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Seminário – Álgebra Comutativa

Módulos e Anéis Artinianos


João Philipe Spinelli

18/11/2021

1 Introdução
O célebre matemático austrı́aco Emil Artin (1898 – 1962) é considerado o pai da álgebra abstrata moderna
e foi o primeiro a compreender que a condição de cadeia descendente para ideais generaliza a ideia de
anéis finitos. Sendo assim, é em sua homenagem que módulos e anéis que satisfazem a condição de cadeia
descendente para seus submódulos e ideais, respectivamente, são chamados artinianos (ou de Artin).
Este texto se propõe a definir as estruturas algébricas supracitadas, além de apresentar alguns resultados
interessantes que são próprios destes objetos, bem como tentar traçar uma relação entre anéis artinianos e
anéis noetherianos.
Para cumprir o proposto, iniciaremos o trabalho definindo e analisando módulos artinianos, uma vez que
anéis artinianos são casos especiais desses módulos. Neste sentido, iremos fazer uma breve recordação sobre
módulos e submódulos, sem nos preocuparmos com eventuais demonstrações de resultados ou exposições de
exemplos elucidativos. Isso pois em aula já nos dedicamos a estudar devidamente este assunto.
Logo após, iremos definir anéis artinianos e investigar os resultados relativos aos mesmos, a fim de en-
contrarmos a já mencionada relação com os anéis de Noether. Os princiapais conceitos inerentes aos anéis
noetherianos necessários para este texto também serão expostos na seção Recordação.
Ademais, quaisquer outros resultados ou definições julgados importantes para o bom entendimento do
presente trabalho estarão expostos na seção destacada no parágrafo anterior.

2 Recordação
Como dito na introdução, nesta seção não dispensaremos tempo para analisarmos nenhuma definição ou
resultado. O intuito desta parte do texto é apenas recordar o leitor alguns conceitos que serão necessários
para o desenvolvimento do trabalho.

2.1 Ideais

Definição 1. Dado um ideal I do anel A, definimos o ideal radical de I como I B {x ∈ A; x n ∈
I para algum n ∈ N∗ }.
√ √
Definição 2. Dizemos que dois ideais I1 e I2 de um anel A são coprimos se I1 + I2 = A = 1 .

n A
Propriedade 1. Dados o anel A e ideais Ii ⊂ A, defina o homomorfimos ϕ : A →
Î
. Segue:
i=1 Ii
n n
Ii =
Î Ñ
1. Se Ii e I j são coprimos sempre que i , j, então Ii ;
i=1 i=1

2. ϕ é sobrejetiva se, e somente se, Ii e I j são coprimos sempre que i , j;


n
3. ϕ é injetiva se, e somente se, Ii = {0}.
Ñ
i=1

1
√ √
Propriedade 2. Dados I1 e I2 ideais de um anel A tais que I1 e I2 são coprimos, então I1 e I2 são
coprimos.
Propriedade 3. Seja I ideal de um anel A. Segue:
A
• I é primo ⇔ é DI;
I
A
• I é maximal ⇔ é corpo;
I


• 0 é primo ⇔ A é DI;


• 0 é maximal ⇔ A é corpo;
• I é maximal ⇒ I é primo.
Teorema 1. Todo anel A , {0} possui pelo menos um ideal maximal.
Definição 3. Um anel que possui apenas um ideal maximal é chamado anel local.
Definição 4. O ideal N composto por todos os elementos nilpotentes de um anel A é chamado nilradical.
Observação 1. N ⊂ A é equivalente à interseção de todos os ideais primos de A.
Definição 5. O radical de Jacobson R é a interseção de todos os maximais de A.
Observação 2. Dado K um corpo, seus únicos ideais são os triviais.

2.2 Decomposição primária


Definição 6. Um ideal W ⊂ A é dito primário se para quaisquer a, b ∈ A tais que ab ∈ W, então a ∈ W ou
bn ∈ W para algum natural n.
Todo ideal primo é primário.
Definição 7. Dado um ideal I ⊂ A, uma decomposição primária de I é uma interseção finita de ideais
primários Wi :
n
Ù
I= Wi .
i=1
Definição 8. Se I ⊂ A é decomponı́vel e

