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A Ascensão e Queda de Adolf Hitler - William L. Shirer
A Ascensão e Queda de Adolf Hitler - William L. Shirer
Sobre a obra:
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Título original: THE RISE AND FALL OF ADOLF HITLER
Editora: Random House
Ano da publicação: 1961
ISBN: 0394862708
Tradutor: Ariovaldo Herminio Braga
04/2021
Ragusa, Itália
SUMÁRIO
PARTE UM - A ascensão de Adolf Hitler
Pai e filho
Dias de escola e um interlúdio de vadiagem
Em Viena - "O período mais triste da minha vida"
Decisão fatídica: Hitler entra na política
O Putsch da cervejaria
PARTE DOIS - Hitler conquista a Alemanha
Um livro revelador e um novo começo
Hitler se apaixona
O impulso de Hitler no poder político
Führer e ditador
PARTE TRÊS - Hitler conquista a Europa
As conquistas sem sangue
Como Hitler iniciou a Segunda Guerra Mundial
As impressionantes vitórias iniciais de Hitler
A grande virada
PARTE QUATRO - A queda de Adolf Hitler
A "Nova Ordem de Hitler"
A conspiração para matar Hitler
O colapso da Alemanha de Hitler
A morte de Adolf Hitler
A ASCENSÃO E QUEDA DE ADOLF HITLER
PARTE UM - A ASCENSÃO DE ADOLF HITLER
Pai e filho
Um dia, quando Adolf Hitler tinha apenas onze anos, ele
entrou em uma violenta briga com seu pai. O pai severo e
teimoso era um funcionário da alfândega aposentado na
Áustria. Ele insistia que seu filho seguisse seus passos
quando crescesse. Mas o menino já havia decidido que
queria ser um artista. Seu pai, ele contou mais tarde, ficou
sem palavras com tal ideia.
"Artista!" exclamou o pai.
"Não! Nunca enquanto eu viver!"
Palavras furiosas surgiram entre eles. Mas o jovem não
cedeu. Recusou-se até mesmo a considerar se tornar um
funcionário do governo. A própria ideia de sentar-se em um
escritório preenchendo formulários, disse ele, o deixava mal
do estômago.
Ele estava determinado a se tornar um pintor.
Hitler nunca se tornou um pintor, embora se considerasse
um "artista" até o fim de sua vida. Mas esta posição
determinada contra seu pai em uma época em que ele era
apenas um menino na sexta série na escola revelou uma
feroz, vontade inflexível que o levaria longe neste mundo.
Na verdade, combinada com outras qualidades, esta
vontade inflexível o levou a um ponto em que se tornou o
ditador da Alemanha e então o conquistador da maior parte
da Europa. Como conquistador, ele passou à história com
Alexandre o Grande, Júlio César e Napoleão Bonaparte.
Como eles, ele era sem dúvida um gênio. Mas deve-se
qualificar esta genialidade como sendo de um gênio do mal,
um dos tiranos mais cruéis, mais sanguinários e bárbaros
que já existiram. Talvez fosse mais correto historicamente
dizer que Hitler estava mais próximo de Genghis Khan, o
cruel conquistador asiático, do que de Alexandre, César e
Napoleão.
O poder absoluto o corrompeu, como acontece com todos
os que o possuem. Antes de morrer, aos 56 anos, ele
massacrou milhões de pessoas inocentes, incluindo cerca de
cinco milhões de judeus. E ele mergulhou o mundo na
guerra mais sangrenta e destrutiva da história.
Sabemos muito mais sobre Hitler do que jamais saberemos
sobre seus ilustres predecessores como Alexandre, César,
Napoleão e Genghis Khan. Por um lado, ele era um filho do
nosso tempo. Milhões de pessoas ainda vivas se lembram
dele. Muitos deles sofreram com seus atos bárbaros.
Durante muitos anos, meu próprio trabalho, como
correspondente americano em Berlim, me deu a
oportunidade de conhecê-lo, de ouvir seus inúmeros
discursos e de observá-lo em primeira mão no momento de
seus maiores triunfos.
Além disso, no final da Segunda Guerra Mundial em 1945,
os vitoriosos Aliados capturaram a maioria de seus
documentos secretos. Eles foram encontrados em minas
abandonadas e em porões de antigos castelos onde haviam
sido escondidos pelos nazistas alemães.
Podemos assim arrancar a máscara que por tanto tempo
escondeu seus atos odiosos.
Podemos ler suas cartas confidenciais. Podemos
acompanhar suas conversas secretas com seus generais e
vê-lo planejando a guerra e conquistas. Podemos vê-lo
intimidando suas vítimas, enganando seus amigos e
inimigos, ordenando o assassinato de seus oponentes e o
massacre dos milhões de que não gostava.
Nunca antes na história houve um fato tão ricamente
documentado como este. Não há necessidade de inventar
ou imaginar nada, como às vezes fizeram os cronistas da
vida de grandes homens que viveram em um passado
distante. O que está escrito neste livro é baseado quase
inteiramente nos próprios registros de Hitler, ou no que o
autor viu na Alemanha com seus próprios olhos e vivenciou
juntamente com o povo alemão.
A história da vida de Adolf Hitler fascina e repele. Ele saiu
literalmente da sarjeta para se tornar o maior conquistador
do século XX. Ele superou obstáculos incríveis em sua
ascensão ao poder. O que ele fez com seu poder, e como ele
abusou dele, veremos.
Dias de escola e um interlúdio de vadiagem
Adolf Hitler nasceu em 20 de abril de 1889, em uma
modesta pousada na cidade austríaca de Braunau am Inn,
do outro lado da fronteira com a Alemanha.
A Áustria fazia parte do Império Austro-Húngaro, que era
governado pela antiga e autocrática Casa dos Habsburgos,
a família governante mais antiga da Europa. Este Império
Austro-Húngaro não existe mais. Foi destruído no final da I
Guerra Mundial (que em grande medida provocou) quando
as várias nacionalidades que o compunham, polacos,
tchecoslovacos, húngaros e iugoslavos, se separaram para
formar os seus próprios países.
Mas na época do nascimento de Hitler, onze anos antes do
final do século XIX, Áustria-Hungria foi um dos mais
importantes impérios na Europa. Ele se espalhou ao longo
do rio Danúbio na região central e sudeste da Europa. Tinha
um grande exército e marinha. Era economicamente
próspero. Tinha uma extensa aristocracia composta de
duques, arquiduques, príncipes, condes e barões, a maioria
dos quais vivia em belos castelos ou palácios.
Os austríacos, embora em menor número que as outras
nacionalidades, dominaram o império. Eles eram um ramo
do povo germânico e falavam alemão. Muitos, como Hitler,
se consideravam alemães. Isso deve ser levado em
consideração ao traçar a carreira do futuro ditador alemão.
Embora nascido austríaco, ele se considerava um alemão
tão bom quanto os que viviam na Alemanha. E ele achava
que todos os "alemães" deveriam ser unidos em um único
país, um objetivo que ele finalmente alcançou por um curto
período de tempo.
Seu pai, como vimos, era um homem severo e de
temperamento explosivo. Adolf o respeitava, mas não se
dava bem com ele. Amava a sua mãe, como ele costumava
dizer depois. Ela era uma mulher gentil e devota, devotada
ao marido e especialmente aos filhos.
Até Adolf entrar em conflito com seu pai, ele também
parece ter sido uma criança gentil e devota. Na verdade,
enquanto frequentava a escola primária no mosteiro
beneditino de Lambach, ele se tornou um dos meninos do
coro da igreja e até considerou em se tornar padre católico.
Nesta escola e em outras, suas notas no início eram muito
boas. Mas ele alegou que suas brigas com o pai sobre o que
pretendia ser quando crescesse o fizeram perder o interesse
em tirar boas notas. A partir da sexta série, elas pioraram
progressivamente. Aos dezesseis anos, quando estava na
metade do ensino médio, ele ficou tão desanimado que
desistiu da escola para sempre.
Depois disso, ele culpou seus professores por seu fracasso
escolar. "A maioria deles", escreveu mais tarde, quando já
havia crescido, "eram um tanto perturbados mentalmente e
alguns terminaram suas vidas como lunáticos." Culpar os
outros por nossas falhas é uma falha comum de caráter.
