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Elementos fundamentais para a prática do jornalismo

científico
Claudio Bertolli Filho∗

Índice a recorrência aos meios de comunicação de


massa. Com isso, a mídia passou a desem-
1 Afinal, o que é jornalismo científico? 2 penhar a função estratégica de fornecedora
2 A linguagem do jornalismo científico 4 de informações científicas, as quais permi-
3 A produção da notícia científica 5 tem que todos se sintam minimamente afina-
4 Os percalços do jornalismo científico 9 dos com as questões centrais de um mundo
5 As imagens construídas sobre os leito- que, sob a égide da ciência e da tecnologia,
res 17 mostra-se em contínuas e rápidas transfor-
6 Dimensões éticas do jornalismo cien- mações.
tífico 19 Espelhando a tendência internacional, o
7 Considerações finais: para que serve o movimento editorial latino-americano tem se
jornalismo científico? 24 empenhado em responder às necessidades de
8 Referências bibliográficas 28 um público ávido em conhecer um pouco
mais sobre ciência. Tomando o Brasil como
exemplo, além dos cadernos e seções espe-
A modernidade tardia tem como uma de cializadas em ciência constantes nos princi-
suas características fundantes a presença ma- pais jornais e revistas do país desde meados
ciça da ciência e da tecnologia no cotidiano. da década de 1980, existe ainda uma varie-
Em conseqüência, cada vez mais o cidadão dade significativa de periódicos de divulga-
é coagido a se integrar aos debates propos- ção, sendo os principais deles Ciência Hoje,
tos pela “sociedade global” a partir do do- Ciência & Cultura, Pesquisa FAPESP, Sci-
mínio de conhecimentos científicos amplos entific American Brasil e ainda Galileu (an-
que, de regra, parecem de difícil – ou mesmo tiga Globo Ciência) e Superinteressante, os
impossível – apreensão por parte dos leigos. dois últimos com tiragens médias respectiva-
O caminho encontrado pela maior parte das mente de 200 mil e 480 mil exemplares.
pessoas para entrar em contato com as novas Neste contexto, nos últimos anos as em-
propostas e produtos gerados pela ciência é presas de comunicação passaram a buscar,

Docente no Programa de Pós-Graduação em Co- com maior insistência, profissionais que de-
municação e no Programa de Pós-Graduação em Edu- monstrem capacidade de compreensão do
cação para a Ciência da Universiade Estadual Paulista discurso científico e habilidade para repas-
(UNESP), campus de Bauru. (cbertolli@uol.com.br).
2 Claudio Bertolli Filho

sar os conteúdos para um público interes- científico” como sinônimos, indicando-se


sado em se inteirar sobre as últimas novida- como exemplo alguns dos textos assina-
des da ciência. Apesar disso, tomando ainda dos por José Reis, um médico que se tor-
o caso brasileiro como exemplo, profissio- nou o principal divulgador científico brasi-
nais qualificados no setor do jornalismo ci- leiro do século passado (Gonçalves & Reis,
entífico ainda são raros, inclusive porque são 1999:62). Na verdade, pensa-se que a di-
poucas as escolas de Comunicação e os cur- vulgação científica abriga em seu bojo um
sos de especialização que preparam os co- grande número de iniciativas disseminado-
municadores sociais para atuar nesta área do ras do conhecimento, podendo abranger va-
mercado. riadas modalidades de comunicação, desde
Frente a tal situação, o objetivo deste texto uma conversa informal até artigos jornalísti-
é colocar em debate as principais questões cos. Entre uma e outra dessas expressões,
que ditam as possibilidades e impõem os encontra-se uma rica gama de possibilida-
limites à atividade dos jornalistas científi- des: obras de literatura e poesia, livros di-
cos. Não se busca oferecer aqui novas op- dáticos, jogos, estórias escritas e/ou conta-
ções para tal prática, mas sim sistematizar das para a recreação infantil, histórias em
um vasto conjunto de informações e impas- quadrinho, filmes, programas de rádio e tele-
ses que alimentam uma ampla bibliografia, visão, sítios virtuais, apresentações teatrais,
nem sempre de fácil acesso para os interes- músicas, exposições em museus, dentre ou-
sados. O roteiro adotado para a produção tras (Almeida, 1998; Zanetic, 1998; Mora,
deste texto parte da conceituação do jorna- 2003).
lismo científico para, em seguida, abordar as A amplitude atribuída à divulgação cien-
questões da linguagem e da produção da no- tífica tem se mostrado como um fator obsta-
tícia científica e, na continuidade, focar as culizador dos estudos a ponto de vários pes-
principais dificuldades e as implicações éti- quisadores buscarem circunscrever melhor a
cas do fazer jornalístico científico. Optou-se prática em questão. O jornalista Wilson da
também pela inclusão de um número signi- Costa Bueno (1984:16), por exemplo, pro-
ficativo de referências bibliográficas – espe- põe a diferenciação entre divulgação e disse-
cialmente as disponíveis na rede mundial de minação científica, atribuindo a esta última a
computadores – não só para fundamentar as função de “transferência de informações ci-
idéias assumidas, mas também para indicar entíficas e tecnológicas, transcritas em códi-
novas leituras para aqueles que pretendem gos especializados, a um público seleto, for-
expandir suas reflexões sobre os tópicos aqui mado por especialistas”.
tratados. Mesmo assim, as propostas de concei-
tuação da divulgação científica ainda pare-
cem provisórias. Uma linhagem de estudi-
1 Afinal, o que é jornalismo
osos prefere conceituar a prática em ques-
científico? tão através de seu trabalho com a linguagem,
São comuns as referências que invocam os o que implica o fundamento da divulgação
termos “divulgação científica” e “jornalismo em ciência como sendo o empenho de re-
codificação da linguagem científica, visando

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com isso favorecer que parcelas de saberes contato com as fontes, a obtenção e checa-
restritos tornem-se acessíveis e inteligíveis gem das informações e a formatação do texto
para um público não especializado (Destá- noticioso, com o emprego de um vocabulário
cio, 2002:94). Outro grupo de pesquisadores de fácil compreensão são algumas das tarefas
prefere centrar as discussões não na questão requeridas do jornalista, qualquer que seja a
da linguagem, mas sim na análise dos fins especialidade.
almejados pela tarefa divulgadora: Tais elementos delimitam o que aqui se
entende por jornalismo científico: um pro-
“A divulgação científica radicou-se como duto elaborado pela mídia a partir de certas
propósito de levar ao grande público, regras rotineiras do jornalismo em geral, que
além de notícias e interpretações do pro- trata de temas complexos de ciência e tec-
gresso que a pesquisa vai realizando, as nologia e que se apresenta, no plano lingüís-
observações que procuram familiarizar tico, por uma operação que torna fluída a lei-
esse público com a natureza do trabalho tura e o entendimento do texto noticioso por
da ciência e a vida dos cientistas. Assim parte de um público não especializado. As-
conceituada, ela ganhou grande expan- sim sendo, pensa-se como o autor anônimo
são em muitos países, não só na imprensa do texto Jornalismo científico (2004) que,
mas sob forma de livros e, mais refinada- por exemplo, em uma matéria sobre, Men-
mente, em outros meios de comunicação deleiev e a concepção da tabela periódica de
de massa” (Gonçalves, 1998:78). elementos assinada por um químico e profes-
sor universitário e publicada em um jornal ou
Estabelecidas as possíveis conceituações revista de penetração popular, não é um pro-
da divulgação científica, torna-se fundamen- duto típico do jornalismo científico, apesar
tal então buscar-se o clareamento sobre a de enquadrar-se como item de divulgação ci-
especificidade do jornalismo cientifico no entífica. Isto porque o texto assinado pelo ci-
rol das iniciativas divulgadoras em ciência. entista pode não ter obedecido os protocolos
Parte-se do princípio que o jornalismo cien- próprios da escrita jornalística.
tífico é um gênero jornalístico, constatação Ainda é o autor do artigo acima mencio-
que parece óbvia, mas cujos desdobramentos nado que observa:
nem sempre são suficientemente discutidos
pelos pesquisadores acadêmicos e nem pe- “O Jornalismo Científico, que deve ser
los próprios profissionais da comunicação1 . em primeiro lugar Jornalismo, depende
A condição de gênero implica que o jorna- estritamente de alguns parâmetros que ti-
lismo científico atua, em princípio, em con- pificam o jornalismo, como a periodici-
formidade com os procedimentos rotineiros dade, a atualidade e a difusão coletiva.
de qualquer outra expressão jornalística. O O Jornalismo, enquanto atividade profis-
sional, modalidade de discurso e forma
1
- No campo da comunicação, existem autores de produção tem características próprias,
que preferem distinguir a prática do jornalismo cien-
gêneros próprios e assim por diante”.
tífico daquela que divulga notícias sobre tecnologia.
Sobre esta discussão, veja-se o instigante artigo de Vi- Buscando oferecer uma versão conclusiva
nicius Romanini (2005).
sobre este debate, Bueno (1984:11) oferece

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uma possível definição sintética de jorna- Para a lingüísta Lílian Zamboni tal afirma-
lismo científico: ção se mostra errônea, advogando que o dis-
curso de divulgação científica não se apre-
“Um caso particular de divulgação ci- senta como “um discurso da ciência degra-
entífica e [que] refere-se a processos, dado”, mas sim que se constitui em ou outro
estratégias, técnicas e mecanismos para e autônomo gênero textual, essencialmente
veiculação de fatos que se situam no diferenciado do discurso originário, isto é,
campo da ciência e da tecnologia. De- do texto que lhe deu origem.
sempenha funções econômicas, político- Acrescenta a mesma autora:
ideológicas e sócio-culturais importantes
e viabiliza-se, na prática, através de um “O que defendo, portanto, é a idéia de
conjunto diversificado de gêneros jorna- que o discurso de divulgação científica
lísticos”. constitui um gênero de discurso cientí-
fico, resultado de um efetivo trabalho de
formulação discursiva, no qual se revela
2 A linguagem do jornalismo
uma ação comunicativa que parte de um
científico ‘outro’ discurso e se dirige para ‘outro’
Antes da abordagem das estratégias mobi- destinatário (Zamboni, 2001, p. xviii-
lizadas para a produção da notícia, torna-se xix).
necessário discutir as relações entre o jorna-
lista científico e a linguagem, sendo freqüen- Com esta afirmação, a autora invocada
tes as análises que focam o jornalista como mostra-se tributária dos posicionamentos as-
um profissional que desempenha a função sumidos por Maingueneau (1989) e Authier-
de mediador entre o discurso produzido pela Revuz (1998) ao reiterar que o discurso di-
ciência e o público leigo. Neste sentido, vulgador da ciência não é uma adaptação do
são constantes as referências bibliográficas discurso-fonte, mas sim algo novo e origi-
que apontam os comunicadores sociais como nal. Por outro lado, Zamboni também se re-
agentes de um trabalho com as palavras co- fere aos receptores do discurso, ressaltando
mumente denominado de “tradução inter- a diferença de alvo entre as duas falas: o
lingüística” (Pereira, 2002). cientista dirige-se aos seus pares, enquanto
O empenho em produzir textos endereça- que o jornalista busca comunicar-se com o
dos ao “leitor comum” remete os questio- “público leigo” que, para o também lingüista
namentos para uma das mais discutíveis e José Horta Nunes (2003, p. 44-45), corres-
corriqueiras observações sobre a prática do ponde à imagem idealizada de “um homem
jornalismo científico: é o profissional atu- aberto, curioso pelas ciências, inteligente e
ante nesta área apenas um “tradutor” (esse consciente de sua distância em relação aos
é o termo comumente utilizado pela maior especialistas”.
parte das análises) do discurso científico para Cabe ressaltar ainda que, para melhor co-
um vocabulário inteligível pelo homem do municar os fatos da ciência, os jornalistas
povo? (Praticco, 2003). recorrem a múltiplas estratégias permitidas
pela linguagem, inclusive uma profusão de

