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Melhores Praticas CCR Parte 1
Melhores Praticas CCR Parte 1
ÁREA DE ENERGIA
DS HENRIQUE VALLADARES
MELHORES PRÁTICAS
NOVEMBRO DE 2005
Versão 01
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CONCRETO ROLADO
INDICE
1 - INTRODUÇÃO
2 - UM POUCO DE HISTÓRIA
4 - MATERIAIS
4.1 - AGLOMERANTES
4.1.1 - Cimento
4.1.2 - Material Pozolânico
4.1.3 - Escoria de Alto Forno
4.1.4 - Sobre o Emprego das Adições
4.1.5 - O Cartel dos Aglomerantes (Cimento & Adições)
4.2 - AGREGADOS
4.2.1 - Aptidão
4.2.2 - Tamanho Máximo e Fracionamento
4.2.3 - Agregados Miúdos e Fillers
4.4 - DOSAGEM
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5.3 - TRANSPORTE
5.3.1 - Transporte por Caminhões
5.3.2 - Transporte por Correias
5.3.3 - Transporte por Gravidade - Chutes
5.3.4 - Transporte por Gravidade – Vacum Chutes
5.5 - FÔRMAS
5.5.1 - Fôrmas Trepantes
5.5.2 - Fôrmas Deslizantes
5.5.3 - Placas Pré-Moldadas e Membrana Interna
5.5.4 - Paramento com Membrana Externa
5.5.5 - Galerias e Shafts
5.5.6 - Fôrma Metálica Desmontável
5.5.7 - Pré-moldado Temporário
5.5.8 - Concreto E xtrudado
7 - BIBLIOGRAFIA
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1 - INTRODUÇÃO
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2 - UM POUCO DE HISTÓRIA
O termo “concreto compactado com rolo - CCR”, ou simplesmente “concreto
rolado”, refere-se a técnica de construção que combina as vantagens dos
processos construtivos de terraplenagem com as excelentes propriedades do
concreto, como resistência e durabilidade. Quando produzido continuamente,
possibilita economizar tempo e custos na construção de estruturas massivas e
pavimentos.
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quantidade de água como sendo aquela correspondente à umidade ótima
segundo o ensaio de compactação pelo método de Proctor Modificado.
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No inicio da década de 80 o emprego do CCR generalizou-se no mundo,
destacando-se como pioneiras as barragens de Shimajigawa no Japão e Willow
Creek nos EUA.
Figura 02: Saco de Nova Olinda, 56 m – a primeira barragem em CCR da América do Sul.
Seu volume de 138.000 m3 foi aplicado num período de apenas 110 dias, com
pico de produção de 2.500 m3/dia. O método de construção utilizado foi
amplamente divulgado e diversos trabalhos técnicos sobre a barragem foram
publicados no Brasil e no exterior. A simplicidade do método construtivo e seu
potencial tornaram-se óbvios: Uma usina de solos tipo pugmill foi adaptada para
misturar o concreto; caminhões caçamba comuns (4 a 6 m3) para transporte do
material; espalhamento e compactação com equipamentos usuais de
terraplenagem; e fôrmas muito simples nos paramentos. O traço de CCR
apresentava 70 kg/m3 de cimento pozolânico, e o teor de finos da mistura de
agregados foi ajustada com a adição de silte natural.
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Figura 03 Barragem de Capanda – Angola, 110 m de altura e 1.420 m de extensão.
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Alguns recordes em CCR:
No Mundo:
No Brasil:
Figura 06: Barragem de Santa Cruz do Apodi, com 1.660 m de comprimento – RN.
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3 – ALGUNS ASPECTOS SOBRE PROJETO DE BARRAGENS EM
CONCRETO ROLADO
A barragem foi zoneada quanto ao teor de aglomerante, que variou de 104 kg/m3
à montante, 67 kg/m3 no núcleo e 151 kg/m3 à jusante. Não foram previstas juntas
de contração. O enchimento do reservatório foi iniciado em 1982, numa primeira
etapa até a metade da sua altura total. Infiltrações foram detectadas em fissuras e
nas juntas entre camadas, que somaram 189 l/s para uma coluna d’água de 14,7
m. Dois meses depois a vazão total percolada era da ordem de 150 l/s.
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• 29,3 l/s após o primeiro ano;
• 21,5 l/s após o segundo ano;
• 15,9 l/s após o terceiro ano;
• 6,5 l/s após o quinto ano (final de 1989).