a) Wi são distintos para todo 1 6 i 6 n;
Ñ
b) W j * Wi para todo 1 6 i 6 n;
j,i
n
então dizemos que I =
Ñ
Wi é uma decomposição primária minimal.
i=1
n
Teorema 2 (Primeiro Teorema da Unicidade). Seja I =
Ñ
Wi uma decomposição primária minimal do ideal
i=1
√ np o
I ⊂ A. Defina Pi B Wi com 1 6 i 6 n. Então Pi são os primos do conjunto (I : a); a ∈ A .
Definição 9. 1. Chamamos cada Pi definido no teorema acima de associados a I e denotamos Assoc(I) =
{P1, . . . , Pn }.
2. Além disso, os elementos minimais do conjunto Assoc(I) são ditos isolados de I.
3. Um subconjunto Σ ⊆ Assoc(I) é dito isolado quando satisfaz a condição seguinte: se P0 ∈ Assoc(I) e
P0 ⊆ P para algum P ∈ Assoc(I), então P0 ∈ Σ.
n
Teorema 3 (Segundo Teorema da Unicidade). Sejam I um ideal decomponı́vel de A com I =
Ñ
Wi decom-
i=1
posição primária minimal e Σ = {Pi1 , . . . , Pin } um conjunto isolado de ideias primos associados a I. Então
Wi1 ∩ · · · ∩ Wim independe da decomposição.
Corolário 1. As componentes primárias isoladas (componentes primárias Wi correspondentes aos ideais
primos isolados Pi ) são unicamente determinados por I.

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2.3 Módulos e submódulos
Definição 10. Seja A um anel. Um A-módulo é um par (M, µ) onde M é um grupo abeliano e
µ:A×M → M satisfazendo:
(a,m) 7→ amBµ(a,m)

a(m + n) = am + an
(a + b)m = am + bm
(ab)m = a(bm)
1m = m

para todo a, b ∈ A e m, n ∈ M.
Exemplo 1. • Um ideal I de A é um A-módulo.
• Em particular, A é um A-módulo.
• Se K é um corpo, então um K-módulo é um K-espaço vetorial.
Definição 11. Sejam M e N dois A-módulos. Uma aplicação f : M → N é dita um A-homomorfismo se:

f (m1 + m2 ) = f (m1 ) + f (m2 )


f (am1 ) = a f (m1 )

para todo a ∈ A e m1, m2 ∈ M.


Definição 12. Dado um A-módulo M, um submódulo M 0 de M é um subgrupo de M que é fechado em
relação à multiplicação por elementos de A
M
O grupo abeliano 0 é um A-módulo que herda esta estrutura de M: a(m + M 0) = am + M 0. Portanto,
M
M
dizemos que 0 é o A-módulo quociente de M por M 0.
M
M
A projeção canônica π : M → é um A-homomorfismo que induz correspondência biunı́voca entre
M0
submódulos de M que contém M e submódulos de M/M 0. Isso por conta do Teorema de Correspondência
0

entre Ideais.
Ainda, se f : M → N é um A-homomorfismo, então o núcleo de f é o submódulo de M definido por:

ker f B {m ∈ M; f (m) = 0}

e a imagem de f é o submódulo de N definido por:

Im( f ) B f (M).

Segue:
M
' Im( f ).
ker( f )
Definição 13. Seja {Mr }r ∈R uma famı́lia de A-módulos, com R ⊆ N. Definimos:
1. Produto direto: enquanto conjunto, é igual ao produto cartesiano de Mr ’s, sendo a soma e o produto
de escalares realizados componente a componente.
Î
Notação: r ∈R Mr
2. Soma direta: é o submódulo do produto direto cujos elementos são as uplas (mr )r ∈R nulas quase
sempre, ou seja, mr , 0 apenas para um número finito de subı́ndices i.
É
Notação: r ∈R Mr

3
Mr =
Î É
Em particular, se o conjunto de ı́ndices R é finito, então r ∈R r ∈R Mr .
Definição 14. Uma sequência de A-módulos e A-homomorfismos
fi fi+1
· · · → Mi−1 → Mi → Mi+1 → . . .

é exata em Mi se Im( fi ) = ker( fi+1 ).


Se a sequência for exata em cada Mi , dizemos que a sequência é exata.
Propriedade 4. Segue da definição que:
f
1. 0 → M 0 → M é exata se, e somente se, f é injetiva;
f
2. M → M 0 → 0 é exata se, e somente se, f é sobrejetiva;
f g
3. 0 → M 0 → M → M 00 → 0 é exata se, e somente se, f é injetiva, g é sobrejetiva e g induz um
M
isomorfismo de em M 00.
Im( f )

2.4 Localização
Definição 15. Dado um anel A, dizemos que S ⊂ A é um conjunto multiplicativo fechado para multi-
plicação (s, t ∈ S ⇒ st ∈ S) tal que 1 ∈ S.
Existe relação de equivalência ≡ em A × S dada por

(a, s) ≡ (a 0, s 0) ⇔ (as 0 − a 0 s)u = 0 para algum u ∈ S.


A×S a
Definição 16. O conjunto S −1 A B das classes de equivalência de (a, s) ganha estrutura de anel
≡ s
0 1
comutativo com elemento nulo e elemento identidade quando definimos certas operações binárias em
1 1
− 1
S A.
A esse anel comutativo chamamos localização de A com respeito a S
Definição 17. Podemos definir um homomorfismo de anéis ρ : A → S −1 A, o qual chamamos mapa de
x
x7→
1
localização.

