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BICO DE PENA

APOSTILA DE CURSO – DISTRIBUIÇÃO GRATUITA


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Apresentação do material e seu funcionamento

Bicos de pena são materiais de uma variedade infinita,


permitindo muitas formas de manuseio e métodos diversos. Em
essência, é uma ponta de metal fendida ao meio, que registra o
traço no papel por uso da tensão superficial da tinta, ou seja, a
força que une as moléculas e faz com que a tinta que está se
fixando ao papel possa “puxar” para si a tinta que ainda está no
bico de metal. Assim, não é a gravidade a principal atuante, mas
a viscosidade da tinta, apesar de a gravidade desempenhar um
papel ali. Desse modo, em geral as penas possuem um
reservatório em forma de “furo”, a uma certa distância da ponta,
conforme visto na figura 1. A fenda que existe a partir desse
reservatório funciona como um leito de rio, por onde o
nanquim corre, como já dito mais por capilaridade (efeito da
tensão superficial que causa uma liga na tinta e faz com que ela
Figura 1. Nomenclatura usada neste texto para os elementos essenciais
corra como um fio) do que por gravidade. Quando a pena sofre do bico de pena. O modelo do exemplo é um Speedball Hunt 100.
pressão a fenda se abre, como visto na figura 2, e a película
de tinta que cobre a fenda de fluxo se alarga na ponta, trazendo mais tinta ao papel. Quanto mais flexíveis as lâminas do bico de pena,
mais é possível se abrir a fenda exercendo pressão, e maiores as possibilidades de se variar espessura do traço, como se vê no exemplo
da mesma figura 2 onde está a pena trabalhando.
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Muitos bicos são polidos ou limados por sobre a fenda de fluxo em sentido perpendicular à própria fenda, o que serve para
deixar raso o “leito” do “rio de nanquim”, retirar rebarbas derivadas do corte do bico que gera a fenda, e para uniformizar as margens
desse “rio” e assim aperfeiçoar o traço. Esse polimento é perceptível nos bicos posicionados mais à direita na figura 3, mais abaixo.

O mesmo modelo de pena de


uma mesma marca (especialmente para
os materiais delicados) pode apresentar
penas tão diferentes como pessoas, isso
em termos de resultado e não tanto de
aparência à primeira vista. Mas sob lupa
se veem diferenças gritantes, por isso na
hora de comprar é preciso selecionar
bem, de preferência olhando sob uma
lupa mais ou menos potente como as de
joalheiro. Os melhores bicos de pena (de
Figura 2. O bico tem as pontas afastadas quando é exercida pressão, o que permite variar a espessura qualquer modelo ou marca) são os que
do traço sem que se tire a ponta do papel. É preciso buscar a melhor posição de mão para que a maior têm seu corte (a fenda de fluxo) em
pressão durante o espessamento não cause injúria ao papel nem prejudique a firmeza do traço. posição perfeitamente simétrica, feito
exatamente no meio das lâminas, e estas
são bem emparelhadas em toda sua extensão, ambas tendo pontas microarredondadas. Além disso, a característica que torna um bico
mais promissor é a justaposição exata das lâminas por toda a extensão da fenda, mas especialmente na ponta. Mais ainda, quando as
lâminas são separadas, nos melhores bicos elas apresentam resposta semelhante quando submetidas à mesma força, e na hora em que
retrocedem e voltam ao estado de repouso, se emparelham perfeitamente de volta ao local inicial, sem ficarem separadas nem
descoincidir ou encavalar. Isso tudo pode ser testado com os dedos exercendo pressão sobre a ponta do bico quando ele é observado
sob a lupa, mas mesmo a olho nu já se pode avaliar algo. Também é bom evitar bicos com rebarbas derivadas do corte, principalmente
na ponta extrema. Entretanto isso é menos grave, pois pode ser corrigido com lixadura e polimento, como veremos adiante. As
rebarbas eventuais ao longo da fenda de fluxo são as menos prejudiciais, pois a lixadura perpendicular cuidadosa da fenda (para além
daquela feita na própria fabricação) é um procedimento simples e de bom resultado, que facilmente resolverá o problema.

Microlicia cogniauxiana (esq.) e Barbacenia piranga (dir.), espécies vegetais ilustradas em nanquim a bico de pena, usando-se Speedball Hunt 100 e Gillott
290 Vintage aperfeiçoados com lixadura e mantidos sempre novos com limpeza correta. Aplique zoom no arquivo em PDF para ver em detalhes.

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Sugestões de marcas e modelos de bicos de pena

Entre os bicos mais delicados e de traço


mais preciso e ultrafino, de todos os que testei
(e foram dezenas de marcas disponíveis no
mundo), os que propiciam melhor resultado são
os Gillott 290 (Vintage, bronze – Figura 3f, não o
atual azul feito de latão – Figura 3g) e o
Speedball Hunt 100 – Figura 3h. Esse modelo da
Gillott é do tipo “lithographic pen”, e o modelo
da Hunt é chamado “round pointed”, e ambas
têm design extremamente semelhante. Há
também a 103 da Hunt – Fig. 3i, com pouca
diferença de design (e pouco mais flexível), mas
nunca funcionou bem em meus testes. Outras Figura 3. Modelos similares de marcas diferentes de bicos de pena. Os 5 à direita são os que
marcas têm modelos parecidos e sempre vale a proporcionam os traços mais ultradelicados e finos entre todas as fabricadas hoje ou ao
pena o teste, mas ainda não encontrei resultado longo da história.
similar, apenas design parecido. Uma das
marcas mais facilmente encontradas no Brasil, dentre as de design próximo a esse, é a Leonardt 700. Mas sempre a testei, e por mais
que eu seja capaz de fazer milagres lixando penas, jamais consegui fazer com que ela funcione com decência para um traço consistente
e delicado, e muitas delas nem sequer deixam traços no papel. Quanto à Gillott que se vende atualmente, azul, feita de latão (Fig. 3g),
eventualmente uma ou outra pode ser boa ou passível de ser lixada e ficar melhor, mas entre ela e a Speedball Hunt 100 (Fig. 3h) é
preferível esta última, pois após uma boa seleção na loja sempre consigo alguma perfeita, ao menos depois de lixar. Desta mesma
marca Hunt, a 104 (Fig. 3j) pode trazer bons resultados, mas é bem menos flexível. Por isso pode ser excelente em contornos precisos e
ultrafinos em que precisamos evitar variação de espessura derivada da força instável da mão, e pode ser boa também para pontilhismo
detalhista. Para contornos em que desejo variar um pouco a espessura, uso a Hunt 102 (do tipo “crow quill” – nome explicado adiante).

Entre os inúmeros modelos de bicos de pena disponíveis, alguns são mais queridos por desenhistas, outros por quadrinistas e
outros por calígrafos etc. Mas tudo depende do uso pessoal que se pretende fazer. Cada pessoa tem um objetivo em sua arte, e é
preciso experimentar todos os materiais possíveis até encontrar o que se adapte às suas exigências. Assim, para traços não tão
delicados nem ultrafinos, há penas verdadeiramente cultuadas por artistas. Algumas seriam a Nikko G (Fig. 3a), a Zebra G, a Principal EF
Leonardt (Fig. 3e), Presbitero 505 EF (Fig. 3c), Brause & Co. 76 (Fig. 3b); todas essas são de um modelo ligeiramente parecido, robusto,
de traço relativamente delicado e algo flexível, utilidade semelhante. Algumas podem ser eventualmente encontradas no Brasil em lojas
bastante especializadas de materiais artísticos. Mas a solução é sempre se experimentar o que há disponível, caso se possa selecionar
na loja. E nesse caso, melhor levar os modelos que intuitivamente parecem prometer cumprir suas expectativas: se deseja um traço
delicado, leve os bicos de ponta mais fina e menores; se deseja maior variação de espessura do traço, leve os de ponta fina, mas que
sejam grandes e flexíveis, e teste na loja (sobre a unha por ex.) o quanto a ponta suporta de abertura ao sofrer pressão. Também há
farto material descrevendo e recomendando marcas e modelos de bicos de pena na internet, eventualmente com testes, vídeos,
experiências de artistas etc. Procurando-se em inglês há mais chance de se encontrar referências numerosas. Para isso, use como
termos de pesquisa as palavras “dip pen nib”, o nome usado especificamente para esse tipo de material, que em tradução livre
significaria “bico de caneta de mergulho”, numa referência a trabalharmos mergulhando-o na tinta.