A percolação foi atribuída aos vazios nas juntas de contato entre as camadas, não
tratadas, sendo constatado que a pequena faixa de 30 cm concreto de berço junto
ao paramento montante não foi eficaz. A redução da percolação ao longo do
tempo foi atribuída a colmatação por silte e argila e a calcificação, além do
programa de injeções.
3.1 – ESTABILIDADE
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Tombamento é a tendência da barragem girar em torno de seu pé, em
decorrência da força resultante do empuxo de água sobre o paramento de
montante. Em contraposição, a massa e a geometria da barragem devem
propiciar uma força estabilizante superior a este empuxo. Para os concretos
usuais, com densidade acima de 2,3 ton/m3 , a estabilidade de uma barragem é
confortavelmente atendida por um perfil triangular jusante com talude em torno de
0,80(h):1(v).
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densidade na altura da camada devido ao gradiente de compactação,
ficando a base sempre menos densa do que os níveis superiores.
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base da camada de CCR e acima da junta, evidenciando a eficácia deste
tratamento. Em todos os ensaios em blocos sem tratamento a superfície de
ruptura coincidiu com o plano da junta de construção, como esperado.
Este conceito foi muito utilizado nos anos 80 e 90 para definir a necessidade ou
não de aplicar o concreto de berço antes do recobrimento de determinada
camada após seu início de pega. Por exemplo, especificava-se como 600 hoC a
maturidade máxima de um CCR para não ser necessário o concreto de berço
para a camada subseqüente. Esta maturidade equivale ao concreto exposto por
24 horas a uma temperatura média de 25 oC, ou a 20 horas sob 30 oC.
Por outro lado, este parâmetro tende a voltar a ser útil pela utilização do processo
de lançamento pelo método “chinês rampado”, para decisão de tratamento de
juntas nos casos de pequenas paralisações.
3.2 – DURABILIDADE
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concreto tornando-o cada vez mais suscetível aos ácidos orgânicos geralmente
presente nos reservatórios. De fato, inspeções em obras hidráulicas em concreto
convencional com mais de 40 anos de serviço revelam a total ausência de matriz
cimentante em juntas de construção defeituosas, restando apenas os agregados.
Os critérios atuais para projeto de barragens em CCR têm como premissa tornar
o paramento de montante o mais impermeável possível, podendo o núcleo e o
paramento jusante apresentar maior permeabilidade. A primeira barragem
brasileira em CCR - Nova Olinda – segue este conceito, mediante emprego de
uma faixa de concreto convencional junto ao paramento de montante, seguida do
tratamento das diversas juntas do CCR com concreto de ligação numa extensão
proporcional à carga do reservatório, vide Figura 52. Juntas de contração são
implantadas com espaçamento máximo de 30 m. Este conceito é consagrado no
meio técnico para barragens com altura da ordem de até 100m.
Três anos após a experiência polemica em Willow Creek, foi iniciada a construção
da barragem Upper Stillwater nos EUA com 91 m de altura (Figura 10), onde
foram mantidos alguns dos conceitos ousados, como a inexistência de juntas de
contração e do tratamento das juntas entre camadas. Entretanto , empregou-se
uma mistura rica em pasta (cimento + cinza volante = 79 + 173 = 252 kg/m3)
seguindo as recomendações de Malcon Dustan para melhoria da aderência entre
camadas, compactadas com 30 cm de espessura. Os paramentos de montante e
jusante foram executados com concreto extrudado. As concretagens eram
executadas à noite, sendo especificado lançar o CCR com temperatura máxima
de 10 oC.
Figura 10: Barragem de Upper Stillwater - EUA, com CCR rico em pasta.
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Em abril de 2000 teve inicio a construção da barragem de Miel I na Colômbia, cujo
projeto do paramento de montante representa o atual “estado da arte” para
barragens com altura superior a 100m. Adotou-se uma manta de PVC instalada a
montante do paramento, executado com a técnica do CCR enriquecido com calda
de cimento, que transforma a mistura num concreto vibrável, praticamente similar
a um CCV. Adicionalmente, empregou-se argamassa de ligação nas juntas entre
camadas de CCR. A construção do paramento da barragem de Miel i é abordada
como mais detalhes no Capítulo 5.5 - Fôrmas.
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principais propriedades do concreto, como densidade, resistência à compressão e
permeabilidade sejam ótimas.