2.5 Anéis noetherianos


Definição 18. Um anel A é dito noetheriano se satisfaz as seguintes condições (equivalentes):
1. Todo conjunto não vazio de ideais de A tem um elemento maximal;
2. Toda cadeia ascendente de ideais de A é estacionária (c.c.a.);

3. Todo ideal de A é finitamente gerado.


Exemplo 2. • O anel de polinômios na variável x e coeficientes no corpo K (K[x]) é anel noetheriano.
• Z é um anel noetheriano.
Teorema 4. Em um anel noetheriano A todo ideal admite decomposição primária.

4
3 Módulos artinianos
Apesar de nosso intuito aqui ser estudar de fato os módulos artinianos, iremos começar esta seção definindo
as condições de cadeia que serão de fundamental importância para o bom transcorrer dos nossos assuntos.
Seja Σ um conjunto parcialmente ordenado pela relação 6. Ou seja, 6 é reflexiva e transitiva e se ocorre
simultaneamente x 6 y e y 6 x, então x = y.

Proposição 1 (Condições de cadeia). Em Σ, as seguintes afirmações são equivalentes:


1. Toda cadeia crescente x1 6 x2 6 · · · 6 xn 6 . . . de elementos de Σ é estacionária. Ou seja, existe n ∈ N
tal que xn = xn+1 = . . . .
2. Todo subconjunto não vazio de Σ apresenta elemento maximal em relação a 6.

Demonstração. Já vimos esta prova em aula e ela pode ser encontrada em [1] - página 74. 
Se tomarmos 6 como a relação ⊆, chamamos (1) de condição de cadeia ascendente (c.c.a.) e (2) de
condição maximal.
Em contrapartida, tomando 6 como a relação ⊇, dizemos que (1) é condição de cadeia descendente
(c.c.d.) e (2) é condição minimal.
Daqui em diante, sempre que utilizarmos a notação A ela designa um anel comutativo.
Definição 19. Seja M um A-módulo. Dizemos que M é um A-módulo artiniano se M observa a condição
de cadeia descendente. Isto é, M é um A-módulo artiniano se toda cadeia descedente de submódulos de M é
estacionária.
Anunciaremos o próximo resultado como uma proposição, mas não seria um erro anunciá-lo como um
corolário da Proposição 1. Isto fica claro na prova.
Proposição 2. Seja M um A-módulo. Então M é A-módulo artiniano se, e somente se, toda coleção não
vazia de submódulos de M admite elemento minimal.
Demonstração. Para provarmos a ida, observe que M ser A-módulo artiniano, por definição, implica que M
satisfaz a c.c.d. Basta que tomemos Σ como a coleção de todos os submódulos de M e a relação de ordem
parcial ⊇: pela equivalência vista para as condições de cadeia e os comentários feitos após a Proposição 1,
temos que toda coleção não vazia de submódulos de M admite elemento minimal.
A volta é provada de maneira semelhante à ida, uma vez que tomando a relação de ordem parcial ⊇ e
supondo que toda coleção não vazia de submódulos de M admite elemento minimal segundo essa relação
de ordem, segue, novamente das condições de cadeia e dos comentários feitos após a Proposição 1, que M
observa a c.c.d. Ou seja, por definição, M é artiniano. 
A seguir veremos algumas proposições que são duais àquelas que já vimos em aula para módulos noethe-
rianos.
Antes, vejamos um lema que nos auxiliará na prova da próxima proposição.
Lema 1. Se f : M → N é um A-homomorfismo sobrejetor e M é A-módulo artiniano, então N é A-módulo
artiniano.
Demonstração. Seja {Nn } n∈N uma cadeia descendente de submódulos de N. Então f −1 (Nn ) n∈N é uma


cadeia descendente de submódulos de M. Por M ser artiniano, segue que esta cadeia é estacionária (c.c.d.).
 k ) = f (N j ), para todo k > j.
Ou seja, existe j ∈ N −1 −1
 tal que−1f (N
Daı́, f f (Nk ) = f f (N j ) ⇒ Nk = N j , para todo k > j, donde, {Nn } n∈N satisfaz a c.c.d. e, por
− 1

definição, N é artiniano. 
Corolário 2. Se f : M → N é um A-isomorfismo, então M é artiniano, se e somente se, N é artiniano.
Proposição 3. Seja M um A-módulo e N um submódulo de M. Então, M é A-módulo artiniano se, e
M
somente se, N e são A-módulos artinianos.
N

