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Poaceae (Gramineae):

taxonomia, morfologia, ecologia,


aspectos econômicos e históricos

Prof. MSc. Rodrigo Sampaio Rodrigues


rosaro_3588@yahoo.com.br
Aspectos históricos
e taxonômicos
Neolítico: 12.000 – 4.000 a.C.
Neolítico: 12.000 – 4.000 a.C.
Quais foram as reais implicações decorrentes do estabelecimento da agricultura?

 sedentarização: estabelecimento de tribos, aldeias, etc.

 estabelecimento de relações sociais e linguagens mais complexas

 divisão de tarefas

 domesticação de animais (pecuária)

 seleção artificial (plantas e animais)

 excedentes da produção: moeda de troca

 aumento da disponibilidade de tempo para outras tarefas

 elaboração de instrumentos mais eficientes para o trabalho

 primórdios das ciências: astronomia, meteorologia, etc.

 primórdios das religiões, misticismos, cultos e ritos


Neolítico: 12.000 – 4.000 a.C.
O nascimento das civilizações é geralmente associado aos cereais que as simbolizam

Mediterrâneo e Europa

Triticum aestivum L.
Neolítico: 12.000 – 4.000 a.C.
O nascimento das civilizações é geralmente associado aos cereais que as simbolizam

Mesoamérica

Zea mays L.
Neolítico: 12.000 – 4.000 a.C.

O nascimento das civilizações é geralmente associado aos cereais que as simbolizam

Ásia

Oryza sp.
Domesticação de plantas:

Grandes centros irradiantes


Domesticação de plantas:

 Processo evolucionário conduzido pelo homem com objetivos específicos;

• Aumento da produtividade (quantitativa e qualitativa);


• Resistência aos agentes patogênicos;
• Aumento da resistência às condições ambientais adversas;

 Plantas domesticadas são geneticamente distintas das formas selvagens.

 Alterações cromossômicas são acompanhadas de alterações morfológicas,


bioquímicas e fisiológicas (Síndrome de Domesticação):

• Perda da dormência das sementes;


• Aumento do tamanho e número de frutos e sementes;
• Alterações nos mecanismos de dispersão;
• Hábito;
• Uniformidade morfológica;
• Desenvolvimento antrópico-dependente;
Domesticação de plantas:

 Principais fatores genéticos envolvidos no processo de domesticação de plantas:

• Mutação (gênica, cromossômica e extranuclear)


• Hibridação
• Euploidia
• Seleção artificial

Triticale (Hibrido entre Trigo e Centeio)

Oryza sativa L.
Domesticação de plantas:
Poliploidia:

Saccharum officinarum L.
Domesticação de plantas:
Domesticação de plantas:
Domesticação de plantas:

Teosinto Híbrido Zea mays L.


E hoje...?
E hoje...?
Poaceae: distribuição

700 gêneros, ca. 10.000-11.000 espécies (GPWG 2001, 2011);

Cosmopolita: trópicos, subtrópicos, zonas temperadas e regiões polares (Gould & Shaw
1983).

Fonte: tropicos.org
Poaceae: classificação

GPWG (2001): 12 subfamílias

Sanchéz-Ken et al. (2007): Arundinoideae 


Micrairoideae (Micraireae)

mobot.org
Eriachne R. Br.; Isachne R. Br.

APG: 13 subfamílias (GPGW (2001) +


Micrairoideae)

Soreng et al. (2011): 12 subfamílias


(Panicoideae + Centothecoideae)

mobot.org
Poaceae: classificação

Hábito herbáceo
Folha cotiledonar: 1
Epiderme silicosa
Raiz embrionária efêmera
Ácido silícico Folhas graminoides
Folhas paralelinérveas
Inflorescência bracteada Flores pequenas/reduzidas
Flores trímeras
Embrião pequeno e alargado Flores anemófilas
Perigônio 2-verticilado
Flores paleáceas
Ausência de nectários florais
Poaceae no Brasil

Brasil:
214 gêneros, 1.435 espécies

Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica,


Pampa e Pantanal

25 gêneros endêmicos
484 espécies endêmicas

11 Subfamílias

Filgueiras et al. 2014


Bambusoideae Erhartoideae
Poaceae no Brasil

11 Subfamílias

Anomochlooideae Pharoideae

Chloridoideae

Danthonioideae Arundinoideae

Pooideae Panicoideae

Micrairoideae
Aristidoideae
Poaceae no Brasil

Subfamílias mais expressivas:

Pooideae Bambusoideae Aristidoideae Chloridoideae Panicoideae


Ecologia
Ecologia
 Grande número de espécies pioneiras:

Polypogon elongatus Kunth

Paspalum urvillei Steud.

Andropogon virgatus Desv. ex Ham. Cynodon dactylon (L.) Pers.