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metáforas e analogias. O emprego de tais tido, é comum deparar-se com matérias que,
recursos são, via de regra, execrados pe- pelo uso de jargões próprios de uma espe-
los cientistas que, com freqüência, afirmam cialidade científica ou ainda pela recorrên-
que “não declararam” aquilo que aparece na cia a termos por demais genéricos, resultam
imprensa como sendo fruto de seu depoi- em notícias de teor duvidoso, se não total-
mento e, mais ainda, que o uso de metáfo- mente equivocado. Fácil de serem localiza-
ras e analogias pode levar a erros e simpli- das na mídia e ao mesmo tempo difíceis de
ficações interpretativas de suas idéias e, em serem superadas pelos divulgadores científi-
resultado, deporem contra o próprio entre- cos, essas ocorrências mostram-se prolíficas,
vistado e a equipe de pesquisadores da qual mesmo quando o texto é escrito por um es-
faz parte. Na verdade, como expus em ou- pecialista altamente treinado no setor jorna-
tro texto (Bertolli Filho, 2000), tal como as lístico e num determinado campo científico.
ideologias, recursos de linguagem como os Marcelo Gleiser, físico brasileiro radicado
mencionados se tornam realmente eficientes nos Estados Unidos, onde tem obtido algum
quando o enunciador não mais guarda cons- destaque como docente de física teórica, as-
ciência de seu uso. Tomando-se como exem- sina uma coluna registrada como de jorna-
plo o discurso da imunologia, há mais de lismo científico em um dos principais jornais
um século os especialistas vêm utilizando brasileiros. Em seus textos, Gleiser tem op-
um vasto arsenal de metáforas e isto se tor- tado por focar temas que privilegiam o apelo
nou tão corriqueiro naquela área do saber popular, elaborando matérias que se caracte-
que, sem qualquer constrangimento, muitos rizam por tal simplificação do campo concei-
pesquisadores não mais percebem o seu em- tual da ciência, que frequentemente incorre
prego, notando a presença de tal dispositivo em imprecisões inadmissíveis para um lei-
provisório da linguagem apenas nos textos tor com conhecimentos medianos. Como vá-
e falas de outros locutores (Löwy, 1996). rios outros profissionais que escrevem arti-
Frente a isto, acredita-se serem frágeis as gos para jornais e revistas, Gleiser emprega
argumentações que buscam desqualificar a como sinônimos conceitos distintos e caros
importância do jornalismo científico devido à Física, mencionando-se como exemplo os
as estratégias discursivas que comumente os conceitos de matéria e de massa (Martins,
comunicadores lançam mão. 1998; Perez, 2003).
Outro ponto que está articulado com a
questão da linguagem do jornalismo cientí-
3 A produção da notícia
fico localiza-se no afã do divulgador em esta-
belecer sintonia com um público que o emis- científica
sor nutre uma imagem demasiadamente im- Estabelecidas as possíveis definições e os di-
precisa, quer o considerando com a mesma lemas de linguagem próprios do jornalismo
capacidade que o locutor para a intelecção de científico, o passo seguinte refere-se aos cri-
assuntos geralmente complexos, quer como térios adotados pelas empresas de comuni-
alguém destituído de potencialidade para en- cação e por seus funcionários para seleciona-
tender o vocabulário básico da ciência ou rem, dentre o grande número de informações
mesmo da língua do seu país. Neste sen-

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geradas pelas atividades científicas, aquelas de comunicação concede aos seus funcioná-
que integrarão a pauta e que serão transfor- rios. Hiller Krieghbaum (1970), Warren Bur-
madas em notícias a serem veiculadas. kett (1990) e Alton Blakeslee (1996), jorna-
Muitos são os elementos interferentes listas e acadêmicos que assinaram obras fun-
neste processo, desde as cobranças sociais damentais sobre o jornalismo científico, es-
em relação à mídia e a sensibilidade e co- tipularam uma extensa lista de critérios que
nhecimentos do editor responsável pelo se- devem ser observados no processo de sele-
tor até a linha política assumida pelo órgão ção das informações, produção e publicação
de comunicação e o poder das instituições de uma notícia científica.
científicas em agendarem os temas explora- Os principais critérios indicados por esses
dos pelos meios de comunicação de massa. autores são os seguintes:
Em continuidade, os jornalistas parecem nu-
trir um certo preconceito em relação a alguns 1. Senso de oportunidade: quando assun-
setores da ciência, imitando o que faziam os tos já “vencidos”, isto é, que ocorreram
pais do positivismo mecanicista, ao não con- num passado próximo ou distante, vol-
siderarem as Humanidades como expressões tam a despertar o interesse porque um
científicas típicas, por estas não serem con- cientista apresentou no âmbito de um
sideradas produtoras de verdades universais congresso um relatório que invoca um
e nem passíveis de comprovações incontes- acontecimento ou uma descoberta an-
tes (Joelston et, al, 1991:2). Tornou-se ponto tiga ou quando um material, apesar de
comum na mídia aceitar que as matérias inte- antigo, só agora deixou de ser sigiloso.
grantes das revistas, cadernos e seções de ci- 2. “Timing”: ocorre quando um evento
ência devem se reportar quase que exclusiva- externo aos novos acontecimentos ci-
mente às chamadas ciências básicas (Física, entíficos chama a atenção pública.
Química e Biologia) e às ciências aplicadas Exemplifica-se com o acidente que des-
(Engenharia, Medicina, Agronomia, dentre truiu o foguete lançador de satélite bra-
outras), eliminando ou minimizando as pos- sileiro, ocorrido em meados de 2003;
síveis matérias voltadas para as ciências hu- nos dias seguintes ao evento, diver-
manas (Melo, 1985:140). A estas últimas sos jornalistas científicos empenharam-
são reservados outros espaços da mídia, tais se em levar ao público um histórico
como os programas de variedade na televisão do programa aeroespacial brasileiro,
e no rádio e os cadernos culturais dos jornais comparando-o com o mesmo setor em
e das revistas. outros países, notadamente os Estados
Apesar disso, a abundância de informa- Unidos.
ções que podem ser colhidas na própria so-
ciedade na qual o profissional está inserido e 3. Impacto: quando se percebe que um de-
o caudaloso material que chega a ele através terminado tema, mesmo que não apre-
dos contratos com agências noticiosas inter- sente novidades, pode atrair a atenção
nacionais impõem a existência de outros cri- de um grande número de pessoas, o
térios que podem se tornar rígidos, depen- que acontece especialmente quando o
dendo do grau de autonomia que a empresa assunto focado é o de medicina e saúde.

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Assim, avaliações sobre o estado em zado pelo jornalismo científico é produ-


que se encontram as pesquisas sobre zir matérias que envolvam as emoções
o câncer, sobre a sexualidade ou so- humanas, não só para informar a so-
bre as patologias coronarianas são re- ciedade, mas também para sensibilizá-
gularmente invocadas, principalmente la e incentivá-la para a ação, quer seja
quando não há matéria “quente” a ser em relação à adoção de hábitos saudá-
veiculada. veis de vida, quer para a doação de re-
cursos para um programa de ajuda às
4. Significado: é a capacidade dos edito- vítimas de uma enfermidade. Neste
res, redatores e jornalistas em percebe- último caso, por exemplo, explica-se
rem a importância científica e/ou social os mecanismo da AIDS ou as causas
de uma nova descoberta no campo ci- da Síndrome de Down e, em seguida,
entífico; assim, caso os profissionais da acrescenta-se a trajetória social e as ne-
mídia não consigam realizar uma avali- cessidades dos atingidos por estes ma-
ação abalizada e ágil sobre um determi- les, motivando o público a agir em prol
nado tema, certamente não o incluirão destes personagens.
na pauta. Isto se deu, por exemplo, com
as experiências pioneiras que utilizaram 7. Personagens célebres ou de ampla ex-
os vírus como agentes modificadores do posição na mídia: entrevistas com auto-
DNA, o que muito expandiu a área de ridades científicas ou profissionais que
atuação da engenharia genética. acumularam prestígio em suas área de
atuação chamam a atenção pública e
5. Pioneirismo: as atividades dos cientis- atraem a leitura de artigos ou a assistên-
tas e a dos jornalistas se aproximam cia a programas de rádio e televisão. No
no referente à busca de um “furo”, isto caso brasileiro, atualmente ganha desta-
é, de uma descoberta ou de uma no- que o astronauta Marcos Pontes, o pri-
tícia que aponte para um fato novo e meiro latino-americano a participar de
que, portanto, atraia a atenção pública. uma viagem espacial. A descrição de
Para tanto, é necessário que os jorna- sua aventura no espaço favoreceu a pro-
listas mantenham um contato próximo dução de inúmeras matérias que expli-
com os laboratórios e com os pesquisa- cam, inclusive, vários conceitos cientí-
dores e saibam avaliar com destreza as ficos, desde os fatores físicos e mecâ-
informações que a eles chegam. Caso nicos que permitem que uma nave al-
contrário, o profissional da mídia pode cance rapidamente o espaço até os efei-
incorrer no erro de deixar-se convencer tos da ausência de gravidade no funcio-
por um pesquisador que, antes de mais namento do corpo humano.
nada, busca a auto-promoção – inclu-
sive através do engodo – e não oferecer 8. Proximidade: quanto mais perto o lei-
uma verdadeira e consistente contribui- tor está do evento, maior é a possibi-
ção para o avanço do saber. lidade que se sinta coagido a ler uma
matéria científica. No caso brasileiro,
6. Interesse humano: outro critério utili-