Alguns materiais que se encontram em lojas como os da figura 4 são na verdade


lâminas de raspagem (“scratch knife” – na figura são da marca Hiro Leonardt), usadas para
scraperboard (ou scratchboard), uma técnica em que os traços do desenho são feitos pela
retirada de tinta seca por raspagem. Portanto os traços gerados são brancos, que retiram a
tinta e retomam o branco do papel. Ou obviamente se pode usar um papel de outra cor,
pintá-lo de branco e raspá-lo para obter a cor do papel, e nesse caso o traço será escuro e
não claro. Para isso esses bicos são mantidos afiados como lâminas, para que mantenham
uma absoluta precisão no traço, e o papel em geral tem que ter uma superfície que
suporte a raspagem sem se desfibrar. Superfícies plásticas, ou de látex, por exemplo, são
melhores para isso. Essa técnica pode servir tanto para o scraperboard tradicional como
para raspagem em técnicas outras, como sobre tinta acrílica, guache e até aquarela e óleo,
sempre após secagem, quando se obtém o traço mais preciso raspando e retirando a tinta Figura 4. Penas para scraperboard, de
seca. Mas a qualidade de traço obtido sempre depende da superfície onde se desenha. ponta plana (esq.) ou côncava (dir.)

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Fazendo uso desse recurso, é possível se criar “híbridos” de nanquim a bico de pena e scraperboard, como se vê na figura 5. Aí
foi aplicada tinta cinza (mistura de nanquim e guache branco) de forma “chapada”, ou seja, uniforme. A seguir a obtenção de traços
brancos é feita pela raspagem e os traços
escuros aplicados com bico de pena. O
papel foi um cartão supremo preparado
com gesso e depois algumas demãos de
tinta acrílica branca, deixando a superfície
propícia à raspagem. O processo de preparo
do papel está bem detalhado em um artigo
em meu blog (endereço na página de
apresentação). Papéis específicos para essa
técnica são fabricados, mas dificilmente
encontrados no Brasil, onde a técnica é
pouco conhecida, pouco difundida e usada.

Já na figura 6 o processo é apenas


raspagem, scraperboard, mas em vez de
tinta cinza foi aplicado nanquim puro de
forma uniforme, e todos os traços brancos
feitos por raspagem. Ainda assim os pelos e
detalhes de traços escuros em geral são
feitos com bico de pena igualmente, na fase
de acabamento. A técnica permite muitas
correções, já que se pode raspar, aplicar
novamente nanquim e raspar novamente,
havendo complicação apenas quando se
Figura 5. Espécies vegetais de Croton sp. Aqui a base pintada de cinza é raspada para obter raspa demais e a superfície acrílica acaba
traços brancos, e há detalhamento posterior feito com traços e hachuras de nanquim com bico sendo localmente removida por completo.
de pena. Esse material vegetal específico tem formas de pelos e escamas que, misturadas aos
Ainda assim, pode-se aplicar mais tinta
traços de sombra, gerariam resultado confuso visualmente se fossem feitas apenas em preto. A
acrílica localmente e reformar eventuais
possibilidade de ser mais fiel aos claros/escuros com essa técnica resultou em uma representação
danos à superfície.
mais clara e fidedigna da realidade (aplique zoom do arquivo em PDF para ver detalhes).

Figura 6. Hemistephanus cylindricus, espécie de


vespa feita em scraperboard. Primeiramente a
tinta nanquim é aplicada uniformemente e
depois raspada para obter traços brancos, e
finalmente traços escuros são novamente
acrescidos localmente para o acabamento
(aplique zoom no arquivo em PDF).

Papéis

Ideais para o uso do nanquim com bico de pena são os papéis mais lisos e acetinados possíveis. Entre os melhores e mais
disponíveis estão o Fabriano 4L e antigamente havia o (hoje extinto) Canson Lavis Technique. Também têm surgido cada vez mais
modelos de papel Bristol que estão entre os mais apropriados para a técnica, como o da própria Fabriano (que ainda não testei). Mas é
preciso muito cuidado e testes minuciosos, pois alguns desses Bristol, como por exemplo o da marca Winsor & Newton, podem ser
muito abrasivos e a ponta do bico de pena acaba sendo “limada”, polida em excesso, praticamente lixada pela superfície do papel,
danificando o funcionamento da pena e obrigando-nos a proceder a uma restauração. Já o Bristol da Canson parece ser melhor nesse
quesito, mas apresenta uma coloração algo azulada que não me agrada particularmente. Entre os papéis que não experimentei ainda,
mas são potencialmente bons, estão o Hahnemühle Lana Bristol e o Clairefontaine Lavis Dessin Technique.

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O que proporciona lisura, maciez e brancura a esses papéis específicos para nanquim, e que os difere de outros papéis, é terem
em geral um tratamento de gesso sobre a superfície que, além de fazer deslizar prazerosamente o bico, ajuda quando são necessárias
correções, que podem ser feitas por raspagem com lâminas de barbear. Após essa raspagem, se for preciso retocar-se com mais traços
a bico de pena, é preciso refazer a superfície do papel que pode ter se desfibrado um pouco. Isso costumeiramente é feito com uma
pedrinha polida como ágata esfregada sobre a superfície, mas também funciona bem se for feito com lápis borracha (artigo algo raro
de se encontrar hoje). Evidentemente o papel suporta muito pouca correção, e se passar de uma vez, pode ser irreparável o erro.

Aspectos práticos do manuseio

Suporte - A pena deve ser fixada num cabo de suporte como visto
nas figuras 7 e 8. Penas de modelos que são apenas uma chapa de metal
encurvado, como todas as da figura 3, sendo na base como um miniescudo,
são ajustáveis ao modelo de cabo dessas figuras. Já penas que têm uma
base cilíndrica são as chamadas “crow quill” e devem ser ajustadas em outro
tipo de suporte que termina num pino que deve ser encaixado dentro da
base cilíndrica do bico de pena, fixando-se assim o metal ali.

Figura 7. Cabo de madeira como suporte para o uso do bico. O


peso desse cabo de alguma forma parece oferecer um apoio
ideal, proporcionando mais firmeza durante o uso. Mas cabos
de plástico, apesar de leves, após nos habituarmos oferecem
também bom suporte.

Figura 8. A extremidade do suporte traz um aparato metálico onde o bico deve se encaixar, fixando-se
firmemente entre as lamelas internas de metal e o cilindro onde essas lamelas se prendem.

