Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ailton Reis1, Bruno Eduardo Cardoso Miranda1, Leonardo Silva Boiteux1,2, Gilmar Paulo Henz1
1
Centro Nacional de Pesquisa de Hortaliças (CNPH), Embrapa Hortaliças, CP 218, 70.359-970, Brasília-DF, Brasil. 2Bolsista do CNPq. e-mail:
ailton@cnph.embrapa.br
Autor para correspondência: Ailton Reis
Data de chegada: 21/11/2005. Aceito para publicação em: 17/10/2006.
1277
RESUMO
Reis, A.; Miranda, B.E.C.; Boiteux, L.S.; Henz G.P. Murcha do manjericão (Ocimum basilicum) no Brasil: agente causal, circulo de plantas
hospedeiras e transmissão via semente. Summa Phytopathologica, v.33, n.2, p.137-141, 2007.
O manjericão (Ocimum basilicum L.) é uma hortaliça da família fúngicos mostraram-se altamente virulentos sobre as duas cultivares de
Lamiaceae, utilizada na culinária ou como matéria prima para a indústria manjericão. Em O. campechianum e O. americanum os isolados causaram
de fármacos e óleos essenciais. Amostras de plantas de manjericão apenas suave escurecimento vascular e leve redução de crescimento,
apresentando sintomas de murcha, seca de hastes e podridão de colo sendo avirulentos sobre acessos das espécies O. manjorana, O. vulgare,
foram coletadas na área rural de Brazlândia (DF) durante a estação M. arvensis, C. blumei, L. sibiricus e L. nepetaefolia. Este conjunto de
chuvosa de 2005. Outras duas amostras foram coletadas em plantas dados indicou que o agente causal da doença é o fungo F. oxysporum f. sp.
cultivadas em campo aberto e casas de vegetação na região de Ponte Alta basilici, constituindo-se no primeiro registro formal deste patógeno no
(DF). Isolados de um fungo, identificado como Fusarium oxysporum, Brasil. Os lotes de sementes utilizados nas áreas de ocorrência da doença
foram obtidos em todas as amostras. Testes de patogenicidade foram foram submetidos a um teste de sanidade visando verificar a presença do
conduzidos com mudas das cultivares O. basilicum ‘Dark Opal’ e ‘Italian patógeno. O fungo F. oxysporum f. sp. basilici foi detectado em quatro
Large Leaf’, e de acessos das espécies O. americanum L. (manjericão de dos seis lotes e os isolados obtidos das sementes contaminadas mostraram
folha miúda), O. campechianum Mill. (alfavaca), Origanum manjorana similar sintomatologia e um idêntico perfil de virulência aos verificados
L. (manjerona), Origanum vulgare L. (orégano), Mentha arvensis L. em campo e casa de vegetação, sugerindo que as sementes representam o
(menta), Coleus blumei Benth. (tapete), Leonorus sibiricus L. (rubim) e mais provável veículo de introdução e potencial disseminação deste
Leonotis nepetaefolia (L.) W.T. Aiton (cordão-de-frade). Todos os isolados patógeno no Brasil.
Palavras-chave adicionais: Fusarium oxysporum f. sp. basilici, Ocimum basilicum, etiologia, patologia de sementes.
ABSTRACT
Reis, A.; Miranda, B.E.C.; Boiteux, L.S.; Henz G.P. Sweet basil (Ocimum basilicum) wilt in Brazil: Causal agent, host range and seed transmission.
Summa Phytopathologica, v.33, n.2, p.137-141, 2007.
Sweet basil (Ocimum basilicum L) is one of the most important basilicum cultivars, whereas O. campechianum and O. americanum
vegetable crops in the family Lamiaceae, being employed mainly as a cultivars reacted with a slight vascular browning and with a very mild
source of essential oils for the pharmaceutical industry. Samples of reduction in plant growth rate. All isolates were considered avirulent to
plants showing symptoms of wilt, stem blight and collar root rot were O. manjorana, O. vulgaris, M. arvensis, C. blumei, L. sibiricus and L.
collected during the 2005 hot rainy season in the rural area of Brazlândia nepetaefolia accessions. The experimental data indicated that the causal
(Federal District) in central Brazil. Two other samples displaying identical agent of this disease is the fungus F. oxysporum f. sp. basilici. This is
symptoms were collected under greenhouse and field conditions in Ponte the first formal report of this pathogen in Brazil. The remaining
Alta (DF). The fungus Fusarium oxysporum was consistently isolated in seeds from commercial lots that were sowed in the areas where the
all samples. Pathogenicity tests were conducted using seedlings and stem pathogen was first described were evaluated for the presence of F.
cuttings of the O. basilicum cultivars ‘Dark Opal’ and ‘Italian Large oxysporum f. sp. basilici. This fungus was detected in four out of six
Leaf ’ as well as accessions of the species O. americanum L, O. seed lots and the seed-derived isolates were able to induce similar set
campechianum Mill., Origanum manjorana L., O. vulgare L., Mentha of symptoms in the same group of plant accessions. This result
arvensis L., Coleus blumei Benth., Leonorus sibiricus L. and Leonotis strongly suggests that this new disease in Brazil was most likely
nepetaefolia (L.) W.T. Aiton. All isolates were highly virulent on O. introduced into the country via contaminated seeds.
Additional keywords: Fusarium oxysporum f. sp. basilici, Ocimum basilicum, etiology, seed pathology.