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é certo que, na semana em que se re- núcia o campo conceitual utilizado por
aliza o encontro anual da Sociedade cada um dos pesquisadores em litígio.
Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), alguns assuntos que tocam di- 11. Necessidade de sobrevivência: maté-
retamente o cotidiano nacional, como rias que abordam temas que criam a
as conseqüências climáticas do desma- sensação que a informação é útil para
tamento da Amazônia, os efeitos da po- a saúde e o bem-estar físico e mental
luição nas áreas metropolitanas e os ris- dos leitores são rotineiramente incorpo-
cos de o país ser palco da gripe do radas à pauta do jornalismo científico.
frango resultam em matérias oferecidas Os debates em torno dos riscos de con-
pela mídia que contam com uma subs- sumo de produtos transgênicos ou o ta-
tancial recepção popular. bagismo são exemplos atuais que garan-
tem a atenção pública.
9. Variedade e equilíbrio: cada programa,
sessão, suplemento ou encarte científico 12. Necessidades culturais: é comum os
deve contar com matérias variadas ou leitores se interessarem pela consulta
com a multiplicação de enfoques sobre a matérias que falam sobre o “es-
um mesmo tema para não alimentar a tilo de vida”, seus benefícios e ris-
impressão de monotonia e gerar tédio cos para, a partir disto, defrontarem-
entre os leitores/espectadores que, se se com novas opções comportamen-
assim se sentirem, irão abandonar o as- tais ou ampliar seus recursos de “auto-
sunto. Neste encaminhamento, os espa- reconhecimento”. Neste setor, as emo-
ços impressos destinados à ciência ten- ções e a sexualidade ganham destaque
dem a estampar lado a lado notícias de no jornalismo científico, que busca es-
diferentes setores do saber, por exem- clarecer, por exemplo, se a paixão ou
plo, genética e astronomia. a homossexualidade são motivadas por
elementos de dimensões biológica, psi-
10. Conflito: situações de confronto tam- cológica, pela combinação de ambas ou
bém chamam a atenção do leitor, prin- ainda por outros fatores.
cipalmente no campo científico que, du-
rante um longo período, adotou a ima- 13. Necessidade de conhecimento: admite-
gem idealizada de uma atividade na se que a maior parte do público cultiva a
qual seus profissionais alimentam idéias seu modo uma “paixão pelo saber”, isto
harmônicas e convergentes. Na mí- é, um impulso em se inteirar das “coisas
dia, tal recurso ganha destaque princi- da ciência”, para se sentir atualizado e
palmente quando ocorre um confronto sintonizado com o mundo em que vive.
ético entre cientistas; há algum tempo Neste sentido, os indivíduos encontram-
matérias sobre acusação de plágio en- se motivados, em princípio, a consultar
tre biólogos que estudavam assuntos se- qualquer matéria científica.
melhantes levou os meios de comunica-
Claro está que a maior parte dos tópi-
ção de massa a discutirem com certa mi-
cos aqui discriminados constitui-se em es-

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Elementos para a prática do jornalismo científico 9

tratégias comuns a toda a prática jornalís- tas norte-americanas que divulgam matérias
tica, de cunho científico ou não. Além disto, sobre a ciência; a partir dela, constatou-se
muito outros fatores poderiam se relaciona- que 2/3 dos entrevistados acreditavam que os
dos, apesar de considerar-se os mencionados homens e os dinossauros viveram no mesmo
como sendo os mais destacados. período e também que há um lado oculto da
lua que nunca recebe os raios solares. Tais
erros, por óbvio, influenciam a elaboração
4 Os percalços do jornalismo
das pautas e os conteúdos veiculados pela
científico mídia em que atuam esses profissionais.
A consulta a uma copiosa produção intelec- No Brasil, acompanhando a tendência in-
tual tematizada pelo jornalismo e pelo jorna- ternacional, a precariedade da capacitação
lista científico chama a atenção para a cir- acadêmica dos jornalistas que atuam no
cunstância da constância de observações re- campo científico é uma realidade. Como já
ferentes às dificuldades do exercício desta foi ressaltado, raras são as escolas de co-
especialidade da comunicação. Nenhum ou- municação que, no nível de graduação, ofe-
tro gênero ou confluência de gêneros jorna- recem a disciplina de jornalismo científico,
lísticos ganhou ápodos tão negativos ou críti- mesmo em caráter optativo. Foi somente na
cos quanto a expressão focada neste estudo. década passada que surgiram os cursos de
Assim sendo, o objetivo deste item é colocar especialização que, mesmo assim, ainda são
em tela as principais dificuldades indicadas escassos frente à demanda dos meios de co-
pela literatura sobre a prática do jornalismo municação e o interesse do público.
científico. Ainda com poucas exceções, as empresas
Eis as questões centrais destacadas sobre de comunicação, comumente contratam jor-
o assunto: nalistas (às vezes nem isso!) novatos e com
pouca ou nenhuma experiência no setor para
1. o analfabetismo científico: são comuns produzir matérias centradas no jornalismo
os registros que versam sobre o escasso em- científico. Carlos Fausto, que atualmente
penho das universidades em prepararem os é professor no Programa de Pós-Graduação
estudantes para a militância na área da divul- em Antropologia Social do Museu Nacio-
gação científica. O jornalista não foge a esta nal da Universidade Federal do Rio de Ja-
regra e, se é comum invocar-se o despreparo neiro, conta sua iniciação no jornalismo ci-
do público para entender os fatos e os concei- entífico como autor de um suplemento sobre
tos empregados pelos cientistas, é necessário Einstein e a Teoria da Relatividade. Seu de-
se ressaltar que os próprios profissionais da poimento documenta exemplarmente o que
comunicação tendem a demonstrar o mesmo ainda acontece na maior parte da imprensa
ou até superior (des)conhecimento. brasileira:
A multiplicação de erros e “barrigas”
destaca-se entre editores, redatores e jor- “Há quase 20 anos, quando eu era es-
nalistas. Jon Franklin (2003) desenvolveu tudante de Ciências Sociais na Universi-
uma pesquisa realizada nos jornais e revis- dade de São Paulo, surgiu-me uma opor-
tunidade de trabalho, com free-lance.

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10 Claudio Bertolli Filho

Tratava-se de escrever fascículos para ou análise que se mostrasse predominante.


uma coleção chamada Grandes Fatos do A partir disso, a jornalista nem mesmo sa-
Século XX. Comparecei a entrevista com bia se o que estava levando aos seus leitores
o editora-responsável. Ela propôs-me, espelhava o up to date da ciência ou apenas
então, uma experiência. Se eu fosse bem visões parciais, que atendiam mais aos inte-
sucedido, outros temas se seguiriam, al- resses particulares dos profissionais entrevis-
guns deles mais palatáveis para um jo- tados. O importante para o jornal era que
vem humanista, tais como a “Belle Épo- o caderno fosse produzido, já que atraia um
que”, o “cinema mudo”, “Martin Luther bom número de anunciantes...
King” ou “os Beatles”. A editora pediu- Casos que se reportam à precariedade de
me um texto claro, bem escrito, adequado conhecimentos sobre ciências por parte dos
ao público geral, além de correção con- jornalistas são registrados em série, confe-
ceitual. Diante da última exigência, não rindo dimensões tragicômicas à prática da
me coube outra alternativa senão contra- especialidade em discussão. A jornalista Fa-
tar meu antigo professor de Física para bíola de Oliveira (2002) referiu-se ao caso
me dar algumas aulas. Acabei conse- protagonizado por uma repórter da Rede
guindo o serviço (e perdendo algum di- Globo de Televisão que entrou em contato
nheiro). Einstein foi assim minha pri- com representantes do Instituto Nacional de
meira experiência em divulgação cientí- Pesquisas Espaciais (INPE), órgão encarre-
fica” (Fausto, 2002, p. 207). gado do programa aeroespacial brasileiro.
Como o INPE iria testar um foguete lança-
O que acontecia nos maiores centros ur- dor de satélites, ela perguntou para um dos
banos ainda continua a ocorrer na mídia se- técnicos entrevistados se seria possível uma
diada nas cidades de pequeno e médio porte; equipe do canal de televisão postar-se “den-
a regra que continua a persistir entre os edi- tro do satélite”, quando este fosse lançado.
tores é contratar jovens recém-egressos da Outra situação que se apresenta é a que acon-
universidade para comporem matérias cien- teceu com o próprio autor deste texto: ao pu-
tíficas, o que os leva a reproduzirem acri- blicar um livro que contém vários capítulos
ticamente o que lhes é dito por quem eles centrados na análise biológica e epidemio-
acreditam ser autoridades científicas. Em lógica de uma doença viral, um repórter de
um evento acadêmico recente, causou certo uma das mais importantes empresas de co-
constrangimento a situação de uma jorna- municação do país entrou em contato por te-
lista, encarregada de produzir um caderno de lefone para dizer que “não tinha o menor co-
ciência e saúde para um diário interiorano, nhecimento sobre o assunto” e, como o edi-
afirmar por diversas vezes que “não entendia tor havia lhe solicitado um artigo de resenha
nada de ciência”, sendo que o teor das maté- sobra a obra para a tarde do mesmo dia, o
rias que assinava era definido a partir da se- jornalista praticamente suplicou ao autor lhe
guinte estratégia: entrevistar dois especialis- ditasse algumas linhas sobre a parte do livro
tas sobre o mesmo assunto e, caso houvesse que focava a especificidade dos mecanismos
discordância entre eles, apelar para um ter- virais.
ceiro entrevistado, indo para o texto a idéia Buscando não se prolongar nesse tema,