Tinta – Sugestão de marca: Talens ou Staedtler Mars. A qualidade faz diferença fundamental, já que
o que determina o melhor funcionamento da técnica são características físico-químicas que envolvem
viscosidade, tensão superficial etc. Portanto o primeiro cuidado é escolher pela boa marca e qualidade
(para isso deve-se testar e/ou seguir experiências de outros – mas sempre testar, independentemente dos
conselhos alheios). O segundo cuidado, não menos importante, é a preservação das características da tinta,
ou seja, evitar que resseque ou perca o mínimo de sua hidratação. Para isso o tubo de tinta deve
permanecer fechado pelo máximo tempo possível. Entretanto, para trabalhar com o bico de pena, é
preciso poder constantemente mergulhá-lo na tinta, então o tubo acaba sendo muitas vezes aberto, se é
que não passa aberto todo o tempo. Para evitar que tanta tinta perca suas qualidades de novas, eu resolvo
esse dilema com o uso de um tubo bem menor (figura 9) onde, com um conta-gotas, coloco tinta apenas o
suficiente para formar uma coluna que alcance o furo de reservatório do bico de pena quando o mergulho
ali. Trata-se de tubos de penicilina (encontrados em lojas de material para laboratório) com tampa de Figura 9. Tubo de
borracha. As bases de vidros menores, tendo 21 a 25 mm de diâmetro, são as que permitem que menos penicilina que utilizo para
evitar desperdício de tinta,
tinta seja necessária para formar a coluna da altura suficiente para alcançar o reservatório do bico de pena.
podendo ser sempre
O bocal do tubo também permite que a base do suporte entre ali com folga.
aberto e fechado com
facilidade para evitar
A vantagem do tubo da figura 9 é ter uma tampa de borracha bem fácil de se abrir e tampar, sem
secagem da tinta ou
rosqueamento, e portanto o tubo pode se manter o tempo todo fechado, exceto quando se mergulha a
entrada de poeira.
pena. Quando eventualmente, mesmo sendo pouco aberto, o tubo permite que a tinta se resseque ou
perca suas melhores qualidades, eu acrescento uma gota de água para repor o que foi perdido, e testo o resultado. Quando uma ou
duas gotas de água não são suficientes para trazer as boas qualidades de volta, eu retiro a tinta dali, que não é muita, misturo-a de

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volta no tubo principal para que as perdas de qualidade se diluam no resto de tinta preservada, e depois encho novamente o tubo
pequeno com uma coluna de tinta adequada. Dessa forma o desperdício é mínimo.

Quando se usa para os mergulhos o tubo principal de tinta (aquele que vem da loja), é muito provável também que haja
acidentes e derramamento de todo o conteúdo, e o que é pior: isso pode acontecer sobre o desenho. Por isso o vidro pequeno ajuda a
eliminar esse problema, pois há modos de se fixar e tornar o tubo à prova de derramamento. Uma das soluções é usar um suporte
rígido qualquer como papelão, isopor fino duro, duratex, MDF fino, chapa plástica etc. e fixar com fita adesiva o tubo de tinta sobre
essa base, de forma que podemos mover livremente o conjunto para não engessar nossa postura, e mesmo com essa liberdade de
movimento o tubo se torna muito menos provável de ser derrubado.

Além desses cuidados, eu tomo uma providência extra que é trabalhar com nanquim bem gelado. Deixo-o na geladeira antes do
uso, e na hora de trabalhar deixo o tubo mergulhado dentro de um recipiente com gelo maciço. Dentro desse gelo há um furo onde a
base do tubo se encaixa perfeitamente. Desse modo o nanquim, além de evaporar menos do tubo, também tende a ficar mais
viscoso por estar muito frio, o que faz com que tenha mais liga para o traço ser
contínuo. Por estar a uma temperatura baixa, também se torna mais lento o
ressecamento do nanquim durante o tempo em que está no próprio bico de pena
realizando o traço, e assim é realmente preciso mergulhar com menos frequência a
pena dentro do tubo de tinta.

A distância da ponta do bico ao seu furo de reservatório pode variar conforme


o modelo de bico, por isso de acordo com o modelo usado pode ser preciso se
encher mais o tubo de tinta em uso. Para bicos como Gillott 290 e Hunt 100, que
têm distância curta entre a ponta e o furo de reservatório, cerca de 7 a 8 mm de
altura da coluna de tinta são suficientes para alcançar o reservatório.

Sempre é preciso cuidar para evitar esbarrar na borda do bocal na hora de


mergulhar, o que pode causar injúria à ponta da pena. E evitar também tocar o
fundo do vidro bruscamente ao se mergulhar o bico dentro da tinta, pois após
muitos mergulhos, a ponta do bico se danificaria com tantos choques. Em todo
caso, deve-se sempre evitar deixar que a tinta passe muito acima do nível do furo
Figura 10. Altura ideal da tinta embebendo a pena, quando a pena é mergulhada, pois nesse caso por ação da gravidade o excesso
não ultrapassando muito a altura do reservatório, acaba se concentrando em forma de gota perto da ponta, e fatalmente essa gota
assim evitando que a tinta se acumule na ponta e irá se desprender e cair sobre o desenho, provavelmente de surpresa. A figura 10
respingue no desenho.
apresenta a altura ideal da tinta sobre o bico, nesse caso um Speedball Hunt 100.

Limpeza e conservação

O bico deve ser mantido sempre seco, jamais deve passar tempo algum mergulhado
em água, nem que sejam poucos minutos (menos ainda o suporte de madeira, que ficará
estragado). Enquanto se trabalha com ele, pode-se ir apenas recarregando a tinta,
mergulhando-o no nanquim periodicamente, mas uma vez que a pena comece a não dar
partida, falhar ou apresentar problemas de traço, o procedimento ideal é tirar o excesso de
nanquim com pano, depois limpar com um pincel com álcool. Sugere-se o uso de pincel de
cerda (figura 11) como o Tigre 815 ou 816, Condor 457, ou similar entre tamanhos 3 e 6 ou
próximo a isso (prefira o menor possível para não desperdiçar o álcool). Normalmente corto as
pontas do pincel novo, pois são mais finas e tendem a se fragmentar e contaminar a fenda do
bico com restos de pelo que prejudicam a qualidade do traço. Use álcool absoluto
(encontrado em farmácias) ou 92,8º (hoje raro de se achar em mercados por estar proibido).
Enfim, use álcool o mínimo hidratado possível, com ele se pode retirar inclusive nanquim seco
Figura 11. Pincel de cerda usado para
incrustado, mas o ideal é jamais deixar que o nanquim seque, limpando com bastante
limpeza. Funciona mais como uma
frequência, a cada 3 ou 5 minutos pelo menos. pequena escova, por ter a força suficiente
para retirar partículas de nanquim seco.
Limpe pacientemente, retirando todas as crostas de nanquim seco que eventualmente
se formem, em movimentos na direção da ponta, atentando especialmente para a parte interna da fenda de fluxo, onde se deve limpar
com delicadeza, afastando ligeiramente as lâminas uma da outra e esfregando o pincel com álcool, tanto em direção à ponta quanto
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em direção ao reservatório, o que retirará eventuais fiapos de poeira ali fixados. Cuide para que a limpeza seja feita com álcool o mais
puro possível, e não com uma mistura do álcool com resíduos de tinta. Feito isso, deve-se secar com o pano que apresente o mínimo de
fiapos (como popeline, o mais recomendado, ou seda, viscose etc.). Qualquer fiapo submilimétrico que se fixe na fenda de fluxo é capaz
de alterar e espessar o traço das penas mais delicadas e talvez até das maiores penas, por isso após a secagem no pano será bom
passar os dedos ao comprido na pena, desde que estejam bem secos, sem oleosidade. Suavemente, usam-se os dedos desde a base
até a ponta, abrindo ligeiramente o bico, o que pode já retirar qualquer fiapo remanescente. Caso o traço esteja espesso quando se
retomar o uso, será necessário tentar retirar um eventual fiapo intruso com nova limpeza com pincel e álcool.

Um bico sempre limpo e bem conservado e guardado, usado com responsabilidade e sem manobras incautas nem excessos de
pressão, pode durar muitos anos e mesmo se apresentar problemas pode ser restaurado por lixadura e polimento. Uma vez que o bico
apresente vocação para um bom traço, vale a pena continuar investindo e restaurá-lo quando apresenta problemas de desgaste, que
são naturais. Para guardar, são preferíveis ambientes ventilados a fechados. Mas o mais deletério aos bicos são eventuais partículas
salinas da própria mão ou suor que permaneçam sobre o metal antes de ser guardado. Por isso o ideal é se limpar muito bem o
material com álcool, o que de algum modo já deixa o metal algo hidrofóbico, e não tocar mais a pele nele ao guardar. Pois é o sal que
praticamente magnetiza a umidade do ar, que pousando ali causará oxidação grave.