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Entretanto, o deslocamento da galeria para jusante nem sempre é uma solução
possível, tendo em vista a redução da eficiência na redução da sub -pressão pela
drenagem à medida que esta é afastada do paramento de montante.
Figura 13: Galerias de drenagem na barragem Miel I (E) e Cana Brava (D).
Figura 14: Barragens com vertedouro em soleira livre - Willow Creek (E) e Belo Jardim (D).
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A construção em camadas horizontais terminadas com concreto convencional à
jusante possibilita a consideração dos degraus como elemento de dissipação de
energia, pelo menos para pequenas e médias vazões.
Figura 15: Barragem de Picada, com soleira livre complementada por comporta.
Como exemplo, na barragem de Salto Caxias foi necessário deixar uma porção
rebaixada para galgamento sob passagem de um período de cheias, cuja
conclusão foi postergada até o término das montagens das comportas, conforme
ilustrado na Figura 16.
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ü Cuidados na otimização dos acessos;
ü Cuidados no dimensionamento de recursos (equipamentos e mão de obra);
ü Cuidados na otimização de formas;
ü Cuidados nas etapas construtivas;
ü Cuidados na qualificação das equipes (devido a atividades distintas);
ü Cuidados em planejar o uso de materiais para todas finalidades - CCV e CCR.
Figura 16: Barragem da UHE Salto Caxias, com seção rebaixada para galgamento nas cheias.
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4 - MATERIAIS
O CCR é um tipo de concreto que difere do convenciona l vibrável principalmente
devido a sua consistência seca (no-slump), já que ainda no estado fresco deverá
suportar o tráfego dos equipamentos usuais de terraplenagem: caminhões
basculantes, tratores de esteira, e rolos compactadores vibratórios.
4.1 - AGLOMERANTES
4.1.1 - CIMENTO
O concreto rolado poderá ser fabricado com quaisquer dos diferentes tipos de
cimento existentes no mercado. Entretanto, condições específicas poderão indicar
tipos também específicos de cimento.
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para liberar o pavimento ao tráfego. Neste caso, são indicados os cimentos do
tipo ARI – Alta Resistência Inicial.
Deve-se entender que o cimento Portland comum ao combinar-se com a água (ou
hidratar-se), produz como sub -produto o hidróxido de cálcio (CaOH2 ), que é um
elemento inicialmente inerte, sem nenhuma ação aglomerante. Em estruturas
fissuradas e sujeitas a percolação de água, este elemento é li xiviado e atingindo a
superfície reage com o gás carbônico presente na atmosfera, e forma uma pasta
branca que é facilmente visível e a quem chamados de carbonatação. Estalactites
e estalagmites que ocorrem em grutas calcárias ou em galerias de drenagem de
barragens de concreto são exemplos de carbonatação.
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4.1.2.2 – Pozolanas Naturais
§ Argilas calcinadas:
§ Sub-produtos industriais:
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cimento. Trata-se de sílica praticamente pura - teores de SiO2 acima
de 95% - com partículas nitidamente esféricas.
§ Metacaulim:
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ABNT, o teor de escória no cimento do tipo CP III comercial é de no máximo 75%.
O endurecimento da escória processa-me lentamente, até 9 a 12 meses. Sua
reação é exotérmica, porém muito baixa.
A adição nas fábricas é vantajosa para pequenas e medias obras, pois elimina um
material de construção e sua conseqüente logística de programação, procura,
transporte, armazenagem, dosagem e controle de qualidade.
• Concretos Convencionais:
o Ao longo do perímetro molhado das estruturas de concreto de
hidrelétricas, onde existe o perigo da reação álcalis-agregado, deve -
se utilizar pelo menos 20% de cinza volante ou 50% de escória
moída para neutralizar esta reação. Estes teores mínimos são
adequados para revestimento de condutos forçados e outras peças
esbeltas onde o tempo para desforma pode ser condicionado por
uma resistência mínima;
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o Nas camadas massivas em torno de tubo de sucção e caixa espiral,
enchimento sob ogiva de vertedouro, muros à gravidade e diversas
paredes molhadas onde a resistência pode esperar por maiores
idades, estes teores podem subir para 60% de cinza e 80% de
escória;
o Nas estruturas permanentemente secas não existem riscos da
reação álcali-agregado, devido a ausência de água. Peças esbeltas
no interior de casa de força, área de montagem e edifício de controle
(paredes, pilares, vigas e lajes), além de todos os elementos pré-
moldados, exigem resistência mínima para deforma e manuseio, e a
reutilização de fôrmas e cimbramento exerce grande impacto no
cronograma. Nestes casos é vantajoso não empregar nenhuma
adição ao cimento.