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Elementos para a prática do jornalismo científico 11

torna-se obrigatória a referência à “barriga” cro das companhias que lançam no mercado
que ficou popularmente conhecida como uma grande variedade de produtos tecnológi-
“caso boimate”, que serve exemplarmente cos. A maior parte destas instituições conta
para ilustrar o desconhecimento de boa com profissionais da área de Relações Públi-
parte dos jornalistas científicos e a omis- cas e Assessoria de Imprensa, além de seus
são das empresas de comunicação. Em próprios cientistas submetidos a cursos rápi-
1987, celebrando o dia primeiro de abril, dos de comunicação para melhor se relaci-
mundialmente conhecido como “o dia da onar com os políticos e com a mídia. As-
mentira”, uma revista européia inventou sim, tanto as universidades quanto as empre-
a notícia de que, na Alemanha, os biólo- sas envolvidas com a produção de terapêuti-
gos Harry McDonald e William Wimpey cas e outros itens vitais para a saúde e o bem-
(atentem para os sobrenomes dos cientistas, estar da população assumem assim o mesmo
criados pela fantasia de um editor) haviam comportamento de qualquer outra empresa
conseguido combinar os genes de boi com privada, “vendendo” uma imagem altamente
os do tomate, criando o “boimate”, um idealizada e tributária da lógica de mercado
vegetal que tinha o gosto de churrasco. A (Rego, 1986: 159-160).
falsa notícia, acompanhada de um diagrama Claro está que a maior parte das organi-
ilustrativo de como o tomate transgênico zações científicas e tecnológicas atuam no
foi produzido em laboratório, foi publicada contexto do e para o capitalismo, encon-
como fato verdadeiro pela revista Veja, o trando nos jornalistas pouco preparados os
semanário de maior circulação no Brasil. sujeitos ideais para encantar com mensa-
No texto, o periódico informou com alarde gens que fogem à realidade, transformando-
aos seus leitores que “a experiência dos os em porta-vozes não oficiais das necessi-
pesquisadores alemães (...) permite sonhar dades institucionais e das ambições empre-
com um tomate do qual já se colha algo sariais junto à estrutura política e à socie-
parecido com um filé ao molho de tomate”. dade abrangente (Nelkin, 1987). Origina-se
Constatada a gafe cometida pela pressa de desta operação a veiculação de “informações
veicular a sensacional notícia sem antes desqualificadas” que apresentam enfermida-
checar as fontes, outros órgãos da mídia e des inexistentes e produtos miraculosos, re-
mesmo alguns leitores da revista criaram comendando serviços e mercadorias de alto
piadas irônicas sobre a matéria, sendo que, custo e baixa ou nenhuma eficiência (Bueno,
por algumas semanas, a Veja mostrou-se 2001; Leite, 2006).
reticente em admitir o próprio erro (Bueno, Os jornalistas mais experientes e que, por
2003a). isso, tornam-se mais difíceis de sedução,
são alvos de requintadas artimanhas de ade-
2. os interesses das empresas e dos insti- são aos interesses empresariais, inclusive su-
tutos de pesquisa: na lógica do capitalismo borno. O contato com alguns jornalistas per-
atual, o marketing constitui-se em elemento mitiu saber que algumas empresas produto-
fundamental de legitimação das atividades ras ou comercializadoras de tecnologia ten-
desenvolvidas pela ciência (sobretudo as fi- tam aliciar os profissionais da comunicação
nanciadas com o dinheiro público) e do lu- com praticamente tudo, de viagens, hospe-

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12 Claudio Bertolli Filho

dagens em caros hotéis a coleções de livros, lado, é freqüente ouvir da boca dos pesquisa-
brindes valiosos e até mesmo com o ofere- dores denúncias sobre a falta de conhecimen-
cimento de companhia sexual. Um caso ex- tos básicos dos jornalistas, que tais profis-
tremo de tentativa de declarada corrupção foi sionais fazem perguntas despropositais, que
denunciado, na década de 1960, por Hillier os comunicadores tomam muito tempo dos
Krieghbaum: o representante de uma em- pesquisadores com suas perorações e, sobre-
presa de medicamentos que havia desenvol- tudo, que a mídia produz matérias que dis-
vido uma nova droga que já contava com vá- torcem o que foi declarado pelos cientistas.
rios similares no mercado, entrou em con- Para evitar mal-entendidos, é comum os
tato com um reputado jornalista científico pesquisadores solicitarem aos repórteres que
para que este, mediante pagamento, redi- lhes enviem o texto produzido sobre o as-
gisse uma matéria e a fizesse ser publicada sunto que discutiram antes que ele seja pu-
no jornal em que trabalhava, informando no blicado mas, o curto prazo de tempo imposto
corpo da matéria os benefícios para a saúde pelas redações dificulta que isto ocorra, ge-
e o nome comercial do novo quimioterá- rando situações que são interpretadas pe-
pico. Além disso, caso o artigo fosse re- los entrevistados como descaso ou prepotên-
publicado ou mesmo mencionado em outros cia dos profissionais da mídia. Além disto,
meios de comunicação, o jornalista ganharia tornou-se comum também a crítica que os
ainda mais dinheiro. meios de comunicação não cumprem seus
Assim teve prosseguimento o diálogo en- compromissos para com a ciência, ao não
tre o jornalista e o representante da empresa atuarem como elo de ligação entre as des-
farmacêutica: cobertas científicas e as empresas que pode-
riam utilizar as propostas criadas nos labo-
“No total isso [a proposta de corrupção]
ratórios (Leite, 2003). Há casos mesmo de
chegaria a 17.000 dólares – como mental-
instituições que proíbem seus pesquisadores
mente calculei – mas aparentemente ha-
de concederem entrevistas, indicando que to-
via alguma coisa mais, porque quando
das as informações solicitadas pelos órgãos
ele [o corruptor] terminou sua explica-
de comunicação devem ser solicitadas junto
ção, perguntou: ‘Por que está me olhando
a um funcionário do departamento de Rela-
com tanto desprezo?’ Ao tentar explicar-
ções Públicas.
lhe o mais gentil e cuidadosamente que
Em outra via, é comum também ouvir-se
pude porque eu não queria tomar parte
queixas dos jornalistas em relação aos ci-
nesse embuste, disse-lhe apenas que eu
entistas. As mais freqüentes delas referem-
gostaria de poder dormir à noite. Ele
se às dificuldades de agendamento de en-
respondeu-me de modo curioso. Disse:
trevistas com os pesquisadores mais desta-
‘Eu bem que gostaria”’ (Krieghbaum,
cados e que, quando estas ocorrem, o en-
1970: 128-130).
trevistado monopoliza a palavra, pouco le-
3. cientistas x jornalistas: um dos fatos vando em consideração as perguntas que lhe
mais corriqueiros na atividade do jornalismo são dirigidas, que não abrem mão de expli-
científico é o confronto entre aquele que pro- cações complexas e do uso de terminologias
duz e aquele que divulga ciência. Por um científicas que não são elucidadas no mo-

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Elementos para a prática do jornalismo científico 13

mento oportuno e até mesmo de machismo cientistas sobre a infalibilidade de uma idéia
ou paternalismo. Tais circunstâncias fomen- ou teoria que se mostra hegemônica em um
tam a ocorrência de situações patéticas; re- determinado momento histórico.
centemente em um canal a cabo, um reno- Em contraste, cada vez mais os textos e
mado físico foi praticamente tirado do ar no imagens midiáticas são avaliados como re-
meio de suas explanações sobre a produção sultados de uma cultura e de um tempo, isto
e distribuição de energia elétrica porque o é, como resultado do trabalho de autoria de
entrevistado não respeitou o tempo que lhe um sujeito social que, não obstante a busca
foi concedido. Em outra situação, confiden- pela objetividade e imparcialidade, mesmo
ciada por uma comunicadora, a profissional assim deixa indeléveis marcas de quem es-
foi chamada de “burra” por um entrevistado creve, filma, fotografa, ilustra. Nesse sen-
pelo simples fato de ter declarado que não es- tido, o profissional da comunicação porta
tava conseguindo acompanhar a linha de ra- uma ideologia – aqui invocada sob as luzes
ciocínio adotada pelo pesquisador. do marxismo – que questiona a realidade so-
A repetição de situações como as menci- bre a qual trabalha e, com isto, explicita-
onadas tem alimentado um número relativa- mente ou não, oferece ao público uma inter-
mente grande de análises acadêmicas que, de pretação do que colheu junto aos entrevista-
regra, pouco tem contribuído para a reforma dos (Sousa, 2002: 30). O que ocorre com
dos conflitos entre os jornalistas e os cien- freqüência não é a deturpação do que entre-
tistas. Por um lado, os estudiosos da co- vistado expôs, mas sim diferenças interpreta-
municação acusam os pesquisadores cientí- tivas entre o cientista e o jornalista e os pro-
ficos de se considerarem “seres superiores” tocolos de representação do acontecimento
que se isolam em “torres de marfim” (Ta- instrumentalizados por cada um deles.
mara, 2003). Em caminho oposto, os cien- Nesta rota, torna-se praticamente impos-
tistas insistem que os jornalistas só lhe tra- sível não concordar com Franklin (2003)
zem problemas e constrangimentos (Capo- quando o experiente jornalista pontifica que:
zolli, 2004; Rothman, 2003).
Acredita-se que, neste campo de disputas, “Scientists are forever complaining that
algumas observações devam ser feitas além they are misunderstood and misrepresen-
de apontar eventuais responsáveis pelas di- ted, and I agree. But imagine what it’s
ficuldades de relacionamento entre jornalis- like to be the guy in the middle, to be
tas e cientistas. A primeira delas refere-se à caught up in the distortion process, to
própria especificidade de atuação de ambos find yourself bargaining passionately for
os personagens; ainda é comum os pesquisa- a tad more accuracy in a story, say about
dores científicos reivindicarem para eles pró- UFOs or cold fusion (. . . ) But the dis-
prios a produção de um saber neutro, racio- tortion began as soon as the copy left our
nal, pragmático, verdadeiro e, portanto, in- hands.
questionável, dimensões estas que se inte- No, let me brutally honest. Distortion be-
gram à “ideologia científica”. Este termo, gan the very moment we conceived the
como foi proposto por Canguilhem (1977), story, as we angled our perspective to ple-
refere-se à postura de defesa assumida pelos ase our editors. As soon as we picked

