempo torna-se uma exigência e, ao mesmo tempo, uma metodo-
logia. Todas as atividades e momentos são remetidos ao estudo. Assim vamos, tam-
bém, além de estudar teoria, vivê-la em cada encontro.
Exemplo disto são as categorias freirianas amorosidade, diálogo, justa ira.
Mesmo que elas não sejam a ideia força do mês, elas passam a estar presentes no jeito
de ser e estar de cada uma. Por exemplo: temos uma colega que perdeu o esposo, que
era quem a levava todo mês, visto morar em outra cidade. Com seu falecimento, essa
colega ficou impedida de estar conosco. Em um dos encontros, organizamo-nos em
caronas solidárias e fizemos o encontro na casa dela, gastamos mais tempo contado...
e multiplicamos em mil o tempo sentido. Vivemos a amorosidade, o respeito, reuma-
nizamo-nos um pouco mais ao sermos empáticas com a dor do outro e, isto, é ex-
tremamente freiriano. De que adianta querer saber como aplicar a teoria freiriana se
ela não for transportada para o dia a dia? A vivência das aprendizagens precisa ser
realidade.
Em alguns meses não foi possível realizar o encontro, portanto, fizemos dois
em outro mês. Ao final do primeiro ciclo, que estamos considerando de agosto/2018
a dezembro/2019, teremos realizado encontro todos os meses, exceto mês de férias
escolares.
c) Duração: 2h30min
Os encontros têm cerca de 2h30min de duração, sendo dividido este tempo
em acolhida, estudo, encaminhamentos e café (lanche).
140
DIÁLOGO FREIRIANO
d) Local: itinerante
O primeiro encontro foi realizado em uma escola social que trabalha na pers-
pectiva da educação popular. Escolhida como ponto de partida pela proposta peda-
gógica, coerente ao grupo, e por estar em área central; o que facilitaria o trajeto de
todxs.
De comum acordo, ficou estabelecido que a proposta de itinerância era uma
ideia interessante. Para além de contemplar a facilidade de acesso de todos e todas,
oportunizaria o conhecimento de novos espaços que trabalham na garantia de direi-
tos. Assim foi feito, encontro em uma escola social, depois em uma ong, depois num
centro municipal de educação infantil.
Com a reformulação do número de participantes, ficou decidido que os en-
contros passariam a ser nas casas das integrantes. O que gerou mais entrosamento
ainda... o acolher/ir em casa trouxe a possibilidade de conhecer mais a fundo quem
Para 2020, temos uma proposta de realizar o Café em espaços públicos, ge-
rando visibilidade e curiosidade acerca da proposta.
Assim, em lugar de escola, que nos parece um conceito, entre nós, demasiado car-
regado de passividade, em face de nossa própria formação (mesmo quando se lhe
dá o atributo de ativa), contradizendo a dinâmica fase de transição, lançamos o Cír-
culo de Cultura. Em lugar de
ordenador de Debates. Em lugar de aula discursiva, o diálogo. Em lugar de aluno,
alienados, programação c
dizado (FREIRE, 1978, p. 102).
141
DIÁLOGO FREIRIANO
4
Arte da caneca: Aline Daka. Aline é artista visual e educadora. Começou a "quadrinhar" fazendo fanzines
no movimento anarcopunk dos anos 90. Logo depois se formou em artes visuais pela Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul e complementou seus estudos na Faculdade de Belas Artes da Universidade
142
DIÁLOGO FREIRIANO
Momento de comemorar
zer à memória. Commemorare também significa com-memorare, isto é, recordar
com, recordar junto com o outro. Festa, alegria, comunhão...
143
DIÁLOGO FREIRIANO
6º 02/04/2019: Conscientização
7º 30/04/2019: Pensar certo e Saber de experiência feito
8º 28/05/2019: Resistência
9º 09/07/2019: Paulo Freire: vida e obra
10º 10/09/2019: Inéditos viáveis
11º 24/09/2019: Manifesto em Defesa ao Legado de Freire
12º 20/10/2019: Retrospectiva geral
13º 26/11/2019: Paulo Freire: presente até na ausência
14º 30/11/2019: Confraternização
OS ENCONTROS
Os quadros a seguir apresentam de modo sintético os encontros do grupo,
com a finalidade de convidar a leitor(a) a se debruçar sobre esta trajetória, a entrar
nela por meio de um olhar aguçado e curioso nas fotos; a imaginar as místicas; a bus-
car construir uma linha do tempo com as ideias força; a bagunçar essa mesma linha
unindo um tema a outro que não esteja logo em seguida; a pensar nas datas e aconte-
cimentos em nosso país... ouse estar conosco, sentir, entender, querer saber mais...
Topa?
1º ENCONTRO
DATA 21/08/2018
IDEIA FORÇA Apresentações
MÍSTICA Dinâmica de apresentação reversa
FOTOS
144
DIÁLOGO FREIRIANO
2º ENCONTRO
DATA 25/09/2018
IDEIA FORÇA Diálogo
MÍSTICA Conto africano Ubuntu
E que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com B. [...] Nutre-se do amor,
da humildade, da esperança, da fé, da confiança. [...] Só aí há comunicação. O
diálogo é, portanto, o indispensável caminho (Jaspers), não somente nas ques-
tões vitais para a nossa ordenação política, mas em todos os sentidos do nosso
ser (FREIRE, 1978, p. 115).
SOBRE Somente quem escuta paciente e, criticamente, o outro, fala com ele sem preci-
sar se impor. Assim, para Freire (1996, p.132), no processo da fala e escuta, a
disciplina do silêncio, a ser assumido a seu tempo pelos sujeitos que falam e
3º ENCONTRO
DATA 23/10/2018
IDEIA FORÇA Esperança
MÍSTICA Bonecas Abayomis
mas por imperativo existencial e his-
da Es-
perança.
SOBRE
ao abrir o livro Pedagogia da Indignação, refere-se ao apenas esperar: tempo
perdido, para ele, o tempo de espera precisa ser um tempo de quefazer. Espe-
rançar é não desistir.
FOTOS
145
DIÁLOGO FREIRIANO
4º ENCONTRO
DATA 22/11/2018
IDEIA FORÇA Indignação
MÍSTICA Energia do Círculo e Mãos dadas
Tenho o direito de ter raiva, de manifestá-la, de tê-la como motivação para minha briga
tal qual tenho o direito de amar, de expressar meu amor ao mundo, de tê-lo como mo-
tivação de minha briga porque, histórico, vivo a História como tempo de possibilidade
e não de determinação. Se a realidade fosse assim porque estivesse dito que assim teria
de ser não haveria sequer por que ter raiva. Meu direito à raiva pressupõe que, na ex-
periência histórica da qual participo, o amanhã não é algo pré-datado, mas um desafio,
um problema. A minha raiva, minha justa ira, se funda na minha revolta em face da
por isso, cruzar os braços fatalistamente diante da miséria, esvaziando, desta maneira,
5º ENCONTRO
DATA 11/12/2018
IDEIA FORÇA Amorosidade e Alegria
MÍSTICA Lançamento de Livro Freiriano
quer que estejam estes, oprimidos, o ato de amor está em comprometer-se com sua
de liberdade, não pode ser pretexto para a manipulação, senão gerador de outros atos
SOBRE
É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem
mil vezes antes de uma desistência. É impossível ensinar sem a capacidade forjada, in-
ventada, bem cuidada de amar. [...] É preciso ousar, no sentido pleno desta palavra,
para falar em amor sem temer ser chamado de piegas, de meloso, de a-científico, senão
de anticientífico. FREIRE (1994, p. 10)
146
DIÁLOGO FREIRIANO
FOTOS
6º ENCONTRO
DATA 02/04/2019
IDEIA FORÇA Conscientização
MÍSTICA Relatos de experiência
Para Freire (1978), existem graus de compreensão da realidade:
Consciência Intransitiva: condição do ser humano que está imerso em sua
realidade e que, ainda, não tem a capacidade de objetivá-la, de materializá-la,
restringindo suas preocupações no vital biológico, na sobrevivência.
Consciência Transitivo-ingênua: ainda se move, nos limites do confor-
mismo. Embora já perceba a contradição social, é um tipo de consciência de-
pendente que transfere para outros a responsabilidade na solução de seus pro-
SOBRE blemas. Caracteriza-se pela interpretação simplificadora dos problemas e pelo
imaginar que o passado foi melhor que o presente. Ao conduzir-se apenas pela
emoção, tem dificuldades para o diálogo, para a argumentação racional
mostrando-se, muitas vezes, sectária e fanatista.
Consciência Transitivo-crítica: caracteriza-se pelo pensar autônomo, pela
profundidade com que interpreta os problemas e pelo engajamento sociopo-
lítico. É democrática, interpreta, racionalmente, a realidade e é dialógica, por-
tanto, receptiva.
FOTOS
147
DIÁLOGO FREIRIANO
7º ENCONTRO
DATA 30/04/2019
IDEIA FORÇA Pensar certo e Saber de experiência feito
MÍSTICA Ver, ouvir e sentir Freire
Chama-se a esse pensar certo de consciência revolucionária, ou de consciência de
classe; é indispensável à revolução, que não se faz sem ele. (FREIRE, 2015b, p. 84)
[...] não posso, de maneira alguma, nas minhas relações político-pedagógicas com
os grupos populares, desconsiderar seus saberes de experiência feito. Sua explica-
ção do mundo de que faz parte a sua própria compreensão de sua presença no
mundo. E isso tudo vem explicitado ou sugerido ou escondido no que chamo de
SOBRE
leitura de mundo que precede sempre a leitura da palavra. (FREIRE, 2000, p. 38)
Partir do saber de experiência feito para superá-lo não é ficar nele. (FREIRE, 2015a,
p. 37)
É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não
pode ser negado ou acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao
velho não é apenas o cronológico. (FREIRE, 1996, p. 35)
FOTOS
8º ENCONTRO
DATA 28/05/2019
IDEIA FORÇA Resistência
MÍSTICA Poder da Mandala
148
DIÁLOGO FREIRIANO
FOTOS
9º ENCONTRO
DATA 09/07/2019
IDEIA FORÇA Paulo Freire: vida e obra
MÍSTICA Cordéis e Música
FOTOS
10º ENCONTRO
DATA 10/09/2019
IDEIA FORÇA Inéditos viáveis
MÍSTICA Foi-se a Mariane, ficam os Girassóis e seu amor por eles
O "inédito-viável" é, na realidade, uma coisa inédita, ainda não claramente conhecida
e vivida, mas sonhada. (NITA FREIRE citada por FREIRE, 2015a, p. 279).
Para Ana Maria Freire, o inédito-viável é uma palavra epistemologicamente constru-
SOBRE ída, para expressar, com enorme carga afetiva, cognitiva, política, ética e ontológica, os
projetos e os atos das possibilidades humanas (UTOPIA e democracia: os inéditos-vi-
áveis na educação cidadã. In: Azevedo, José Clóvis et al. (Org.). Utopia e democracia
na educação cidadã. Porto Alegre: SMED/UFRGS, 2000).
149
DIÁLOGO FREIRIANO
FOTOS
11º ENCONTRO
DATA 24/09/2019
IDEIA FORÇA Manifesto em Defesa ao Legado de Freire
MÍSTICA Ir ao encontro
ideológica ao pensamento crítico e, em particular, às
ideias do educador Paulo Freire, não apenas no Brasil, como também em outros
países da América Latina e do Caribe, o Conselho de Educação Popular da Amé-
rica Latina e do Caribe (CEAAL), em aliança com diversos movimentos, orga-
nizações e entidades sociais, manifesta-se pela construção da Campanha Latino-
SOBRE Americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire.
Justifica esta campanha a necessidade de defesa do legado de Paulo Freire e o
enfrentamento do contexto adverso em que vivemos em nosso continente, mar-
cado pelo aprofundamento das desigualdades sociais e dos processos históricos
FOTOS
12º ENCONTRO
DATA 20/10/2019
IDEIA FORÇA Retrospectiva geral
Vídeo com fotos dos encontros e músicas como referência para a construção
MÍSTICA
de um mapeamento geral
150
DIÁLOGO FREIRIANO
FOTOS
13º ENCONTRO
DATA 26/11/2019
IDEIA FORÇA Paulo Freire: presente até na ausência
MÍSTICA Onde está Paulo Freire?
FOTOS
14º ENCONTRO
DATA 30/11/2019
IDEIA FORÇA Confraternização
MÍSTICA Cozinhar junto
151
DIÁLOGO FREIRIANO
FOTOS
Há um ano fui convidada pela linda Priscilla Bibiano a tomar um café diferente. A
princípio, não sabia direito o que era. Quando contei a algumas pessoas, fui muito
criticada por querer estudar Paulo Freire, mas me arrisquei nessa experiência e con-
fesso: não me arrependo! Está sendo ótimo, conheci pessoas maravilhosas, fiz novas
amizades e, o mais importante, confirmei minha missão de fazer e querer um
mundo melhor. Que venham os próximos Cafés e que tenhamos mais pessoas que-
rendo defender o legado de Paulo Freire! (Daniele Fernandes)
São tantas lembranças e acontecimentos nesse período do "Café com Paulo Freire"
que fica difícil escolher o que escrever. Em nossas reuniões, o que mais me marcou
foi o tema gerador "Diálogo". Nele, pudemos entender a fundo que é possível com-
152
DIÁLOGO FREIRIANO
preender o outro, a partir do dialogar. Nesse período, tivemos uma colega que fale-
ceu, infelizmente. Em um desses encontros, lembro perfeitamente suas palavras
"Hoje, não julgo mais ninguém". Palavras que muito me marcaram e trouxeram pro-
funda reflexão sobre nosso cotidiano. Cada um tem seu tempo, suas motivações, e
devemos nos colocar no lugar do outro. Uma reflexão que levarei comigo como
eterna aprendizagem. Assim é nosso "Café com Paulo Freire": muita emoção e
aprendizagens. (Inês Mesquita)
Fazer parte destes encontros tem sido maravilhoso, aprendi tantas coisas. Paulo
Freire, professor por excelência; com ele aprendi que ser professor não é apenas en-
sinar, mas aprender junto, compreender. Uma benção ter a Priscilla como media-
dora dos encontros! Uma freiriana que fez a diferença em minha vida e em minha
visão de educadora. Momentos únicos e especiais, que jamais sairão de meus pen-
samentos, aprendizagem para a vida. (Joice Ferreira)
Quando houve um convite para participar do café Paulo Freire, não hesitei, fui logo
aceitando, meu desejo era só um aprender; mais que tudo, me compreender. Ali ob-
servei uma chance de confrontar meu saber com os outros saberes, uma prática frei-
riana. Mas não imaginei que fosse aprender tanto... em alguns casos, confirmei os
meus saberes; em outros, foi doloroso... tive que desfazer meus conceitos, minhas
verdades. Entendi conceitos como perdão, luta, silêncio, afastamento, resistência,
ira. O que mais ficou, talvez por causa do momento político e pessoal que passamos,
foi o calar e afastar, até mesmo para recompor e criar estratégias para modificar mi-
nha forma de agir. Ler os textos de Paulo Freire, mesmo que não sendo obra inteira,
me proporcionou crescimento como pessoa: pude entender que o amor é funda-
mental, que não há espaço para diferenças e preconceitos. Infelizmente, somos fru-
É com o coração cheio de gratidão que partilho minha experiência no Café com
Paulo Freire. Experiência esta que tem me levado a ter um olhar diferenciado a tan-
tas questões, a uma busca constante de ser melhor para o meu próximo em busca da
tão sonhada humanização... (Lucimara Machado)
Por algum tempo, a partir de dos engodos, engasgos típicos do fazer profis-
sional, vivi a desilusão de acreditar que não seria possível a mudança a partir do ou-
tro... passei a crer que somente o papel individual teria realmente efetividade. Estar
com este grupo, é reacender em mim a crença no papel multiplicador do coletivo. Sim,
estamos refazendo nossa atuação no mundo a partir do saber inédito que vimos cons-
truindo juntas. Estamos revisitando nossos conceitos, transformando alguns, refor-
çando outros. Isso é fantástico! Ao desejar voar com o Café, aceitamos que Paulo
153
DIÁLOGO FREIRIANO
Freire fosse impregnado em nossos discursos e nos modificasse. Isso é fazer o que ele
pediu: que reinventássemos suas ideias, seu legado.
sonhada a construção de uma rede de Cafés; mas, já que aconteceu, agora é ir! E com
. E é bem por aí... mais que indo, estamos voando... e felizes! Hoje, esta-
mos em: Arroio do Sal/RS, Belo Horizonte/MG, Cachoeira do Sul/RS, Canoas/RS,
Curitiba/PR, Goiânia/GO, Guaíba/RS, Mossoró/RN, Passo Fundo/RS, Pelotas/RS,
Porto Alegre)/RS (2 núcleos, Salvador (constituindo)/BA, Santa Cruz do Sul/RS, São
Borja/RS, São Paulo/SP, Varginha/MG. É certo que cada pessoa que participou saiu
modificada pela experiência. E este é nosso melhor e mais desejado resultado; afinal,
o Café com Freire é para pensar e transformar o mundo!
Que boniteza fazer parte disso! Vamos juntos e juntas?! Fica o convite: se
você se sente chamadx a revisitar visões de mundo e reconstruí-las a partir de uma
proposta de reumanização, de transformação social, junte-se à rede6. Força na luta!
6
Contato: cafecompaulofreire@gmail.com
154
DIÁLOGO FREIRIANO
BIBLIOGRAFIA
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1978.
149 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 165 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do opri-
mido. 22. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015a. 333 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. 6.
reimp. São Paulo: UNESP, 2000. 134 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 59. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2015b. 253 p.
FREIRE, Paulo. Professora, sim; tia, não: cartas a quem ousa ensinar. 4. ed. São
155
DIÁLOGO FREIRIANO
ANEXO
Bibliografia dos textos utilizados pelo grupo de estudos:
BIBIANO, Priscilla. Educação popular freiriana: por uma pedagogia da humanização.
São Paulo: Dialogar, 2018. 203p.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Paulo Freire: entre a nossa presença, a denúncia de
outros e o silêncio ou mal-uso de alguns (nota liminar). 2019. 3 p.
DICKMANN, Ivo; DICKMANN, Ivanio. Primeiras palavras em Paulo Freire. São
Paulo: Editora Ação Cultural, 2016. 240 p.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1981.
149 p. (O Mundo, Hoje, v. 10)
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 165 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do
oprimido. 22. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015a. 333 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. 6.
reimp. São Paulo: UNESP, 2000. 134 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 59. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 2015b. 253 p.
MANIFESTO DE LANÇAMENTO DA CAMPANHA LATINO-AMERICANA E
CARIBENHA EM DEFESA DO LEGADO DE PAULO FREIRE. 2019. Disponível
em: http://cdhep.org.br/wp-
content/uploads/2019/07/ManifestoDefensaLegadoFreirePT.pdf. Acesso em: 16 nov
2019.
REINVENTANDO PAULO FREIRE O INÉDITO VIÁVEL. Disponível em:
http://www.projetomemoria.art.br/PauloFreire/paulo_freire_hoje/04_pf_hoje_rein
ventando_pf.html. Acesso em: 16 nov 2019.
STRECK, Danilo R.; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José. Dicionário Paulo
Freire. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. 445 p.
VASCONCELOS, Maria Lúcia Marcondes Carvalho; BRITO, Regina Helena Pires de.
Conceitos de Educação em Paulo Freire. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes: São Paulo, SP:
Mack Pesquisa Fundo Mackenzie de Pesquisa, 2014. 196 p.
156
PARTE III
ARTIGOS CIENTÍFICOS
DIÁLOGO FREIRIANO
158
ETNOGRAFIA FREIRIANA:
A DESCOBERTA DO UNIVERSO
SIMBÓLICO DO EDUCANDO NA BUSCA
PELAS PALAVRAS GERADORAS
INTRODUÇÃO
Há uma dimensão antropológica nos educadores que reconhecem a impor-
tância da subjetividade dos educandos no processo de construção dos saberes, pois
esse reconhecimento lhes fará adentrar o universo de valores culturais que ele desco-
nhece. Nesse sentido, o educador comprometido pode ser comparado com um antro-
pólogo, que tenta desvendar os sentidos que os sujeitos atribuem a seus signos cultu-
rais para incorporá-los a suas estratégias didáticas.
Considerando esses aspectos pretendemos com esse brevíssimo ensaio refle-
tir sobre a dimensão antropológica e etnográfica do pensamento freiriano. Apresen-
taremos como a primeira encontra-se manifesta na forma como o pensador reconhe-
ceu a importância do ser do educando, ou seja, da alteridade no processo de constru-
ção dos novos saberes.
Na sequência, pensaremos a importância da etnografia, principalmente, na
primeira fase do método de alfabetização construído por Freire, quando o educador
deverá no contexto do educando para abstrair deste as palavras gerado-
ras. Entretanto, antes de abordarmos tanto a dimensão antropológica, quanto a di-
mensão etnográfica do pensamento deste autor, convém tecer algumas reflexões so-
bre a mobilização da etnografia, enquanto principal técnica da Antropologia Social.
De saída podemos ponderar que a princípio essa técnica foi concebida como
um fazer menor dentro da Antropologia, haja vista que seria impensável para os an-
tropólogos de gabinete, que se consideravam extremamente civilizados, conviver por
anos com os selvagens irascíveis das ditas culturas exóticas.
1
Mestre em Ciências Sociais Pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
2
Mestre em Ciências Sociais Pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
DIÁLOGO FREIRIANO
160
DIÁLOGO FREIRIANO
161
DIÁLOGO FREIRIANO
A ETNOGRAFIA PÓS-MODERNA
Com os pós-modernos, mas uma vez a etnografia foi repensada. Esses toma-
ram como alvo de análise as relações de poder que se estabelecem entre os antropólo-
gos e seus pesquisados. Vimos que o método etnográfico, por Malino-
wisk, segue um conjunto de pressupostos científicos, que afirma o antropólogo en-
quanto par diferenciado, portador do conhecimento, na relação com os nativos. Saber
que possibilitava ao mesmo, descrever e analisar a cultura, em sua inteireza.
Geertz, em sua antropologia interpretativa tentou relativizar tais premissas.
Segundo ele, o produto do fazer etnográfico é sempre uma interpretação da forma
como os sujeitos de uma cultura concebem seus signos. Assim, foi um equívoco an-
tropológico, tentar estabelecer as relações de sentido em uma cultura, desconside-
rando seus atores. Também seria questionável, tentar abarcar a totalidade dos costu-
mes, a partir de uma conceituação rígida. Logo, o fundamental estava em compreen-
der a relação que um determinado signo estabelece com a teia cultura da qual ele faz
parte.
Entretanto, os pós-modernos afirmam que tal esforço não foi suficiente, pois
a interpretação final sempre será a do antropólogo, que continua sendo uma autori-
dade, portadora do conhecimento acerca de certa cultura. Além do mais, para eles
Geertz continuou perseguindo a totalidade dos núcleos de significado da cultura, ten-
tando descrever as múltiplas conexões de significado entre os símbolos.
Para superar estes dilemas, os pós-modernos passaram a compreender o
texto etnográfico como resultado de múltiplas parcerias. Nesse caso, o antropólogo
torna-se uma espécie de mediador, responsável por apresentar os diversos discursos
162
DIÁLOGO FREIRIANO
acerca de um tema, em uma dada cultura. Assim, os nativos são chamados a serem
coautores do trabalho etnográfico.
Mas, para muitos os dilemas antropológicos e etnográficos estão longe de
serem resolvido, pois mesmo o texto etnográfico pós-moderno, guarda estruturas e
posicionamentos discursivos, que em última instância, foram definidos pelo antropó-
logo. Fato que torna improvável à superação de certas relações de poder (CALDEIRA,
1988).
163
DIÁLOGO FREIRIANO
a realidade dos sujeitos que constituem esse grupo, ouvindo com atenção aquilo que
eles consideram significante.
Para tanto, será salutar que o educador tal qual o antropólogo realize uma
imersão na realidade dos seus educandos, através dos passeios pela comunidade, das
conversas com as pessoas, da convivência construída mediante uma relação de apro-
ximação com a alteridade. Ademais, o processo de imersão possibilitará a realização
das perguntas que o educador julgar importante para desvendar essa nova realidade.
Além disso, será nesse processo que ele entrará em contato com o universo
vocabular dos educandos, ou seja, com as palavras geradoras que eles mobilizam para
nominar e atribuir significado a seu contexto. Essas palavras devem passar por um
processo de seleção, que considera critérios como: riqueza fonética, dificuldade foné-
tica e conteúdo programático das palavras, isto é, o potencial das mesmas para traba-
lhar com conteúdos pedagógicos, históricos e políticos. Tal processo constitui o fulcro
do método de alfabetização construído e experimentado exitosamente por Freire, so-
bretudo porque a partir delas se dará o processo de alfabetização (FREIRE, 1998).
Desse modo, a princípio reconhecemos a dimensão antropológica do pen-
samento freiriano, quando o pensador reconhece a potência da diversidade presente
no pensamento do educando no processo de construção dos saberes, que se dará, ine-
quivocamente, a partir do encontro de sujeitos oriundos de mundos distintos. Por
último, refletimos sobre como o esforço do educador para compreender o universo
vocabular do educando, o que lhe possibilita apreender as especificidades do contexto
do sujeito e seus signos, pode ser relacionado com a prática etnográfica, consagrado
pela Antropologia Social.
164
DIÁLOGO FREIRIANO
REFERÊNCIAS
CALDEIRA, Tereza. A pós-modernidade na antropologia, in Novos Estudos Ce-
brap 21. São Paulo, Cebrap, 1988.
GEERTZ, Clifford. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa dacultura
in A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989, pp. 13-41.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril
Cultural, 1978.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. Rio de
Janeiro: Paz e Terra (1997).
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra (1998).
165
A EDUCAÇÃO DECOLONIAL E PAULO FREIRE NA
PERSPECTIVA DA AVALIAÇÃO ESCOLAR
Introdução
Avaliar é um dos atos mais complexos da prática docente. Tal ação encontra-
se no cerne da discussão acerca das competências e habilidades que os discentes de-
vem adquirir durante a aprendizagem. Será que nossos professores estão preparados
para esta tarefa? O que se tem feito para trazer à tona o debate a respeito das práticas
avaliativas no contexto escolar? O presente artigo tem como objetivo apontar os ca-
minhos que envolvem a discussão sobre avaliação e fomentar a discussão de uma te-
mática muitas vezes esquecida nas instituições escolares.
O artigo 205 da Constituição Federal de 1988, ao assegurar diversos direitos
sociais, é claro ao afirmar que educação é um direito de todos e dever do Estado e
da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o (BRASIL, 1988, art. 205). Dessa forma, a educação deve-
ria servir como pilar de sustentação da sociedade brasileira, mas o que se tem obser-
vado é a diminuição contínua dos investimentos no setor, trazendo prejuízos no que
diz respeito à qualidade ofertada para a população. Além disso, é preciso assinalar que
a escola deixou de ser o único lugar de legitimação do saber. As novas tecnologias de
informação e comunicação têm modificado as relações entre docentes e discentes bem
como o às práticas de ensino.
A metodologia utilizada na constatação de questões importantes que envol-
vem a avaliação e a educação brasileira em geral foi à revisão bibliográfica, depoi-
mento de docentes e a observação participante por meio de vasta experiência em
diversos contextos escolares ao longo dos anos -, visando observar as perspectivas
mais relevantes que tratam do tema. O método foi o hipotético-dedutivo buscando
1
Professor Adjunto de Sociologia do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É membro do Grupo de Pesquisa em Ciências Sociais
e Educação (GPCSE/ICS/UERJ) e do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Ciências Sociais (LEPCS
UERJ).
DIÁLOGO FREIRIANO
2
De acordo com o autor, a escola que conhecemos no presente é a escola da modernidade.
168
DIÁLOGO FREIRIANO
(ou até mesmo a falta dela) para intimidar os alunos, como salienta o educador e filó-
sofo brasileiro Cipriano Luckesi (2011).
Percebe-se que muitos discentes desenvolvem medo e antipatia com o am-
biente escolar, o que pode estar associado, dentre vários aspectos, a maneira como
docentes utilizam a avaliação. O poder de dar uma nota não raramente é usado para
induzir subordinação e controlar o comportamento do estudante em sala de aula
(FERNANDES e FREITAS, 2007).
As notas aplicadas em caráter quantitativo passam a ser objeto de cobiça por
parte de professores de modo que muitos se orgulham quando boa parte dos dis-
centes não consegue satisfatória pontuação , e também de estudantes que fazem
qualquer coisa para uma boa contagem, independente de perspectivas lícitas. Luckesi
(2011) chama esse contexto de do o qual traz consequências. No
campo pedagógico, é o não cumprimento da função de contribuir para a melhoria da
aprendizagem. Na esfera psicológica, a tensão da nota traz personalidades submissas.
A avaliação da aprendizagem utilizada de forma fetichizada3, segundo o autor, é útil
ao desenvolvimento da autocensura. Por fim, há uma consequência no campo socio-
lógico, pois a avaliação da aprendizagem realizada de tal modo acaba por servir ao
processo de seletividade social.
É nessa direção que pensa o importante teórico suíço Philippe Perrenoud
(1998), que destaca a crise de valores que vivenciamos e seu impacto no próprio sen-
tido da escola. Segundo o autor, é através da prática da avaliação da aprendizagem que
se fortalece a hierarquia da organização social. Existe uma espécie de relação de su-
bordinação, em diferentes graus, e que também possui componentes sociais. Em es-
colas privadas percebe-se que muitas vezes os bolsistas são os que tiram as menores
notas. Em entrevista com uma professora da rede privada, a mesma reconheceu que
dá a nota em função da condição do aluno na escola: seria leviana em não afirmar
que sei quem são os alunos que pagam a mensalidade e aqueles que não pagam. Os pri-
meiros são os meus , afirmou a docente. A constatação é que a maioria dos
alunos bolsistas é de origem negra, o que aponta para um forte componente racial, ou
melhor, para o conceito de racismo institucional, como uma ideologia que desenvolve
uma relação de hierarquias a partir da cor da pele, proporcionando uma estrutura de
desigualdade social permanente na sociedade brasileira, limitando a população negra
a ter acesso a seus direitos (WERNECK, 2013, p.17). Através da ação de avaliar, se
169
DIÁLOGO FREIRIANO
4
A colonialidade é uma forma de poder que surgiu do colonialismo moderno, e aponta uma hierarquia
nas relações sociais pautadas na perspectiva de raça dentro do contexto capitalista. Assim, segmentos da
sociedade que eram marginalizados e oprimidos no período colonial continuam nesse contexto de
modernidade.
5
A própria tendência de câmeras de vigilância nas escolas, e ultimamente na própria sala de aula é um
exemplo.
6
Vale salientar que a competição é característica cada vez mais presente na sociedade capitalista,
principalmente em tempos de individualismo crescente.
7
Michel Foucault analisa o poder não se identificando necessariamente com o Estado, mas nas várias
170
DIÁLOGO FREIRIANO
8
De acordo com a agência alemã Deutsche Welle, ao citar um ranking de violência nas escolas elaborado
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE - 2014), o Brasil lidera as
estatísticas. Com mais de 100 mil professores e diretores de escolas do segundo ciclo do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio (alunos de 11 a 16 anos), considerando dados de 2013, 12,5% dos
docentes brasileiros ouvidos relataram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos ao
menos uma vez por semana. A média entre os 34 países pesquisados é de 3,4%. Disponível em:
<https://www.dw.com/pt-br/a-viol%C3%AAncia-contra-professores-no-brasil/a-48442455>, acesso
em: 29 de maio de 2019.
171
DIÁLOGO FREIRIANO
9
Como na frase atribuída a Paulo Freire neutra,
10
Segundo o Heinz-Peter Gerhardt (2001), pode-se afirmar que a educação libertadora é um dos poucos
conceitos educacionais do Hemisfério Sul adotado por educadores do Norte.
172
DIÁLOGO FREIRIANO
11
A autora também aponta para os pressupostos e argumentos da obra de Freire que convergem com a
literatura decolonial, tais como o raciocínio
de que a dominação (e a estrutura opresssora) se fundamenta em mito (do eurocentrismo).
12
Perspectiva na qual o sucesso do indivíduo depende exclusivamente do seu mérito, como talento, esforço,
habilidade ou expertise. Segundo seus críticos, séculos de desigualdades e opressão levaram as minorias
sociais a um contexto de desvantagem, portanto sem os privilégios da classe dominante. No caso
brasileiro, as enormes desvantagens da classe dominada refletem historicamente em quaisquer
indicadores sociais.
173
DIÁLOGO FREIRIANO
13
Basta perceber a pouquíssima valorização dos autores negros, e de países em desenvolvimento nos
diversos currículos dos cursos de formação de professores.
174
DIÁLOGO FREIRIANO
por uma posición decolonial que ejerce resistência ante esse estado de situa-
ción, implica localizarse em um lugar de indidable lucha intelectual y significa tam-
bién la imprescindible necesidad de debatir com otras maneras de concebir la resis-
tência a la dominación por el poder (PALERMO, 2010: 50)
175
DIÁLOGO FREIRIANO
Considerações finais
Este artigo teve como intuito refletir sobre a prática avaliativa no contexto
escolar brasileiro, com contribuições do pensamento decolonial e de Paulo Freire. O
princípio da colonialidade se faz presente na escola como instituição em diversas ma-
neiras, inclusive na avaliação, no qual o racismo institucional ainda persiste. Entendo
que a decolonialidade deve ser uma prática social constantemente debatida no âmbito
escolar e também nos cursos de formação de professores. A cultura da violência e a
recente e difícil conjuntura política brasileira, marcada por perseguições a docentes e
desvalorização de conquistas históricas da educação brasileira como a liberdade de
cátedra também assinala esse cenário de tensão que se reflete na relação entre docentes
e estudantes.
Há uma necessidade na valorização da equipe escolar que representa a busca
pela qualidade de ensino, o que impacta, em última instância, num processo mais hu-
manitário de avaliação. Técnicos administrativos, psicólogos, assistentes sociais, entre
outros profissionais representam muito na melhoria do ensino. Faltam profissionais,
e isso tem impacto direto na relação entre professor e estudante - marcada pela inqui-
etação por ambos os lados. A busca por uma educação inclusiva e humanizada passa
necessariamente pelo reforço da equipe escolar.
14
Um exemplo é o inspetor escolar, um profissional que não deve cuidar somente da parte burocrática,
mas também procurar um método de trabalho menos controlador, tornando-se mais participativo e
democrático, mais orientador da aplicação da norma e mais estimulador da criticidade e da criatividade
tão necessária à melhoria do funcionamento do sistema (SANTANA e NUNES, 2011).
176
DIÁLOGO FREIRIANO
177
DIÁLOGO FREIRIANO
REFERÊNCIAS
ANDRÉ, M.E.D.A; PASSOS, L. F. além do fracasso escolar: uma redefinição das
práticas In: Aquino, Julio Groppa. Erro e fracasso na escola.
Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997.