5

Demonstração. ⇒(i) Seja {Nn } n∈N uma cadeia descendente de submódulos de N. Logo, {Nn } n∈N é cadeia
de submódulos de M. Como M é A-módulo artiniano, é imediato que {Nn } n∈N satisfaz a c.c.d. Logo, N é
A-módulo artiniano.
M
⇒(ii) Tomemos a projeção canônica π : M → . Por π ser homomorfismo sobrejetor e sabendo que

m 7→ N
m+N
M M
é um A-módulo, pelo Lema 1, temos que é A-módulo artiniano.
N N
(⇐) Seja {Mn } n∈N uma cadeia descendente de submódulos de M. É fato que Mn ∩ N ⊇ Mn+1 ∩ N, donde
{Mn ∩ N } n∈N ainda é uma cadeia descendente de submódulos de N. Como N é artiniano, existe n1 ∈ N tal
que Mn ∩ N = Mn1 ∩ N para todo n > n1 .
Mn
A princı́pio, não está bem definido, uma vez que não podemos garantir Mn ⊃ N. Então, consideremos
N
Mn + N Mn + N

M
, donde está bem definida e é uma cadeia descendente de submódulos de que,
N N n∈N N
Mn + N
 
por sua vez, é artiniano. Ou seja, é cadeia descendente estacionária: existe n2 ∈ N tal que
N n∈N
Mn + N Mn2 + N
n > n2 ⇒ = .
N N
Tomemos o natural n0 = max{n1, n2 }. Daı́, n > n0 implica
Mn ∩ N = Mn0 ∩ N
Mn + N Mn0 + N
=
N N
Mostraremos que Mn = Mn0 para todo n > n0 .
Por {Mn } n∈N ser uma cadeia descendente de submódulos de M, é imdediato que Mn ⊆ Mn0 sempre que
n > n0 .
Mn0 + N Mn + N
Por outro lado, tomando v ∈ Mn0 , segue que v ∈ Mn0 + N e, consequentemente, v + N ∈ = .
N N
Sendo assim, existem u0 ∈ N e u ∈ Mn tais que v = u0 + u:
v + N = (u0 + u) + N = (u0 + N) + (u + N) = (0 + N) + (u + N) = u + N
∴ v + N = u + N ⇒ v − u ∈ N.
Como v ∈ Mn0 e u ∈ Mn ⊆ Mn0 ⇒ v − u ∈ Mn0 . Portanto, v − u ∈ Mn0 ∩ N = Mn ∩ N. Em particular,
u ∈Mn
v − u ∈ Mn ⇒ (v − u) + u = v ∈ Mn . Finalmente, v ∈ Mn0 ⇒ v ∈ Mn . Isto é, Mn0 ⊆ Mn .
Com isso, temos Mn = Mn0 para todo n > n0 e, por definição, M é artiniano. 
f g
Teorema 5. Seja 0 → M 0 → M → M 00 → 0 uma sequência exata de A-módulos. Então, M é A-módulo
artiniano se, e somente se, M 0 e M 00 também o são.
Demonstração. (⇒(i) ) Como f é injetiva (Propriedade 4), segue que M 0 ' f (M 0). Ainda, M é artiniano por
hipótese e é fato que f (M 0) é um submódulo de M. Logo, pela proposição anterior, f (M 0) é artiniano. Agora,
pelo Corolário 2, é imediato que M 0 é artiniano.
(⇒(ii) ) Pela Propriedade 4, temos que g é sobrejetiva. Pelo 1o Teorema de Isomorfismo, segue:
M
' M 00 .
ker(g)
M
Como M é artiniano e é fato que é submódulo de M (ker(g) ⊂ M), segue da Proprosição 3 que
ker(g)
M
é artiniano. Novamente, pelo Corolário 2, temos que M 00 é artiniano.
ker(g)
(⇐) Por M 0 ser artiniano e f ser injetiva, temos que f (M 0) ' M 0 é artiniano (Corolário 2).
M M
Além disso, pela sequência ser exata e pelo Primeiro Teorema do Isomorfismo, segue 0
= ' M 00.
f (M ) ker(g)
M
Como M 00 é artiniano por hipótese, segue do Corolário 2 que é artiniano.
f (M 0)

6
M
Finalmente, por f (M 0) e serem artinianos, pela Proposição 3, M é artiniano. 
f (M 0)
Corolário 3. Se N é um submódulo de um A-módulo M, então M é um A-módulo artiniano se, e somente
M
se, N e são artinianos.
N
α π M
Demonstração. Considere a sequência 0 → N → M → → 0.
N
M
Basta que tomemos α : N ,→ M e π : M → a projeção canônia que segue que a sequência acima é
N
exata e, diretamente do Teorema 5, temos o resultado. 
Observação 3. Perceba que o corolário acima é o mesmo resultado que provamos na Proposição 3.

