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Instituto de Geografia
Claudio Di Mauro
DIRETOR DO INSTITUTO DE GEOGRAFIA
Fernando Garrefa
Maria Eliza Alves Guerra
FACULDADE DE ARQUITETURA, URBANISMO E DESIGN
Universidade Federal de Uberlândia: Instituto de Geografia, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design, Faculdade de
Engenharia Civil, Instituto de Economia e Faculdade de Engenharia Elétrica.
Instituições convidadas: UNITRI - Curso de Arquitetura e Urbanismo e Prefeitura Municipal de Uberlândia.
Coordenação Geral: Profa. Dra. Marlene Teresinha de Muno Colesanti.
Comissão de Trabalho Interdisciplinar: Docentes da UFU: Beatriz Ribeiro Soares, Darizon Alves De Andrade, Fábio Henrique Bittes
Terra, Fernando Garrefa, José Aparecido Sorratini, José Roberto Camacho, Maria Eliza Alves Guerra e William Rodrigues Ferreira.
Profissionais convidados: Adailson Pinheiro Mesquita, Bruno Del Grossi Michelotto, Edson Claudio Pistori e Gustavo Malagoli Buiatti.
Representantes do Poder Público Municipal: Alexandre de Souza Andrade, Iraci José da Silva Filho, Ronaldo Dalvo de Aquino Pereira e
Márcia Cristina Medeiros de Freitas.
Apresentação 05
Introdução 07
CAPÍTULO I
Metodologia e Estratégias
1.1 Metodologia
1.2 Estratégias
CAPÍTULO II
Diagnóstico do Sistema de Transporte de Uberlândia
2.1 Uberlândia: a cidade e a mobilidade – conceitos e definições
2.2 Padrões de Mobilidade e a evolução da rede urbana de Uberlândia
2.3 As redes de transportes públicos coletivos
2.4 O diagnóstico da mobilidade: evolução da rede de transporte público
2.5 Mobilidade e exclusão social: os custos sociais do transporte público em Uberlândia
CAPÍTULO III
As cidades e os transportes públicos sobre trilhos
3.1 Transporte público sobre trilhos e a evolução do VLT no mundo: uma análise conjuntural
3.2 VLTs no Brasil: propostas e sistemas implantados
3.3 VLTs no Mundo: cidades visitadas e suas experiências
3.4 BRT versus VLT: uma análise da complementaridade
CAPÍTULO IV
Uma proposta funcional para a Rede SIT-VLT
4.1 Estudo das alternativas de traçado
4.2 Concepção preliminar do sistema de transporte
4.2.1 Estimativa das Demanda do VLT - construção dos cenários futuros da mobilidade em
Uberlândia
4.2.2 A construção das alternativas de traçado
4.2.3 O comportamento das demandas após a inserção do VLT
4.3 Concepção operacional do sistema VLT
4.4 Estudos sobre a Tecnologia veicular
4.4.1 Veículose sistemas operacionais
4.4.2 Sistema de operação e manutenção
CAPÍTULO V
Inserção urbana do VLT: do planejamento ao desenho urbano
5.1 Uma nova proposta de estruturação urbana
5.2 Os traçados e a inserção urbana
5.2.1 Estações, pontos de paradas e outros equipamentos.
5.3 A paisagem urbana e o VLT: da área centralàs expansões urbanas
5.4 A cidade e os condicionantes da infraestrutura de drenagem.
CAPÍTULO VI
Proposta para a circulação do VLT
6.1 Sistema viário e veículos motorizados
6.2 Acessibilidade e mobilidade para o transporte não motorizado
6.2.1 Propostas para os pedestres
6.2.2 Propostas para ciclistas
CAPÍTULO VII
Avaliação econômica e aspectos institucionais
7.1 Avaliação econômica
7.2 Aspectos institucionais
7.3 Modelos de financiamento
CAPÍTULO VIII
Considerações Finais Provisórias
8.1 Encaminhamentos para a conclusão deste estudo
Referências
Apêndice
5
APRESENTAÇÃO
O Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia tem a enorme satisfação
de apresentar à sociedade esta primeira versão do Estudo Prévio de Viabilidade Técnica para a
Implantação de Veículo Leve sobre Trilhos - VLT.
Este documento é o resultado de dois anos de pesquisas promovidos por uma Comissão
de Trabalho Interdisciplinar que contou com a participação de professores e professoras das
Faculdades de Arquitetura, Urbanismo e Design, Engenharia Civil e Engenharia Elétrica e dos
Institutos de Geografia e Economia, além de representantes do poder público municipal e
profissionais convidados.
O presente estudo surgiu da iniciativa do Deputado Federal Weliton Prado que destinou,
em 2012 e 2013, emendas ao Orçamento da UFU com o propósito específico de custear a
avaliação técnica da possibilidade de utilização das tecnologias de transporte sob trilhos
(Metrô ou VLT) em Uberlândia.
Originalmente, este estudo esteve sob a coordenação do professor Élisson Prieto, que
infelizmente para a nossa tristeza faleceu em outubro de 2012 aos 32 anos. Como legado do
seu trabalho, o professor Elisson deixou um roteiro detalhado sobre a forma de realização do
estudo de viabilidade, que foi utilizado por nós para iniciarmos as atividades de pesquisa e
prospecção de dados.
Vale ressaltar que, em razão da novidade dessa tecnologia no país e da inexistência de
experiências nacionais consolidadas, há uma baixa disponibilidade de estudos e livros tratando
dos Veículos Leves sobre Trilhos. Este foi o desafio inicial a ser vencido, já que era necessário
formar uma capacidade critica na equipe para fazer uma análise criteriosa do VLT como
alternativa de transporte coletivo.
Neste sentido, foram de grande importância das visitas técnicas a projetos
internacionais já consolidados na Europa e nos Estados Unidos. Essas visitas nos
proporcionaram uma assimilação de aspectos técnicos e práticos sobre a implantação e o
funcionamento cotidiano do VLT.
Outro desafio foi a atualização do diagnóstico sobre o sistema de transporte de
Uberlândia. A equipe tinha a clareza de que não competia à Universidade o planejamento de
transporte da cidade, já que essa atribuição é exclusiva das autoridades municipais.
Entretanto, era indispensável ter uma visão abrangente sobre a dinâmica e o funcionamento
do sistema de transporte coletivo para propor uma solução que fosse integrada ao SIT,
complementar às iniciativas em desenvolvimento, a exemplo corredores e BRTs planejados
pela Prefeitura, que, ao mesmo tempo, colaborasse para tornar o conjunto do sistema mais
eficiente.
Em virtude disso, foram estruturados cenários prospectivos para o crescimento da
cidade com horizonte em 2032, tendo sido simulados contextos de restrição do transporte
coletivo, de manutenção das dimensões atuais e de ampliação desse serviço.
Paralelamente, atualizamos a avaliação sobre os desejos de viagens dos moradores dos
diferentes bairros, de tal maneira que pudemos perceber como se comporta a demanda por
transporte na cidade e quais seriam as linhas mais úteis e necessárias para a utilização do VLT.
Com isso, formulamos a proposta de duas linhas que serão detalhadas neste
documento. A linha Lilás ligando o Centro ao bairro Umuarama possui uma demanda atual que
já a viabiliza. A linha Verde que liga o Aeroporto ao setor Oeste da cidade foi proposta como
um instrumento de indução do desenvolvimento urbano e a sua implantação seria necessária
no horizonte de 2025.
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Estamos convictos de que as soluções de transporte não devem nascer do dia para a
noite e, principalmente, não podem ser pensadas somente a curto prazo.
Há 34 anos, moro em Uberlândia e sou usuária frequente do transporte coletivo, pois
não dirijo carros por opção. Posso afirmar, com segurança, que o transporte coletivo em
Uberlândia não é ruim, mas precisa melhorar muito em termos de disponibilidade e de
conforto dos seus usuários.
Nós sabemos os limites do transporte individual e o quão nocivo pode ser para uma
comunidade o crescimento exponencial da mobilidade por carros. A construção de alternativas
ao automóvel será um imperativo para as cidades no Século XXI.
Acreditamos que o VLT agrega muito conforto aos usuários e eficiência no tempo de
viagem. Apesar do custo inicial de implantação ser superior aos ônibus, a sua capacidade de
renovação urbana e atração de novos usuários o torna uma tecnologia com vantagens
robustas para a melhoria da mobilidade urbana.
Além disso, a qualidade ambiental que tecnologia proporciona é vantagem substancial
em relação aos ônibus, devido à redução de emissão de carbono, ao uso de energia renovável
e a redução drástica de ruídos.
Noentanto, em que pese o nosso posicionamento técnico favorável à implantação do
VLT, estamos certos de que essa decisão compete aos representantes eleitos pela população
na Câmara de Vereadores, que deverão alterar o Plano Diretor e de Mobilidade, caso aprovem
a adoção do VLT, e assim como caberá à Prefeitura Municipal avaliar a pertinência desse
investimento em relação às outras prioridades que o Município precisará atender.
Além das autoridades públicas, a decisão e a forma de implantação deverão ser
intensamente discutidas com a sociedade, ouvindo-se todos os pontos de vista para que o
projeto seja realmente um benefício à comunidade ao invés de um transtorno.
Por isso, realizaremos uma primeira audiência pública para discutir a proposta de
implantação do VLT no dia 02 de dezembro esperando que, desse espaço, surjam
contribuições e críticas para aprimorar o relatório final do estudo de viabilidade, a ser
concluído definitivamente em março de 2015, quando será entregue ao Prefeito Municipal e
ao Presidente da Câmara Municipal de Vereadores.
Aproveito a oportunidade para agradecer o Professor Elmiro Resende, Reitor da UFU,
pelo seu empenho pessoal e decisivo para a conclusão deste estudo. Também agradeço à
brilhante contribuição do Professor Adailson Pinheiro Mesquita, da Faculdade de Arquitetura
da UNITRI e do Professor William Rodrigues Ferreira do Instituto de Geografia da UFU, que os
considero uns dos mais competentes especialistas em transporte do país.
Além deles, agradeço a colaboração de todos os professores, técnicos e dos 86
estudantes de graduação e 15 estudantes de pós-graduação (mestrado e doutorado) da UFU
que colaboram diretamente com a realização desse trabalho e ajudaram, dessa forma, a
colocar em prática a função social da universidade de promover o desenvolvimento
tecnológico da sociedade.
Por fim, dedico este projeto aos cidadãos e cidadãs que diariamente utilizam o
transporte coletivo e que mereceram todo o respeito e cuidado.
Desejamos que esse estudo contribua para trazer mais qualidade e eficiência ao
transporte público e, por consequência, promova os diretos à cidade e à mobilidade.
Figura 2 - Distribuição modal nas principais cidades da Europa e nos Estados Unidos.
Fonte: Vasconcelos et al (2011).
O Estudo para inserção da modalidade VLT - Veículo Leve sobre Trilhos, conduzido por
esta equipe, procura tratar com maior abrangência a mobilidade na cidade (figura 3) de forma
a obter os melhores resultados a partir do investimento.
Adotou-se uma postura de integração entre as políticas urbanas, sem a qual será
impossível a viabilidade de tal empreendimento. Inicialmente este estudo apresenta um
diagnóstico da mobilidade na cidade de Uberlândia a partir de vários indicadores de
desempenho que incluem não somente aspectos relativos aos transportes, mas também
aspectos socioeconômicos e espaciais.
Este último é de fundamental importância, uma vez que os sistemas de transportes
estão intimamente ligados com o uso e ocupação do solo e as densidades urbanas.
Nota-se, em Uberlândia, que embora preconizado pelo Plano Diretor em 1994, o trinário
Transporte Público, Uso e Ocupação do Solo e Sistema Viário mostra-se desarticulado e
carente de diversos ajustes para que haja o equilíbrio tão desejado entre a demanda e oferta
de transportes com a qualidade espacial urbana.
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Figura 3 - Planejamento da mobilidade ideal – integração entre políticas de planejamento urbano e de transportes.
Fonte: ANTP (1999) redesenhado por Mesquita (2014).
A opção pela tecnologia VLT busca uma grande melhoria no desempenho operacional do
sistema, incrementando os níveis de confiabilidade, das condições veiculares e de segurança
dos usuários. Além dos aspectos anteriores, vários outros podem ser enumerados:
A significativa mudança nos padrões de conforto ofertados aos usuários.
A atração de usuários de modais privados trará consequentes alterações no número de
viagens por este tipo de modo.
A redução de emissões de gases (uma vez que o VLT tem tração elétrica), melhoria nos
padrões visuais da cidade e drástica redução de ruído levam a uma consequente
melhoria na qualidade ambiental urbana.
A possibilidade de maior rapidez, conforto e acessibilidade, o que transforma o VLT em
uma real alternativa aos usuários de modalidades privadas.
O baixo impacto energético quando relacionado com ônibus e automóvel, devido aos
grandes avanços tecnológicos apresentados pelo VLT.