Seleção dos melhores bicos durante a compra – Sugestões de procedimento:

Analisar o bico com auxílio de lupa do tipo de joalheiro, aumento de ao menos 5X. Verificar se as pontas das lâminas estão
coincidentes e bem emparelhadas sob todos os ângulos, se não estão amassadas, se as lâminas estão bem justapostas ao longo da
fenda e se esta não está aberta; se a ponta está nova, polida, arredondada, sem oxidações, se ambas terminam à mesma altura.

APENAS para bicos delicados como Gillott 290 e Hunt 100: proceder a um suave envergamento (MUITO cuidadoso) da ponta do
bico, com a fenda de fluxo (lado convexo) virada para baixo, como na figura 12. Caso as pontas das lâminas permaneçam
emparelhadas, sem se cruzar, há mais probabilidade de o bico ter vocação para um bom e delicado traço e para bom desempenho nas
variações de espessura de traço, pois isso indica que o corte do bico não foi feito enviesado. Caso elas se cruzem facilmente sob
determinada pressão suave, como visto na figura 13, não significa que não servirá, mas a probabilidade de ser excelente é menor.
Todos os bicos cruzam lâminas sob uma determinada pressão, mas os melhores não cruzam sob essa pressão suave. Isso não é apenas
um teste, mas um aprimoramento: envergar um pouco faz as lâminas se unirem caso não estejam justapostas, e esse envergamento
pode ser necessário para fechar mais a fenda em bicos novos ou quando eventualmente a pena é usada e foi muito forçada a abrir.

Figura 12. Teste de cruzamento das lâminas: o bico é apoiado sobre uma superfície com o lado
côncavo (interno) voltado para cima e uma força suave é exercida para encurvar o metal na
região do reservatório.

Figura 13. As pontas das lâminas se cruzando sob pressão. De acordo com a facilidade com que
elas se cruzam sob determinada força leve, isso denuncia se o corte central está enviesado ou não.

Bicos de pena que não cruzam facilmente as lâminas são melhores porque o corte não é enviesado, e isso proporciona que,
durante o espessamento de traços, quando as lâminas se afastam, o desempenho do traço não mude, e mais importante ainda: quando
retornamos ao traço fino suavizando a pressão da mão, a pena retorna à posição original, com as lâminas bem emparelhadas, e
portanto traços finos feitos após traços espessos com esses bicos são os mais delicados possíveis. Caso contrário, no fim do
espessamento de traço, se o corte da pena for enviesado, as lâminas tendem a não se emparelhar tão bem e assim o traço não volta a
ser tão fino e delicado quanto é possível. É como se no retorno ao traço ultrafino a pena trouxesse uma espécie de reminiscência ou
memória do espessamento.

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Teste de qualidade dos bicos já selecionados e comprados – Sugestões de procedimento

Mesmo sendo novo, limpar bem o bico com o pincel com álcool e secar no pano. Embeber no nanquim (até a altura do
reservatório como visto na figura 10), traçar e verificar a espessura do traço (lembre-se sempre: use nanquim NOVO para testes do bico,
a tinta pode ser causa de falhas do traço). Um procedimento que ajuda a conseguir o traço mais fino possível é não manter o papel
apoiado sobre a mesa, mas sim levantar sua borda de modo que o papel fique um pouco “voando”, seguro pela outra mão. Desse
modo, quando o bico toca no papel, este retrocede e se encurva um pouco, agindo como um molejo ou amortecedor, ajudando a
atenuar a pressão que a mão naturalmente exerce. Após traçar um pouco com a primeira leva de nanquim agarrada à pena, mergulhar
novamente até que o nanquim se estabilize e agarre bem à pena (normalmente, no primeiro mergulho após limpeza ou algum tempo
sem uso do bico, o nanquim parece não querer agarrar à pena e não formar película, o que muda depois de mais mergulhos).

(Atenção: quando o bico de pena passa muito tempo sem uso após limpeza, pode parecer que não funciona mais tão bem
quando se o experimenta novamente, ou que não tem mais o traço delicado nem contínuo, mas às vezes basta apenas embeber outras
vezes no nanquim, ou se limpar com álcool novamente, mesmo que esteja limpo, e o desempenho parece assumir outra característica:
o bico que parecia não funcionar mais direito agora está como antes. Bicos de pena são cheios de humores, é preciso se acostumar)

Após o segundo mergulho, traçar novamente, e tentar espessar o traço exercendo suave pressão como na figura 2 (início da
apostila); depois disso, traçar uma ou duas vezes com o bico invertido e algo deitado (ou seja, do modo errado mesmo: lado convexo
voltado para o papel e bem inclinado, como na figura 12); depois disso voltar à posição correta, verificando se há alteração. Esse
procedimento ajuda a fazer com que eventuais partículas de poeira na fenda de fluxo (no lado superior da pena, convexo) sejam
levadas para fora do bico junto com a tinta. São partículas que dificilmente sairiam de lá com uso do traçado normal, por causa da
posição de uso correto do bico que não facilita que elas saiam. Caso o traço esteja espesso, envergar novamente a pena invertida como
na figura 12, curvando-a primeiro suavemente e depois com firmeza sobre o papel, exercendo pressão para o metal se amoldar (com
tinta mesmo – às vezes há cruzamento e borrifos). Traçar novamente com a pena em posição correta (lado convexo e fenda de fluxo
para cima). Esse procedimento visa a ajustar as lâminas caso a fenda esteja algo aberta, como já dito. Alguns bicos já passarão a ter o
traço ideal apenas com esse envergamento, mas ainda podem precisar de polimento para suavizar o atrito da ponta com o papel.

Procedimentos de aperfeiçoamento de bicos novos ou restauração dos usados ou gastos

1. Lixadura da fenda de fluxo (pode ser feita sem lupa apenas se não se aproximar da ponta):

Caso o envergamento sugerido anteriormente não surta efeito, é preciso passar a esse processo de lixar. IMPORTANTE: SEMPRE
limpe o bico com álcool após cada lixadura, antes do teste do traço. Resquícios de poeira metálica da lixadura podem espessar o traço.
O bico pode já estar perfeito, mas a falta de limpeza não permite que vejamos que já funciona bem.

O primeiro e mais importante procedimento de lixadura é o da fenda


de fluxo. A intenção é tornar o fluxo raso lixando a superfície da fenda. Com
isso, a fenda deixará passar um “rio” mais delgado de nanquim, com menos
tinta, em um filete mais fino que propicia o traço mais delicado. Essa lixadura
deve sempre ser feita na transversal, ou seja, perpendicular à direção do fluxo,
com lixa d’água (carbureto de silício ou óxido de alumínio) 1200, enrolada em
forma de tubo para evitar que a ponta seja lixada, como indicado na figura 14.
Deve-se lixar toda a fenda de alto a baixo, mas sempre transversalmente, de
um lado para o outro, até a superfície acima da ponta, cuidando de evitar lixar
a ponta propriamente. O cuidado mais importante, além desse, é verificar se
durante TODA a lixadura ambas as lâminas estão perfeitamente emparelhadas
na fenda de fluxo, caso contrário poderá ser forjada uma diferença de altura,
um degrau entre as lâminas na superfície da fenda, o que traz sério prejuízo
ao desempenho do bico. Mantenha as lâminas perfeitamente emparelhadas
Figura 14. A lixadura da fenda de fluxo é feita no lado
com um dedo apoiando e firmando a ponta do bico pelo lado côncavo
convexo, com a lixa enrolada em forma de tubo. As setas
enquanto lixa o lado convexo. Quando se lixar a fenda na porção próxima da
indicam o sentido correto em que a lixadura deve ocorrer.
ponta e em sua porção derradeira deve ser usada necessariamente a lupa de
amplo aumento (pelo menos 15X) para evitar erros graves. A lixadura da fenda nessa porção terminal é a mais importante, é ela que
determinará um bom traço. Muitos bicos podem apresentar o traço ideal já nesse passo, precisando agora apenas do polimento suave
de redução de atrito na própria ponta, conforme descrito nos tópicos adiante.