Do último corolário (reciprocamente da Proposição 3), temos que submódulos e o quociente de um A-


módulo artiniano M por um submódulo seu ainda são artinianos. (∗)
Em particular, tomando um A-homomorfismo f : M → M 0 com M um A-módulo artiniano, segue do
Primeiro Teorema do Isomorfismo:
M Corolário 2 e (∗)
Im( f ) ' ' Im( f ) é A-módulo artiniano
ker( f )

Ou seja, A-homomorfismos preservam a estrutura artiniana.

Proposição 4. Sejam M1, M2, . . . , Mn submódulos de um A-módulo M. Se cada Mi é um A-módulo artiniano,


n
Í
então Mi é um A-módulo artiniano.
i=1

Demonstração. Provemos que o resultado vale para n = 2 e, depois, teremos o resultado por indução. Pelo
Segundo Teorema do Isomorfismo, temos:
M1 + M2 M2
' .
M1 M1 ∩ M2
M2
Como M1 ∩ M2 é um submódulo de M2 e, por hipótese, M2 é artiniano, segue do Corolário 3 que
M1 ∩ M2
M1 + M2
é um A-módulo artiniano. Consequentemente, pelo Corolário 2, também é um A-módulo artiniano.
M1
M1 + M2
Agora, temos e M1 A-módulos artinianos. Logo, pelo Corolário 3, M1 + M2 é um A-módulo
M1
artiniano.
Para que se verifique a indução sobre o número de submódulos Mi , basta considerarmos M1 + M2 = R1 e
procedermos de maneira análoga para provarmos que R1 + M3 = R2 é um A-módulo artiniano, e assim por
diante tomando R j = R j−1 + M j+1 para todo j = 1, 2, . . . , n. 
n
Proposição 5. Se M1, . . . , Mn são A-módulos artinianos, então
É
Mi é um A-módulo artiniano.
i=1

Demonstração. Faremos esta prova por indução sobre a quantidade n de A-módulos artinianos:
1
i) Para n = 1: Mi = M1 é A-módulo artiniano;
É
i=1

n−
É1
ii) Hipótese de Indução: suponha n > 1 e Mi um A-módulo artiniano.
i=1
Defina
n−1
Ê n
Ê
f : Mj → Mi
j=1 i=1
(m1,...,mn−1 )7→(m1,...,mn−1, 0)

7
e
n
Ê
g: Mi → Mn .
i=1
(m1,...,mn )7→mn

É fato que f e g são A-morfismos tais que f é injetiva (ker( f ) = (0, . . . , 0)) e g é sobrejetiva (para todo
n
mn ∈ Mn , existe (m1, . . . , mn ) ∈ Mi tal que g (m1, . . . , mn ) = mn ). Além disso, Im( f ) = ker(g). Ou seja,
É
i=1
n−
É1 f n
É g
0→ Mj → Mi → Mn → 0 é uma sequência exata de A-módulos.
j=1 i=1
n−
É1 n
É
Agora, como M j e Mn são A-módulos artinianos, pelo Teorema 5, temos que Mi é um A-módulo
j=1 i=1
artiniano, o que finaliza nossa indução e nossa demonstração.

Antes de definirmos anéis artinianos e estudarmos suas propriedades, vejamos alguns exemplos (e contra-
exemplos) de A-módulos artinianos.
Exemplo 3. 1. Seja G um grupo finito. Então G é um Z-módulo e todos seus subgrupos são submódulos.
Como G é finito, é imediato que o número de subgrupos de G também é finito. Ou seja, existe um
número finito de submódulos de G. Portanto, qualquer cadeia descendente de submódulos de G é
estacionária: G é um Z-módulo artiniano.
2. Já vimos que em K[x] todo ideal é principal. Enxergando o anel K[x] como um K[x]-módulo, segue que
ele não é um módulo artiniano. De fato, podemos escrever a seguinte cadeia descendente de ideais de
K[x]:
x ⊃ x ⊃ · · · ⊃ xn ⊃ . . . .


2

Contudo, esta cadeia é infinita; não é estacionária.


3. De maneira semelhante a que fizemos no exemplo anterior, enxergando o anel Z como um Z-módulo,
afirmamos que este também não é artiniano. Basta escrevermos a cadeia descendente não estacionária
dos ideias gerados por potências de 2:

2 ⊃ 2 ⊃ · · · ⊃ 2n ⊃ . . . .


2

 
m
4. Definindo Q p B ; r, m ∈ Z e r > 0 , onde p é um primo fixado, podemos escrever a seguinte sequência
pr
de Z-módulos:
α π Qp
0 → Z → Qp → → 0.
Z
Qp
Tomando α : Z ,→ Q p e π : Q p → a projeção canônica, temos que a sequência é exata. Como Z não
Z
é um Z-módulo artiniano, é imediato pelo Teorema 5 que Q p também não é um Z-módulo artiniano.
5. Tomando Q como uma Z-módulo, segue que Z é submódulo de Q. Já vimos que Z não é um Z-módulo
artiniano. Logo, pelo Corolário 3, Q não é um Z-módulo artiniano.