A depreciação do VLT é bem menor que a dos veículos sobre pneus.
O VLT apresenta uma maior capacidade de transporte de passageiros que os ônibus.
A implantação do VLT antecipa em muito tempo as alterações que deverão ser
realizadas em longo prazo para atender ao crescimento das demandas.
O VLT apresenta a possibilidade de gradual aumento da oferta.
A adoção do VLT como uma nova modalidade veicular para alguns corredores
estruturais constitui uma alternativa de grande valor para melhoria da qualidade do transporte
público no Brasil que historicamente tem relegado este serviço essencial a planos inferiores
cuja priorização ainda é pouco tratada pelo Estado.
Além de todos os aspectos inerentes à sua qualidade, o VLT de Uberlândia se insere em
uma tendência nacional e internacional de utilização de sistemas de transporte que trazem
avanço tecnológico, melhoria da qualidade urbana e redução do impacto no meio ambiente,
associados à maior capacidade de transporte.
A inserção urbana do VLT em Uberlândia privilegiará o transporte público e a
consolidação do tecido urbano, de forma a contribuir para a sua requalificação, garantindo a
acessibilidade universal aos equipamentos.
A partir da consideração da rede de transporte existente em Uberlândia (Sistema
Integrado de Transporte), a inserção do VLT se sustenta nas seguintes premissas básicas:
A nacionalização do conhecimento sobre o planejamento e a operação de sistemas de
transportes operados com Veículo Leve sobre Trilhos.
A ampliação das condições atuais de mobilidade urbana, promovendo condição de
alcance dos espaços, equipamentos e serviços de transporte pela população em geral,
com segurança, autonomia e rapidez;
A garantia do deslocamento das pessoas através de um sistema de transporte coletivo
de qualidade, integrado e rápido, priorizado na circulação viária e nos investimentos
públicos e privados;
A previsão do reordenamento das linhas de Ônibus para a otimização do uso do
Sistema Integrado de Transporte por parte dos usuários.
O atendimento das necessidades dos deslocamentos cotidianos realizados pela
população de Uberlândia.
A diminuição de impactos na região de influência das linhas troncais.
13
Dessa forma este estudo procura ser um marco para o estabelecimento destas
discussões mais amplas, não se resumindo em si como um mero estudo de viabilidade, mas
como um instrumento de reflexão e tomada de posição frente aos reais problemas da
mobilidade em Uberlândia.
Este estudo concentra forças no estudo da factibilidade da inserção do VLT, o
detalhamento de várias fases estará a cargo de um futuro estudo, ao qual caberá a elaboração
de projetos executivos de urbanismo, paisagismo, engenharia de tráfego entre outros.
CAPÍTULO I
Metodologia e Estratégias
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1.1 Metodologias
A metodologia adotada para a elaboração deste estudo seguiu as etapas sugeridas por
autores como Campos (2014), Barcelos (2013) (figura 1) e ANTP (2013) (figura 2). Sabemos que
a disponibilidade dos recursos financeiros pauta a duração da proposta (longo, médio ou curto
prazo), assim como os objetivos que a comunidade deseja alcançar e a urgência do problemas
a serem resolvidos.
Desta forma, o estudo de viabilidade seguiu as etapas propostas por aqueles autores
com algumas adaptações que foram necessárias para a adequação ao contexto da Comissão
de Trabalho Interdisciplinar responsável por sua realização:
Com vista à produção do estudo, a cidade foi dividida em zonas homogêneas pelas suas
características socioeconômicas e a partir da agregação de zonas censitárias, que se
denominaram, então, de zoneamento de tráfego (figura 5). O mesmo autor anteriormente
citado também discorre sobre a importância das pesquisas de Origem e Destino (Pesquisas
O/D):
2.2 Estratégias
A adoção do planejamento estratégico é uma das políticas mais importantes para que
uma cidade consiga desenvolver uma mobilidade sustentável, entendendo-seesta última como
“(...) resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que visam proporcionar o
acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos de
transporte coletivo e não motorizados, de forma efetiva, socialmente inclusiva e
ecologicamente sustentável.”(BRASIL, 2004).
Para a efetivação deste conceito, busca-se, a partir da implantação do VLT, desenvolver
uma política capaz de promover a inclusão social referente a uma nova concepção de
transporte público que tenha em mente, além da eficiência e conforto, o fato de ser também
acessível economicamente. Deste modo, várias estratégias deverão ser desenvolvidas para
isto, a figura 6 ilustra os vários componentes da estratégia para a consolidação da mobilidade
sustentável.
A busca da redução das viagens motorizadas individuais passará indubitavelmente por
uma maior participação da população nas decisões sobre a mobilidade. A inclusão de
pedestres e ciclistas é primordial, bem como o estabelecimento de tratamentos viários que
possam garantir a segurança para estes usuários. O estabelecimento de uma visão em longo
prazo para a municipalidade auxiliará na efetivação das ações propostas, possibilitando
possíveis revisões sem deturpação dos objetivos iniciais.
O VLT traz em si uma longa experiência mundial como modalidade que auxilia
positivamente os planos e ações estatais que visem à estruturação urbana, aliando-se este
potencial aos seus aspectos de modalidade de baixo impacto ambiental. Dessa forma, o
Município deverá inserir o Programa de implantação do sistema SIT-VLT em um Plano de
Mobilidade a ser amplamente discutido com a comunidade e não consistirá em apenas apenas
um plano técnico.
Naves de Ávila, Avenida 3 de outubro, Avenida Segismundo Pereira, Avenida Getúlio Vargas
tenderão ao crescimento moderado, enquanto que a Avenida Anselmo Alves dos Santos
tenderá a um adensamento de moderado a grande. A Avenida Monsenhor Eduardo é
apontada com tendências à estagnação.
As estratégias da cidade para obtenção da mobilidade sustentável devem passar pelo
estabelecimento de ações a curto, médio e longo prazo. A fixação da visão futura de uma
cidade com mobilidade sustentável, onde as pessoas se desloquem de forma confortável, a
preços condizentes com suas rendas e que o transporte trabalhe a favor do meio ambiente e
do desenvolvimento urbano, foi precedida de análises que construíram um quadro de
possibilidades em um ambiente de competição entre cidades de porte médio, ao mesmo
tempo em que as mesmas possuem várias oportunidades de atração de investimentos, fato
que requer delas grande apelo à competitividade. Uberlândia, apesar de apresentar diversos
aspectos indubitavelmente acima da média do país, carece de vários outros que, se
devidamente tratados, levariam a cidade a um patamar mais competitivo; um desses aspectos
é a mobilidade.
Para efetivação das metas propostas para a cidade apontam-se macroestratégias e
macropolíticas com vistas à orientação das forças presentes na municipalidade que possam
orientar-se no caminho a ser trilhado. Por macroestratégias, entendem-se aquelas grandes
ações ou caminhos que o sistema de transporte público deverá adotar para melhor interagir,
usufruir e gerar vantagens competitivas no ambiente urbano. Por macropolíticas, entendem-se
as grandes orientações que servirão como base de sustentação para as decisões, de caráter
geral, que o sistema deverá tomar para melhor interagir com o ambiente urbano.
O quadro 1 mostra uma síntese das Macroestratégias e Macropolíticas apontadas nas
diversas reuniões com o conjunto de especialistas:
MACROESTRATÉGIAS MACROPOLÍTICAS
Subsidiar a operação do TPU por VLT’s e Lei municipal que garanta subsídios para o
priorizar investimentos nos modos não TPU, em especial ao sistema de VLT’s.
motorizados. Planejamento Urbano e da Mobilidade
Criar uma autarquia, com autonomia Urbana indissociáveis
para planejar a cidade e a Mobilidade. Implementar um Sistema Municipal de
Utilizar “medidas moderadoras de Avaliação da Mobilidade Urbana, com
tráfego” (traffic calming) como parâmetros estabelecidos nos princípios da
parâmetro de Mobilidade Sustentável e Inclusão Social e da Sustentabilidade.
Inclusiva. Incentivos dos governos ao transporte
Priorização do transporte coletivo; coletivo (PAC);
Redução da poluição. Novas formas de financiamento do
Redução dos acidentes com veículos transporte coletivo;
particulares. Parcerias público-privadas na construção e
Participação comunitária em todos os operação;
níveis. Planejamento Urbano e da Mobilidade
Urbana indissociáveis;
Estratégias de participação comunitária,
consolidação de entidades de participação
em bairros, novos canais de participação.
OBJETIVOS METAS
A - Implantar um programa de subsídio
crescente em 10 anos e a Integração Temporal
Aumentar a mobilidade e a acessibilidade no STPU
econômica da população ao STPU
B - Criar sistema de tarifas diferenciadas nos
finais de semana (50% do valor dos dias úteis)
C - Aumentar a capacidade de carregamento
Incorporar usuários potenciais de outros da frota num nível de conforto “excelente”
modos ao STPU D - Implementar uma rede cicloviária
integrada ao STPU
E - Implementar Medidas Moderadoras de
Tráfego (Traffic Calming) e sinalização especial
Garantir Acessibilidade Universal nos eixos e passeios acessíveis
e adjacências do sistema de VLT-BRT
F - Garantir frota e equipamentos urbanos
acessíveis vinculados ao STPU
G - Criar legislação que garanta prioridade de
Implementar Políticas Públicas de ações para o TPU e os modos não motorizados
promoção da Mobilidade Sustentável e H - Criar legislação que garanta subsídios
Inclusiva diretos e indiretos para a promoção do
sistema de VLT’s
I - Criar um Sistema de Avaliação da
Mobilidade J - Urbana, de canal aberto e
Garantir participação e controle social sobre permanente, Criar um Comitê ou Conselho
a política de mobilidade urbana/municipal Municipal de Gestão da Mobilidade
Urbana/Municipal (CMGM) que garanta a
participação popular efetiva
Quadro 2 - Objetivos e metas estratégicas para o sistema SIT-VLT.
Fonte: Autores (2014).
O quadro 3 mostra uma síntese das ações traçadas com vistas a alcançar as metas em
prazos estimados.
OBJETIVO ANOS
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Obj 1
Meta a
Meta b
Obj 2
Meta c
Meta d
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OBJETIVO ANOS
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Obj 3
Meta e
Meta f
Obj 4
Meta g
Meta h
Obj 5
Meta i
Meta j
Quadro 3. Ações traçadas com vistas a alcançar as metas.
Fonte: Autores (2014).
Fonte: CEPES _ UFU (Censos Demográficos de 1991 e 2000 e Sinopse do Censo Demográfico 2010 - IBGE).
Obs.: TC (%) = Taxa Anual de Crescimento Médio Geométrico * 100. Data de referência dos Censos Demográficos: 1991 =
31/8/1991; 2000 = 31/7/2000, 2010 = 31/7/2010).
pelo mercado imobiliário e potencializados pelo poder público. A ação desses agentes fez
surgirem grandes espaços vazios, o que onerou o custo do transporte e fez com que o mesmo
se tornasse pouco acessível economicamente ao usuário, que é quem compensa todos os
custos operacionais.
No caso do transporte coletivo, a sobrecarga dos custos derivados dos vazios urbanos foi
ainda maior, uma vez que permaneceu a lógica capitalista de “paga quem consome”,
diferentemente do provimento da infraestrutura urbana, que sempre foi custeada por receitas
tributárias. Desse modo, a existência dos vazios que por si já se tornou um fator agravante,
potencializou no transporte público a exclusão social.
Para viabilização da produção, o transporte coletivo urbano tornou-se um insumo
indispensável, uma vez que a grande maioria da mão-de-obra industrial utilizava esse serviço.
Sob o ponto de vista do custo, todavia, sua característica de insumo não foi considerada e os
trabalhadores arcaram com a totalidade dos custos de produção.
A pressão por serviços e infraestrutura nem sempre foi atendida de maneira satisfatória.
Se atentarmos para o serviço de transporte coletivo, a situação, então, tornou-se ainda mais
grave pela relação puramente mercantil estabelecida, ou seja, onde as demandas justificassem
economicamente sua existência o transporte era implantado, se isso não acontecia os usuários
se viam obrigados a utilizar outros meios.
Em 1978, o sistema de transporte já mostrava certa estruturação operacional. A
cobertura da rede, todavia, ainda se mostrava ineficiente como consequência de uma
operação que primava pela baixa oferta e por uma rede urbana que obrigava o atendimento a
demandas rarefeitas no tecido urbano (Figura 5). É possível notar, nesta época, uma baixa
densidade da rede de itinerários. A cidade apresentava grandes vazios que foram aumentados
nas décadas posteriores.
Os indicadores de desempenho do transporte público de Uberlândia, traduzidos pelos
índices de mobilidade (tabela 2) mostram uma realidade não muito distante de outras cidades
brasileiras. Os índices de mobilidade por transporte coletivo por ônibus apresentam uma
franca decadência com efeitos nocivos sobre a cidade e os deslocamentos dos seus habitantes,
pois o número de viagens por transporte privado aumentou, causando grande número de
impactos.
