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FLUIDOS REFRIGERANTES

1. Tipos de fluidos refrigerantes

Podemos classificar os fluidos refrigerantes em fluidos primários e secundários. Os fluidos


primários são usados no sistema de refrigeração com compressão de vapor e os
secundários são usados para realizar a troca de calor entre diferentes pontos de uma
instalação. Usualmente os fluidos secundários são misturas de água com um sal (como
etilenoglicol ou propilenoglicol). Neste texto será restrita a descrição e análise dos fluidos
primários.

No caso dos fluidos refrigerantes primários podemos classificá-los ainda como:

 Compostos halocarbonados: são fluidos que contém em sua composição átomos de


cloro, flúor ou bromo (R11, R12, R134a, R407, R22, etc..).
 Compostos orgânicos e inorgânicos: são conhecidos por terem sido os primeiros
fluidos a serem utilizados no desenvolvimento dos sistemas de refrigeração (água,
CO2, CH4, NH3, etc.).
 Misturas azeotrópicas e não azeotrópicas: são misturas de fluidos refrigerantes
sendo que misturas azeotrópicas se comportam com uma substância pura, ou seja,
o ponto de ebulição se mantém constante para uma dada pressão. No caso de
misturas não azeotrópicas, o ponto de ebulição para uma dada pressão em função
da concentração relativa dos componentes da mistura e seus respetivos pontos de
ebulição.

Os fluidos refrigerantes têm a sua numeração realizada por meio de metodologia proposta
pela ANSI/ASHRAE (ANSI/ASHRAE, 2013a) que para o caso de fluidos refrigerantes
fluorcarbonados seguem uma numeração específica (R134a, R123, R22,etc.) bem como
no caso de compostos inorgânicos.

No caso de compostos orgânicos, este sistema de numeração leva em conta o número de


átomos de carbono, hidrogênio e flúor no fluido. A menos de algumas regras específicas,
para se determinar a numeração do fluido refrigerante, verifica-se o número de átomos de
carbono, que representa a centena, o número de átomos de hidrogênio, que representa a
dezena, e o número de átomos de flúor, que representa a unidade. O número formado é
subtraído de 90 fornecendo a numeração do fluido. Exemplificando, temos o propano
(C3H8) que com base na metodologia proposta fornece os seguintes valores:

 Número de átomos de carbono: 3


 Número de átomos de hidrogênio: 8
 Número de átomos de flúor: 0
 Número formado: 380
 Subtraindo 90 temos: 380 -90= 290
 Logo a numeração do propano é R290
Para compostos inorgânicos, designou-se a série R700 onde o fluido é designado
somando-se a 700 o valor da massa molecular relativa do fluido. Por exemplo, a amônia
(Massa molecular = 17) designa-se por R717, o CO2 (massa molecular=44) designa-se por
R744.

Para misturas não azeotrópicas definiu-se a série R400 e para misturas azeotrópicas foi
estabelecida a série R500, sendo que a Tab. 01 apresenta algumas destas misturas e e sal
composição percentual de componentes.

Tabela 01. Misturas azeotrópicas e não azeotrópicas e suas composições em porcentagem


em massa.

Misturas não azeotrópicas Composição


404A R-125/143a/134a (44,0%/52,0%/4,0%)
407A R-32/125/134a (20,0%/40,0%/40,0%)
410A R-32/125 (50,0%/50,0%)
Misturas azeotrópicas
507A R-125/143a (50,0%/50,0%)
504 R-32/115 (48,2%/51,8%)
512A R-134a/152a (5,0%/95,0%)

2. Propriedades de fluidos refrigerantes

A escolha de um fluido refrigerante deve considerar aspectos relacionados com o processo


para o qual ele será usado onde os níveis de temperatura e pressão a que este fluido será
submetido estão adequados. Neste sentido, as seguintes propriedades dos fluidos
refrigerantes devem ser analisadas (ASHRAE, 2009):