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2. Lixadura da ponta propriamente dita (sob lupa):

Caso o traço já esteja mais delicado, é preciso verificar sua constância. Se flui com facilidade, se não apresenta interrupções ou
falhas de traço ou se o bico não está friccionando demais o papel. Além disso, muitas vezes, mesmo com a lixadura da fenda, o traço
fica impossível de ser mais delicado. Em todos esses casos, é preciso passar ao procedimento mais arriscado de todos: lixar a ponta.
Deve-se tomar todo o cuidado aqui e sempre trabalhar pausadamente, sem
provocar mudanças bruscas na escultura da ponta. Vamos tratar de dois casos:

2.1. No caso do traço estar ainda espesso, apesar da lixadura da fenda, é preciso
usar um procedimento mais drástico: partir para desbastar a lateral das lâminas
(pode-se usar lixa 600) como indicado na figura 15, deixando as pontas mais finas,
mas sempre ajustadas uma à outra no contato na fenda, e sempre arredondadas na
microporção final. A ideia sempre é torná-las finas sem exagero, mas arredondadas
na porção terminal. A lixa 600 é usada para desbastar as laterais das lâminas até as
pontas e assim afiná-las. Quando se trabalha na ponta propriamente dita, sempre se
usa a 1200 ou 1500. Toda a superfície de cada uma das pontas deve ser mais ou
menos arredondada, evitando-se qualquer resquício de micro aresta (quina). Apesar
disso, ambas as pontas juntas ficam perfeitamente ajustadas, pareadas e se tocando
até o fim na região da fenda, e formam um continuum, uma ponta única com toda
a superfície polida e arredondada como visto em microscópio na figura 16.
Figura 15. A lâmina é lixada em sua porção lateral
para afinar a ponta, mas sem deixá-la aguda como
A seguir passa-se ao procedimento 2.2 e ao 3, mas além de polir o interior das
agulha. A característica principal desses modelos
pontas (MUITO cuidadosamente e pouquíssimo), desbastam-se as arestas que
Gillott 290 e Hunt 100 é ter a (micro) ponta redonda.
eventualmente haja em outras porções da ponta. A lixadura não deve tornar a
ponta do bico absolutamente aguda. Ambas as pontas, unidas, devem formar na sua micro-porção final um desenho mais ou menos
circular quando visto sob a lupa, as pontas em alturas iguais, perfeitamente simétricas com seu centro absolutamente justaposto
(jamais formando um “V” entre ambas), como se vê na figura 16.

2.2. No caso do traço já estar delicado, a intenção é apenas polir a ponta, lixar com muita
suavidade para retirar rebarbas, tornar a ponta deslizante e o traço “macio”. Qualquer
excesso aqui pode por todo o trabalho de lixadura a perder, obrigando a voltar a etapas
anteriores. Praticamente todos os bicos (Hunt 100) precisarão de polimento ao final da
lixadura, ou mesmo se forem novos e não tenham precisado ser lixados. Eles têm a
natural vocação de fábrica de “enganchar” nas fibras do papel (por mais liso que o papel
seja), criando no traço “micro-borrifamentos” laterais indesejáveis. Para se evitar isso, o
procedimento é abrir ligeiramente o bico e passar a um polimento ultra-suave com a lixa
1200. Esse polimento é feito no interior das pontas, no ponto onde elas se justapõem e
onde tocam o papel. Isso deve ser feito com muita cautela e vez a vez. Deve-se “pincelar”
a lixa de forma suave em cada uma das pontas do bico, do modo mais leve possível, com
a lixa solta no ar, suavemente “acariciar” o metal apenas algumas poucas vezes até sentir
e observar sob a lupa que as micro rebarbas foram levemente polidas, e depois testar o
traço, sempre limpando antes. A ideia é que se arredondem ambas as pontas em toda
sua superfície, sem contudo desajustá-las, ou seja, mantendo o contato perfeitamente Figura 16. Pontas das lâminas sob lupa em
justaposto de ambas até quase absolutamente a derradeira ponta. Como ambas estarão grande aumento (lado convexo): perfeitamente
arredondadas, impossível que se toquem até o fim, mas o arredondamento final é justapostas em seu contato na porção central
praticamente de ordem nanométrica, um micro-arredondamento que deixa um nano-“V” onde está a fenda, simétricas, arredondadas e
final, quase invisível mesmo sob lupa. Pode-se também, para fazer isso, traçar sem rebarbas ou quinas, com a fenda de fluxo
formando um fino e uniforme filete
diretamente sobre a própria lixa, com muita suavidade, em traços curtíssimos (0,5 mm de
principalmente no derradeiro final.
comprimento – sim, meio milímetro), com extrema delicadeza, no máximo duas vezes e
depois testar no papel. Importante alertar: JAMAIS LIXE AS FACES INTERNAS DAS LÂMINAS, DENTRO DA FENDA ONDE ELAS SE JUSTAPÕEM.

3. Polimento interno das pontas com o próprio papel:

Às vezes, o resultado do traço já é muito satisfatório, e pode haver o receio de o estragarmos se for polido de novo com lixa.
Quando esse medo surge, é sinal de que é melhor evitar mexer mais, e então passa-se ao polimento com o próprio papel. Deve-se
traçar no papel com certa firmeza, abrindo as pontas, em traços longos, com o nanquim fluindo em traços espessos, mas sem exageros,
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sem excessos de velocidade e de pressão, sem zigue-zagues drásticos. O próprio papel tratará de trazer a suavidade necessária ao bico,
mas isso pode ser mais demorado e necessitar ser feito muitas vezes (use a intuição para saber se deve continuar com o polimento de
papel ou se pode ainda polir um pouco mais com a lixa, sempre com muita suavidade e cautela). De fato, ao longo do tempo e do uso
responsável, quanto mais se usa, mais perfeito e suave se torna o bico, exatamente por esse polimento dado pelo uso sobre papel.

4. Traço perfeito, mas sem “partida”:

Às vezes o bico pode estar com um traço excelente, mas parece “engasgado”, e por mais que esteja recém-abastecido com
nanquim, não dá início ao traço, e tem-se que insistir sobre o papel até que o nanquim flua. Isso é o chamado problema de “partida”,
em que o bico não “pega”, e tem que “ir no tranco”. Essa é geralmente uma das últimas providências de lixadura necessárias e deve ser
feita com extrema cautela. O bico com nanquim é pousado sobre a própria lixa na posição normal de traçar e aberto ligeiramente pelo
efeito de uma suave pressão da mão (sem deslizar, apenas se pousa e se exerce força suave para que as lâminas se afastem um pouco
na ponta derradeira). Isso forma uma gotícula sobre a lixa devida à pressão, e depois o bico é retirado do papel num movimento firme,
vertical, em que as lâminas se fecham e são lixadas apenas na porção interior da ponta. A ideia é ampliar minimamente o micro “V” que
existe quase invisivelmente no ponto de contato das pontas extremas. Isso tende a ampliar a área de contato da tinta com o papel na
derradeira ponta, abrindo o “delta” do bico de pena na “foz” do fluxo. É essa lixadura que faz com que o bico sempre tenha uma micro-
gotícula de tinta pronta para aderir ao papel e dar início ao traço, puxando o resto do rio para baixo por viscosidade da tinta. Em
âmbito microscópico, a tinta é praticamente uma cola suave e temos que compreender isso para fazer uso desse conhecimento na
detecção e diagnose dos problemas da pena.