DUDH. ASSEMBLEIA GERAL DA ONU. Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Paris, 1948. Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content/
uploads/2018/10/DUDH.pdf.
BOURDIEU, P. A reprodução. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992.
__________________. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.
__________________. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2001.
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atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
CAMARGO, A. L. C. discurso sobre a avaliação escolar do ponto de vista do
Revista da Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, v. 231(1- 2),
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CAREAGA, A. La evaluación como herramienta de transformación de la prática
docente. Universidade de los Andes, Mérida: Educere, 2001.
CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:
Editora Civilização Brasileira, 2001.
CHALHOUB, S. A meritocracia é um mito que alimenta as desigualdades. In:
Jornal da Unicamp, 7 de jun. 2007. Disponível em: https://www.unicamp.br/
unicamp/ju/noticias/2017/06/07/meritocracia-e-um-mito-que-alimenta-
desigualdades-diz-sidney-chalhoub acesso em: 29 de maio de 2019.
CHARLOT, B. Relação com o saber elementos para uma teoria. Porto Alegre:
Artes Médicas, 2000.
COSTA, J. B.; GROSFOGUEL, R. e perspectiva Sociedade
e Estado. Brasília, v.31., n.1, 2016.
FERNANDES, C. O.; Freitas, L.C. Indagações sobre currículo: currículo e avaliação.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2002.
FREIRE, P. Cartas à Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978
178
DIÁLOGO FREIRIANO
179
A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA COMO PILAR DAS
PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
INTRODUÇÃO
Pensar o professor da educação infantil e as transformações ocorridas na
contemporaneidade não é algo fácil. Nossa educação não se encaixa mais nos moldes
de uma educação determinista/racionalista pautada na separação dos conhecimentos
voltados apenas a um grupo elitista, em que o conhecimento era direcionado para
poucos. Além disso, o professor era considerado um mero transmissor e o detentor
de todo conhecimento, consequentemente, o aluno recebia os conteúdos de forma
passiva. A educação de hoje exige, o que já nos afirmava Paulo Freire (1996) desde o
século passado, que devem estar alicerçadas na ontologia
das formas de ser e estar no mundo. Primeiramente, reconhecendo que nos transfor-
mamos no contato com o outro, formamos e nos formamos simultaneamente, evi-
denciando as transformações nas formas de ser e estar no mundo, que implicam dire-
tamente nos espaços educacionais.
É por meio dessas rupturas que podemos pensar as práticas do professor de
Educação Infantil. É nessa fase que a criança começa a constituir os maiores passos
para o seu desenvolvimento e descobertas sobre a realidade. Na primeira infância, a
criança adquire novas formas de pensar sobre o mundo ao seu redor, desenvolve sua
imaginação, percepções sobre as regras sociais, responsabilidades. Inicia sua experi-
1
Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB. Especialista em Gestão
Educacional-Uniasselvi. Mestranda no Programa de Pós-graduação em Educação pela Universidade
Federal de Sergipe (PPGED/UFS). Membro do grupo de pesquisa ECult- Educação e Culturas Digitais
(Ecult/UFS/CNPq). Pesquisadora/ Bolsista CAPES. E-mail: brusan10@hotmail.com
2
Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia na universidade do Estado da Bahia - UNEB / Campus
VIII. Pós-graduada Latu Senso em Gestão Educacional. E-mail: camylagomess@live.com
3
Graduada em Letras-Português pela Universidade Tiradentes (Unit). Mestranda em Educação pela
Universidade Federal de Sergipe (UFS). Integrante do Grupo de Pesquisa Tecnologias nas salas de aula:
o pós-digital em questão, da mesma instituição. E-mail: lailagardeniavs@gmail.com
DIÁLOGO FREIRIANO
ência coletiva com outras crianças e reivindica autonomia em seus protagonismos in-
teracionais, sejam eles na aprendizagem, brincadeiras e em processos culturais o qual
tem contato. E desafiam, mais do que nunca, as práticas do professor na sala de aula,
fazendo-o repensar seu papel não como mero transmissor de conteúdo, mas como
um mediador, ocasionando rupturas e sendo ainda capaz de recriar e refazer suas prá-
ticas a partir das experiências com as crianças.
Nesse sentido, a presente pesquisa destaca em suas práticas a partir da Peda-
gogia da Autonomia de Paulo Freire (1996) como o ato de educar, seja ele nos dife-
rentes níveis da educação, não somente exige primeiramente respeito à autonomia do
educando, mas também pressupõe compreender que a educação é a principal forma
de intervenção de mundo. Com isso, a pesquisa tem como objetivo geral compreender
a importância da pedagogia da autonomia nas práticas com as crianças de uma escola
de Educação Infantil do município de Paulo Afonso- BA, destacando ainda, como a
pedagogia da autonomia é importante para a Educação Infantil e como a mesma se
institui nas práticas reflexivas dos professores e no ato de aprender das crianças em
suas experiências com seus pares e professores na sala de aula.
Portanto, as aprendizagens vivenciadas pelas crianças do período I e II ocor-
reram mediante à construção de um espaço de aprendizagem chamado Exposição
do construído pelas próprias crianças, o qual consistiu primeiramente no
desenvolvimento da autonomia das crianças em todo o processo de construção-ela-
boração de material, escolha do nome, conteúdos escolhidos de acordo com as vivên-
cias das crianças. Ademais, a professora se colocou como mediadora das interações
das crianças e em todo o trajeto procurou deflagrar as curiosidades anexando saberes
das crianças indispensáveis às práticas, pautando sua mediação pedagógica na leitura
de mundo precedendo a leitura da palavra (FREIRE, 1996, p. 49).
182
DIÁLOGO FREIRIANO
premissa de que é preciso conhecer para pertencer ao espaço e assim possibilitar novas
descobertas para a criança. Por isso, Freire (1996, 1999, 2005) remete a devida impor-
tância sobre o desenvolvimento da autonomia da criança em suas ações mais simples
para chegar as mais complexas, destacando a interação como meio de favorecer
aprendizagem da criança.
De acordo com Freire (1996), exige respeito aos saberes dos edu-
Nesse direcionamento, o autor enfatiza que, por meio do é
colocado ao professor ou amplamente à escola o dever de respeitar os saberes social-
mente constituídos dos educandos até sua chegada a ela, de modo que ao discutir com
os educandos os saberes já constituídos por eles em sua vivência e relacionando-os
aos conteúdos ensinados, exploram-se de forma reflexiva e crítica os conteúdos cur-
riculares fundamentais, a partir da realidade concreta no qual o educando está social-
mente inserido, respeitando, assim, a autonomia do ser do educando.
Nesse sentido, Vigotsky (1999) enfatiza que a criança antes mesmo de chegar
à escola já traz consigo conhecimentos próprios. Ou seja, toda e qualquer aprendiza-
gem que a criança se depare, há ali um conhecimento prévio relacionado à sua história
de vida. Esses conhecimentos devem prevalecer e amadurecer conforme o cresci-
mento do educando, no ambiente escolar e demais ambientes, porém, essa ação só
será possível por meio de uma mediação existente no ambiente escolar.
Ao docente cabe um papel fundamental, o de mediador, visto que o mesmo
deverá intervir na zona de desenvolvimento proximal ou potencial do educando, pro-
vocando avanços que não aconteceriam de forma espontânea. Por meio dele será pos-
sível a realização das ligações entre o que sabe e o que irá aprender, notando-se que o
dever da escola, por sua vez, é fazer com que o educando avance em suas etapas, as
quais o professor atua não como transmissor, mas sim como mediador no processo
de construção de saberes de seus educandos. (FREIRE, 1996)
Logo, o interacionismo torna-se um elemento essencial no processo de
aprendizagem das crianças, já que o mesmo possibilitará aos educandos uma troca
significativa de experiências e aprendizados, partindo das premissas de uma aprendi-
zagem coletiva e colaborativa, ou seja, a criança aprendendo com seus pares. Deste
modo, o fazer pedagógico ganha vida e apresenta-se com maior profundidade no pro-
cesso formativo dos sujeitos sociais.
Para tanto, Craidy e Kaercher (2001) afirmam que a vida cotidiana é mar-
cada pela vida em grupo. Desde a chegada, ainda bebê, o ser se encontra rodeado de
pessoas, sendo a família o primeiro grupo interativo e logo após apresentam-se a co-
munidade, a igreja e por fim o ambiente escolar. Na escola, o professor se vê diante de
183
DIÁLOGO FREIRIANO
uma tarefa: trabalhar o grupo e grupalidade no ambiente escolar. Cord (2008) aborda
que o papel social da instituição é articular prática positivas, que visem promover a
cidadania. A grupalidade, por sua vez, é uma forma de se trabalhar por meio da reali-
dade dos educandos à autonomia nas práticas em sala de aula.
Neste direcionamento, Teberosky (1987) afirma que a interação grupal é
uma situação privilegiada para a aula, a qual apresenta vantagens que devem ser apro-
veitadas. A autora aponta ainda que o grupo escolar é uma ou a única oportunidade
que se tem de conviver com crianças da mesma idade, uma vez que neste ambiente se
tem a maior chance de praticar a socialização e desenvolver a criticidade de modo a
refletir sobre a realidade no qual o educando faz parte por meio do desenvolvimento
da leitura de mundo, explorando e respeitando a curiosidade de seus aprendentes, se-
jam eles crianças, jovens ou adultos. De acordo com Freire (1996) exige cri-
e, por essa razão, a curiosidade e autonomia do educando devem ser respei-
tadas nesse processo.
Por conseguinte, o docente assume o papel de estimulador ao confrontar di-
ferentes pontos de vistas, ao mostrar aos seus educandos que é possível existir uma
miríade de opiniões diferentes da sua. Desta forma, a dialogicidade4 verdadeira des-
crita por Paulo Freire como aquela em que os sujeitos dialógicos e crescem
na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente
exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente
(FREIRE, 1996, p. 25)
Destarte, diante da dialogicidade e interação, a criança é capaz de confrontar
suas hipóteses com as de outros e partilhar as aprendizagens e experiências adquiri-
das. Teberosky (1987) conceitua como uma situação privilegiada, desde o ponto do
desenvolvimento cognitivo, situação esta que facilita a socialização de conhecimentos
e tarefas propostas. A autora cita ainda que todos os conhecimentos que a criança ad-
quire perante a interação não são transmitidos de umas para outras, mas sim constru-
ídos. Por esta razão que o individual é resultado de experiências, atividades e interação
entre sujeitos.
Nesse contexto, respeitar a historicidade e vivência da criança de forma ética,
respeitando sua forma de ser e estar no mundo, torna-se imprescindível ao processo
de ensino-aprendizagem da criança. Freire (1996, p. 15) enfatiza que se respeita
4
Freire (2005, p. 201) destaca a dialogicidade como essência prática de uma educação
realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos educadores e povo, que iremos buscar o
conteúdo programático da educação. O momento deste buscar é o que inaugura o diálogo da educação
184
DIÁLOGO FREIRIANO
a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação
moral do educando. Educar é substantivamente
Para tanto, a ética apresenta-se indissociável à prática educativa, de modo
que a historicidade, aspectos socioculturais e vivência do educando devem ser respei-
tadas, visando à autonomia da criança enquanto protagonista de seu processo forma-
tivo e constituição de saberes ao longo do processo educativo. Nesse contexto, educa-
dor e educando aprendem de forma conjunta numa perspectiva libertária e interaci-
onista, em que a autonomia alicerça-se nas responsabilidades por eles assumidas, de
modo que clima de respeito que nasce das relações justas, sérias, humildes, genero-
sas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem eticamente,
autentica o caráter formador do espaço (FREIRE, 2005, p. 92).
185
DIÁLOGO FREIRIANO
registra os momentos mais íntimos com o objeto de estudo e não se pode deixar ne-
nhum detalhe de lado.
Neste direcionamento, este trabalho é resultante das práticas pedagógicas
emergidas nas experiências vivenciadas com crianças na primeira infância do período
I e II em uma escola de Educação Municipal Infantil da cidade de Paulo Afonso, loca-
lizada no Estado da Bahia. A faixa-etária das crianças é de 05 a 06 anos. Ademais, tam-
bém foram participantes desta pesquisa os professores das referidas turmas de Edu-
cação Infantil.
186
DIÁLOGO FREIRIANO
187
DIÁLOGO FREIRIANO
188
DIÁLOGO FREIRIANO
diálogos em sala, acrescentando ainda os relatos das suas vivências com os pais, de-
mais familiares e seus pares. Vale a pena destacar como a mediação da professora,
enquanto educadora comprometida e tendo por base nas suas prática a educação pro-
gressista de Paulo Freire, conseguiu e consegue trabalhar com as crianças, não em uma
perspectiva de educação bancária, mas de uma educação que pode erigir mudanças e
por meio de sua prática ser a ponte de construção de uma autonomia e reflexão crítica
na sala de aula.Todo esse engajamento do educador exige comprometimento, reflexão
crítica, diálogo, saber escutar, exige alegria, esperança, respeito à autonomia do edu-
cando e, sobretudo, compreender como a educação é uma prática crucial para inter-
venção do mundo (FREIRE, 1996).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As práticas alicerçadas na Pedagogia da Autonomia propiciaram às crianças
da Educação Infantil momentos singulares na construção da aprendizagem. Autono-
mia, interação e integração foram pilares de extrema relevância nas mediações com as
crianças. A construção do espaço de aprendizagem evidenciou o quanto é possível
dialogar teoria-prática-reflexão-ação, baseados, sobretudo, no desenvolvimento da
autonomia da criança. Toda essa prática reflexiva tem influência dentro das paredes
da escola e nas vivências e experiências fora dela, não esquecendo que as mediações
devem levar em conta a realidade vivida pela criança seja ela no espaço familiar e de-
mais espaços. Sobretudo, priorizar a criança como protagonista da interação com os
pares das outras salas ocorra de maneira simultânea, havendo assim uma valorização
da criança enquanto sujeito de suas aprendizagens e compartilhamentos.
Desse modo, diante da proposta de interação entre os períodos I e II, no qual
a autonomia das crianças foi priorizada e respeitada no decorrer das práticas educati-
vas desenvolvidas ao longo da experiência de aprendizagem planejada e mediada pelo
professor, é importante concluir que a autonomia do ser enquanto protagonista no
seu processo formativo é imprescindível às crianças em fase pré-escolar da Educação
Infantil, de modo que priorize a leitura de mundo precedendo a leitura da palavra.
Além disso, os saberes constituídos devem propiciar aos educandos significativas con-
tribuições no processo de apreensão dos conteúdos curriculares de forma criativa, crí-
tica e ética.
Destarte, ao partilhar todas as experiências e aprendizagens pautadas na au-
tonomia e protagonismo infantil, é importante ressaltar que as atividades podem ser
partilhadas com as demais salas, principalmente na Educação Infantil, fase de desco-
bertas e experiências que as crianças sentem a necessidade de contar e compartilhar
189
DIÁLOGO FREIRIANO
cada detalhe de suas aprendizagens, influenciando, deste modo, no meio social de ma-
neira positiva, que se resulta na construção de saberes de forma progressista e libertá-
ria, pautadas nas contribuições do educador Paulo Freire ao campo de estudo que nos
remete a reflexão docente enquanto mediador no processo formativo dos atores soci-
ais.
Nesse contexto, é necessário repensar as atividades e práticas educativas de-
senvolvidas em sala. Ao trazer a criança como protagonista desses espaços, a divulga-
ção e socialização de aprendizagens adquiridas no contexto escolar, de modo que a
criança por meio da imaginação, criação e interação possam aprender a conhecer e
pertencer aos espaços no qual faz parte de forma integrada. É imprescindível oportu-
nizar aos nossos educandos práticas educativas que respeitem os saberes próprios, a
curiosidade, a vivência e leitura de mundo por eles apresentadas e, sobretudo, respei-
tar a autonomia do ser e estar no mundo enquanto protagonista de sua história e
aprendizagens significantes à vivência e atuação em sociedade.
190
DIÁLOGO FREIRIANO
REFERÊNCIAS
CRAIDY, Carmem Maria; KAERCHER, GLADIS, Elise P. da Silva. Educação
Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.
FLICK, Uwe. Desenho de Pesquisa Qualitativa. Tradução Roberto Cataldo Costa.
Porto Alegre: Artmed, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23ª ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e terra, 42 ed. 2005.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
MINAYO, Maria Cecilia de Souza. Pesquisa social: Teoria, método, criatividade.
Petropolis: Vozes, 2001.
PIAGET, J. GRECO, P. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1974.
TEBEROSKY, Ana. Construção de escritas através da interação grupal: Os
processos de leitura e escrita: novas perspectivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
VIGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
VIGOTSKY, L. S.; COLE, M. A formação social da mente: o desenvolvimento dos
processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
191
UMA ANÁLISE CRÍTICA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
SOB A ÓTICA DA PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE
1. INTRODUÇÃO
Há décadas a Educação pública faz parte do noticiário no Brasil, mas rara-
mente com boas notícias. Há falta de investimentos em qualificação de professores,
segurança e infraestrutura escolar.
O fraco desempenho da Educação pública brasileira é demonstrado em in-
dicadores estatísticos como, por exemplo, o Censo Escolar de 2018, divulgado pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INEP2,
mostrou que no ano de 2018 foram registradas 48,5 milhões de matrículas nas 181,9
mil escolas de educação básica no Brasil, 1,3 milhões a menos em comparação com o
ano de 2014, o que corresponde a uma redução de 2,6% no total de matrículas.
Gráfico 01: Total de matrículos na educação básica segundo a rede de ensino Brasil 2014 a 2018
Fonte: Elaboração pela Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Básica.
1
Mestranda em Ciências da Educação pela Universidade Columbia Del Paraguay Asunción PY;
Especialista em Administração Estratégica pela UNESA Rio de Janeiro Brasil; Bacharel em Ciências
Contábeis pela Federação das Faculdades Celso Lisboa Rio de Janeiro Brasil; Funcionária Pública
Federal.
2
http://portal.inep.gov.br Resumo Técnico Censo da Educação Básica 2018 acesso em 08/10/2019
DIÁLOGO FREIRIANO
3
https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/evasao-escolar-e-um-dos-principais-problemas-da-
educacao-no-brasil/
4
https://ipm.org.br/relatorios
5
O critério de arredondamento das frações dos resultados permite percentuais totais diferentes da soma
dos números arredondados.
6
https://drive.google.com/file/d/1ez-6jrlrRRUm9JJ3MkwxEUffltjCTEI6/view
194
DIÁLOGO FREIRIANO
7
Educador, filósofo, considerado um dos pensadores mais notáveis da história da pedagogia mundial e
Patrono da Educação brasileira.
195
DIÁLOGO FREIRIANO
8
https://www.infoescola.com/educacao/escola-sem-partido/
9
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler, 23ª edição, pág. 15. São Paulo, 1989.
10
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler, 23ª edição, pág. 15. São Paulo, 1989.
11
https://www.programaescolasempartido.org/
196
DIÁLOGO FREIRIANO
de Lei (PL 2974/2014) para ser apresentado à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
e, no mesmo ano, foi lançado o Projeto de mesmo tipo sob o nº 864/14, por um vere-
ador carioca, para apreciação da Câmara Municipal da capital. E, assim, esses projetos
tem servido de referência para a criação de outros projetos do mesmo tipo nas Assem-
bleias Legislativas e Câmaras Municipais de vários Estados e Municípios brasileiros.
A polêmica em torno do Movimento Escola Sem Partido diz respeito sobre a possibi-
lidade de haver perseguições políticas e censura ao trabalho do professor em sala de
aula, a partir da aprovação desses Projetos de Lei.
No Prefácio, de autoria de Moacir Gadotti, na obra de Paulo Freire
ção e (1979), aprendemos sobre a indissociabilidade entre educação e po-
lítica:
12
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Prefácio de Moacir Gadotti, Pág. 6, 2013.
13
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª ed. pág. 33, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
197
DIÁLOGO FREIRIANO
O Art. 206 da CF/1988 define os princípios sobre os quais o ensino será mi-
nistrado:
206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o
saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições
públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da lei, planos de
carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusi-
vamente por concurso público de provas e títulos;
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de
14
https://www.camara.leg.br/noticias/551792-ESCOLA-SEM-PARTIDO-X-ESCOLA-SEM-
MORDACA:-DEPUTADAS-DEFENDEM-PROJETOS-SOBRE-OS-TEMAS
15
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2191271
198
DIÁLOGO FREIRIANO
199
DIÁLOGO FREIRIANO
3. CONCLUSÃO
O presente trabalho objetivou analisar o desempenho da educação brasileira
e as políticas governamentais na área ao longo da última década no Brasil, em con-
fronto aos ensinamentos de Paulo Freire. Verificou-se diante de alguns fatos e estatís-
ticas oficiais, levantadas na área de educação brasileira, que o Brasil ainda está longe
de prover uma educação básica de qualidade aos menos favorecidos economica-
mente. Há uma movimentação governamental no sentido de cortes orçamentários
16
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/09/13/orcamento-do-governo-federal-preve-cortes-para-
educacao-basica-em-2020.ghtml
200
DIÁLOGO FREIRIANO
201
DIÁLOGO FREIRIANO
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de
1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em 13/10/2019.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23ª ed.
São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.
____________. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23ª
ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 14ª ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 1ª ed. Prefácio de Moacir Gadotti. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2013.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação, 1ª ed. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de
dezembro de 1996.
BRASIL/MEC. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Brasília, DF: 20 de dezembro de 1996.
202
DA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO
À PEDAGOGIA DO MOVIMENTO:
AS CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO
POLÍTICO-PEDAGÓGICO DE PAULO FREIRE
PARA A EDUCAÇÃO NO MOVIMENTO DOS
TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA-MST
Introdução
As condições objetivas que desencadearam a necessidade da organização do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST, em meados da década de
1980, se relacionam diretamente com as transformações ocorridas na agricultura bra-
sileira, que, por sua vez, provocaram a expulsão de um grande contingente de traba-
lhadores do campo. Assim, a constituição do MST como movimento social popular
do campo- MSPdoC, ocorre essencialmente por meio da necessidade da luta pela
terra. No entanto, diante da baixa escolarização dos sujeitos Sem Terra2 e diante da
falta de escola nos acampamentos para as crianças, o Movimento3 acaba por se preo-
cupar com a questão escolar e assumir a escolarização de seus integrantes com vistas
à construção de uma escola diferente do MST e no MST. Faz isto gestando, ao mesmo
tempo, sua proposta educativa, inicialmente, a partir da preocupação com educação
das crianças, jovens e adultos acampados; posteriormente, da necessidade que emer-
gia da construção de uma proposta educativa e escolar, articulada a formação de edu-
cadores que trabalhassem nas escolas do assentamento de acordo com seus princípios
pedagógicos.
1
Professora do curso de Pedagogia-Unioeste-campus de Francisco Beltrão - PR. Doutora em educação
pela Universidade Federal de Pelotas-UFPel. E-mail: sfrancielesoares@gmail.com
2
A expressão Sem Terra, com letras com letras maiúsculas e sem hífen, de acordo com Caldart (2001,
-
categoria social de trabalhadores e trabalhadoras do campo que não têm terra e que passam a requerê-la
como direito. Trata-se de um vocábulo recente nos dicionários de língua portuguesa, uma das conquistas
culturais da luta pela terra no Brasil. Mas em seu nome, os Sem Terra, mantêm a grafia original de seu
3
As denominações Movimento e MST serão utilizadas para designar o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra.
DIÁLOGO FREIRIANO
4
Pesquisas em nível de pós-graduação, respectivamente mestrado e doutorado em educação: SANTOS,
Franciele Soares dos. Formação de educadores militantes no MST: a experiência do curso de Pedagogia
da Terra na Unioeste/PR. Dissertação de mestrado. Programa de pós-graduação em educação. UFSC,
2009. SANTOS, Franciele Soares dos. Trabalho educação e formação humana no MST: tensionando a
forma histórica escolar à luz da pedagogia socialista. Tese de doutorado. Programa de pós-graduação em
educação. UFPel, 2016.
204
DIÁLOGO FREIRIANO
5
Para Paludo (2001, p.91), é com Freire que nos anos 1960, temos anunciada uma pedagogia das classes
-se a conceber uma pedagogia na educação brasileira (e latino
americana) que leva em consideração a realidade brasileira com vistas à sua transformação, em que as
6
gogia do Oprimido como ponto de partida
de uma elaboração teórica mais aprofundada, mais consistente, mais rigorosa, especialmente quanto à
sua base de fundamentação sócio-
205
DIÁLOGO FREIRIANO
mem implica no engajamento dos homens e mulheres na luta social, para com-
preensão verdadeira da condição de oprimidos, e no papel da conscientização para a
compreensão da necessidade da transformação das condições de existência.
Na mesma obra, denunciou a prática bancária na educação escolar. De
acordo com Freire, na perspectiva bancária de educação, cabe ao educador fazer co-
municados, cabendo aos educandos a recepção passiva dos conteúdos, por meio da
memorização e a repetição dos mesmos: aí a concepção de educação,
em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os
depósitos, guardá-los e arquivá- (FREIRE, 2003, p. 59).
A educação bancária tem por objetivo manter os oprimidos imersos na cul-
tura do silêncio. Já é a educação libertadora que apresenta aos oprimidos a possibili-
dade da conscientização da realidade e busca da vocação ontológica de ser mais No
entanto, Paulo Freire afirma que somente quando os oprimidos descobrem nitida-
mente o opressor, estarão engajados na luta organizada por sua libertação, começam
a crer em si mesmos, superando, assim, sua com regime opressor
(FREIRE, 2003, p.52), sendo a educação é fundamental neste processo de descoberta.
206
DIÁLOGO FREIRIANO
ser criadas em função dos interesses das classes sociais hoje (FREIRE,
2011, p.132).
É na dialética denúncia e anúncio que os oprimidos, enquanto sujeitos his-
tóricos terão condições de analisar de formar crítica a realidade em que vivem. Logo,
a pedagogia humanista e libertadora, busca a construção de uma cultura de libertação,
bem como uma revolução cultural por meio de uma educação comprometida com a
emancipação humana.
207
DIÁLOGO FREIRIANO
7
Roseli Caldart, intelectual ligada ao Movimento, foi quem sistematizou pela primeira vez a proposta
formação de educadores e
educadoras do MST na Pedagogia
Movimento Sem Terra (2004). Essa última pesquisa constituiu- ra grande síntese
teórico-
sistematização da proposta pedagógica do Movimento, uma obra referencial nas discussões sobre
educação no âmbito do MST.
208
DIÁLOGO FREIRIANO
8
caso, ou por destino histórico, entre os acampados havia uma professora. Era Maria Salete
Campigotto, professora estadual desde 1978, que, casada com um colono Sem Terra, integra o grupo.
Salete virá a ser, depois, a primeira professora de assentamento do país. No acampamento Salete passou
209
DIÁLOGO FREIRIANO
Num primeiro momento, o foco não era a escola, e sim a realização ativida-
des educativas que proporcionassem o cuidado das crianças bem como o reconheci-
mento por parte delas da luta da qual participavam. Segundo Camini (2009, p. 104),
os professores eram pessoas que tinham alguma experiência na catequese, na sala
de aula, ou simplesmente gostavam de lidar com Essa escola só foi legali-
zada em 1984, já no assentamento nomeado de Nova Ronda Alta, mas foi organizada
desde 1983.
Cabe chamar atenção também, para o fato de que as professores envolvidas
com a organização da primeira escola de acampamento cursavam pedagogia na Uni-
versidade de Passo Fundo (UPF) e já tinham conhecimento da proposta de educação
popular de Paulo Freire. Ou seja, o contato com a obra Pedagogia do oprimido esteve
diretamente articulado com a concepção de educação popular, e ainda, segundo Cal-
dart (2015, p. 24), foi fundamental para as experiências educativas e escolares do Mo-
vimento
9
No acampamento da Fazenda Anonni foram constituídas equipes de trabalho. Entre elas estava a Equipe
de Educação.
210
DIÁLOGO FREIRIANO
por meio de dois aspectos relevantes: a Anonni poderia ser um futuro assenta-
mento, e então a escola não seria tão provisória assim [...] havia ainda o agravante do
número de crianças privadas do direito constitucional de frequentar a (CAL-
DART et al., 1991, p. 90).
A combinação desses dois aspectos levou a organização a travar debates co-
letivos com pais e professores para definir o que ensinar nas escolas. Assim, a escola
passou a ser compreendida como imprescindível para a continuidade das ações, as
lutas e enfrentamentos no contexto dos acampamentos e assentamentos do Movi-
mento. Junto a isso, intensificaram-se as lutas principalmente a partir da necessidade
que surgia da construção de uma escola no e para o Movimento, a partir do entendi-
mento da educação como um direito de todos.
Outro fator, como ressalta Caldart (2004, p. 227), é o de que naquele período
de início da organização do Movimento grande maioria dos sem-terra tem baixo
nível de escolaridade e uma experiência pessoal de escola que não deseja para seus
filhos: discriminação, professores despreparados, reprovação, Daí a neces-
sidade da ocupação da escola a fim de garantir o direito à educação negada historica-
mente aos trabalhadores do campo brasileiro, e também como uma forma de resistên-
cia ao modelo escolar urbano implementado no campo. Martins (2009, p. 185) afirma
que a intencionalidade da ocupação da escola condensa também uma perspectiva
do projeto de sociedade, uma concepção de classe e um posicionamento identitário.
Nesse sentido, o fundamento da categoria ocupação está vinculado ao projeto de
classe trabalhadora, um projeto
Além disso, a necessidade da ocupação da escola é justificada pela ausência
de políticas educacionais para educação no meio rural brasileiro, e devido ao fato de
que ao sistema produtivo, a escolaridade campesina também serviu de su-
porte para a estruturação de uma sociedade desigual e de preparo mínimo para mão
de obra que atendesse prerrogativas político- (LEITE, 2002, p. 53).
E, ainda, a preocupação principal era a de construir uma forma escolar pen-
sada coletivamente pelos Sem Terra e vinculada à luta do MST na contramão do pro-
jeto hegemônico escolar capitalista. Ao mesmo tempo surgem questões sobre a neces-
sidade de romper com o modelo escolar predominante para a população rural,
quando os acampados começam a discutir a questão da escola, uma das palavras mais
pronunciadas nas reuniões pais e professores é A escola tem que ser dife-
rente, o professor tem que ser diferente, os alunos têm que ser diferentes, tudo dife-
(CALDART et al., 1991, p. 97).
211
DIÁLOGO FREIRIANO
Portanto, dessa preocupação emergiu a busca por uma escola diferente para
o Movimento e no Movimento. Por isso, ao ocupar a escola e objetivar a construção
de uma escola diferente, o MST passa a reescrever a história de educação escolar no
campo. Os primeiros passos para a ocupação da escola e a construção de uma escola
diferente ocorrem, primeiramente, pela redefinição de seus objetivos.
Nesse cenário, o pensamento político-pedagógico freiriano articulou-se aos
desafios da construção de um projeto educativo emancipatório do MST. Sendo pre-
sença constante nas experiências formativas e práticas escolares do Movimento, na
busca da práxis libertadora e transformadora.
212
DIÁLOGO FREIRIANO
E ainda, Freire sempre foi sensível as lutas dos movimentos sociais e suas
marchas, especialmente dos Sem Terra. Para Freire (2000)
O Movimento dos Sem-Terra, tão ético e pedagógico quanto cheio de boniteza, não
começou agora, nem a dez ou quinze, ou vinte anos. Suas raízes mais remotas se
acham na rebeldia dos quilombos e, mais recentemente na bravura de seus compa-
nheiros das Ligas Camponesas que há quarenta anos foram esmagados pelas mes-
mas forças retrógradas do imobilismo, colonial e perverso. O importante porém é
reconhecer que os quilombos tanto quanto os camponeses, das Ligas e os sem-terra
de hoje todos em seu tempo, anteontem, ontem e agora sonharam e sonham o
mesmo sonho, acreditaram e acreditam na imperiosa necessidade da luta na feitura
da história como da (p. 60).
213
DIÁLOGO FREIRIANO
Para ele as marchas dos Sem Terra recuperam a humanidade negada histo-
ricamente aos oprimidos, alimentam a utopia e o sonho, ou seja, Freire reconheceu o
potencial educativo do Movimento no processo de engajamento de homens e mulhe-
res na luta por uma sociedade mais justa e humana para todos. Por fim, cabe destacar
que a pedagogia freireana é ainda hoje alicerce das propostas educativa e escolar do
MST estando presente nos processos formativos de educadores, bem como nas suas
escolas de acampamento e assentamentos.
Considerações finais
Este texto constitui-se como uma breve reflexão em torno das contribuições
do pensamento político-pedagógico de Paulo Freire para a educação no MST. Procu-
rou-se olhar para trajetória histórica de construção da proposta educacional do Mo-
vimento situando como a Pedagogia do Oprimido encontrou-se e dialogou com a Pe-
dagogia do Movimento passando ser base para a realização das práticas pedagógicas
no contexto da escola do acampamento e assentamento por meio da metodologia dos
temas geradores. Como vimos, ao longo de sua trajetória o Movimento utilizando-se
dos pressupostos teórico-metodológicos da pedagogia freireana realiza processos for-
mativos que sinalizam avanços qualitativos no âmbito da formação humana, compre-
endendo a escola como uma instituição que corrobora para construção de um projeto
histórico vinculado às lutas dos oprimidos, bem como com sua emancipação.
Concluímos, que foi o pensar esperançoso de Paulo Freire e a pedagogia do
oprimido que demonstraram a possibilidade da educação como instrumento organi-
zação política e pedagógica para os sujeitos Sem Terra. Anunciou a esperança em uma
educação emancipatória, como uma práxis transformadora, para um mundo melhor,
um mundo justo e humanizado para todos. Dessa maneira, o pensamento político-
pedagógico de Freire contribuiu com questões fundamentais para a luta do MST, ao
ensinar que mudar é difícil, mas é , que a transformação social implica em
sonho, utopia e projeto, ao demonstrar a história como possibilidade, bem como a ne-
cessidade dos oprimidos assumirem os desafios da transformação, de assumir sua pre-
sença no mundo.
214
DIÁLOGO FREIRIANO
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215
DIÁLOGO FREIRIANO
216
A RELAÇÃO ENTRE A PRÁTICA EDUCATIVA
DE PAULO FREIRE E OS DIREITOS HUMANOS NA
PERSPECTIVA DA CULTURA DA PAZ
INTRODUÇÃO
A educação possui um papel primordial na perspectiva de construir uma
cultura de Direitos Humanos, pela sua importância e alcance dentro do espaço social.
Mas, para tal é fundamental uma educação que dialogue com a realidade dos sujeitos
envolvidos no processo de ensino e aprendizagem ressaltando a ação dialógica, vi-
sando a práxis do sujeito na sua realidade em que esteja inserido. A reflexão do con-
ceito de práxis associado ao conceito de prática pedagógica em Paulo Freire, e, por
conseguinte, a educação, no sentido mais amplo à ação transformadora, é uma dis-
cussão relevante e atual.