 Densidade: fluidos com densidade menor nas condições de operação na entrada do


compressor proporcionam o uso de compressores menores;
 Entalpia de vaporização: para maximizar a transferência de calor durante os
processos de mudança de fase (vaporização e condensação), é interessante termos
fluidos com alta entalpia de vaporização nas condições de operação no
condensador e no evaporador;
 Condutividade térmica: como no caso da entalpia de vaporização, fluidos
refrigerantes com alta condutividade térmica promovem maior transferência de calor
nos processos de condensação e evaporação;
 Rigidez dielétrica: no caso de compressores herméticos em que o enrolamento do
motor do compressor é resfriado pelo fluido refrigerante, fluidos com alta rigidez
dielétrica são importantes para evitar um curto circuito no interior do equipamento.
 Temperatura crítica: quanto maior a temperatura crítica do fluido refrigerante, maior
a faixa de temperatura de condensação na qual o fluido pode ser usado;
 Tendência para vazamento: fluidos refrigerantes com maior densidade nas
condições de operação tendem a ter menores níveis de vazamento;

Além das propriedades mencionadas anteriormente, deve-se levar em consideração na


escolha do fluido refrigerante aspectos relacionados à segurança da instalação quando
operando com um determinado fluido refrigerante. O primeiro aspecto a ser avaliado neste
sentido é o nível de toxicidade, para o qual os fluidos refrigerantes podem ser divididos em
dois grupos:

 Classe A: toxicidade não é identificada em concentrações menores ou iguais a 400


ppm;
 Classe B: toxicidade é identificada em concentrações menores que 400 ppm.

Além disso, a flamabilidade dos fluidos refrigerantes deve ser considerada e, neste quesito,
os fluidos refrigerantes podem ser classificados da seguinte forma:

 Classe 1: fluidos refrigerantes que não apresentam propagação de chama quando


testados a 21ºC e 101 kPa;
 Classe 2: fluidos refrigerantes que possuem limite inferior de flamabilidade maior
que 0,10 kg/m3 a 21ºC e 101 kPa e um calor de combustão menor que 19 kJ/kg;
 Classe 3: fluidos refrigerantes que podem ser considerados altamente inflamáveis
pois possuem um limite inferior de flamabilidade superior a 0,10 kg/m 3 a 21ºC e 101
kPa e um calor de combustão maior ou igual a 19 kJ/kg.

Foi introduzida na Norma da ASHRAE 34 (ANSI/ASHRAE, 2013b) uma nova classificação


de fluidos de baixa flamabilidade e baixa velocidade de propagação da chama, sendo a
mesma designada de A2L ou B2L conforme apresentado na Fig. 01.

No caso de misturas, a classificação deverá ser feita com base com o componente com a
condição mais severa de toxicidade e flamabilidade.
AUMENTO DE FLAMABILIDADE

ALTA
A3 B3
FLAMABILIDADE

BAIXA A2 B2
FLAMABILIDADE
A2L* B2L*
SEM
PROPAGAÇÃO DE A1 A1
CHAMA

BAIXA BAIXA
TOXICIDADE TOXICIDADE

AUMENTO DE TOXICIDADE

*A2L E B2L SÃO FLUIDOS REFRIGERANTES COM BAIXA


FLAMABILIDADE COM VELOCIDADE MÁXIMA DE QUEIMA
MENOR QUE 3,9 POL/S (10 CM/S)

Figura 01. Tabela de Classificação de Fluidos Refrigerantes quanto a segurança segundo


ASHRAE 34 (ANSI/ASHRAE,2013b).
Devido aos aspectos relacionados ao impacto ambiental dos fluidos fluorcarbonados, os
fluidos refrigerantes incorporaram, na sua classificação, indicadores relacionados com o
efeito estufa e aquecimento global (ASHRAE, 2009). Nesse sentido, foram propostos dois
indicadores sendo que o primeiro denomina-se índice de destruição da camada de ozônio
(Ozone Depletion Potential – ODP). Este indicador avalia a capacidade do fluido destruir a
camada de ozônio e foi definido que o fluido R-11 seria adotado como referência e o valor
do seu ODP seria igual 1,0. Além deste indicador, definiu-se o potencial de aquecimento
global (Global Warming Potential - GWP) que avalia a capacidade do fluido de aprisionar
energia de radiação em relação ao CO2 (R-744), cujo valor do GWP foi adotado como 1,0.
Este indicador é calculado para um horizonte de tempo específico que é tipicamente como
100 anos e por isso em alguns textos ele é referido com GWP 100. Na Tab. 02 são
apresentados alguns exemplos de fluidos refrigerantes e os seus valores de ODP e
GWP100 e o tempo de permanência do fluido na atmosfera, que o tempo que o fluido
permanece na atmosfera antes de se degradar.