4 Anéis Artinianos
Nesta seção iremos definir anéis artinianos e analisaremos algumas propriedades destas estruturas algébricas.
É de se esperar que os resultados para anéis artinianos sejam bastante semelhantes aos resultados vistos na
última seção, já que podemos enxergar anéis como módulos sobre si próprios. Além disso, veremos como
anéis artinianos se relacionam com anéis noetherianos.

8
Definição 20. Um anel A é dito artiniano se satisfaz a c.c.d. para ideais de A. Isto é, toda cadeia
descendente de ideais Ii de A é estacionária. Em outras palavras, dada a cadeia de ideias em A:

I0 ⊇ I1 ⊇ · · · ⊇ In ⊇ . . . ,

existe n0 ∈ N tal que para todo n > n0 tem-se In = In0 .


A seguir, enunciamos alguns resultados que são basicamente os mesmos quando comparados às proprieda-
des que vimos para A-módulos artinianos. A estratégia para prová-los é enxergar o anel A como um módulo
sobre ele mesmo.

Corolário 4. Se A e B são anéis isomorfos, então A é anel artiniano se, e somente se, B é anel artiniano.
Demonstração. Este corolário é idêntico ao corolário 2 quando enxergamos os anéis A e B como, respectiva-
mente, um A-módulo e um B-módulo. 
A
Corolário 5. Se A é anel artiniano e I é um ideal de A, então é anel artiniano.
I
Demonstração. Basta tomarmos o anel A como A-módulo e teremos que I é um submódulo de A. Daı́, a
prova é idêntica à prova da ida ((ii)) da Proposição 3. 
n vezes n vezes
z }| { z }| {
Corolário 6. Se A é um anel artiniano, então An = A ⊗ A ⊗ · · · ⊗ A = A ⊕ A ⊕ · · · ⊕ A é um anel artiniano.

Demonstração. Tomando o anel A como A-módulo, a prova é a mesma feita na Proposição 5. 


Corolário 7. Se A é um anel artiniano e M é um A-módulo finitamente gerado, então M é um A-módulo
artiniano.
Demonstração. Por M ser finitamente gerado, existem m1, . . . , mn ∈ M tais que M = Am1 + · · · + Amn . Logo,

ϕ: An → M
(a1,...,a n )7→ a1 m1 +···+a n mn

é um A-homomorfismo sobrejetor.
Como An é A-módulo artiniano (Corolário 6), segue do Lema 1 que M é um A-módulo artiniano 
Corolário 8. Sejam K um corpo e V um K-módulo. Segue que V é um K-módulo artiniano se, e somente
se, dim(V) < ∞.

Demonstração. (⇐) Por K ser corpo, temos que, em particular, K é um anel artiniano (os únicos ideais de
K são {0} e o próprio K). Agora, de dimK (V) < ∞, segue que V é um K-módulo finitamente gerado. Logo,
pelo Corolário 7, é imediato que V é um K-módulo artiniano.
(⇒) Suponha, por absurdo, que V tenha dimensão infinita. Logo, existe subconjunto B ⊆ V infinito,
enumerável e LI, dado por
B = {ei ; i ∈ N}.
Para cada n ∈ N, defina Wn B L ({ei ; i ∈ N e i > n}) o subespaço gerado pelos ei ’s da forma como foram
definidos. Perceba que cada Wn é um subconjunto de B, donde Wn é um K-subespaço vetorial de V. Tomando
Bn = {ei ; i ∈ N e i > n}, temos Bn ⊇ Bn+1 para todo n ∈ N, donde Wn ⊇ Wn+1 para todo n natural.
Contudo, note que para cada n ∈ N, en ∈ Wn e en < Wn+1 pois B é LI. Logo, Wn + Wn+1 para cada n
natural e, consequentemente, V não é um K-módulo artiniano (o que contradiz a hipótese).
Sendo assim, a suposição a respeito da dimensão de V ser finita é, de fato, um absurdo! 
Este último corolário deixa claro que nem sempre uma soma direta arbitrária de A-módulos (ou anéis)
artinianos será um A-módulo (ou anel) artiniano.
Proposição 6. Se A é um anel artiniano e S ⊆ A é um sistema multiplicativo, então S −1 A é um anel
artiniano.

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Demonstração. Seja {bn }n∈N uma cadeia descendente de ideais de S −1 A. Considere, ainda, o mapa de loca-
lização
ρ : A → S −1 A .
x
x7→
1
Defina an B ρ−1 (bn ). Por bn = S −1 (an ), para todo natural n e {bn }n∈N ser cadeia descendente, segue que
sua pré-imagem {an }n∈N é uma cadeia descendente de ideias de A. Por A ser artiniano, existe n0 ∈ N tal que
an = an0 para todo n > n0 .
Logo, bn = S −1 (an ) = S −1 (an0 ) = bn0 para todo n > n0 . Ou seja, {bn }n∈N satisfaz a c.c.d., donde S −1 A é
um anel artiniano. 