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14 Claudio Bertolli Filho

up the phone we started censoring our- e b) também abordar o empenho dos agen-
selves, second-guessing the story, trying tes da mídia em explorar as possibilidades da
somehow make something useful out of língua e da linguagem para superar os obstá-
whatever we had. A lot of my colleagues culos da comunicação, inclusive através do
will deny this, but I think the result spe- abuso do emprego de neologismos.
aks for itself” Apesar de todos esses problemas, nos úl-
timos anos algumas soluções têm sido testa-
Dando prosseguimento às suas observa- das para, se não eliminar, pelo menos amai-
ções, o mesmo autor refere-se também à nar os conflitos nas relações entre os jorna-
contingência de serem as redações das em- listas e os especialistas científicos. Parte dos
presas de comunicação ambientes altamente meios de comunicação tem se empenhado
politizados, o que implica, no cenário pós- em melhor preparar seus profissionais, pa-
moderno e na reflexividade proposta pelo es- trocinando cursos de especialização no am-
tágio sócio-cultural no qual todos estamos biente das próprias empresas da mídia ou fi-
inseridos, numa indisfarçável resistência às nanciando a participação de jornalistas pro-
apologias dos cientistas e, especialmente, missores em cursos no exterior. Com isto,
aos novos produtos tecnológicos (Giddens, os principais jornais brasileiros – e da Amé-
2002). Pode-se assim afirmar que existe um rica Latina em geral – repetem o que vem
conflito político-cultural básico entre os ci- acontecendo na Europa e nos Estados Uni-
entistas e os jornalistas; enquanto os produ- dos, objetivando, além de conferir maior au-
tores do saber científico e de suas implica- tonomia à fala jornalística em relação ao que
ções tecnológicas são regidos por uma “pai- é dito pelos cientistas, evitar erros primários
xão” pela descoberta e pela elaboração de na produção das notícias científicas, e avali-
produtos de alta complexidade, os comuni- ações imprecisas que acabam disseminando
cadores tendem a postar-se de forma reti- fatos pseudocientíficos (Bueno, 2001).
cente, buscando avaliar as conseqüências po- Por sua vez, as próprias entidades produ-
líticas, econômicas, sociais e culturais dos toras de ciência e tecnologia estão cada vez
“avanços” da ciência e da tecnologia. mais conscientes de seus compromissos so-
O embate entre ambos os personagens ciais, preparando seus agentes para que es-
conta ainda com vários outros motivos, tes mantenham uma relação mais cordial e
mesmo que não tão fortes quanto os já expos- produtiva com a mídia. Afinal, é um dever
tos. Baseado em Snow (1995), é possível fa- dos cientistas explicarem-se para a sociedade
lar também que existem “dois vocabulários”, e, nesta situação, os profissionais de comu-
duas formas de expressar-se sobre e para o nicação podem desempenhar um papel es-
mundo, uma própria do cientista e outra ao tratégico. A Universidade Estadual Paulista
jornalista. É nesta passagem ou “tradução” (UNESP), dentre outras instituições de pes-
que se dá os mal-entendidos que contribuem quisa, elaborou um minucioso manual que
ainda mais para acirrar a animosidade en- visa orientar seus docentes/funcionário sobre
tre os dois grupos, fenômeno exaustivamente como devem se relacionar com os jornalistas
estudado por Fabiane Gonçalves Cavalcanti (Silva, 2003).
(2003). Coube à mesma estudiosa (2004 a A compreensão e o mútuo respeito entre

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Elementos para a prática do jornalismo científico 15

jornalistas e cientistas ganharam um curso de verbas oficiais. Nestes casos, não é


pragmático, abrindo uma promissora opor- rara a situação na qual o cientista garante a
tunidade para uma melhor cooperação entre veracidade e eficiência de suas descobertas,
ambos. Para Migliaccio (2003) a proposta de sem que, no entanto, sua produção inte-
um trabalho harmônico entre os profissionais lectual ainda não tenha sido avaliada por
da comunicação e os produtores do saber ci- seus pares. Com isto, se a própria mídia
entífico tem um sentido claro: não ouvir outros especialistas sobre o tema,
os comunicadores podem incorrer no erro
“O progresso da ciência depende direta de, na busca de realizar um “furo”, estar
ou indiretamente de que o público a com- disseminando informações duvidosas, o que
preenda, pois dele saem seus represen- pode resultar em uma situação desabonadora
tantes encarregados de fazer as leis e tra- para os próprios jornalistas.
çar as políticas, inclusive científica”.
b) comunicado à imprensa: são freqüentes
4. a questão das fontes: além do con- as situações nas quais as universidades e
tato direto com os laboratórios e com os ci- os laboratórios industriais recorrem à mídia
entistas, os jornalistas rotineiramente obtêm através de comunicados produzidos por seus
informações através de outros canais, tais departamentos de Relações Públicas. Tais
como palestras e eventos científicos, comu- comunicados, ao divulgar novas descober-
nicados à imprensa preparados por institui- tas ou novas tecnologias, tendem a gerar
ções de pesquisa, artigos especializados, re- expectativas junto ao público pois, de regra,
sumos de livros e sínteses de pesquisas inédi- enfatizam que o novo conhecimento ou o
tas. Para o filósofo David Resnik (2003), se novo produto apresenta melhor qualidade ou
tais fontes mostram-se cada vez mais impor- maior eficiência que seus similares. Nestas
tantes para os comunicadores, também con- ocasiões, os jornalistas devem ponderar se
têm vieses, se não ciladas, que podem resul- as informações recebidas atendem exclusi-
tar em interpretações enganosas dos fatos. vamente ao interesse público ou se visam
Por isso, alguns comentários são oportu- interesses comerciais ou promocionais.
nos sobre cada uma das principais fontes de
informações, sendo as principais delas: c) congressos científicos: é comum um
pesquisador participar de uma reunião
a) palestras à imprensa: existem diversos científica para expor hipóteses, discutir
motivos que levam os cientistas a convo- a viabilidade de um novo procedimento
carem a mídia para relatar seus trabalhos científico ou avaliar o desempenho de uma
mesmo antes que estes sejam veiculados por determinada tecnologia para, com isto,
publicações especializadas: o sentimento de ouvir a opinião de seus colegas de saber.
urgência de divulgação para que vidas sejam Nestes casos, o jornalista deve avaliar o
salvas, o interesse em garantir a posição que foi debatido e levar em consideração as
de pesquisador pioneiro e ainda marketing críticas que foram feitas pelos especialistas
para atrair a atenção pública e, a partir disto, ao teor do que foi apresentado no decorrer
garantir o apoio governamental e o benefício do evento. Também é comum o fato de,

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16 Claudio Bertolli Filho

no afã do comunicador em produzir uma as conseqüências sociais e políticas da


matéria chamativa, transformar hipóteses em incorporação coletiva de uma nova idéia ou
afirmações, tecendo matérias que transfor- produto chancelado pela ciência.
mam hipóteses em verdades comprovadas,
gerando assim falsas expectativas entre os Uma outra fonte que merece ser destacada
leitores. constitui-se nos próprios periódicos destina-
dos ao consumo de especialistas. O cientista,
d) resumos: é também comum a cir- especialmente aquele interessado em dispu-
cunstância de os profissionais da mídia tar grandes premiações, inclusive o Nobel,
apoiarem-se em textos de síntese para tem se submetido a uma espécie de pacto
elaborarem matérias científicas, o que com os editores das principais revistas de sua
implica na possibilidade de seus escritos especialidade, pacto este que estabelece que
conterem erros e distorções. O ideal é que o pesquisador não divulgará publicamente os
os jornalistas leiam a versão integral dos resultados de suas pesquisas antes que elas
estudos e relatórios em que se baseiam para apareçam nas páginas de periódicos como
compor suas matérias e ainda que busquem The New England Journal of Medecine e The
outras opiniões abalizadas sobre o assunto. Journal of American Medical Association,
os quais reservam para si a exclusividade de
e) press-release: são freqüentes as anunciar o assunto em primeira mão.
recomendações sobre as cautelas que de- Transferido para os meios de comunica-
vem ser tomadas quando da utilização de ção de massa, este acordo ficou conhecido
press-releases como fonte privilegiada na como embargoed system. Assim, mesmo
composição das notícias2 . Lewis (2003) que um jornal, um canal de televisão ou um
alerta para o fato de que, pelo acúmulo sítio virtual tenha acesso a uma informação
de trabalho imposto aos jornalistas e pelo até mesmo um mês antes que ela seja vei-
grande número releases que diariamente culada em um periódico científico, os jorna-
chegam às redações, estar se tornando listas se vêem impelidos a nada publicarem
cada vez mais inevitável sua utilização na sobre o tema. Se a própria mídia se acomo-
produção das notícias. Por sua vez, Ribas dou nesta aliança, não competindo pela ob-
(2004), mesmo reconhecendo a importância tenção de um “furo” de reportagem, uma vez
e funcionalidade deste tipo de fonte, con- mais o público acaba sendo o grande prejudi-
cluiu que ela tem gerado matérias passivas e cado, pois acaba demorando em ter acesso a
homogêneas que, se por um lado contribuem uma informação que, potencialmente, pode-
para a apologia da ciência e da tecnologia, ria estar alterando seu cotidiano e até mesmo
por outro pouco informam o público sobre salvando vidas.
2
Tal situação encontra defensores e críti-
- É necessário se observar também que, prin-
cipalmente nos casos de órgãos de comunicação de
cos, mas de qualquer maneira não deixa dú-
menor porte, os press releases são adotados integral- vidas que o “sistema de embargo” acaba
mente e reproduzidos sem a menor cautela, aumen- sendo uma estratégia de defesa do prestígio
tando ainda mais as chances de veiculação de infor- e dos lucros de revistas especializadas e de
mações duvidosas. instituições de pesquisa. Da mesma forma,

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Elementos para a prática do jornalismo científico 17

o mesmo sistema acaba interferindo no com- lise, o jornal. Leitor primário é aquele
promisso dos meios de comunicação de in- que o compra. Leitor secundário é aquele
formarem prontamente “tudo o que sabem” que tem acesso ao jornal, embora não te-
ao público, reiterando a subordinação da pro- nha o hábito de comprá-lo” (p. 45).
dução e divulgação da notícia aos interesses
econômicos. Fala-se, pois, no agendamento A partir desta declaração, arquiteta-se as
da pauta do jornalismo científico pelos ins- características necessárias de serem incorpo-
titutos de pesquisa e pelas revistas especiali- radas na produção das matérias. Como com-
zadas de prestígio mundial. prador de uma mercadoria, o leitor deve ser
poupado o máximo possível de qualquer di-
ficuldade, cabendo ao jornalista servir-se de
5 As imagens construídas sobre uma linguagem apropriada e também de grá-
os leitores ficos, quadros sinópticos, mapas e imagens,
Até o momento, este texto privilegiou ex- dentre outros recursos para, mais do que tor-
clusivamente dois dos personagens humanos nar inteligível a matéria, cumprir o que a
envolvidos na trama jornalística: o pesqui- Folha de S. Paulo assumiu declaradamente
sador científico e o profissional da mídia. como sendo sua “filosofia editorial”: poupar
O terceiro personagem, até agora, ausente trabalho ao leitor.
é o leitor. Neste item, a proposta é avaliar
“Quanto mais trabalho tiver o jornalista
as imagens produzidas especialmente pelos
para elaborar as reportagens, menos tra-
jornalistas acerca dos consumidores de suas
balho terá o leitor para entender o que o
mensagens, havendo sobre o receptor, uma
jornalista pretende comunicar. (...) O jor-
pluralidade de posturas adotas pela mídia.
nal deve relatar todas as hipóteses sobre
Uma discussão sobre o leitor torna-se funda-
um fato, em vez de esperar que o leitor as
mental, pois é a partir das concepções nutri-
imagine. (...) Deve explicar cada aspecto
das sobre ele (o que implica também no co-
da notícia, em vez de julgar que o leitor já
nhecimento de suas necessidades) é que se
esteja familiarizado com eles. Deve orga-
articula o texto jornalístico.
nizar os temas de modo que o leitor não
O melhor ponto de partida para conhe-
tenha dificuldade de encontrá-los ou lê-
cer quem é o receptor das mensagens cien-
los” (Manual da Redação, 2001:45).
tíficas consiste em questionar sobre o lei-
tor/espectador/ouvinte em geral, tomando
Estas recomendações, que se apresentam
como referência a versão do Manual de Re-
hegemônicas na mídia, ganham curso mais
dação publicado em 2001 por um dos mais
nítido no território do jornalismo científico.
destacados jornais do Brasil, a Folha de S.
Isto porque, tanto na América Latina quanto
Paulo. A primeira observação que este ma-
em outras regiões do planeta, observa-se
nual registra no item “Leitor” já deixa claro
uma forte tendência de os leitores das maté-
o liame básico estabelecido entre o emissor
rias sobre ciência serem representados como
e o receptor: os interesses empresariais:
“analfabetos científicos”, mesmo que, como
“Leitor é quem sustenta, em última aná-