Tabela 1. Patogenicidade de isolados de Fusarium oxysporum, obtidos de plantas de manjericão, sobre espécies da família Lamiaceae.
podem servir de fontes de genes de resistência para serem incorporados de Phoma sp. em sementes de manjericão já ter sido relatada
em cultivares comerciais da espécie O. basilicum. As espécies de anteriormente (14).
orégano, manjerona, menta, tapete, rubim e cordão-de-frade parecem A espécie Fusarium oxysporum foi encontrada em quatro dos seis
não ser hospedeiras do patógeno, pois os genótipos inoculados com lotes comerciais de sementes de manjericão analisados (Tabela 2). Os
os dois isolados do Brasil não apresentaram qualquer sintoma da isolados obtidos destes lotes e avaliados para virulência sobre
doença, apresentando aspecto semelhante ao das plantas destas manjericão foram todos virulentos, evidenciando a introdução do
espécies não inoculadas com o patógeno (Tabela 1). O orégano e a mesmo no Brasil, via semente contaminada. Em torno de 5% das
menta também já haviam sido citados na literatura como imunes a um plantas, obtidas do lote de sementes de ‘Italian Large Leaf’ e mantidas
isolado norte-americano de F. oxysporum f. sp. basilici, (13). Como em vasos em casa de vegetação, murcharam após 40 a 60 dias do
as espécies C. blumei, L. sibiricus e L. nepetaefolia, aparentemente, semeio. Existem relatos de que este fungo pode ser transmitido por
não foram infectadas pelos isolados do patógeno, estes não deverão sementes, sendo este seu principal veículo de disseminação a longas
apresentar importância como hospedeiros alternativos de F. oxysporum distâncias (3, 4, 9, 26, 27). Os lotes analisados aqui representavam
f. sp. basilici. Este fato tem relevância epidemiológica, pois estas sementes comerciais importadas, vendidas no Brasil por companhias
espécies são invasoras comuns em várias regiões do Brasil. sementeiras. No rótulo das embalagens destas sementes não constava
Quanto ao teste de sanidade de sementes, a espécie fúngica qualquer análise fitossanitária ou indicação de tratamento fungicida.
Alternaria alternata (Fr.:Fr.) Keissl, foi a mais comum em cinco dos Sementes de manjericão, assim como de outras hortaliças ou
seis lotes de manjericão, chegando a mais de 57% na cultivar ‘Dark condimentos, têm sido importadas e vendidas no Brasil, aparentemente
Opal’ (Tabela 2), fato também verificado por Kruppa & Russomano sem um controle adequado da qualidade sanitária. Constatou-se também
(14) em um lote comercial de sementes, sendo que eles observaram que muitos dos lotes de sementes de manjericão têm sido
que este fungo foi o provável responsável pela morte de plantas obtidas comercializadas sem um pré-tratamento fungicida ou qualquer outro
de sementes deste lote. No entanto em nosso estudo, este fungo não tipo de tratamento sanitário. Quando é feito o tratamento fungicida,
induziu qualquer sintoma em ‘Dark Opal’ após inoculação da parte geralmente é realizado apenas com captam ou thiram, produtos de
aérea de plantas (via pulverização de uma suspensão de 107 conídios/ contato, que não atingem o interior das sementes, não conseguindo,
ml). Alternaria alternata é muito comum em sementes, estando, na portanto, eliminar os patógenos presentes nas áreas internas das
maioria das vezes, associado às mesmas aparentemente apenas como mesmas. Com isto, existe o risco permanente de introdução de novos
saprófita não ocasionando prejuízo nenhum no desenvolvimento da patógenos, quarentenários ou não, podendo trazer grandes prejuízos
cultura. Entretanto, Trigo et al. (25) alegam que esta espécie fúngica para a agricultura nacional.
pode interferir na viabilidade e vigor de sementes de coentro, porém
não se tem informação quanto ao seu efeito em sementes de manjericão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A espécie Colletotrichum gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc. foi
encontrada em sementes das cultivares ‘Dark Opal’ (0,5%) e ‘Italian 1. Booth, C. Fusarium. Laboratory guide to the identification of the
Large Leaf’ (1,8%) (Tabela 2). Este fungo é relatado na literatura como major species. Kew: CMI, 1977. 58p.
2. Brasil. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Secretaria Naci-
causador da mancha negra, doença importante do manjericão (6, 10),
onal de Defesa Vegetal. Regras para análise de sementes. Brasí-
mas que ainda não foi registrada no Brasil (16). Quando inoculados em lia-DF, 1992. 365p.
mudas destas mesmas cultivares, em casa de vegetação, eles não 3. Chiocchetti, A.; Ghignome, S.; Minuto, A.; Gullino, M.L.; Garibaldi,
mostraram-se virulentos. Um fungo do gênero Phoma, também foi A.; Migheli, Q. Identification of Fusarium oxysporum f sp. basilici
encontrado em sementes das cultivares ‘Dark Opal’ (2,8%) e ‘Italian isolated from soil, basil seed, and plants by RAPD analysis. Plant
Disease, St. Paul, v. 83, n.6, p.576-581, 1999.
Large Leaf’ (2,5%) e também nas plantas do campo em Brazlândia,
4. Chiocchetti, A.; Sciaudone, L.; Durando, F.; Garibaldi, A.; Migheli, Q.
causando mancha foliar e desfolha prematura. Esta doença também PCR detection of Fusarium oxysporum f. sp. basilici on basil. Plant
não está ainda formalmente relatada no Brasil (16), apesar da presença Disease, St. Paul, v. 85, n. 6, p. 607-611, 2001.