O sucessivo crescimento do comprometimento salarial com transporte fez com que
muitos usuários não utilizassem o transporte público por incapacidade de pagamento ou o
trocassem por modalidades motorizadas de aquisições mais baratas como a motocicleta. Isto é
verificado mesmo após a implantação de corredores como o BRT (Bus Rapid Transit) da Av.
João Naves de Ávila.
A rede de transporte foi bastante aumentada ao longo dos anos de 1978 a 2012 (Figuras
6a, 6b e 6c). Isto indica uma melhoria na cobertura da rede e o aumento do percurso de vazios
urbanos que fazia com que os veículos percorressem muitos quilômetros sem nenhuma
demanda lindeira. Mas as frequências tornaram-se baixas ao longo do tempo, fazendo com
que o sistema integrado de transporte perdesse confiabilidade e regularidade.
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Figura 6a – Uberlândia – Reconstituição das linhas do transporte coletivo urbano – Abril de 1987.
Fonte: Mesquita e Silva (2007).
Figura 6b – Uberlândia: Rede de Itinerários do Sistema de transporte coletivo por ônibus em 1997.
Fonte: Mesquita e Silva (2007)
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A mobilidade da população, dada pelo número de viagens por habitante, mostra uma
evolução no período de 1978 a 1996, data da implantação do SIT – Sistema Integrado de
Transporte, que levou à diminuição de cerca de 30% do número de usuários pagantes. Embora
o SIT tenha influenciado no índice de mobilidade, se considerado o número de passageiros
integrados, ainda assim, poderia se notar a queda da mobilidade por transporte público
verificada entre 1996 e 2012. (tabela 2).
Esta situação pode ter várias causas, entre elas, a pouca atração de passageiros por esta
modalidade devido à baixa qualidade dos serviços, o impacto do comprometimento da renda
com transporte, o aumento no consumo de veículos como automóveis e motos, entre outras
(Figura 7).
Nota-se ainda na figura 7, que, embora o IPK (índice passageiro por quilômetro) tenha
subido, os indicadores de oferta estão em claro declínio, implica que, para adequação dos
preços, diminui-se a oferta do sistema. Isto evidencia uma política de mobilidade inadequada,
pois quanto menor a oferta menor será a atratividade do sistema.
Sob os aspectos de uma política nacional de transportes, pode-se dizer que somente
com a crise do petróleo, no início da década de 1970, os governos federal e estadual passaram
a ter maior preocupação com as questões ligadas ao setor de transportes público e seu
planejamento. Tais políticas não tiveram, entretanto, grandes efeitos nos transportes urbanos.
As regiões metropolitanas passaram a ter prioridade na busca de soluções para os
transportes públicos, dada a sua maior complexidade, daí o desenvolvimento técnico buscado
nestas cidades a partir de meados da década de 70 em diante destacando-se o investimento
em corredores segregados de ônibus, integração intermodal, valorização do transporte sobre
trilhos, entre outras intervenções.
Em Uberlândia, o transporte público, até o início da década de 1980, esteve ligado ao
poder público apenas nas questões que diziam respeito à legalidade do processo de concessão
dos serviços e ao estabelecimento das tarifas. Os problemas advindos dessa forma de
gerenciamento não demoraram a surgir, com o acirramento das relações entre comunidade,
empresa operadora e poder público.
Implantado a partir de 1997, o SIT possui uma rede de transporte integrada com cinco
terminais, um corredor de BRT (Bus Rapid Transit) e algumas estações de transferência. O
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Figura 8 -Linhas de desejo: todas as zonas para zona central – Transporte coletivo de Uberlândia – 1998.
Fonte: Mesquita e Silva (2007).
100%
90%
80%
porcentagem
70%
a pé
60%
bicicleta e moto
50%
Individual
40%
Coletivo
30%
20%
10%
0%
Compras
Trabalho
Lazer
Negócios
saúde
Educação
Motivo da viagem
Figura 9 - Distribuição de viagens – Uberlândia: 1978.
Fonte: Mesquita (2008).
40
100%
80%
porcentagem
A pé
60% Bicicleta
Moto
40% Individual
Coletivo
20%
0%
Educação
Lazer
Saúde
Negócios
Compras
Trabalho
Motivo da viagem
Figura 10 -Distribuição de viagens – Uberlândia: 2002.
Fonte: Mesquita (2008), SETTRAN/FECIV.
A evolução da divisão modal das viagens urbanas de Uberlândia mostra uma tendência
existente nas cidades de porte médio do Brasil, caracterizadas pela expansão das periferias e
um deslocamento das atividades anteriormente concentradas nas áreas centrais e a
concentração de atividades industriais em locais distantes destas. Esta expansão leva a uma
dependência cada vez maior de viagens motorizadas, potencializadas pelo tratamento
inadequado dispensado a modais não motorizados no sistema viário.
O índice de mobilidade por modo motorizado em Uberlândia evoluiu bastante entre
1978 e 2012 como pode ser visto na figura 11. O índice de mobilidade total, que considera as
viagens a pé, não aumentou, entretanto, na mesma proporção, passando de 1,34 para 1,36
viagens por pessoa. Isto significa que o número de viagens a pé ou bicicleta na cidade diminuiu
sensivelmente, cedendo lugar aos modos motorizados.
Os motivos para a ocorrência desta diminuição podem ser vários pode-se debitar grande
parte à mudança na espacialização das atividades de trabalho, lazer e compras, devido à
expansão do tecido urbano. Outros fatores relativos à qualidade espacial que remetem a
problemas de segurança, condições dos passeios públicos, mudança nos padrões culturais,
entre outros, também podem ter influenciado na mobilidade.
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Figura 11- Evolução dos Índices de mobilidade por modo motorizado em Uberlândia - 1978-2012.
Fonte: Mesquita (2014), Os Autores.
É possível notar uma forte correlação entre mobilidade e renda em Uberlândia (Figuras
12 e 13), denotando a predominância dos meios motorizados sobre o modo coletivo, a pé e de
bicicleta. O relacionamento entre mobilidade e renda é bastante evidente, como também
pode ser visto nos dados da região metropolitana de São Paulo e de Belo Horizonte,
constatado na figura 14 e 15. Fica evidente que a mobilidade depende intrinsecamente do
fator renda; dessa forma, as cidades brasileiras têm mostrado um acirramento da segregação
espacial baseada no fator transportes.
1,8
1,6
Índice de mobiliade
1,4
1,2
1 índice de mobilidade
0,8 % da populaçao total
0,6
0,4
0,2
0
15 a 30 Acima 30
Até 4 SM 4 a 8 SM 8 a 15 SM
SM SM
índice de mobilidade 1,21 1,38 1,52 1,66 1,64
% da populaçao total 38,6% 41,2% 15,8% 1,3% 0,1%
Salários mínimos
Figura 12- Índice de mobilidade segundo a renda – Uberlândia; 2002.
Fonte: Mesquita (2008), SETTRAN/FECIV.
42
Figura 13- Distribuição de viagens por modo e faixa de renda – Uberlândia; 2002.
Fonte: Mesquita (2008), SETTRAN/FECIV.
3,5
Índice de mobilidade
3
2,5
2 1997
1,5 2002
1
0,5
0
até 400 400 a 800 800 a 1.600 a 3.000 a mais de
1.600 3.000 6.000 6.000
Faixa de renda (R$)
Figura 14- Índice de mobilidade e renda na Região Metropolitana de São Paulo – SP; 1997 e 2002.
Fonte: Metrô-Pesquisa OD/97 e Aferição da OD/2002, organização: Mesquita (2008).
43
2,5
Índice de mobilidade
1,94
2 1,59
1,38
1,5 1,08
1 0,67 0,77
0,49
0,5 0,12
0
Até 1 De 1 até 2 De 2 até 3 De 3 a 5 De 5 a 10 De 10 a De 15 a Acima de
salário salários salários salários salários 15 20 20
mínimo salários salários salários
Faixa de renda
Figura 15 -Índice de mobilidade pelo modo motorizado e renda na Região Metropolitana de Belo Horizonte – MG em 2002.
Fonte: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte: Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S/A - BHTRANS S.A.
Outra relação pode ser encontrada entre o grau de instrução e a mobilidade (Figura 16)
e pode ser explicada pelo maior número de atividades realizadas no ambiente externo à casa
pelas pessoas de escolaridade mais elevada. Como citado anteriormente, pode-se constatar,
em outras cidades, o mesmo comportamento, como mostrado na figura 17.
1,35
1,34
1,33
1,32
1,31
1,3
1,29
1,28
fund. (1ª a 4ª série
Superior completo
4ª série - inc.)/( 5ª
Analfabeto/Ensino
completo./Ensino
compl./superior
Ens. Médio
Ens. Fund.
médio inc.
a 8ª inc.)
inc.
- inc.)
Nível de escolaridade
Figura 16 -Escolaridade e Mobilidade geral – Uberlândia; 2002.
Fonte: Mesquita (2008), SETTRAN/FECIV.
44
4
3,5
3
2,5 1997
2
1,5 2002
1
0,5
0
Analfabeto/ens. Ens. Fund. Ens. médio Superior
Fund. Completo/ens. Completo/ Completo
Incompleto médio Superior
Incompleto Incompleto
Nível de escolaridade
Figura 17- Escolaridade e mobilidade em Belém e São Paulo.
Fonte: Metrô-Pesquisa OD/97 e Aferição da OD/2002, organização: Mesquita (2008).
Figura 18- Linhas de desejo para zona central – Automóveis (diário) –2002.
Fonte: SETTRAN – FECIV / UFU(2002).
Figura 19- Linhas de desejo para zona central – Automóveis (diário) –2012.
Fonte: os autores, SETTRAN/FECIV (2002).
46
Figura 20- Linhas de desejo para zona central – ônibus (diário) –2002.
Fonte: SETTRAN – FECIV / UFU(2002).
Figura 21– Linhas de desejo para zona central – ônibus (diário – sentido bairro-centro) – 2012;
Fonte: Os Autores (2014) a partir de pesquisa OD realizada em 2014.
47
A mobilidade é um dos fatores mais importantes para a inclusão social e, desta forma,
necessita ser tratada de um modo mais responsável pelos poderes públicos. O transporte
público é dos meios responsáveis pelos deslocamentos de grande parte da população
brasileira e é constitucionalmente um bem essencial; a realidade mostra, todavia, que o
transporte público não é tratado como tal. Os efeitos colaterais destas políticas são notados
nas cidades brasileiras em imensas lentidões causadas pelo excesso de veículos privados.
Segundo BRASIL (2013), 54% dos domicílios brasileiros utilizam automóveis ou
motocicletas para a mobilidade diária de seus habitantes, retratando uma mudança do perfil
de mobilidade da população brasileira, cada vez mais estabelecido sobre o uso dos veículos
privados. O percentual de domicílios que possuía automóvel ou motocicleta subiu de 45% em
2008 para 54% em 2012. O percentual de motocicletas foi o que mais cresceu no período. O
mesmo estudo revela que, inclusive, nas faixas de renda mais baixas uma pequena parcela da
população já tem acesso a veículos privados.
Uma análise mais profunda destas tendências mostra a fragilidade dos sistemas de
transportes públicos naquilo que se refere ao acesso econômico aos mesmos. Políticas
econômicas inadequadas para o provimento do transporte público têm levado a efeitos
desastrosos sobre a atratividade dos mesmos e consequentemente sobre a mobilidade da
população. Exceto em raríssimas exceções, a política para os transportes públicos tem-se
fixado no conceito de “paga quem usa” e não de “paga quem se beneficia”; isto faz com que os
usuários cativos paguem toda a carga de custos operacionais dos sistemas.
Complica, ainda mais, a situação a prática de descontos e gratuidades que recai sobre os
sistemas estabelecidos sem maiores preocupações sobre seus impactos nas tarifas,
culminando como a prática denominada “o pobre subsidia o miserável”. Esta prática,
entretanto, tem levado a duas consequências óbvias; ou o cidadão de renda mais baixa não
tem acesso ao sistema ou assim que adquire renda suficiente opta por adquirir um veículo
motorizado (normalmente motocicleta), uma vez que o mesmo é economicamente viável
pelos gastos que teria com o transporte público caro.
As tarifas praticadas estão vinculadas ao custo operacional dos sistemas e na maioria
das vezes seus reajustes estão acima dos números da inflação do período como pode ser visto
na figura 22. Esta prática somente contribui para excluir mais os usuários com baixo poder de
pagamento e afastar para modos individuais aqueles que já adquiriram um poder aquisitivo
pouco maior.
48
Figura 24 - Exclusão social em Uberlândia utilizando a metodologia dos quartis e sobreposição da rede de itinerários do SIT – 2012.
Fonte: Mesquita (2014) e Vieira (2009).