Não é apenas uma questão moral e ética, é também uma questão política e
social, considerando que a garantia dos direitos sociais, políticos, civis como políticas
públicas são condições para garantir a dignidade humana. Assim, a pergunta geradora
das discussões foi a seguinte: qual a relação entre a prática educativa de Paulo Freire e
os direitos humanos na perspectiva da cultura da paz?
A pesquisa apresenta como objetivo geral: discutir a relação entre a prática
educativa de Paulo Freire e os direitos humanos na perspectiva da cultura da paz. Pos-
sui como objetivos específicos: analisar o conceito de direitos humanos a partir da
Declaração dos Direitos Humanos e de reflexões atuais sobre o tema; reconhecer as
principais contribuições de Paulo Freire no que diz respeito a uma perspectiva dos
direitos humanos e a prática educativa no Brasil; refletir sobre o papel das práticas
educativas na formação de uma consciência voltada à educação para a paz.
A fundamentação teórica da investigação indica três seções que se relacio-
nam e integram a análise sobre o problema apontado: Reflexão crítica dos direitos
DIÁLOGO FREIRIANO
humanos; A prática educativa na perspectiva de Paulo Freire; Papel das práticas edu-
cativas numa educação voltada para a paz.
A quarta seção aponta a metodologia da pesquisa apresentando e classifi-
cando a pesquisa e suas relações com o estudo proposto.
218
DIÁLOGO FREIRIANO
A fonte primária das mais massivas violações de direitos humanos milhões e mi-
lhões de pessoas condenadas à fome e má nutrição, pandemias e degradação ecoló-
gica dos seus meios de subsistência reside na dominação do Norte Global sobre o
Sul global, agora intensificada pelo capitalismo neoliberal global. (SANTOS 2010, p.
436-437).
O que nos faz pensar que: se os direitos humanos são de fato universais e já
nascidos com o indivíduo, qual o motivo de não haver acesso a eles para tantas pes-
soas?
Herrera Flores (2009) e Santos (2010) trazem importantes reflexões a esse
respeito, ele define os direitos humanos não como garantias, mas como processos,
resultado sempre provisório das lutas que os seres humanos colocam em prática para
219
DIÁLOGO FREIRIANO
ter acesso aos bens necessários para a (HERRERA FLORES, p. 28) Tais bens
seriam: convicção religiosa, trabalho, meio ambiente, cidadania, alimen-
tação sadia, tempo para o lazer e formação, patrimônio histórico-artístico, (idem,
idem). Resultados provisórios porque sua validade encontra-se sempre ameaçada pe-
las variações do contexto sócio-cultural, podendo ser desestruturados caso as neces-
sidades fundamentais de cada grupo cultural sejam desconsideradas em benefício de
uma visão de mundo única.
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DIÁLOGO FREIRIANO
tem. Pinto (2003, p. 48), ressalta que a educação é também fator de ordem consciente
determinada pela consciência social e objetiva do sujeito de si e do mundo. Segundo
ele, a alienação educacional pode ser uma característica da atividade pedagógica, aler-
tando para a necessidade imprescindível que o educador transforme a sua realidade,
sendo antes de tudo o seu próprio povo, passando da consciência ingênua à crítica.
Nessa perspectiva, o professor deve compreender a educação como prática
social, intransferível de uma sociedade a outra, servindo aos objetivos e interesses das
lutas pelo desenvolvimento e transformação do indivíduo. O alfabetizando adulto é
visto como detentor de um saber, no sentido do conceito de cultura e sujeito da edu-
cação, nunca objeto dela, já que essa se concretiza em um diálogo amistoso entre os
sujeitos educadores educandos. Assim o conhecimento é visto como produto da
existência real, objetivo, concreto e material, do homem e de seu mundo. Freire (1979,
p.4) ressalta a importância da dimensão cultural no processo de transformação, pois
educação é mais do que uma instrução, para ser transformadora deve enraizar-se
na cultura dos Nesse sentido a transmissão de conteúdos estruturados fora do
contexto do alfabetizando é considerada invasão cultural, porque não emerge saber
popular.
No pensamento de Freire (1967, p.19-20) o aluno é um depósito que
deve ser preenchido pelo professor juntos podem aprender e descobrir novas di-
mensões e possibilidades na realidade da vida, pois o educador é somente mediador
no processo de ensino-aprendizagem e aprende junto com seu aluno. A educação é
vista por) Freire (1967, p. 23) como uma capaz de torná-la
mais humana e transformadora para que homens e mulheres compreendam que são
sujeitos da própria história. A liberdade torna o centro de sua concepção educativa e
esta proposta é explícita desde as primeiras obras por ele construídas. Nas suas expec-
tativas os analfabetos deveriam ser reconhecidos como seres humanos produtivos,
que possuem uma cultura, e o papel do educador deve ser de profundo comprometi-
mento de transformação social com os educandos.
Cabe ao professor mediar à aprendizagem sempre priorizando a bagagem de
conhecimentos trazida pelo aluno da sua vivência mundana, transpondo esse conhe-
cimento prévio para o conhecimento letrado. Contudo, para essa adequação se tornar
viável, não basta somente revermos o material didático, é preciso não só o educador
repense o seu papel enquanto mediador de uma aprendizagem que priorize a baga-
gem de conhecimento trazido por seus alunos, mas também a flexibilidade das insti-
tuições em permitir a realização de um bom trabalho diferenciado.
221
DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
A teoria em si (...) não transforma o mundo. Pode contribuir para sua transforma-
ção, mas para isso tem que sair de si mesma, e, em primeiro lugar, tem que ser assi-
milada pelos que vão ocasionar com seus atos reais, efetivos tal transformação. Entre
a teoria e a atividade prática transformadora se insere um trabalho de educação das
consciências, de organização dos meios materiais e planos concretos de ação. (Vas-
quez, 1977, p. 206).
[...] atividade concreta pela qual os sujeitos humanos se afirmam no mundo, modi-
ficando a realidade objetiva e, para poderem alterá-la, transformando-se a si mes-
mos. É a ação que, para se aprofundar de maneira mais consequente, precisa da re-
flexão, do autoquestionamento, da teoria; e é a teoria que remete à ação, que en-
frenta o desafio de verificar seus acertos e desacertos, cotejando-os com a prática.
(1992, p. 115).
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DIÁLOGO FREIRIANO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente artigo foi desenvolvido na perspectiva de uma pesquisa explora-
tória, com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de de-
terminado fato (GIL, 2008). O estudo bibliográfico foi norteada pela reflexão dos di-
reitos humanos em Herrera Flores e a prática educativa em Paulo Freire numa pers-
pectiva da educação para a Paz. Assim, como salienta Cervo e Bervian, (1983, p. 55):
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DIÁLOGO FREIRIANO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização destes estudos buscou contribuir para uma análise crítica em
relação ao formato de prática pedagógica utilizado e incitado na área da educação,
estudos como esse podem contribuir na formação do profissional docente, assim
como para políticas públicas de valorização e formação continuada desses profissio-
nais e aumentar o número de pesquisadores, pois, quando analisamos o processo de
realização das pesquisas levantadas, supõe-se desenvolver uma criticidade metodoló-
gica que poderá auxiliar na identificação de lacunas na própria pesquisa, assim como
instigar estudos posteriores que venham a agregar ou refutar tal ideia. Não se esgo-
tando em mera passividade, mas criando e recriando e integrando-se com o contexto
e suas condições ao responder aos seus desafios.
As reflexões realizadas nesse estudo sobre a perspectiva crítica dos direitos
humanos e a prática educativa em Freire possibilitaram indagações sobre as desigual-
dades sociais, uma vez que a igualdade, a liberdade, a justiça, entre tantos direitos,
embora sejam postos como universais, não encontram respaldo na realidade. Para que
227
DIÁLOGO FREIRIANO
todos tenham acesso a esses direitos, os autores analisados apresentam como essencial
considerar as necessidades de cada sociedade e cada cultura, num processo dialógico,
sem estabelecer como única determinada visão de mundo.
Sabendo de nossa incompletude explanada por Freire em variados estudos,
temos ela como subsídio para constante busca por aprendizado significativo, ocasio-
nado através da práxis diária pautada na tríade de finalidades: descortinar o conheci-
mento acumulado em um determinado campo, permitindo ser utilizado por pesqui-
sadores ou por profissionais para avançar os estudos ou aprimorar o trabalho; na
construção de novas teorias, redefinir existentes ou desenhar novos estudos; e na con-
dução de pesquisas que permitam verificar a validade empírica de efetividade de mo-
delos e quadros teóricos.
228
DIÁLOGO FREIRIANO
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Gil, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ED. São Paulo: Atlas,
2008.
229
DIÁLOGO FREIRIANO
230
A LEITURA DE MUNDO E O CURRÍCULO: CONSTRUÇÕES E
DESCONSTRUÇÕES SOB UMA PERSPECTIVA FREIREANA
Emanuelle Milek 1
Ana Maria Soek 2
Nívea Maria Camargo 3
Sonia Maria Chaves Haracemiv 4
1. INTRODUÇÃO
A educação popular freireana, como ato político de conhecimento e ato cri-
ador, destaca a importância da criticidade e das práticas e experiências de vida cotidi-
ana dos sujeitos dentro da composição do processo de transformação social. Educação
essa que perpassa a singela ideia de relacionar-se a fatores sociais, políticos, culturais,
históricos e econômicos, estendendo-se para a valorização e respeito das diferenças
culturais e os saberes e experiências de vida de cada sujeito.
Dentro da perspectiva freireana foi acrescido, propositalmente ao título
deste artigo, a terminologia Leitura de Mundo que remete à importância da significa-
ção e dos sentidos daquilo que as escolas trazem enraizadas em seus currículos, bem
como os significados estabelecidos/compreendidos por seus sujeitos, dentro do pro-
cesso de ensino-aprendizagem, para realizar uma leitura de mundo a qual Freire de-
nomina de palavramundo.
Assim, tem-se como significação crítica do ato de educar, uma relação igual-
mente crítica do ato de aprender. Pois, para Freire, não existe um ensinar sem apren-
der, afinal ensinar e aprender se complementam de tal maneira que quem ensina
aprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de ou-
tro, porque, observado a maneira como a curiosidade do educando aprendiz trabalha
para apreender, o ensinante se ajuda a descobrir incertezas, acertos e equívocos.
O ensinar não pode centrar-se na simplicidade de transferir, pois precisa sig-
nificar um processo constante de construção mútua do conhecimento. A forma crítica
de compreender e de realizar a leitura da palavra e a leitura do mundo está, de um
1
Doutoranda no PPGE-UFPR, Linha Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano.
2
Doutoranda no PPGE-UFPR, Linha Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano.
3
Doutoranda no PPGE-UFPR, Linha Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano.
4
Professora Doutora do PPGE-UFPR, Linha Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano.
DIÁLOGO FREIRIANO
232
DIÁLOGO FREIRIANO
A Lisboa de que fala o professor de Geografia não deve ser confundida com a Lisboa
em que o aluno vive. De certo modo, trata-se da mesma cidade, mas a relação com
ela não é similar nos dois casos: esta é lugar de vivência, aquela é objeto de pensa-
mento. (CHARLOT, 2013, p. 147).
233
DIÁLOGO FREIRIANO
O ensinante aprende primeiro a ensinar mas aprende a ensinar ao ensinar algo que
é reaprendido por estar sendo ensinado. O fato, porém, de que ensinar ensina o en-
sinante a ensinar um certo conteúdo não deve significar, de modo algum, que o en-
sinante se aventure a ensinar sem competência para fazê-lo. (FREIRE, 2001, p. 259).
234
DIÁLOGO FREIRIANO
Educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que pouco sabem, por
isto, sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais - em diálogo com
aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando
seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber
mais. (FREIRE, 2011d. p. 96).
235
DIÁLOGO FREIRIANO
que tenhamos sensibilidade para perceber que estamos frente a um grupo que são
portadores de imenso repertório de saberes. São grupos carregados de
236
DIÁLOGO FREIRIANO
5
Imagem disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hierarquia_de_necessidades_de_Maslow>.
Acesso em: 12jul19.
237
DIÁLOGO FREIRIANO
desta proposição é a de que os seres humanos são construídos não pela competição,
não pela negação do outro, não pela indiferença, mas sim pela cooperação, pela acei-
tação, pela tolerância. A cooperação aproxima o diálogo e o reconhecimento. (BAR-
CELLOS, 2010).
Barcellos (2010) ressalta que o currículo, as práticas pedagógicas e afetivi-
dade são contribuições da biologia do amor e da biologia do conhecimento, numa
visão freiriana a existência humana acontece no processo relacional do conversar. É o
fundamento biológico do mover-se, de um ser vivo, no prazer de estar onde está na
confiança de que é acolhido. Ao longo da vida se constrói o mundo em que vive e o
mundo constrói a todos no decorrer dessa viagem, influenciando e modificando os
homens pelo que experienciam.
Não tem como separar produção do conhecimento de emoções. O nexo ín-
timo e estreito entre educação e identidade social, entre escolarização e subjetividade
é assegurado precisamente pelas experiências cognitivas e afetivas corporificadas no
currículo. (FREIRE, 2001c).
A construção do conhecimento, bem como o processo de aprendizagem hu-
mana, pode se dar via diferentes metodologias e/ou práticas didáticas, metodológicas,
organizativas e pedagógicas. Não existe separação entre a dimensão biológica e di-
mensão cultural da pessoa, e nos seus processos de viver. (BARCELLOS, 2010).
A ideia de currículo colocada por Barcelos (2010) é o de organização como
rede de entrelaçamento de conhecimentos, saberes, experiências e emoções. Proposi-
ção epistemológica para a construção de conhecimento. Ao se pensar alternativas de
Diretrizes Curriculares, há que se considerar e escutar as experiências trazidas pelos
educandos, não torná-lo uma mera lista de conteúdos a serem contemplados.
É necessário que educador, numa postura humanista, tenha sensibilidade
quanto à realidade que atua, desvelando a opressão em que os sujeitos se encontram,
buscando observar as relações de fragilidades. Movimento necessário para encontrar
um estatuto teórico que valide as intuições da qual brotam as reflexões de as práticas
cotidianas. (PEROZA; SILVA; AKKARI, 2013. p. 463).
Freire (2011) percebe que os hábitos e visões de mundo presentes na sua cul-
tura, revelam alguns detalhes que precisam ser analisados em sua configuração histó-
rica, ou seja, que se constituíram de determinada maneira e têm suas razões de ser.
Por isso, afirma insistentemente que, a eficácia de uma prática educativa coerente,
precisa esforçar-se para desvelar a ea da cultura das classes popu-
lares com as quais se encontra.
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DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
mundo então preceder a leitura dada/imposta da palavra, faz-se necessário o real dis-
cernimento quanto às verdadeiras relações humanas, de maneira que estas interve-
nham no mundo e assim modifiquem-no. Construir e desconstruir um currículo são
fundamentais em respeito ao ser humano, de adequação às especificidades e necessi-
dades individuais, de respeito às diferenças. Desconstruir é construir novamente, sob
diferentes perspectivas para com diferentes intenções.
O currículo deveria permear e nortear, não necessariamente, engessar e en-
gendrar em si um completo e absoluto que não seja tão representativo quanto
um eixo de flexibilização dentro deste, que valorize relações significativas ao invés de
meras representações. Para não então, como educadores e como institui-
ções educacionais, nas armadilhas das palavras que supomos poder utilizar como
princípio norteador do partilhar do conhecimento, para sulear educandos que dela
não têm a compreensão significativa suficiente.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após essa pequena jornada de discussões e aprendizagens quedam-se os
questionamentos: que currículo pode ser oportunizado para as distintas realidades?
O que atende à necessidade e especificidade do aluno? Quais as perspectivas e objeti-
vos que cada indivíduo espera obter da escola? O que motiva os alunos a irem à escola?
Qual a perspectiva de vida que cada um espera alcançar com o auxílio da escola?
É compreensível que não existe uma fórmula escolar que compreenda os di-
ferentes vieses advindos das diferentes realidades e concepções de vida de cada um. A
trajetória educacional vira um reflexo social, um reflexo que modifica seu significado
como uma de uma nem sempre atendida e
muitas vezes incompreensível afinal, nesse jogo de incompreendidos eu posso passar,
permanecer ou simplesmente desistir, fazer com que esse sistema se torne excludente
e sem significado, ou importante e fundamental para minha constituição e emancipa-
ção social.
Vale destacar importante mensagem advinda do documentário Pro dia nas-
cer feliz, com roteiro e direção de João Jardim, o qual retrata as angústias e inquieta-
ções do adolescente, e, em especial, a maneira como ele se relaciona com um ambi-
ente, que por vezes identifica e por outras não, ser fundamental em sua formação: a
escola. Filmado em três Estados brasileiros com classes sociais distintas, o documen-
tário desenha um diário de observação do adolescente brasileiro. Professores também
expõem seu cotidiano profissional, ajudando a pintar um quadro completo das desi-
gualdades e da violência no país a partir da realidade escolar.
240
DIÁLOGO FREIRIANO
241
DIÁLOGO FREIRIANO
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242
DIÁLOGO FREIRIANO
243
GOLPE MILITAR DE 1964:
COMO O GOLPE MILITAR INTERROMPEU O PROCESSO
DEMOCRÁTICO E DESTITUIU O PRESIDENTE JOÃO
GOULART (1954 À 1964)
1. INTRODUÇÃO
O golpe militar de 1964 resultou do plano de desestabilização da política es-
tadunidense para os países latino-americanos. Planejado com características de mo-
vimentos sociais para derrubar o governo nacionalista e democrati-
camente eleito do Presidente João Goulart
Fundado no discurso anticomunista a partir da Guerra Fria, somando-se ao
evento da Revolução Cubana, o Exército brasileiro apoiado pelas classes dominantes,
as empresas nacionais e multinacionais, o alto clero da Igreja católica, e a imprensa
que teve um papel de destaque na função de manipular as informações, difundir falsas
denúncias, principalmente sobre as políticas de governo, criando um clima de des-
confiança e de terror entre a população conclamando, através de seus editoriais, as
pessoas a irem para as ruas defender a democracia que estava em com a ex-
pansão do comunismo na América Latina.
Conforme Emiliano José (Galeria F, 2005) a grande imprensa brasileira cha-
mou o golpe, quis o golpe e articulou o golpe vendo, posteriormente, a censura voltar-
se contra ela ou, ao menos, contra alguns dos órgãos que se entusiasmaram com a
ordem castrense como foi o caso do Correio da Manhã que deu entusiástico apoio ao
golpe militar e depois, como reagiu às violências da ditadura, foi implacavelmente
perseguido por ela, até extinguir-se. São famosos os títulos dos seus editoriais nos úl-
timos dias de Goulart, característicos de um meio que se envolvera profundamente
com ideias do golpe, usando: e uma sequência tipicamente
golpista, clara subversão dos princípios democráticos, atuação contra um governo de-
mocraticamente eleito.
Trabalho apresentado à disciplina Prática de Pesquisa em História como parte dos pré-requisitos para a
obtenção do diploma de Licenciatura em História.
DIÁLOGO FREIRIANO
2. JOÃO GOULART
2.1 João Goulart, Ministro do Trabalho do Governo Vargas.
Em 1951, Getúlio Vargas voltou à presidência, desta vez de forma democrá-
tica, através do voto da ampla maioria da população. Entretanto, em seu novo go-
verno, Vargas enfrentou uma das mais duras oposições da história republicana brasi-
leira.
Sua marca ditatorial contradizia seu perfil populista visto que foi um dos
presidentes que mais investiu no trabalhador brasileiro, seu governo deixou um le-
gado que persiste até os dias atuais, a exemplo das leis trabalhistas e do desenvolvi-
mento do parque industrial brasileiro. Contudo, as medidas nacionalistas e nas áreas
econômica e trabalhista decretadas por Getúlio criaram um clima de descontenta-
mento nos seus adversários. Nesse momento eclodiu uma campanha contra Getúlio,
articulada pela UDN, por importantes setores das Forças Armadas, pelo empresari-
ado e pela maioria da imprensa liderada por Carlos Lacerda, (então governador do
Rio de Janeiro e seu principal opositor).
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uma lição: a maioria do povo votou contra nós contra as forças progressistas, de-
mocráticas e (ALMEIDA, 2002, p. 90)
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Para muitos analistas políticos não foi de forma casual que, naquele con-
texto, ele convidou seu vice-presidente para chefiar uma comitiva à União Soviética e
à China. Sobre João Goulart pesavam, desde que assumiu o Ministério do Trabalho
de Vargas (1953-54), fortes acusações de proximidade com os comunistas, por conta
de seus diálogos e negociações com o movimento sindical. Na presidência do PTB
Jango defendia as reformas de base; no Partido, para os grupos nacionalistas e de es-
querda, elas eram um conjunto de medidas que permitiam o desenvolvimento econô-
mico e a justiça social no Brasil. No entanto, para os setores políticos conservadores,
as reformas de base seriam prejudiciais às estruturas econômicas e político-sociais do
país, sendo a mais temida delas a reforma agrária (FICO, 2015).
Jânio sabia que amplos setores da sociedade e fortes grupos políticos e mili-
tares dificilmente tolerariam a possibilidade de Goulart assumir a presidência da Re-
pública. Renunciar ao cargo subitamente, tendo como vice um nome com tal histórico
e ainda por cima tão longe literalmente na China fazia parte de seus planos, ele
desejou ameaçar os políticos brasileiros jogando com a ampla rejeição militar ao
nome de Jango. O fato é que na manhã do dia 25 de agosto, logo após as comemora-
ções do Dia do Soldado, o presidente do Congresso Nacional, Ranieri Mazzilli (PSD),
recebeu uma carta de renúncia de Jânio Quadros (FERREIRA, 2014).
Ainda em Paris, através da visita do Deputado trabalhista, Carlos Jeressati,
do Ceará, Jango foi informado da extrema gravidade da crise, a qual poderia, de fato,
resultar em uma guerra civil (FERREIRA, 2014).
Em Porto Alegre, Brizola percebeu que, diante da gravidade do momento,
para resistir ao golpe era necessário, além do apoio político e militar, o apoio da po-
pulação. Para tanto, era fundamental romper a censura dos meios de comunicação
para garantir aliados à posse de Goulart. Na manhã do dia 27 de agosto as rádios gaú-
chas (Capital, Farroupilha e Difusa) foram tomadas por tropas do III Exército, e di-
ante disso Brizola ordenou que a Guarda Civil invadisse a sede da rádio Guaíba e trou-
xesse seus equipamentos para os porões do Palácio Piratini. Com os transmissores da
rádio em seu poder e sob a guarda de duzentos homens da Brigada Militar, o gover-
nador passou a defender a legalidade da posse de Jango, mobilizando de imediato a
população da capital e do interior do Rio Grande do Sul (FERREIRA, 2014).
Diante da atitude de Brizola, no mesmo dia a Junta Militar ordenou ao Co-
mando do III Exército que destituísse o governador, se houvesse alguma resistência o
Palácio deveria ser bombardeado por tanques ou pela viação de caça. Entretanto, o
Comandante Machado Lopes comunicou a Brizola que ele e os generais do Estado-
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DIÁLOGO FREIRIANO
Maior do III Exército haviam rompido com Odílio Denyes e estavam do lado da lega-
lidade e da Constituição, portanto, estavam decididos a defender a posse de Jango,
João Goulart era o vice-presidente eleito e tinha o direito constitucional de assumir a
presidência (FERREIRA, 2014).
A tensão política era profunda e os militares afirmavam que não aceitariam
Goulart na presidência, para eles Jango como presidente era sinônimo de comunismo
e de caos. O golpe estava posto: ou se enfrentaria uma guerra civil ou se buscaria uma
solução negociada.
O ex-ministro de Vargas, Tancredo Neves, foi encarregado de levar a pro-
posta a Jango, em Montevidéu. Embora favorável a uma solução pacífica e já ciente de
que se buscava uma negociação política com os militares, Jango a princípio resistiu à
proposta, uma vez que, com o regime parlamentarista ele assumiria, mas com poderes
limitados. Goulart sabia da gravidade da crise, o país encontrava-se fragmentado,
ameaçado por um conflito armado. Diante da iminência de uma guerra civil ele deci-
diu, mesmo a contra gosto, aceitar o parlamentarismo para tomar posse e conduzir o
país à normalidade constitucional, na presidência da República teria maiores condi-
ções políticas para agir (FERREIRA, 2014).
Havia no Congresso Nacional, há muitos anos, a tramitação de uma emenda
parlamentarista; nesse crítico momento um grupo de parlamentares do PTB e do PSD
foi designado a dar uma nova redação à emenda que, em regime de urgência, entrou
em pauta para votação no Congresso Nacional.
Quando parecia que a crise já havia sido contornada Jango sofrera novas
ameaças, rumores diziam que o avião que o levaria de Porto Alegre à Guanabara po-
deria ser abatido por caças. Tratava-se do que, posteriormente, ficou conhecido como
Operação Mosquito, era bem mais que um boato, portanto, o general Ernesto Geisel,
chefe da Casa Militar, presente ao encontro com os ministros, ordenou que tropas do
Exército tomassem as bases aéreas onde se encontravam os caças e garantiu o pouso
do avião presidencial, embora outras versões afirmem que os sargentos é que sabota-
ram as aeronaves. Dessa forma, Goulart só viajou, com segurança, até Brasília no dia
5 de setembro. (Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1961, p. 1)
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DIÁLOGO FREIRIANO
Mas como governar o país sob o regime parlamentarista? Era a primeira vez,
em toda a história republicana, que o Brasil adotava o regime de gabinete, algo com-
plexo para os políticos e para o novo presidente, habituados a compor ministérios se-
gundo a lógica presidencialista. Além disso, a crise político-militar não se dissipara
completamente, tanto que as tropas do I Exército, que haviam se deslocado para o Sul,
permaneciam em suas posições, aguardando o recuo dos contingentes do III Exército,
comandados por Machado Lopes. Até a meia-noite da véspera de sua posse, Jango
ainda não havia indicado quem seria o primeiro ministro, os nomes de Auro de
Moura Andrade e Tancredo Neves eram os mais cogitados. Goulart teria declarado
que desejava um homem de sua confiança pessoal, um raciocínio presidencialista,
pois um primeiro-ministro precisa da confiança de ampla maioria do Parlamento,
sem isso não poderia governar, de forma que o Congresso havia previsto outra sessão
após a posse de Jango, exatamente visando a apreciar o Gabinete.
A adoção do parlamentarismo no Brasil foi idealizada em função das difíceis
circunstâncias políticas que o país vivia, pois o regime não era desejado nem pela Junta
Militar, nem pelo Congresso e nem por Jango, todos aceitaram como um mal menor.
Seu maior objetivo era impedir a guerra civil garantindo a posse de Jango.
No parlamentarismo instaurado no Brasil era o presidente da República e
não o primeiro-ministro quem vetava os projetos de lei, no entanto, todos os atos do
presidente deviam ser referendados pelo primeiro-ministro, o que na prática podia
produzir dificuldades e mesmo impasses para o funcionamento do governo. De qual-
quer forma, a própria falta de clareza da legislação constituía-se um limitador para as
ações do presidente João Goulart.
Conforme previa o regime parlamentarista, os partidos políticos elegem suas
bancadas para o Parlamento. Um partido pode ser maioria ou formalizar aliança com
outro partido ou com vários partidos políticos. Seja como for, o partido majoritário
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Jango chegou à presidência em meio a uma crise política, ele não era um ho-
mem de posições radicais, tendia à negociação e contava com o apoio popular con-
forme pesquisas do Ibope porém vinha recebendo críticas dos militares, da im-
prensa, de setores conservadores da Igreja Católica e da classe média, descontente com
a crise econômica.
Goulart procurava conciliar, o que não é nada fácil quando as diversas forças
já se encontravam em estado de guerra. De um lado estavam os grupos há muito
tempo conhecidos na história brasileira, as forças do liberalismo internacional e os
seus asseclas brasileiros, capitaneados pela UDN de Carlos Lacerda e dos governado-
res Magalhães Pinto (MG) e Ademar de Barros (SP), que tinham um partido próprio.
A estas forças somavam-se as instituições do IBAD e do IPES, amplamente financia-
das pela CIA, e se encarregavam da propaganda e da agitação política. Eram as forças
civis que se articulavam com setores do exército e que estariam, mais tarde, à frente
do golpe.
O presidente tentava a governabilidade e garantir a maioria no parlamento
para as reformas de base, contudo, o bloco aliado (PTB e PSD) não estava coeso, inte-
resses individuais e a perspectiva da sucessão presidencial faziam com que cada um
seguisse os próprios passos em detrimento dos interesses nacionais. As esquerdas se
dividiam entre Jango, Arraes e Santiago Dantas e Brizola, Prestes, Francisco Julião e a
CGT. Contudo, a situação ficava cada vez mais difícil para Jango, a inflação começava
a pesar contra ele e, na política externa, tinha em John Kennedy um
(FERREIRA, Jorge 2014).
Para pressionar o Congresso Nacional a aprovar as reformas de base Jango
decidiu realizar grandes comícios por todo o Brasil, o Comício da Central, de 13 de
março de 1964, foi o primeiro deles e acabou se tornando também o último.
Também conhecido como o Comício das Reformas, com o objetivo de
apoiar a proposta de Jango de implantar as Reformas de Base, o Comício da Central
foi realizado na Central do Brasil, na Praça da República no Rio de Janeiro. Reuniu
representantes de partidos políticos, trabalhadores do campo e da cidade, servidores
públicos, estudantes, soldados e sargentos, totalizando mais de 300 mil pessoas. Den-
tre os oradores estavam presentes os governadores Miguel Arraes (PE), Leonel Brizola
(RS), os dirigentes da União Nacional dos Estudantes (UNE) e do Comando Geral
dos Trabalhadores (CGT). Em um clima radicalizado o presidente Jango respondeu
aos adversários: empresários contrários às reformas e à imprensa, que o acusava de
preterir à Constituição e forjar um golpe de Estado. (FERREIRA, 2014).
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Jango ainda não havia deixado o país quando o senador Auro de Moura An-
drade, no dia 3 de abril, em sessão extremamente tumultuada com represálias morais
como as de Tancredo Neves e outros senadores que o chamavam de e gol-
declarou a vacância do cargo de presidente da República e em consequência
determinou a posse do presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. Assim, o aparato civil
entra em cena para legitimar o Golpe.
Na capital, o ministro-chefe do Gabinete da Casa Civil do governo de Jango,
Darcy Ribeiro, junto aos setores leais ao presidente, havia reunido cerca de mil traba-
lhadores, no Teatro Nacional, decididos a pegar em armas e insistiu então para que
Jango resistisse, mas ele não concordou. De Brasília, onde encontrou sua mulher, seus
filhos e recolheu documentos pessoais, Jango seguiu para Porto Alegre e lá ouviu de
Leonel Brizola os mesmos apelos para que resistisse. Decidiu, no entanto, buscar exí-
lio no Uruguai e posteriormente na Argentina, onde faleceu em 1976. Voltou ao Brasil
morto para ser enterrado em São Borja, ao lado de Getulio Vargas. Em 2013 seu corpo
foi exumado em busca de provas de que teria sido assassinado por envenenamento
assim, em dezembro desse mesmo ano, foi novamente sepultado, dessa feita, com
honras de chefe de Estado.
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DIÁLOGO FREIRIANO
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após este trabalho de conclusão de curso, é possível perceber a importância
do resgate da trajetória política do presidente João Goulart, bem como as reais causas
que motivaram sua destituição por um golpe civil militar. É inadmissível que ainda
hoje prevaleça a inversão dos fatos e, que a manipulação das informações persista
261
DIÁLOGO FREIRIANO
como verdade absoluta para muitos, conforme a versão dos generais, detentores do
poder nos anos de chumbo.
Em todo período da ditadura civil militar a história não era ensinada nas es-
colas ou, era ensinada segundo a ótica dos generais, e as novas gerações pouco ou nada
conhecem sobre o golpe civil militar de 1964 e a trajetória política do presidente João
Goulart, assim como as reais causas pelas quais foi deposto. Se juntarmos a manipu-
lação dos meios de comunicação e as que permanecem como
chegaremos à conclusão que esse é maior exemplo da Propaganda Ideológica de des-
construção da história do Brasil. Dessa forma, é necessário analisar o contexto para
entender como e por que um golpe civil militar depôs o presidente da República, in-
terrompeu um processo democrático e instalou no país uma ditadura que durou 21
anos.
Percebe-se que o golpe não era contra o presidente da República, o golpe era
contra um projeto que contrariava interesses políticos e econômicos das classes do-
minantes nacionais e internacionais. Tais interesses levaram os EUA a apoiarem o
golpe, conforme vimos, documento secreto dos EUA, de 1963 que mais tarde revelou
um de que definia como diretrizes a destituição de Goulart, a
formação de um novo governo e estabelecia que os Estados Unidos deveriam intervir
militarmente no Brasil caso houvesse confronto, com apoio de algum país comunista.
Com esse estudo, constatamos que, nas eleições de 1962, candidatos, oposi-
tores de Jango foram financiados pelo governo dos EUA. Além disso, governadores
de oposição receberam empréstimos, e outros valores foram recebidos para financiar
inúmeras iniciativas, nos meios de divulgação, para difundir propagandas anticomu-
nistas e contra o governo de Jango. Essa oposição ao governo de João Goulart conso-
lidou-se quando, ainda Ministro do Trabalho do governo Vargas, Jango defende o
aumento de 100% no salário mínimo e articula com as lideranças sindicais buscando
a solução de conflitos com os movimentos de greves. E enquanto presidente, em nome
da autodeterminação dos povos, não pactua com as ameaças de sanções impostas pe-
los Estados Unidos no auge da Guerra Fria e estabelece uma política externa de inde-
pendência, no relacionamento com Cuba e demais países de cunho comunista à
exemplo da República Popular da China e a União Soviética.
Analisando, portanto, os discursos contra o presidente, constatamos que
este é um pensamento irracional elaborado pelos seus opositores. A tese de rotular
Jango de comunista é desconstruída pelas pesquisas e publicações de renomados his-
toriadores, as quais nos permitem concluir: Jango não era comunista, tampouco era
anticomunista. Ele era um político nacionalista e pertencia ao PTB, o mesmo partido
262
DIÁLOGO FREIRIANO
de Getulio Vargas, de quem Jango era amigo e herdeiro político. A ele foi concedida a
carta testamento e todo o legado trabalhista. Vale ressaltar que antes de Getúlio Dor-
nelles Vargas suicidar-se ele entrega em mãos a carta testamento ao seu amigo João
Goulart pedindo que só abrisse a carta quando desembarcasse em Porto Alegre. Sendo
assim, nas palavras de Vargas, transcrevo o que se conhece pela história: amigo
Jango, hoje eles estão vindo atrás de mim, amanhã eles virão atrás de ti, toma esta carta
e só abra ela assim que desembarcares em Porto (Depoimento de João Vi-
cente Fontanella Goulart, apud João Alexandre Goulart).