• Concreto Rolado:
o No CCR, onde o efeito de filler é particularmente necessário, o teor
de cinza pode ser aumentado para até 80% e o de escória moída
para até 85%, adotando-se idades de controle aos 360 dias.
Nos ite ns 4.1.2 e 4.1.3 foi comentado sobre a atual dificuldade na aquisição de
cinza volante e escória de alto forno a preços competitivos. Trata-se de um
paradoxo, pois diferente mente da pozolana artificial, cujo custo eleva-se pelo
dispêndio energético para calcinação das argilas, o fly-ash e a escória são
potencialmente muito mais baratos do que o clínquer, já que são sub-produtos de
processos industriais para obtenção de produtos mais nobres. Adicionalmente, a
deposição destes materiais nas proximidades de usinas termelétricas e
siderúrgicas constitui um contencioso ambiental. Apesar do panorama favorável,
este paradoxo também é notado no cimento com adição, cujo preço não é
proporcionalmente beneficiado pelo baixo custo do material adicionado.
O relator pôde constatar esta anomalia entre maio de junho de 2002, mediante
uma pesquisa formal de preços junto aos fabricantes de cimento. Nesta pesquisa
foram selecionadas fabricas que produzissem simultaneamente cimentos com e
sem adição. Para evitar o impacto do frete, foram solicitadas cotações FOB –
Factory On Board (sem frete) - aos representantes comercias nas próprias
cidades-sede das fabricas, ou na cidade mais próxima em caso de inexistência do
representante.
Os resultados dessa pesquisa são apresentados nas tabelas das Figuras 19 e 20,
respectivamente para os cimentos com adição de escória e fly-ash. Os valores
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estão relativizados, adotando-se a razão do preço do cimento com adição
(potencialmente mais barato) pelo preço do cimento sem adição (potencialmente
mais caro).
Deve ser destacado que o custo do CCR é muito sensível às variações de preço
do cimento, a despeito do seu baixo consumo. O quadro da Figura 21 apresenta a
participação dos principais insumos no custo de misturas de CCR para aplicação
em barragem no estado de Tocantins .
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4.2 - AGREGADOS
4.2.1 – Aptidão
Entretanto, deve ser feita uma exceção aos agregados friáveis, que podem ser
identificados por apresentarem elevada perda no ensaio de abrasão Los Angeles
(perda superior a 40%). Tais agregados produzem concretos convencionais
adequados dentro dos padrões usuais para barragens e usinas hidrelétricas, onde
a resistência característica (fck) raramente ultrapassa 40 MPa. Entretanto, poderão
apresentar desempenho frustrante em concreto rolado, mesmo para baixas
resistências.
Como exemplo podemos citar o granito -gnaisse utilizado no AHE Itapebi, que a
despeito de apresentar um elevado índice de perda no ensaio Los Angeles - entre
45 e 65% - apresentou boa performance no concreto convencional. Entretanto,
seu uso no concreto rolado exigiu inesperado incremento no consumo de cimento
devido as baixas resistências obtidas. Comparativamente, foi obtido apenas a
metade do rendimento (MPa de resistência por kg de cimento) obtido com o meta-
arenito muito silicificado (> 35% de quartzo) na barragem de Capanda, onde a
perda por abrasão Los Angeles era inferior a 15%.
Entretanto, deve ser citado que na etapa de Viabilidade de Itapebi foi considerado
um arranjo da barragem em CCR com volume superior a 1 milhão de m3. Sabe-se
agora que tal alternativa tenderia ao insucesso em termos econômicos, devido ao
elevado consumo de cimento que se verificaria na execução deste importante
volume de CCR.
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Este atrito não ocorre no concreto adensado por vibração, onde os agregados
flutuam em ressonância como os vibradores de imersão, permitindo a argamassa
fluir entre os agregados graúdos, expulsando o ar e preenchendo vazios.
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Figura 22: Sistema de Britagem da barragem Saco de Nova Olinda.