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18 Claudio Bertolli Filho

já foi observado, boa parte dos profissio- fiscar da população o direito ao lazer progra-
nais da área da comunicação tenha um ní- mado e impor-lhe a descrição da dramática
vel de conhecimentos científicos não muito situação que estava ocorrendo no espaço.
diferente daquele ostentado pelo público em Concluindo sobre o perfil dos consumido-
geral. res dos produtos midiáticos voltados para a
Neste compasso, contrastam as imagens ciência, Krieghbaum ponderou:
nutridas pelos acadêmicos e pelos jornalis-
tas sobre o leitor interessado em temas ci- “Algumas pesquisas sobre as reações ao
entíficos. Para os pesquisadores Authier- noticiário científico mostram que há sem-
Revuz (1998) e Nunes (2003), o público lei- pre algumas pessoas que não se interes-
tor corresponde à imagem de um persona- sam, assim como há outras que não lêem,
gem afoito por novidades, curioso pelas ci- não assistem, nem ouvem as notícias so-
ências, inteligente e que tem consciência que ciais, esportivas, sobre política ou ques-
seu conhecimento é bem menos rico do que tões internacionais. (...) As reações às
os dos especialistas. Opondo-se a esta idea- notícias e informações sobre ciência (...)
lização, que inclusive não conta com estudos formam uma série que vai desde os que
que comprovem o que tem sido dito, o jor- estão cegos em relação à ciência até os
nalista Hiller Krieghbaum (1970) prefere ser que absorvem o noticiário científico e, até
mais rígido em suas pontificações; para ele, certo ponto, os que procedem de acordo
uma parcela considerável dos indivíduos que com ele” (p. 161).
entra em contato com a mídia, simplesmente
vira a página de ciência ou troca de canal, A partir destas considerações, as possibi-
sem mesmo demonstrar curiosidade em sa- lidades de sucesso dos jornalistas científicos
ber os temas em destaque. dependem da habilidade de manter a aten-
No caso da televisão, o mesmo estudioso ção do público já sensibilizado em relação
reportou-se mais equilibradamente a uma si- às matérias de ciência e também de desper-
tuação emblemática: nas primeiras horas da tar o interesse de uma parcela daqueles lei-
noite de 17 de março de 1966, quando os tores que até então não se interessavam pelo
técnicos responsáveis pela cápsula espacial assunto. Burkett (1990:38) referiu-se à ne-
Gemini 8 detectaram um problema técnico cessidade de explorar temas apelativos, prin-
que colocava em risco a vida dos astronau- cipalmente referentes à saúde e à sexuali-
tas, as principais redes de televisão dos Es- dade, enquanto que Highfield (2003) apon-
tados Unidos interromperam suas programa- tou como recurso para conquistar os leitores
ções corriqueiras – a CBS estava apresen- a produção de matérias taxadas de “interes-
tando um episódio de Lost in space (que santes e inovadoras”.
ironia!), a ABC um capítulo de Batman e As dificuldades da mídia em estabelecer
a NBC um episódio de The virginian. Os o perfil do público consumidor do noticiário
telespectadores reagiram ferozmente a esta científico e como ampliar o número de indi-
medida, sendo que as três redes receberam víduos interessados em ciência têm coagido
ainda na mesma noite mais de três mil tele- seus profissionais a recorrerem às fórmulas
fonemas e telegramas, criticando-as por con- consagradas pelos meios de comunicação de

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Elementos para a prática do jornalismo científico 19

massa, especialmente a espetacularização do and let the media follow, or do we re-


saber e da prática científica, avizinhando-se educate the media and hope the culture
arriscadamente da divulgação da pseudoci- will follow?” (Peterson, 2003).
ência (Siqueira, 1999). De qualquer ma-
neira, se aplicada com comedimento, a ci-
6 Dimensões éticas do jornalismo
ência como entretenimento pode gerar frutos
positivos, como observou um destacado es- científico
tudioso: Ao se reportar à ética da profissão de jorna-
lista, é corriqueiro o analista restringir seu
“Transformar um fato científico em um enfoque na verificação de um conjunto de
espetáculo digno de chamar a atenção do situações que aponta para ações impróprias,
público não deixa de ser um recurso re- nas quais o agente da mídia deturpa delibera-
tórico para tornar mais viável a comuni- damente os fatos, frequentemente deixando-
cação da ciência para o leigo (Epstein, se seduzir por uma organização que, medi-
2002:134). ante pagamento ou concessão de privilégios,
coage o profissional a produzir uma notí-
Na berlinda, a proposta de recorrência à
cia total ou parcialmente inverídica relativa
estratégias tradicionais que a Comunicação
a uma pessoa ou instituição.
rotineiramente lança mão, encontra francos
Na tentativa de expandir o escopo desta
adeptos como também fervorosos críticos
problemática, invoca-se neste texto a ética e
(Rothman, 2003). O empenho em veicular
as questões dela derivada enquanto algo bem
matérias científicas e encontrar leitores que
mais amplo e universal, implicando no enfo-
as consumam e as entendam tem, como ele-
que do sujeito moral e suas ações, as quais
mento limitador e ao mesmo tempo como
são instruídas pelos chamados valores mo-
pano de fundo o sempre invocado “analfabe-
rais ou virtudes éticas. Neste sentido, o com-
tismo científico”. Esta questão, dependendo
prometimento com “o bem e o mal” baseia-
do âmbito da análise, ora localiza no jorna-
se em juízos de valor que, no caso do jor-
lista a incapacidade de redigir matérias fide-
nalismo científico, abrangem bem mais do
dignas às fontes e de fácil leitura, ora nos lei-
que deixar-se ou não envolver por interes-
tores, que geralmente são avaliados como in-
ses escusos. Refere-se também a compro-
capazes de decifrar as regras básicas do pen-
missos com o leitor e com os destinos da
samento e da produção científica.
coletividade, com o entendimento da objeti-
Sobre esta questão reside uma das prin-
vidade como algo diferente de neutralidade,
cipais incertezas das relações entre a mídia
com a avaliação acurada do saber e da produ-
comprometida com os temas científicos e o
ção científica, enfim, um compromisso para
público:
com a própria Humanidade que exclui, por
princípio, uma postura de submissão quer
“So we are left with a chicken-and-egg
aos cientistas, quer às empresas de comu-
conundrum: do we first change the cul-
nicação ou ainda, aos próprios desejos do
ture to appreciate science and its methods
leitor (Kreinz, 2002). Fala-se assim, numa

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20 Claudio Bertolli Filho

prática jornalística que deve se manter inde- 2. ganho financeiro pessoal: geralmente
pendente dos interesses particulares e econô- é proibido que um jornalista noticie
micos e posicionar-se politicamente, assu- fatos de uma companhia com a qual
mindo o profissional que não é a ciência que ele mantenha vínculos mais próximos,
pode salvar ou destruir o planeta, mas sim como por exemplo, sendo acionista. Da
os possíveis usos que se faz dela (Oliveira, mesma forma, quando um profissio-
2002:58). nal trabalha em mais de uma empresa
Nestes termos, se é fundamental para de comunicação, é normalmente vetado
a atividade jornalística o compromisso de que as informações obtidas em nome de
informar sobre os fatos científicos através uma delas sejam compartilhadas com as
da produção de uma matéria clara e didá- demais, antes que a notícias seja publi-
tica, mais importante ainda é desenvolver cada no primeiro órgão.
uma operação interpretativa dos fatos. Por
interpretação dos acontecimentos entende- 3. ética das publicações: os canais de co-
se sua contextualização, isto é, o enqua- municação de massa não devem anun-
dramento do acontecimento nas dimensões ciar, junto às notícias científicas, produ-
sócio-culturais, políticas, econômicas, mo- tos diretamente envolvidos com as ma-
rais e intelectuais, expondo ao leitor as possí- térias e nem mesmo aqueles que ofere-
veis conseqüências imediatas e para o tempo cem facilidades para a obtenção do sa-
futuro de uma determinada ação (Amaral, ber científico. Em uma área na qual o
1987:106). erro jornalístico aflora com maior inten-
Para Burkett (1990), a dimensão ética do sidade que em outros setores, também é
jornalismo científico pode ser corporificada importante que o mais rápido possível
pelas seguintes problemáticas: se comunique as imprecisões e as cor-
rija pra que o leitor não se sinta logrado.
1. conflito de interesses: aceitar qualquer
4. contar o que se sabe: cabe ao jornalista
tipo de privilégio ou presente para re-
relatar ao público tudo que sabe e acre-
alizar uma matéria. É cada vez mais
dita que seja de importância, quer con-
freqüente editores não impedirem que
flitos existentes no interior da própria
um jornalista tenha sua viagem custe-
comunidade científica, quer assunto que
ada por uma empresa cujas atividades
um pesquisador já comprovou a veraci-
comporão o tema de uma matéria, sob
dade, mas que é mal visto pelos seus
a compromisso de que esta condição
pares. As dúvidas confidenciadas pe-
seja informada aos leitores. Em situa-
los próprios cientistas ou as reticências
ção peculiar encontram-se os jornalis-
do jornalista quanto à eficiência de uma
tas que atuam como free-lancers, já que
nova descoberta também devem ser co-
não contam com a supervisão de um su-
municadas aos leitores. Da mesma
perior, devendo eles próprios decidirem
forma, quando o que se sabe compro-
se é lícito ou não o recebimento de favo-
meter a segurança ou a aceitação social
res das instituições sobre as quais pro-
de um indivíduo que não está colocando
duzem notícias.