Ecologia
 Espécies fixadoras de solo (revestimento): combate à erosão
• raízes fasciculadas
• desenvolvimento paquimorfo ou leptomorfo

Capim-das-dunas
Ecologia
 Espécies fixadoras de solo (revestimento): combate à erosão
• raízes fasciculadas
• desenvolvimento paquimorfo ou leptomorfo

Axonopus siccus (Nees) Kuhlm.


Ecologia
 Espécies fixadoras de solo (revestimento): combate à erosão
• raízes fasciculadas
• desenvolvimento paquimorfo ou leptomorfo
Ecologia
 Recuperação de áreas degradadas

Axonopus fissifolius (Raddi) Kuhlm. Paspalum notatum Alain ex Flüggé


Ecologia
 Indicadoras das condições do solo
Ecologia
 Interações com a fauna
• alimento, refúgio, locais para acasalamento e procriação
Ecologia
 Interações com a fauna
• alimento, refúgio, locais para acasalamento e procriação
Ecologia
 Invasoras
• unidades de conservação
• cultura
• ruderais

Melinis minutiflora P. Beauv.

Eleusine indica (L.) Gaertn.

Cenchrus echinatus L.
Setaria parviflora P. Beauv.
Economia
Economia
 Alimentação humana

Triticum eastivum L.

Oriza sp.

Zea mays L.
Economia
 Alimentação animal

Pastagem e rebanho

Urochloa brizantha (Hochst. ex A. Rich.) R.D. Webster

Cenchrus purpureus (Schumach.) Morrone


Economia

Ornamental

Cortaderia seloana (Schult.) Asch.


(Foto: Karen Peacock)

Phyllostachys nigra (Lodd. ex Lindl.) Munro


(Foto: Muhamad Dede Rifal)
Economia
 Ornamental

Gramados
Economia
 Construção
Economia
 Construção
Economia
 Artesanato

Coix lacryma-jobi L.
Economia
 Medicinal: aromatizantes, repelentes

Melinis repens (Willd.) Zizka Melinis minutiflora P. Beauv.


Economia
 Medicinal: aromatizantes, repelentes

Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Chrysopogon zizanioides (L.) Roberty


Economia
 Matriz energética:

Biocombustível a partir do bagaço da cana-de-açúcar

Biocombustível a partir do bagaço do milho

Panicum virgatum L.
Economia
 Indústria cosmética e farmacêutica:
Poaceae:
ciclo de vida e morfologia básica
Ciclo

Estivais (gramíneas de verão): fase vegetativa na primavera e florescimento no verão

Megatérmicas: milho, arroz, sorgo,


etc.

Hibernais (gramíneas de inverno): fase vegetativa no outono e florescimento na


primavera

Microtérmicas: trigo, alpiste, aveia,


cevada, etc.
Ciclo

 Monocárpicas (Anuais): florescem uma vez e morrem após a frutificação:

• Anuais: possuem um só período vegetativo: trigo, milho, cevada


• Bianuais: vivem vegetativamente em torno de dois anos: azevém
• Plurianuais: vivem vegetativamente por longos períodos: bambus

 Pluricárpicas (Perenes): florescem várias vezes ao longo de seu ciclo.

Como podemos diferenciar uma


gramínea anual de uma gramínea
perene?
Ciclo

Dica 1: presença de rizoma

Paspalum notatum Alain ex Flüggé Axonopus capillaris (Lam.) Chase


Ciclo

Dica 2: número de ramos floríferos por touceira:

Gymnopogon foliosus (Willd.) Chase


Ciclo

Dica 2: número de ramos floríferos por touceira

Gymnopogon foliosus (Willd.) Chase


Morfologia: raiz

Raiz: fasciculada ou cabeleira

Adventícias ou caulinares
Morfologia: colmo

 Nós e entrenós evidentes

 Gemas com desenvolvimento alterno nos nós

 Cheios (maciços) ou fistulosos (ocos)

 Ausência de desenvolvimento secundário

 Herbáceos e tênues até fortemente lignificados e resistentes


(bambus)

 Aéreos ou subterrâneos
Morfologia: colmo

Saccharum officinarum L.

Phyllostachys aurea Rivière & C. Rivière


Morfologia: colmo

 Pilosidade
Morfologia: colmo

Dendrocalamus asper

Paspalum multicaule Poir.


Morfologia: colmo

Merostachys sp.

Chusquea sp.

Hyparrhenia rufa (L.) Stapf.


Morfologia: colmo
 Rizoma: caule subterrâneo aclorofilado recoberto de catafilos, acumulam
reservas e dos quais partem raízes e colmos aéreos:

Paquimorfo (entouceirante)

Leptomorfo (alastrante)
Morfologia: colmo

Dendrocalamus minor (McClure) L.C. Chia & H.L. Fung


Morfologia: colmo

Phyllostachys aurea Carrière ex Rivière & C. Rivière


Hábito (Forma de crescimento)
 Estolonífero
• caules aéreos rasteiros
• enraizamento nos nós basais
• formação de partes aéreas em cada nó

Chloris pycnothrix Trin.