A barragem de Capanda (e= 40 cm) contava com dois sistemas para produção de
agregados e concretos. No sistema específico para concreto rolado, foram
adotadas duas frações principais, obtidas da britagem de meta-arenito: 0 a 19 mm
e 19 a 64 mm. Para complementação dos finos procedia-se a rebritagem da
fração mais grossa até a sua redução para 0 a 6 mm, que era dosada
separadamente. O sistema para concreto convencional, o qual também produziu
agregados e CCR de excelente qualidade, o fracionamento escolhido foi 0 a 6
mm; 6 a 19 mm; 19 a 38 mm e 38 a 76 mm, condicionado evidentemente pelas
necessidades para os concretos convencionais.
Cana Brava (e = 30 cm) com quartzo mica-xisto, após ajustes adotou o seguinte
fracionamento final: areia natural; areia artificial (0 a 5 mm) com 18% de finos;
brita 1 (5 a 25 mm); e brita 2 (25 a 50 mm).
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recuperação, silos e dosadores. Por outro lado, juntar agregados em faixas muito
extensas, como por exemplo 0 a 19 mm e 19 a 64 mm, conduz a segregações já
nos depósitos de matéria-prima, com conseqüências indesejáveis ao produto
final.
Figura 23: Segregação pela ação do vento na pilha de agregado 0 a 19 mm, em Capanda.
Ou seja, metade do agregado total é areia, que poderá ser produzida sem
grandes problemas de segregação. Os outros 50% seriam tamanhos entre 6,4 e
50 mm, que se produzidos numa única faixa apresentariam grande tendência a
segregação, além de limitar as opções para concreto convencional. Uma opção
razoável seria fracionar os graúdos em duas faixas, uma de 6,4 a 22 mm, e outra
de 22 a 50 mm, ambas dosadas a 25% do agregado total.
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4.2.3 – Agregados Miúdos e Fillers
Apenas para citar os extremos, recomenda-se desde 1,5% para finos com LL = 55
e IP = 25, até 10% para finos com LL e IP = 5. Tais orientações foram
introduzidas no Brasil por Ernest Schrader, para ajuste nas dosagens do CCR da
Barragem de Saco de Nova Olinda. Percebe-se aí uma conveniente e desejável
interação entre os domínios da Tecnologia do Concreto e da Mecânica dos Solos.
Para tal, o especialista russo Dr. Albert Ossipov especificou pulverizar a rocha
meta-arenítica do sítio de Capanda (com elevado teor de sílica) e utilizar no
mínimo 100 kg deste pó a cada m3 de concreto . Esta adição seria suficiente para
fixar o hidróxido de cálcio solubilizado pela hidratação dos 70 kg/m3 do cimento, e
assim, além de inibir a reação álcalis-agregado, propiciar também uma pequena
ação aglomerante, além de reduzir os poros e a permeabilidade do concreto.
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Outro detalhe inusitado especificado pelo Dr. Ossipov era a aplicação do pó de
pedra o mais rápido possível após sua moagem, no máximo em sete dias.
Adicionalmente, o material deveria ser protegido das intempéries, principalmente
da chuva. Nestas condições, segundo Dr. Ossipov, o material pulverizado contaria
com o máximo de sua atividade pozolânica.
Especula-se que tal atividade possa ter também alguma relação com a elevada
energia transmitida pelos britadores e moinhos ao material britado, e armazenada
na superfície dos grãos cominuídos. O fato é que a literatura especializada
endossa, e também experimentos de laboratório comprovam, que concretos
produzidos com agregados “jovens” são mais resistentes do que aqueles
produzidos com os mesmos agregados “envelhecidos”. Por causa destas
particularidades, o pó de pedra de Capanda foi apelidado de “areia atômica”,
denominação também empregada durante certo tempo no Brasil por alguns
pesquisadores.
Hoje em dia, a utilização de areia artificial sem lavagem como único agregado
miúdo é um procedimento conhecido e já bastante utilizado no Brasil, mas em
1989 essa solução pioneira despertou grande interesse, tendo sido pesquisada
em laboratório pelos principais consultores brasileiros.
Até então, a prática adotada nos canteiros de obras era utilizar uma mistura de
areia natural com areia artificial, sendo esta ultima lavada para remoção dos finos.
Estes finos eram tidos como deletérios, e até hoje a norma aplicável da ABNT
ainda não foi atualizada, e continua limitando sua quantidade em 5%.