Proposta de exercício pré-curso

Visa a desenvolver, previamente ao curso,


a prática de traços paralelos. Deve-se usar uma
lapiseira fina, 0,3 ou 0,5 mm, e uma folha A4; faça
traços na diagonal conforme sugerido na figura
17, de forma que no início, enquanto estão no
canto da folha, serão curtos, e ao chegarem à
diagonal da folha alcançarão grande extensão.
Deixe a mão e o braço soltos e confortáveis, e
fique consciente da postura corporal global; deixe
que o corpo se sinta bem e relaxado e a
respiração esteja natural. Não se preocupe em
acertar, mas apenas em se permitir absorver pela
prática. Durante o exercício é altamente
recomendável o treino da respiração abdominal
(diafragmática) e relaxada (aquela em que o
umbigo se desloca para frente e para trás). Todos
os movimentos podem envolver dedos, punho e
Figura 17. Sugestão de exercício pré-curso para a prática de hachuras, com lapiseira, sem as
antebraço ao mesmo tempo, mas em alguns
preocupações com os melindres do bico de pena e da tinta nanquim.
pode haver mais ênfase em uma das porções do
braço ou da mão. De qualquer modo, não é preciso, por exemplo, “travar” o punho para movimentar apenas os dedos ou algo assim,
deve-se deixar que o movimento seja fluido. Para isso, basta concentrar-se em fazer o traço no comprimento adequado ao local da
folha, paralelo ao traço anterior, e deixar que o movimento de mão se dê automaticamente.

Nos traços mais curtos se exercita (principalmente) o movimento isolado dos dedos que seguram a lapiseira, a seguir, com
traços menos curtos, se pode exercitar (principalmente) o movimento de punho e finalmente nos mais longos se exercita
(principalmente) o movimento de todo o antebraço, com o cotovelo apoiado firme e o braço se movendo à semelhança do que ocorre
com o compasso: um ponto de apoio e um ponto móvel. Os traços devem ser bem paralelos. Inicialmente podem ser ligeiramente
curvos e/ou retos, com distância entre si de cerca de 2 mm, se possível. À medida que se avança no exercício, procurar aproximar os
traços e em seguida ir mantendo distância constante entre eles, até cerca de 1 mm e ainda menos, chegando a 0,5 mm se possível. A
seguir também se pode voltar a aumentar a distância entre os traços. A dica para conseguir um paralelismo cada vez melhor é fixar o
olhar no traço feito anteriormente, e não o que está sendo traçado agora. Ao mesmo tempo é possível de algum modo permanecer
atento a ambos, pois o traço novo está acontecendo logo ali ao lado, mas o foco principal do olhar é no traço guia já feito, aquele que
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queremos seguir para criar um novo traço paralelo a ele. Usando essa técnica, a mão que realiza o traço atual tende a seguir até
pequeninas curvas e desvios do traço feito anteriormente, e no fim, com alguma prática, um traço acompanha perfeitamente o outro.

Depois do treino com traços retos e/ou suavemente curvos, aumentar a curvatura para ambos os lados e também acrescentar
sinuosidades e curvas mais drásticas, procurando sempre manter o paralelismo e aproximar os traços gradualmente. Uma dica é
encontrar a velocidade ideal que permita obter bom controle do paralelismo (nem muito rápida nem muito lenta – varie até os
resultados serem eficientes) e procurar manter a velocidade constante desde o início até o finzinho. Após alcançar uma velocidade
adequada, concentre-se em manter o ritmo traço após traço. Atente também para que a pressão da lapiseira exercida sobre o papel
seja uniforme ao longo do traço. Preencher várias folhas até sentir que há um controle prático. Sugestão: trabalhe de 30 a 40 minutos
por dia (ou mais, se estiver bem) todos os dias, até o início do curso. Brinque com as formas para que o exercício seja estimulante e não
entediante. Esse exercício é uma exigência e devem ser apresentados todos os resultados na chegada ao curso, desde a prática inicial,
para que o próprio artista perceba seu desenvolvimento.

Método de exercícios e modos de representação


(para a prática do tracejado e para aumentar a desenvoltura no manuseio do bico de pena)

Esses exercícios propostos na figura da folha final não são exigidos previamente ao curso (mas podem ser feitos antes, à vontade,
usando-se bico de pena e nanquim), Tudo isso é apenas uma prática sugerida para depois de se conhecer o conteúdo e demonstrações
que serão fornecidos na oficina. As práticas sugeridas seguem uma ordem de complexidade e dificuldade crescentes e são propostas
como soluções para os diversos tipos de representações necessárias, entre os mais freqüentes demandados para a ilustração e
representação pictórica especificamente de botânica, mas úteis em uma vasta gama de outras situações. Não é preciso se limitar a fazer
os traços dentro de quadrados, nem seguir orientação absolutamente vertical como nos exemplos. A sugestão é que se use os
exemplos para fazer exercícios relaxados, com traços na forma, extensão e orientação que se desejar (use a criatividade e não se apegue
nem se encaixote no que enxerga aqui, faça abstrações).

A distância entre os traços deve ser suficiente para manter a uniformidade do campo preenchido. Tanto traços muito distantes
quanto muito unidos prejudicam a impressão visual de uma uniformidade no padrão. A linguagem do tracejado trabalha
essencialmente com padrão e quebra de padrão, o que é muito bem captado e interpretado pela visão quando feito corretamente, daí
a necessidade de se esmerar na produção da uniformidade nos padrões.

Pode-se e deve-se tentar variar início e sequência: começar o traço vindo de cima em vez de vindo de baixo, e fazer o traço
paralelo à esquerda do traço anterior e não fazer sempre apenas à direita (canhotos devem inverter essa frase). Verifique sempre qual
o procedimento que permite mais facilidade técnica.

Anote junto ao seu estudo o número correspondente ao exemplo seguido. Após concluir todos, ou muitos estudos, a sugestão
é que sejam feitos exercícios absolutamente soltos e despretensiosos, inventando formas ou representando coisas reais, em que se
permita que todos os padrões incorporados surjam espontaneamente, completando-se e mesclando-se com liberdade, sem censura,
de modo que o aprendizado prático e a sedimentação de técnica se deem sozinhos.

Índice e explicação de cada prática (lembre-se de aplicar zoom ao arquivo em PDF para ver a figura em bastante detalhe)

1. Os traços equidistantes começam de baixo, mais espessos, e tornam-se mais delicados em direção ao alto. Pode ser feito de cima para baixo também,
para teste da pena e do conforto com a técnica, começando-se sempre com o traço mais espesso.

2. Os traços equidistantes mantêm a mesma ultradelicadeza durante toda sua extensão, sem espessamentos iniciais nem finais.

3. No princípio os traços, da mesma espessura ultradelicada, são mais unidos e se afastam gradualmente, depois voltam a se unir.

4. Sempre equidistantes, no princípio os traços são mais espessos, mas se afinam gradualmente, para depois se espessarem novamente. Conseguir variar
a pressão sobre a pena muito gradualmente é um treino de extremas concentração e precisão.

5. A mescla de 3 e 4, os traços começam espessos e unidos, se afastam e se afinam e depois voltam ao que eram no início.

(exercícios de 1 a 5: múltiplas aplicações na representação de formas)

6. O processo é o mesmo do tópico 4, mas os traços são duplicados, feitos aos pares, de forma que a distância entre os pares seja maior do que a
distância entre ambos os traços de cada par. A sequência é: um traço + outro traço + espaço que um traço ocuparia.

(de 6 a 10, lembre-se sempre de se concentrar também em espessar mais no início e no fim)

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7. Idem ao anterior, mas o traço esquerdo (pode ser o direito também) de cada par é mais delicado que o outro traço.

8. Idem ao anterior, mas com dois traços delicados e um mais espesso: dois traços delicados + um espesso + espaço de um traço.