Mas Hitler então, e mais tarde, levou isso a extremos. Ele
estava sempre encontrando um bode expiatório.
Um de seus professores, ele admitiu mais tarde, o inspirou
em sua juventude. Este era Leopold Poetsch, que ensinava
história na escola secundária. O jovem Adolf foi levado por
sua eloquência deslumbrante.
"Você não pode imaginar, o quanto devo àquele velho!" -
Hitler exclamou anos depois.
Embora Adolf ficasse entediado com a maioria das matérias
que era forçado a cursar, ele desenvolveu uma paixão pela
história. Isso foi um fator crucial para sua carreira final.
Hitler certa vez descreveu os três anos após deixar a escola
como os dias mais felizes de sua vida. Seu pai morrera
nesse ínterim, deixando para sua mãe apenas uma pequena
pensão para sustentar-se e a seus dois filhos, Adolf e sua
irmã mais nova chamada Paula.
Adolf recusou-se a conseguir um emprego ou aprender um
ofício, como a maioria dos meninos fazia quando saía da
escola. O emprego regular o enojava, não apenas aos
dezesseis anos, mas ao longo de toda sua vida. Ele nunca
teve um emprego estável até se tornar ditador de um
grande país.
Em vez de trabalhar e tentar ajudar a mãe, ele preferia
vadiar. Assim, por três anos depois de deixar a escola, dos
dezesseis aos dezenove anos, ele passou seu tempo
vagando pelas ruas de Linz, uma agradável cidade austríaca
às margens do rio Danúbio, e sonhando com seu futuro
como artista. Muitas vezes ele passava as noites na ópera,
pois também tinha paixão pela música e, especialmente,
pela música lírica mística de Richard Wagner, o grande
compositor alemão.
Um ingresso para ficar em pé na ópera não custava a ele
mais do que o equivalente a dez centavos. Mesmo assim, ir
à ópera custou a maior parte de seu parco dinheiro. O resto
ele gastava em livros, pois também lia muito. Horas a fio,
ele se enrolava com livros sobre história e mitologia alemã.
É claro que ele não tinha dinheiro para comprar esses livros.
Ele os pegava emprestado de bibliotecas, que cobravam
uma pequena taxa. Não havia bibliotecas públicas gratuitas
na Áustria naquela época.
Ele meditava. Ele ficou profundamente preocupado com os
males do mundo. Seu único amigo de infância contou mais
tarde:
"Hitler sempre estava contra alguma coisa e em desacordo
com o mundo. Nunca o vi levar nada levianamente."
Este amigo descreveu o jovem Adolf neste período como um
jovem pálido, doentio e esguio que geralmente era tímido e
reticente. Mas ele também podia ter explosões repentinas
de raiva histérica contra aqueles que discordavam dele.
Assim, vemos se formando em Hitler no início da
adolescência alguns dos aspectos do caráter e da mente
que mais tarde desempenharam papel fundamental em sua
vida. Ele estava em desacordo com o mundo e com raiva se
ressentia de qualquer um que discordasse dele.
Aos dezoito anos, Hitler recebeu um golpe devastador do
qual nunca se recuperou totalmente. Ele foi reprovado no
exame de admissão na Academia de Belas Artes de Viena.
Seus desenhos toscos e sem vida convenceram os
professores que o examinaram de que ele estaria perdendo
seu tempo, e o deles, tentando realizar sua grande ambição
de se tornar um pintor.
Esse fracasso se tornou uma das suas maiores frustrações
ao longo da vida. Até o fim da vida, ele se via como um
"artista" a quem os "estúpidos" professores lhe negaram o
direito e o devido reconhecimento.
Outro golpe terrível logo se seguiu. No ano seguinte, sua
amada mãe morreu de câncer apenas quatro dias antes da
família comemorar o Natal. Foi um triste Natal para o jovem
de dezenove anos.
Foi um golpe terrível, escreveu ele mais tarde. Eu honrei
meu pai, mas minha mãe eu amei. A morte dela pôs um fim
repentino a todos os meus planos. A pobreza e a dura
realidade me obrigaram a tomar uma rápida decisão. Eu
estava diante do problema de, de alguma forma, ganhar a
vida.
De alguma forma! Ele não tinha comércio. Ele sempre
desdenhara o trabalho manual ou de escritório. Ele nunca
tentou ganhar um centavo sequer. Mas ele não se intimidou.
Se despedindo de seus parentes, ele declarou que nunca
mais voltaria para aquela cidade de Linz, onde residiam,
antes de se recuperar.
Com a mala cheia de roupas e cuecas na mão, ele escreveu
mais tarde sobre esta sua partida, e uma vontade
indomável no coração, parti para a capital, Viena.
Eu também esperava arrancar do destino o que meu pai
havia conquistado cinquenta anos antes. Eu também
esperava me tornar "alguma coisa", mas de modo algum
como funcionário público.
Em Viena - "O período mais triste da minha vida"
Os quatro anos seguintes em Viena, entre 1909 e 1913,
foram uma época de extrema miséria para Hitler.
Este foi o período em que ele estava entrando na idade
adulta, entre vinte e vinte e quatro anos de idade.
Normalmente estes são anos felizes. Um jovem está
começando na vida, e todos os começos são emocionantes.
Eles trazem novas experiências, novos problemas e desafios
inesperados que estimulam o jovem a tirar o máximo
proveito de si mesmo.
Nenhuma cidade no mundo era mais agradável para
começar do que Viena, a capital do antigo Império Austro-
Húngaro. Foi, e é, uma das mais belas cidades da Europa.
Encontra-se ao longo do rio Danúbio azul sob as colinas
arborizadas da floresta de Viena. Há uma atmosfera
majestosa na cidade, como convém a uma capital que já foi
imperial. Possui avenidas largas e arborizadas, parques
espaçosos, edifícios públicos elegantes, torres de igrejas
altíssimas e muitos palácios antigos esplêndidos.
Na época de Hitler, como antes e depois, a música enchia o
ar. Era a música dos grandes compositores que viveram lá,
Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert, e nos últimos anos
de verão-indiano do império, as alegres e obsessivas valsas
do amado Johann Strauss de Viena.
Os vienenses são as pessoas mais atraentes que já conheci
na Europa. Eles são receptivos. Eles acham que vale a pena
viver a vida e a aproveitam ao máximo. Eles gostam de
música. Gostam de dançar, principalmente valsas, que lhes
deu origem. Gostam de se encontrar em cafés e de ter uma
boa conversa. Eles vão ao teatro com frequência e são
apaixonados pela ópera. Eles gostam de boa comida e
vinho. E quando os tempos são difíceis gostam de sonhar
com uma vida melhor.
Mas Hitler não compartilhava da alegria ou dos sonhos dos
vienenses, nem apreciava a beleza da cidade. Seus anos em
Viena, que ele mais tarde chamou de "o período mais triste
da minha vida". É fácil de se constatar o motivo.
Por um lado, ele evitou um emprego regular. Ele preferiu
vagar em trabalhos estranhos: remover neve, bater tapetes
e carregar malas e sacolas em uma estação ferroviária.
Ocasionalmente, quando estava desesperado, ele
trabalhava como operário de construção, mas não com
frequência, pois odiava esse trabalho duro. Sem salários
regulares, ele foi forçado a viver no que chamaríamos de
albergues. Suas roupas estavam surradas, o cabelo sem
corte a barba por fazer. Ele se tornou um vagabundo.
Ao contrário de uma lenda popular, Hitler nunca foi um
pintor de paredes. Ele estava com preguiça de adquirir
essas habilidades. Ele acabou ganhando algum dinheiro
fazendo pinturas em aquarela para pôsteres e anúncios.
Isso satisfez suas ambições "artísticas" até certo ponto, mas
não as exigências de seu estômago.
Era tinha realmente uma vida miserável, escreveu mais
tarde, que nunca foi suficiente para aplacar nem mesmo
minha fome diária.
A fome era então meu fiel guarda-costas; ela nunca me
deixou por um momento e compartilhou de tudo que eu
tinha. Minha vida foi uma luta contínua com esse amigo
impiedoso.
Qualquer pessoa que viu o futuro ditador alemão nas ruas
de Viena naqueles dias deve ter pensado que ele era o que
nós, americanos, chamaríamos de vagabundo. Ele estava
literalmente destruído.