50
3.1 Transporte público sobre trilhos e a evolução do VLT no mundo: uma análise conjuntural
Desta forma pode-se concluir que as cidades brasileiras devem acolher todas as
discussões que possibilitem a construção de melhores e mais eficientes sistemas de
transportes públicos, trazendo à população o debate democrático sobre suas opções.
O VLT no Brasil é uma tecnologia pouco utilizada com algumas experiências mais
consistentes em fase de implantação como é o caso do VLT Porto Maravilha na cidade do Rio
de Janeiro e o VLT Cuiabá Vázea-Grande.
Segundo informações do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, existem
atualmente 14 propostas de implantação de VLTs cadastradas no Programa de Acelaração do
Crescimento - PAC 2. A maioria delas está em fase de elaboração de estudos de viabilidade ou
projetos básicos.
55
Os casos de Cuiabá, Rio de Janeiro e Natal são exemplos de projetos que foram
impulsionados pelo fato dessas cidades terem sido escolhidas as sedes da Copa do Mundo e
das Olimpíadas.
A cidade do Rio de Janeiro será o palco dos Jogos Olímpicos em 2016. A realização de
um megaevento global, como é uma Olimpíada, trouxe enormes impactos urbanos oriundos
da mobilização de recursos e da articulação de iniciativas que num contexto normal não
seriam viabilizados. É neste cenário que nasceu a proposta de implantação do VLT Porto
Maravilha na cidade do Rio de Janeiro.
O VLT Porto Maravilha, que está em construção no Rio, é um projeto ousado de
intervenção urbana, que proporcionará uma melhoria substancial na mobilidade. O VLT
conectará a Região Portuária ao centro financeiro da cidade e ao Aeroporto Santos Dumont.
O projeto prevê seis linhas com 42 paradas (quatro delas em estações na Rodoviária,
Central do Brasil, Barcas e aeroporto) distribuídas por 28 Km de vias. O bonde moderno será
integrado ao Metrô, trens metropolitanos, Barcas, BRT's, rede de ônibus convencionais,
Teleférico da Providência e ao Aeroporto Santos Dumont, como podemos ver na figura:
As obras do VLT já começaram. Parte teve início com as intervenções do Porto Maravilha
nas vias já reurbanizadas. A calha para os trilhos já foi preparada para a implantação em vias
como a Rua General Luiz Mendes de Morais e trechos da Binário do Porto, incluindo o Túnel da
Saúde (com passagem exclusiva para o bonde moderno).
O sistema de pagamento inclui a utilização do Bilhete Único Carioca de transporte.
Quando todas as linhas estiverem em operação, a capacidade do sistema chegará a 285 mil
passageiros por dia. Cada carro poderá transportar até 415 passageiros e o intervalo entre os
VLTs poderá variar entre 3 e 15 minutos, conforme a linha e horário do dia.
Preparativos para a construção do Centro Integrado de Operação e Manutenção (Ciom)
na Gamboa, unidade de trabalho para concentração dos sistemas técnico-operacionais do VLT
(trens, via permanente, energia, sinalização, controle e comunicação), também estão em
andamento.
As obras são divididas por trecho e estão de acordo com o planejamento de tráfego para
que todas seis linhas do VLT entrem em operação no primeiro semestre de 2016. Todas as
etapas de obra terão início até dezembro de 2014.
57
incidentes. Estimou-se que haveria uma economia indireta de 410 milhões ao ano. Veja a
imagem a seguir elaborada pelos autores do estudo de viabilidade do VLT Porto Maravilha:
Figura: Foto do material rodante que será utilizado no VLT Porto Maravilha.
Fonte: Apresentação VLT Porto Maravilha Agosto 2014.
59
Goiânia, Goiás
O Governo do Estado de Goiás está executando um projeto de implantação de um
Veículo Leve sobre Trilhos em substituição a um antigo corredor de ônibus da Avenida
Anhaguera, uma importante via da cidade. Para além da troca do modal de transporte que
trará mais conforto aos usuários, outro objetivo é a requalificação do hipercentro de Goiânia e
da área central do bairro Campinas.
Em poucas décadas, em vinte anos Goiania saltou de uma população 717.948 pessoas
(1980) para 1.090.737(2000).
Como conseqüência desse crescimento, houve uma grande verticalização na cidade. Os
shoppings também surgiram na cidade nos anos 1980, oferecendo além de novas opções de
compra, uma nova opção de lazer. No centro da cidade começava a acontecer, naquele
período, um processo de degradação e marginalização. Muitos comerciantes se mudaram para
outros bairros que ofereciam melhores e mais modernas condições de conforto urbano e
também para os shoppings, que passaram a ser uma boa opção para os consumidores da
classe mais abastada da população. Os profissionais liberais seguiram também esse mesmo
caminho, contribuindo para o enfraquecimento do centro como pólo gerador comercial e de
prestação de serviços da cidade.
Essa diminuição de ocupação da área central resulta, inevitavelmente, num aumento da
violência nessas áreas e, conseqüente, a migragração dos moradores, que normalmente
optam por condomínios fechados em áreas mais afastadas da cidade.
A proposta do Governo do Estado de Goiás é realizar a revitalização da área central, com
a substituição do corredor exclusivo para ônibus pelo VLT.
O VLT Goiânia está previsto ter 30 composições de dois carros, com capacidade para
transportar até 600 pessoas por viagem. A velocidade média será de 23 km/hora.
A revitalização se dará em todo o trecho da avenida, serão realizada junto com a obra a
recuperação de toda a fachada e um projeto de iluminação que permita um funcionamento
dia e noite da área.
Foi realizada uma parceria público-privada (PPP) com o Governo de Goiás e terá
investimento inicialmente previsto para de R$ 1,3 bilhão, sendo R$ 215 milhões do governo
federal, R$ 590 milhões do governo estadual e R$ 495 milhões da Concessionária.A licitação
ocorreu dia 09 de dezembro de 2013, o consórcio formado pela Odebrecht Transport e a Rede
Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC) foi o único que apresentou a proposta. As obras
ainda não iniciaram, mas o orçamento já foi revisto e agora já está em R$1,8 bilhões.
61
Figura 3.1: Proporção das viagens diárias por categoria de modo de transporte de Cuiabá e Várzea Grande (2005)
FONTE: Plano de Mobilidade Urbana da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiab. (2010)
62
O Veículo Leve sobre Trilhos de Cuiabá já está em construção desde 21 de junho de 2012
e apesar de não ter finalizada a obra a tempo da Copa do Mundo de Futebol, a sua
implantação se caracteriza como um legado do megaevento esportivo ocorrido em Junho de
2014.
O financiamento do empreendimento é do BNDES, por meio da Caixa Econômica
Federal, com o valor total financiado é de R$ 1.150.900.000,00 e um investimento total de R$
1.477.000.000,00. O processo de licitação selecionou o Consórcio VLT Cuiabá/Várzea Grande,
que será responsável pela elaboração dos projetos básicos e executivos e a execução das obras
de terraplanagem, drenagem, pavimentação, instalação elétricas, rede de combate a incêndio,
estações e obras de arte especiais, além do fornecimento de material rodante (vagões do VLT).
O consórcio também foi responsável pela elaboração dos estudos de impacto ambiental
e complementares, projeto de desapropriação, sistema de bilhetagem e arrecadação.
64
A região da cidade de Norfolk, marcada por uma história de mais de 400 anos, é uma
das primeiras comunidades inglesas dos EUA, repleta de locais e monumentos históricos,
abrigando o mais antigo porto naval dos EUA, onde está ancorado o navio Battleship
Wisconsin, utilizado desde a Segunda Guerra Mundial até a Guerra do Golfo Pérsico.
The Tide, maré em português, é como se denomina o Veículo Leve sobre Trilhos da
cidade de Norfolk, localizada no estado da Virginia, nos Estados Unidos da América.
O VLT The Tide deu início em suas operações em agosto de 2011, configurando-se como
o primeiro VLT do estado da Virginia e também o mais recente nos Estados Unidos. A linha
inicial, na direção leste-oeste, possui 11 estações e uma extensão de 12 quilômetros,
conectando a Escola de Medicina do Estado da Virginia ao centro da cidade de Norfolk. Estão
distribuídos quatro estacionamentos gratuitos ao longo da linha no sistema park-ride (bolsões
de estacionamento). Obervamos na Figura X, o mapa das estações e a indicação dos
estacionamentos (letra P).
65
Além da integração com o automóvel, a linha também é alimentada pela integração com
o ônibus, são 18 linhas que oferecem conexões diretas para 6 das 11 estações do The Tide. A
alimentação é elétrica (170 VDC), por catenárias suspensas e os trens que operam a linha são
da fabricante Siemens, modelo S70. Possui diferentes tarifas conforme quadro abaixo:
Figura 2 – Veículo Siemens S70 parado em uma das estações do The Tide.
Fonte: Hampton Roads
Figura:
Fonte: Hampton Roads
Figura
Fonte: Hampton Roads
Em 2003, foi publicado o Transit Station Area Joint Development, documento com os
princípios e políticas públicas que serviram como norteadores do sistema de transporte da
região e também no planejamento urbano, incluindo infraestrutura pública, moradias,
incentivos a iniciativa privada, comércio e desenvolvimento econômico. Diante do exposto
sobre o sistema de transporte e uso do solo, reconhecemos os pilares que direcionam o
crescimento urbano de Charlotte.
Nesse contexto, em 2007, após vários estudos de viabilidade e reuniões com a
população, foi inaugurada a Linha Azul do Veículo Leve sobre Trilhos. Com uma extensão de
15,5 quilômetros e 15 estações, o VLT Lynx Charlotte, vem servindo como uma vetor de
expansão urbana da cidade. A linha, de traçado norte-sul, possui bolsões de estacionamento
gratuitos, infraestrutura cicloviária e atende diariamente 15.500 pessoas.
A Linha Azul possui diferentes tarifas, como pode ser observado no quadro abaixo.
Foto:
Fonte: arquivo pessoal. Autor: Edson Pistori.
Figura:
Fonte: arquivo pessoal, Leticia Michelotto
ISTAMBUL, TURQUIA
Istambul, com quase 14 milhões de habitantes na sua região metropolitana, é a maior
cidade da Turquia e a quinta maior do mundo. Foi a capital do Império Romano do Oriente e
do Império Otomano até 1923, quando a assinatura do Tratado de Lausanate, reconheceu a
República da Turquia. Atualmente, embora a capital do país seja Ancara, Istambul continua a
ser o principal polo industrial, comercial, cultural e universitário do país. A cidade ocupa ambas
as margens do estreito do Bósforo ligando o mar Negro, a norte, com o mar de Mármara, a sul,
que por sua vez está ligado ao mar Mediterrâneo pelo estreito de Dardanelos, os quais
separam a Ásia da Europa no sentido norte-sul, uma peculiaridade que faz de Istambul a única
cidade do mundo que ocupa dois continentes.
Para atender a demanda por transporte de quase 14 milhões de habitantes, a cidade de
Istambul dispõe de diferentes serviços de transporte e uma extensa malha férrea. Dentre os
tipos de transporte, tem-se o serviço de Bus Rapid Transit (BRT), o Metrobus com 50km de
extensão distribuídos ao longo de 4 linhas, trem metropolitano de superfície, metro, VLT e
trem suburbano.
Ao longo de mais de 100 anos de operação, a malha férrea de Istambul foi se
modernizando, mas data-se de 1871 a primeira linha de Tram a operar em Istambul, como
parte de 4 linhas que haviam sido concedidas a Sociedade de Tram de Constantinopla. A rede
foi rapidamente expandida para toda a região (hoje, o lado europeu de Istambul). Os vagões
eram movidos à cavalo e em 1911, o sistema foi gradualmente sendo eletrificado e substituído
por catenárias.
Várias linhas foram adicionadas as já existentes o que configurou uma extensa rede
férrea por toda a cidade. Na década de 1960, a cidade já contava com 56 linhas, operadas por
270 vagões e com capacidade de carga de 108 milhões de passageiros por ano. Porém, ao final
dos anos 1960, os trens já se encontravam sucateados e a cidade faz a opção por outros
modais, levando a decadência total do sistema.
72
Com o fechamento dos trilhos, a cidade passa a enfrentar vários problemas causados
pelo intenso tráfego de veículos de passeio, ônibus, taxis, como o aumento da poluição e
congestionamento. Esses problemas foram acompanhados pelo intenso crescimento
populacional e rápida urbanização das décadas de 1970 e 1980, demandando alternativas para
o sistema de transporte que já se encontrava insuficiente para atender a população. Ao final
da década de 1980, a administração pública reconhece o erro em se ter abandonado a malha
férrea e opta em reativar o sistema. Em 1992, a moderna linha T1 é a reativada e rapidamente
torna-se uma importante ligação.
O TRAM, assim como é chamado o VLT da cidade de Istambul, deu início em suas
operações em 1992, pela linha T1. Atualmente, são 35 quilômetros de trilhos distribuídos
entre 4 linhas (T1, T2, T3 e T4). A mais recente (T4) foi inaugurada em 2004. O TRAM é o
transporte preferido entre os turistas, pois percorre muitos pontos turísticos e históricos da
cidade, dentre eles a Mesquita Azul, Santa Sofia, Palácio de Topkapi, dentre outros.