Proposição 7. Em um anel artiniano A todo ideal primo é maximal.


A
Demonstração. Sejam P um ideal primo de um anel artiniano A e B = , donde B é DI artiniano.
P
Dado x ∈ B não nulo, pela c.c.d. temos que x n = x n+1 para algum n natural, donde x n = x n+1 y para


algum y ∈ B. Por B ser DI e x , 0, segue que x n , 0. Logo, podemos escrever x y = 1. Ou seja, para todo
elemento não nulo de B existe elemento inverso também em B ⇒ B é corpo ⇒ P é maximal. 

Corolário 9. Em um anel artiniano A, o nilradical é igual ao radical de Jacobson.


Proposição 8. Um anel artiniano A tem somente um número finito de ideais maximais.
Demonstração. Sejam M = {M1 ∩ · · · ∩ Mr } o conjunto de todas interseções finitas onde cada Mi é ideal
maximal de A e M1 ∩ · · · ∩ Mn o elemento minimal deste conjunto. Logo, para qualquer ideal maximal P de
A temos P ∩ M1 ∩ · · · ∩ Mn ⊇ M1 ∩ · · · ∩ Mn .
Em particular, consideremos P ( A ideal primo (sabemos que todo maximal é primo e, pela proposição
anterior, em artinianos todo primo é maximal). Portanto, estamos diante da Proposição 45, item (ii), das
notas de aula referenciadas em [4]. Essa proposição diz o seguinte:
n
Sejam a1, . . . , an ideais e p um ideal primo contendo
Ñ
ai . Então p ⊇ ai para algum i.
i=1
Sendo assim, pelo o que desenvolvemos até agora e pela proposição supracitada, P ⊇ Mi para algum i
natural. Logo, por Mi ser maximal, P = Mi . 
Proposição 9. Em um anel artiniano A o nilradical é nilpotente.

Demonstração. Seja N o nilradical de A. Sabemos que N é um ideal de A. Logo, pela c.c.d., temos que para
algum k natural não nulo ocorre N k = N k+1 = · · · = B.
Suponhamos, por absurdo, que B , {0} e seja R o conjunto de todos os ideais D de A tais que BD , {0}.
Portanto, R , ∅, já que B ∈ R. Tomemos o elemento mı́nimal c de R, donde existe x ∈ c tal que xB , 0 ⇒
minimalidade de c

x = c.


x ⊆c ⇒
Ainda, (xB)B = xB2 = xB , 0 e xB ⊆ x . Novamente, pela minimalidade de x , xB = x . Logo, x = x y



para algum y ∈ B, donde x = x y = x y 2 = · · · = xy n = . . . . Como B = N k ⊇ N , temos que y é nilpotente e,


portanto, x = x y n = 0, contradizendo a escolha de x (x , 0).
Sendo assim, a suposição B , {0} não se sustenta e temos N k = {0} para algum k > 0. 
Se uma anel artiniano A é local com ideal maximal M, então M é o único anel primo de A e, pelo Corolário
9, M é o nilradical de A. Agora, pela Proposição 9, M é nilpotente, donde cada elemento de M é nilpotente.
Sendo assim, cada elemento de A é uma unidade ou é nilpotente.
Antes de relacionarmos anéis artinianos e anéis noetherianos, vejamos um resultado dado por Atiyah e
MacDonald na Proposição 6.10 do livro referenciado em [1]:
Para K-espaços vetoriais são equivalentes:

i) dimensão finita;
ii) c.c.a.;
iii) c.c.d.

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Vejamos, então, alguns teoremas que mostram relações entre os anéis artinianos e noetherianos.
Teorema 6. Seja A um anel tal que seu ideal nulo é igual ao produto de ideais maximais M1, . . . , Mn seus
(não necessariamente distintos). Então, A é artininano se, e somente se, A é noetheriano.
Demonstração. Consideremos a cadeia de ideais de A dada por:

A ⊂ M1 ⊆ M1 M2 ⊆ M1 M2 M3 ⊆ · · · ⊆ M1 M2 . . . Mn = {0}.
M1 . . . Mn−1 A
Tomando Ri = para cada i = 1, . . . , n, temos que cada Ri é um -módulo. Ou seja, cada Ri
M1 . . . Mi Ri
A
é um -espaço vetorial.
Ri
Então, pelo corolário anterior, para cada fator Ri temos: c.c.a satisfeita ⇔ c.c.d. satisfeita. Mas cada
fator satisfaz c.c.a ⇔ A satisfaz c.c.a; cada fator satisfaz c.c.d ⇔ A satisfaz c.c.a. Isto por conta do resultado
do Teorema 5 (aplicado-o repetidas vezes) (ver [5] - página 16), para o qual existe análogo para módulos
noetherianos. Portanto, para cada fator Ri temos: (c.c.a satisfeita ⇔ c.c.d. satisfeita) ⇔ (c.c.a satisfeita ⇔
c.c.d. satisfeita) para A. 
A seguinte definição é necessária para o bom entendimento do próximo teorema a ser enunciado.