No entanto, há outro lado dessa história de seus dias de
vagabundo em Viena. Ao contrário da maioria dos
vagabundos que arrastavam-se pelas ruas com ele, ele não
fumava nem bebia. Ao contrário deles, também, ele lia
muito. Na verdade, sem muito trabalho a fazer, ele passava
a maior parte de seus dias e noites devorando livros e
ponderando sobre eles.
Pela leitura de livros e por uma experiência em primeira
mão do lado desagradável da vida, Hitler aprendeu durante
esses primeiros anos de vagabundo em Viena quase tudo o
que ele conheceria ao longo de sua vida. Ele mesmo
costumava comentar sobre isso.
Viena, escreveu anos depois, foi a escola mais difícil e
completa de minha vida. Eu tinha posto os pés nesta cidade
quando ainda era meio menino, e deixei-a como homem
formado, quieto e sério.
Nesse período, tomou forma dentro de mim uma imagem do
mundo e uma filosofia que se tornou o alicerce granítico de
todos os meus atos. Além do que então criei, pouco tive que
aprender; e não tive que nada alterar.
O que então Hitler aprendeu como um vagabundo abatido
em Viena com idade entre 20 e 24 anos? Qual foi a
"imagem e filosofia do mundo" nas quais ele mais tarde
baseou os atos terríveis que quase destruíram o mundo? É
de vital importância saber as respostas a essas perguntas.
Eles explicam uma grande parte da história mundial durante
as terceira e quarta décadas do século XX.
Primeiro, Hitler aprendeu a glorificar a guerra e a conquista.
A melhor coisa que os homens podiam fazer, concluiu ele,
era ir para a guerra e conquistar povos estrangeiros. A paz,
ele concluiu, era uma coisa ruim para a humanidade. Ela
corrompe e suaviza os homens.
E quanto aos milhões de homens que foram mortos em
guerras enquanto ainda eram jovens? E os milhões de
outros que foram mutilados, cegos para o resto de suas
vidas ou aleijados pela perda de uma perna ou braço? Hitler
não se importou muito. A vida era assim, disse, dura e cruel.
Em seus dias de Viena, Hitler também concebeu a ideia
absurda de que os alemães eram superiores a todos os
outros povos. Eles eram, ele tinha certeza, mais fortes, mais
inteligentes e mais habilidosos do que americanos ou
britânicos ou italianos ou russos ou outros. Na verdade, para
ele, os alemães era a raça superior. As outras raças só
serviam para lhes servirem como escravos.
Essa era uma opinião amplamente difundida entre os
alemães naquela época. E embora Hitler fosse um austríaco,
muitos austríacos, como já dito anteriormente, se
consideravam tão alemães quanto o povo que vivia na
Alemanha.
O jovem vagabundo de Viena também absorveu uma série
de ideias políticas que mais tarde colocou-as em prática na
Alemanha. Ele percebeu que, para ter sucesso, um partido
político precisava saber atrair milhões de pessoas. Precisava
dominar a arte da propaganda, que, segundo ele a
entendia, muitas vezes significava contar mentiras às
pessoas. Certa vez, ele disse que quanto maior a mentira,
melhor, porque era mais fácil fazer as pessoas acreditarem
em uma grande mentira do que em uma pequena. Além
disso, ele passou a acreditar que um partido político deve
saber como usar o terror. Isso significava bater na cabeça
dos oponentes políticos, ou às vezes até matá-los.
Finalmente, Hitler viu o valor da oratória na política. Só um
homem capaz de influenciar as massas populares com sua
eloquência, ele passou a acreditar, poderia ter sucesso na
política.
O poder que sempre deu origem aos grandes religiosos e
políticos que conquistaram a sua parte na história, ele
escreveu posteriormente, tem sido a magia da oratória, e
somente isso.
Nesse assunto, Hitler praticou o que pregou. Tornou-se o
maior orador de sua época no continente europeu. Eu
mesmo ouvi muitos de seus discursos e percebi a magia de
suas palavras. Eu o vi realizar grandes audiências com seu
feitiço. Apenas Winston Churchill na Inglaterra era igual a
ele. Na América, não tínhamos orador naquela época, que
se igualasse a Hitler.
Foi em Viena também que Hitler desenvolveu seu ódio
grotesco pelos judeus. Em seu livro, “Mein Kampf” (Minha
Luta), Hitler afirmou se lembrar do dia em que, como ele
diz, se tornou um antissemita. Ele estava caminhando em
Viena quando de repente encontrou um homem que lhe
parecia estranho por causa de seu longo casaco preto e
bigodes laterais.
"Este é um judeu?" ele diz que foi seu primeiro pensamento.
“Mas quanto mais eu olhava para esse rosto estrangeiro,
mais minha primeira pergunta assumia uma nova forma:
Este é um alemão?
Aonde quer que eu fosse, Hitler continuava a história,
comecei a ver judeus e, quanto mais eu os via, mais
nitidamente eles se distinguiam do resto da humanidade a
meus olhos. Eu fiquei mal do estômago. Comecei a odiá-los.
Tornei-me um antissemita.
Ele permaneceria cego e fanático até o final de sua vida.
Este seu preconceito, contra os judeus, tornou-se uma
doença terrível que levou ao massacre milhões de homens,
mulheres e crianças inocentes. Muitos outros alemães foram
afetados por este sentimento também. Mas eles eram na
maioria pessoas sem importância. O que é significativo para
esta história é que, depois que Hitler se tornou o ditador
alemão e teve o poder de vida e morte sobre milhões de
pessoas, ele permitiu que esse ódio doentio aos judeus
assumisse o controle sobre ele. Isso o levou a eliminar
metade dos judeus existentes na Europa.
Na primavera de 1913, quando já contava com 24 anos,
Hitler trocou Viena por Munique, na sua amada Alemanha.
Em seu livro autobiográfico, ele apresenta várias razões
para esta mudança, mas não a mais importante. Ele diz que
não suportava toda a mistura de raças em Viena,
especialmente a presença de “judeus e mais judeus”. Ele
diz que seu coração sempre esteve na Alemanha.
Mas a principal razão pela qual ele deixou a Áustria foi para
escapar do serviço militar. Por três anos, desde seu
vigésimo primeiro aniversário, ele se esquivou. Não, isso
não aparece, porque ele era um covarde, mas simplesmente
porque ele detestaria servir nas mesmas fileiras com
judeus.
Quando Hitler chegou a Munique, ele ainda estava sem um
tostão. Para todos, exceto para si mesmo, ele deve ter
parecido um fracasso total. Ele não tinha amigos, nem
família, nem casa, nem emprego, nem perspectivas.
Ele tinha, no entanto, uma coisa: Uma confiança insaciável
de que ainda seria um vencedor. Exatamente como... ele
ainda não sabia.
A chegada da I Guerra Mundial em 1914 ofereceu a Hitler
uma fuga de todos os fracassos e frustrações de sua vida
pessoal. Veio, disse ele mais tarde, "como uma libertação da
angústia que pesava sobre mim durante os dias de minha
juventude. Não tenho vergonha de dizer que me ajoelhei e
agradeci aos Céus". Ele solicitou ao rei Ludwig III da Baviera
permissão para servir em um regimento bávaro, que logo
lhe foi concedida.
A guerra, que traria a morte a milhões de jovens, trouxe
para Adolf Hitler, aos 25 anos, um novo recomeço em sua
vida.
Decisão fatídica: Hitler entra na política
Como milhões de outros alemães, Adolf Hitler provou ser um
bravo e soldado corajoso. Mais tarde, alguns de seus
oponentes políticos lhe acusaram de covarde em combate.
Mas isso não era verdade. Ele serviu quatro anos na Frente
ocidental na França como agente de despacho na 1ª
Companhia do 16º Regimento de Infantaria da Reserva da
Baviera. Ele foi duas vezes ferido e duas vezes condecorado
por bravura com a Cruz de Ferro. Apesar desse recorde, sua
promoção como soldado foi lento. Em quatro anos na frente,
ele passou apenas de soldado para cabo*. O que ele, mais
tarde, acreditou ser um gênio militar, não foi reconhecido
por seus oficiais superiores na I Guerra Mundial.