Goulart, em toda sua trajetória, soube conviver com as diferenças ideológi-
cas e defendia o direito à autodeterminação dos povos. Para Goulart a amizade entre
os povos estava além das fronteiras ideológicas e o respeito à autodeterminação como
um direito conquistado. Jango foi o primeiro representante do governo brasileiro a
visitar a China, promovendo assim a aproximação do Brasil com aquele país. Em seu
discurso ele afirma: a amizade cada vez mais estreita entre a China Popular e os
Estados Unidos do Brasil, Viva a amizade dos povos asiáticos, africanos e Latino-
(TENDLER, 1984, -
Ainda hoje se questiona: por que Jango não resistiu? Na Base Aérea de Santa
Cruz, como vimos anteriormente, Oficiais legalistas, aguardaram ordem do presi-
dente para fazer decolar cinco jatos que poderiam, ao menos obrigar Mourão Filho a
negociar, mas a ordem não veio. O ministro-chefe do Gabinete da Casa Civil de seu
governo, Darcy Ribeiro, havia reunido, junto aos setores leais ao presidente, cerca de
mil trabalhadores, assim como Leonel Brizola havia pedido que resistisse, mas Jango
decidiu não resistir. Havia expectativa de confronto, no entanto, além de sua índole
pacífica, também não contava com suficiente apoio militar. E como vimos, os EUA
estavam dispostos a invadir o Brasil com a força tarefa da Operação Brother Sam.
Assim, consumou o golpe civil militar de 1964 que destituiu o presidente
João Goulart, interrompeu o processo democrático e instalou uma ditadura no Brasil
que durou 21.
Para abordar os aspectos similares entre os fatos históricos de 1964 e o atual
contexto político brasileiro, trazemos um depoimento do jornalista João Vicente Fon-
tella Goulart, filho do Presidente Jango, em entrevista ao Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias de Confecções e Vestuário de Guarulhos:
nós estamos vendo aí jogadas políticas que nos lembram muito 1964″, afirma
o filho do ex-presidente Jango, João Vicente Goulart. Para ele as semelhanças são
reconhecíveis. João Vicente está se referindo à comparação do momento que esta-
mos vivendo com aquilo que seu pai, João Goulart, viveu no processo da derrubada
do governo. Para ele o financiamento empresarial é a grande conexão entre hoje e
263
DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
REFEREÊNCIAS
ALMEIDA, Francisco Inácio (org.). O último secretário: a Luta de Salomão Malina.
Brasília: Fundação Astrojildo Pereira, 2002.
DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do estado: ação política, poder e golpe
de classe. Rio de Janeiro: Vozes, 1981.
EMILIANO JOSÉ. Galeria F: Lembranças do Mar Cinzento, IV 2005.
FERREIRA, Jorge. 1964. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2014.
FICO, Carlos. O Grande Irmão (Operação Brother Sam). Rio de Janeiro, Civilização
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FICO, Carlos, História do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Contexto, 2015.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social 1999, p.4-5
GOULART, João Alexandre, Monografia do curso de Publicidade e Propaganda da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2009.
GOULART, João Vicente Fontanella. Entrevista concedida ao Sindicato dos Traba-
lhadores nas Indústrias de Confecções e Vestuário de Guarulhos, 2015.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1999.
TENDLER, Silvio. Jango. Rio de Janeiro: Caliban, 1983, DVD.
265
MAPAS MENTAIS NO ENSINO DE GEOGRAFIA FEITO POR
AUTISTAS NA ESCOLA BÁSICA FLUMINENSE:
O DESAFIO DA INCLUSÃO
1
Prof. Dr. de Ensino de Geografia do IM/UFRRJ e professor do Programa de Pós-Graduação em
Geografia - PPGGEO/UFRRJ, Pesquisador Universal CNPq e Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE)
da FAPERJ. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Geografia GEPEG/UFRRJ.
2
Mestre em Geografia PPGGEO/UFRRJ, Licenciatura Plena em Geografia UFRRJ, Bacharel em
Fonoaudiologia UNESA. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Geografia
GEPEG/UFRRJ; marilzafonogeo@gmail.com
DIÁLOGO FREIRIANO
atrás, por sua vez, das malformações congênitas e da síndrome de Down. Logo, per-
cebe-se que o autismo ocupa uma posição significativa quando se reporta às deficiên-
cias que acometem crianças no Brasil. Desse modo, de acordo com os últimos dados
estatísticos do Ministério da Saúde do Brasil (2013) é possível que haja cerca de 1,2
milhões de pessoas com autismo no Brasil, assim como, os dados de 2010 divulgados
pelo Center of Diseases Control and Prevention (CDC), órgão do governo dos Estados
Unidos, dispõem que os meninos têm 5 vezes mais probabilidade de ser diagnosticado
com TEA do que as meninas.
Contudo, torna-se importante analisar e identificar a expressão da lingua-
gem cartográfica das pessoas com TEA, dentro de suas realidades. Para isso, torna-se
necessário apreender como ocorre o desenvolvimento das crianças e de suas relações
espaciais com o meio, como ocorre o desenvolvimento das habilidades cognitivas su-
periores, a formação de conceitos, o pensamento-linguagem para se chegar às repre-
sentações dos indivíduos, como o mapeamento cognitivo, ou seja, compreender como
ocorreram suas representações mentais dos Para Paganelli (2010)
ocorrem etapas na construção do espaço no desenvolvimento de uma criança e essas
são paralelas às demais etapas desde o nascimento, podendo-se, assim, avaliar o de-
senvolvimento cognitivo de um indivíduo através de suas ações/representações. Vale
salientar, que esse conhecimento se torna relevante para que o educador elabore suas
metodologias de ensino.
Nessa perspectiva, essa pesquisa buscou construir um olhar da
Cartografia no Ensino de Geografia, numa concepção semelhante à estabelecida por
Castellar (2011, p.124) que irá ressaltar:
Para educar o aluno para compreensão das noções cartográficas, consideremos que
seus desenhos são o ponto de partida para explorar seu conhecimento da realidade
e dos fenômenos que querem representar. Esses desenhos são representações gráfi-
cas ou mapas mentais elaborados a partir da memória, não havendo necessidade de
utilizar as convenções cartográficas.
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Meninos Cegos, o atual Instituto Benjamin Constant (IBC) no Rio de Janeiro, na ca-
pital do Império. Três anos depois, também no Rio de Janeiro, surge o Imperial Insti-
tuto dos Surdos-Mudos, posteriormente Instituto Nacional de Educação de Surdos
(INES). Assim, se faz importante ressaltar, que a implantação desses Institutos, ocor-
reram de forma isolada, no período que não havia Legislação e ou Diretrizes para a
educação.
Como descreve Ribeiro (2003) que na história do atendimento a pessoas ex-
cepcionais (como eram chamados na época) dominava-se a filosofia da eugenia, mo-
mento em que consideravam que essas pessoas tinham que ser pois repre-
sentavam transtorno para sociedade. Já com a doutrina cristã, passou a haver a
caritativa, por serem de no entanto, ficavam segregados
e por outro lado, no mesmo período, acreditavam que as causas dos problemas dos
excepcionais estavam ligadas a dos
Na idade moderna, predominou-se o caráter humanista, a pessoa excepcio-
nal era vista aos da medicina, surgindo estudos voltados para os aspectos orgâ-
nicos. No século XX contextualiza-se pelo enfoque médico-terapêutico, nesse mesmo
momento, há interesse com a educação desses indivíduos em instituições segregadas.
E no Brasil, no mesmo século, o viés médico-pedagógico, ocorrendo à dependência
do laudo médico. (RIBEIRO, 2003).
As primeiras ações para atender as pessoas com necessidades especiais a
princípio eram de iniciativa particular, sejam para atender debilidades físicas, senso-
riais ou mentais. No entanto, essas iniciativas não estavam às políticas pú-
blicas de educação. Para isso, Pletsch (2010) elucida que na Constituição de 1946, a
educação passa ser um direito universal, e nesse mesmo período, foram criadas as pri-
meiras classes especiais, ocorrendo à separação dos sujeitos ditos dos
com uma ideia homogeneizadora. Ainda nesse momento, o atendimento
prestado às pessoas deficientes estava pautado no tratamento médico e da correção da
deficiência orgânica e/ou física, o foco maior era para o atendimento clínico, não ha-
vendo preocupação com a educação desses sujeitos.
Menezes (2012) reafirma que a princípio no Brasil o atendimento aos indi-
víduos com deficiência não era definido como uma proposta educacional, e sim o foco
estava na deficiência, tendo como princípios as terapias: psicológica, fonoaudiológica
e fisioterápica, pouca era a importância que se dava para as atividades acadêmicas.
Assim, competiam às instituições privadas a educação das pessoas deficientes, com
apoio financeiro de verbas públicas, demonstrando que o Estado não assumia a res-
ponsabilidade plena com a Educação Especial.
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Nossos estudantes podem hoje ser conduzidos para escritos que esboçam as ideias
da teoria da informação, linguística, semiótica, estruturalismo, fenomenologia, teo-
ria desenvolvimentista, hermenêutica, iconologia, marxismo e ideologia [...]. Então
a despeito destes sintomas de mudanças, nós somos ainda, querendo ou não, os pri-
sioneiros de nosso próprio passado.
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se, consequentemente, dos mapas para diferentes fins, especialmente no que se refere
às relações de poder sobre os espaços. Desse modo, Oliveira (2010, p. 16) endossa que:
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Alunos de 1ª à 4ª serie (2º e 5º) séries do Ensino Fundamental devem trabalhar ba-
sicamente com a Isso porque esse e o momento em que
o educando começa a se familiarizar com os elementos de representação gráfica
para, posteriormente, trabalhar efetivamente com a representação cartográfica.
Alunos de 5ª à 8ª (6º a 9º) séries do Ensino Fundamental devem trabalhar, eventu-
almente, com a alfabetização na 5ª e na 6ª (6º e 7º) séries, mas já têm condições de
ocupar-se com a análise, a localização e a correlação.
Alunos do Ensino Médio têm condições de trabalhar com análise - localização, com
a correlação e com a síntese. (SANTOS, 2013, p. 73).
3
Ressaltando que essas etapas resumidas por Simielli (1981), apontadas por Santos (2013), foram
detalhadas por Rimbert (1964) e Libault (1971).
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que elas vivenciam estão em consonância com a produção dos espaços maiores. As-
sim, perceber diferenciações, fazer comparações e compreender processos
que evidenciam as relações entre o local e o global. (CAVALCANTI, 2010, p.7). Con-
tudo, proporcionar a criança pensar o espaço em diferentes escalas geográficas, desde
o e experienciado, deixando claro que estará em constante relação
com o espaço mais amplo, global. Reportando-se ao conceito de as
autoras Pontuschka, Paganelli e Cacete (2009) explanam esse conceito dentro da Ge-
ografia na perspectiva da:
A análise do espaço vivido, das cartas mentais, dos mapas, inscreve-se numa proble-
mática desenvolvida ao longo da década de 70 do século passado, constituindo uma
abordagem da Geografia da percepção, ou Geografia das representações, ou ainda
Geografia comportamental. Tal analise procura conhecer o do isto
é, as qualidades subjetivas que os indivíduos dão aos lugares e que orientam suas
práticas sociais. Pode-se falar de uma uma vez que ela trabalha
sobre a experiência e o imaginário pessoal. Para a Geografia da percepção, a arte, a
literatura, o cinema são instrumentos uteis para (PONTUSCHKA, PAGA-
NELLI, e CACETE, 2009, p. 314.).
Elucidando essa relação do homem com o lugar como a autora Carlos (2007,
p. 20): lugar é o mundo do vivido, é onde, formulam-se os problemas da produção
no sentido amplo, isto é, o modo onde em que é produzida a existência social dos seres
277
DIÁLOGO FREIRIANO
Cada lugar tem uma força, uma energia que lhe é própria e que decorre do que ali
acontece. Ela não vem de fora, nem é dada pela natureza. É resultado de uma cons-
trução social que se dá na vivência diária dos homens que habitam o lugar, resultado
do grau de consciência das pessoas como sujeitos do mundo onde vivem e dos gru-
pos sociais que constituem ao longo de sua trajetória de vida.
Sendo assim, faz-se importante lembrar que dentro de uma escola estão en-
volvidos mais do que conteúdos acadêmicos, mas sim, valores que são importantes na
formação biopsicossocial do indivíduo, ou seja, ver o indivíduo como um todo e não
somente como mero depósito de saberes, como se os discentes fossem va-
sem uma história, valores, costumes e cultura. Ainda de acordo com Callai
(2005, p. 244): capacidade de representação do espaço vivido, se esta for desenvol-
vida assentada na realidade concreta da criança, pode contribuir em muito para que
ela seja alfabetizada para saber ler o Assim, mais uma vez reforça-se que a
escola também é um lugar de construção e (re)significação para os sujeitos.
Para o desenvolvimento de uma criança, as experiências são muito impor-
tantes e se fazem imprescindíveis o contato e a experimentação com os elementos que
compõe o seu Desta forma, a aprendizagem na infância se dá princi-
palmente através das vivências concretas. Todavia, é necessário que a criança explore
278
DIÁLOGO FREIRIANO
o objeto, tocando-o, manipulando-o. Com isso, para vivenciar o espaço, não seria di-
ferente, ou seja, é preciso que se explore e vivencie-o, para que, assim, possa apreendê-
lo.
Relembrando a forma que o homem pré-histórico explorou o espaço geo-
gráfico e que o auxiliou no seu processo de dando-lhe condições de so-
brevivência na Terra, afirma-se que é através de suas experiências e vivências do es-
paço circundante, que permitiu o seu desenvolvimento. Mas nesse momento, faz-se
importante, corroborar com as ideias de Cavalcanti (2005) que reforça ao citar Pino
(2001) que:
Não é na mera manipulação de objetos que a criança vai descobrir a lógica dos con-
juntos, das relações e das classificações; mas é na convivência com os homens que
ela descobrirá a razão que os levou a conceber e organizar dessa maneira as coisas.
Evidentemente, nesse processo de apropriação cultural o papel mediador da lingua-
gem (a fala e outros sistemas semióticos) é essencial. (PINO, 2001, p. 41 Apud CA-
VALCANTI, 2005, p. 190).
279
DIÁLOGO FREIRIANO
meta do município para o mesmo ano foi de 4,7, porém, abaixo do esperado para mé-
dia nacional que seria de 6,0. Nesse momento, torna-se necessário destacar que o
4
IDEB é calculado com base na e nos dados de aprovação.
O município de Duque de Caxias tem 175 escolas, compreendendo desde a
Creche-Escola, Ensino Infantil e Ensino Fundamental primeiro e segundo segmento.
Além das escolas, o município ainda possui classes especiais, em seu total de 106 clas-
ses; dispõe de 132 salas de recursos5 e não tem nenhuma escola especial, estando todos
os alunos inclusos/inseridos em escolas regulares de acordo com os dados dispostos
no site da Secretaria Municipal de Educação (SME- DC).
Segundo o levantamento realizado no Instituto Nacional de Estudos e Pes-
quisas Educacionais INEP (2017)6 há no município de Duque de Caxias um total de
77. 284 mil alunos matriculados, sendo que desses alunos temos 2.700 na Educação
Especial e 74. 584 no ensino regular. No Quadro 01 abaixo segue a síntese dos dados
correspondentes à educação no município:
Quadro 01 Dados educacionais do Município de Duque de Caxias
Total de Escolas Total de Alunos Total de alunos no Total de Alunos na Educação Especial
na rede Matriculados Ensino Regular em Classes especiais e incluídos
175 77.284 74.584 2700
Fonte: INPE e SME-DC
4
A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) são avaliações para
diagnóstico, em larga escala, desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep/MEC). Tem o objetivo avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema
280
DIÁLOGO FREIRIANO
7
Reserva-se a não divulgar o nome das escolas.
281
DIÁLOGO FREIRIANO
Os Mapas mentais dos alunos autistas nas escolas municipais de Duque de Caxias
A metodologia aplicada nessa pesquisa, com os alunos participantes, usou
como base a proposta de análise feita por Simielli (1999)9, segundo a autora, para que
ocorra a Alfabetização Cartográfica, torna-se importante o desenvolvimento de no-
ções como pode se visualizar na Figura 01 do fluxograma abaixo elaborado por Simi-
elli (1999, p. 100) autora:
Figura 01 Alfabetização Cartográfica
8
Com a finalidade de resguardar a identidade dos alunos participantes, forma utilizadas as iniciais dos
seus respectivos nomes.
9
Esse trabalho está publicado em: SIMIELLI, Maria Helena Ramos. Cartografia no ensino fundamental
e médio. In. A Geografia em sala de aula/ organizadores Ana Fani A. Carlos. 3. Ed. São Paulo: Contexto,
2001.
282
DIÁLOGO FREIRIANO
10
No que refere os conceitos de Alfabetização Cartográfica e Letramento Cartográfico, são conceitos que
se complementam, apesar de alguns autores diferenciá-los, como: Passini (1999), Almeida (1999) e
Martinelli (1999).
283
DIÁLOGO FREIRIANO
284
DIÁLOGO FREIRIANO
Pode-se analisar que aluno foi capaz de representar duas casas que constam
no mesmo terreno, a casa da avó (onde ele mora) e a casa do primo. Representou a
casa dividida em cômodos com os respectivos mobiliários. O aluno quando indagado
sobre seu desenho, foi nomeando-os e sinalizando detalhes como: a casa do seu ca-
chorro e do cachorro do primo. Pode-se inferir a capacidade de organização, abstra-
ção e a harmonia de proporção, além da representação na perspectiva vertical em sua
simbolização.
A seguir, pode-se visualizar na Figura 03, a representação mental de outro
aluno com autismo no 7º ano, ao pedi-lo para fazer um mapa da sua casa, o aluno
representa sua rua, com a sua casa, dos vizinhos e aquilo que tem algum significado
para ele, enfatizando que cada indivíduo representa de acordo com sua vivência. Ob-
serva-se na sua representação, a diferença de percepção-visual do outro aluno, esse
aluno apresenta uma percepção visual horizontal, vertical e frontal.
Figura 03 Mapa mental de Nathan 7º ano
11
Esse jogo foi inspirado em uma atividade que se encontra no livro: MARISCO, Maria Tereza; NETO,
Armando Coelho de Carvalho; ANTUNES, Maria Elisabete. Marcha Criança: História e Geografia:
Ensino Fundamental 3º ano. 12ª ed.- São Paulo: Scipione, 2011.
285
DIÁLOGO FREIRIANO
sim, como enfatizado pelas autoras já citadas, como Simielli (1999), Castellar e Vi-
lhena (2010). Logo a seguir, pode-se visualizar nas figuras 04 a atividade com o jogo
de tabuleiro:
286
DIÁLOGO FREIRIANO
Observa-se que nas representações mentais dos alunos com autismo, poucas
foram as diferenças observadas no primeiro mapa mental e no último mapa mental
realizado. Foram evidenciados, que alguns alunos colocaram títulos, outros alunos
dispuseram legenda. Mas as representações foram ricas em detalhes, organização,
proporção e capacidade de abstração. No entanto, vale relembrar que os mapas men-
tais são desprovidos de convenções cartográficas, são representações livres. Assim,
nesse estudo, foi possível contribuir (dentro do recorte espacial e temporal da pes-
quisa) para reflexões e análises concernentes às representações mentais e habilidades
cognitivas superiores dos alunos com TEA, bem como, diante das atividades propos-
tas, oferecer ao aluno autista diferentes recursos cartográficos visuais.
Assim, pode-se depreender das atividades desenvolvidas com os alunos, que
alguns aspectos devem ser considerados no processo de ensino-aprendizagem da Ge-
ografia na perspectiva da [Carto]grafia, tais como: a maturidade das habilidades cog-
nitivas superiores para abstração e internalização dos conceitos abordados, relem-
brando como Vigotsky (1991) ressalta que desenvolvimento e aprendizagem estão in-
ter-relacionados; as lacunas no processo de aprendizagem dos conceitos básicos da
Cartografia nas séries iniciais (defasagem na as dificul-
dade de atenção e concentração comumente encontradas nos indivíduos com au-
tismo, assim como, pouco tempo que foi disposto na apresentação desses conceitos
trabalhados no momento da pesquisa, considerando que não foi uma aula e sim mo-
mentos. Em uma aula, os conceitos são apresentados e diferentes atividades são pro-
postas para internalização dos conceitos.
Assim, todas as atividades aqui dispostas, tiveram como objetivo trazer a re-
flexão sobre as habilidades cognitivas dos alunos com autismo e a possibilidade de
repensar as práticas metodológicas do Ensino de Geografia em uma perspectiva da
Educação Especial. De acordo com as análises realizadas e aqui dispostas, é possível
evidenciar as diferentes possibilidades de se trabalhar com esse público, logo, condi-
ções estruturais: físicas, humanas, formação, informação e interesse de todos os en-
volvidos no processo educacional tem grande repercussão no bem-estar biopsicosso-
cial (orgânico-emocional- social) desses indivíduos.
Conclusão
Assim, nesse estudo, foi possível contribuir (dentro do recorte espacial e
temporal da pesquisa) para reflexões e análises concernentes às representações men-
tais e habilidades cognitivas superiores dos alunos com TEA, bem como, diante das
287
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289
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A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO NO
IFNMG/CAMPUS ARAÇUAÍ:
CARACTERÍSTICAS E PERCEPÇÕES DISCENTES
Introdução
Este artigo tenciona elaborar uma análise da visão discente sobre a relevância
da Educação Física enquanto componente curricular na escola, a partir da vivência
dos alunos nos anos anteriores com a disciplina. Para tanto, investimos o nosso olhar
para o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - IFNMG - Campus Araçuaí, na
tentativa de contribuir com a potencialização do debate sobre a presença e importân-
cia da disciplina de Educação Física no estrato formativo do Ensino Médio dentro dos
Institutos Federais e demais espaços de formação educacional.
A Educação Física, em seu processo de constituição do campo de saber e atu-
ação profissional, passou por várias (re)apropriações de acordo com as necessidades
e demandas de cada época. Inicialmente, sofreu influência médica, na qual sobressaiu
a função higienista, para que fosse ensinada à população hábitos de corpos saudáveis.
Após isso, surgiu a intervenção militar no qual os alunos eram tratados como simples
soldados, preparados fisicamente para proteger a nação. Sofreu também, influência
do esporte, onde se preocupava em formar atletas sendo, as aulas de Educação Física,
voltadas para alunos aptos à prática da atividade física, assim o restante dos discentes
eram excluídos gradativamente (DARIDO, 2003).
Apesar de a Educação Física ter sofrido influências baseadas na visão biolo-
gicista, Soares (1996, p. 11) afirma que esse componente curricular é lugar de
aprender coisas e não apenas o lugar onde àqueles que dominam técnicas rudimenta-
res de um determinado esporte vão o que já sabem, enquanto aqueles que
não sabem continuam no mesmo É necessário transmitir aos alunos os conhe-
1
Docente no IFNMG/Campus Araçuaí. Mestre em Educação.
2
Docente na Universidade Estadual de Montes Claros. Doutor em Estudos do Lazer.
DIÁLOGO FREIRIANO
294
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295
DIÁLOGO FREIRIANO
[...] faz-se necessário problematizar a vivência corporal dos alunos nas brincadeiras,
nos jogos, nas danças, nas ginásticas, nos esportes, enfim, em todas as suas manifes-
tações corporais, imprimindo-lhes sentidos e significados educativos. Assim, as prá-
ticas corporais deixam de ser vistas como um pelo ou seja, como uma
atividade desprovida de significado intencionalidade educativa, e passam a ser per-
cebidas como conhecimentos importantes e necessários à formação humana do
educando, principalmente para a vivência plena de sua corporeidade (CBC, 2005, p.
25).
296
DIÁLOGO FREIRIANO
É preciso enfim levar o aluno a descobrir os motivos para praticar uma atividade
física, favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com a atividade física,
levar à aprendizagem de comportamentos adequados na pratica de uma atividade
física, levar ao conhecimento, compreensão e análise de seu intelecto todas as infor-
mações relacionadas às conquistas materiais e espirituais da cultura física, dirigir
sua vontade e sua emoção para a prática e a apreciação do corpo em movimento.
[...] uma organização de trabalho que incentiva a formação e atuação de equipes in-
terdisciplinares, o fortalecimento da articulação entre teoria e prática, bem como o
estímulo a ações que motivem a autonomia intelectual dos seus discentes, tornando-
os protagonistas do processo de ensino-aprendizagem e preparando-os para os no-
vos desafios pessoais e profissionais. A organização didático-pedagógica leva em
consideração, ainda, a abrangência do IFNMG, as especificidades de cada um de
seus campi, a diversidade dos arranjos produtivos locais e os princípios de autono-
mia didático-pedagógica, administrativa, patrimonial, financeira e disciplinar (PDI,
2013, p. 68).
297
DIÁLOGO FREIRIANO
[...] considera-se o perfil desejado para cada curso, observando as aptidões concei-
tuais, procedimentais e atitudinais a serem desenvolvidas para o seu alcance, a esco-
lha de conteúdos necessários, como também a necessidade de preparação dos dis-
centes para o mundo do trabalho, de forma a atender uma série de expectativas,
dentre elas: a formação para a cidadania plena e emancipada, as novas demandas
econômicas e de emprego, a participação no atendimento às demandas da sociedade
e no desenvolvimento sustentável (PDI, 2013, p. 70).
Para além dos preceitos formais, a educação tecnológica prevê uma relação
do ensino prático voltado para a inserção do aluno no mercado de trabalho. Sobre esta
lógica, entendemos que o trabalho não pode se sobrepor à estrutura formativa, mas
amparar as perspectivas do educando. Assim, não é o mercado que deve regular o
processo ensino-aprendizagem, mas ao contrário, a formação do sujeito é que deve
organizar as ações profissionais.
De acordo com Ciavatta (2005), a ideia da formação integrada é que se su-
pere o ser humano separado historicamente pela divisão social do trabalho entre o ato
de executar e as funções de pensar, dirigir ou planejar. A pretensão é de que ocorra
uma diminuição da redução da preparação para o trabalho ao seu aspecto restrito e
operacional, simplificado, livre dos conhecimentos que estão na sua gênese científico-
tecnológica e na sua apropriação histórico-social.
Dos métodos
A abordagem metodológica deste estudo está pautada na investigação qua-
litativa que, segundo Lakatos e Markoni (2003), significa ler e interpretar os fenôme-
nos atribuídos através da coleta dos dados descritivos, com ausência de técnicas esta-
tísticas. De acordo com Godoy (1995) a pesquisa qualitativa é uma das várias possibi-
lidades de se estudar os fenômenos que envolvem os seres humanos e suas emaranha-
das relações sociais em diferentes ambientes. Ainda foi realizada uma pesquisa de
campo, que, para Lakatos e Markoni (1992), é onde procuramos respostas de um de-
terminado problema, ou para afirmar alguma hipótese e até mesmo descobrir outras
respostas diferentes sobre o assunto. Consisti no levantamento de dados e registros
relevantes suficientes para ser analisados.
Os sujeitos da pesquisa foram os discentes das quatro turmas de 1º ano do
Ensino Médio Integrado, do Instituto Federal do Norte de Minas IFNMG Campus
Araçuaí, localizado na cidade de Araçuaí, região do Vale do Jequitinhonha, no Estado
de Minas Gerais. Na coleta de dados participaram 20 alunos de cada turma escolhidos
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Dos resultados
- Caracterização dos discentes e a importância da Educação Física atribuída por
eles perante as demais disciplinas curriculares
Quanto ao estrato etário da amostra, a maior parte se situa com a idade de
15 anos (61,25%). As demais idades correspondem a 14 anos (27,5 %), 16 anos (10%)
e 13 anos (1,25%). Destes, conforme intenção da pesquisa, 50% são do sexo masculino
e 50% do sexo feminino.
Ao analisarmos as cidades de origem dos investigados, percebemos que
pouco mais da metade, ou seja, 51,25% são da localidade de Araçuaí/MG, onde se si-
tua o Instituto Federal. Os demais alunos vêm de cidades que se encontram no en-
torno da sede, sendo que a maior distância apontada nos dados atinge 235 km onde
podemos inferir o nível de penetração que esta Instituição possui na região do Vale
do Jequitinhonha.
Avançando na nossa análise, nos detemos agora na percepção que os discen-
tes possuem da importância atribuída às disciplinas do currículo escolar. A Educação
Física se situa em uma valoração mediana de importância: 55% dos investigados a
consideram relevante na grade curricular da instituição escolar. De imediato, salta aos
olhos a imensa consideração de valor conferida às disciplinas de caráter formativo e
instrumental, no caso da Matemática (100%) e Português (97,5%). O quadro abaixo
ilustra melhor o todo desta situação, e serve de base para nossa discussão posterior:
Conforme visto, há uma tendência de maior valorização quanto às discipli-
nas, na perspectiva de maior prática no cotidiano, consideradas com uma maior
e no mundo do trabalho como no caso de Português e Mate-
mática. Esta realidade tem fundamento histórico, e encrudesce o fato de que:
[...] o grupo social composto por jovens de classes populares (poderíamos dizer
vens oriundos de famílias que convivem com limitados níveis de escolari-
zação, baixo padrão de renda, vinculados a ocupações que exigem baixos níveis de
qualificação, residentes em bairros periféricos e/ou em cidades afastadas da capital;
[...] Para esse grupo, a passagem pelo ensino médio em escolas públicas é um traço
relevante, não só como um dos elementos que compõe seu perfil numa ótica quan-
titativa, mas, sobretudo, em virtude do que significa ser um egresso da escola pública
(SAMPAIO, 2011, p. 30).
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[...] que toda história das disciplinas escolares deve, em um mesmo movimento, le-
var em conta as finalidades obvias e implícitas perseguidas, os conteúdos de ensino
e a apropriação realizada pelos alunos tal como poderá ser verificada pelos seus tra-
balhos e exercícios. Existe uma interação constante entre estes três polos que con-
correm, os três, na constituição de uma disciplina, e estaríamos diretamente conde-
nados a graves desconhecimentos se menosprezar qualquer um deles (JULIA, 2002,
p. 60).
Um conteúdo passa a ser valioso e legítimo quando goza do aval social dos que tem
poder para determinar sua validade; por isso, a fonte do currículo é a cultura que
emana de uma sociedade. Sua seleção deve ser feita em função de critérios psicope-
dagógicos, mas é preciso considerar antes de mais nada a que ideia de indivíduo e
de sociedade servem (SACRISTÁN, GÓMEZ, 2007, p. 155).
303
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Neste contexto, a Educação Física perde ainda mais o seu valor, quando
comparada à importância que possui escola e (55% x 32,5% respecti-
vamente). Ou seja, no mundo fora do ambiente escolar, o conhecimento pertencente
a esta disciplina parece ser pouco útil. Diferentemente do valor social que a mesma
possuía no início do século XX3, nas últimas décadas, quando se propõe uma ressig-
nificação dos sentidos pedagógicos da Educação Física4, ocorre a significativa perda
da sua relevância neste processo, principalmente quando consideramos o extra-muro
escolar.
Neste universo de relações, absolutamente plurais, é preciso pensar que a de-
terminação de uma disciplina como mais legítima que outras se deve a uma densa
rede de negociações, embates, tensões e resistências que configuram, no tempo e no
espaço, o lugar que se ocupa no âmbito escolar (a escola, ela própria, também é eivada
de sentidos e significados sociais que a determina). Assim,
3
No início do século XX, a Educação Física passa a ser considerada na formação dos sujeitos, no
entendimento da importância de um conteúdo que trabalhasse com o melhoramento da raça, com o
aprimoramento físico e com sentido higiênico - lembremos que naquele momento o trabalho braçal era
consideravelmente mais importante.
4
Nas últimas décadas, a Educação Física se encontra mais voltada para uma perspectiva humanista do
movimento, valorizando aspectos culturais do mesmo, como danças, lutas e jogos.
305
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Últimos Apontamentos
Este artigo apontou, no que tange à caracterização discente, que a maior
parte dos alunos reside na própria cidade de Araçuaí e/ou no seu entorno. Além disso,
o número de ingressantes egressos da escola pública anterior ao Ensino Médio é pre-
dominante. Estas características são particularmente importantes quando pensamos
no papel social que os Institutos Federais de Educação representam, ao oportunizar
uma formação qualificada em uma etapa bastante sensível na constituição de um pla-
nejamento pessoal/profissional futuro.
Outro dado relevante situa-se na percepção de importância que os alunos
atribuem às disciplinas em geral, e especificamente à disciplina de Educação Física.
Para 55% dos 80 participantes do estudo, a Educação Física representa uma disciplina
importante dentro da grade curricular. Embora esteja em uma posição mediana,
quando comparada com outras disciplinas, como Português (97,5%) e Matemática
(100%), a noção de valor da Educação Física decai consideravelmente. atingindo um
percentual de 32,5 quando pensada em sua utilidade para fora dos muros da escola.
Contribui para este processo uma construção histórica que atrela a disciplina
de Educação Física a um conhecimento prático sem valor evidente na formação mais
elevada dos alunos. Isto acarreta uma perda da noção identitária da Educação Física
no espaço escolar, levando a uma apropriação desigual, em termos de valoração,
quando comparada com disciplinas de cunho técnico-formativo, como Português e
Matemática, por exemplo.
Assim, esperamos que este debate possa contribuir para o desenvolvimento
de reflexões sobre esta temática, com desdobramento em mudanças significantes nas
intervenções pedagógicas, bem como do papel atribuído pelas políticas educacionais
à Educação Física, posto que a mesma pode (e deve) exercer uma função contributiva
no processo de formação de seus alunos, a partir da apropriação enriquecida de todos
os seus conteúdos.
306
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307
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308
O PAPEL DO PROFESSOR NO ENCANTAMENTO PELA
LEITURA NA EDUCAÇAO INFANTIL
INTRODUÇÃO
Atualmente vivemos em uma sociedade extremamente consumista e mo-
dernizada, onde o número de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) tem
aumentado consideravelmente. Nesse contexto, vê-se uma necessidade de resgatar
e/ou reformular o que é tido como antigo, memórias ou histórias de um determinado
povo ou lugar. Dessa maneira os livros se fazem de grande valia, na medida em que
ainda atraem muitas crianças e adolescentes.
É um processo que se deve começar na formação da aprendizagem da cri-
ança, o afeto com os livros, que é uma ferramenta indispensável para se construir lei-
tores. A criança é um ser humano em construção e, assim sendo, a educação infantil
trabalha as fases que desenvolve as diversas ações: a coordenação motora, visual, inte-
lectual, social, dentre outras que levam a criança à descoberta de conhecimento e
aprendizagem sólida.
A presente pesquisa visa pensar sobre o desenvolvimento, o aprendizado e o
despertar na criança o encantamento pela leitura. Está baseada em pesquisas biblio-
gráficas de autores que abordam o referido tema e almejasse demostrar possibilidades
de se trabalhar a leitura em sala de aula a partir da Educação Infantil, para formar
leitores assíduos e autônomos.
