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Atividade 4:
Aquecimento
https://www.youtube.com/watch?v=pNaQD0pLvsI
Você vai ler agora uma crônica de Antonio Prata publicada no jornal O Estado de
S. Paulo em 2010. Antonio Prata é um cronista e roteirista de São Paulo, filho do
escritor Mário Prata e nascido em 1977.
Diga, trinta e três: trinta e três. Diga: o que você fez? A essa altura da
estrada, uma parada é inevitável. Você desce do carro, contempla a vista
do mirante. Não é um olhar para trás, como devem fazer os velhos, ao fim
da vida – ou devem evitar fazê-lo, dependendo -, mas um olhar em volta:
isso aqui sou eu. Daqui pra frente, não vai mudar muito, vai? Já deu tempo
de descobrir que você não é um gênio da matemática, nem um fenômeno
da ginástica olímpica.
Trinta e três anos. A idade de Cristo, alguém diz, e você logo pensa, repe-
tindo um dos cacoetes de sua faixa etária: o que ele já tinha alcançado,
com a minha idade? Bom, tinha transformado água em vinho, multiplica-
do peixes e pães, andado sobre as águas, levantado defuntos e conquis-
tado uma multidão de fiéis em toda Judéia, Galiléia, Samaria, Efraim e
arredores. E você, que não tem nem casa própria? Bom, também, naquele
tempo era mais fácil – você tenta se consolar -, não tinha tanta concorrên-
cia e, oras, o cara era filho de Deus, o que não só abre portas, abre até o
mar vermelho! Mas você se compara, mesmo assim: Jesus deve ter anda-
do sobre as águas com o que? Dezessete? Orson Welles fez Cidadão Kane
com vinte e cinco. Rimbaud escreveu toda a obra até os dezenove! E você
tão feliz por ter conseguido mais quinze seguidores no Twitter.
(O lance do Mar Vermelho… Foi com Jesus ou com Moisés? Céus, trinta e
três anos e você não sabe uma coisa dessas? Será que um dia vai saber?
Quando tem treze, ou vinte e três, acha que uma hora vai aprender tudo
o que não sabe, basta ficar parado que as coisas naturalmente virão e
entrarão na sua cabeça. Agora você percebe que talvez passe a vida igno-
rando certos assuntos. Mar Vermelho. As regras do gamão. Francês.)
Acredite em mim: aos trinta e três anos, de Jesus pra baixo, todo mundo é
ressentido. Não é que as pessoas vivam vidas ruins, as aspirações é que são
muito altas. A Sessão da Tarde, as propagandas da Nike… Seu emprego é
bom, mas o salário é ruim. O salário é bom, mas o chefe é mala. O chefe é
você, mas os prazos não te dão sossego. Sempre tem um cunhado que ganha
mais, um vizinho cuja grama é mais verde, o próximo cuja mulher é mais
fornida; Jesus, aos trinta e três, o Orson Welles, aos vinte e cinco – e o mau
exemplo do Rimbaud eu nem comento.
Trinta e três anos. Você para. Desce do carro. Olha em volta. Você é o que
queria ser quando crescesse? Não exatamente? Por que não? Será que dá pra
mudar? Quanto dá pra mudar?
PRATA, Antonio. “Diga trinta e três”. In: O Estado de S. Paulo, ago. 2010. disponível em: http://www.
estadao.com.br/blogs/antonio-prata/diga-trinta-e-tres/
Depois da leitura
Ligando os pontos
2. Jout Jout deixa explícita a motivação que a levou a gravar o vídeo com
suas reflexões, o que não acontece com Prata. No entanto, é possível fazer
suposições sobre a motivação do cronista considerando sua data de nasci-
mento e a data de publicação da crônica. Com isso em mente, construa junto
à sua dupla um esquema ou mapa mental que compare e contraste os dois
textos em relação:
a) à motivação inicial;
b) ao interlocutor;
c) às estratégias argumentativas;
d) ao tom da conclusão (pessimista, otimista, realista etc.)
Para ajudá-los, propomos um início possível, mas lembrem-se de que podem
montar o esquema de qualquer outro modo que julgarem produtivo, levando
em conta as cores, a disposição no papel, as formas...
3. Você vai ler agora um trecho do artigo “A vida ao rés do chão”, do crí-
tico e teórico da literatura Antonio Candido. Nele, o autor discute o gênero
crônica no Brasil, bem como seu surgimento e circulação.
CANDIDO, Antonio. “A vida ao rés do chão”. In: WERNECK, Humberto (org.). Suplemento – a
maioridade da crônica. Belo Horizonte: 2012. Disponível em: http://www.cultura.mg.gov.br/
files/suplemento-literario/especial_cronicas.pdf
a) “‘Graças a Deus’, seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica mais
perto de nós.”
a. Como os textos trabalhados anteriormente (“UMA PISCIANA FAZEN-
DO ANIVERSÁRIO” e “Diga trinta e três”) articulam-se ao pensamento de
Candido sobre o gênero crônica? Justifique sua resposta, comentando exem-
plos dos textos.
Junte-se agora a uma outra dupla, formando um grupo de quatro alunos. Con-
siderando tudo que construímos ao longo do capítulo sobre o gênero crôni-
ca, vocês produzirão três projetos, que depois serão compartilhados com o
restante da turma. Será como um jogo da velha: as atividades realizadas pelo
grupo deverão estar dispostas em uma linha vertical, horizontal ou diagonal.
Aproveitem as aptidões e gostos de cada um e mãos à obra!
JOGO DA VELHA DA CRÔNICA: EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO
Produzam um vídeo para o Escrevam uma crônica para Escolham, entre vocês,
YouTube em que o aniver- o jornal cujo ponto de par- dois entrevistadores e dois
sário de um dos integrantes tida seja uma comemoração entrevistados e façam uma
do grupo os tenha levado a de aniversário. entrevista sobre reflexões
refletir sobre algum tópico. a que sua maturidade os
levou.
Produzam uma colagem a Imaginem que Jout Jout está Pensem em uma trilha so-
partir de reflexões sobre escrevendo em um jornal do nora para a crônica de An-
a idade de vocês, articu- século XIX. Como seria sua tonio Prata, selecionando
lando elementos gráficos crônica? Escrevam-na. duas ou três músicas ou
que pensem criticamente o canções que se articulem
tema. ao pensamento do autor.
Produzam um parágrafo
justificando suas escolhas.
Referências bibliográficas