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Elementos para a prática do jornalismo científico 21

em risco a comunidade, o profissional Outros estudiosos (Resnik, 2003; Lewes-


da mídia deverá poupar a revelação da tein, 2005) mencionam ainda outras circuns-
identidade desta pessoa. tâncias que podem gerar impasses éticos na
prática do jornalismo científico. David Res-
5. ética nas escolhas: um jornalista, ine- nik colocou em destaque as questões oriun-
vitavelmente, coloca sua opinião nos das da interação entre ciência, meios de co-
seus textos, por mais que ele queira se municação e público leitor. A importân-
omitir em nome de uma pretensa ob- cia deste texto, que acabou sendo utilizado
jetividade. Por exemplo, na década como um roteiro de muitas discussões que
de 1970, tornou-se comum esta dúvida tem sido travadas sobre as possibilidades que
quanto ao consumo de tabaco: deve- podem levar ao comprometimento dos prin-
ria o comunicador tomar partido favo- cípios éticos, determina que seus principais
rável ou contrário às companhias de ci- tópicos sejam aqui destacados:
garro? Mais de três décadas depois,
os produtos transgênicos também colo- • “ I- El público
caram o jornalismo na berlinda e, por
– el público puede carecer de la in-
mais que tais profissionais almejem se
formación necesaria sobre temas
mostrar “neutros” frente a questão, a
científicos.
maior parte das matérias apresenta-se
implicitamente contrária à generaliza- – el público puede estar mal infor-
ção do consumo de tais produtos. Já mado sobre los temas científicos.
no século XXI, outras matérias aflora- – el público puede no entender algu-
ram com maior intensidade, como as nos conceptos o recomendaciones
que colocam em destaque as possibi- científicas.
lidades da ação do jornalista científico – el público puede malinterpretar la
em tempo de guerra: o jornalista deve información científica.
se opor à voz oficial em tempo de
– el público puede estar completa-
guerra? Lembra-se que em agosto de
mente confundido sobre los temas
2003, o jornalista Christopher Marquis
científicos y sobre la natureza de
(2004) assinou uma matéria que ganhou
los debates científicos.
a primeira página do The New York
Times por denunciar, juntamente com – el público puede verse expuesto a
um deputado democrata, que o governo la ciencia basura.
Bush mostrava-se conivente com infor- • II- Ciencia
mações mentirosas que estavam sendo
divulgadas pelo setor de planejamento – los científicos pueden precipitarse
estatal que, deliberadamente, incorpo- a la hora de publicar datos.
rou inverdades científicas em nome da – los científicos pueden mantener
segurança nacional e que poderiam co- algo em secreto para proteger
locar em risco a saúde da população lãs investigaciones preliminares o
norte-americana. evitar controversias.

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22 Claudio Bertolli Filho

– los científicos pueden fracasar em em essência construções culturais que repro-


el intento de educar a la prensa o duzem múltiplos pólos tensionadores da vida
al público sobre su trabajo. social (Santos, 2001; Schudson, 1996).
Neste sentido, os comunicadores tendem
• III- Los medios a reproduzir em suas matérias a fantasia se-
gundo a qual as vozes da ciência são uni-
– los medios pueden tener proble- formes e convergentes, abrigando pouco ou
mas para acceder a los congresos nenhum conflito. Este comportamento pode
científicos u otras fuentes de noti- resultar em duas conseqüências desastrosas:
cias. a primeira delas é que se abre poucas chan-
– los medios pueden sucumbir ante ces de contestação das idéias e das deci-
diversas falácias lógicas y esta- sões científicas, considerando-se como ranço
dísticas, como el uso de prue- da tradição qualquer reação ao fazer cientí-
bas anecdóticas, muestras sesga- fico emblematizador da modernidade. A se-
das, etc. gunda conseqüência é que, devido ao visível
acanhamento dos críticos dos jornalistas em
– los medios pueden reproducir al-
questionar os “avanços da ciência”, as maté-
guna cita mal o fuera de contexto.
rias que eles assinam acabam sendo pouco
– los medios pueden usar fuentes no mais do que a reprodução do teor das fa-
dignas de confianza o marginales. las dos especialistas entrevistados (Teixeira,
– los medios pueden sensacvionali- 2002).
zar, distorsionar o dar enfoques Resultado desta tendência, é que um
parciales a las noticias grande número de profissionais da mídia
tende a, em nome do esclarecimento pú-
– los medios pueden dejar de cubir
blico, promover a caricaturização não só da
o abandonar el seguimiento de no-
ciência, mas também da vida social, já que
ticias importantes”.
esta acaba sendo interpretada como um con-
Frente a tais indicações, acredita-se ainda junto de fenômenos sobredeterminados pela
dimensão biológica da vida humana. Em um
ser importante tocar em dois pontos cruci-
período em que a Biologia Molecular des-
ais que dimensionam o exercício do jorna-
bancou a Física como geradora de matérias
lismo científico, ambos inscritos no territó-
rio da cultura: a mitificação do saber cien- espetaculares, tornou-se moda o jornalismo
tífico por parte da mídia e, a partir dele, as científico explicar as ações humanas como
fruto exclusivo dos mecanismos genéticos.
visíveis reticências dos profissionais da co-
Existe uma avalanche de artigos em jornais
municação em criticar a lógica e a aplica-
e revistas de divulgação que apontam, sem
ção da ciência e da tecnologia. Para explo-
qualquer ressalva, a identificação de genes
rar estes dois pontos, torna-se recomendável
ressaltar que as idéias e produtos científicos, responsáveis por quase tudo, da inteligên-
assim como os produtos midiáticos, não se cia, homossexualidade e agressividade até o
pendor pelas artes, esportes, matemática ou
estruturam em um vazio de sentidos, sendo
mesmo da beleza (Bertolli Filho, 2004).

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Elementos para a prática do jornalismo científico 23

Um outro produto derivado tanto das 1. “Convocamos todos os jornalistas de ci-


declarações de uma parcela dos cientistas ência, incluindo ciências naturais, soci-
quanto da passividade dos comunicadores é ais e humanas e incluindo colegas nos
a proliferação de matérias que, declarada- campos relacionados à saúde e meio
mente ou não, nutrem preconceitos étnico- ambiente para reconhecer as respon-
culturais. Se várias análises já concluíram sabilidades crescentes às pessoas do
o quanto que, historicamente, a ciência – mundo e apresentar as notícias pre-
e com assustadora freqüência ainda serve – cisa, clara, íntegra e independente-
para a descriminação de agrupamentos hu- mente, com honestidade e integridade;
manos, ao reproduzir acriticamente as afir-
mações científicas, os canais midiáticos, por 2. Convocamos todos os jornalistas de ci-
mais que se apresentem como arautos da de- ência a apresentar com atenção não so-
mocracia e das causas humanitárias, acabam mente à ciência e tecnologia, mas em
incorporando e disseminando posicionamen- seus contextos político-sociais e seus
tos que chegam a beirar o racismo (Xavier & meios de produção;
Xavier, 2002). 3. Convocamos todos os colegas para re-
Fruto de todos os dilemas éticos elencados conhecer as dimensões internacionais e
neste tópico, durante a Primeira Conferência efeitos da ciência e tecnologia, para gal-
Mundial de Jornalismo Científico, realizada gar as barreiras das línguas que divide o
em 1992 em Tóquio, foi ressaltada a impor- mundo e fazer esforços mais significa-
tância das discussões éticas como questão tivos para apresentar assuntos de outros
básica para a prática do jornalismo especiali- países;
zado. Na seqüência, quando em 1999 deu-se
a Segunda Conferência, na cidade de Buda- 4. Convocamos os editores, organizações
peste, destacou-se os compromissos dos jor- de rádio difusão e outros porteiros (sic)
nalistas científicos para o século XXI. Após pelo mundo todo a reconhecer não so-
ser reiterada as posições estratégicas da ciên- mente o interesse do grande público,
cia e da divulgação científica para os homens mas o interesse da importância demo-
do novo século, os participantes do evento crática e social inerente ao jornalismo
elaboraram oito recomendações a serem ob- científico, e oferecer mais apoio, es-
servadas pelos profissionais da mídia volta- paço, tempo de programação, pessoal
dos para o campo científico. e treino para os jornalistas que já tra-
Eis as recomendações que, se importantes, balham ou estão entrando no fascinante
foram apresentadas no Brasil mediante uma campo da divulgação científica;
péssima tradução e com inúmeros erros orto-
gráficos e de concordância, mesmo que o do- 5. Convocamos para um esforço a fim de
cumento tenha sido divulgado originalmente desenvolver a fluência da informação na
no sítio do Ministério de Ciências e Tecnolo- Internet através de outras línguas além
gia3 : do inglês;
3
- Foram corrigidas as imprecisões de redação constantes na versão em português do texto em ques-
tão.

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24 Claudio Bertolli Filho

6. Alertamos que embora a Internet e a de 2002 na cidade paulista de São José dos
Rede Mundial melhorarem a comuni- Campos, reunindo um número menor de pro-
cação; a informação desta forma pro- fissionais e de países participantes do que
duzida – como qualquer outra fonte – a reunião anterior. Nela, além da criação
precisa ser constantemente monitorada da Federação Mundial de Jornalistas Cien-
para que haja qualidade, precisão, obje- tíficos (WFSJ), reiterou-se os mesmo prin-
tividade e integridade. cípios daqueles apresentados em Budapeste,
enfatizando-se na ocasião a importância es-
7. Convocamos a Unesco e outras organi- tratégica do jornalismo científico para as na-
zações para apoiar: a formação de uma ções periféricas. Mais do que isto, ressaltou-
federação mundial de jornalismo cientí- se também a complexidade das questões ci-
fico e associações nacionais e internaci- entíficas abordadas pela mídia, assumindo-
onais de jornalismo científico; a convo- se que “ciência, política, economia e jorna-
cação através desta organização de reu- lismo são entidades não separadas, e sim in-
niões internacionais bienais; e criação terligadas, nas culturas das sociedades mo-
por esta federação mundial de comuni- dernas” (Declaração da Terceira Conferên-
dades de jornalismo científico através cia, 2003).
de uma rede mundial bem preparada, Em 2004, já sob o comando da WFSJ, foi
de fácil acesso, editada com controle de organizada a Quarta Conferência, sendo que
qualidade. novamente as questões éticas ganharam des-
8. Convocamos a Unesco e outras orga- taque. Na ocasião frisou-se a necessidade
nizações para fazerem tudo o que es- de posicionamentos críticos em relação à ci-
tiver ao alcance para apoiar a criação ência como uma das dimensões necessárias
de espaço para treinamento de jornalis- para uma prática saudável, produtiva e ética
tas científicos, que estivesse ao alcance do jornalismo científico (Dickson, 2004).
de todas as regiões e nações; que pu-
desse refletir inteiramente o novo e am- 7 Considerações finais: para que
plo papel do jornalismo científico como serve o jornalismo científico?
foi evidenciado durante a Conferência
Mundial de Ciência4 ; e que deveria ser Após a exposição do que se julga serem os
posto a disposição de países que não elementos fundamentais para a prática do
têm condições para oferecerem treina- jornalismo científico, resta uma última ques-
mento adequado” (Declaração da Se- tão: o papel social atribuído ou, pelo menos
gunda Conferência, 1999). requerido, desta especialidade jornalística.
As respostas a este dilema variam em
A Terceira Conferência Mundial de Jor- sentido, dependendo de seus enunciadores.
nalismo Científico realizou-se em novembro Agentes governamentais, pesquisadores, jor-
4
- A Primeira Conferência Mundial de Ciência foi nalistas e a sociedade abrangente, apesar de
realizada ao mesmo tempo e no mesmo local que a Se- todas as ressalvas endereçadas à divulgação
gunda Conferência Mundial de Jornalismo Científico científica e especialmente ao jornalismo ci-
(nota do autor).