1
Licenciada em Pedagogia pelo Instituto Superior de Educação Franciscano Nossa Senhora de Fátima e
em Letras- Língua Portuguesa pela Universidade Federal da Paraíba- UFPB. Cursando mestrado
multidisciplinar profissional em Ciências da Educação pela Faculdade de Sidrolândia FACSIDRO.
2
Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú- UVA e em Ciências Biológicas
pela Universidade Federal da Paraíba- UFPB. Cursando mestrado multidisciplinar profissional em
Ciências da Educação pela Faculdade de Sidrolândia FACSIDRO.
3
Licenciada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN e em Pedagogia pelo
Instituto Superior de Educação São Judas Tadeu-ISESJT. Cursando mestrado multidisciplinar
profissional em Ciências da Educação pela Faculdade de Sidrolândia FACSIDRO.
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[...] no ato de brincar que toda criança se apropria da realidade imediata, atribuindo-
lhe significado. Em outras palavras, jamais se brinca sem aprender e, caso insista em
ima separação, esta série de organizar o que se busca ensinar, escolhendo brincadei-
ras adequadas para que melhor se aprende.
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Como aprender e ensinar a ler e a escrever não é uma questão simples, seria muito
útil não despender esforços e energias discutindo se a leitura deveria começar na
Escola da Educação Infantil [...]. Desde muito pequena, as crianças constroem co-
nhecimentos relevantes sobre a leitura e a escrita.
Para autora, o contato da criança com a leitura deve acontecer o mais cedo
possível. Para que haja encantamento pela leitura, o professor deve trabalhar os gêne-
ros literários infantis e, para isso, deve explorar todas as possibilidades pedagógicas,
mesmo aquelas consideradas ultrapassadas como a interpretação de texto, devem ser
consideradas e repensadas, de maneira a atender as necessidades da criança leitora do
século XXI.
A Educação Infantil deve promover um plano didático-pedagógico com ati-
vidades socioeducativas que incentivem a leitura. Como aborda os PCNs acesso
das crianças aos bens socioculturais disponíveis, ampliando o desenvolvimento das
capacidades relativas à expressão, à comunicação, à interação social, ao pensamento,
à ética e à BRASIL (1998 pág. 13).
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A criança tem um apetite voraz pelo belo e encontra na literatura infantil o alimento
adequado para os anseios da psique infantil. Alimento, esse, que traduz os movi-
mentos interiores e sacia os próprios interesses da criança. A literatura não é, como
tantos supõem, um passatempo. É uma nutrição.
Desse modo, o contar ou ler histórias literárias infantis em sala de aula faz a criança
questionar e associar os elementos narrado nas histórias; como: uma o ou
entre outras que constrói sonhos e imaginações. É importante que o trabalho com o
texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma
forma específica de conhecimento.
Na Educação Infantil as crianças adoram ouvir histórias, os contos de fadas
e até mesmo interpretar ou viver os personagens, são momentos vividos por elas que
enriquecem a sua capacidade de buscar o conhecimento através da percepção sobre a
leitura contidas nos livros.
Para Abramovich (1989, p. 15), o primeiro contato da criança com um texto
geralmente é através das histórias contadas oralmente, sejam por seus familiares ou
professores. Esse é o início da aprendizagem, compreensão e descobertas importantes
na formação da criança. As histórias podem ser contadas durante o dia, numa tarde
de chuva ou à noite, antes de dormir, preparando para o sono gostoso e reparador
embalado por uma voz amada. É poder rir, sorrir, gargalhar com as situações vividas
pelos personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever de um autor e,
então, pode ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de gozação.
Para Coelho (2000, p. 15), a leitura é fundamental na formação do indivíduo,
ao ressaltar que:
Estamos com aqueles que dizem: Sim. A literatura, e em especial a infantil, tem uma
tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em transformação: a de servir como
agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor/livro, seja no diálogo lei-
tor/texto estimulado pela escola. [...] É ao livro, à palavra escrita, que atribuímos a
maior responsabilidade na formação de consciência de mundo das crianças e dos
jovens.
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Aguiar (2016, p. 112), ressalta que: interesses voltam-se, nesta fase, para
histórias curtas e rimas, em livros com muitas gravuras e pouco texto escrito, que per-
mitem a descoberta do sentido mais pela linguagem visual do que pela O tra-
balho com a leitura na educação infantil possibilita à criança criar as suas próprias
produções imaginárias.
Assim, o professor precisa acreditar, e ser renovador de ideias para uma pe-
dagogia de ensino. É nessa visão de educar, que o professor auxilia no desenvolvi-
mento afetivo, emocional e ético da criança. A sala de aula é um ambiente de relacio-
namento entre aluno e professor. No entanto, o desafio do professor é conscientizar
o aluno, de que a leitura deve fazer parte do seu cotidiano.
Segundo o Referencial Curricular Nacional BRASIL (1997, p. 38), enfatiza
que:
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O sujeito no meio social cria vínculos afetivos construídos por base de inte-
ração no ambiente que está inserido. São diversos tipos de relacionamentos dentro de
uma sociedade que o objeto, ou seja, o indivíduo cria forma de estimulo para
expressar seu vínculo afetivo com o professor em sala de aula.
Devemos salientar que o ambiente para um processo positivo na aprendiza-
gem é o cotidiano escolar, é nesse ambiente que os indivíduos vão expor seu afeto,
educador e criança criam laço afetivo para vida toda.
A socialização se dá através da interação e o relacionamento de convivo so-
cial de um ou mais indivíduos inseridos. A relação de afetividade se desenvolve por
meio de contato físico do ser humano e da interação compartilhada culturalmente. É
nesse processo de socialização afetivo que a Educação Infantil tem um papel funda-
mental na infância da criança.
Os reflexos de sentimento afetivo fazem parte da formação da criança na
educação infantil, que mais tarde esse mesmo reflexo; refletirá vínculo afetivo por
vida. É nesse desenvolvimento afetivo que melhora aprendizagem e na sua personali-
dade no contexto social.
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brincadeira, para cada história contada e ouvida, o professor parece se tornar o super-
herói.
A criança passa a maior parte do seu tempo na escola, mas sabe-se que a fa-
mília é fundamental no desenvolvimento psicológico, cognitivo e afetivo. É no ambi-
ente familiar que se propicia a construção de leitores, se a criança vive em um ambi-
ente onde seu país está sempre lendo, a mesma vai ser um eleitor ativo.
Nesse contexto, Rubem Alves (1980, p. 13), ressalta a importância de ser pro-
fessor.
Esses fatores como dedicação, encantamento pela leitura, motivação são im-
portantes no processo de aprendizagem da criança. Para que se tenha êxito na Educa-
ção Infantil, o professor deve buscar mais formação no conhecimento sobre o pro-
cesso de ensino e de aprendizagem. Trabalhar em sala de aula com atividade lúdica
que envolve a leitura isso estimula a criança a lê e ter contato com diversas formas
escritas no universo de leitura.
Dessa forma, Souza (2007, p. 21), traz a formação do professor com uns dos
pontos essenciais para educação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face aos dados apresentados somos levados a acreditar que a leitura no
cotidiano da criança na Educação Infantil é de grande importância à formação de fu-
turos leitores. No entanto, são muitos os desafios postos aos profissionais para aten-
derem às necessidades na formação da criança e leitores em um mundo informatizado
e imediatista.
Entretanto, o professor é o principal mediador entre a criança e seu gosto
pela leitura. Para isso ele deve buscar mecanismos que despertem o interesse da cri-
ança, procurando trabalhar em conjunto com toda escola. O encanto pela leitura e o
papel do professor é essencial para despertar o interesse por vários gêneros literários.
O objetivo do núcleo pedagógico, escola, professor e aluno é adquirir uma aprendiza-
gem social e cultural que a leitura nos leva ao conhecimento e a formação de leitores.
Ao fazer a exposição em sala de aula do que leu, e contar história com fanto-
che, e livro pedagógico de tecido ilustrado, a criança dispõe de maneiras lúdicas de
desenvolver também a escrita e a oralidade, que permitirão aos mesmos um preparo
para os níveis mais elevados de ensino.
Assim sendo, a Educação Infantil torna-se o principal caminho para desper-
tar na criança o encantamento pela leitura, e o papel do professor é incentivar a leitura
deste a mais tenra idade, buscando desenvolver suas habilidades e aptidões em todo
processo de aprendizagem e afeiçoamento intelectual.
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320
LINGUAGEM E GÊNERO TEXTUAL:
UMA ANÁLISE DAS FÁBULAS EM DOIS LIVROS
DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA DO 6° ANO
INTRODUÇÃO
Nesta pesquisa discute-se sobre a relação entre a Linguagem e o gênero tex-
tual fábula - em dois livros didáticos do 6º ano. Sabe-se que os gêneros textuais são
fundamentais para o desenvolvimento da linguagem e estão presentes em qualquer
contexto social. Além disso, o livro didático corresponde a um recurso pedagógico
utilizado com frequência no contexto escolar, que possui um investimento conside-
rável do Governo Federal.
O problema norteador desta pesquisa é saber quais elementos presentes nos
livros didáticos, em relação ao gênero textual fábula, condizem com as propostas de
ensino- aprendizagem previstas no Conteúdo Básico Comum (CBC). A hipótese é
afirmar que as propostas didáticas presentes nos livros didáticos exploram questões
gramaticais de forma isolada ou elementos explícitos que pouco contribuem para a
compreensão das condições de uso da linguagem.
O objetivo geral desta pesquisa é investigar como é abordado o gênero tex-
tual fábula, em dois livros didáticos de Língua Portuguesa do 6° ano, a fim de avaliar
se as propostas didáticas dos livros condizem com o que está previsto no Conteúdo
Básico Comum (CBC) de Língua Portuguesa a fim de propiciar a representação da
linguagem em uso nos diversos contextos sociais.
Esta pesquisa adotou um estudo qualitativo, além disso, uma pesquisa bibli-
ográfica pautando-se na fundamentação teórica dos estudos de Coelho (2000), Mar-
cuschi (2008), Antunes (2009); além das orientações do Conteúdo Básico Comum-
CBC (2005). O corpus de anállise são dois livros didáticos de Língua Portuguesa do
1
Docente do IFNMG/ Araçuaí, doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela PUC-Minas.
2
Licenciatura em Pedagogia pelo INCISOH/ FUNORTE.
3
Licenciatura em Pedagogia pelo INCISOH/FUNORTE
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6° ano. Sendo que um desses livros é de uma Escola Municipal e o outro é utilizado
por uma Escola Estadual, ambas situadas na cidade de Januária M.G. Foram selecio-
nadas todas as propostas didáticas dos livros que utilizam o gênero fábula, tanto para
produção, leitura, interpretação ou que tratam de questões gramaticais.
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Para Coelho (2000, p. 165), (lat. fari = falar e gr. phaó = dizer, contar
Esse gênero textual foi criado inicialmente para o público adulto com a inten-
ção de levar o homem a refletir sobre certo ou errado, justo ou injusto. Além de alertar
sobre acontecimentos que podem ser reais, serve de críticas a comportamentos hu-
manos e de ironia aos homens. O gênero textual fábula possui como protagonistas
animais irracionais que vivem numa situação humana e transmite certa moralidade.
Embora tenha sido criada para os adultos, a fábula agradou tanto as crianças que foi
incorporada na Literatura Infantil. Atualmente, é destinada ao público infanto-juve-
nil também, sua função é divertir e instruir seus leitores.
Segundo Vale (2001), o gênero textual fábula é estruturado em duas partes.
A parte narrativa, ou corpo, na qual se realiza as ações dos personagens e a parte mo-
ral, a alma, que explicita o ensinamento pretendido. Esse gênero pode ser estruturado
em prosa ou versos. Em sua origem, a fábula era estruturada em versos. Na sua estru-
turação, primeiro aparece a apresentação da personagem, ou seja, o contexto da situ-
ação. Posteriormente, surge o conflito e a resolução deste, ou a ação. Na finalização
ocorre a moral, que por vezes aparece implícita no texto. Coelho (2000) diz também
que nesse gênero as personagens expressam sempre uma simbologia; o leão, por
exemplo, significa força, majestade, poder; a raposa, astúcia, esperteza; entre outros.
De acordo com leituras realizadas acerca do gênero fábula, percebe-se que
ainda há quem confunda esse gênero com outros. Nesse sentido, de acordo com Co-
elho (2000), cabe citar, por exemplo, os gêneros Apólogo e Parábola. Essas modalida-
des literárias também apresentam moral explícita ou implícita. No entanto, se diferem
na caraterização de suas personagens. O gênero Apólogo é protagonizado por objetos
inanimados (plantas, relógios, estátuas, rios, pedras, agulha, linha, dentre outros.). Em
contrapartida, gênero Parábola tem como protagonistas seres humanos. Em relação
ao gênero fábula, como já citado anteriormente, suas personagens são animais irraci-
onais. O gênero fábula é recomendado para crianças, principalmente, porque apre-
senta um discurso alegórico e possibilidade de discussão acerca da moral. As crianças
são instigadas a fazerem questionamentos e analogias com a realidade vivenciada.
De acordo com Alba Maria Perfeito, Eliza Adriana Sheuer Nantes e Neluana
Leuz de Oliveira Ferragini em artigo intitulado de de Trabalho Docente: O
gênero fábula e o Processo de Análise as autoras afirmam que a fábula
não estabelece tempo preciso da história que está sendo contada; devido a isso, apare-
cem expressões do tipo: dia ou manhã entre outras. Para as
pesquisadoras, foram vários os autores que prestaram contribuições significativas
para a expansão do gênero fábula ao longo da história. O escravo grego Esopo foi um
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desses contribuintes. Ele viveu 550 a.C. e não registrava suas fábulas que eram de ori-
gem oral popular. Alguns estudiosos se arriscam a afirmar que as fábulas existiam há
pelo menos mil anos antes de Esopo. No século II a.C.; os destaques são para Babrios
e Fredo, sendo Fredo considerado um grandioso fabulista antigo. Romano, também
filho de escravo, redimensionou a estética da fábula. No século XVII, as contribuições
acerca desse gênero são direcionadas ao francês Jean de La Fontaine, que premia os
franceses com sua coleção de fábulas, nas quais muitas delas seguiam os modelos de
Esopo e Fredo.
De acordo com Zenaide Maia, em artigo intitulado como Ensino de Lei-
tura a partir do gênero fábula destaca, como escritor de fábulas, Millôr Fernandes,
década de 60. Segundo a autora, Millôr publicou o autor tratava
de temas políticos com humor sarcástico e estabelecia um tom mais moderno a antiga
forma das fábulas. No Brasil, além de Millôr Fernandes, pode-se dar ênfase também
ao autor Monteiro Lobato, que recria e reconta narrativas dos fabulistas clássicos
como as de Esopo e de La Fontaine, além de contar suas próprias fábulas. Ao recontá-
las, Monteiro Lobato realizava adaptações a fim de aproximar as histórias a realidade
do leitor brasileiro.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa adotou-se como objetivo investigar como é abordado o gê-
nero textual fábula em dois livros didáticos de Língua Portuguesa do 6° ano, a fim de
avaliar se as propostas dos recursos pedagógicos condizem com o que está previsto no
CBC de Língua Portuguesa. Em relação ao objetivo desta pesquisa, pode-se afirmar
que as atividades dos dois livros didáticos em sua maioria estão condizentes com o
previsto no CBC de Língua Portuguesa. No entanto, o número de fábulas encontradas
considera-se insuficiente. No livro didático Vontade de Saber Português, 6° ano de
Tavares e Conselvan encontrou-se apenas três fábulas, enquanto que no livro didático
Português: linguagens, 6° ano: língua portuguesa, de Cereja e Magalhães apenas qua-
tro.
O problema norteador dessa pesquisa foi saber quais elementos presentes
nos livros didáticos em relação ao gênero textual fábula condizem com proposta de
ensino aprendizagem prevista no CBC. Percebeu-se, nos dois livros didáticos, a pre-
sença de tópicos e subtópicos que exploram habilidades importantes para o aprendi-
zado das fábulas, tais como: reconhecer fases e etapas narrativas em um texto; usar na
produção de textos narrativos orais e escritos, recursos de textualização adequados ao
gênero textual; reconhecer a finalidade de um texto; relacionar o título ao um texto;
inferir o significado de palavras e expressões em um texto; relacionar os gêneros às
práticas sociais; inferir informações implícitas no texto.
Esta pesquisa adotou como hipótese inicial afirmar que as propostas didáti-
cas presentes nos livros didáticos exploram questões gramaticais de forma isolada ou
elementos explícitos que pouco contribuem para a compreensão das condições de uso
da linguagem. Essa hipótese foi em partes confirmada, visto que apenas duas ativida-
des trabalharam as questões gramaticais isoladamente, uma atividade solicita que o
aluno apenas conte quantos parágrafos há no texto, enquanto a outra pede que o
aluno reescreva o texto colocando parágrafos e travessões nas falas das personagens e
não exploraram o gênero textual fábula em seu uso social.
Acredita-se que o gênero textual fábula e o seu uso social devem ser mais
explorados pelos dois livros didáticos, visto que é um gênero textual usual no 6° ano
335
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TAVARES, Rosimeire Aparecida Alves; CONSELVAN, Tatiane Brug Nerotto.
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337
EDUCAÇÃO AMBIENTAL SE COMEÇA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL E SE PRIORIZA NO ENSINO FUNDAMENTAL
PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA FORMANDO
CIDADÃOS CONSCIENTES
1. INTRODUÇÃO
As políticas da EA não nasceram prontas e acabadas. Foram estão constan-
temente retomadas, avaliadas, criadas e recriadas. Atualmente, estas políticas dão ên-
fase à interação da escola com os grupos locais comunitários. Essa aliança é conside-
rada fundamental para dar respostas aos fatores que desequilibram o meio ambiente
e á vida social. Entende-se, pois, que a escola deve abrir suas portas para dialogar com
a comunidade definindo uma agenda de prioridades locais.
O ser humano é inacabado, inconcluso, está sempre se fazendo na relação
com o mundo e com os outros. A consciência de inacabamento lhe possibilita a edu-
cabilidade, permitindo ir além de si mesmo; como ser relacional, comunica-se pelo
diálogo exigência fundamental da existência humana (FREIRE, 2003; SIMÕES
JORGE, 1979)
O mundo é mediador do processo educativo. Como realidade objetiva ele é
cognoscível. O diálogo entre educadores e educandos é fundamental para construir
novos conhecimentos e compreendendo-se, nesse processo, como seres sociais e ha-
bitantes do mesmo Planeta (FREIRE, 1983, 2003)
Com os avanços dos processos industriais e tecnológicos, os quais deman-
daram uma quantidade enorme de recursos naturais e geraram impactos ambientais
de grandes proporções, ocorreu uma grande preocupação mundial com o futuro do
planeta.
No final do século XIX e no início do século XX, muitos países passaram a
proteger amostras do ambiente natural por meio de parques nacionais.
1
Graduada em História (UNIS) e Pedagogia. (UNINTER) Pós-Graduada em Teorias e Práticas da
Educação Infantil (UNIFAL); Especialização em Educação Ambiental (UFLA); Menção Honrosa FNDE
(2017); Autora do Livro: Gestão Escolar ética e relações interpessoais na contemporaneidade; Poetisa.
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o lixo é um dos principais problemas ambientais no mundo, sendo uma das mais
preocupantes questões que dizem respeito à ação humana. Dessa forma, é necessá-
rio que se discutam medidas que diminuam a gravidade dos impactos ambientais
ao mundo natural.
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as situações de ensino devem ser organizadas de modo que possam apresentar opor-
tunidades para os alunos construírem conhecimentos significativos sobre o meio
ambiente podendo compreender e transformar sua realidade e atuar de forma efici-
ente sobre ela (ALENCAR, p. 96).
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projeto pedagógico pode orientar o trabalho da escola por meios de diversas for-
mas de planejamento, todas elas integradoras no diálogo e na busca de solução dos
problemas da escola com base na ação coletiva, alunos, professores gestores, admi-
nistrativos e de apoio pais e comunidade local. Juntos, todos estarão buscando al-
ternativas para promover inovações no cotidiano escolar. Mas é importante saber
que a construção do projeto pedagógico não é apenas uma obrigação legal a que a
escola deve atender, mas uma conquista que apresenta o seu poder de
(VEIGA, p. 38).
346
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Os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores so-
ciais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conser-
vação do Meio Ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia qualidade
de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999)
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3. CONCLUSÃO
Os educadores precisam motivar e incentivar seus alunos buscando melho-
rar o ensino-aprendizagem, isso pode ser feito por meio de atividades pedagógicas
como, por exemplo: projetos educativos, pesquisa de campo, elaboração de slides e
vídeos pelos próprios alunos, aulas práticas, seminários, gincanas, jogos educativos,
dentre várias outras atividades pedagógicas.
Ou seja, é por meio de atividades práticas e lúdicas que o ensino-aprendiza-
gem se torna mais interessante e atrativo, possibilitando maiores oportunidades de
crescimento cultural e qualidade no aprendizado.
Desse modo, a escola precisa motivar e incentivar os alunos a serem multi-
plicadores de ações ambientais, visando o desenvolvimento de atitudes sustentáveis
simples, como o reaproveitamento dos resíduos sólidos e coleta seletiva.
Nas escolas, vê-se cada vez mais a preocupação de conscientizar os alunos
sobre conservação ambiental e o seu papel em relação ao futuro. Metodologias sim-
ples desenvolvidas pelos professores estão conseguindo despertar os alunos para a re-
alidade e tornando-os capazes de não só preservar para o agora como também para as
gerações futuras.
É de fundamental importância para o educador ambiental a atenção para as
transformações que vem ocorrendo ao longo do tempo e buscar meios de ajustar as
atitudes e pensamentos, com vistas para a preservação dos recursos naturais
A conscientização da sociedade se mostra como um verdadeiro desafio para
a educação na atualidade, mesmo por que partes dos problemas ambientais existem
por falta de informação. Por isso a necessidade de as escolas colocar em seus currículos
a educação ambiental
348
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______. Educação como prática da liberdade. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1983. 150 p.
______. Pedagogia do oprimido. 37. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. 184 p.
______. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Anca/MST,
349
DIÁLOGO FREIRIANO
______. Política e educação: ensaios. 5. ed. São Paulo, Cortez, 2001 (Coleção
Questões de Nossa Epoca; v23.
______. Pedagogia da esperança. 9° ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
SOUZA, Erika Rejane da Silva. Concepções de estudantes de Ciências sobre o uso
do lixo e resíduos. Brasilia. 2012.
VEIGA, Ilma Passos a. Projeto Político Pedagógico da escola: uma Construção
possível, Campinas, SP: Papirus, 15 Ed; 19
GLOSSÁRIO
AGENDA 2030 Corresponde a um conjunto de programas, ações e diretrizes que
orientarão os trabalhos das Nações Unidas e de seus países mem-
bros rumo ao desenvolvimento sustentável;
CEMEI Centro Municipal de Educação Infantil;
E.A Educação Ambiental;
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais;
PNEA Política Nacional de Educação Ambiental;
ODS Objetivo Desenvolvimento Sustentável
350
CONTRIBUIÇÕES PARA O
PENSAMENTO CRÍTICO DA JUVENTUDE:
ANÁLISES DE UM PROJETO DE CIDADANIA EM ESCOLAS
ESTADUAIS DO RIO DE JANEIRO
Walace Ferreira 1
Alberto Alvadia Filho 2
Introdução
Este trabalho é resultado do projeto de extensão Juventude e Ci-
dadania desenvolvido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) desde
fins de 2017, mas cujas atividades começaram efetivamente a ser realizadas em 20183.
Sendo desenvolvido em colégios da rede estadual de ensino do Estado do Rio de Ja-
neiro, o projeto consiste na realização de atividades diversas (palestras, debates, ofici-
nas e rodas de conversa) que mobilizam temas dinâmicos, atuais e conectados a de-
mandas sociais sensíveis à sociedade e em especial à juventude.
Por meio de atividades de caráter complementar ao conteúdo propedêutico,
o objetivo principal do projeto consiste em contribuir na formação do pensamento
crítico dos estudantes, desenvolvendo temas e ampliando debates inclusive utilizando
conteúdos presentes no currículo regular, tanto da própria disciplina de Sociologia
quanto de outras disciplinas de Humanidades.
Centrando-se, particularmente, no Ensino Médio, etapa de ensino em que a
Sociologia é obrigatória nos três anos, o tema a ser desenvolvido é negociado entre o
1
Doutor em Sociologia pelo IESP/UERJ. Atualmente é Professor Adjunto de Sociologia da Universidade
do Estado e
Cidadania
2
Mestre em Ciências Sociais pelo PPCIS/UERJ. Professor de Sociologia do Instituto Federal do Rio de
Janeiro (IFRJ
Juventude e Cidadania
3
A aprovação do projeto ocorreu em setembro de 2017, mas como a Universidade do Estado do Rio de
Janeiro passava por grave crise à época, em greve e com salários atrasados, a realização das ações foi
inviabilizada naquele momento. Contudo, nos meses finais de 2017 estabeleceram-se os primeiros
contatos com diferentes colégios da rede estadual fluminense, visando o começo das atividades no
retorno das aulas em 2018, quando a situação crítica da universidade também se viu amenizada.
DIÁLOGO FREIRIANO
4
Trata-se de uma sensibilidade metodológica que objetiva a elaboração de uma atividade que vá ao
encontro do perfil da escola e de necessidades da própria unidade escolar em determinado momento
específico.
352
DIÁLOGO FREIRIANO
Na educação básica, a Sociologia tem por objetivo a análise crítica das rela-
ções sociais, despertando no aluno a descrita pelo sociólogo
norte-americano Wright Mills6 (1975), propondo o uso da disciplina como forma de
entender o indivíduo e suas ações perante as estruturas sociais. Seguindo a perspectiva
da imaginação sociológica, trilha-se o entendimento segundo o qual os indivíduos só
podem compreender sua existência e analisar seu futuro percebendo-se parte de um
determinado contexto, de maneira que nossas ações influenciam e são influenciadas
pela dinâmica social.
O exercício de transformar o exótico em familiar e o familiar em exótico
proposto pelo antropólogo Roberto DaMatta (1987) consiste num caminho eficiente
para despertar a imaginação sociológica, o que significa problematizar o que é cotidi-
ano, reafirmando sua historicidade, e, portanto, sua materialidade. É dessa maneira
que procuramos questionar os estudantes envolvidos nas atividades sobre a necessi-
dade de se enfrentar bases sociais preconceituosas e intolerantes, observando o nosso
papel crítico e reflexivo diante dos padrões sociais estabelecidos pelo cotidiano.
5
Lembramos, aqui, de uma atividade realizada em 2018 na qual o diretor da unidade escolar salientou a
relevância de formas inovadoras de se trabalhar os conteúdos das diferentes disciplinas, destacando que
o ensino atual encontra-se cada vez mais distante das perspectivas dos jovens do século XXI.
6
O conceito foi usado primeiramente no ano de 1959.
353
DIÁLOGO FREIRIANO
Nossa intenção com essas atividades de extensão é uma exploração das te-
máticas de forma a estimular uma pedagogia crítica e conscientizadora, dando um
sentido atual e formativo à Sociologia, indo ao encontro às conclusões de Leal e Yung
(2014):
354
DIÁLOGO FREIRIANO
7
Interessante mencionar que o convite para a ida ao colégio se deu pela coordenadora pedagógica desta
unidade escolar ao assistir a uma comunicação oral a respeito do projeto realizada no dia 04 de outubro
durante o VII Seminário Internacional do Proealc/UERJ. O projeto tem tido ampla participação em
congressos acadêmicos, oportunidades nas quais estabelecemos rede de contatos visando novas
atividades e transformamos nossas ações em produtos acadêmicos.
355
DIÁLOGO FREIRIANO
realizar a partir dessa vivência, bem como para a produção de artigos baseados em
suas experiências.
Por fim, mas não menos importante, as atividades do projeto também ofe-
recem ferramentas de apoio aos vestibulares e ao Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM), já que tanto nas provas de Ciências Humanas quanto nas Redações tem ha-
vido a exigência de temas atuais, de argumentações calcadas nos direitos humanos,
com densidade conceitual e teórica, assim como alinhadas a uma lógica interdiscipli-
nar (FERREIRA; SANTOS, 2016).
8
Em todas as atividades tiramos fotos com autorização dos envolvidos e registramos seus detalhes.
356
DIÁLOGO FREIRIANO
357
DIÁLOGO FREIRIANO
358
DIÁLOGO FREIRIANO
Imagem 6: Oficina sobre fake news Campinho/RJ (Prof. Walace Ferreira) - 2018
9
Professora de Sociologia do Colégio Pedro II.
359
DIÁLOGO FREIRIANO
10
Professor de Sociologia do CAP-UERJ.
11
Professor de Sociologia do Colégio Pedro II.
360
DIÁLOGO FREIRIANO
Imagem 9: Oficina sobre a política no cotidiano Petrópolis (Prof. Vinícius Mayo) - 2018
12
Nesse caso, destaca-se a parceria dos Professores de Ciência Política André Coelho e Enara Echart
Muñoz.
13
Nesse caso, destaca-se a Professora Elza Neffa e a pesquisadora Vânia Sanches.
361
DIÁLOGO FREIRIANO
14
Atualmente, a legislação está balizada pela Lei nº 8.121, de 27 de setembro de 2018, que prorroga a reserva,
por mais 10 anos, para as universidades públicas estaduais, com a inclusão de quilombolas e estabelece os
percentuais em 20% das vagas reservadas a negros, indígenas e alunos oriundos de comunidades
quilombolas, 20% das vagas reservadas a alunos oriundos de ensino médio da rede pública, seja municipal,
estadual ou federal e 5% das vagas reservadas a estudantes com deficiência, e filhos de policiais civis e
militares, bombeiros militares e inspetores de segurança e administração penitenciária, mortos ou
incapacitados em razão de serviço (SISTEMA DE COTAS/UERJ).
15
Atualmente o valor é de R$500,00 mensais.
16
Voltado para a circulação de ônibus dentro do município do Rio de Janeiro.
17
Os alunos cotistas pagam R$2,00 por cada refeição.
362
DIÁLOGO FREIRIANO
Imagem 12: Palestra sobre a UERJ Olaria/RJ (Prof. Walace e licenciandos da UERJ) - 2019
Imagem 13: Debate sobre a mobilidade por meio da educação e as oportunidades da UERJ
Praça da Bandeira/RJ (Prof. Walace e licenciandos da UERJ) - 2019
Considerações finais
Nossa proposta, de caráter extensionista e com dois anos de atuação, está
dirigida ao espaço escolar com o propósito de contribuir para a formação crítica do
estudante da educação básica da escola pública e, por conseguinte, da sua formação
cidadã sob inspiração da pedagogia freireana.
Ao promovermos atividades sobre assuntos candentes no âmbito da
Sociologia, sempre de modo transversal à grande área de Humanidades, pretendemos
contribuir não apenas para o aprendizado desses temas, mas também para o estímulo
de percepções críticas acerca da realidade social, lócus priviegiado onde os temas
aparecem e se desenvolvem objetivamente.
São tempos de reacionarismo, conservadorismo, intolerâncias múltiplas e
incertezas futuras, época em que os direitos humanos, a diversidade e a convivência
363
DIÁLOGO FREIRIANO
pacífica diante das adversidades precisam mais do que nunca ser trabalhados com
nossos jovens. É responsabilidade do professor e da universidade conectarem espaços
acadêmicos de produção de saber com a juventude e com futuros profissionais da
educação.
Nesse sentido, durante as atividades, presenciamos realidades sociais com
semelhanças e diferenças, e compartilhamos com os colegas professores destas escolas
a percepção de que a juventude fluminense necessita do fortalecimento do debate de
uma série de assuntos que digam respeito às suas vidas cotidianas, levando-os a refletir
sobre comportamentos, combater preconceitos e valorizar os princípios
democráticos.
364
DIÁLOGO FREIRIANO
REFERÊNCIAS
BRASIL. MEC. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Ciências Humanas
e suas Tecnologias. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brasília,
DF, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume
_03_internet.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2019.
365
OS DESAFIOS DO TRABALHO PEDAGÓGICO NAS
ESCOLAS/CLASSES MULTISSERIADAS DO
CAMPO DO MUNICÍPIO DE IRECÊ
Introdução
Este artigo foi elaborado para refletir sobre os desafios do trabalho pedagó-
gico nas escolas/classes multisseriadas do/no campo do Município de Irecê. A escolha
do tema surgiu a partir das inquietações vividas enquanto coordenadora pedagógica
nas escolas do campo e de classes multisseriadas.
Atualmente, são várias as discussões que têm sido iniciadas com o objetivo
de defender a escola do campo como espaço de diversidade, reconhecendo que cada
povo que nele convive possui sua cultura, uma identidade e, portanto, um ambiente
que carece de políticas que sejam direcionadas à essa realidade, e não de uma mera
transferência do que é elaborado para o meio urbano.
No contexto das Escolas do Campo, especialmente nas classes multisseria-
das, as dificuldades se ampliam, sobretudo quando consideramos que nelas prevale-
cem currículos urbanocêntricos que não dialogam com a realidade da cultura local e
que insistem em reproduzir a lógica da organização escolar seriada em um contexto
caracterizado pela heterogeneidade.
Reiterando o parágrafo anterior, esse estudo busca refletir a prática pedagó-
gica do trabalho docente nas escolas/classes multisseriadas do campo do município
de Irecê, bem como os desafios enfrentados pelos professores no desenvolvimento do
seu ofício, a partir da seguinte questão: como os docentes organizam o tempo e o es-
paço na sala de aula multisseriada para dar conta da heterogeneidade que configura
essa sala?
Contudo, o reconhecimento de que as pessoas que vivem no campo têm di-
reito a uma educação diferenciada daquela oferecida a quem vive nas cidades é recente
1
Doutoranda e Mestra em educação. Especialista em: Psicopedagogia Clínica e Institucional, Gestão de
Escolas e Educação Infantil. Graduada em Pedagogia. Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de
ensino de Irecê-BA.
DIÁLOGO FREIRIANO
368
DIÁLOGO FREIRIANO
duas estacas em cada um, e os alunos sentavam um ao lado do outro enquanto que a
professora passava nos cadernos as atividades referentes a cada série.
Estas condições acima relacionadas com o funcionamento das escolas de
classes multisseriadas, costumam sugerir que quando se fala em Educação do Campo,
a primeira impressão que se tenha é de que se trata de uma educação de péssima qua-
lidade.
Infelizmente, a Educação no Campo hoje se resume num modelo
da educação citadina, reproduzindo práticas metodológicas totalmente fora do con-
texto dos alunos campesinos, negando assim sua oportunidade de e se
em sua comunidade, como cidadão do campo que tem seus valores, seu
modo de vida, suas expectativas e experiências de vida e uma cultura própria.
Por todos os motivos acima explicitados é que surgiu a preocupação e neces-
sidade de pesquisar a temática, objetivando aprofundar um pouco mais sobre ensino
e aprendizagem nas classes multisseriadas e discutir as dificuldades enfrentadas pelos
professores das referidas classes das escolas municipais de Irecê.