Tabela 02. Valores de ODP, GWP e tempo de permanência na atmosfera para diversos
fluidos refrigerantes.

Fluido refrigerante Tempo de permanência na atmosfera [anos] ODP GWP


R-11 45 1 4750
R-22 12 0,055 1810
R-134a 14 0 1430
R-744 Variável 0 1
R-407a ---- 0 2100
R-502 ---- 0 4700

Finalmente, acrescente-se aos parâmetros mencionados o custo do fluido refrigerante e


sua disponibilidade que devem ser considerados na escolha do fluido a ser utilizado para
minimizar os custos de instalação e manutenção.

3. Impacto do tipo de fluido refrigerante no desempenho do ciclo de refrigeração

Para cada aplicação em sistemas de refrigeração, devem ser considerados os aspectos


mencionados anteriormente, pois eles auxiliam na escolha mais adequada de fluido
refrigerante. A Tab. 03 apresenta os fluidos refrigerantes e algumas dos sistemas para os
quais eles podem ser aplicados.

Tabela 03. Fluidos refrigerantes e suas aplicações.

Fluido refrigerante Aplicação


R-134a Refrigeradores domésticos, sistema de climatização de pequena
capacidade, sistemas de refrigeração comercial , resfriadores de
líquido ( chillers )
R404A Balcões frigoríficos, transporte frigorificado, máquinas de produção de
gelo
R-410A Ar Condicionado residencial tipo Spli ou Multi Split , Bombas de calor,
sistemas de refrigeração comercial e industrial
Para comparar o desempenho de diferentes fluidos refrigerantes, a Tab. 04 apresenta um
conjunto de parâmetros que foram calculados com base em um sistema de refrigeração
padrão (Fig. 01) operando para uma temperatura de evaporação de -15ºC (258 K) e uma
temperatura de condensação de 30ºC (303 K) (ASHRAE, 2009).

Pressão

Pcondensador 3 2
(TC=30ºC)

Pevaporador
(TE=-15ºC) 4 1

Entalpia

Figura 01. Diagrama pressão-entalpia para sistema de refrigeração padrão

Tabela 04. Desempenho comparativo de fluidos refrigerantes por kW de capacidade de


refrigeração (ASHRAE,2009).

Fluido refrigerantePressão Pressão Efeito líquido de Consumo COP


evaporador condensador refrigeração de energia
[MPa] [MPa] [kJ/kg] [kW]
R-12 0,181 0,741 117,02 0,212 4,7
R-407C 0,288 1,26 163,27 0,222 4,5
R-134a 0,163 0,767 148,03 0,216 4,6
R-600a (isobutano) 0,088 0,403 263,91 0,215 4,62
R-170 (etano) 1,608 4,639 161,71 0,365 2,7

Observando a Tab. 04, pode-se verificar que as condições de operação do sistema de


refrigeração variam bastante em função do fluido refrigerante usado. Comparando os
fluidos R-600a e R-170, nota-se que os níveis de pressão no evaporador e no condensador
são muito diferentes. A pressão no evaporador utilizando-se R-600a fica abaixo da pressão
atmosférica, exigindo cuidados especiais no tocante à vedação deste sistema. Já no caso
do etano, as pressões tanto no evaporador como no condensador são bastante altas, o
que implica em trocadores mais robustos e, consequentemente, de custo maior.
4. Impacto do tipo de compressor na escolha do fluido refrigerante a ser utilizado
em equipamento de refrigeração e/ou ar condicionado/bomba calor

E de conhecimento da indústria de AVAC&R que os diversos tipos de compressores


podem ser aplicados no desenvolvimento e posterior fabricação dos equipamentos de
acordo com sua aplicação específica acima indicada na Tabela 03.