* Era a patente mais alta oferecida a um estrangeiro no exército alemão à
época. (Nota do Tradutor)
PARTE DOIS - HITLER CONQUISTA A ALEMANHA
Um livro revelador e um novo começo
Adolf Hitler foi libertado da prisão de Landsberg cinco dias
antes de Natal em 1924. Graças a uma anistia natalina, ele
teve que cumprir menos de um ano de sua sentença de
cinco anos por alta traição. Embora feliz por estar fora da
prisão, ele enfrentou um Natal sombrio. Suas perspectivas
pareciam totalmente sem esperança.
* Libertado da cadeia em 20 de dezembro de 1924. (Nota do Tradutor)
PARTE TRÊS - HITLER CONQUISTA A EUROPA
As conquistas sem sangue
As primeiras conquistas de Adolf Hitler na Europa foram
sem derramamento de sangue. Elas foram alcançados não
pela espada, mas pela diplomacia.
Apesar de sua falta de educação formal e de qualquer
experiência em relações exteriores, o Führer, como era
chamado agora, rapidamente se tornou um mestre na
prática da diplomacia de engano, ameaça e blefe. Ele
enganou os estadistas da Europa com a mesma facilidade
com que enganou seus colegas alemães.
A história interna de seus incríveis triunfos agora pode ser
montada. Embora tramasse suas conquistas, tanto pacíficas
quanto sangrentas, no mais estrito sigilo, os detalhes de
seus planos e das ordens para realizá-los foram anotados
por escrito. Eles estão entre os documentos alemães
capturados nos quais esta biografia é amplamente baseada.
Muitos deles parecem partes de uma história de detetive. O
diálogo gravado muitas vezes soa como se tivesse sido
escrito por algum dramaturgo extremamente imaginativo.
Mas tudo é verdadeiro e factual. Este material único nos dá
uma imagem íntima de Hitler, o Conquistador.
Entre 1933 e 1935, ele começou secretamente a rearmar a
Alemanha em desafio ao Tratado de Versalhes*. Então, em
um dia de primavera, 16 de março em 1935, ele apareceu.
Ele denunciou as restrições militares do tratado de paz e
anunciou publicamente que a Alemanha teria um exército
conscrito em tempos de paz de 36 divisões. Embora não
tenha dito isso, ele ordenou que Göering construísse uma
força aérea, o que o tratado de paz havia proibido. Ele
também lançou um grande programa de construção para a
até então, pequena marinha alemã.
* O rearmamento começou, de fato, logo após a assinatura do tratado de
Versalhes de 1919, ainda que em pequena escala e em segredo, de forma
informal, mas se expandiu maciçamente quando o Partido Nazista de Adolf Hitler
ascendeu ao poder em 1933. (Nota do Tradutor)
A conspiração para matar Hitler
Pouco depois do amanhecer da manhã quente e ensolarada
de 20 de julho de 1944, o coronel conde Klaus Schenk von
Stauffenberg, chefe do Estado-Maior do Exército de
Reposição, dirigiu passando pelos edifícios bombardeados
de Berlim até o aeroporto de Rangsdorf.
Em sua pasta abarrotada, havia papéis sobre as novas
divisões dos exércitos em ruínas de Hitler. Ele havia
recebido a ordem de apresentar um relatório sobre estes ao
Führer às 13h00 no quartel-general de Wolfsschanze na
Prússia Oriental.
Entre os papéis, embrulhado em uma camisa, estava uma
bomba-relógio. Stauffenberg estava confiante de que iria
fazer em pedaços Adolf Hitler.
Em Berlim, um pequeno número de oficiais do exército
estava presente. Assim que o senhor da guerra nazista
estivesse morto, eles pretendiam tomar a capital, declarar a
derrubada do regime nazista e pedir a paz.
Entre esses oficiais estavam o marechal de campo Erwin
von Witzleben, um dos principais comandantes de campo de
Hitler, e o general Ludwig Beck, ex-chefe do Estado-Maior.
Os generais e seus cúmplices sabiam que a guerra estava
perdida. Ao eliminar Hitler com um golpe ousado, eles
esperavam obter uma paz que deixaria a nação alemã com
alguma chance de sobrevivência.
Por mais de um ano após os desastres alemães em
Stalingrado e no Norte da África, a guerra foi de mal a pior
para o ditador nazista. Suas conquistas estupendas dos
primeiros anos de guerra estavam se perdendo
rapidamente.
No verão de 1944, uma considerável parte da Rússia já
havia sido reconquistada pelos russos e a metade da Itália
estava tomada pelos aliados. Seis semanas antes do coronel
Stauffenberg iniciar sua missão fatídica para assassinar
Hitler, os exércitos anglo‐americanos do general Dwight D.
Eisenhower desembarcaram nas praias da Normandia. Eles
agora ameaçavam irromper em direção a Paris e expulsar os
alemães da França.
A própria Berlim, como a maioria das outras grandes
cidades da Alemanha, estava em ruínas com o bombardeio
anglo-americano. A Força Aérea dos Estados Unidos
bombardeava durante o dia e a Força Aérea Real à noite,
sem dar trégua aos habitantes entorpecidos e cansados que
caminhavam pelas ruínas fumegantes. Os alemães estavam
pagando um alto preço pelos bombardeios que haviam
iniciado: de Varsóvia, de Rotterdam, de Londres e Coventry.
O outrora alardeado Eixo Germano-Italiano, que espalhou
tanto terror por toda a Europa, estava em ruínas. Benito
Mussolini, o parceiro italiano de Hitler no crime, havia sido
deposto. Convocado pelo rei da Itália ao palácio real de
Roma na noite de 25 de julho de 1943, o ditador italiano
havia sido preso e levado para a delegacia em uma
ambulância.
Adolf Hitler enxergou o que poderia lhe acontecer. Após a
queda de Mussolini, não seria ele o próximo? Não, concluiu
ele, se pudesse evitar. Ele agiu rápido, com determinação
gélida para restaurar sua posição e a de Mussolini. Ele
ordenou que as tropas alemãs na Itália assumissem o
controle total.
Dirija até Roma [ordenou] e prenda todo o governo italiano!
Pegue o rei e todo o seu grupo imediatamente! Prenda o
príncipe herdeiro e toda a sua gangue! Ponha-os no avião e
retorne com eles!
Alguns dos generais perguntaram o que deveria ser feito
com o Vaticano, o centro mundial da Igreja Católica
Romana, situado no coração de Roma.
Eu vou direto para o Vaticano [respondeu Hitler]. Você acha
que o Vaticano pode me deter? Bem, vou assumir isto
imediatamente. Todo o corpo diplomático está lá. Essa ralé!
Vamos tirar aquele bando de porcos dali! Mais tarde
pedimos desculpas!
A determinação implacável de Hitler teve sucesso, por
enquanto. Em 8 de setembro de 1943, o dia em que a Itália
se rendeu aos Aliados Ocidentais, as forças alemãs
desarmaram as tropas italianas com apenas um tiro e
ocuparam a maior parte da Itália. Eles pararam o avanço
dos Aliados na península italiana.
Isso não foi tudo. Por meio de uma ousada operação aérea,
Hitler conseguiu resgatar Mussolini. Tropas de planadores
alemãs pousaram no topo de uma montanha onde o ditador
italiano estava sendo mantido prisioneiro pelo novo governo
italiano. Eles rapidamente o libertaram e o mandaram de
avião para a Alemanha.
A ação resoluta de Hitler na Itália ajudou a restaurar sua
posição e prestígio. Em outros lugares, porém, sua sorte
continuou a diminuir. Nenhuma quantidade de energia e
força de vontade poderia restaurá-los. Em meados do verão
de 1944, não apenas os russos estavam se aproximando da
fronteira alemã pelo leste, mas os generais alemães sabiam
que era apenas uma questão de algumas semanas antes
que os exércitos anglo-americanos sob Eisenhower
chegassem à fronteira alemã pelo oeste. Para salvar a pátria
da destruição total, alguns generais, mas não todos,
decidiram que havia chegado a hora de se livrar de Hitler.
Na verdade, um punhado de oficiais do exército havia feito
várias tentativas para matar seu senhor da guerra supremo
no ano anterior, durante 1943. Uma vez, em 13 de março,
eles quase conseguiram. Naquele dia, o General Henning
von Tresckow, Chefe do Estado-Maior do Grupo do Exército
no front russo, planejou plantar uma bomba-relógio no avião
de Hitler pouco antes dele decolar, após uma visita do
Führer ao quartel-general do General. Mas o mecanismo
falhou e a bomba não explodiu. Uma revolta em Berlim,
programada pelos generais, para começar ao receber a
notícia da morte de Hitler em um "acidente de avião", teve
que ser cancelado às pressas.