369
DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
373
DIÁLOGO FREIRIANO
Muitos educadores (as) expressam insatisfação com relação a existência das classes
multisseriadas pelo fato de não possuírem formação específica para trabalhar com
uma turma diversificada em termos de idade e de aprendizagens, estabelecendo
muitas comparações com as turmas seriadas, manifestando a expectativa que essas
turmas se transformem em seriadas como alternativas para que o sucesso na apren-
dizagem se efetive. (GEPERUAZ, 2005, p.46).
Cabe ressaltar que essa forma de organizar uma turma com alunos de mais
de uma série não acontece apenas no Brasil. É conhecido como multigrado em países
374
DIÁLOGO FREIRIANO
Por su parte, las escuelas multigrado son producto de outra circunstancia histórica
y de una definición de otro tipo. Para uma administración que a partir de la postre-
volución se propuso La expansión del nivel primario, el problema consistía en ase-
gurar La existencia del servicio escolar, sin que por entonces su calidad fuera objeto
de preocupación. (Idem, ibidem, p. 105)
375
DIÁLOGO FREIRIANO
Considerações finais
Ao longo da construção do artigo, por meio das leituras realizadas, procurei
abordar a partir da literatura como se configura a problemática do trabalho docente
na contemporaneidade, a fim de compreender este fenômeno no contexto da educa-
ção do campo e nela nas classes multisseriadas, bem como analisar o trabalho reali-
zado pelos docentes das escolas do campo do referido município.
Portanto, percebe se que precisa se efetivar nas escolas do campo uma prá-
tica pedagógica que envolva os estudantes num processo contínuo de construção de
conhecimentos sistematizados mediante inserção de conteúdos baseados na realidade
desses sujeitos sociais, levando em consideração os traços indenitários, suas singula-
ridades e especificidades, seu modo de vida e de produção, onde os estudantes das
escolas de classes multisseriadas sejam autores e protagonistas da sua história e seja
valorizado enquanto ser humano, consciente dos seus deveres sociais e, sobretudo,
que seus direitos saiam do campo da teorização e entre no universo da praticidade.
376
DIÁLOGO FREIRIANO
Reiterando o parágrafo anterior, sendo sujeitos que tenham acesso aos co-
nhecimentos socialmente construídos pela humanidade, acesso educação de quali-
dade no campo, salas de aulas com estrutura física adequada, professores com uma
base teórica consistente para a formação política desses sujeitos que ao longo do pro-
cesso histórico vem sendo marginalizados pela classe elitizada e dominante, tendo os
seus direitos negados e sendo vítimas da exclusão.
No entanto, cabe dizer que os desafios da pesquisa sobre a multissérie são:
aprofundar a compreensão de quais conhecimentos científicos os professores domi-
nam e quais são necessários para a efetivação de uma prática pedagógica transforma-
dora.
377
DIÁLOGO FREIRIANO
Referências
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tagna. (org). Por uma Educação no Campo. Petrópolis: Vozes, 2004, Cap. I, p. 27
49. 14
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tora, 2000.
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mulgado em 5 de outubro de 1988, Brasília-DF: 2010.
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rural - traços de uma trajetória. In: Jacques Therrien e Maria Nobre Damasceno (co-
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quistas na Legislação Educacional. In: anuais da 29ª reunião anual da AN-
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promisso manifestos. Caxambu: ANPED, 2006.
LEITE, Sérgio Celani. Escola rural: urbanização e políticas educacionais. 2. ed. São
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SILVA, Jaqueline Barbosa da, SANTIAGO, Maria Eliete. As iniciativas de formação
continuada para a educação do campo: os/as professores/as das classes multisseriadas
378
DIÁLOGO FREIRIANO
379
CLASSES MULTISSERIADAS:
QUE ORGANIZAÇÃO ESCOLAR É ESSA?
Introdução
Os estudos voltados para a educação dos povos do campo têm conquis-
tado espaço no debate acadêmico nacional principalmente a partir da década de 90
do século XX, quando houve importantes conquistas dos movimentos sociais organi-
zados em defesa de uma escola que atendesse às demandas dos povos trabalhadores
do meio rural. E foi nessa perspectiva que o presente artigo foi pensando com a in-
tenção de refletir sobre o modelo de organização das classes multisseriadas nas escolas
do campo.
Desse modo, os pesquisadores que discutem a temática como Arroyo, Ga-
dotti, Hage, Veiga, dentre outros têm se debruçado sobre a problemática da escola do
campo a fim de compreender o processo de ensino e aprendizagem nessa forma de
organização.
Com o aprofundamento da pesquisa, notou-se nas referidas classes que o
tempo dedicado a cada turma é infinitamente menor que o recomendado pela legis-
lação, embora as professoras cumpram os duzentos dias letivos preconizados pela
LDBEN.
Assim, neste artigo é apresentado alguns elementos que permitem uma me-
lhor compreensão da problemática da organização do espaço e do tempo nas classes
multisseriadas.
1
Doutoranda e Mestra em educação. Especialista em: Psicopedagogia Clínica e Institucional, Gestão de
Escolas e Educação Infantil. Graduada em Pedagogia. Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de
ensino de Irecê-Ba.
DIÁLOGO FREIRIANO
históricas foram fatores que determinaram o modo de organização das escolas. (PA-
RENTE, 2010; AUGUSTO, 2010). Não era feita por meio de exames que comprovas-
sem aprendizado num determinado tempo ou conteúdo pré-estabelecidos.
O aprendiz era permitido permanecer no espaço destinado ao aprendizado
até que seus recursos financeiros o sustentassem, somente os mais abastados pode-
riam ficar pelo tempo que quisessem ou até atingir suas próprias expectativas. Com o
passar dos anos, a escola vai caminhando rumo à organização que conhecemos hoje.
Num primeiro momento, os cursos livres foram sendo substituídos pela graduação
dos estudos em graus e classes que funcionavam em um mesmo espaço. Os grupos se
reuniam em pontos diferentes da mesma sala. Para cada classe havia um professor.
Surge a delimitação dos tempos para as aprendizagens e dos espaços para
agrupamento dos alunos, na sequência desse processo evolutivo. Os tempos de apren-
dizagem no final do século XVI já estavam definidos em anos, dias e horas e os conte-
údos pré-estabelecidos para serem cumpridos dentro desse programa anual. Ao final
de cada período, os alunos deveriam ser submetidos a exames seletivos para demons-
trar ter aproveitado esse tempo.
É oportuno ressaltar que a organização escolar, como a concebemos hoje,
com delimitações de tempo: ano letivo, horário de aulas, calendário escolar, progra-
mas de ensino rígidos e avaliações seletivas são herança da modernidade e guardam
em sua estrutura muito da influência dos jesuítas, com sua Companhia (séc. XVI), e
de Comênio (séc. XVII), com sua Carta Magna. (PARENTE, 2010).
De certa forma, foi daí que surgiu a organização em séries ou seriada que se
caracteriza pela definição do tempo escolar em ano letivo, pela divisão dos conteúdos
em séries, pela concepção de educação pautada na aquisição de conhecimentos e for-
mação de habilidades, pela avaliação quantitativo-seletiva e pelo papel do professor
de transmitir conhecimento.
Nessa organização, os estudantes são agrupados em séries anuais de acordo
com o nível de desempenho de cada um. Os conhecimentos são divididos em conte-
údos escolares adequados a cada série e devendo ser ministrado por um professor no
decorrer de um ano letivo. Ao final desse período, os alunos passam por uma avaliação
quantitativa para demonstrar o quanto aprenderam e se estão aptos a frequentar o ano
seguinte ou não. Para aqueles que não conseguiram aprovação haverá uma nova
chance no ano seguinte cursando a mesma série. Eles serão agrupados com outro
grupo de alunos que estiverem no mesmo nível de conhecimento que eles, desconsi-
derando a idade. (AUGUSTO, 2010; MIRANDA, 2005).
382
DIÁLOGO FREIRIANO
383
DIÁLOGO FREIRIANO
no campo. Foram sustentadas por políticas compensatórias no que diz respeito a so-
lucionar o acesso a escolarização de um número reduzido de crianças e jovens exis-
tentes no campo.
Essas escolas são unidocentes, impondo aos professores uma sobrecarga de
atividades além das condições adversas do trabalho realizado na sala de aula como
merendeiro, servente, Psicólogo, enfermeiro, vigia escolar, diretor e na maioria das
vezes, realizando o papel de pai/mãe.
Esses são alguns dos muitos termos utilizados para denominar a modalidade
de ensino em que um único professor atende a várias séries no mesmo espaço e tempo:
Multissérie, multi-idade, agrupamento vertical, multianual, escola isolada, classe múl-
tipla, multigrado, sala unidocente, sala (classe ou turma) multisseriada. Se por um lado
é uma modalidade de ensino tão recorrente no território brasileiro, por outro, é tão
pouco difundida, sendo ainda desconhecida de muitos. É fato que torno das clas-
ses multisseriadas formou-se uma imagem de que este ensino é de segunda categoria,
e o que é pior, sem alternativa de
Segundo o (MEC - MOPFEE) Manual Orientações Pedagógicas para For-
mação de Educadoras e Educadores (2009: 23), a ser conhecida como multis-
seriada para caracterizar um modelo de escola do campo que reúne em um mesmo
espaço um conjunto de séries do ensino
A partir dessa afirmação, se pode perceber que esse modelo de escola define
a forma de organização mais típica da escola do campo. Sabe-se que o modelo que
tem predominado na história brasileiro é constituído, quase que em uma totalidade
em classes multisseriadas, considerando ainda que a educação do campo sempre es-
teve em segundo plano, limitando-se ao ensino das primeiras letras.
Segundo o Guia Referencial do Programa Escola Ativa (2009) as classes mul-
tisseriadas são caracterizadas como classes heterogêneas, ou melhor, onde se compor-
tam em um único espaço varias séries de Ensino Infantil ao Ensino Fundamental I, o
que caracteriza a enturmação presente nas escolas do campo.
Esse programa tem como objetivo a qualidade do desempenho escolar em
classes multisseriadas nas séries iniciais do ensino fundamental de escolas do campo.
Para isso, o mesmo implanta nas escolas recursos pedagógicos e de gestão, como kits
de caderno de aprendizagem das disciplinas Português, Matemática, Ciências, Histó-
ria e Geografia para os estudantes do ensino fundamental.
Para muitos educadores que trabalham com a realidade de classes multisse-
riadas, as mesmas são vistas como sofrimento, problema, insatisfação, atraso e tantos
384
DIÁLOGO FREIRIANO
outros adjetivos que ao longo do tempo vão se incorporando e fazem surgir uma cul-
tura vista de maneira negativa.
Não se sabe ao certo quando as Classes Multisseriadas surgiram no Brasil,
mas conforme Maria do Socorro (apud GARDIA, 2005), na década de 30, em lugares
como São Paulo, a escola Primária rural atendia até a 3ª série em classes multisseriadas
e os conteúdos trabalhados era igual os da cidade.
A multisseriação, historicamente apontada no Brasil como a principal carac-
terística das escolas rurais, tem sido vista como praga que deveria ser extermi-
do adjetivações apreendidas e discutidas nos estudos de
Santos e Moura (2010, p. 35). A ela também está associado o baixo índice de aprendi-
zagem dos alunos que estudam nas escolas do meio rural.
Essa modalidade de ensino sempre foi sustentada por políticas compensató-
rias no que diz respeito a solucionar o acesso a escolarização de um número reduzido
de crianças e jovens existentes no campo. Por ser unidocentes, impõe aos professores
uma sobrecarga de atividades além das condições adversas do trabalho realizado na
sala de aula como merendeiro, servente, Psicólogo, enfermeiro, vigia escolar, diretor
e na maioria das vezes, realizando o papel de pai/mãe. Tal situação é expressa em uma
pesquisa realizada pelo GEPERUAZ/UFPA (Grupo de Estudos e Pesquisas em Edu-
cação do Campo na Amazônia) (2005):
Muitos educadores (as) expressam insatisfação com relação a existência das classes
multisseriadas pelo fato de não possuírem formação específica para trabalhar com
uma turma diversificada em termos de idade e de aprendizagens, estabelecendo
muitas comparações com as turmas seriadas, manifestando a expectativa que essas
turmas se transformem em seriadas como alternativas para que o sucesso na apren-
dizagem se efetive. (GEPERUAZ 2005, p. 46).
Cabe ressaltar que essa forma de organizar uma turma com alunos de mais
de uma série não acontece apenas no Brasil. É conhecido como multigrado em países
latino-americanos, e sobre o qual se reconhece a necessidade de uma definição orga-
nizativa diferenciada do modelo de um professor por grau (por série), como defende
Ezpeleta:
385
DIÁLOGO FREIRIANO
Por su parte, las escuelas multigrado son producto de outra circunstancia histórica
y de una definición de otro tipo. Para uma administración que a partir de la postre-
volución se propuso La expansión del nivel primario, el problema consistía en ase-
gurar La existencia del servicio escolar, sin que por entonces su calidad fuera objeto
de preocupación. (Idem, ibidem, p. 105)
386
DIÁLOGO FREIRIANO
Isso sugere melhoria no fluxo escolar, com a progressão dos alunos para as séries
posteriores. Também pode ser o resultado da política de nucleação e reorganização
da rede escolar adotada pelos municípios, sugerindo a transferência do atendimento
desses alunos para escolas urbanas, decorrente do incentivo dos programas de
transporte escolar. (MEC/INEP, 2007).
387
DIÁLOGO FREIRIANO
educacional não poderia ser diferente. No caso da Educação do Campo, mais especi-
ficamente das salas multisseriadas, por mais que essas possuam suas diferenças, que
variam de região para região, as semelhanças são ainda mais evidentes.
No entanto, a multisseriação acaba sendo um agravante, pois, como muitos
professores nunca nem ao menos ouviram falar nessa organização escolar, devido,
principalmente, a esta ser negligenciada durante sua formação, seja ela a nível ou mé-
dio ou superior, muitos descrevem a experiência inicial nessa realidade como um
se sentindo totalmente perdidos.
388
DIÁLOGO FREIRIANO
389
DIÁLOGO FREIRIANO
Considerações finais
Os professores e estudantes das escolas multisseriadas, que em geral encon-
tram-se abandonadas às situações contingentes próprias das comunidades em que se
localizam, afinal, delas depende atualmente a iniciação escolar da maioria das crian-
ças, adolescentes e jovens do campo.
Sem formação, sem informação sobre as classes multisseriadas, esses profes-
sores e coordenadores se sentem desnorteados sem saber como proceder frente as es-
pecificidades da educação do campo e assim também como elaborar e desenvolver
uma proposta educacional que atenda as necessidades das series/anos que compõem
a multisserie.
Assim, a pesquisa proporcionou entender que sem esse norte, acabam se-
guindo o modelo urbanocêntrico, planejando série/ano por série/ano, disciplina por
disciplina desenvolvendo assim também suas aulas.
Ao vislumbrar de perto a realidade da organização da multisserie, foi possí-
vel compreender que é de fundamental importância realizar nessas classes uma prá-
tica pedagógica que possibilite superar a visão alienada em relação aos problemas so-
cioeducativos e que dê condições ao professor de sair do estado de submissão e subal-
ternidade, e que amplie os horizontes políticos, culturais e sociais no sentido de se ter
clareza do tipo de cidadão e de sociedade que se quer formar.
É necessário salientar que, para que o educador tenha condições para desen-
volver com qualidade o trabalho pedagógico na realização do seu fazer pedagógico, a
formação continuada é necessária.
390
DIÁLOGO FREIRIANO
Referências
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391
DIÁLOGO FREIRIANO
392
SABER E PODER:
EDUCAÇÃO POPULAR
UMA ALTERNATIVA POSSIVEL?
Introdução
Neste artigo que vamos aprofundar nas próximas linhas, vamos ensaiar
como a Educação Popular pode enfrentar o Estado, como ela pode se articular para
deslumbrar uma nova roupagem para educação. Seria possível uma Educação Popu-
lar (EP) diante do Estado? Está é a grande pergunta. Aparentemente podemos levan-
tar que não é possível e se é possível pode haver limites.
As discussões entre EP e universidades populares se são possíveis, ainda es-
tão em questão na atualidade. No entanto, a situação no Brasil nas duas ultimas déca-
das, tem-se visto uma expansão cada vez maior de pessoas nas universidades e um
questionamento, um tencionamento das pessoas que vem ingressando e discutindo a
forma de como se constituem as universidades, seus saberes hegemônicos. Já que his-
toricamente a grande maioria da população esteve fora da universidade. Aqui se per-
guntamos se a universidade está a serviço do Estado ou não. A quem interessa os sa-
beres? Para que (m) serve o conhecimento? São justificativas para se perguntar se a EP
seria viável.
Com base em autores/as que tratam da EP e que permeiam a educação de
certa maneira, vamos levantar bibliografias e tecer reflexões que sobre nossa busca de
ver outra forma de educação que dialogue para além do interesse do Estado, se é que
podemos falar em educação fora Estado.
Breve Histórico
Todo o movimento de uma nova concepção de educação popular começa
com perspectiva sistemática e crítica aqui no Brasil com Paulo Freire (1921-1997) na
década de 60, na qual passou a ser chamado de Educação Popular. Historicamente
1
Graduado no curso de licenciatura em História. Foi Bolsista do Grupo PET Práxis /Licenciaturas
Conexões de Saberes (FNDE), e voluntário no Laboratório de Documentação e História Oral pela,
Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Erechim. E-mail: pauloalberto847@gmail.com
DIÁLOGO FREIRIANO
antes dos anos 60, existia toda uma tentativa na América do Sul em dar um significado
para esse popular. Quem seria esse popular? A exemplo, temos Domingo Faustino
Sarmiento (1811-1888) do século XIX que queria uma educação para todos e todas a
partir das escolas seria a base para civilização, só que não para os/as indígenas. Com o
tempo o conceito vai mudando e ganhando outros sentidos e entendimentos
uma ressignificação desse conceito que em autores como Domingo Faustino Sarmi-
ento (Argentina), José Martí (Cuba), José Pedro Varela (Uruguai) tinha o sentido de
educação geral do povo ou educação pública (STRECK, 2010, p.
A questão aqui para nos sulear é apontar o que se entende por educação po-
pular e seus agentes. Entende-se que quem faz parte da EP são pessoas que estão em
situação de opressão, a margem do sistema, são os/as ribeirinhos/as, os/as indígenas,
os/as quilombolas, os/as favelados/as, todas as formas de organização comunitárias, o
famoso digamos assim. Em linhas gerais a EP é entendida para busca de di-
reitos sociais, culturais e políticos, seja em espaços formais ou não-formais. Ela é uma
educação que busca as classes populares a conseguir uma educação de qualidade, a
entrar nas universidades, já que majoritariamente foram excluídas; valorizar suas cul-
turas, cosmologias; ter o direto de dizer a sua palavra. Busca obter uma educação li-
bertadora, emancipadora que livre das situações de opressão, partindo dos saberes e
não fincado neles, pois os saberes populares devem ser levados em conta e junto com
eles os educadores/as e educandos/as buscarem uma forma de se educarem, consci-
entizarem e humanizarem (FREIRE, 2011). Trabalho que Paulo Freire realizou em
Angicos2 no Rio Grande do Norte (RN), como educador, buscando a leitura de
mundo com as pessoas que pare ele precede a leitura da palavra.
De acordo com as autoras Freitas e Machado (2010) a Educação Popular em
si e para a formação inicial de educadores/as está ligada a uma perspectiva emancipa-
tória, a qual leva em consideração condicionantes histórico-sociais, e se posiciona a
favor de práticas educativas que se opõe a naturalização lógica dominante e contribu-
indo para o empoderamento dos sujeitos envolvidos. Nesse sentido, o conceito de em-
poderamento para as autoras está ligado a problematização do sujeito por ele próprio
da realidade na qual ele/a está inserido, por meio da conscientização de classe e do
entendimento da ideologia dominante.
Sendo assim, a Educação Popular se coloca sob uma nova perspectiva, com
o desafio de maximizar as relações por meio do aprendizado. Com isso, mobilizando
2
Para saber mais sobre essa experiência metodológica em Angicos-RN e como foi realizada. Cf.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.
394
DIÁLOGO FREIRIANO
os saberes e não saberes com o intuito de aumentar o desejo de aprender dos indiví-
duos, a partir da partilha de suas experiências, nesse sentido, as autoras apontam a
importância do diálogo, o qual é responsável por autorizar os sujeitos a dizerem sua
palavra e ouvirem a do/a outro/a, configurando assim um dos princípios da Educação
Popular.
O destaque das autoras é que algumas experiências de Educação Popular
a expressão formação com educadores/as e não para ou de educadores/as,
pois testemunham a reciprocidade das aprendizagens que resultam dos processos
educativos fundamentados na Educação (FREITAS; MACHADO, 2010, p.
138, grifo nosso).
Junto a isso, as autoras apontam que ainda encontramos desafios a serem
enfrentados na teoria e na prática, diante da necessidade de encontrar outras maneiras
do ser e do fazer do educador popular, para lidarmos com velhos problemas, assu-
mindo novos contornos e assim fazendo a ligação com a natureza política da Educa-
ção Popular por meio de práticas inclusivas em processos sociais excludentes. Já que
a EP vem de um histórico, de contextualização3 latino-americano do cenário que
passa por fazes desde anos 60 até a atualidade.
Em Freire educar estar ligada a política e educação na busca de transforma-
ção social.
3
Contextualização do cenário latino-americano referente a educação popular, lutas e movimentos de
cultura e, é comentado sobre pessoas importantes para a construção de o que hoje
PAULO, F. S. Educação Popular e Docência. 1. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2014.
395
DIÁLOGO FREIRIANO
enganados, a educação dos proibidos [...] Educação Popular esteja, primeiro, a ser-
viço dos grupos populares ou dos interesses dos grupos populares, sem que isto sig-
nifique a negação dos direitos dos grupos das elites [...] Mas o grande objetivo da
Educação Popular está exatamente em atender os interesses das classes populares
que há quinhentos anos estão sendo negados. [...] De um modo mais radical, a Edu-
cação Popular significa, para mim, caminhos, isto é, o caminho no campo do co-
nhecimento e o caminho no campo político, através dos quais amanhã e aí vem a
utopia as classes populares encontrarem o poder. É isto que significa Educação
Popular para mim; o que significa nos anos 1960, o que significa nos anos 1970, o
que significa nos anos 1980 e o que significa hoje também.
Educar em Freire está ligado a uma posição política, sem neutralidade; edu-
car é conscientizar as pessoas a enxergarem as barreiras físicas ou não, sempre a buscar
o inédito-viável na ação-reflexão-ação, na busca em entender outras interpretações da
realidade ao não naturalizá-las; o diálogo como forma de ouvir e falar, dizer a sua pa-
lavra, para além de um conceito é aporte metodológico; sempre partir da realidade
das pessoas, mas nunca ficar nelas.
Desenvolvimento
Pois bem, vemos brevemente os aspectos da EP como uma forma diferente
de se contrapor a uma educação elitista, excludente, que não leva em consideração os
saberes dos alunos/as. Pensando aqui o que o Freire (2011) aponta como educação
bancária4. Só demonstra que havia um problema na educação, assim com pensou Ivan
Illich, em diagnosticar que havia problemas na escola, que servia para manter uma
classe hierarquizada e desigual, visto em seu livro Sociedade sem Escolas (1970). Pois,
se a educação que se tinha nas escolas ou universidade não fazia uma denúncia da
realidade, tão pouco não anunciavam novas visões. Ficava difícil pensar um modelo
de educação em que os sujeitos não podiam dizer a sua palavra, nem se quer ter con-
dições mínimas para viver, ou simplesmente colocar a culpa que quis
ou não vai São uma das questões preocupantes que fez com que surgisse
a EP.
Por outro lado, como acreditar em uma instituição escolar que serve para
atender os interesses dos dominantes, que não se preocupa com as camadas popula-
res. Como os teóricos da reprodução: resumindo, seriam teorias de que a escola, por
exemplo, reproduziria as relações da classe dominante, reforça a desigualdade e não a
4
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido
da educação
funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão a absolutização da ignorância,
que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no
396
DIÁLOGO FREIRIANO
5
Seriam conhecimentos, experiências, gosto por certos tipos de filmes, pinturas, músicas, por exemplo,
que dariam sentido da cultura dominante para as classes dominadas.
397
DIÁLOGO FREIRIANO
tado não concentra os poderes, mas o perpassa. Visto que a noção de poder em Fou-
cault nos ajuda a pensar a EP como resistência as formas de dominação socialmente
impostas e as verdades cristalizadas.
Verdades essas que são construídas e que não são universais e a grande in-
dagação de Foucault e ver como foi caminho que levou aquela verdade de
Nietzsche, essa questão se transformou. Não é mais: qual o caminho certo da verdade?
Mas qual foi o caminho fortuito da (FOUCAULT, 1979, p. 156). Tal ver-
dade pode predominar em espaços de educação como hegemônicas produzindo uma
legitimação para construção de uma educação que atenda certos interesses. Andreola
e Colling (2014, p. 134) apontam que:
Seria necessário criar outro discurso, outra forma de educação como EP?
Mas aí poderíamos cair em outras formas de verdades, de discursos, de dispositivos
de captura. No entanto, a EP não trabalha com verdades universais, mas parte, prin-
cipalmente da realidade das pessoas construindo com elas uma visão de mundo dife-
rente de acordo com suas cosmovisões, cultura, necessidades da região, que não deixa
de pregar um discurso (libertador, emancipatório) ou ser um novo dispositivo. A EP
em espaços formais seria uma nova forma de educação possível.
De acordo com Foucault (1996, p. 44) sistema de educação é uma ma-
neira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos, como os saberes
e os poderes que eles trazem Nessa medida a EP seria uma alternativa viável
perante o Estado, levando outro discurso, outra disputa por uma Educação Popular e
disputar o conceito de popular, já que é passível de ser ressignificado.
Não tem problema de ser ressignificado e abarcar outras lutas que emergem,
pois ao longo do tempo a EP vem aderindo outras pautas que não estavam postas nos
anos 60 como era a alfabetização, por exemplo, nos primórdios realizados por Freire
e que hoje está em pauta o feminismo, patriarcado, colonialismo a agroecologia como
novas pautas que não se tinha antes. A grande questão é para não se perder o horizonte
de ser anticapitalista, anti-agronegocio (expressão do capitalismo no campo).
Em suma, com base no micropoder de Foucault, nos deslumbramos possi-
bilidades de outra maneira de se posicionar com a EP com outras pautas emergentes,
com articulações de uma nova concepção de educação possível. Mesmo que as teorias
398
DIÁLOGO FREIRIANO
da reprodução sejam pertinentes, não podemos pensa-las como não tendo mais pos-
sibilidade de mudança.
6
Está presente nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Paraná nas cidades de Realeza
e Laranjeiras do Sul; Santa Catarina em Chapecó, Rio Grande do Sul em Erechim, Cerro largo e Passo
Fundo. Que tem em seu projeto de fundação a construção de uma universidade popular. Cf. BENINCÁ,
Dirceu. Universidade popular e os povos indígenas. Educação em Perspectiva, Viçosa, v. 6, n. 1, p.80-
399
DIÁLOGO FREIRIANO
universidades elitistas, que não tem outros saberes populares presentes nas universi-
dades e que não são valorizados ou se quer são tratados. O desafio foi lançado e bem
analisado pelo professor da UFFS, Thiago Ingrassia Pereira sobre o caso do campus
Erechim e sobre a possibilidade de uma Universidade e Educação Popular7.
Os autores Dirceu Benincá e Eduardo Santos abordam bem a questão de
uma EP na educação superior, que vai além de inserir pessoas historicamente excluí-
das (índios, negros, pessoas de baixa renda e etc.) de ter acesso ao ensino superior, e
principio vital para a configuração de uma universidade popular é a valoriza-
ção do diferente e das diferenças: de cultura, de etnia, de gênero, de identidade, de
opção religiosa e (BENINCÁ; SANTOS, 2013, p. 55).
O que está posto, de certa maneira, mas que poderíamos esmiuçar posteri-
ormente é bater nos aspectos de popular do ensino superior. Entretanto, é fundamen-
tal valorizar outros saberes nos espaços educacionais. Como vemos no sociólogo por-
tuguês Boaventura de Souza Santos, um embate diante dos saberes hegemônicos aca-
dêmicos que servem aos interesses de poucas pessoas. Um dos conceitos que nos ajuda
a pensar do sociólogo português é o de Ecologia dos Saberes, que dialoga com o que o
Benincá, Eduardo Santos, Paulo Freire vem nos apontando é a valorização de outros
conhecimentos e ecologia dos saberes resulta do reconhecimento da validade epis-
temológica de outras formas de saber (FREITAS, 2014, p. 33). Talvez seja um
dos pontos centrais para pensar o caráter popular em uma instituição do Estado. Até
que ponto avançar na efetivação popular sem sofrer uma guinada de instabilidade,
como por exemplo, uma massa critica pensante e atuante democraticamente, em
busca de uma alternativa de sociedade que se encaixe nos moldes atuais? Ainda não é
claro, mas vemos uma crise de universidade que Boaventura Santos (2013) identifica
três crises com que se defronta a universidade: Hegemonia: não ser a única que do-
mina as pesquisas, de ser a mais top, de criar conhecimento, não ser a única influente,
papel que de certa forma foi atribuída as universidade no século XX.
Legitimidade: não ser cosensual por hierarquização dos saberes, de um sa-
ber científico acadêmico superior em relação a um saber popular que não teria muita
validade; restrição de acesso, democratização e oportunidade para filhos(as) de classes
400
DIÁLOGO FREIRIANO
Como adverte Paulo Freire, a educação é sempre um ato político. E poderá sê-lo
para a reprodução da política que sustenta o sistema hegemônico ou para a constru-
ção de pensamentos e ações contra-hegemonicos. Entretanto, a universidade popu-
lar só se constituirá efetivamente como tal se tiver clareza de seu papel critico e cri-
ativo e de sua finalidade cientifica e sociopolítica, sobremaneira com a emancipação
das camadas mais oprimidas [...] A universidade será popular na medida na propor-
ção em que as experiências e os conhecimentos gestados por ela não legitimarem ou
reproduzirem o sistema de mercado, mas fortalecerem os princípios de uma nova
sociedade.
Por isso, seja cada vez mais importante colocar na agenda da educação uma
educação como prática para liberdade, visando a EP como possibilidade e não como
401
DIÁLOGO FREIRIANO
redentora, ou a única que possa mudar tudo. O que tudo indica é o papel político que
a universidade ou mesmo a escola vai assumir. Se elas optarem por uma EP, é preciso
como mencionado, ter clareza do que quer para não produzir ou legitimar o sistema
hegemônico.
Considerações Finais
Um ponto base é ver que a educação popular busca valorizar os diferentes
saberes sem hierarquizar, como vemos no pluriversitário do Boaventura de Souza
Santos. Os sujeitos não são passivos perante o discurso da ciência, mas que as pessoas
começam a tencionar, questionar e por em jogo um conhecimento unilateral. A edu-
cação popular (EP) tenta tencionar ao mostrar outras formar possíveis de se compre-
ender o mundo, de transformá-lo, que esse processo não se dá só na universidade,
mas, fora do mundo acadêmico também. Não se nega a importância da universidade,
entretanto vemos que é preciso reformar a universidade junto com outros/as agentes
e com os/as próprios/as acadêmicos(as). Até que ponto podemos mudar estando re-
lacionado com Estado?
As discussões chegam a tocar na parte de uma universidade ou a EP de esta-
rem ligadas ao Estado. De certa forma o Estado estaria na lógica dominante, isto é, das
pessoas dominantes, visto que a democratização de acesso das pessoas/classes desfa-
vorecidas que quase não conseguem ingressar em cursos superiores. Essa ligação com
Estado pode vê-la como um fator não viável para EP ou para as universidades, seja ela
se assumindo popular ou não. Seria possível fazer esse movimento fora da via estatal?
Paulo Freire acredita que sim, dentro ou fora, mas depende de seu posicionamento.
Ou será que atrelado aos dominantes seria apenas, ou quase impossível sair de uma
teoria do reprodutivismo como Bourdieu e Althusser? Respostas concretas ainda são
difíceis. Mas vemos que a EP vem buscando novos meios, ações, sujeitos com vozes
que ecoam, sujeitos que agem que dizem sua palavra. O pluriversitário deve começar
a ser cada vez mais enfatizado, mas como? Bom, através da EP podemos possivel-
mente colocar métodos de pesquisa-ação e pesquisa participante, pois o livro é apenas
um dos meios de se aprender com os/as outros/as e não para os/as outros/as. Daí é
outro leque de ações possíveis da pesquisa-ação ou participante como análise futura
de engajamento, de um caminho possível a ser elaborada no bojo da EP.
Em resumo, depende do posicionamento da ser tomado como visto anteri-
ormente, mas como se manter fiel e coerente a EP e não cair em tentação diante do
jogo do sistema hegemônico, verdadeiro, único, bancário, universal e não reproduzir
ou atender o interesse do Estado?
402
DIÁLOGO FREIRIANO
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301-310.
403
DIÁLOGO FREIRIANO
404
FERNANDO COLLOR, DA ELEIÇÃO
AO IMPEACHMENT SEGUNDO O JORNAL
FOLHA DE SÃO PAULO E A REVISTA VEJA: COMO ESSAS
MÍDIAS INFLUENCIARAM NESSES PROCESSOS.
1. Introdução
Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente eleito pelo povo depois
de um longo período de ditadura militar no país. Essa foi a primeira vez em muitos
anos que o povo foi às urnas para escolher seu presidente. Este artigo discute a in-
fluência do jornal Folha de São Paulo e da revista Veja no processo social e político da
Era Collor desde sua candidatura até o processo de impeachment ocorrido em 1992.
Nesse período, o jornal Folha de São Paulo era dirigido por Otávio Frias Fi-
lho, jornalista e advogado, trabalhava na Folha de São Paulo desde 1975, que era de
propriedade de sua família. Em março de 1990 declara a respeito de Collor: não o
reconheço como presidente da República, mas como usurpador vulgar da
Já a Revista Veja era dirigida por José Roberto Guzzo e tinha como redatores
chefes Tales Alvarenga e Mário Sérgio Conti, esse último é autor do livro Notícias do
Planalto, que retrata os bastidores da grande imprensa, o jornalista aborda quem de-
cide o quê e como nas grandes imprensas do país e como essas mídias cobriram a
ascensão e a queda de Fernando Collor.
Ainda no período eleitoral, a revista Veja dedica a Collor sua principal ma-
téria da edição de 17 de maio de 1989, com a chamada a popularidade de caça-
dor de marajás e o prestígio de inimigo do presidente Sarney, Fernando Collor dispara
1
Professor Doutor em História Social pela PUC-SP.
2
Graduanda do curso de Licenciatura em História da Faculdade Sumaré cursando 6º semestre.
3
Graduada do curso de Licenciatura em História da Faculdade Sumaré segundo semestres 2018.
4
Graduada do curso de Licenciatura em História da Faculdade Sumaré primeiro semestre 2019.