Desta forma, como base em critérios específicos de cada produto, e levando em


consideração número de circuitos frigoríficos e de compressores, os equipamentos são
projetados para atender as necessidades de cada mercado e aplicação. Assim, a partir
destes critérios deve-se escolher o melhor fluido refrigerante para cada caso. Assim ,
quando da escolha do fluido, buscamos identificar aquele fluido refrigerante que tem
como característica padrão um volume a ser bombeado pelo compressor para que
aquele equipamento atinja a sua capacidade de refrigeração em condições nominais de
operação. Para sistemas de ar condicionado de conforto, podemos exemplificar alguns
fluidos / vazões volumétricas a serem bombeadas para produzir 12.000 Btu/h ( 1 TR 
Tonelada de Refrigeração )

Fluido Vazão aprox.. Aplicação em Ar Condiconado


refrigerante por TR ( CFM )
R-22 ~1,2 Splits , multi-splits , chillers parafuso e scroll,
unitários
R-410 ~1,5 Splits , multi-splits , chillers scroll , unitários
R-32 ~1,2 Splits , multi-splits , mini-chillers , unitários
R-134a ~3,0 Chillers parafuso e centrífugas
R-123 ~17 Chillers centrífugas

As diversas combinações entre tipo de compressor e fluido refrigerante estão


diretamente relacionados com o tamanho / capacidade dos equipamentos e as
necessidades de cada projeto e aplicação de equipamentos. Desta forma, os projetistas
devem buscar aplicar compressores e fluidos refrigerantes para equilibrar as diversas
características do equipamento, tais como eficiência, tamanho, confiabilidade, ruído,
vibração, facilidade de manutenção entre tantos outros importantes pontos.

Atualmente para equipamentos de ar condicionado de menor capacidade e porte


residencial, como o split ou multi-split, utilizamos compressores do tipo rotativo de
palheta ou pequenos compressores scroll, utilizando os fluidos refrigerantes R22 , R410
ou R32.

Já para os equipamentos tipo ar condicionado comercial, tipo rooftop, self-contained ou


split de alta capacidade (splitão) com circuito frigorífico de expansão direta se utilizam
em sua grande maioria de compressores scroll com fluidos refrigerantes R22 , R410 ou
ainda R407c (drop in do R22).
Para unidades resfriadoras de líquido (chillers) podemos, de acordo com o tipo de
compressor e fluido refrigerante ter a aplicação de compressores scroll com R410a ,
parafuso com R134a ou centrífugos com R134a ou R123, sempre levando em
consideração a capacidade dos frigorífica dos compressores e a capacidade total dos
equipamentos.

Assim por exemplo é comum encontrarmos chillers com condensação a ar com duplo
circuito e diversos compressores scroll em série por circuito para capacidades de até
300 TRs utilizando fluido refrigerante R410a, enquanto os equipamentos equipados
com R134a e compressores parafuso podem chegar a capacidades de até 550 TRs se
equipados com três circuitos de refrigeração e três compressores em paralelo. Podem-
se projetar unidades de até 3000 TRs com fluido R134a e único circuito com um ou dois
compressores centrífugos.

As Figs. 2 e 3 indicam exemplo de como tais critérios são levados em consideração


para a definição final do tipo de compressor e fluido refrigerante para determinado
projeto de equipamento.

AXIAL

CENTRÍFUGO

PARAFUSO

ROTATIVO

PARAFUSO

ALTERNATIVO

Figura 2. Distribuição de tipos de compressores em função da vazão de fluido


refrigerante (fornecido pela Daikin Applied).
RESFRIADOR COM RESFRIADO A ÁGUA

DESLOCAMENTO POSITIVO, ROTATIVO,


PARAFUSO, ALTERNATIVO, PARAFUSO

DELTA H [Btu/lb]

CENTRÍFUGO

Figura 3. Distribuição de tipos de compressores em função da capacidade de


resfriamento e vazão de fluido refrigerante (fornecido pela Daikin Applied).

5. Conclusões

Pode-se inferir que a escolha do fluido refrigerante para um determinado sistema de


refrigeração deve considerar diversos aspectos que devem refletir preocupações
relacionadas com um bom desempenho energético, tamanho físico, facilidade de
instalação e de manutenção, bem como também aspectos relacionados com segurança e
impacto ambiental do sistema e dos fluidos refrigerantes em análise.

Referências

ANSI/ASHRAE. 2013a. ANSI/ASHRAE Standard 15-2013 - Safety Standard for


Refrigeration Systems. ASHRAE, 34 páginas.

ASHRAE. 2009. Handbook of Fundamentals. ASHRAE, 439 páginas.

ANSI/ASHRAE. 2013b. ANSI/ASHRAE 34-2013 - Designation and Safety Classification of


Refrigerants. ASHRAE, 46 páginas.

Stoecker, W. F. 1985. Refrigeração e Ar Condicionado. Editora McGraw-Hill, 440 páginas.

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