O plano não foi abandonado. Em meados do verão de 1944,
os conspiradores antinazistas estavam novamente prontos
para atacar. Eles perceberam que esta poderia ser sua
última chance. O tempo estava acabando.
Em 15 de julho, o marechal de campo Rommel, que agora
comandava os principais exércitos alemães tentando conter
as forças de invasão do general Eisenhower no Ocidente,
escreveu a Hitler: "A luta desigual está chegando ao fim."
Ele exigiu que o senhor da guerra acabasse com a guerra
"sem demora".
Disse Rommel a um de seus generais naquele dia: "Dei a
Hitler sua última chance. Se ele não aproveitar, nós
agiremos."
O coronel von Stauffenberg, que carregava em sua pasta
estufada a bomba para matar Hitler, pertencia a uma das
famílias de militares mais ilustres da Alemanha. Um
talentoso oficial de estado-maior, ele também foi poeta e
músico. Agora com 37 anos, ele era incrivelmente bonito
até que seu carro oficial passou sobre uma mina terrestre
americana na Tunísia, no ano anterior. Na explosão
Stauffenberg perdeu o olho esquerdo, a mão direita e dois
dedos da outra mão.
Essas mutilações dificultavam o manuseio da bomba que
carregava com segurança. Ele havia treinado para detoná-
las usando uma pinça de açúcar a qual manipulava com os
únicos três dedos de sua mão esquerda. A bomba, de
fabricação inglesa, era idêntica à que o general von
Tresckow havia plantado no avião do Führer no ano anterior.
A engenhosa arma não tinha mecanismo de relógio cujo
tique-taque poderia denunciá-la. Ela não emitiria nenhum
som antes da detonação.
Funcionava da seguinte maneira: primeiro, uma cápsula de
vidro contendo ácido corrosivo em seu interior seria
quebrada. Este ácido agiria sobre um pequeno fio metálico.
O rompimento deste fio acionaria o pino de disparo contra a
tampa de percussão e a bomba explodiria.
A espessura do fio definiria o tempo necessário para esta
explosão. Nesta manhã de 20 de julho de 1944,
Stauffenberg ajustou sua bomba com o fio mais fino
possível. Quando ele quebrasse a cápsula com a sua pinça,
o fio se dissolveria em aproximadamente dez minutos. A
bomba então explodiria. E isso, o coronel tinha certeza,
seria o fim de Adolf Hitler.
Stauffenberg chegou de avião ao Quartel-General Supremo
em Rastenburg, na Prússia Oriental, pouco antes do meio-
dia de 20 de julho de 1944. Depois de conferenciar com o
Marechal de Campo Wilhelm Keitel, Chefe do Comando
Supremo, ele pediu licença por um momento. Em uma
antessala, ele abriu apressadamente sua pasta e com sua
pinça quebrou a cápsula de vidro da bomba.
Eram 12h32. Em dez minutos haveria, se tudo corresse
bem, uma explosão.
A conferência militar do meio-dia de Hitler com seus
generais já havia começado quando Stauffenberg,
acompanhado por Keitel, chegou à sala de mapas do
pequeno salão de conferências de madeira. O senhor da
guerra estava sentado no centro de um dos lados de uma
longa mesa em torno da qual estavam cerca de duas dúzias
de oficiais. Stauffenberg ocupou seu lugar a poucos metros
do Führer. Ele colocou sua pasta sob a mesa contra o lado
interno de um robusto suporte de carvalho. Estava a cerca
de dois metros das pernas de Hitler.
Hitler cumprimentou secamente o coronel caolho e armado.
Ele disse que ouviria seu relatório assim que um dos
generais terminasse seu relato sobre a situação no front
russo. Enquanto o general retomava seu relatório,
Stauffenberg sussurrou para um coronel Brandt, que estava
de pé ao lado dele, que precisava dar um telefonema
importante. Ele saiu da sala.
E agora, sem querer, Brandt fez um gesto fatídico. Ao
descobrir que a pasta de Stauffenberg bloqueava seus pés
quando ele se inclinou sobre a mesa para estudar o mapa,
ele se abaixou e a removeu para o outro lado do pesado
suporte da mesa. Esta pesada placa de carvalho agora
estava entre a bomba e Hitler. O gesto inocente de Brandt
salvou a vida de Hitler, custando-lhe a sua própria vida.
O tempo agora estava passando, embora não houvesse
nenhum som revelador na pasta.
Keitel, para seu imenso aborrecimento, notou o jovem
coronel saindo de fininho. Ele se perguntou por quê.
Finalmente, ele saiu da sala na ponta dos pés para ver. Não
havia nenhum vestígio de Stauffenberg. A telefonista disse
que o coronel com um braço e um tapa-olho saíra às
pressas do prédio. Intrigado, Keitel voltou para a sala de
mapas. O general que estava reportando no front russo
estava chegando ao fim de seu relato. Stauffenberg deveria
ser o próximo a transmitir o relatório sobre substituições de
tropas. Keitel sentiu-se envergonhado por sua inexplicável
ausência. Mas não por muito tempo.
Precisamente às 12h42min a bomba explodiu.
Stauffenberg, de pé em um ponto estratégico a duzentos
metros de distância, observou a sala de conferências de
Hitler subir com um rugido de fumaça e chamas. Foi como
se, disse ele mais tarde, tivesse sido atingido diretamente
por um projétil de 155 mm. Corpos saíram voando pelas
janelas.
Detritos voaram pelo ar.
Não havia a menor dúvida, na mente de Stauffenberg, de
que todas as pessoas na sala de conferências estavam
mortas ou morrendo. Ele correu para as saídas do campo,
blefou para passar pelos guardas, dirigiu-se às pressas para
o aeroporto próximo, entrou em seu avião e logo estava
voltando para Berlim. Tendo matado Hitler, como ele
pensava, ele agora deveria liderar a revolta militar em
Berlim.
Mas Stauffenberg não conseguiu matar Hitler. O Führer ficou
bastante abalado, mas não gravemente ferido. O suporte da
mesa de carvalho salvou-lhe a vida. Seu cabelo estava
chamuscado, suas pernas estavam queimadas, seu braço
direito estava machucado e temporariamente paralisado.
Seus tímpanos foram perfurados pela força da explosão e
suas costas laceradas pela queda de uma viga. Mas ele
continuava vivo.
Estava tão vivo, de fato, que menos de quatro horas depois
pôde receber Mussolini, que havia sido convidado a visitar a
sede justamente neste dia. Hitler mostrou à seu velho
camarada fascista, através dos escombros ainda
fumegantes, onde sua vida quase havia sido extinta.
Eu estava aqui perto desta mesa [Hitler apontou]. A bomba
explodiu bem na frente dos meus pés.
O Führer então tirou uma conclusão muito típica.
É óbvio que nada vai acontecer comigo. Sem dúvida, é meu
destino continuar meu caminho e levar minha tarefa à
conclusão...
Na empolgação que se seguiu à explosão, talvez tenha sido
difícil para Hitler lembrar o quão mal a guerra estava indo
contra ele. Mas sua mente estava clara o suficiente na hora
do chá para provocá-lo em uma das mais tumultuadas fúrias
de sua vida. A essa hora, por volta das 17h, as
comunicações com Berlim haviam sido restauradas e o
senhor da guerra soube que uma revolta militar havia
estourado na capital e que havia outra entre seus generais
em Paris.
Alguém, durante o chá, lembrou-se da suposta
"conspiração" de Roehm de 30 de junho de 1934, que Hitler
suprimira com tanta violência. A menção a isso acendeu o
ditador como um fósforo acendido por um foguete.
Testemunhas dizem que ele saltou de sua cadeira
enfurecido com espuma nos lábios e gritou. O que ele havia
feito a Roehm e seus "seguidores traidores" não era nada,
ele gritou, em comparação com o que faria aos traidores de
hoje. Ele iria destruir a todos, falou gritando. "Vou colocar
suas esposas e filhos em campos de concentração e não
terei misericórdia deles!"