DIÁLOGO FREIRIANO
5
O deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou em março de 1983 a ementa
constitucional que visava às eleições diretas para presidente no ano de 1984. Porém, apesar do apelo
popular, a ementa não foi aprovada, pois embora tivesse 298 votos favoráveis e 25 votos contra, a ausência
de 113 deputados federais pôs fim ao movimento. Vendo que não seria possível ignorar o apelo popular,
cujas pesquisas de ibope apresentavam que 84% da população era a favor da ementa de Dante de Oliveira,
Figueiredo (PDS) encaminhou ao congresso outra ementa onde eram propostas as eleições diretas para
o sucessor de seu sucessor. Desse modo, somente em 1989 a população pode escolher seu presidente
dentre 22 candidatos.
406
DIÁLOGO FREIRIANO
Foi nesse período, a partir dos anos 90, que as portas para implantação do
neoliberalismo6 foram abertas no Brasil, demandando uma ascendência governamen-
tal aliada com as concepções fundamentais do livre mercado e do antiestadismo, con-
ceitos unidos aos interesses do capital estrangeiro e nacional, sobretudo na esfera eco-
nômica. Reformas institucionais de natureza constitucionais redefiniram a armação
do aparelho de Estado, fortalecendo sua índole aristocrática, impedindo qualquer ma-
nifestação democrática em relação ao controle da transferência do patrimônio.
2. Processo Eleitoral
Nas primeiras matérias durante a candidatura para presidência em 1989, a
folha se posicionava contra Collor, ao evidenciar agressividade de seus seguranças
faz campanha no Rio com 88 seguranças; estudante é (LOPES 1989)
e também em suas pesquisas eleitorais, nas quais aponta Collor com um dos maiores
6
Neoliberalismo tem como núcleo de suas ideias a crítica ao papel do Estado na economia e a defesa da
7
Com o fim da Segunda Guerra Mundial a humanidade se depara com a disputa hegemônica entre EUA
e URSS, conhecida como Guerra Fria. Nesse período o mundo estava dividido em dois blocos, o
capitalista dominado pelos EUA e o Socialista dominado pela URSS. Na prática, não havia combate
direto entre as duas potências, porém, havia a iminência de uma possível Terceira Guerra Mundial. A
Guerra Fria foi um fantasma que assombrou o mundo por cerca de 45 anos.
407
DIÁLOGO FREIRIANO
índices de rejeição. Do início de junho até agora, Collor praticamente triplicou seu ín-
dice de rejeição, pulando de 11% para o atual 30%, o que o coloca como o terceiro mais
rejeitado, junto com (MENDES; BERABA.1989).
Collor era o candidato da Rede Globo de televisão, Marinho voltou
de Paris para votar em Collor e não escondeu quem era seu preferido nas
(FORNES, 1989), por isso ele cresceu tanto nas pesquisas de intenções de voto.
As primeiras pesquisas eleitorais foram favoráveis à sua candidatura. Sem base par-
tidária, fez uma campanha solitária. Construiu uma eficaz estrutura de propaganda
e marketing. Elaborou um discurso eleitoral direto, compreensível à maioria dos
eleitores. (VILLA, 2016)
408
DIÁLOGO FREIRIANO
Collor se estabiliza depois de ter caído abruptamente sete pontos percentuais entre
o início e meados de setembro para, em seguida, ir suavizando sua curva de quedas
nas pesquisas. O primeiro tropeço de Collor (de 40% no início de setembro para
33% no meio do mês) chegou a ser apontado por alguns analistas políticos como
processo de queda e até derrocada. (Folha de São Paulo, 29 outubro de
1989 - Diretas89 B3)
Na reta final do primeiro turno das eleições presidenciais, Collor estava com
26% das intenções de voto e a um passo do segundo turno, no qual ele via seu adver-
sário com indiferença e já se considerava vitorioso. Porém a disputa não foi tão desi-
gual como o candidato esperava. Faltando 3 dias para as eleições, a folha publica pes-
quisa na qual a diferença entre os dois candidatos era de apenas um ponto.
409
DIÁLOGO FREIRIANO
Na quinta pesquisa Data Folha no segundo turno, Collor cai um ponto e registra
46% das intenções de voto. Lula cresce um ponto, ficando com 45%. Os dois estão
tecnicamente empatados... A diferença entre os dois, que era de dez pontos no dia
30 de novembro, havia caído dois pontos na pesquisa do dia 4 de dezembro e cinco
pontos no levantamento do dia 8 (Folha de São Paulo 14 de dezembro de 1989 -
Diretas89 B1)
3. Era Collor
Fernando Collor de Mello tomou posse na presidência da República em 15
de março de 1990, segundo Mauro Lopes rito e a pompa das cerimônias do dia da
posse não eram vistos desde o governo Juscelino Collor recebeu de Sarney
a faixa presidencial, leu o juramento constitucional e prometeu liquidar a inflação.
um discurso de 54 minutos, ele defendeu a iniciativa privada, comentou o desgaste
dos regimes socialistas e priorizou o combate à inflação como objetivo de seu
(Lopes Folha de São Paulo 16 de março de 1990 A1)
Collor assinou as primeiras medidas provisórias e decretos do seu governo,
as quais eram: Venda de bens imóveis da União no Distrito Federal; Venda de cháca-
ras e mansões oficiais; Reforma ministerial e reorganização da previdência; Contesta-
ção de despesas na administração pública federal; Programa Federal de Desregula-
mentação e Restrições para acumulação de cargos e empregos.
No dia seguinte, anunciou o programa econômico que tinha o nome oficial
de Plano Brasil Novo, porém esse nome poucas vezes foi utilizado, ficou popular-
mente conhecido como Plano Collor.
A população recebeu em choque a notícia das mudanças do novo plano,
dentre essas mudanças estava a volta do cruzeiro (Cr$), um cruzado novo valia um
cruzeiro. A poupança ficava limitada o saque de até Cr$50mil, o restante ficava retido
por 18 meses, pagando correção e juros, o mesmo acontecia com conta corrente. As
tarifas de luz e de telefone foram reajustadas em 32,1% e os combustíveis subiram
57,8%. Os aplicadores no overnight podiam retirar Cr$ 25 mil ou 20% do saldo da
aplicação, o que fosse maior. As barreiras à importação foram reduzidas e estimulava
a vinda de capital estrangeiro.
O plano econômico do governo Collor surpreende pelo seu impacto inaudito, e pela
sua extrema violência. Realiza o mais brutal e imprevisto ajuste de liquidez de que
se tem notícia na história brasileira e talvez não se encontrem paralelos de um
choque deste tipo em toda a experiência econômica internacional. É com preocu-
pação que se recebe a notícia de que os recursos aplicados no overnight e em outros
ativos passam a ter um limite de 20% para seu resgate; até mesmo a caderneta de
poupança e os depósitos à vista foram atingidos. Uma dosagem tão extrema no con-
trole monetário certamente impõe problemas angustiantes de curto prazo, trazendo
incertezas quanto à manutenção do próprio cotidiano das atividades econômicas
410
DIÁLOGO FREIRIANO
nos próximos dias. (Frias Filho, Otávio Folha de São Paulo 16 de março de 1990
A2).
Como se pode observar, o diretor do jornal folha de São Paulo não esconde
sua insatisfação em relação ao plano apresentado, critica duramente tais medidas e
coloca em dúvida sua eficiência.
O jornal entrevistou pessoas que certamente não apoiavam o plano apresen-
tado pelo presidente como o candidato da oposição Luis Inácio Lula da Silva (PT) que
lamentou em entrevista para o jornal que os assalariados fossem os principais preju-
dicados com o reajuste econômico. Ainda alertou que tais medidas poderiam levar a
uma onda maciça de desemprego. Que se fosse ele o eleito também teria determinado
uma política séria de controle do sistema financeiro, porém teria partido para uma
política capaz de penalizar os detentores de grandes fortunas.
O plano pegou tantas pessoas de surpresa que o candidato também derro-
tado nas eleições presidenciais Leonel Brizola (PDT) não quis manifestar opinião so-
bre as medidas anunciadas e o Ministro do Trabalho e Previdência Social, Antônio
Rogério Magri também evitou comentar a nova política salarial, pois estava tendo di-
ficuldade em entender tais medidas.
Para Mauro Lopes o plano de governo de Fernando Collor deixou perplexa
até sua base de apoio no congresso (PFL, PDS, PRN). Segundo o colunista da folha, os
principais líderes dos partidos de sustentação do governo apontaram diversas falhas
no plano, e sugeriram modificações de alguns pontos à ministra Zélia Cardoso.
Antes da posse do presidente a Veja fez uma matéria dedicada à ministra
Zélia Cardoso de Melo e ressaltou a ousadia do presidente em indicar uma mulher
como ministra da economia.
Na edição de 21 de março de 1990, logo após a posse e a apresentação do
polêmico plano de governo do novo presidente, a revista fez duras críticas aos planos
apresentados por Collor.
Ao atacar a poupança, Collor jogou uma sombra nos destinos de um tipo de inves-
timento em que todos confiavam. Mais que isso, quebrou uma promessa explícita
de sua própria campanha e fez exatamente aquilo que, segundo ele, seu adversário
no segundo turno da sucessão presidencial, Luís Inácio Lula da Silva, cogitava se-
cretamente fazer caso fosse vitorioso. (Veja, 21 de março de 1990. p.58 e 59).
411
DIÁLOGO FREIRIANO
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DIÁLOGO FREIRIANO
O próprio presidente Fernando Collor convocou para uma reunião a ministra Zélia,
o secretário de Política Econômica, Antônio Kandir, e o presidente do Banco Cen-
tral Ibrahim Eris, repreendeu-os asperamente pelos equívocos cometidos, deixo
claro que não tolerará reincidência e saiu dali com uma idéia na cabeça. pró-
xima vez que errarem, serão garantiu a um auxiliar. (Veja, 23 de maio de
1990. p. 26)
413
DIÁLOGO FREIRIANO
O governo Collor já publicou no Diário Oficial da União, desde sua posse, 348 atos
mudando as normas do setor financeiro, Entre circulares (133), portarias (37), ins-
truções normativas (27), decretos (13), leis (21), medidas provisórias (28) e outros
despachos (89), chega-se a uma média de oito atos publicados por dia, contando
somente os dias úteis. (Veja, 23 de maio de 1990. p. 33)
414
DIÁLOGO FREIRIANO
Ficou claro para a Veja que a demissão de Zélia foi injusta, que ela foi res-
ponsabilizada sozinha pelos erros cometidos no governo Collor. Seu romance com o
ministro da Justiça Bernardo Cabral foi visto como imoral, considerado prejudicial ao
governo Collor e contribuiu para demissão da ministra.
A partir daí a ineficiência dos planos Collor I e II dividiu espaço com a mídia
com notícias escandalosas ligadas ao presidente, ou a pessoas envolvidas com ele. Um
personagem que começou ganhar páginas dos jornais foi Paulo César Farias, mais co-
nhecido como PC Farias, ele era dono de uma empresa de aviação e fazia uso dos ae-
roportos brasileiros como se também fosse dono deles. A revista Veja chamou atenção
em uma de suas edições para o fato de que as malas trazidas por PC sequer eram olha-
das pelos agentes da Receita Federal.
As malas do deputado Luiz Dantas, bem como as de sua esposa e de seus três filhos,
que acompanharam a família Farias na viagem de três semanas pela Suíça, França e
Estados Unidos, também não foram vistoriadas tivemos as malas
lembra o deputado, não trouxemos nada de mais, só trouxemos Um
agente da Receita Federal, contudo, assegura que na bagagem dos ilustres viajantes
havia malas, pacotes e algumas caixas de papelão capazes de armazenar uma boa
pilha de roupa. O agente lembra muito bem que recebeu uma ordem clara: Ele de-
veria libera sem fiscalizar os pertences de PC Farias e sua comitiva. (Veja, 03 de julho
de 1991.p.20)
415
DIÁLOGO FREIRIANO
4. Processo de Impeachment
A Revista Veja do dia 04 de setembro de 1991, denunciou através de sua re-
portagem desvios de verbas feitos pela primeira-dama Rosane Collor de Melo, que
presidia a Instituição LBA, para fins particulares e familiares.
8
A Legião Brasileira de Assistência (LBA) foi fundada em 28 de agosto de 1942, pela então primeira-
dama Darcy Vargas, com o objetivo de ajudar as famílias dos soldados enviados à Segunda Guerra
Mundial. Com o final da guerra, tornou-se um órgão de assistência as famílias necessitadas em geral. A
LBA era presidida pelas primeiras-damas. E foi extinta no governo de Fernando Henrique Cardoso.
416
DIÁLOGO FREIRIANO
Na tarde da última quarta feira, Pedro Collor tomou um avião em Maceió e chegou
a São Paulo, após uma escala em Recife, em companhia da mulher Maria Teresa e
de uma irmã, Ana Luiza, Pedro Collor deu uma entrevista de 2 horas à Veja. A seu
pedido, o encontro ocorreu nas dependências da revista. A mulher e a irmã de Pedro
Collor foram testemunhas de suas declarações e chegaram a colaborar em algumas
respostas. Além de fazer novas denúncias sobre as atividades de PC Farias no go-
verno, Pedro Collor diz que ele é testa de ferro do presidente Fernando Collor. Diz
que o jornal Tribuna de Alagoas, que PC Farias quer lançar em Maceió, na verdade
pertence ao seu irmão. Também garante que um apartamento em Paris que se su-
punha ser propriedade do empresário na verdade pertence ao seu irmão Fernando
Collor. Para Pedro Collor existe uma profunda entre os dois. (Veja, 27
de maio de 1992. p.18).
417
DIÁLOGO FREIRIANO
falcatruas delatadas por vários órgãos e familiares. Collor se indignou contra as dela-
ções feitas pelo irmão Pedro Collor, atribuindo a ele insanidade mental.
A revista Veja pauta da seguinte forma a reportagem do dia 30 de setembro
de 1992, depois das últimas denúncias feitas por Pedro Collor e a abertura de processo
contra o presidente: Collor tenta controlar a debandada, os amigos abandonam o na-
vio e o governo organiza a fuga do plenário na votação do
Com a abertura do processo contra Collor e pela falta de provas que o absol-
vesse, o STF optou pelo impeachment do então presidente. Com mínimas possibili-
dades de apoio no Congresso, como mencionado acima, os amigos o abandonaram.
Não foram somente os amigos que o abandonaram, o povo também lhe deu
as costas. Em resposta à passeata de 10 mil estudantes que parou o centro de São Paulo
na terça-feira 11 de agosto, o presidente em um discurso para 2 mil taxistas no palácio
do Planalto pede à população que no próximo domingo dia 16 fossem colocados pa-
nos ou toalhas nas cores da bandeira do Brasil, e que os carros carregassem fitas verdes
e amarelas em referência ao apoio a sua presidência, entendendo que ele estava sendo
vítima de conspiração.
No comentário sobre a CPI em relação ao presidente, a folha explicita a in-
dignação e preocupação em punir os culpados, e critica de forma bem direta a relação
de Collor com PC Farias e a Casa da Dinda9. O jornal aproveita para convocar a po-
pulação para se manifestar contra as fraudes denunciadas a respeito de Collor, afir-
mando que uma situação grave como as que foram relatadas não podem ficar impu-
nes e precisa da força popular.
No domingo 16, o povo cobriu o país de preto para repudiar um presidente que,
espertamente, queria esconder-se atrás da bandeira nacional. Collor saiu impea-
chado e renunciado. Nas manifestações seguintes, as cores da bandeira reaparece-
ram com mais vigor, numa prova de que, quando se torna necessário, as ruas se en-
carregam de resgatar o orgulho e o símbolo da nação. (Veja, 26 de agosto de 1992.
p. 31 e 32)
9
A casa da dinda, foi a residência oficial de Collor entre 1990 e 1992. Ele decidiu morar lá porque o Palácio
da Alvorada estava em reforma e ele não teria se adaptado à Granja do Torto, outra residência oficial da
Presidência da república. Na casa da Dinda escândalos vão de carros suspeitos a despachos e reformas,
(GUSTAVO, Miranda. 05 de julho de 1992. Acervo o Globo.)
418
DIÁLOGO FREIRIANO
O potencial das manifestações poderá ser amplificado com o horário eleitoral gra-
tuito na televisão, dentro de cinco dias. Um contingente maior de pessoas tomará
conhecimento dos resultados da CPI, e é de supor que o anseio legítimo pela puni-
ção dos culpados aumente proporcionalmente. Deixar tal expectativa sem resposta
é um risco, também crescente, para a efetiva implantação da democracia no Brasil.
(FOLHA PRESS, Acervo Folha, FSP, 12 de agosto de 1992. p.2)
Uma parte dos jardins foi afetada. Tive que reconstruir as áreas danificadas. Meus
adversários na CPI usaram esse fato para tentar enganar a opinião pública, alegando
que milhões de dólares teria sido gastos. A casa e os jardins são tipos das boas resi-
dências de Brasília. (Fernando Collor de Mello na televisão, domingo 30 de
agosto)
Nada da Dinda foi reconstruído. As obras começaram em maio de 1989 e foram
concluídas em junho passado. Nestes três anos, a Garden recebeu 2,5 mi-
lhões de dólares, boa parte através de cheques fantasmas. Não há outro jardim igual
em Brasília. É um dos mais belos do mundo. (José Roberto Nehring, em entrevista
Veja quinta feira 3 de setembro.)
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DIÁLOGO FREIRIANO
Considerações Finais
A mídia em geral é um canal que leva as notícias até a casa das pessoas, pode
ser através de telejornais, rádios, jornais, revistas e nos dias atuais a internet. Sem dú-
vida, manter-se informado é um elemento fundamental para formação de opinião e
ampliação de conhecimento.
Porém, as mídias não só têm o poder de informar, ela também pode mani-
pular informações. Os meios de comunicações vêm apoiando golpes políticos e/ou
estratagemas financeiros de acordo com seus interesses por muitos anos. A imprensa
participa efetivamente da política brasileira e buscamos aqui enfatizar essa relação.
A revista Veja teve um papel de grande relevância no processo de criação do
personagem Collor, se posicionando favoravelmente a ele durante as campanhas elei-
torais, porém em relação ao Impeachment mostrou-se totalmente contra o presidente
fornecendo subsídio para sua queda. Entre os anos de 1989 e 1992 a revista Veja pu-
blicava periodicamente capas de revistas voltadas para Collor ou por membros de sua
equipe.
Mesmo não atingindo grande parte do público brasileiro como os canais de
televisão, ou rádio, a revista Veja foi decisiva na abertura do processo de impeachment
contra Collor, foi quem encabeçou as denúncias de corrupção contra Collor e emer-
giu o esquema PC Farias.
O jornal Folha de São Paulo também fazia questão de destacar notícias con-
tra o presidente desde o período de sua candidatura. Os planos de governos conheci-
dos como Plano Collor I e II foram negativamente criticados pelo jornal. Não só isso,
a Folha de São Paulo também enfatizava as notícias de corrupção.
Se não é a mídia a dar importância para uma determinada notícia, ela chega
e logo é esquecida. Sendo assim é ela quem escolhe os assuntos que considera relevan-
tes e forma a opinião de uma nação. Nesse sentido, estudar o período Collor é, por-
tanto, uma forma de compreender a relação entre a mídia e política nacional.
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DIÁLOGO FREIRIANO
Referência
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421
DIÁLOGO FREIRIANO
422
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apoio São Paulo: Editora Abril, 11 de setembro 1991. nº 1.199.
VEJA. Trapalhada no Planalto o caso de plágio nos artigos de Collor. São Paulo:
Editora Abril, 15 de janeiro de 1992 nº 1.217
VEJA. Exclusivo Collor Fala. São Paulo: Editora Abril, 25 de março de 1992 nº
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Editora Abril, 20 de março de 1992 nº 1.227
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VEJA. O Jardim do Marajá da Dinda. São Paulo: Editora Abril, 09 de setembro de
1992. nº 1.251.
VEJA. Chegou a hora. São Paulo: Editora Abril, 30 de setembro de 1992. nº 1.254
VEJA. Caiu. São Paulo: Editora Abril, 30 de setembro de 1992. nº 1.255. Edição His-
tória.
VILLA, Marco Antonio. Collor Presidente: Trinta meses de turbulências, reformas,
intriga e corrupção. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2016.
423
A DANÇA E SUAS CONTRIBUIÇÕES COMO
COMPONENTE EDUCATIVO NOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
1. INTRODUÇÃO
A dança é a arte de expressar-se por meio de movimentos, tendo o corpo
como principal instrumento, trazendo consigo diversos aspectos positivos para a vida
dos seres humanos que a pratica. Sabe-se que a dança é capaz de promover a compre-
ensão da corporeidade e estimular a criação, responsabilidade, organização, noções
de tempo e espaço entre outras coisas (FERREIRA, 2009).
Nesse sentido, tem-se notado a importância da inserção da dança nos ambi-
entes escolares. Já que além de contribuir para valorização e apreciação de manifesta-
ções expressivas e culturais, também auxilia na melhoria da aprendizagem do edu-
cando, no que se refere ao domínio do esquema corporal. E isso, influencia direta-
mente no desenvolvimento psicomotor e cognitivo, refletindo por sua vez no aprimo-
ramento da leitura e escrita dos educandos.
Este estudo teve como objetivo geral analisar de que forma a dança como
prática educativa, pode contribuir com o processo de ensino aprendizagem. E os ob-
jetivos específicos foram: identificar a importância da dança no espaço escolar; inves-
tigar de que forma a dança contribui para o processo educacional; verificar como a
dança é explorada como componente educativo.
Para que fosse possível o alcance de tais objetivos, foi utilizado como meto-
dologia, um levantamento bibliográfico acerca de dança no espaço escolar, tendo
como referencial alguns autores como Ferreira (2009), Nanni (2001) e Portinari
(1989), e ainda, pesquisa de campo, o instrumento de coleta de dados foi a entrevista
com roteiro semiestruturado e abordagem qualitativa, os sujeitos de pesquisa foram
o gestor e uma professora de dança da Escola Centro Educacional Anchieta.
1
Especialista em Educação Infantil (Faculdade do Tapajós). Graduada em Pedagogia (Faculdade do
Tapajós).
2
Mestrando em Ensino (Universidade do Vale do Taquari). Especialista em Formação de Leitores
(Faculdades Integradas de Jacarepaguá). Bacharel em Biblioteconomia (Universidade Federal do Pará).
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426
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Percebe-se que essa prática propicia ao aluno uma facilidade no que se refere
ao domínio corporal, que por sua vez reflete no aprimoramento de habilidades a se-
rem desenvolvidas em sala de aula. Com a prática da dança, a leitura melhora signifi-
cativamente, pois esta atividade trabalha aspectos como concentração, interpretação,
memória e outros fatores que atrelados ao ensino darão suporte à aprendizagem.
Já no que diz respeito à melhoria na escrita, deve-se ao aprimoramento de
habilidades como coordenação motora, noções de espaço e etc. Porém, além desses
benefícios, a dança também proporciona trabalhar as emoções, a imaginação, a cria-
tividade, a espontaneidade e a interação das crianças. Mas, para que se possa trabalhar
estas percepções e obter êxito, é importante que o profissional esteja preparado, co-
nheça os seus alunos em suas individualidades, suas capacidades e limitações, e utilize
a dança como instrumento para a melhoria e aprimoramento dessas áreas.
Uma aula de dança na escola permite ao professor conhecer melhor o seu aluno, ou
seja, saber suas preferências sobre o que gosta de brincar, de cantar, de ouvir; discu-
tir suas experiências; fazer fluir sua imaginação e verificar a influência dela na reali-
dade e nas atitudes da criança. Isto quer dizer que a prática da dança escolar tem que
estar voltada não só para a recreação, ou simplesmente para o treino de habilidades
motoras, mas para equilíbrio psíquico, para a expressão criativa e espontânea, afim
de assegurar aos alunos a possibilidade de reconhecimento e compreensão do uni-
verso simbólico (FERREIRA, 2009, p. 15).
428
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porque o nosso corpo possui a dimensão existencial que nascem da relação deste
com o mundo exterior (NANNI, 2001, p. 84).
430
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suas atividades. Sabe-se que a escola acaba sendo um novo meio onde a criança irá
estabelecer diferentes relações sociais, e isso pode causar certo desconforto, já que ge-
ralmente, o habitual da criança é se relacionar somente com o seu grupo familiar. No
meio escolar a criança terá contato de forma sistematizada com a cultura acumulada,
com novas e diferentes formas de disciplina, além de manter contatos com novas for-
mas de relações grupais (WALLON, 1979).
É com este ideal que a dança é importante para o espaço escolar, pois uma
das principais características desta atividade, é o auxílio na interação entre as pessoas,
independentemente de suas diferenças físicas e sociais. A dança oportuniza as pessoas
a se expressarem, sem que suas diferenças importem, fazendo com que a criança en-
tenda que não existem diferenças capazes de separa-los ou isola-los da sociedade.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para realização desta pesquisa, realizou-se um levantamento bibliográfico,
para que assim, fosse possível construir a fundamentação teórica. De acordo com Fa-
chin (2006, p. 122) entende-se por levantamento bibliográfico as obras escritas,
bem como a matéria constituída por dados primários ou secundários que possam ser
utilizados pelo pesquisador ou simplesmente pelo Marconi e Lakatos (2017)
complementam argumentando que levantamento bibliográfico compreende a identi-
ficação de obras que são importantes para a pesquisa.
Este estudo é classificado como qualitativo, de acordo com Minayo (2001, p.
21-22) a pesquisa qualitativa
Se preocupa, nas ciências sociais, como um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, motivos, aspi-
rações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo
das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à opera-
cionalização de variáveis.
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DIÁLOGO FREIRIANO
Se observa que a dança, nas escolas de forma geral, ainda é pouco trabalhada, porém,
o professor de educação física pode incluir a dança no seu conteúdo programático,
embora o mesmo trabalhe esta atividade na maioria das vezes somente nos eventos
das escolas, e com isso promover de forma eficaz esta atividade, baseado no conhe-
cimento que este profissional já possui devido a sua formação (Dados da pesquisa).
Inicialmente a dança é inserida nos eventos e programações que a escola realiza todos
os anos, onde nas pequenas programações a dança é desenvolvida pelos próprios pro-
fessores da turma, e nos eventos maiores, que exijam uma qualidade maior, a escola
conta com a parceria da Escola de Dança Anchieta (EDA), utilizando os alunos da
companhia de dança da escola, que por já fazerem aulas no cotidiano, nas modalida-
des Ballet Clássico, Contemporâneo, Jazz e Sapateado, possuem uma técnica mais ele-
vada, o que entra de acordo com o nível exigido para o evento (Dados da pesquisa).
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com a participação dos alunos e professores. Vale ressaltar que não somente o profes-
sor de educação física deve desenvolver esta atividade, já que este profissional é lotado
com esta disciplina específica nas turmas de 6º ao 9º ano, mas que também os profes-
sores das séries iniciais podem trabalhar a dança escolar na disciplina de educação
física, o que diferenciará seu trabalho é a metodologia utilizada pelo docente.
433
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28) dança escolar tem que se preocupar com a formação ética, a adaptação social,
a organização do trabalho, o tratamento da informação e com o desenvolvimento psi-
comotor da Adequando a forma de trabalhar e adaptando-se a realidade de
cada criança, o docente é capaz de desenvolver as habilidades dos alunos das variadas
formas existentes dentro da dança escolar.
Ao indagar sobre o apoio e incentivo da gestão no que diz respeito a dança
escolar, o gestor afirma que:
Sempre é dado todo o suporte para que a professora desenvolva o seu trabalho. E desde
2010 quando a EDA foi construída para esse fim específico, a gestão busca desenvolver
esse trabalho, sendo pioneira na cidade a implantar a dança acadêmica de nível pro-
fissional (Dados da pesquisa).
Existe melhora nos índices, também devido à vontade e satisfação que a criança sente
ao fazer a aula de dança, o que acaba refletindo no seu melhor desempenho escolar,
devido a condicionante de que a criança precisa se sair bem na escola e tirar boas notas
para que permaneça frequentando as aulas de dança. (Dados da pesquisa).
434
DIÁLOGO FREIRIANO
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dança é presente na vida do ser humano desde os primórdios, seja ela
como manifestação artística ou como forma de expressão, percebe-se que diversos são
os benefícios para aqueles que a praticam. E estes benefícios não se limitam a melho-
rias físicas, mas também ao desenvolvimento de habilidades motoras, mentais, inte-
lectuais entre outras coisas.
Mas para que estes resultados sejam obtidos, é necessário que as escolas pas-
sem a utilizar a dança como um mecanismo de estratégia pedagógica, onde por meio
da dança e sua musicalidade, estas habilidades possam ser desenvolvidas, exploradas
e aperfeiçoadas, para que de fato haja resultados satisfatórios, e os reflexos destes re-
sultados gerem impactos positivos em sala de aula.
Na Escola Centro Educacional Anchieta foi possível verificar que a dança
escolar está presente no dia a dia da instituição, e que a gestão escolar acredita na
dança como um instrumento que auxilia na conquista de resultados desejados tendo
como base os resultados satisfatórios que a escola tem obtido.
Identificou-se que a professora de dança percebe avanços nas crianças que
passam a frequentar as aulas de dança. Isso potencializado também em decorrência
do nível de qualificação da docente, que auxilia na forma de exercer o seu trabalho,
buscando desenvolver as habilidades individuais dos alunos, e adaptando a forma de
trabalhar com a dança de acordo com a faixa etária e as capacidades de cada criança.
Diante disso, vale ressaltar a importância da obtenção de conhecimento por
parte dos professores, e mesmo que na maioria das escolas não se tenha um espaço
físico adequado ou um profissional tecnicamente qualificado para desenvolver essa
atividade, ainda assim, a dança pode ser desenvolvida para fins pedagógicos. Dei-
xando de ser algo trabalhado somente para festas juninas ou programações festivas
das instituições, e ser inserida no contexto escolar, como algo a ser desenvolvido cons-
tantemente pelos professores.
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REFERÊNCIAS
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436
ENSINO APRENDIZAGEM POR MEIO DA
APLICAÇÃO DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA (SD):
TRAZER ESTE DIÁLOGO PARA A ESCOLA
Rosa Prasser 1
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa nasce com o desejo de conhecer as potencialidades de se tra-
balhar este tema das plantas medicinais e com o objetivo de implantar a horta na es-
cola. O uso de plantas no tratamento de doenças teve início há muitos séculos.
Quando os índios começaram por meio de observações nos hábitos desenvolvidos
pelos pajés no tratamento de alguns males de sua época. O Brasil tem uma grande
diversidade biológica: 10% dos 1,4 milhões de organismos vivos já descritos pela ci-
ência encontram-se no Brasil. No caso específico das angiospermas, o Brasil possui 55
mil espécies, o que totaliza 22% desse tipo de planta em todo o planeta (MITTER-
MEIER et al.1992). Este trabalho buscou analisar o uso das plantas medicinais, através
da implantação da horta na escola. Visando contribuir para a formação de cidadãos
críticos e conscientes que possam fazer escolhas com base em um conhecimento cons-
truído em um contexto histórico e social. Sendo norteadas por questões como: Será
que os chazinhos causam sintomas indesejáveis? As plantas cultivadas precisam ter
critérios para o seu uso? O que sabemos sobre as plantas medicinais? Justifica-se de
acordo com o Lorenzi e Matos (2002), que as plantas medicinais possuem efetividade
terapêutica e toxicologia. Tal afirmação está cientificamente aprovada, conforme as
suas necessidades básicas de saúde, pela facilidade do acesso e baixo custo.
Segundo CHAN (2013, p. 30),
1
Possui Bacharelado em Teologia pela Faculdade Unida de Vitoria (2012), Licenciatura em filosofia pela
Faculdade entre rios de Piauí - FAERPI (2015). Formada em Capelania pela - CAFEBI - RJ. Pós-
graduação Especialização em educação e Divulgação em Ciências em Lato Senso - IFES. Atualmente é
professor e escritor, atua na disciplina de Filosofia. rosapesquisadora@gmail.com
DIÁLOGO FREIRIANO
O objetivo geral desta pesquisa é a aplicação de uma SD, que foi realizada em
três aulas. Buscamos compreender como conhecimento prévio dos alunos sobre
como as plantas medicinais podem ser uteis. Além disso, trabalharmos sobre suas prá-
ticas e costumes. Visando formar um cidadão consciente que consome e pode fazer
suas próprias escolhas. Os objetivos específicos foram: levantar o conhecimento pré-
vio dos alunos, aplicar a (SD) sequência didática. Implantar a horta na escola. Tendo
como fonte de pesquisa bibliográfica Guimarães e Giordan (2012). Eles argumentam
que a aplicação da (SD) sequência didática em sala de aula é um passo fundamental
para a análise do alcance educacional da proposta de ensino. Lobino (2012), diz que o
aluno aprende a partir de suas experiências, interagindo com o outro, agindo e rea-
gindo sobre e com o objeto do conhecimento, de forma permanente e processual.
Freire (1967) traz contribuição acerca desta temática.
438
DIÁLOGO FREIRIANO
relação à temática proposta ao aluno. Ele como autor do conhecimento que deixa de
ser ouvinte e passa a ser pesquisador autônomo do conhecimento por ele construído.
A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de
estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, o vão dinamizando o seu
mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela
algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando os espaços geográficos. Faz
cultura. E é ainda o jogo destas relações do homem com o mundo e do homem com
os homens, desafiado e respondendo ao desafio, alterando, criando, que não per-
mite a imobilidade, a não ser em termos de relativa preponderância, nem das socie-
dades nem das culturas. E, na medida em que cria, recria e decide, vão se confor-
mando as épocas históricas. É também criando, recriando e decidindo que o homem
deve participar destas épocas. (FREIRE, 1967, p. 43)
439
DIÁLOGO FREIRIANO
toda esta possibilidade reflexiva dos alunos de todos que estão dentro da escola co-
tidiana. Ver a terra como nossa morada no espaço até o plantio da horta, passando
pela compreensão dos princípios ativos das plantas, produzidos pela reação dos sais
da terra, da água, do gás carbônico do ar e do sol, e da interdependência entre plan-
tas, homem e os outros animais, estabelecendo relações entre o ontem e o hoje, as
diferentes (LOBINO, 2012, p. 179)
4. REVISÃO LITERATURA:
4.1 As plantas medicinais ao longo da história
As plantas medicinais sempre tiveram relevância a toda sociedade. Com isso
as famílias vêm fazendo o resgate cultural do uso das plantas que seus ancestrais per-
ceberam e suas ricas propriedades. Muitos destes conhecimentos eram transmitidos
oralmente, visto que o uso das plantas medicinais está relacionado com sua tradição
familiar.