Definição 21. Uma cadeia de ideais primos do anel A é uma sequência finita estritamente crescente

P0 ( P1 ( · · · ( Pn .

Dizemos que o comprimento da cadeia acima é n.


Além disso, definimos dimensão de Krull de A como o supremo dos comprimentos de todas as cadeias
de ideias primos de A. A dimensão de Krull de um anel é um número inteiro não negativo ou +∞ (caso
A = {0}) e notaremos por:
dimK A.
Teorema 7. Um anel A é artiniano se, e somente se, A é noetheriano e dimK A = 0.

Demonstração. Pode ser encontrada em [1] - página 90. 


Teorema 8. Um anel A é artiniano se, e somente se, A é noetheriano e cada ideal primo de A é maximal.
Demonstração. Pode ser encontrada em [3] - página 4. 
Corolário 10. Em um anel artiniano A todo ideal admite uma decomposição primária.

Demonstração. Como todo anel artiniano A é um anel noetheriano e ideais de anéis noetherianos sempre
admitem decomposição primária, segue o resultado. 
Para finalizar este trabalho, vejamos um teorema que versa sobre a estrutura dos aneis artinianos.

Teorema 9. Um anel artiniano A é unicamente definido por um produto de artinianos locais (a menos de
isomorfismos).
Demonstração. Sejam Mi ideais maximais distintos no anel artiniano A, com i = 1, . . . , n. Pelo Teorema 6,
n
Mik = 0 para algum k > 0 (pois, dimK A = 0). Pela Propriedade 2, temos que Mik são
Î
podemos escrever
i=1
n n
Mik = Mik . Ainda pela Propriedade 1, a aplicação
Î Ñ
coprimos dois a dois, donde, pela Propriedade 1
i=1 i=1
n A
ϕ:A→
Î
é um isomorfismo.
i=1 Mi
A
É fato que cada é um anel artiniano local. Consequentemente, A é isomorfo a um produto direto de
Mi
anéis artinianos locais.

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Por fim, provemos a unicidade (a menos de isomorfismo) do resultado obtido no último parágrafo. Suponha
n
Ai com Ai um anel artiniano local para cada 1 > i > n. Sendo assim, para cada i = 1, . . . , n definimos
Î
A'
i=1
o homomorfismo sobrejetor ϕi : A → Ai . Considere ker(ϕi ) = Ii . Pela Propriedade 1, Ii são coprimos dois a
=
Ñn
dois e i= I
1 i {0}.
Agora, sejam Bi o único ideal primo de Ai e Pi = ϕi−1 (Bi ). Logo, Pi é primo. E mais, como Pi ⊂ A (anel
artiniano), pela Proposição 7, Pi é maximal. Como Bi é nilpotente, segue que Ii é ideal primário em Pi , donde
i=1 Ii = {0} é uma decomposição primária do ideal nulo de A. Ainda, como Ii são coprimos dois a dois,
Ñn
tem-se Pi também coprimos dois a dois e, portanto, são primos isolados do ideal nulo {0}.
Logo, todos os componentes primários Ii são isolados e, pelo Corolário 2 do Segundo Teorema da Unicidade
A
para decomposições primárias, univocamente determinados por A. Finalmente, Ai  são unicamente
Ii
determinados por A. 

5 Referências
1 ATIYAH, Michael F; MACDONALD, Ian G. Introduction to Commutative Algebra, Addison-
Wesley, Reading, Massachusetts, 1969.
2 CORTÊS, Wagner O. A Recı́proca de um Teorema Bem Conhecido Sobre Anéis Noetherianos
de Burnside, Monografia (Mestrado em Matemática), Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2000.

3 ASSIS, Ailton R; TAVARES, Leandro S; MORGADO, Leandro; VICENTIM, Steve S. Sobre Anéis e
Módulos Noetherianos e Artinianos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012.
4 FEITOSA, Frederico S. Notas de Aula: Mestrado Acadêmico em Matemática - Álgebra
Comutativa, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2021.

5 MACHADO, Daniel F; LIMA, Daniel P. A; SILVA, Leonardo A; SILVA, Luan V. M. F; JUNIOR,


Marcelo S. M; CALDAS, Mayara D. A; GUIMARÃES, Ricardo M. M; OLIVEIRA, Thaylon S. De-
composição Primária em Ideais, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2019.

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