Sua vingança foi facilitada pelo fracasso da revolta dos
generais em Berlim e em Paris. Embora tenha sido longa e
cuidadosamente preparada por algumas das melhores
mentes militares do exército, a revolta foi
inacreditavelmente frustrada. Stauffenberg, ao retornar a
Berlim três horas depois de detonar a bomba, fez esforço
heroico para assumir o controle da capital e proclamar a
dissolução do regime nazista. Mas a notícia de que Hitler
ainda estava vivo fez a maioria dos generais hesitar. Por
volta da meia-noite a revolta cessou. Mais tarde naquela
mesma noite, o próprio Stauffenberg foi alinhado contra
uma parede no Ministério da Guerra e fuzilado por um
pelotão.
À 01:00 em 2 de julho, a voz um tanto rouca e trêmula de
Hitler explodiu no ar da noite de verão em uma transmissão
nacional da Sede Suprema. Ele disse ao povo alemão que
queria que eles ouvissem sua voz para que soubessem que
"um crime sem paralelo na história alemã" tinha falhado.
Um pequeno grupo de oficiais ambiciosos, irresponsáveis,
insensatos e estúpidos arquitetou um complô para me
eliminar... A bomba plantada pelo Coronel Conde von
Stauffenberg explodiu dois metros à minha direita. Feriu
gravemente vários dos meus verdadeiros e leais
colaboradores, um dos quais faleceu. Eu mesmo saí
totalmente ileso, com exceção de alguns arranhões muito
pequenos, hematomas e queimaduras. Considero isso uma
confirmação da tarefa que me foi imposta pela Providência.
Hitler terminou prometendo que "acertaria as contas".
Ele manteve sua palavra. Milhares de suspeitos, militares e
civis, foram executados. Os líderes sobreviventes da
conspiração foram torturados na prisão para que
confessassem. Em seguida, eles foram julgados pelo
chamado "Tribunal do Povo" e condenados à morte. A
execução em muitos casos foi realizada por
estrangulamento lento, enquanto as vítimas eram
suspensas por cordas de piano em ganchos de carne
emprestados em açougues.
O marechal de campo von Witzleben foi assim estrangulado.
Os marechais de campo von Kluge e o general Beck
conseguiram enganar Hitler em sua vingança cruel,
matando-se. Quanto ao general Rommel, devido aos seus
serviços anteriores ao senhor da guerra, foi oferecido, por
Hitler, escolher entre suicídio ou julgamento por traição. Ele
optou por suicídio.
Isso não impediu Hitler de anunciar publicamente que o
popular Rommel morrera como “herói" como resultado dos
ferimentos obtidos na Normandia. O senhor da guerra
enviou um telegrama à viúva:
"Aceite minha mais sincera condolência pela grande perda
que você sofreu com a morte de seu marido."
Embora tivesse escapado da morte por milagre e reprimido
a trama dos generais com sua energia e brutalidade
habituais, Adolf Hitler nunca mais foi o mesmo depois de 20
de julho de 1944. O General Guderian, que agora se tornou
Chefe do Estado-Maior do Exército, mais tarde lembrou o
troco.
O que tinha sido dureza tornou-se crueldade, enquanto a
tendência para blefar tornou-se pura desonestidade. Ele
frequentemente mentia sem hesitar e presumia que outros
mentiam para ele. Ele não acreditava em mais em ninguém.
Já era difícil lidar com ele. Agora se tornou uma tortura que
piorava continuamente a cada mês. Ele frequentemente
perdia o autocontrole e sua linguagem tornou-se cada vez
mais agressiva. Em seu círculo íntimo, ele não encontrou
influência restritiva.
No entanto, foi este homem sozinho, meio louco e
desintegrando-se rapidamente no corpo e na mente, que
agora reunia os exércitos alemães derrotados em retirada e
dava novo ânimo à nação alemã maltratada, assim como
fizera no inverno sombrio e nevoso de 1941 antes de
Moscou.
Por um incrível exercício de força de vontade que todos os
outros na Alemanha careciam, no exército, no governo e
entre o próprio povo, Adolf Hitler foi capaz, quase que
sozinho, de prolongar a agonia da guerra por quase um ano.
O colapso da Alemanha de Hitler
No final de agosto de 1944, apenas seis semanas após o
atentado contra Hitler, os generais alemães concluíram que
a guerra estava acabada e perdida.
Em meados daquele mês, a ofensiva de verão russa levou
os exércitos vermelhos até a fronteira da Prússia Oriental,
até o rio Vístula, em frente a Varsóvia, e bem para os
Bálcãs. No final de agosto, os aliados restantes de Hitler
foram perdidos.
A Finlândia desistiu. A Bulgária retirou-se da guerra. A
Romênia, cujos campos de petróleo eram a única grande
fonte de petróleo natural da Alemanha, fora invadida pelos
russos.
No Ocidente, os exércitos do general Eisenhower
capturaram Paris em 25 de agosto e então correram em
direção à fronteira alemã. Só na França, os alemães
perderam meio milhão de homens e a maior parte de seus
tanques, artilharia e caminhões. Restava muito pouco com o
que defender a pátria.
"No que me diz respeito", disse o marechal de campo von
Rundstedt, comandante em chefe no Ocidente, "a guerra
terminou em setembro".
Não para Adolf Hitler. No último dia de setembro, o senhor
da guerra tentou reavivar as esperanças de seus generais.
Se necessário [disse], lutaremos no Reno. Não faz diferença
onde. Continuaremos esta batalha até, como disse Frederico
o Grande, um dos nossos inimigos... se cansará e não mais
lutará. Vivo apenas com o propósito de liderar essa luta...
Foi nesse clima de luta que Hitler fez sua última aposta
desesperada na guerra. Ele reuniu as últimas reservas em
homens, tanques e armas e ordenou uma ofensiva contra a
frente americana, onde ela era mais fraca, na Floresta de
Ardennes, na fronteira entre a Bélgica e a Alemanha.
Os generais alemães eram céticos quanto ao sucesso. Eles
não tinham mais confiança no julgamento militar de seu
senhor da guerra. Eles viram que ele estava se tornando um
homem quebrado. Mais tarde, um deles lembrou sua
aparição na noite de 12 de dezembro de 1944, quando deu
a ordem final para o ataque aos americanos.
Hitler era uma figura curvada com rosto pálido e inchado.
Ele se sentou curvado em sua cadeira. Suas mãos tremiam.
Seu braço esquerdo se contraia. Quando ele andava,
arrastava uma de suas pernas. Um homem doente...
Ele pode ter parecido doente. Mas suas palavras
continuavam tão ardentes como sempre. Ele exortou seus
generais a darem tudo o que tinham. "Mais alguns golpes",
disse ele, "e os americanos estarão liquidados."
O golpe que os exércitos de Hitler desferiram contra o 1º
Exército dos Estados Unidos na montanhosa Floresta de
Ardennes, na fria e nevada madrugada de 16 de dezembro
de 1944, foi duro. Mas não foi difícil o suficiente. Embora o
avanço alemão tenha sido rápido e profundo, a
protuberância que gerou foi logo contida. No dia de Natal,
os alemães sabiam que a aposta de Hitler havia fracassado.
A Batalha do Bulge, como foi chamada, foi perdida. Em 16
de janeiro de 1945, apenas um mês após o lançamento do
ataque surpresa, as tropas de Hitler voltaram às posições de
onde haviam partido.
Em seguida, os russos atacaram no leste. Eles lançaram sua
maior ofensiva da guerra. Eles expulsaram os alemães da
Prússia Oriental e da Polônia. No final de janeiro, o marechal
Zhukov, o principal comandante soviético, estava sobre o
rio Oder. Suas forças estavam agora a 160 Km de Berlim.
O mais catastrófico de tudo para Hitler, foi a invasão da
bacia industrial da Silésia, perto da fronteira polonesa, pelos
russos. Esta era a principal região de mineração e
manufatura da Alemanha, o Ruhr no oeste, já estava em
grande parte em ruínas pelo bombardeio anglo-americano.
A perda da Silésia, que escapara dos danos dos
bombardeios, condenou Hitler. Ele não podia mais produzir
as armas para continuar a sua luta.
"A guerra está perdida!" Albert Speer, o cabeça-fria chefe
da produção de armamento, disse ao Führer em 30 de
janeiro de 1945, o décimo segundo aniversário da chegada
de Hitler ao poder. Para provar isso, Speer deu ao ditador os
fatos e os números. Eles mostraram que, sem a Silésia e o
Ruhr, agora uma massa de escombros, a Alemanha
simplesmente não poderia continuar a lutar na guerra.