Hábito (Forma de crescimento)
 Cespitoso:
• formação de touceiras
• entrenós basais encurtados
• partes aéreas eretas

Andropogon bicornis L. Andropogon leucostachyus Kunth


Hábito (Forma de crescimento)
 Cespitoso-decumbente
• formação de touceiras
• sinflorescência erguida
• partes aéreas prostradas no solo sem enraizamento

Panicum rudgei Roem. ex Schult.


Hábito (Forma de crescimento)
 Decumbente
• sem formação de touceiras
• sinflorescência erguida
• partes aéreas prostradas no solo sem enraizamento (ou apenas nos nós
inferiores)

Trichanthecium parvifolium (Lam.) Zuloaga & Morrone


Hábito (Forma de crescimento)
 Apoiante
• formação ou não de touceiras
• partes aéreas prostradas sobre a vegetação circundante

Chusquea sp.
Hábito (Forma de crescimento)

 Apoiante
• formação ou não de
touceiras
• partes aéreas prostradas
sobre a vegetação
circundante

Parodiophyllochloa penicillata (Nees ex Trin.) Zuloaga & Morrone


Folha

 Composta por três regiões distintas


• bainha
• região ligular
• lâmina

Agrostis sp.
Folha

 Dimorfismo foliar
• Importante em alguns
grupos de gramíneas,
principalmente bambus

Folha dos ramos

Folhas do colmo

Gema
Folha: região ligular

Pseudopecíolo

Colo
Folha: região ligular

Fímbrias
Folha: região ligular

 Lígula

Ichnanthus sp.

Panicum pilosum Sw.

Agrostis alba L. Setaria sphacelata (Schumach.)


M.B.Moss ex Stapf & C.E.Hubb.
Folha: lâmina
Sinflorescência

 importante sob o ponto de vista taxonômico


 frequentemente uniforme entre espécies de um mesmo gênero
 complexidade estrutural:

• eixo
• espiguetas (inflorescências)
• antécios

 Dois tipos básicos

• Panícula: eixo central do qual partem ramificações de segunda ou mais


ordens:
• típica
• contraída
• espiciforme
• ramos unilaterais

• Espigas: espiguetas dispostas diretamente sobre a ráquis


Sinflorescência

 Panícula típica

Otachyrium versicolor (Döll) Henrard


Sinflorescência

 Panícula contraída

Sporobolus pseudairoides Parodi


Sinflorescência

 Panícula espiciforme

Setaria sphacelata (Schum.) Stapf & C.E. Hubb. ex M.B. Moss


Sinflorescência

 Panícula espiciforme
Sinflorescência

 Espiga

Lolium sp.
Sinflorescência

 Espiga

Triticum aestivum L.

Zea mays L.
Espigueta

 Espigueta: inflorescência básica das gramíneas


 Ráquila: eixo central que sustenta brácteas e as flores
• Brácteas:
• brácteas estéreis: glumas (Ø, 1 ou 2)
• brácteas florais: lema e pálea  antécio 1-muitos

Bromus catharticus Vahl


Sporobolus indicus (L.) R. Br.
Espigueta

Antécio

Antécio

Gluma
Gluma

Centotheca sp.
Espigueta
Pálea

Pálea

Lema
Lema

Gluma

Gluma
Tristachya leiostachya Nees
Espigueta
 Anexos das brácteas:

• aristas (usualmente prolongamento das nervuras das brácteas)


• tricomas
• alas

Echinochloa crus-galli Ichnanthus sp.


P. Beauv.
Danthonia cirrata Hack. &
Arechav.
Antécio
 Antécio: conjunto formado por duas brácteas: lema e pálea

 neutro
Pálea

 estaminado
 bissexuado
Pálea
Lema

Lema

Gluma

Gluma

Ichnanthus leiocarpus (Spreng.) Kunth


Antécio
 Textura do antécio superior: importante característica taxonômica de alguns
grupos

Cyphonanthus discrepans (Döll) Panicum rudgei Urochloa decumbens (Stapf) R.D. Setaria parviflora (Poir.)
Zuloaga & Morrone Roem. & Schult. Webster Kerguélen
Antécio
 Textura do antécio superior: importante característica taxonômica de alguns
grupos

Aliscioni et al. (2003), Zuloaga et al. (2011)


Flor
 Flor:
• estames: usualmente 3
• gineceu: bicarpelar, uniovulado
• lodículas: 2 ou 3
Flor
anteras

lodículas

Lodículas: associadas ao mecanismo de


abertura do antécio para a polinização
Urochloa humidicola (Rendle) Morrone & Zuloaga
Inflorescência

Estigmas
plumosos

Anteras
rimozas

Estilete
bífido

Ovário
Fruto
 Cariopse: fruto seco, indeiscente com endosperma farináceo abundante o
pericarpo soldado à testa da semente em toda a extensão

Endosperma

Embrião

Hilo

Digitaria horizontalis Willd.


Fruto
Fruto carnoso

Alvimia sp.
(Foto: Reyjane P. Oliveira)
Obrigado

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