(exercícios de 6 a 8: aplicação útil por ex. em representação de estruturas com nervuras paralelas)

9. Idem ao tópico 4, mas com traços de extensões diferentes: um traço longo, um curto, um longo, um mais curto, um longo, um curto etc. Procurar
aproximar mais os traços do que no tópico 4.

10. Idem ao tópico 9, mas primeiro são feitos todos os traços longos, com distância pequena entre eles, mas que permita inserir novo traço, e só depois
de todos feitos se inserem os traços curtos e mais curtos, alternados, entre os traços já prontos.

(exercícios 9 e 10 aplicáveis por ex. em representações de diferença de cor numa mesma estrutura ou em escurecimentos posteriores; nesse último caso
com parcimônia, pois é difícil evitar as manchas, acréscimo de traço no espaço é alteração drástica).

11. O padrão básico é de traços ultradelicados e equidistantes; fazem-se vários traços em padrão, deixa-se o espaço de um traço, em seguida um traço
espesso, um traço ultradelicado colado ao traço espesso e retorna-se ao padrão geral.

(11 aplicável por ex. em faces de estruturas com nervuras proeminentes, salientes)

12. Processo oposto e complementar ao anterior: padrão básico de vários traços ultradelicados, um traço mais espesso colado ao delicado anterior,
espaço de um traço, retorno ao padrão básico.

(12 aplicável por exemplo em faces de estruturas planas com delicadas nervuras impressas, como pétalas, folhas, alguns caules etc.)

13. Inicia-se pela fileira superior, com traços curtos feitos de baixo para cima, espessos no início e logo tornados delicados; passa-se à fileira de baixo
efetuando o mesmo, com a pena “voando” do papel em seu final, tocando ou quase tocando, já com um traço ultradelicado, a região da fileira anterior
onde há os traços iniciados espessados.

14. Semelhante ao anterior, mas com a direção alterada: os traços agora acompanham o sentido das marcações de sulcos, começando mais delicados e
terminando mais próximos e espessos, num processo semelhante ao tópico 5 e/ou ao 12. ATENÇÃO: em variações desse exercício a curvatura deve ser
bem aumentada, e também virada para ambos os lados, detectando-se as dificuldades técnicas da efetuação de curvas para cada lado e procurando
soluções.

15. Semelhante ao anterior, mas aqui os traços de marcação são feitos antes de tudo, sinuosos e ligeiramente espessados no meio. Importante reparar
que os traços de sombra em padrão evitam acompanhar a sinuosidade e se mantêm paralelos, sendo contudo espessados ou afinados (e interrompidos
com o “voo” da pena), aproximados ou afastados onde for necessário alterar o tom.

(13 a 15 aplicáveis em diversas situações de nervuras ou marcas impressas em superfícies de estruturas planas ou buladas)

16. O traço se inicia ultradelicado, se espessa na região central e retorna ao traço ultradelicado. O espessamento pode ir variando sua localização. Deve
ser feito esforço concentrado para manter os traços bem retos e paralelos durante o espessamento, neste e no tópico seguinte.

17. Oposto ao tópico 1: seja de cima para baixo ou de baixo para cima, o início deve ser delicado e o final espessado. Traços não precisam ser
equidistantes como em 1, podem se aproximar no início e fim. Atenção às marcas na retirada da pena do papel no fim.

18. Idem ao tópico 16, mas no espessamento se desvia o traço realizando uma curva, depois retornando ao padrão reto anterior ao desvio. A curva pode
ser para o lado preferido, mas o ideal é experimentar ambos os lados para testar e dominar a técnica.

19. Um anti-exercício: opostamente ao anterior, o traço se inicia espessado, e durante a curva do desvio, procura-se tornar o traço delicado, como NÃO
se vê no exemplo. Isso é contra o funcionamento da pena, que precisa de espaço e posição favoráveis para que o traço fique delicado depois do
espessamento.

20. Os traços começam ultradelicados ao máximo e terminam, com a pena “voando” do papel, mais delicados ainda (impossível mas factível); primeiro
vem-se de um dos extremos em direção a um centro e depois parte-se do outro extremo em direção ao mesmo centro, evitando a emenda dos traços,
deixando um “corredor de luz”. Praticar também a perfeita emenda dos traços no centro.

21. Oposto ao anterior: primeiro os traços partem do centro, ultradelicados, “voando” do papel ao chegar ao extremo, como se vê no exemplo à
esquerda. Depois, com a mesma ultradelicadeza, inicia-se a partir do mesmo traço, fazendo a emenda, para o outro extremo, “voando” também ao final.
Os traços podem iniciar formando ziguezague como se vê à esquerda do exemplo, para ajudar a minimizar a marca da emenda. A dica é, na emenda,
não iniciar sobre o traço já feito, mas no espaço ao lado do início dele.

22. Efeito idêntico ao anterior, com mais ultradelicadeza ainda: a pena entra e sai “voando” do papel, formando degradê em todo o perímetro da
intervenção. Praticar também espessar algo mais na região central, deixando o início e o fim sempre ultradelicados.

23. Proposta semelhante ao tópico 11, mas com o acréscimo de uma 2ª ordem de traços de marcação (“nervuras”) mais curtos e transversais. Os traços
são paralelos à marcação de 1ª ordem, mas se interrompem gerando espaço curto e uniforme ao encontrar os traços da 2ª ordem, “voando” do papel ao
se aproximarem destes. O acabamento do padrão é favorecido quando se faz o mesmo traço longo-interrompido até o fim e depois volta-se ao início, e

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não fazendo vários traços curtos lado a lado. Importante reparar que, ao se aproximar o traço longo-interrompido de outro traço de marcação de 1ª
ordem, pode cessar a interrupção e se constituir um traço único, propiciando a impressão de gradual redução de saliência associada às marcações de 2ª
ordem.

24. Complemento do tópico anterior, esse exercício inverte o efeito, como se fosse o lado oposto da mesma folha e de suas nervuras. Mas para
diversificação do treino, o sentido dos traços aqui é paralelo às marcações de 2ª ordem, seguindo nessa proposta determinação semelhante à dada pelo
tópico 12, qual seja: padrão, traço menos delicado colado ao anterior, espaço de um traço (aqui trocado por um ou mais traços algo encurtados),
padrão.

(23 e 24 aplicáveis por ex. em representação de faces abaxial - “inferior” - e adaxial - “superior” - de folhas com nervuras secundárias salientes, nervação
reticulada - padrão de rede).

25. As estruturas “intrusas” transversais são feitas antes de tudo, mas delas apenas o traço inferior (procurar fazer bem transversas ao sentido que terão
os traços paralelos de fundo). Os traços paralelos, feitos de baixo para cima em padrão uniforme ultradelicado, são interrompidos ao encontrar o traço
de marcação da estrutura, e continuados algo acima do traço, deixando um considerável espaço. Uma concentração cuidadosa deve ser voltada a
manter inalterado o traço antes e depois da interrupção (ou seja, manter o padrão), a fim de evitar marcas artificiais que possam produzir efeito de
sombra indesejada. Nos tópicos 25 a 28 pode-se usar uma suave marcação a lápis para a margem em branco, que será apagada depois (suave: papéis
de nanquim apagam mal o lápis).

26. Proposta semelhante ao anterior, mas com as estruturas intrusas menos transversas, ou seja, mais próximas à inclinação dos traços paralelos de
fundo. Propõe-se também que o padrão de fundo se escureça gradualmente. Nesta inclinação, a margem superior dos intrusos determinada pelo
espaço branco fica algo prejudicada por um efeito de “escada” ou “picote”, como se vê na estrutura intrusa mais à esquerda, no alto e mais
evidentemente em todas do tópico seguinte. A solução se vê na estrutura intrusa mais central e naquela à direita, em que o traço de fundo, após a
interrupção, reinicia descrevendo uma micro-curva em direção ao traço anterior, sem porém tocá-lo, propiciando integridade não picotada à margem
formada por espaço branco. Leve em conta que o “erro” do surgimento de picote pode ser um efeito útil em casos em que a estrutura apresenta essa
aparência na margem.