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4.3 – AGUA E ADITIVOS
4.3.1 - Água
Uma maneira prática para avaliar se determinada água suspeita é adequada para
uso no concreto é realizar testes comparativos de resistência à compressão em
dois grupos de corpos de prova de argamassa, de mesmo traço, porém um deles
empregando uma água potável como referencia.
Para misturas de CCR com agregado de tamanho máximo 50 mm, uma dosagem
de água em torno de 110 kg/m3 conduz a uma trabalhabilidade adequada. Mas
este valor pode variar desde 90 kg/m3 para traços pobres em pasta, até 150 kg/m3
para os ricos em pasta (pasta = água + aglomerantes + fillers).
4.3.2 - Aditivos
Resumidamente, nenhum aditivo corrige um mal CCR; ele apenas torna melhor
um concreto pelo menos já razoável.
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4.4 - DOSAGEM
Qualquer método de dosagem tem como filosofia buscar o chamado “traço ótimo”.
Mas nem sempre este “traço ótimo” é o traço mais adequado num dado conjunto
de interesses, interfaces e circunstancias que interagem em determinada obra.
Muitas vezes temos que “estragar um pouco o traço ótimo”, privilegiando o “traço
meramente bom” para o conjunto da obra.
Deve ser adotado como referencia uma curva granulométrica que garanta uma
mistura de agregados não segregável e de baixo índice de vazios. A formula de
Fuller e Thompson (1905) com expoente cúbico vem sendo utilizada com muito
sucesso. Sua equação é dada por:
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4.4.2 – Passo II: Determinar o Consumo de Aglomerantes
Surge aqui uma diferença em relação aos ensaios padronizados na Mecânica dos
Solos, onde a densidade é referenciada à condição seca. No caso do concreto
rolado, adota-se a densidade úmida, não fazendo sentido subtrair a água, já que
ela irá combinar-se com cimento, originando produtos hidratados endurecidos e
estáveis.
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Para obter uma boa representatividade em laboratório, os corpos de prova devem
ter as maiores dimensões possíveis, sugerindo-se cilindros desmontáveis com
25cm de diâmetro por 50cm de altura.
A compactação pode ser feita por apiloamento com soquete similar ao ensaio de
Proctor, caso em que se deve aplicar a energia equivalente à do Proctor
Modificado. Entretanto, este é um processo penoso e que deve ser empregado
apenas com o propósito de verificações e correlações iniciais. Uma opção mais
simples é substituir o soquete de Proctor por um compactador pneumático de
pata, o que exige manter constante o tempo de apiloamento e a pressão de ar
comprimido. Vide Figura 25E.
Figura 25: Diferentes métodos de compactação em laboratório: Apiloamento (E); Vêbê (C) e
Mesa Vibratória (D). Devido dimensões reduzidas dos moldes, utiliza-se a fração do
concreto passante em 38 mm.
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Para cada ponto da curva de compactação, procede-se a moldagem de corpos de
prova para ensaios de resistência à compressão, a serem rompidos aos pares
nas idades de 28, 90 e 180 dias.
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Figura 27: Aterro experimental da Barragem de Capanda.
Mas a experiência posterior permitiu constatar que a virtude está um pouco acima
do meio termo: Um CCR mais para o “ramo seco” apresentará rigidez elevada e
dificuldade de compactação, aumentando o número de passadas do
compactador, cujo sobre-custo não significa melhor qualidade, principalmente
com agregados friáveis. Já no “ramo úmido” obteremos maior coesão e menor
segregação no manuseio, melhor aderência à camada inferior, maior vida útil da
mistura fresca e ainda maior compacidade, resistência e impermeabilidade.
Devemos ter um pouco de tolerância com um leve “borrachudo”, pois ele cessará
assim que o cimento hidratar. Evidentemente que há limites para o “ramo úmido”,
pois acima de certo ponto (de saturação) a lei do fator água:cimento governará e
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a densidade e a resistência serão reduzidas. E não dá para “gradear” uma
camada fresca de CCR...
A Figura 28E ilustra uma mistura seca e sem finos, que embora possa atender
como base em uma obra rodoviária, é totalmente inadequada para uma obra
hidráulica, como uma barragem. Na Figura 28D temos uma mistura fechada, com
teor de umidade ligeiramente acima da ótima e muito adequada para uso em
barragens.
Figura 28: Evidencias de misturas sem finos e rígida (E), e fechada e na umidade ideal (D).
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