A terrível compreensão estava finalmente começando a
despontar para o fanático senhor da guerra. Normalmente,
ele colocava a culpa nos outros.
Se o povo alemão deve ser derrotado nesta luta [disse ele],
deve ter sido porque foi muito fraco. Ele falhou em provar
seu valor perante a história e está destinado apenas à
destruição.
Adolf Hitler agora desejava essa destruição para si mesmo.
Ele estava se tornando rapidamente num desastre físico e
mental, e isso ajudou a envenenar suas opiniões. Em
setembro de 1944, ele sofreu um colapso nervoso que o
deixou por vários dias confinado à cama. Ele pareceu se
recuperar em novembro, quando os inimigos nas frentes
oriental e ocidental foram temporariamente detidos. Mas ele
nunca recuperou o controle de seu terrível temperamento.
Já em 1945, à medida chegavam diariamente notícias
desastrosas das frentes, ele cedia cada vez mais a
explosões histéricas.
O general Guderian descreveu os ataques de raiva do
senhor da guerra ao receber a notícia de que o Exército
Vermelho havia invadido no final de janeiro o rio Oder, a
apenas 160 Km de Berlim.
Seus punhos levantados, suas bochechas coradas de raiva,
seu corpo inteiro tremendo, o homem parou na minha
frente. Ele estava fora de si de fúria, tendo perdido todo o
autocontrole... seus olhos pareciam pular para fora de suas
órbitas e as veias saltavam em suas têmporas.
Nesse estado de espírito e saúde, quando todo o seu mundo
começou a desabar sobre ele, Adolf Hitler tomou uma das
últimas decisões importantes de sua vida. Em 19 de março,
com os russos e os aliados ocidentais se aproximando do
coração da Alemanha, ele decretou a destruição da terra e
das pessoas que havia levado à catástrofe. Ele ordenou que
todas as áreas da Alemanha ameaçadas pelo avanço do
inimigo fossem devastadas. Tudo deveria ser destruído, até
os últimos estoques de comida e roupas. Se ele, o senhor da
guerra, tivesse que morrer, o povo alemão deveria segui-lo.
Albert Speer, um dos poucos funcionários alemães que
ousou enfrentar o ditador louco, protestou. Ele disse a Hitler
que não tinha o direito de destruir o povo alemão.
Devemos fazer tudo [insistiu Speer] para manter, mesmo
que apenas da maneira mais primitiva, uma base para a
existência da nação até o fim.
Mas Hitler, agora que seu destino pessoal estava selado,
não estava interessado na continuação da existência do
povo alemão, por quem ele sempre professou um amor
ilimitado. Speer, no banco dos julgamentos de Nuremberg,
citou a resposta do senhor da guerra.
Se a guerra for perdida [disse Hitler], a nação também
perecerá. Este destino é inevitável. Não há necessidade de
levar em consideração a base de que o povo precisará para
continuar uma existência mais primitiva.
Pelo contrário, será melhor nos destruirmos, porque esta
nação demonstrou ser fraca.
E o futuro pertencerá apenas à nação oriental mais forte
[Rússia]. Além disso, aqueles que permanecerão após a
batalha são apenas os inferiores. Pois os bons foram mortos.
Hitler então insistiu em devastar as terras alemãs. Milhões
de alemães, bem como cativos estrangeiros, teriam
perecido se as ordens de Hitler tivessem sido cumpridas.
Felizmente Speer e outros oficiais do exército alemães se
recusaram, finalmente, a obedecer ao ditador. E as tropas
aliadas e soviéticas avançaram tão rápido que mesmo os
fanáticos oficiais nazistas que tentaram obedecer não
tiveram tempo para destruir muita coisa.
No primeiro dia de abril de 1945, o 1º e o 9º Exércitos dos
Estados Unidos completaram seu cerco do Ruhr, prendendo
ali 21 divisões alemãs. A estrada para Berlim estava aberta
para as tropas de Eisenhower. Na noite de 11 de abril,
contingentes americanos chegaram ao rio Elba perto de
Magdeburg, a apenas 95 Km da capital alemã.
Em 16 de abril, os exércitos russos de Jukov avançaram com
suas cabeças de ponte sobre o rio Oder e convergiram para
Berlim. Chegaram a seus arredores na tarde de 21 de abril.
Os últimos dias de Hitler haviam chegado.
A morte de Adolf Hitler
Hitler planejava deixar Berlim e ir para Berchtesgaden em
20 de abril de 1945, em seu 56º aniversário. Lá, de sua Villa
Berghof, no Obersalzberg, ele pretendia dirigir a última
resistência do Terceiro Reich. Mas ele hesitou até que fosse
tarde demais.
Eva Braun, a loira bávara que fora amiga devotada de Hitler
por quase treze anos, chegara a Berlim em 15 de abril para
compartilhar seu destino. Hitler não a vira muito durante os
cinco anos e meio de guerra. Ele se recusou a permitir que
ela o visitasse em seus vários quartéis-generais onde ele
havia passado a maior parte dos anos de guerra. Ela havia
permanecido na Villa Berghof, no Obersalzberg.
"Ela era", disse Erich Kempka, o motorista do Führer, "a
mulher mais infeliz da Alemanha. Passou a maior parte da
vida esperando por Hitler."
O aniversário do Führer em 20 de abril passou
silenciosamente, apesar das más notícias contínuas das
frentes em colapso. A maioria dos nazistas da velha guarda
e comandantes militares sobreviventes se reuniram para
dar os parabéns pelo aniversário de Hitler. Entre eles
estavam Goering, Goebbels, Himmler e Ribbentrop; também
o almirante Karl Doenitz, comandante-chefe da Marinha, e
os generais Keitel, Jodl e Krebs. (Krebs havia sucedido
Guderian como Chefe do Estado-Maior do Exército.)
Durante a celebração de seu aniversário no abrigo antiaéreo
da Chancelaria em Berlim, Hitler pareceu aos generais
estranhamente confiante. Os russos, que agora estavam
nos portões da cidade, de alguma forma, disse ele, seriam
jogados para trás. No dia seguinte, Hitler ordenou um
contra-ataque total contra os russos nos subúrbios ao sul
pelo General S.S. Felix Steiner.
"Qualquer comandante que contenha suas forças", trovejou
o senhor da guerra, "perderá a vida em cinco horas."
Durante todo o dia e até o próximo, Hitler esperou
impacientemente por notícias do contra-ataque de Steiner.
Foi mais um exemplo de sua perda de contato com a
realidade.
Não houve ataque de Steiner. Nunca foi tentado. Existia
apenas na mente febril do desesperado senhor da guerra.
Quando ele finalmente foi forçado a reconhecer isso, a
tempestade desabou.
A explosão aconteceu às 15h00 em 22 de abril de 1945, na
conferência militar no bunker subterrâneo da Chancelaria,
que agora servia como quartel-general do Führer. Hitler,
com raiva, exigiu notícias de Steiner. Nem os generais nem
ninguém mais tinha. Mas os generais tinham outras
notícias. Tanques russos haviam rompido no norte e agora
estavam dentro dos limites da cidade de Berlim.
Todas as testemunhas sobreviventes testemunham que
Hitler perdeu completamente o controle de si mesmo. Ele
teve a maior fúria de sua vida. Foi o fim! ele gritou. Todos o
haviam abandonado. Ele estava cercado por traição,
mentiras, corrupção e covardia. Tudo acabou. Quando
finalmente conseguiu se controlar, anunciou que ficaria em
Berlim, e lá encontraria seu fim. Ele convocou uma
secretária e ditou um breve comunicado para ser lido no
rádio. O Führer, afirmou, permaneceria na capital e a
defenderia até o fim.
Naquela noite, ele ordenou aos generais Keitel e Jodl, seus
lacaios fiéis no Comando Supremo durante a guerra, que
deixassem a cidade e seguissem para o sul para assumir o
comando das forças alemãs restantes ali. Quando Jodl
protestou que o senhor da guerra não podia "liderar nada"
de Berlim, Hitler retrucou: "Bem, então Göering pode
assumir a liderança lá". Os generais lhe disseram que
"nenhum soldado lutaria por Göering".