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Elementos para a prática do jornalismo científico 25

entífico, têm propostos direcionamentos, ob- tar significativamente as perspectivas de


jetivando com isto tornar mais concreto e efi- emprego a longo prazo do aluno que
ciente os conhecimentos sobre a ciência e a completou o ensino secundário? Será
tecnologia no contexto da vida coletiva (Du- útil na tomada de decisões pessoais?
arte & Barros, 2003).
Espelhando a tendência dominante nos 2. Responsabilidade social: o conteúdo
países centrais, no início da década passada proposto terá probabilidades de ajudar
a American Association for the Advancement os cidadãos a participarem de forma in-
of Science (AAAS) elaborou uma minuci- teligente na tomada de decisões sociais
osa pesquisa que ganhou o título de Science e políticas em matérias que envolvem a
for all Americans. Nesse estudo, empregou- ciência e a tecnologia?
se o termo “instrução científica” como algo 3. Valor intrínseco do conhecimento: o
que ora se aproxima, ora se confunde com conteúdo proposto apresentará aspectos
a divulgação científica. Além disso, o do- da ciência, matemática e tecnologia que
cumento indica também os conteúdos que sejam tão importantes na história hu-
todos os jovens norte-americanos deveriam mana ou tão universais na nossa cultura
dominar, partindo-se também do princípio que uma educação geral ficaria incom-
que “a maioria dos americanos (...) não têm pleta sem eles?
instrução científica” (Rutherford & Ahlgren,
1995:17). 4. Valor filosófico: o conteúdo proposto
Na edição portuguesa, o texto perdeu o contribuirá para a capacidade das pes-
segmento do título que especificava a soci- soas de ponderarem as questões re-
edade para a qual o estudo foi originalmente lativas ao significado da humanidade,
endereçado, sendo ancorado em um con- como a da vida e da morte, da percep-
junto de interrogações que pode ser enten- ção e da realidade, do bem individual
dido como um programa de intenções para o contra o bem-estar coletivo, da certeza
compartilhamento social do saber científico- e da dúvida?” (Rutherford & Ahlgren,
tecnológico. A importância desse relató- 1995).
rio dá-se pelo fato de suas proposições te-
rem sido incorporadas pelos divulgadores, É importante perceber que, originalmente,
tornando-se uma espécie de plataforma que todas as pontificações constantes no livro pa-
vem sendo frequentemente recitada pelos trocinado pela AAAS guardam um sentido
jornalistas científicos. marcadamente pragmático e nacionalista, se
Os questionamentos sobre a lógica que não imperialista. A disseminação do saber,
deve orientar a veiculação de conteúdos ci- no contexto dos Estados Unidos, tem um fim
entíficos, disseminadas nas páginas do rela- último e estratégico: o futuro do país, corpo-
tório em questão, obedecem a quatro parâ- rificado por necessidades de uma sociedade
metros básicos: mais justa, que mantenha a vitalidade econô-
mica e o equilíbrio político. Um saber que
1. “Utilidade: o conteúdo proposto – co- também capacite os cidadãos para que es-
nhecimentos ou técnicos – irá aumen- tes garantam a segurança nacional, no con-

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26 Claudio Bertolli Filho

texto de um “mundo atormentado por hosti- entre suas funções, a preocupação de “des-
lidades” (p. 15). pertar vocações” entre os jovens, especial-
A postura norte-americana impregna pe- mente no referente às ciências básicas, men-
sadamente as observações dos jornalistas cionando neste campo a Química, a Física, a
latino-americanos e, dentre eles, os brasilei- Biologia e a Matemática.
ros em particular, inclusive no que tange à Apesar da posição hegemônica da pro-
continuidade entre o ensino formal básico e posta sintetizada pelos norte-americanos, é
médio e o que é divulgado pela mídia no importante se ressaltar a existência de outros
campo da ciência. Em entrevista, Marcelo posicionamentos sobre o papel a ser desem-
Leite (2004), que inclusive freqüentou cur- penhado pelo jornalismo científico. Den-
sos de especialização científica na América tre eles, ganha destaque os ensinamentos do
do Norte, assim definiu a missão do jorna- espanhol Manuel Calvo Hernando (2003a
lismo científico: e b). Reverenciado como um dos princi-
pais jornalistas científicos em atividade (Bu-
“Me parece que ao menos a pesquisa faz eno, 2003c), Calvo Hernando desempenhou
parte integral da educação. A divulgação e continua desempenhando a tarefa vital de
científica é mais um apoio e um comple- politização da prática do jornalismo especia-
mento, sobretudo de atualização, porque lizado, vendo nisto um pacto feito pelos co-
a produção científica é hoje mais copi- municadores em defesa da cidadania.
osa e rápida. Os livros didáticos e mesmo Para esse intelectual, o jornalismo cientí-
muitos professores não têm condições de fico é ao mesmo tempo resultado e incenti-
acompanhar esses desenvolvimentos que vador da sociedade democrática:
se sucedem, então os jornais e revistas
acabam sendo uma forma de se man- “Today is recognised, both in political
ter atualizado (por isso nos preocupamos science and communication, that there
muito com fornecer as fontes das pesqui- exists a mutual dependency between sci-
sas publicadas, em particular na Internet, ence and democracy. ‘Technological de-
para que as pessoas interessadas em se mocracy’ is spoken of and ‘the democra-
aprofundar possam obter mais material”. tization of knowledge’ and awareness is
being created of the fact that in order to
Em caminho próximo ao de Marcelo participate in politics and, therefore, in
Leite, vários outros estudiosos ressaltam o history, you have to be informed. A de-
caráter didático e complementar ao que foi mocracy will always be incomplete if its
aprendido nas escolas por parte do jorna- citizens continue to lack the knowledge
lismo científico, destacando-se nesta pers- and information that modern societies re-
pectiva o falecido médico José Reis, em quire in order to participate in a conscien-
texto que foi publicado pelo núcleo de es- tious and thoughtful way in the way soci-
tudos que recebe o seu nome (Reis & Gon- ety is run” (Calvo Hernando, 2003b).
çalves, 2000). Caminho paralelo foi adotado
por Wilson da Costa Bueno (2003b), quando A constatação desta realidade confere,
enfatizou que o jornalismo científico conta, para o autor em tela, novos compromis-

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Elementos para a prática do jornalismo científico 27

sos para o jornalismo científico, No mesmo Guerra Mundial], cometidos em nome de


texto, ele acrescenta: um pretenso conhecimento exclusivo, le-
vam a desastres sociais que podem e de-
“Faced with the third millenium, the soci- vem ser evitados. Caso contrário, a arbi-
eties of our time feel the political, econo- trariedade, arrogância e ganância não te-
mic, social and cultural need to promote rão limites. Em termos sociais, o prin-
or increase the popularization of science cípio da ação/reação mostra que a con-
through mass media. The holding of the seqüência direta dessas atitudes é o cres-
first Congress on the Social Communica- cimento da violência. E, aí, não basta
tion of Science (Granada, Spain, march construir presídios”.
1999) identified a trend that is not new
but which has a new dimension on the th- Envolvidos com propostas mais amplas
reshold of the 21st century: that people para a divulgação da ciência encontram-se
of different origins and backgrounds are também os profissionais que, em nome da
working in harmony on something that a prática de um jornalismo analítico, isto é,
little while ago was considered a mino- que não se restringe em “traduzir” a fala es-
rity problem, but that is now beginning to pecializada dos cientistas, buscam estabele-
interest a growing number of people and cer uma visão crítica, abordando a produção
societies. e circulação do conhecimento nos quadros
The popularization of science, science das políticas públicas e das reais necessida-
journalism and the public communica- des sociais. Caldas (2003) e Sousa (2003)
tion of science are today trying to res- são exemplos de profissionais que se em-
pond to this momentous challenge of our penham em explorar este viés, contribuindo
time”. para a renovação de uma área do jornalismo
que busca estabelecer – e seguir – novos
A defesa de um jornalismo interpretativo, compromissos para o século XXI.
condição essencial para um jornalismo cien- Por fim, reitera-se que este texto guardou
tífico conseqüente, tem alimentado múltiplos como objetivo colocar em destaque as prin-
conflitos entre os divulgadores da ciência e cipais questões que ditam as possibilidades e
os empresários da comunicação inebriados os limites de uma prática fundamental para a
pela ideologia neoliberal e, neste contexto, reflexividade esperada da sociedade contem-
cabe mais uma vez a pergunta: para que porânea. Informa-se também que ele foi ela-
serve, afinal, o jornalismo científico? Uma borado com fins didáticos, sendo fruto par-
possível resposta é fornecida por Capozolli cial dos questionamentos produzidos durante
(2003): as várias edições da disciplina “Comunica-
ção e saúde”, ministrada pelo autor. Neste
“O jornalismo científico deve contribuir sentido, ele agradece às várias turmas de
para uma alfabetização crescente da so- alunos que acompanharam e ainda acompa-
ciedade para que ela tome consciência de nham as aulas da referida disciplina.
que abusos desse tipo [a produção e uso
de artefatos atômicos durante a Segunda

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28 Claudio Bertolli Filho

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