A linha T1 Kabatas - Bagcilar, considerada como a linha histórica do TRAM, tem uma
extensão de 18.5 quilômetros e 31 estações, operadas por 92 vagões e com ocupação diária
de 320.000 passageiros. A linha é operada especialmente por vagões das fabricantes
Bombardier e Alston. Partindo de Kabatas, após passar pelo Chifre de Ouro, chega-se a
estação de Sultanahmet, principal ponto de interesse turístico de Istambul, onde estão
localizados a Mesquita Azul, Catedral Santa Sofia, Cisterna da Basílica, Hipódromo, o banho
turco de Haseki Hurrem Sultam, dentro outros. Também na linha T1, na estação de Beyazit,
encontra-se o famoso Grande Bazar.
Figura Linha T1: O contraste entre os vagões Alston Citadis (2010) e Bombardier Flexity (2003). Dezembro de 2012.
Fonte: Leticia Michelotto
A linha T2, com 5.1 quilômetros de extensão, opera no lado europeu de Istambul. Tem
início na última estação da T1 (Zeytinburnu) e transporta especialmente residentes dessa parte
da cidade.
Já a T3, com 5.3 quilômetros de linha e 10 estações, opera no lado do continente
asiático, entre Kadikoy e Moda. Os vagões trafegam na linha expressa de ônibus até o ponto
de intersecção com seis importantes avenidas em Altiyol. É uma linha importante, pois atende
tanto os moradores da região quanto aos turistas, uma vez que percorre área de comércio, de
73
atrações noturnas para jovens e também faz ligação com o porto. A linha é operada por uma
frota alemã, da fabricante Gotha-Reko.
A linha T4, mais recente delas, opera também do lado europeu, entre o imponente
Palácio de Topkapi e Habipler. A linha conta com 22 estações e tem extensão de 15.3
quilômetros, operados por 78 vagões e transportando diariamente 150.000 pessoas.
Em 2013, foi parcialmente inaugurada a primeira ligação ferroviária subterrânea entre
dois continentes, ligando a Ásia e a Europa, o Projeto Marmaray, uma linha de 14 km de
extensão, grande parte dela sob o estreito do Bósforo e do mar de Mármara. O construção do
projeto Marmaray começou em maio de 2004 e foi interrompido várias vezes pois, às margens
do estreito, foram encontrados sítios arqueológicos que precisaram ser estudos. Essa grande
obra da engenharia, representa a preocupação da administração pública em investir no modal
ferroviário para atender à demanda por transporte na cidade de Istambul, que atualmente,
enfrenta grandes problemas de tráfego.
Em visita técnica realizada na cidade de Istambul, a equipe de pesquisadores da UFU foi
recebida pelo Sr. Omer Yildiz, diretor geral da Cia. Ulasin Istambul para conhecer as instalações
e operações da companhia que administra e opera as linhas do tramway, metrô, VLT,
funicular e ônibus elétricos da cidade e região metropolitana de Istambul. Atualmente, são 150
quilômetros de linha férrea na cidade e região e mais de 1,5 milhão de pessoas atendidas
diariamente.
Durante a reunião, foram apresentados dados referentes aos modais que são operados
pela Ulasin bem como especificidades do VLT . A equipe teve a oportunidade de conhecer as
salas de operações e controle de tráfego e também o pátio de manutenção de veículos e
vagões. Foi nos apresentado todas as etapas da consolidação da linha T4 do VLT, desde os
estudos de viabilidade preliminares até dados sobre custos de operação e manutenção.
74
BERLIM, ALEMANHA
A cidade de Berlim na Alemanha, com 3.5 milhões de habitantes, possui uma extensa
rede de transporte público, desde ônibus, metros e inúmeras linhas de VLT que servem tanto à
população residente quantos aos turistas alcançando praticamente todas as partes da cidade.
Se contarmos a distância percorrida pelos quatros modais presentes em Berlim - trem
suburbano, metro, VLT, ônibus - tem-se um total de 1772 quilômetros de linhas e
aproximadamente 7.500 paradas, quase a distância entre Berlim e Moscou, na Rússia.
O sistema de transporte de Berlim é referência mundial pela agilidade e eficiência dos
modais e também pela tecnologia empregada no desenvolvimento de meios de transportes
cada vez mais sustentáveis. Do total da população de Berlim, somente 31% usa o automóvel
próprio nos seus deslocamentos, fato que comprova a eficiência da rede de transporte da
cidade.
Dados de 2012, apontam que a rede de transporte público de Berlim atinge 922 milhões
de passageiros por ano, com uma frota de 3200 carros, 180 linhas e emprega mais de 10.000
trabalhadores. Diariamente, são 100.000 usuários do sistema de VLT (TRAM), 1.3 milhões de
usuários no modal ônibus e 1.5 milhões nos trens suburbanos. (BVG)
O VLT (TRAM) de Berlim, transita por quase toda a cidade. A linha tem uma extensão
total de 430 quilômetros, 800 paradas, 414 carros, 9 linhas longas, 22 linhas diárias. A rede do
TRAM é uma das mais antigas do mundo desde 1881, ano em que Werner von Siemens,
inaugura a segunda linha elétrica de trens do mundo. Inicialmente, a linha foi constituída como
teste para o sistema elétrico que o Siemens estava desenvolvendo, pois o engenheiro visava a
implantação de uma rede de linhas elevadas em Berlim. Então, em 1895 inaugura-se
oficialmente a primeira linha do TRAM com alimentação elétrica por catenárias elevadas.
Atualmente, a rede se configura como a terceira maior do mundo em extensão. A Figura X,
ilustra uma das paradas do TRAM. Detalhe para o carro de piso baixo, modelo GT6-94.
Fonte: BVG
75
Fonte: BVG
A opção pelo transporte coletivo por ônibus e a crescente elevação das demandas nas
cidades de grande porte e metrópoles levou a um empenho técnico para seu desenvolvimento
e melhor desempenho operacional, levando a um domínio nacional invejável desta tecnologia.
O sucesso brasileiro em planejamento e gestão do transporte coletivo é conhecido
mundialmente pela criatividade de profissionais. Iniciado, principalmente em Curitiba e São
Paulo, as novas formas de gestão adotaram sistemas com vários níveis de segregação, diversas
adequações operacionais, adoção de sistemas de bilhetagem eletrônica que tornaram os
sistemas mais ágeis e confiáveis.
Os sistemas que adotaram essas tecnologias e um alto nível de desempenho foram
denominados posteriormente com a sigla anglo saxônica BRT (Bus Rapid Transit). O domínio
técnico fez com essas tecnologias nacionais fossem utilizadas também em diversos países,
muitas vezes com projetos de profissionais brasileiros. Embora tenha dominado a tecnologia
de planejamento e gestão, o país ainda carece de um melhor entendimento da influência dos
transportes para o desenvolvimento das cidades e o papel do Estado no provimento do serviço
público.
O Estado brasileiro opta por um modelo de um quase total alijamento no que se refere
ao custeio dos custos operacionais, deixando ao usuário os encargos totais da produção do
serviço. Situação totalmente diversa dos países desenvolvidos onde o Estado participa
ativamente no custeio dos serviços.
Apesar de todos os avanços o material rodante em uma boa parte do Brasil ainda é
constituído por veículos de baixa qualidade e conforto e redes pouco eficientes. Na década de
1980 presenciou-se no Brasil a tentativa de vários níveis de padronização para produção de
ônibus de maior qualidade por meio do projeto “padron”.
Embora os resultados tenham mostrado um claro avanço na produção dos veículos, as
normatizações nunca foram levadas a cabo de uma forma generalizada e apresentou diversas
distorções. A utilização dos veículos para o transporte coletivo com tecnologias apropriadas
para tal continua sendo um grande desafio para o Brasil, mesmo tendo importantes empresas
produtoras destes bens.
É sabido tecnicamente que a capacidade de transporte de passageiros por hora/sentido
depende de diversos fatores que envolvem a modalidade com que se trabalha e
principalmente suas condições de segregação no sistema viário urbano. A utilização de ônibus
convencionais, BRT, VLT, metrô leve ou Metrô pesado depende intrinsecamente das
demandas, mas também das características de cada modalidade.
Embora os sistemas sobre pneus tenham evoluído e sejam utilizados mundialmente,
algumas experiências até mais eficientes que os brasileiros, não é possível generalizar sua
utilização em quaisquer escalas de demanda ou tecidos urbanos, como querem alguns autores
ou empresas. As controvérsias estabelecidas muitas vezes carecem de maiores
esclarecimentos ao público, uma vez que o custo da implantação é o principal motivo de
defesa do modal pneumático.
A partir da década de 1980, o mundo viu ressurgir na cena os bondes elétricos, agora
dotados de uma nova roupagem, que envolveu a modernização das tecnologias de tração,
capacidade de transporte de passageiros e um novo, atraente e aprimorado design.
O ressurgimento dos bondes, inicialmente na França, foi marcado por uma preocupação
com o aumento do número de veículos automotores no sistema viário e as preocupações com
o provimento de um transporte público capaz de atrair os usuários dos modais privados.
78
sobre escolhas modais de forma mais abrangente e entendendo o transporte como elemento
vital dentro dos planos governamentais.
Alguns autores têm tratado BRT e VLT como modalidades excludentes entre si em uma
tentativa insensata de utilizar apenas as variáveis técnica e econômica como medida. É
necessário ir além, inserindo no contexto aquelas variáveis que dizem respeito ao espaço
urbano onde tais modalidades serão inseridas e o potencial de requalificação e estruturação
do mesmo a partir de cada uma delas, estes valores devem ser contabilizados na escolha do
modal para ocasiões onde os outros fatores podem indicar sua viabilidade.
A razão os preços por quilômetro entre VLT e BRT foi desmitificada recentemente com o
esclarecimento de que em ambos deveriam inserir tanto os custos de infraestrutura,
superestrutura, material rodante, intervenções urbanas para minimização de impactos, entre
outros. Outros quesitos esclarecidos referem-se ao número de obras de arte necessárias para
cada uma das modalidades. Nem sempre o VLT requer grandes obras de arte que o
encarecem, dessa forma os custos caem. Em diversas implantações de BRT nacionais os custos
se elevaram grandiosamente devidos à necessidade de grandes e caras obras de arte.
As vantagens e desvantagens de cada uma das modalidades devem ser consideradas
como formas de explorar sua complementaridade. Basicamente os três aspectos
preponderantes para comparação são Demanda transportada, custos de implantação e
aspectos urbanos e ambientais.
Os quadros 1 e 2 mostram comparativos utilizando diversa variáveis e ponderando
vantagens e desvantagens de cada modalidade. Pode-se notar que, quanto aos custos o VLT e
BRT podem se equivaler em muitas situações. Tanto o metrô quanto o VLT, por suas
características tecnológicas e físicas contribuem mais para a melhoria da imagem urbana
enquanto o BRT possui (em alguns caos) vantagens quanto ao custo da infraestrutura.
Características ligadas à flexibilidade e possibilidades de ultrapassem podem dar algumas
vantagens ao BRT sobre o VLT, no entanto o tamanho da composição pode às vezes
compensar este efeito.
Podemos concluir que as acaloradas e muitas vezes apaixonadas discussões sobre BRT
versus VLT devem dar lugar ao uso da racionalidade, buscando tirar da utilização de cada uma
das modalidades o melhor que elas podem oferecer, seja do ponto de vista de desempenho
operacional, ambiental, de requalificação e reestruturação dos espaços urbanos ou de domínio
nacional da tecnologia.
CAPÍTULO IV
Uma proposta funcional
para a Rede SIT-VLT
82
4.2.1 Estimativa das Demandas do VLT - construção dos cenários futuros da mobilidade em
Uberlândia.
83
Cenário base
O cenário base é composto do diagnóstico da situação da mobilidade em Uberlândia no
ano de 2012, notadamente os modos motorizados, uma vez que os maiores impactos sobre os
outros modos advêm do uso excessivo dos primeiros. Traça-se inicialmente um quadro geral
da mobilidade principalmente, nos 10 anos anteriores a 2012 (2002-2012), com o intuito de se
fundamentarem as tendências políticas e socioeconômicas no tratamento das questões ligadas
ao deslocamento da população urbana.
Analisam-se as viagens motorizadas individuais e coletivas por zona de tráfego e a
situação das viagens não motorizadas. Correlaciona-se renda e viagens para obtenção das
projeções das viagens motorizadas individuais. Foi elaborada uma pesquisa de Origem e
Destino de transporte coletivo com o intuito de calibrar as projeções para 2012. Conhece-se
também o número de oferta de vagas escolares em todos os níveis para todas as zonas.
Presume-se que o número de empregos futuros gerados na cidade nos dois cenários foi o
mesmo.