27. Proposta semelhante ao anterior, mas com um padrão de fundo de proposta semelhante ao tópico 12, escurecendo-se ao final. Também há o
acréscimo das sombras das estruturas intrusas, sombra que nas 3 estruturas superiores se cruza com os traços paralelos e nas 2 inferiores, com traços
curtos inter-paralelos, se insere entre os traços do padrão (diferença imposta a título de treino). Atente ao fato de que a sombra se “entorta” suavemente
mais ou menos de acordo com o relevo do fundo. Não é preciso se preocupar com o picote aqui, mas pode-se optar por corrigi-lo.

28. Proposta idêntica ao tópico 25, mas com a única alteração de o traço de marcação das estruturas intrusas ser feito em sua margem superior, assim o
padrão feito de baixo para cima é interrompido no vazio e continuado a partir do traço de marcação. Verificar qual das duas formas parece mais fácil de
ser feita para determinar uma margem homogênea dada pelo espaço branco.

(25 a 28 aplicáveis em diversas situações em que estruturas delgadas ou filiformes se sobrepõem a fundos lisos ou padronizados, como por ex. tricomas
– pêlos – vistos em grande aumento, estames/anteras diante de pétalas, caules à frente de folhas etc. A correção dos picotes é muito útil em casos em
que se pretende deixar filete de espaço marcando a margem de uma estrutura)

29. Estrutura globóide ou em forma de taça: os traços são sempre paralelos e mantidos verticais, independentes da forma da estrutura, que é dada pelo
espessamento ou delicadeza do traço em seus locais pertinentes.

30. Mesma proposta do anterior, mas aqui os traços se iniciam com tendência à mesma curvatura da margem da estrutura, e vão gradualmente se
desinclinando até chegar ao meio onde assumem inclinação mais ou menos vertical, e depois gradualmente tendem a ir se encurvando e inclinando
para o outro lado, direcionados pelo traço da margem oposta onde a intervenção acabará.

31. As marcações principais são feitas antes de tudo, com traços algo espessos que iniciam verticais e se curvam. Buscar continuidades e
descontinuidades com outros traços de marcação, como se vê no exemplo, atentando ao fato de que as marcações não se encontram, os traços não
“fecham”, fica um pequeno espaço. Depois se procura preencher com um padrão o interior do espaço delimitado por cada marcação, começando na
região onde fica a curva, atentando-se a manter o espaço branco coerente com o deixado pelas marcações. Opostamente ao tópico 23, propõe-se
preencher cada espaço separadamente e concentrar-se em manter o padrão uniforme apesar de trabalhar em compartimentos.

32. Proposta idêntica à do tópico 27, mas aqui como que “miniaturizada” ou vista em menor aumento, sem necessidade do padrão de fundo com sulcos
(mas pode ser feito por opção de treino). Os traços de sombra de pêlos podem e devem ser feitos todos na transversal do padrão de fundo.
Desnecessária eventual correção de picote.

33. Proposta idêntica à anterior, mas ao invés de estruturas delgadas e filiformes como tricomas, se acrescentam pequenos traços “meia-lua” a fim de
representar superfície verrucosa. O padrão básico se interrompe do mesmo modo ao tocar as pequenas marcas, reiniciando e deixando o espaço em
branco acima da “meia-lua”, de modo a descrever a impressão de uma micro-esfera. Depois se acrescentam micro-intervenções em um traço curtíssimo
dentro da esfera, no canto inferior, e outro micro-traço abaixo dela.

34. Uma mescla dos tópicos 10 e 33, mas aqui as “meias-luas” são maiores e não se pretendem verrugas ou esferas por não haver a parte superior em
branco, mas seriam apenas marcas que poderiam ser de cor, textura ou relevo suave. As marcas são feitas a partir de intervenções em traços curtos
interparalelos que juntos descrevem o formato semicurvo.

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35. Proposta que inverte o efeito do tópico 33: os traços de marcação em forma de “meia-lua” (sugere-se que sejam mais amplos do que no exemplo
33) são curvados ao contrário, e os traços paralelos que determinam o padrão são interrompidos antes de chegar às marcações, e reiniciados colados à
marcação, descrevendo a impressão de concavidades semi-esféricas em uma superfície (“furos”). Depois se preenche o interior de cada concavidade
com micro-traços de sombreado. Sugestão: após terminar, vire a folha de cabeça para baixo e veja que impressão passam as concavidades agora.

36. Proposta inicialmente idêntica ao tópico 5. Depois se fazem traços paralelos ligeiramente inclinados em relação ao padrão anterior, o que
determinará o surgimento de um padrão imprevisto dado pelos cruzamentos e pelos espaços losangóides. Tal padrão aparece menos claramente no
lado esquerdo do exemplo e bem evidente no lado direito, onde o novo padrão se inclinou algo mais. À medida que a inclinação aumenta, esse novo
padrão desaparece e a uniformidade se estabelece, o que permite que se use o cruzamento para escurecimentos posteriores necessários (usados com
parcimônia, pois tendem a “sujar” os efeitos).

37. Proposta que mescla mais ou menos os tópicos 34 e 35, mas aqui as marcas em forma de meia-lua são feitas com traços cruzados bastante
transversalmente ao padrão básico de fundo.

38. O padrão uniforme básico é quebrado por um padrão de faixas de traços mais unidos, de absoluta uniformidade, evitando-se ao máximo o
surgimento de quebras súbitas de claro ou escuro que delimitem algum relevo: a intenção é criar a impressão de alteração da cor, mas não da forma,
que se manteria plana.

39. Os traços representariam tricomas e, sendo curvados para cima no exemplo, determinam que os inferiores devam sempre ser feitos primeiro, pois
tomarão a frente dos superiores. Também se propõe no exemplo a visão do lado direito de uma superfície curva globóide, o que sugere que os traços
da esquerda sejam feitos em primeiro, pois tomam a frente dos da direita. O importante é, seguindo essa ordem, interromper o traço antes que ele
encontre outro tricoma, deixando o espaço em branco que sugerirá espessura do pêlo, e continuar com o traço reiniciando colado ao traço da margem
inferior do tricoma.

40. Proposta em essência semelhante ao anterior, aqui se procuram fazer primeiro as linhas que representariam folhas que vêm mais ou menos em
direção ao observador (as centrais, que formam semielipses fechadas). Sendo voltadas para baixo, tomariam a frente das inferiores, por isso se fazem
primeiro as de cima. Depois, ambos os lados se completam, acrescentando as diversas linhas que representariam outras folhas, em semielipses mais
abertas à medida que se localizam mais lateralmente em relação ao observador. Da mesma forma, se interrompe o traço em um dos lados antes de
chegar ao traço, deixando em branco o espaço, e do outro se segue com o traço colado à folha encontrada; ou inversamente (dependendo da posição
da folha) se interrompe colando o traço e se continua deixando o espaço.

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(a se escolher a mais adequada ao momento)
Tópicos de 1 a 3, 5, 37 Exercícios de hipnose moderada
Tópicos de 6 a 8, 11 a 15, 17, 18, 20 Exercícios de hipnose profunda
Tópicos 4, 9, 10, 16, 21 a 24, 29 a 31, 34, 36, 38 a 40 Exercícios de concentração doentia
Tópicos 25, 26, 28 Exercícios de consolidação da insanidade
Tópicos 27, 32, 33, 35 Exercícios de enlouquecimento pleno
Tópico 19 Fora de categoria (teste de vocabulário de palavrões)

Agradeço muito por prestigiar


esse trabalho e estudá-lo.
Desejo-lhe muito sucesso na sua
prática e desenvolvimento com
esse material fascinante!

Rogério

©Rogério Lupo 2018 – Todos os direitos reservados. Venda proibida. Distribuição gratuita.
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