Araújo (2007, p. 45), dialoga que:
440
DIÁLOGO FREIRIANO
Cunha (2011), cita em seu artigo temas sobre o uso popular, concepção ci-
entífica sobre plantas medicinais, a utilização de produtos naturais (particularmente
da flora), com fins medicinais, e que isso nasceu com a humanidade. Indícios do uso
de plantas medicinais e tóxicas foram encontrados nas civilizações mais antigas, sendo
considerada uma das práticas mais remotas utilizadas pelo homem para cura, preven-
ção e tratamento de doenças, servindo como importante fonte de compostos biologi-
camente ativos (ANDRADE; CARDOSO; BASTOS, 2007).
Segundo Duarte (2006), os primeiros registros sobre a utilização de plantas
medicinais são datados de 500 a. C., no texto Chinês que relata nomes, doses e indi-
cações de uso de plantas para tratamento de doenças. Outros registros foram encon-
trados no manuscrito Egípcio de 1.500 a.C., em que continham in-
formações sobre 811 prescrições e 700 drogas. E algumas dessas plantas ainda são uti-
lizadas, como Ginseng, Ephedra spp. Cassia spp. e Rheumpalmatum L., inclusive
como fontes para indústrias farmacêuticas.
Porém, de acordo com Simões, Schenkel e Simon (2001) e Vale (2002), os
primeiros registros fitoterápicos datam do período 2.838-2.698 a. C., quando o impe-
rador chinês ShenNung catalogou 365 ervas medicinais e venenos que eram usados
sob inspiração taoísta de Pan Ki, considerado deus da criação. Esse primeiro herbário
dependia da ordenação de dois polos opostos: yang-luz, céu, calor, esquerdo; e o yin-
trevas, terra, frio, direito. Por volta de 1.500 a. C. A base da medicina hindu já estava
revelada em dois textos sagrados: Veda (Aprendizado) e Ayurveda (Aprendizado de
Longa Vida).
441
DIÁLOGO FREIRIANO
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:
A pesquisa foi realizada na escola estadual Rômulo Castello em Carapina-
Serra _ES. Com uma turma do 3°ano do ensino médio. A sequência didática (SD)
sobre plantas medicinais foi organizada em três momentos pedagógico, definidos
como: Primeiro momento, aplicação do questionário para o levantamento prévio do
aluno sobre as plantas medicinais. Será que os chazinhos e as cápsulas causam sinto-
mas indesejáveis? As plantas cultivadas precisam ter critérios para seu uso? O que sa-
bemos sobre as plantas medicinais? Como implantar horta na escola? Logo após os
alunos assistiram a um vídeo sobre a história da fabricação e distribuição de medica-
mentos. No segundo momento, a turma foi dividida em dois grupos, logo foi entregue
dois textos com o tema: Plantas Medicinais na Sociedade e o Cenário Farmacêutico
no Brasil. No terceiro momento foi feita a implantação da horta, as mudas foram plan-
tadas e trazidas pelos alunos. A escola recebeu uma doação do parque Tabuazeiro
ES onde, foram plantadas vinte mudas. Os canteiros foram organizados pelos alunos.
442
DIÁLOGO FREIRIANO
443
DIÁLOGO FREIRIANO
aquele momento. Fala do aluno: - Gostei muito de ajudar na realização da horta aqui
na escola, esta planta camomila minha mãe usa para fazer chá para tratar de
Outros participavam da seleção das plaquinhas com nomes, olhando atentos e per-
guntando para servia a planta que encontrava em sua mão. Sugeri para colocarmos o
nome em cada planta e descrevermos para que serve. Assim, outros alunos ao visita-
rem a horta teriam a ideia da relação que eles fizeram com plantas em uma perspectiva
do que conheciam e também o que aprenderam através do estudo do seminário rea-
lizado sala de aula. Aula na horta e dinâmica envolve todos os alunos. A relevância
deste momento é que os alunos como autores do conhecimento agora podem fazer
uma escolha consciente com relação ao uso de medicamentos.
Freire (1996, p.21) diz que:
444
DIÁLOGO FREIRIANO
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os dados obtidos por meio do questionário com os alunos mostraram que
já tinham conhecimento das plantas medicinais através das aulas de biologia, onde
são trabalhados conteúdos específicos nas aulas de botânica. Relataram que adquiri-
ram por meio da aula em seminário, através de livros e internet, diante de conversa
com os familiares, vizinhos e amigos um rico aprendizado. Vinte alunos afirmaram
que os chazinhos precisam ser consumidos sem excesso e 18 dialogaram que a im-
plantação da horta e seu cultivo devem ser plantados no local de forma apropriada.
Por meio da entrevista os alunos responderam que já utilizaram plantas medicinais
como recursos em algum momento da vida, principalmente quando sofreram de al-
gum mal considerado por eles mais simples. Como dor de cabeça, estomacal e dor de
barriga. Foi citado que a família tem tradição do uso e cultivo das plantas medicinais
em seus quintais e que as plantas trazem tradição cultural, religiosa e seus ritos. De
modo geral os alunos afirmam que sobre o assunto só sabia de algumas plantas, que
se fazia um chá com elas. Como cidreira para calmante, camomila para dor de barriga.
Mediante a fala dos alunos verifica-se que esta pesquisa contribui para a valorização
dos conhecimentos prévios dos alunos, e a importância sobre a utilização das plantas
medicinais.
445
DIÁLOGO FREIRIANO
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximada-
mente 80% da população de países em desenvolvimento utilizam-se de práticas tradi-
cionais na atenção primária à saúde e, desse total 85% fazem uso de plantas medicinais
(Carvalho,2007). Esta pesquisa alcançou seu objetivo, na medida em que contribui
para despertar a consciência sobre uso responsável de plantas medicinais. Através
desse tema os alunos se sensibilizaram para o cuidado com a natureza e a importância
do conhecimento, tendo um olhar para o uso das plantas medicinais com critérios
necessários a saúde. O momento da troca de saberes tradicional (popular), e o acadê-
mico (conhecimento científico) foi muito enriquecedor.
446
DIÁLOGO FREIRIANO
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E PRÁTICA DE ENSINO, 14, 2008, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Edipucrs,
2008. 2 CDROM
GUIMARÃES, Yara A. F.; GIORDAN, Marcelo Instrumento para construção e va-
lidação de sequências didáticas em um curso a distância de formação continuada
de professores. In: VIIII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCA-
ÇÃO EM CIÊNCIAS. Campinas, 2011.
GUIMARÃES, Y. A. F. E GIORDAN, M. Instrumento para construção e validação
de seqüência didáticas em um curso a distância de formação continuada de pro-
fessores. VIII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 2012.
447
A BUSCA POR UMA PEDAGOGIA
CULTURALMENTE SENSÍVEL NOS LIVROS
DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA:
A NOÇÃO DE E
NORMA-PADRÃO, NORMA CULTA
1. INTRODUÇÃO
Os princípios elaborados por Bortoni-Ricardo (2005), resultando na teoria
da Sociolinguística Educacional, e as concepções de Bagno (2007), acerca de que
na Língua é por apresentam como ponto de partida para seus estudos a
escola, a sociedade e o ensino de Língua Portuguesa, concentrando-se nas questões
relacionadas à variação e mudança linguística, que fazem parte do processo de ampli-
ação do conhecimento linguístico e desenvolvimento da competência comunicativa
dos estudantes.
A sociolinguística é de suma importância, pois visa a contribuir para a me-
lhoria do ensino de Língua Portuguesa através da reflexão e discussão acerca da reali-
dade linguística, considerando não somente os fatores internos à língua como a fono-
logia, morfologia, sintaxe ou semântica, mas também fatores externos como, por
exemplo, sexo, origem, faixa etária e escolaridade.
No entanto, para que o aluno não seja um estrangeiro dentro da sua própria
língua, é preciso que os professores, não somente de Português, tenham o conheci-
mento do caráter heterogêneo da língua e, principalmente, das variedades linguísticas
1
Doutoranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais;
2
Doutoranda em Estudos Linguísticos pela UFMG; Professora EBTT do Instituto Federal do Norte de
Minas Gerais, Campus Araçuaí
3
Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp; Professor da Universidade Federal do Amazonas;
4
Doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela USP; Professora adjunta da
Universidade Federal do Amazonas.
DIÁLOGO FREIRIANO
2. METODOLOGIA
Por se tratar de um artigo de natureza teórica, utilizamos 07(sete) livros di-
dáticos de Língua Portuguesa, aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático
- PNLD, para alunos do 1º ano do Ensino Médio, alusivo ao triênio 2018-2020. Os
livros analisados foram: 1. Língua Portuguesa: Linguagem e Interação (Faraco, Ma-
ruxo JR., Moura); 2. Ser Protagonista Língua Portuguesa (Ricardo Gonçalves Bar-
reto; Marianka Gonçalves-Santa Bárbara; Cecília Bergamin); 3. Português Contem-
porâneo: Diálogo, Reflexão e Uso (Carolina Dias Vianna, Christiane Damien, Wil-
liam Cereja); 4. Veredas da Palavra (Vima Lia Martin, Roberta Hernandes); 5. Novas
Palavras (Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino Antônio); 6. Esferas
450
DIÁLOGO FREIRIANO
das Linguagens (Maria Inês Batista Campos, Nívia Assumpção); 7. Se Liga Na Língua:
Literatura, Produção de Texto, Linguagem (Cristiane Siniscalchi, Wilton Ormundo).
Tendo em vista que nosso objetivo foi verificar como os respectivos livros
didáticos lidam com as noções de e norma-padrão e norma culta,
consideramos a abordagem qualitativa, utilizando a Análise Textual, Análise Temá-
tica e Análise Interpretativa, com base em Severino (2002), além da Análise de Con-
teúdo de Bardin (1977).
451
DIÁLOGO FREIRIANO
sim em estilos mais monitorados ou formais, porque qualquer um de nós, por mais
escolarizado e letrado que seja em momentos de descontração ou em outras situações
voltamos ao nosso dialeto materno. A escola, seguindo esse princípio, pode incorpo-
rar no repertório linguístico do aluno os recursos comunicativos que lhe permitam
empregar de forma segura os estilos mais monitorados da língua.
O segundo princípio relaciona-se com o caráter sociossimbólico das regras
variáveis, ou seja, são as regras que não são vistas de forma negativa na sociedade e,
por isso, não são objeto de correção na escola. Um exemplo disso é quando se faz o
uso da anáfora zero ou do pronome lexical como no exemplo citado por Tarallo e
Duarte:
452
DIÁLOGO FREIRIANO
A É a cadeia alimentar + né? O ciclo da vida puque cada uma vai comendo um
animal ou vegetal pra se alimentá.
A Isso aqui é a vida na água + fala assim + da fotossíntese + né como é que eles
respira + como é que as plantas fabrica seu próprio alimento+ fabricam (corrigindo)
o oxigênio para os peixes respirarem. Aqui a cadeia alimentar.
A (passando a folha do livro) Isso aqui nós vamu aprendê. Isso aqui também. Sim
+ esse aqui foi como a + o homem e a água + né? Como o homem + começou + né
+ a utilizá a água e como ele tá precisando + como ele precisa da água. Esse aqui é
água vezes progresso (continua passando as folhas). Agora esse + as plantas + o sol
+ né + que já é capítulo onze. Aqui é as camadas de um terreno + que o solo com a
argila + a areia + húmus + camada de argila. Esse aqui fala sobre o surgimento e a
evolução do solo. No capítulo treze tem o home que + que ele modifica o solo + que
ele coloca + assim + coisas + que ele modifica o solo. Que ele provoca erosões às
vezes. Os minerais e o homem + né + que fa + fala sobre rochas... (FREITAS, 1996
apud BORTONI-RICARDO, 2005, p. 49).
453
DIÁLOGO FREIRIANO
representar prestígio para alguns e para outros não, o professor pode atribuir valor
negativo a uma variação e outros podem vê-la como uma característica cultural.
Por fim, o sexto princípio reforça o processo de conscientização crítica dos
professores e alunos no que se refere à variação e à desigualdade social que ela reflete.
Nesse contexto, é preciso oferecer ao professor formas que promovam o enriqueci-
mento do seu conhecimento e o torne apto a promover uma autorreflexão e uma re-
flexão crítica acerca das variedades linguísticas.
A Sociolinguística Educacional, portanto, visa a uma perspectiva reflexiva
sobre a realidade linguística de cada indivíduo e o compromisso com o meio social
considerando que existirá avaliação em relação à língua e linguagem, que determina-
das formas de usos linguísticos sofrerão preconceitos por parte da sociedade e de que
outras formas linguísticas serão policiadas, não pela sociedade em si, mas por aqueles
que acham que a língua está prescrita na gramática (DIAS, 2011).
Já na percepção de Bagno (2007), a língua está atrelada a discursos que se
contrapõem. Por um lado, o discurso científico, embasado nos estudos e teorias lin-
guísticas modernas, e por outro, o senso comum, que está ligado a concepções arcaicas
e carregadas de preconceitos, que propagam a noção de erro.
Essa noção de erro teve início no século III a.C, na cidade de Alexandria
(Egito), como uma forma de padronização e homogeneidade para se transformar em
um instrumento de poder, de unificação política. Nesse sentido, a Gramática Tradici-
onal também está atrelada a uma base de preconceitos sociais que revelam o tipo de
sociedade em que ela surgiu, ou seja, o modelo de língua característico de um grupo
restrito de falantes, sendo eles: livres (não-escravos), membros da elite cultural (letra-
dos), membros da aristocracia política e detentores da riqueza econômica (BAGNO,
2007).
Os defensores da Gramática Tradicional perceberam o processo de variação
e mudança linguística na língua, porém, não de forma positiva. Para eles, esse processo
era defeituoso, pobre, feio, sem regras, ilógico e que corrompia a língua, o falar
e (BAGNO, 2007). Essa concepção ainda é vista no contexto escolar, a nor-
matização ou padronização da língua, como um instrumento de poder e ascensão so-
cial que retira da língua a sua essência, ou seja, o seu processo dinâmico e de constante
mudança.
Por isso, a escola não pode considerar somente uma perspectiva de ensino
da língua portuguesa e tão pouco desconsiderar a língua como algo social. Assim, a
busca por uma pedagogia culturalmente sensível em sala de aula, poderia propagar o
454
DIÁLOGO FREIRIANO
respeito às diferenças sejam elas linguísticas ou de outra ordem, como também discu-
tir de forma crítica os valores sociais ou sociossimbólicos (como apontado por Bor-
toni-Ricardo, 2005), atribuídos a cada variante linguística. Seria um modo de consci-
entizar o aluno sobre o uso da sua própria língua materna e de como foi/é vista no
meio social.
A sala de aula é um acervo de fenômenos linguísticos e merece uma atenção
especial por parte do professor de língua portuguesa para o reconhecimento do perfil
sociolinguístico de seus alunos, levantando uma discussão e reflexão de novas formas
de construções e relações da língua na sociedade. Conscientizar o aluno de que a lín-
gua sempre estará sujeita a algum tipo de avaliação social (positiva ou negativa) será o
primeiro passo para desenvolver a competência linguística do aluno, pois terão o co-
nhecimento de que deverão adequar-se de acordo com o contexto de interação e co-
municação, além de desconstruir as concepções antigas de ensino de língua e a não
disseminação do preconceito.
455
DIÁLOGO FREIRIANO
5
Neste sentido, o que os autores denominam como urbanas de
confundem-se com a definição de norma-padrão. Assim, apresentam-se al-
guns conceitos sobre tais definições ao longo do tempo.
5
Concordamos com a percepção de Marcos Bagno (2015) quando afirma que há uma profusão
terminológica que só pode causar uma confusão teórica e metodológica. Seguindo o raciocínio de
Amaral et al. (2016) o termo mais adequado para expressar o conceito pretendido seria variedades:
456
DIÁLOGO FREIRIANO
Neste sentido, Rocha Lima (1985), Cunha (1984) e Cegalla (1976) entendem
como pessoas cultas somente os escritores, como Camões, Machado de Assis e José
de Alencar, enquanto Said Ali (1964) visualiza dois grupos: o das pessoas cultas e dos
bons escritores e Pereira (1948) defendia que as regras da língua devem ser depreen-
didas da língua, do uso, e não o contrário (SILVA, 2013).
Para Faraco (2002, p. 40):
A expressão norma culta deve ser entendida como designando a norma linguística
praticada, em determinadas situações (aquelas que envolvem um certo grau de for-
malidade), por aqueles grupos sociais mais diretamente relacionados com a cultura
escrita, em especial com aquela legitimada historicamente pelos grupos que contro-
lam o poder social.
Podemos dizer que o português são muitos e que todas as suas variedades servem às
finalidades para as quais existem. Determinar a norma-padrão de uma língua não
significa definir uma variedade como a mais correta, mais completa, mais bonita ou
457
DIÁLOGO FREIRIANO
mais dotada de certa qualidade específica. Trata-se, na verdade, de adotar uma con-
venção a fim de instituir e fixar um modo mais estável de ser produzirem textos que
possam perdurar por um período mais longo. O estabelecimento dessa convenção,
sem dúvida, envolve relações de prestígio, poder, classe social. Em outras palavras,
toda variedade linguística poderia, em princípio ser definida como a norma-padrão,
o que teria como consequência a produção de materiais e gramáticas para descrevê-
la e legitimá-la (CEREJA; DIAS VIANNA; DAMIEN, 2016, p. 51).
458
DIÁLOGO FREIRIANO
459
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460
DIÁLOGO FREIRIANO
461
DIÁLOGO FREIRIANO
Neste sentido, ressalta-se mais uma vez que essa variedade de prestígio não
deve ser vista como um fator de exclusão ou discriminação, mas como uma forma de
inclusão social, de reflexão e uso da língua de forma crítica e adequada por seus usuá-
rios.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A noção de e norma-padrão e norma culta, aspectos esses
que são apresentados de forma errônea para sociedade, torna-se um fator colabora-
tivo para o processo de ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa quando apre-
sentadas nos Livros Didáticos, pois nos levam a pensar e a considerar que nós já somos
falantes competentes da nossa língua materna e que por isso não há erro, há apenas o
uso adequado ou não da língua e quando se trata de norma-padrão não há um falante,
por mais escolarizado que seja, que siga suas regras e a utilize veementemente.
Segundo os princípios e critérios de avaliação do PNLD (2018, p. 12) é ne-
cessário considerar a existência de uma no livro didático, da temática
das relações étnico-raciais, do preconceito, da discriminação racial e da violência cor-
relata, visando à construção de uma sociedade antirracista, solidária, justa e igualitá-
E uma coisa não se pode deixar de lado: há o preconceito linguístico e o processo
de exclusão social, mas, se essas noções não forem discutidas em sala de aula, o conhe-
cimento linguístico que o aluno já possui continuará a ser desconsiderado no processo
de ensino da Língua Portuguesa. Ademais, a língua continuará atuando como fator
de exclusão, uma vez que a norma-padrão é concebida como a única aceitável, esta-
belecendo as noções, já mencionadas, de e
Assim como Bortoni-Ricardo (2005) e Bagno (2007) propõem a busca por
uma pedagogia culturalmente sensível, nós também como professores e futuros pro-
fessos de Língua Portuguesa deveríamos debater e refletir mais sobre as noções de
e norma-padrão e norma culta em sala de aula, pois a sociedade já é
cheia de preconceitos, principalmente na atualidade, por isso é hora de começar a
compreender que a intolerância, o fanatismo, o desrespeito pelo outro não leva a lugar
algum, a não ser gerar cada vez mais violência e preconceito.
Sabe-se que não se pode mudar o mundo de uma hora para a outra, mas é
importante começar a dar nossa contribuição como pesquisadores e professores na
nossa própria realidade, tornando mais claro em sala de aula e fora dela as origens e
formas de combater os mitos e visões contorcidas da língua. E se quisermos aprender
realmente a usar a nossa própria língua é preciso considerara concepção de Freire
(1989, p.7) que diz leitura da palavra é sempre precedida da leitura do ou
462
DIÁLOGO FREIRIANO
463
DIÁLOGO FREIRIANO
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464
ÍNDICE REMISSIVO
alunos, 28, 29, 46, 53, 66, 67, 68, 80, 81, 321, 335, 347, 368, 369, 374, 375,
85, 87, 93, 94, 97, 98, 99, 102, 103, 381, 382, 383, 384, 385, 386, 387,
106, 107, 108, 109, 111, 113, 114, 388, 389, 425, 427, 428, 430, 434,
115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 435, 438, 445, 451, 462, 463
126, 127, 128, 129, 133, 163, 169, Autismo, 267, 281, 289
170, 171, 175, 177, 185, 194, 197, Autonomia, 25, 26, 29, 32, 70, 74, 90,
199, 211, 221, 224, 233, 240, 271, 133, 165, 182, 186, 189, 242, 349,
272, 275, 280, 281, 282, 283, 284, 401
285, 286, 287, 288, 293, 294, 295, avaliação, 98, 133, 167, 168, 169, 170,
296, 298, 299, 300, 301, 303, 304, 171, 172, 174, 175, 176, 177, 178,
306, 307, 323, 328, 330, 342, 344, 179, 241, 382, 383, 433, 454, 455,
345, 346, 347, 348, 355, 359, 362, 462
368, 369, 374, 375, 376, 382, 383, cidadania, 66, 67, 91, 92, 93, 94, 101,
385, 386, 387, 388, 389, 396, 427, 167, 184, 200, 220, 223, 225, 227,
428, 432, 433, 434, 435, 438, 439, 295, 298, 343, 345, 351, 353, 355,
440, 442, 443, 444, 445, 446, 450, 360, 371, 375, 386, 427
451, 453, 454, 455, 458, 461, 463 Cidadania, 178, 351, 356, 360, 392
ambiente escolar, 169, 183, 304, 305, classes multisseriadas, 367, 368, 369,
349, 354, 427, 432, 438 373, 374, 375, 376, 378, 381, 383,
aprender, 17, 19, 21, 23, 43, 48, 51, 93, 384, 385, 386, 388, 389, 390
107, 108, 117, 130, 153, 182, 183, conflitos, 21, 83, 114, 254, 262, 305
188, 190, 198, 213, 221, 224, 225, conhecimento, 76
231, 232, 234, 242, 290, 293, 294, consciência, 42, 46, 53, 68, 80, 86, 119,
311, 313, 318, 395, 402, 427, 439, 120, 121, 127, 128, 134, 143, 147,
452, 462 148, 173, 184, 186, 197, 198, 199,
aprendizagem, 26, 27, 28, 30, 33, 66, 213, 217, 220, 222, 223, 226, 239,
76, 79, 89, 91, 93, 94, 98, 100, 108, 261, 278, 290, 315, 339, 341, 342,
110, 114, 117, 118, 121, 123, 133, 343, 344, 373, 427, 429, 430, 434,
134, 153, 163, 167, 169, 171, 179, 440, 446
182, 183, 186, 187, 188, 189, 198, cuidar, 41, 46, 47, 100, 108, 109, 139,
217, 220, 221, 224, 225, 232, 237, 142, 176, 182, 186, 187, 344, 347,
241, 269, 276, 278, 279, 280, 282, 383
283, 287, 288, 297, 309, 310, 311,
312, 313, 314, 315, 317, 318, 319,
DIÁLOGO FREIRIANO
democracia, 51, 67, 92, 127, 129, 130, Educação Inclusiva, 30, 267, 269, 271,
149, 199, 239, 245, 246, 264, 352, 272, 288
358, 419 Educação Infantil, 53, 181, 182, 186,
direitos humanos, 93, 217, 218, 219, 188, 189, 191, 281, 309, 310, 311,
223, 225, 226, 227, 230, 355, 356, 312, 313, 314, 315, 316, 317, 318,
360, 363 319, 320, 339, 343, 350, 367, 381,
educação, 9, 10, 14, 17, 20, 21, 22, 23, 425
28, 32, 33, 34, 35, 37, 39, 41, 43, 44, educadora, 76
46, 47, 49, 51, 53, 68, 78, 79, 80, 85, emancipação, 92, 100, 207, 213, 214,
89, 90, 91, 92, 93, 94, 97, 98, 99, 100, 223, 227, 240, 354, 374, 401
101, 106, 108, 109, 110, 114, 115, emoções, 127, 185, 238, 283, 312, 428
116, 117, 123, 125, 126, 130, 131, ensino, 13, 19, 21, 27, 28, 30, 33, 35,
133, 134, 135, 137, 139, 141, 146, 53, 57, 58, 79, 80, 81, 82, 87, 89, 90,
149, 152, 163, 167, 168, 171, 172, 91, 93, 94, 97, 110, 163, 167, 171,
173, 174, 175, 176, 177, 179, 181, 174, 176, 179, 184, 193, 194, 198,
182, 184, 186, 188, 189, 193, 195, 200, 206, 213, 217, 221, 222, 224,
196, 197, 198, 199, 200, 203, 204, 225, 231, 232, 268, 271, 272, 276,
205, 206, 207, 208, 210, 211, 212, 280, 281, 282, 283, 287, 289, 290,
213, 214, 215, 217, 218, 220, 221, 291, 295, 296, 297, 298, 300, 303,
222, 223, 224, 225, 226, 227, 229, 307, 308, 312, 316, 318, 319, 321,
231, 232, 234, 235, 236, 238, 239, 335, 337, 344, 345, 346, 347, 348,
241, 242, 243, 267, 269, 270, 271, 351, 352, 353, 354, 355, 362, 365,
272, 275, 276, 279, 280, 281, 288, 367, 369, 370, 372, 375, 376, 381,
289, 290, 291, 295, 297, 298, 304, 382, 383, 384, 385, 386, 387, 388,
308, 309, 310, 312, 314, 316, 317, 397, 400, 403, 409, 425, 427, 428,
318, 320, 340, 341, 342, 343, 344, 435, 438, 442, 449, 451, 454, 455,
345, 346, 347, 348, 349, 350, 352, 460, 462
353, 355, 362, 363, 364, 367, 368, Ensino de Geografia, 267, 268, 272,
369, 370, 371, 372, 373, 374, 375, 275, 276, 281, 287, 289
376, 377, 378, 381, 382, 383, 384, Ensino Fundamental, 49, 53, 97, 98,
386, 389, 390, 391, 392, 393, 394, 171, 276, 280, 281, 285, 301, 307,
395, 396, 397, 398, 399, 400, 401, 343, 384, 386, 387
402, 403, 409, 430, 432, 433, 434, ensino-aprendizagem, 21, 79, 80, 184,
436, 437, 439 221, 231, 272, 287, 297, 298, 348,
EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 339, 375, 386, 428
340 envolvimento, 82, 97, 99, 109, 176,
educação decolonial, 173, 174, 175 433, 443
Educação do campo, 215, 216, 369, escola, 9, 19, 26, 27, 28, 33, 46, 47, 48,
386 51, 52, 53, 55, 58, 65, 66, 67, 68, 79,
Educação do Campo, 368, 369, 372, 86, 90, 91, 92, 93, 94, 97, 98, 103,
375, 378, 379, 385, 386, 388, 391 104, 106, 110, 113, 114, 115, 116,
466
DIÁLOGO FREIRIANO
117, 118, 120, 121, 125, 129, 131, fábula, 314, 321, 322, 323, 324, 325,
134, 137, 140, 141, 167, 168, 169, 326, 327, 328, 329, 330, 332, 333,
171, 176, 178, 179, 182, 183, 186, 334, 335, 336, 337
187, 189, 196, 197, 198, 203, 207, Faculdade, 53, 59, 79, 89, 91, 142, 178,
208, 209, 210, 211, 212, 213, 214, 179, 307, 309, 405, 425, 437
215, 223, 229, 232, 233, 234, 235, gênero textual, 321, 322, 324, 325,
240, 241, 267, 271, 278, 280, 281, 326, 328, 329, 332, 334, 335, 336
284, 286, 288, 290, 293, 297, 299, golpe militar, 41, 245, 246, 252, 258,
300, 301, 302, 304, 305, 306, 307, 260, 371, 372, 406
308, 311, 312, 314, 315, 316, 318, hábitos, 26, 238, 278, 293, 313, 314,
319, 337, 339, 340, 344, 345, 346, 344, 437
347, 348, 349, 350, 352, 354, 355, infância, 13, 47, 181, 186, 188, 278,
363, 365, 367, 368, 369, 370, 373, 313, 314, 317, 429, 430, 436
375, 376, 381, 382, 383, 384, 385, interações, 116, 134, 182, 185, 227
386, 388, 389, 391, 395, 396, 398, Juventude, 351
399, 402, 426, 427, 428, 429, 430, leitura, 9, 10, 19, 20, 39, 41, 43, 47, 48,
432, 433, 434, 435, 436, 437, 438, 52, 55, 62, 74, 80, 89, 91, 93, 106,
439, 440, 442, 443, 444, 447, 449, 108, 109, 142, 148, 182, 184, 189,
450, 451, 452, 453, 454, 458, 464 190, 191, 195, 213, 215, 220, 222,
ESCOLA, 25, 198, 267, 437, 439 231, 239, 242, 274, 275, 285, 309,
Escola Sem Partido, 196, 201 310, 311, 312, 313, 314, 315, 316,
escolas brasileiras, 16, 168, 173, 386 317, 318, 319, 320, 322, 323, 329,
Estado, 13, 46, 79, 82, 87, 97, 98, 99, 330, 337, 342, 352, 394, 401, 425,
125, 127, 167, 170, 178, 181, 186, 428, 435, 462
196, 218, 225, 229, 246, 247, 250, linguagem, 18, 40, 108, 113, 121, 191,
251, 254, 255, 256, 257, 260, 267, 232, 268, 272, 273, 274, 275, 276,
270, 279, 294, 295, 298, 303, 307, 279, 283, 284, 316, 321, 322, 333,
351, 354, 365, 370, 372, 373, 378, 335, 336, 388, 395, 433, 450, 454,
393, 397, 398, 399, 400, 401, 402, 455, 456, 457, 458, 464
407, 408, 409, 412, 413 livro didático, 321, 323, 325, 326, 328,
etnografia, 159, 160, 161, 162 335, 462
exercício crítico, 66 Mapas mentais, 282
experiência, 23, 29, 34, 39, 42, 55, 56, memória, 48, 79, 80, 82, 90, 95, 109,
57, 58, 59, 60, 61, 63, 65, 68, 70, 75, 135, 143, 151, 268, 307, 310, 316,
89, 92, 93, 94, 97, 98, 108, 109, 135, 428
136, 138, 144, 146, 147, 148, 152, método de alfabetização, 41, 42, 90,
153, 154, 161, 163, 167, 182, 188, 159, 163, 164
189, 204, 209, 210, 211, 224, 227, metodologia, 26, 59, 109, 138, 139,
232, 268, 277, 290, 291, 354, 365, 140, 141, 143, 167, 198, 212, 213,
368, 388, 394, 400, 410, 432, 443, 214, 218, 282, 425, 433, 434, 436,
444 447
467
DIÁLOGO FREIRIANO
MST, 203, 204, 208, 209, 210, 211, 173, 191, 197, 203, 204, 205, 214,
212, 213, 214, 215, 349, 372, 378, 229, 242, 243, 320, 354, 378, 403
391 pedagogia sensível, 451
multisseriação, 374, 385, 386, 387, 388 políticas públicas, 171, 176, 177, 217,
neoliberalismo, 17, 399, 407, 421 227, 270, 288, 370, 372, 373, 391,
organização escolar, 234, 367, 382, 442
388 prática educativa, 41, 42, 44, 70, 74,
organização social, 15, 17, 160, 169, 94, 127, 155, 156, 165, 177, 185,
234, 372, 459 191, 206, 217, 218, 220, 222, 225,
palavras geradoras, 92, 159, 164, 220 226, 227, 229, 238, 242, 345, 425,
Paulo Freire, 9, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 447
25, 27, 29, 30, 31, 33, 34, 39, 43, 44, prática pedagógica, 81, 91, 172, 217,
46, 49, 52, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 62, 222, 224, 225, 226, 227, 294, 367,
63, 65, 66, 68, 70, 73, 74, 78, 79, 80, 373, 374, 376, 377, 390, 430
83, 85, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 106, práticas, 9, 21, 22, 30, 32, 40, 59, 66, 67,
108, 109, 111, 125, 126, 131, 133, 78, 79, 80, 90, 93, 94, 99, 114, 118,
135, 136, 138, 139, 143, 144, 148, 123, 125, 126, 161, 167, 168, 170,
149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 172, 174, 178, 181, 182, 184, 185,
156, 163, 172, 173, 176, 179, 181, 186, 187, 188, 189, 190, 196, 204,
182, 184, 185, 187, 189, 190, 195, 208, 209, 212, 213, 214, 217, 218,
196, 197, 199, 200, 203, 204, 206, 222, 223, 227, 231, 238, 242, 272,
207, 208, 209, 210, 212, 213, 214, 273, 277, 281, 287, 288, 290, 294,
216, 217, 218, 220, 222, 224, 226, 296, 302, 312, 315, 328, 329, 330,
234, 236, 242, 243, 312, 342, 345, 335, 336, 343, 345, 347, 348, 349,
349, 352, 354, 393, 394, 395, 398, 369, 373, 394, 395, 403, 433, 437,
400, 401, 402, 403, 404, 447 438, 441, 443, 446
Pedagogia, 25, 26, 29, 30, 31, 32, 39, processo de alfabetização, 80, 90, 164,
40, 41, 42, 43, 44, 49, 56, 59, 62, 63, 220, 222
65, 69, 70, 73, 74, 75, 87, 89, 90, 93, processo de aprendizagem, 43, 115,
111, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 129, 133, 172, 183, 198, 238, 287,
133, 145, 155, 156, 165, 173, 181, 314, 317, 318, 319, 427, 433
182, 186, 189, 191, 195, 197, 200, professor, 17, 21, 27, 28, 53, 55, 79, 80,
201, 202, 203, 204, 205, 208, 209, 81, 82, 85, 89, 90, 91, 92, 93, 98, 102,
210, 214, 215, 221, 222, 224, 225, 108, 109, 117, 118, 119, 121, 133,
229, 242, 243, 309, 320, 321, 339, 134, 141, 153, 168, 170, 171, 172,
343, 349, 350, 354, 365, 367, 378, 174, 175, 176, 181, 183, 185, 189,
381, 391, 396, 403, 404, 425, 447 196, 198, 201, 211, 221, 223, 224,
Pedagogia da autonomia, 39, 44, 155, 233, 235, 241, 267, 272, 276, 291,
156, 191, 229, 349, 447 295, 296, 310, 311, 312, 313, 314,
Pedagogia do Oprimido, 25, 26, 32, 316, 317, 318, 319, 328, 329, 336,
39, 62, 63, 74, 87, 111, 126, 129, 165, 358, 360, 364, 368, 373, 374, 375,
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DIÁLOGO FREIRIANO
382, 383, 384, 385, 386, 388, 389, 221, 222, 223, 224, 227, 231, 233,
390, 400, 428, 432, 433, 437, 438, 234, 236, 241, 275, 288, 298, 304,
450, 451, 452, 454, 455, 461 311, 316, 317, 332, 343, 394, 429,
sequência didática, 34, 438, 439, 442 445
sujeito, 14, 29, 41, 100, 101, 131, 143, valores sociais, 15, 347, 455
164, 186, 189, 205, 208, 217, 218,
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DIÁLOGO FREIRIANO
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