O número de empregos futuros foi calculado pela correlação entre a população e o
número dos mesmos. Outros dados considerados dizem respeito à população residente e à
densidade bruta de cada zona por serem ainda variáveis de grande importância na previsão de
cenários futuros de mobilidade. As variáveis empregos e número de escolas correlacionam-se
demasiadamente com a atração de viagens das zonas.
No Cenário 1, insere-se na cidade o VLT – Veículo Leve sobre Trilhos em duas linhas
integradas ao SIT – Sistema Integrado de Transportes (devidamente melhorado). Neste
cenário, as ações sobre a mobilidade são entendidas de forma ampla e inseridas sobre três
pilares básicos: Mobilidade-Uso do solo urbano-Meio ambiente. Para efeitos de planejamento
a cidade foi dividida em três anéis de adensamento (figura 1), compreendendo vários
objetivos:
Aliar uma nova perspectiva de mobilidade a partir da inserção do VLT e melhoria
substancial do SIT – Sistema Integrado de Transporte com o adensamento dos eixos
por onde trafegarão os modais.
Estabelecer estratégias integradas de transportes e uso do solo com vistas à redução
das viagens motorizadas individuais e requalificação ambiental.
Diminuir os vazios urbanos nos anéis estabelecidos de forma sistemática em
conformidade com os níveis de oferta de infraestrutura e serviços de cada um.
Estabelecer um adensamento que promova um mix de classes de renda em todos os
anéis diminuindo os efeitos de segregação espacial do atual modelo.
Incentivar a criação de novos subcentros e consolidação dos atuais a partir de uma
política mais efetiva (ainda não existente) sobre estas novas centralidades.
Favorecer a consolidação das demandas de transportes nos eixos a partir do incentivo
ao adensamento qualificado dos mesmos, promovendo assim a concentração de
atividades diversas e aumento do uso residencial, resultando em uma maior dinâmica
urbana.
Reduzir as emissões de poluentes oriundos das externalidades geradas pelos modais
motorizados, a partir da inserção do VLT e melhorias no SIT e consequentemente uma
migração de uma porcentagem dos usuários dos modos individuais para o transporte
coletivo.
Tornar os transportes públicos mais atrativos e consequentemente criar tendências de
crescimento das suas demandas.
Requalificar os eixos de transportes públicos de forma a garantir um equilíbrio entre a
paisagem urbana e os impactos causados pela inserção destes corredores.
Promover medidas de melhorias ambientais diversas que abrangerão todos os eixos.
85
Figura 1 – Anéis de adensamento para implantação do Sistema SIT-VLT em um cenário de pleno desenvolvimento.
Fonte: Autores
Figura 2 – Cenário 1 – Pleno desenvolvimento: Sistema SIT-VLT, densidades urbanas em 2012, subcentros e principais eixos de
transportes públicos (trilhos e pneus).
Fonte: os Autores (2014).
Este cenário (figura 3) admite uma continuidade das políticas atuais sobre a cidade e a
mobilidade, mantendo as atuais tendências de aumento indiscriminado das densidades das
zonas, crescimento da renda em 1% ao ano, e empregos e escolas obedecendo às tendências
históricas de flutuação. No caso das escolas como o número tende para diminuição, assume-se
a continuidade da oferta de escolas em 2012.
As modificações inseridas na revisão do Plano Diretor em 2006 serão mantidas. Não se
presume a migração de viagens motorizadas individuais para o SIT mesmo depois da
implantação dos corredores, já que não se vislumbram outras medidas de atração capazes de
transformar em realidade a atração (tais como aumento substancial na oferta, novas politicas
tarifárias, aumento do conforto, diminuição dos tempos na rede alimentadora entre outros).
87
Figura 3 – Cenário 2 crescimento moderado: somente com a rede de transporte público do SIT (pneus) e premissas do Plano
Diretor – 2006.
Fonte: Os Autores (2014).
A estimativa do número das viagens produzidas pelos polos geradores de viagens (PGVs)
foi elaborada utilizando as metodologias propostas constantes no NCHRP 187 (National
89
A distribuição das escolas possui uma correlação com as rendas dos habitantes e com as
viagens atraídas para as mesmas (figura 8). O comportamento evolutivo da educação na
cidade mostra uma realidade um tanto anômala se acreditarmos em que a demanda por
matrículas mantém uma estreita correlação com a evolução do número de habitantes. Em
Uberlândia, observa-se tendência a uma diminuição ao longo do período estudado (figuras 6 e
7), ser algo anormal, carecendo de mudanças nas políticas educacionais. Ao analisar o quadro
o CEPES-UFU assim manifesta:
Quando se tem um crescimento populacional tão vertiginoso como o de
Uberlândia28, pode-se supor que a demanda por vagas em escolas do
ensino básico deva também aumentar em alguma proporção parecida. No
entanto, os dados de 2007 até 2010, mostram que a evolução dos números
de alunos e professores não segue os do aumento populacional. Os números
da expansão foram: 26,38% no de escolas, 8,45% no de professores e 2,45%
no de alunos.(CEPES, 2011, p. 23)
TAXAS DE EMPREGOS
ZONA CENÁRIO BASE CENÁRIO 1 CENÁRIO 2
1 5,18 4,61 4,61
2 1,01 0,80 0,80
3 1,03 1,16 1,16
4 0,97 0,74 0,74
5 1,56 3,33 3,33
6 0,73 0,78 0,78
7 4,68 3,93 3,93
93
Para geração dos resultados das estimativas das demandas futuras e após a
caracterização das variáveis estipuladas foi utilizado a modelagem matemática de correlação e
regressão observados os quesitos metodológicos adotados para o estudo. As tabelas seguintes
(tabela 3) apresentam a produção e atração de viagens de transporte privado na cidade de
Uberlândia em 2002 (fruto da pesquisa Origem e Destino – SETTRAN/FECIV), as estimativas do
transporte privado para 2012, 2032 cenário 1 e 2.
A tabela 3 apresenta uma evolução das viagens motorizadas individuais e por transporte
público na cidade de Uberlândia desde 1978 (pesquisa do Plano Diretor elaborado pela
HIDROSERVICE), passando por 2002 (fruto da pesquisa Origem e Destino - SETTRAN-FECIV),
2012 (pesquisa Origem e Destino elaborado pelo Grupo VLT e estimativa do transporte privado
sobre pesquisa 2002) até as estimativas elaboradas com base nestas últimas para os cenários
2032 cenário 1 e 2.
95
A figura 19 mostra a evolução das demandas do transporte público nos três cenários,
evidenciando o superior crescimento que ocorrerá com a demanda a partir da implantação do
Sistema SIT-VLT.
A espacialização das demandas a partir dos cenários novos denota a criação de novas
centralidades e, portanto, a criação de novos padrões de deslocamento. Para o cenário 1, esta
espacialização (figura 20) mostra estes novos padrões.
101
A escolha dos traçados das linhas do VLT se deu a partir do estudo de um grande
número de variáveis que compuseram o arcabouço de avaliação da morfologia urbana
(tipologias urbanas, topografia, traçado e parcelamento), aspectos da paisagem (grau de
consolidação, aspectos culturais, aspectos estéticos), demanda e oferta de transportes
102
Linha Lilás – liga o Bairro Fundinho- Centro - Aparecida – Brasil - ao Bairro Alto Umuarama
Linha verde – Liga o Aeroporto – Centro Administrativo - Av. Rondon Pacheco –Daniel Fonseca
As duas linhas criadas têm conotações diferenciadas quanto aos seus papéis de
elementos de transporte público e de estruturação espacial. A linha lilás trafegará por uma
área já consolidada, tanto em nível físico-espacial quanto às demandas de transporte. Os
maiores problemas de lentidão e atraso nas linhas de ônibus estão, portanto, nesse corredor.
A linha verde seguirá uma via ainda em processo de consolidação e com um grande potencial
de adensamento a partir de um urbanismo dirigido e qualificado, onde se controlará
densidade e aspectos construtivos de forma a produzir um espaço de qualidade. Neste
corredor, as demandas ainda estão por se consolidar e a oferta de sistema viário é
relativamente superior ao eixo Centro-Umuarama.
Os corredores estruturais de transporte público por ônibus (figura 22), projeto elaborado e em
fase de implantação pela Prefeitura Municipal de Uberlândia com apoio financeiro da União a
partir de verbas do PAC propõe a priorização das linhas troncais no sistema viário da cidade e
aplicação de outras medidas de tratamento preferencial que configurarão tais corredores
como BRTs. O corredor noroeste (Umuarama-T.Central) não foi contemplado nesta fase de
implantação devido às suas características especiais de inserção (adensamento, características
viárias e operacionais). As demandas diárias destes corredores podem ser vistas no quadro 1,
denotando que as demandas totais das linhas troncais tratadas preferencialmente superam
cem mil passageiros por dia. As linhas do VLT agregam-se a esta rede de forma complementar,
ressaltando o caráter especial da inserção desta modalidade no quesito relativo à
requalificação espacial, desempenho operacional e estruturação urbana. A linha lilás agrega-
se de forma mais imediata à rede, enquanto a linha verde implica em uma reestruturação mais
ampla das demandas agregadas ao corredor leste.
105
Demanda
Demanda alimentadoras, Demanda
Corredor Troncal interbairros e Total
(integração e pagantes) distritais (integração e pagantes)
(integração e pagantes)
1 - Corredor Leste
Av. Segismundo Pereira, 26.596
22.159 48.755
Rua Jerônima Lucas Barros e
Rua Joaquim Carlos Fonseca
2 - Corredor Oeste
Av. Fernando Vilela, Av. 25.705
Vasconcelos Costa, Av. 16.895 42.600
Marcos de Freitas Costa e Av.
José Fonseca e Silva
3 - Corredor Sudoeste
18.572 12.074 30.646
Av. Getúlio Vargas
4 – Corredor Norte
Av. Adriano Bailoni 24.497 24.706 49.203
Av. Cleanto Vieira Gonçalves
5 – Corredor Sul
Av. Nicomedes Alves dos 10.926 2.526 13.452
Santos
Total 106.296
Quadro 1. Resumo operacional dos corredores estruturais
Fonte: PMU (2014), reorganizado pelos autores.
Linha – Alimentadora (A) Frota Dem Viag Linha – Alimentadora (A) Frota Dem Viag
A 100 - Rodoviária / T. Central 2 1.194 66 A 174 - T. Central / Educação Física 1 522 16,5
A 104 - Roosevelt / T. Central 1 570 24 A 208 - T. Umuarama /N S Graças 3 1415 58
A 105 - Santa Mônica / T. Central 4 1.623 50 A 211 - Aclimação / T. Umuarama 2 1404 46
A 106 - Roosevelt / T. Central 2 1.388 50 A 212 - T. Umuarama / Custódio 2 858 54
A 107 - Pacaembu / T. Central 4 2.233 53.5 A 214 - T. Umuarama Aclimação / 1 146 20,5
A 109 - Marta Helena / T. Central 3 2.302 51 A 215 - T. Umuarama / Setor Industr 1 57 2
A 110 - São José / T. Central 2 1.295 31.5 A 229 - Ipanema / T. Umuarama 3 1600 50
A 112 - T. Central / Bairro Brasil 1 65 8 A 230 - Dom Almir / T. Umuarama 3 1355 35
A 113 - Tibery / T. Central 3 2.132 52 A 234 - Minas Gerais / T. Umuarama 2 1018 38,5
A 114 - Tibery / T. Central 3 2.019 52 A 236 - T. Umuarama / Morumbi 5 2399 52,5
A 115 - T. Central / Saraiva 3 1.182 45 A 237 - T. Umuarama / Morumbi 2 749 33,5
A 116 - Santa Mônica / T. Central 2 781 25 A 315 - T. S. Luzia / Morumbi 2 593 34
A 117 - Griff Shop / T. Central 1 369 36 A 324 - T. S. Luzia / Granada 2 842 43
A 118 - T. Central / Pampulha 2 773 24 A 326 - T. S. Luzia / São Jorge 3 1407 71
A 119 - Patrimônio / T. Central 2 1305 40 A 327 - T. S. Luzia / Seringueiras 5 2066 91
A 120 - Jardim das Palmeiras / T. Central 4 2975 60 A 328 - T. S. Luzia / Paineiras 3 1564 66
A 121 - Cidade Jardim / T. Central 2 1032 36 A 330 - T. S. Luzia / Dom Almir 1 370 21
A 122 - Guarani / T. Central 5 3343 69,5 A 331 - T. S. Luzia / Shopping Park 1 452 12
A 123 - Maravilha / T. Central 5 3147 55 A 335 - T. S. Luzia / Aurora 5 2831 92
A 124 - São Lucas / T. Central 4 2.977 56,5 A 339 - T. S. Luzia / São Gabriel 5 3063 101
A 126 - Tocantins / T. Central 8 4.640 87.1 A 361 - T. S. Luzia / Penitenciária 1 45 14
106
A inserção das linhas no atual zoneamento do uso do solo urbano (figura 23) evidencia
uma clara coerência com as tendências de crescimento chanceladas e incentivadas ao extremo
pelo município ao longo dos bairros Brasil, Aparecida e Santa Mônica (na cor laranja no mapa).