"O que você quer dizer com luta?" Hitler zombou. "Há muito
poucas lutas a serem realizadas!"
Por fim, Adolf Hitler finalmente admitiu que o fim havia
chegado. Ele sabia que russos e americanos estavam se
aproximando de um entroncamento no rio Elba que, em um
ou dois dias, dividiria a Alemanha e o isolaria em Berlim.
Temos uma foto em primeira mão de Hitler naquela noite
tempestuosa de 22 de abril de um zeloso oficial S.S.
chamado Gottlob Berger. Esse indivíduo chegou ao bunker
tarde naquela noite. Mais tarde, ele disse que achou Hitler
"um homem quebrado, acabado". Quando Berger se
aventurou a elogiar o Führer por permanecer em Berlim e
não abandonar seu povo "depois deles terem resistido com
tanta lealdade e...", Hitler gritou para ele:" Todo mundo me
enganou! Ninguém me disse a verdade!"
Ele continuou e continuou [Berger contou mais tarde] em
voz alta. Então seu rosto ficou roxo-azulado. Achei que ele ia
ter um infarto a qualquer minuto...
Berger deveria voar para o sul, para Munique, naquela noite
para assumir o comando de vários prisioneiros ilustres,
como o Dr. Schuschnigg, o ex-chanceler austríaco, Leon
Blum, o ex-primeiro-ministro da França, e o general Haider,
o ex-chefe do Estado-Maior alemão. Ele também deveria
reprimir levantes que haviam sido relatados na Baviera e na
Áustria. A ideia de que uma revolta poderia estourar em sua
terra natal, a Áustria, e na Baviera, terra que ele havia
adotado, mais uma vez convulsionou Hitler.
Sua mão tremia [Berger relatou mais tarde], sua perna e
sua cabeça tremiam. E ele gritava: "Atire em todos! Atire
em todos!"
Berger não sabia se isso significava atirar nos distintos
prisioneiros e nos rebeldes. De qualquer forma, ele nunca
teve esta chance.
Mais tarde, naquela noite de 22 de abril, o general Eckard
Christian, oficial de ligação da Força Aérea no bunker,
telefonou animadamente para o Chefe do Estado-Maior: "O
Führer esta incapacitado!"
O chefe da força aérea, o marechal Göering, lhe provocou
outro colapso no dia seguinte. Göering, como Himmler e
Ribbentrop, havia escapulido de Berlim na noite do
aniversário de Hitler. Nenhum desses nazistas proeminentes
queria ser capturado pelos russos. Göering estabeleceu-se
em Berchtesgaden. De lá, em 23 de abril, ele enviou a Hitler
um radiograma sugerindo que, uma vez que o Führer estava
agora isolado em Berlim, ele, Göering, deveria assumir o
governo na Alemanha. Isso havia sido acordado
anteriormente por Hitler para o caso de ele ficar
incapacitado. Göering acrescentou que, se nenhuma
resposta for recebida, até o anoitecer, ele julgaria o Führer
"incapacitado" e assumiria.
A explosão de Hitler ao receber essa mensagem foi mais
tarde descrita por testemunhas nazistas oculares.
Göering traiu e abandonou a mim e pátria [Hitler atacou].
Pelas minhas costas, ele estabeleceu contato com o
inimigo!
Contra minhas ordens, ele foi se salvar em Berchtesgaden.
De lá ele me mandou um...
Nesse ponto, Hitler estava tão fora de si de raiva que não
conseguia continuar.
Finalmente ele deixou escapar:
... me enviou... um ultimato grosseiro! Agora não resta mais
nada! Nada me é poupado! Nenhuma lealdade é mantida,
nenhuma honra!
Hitler imediatamente ordenou que Göering fosse preso
como traidor e expulso de todos os seus partidos e cargos
governamentais. O corpulento chefe da Força Aérea na
verdade não havia entrado em contato com o inimigo, como
acusou o delirante ditador. Mas um outro, dos seus
seguidores de partido mais confiáveis, realmente havia
tentado negociar com o inimigo. Este era Heinrich Himmler,
chefe da Gestapo. "O verdadeiro e leal Heinrich", Hitler
costumava chamá-lo.
Na mesma noite em que Göering estava falando com Hitler
pelo rádio, 23 de abril, Himmler estava conferenciado
secretamente em Lübeck com o conde Folke Bernadotte, da
Suécia. Ele havia se oferecido para render os exércitos
alemães no Ocidente. A notícia logo vazou. Hitler ouviu em
uma transmissão britânica de Londres na noite de 28 de
abril.
O Führer, uma testemunha ocular no bunker mais tarde
testemunhou, "enfureceu-se como um louco. Sua cor foi
para um vermelho intenso. Seu rosto estava virtualmente
irreconhecível. Então ele afundou em um estupor."
A notícia devastadora da "traição" de Himmler foi seguida
imediatamente por relatos de que os russos estavam agora
já se aproximando da chancelaria. A ideia de que, dentro de
trinta e seis horas ou mais, eles iriam invadir o seu bunker
subterrâneo, o quartel-general, parece ter clareado a mente
de Hitler.
Ele agora tomou as últimas decisões de sua vida. Na
madrugada do dia seguinte, 29 de abril, ele ordenou a
prisão de Himmler, casou-se com Eva Braun, redigiu seu
último testamento e decidiu a hora e a maneira em que ele
e sua noiva partiriam desta terra.
Goebbels prendeu um obscuro vereador que lutava nas
barricadas não muito longe dali. Em algum momento entre
01:00 e 03:00 este oficial declarou o Führer e Eva Braun
marido e mulher em uma breve cerimônia civil.
Seguiu-se um macabro café da manhã de casamento no
pequeno apartamento particular de Hitler no bunker
subterrâneo. O champanhe foi trazido e o ditador em queda
relembrou com seus velhos camaradas nazistas sobre
tempos mais felizes. Então, de acordo com testemunhas
oculares, Hitler iniciou uma longa revisão de sua vida
dramática. Essa vida, concluiu ele, agora estava encerrada
e seria um alívio para ele morrer. Falar sobre sua morte
mergulhou a festa de casamento na escuridão. Alguns
convidados começaram a chorar. E Hitler retirou-se para a
outra sala.
Na sala adjacente, ele começou a ditar a uma de suas
secretárias seu último testamento.
O documento sobreviveu, como Hitler pretendia. É
interessante porque revela os pensamentos e o caráter do
ditador nazista nas últimas horas de sua vida turbulenta.
Naqueles momentos finais, ele confirmou o quão pouco
havia aprendido, apesar de toda a sua experiência. Ele
amaldiçoou os judeus por todos os males da terra. Ele
lamentou que o Destino mais uma vez enganou a Alemanha
na vitória e na conquista. E ele vomitou as mesmas velhas
mentiras mesquinhas que marcaram sua trajetória
meteórica pela vida. Sua última vontade e testamento, na
verdade, é um epitáfio adequado de um tirano obcecado
pelo poder que lhe corrompeu de forma absoluta.
... Não é verdade [ele escreveu] que eu ou qualquer outra
pessoa na Alemanha quisesse a guerra em 1939. Ela foi
provocada exclusivamente por estadistas que eram judeus
ou trabalhavam para interesses judeus...
Tendo culpado os judeus pelo início da guerra, ele colocou
sobre eles a "responsabilidade exclusiva" não apenas por
todas as mortes nos campos de batalha e nas cidades
bombardeadas, mas por seu próprio massacre de judeus!
Ele então se voltou para as razões de sua decisão de
permanecer em Berlim até o fim.
Não posso abandonar a cidade que é a capital deste
estado... Desejo compartilhar meu destino com aquele que
milhões de outras pessoas também assumiram ao
permanecer nesta cidade. Não vou cair nas mãos do
inimigo, que exige um novo espetáculo apresentado pelos
judeus para desviar sua histérica massas.
Decidi, portanto, permanecer em Berlim e aqui escolher a
morte voluntariamente, naquele momento em que acredito
que a posição do Führer não pode mais ser mantida. Eu
morro com o coração alegre em meu conhecimento das
ações e realizações incomensuráveis de nossos camponeses
e trabalhadores e de uma contribuição única na história de
nossa juventude que leva meu nome...*"
* Ele se refere à chamada "Juventude Hitlerista".
FIM