No entanto parece haver um desequilíbrio, uma vez que os setores a oeste claramente não
possuem políticas evidentes de desenvolvimento urbano. Nota-se claramente que a maior
parte dos grandes equipamentos de serviços públicos e privados, bem como usos de lazer e
entretenimento e geração de empregos se situam nas zonas sul, sudeste, norte, nordeste e
noroeste.
107
Após a definição dos prováveis eixos, os estudos aproximaram a visão para aspectos
mais próximos ao desenho urbano, procurando compreender as variáveis urbanas e relativas
ao comportamento das demandas de passageiros. As aproximações levaram ao
dimensionamento operacional e ao tratamento dos eixos para recebimento do VLT e conexões
com o Sistema Integrado de Transportes.
Algumas variáveis passaram a ser consideradas mais detalhadamente nesta fase do
estudo:
Existência de uso do solo com predominância para serviço e comércio que levassem à
necessidade de oferta de vagas de estacionamento e operações de carga e descarga.
Existência de grande fluxo de pedestres e/ou ciclistas.
Necessidade de proteção ao patrimônio cultural (notadamente o patrimônio
edificado).
Interferências visuais do transporte na paisagem (caso de veículos, catenárias para
alimentação de energia ou opção sem as mesmas, estações).
Necessidade de alargamento de passeios e inserção de ciclovias.
Problemas ambientais ligados à impermeabilização de áreas.
Custos relativos à implantação de VLT em via singela (mão única) ou em mão dupla.
Existência de áreas livres destinadas às instalações de garagem e oficinas.
Economicidade de traçados no caso tráfego em áreas de baixa demanda.
Proximidade aos terminais de integração existentes.
109
A escolha dos traçados gerou várias possibilidades; dentre elas, após uma triagem onde
as variáveis tiveram seus pesos avaliados, puderam-se destacar as relacionadas a seguir:
110
Opção 1: Tráfego do VLT em mão dupla na Avenida Afonso Pena, alargando-se algunspasseios
para inserção das estações e tratamento para pedestre. As figuras abaixo mostram o traçado
desta opçãoe os perfis viários possíveis.
Opção 2: Tráfego do VLT em via singela nas Avenidas João Pinheiro e Afonso Pena com
alargamento dos passeios no centro da cidade e/ou ao longo de toda a Avenida. Caso opte-se
pelo alargamento somente no centro, a ciclovia fora do centro seria desviada para as vias
laterais. Esta opção dá-se pelo atual trajeto das linhas troncais, facilitando os deslocamentos
de usuários. As figuras abaixo mostram o traçado desta opção, um trecho tipo da avenida e os
perfis viários possíveis.
Opção 3: Tráfego do VLT em via singela, nas Avenidas Afonso Pena e Floriano Peixoto com
alargamento dos passeios no centro da cidade e/ou ao longo de toda a Avenida. Caso opte-se
pelo alargamento somente no centro, a ciclovia fora do centro seria desviada para as vias
laterais.
Nesta opção, tem-se uma provável revitalização da Av. Floriano Peixoto. As figuras abaixo
mostram as possibilidades do traçado desta opção, um trecho tipo da Avenida Afonso Pena; na
área central, os perfis das vias do Bairro Fundinho que também terão intervenções. Pode-se
notar que, na área central, dois berços, com comprimento suficiente para abrigar caminhões
ou vans, facilitam as operações de carga e descarga e embarque e desembarque. As cargas e
descargas têm legislação própria e devem ser feitas em período específico, determinado
previamente.
Figura 31 - Trecho tipo da Avenida Afonso Pena – Área Central e Bairro Brasil (opção com 2 faixas de tráfego).
Fonte: Autores (2014).
116
117
118
119
Figura 32 – Perfis viários possíveis da Av. Afonso Pena e Floriano Peixoto, Rua Princesa Isabel e Bernardo Guimarães e Rua XV de
Novembro.
Fonte: Autores (2014).
A figura 33A mostra uma perspectiva da Praça Tubal Vilela com a inserção do VLT na Av.
Afonso Pena, expondo os detalhes da ciclovia e do alargamento dos passeios e da baixa
intrusão visual possibilitada pelo VLT. A figura 33B apresenta uma possibilidade de inserção no
bairro Fundinho com a estação localizada na Praça Cel. Carneiro. As intervenções na praça
Clarimundo Carneiro (que tem o conjunto tombado pelo patrimônio municipal) tenderão a ter
o menor impacto possível na paisagem, desta forma optou-se pela utilização de estações e
outros equipamentos de maior leveza e transparência com vistas a não se rivalizarem ou
prejudicarem as visuais da praça. A figura 33C apresenta uma possibilidade de inserção de uma
estação de VLT nesta praça.
120
A linha verde, por estar inserida em trechos com maior oferta de sistema viário e menos
adensamento, teve menores problemas e, dessa forma, a implantação torna-se mais fácil. A
figura 34 mostra esta linha inserida no contexto urbano, a figura 35 mostra trechos das
avenidas Anselmo Alves dos Santos e Rondon Pacheco; e a figura 36 mostra os perfis viários
possíveis nas avenidas principais componentes da via: Av. Anselmo Alves dos Santos, Av.
Rondon Pacheco e Av. Geraldo Mota Batista.
C
123
Figura 34 – A: Linha verde inserida no contexto urbano; B: Av. Anselmo A. Santos – trecho Sabiá; C: Av. Anselmo A. Santos – trecho
CREA; D:Av. Rondon Pacheco – trecho tipo.
Fonte: Autores (2014).
124
125
Assim como a linha lilás com suas características de inserção em uma área de intenso
adensamento, a linha Verde trafegará por lugares de paisagens extremamente atraentes em
face dos espaços abertos e verdes; dessa forma, o desenho de equipamentos e mobiliário deve
primar pela valorização das mesmas. As figuras 36 e 37 mostram as possibilidades de inserção
destas intervenções.
126
Figura 36 – Ilustração de VLT na Av. Anselmo Alves dos Santos – Estádio João Havelange.
Fonte: Autores (2014).
Figura 37 – ilustração de uma possível inserção de estação VLT em rotatória da Av. Anselmo Alves dos Santos
Fonte: Autores (2014).
Em todas as opções, é premente uma operação sem catenárias, na área central, em face
da intrusão visual que este mecanismo apresenta; Poder-se-ia, porém, abrir mão desta
prerrogativa em outras áreas, devido ao custo superior que a solução com alimentação por
terceiro trilho ou outras pode trazer.
127
Em todas as opções, propõe-se que a circulação seja realizada como um trinário, onde
se trata as vias de prioridade do transporte público como vias lentas e, nas vias laterais, dá-se
prioridade ao deslocamento, retirando-se o estacionamento e priorizando a circulação dos
autos.
Com vistas à exequibilidade do estudo, a equipe optou por detalhar a opção 3 deixando
as outras como possibilidades a serem discutidas; algumas vantagens, contudo, conduziram a
esta opção. Entre elas, estão a obtenção de menores impactos urbanos e a possibilidade de
revitalização da Av. Floriano Peixoto. Assim, todo o detalhamento foi efetivado sobre a opção
3. Após o dimensionamento operacional do sistema, chegou-se às características apresentadas
na tabela 11.
O estabelecimento da velocidade operacional do VLT ou BRT em áreas de grande
adensamento, como é o caso da linha lilás ou corredores de BRT requerem cuidados
principalmente com a segurança de usuários e pedestres. A prática de várias cidades confirma
que a velocidade operacional em tais áreas devem estar situadas entre 20 e 30 km/h e as vias
devem ser preparadas de forma especial para receber os corredores.
A segregação do VLT em uma via exclusivae melhores sistemas de controle operacional
possibilitam uma redução uma média de 27% nos tempos de viagem das linhas de ônibus
convencionais. Desta forma um tempo de ciclo entre o terminal Central e o Bairro Umuarama
que poderia durar 47 minutos pode ser concluído em apenas 33 minutos. Se considerarmos o
desempenho de algunsBRTs, o VLT ainda conseguiria uma redução de 15% dos tempos de
viagens em relação aos mesmos.
área central
Figura 1. Oficina de manutenção com uso de teto jardim em Pont de Bezons em Paris, 2012; Pátio de Manobra em
Barcelona/Espanha
Fonte: GUERRA, M.E. A, 2012;
Figura 2A. Administração, oficinas, garagem e centro de controle VLT – Murcia - Espanha
Fonte: MESQUITA, A.P. 2012
132
Figura 2B. Administração, oficinas, garagem e centro de controle VLT – Murcia - Espanha
Fonte: MESQUITA, A.P. 2012
Figura 3. ilustração da possível Localização das instalações do complexo de Administração, oficinas e garagem.
Fonte: Autores
Eixo 1 – Umuarama/Fundinho
Figura 3. Padrões de uso e ocupação do solo urbano na área de influência da linha lilás.
Fonte: autores.
A) FUNDINHO
Uso do Solo - Caracterizado por alta densidade construtiva, sem, no entanto, atingir alta
densidade populacional. Há trechos de uso misto e concentração de edificações
multifamiliares em altura, bem como a presença de edificações unifamiliares térreas.
Padrão fundiário – Os lotes são de geometria nem sempre regular, o que também vale para o
formato das quadras. Há lotes grandes e outros muito pequenos. Não há um padrão regular.
Há poucos lotes vagos, embora se observe a presença de galpões de estacionamento e alguns
edifícios em ruína.
Sistema viário – Marcado por vias e calçadas estreitas. As vias privilegiaram o automóvel em
detrimento do pedestre. O fluxo peatonal é dificultado por toda a sorte de obstáculos em
conjunção com uma largura média de 1,7 m das calçadas. A proximidade de ônibus e
automóveis circulando em faixas estreitas é também intimidadora para os pedestres.
Recomendações:
- Intensificar o adensamento com edifícios residenciais multifamiliares de baixa altura.
- Promover a inclusão de espaços peatonais (pedestrian friendly spaces)
- Priorizar a integração modal entre bicicletas, pedestres e o VLT, em detrimento de
automóveis e ônibus, embora sem bani-los. Os ônibus não circulariam junto com o VLT.
- A alimentação elétrica do VLT e iluminação pública devem ter fiação subterrânea.
- Remodelar as vias de passagem do VLT para reforçar a integração modal e a ambiência
histórica (desenho urbano), incluindo as praças.
- Estímulos à diversidade de usos.
- Valorização dos espaços culturais.
141
Uso do Solo - Caracterizado por alta densidade construtiva, com diversos trechos de
concentração de edifícios altos. Predominância de atividades de comércio e serviços, embora
ainda com muitas habitações verticalizadas (apartamentos). Padrão de quadra regular
(100x120m em média), com miolos de quadra muitas vezes inutilizados. Há grande variedade
de lotes servindo como estacionamentos. Nas ruas transversais às avenidas, há presença
significativa de usos residenciais.
Padrão fundiário – As quadras possuem geometria regular, bem como os lotes. O traçado é
xadrez. Há poucos lotes vagos, ainda qu se observe a presença de galpões de estacionamento.
Os preços de solo atingem os valores mais altos da cidade.
Sistema viário – Marcado por um sistema de 5 avenidas paralelas no sentido longitudinal, que
funcionam como eixos de circulação arterial. Este é um de seus entraves, visto que há grande
mistura de funções nestas vias, tais como cruzamento interbairros, carga e descarga de
mercadorias, entrada e saída de habitações, estacionamento para comercio, transporte
coletivo, entre outras. As calçadas são estreitas em relação ao intenso fluxo de pedestres. O
leito carroçável abriga ônibus e automóveis além de possuir duas faixas de estacionamento na
maioria dos trechos.
Particularidades – Há projeto de requalificação definido e ainda não iniciado para as Avenidas
Afonso Penna e Floriano Peixoto. Entre outros aspectos, o projeto privilegia pedestres e cria
novas ambiências para as avenidas, reduzindo espaço para os automóveis, ampliando calçadas
e criando ciclovias. O atual terminal, localizado nas proximidades da Praça Sérgio Pacheco, tem
projeto equivocado, acentuando a segregação espacial da praça e do edifício Fórum Abelardo
Penna. Funciona como barreira que divide o Centro e o bairro Aparecida. Cria área degradada
em seu entorno. Desta forma, mesmo que se reconheça sua importância devido ao modelo de
circulação de ônibus adotado em Uberlândia, sugerem-se alterações radicais em seu projeto.
Recomendações:
Intensificar o adensamento com edifícios residenciais multifamiliares altos.
Promover a inclusão de espaços peatonais (pedestrian friendly spaces)
Priorizar a integração modal entre bicicletas, pedestres e o VLT, em detrimento de
automóveis embora sem bani-los. Nas avenidas Afonso Penna e Floriano Peixoto não
deverão circular ônibus.
Remodelar as vias de passagem do VLT para reforçar esta integração modal (desenho
urbano).
O VLT deve ter fiação subterrânea, sem Catenária.
Em longo prazo, demolir o edifício do Terminal de Passageiros atual, substituindo-o
por outro com projeto subterrâneo de maneira a permitir a integração do edifício
Fórum Abelardo Pena, Praça Sérgio Pacheco e arredores. As figuras 4 e 5 mostram as
situações antes e depois das intervenções.
Com a transferência do Fórum, seu espaço permitirá sua conversão em centro cultural,
ou biblioteca, respeitando-se suas características arquitetônicas.
142
Recomendações:
Intensificar o adensamento com edifícios residenciais multifamiliares altos.
Promover a inclusão de espaços peatonais (pedestrian friendly spaces) e apropriação
de espaços públicos atualmente privatizados.
O VLT deve ter fiação subterrânea, sem Catenária preferencialmente, admitindo-se,
contudo, a presença de catenária uma vez que seus impactos na paisagem seriam
menores que aqueles da área central.
Priorizar a integração modal entre bicicletas, pedestres e o VLT, em detrimento de
automóveis mas sem bani-los.
Remodelar as vias de passagem do VLT para reforçar esta integração modal (desenho
urbano).
Implantar projeto de requalificação urbana do trecho lindeiro à rodovia BR 050.
Melhorar a transposição à BR 050.
Recomendações:
Intensificar o adensamento por edifícios residenciais multifamiliares altos.
Promover a inclusão de espaços peatonais (pedestrian friendly spaces)
O VLT deve ter fiação subterrânea, sem catenária, de preferência.
Priorizar a integração modal entre bicicletas, pedestres e o VLT, em detrimento de
automóveis embora sem bani-los.
Remodelar as vias de passagem do VLT para reforçar esta integração modal (desenho
urbano).
Utilizar estações multimodais.
Requalificar o entorno da linha férrea redesenhando suas formas de transposição.
A figura 6 mostra um trecho do corredor escolhido para a linha verde e, após análise, chegou-
se às seguintes características:
Figura 6. Padrões de uso e ocupação do solo urbano na área de influência da linha verde.
Fonte: autores.
145
Uso do Solo - Caracterizado por baixa densidade construtiva nos trechos ao nort e por baixa
densidade populacional. Uso predominantemente residencial com alguns grandes
equipamentos de transportes e lazer. Ao aproximar-se da Av. Rondon Pacheco os padrões de
densidade construtiva mudam passando-se a ter maior concentração de comércio, serviços e
equipamentos públicos. Novamente os padrões se modificam ao aproximarem-se da via
marginal do rio Uberabinha, ainda em processo de consolidação após a implantação do parque
linear.
Padrão fundiário – Nessas áreas, os lotes tendem a ter geometria regular, uma vez que são
fruto de um urbanismo mais recente e racionalista. Há muitos lotes vagos e glebas ainda em
processo de parcelamento.
Sistema viário – Marcado por vias de mão dupla com canteiro central e calçadas, apresentam
dimensões entre 3 e 4 metros de largura.
Particularidades – A paisagem urbana ao longo dessas vias é bastante agradável devido ao
desenho sinuoso resultante da implantação em fundos de vale e também pela presença de
grandes áreas verdes e do parque linear do Rio Uberabinha
Recomendações:
Intensificar o adensamento com edifícios residenciais multifamiliares em altura.
Promover a inclusão de espaços peatonais (pedestrian friendly spaces)
A alimentação elétrica do VLT e iluminação pública em catenária por ser mais barata e
nesse caso, causa menos impacto.
Priorizar a integração modal entre bicicletas, pedestres e o VLT, em detrimento de
automóveis e ônibus, embora sem bani-los. Os ônibus não circulariam junto com o
VLT.
Remodelar as vias de passagem do VLT para reforçar a integração modal e a ambiência
já privilegiada das vias.
Estímulos à diversidade de usos.
Valorização dos espaços ambientais e culturais.
detalhada, as figuras 10,11 e12 mostram a área central e o bairro Fundinho com as diversas
opções estudadas.
Figura 10. Área central com VLT na Av. Afonso Pena em mão dupla
Fonte: autores
Figura 11. Área central com VLT na Av. Afonso Pena e João Pinheiro em via singela
Fonte: autores
149
Figura 12 Área central com VLT na Av. Afonso Pena e Floriano Peixoto em via singela
Fonte: autores
Além das medidas estruturais são necessárias medidas micro drenagem sejam elas a
curto, médio ou longo prazo. O MOVIMENTO NOSSA SP et al (2014) ao estudar a cidade de São
Paulo, aponta medidas já conhecidas no mundo para tais problemas:
As figuras 13, 14 e 15 evidenciam diversas atitudes que poderão fazer parte de um leque
de medidas a serem tomadas em um projeto detalhado para tratamento da drenagem nas vias
anteriormente mencionadas. A criação de redes verdes, biovaletas, jardins de chuva e outros
dispositivos contribuirão para dotar as vias de áreas permeáveis e desta forma amenizar os
problemas de inundações, ao mesmo tempo em que funcionam como elementos paisagísticos.
Várias destas medidas observam uma escala pequena reiterando-se o apelo urbanístico das
mesmas. Mas também são necessárias medidas de maior dispêndio.
Figura 13. Jardins de Chuva: canteiros pluviais compactos recebem o escoamento superficial entre a calçada e a rua.
Fonte: MOVIMENTO NOSSA SP et al (2014).
152
O estudo demonstrou que a falta de políticas para a mobilidade poderá levar a cidade a
uma situação problemática com grandes lentidões e saturação. A configuração urbana
privilegia um setor da cidade com grande concentração de empregos, equipamentos públicos
de grande porte, oferta de vagas em escolas, entre outros serviços, enquanto que o outro
setor se especializa em habitação. Este tipo de configuração pode afetar drasticamente a
mobilidade, notadamente, nos acessos aos setores a oeste da cidade, hoje já em processo de
saturação devido ao afunilamento nas pontes do rio Uberabinha.
As análises do tráfego nas vias por onde o VLT trafegará mostram um crescimento
vertiginoso dos volumes médios diários nos últimos anos(figura 1, 2, 3). As vias Afonso Pena,
Floriano Peixoto e João Pinheiro mostraram crescimento significativo junto com a Av. Rondon
Pacheco.
Figura 1 – Volumes Médios Diários nas principais vias do sistema viário de Uberlândia – 2008.
Fonte: CTA-SETTRAN.
Figura 2 – Volumes Médios Diários nas principais vias do sistema viário de Uberlândia – 2013.
Fonte: CTA-SETTRAN.
155
Figura 3 – Volumes Médios Diários nas principais vias do sistema viário de Uberlândia – 2014.
Fonte: CTA-SETTRAN.
Toda a região das vias onde será inserido o VLT terá tratamento especial para o sistema
viário. No caso da área central e bairros Aparecida, Brasil e Umuarama, será implantado o
156
sistema trinário, onde as vias laterais ao VLT funcionarão com prioridade para o tráfego
privado. No caso da linha verde, os problemas são menores devido à uma oferta maior de
sistema viário e a área ainda não estar totalmente adensada em boa parte do corredor.
Mesmo assim será implantada uma política de criação de vias laterais de serviço, possibilidade
de criação de berços para estacionamento em locais que ainda estão vazios, entre outras
alternativas.
Avenida Rondon Pacheco venham sendo tratadas como vias rápidas, tal conduta é insensata e
tem causado vários problemas para pedestres e ciclistas. Tais vias devem ser tratadas com vias
arteriais de ligação, dessa forma nelas também se insere ciclovias ou ciclofaixas.
Figura 5 – Possíveis perfis viários de vias arteriais e coletoras com a inserção de ciclovias ou ciclofaixas.
Fonte: Autores
A implantação de ciclofaixas nas vias arteriais poderia ter seu impacto diminuído com o
estreitamento do canteiro central (5m de largura) em dois metros, o que adviria um perfil
viário que conteria em cada pista: 1.8m de ciclofaixa, estacionamento de 2.5m e duas faixas de
rolamento de 3.10m, totalizando 10.50m.
Nas vias coletoras devido às dimensões mínimas normalmente praticadas nos projetos
de loteamentos (estabelecido pelo município) não é possível a sua utilização para implantação
de ciclovia em seu interior. Dessa forma podemos sugerir a implantação de ciclofaixas ao lado
do canteiro seja no contrafluxo ou no fluxo normal.
O sistema SIT-VLT propõe a integração com o sistema cicloviário mediante a
implantação de uma rede de conexões onde o ciclista poderá deixar sua bicicleta e acessar o
VLT. Outra medida é a possibilidade do ciclista embarcar no trem com sua bicicleta nos
horários entre-picos (8h30 – 17h00). As estações (figura 5) principais e aquelas escolhidas para
conexão terão bicicletários disponíveis para a guarda de bicicletas. Em etapa posterioro
sistema poderá avançar para uma rede de aluguel de bicicletas.
CAPÍTULO VII
Avaliação econômica
e aspectos institucionais
162
dos materiais foi calculada com base nos projetos de Cuiabá e de Goiânia. Para calcular o custo
de operações por estações, pegou-se o custo mensal das mesmas, transformou-os em custo
anual, multiplicando esses valores pelas estações.
Para a administração foi usada o custo anual de cada uma das profissões exigidas, e
multiplicou-se pela quantidade necessária de pessoas existentes em cada cargo exigido. No
caso da depreciação, utilizou-se do custo do material rodante, dividindo-o pelo tempo de vida
útil do veículo, sendo esse período de trinta anos.
Por fim, nas receitas também usou de informações fornecidas, embasamento nos
projetos já existentes e cálculos a partir de pesquisas realizadas. O IPTU, foi usado o valor
médio atual dos terrenos, sendo esses dos bairros onde o VLT supostamente passará, e a partir
disso, foi realizada uma projeção estimada de um acréscimo nesse imposto.
A publicidade usada tanto nos trens, quanto nas estações, os valores foram baseados
em receitas existentes no metrô de São Paulo (capital), com propagandas. No entanto, esses
valores foram adequados aos cenários da cidade de Uberlândia, e quantidade de trens e
estações do trajeto total de ambas as linhas do VLT (lilás e verde).
Para o cálculo dos bilhetes, usou-se o valor atual das passagens dos ônibus,
multiplicando pela quantidade de passageiros ao ano, que utilizarão o VLT, e descontou-se o
valor dos passageiros que podem utilizar os estacionamentos, uma vez que, embutiu-se no
custo cobrado, o equivalente a duas passagens por carro, uma de ida e outra de volta.
O estacionamento, estimou-se qual será a expectativa de pessoas que utilizarão esse
benefício anualmente, sendo esse baseado nos valores totais de cada estacionamento, e
multiplicou pelo valor do ticket médio, calculado através de comparações com preços de locais
próximos onde o VLT provavelmente passará.
Para implantação do sistema sugere-se uma ampla reforma institucional com a criação
de mecanismos institucionais dotados de maior flexibilidade no trato com as questões da
mobilidade. As estruturas atuais mostram lentidão nas respostas requeridas pela rapidez das
demandas sejam elas de oferta de sistema viário que envolve fluidez e segurança sejam elas
relativas aos transportes públicos ou outras.
Embora tenha alcançado grandes avanços em outras épocas, o modelo atual
institucional tem falhado na manutenção dos quadros profissionais ocorrendo uma fuga de
técnicos, denota-se pouca intersetorialidade com o planejamento urbano e municipal,
desconexão poder público com operadores de serviços terceirizados. Sugere-se, portanto a
criação de uma empresa pública de gestão do sistema de transportes urbanos dotada de
orçamento próprio e fontes de receitas estipuladas para uma gestão eficiente frente às
demandas da mobilidade.
Sugere-se também a criação de um Instituto Municipal de Planejamento capaz de
possuir autonomia para a discussão das ações de planejamento na cidade buscando a
integração das politicas de transportes, uso do solo e meio ambiente.
As políticas de tarifação devem ser alteradas para um modelo mais socialmente justo.
Neste contexto o subsídio é preponderante para sua efetivação. A desconexão de custo
operacional da tarifa final paga pelo usuário é a proposta deste estudo. Propõe-se também o
estabelecimento de tarifas especiais aos fins de semana ou feriados. As fontes para este
custeio podem ser várias e caberá à sociedade decidir o desenho deste quadro a partir de uma
proposta da municipalidade.
Um exemplo desta prática pode ser encontrado nas cidades americanas (tabela 2). No
Brasil estas porcentagens podem mudar pelas diferentes formas de tributação, contudo é
possível estabelecer as mesmas bases percentuais. É também necessário esclarecer que a
atual vontade pública de desonerar a tarifa de custos tributários não é uma prática suficiente
para torna-la acessível e justa.
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Universidade Federal de Uberlândia
Câmpus Santa Mônica, Bloco H
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